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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE E BIOLÓGICAS

FACULDADE DE PSICOLOGIA

Curso: Psicologia
Disciplina: Subjetividade e Fenômenos Contemporâneos
Docente: André Picolli
Discentes: Amanda Resplandes Dias, Ana Carolina Novais

Um dos fenômenos psicológicos contemporâneos que se destaca na sociedade e


que será abordado agora é a Toxicomania, uma psicopatologia demasiada na
modernidade, na “Era do Narciso”. Como defende Kegler (2006), essa é causada pela
incapacidade de representação simbólica do sujeito, dessa forma, se instaura um
esvaziamento das figuras simbólicas que ocupavam o lugar e a função do pai e da mãe.
Ou seja, a libido objetal não encontra um objeto e retorna para o sujeito, favorecendo
assim a libido do eu ou a libido narcisista.

O homem pós-moderno desconsidera a visão das tradições (Grega, Romana e


Cristã) que acreditam na totalidade e na integração com o cosmo e com os ideais
espirituais de unificação de todos em um propósito. Esse mesmo sujeito passa a ser o
centro de tudo: a razão científica desafia à razão religiosa e o indivíduo passa a ser
responsável por todas as explicações e, portanto, detentor da soberania na sociedade. Ou
seja, tem-se na história a emergência de um movimento narcísico, onde Deus, o pai, é
castrado ou morto, e o novo (o homem pós-moderno) se sobressai ocupando a posição
fálica – a modernidade se atrai por tudo que é novo, está em constante transformação e
mudança (BIRMAN, 1946).

O que surge na cultura e na clínica psicanalítica são as patologias da Era do


Narciso, como a Toxicomania. O que propõe Tótoli & Marcos (2017, p. 3) é que “a
intoxicação em todas as suas formas é uma resposta não sintomática que tenta anular a
divisão do sujeito”, esse que nega a castração e encontra na droga uma forma de se
anestesiar recusando a falta. Ainda segundo a autora Kegler (2006) o sujeito
contemporâneo ao se deparar com o desamparo, se defende através da clivagem
narcísica, que é oposto do mecanismo de defesa do neurótico de recalcar a realidade que
lhe é insuportável. Dessa forma, cita Kegler (2017, p. 40): “a clivagem narcísica do self
torna-se uma medida de proteção de um eu frágil para abarcar o excesso de intensidades
que o invadem”.

Frente às infinitas possibilidades de ser que a pós-modernidade proporciona, o


próprio homem se lança em um lugar sem contorno, sem limites, sem borda. Essa terra
sem lei, sem interdição, pode ser denominada de terra sem castração/ sem o “Nome-do-
pai”, como define Lacan segundo Kegler (2006). O Gozo é imperativo, para o sujeito
toxicomano não existe nada que o impeça de gozar, não existe falta, paradoxalmente, a
falta da falta o encaminha para um vazio, pois sem falta não há desejo e sem desejo não
há excitação, sem excitação não há movimento: o que resta é um vazio, uma falta da
falta. O toxicomano não tolera a falta. (KEGLER, 2006)

É na falha do outro que o sujeito se constitui como indivíduo desejante, a


problemática é que com o acesso à medicina e o avanço industrial e tecnológico o
homem passa a ter condições acessíveis de não faltar. Assim, o abuso de substância
pode ocupar o lugar do outro, e esse outro que pode interditar a relação do eu com o
gozo, passa a ser odiado e repelido, sendo substituído por uma substância capaz de
proporcionar prazer sem a angústia que as relações sociais podem acarretar, incluindo a
angústia de separação, já que essas substâncias são consumidas passivamente, criadas
exclusivamente para o gozo. (KEGLER, 2006)

Portanto, as patologias, especialmente as fundamentadas em um funcionamento


de ordem narcísico, transforma o gozo em uma necessidade, como a de comer e beber.
Não há nada que separe o indivíduo da ideia de completude, logo, o outro pode ser
descartado facilmente, dado a possibilidade de separação, ou sem outras palavras, de
castração (KEGLER, 2006). Esse cenário nada mais é que a substituição do gozo fálico
pelo gozo da droga. Para Lacan, segundo Tótoli et al (2017, p. 1) a droga “é o que
permite a ruptura do casamento do sujeito com o falo”. Ademais, “O Outro como
perturbador do estado de ser do sujeito. É, pois, uma declinação do antiamor, a recusa
do vínculo com o Outro” (TÓTOLI et al, 2017, p1.).
Bulimia

Nos últimos anos a super valorização excessiva da forma e do peso do corpo tem
encaminhado muitas pessoas, principalmente mulheres, a sacrifícios que podem
prejudicar a saúde invés de ajudar, como dietas radicais (que se espalham a cada
semana) e exercícios físicos em excesso, com o objetivo de chegar ao corpo ideal. Todo
esse esforço pode acabar resultando na bulimia nervosa, um quadro que consiste na
compulsão de alimentos, seguida da utilização de táticas para “eliminar” as calorias
consumidas, podendo ocorrer por métodos radicais, autoindução de vômitos ou uso
indiscriminado de laxantes, diurético, jejuns e exercícios físicos excessivos.

A bulimia é um transtorno psiquiátrico alimentar, que é caracterizado pela


ingestão compulsiva de alimentos (em sua maioria calóricos). Assim, leva o paciente a
um estado de culpa. A bulimia iniciar-se por uma necessidade real ou imaginaria de
perder peso junto com a insatisfação do corpo, caracterizada pela grande ingestão de
alimento em grande quantidade e um sentimento de falta de controle. denominados
episódios bulímicos (TEIXEIRA et al., 2008). O paciente chega a ingerir uso indevido
de diuréticos, laxantes, inibidores de apetite, jejuns ou exercícios excessivos, grande
quantidade de cafeína ou até mesmo fazem uso de cocaína, fazem auto avaliação
impropria do próprio corpo (ABREU; CANGELLI, 2005).

A sociedade nos dias atuais vive sob o ideal do corpo esbelto e da boa forma
física, aonde padrão se impõe especialmente para as mulheres, nas quais a aparência
representa uma importante medida de valor pessoal. Uma vez que o ideal de magreza
proposto é uma impossibilidade biológica para a maioria das mulheres, a insatisfação
corporal tem se tornado cada vez mais comum, produzindo o campo perfeito para o
surgimento dos transtornos alimentares (SIMAS; GUIMARAES, 2002).

A extrema magreza nem sempre foi o ideal a ser alcançado, embora a aparência
física seja um elemento de extrema importância na imagem da mulher em diversas
épocas e culturas. No período da Renascença valorizavam as mulheres de corpos cheios,
com quadris grandes e abdomens avantajados, em outras décadas o espartilho dava a
mulher uma cintura mais fina, outras formas também eram utilizadas para não
demonstrar o corpo, mas ultimamente as dietas e exercícios são os principais meios para
mudar o corpo (APPOLINÁRIO; CLAUDINO; 2000).

Os falsos pensamentos que acompanham para um corpo perfeito, tem como


entendimento que o corpo é infinitamente maleável e que este ideal estético pode ser
alcançado por qualquer um que siga os planejamentos culturais de exercícios e dietas
adequadas. Colocando de lado as limitações impostas pela genética e biologia e a
particularidade do corpo de cada um, levando a acreditar que a boa forma física depende
só do esforço pessoal (NUNES et et al.,2002). Diante desse choque social pelo desejo
de magreza entre as mulheres, mostra até que ponto elas chegam para obter um corpo
magro. Com a diferença enorme entre o peso real e o ideal levando a um estado de
grande insatisfação com o corpo e as dietas para perder peso torna-se cada vez mais
constante (WITT; SCHNNEIDER; 2011).

O quadro da bulimia geralmente se inicia como resposta a algum medo real ou


imaginário ou a um sentimento de inadequação que parece devastador. Eventos ou
circunstancia de vida significativa que podem atuar como fator. No início, o surgimento
dos sintomas parece conformar ou acalmar a pessoa vulnerável. Porque os pacientes
criam, temporariamente, uma sensação de controle. Quanto mais eles investem em seus
objetivos em relação a magreza, mais se desligam emocionalmente de relacionamentos,
da família e dos amigos (DUNKER, 2003). Pacientes com transtornos alimentares
costumam checar o corpo repetidamente com atitudes tais como: pesar-se
constantemente, estudar a si 20 mesmo no espelho, experimentar roupas para avaliar se
estão adequadas ou não, beliscar o corpo, comparar seu corpo com o de outras pessoas,
entre outras práticas (figura 2). Esses comportamentos podem prolongar-se por muito
tempo, várias vezes ao dia. Por outro lado, alguns pacientes têm atitude oposta e evitam
ao máximo checar seus corpos. Os referidos comportamentos estão associados ao
constructo central da doença: superavaliação do corpo, do peso e da alimentação
(AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 2001).

A bulimia deve ser tratada por uma equipe multiprofissional, a psicoterapia


deverá ser feita individual ou familiar. A maioria dos pacientes bulímicos devem ser
tratados em nível ambulatorial exceto em casos mais graves que exigem intervenções
mais intensivas. A internação é necessária quando as complicações de 21 depressão com
risco de suicídio, perda de peso com sério comprometimento do estado geral de saúde.
O aconselhamento nutricional e o uso de psicofármacos, também auxiliam na melhora
do paciente (HUSE; LUCAS; 2003).

O tratamento multidisciplinar é importante, e tem como objetivo de efetivamente


dar habilidades aos pacientes de responder as pressões sociais, desafiadoras,
modificando os padrões emocionais, pois, favorecem o desenvolvimento de um
transtorno alimentar, criando meios e novas formas de organização do raciocínio no
paciente e erradicando com os pensamentos errados sobre a alimentação, para que se
crie novas formas de pensamento em relação ao alimento e dietas, fazendo com que se
tenha mudança nos hábitos alimentares. O acompanhamento nutricional é fundamental
para o tratamento da bulimia nervosa, pois promove orientações alimentares adequadas
com objetivo principal da eliminação do ciclo de compulsão alimentar e purgação, com
a implantação de um padrão alimentar adequado e modificação de atitudes relacionadas
a alimento peso.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Alba. Toxicomanias Uma abordagem psicanalítica: Uma abordagem


psicanalítica. Drogas: Clínica e Cultura CETAD/UFBA Salvador, 2010.

BIRMAN, Joel. Arquivos do mal-estar e da resistência. Rio de Janeiro: Civilização


brasileira, 2006.

LUIZA, F. M. et al. AS PATOLOGIAS DO NARCISISMO E A CLÍNICA


PSICANALÍTICA: NOVAS CONFIGURAÇÕES SUBJETIVAS NA
CONTEMPORANEIDADE. TCC: Psicologia, 2006.

TÓTOLI, F. C.; MOREIRA, C.; PSICANÁLISE, T. Psicanálise e Toxicomania: o


gozo da droga e a ruptura com o gozo fálico. Belo Horizonte: Cad. Psicanálise, v39,
n.36, p. 125-140, jan/jun. 2017.

ABREU, C.N, CANGELLI, R.F. Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares –


Psicologia teoria e pratica. v.7, n.1, p. 107- 122, 2005.
AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION. Position of the American Dietetic
Association: nutrition intervention in the treatment of anorexia nervosa, bulimia nervosa
and eating disorders not otherwise specified (EDNOS). Journal of the American
Dietetic Association. v.101, p. 810- 9, 2000.

ASSUMPÇÃO, C.L. CABRAL, M.D. Complicações clínicas da anorexia nervosa e


bulimia nervosa. Revista Brasileira de Psiquiatria. v.24, n.3, p.29-33, 2002b.

HUSE, D.M.; Lucas, A. R. Transtornos comportamentais que afetam a ingestão de


alimentos: anorexia nervosa, bulimia nervosa e outras condições psiquiátricas. In:
SHILS, M.E. Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença, 9ed, São Paulo:
Manole, 2003. cap. 93, p.26-34.

DUNKER, K. L. L.; PHILIPPI, S. T. Hábitos e comportamentos alimentares de


adolescentes com sintomas de anorexia nervosa. Revista de Nutrição, Campinas, v.16,
n.1 p.22 -24, 2003

WITT, J.S.Z; SSCHNEIDER, A.P Instituto de Pesquisa Ensino e Gestão em saúde


FAMED/UFRGS Ciências e saúde coletiva v.16 n.9, 2011.

NUNES, M.A.A., et al. transtornos alimentares e obesidade, 1ed, São Paulo: Artes
médicas 2002, 315p.

TEIXEIRA, P.C. COSTA, R.F. MATSUDO.S.M. CORDÁS, T.A - prática de exercícios


físicos em pacientes com transtornos alimentares, Revista de psiquiatria clínica. v.36,
n.3, p.145-52, 2009.

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