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AUTARQUIA DE ENSINO SUPERIOR DE ARCOVERDE - AESA

ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DE ARCOVERDE - ESSA


GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
DISCIPLINA: Bases da Teoria Psicanalítica – 4ª. Período
PROFESSOR: Luís Massilon
ALUNA (O): ANÍZIO JOSÉ FELIX NETO

NOTA:

1: “A História e a Constituição da Psicanálise” – 09.08.2022.

A teoria formulada por Sigmund Freud no início do século XX é ampla e complexa. Assim, o


desenvolvimento de tal teoria se relaciona ao próprio contexto de início de século XX, em que
ocorreram diversas transformações em todo o mundo. Ao tentar entender o sofrimento
psíquico de pacientes diagnosticadas com histeria, Freud acaba por perceber e construir
diversos conceitos ligados à constituição do psiquismo humano. Conceitos complexos que são
desenvolvidos nos quarenta anos de história da Psicanálise, desenvolvida por Freud, e ainda
em mais de cem anos de Psicanalise em que outros autores teorizam a partir dos constructos
freudianos, a Psicanálise se constitui como uma teoria desenvolvida por Sigmund
Freud, tendo como marco inicial a publicação da obra A Interpretação dos Sonhos, no início
de 1900. Ele desenvolve uma teoria científica, mesmo que os positivistas critiquem a
Psicanálise como sendo filosofia e não ciência. Freud viveu em uma sociedade
patriarcal, burguesa capitalista, em que a mulher era muito oprimida. Freud nasceu em
1856, na então Morávia e faleceu em 1939, Freud estudou em Paris com Charcot sobre
hipnose em pacientes com histeria, estudos que foram mal recebidos pela comunidade
cientifica que ainda apoiavam a ciência aos moldes positivistas, aproximou-se de Breuer, um
médico de família conceituado em Viena onde utilizavam o método catártico em pacientes
histéricas por meio da sugestão hipnóticas, nesse momento Freud percebe uma outra logica
operando na estrutura psíquica humana além da consciência que é chamado de inconsciente e
se questiona : Porque tanto esquecimento? Para onde vão os elementos suprimidos da
consciência?

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A Psicanálise considerava tudo de ordem mental como sendo consciente ou inconsciente. O
inconsciente é ambivalente, pois o tempo não é linear e contrários coexistem, como o não e o
sim. Na primeira teoria do aparelho psíquico ou primeira tópica freudiana, se divide o
psiquismo em inconsciente, pré-consciente e consciente. O inconsciente, para Freud, era uma
instancia psíquica em que o paciente sabe, mas não sabe que sabe, o inconsciente não segue
uma lógica linear, mas atemporal e dialético, onde contrários coexistem. O inconsciente é
estruturado como linguagem e é a fonte de energia do psiquismo humano. A libido é a energia
erótica que possibilita a vida. Utilizar-se desta energia para fins socialmente aceitos resulta
em sublimação que ocorre quando o objeto e o objetivo são modificados e o que era
orginalmente sexual, encontra uma satisfação não erótica “de valoração social ou ética”.
Posteriormente ele desenvolve a segunda teoria do aparelho psíquico ou segunda tópica ao
perceber que o psiquismo era mais complexo do que a divisão em inconsciente, consciente e
pré-consciente. Neste momento a estrutura psíquica é dividida em Id, Ego e Superego. O id é
a fonte de energia pulsional (libido) que é inconsciente e regido pelo princípio do Prazer e o
Ego está ligado ao princípio de realidade, por meio do qual o homem pode se tornar
civilizado, tem parte consciente e outra inconsciente e faz mediações entre os desejos do Id e
as impossibilidades da realidade externa e as interdições do Superego.

O superego é o herdeiro do complexo de Édipo e acusa os desejos do id, antes mesmo que


cheguem à consciência. O superego possui uma maior parte inconsciente e outra pequena
consciente. Há uma relação dialética entre eles e o psiquismo tem como infraestrutura o que é
orgânico, Freud explica que a energia libidinal está na fronteira do psíquico e do somático. No
plano inconsciente o superego acusa o id, e o ego trata de reprimi-las antes mesmo que
cheguem ao consciente, gerando o sentimento de culpa, O homem, pela transformação dos
instintos animais, é capaz de renunciar à satisfação imediata e ao prazer, em nome da
satisfação adiada, que gera segurança, para constituir a vida em sociedade. A libido, energia
que possibilita essa transformação, destina-se para a reprodução humana na relação entre os
sexos e é também desviada desse objetivo e dirigida para a realização de outras atividades
humanas cuja finalidade é a produção de cultura, que Freud denomina sublimação e essa
energia sexual está ligada à Pulsão de Vida, que possui uma relação de

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ambivalência, contradição e complementaridade com o Instinto de Morte em uma
contraposição e de complemento, há o Instinto de Morte, ou Tânatos. Essa relação entre Eros
e Tânatos constitui o psiquismo.

A possibilidade de civilização implica na subjugação dos instintos pulsionais humanos, e seu


investimento em objetos que possibilitem a vida em sociedade. Elas serão fundamentais para
entender importantes formulações na teoria freudiana, como o Complexo de Édipo e o
Complexo de Castração. As explicações freudianas sobre o Complexo de Castração não
dizem respeito diretamente à mutilação dos órgãos sexuais da criança, mas a sua ameaça, por
meio de uma experiência psíquica vivida pelo infante em que as interdições e as leis começam
a fazer parte da experiência do Complexo de Castração em relação à suposta mutilação dos
órgãos sexuais, fantasiada pela criança, é inconsciente e será decisiva na constituição do
sujeito. No qual é preciso que a criança entenda e internalize que não pode ter todas as suas
vontades atendidas. Os limites, impostos pelos progenitores, serão fundamentais para a
constituição psíquica da criança.

Esse é um ponto importante do Complexo de Castração, que será fundamental no


desenvolvimento do Complexo de Édipo. Essa é a época das ameaças verbais que visam a
proibir à criança suas práticas autoeróticas e obrigá-las a renunciar a suas fantasias
incestuosas. A criança passa a conhecer a interdição e precisa renunciar à satisfação imediata
para conviver em sociedade. A Castração aliada ao Édipo inaugura o não na vida do sujeito.

A menina, assim como o menino, também postula sobre a universalidade de um órgão


comum, mas percebe a diferença anatômica, como explica Freud. Segundo Freud, o
menino, ao eleger a mãe como objeto de amor, identifica-se com o pai e vê nele um rival, que
compete pelo amor materno, inaugurando o Complexo de Édipo. A ameaça de castração por
parte do pai, que faz a interdição da relação com a mãe, e o medo de perder a proteção
paterna, leva a criança a abandonar o Complexo de Édipo. Sendo assim, há a eleição posterior
de substitutos para o investimento libidinal fora da relação incestuosa.

A renúncia ao objeto proibido, ou, à satisfação imediata, e a capacidade de desviar a energia


para a eleição de outros alvos da libido pode se constituir como sublimação. O Complexo de

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Édipo feminino é distinto do masculino e menos trabalhado na teoria freudiana. Nele, a
menina atribui a culpa da sua castração à mãe e desenvolve sentimentos de hostilidade para
com ela. A menina elege o pai como objeto de amor, na esperança de que ele lhe dê o
falo, que ela não possui.

A castração, que finaliza o Complexo de Édipo masculino, dá início ao feminino. Ele se


desfaz no decorrer da infância, pois a menina percebe que não poderá ter o pai ou o falo que
ele representa, e, assim como o menino, substitui o amor erótico em relação às figuras
parentais pela eleição de um objeto fora da relação incestuosa. O falo, entendido como poder
e não reduzido ao pênis anatômico, é fundamental para compreender alguns mecanismos de
dominação da sociedade capitalista.

O poder é buscado como uma promessa de salvação em meio à insegurança e ao desamparo


desta sociedade competitiva e por esse motivo, o Complexo de Castração, aliado ao
Édipo, introduz a criança na vida em sociedade.

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Texto 2: “A Atualidade do Projeto Freudiano de 1895” – 20.08.2022.

Voltando de Berlim, ele começou a fazer esboços para o Projeto de Psicologia Científica
quando visitou seu amigo Fliess, Na tentativa de sistematizar o conhecimento sobre os
processos psíquicos para torná-lo "claro e não contraditório", Freud se debruçou sobre
conceitos fundamentais, como a natureza dos neurônios e suas conexões, mesmo antes das
descobertas experimentais sobre essa célula. Ao elaborar o Projeto, Freud apresentou sua
teoria dos processos psíquicos através da dinâmica das partículas materiais em um espírito
científico. A proposta de um mecanismo para descrever a atividade mental em termos
neurológicos aproxima a linguagem utilizada no projeto dos estudos contemporâneos da
neurociência e da cognição.

O projeto levanta a discussão em torno da possibilidade de uma Psicologia entendida como


uma ciência natural claramente definida, à luz do paradigma da Física. Nesse contexto,
Fulgêncio nos conta que, entre as premissas científicas que sustentam essa iniciativa, a busca
por compreender o lugar da atividade psíquica humana no mundo natural se baseia nos
pressupostos científicos da biologia evolutiva e nas leis da termodinâmica. Como citado por
Freud durante sua explicação de como o dispositivo surgiu. Uma parte importante da história
dos estudos da memória trata do impacto da pesquisa fisiológica no estudo dos processos
mentais. No campo das ideias, o estudo da mente, assim como os processos psíquicos como a
memória, tornou-se cada vez mais objeto da atividade científica.

Questões sobre o funcionamento de nossa memória começaram a ser formuladas em


laboratórios. A pesquisa sobre as primeiras tentativas de mapear as funções cerebrais e a
estrutura do sistema nervoso para respostas a tais questões foi realizada usando um método
científico. Assim, ele delineou novos fundamentos para o estudo de novos conhecimentos,
memória e funcionamento psíquico gerados nos campos da neurologia, fisiologia e filosofia.
Entre os pioneiros da aplicação do método experimental à mente, encontramos o pesquisador
alemão Hermann Ebbinghaus como pioneiro nos estudos de memória e aprendizagem.

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Seu artigo de 1821 "Contribuições para o estudo da memória" surgiu como o primeiro estudo
sistemático de um processo psíquico na forma esperada da Psicologia Científica. Segundo
Ebbinghaus, para tratar a psicologia como ciência, é preciso encontrar um lugar no psiquismo
"onde seja possível aplicar fortes braços de pesquisa, experimentação e avaliação nas ciências
exatas". Sua intenção, portanto, era conhecer a natureza da memória como o processamento
consciente da informação com um rigor que pudesse substituir velhas metáforas por
definições precisas quantificadas e definidas em linguagem matemática. Ebbinghaus criou
declarações processando matematicamente os dados fornecidos por suas centenas de estudos
experimentais sobre memória ele construiu expressões, fórmulas e gráficos para apresentar as
relações entre retenções e esquecimento.

O objetivo é apresentar brevemente a natureza do estudo da memória e a tentativa de fazer da


Psicologia uma ciência, trazendo à tona alguns aspectos do cenário intelectual de quase dois
séculos na época em que Freud escreveu o Projeto de Psicologia Científica. Para Garcia-Roza,
Freud lidava com os mesmos tipos de problemas que caracterizavam o pensamento científico
no final do século XIX, ao compartilhar com seus contemporâneos a crença de que os
processos psíquicos poderiam ser descritos por meio de leis científicas. O objetivo de Freud
de fornecer uma psicologia entendida como uma ciência natural é descrito na primeira página
deste texto de 1895.

No projeto, Freud desenvolve um modelo de funcionamento psíquico como um todo, além do


estudo da memória como atividade consciente. No modelo proposto por Freud, a psique é a
própria memória. O Aparelho Psíquico nos foi apresentado por Freud como uma rede de
neurônios capaz de transmitir e transformar a energia que impulsiona o sistema e dá origem à
atividade psíquica. De acordo com Freud, "uma teoria psicológica um tanto relevante deve
fornecer uma explicação da memória".

Para Freud, o recurso interior é caracterizado por um tipo muito específico de necessidade,
que ele descreve como as grandes "necessidades" que permitem a vida humana. Portanto,
temos o sono, o calor, a fome e a sexualidade como exemplos de expressões dessa energia
interior ou Q'n. Freud nos apresenta a dinâmica do Q'n no Dispositivo e ressalta que a partir
do momento em que há uma necessidade orgânica no organismo, temos um acúmulo de
energia proporcional ao aumento dessa necessidade. Assim, a catexia se mantém até que a
quantidade de energia seja suficiente para romper a barreira de contato.

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Desta forma, revelam-se facilitações, sinais ou vestígios do fluxo energético que constituem o
princípio da formação da memória. A partir desse mecanismo aprendemos a entender a
memória como um signo, um traço estabelecido no continuum de conexões entre neurônios,
sujeito à magnitude da energia despendida nessas conexões. A vantagem que a simulação
computacional oferece sobre a modelagem do fenômeno como uma definição teórica, como a
pura proposição matemática em um conjunto de algoritmos derivados dos primeiros estudos
científicos sobre memória, é que o método de simulação tem maior poder heurístico. Assim,
um modelo surge como um mundo artificial, momentaneamente "cristalizando" as relações
causais por meio de uma topologia específica.

Mas no processo de modelagem, os parâmetros que definem o "mundo virtual possível", ou


seja, os elementos que devem compor a simulação, tornam mais visíveis algumas das
informações utilizadas como referência em detrimento de outras. Ao orientar, filtrar e
direcionar a atenção para alguns aspectos específicos do modelo a ser representado, há uma
redução do conhecimento original. Um sistema de modelagem computacional que se
aproxima da proposta do dispositivo de Freud são as redes conectivas. Redes artificiais
simulando neurônios são utilizadas para modelar fenômenos cognitivos em que a atividade
psíquica é representada a partir da relação, ou seja, a relação entre as diversas unidades da
rede.

Tal configuração apresenta características relacionadas à dinâmica proposta por Freud para o
funcionamento do aparelho psíquico, como a não linearidade do conhecimento. Essa
propriedade indica que, como a atividade psíquica surge de componentes simples de uma rede
- neurônios - não precisamos procurar centros específicos de processamento de informações,
ou melhor, o sistema como um todo funciona, está conectado com sua topologia e seu
funcionamento. O dispositivo revela que as redes de neurônios oferecem a atividade psíquica
como uma propriedade que emerge de traços de pequenas quantidades de energia. De acordo
com Minsky, "Freud foi um dos primeiros cientistas da computação a estudar a importância
da memória". É possível pensar um Freud cognitivista para além do estudo da memória
psíquica.

Para modelar matematicamente os conceitos desenvolvidos no projeto, foi atribuída uma regra
ao fluxo de Q no sistema sobre um valor mensurável. Além disso, foi criada uma instrução
para a relação entre as conexões dos neurônios, que é fundamental para que ocorra o

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aprendizado, e os valoresde barreiras de contato, ou seja, o aparelho é capaz de formar
memória psíquica.

Texto 3: “A Teoria Freudiana da Consciência” – 23.08.2022.

No início, a grande novidade da psicanálise era a extensão, complexidade e importância que


ela atribui ao inconsciente agora que a ideia de atividade psíquica inconsciente não é mais
surpreendente, pode ser colocada em questionar o que falta aos processos inconscientes.

Reconhecendo a importância das relações e transições entre processos inconscientes e


conscientes, abre-se espaço para questionar como a psicanálise deve conceber a consciência.

Acrescente a isso o fato de que a consciência se tornou recentemente objeto de intensa


pesquisa, tanto em neurociência, neuropsicologia e psicologia cognitiva, quanto em filosofia
da mente.

É, portanto, uma oportunidade, perguntar como a psicanálise pode se relacionar com esses
desenvolvimentos recentes, para verificar como a teoria psicanalítica conceitua a consciência
embora Freud nunca tenha publicado um trabalho específico sobre a consciência, as
referências ao assunto são encontradas em vários pontos de sua obra.

Freud declarou que a consciência é uma realidade única, contra toda explicação ou descrição.

Isso pode nos levar a pensar que sua concepção de consciência é próxima à de alguns autores,
hoje chamada de "misticismo". Segundo ele, a consciência é essencialmente um mistério que
não pode ser explicado cientificamente. No entanto, nos enganaríamos se nos apegássemos a
essa citação para concluir que não há espaço para uma explicação da consciência no
pensamento de Freud que apesar de certas ambiguidades, a consciência tem um lugar preciso
em seu sistema teórico, o de um "órgão sensorial" para a detecção de qualidades espirituais e
espirituais.

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A análise do conjunto de textos relacionados mostra que, quando Freud diz que a consciência
é inexplicável e indescritível, ele está pensando sobre a consciência do ponto de vista de
primeira pessoa, para cada um de nós, em nossa experiência íntima, a verdade da consciência
é uma verdade rudimentar sobre si mesmo, cuja natureza parece imperceptível a qualquer
análise ou interpretação, a qualquer preferência, ou mesmo a qualquer definição imperfeita,
no entanto, essa inviolabilidade da consciência, do ponto de vista da primeira pessoa, não
significa que para Freud ela deva ser metodologicamente ignorada, seria um erro pensar que,
como teoria e clínica do inconsciente, a psicanálise nada tem a ver com a consciência. Todas
as manifestações e processos inconscientes de que trata a psicanálise só podem ser inferidas a
partir do que o paciente percebe. Como disse Freud, "a qualidade de ser consciente... continua
sendo a única luz que ilumina nosso caminho e nos guia através da escuridão de nossa vida
espiritual".

De fato, podemos ver que ele desenvolveu todo um conjunto de concepções de consciência e
sua relação com outros fenômenos espirituais. De sua correspondência, sabemos que Freud
escreveu, em 1915, um texto sobre a consciência, parte de sua coleção de psicologia
metafórica.

Embora o inconsciente ocupe um lugar central na psicanálise, não devemos esquecer que a
definição do inconsciente só pode ser dada em relação à consciência.

O inconsciente nunca pode ser observado diretamente é o caso dos atos falhos descritos por
Freud em sua Psicopatologia da Vida Cotidiana ou ainda, a inferência poderia se basear na
imitação do objeto, como foi o caso de Freud quando observou a expressão mista no rosto do
Homem dos Ratos, que mostrava simultaneamente prazer e desprazer.

No entanto, é principalmente a partir da análise do discurso que se percebe claramente a


prevalência do inconsciente, durante sua fala, o sujeito fala sobre o que tem conhecimento,
mas, ao mesmo tempo, o inconsciente também se expressa em seu discurso, na escolha de
certas palavras, na insistência de certos signos, na omissão da linguagem que pode ser
cometida, nas associações um fundamento de consciência que o inconsciente se revela, em
meio às teias conscientes das quais tece sua trama. O próprio conteúdo consciente da fala está
sempre relacionado ao inconsciente, seja por aproximação, afastamento ou evasão Freud
atribuiu grande valor, na técnica psicanalítica, às "ideias incidentes" que vem subitamente a
mente do sujeito sem que ele saiba o motivo.

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A frase "Isso não tem nada a ver com o que eu disse, mas..." indica, em psicanálise, a
presença de uma associação inconsciente, a ideia de problema é consciente, por outro lado, o
esquecimento de uma palavra na fala consciente leva à necessidade de se afastar de uma
representação inconsciente.

Toda análise discursiva realizada pela psicanálise mostra que o conteúdo da consciência é
sempre marcado pela influência do inconsciente. E é investigando o papel dessa influência
que o analista e o analisando podem acessar o inconsciente.

Portanto, a importância de saber o que é “tornar-se consciente” é compreender o sentimento


de “não tornar-se consciente” e, sobretudo, “não poder tornar-se consciente”. Na prática
psicanalítica, o analista explora o que o paciente pode perceber, a fim de alcançar seu
inconsciente, isso de forma alguma suspende a repressão, nem anula seus efeitos, como seria
de se esperar, pois a expressão anteriormente inconsciente tornou-se consciente.

Podemos supor que é uma intervenção efetiva do analista que, qualquer que seja sua natureza,
põe em movimento, no discurso do paciente, novas cadeias de associações, correspondentes à
nova relação com seu inconsciente.

Essas novas cadeias de associações correspondem a novos conteúdos da consciência, ou seja,


a mudanças no que atinge a consciência, mesmo que esses conteúdos não estejam
relacionados ao conteúdo inconsciente em questão.

No modelo teórico apresentado no Projeto de Psicologia, manuscrito de 1895, a consciência é


atribuída ao funcionamento de um sistema hipotético de neurônios, relacionado ao sistema,
responsável pelos processos mentais em geral: percepção, memória, desejo, imaginação, etc.
No que diz respeito à percepção consciente, Freud sugeriu que o estímulo proveniente do
mundo externo chegou originalmente ao sistema através de phi atinge inicialmente o ômega
que se liga a receptores sensoriais, dos quais é finalmente transmitido.

A partir disso, vemos a íntima conexão que Freud estabeleceu entre percepção e consciência.

No entanto, a consciência não é apenas percepção consciente, ela também inclui memória
consciente, imaginação consciente, desejo consciente, pensamento consciente, etc. No
Projeto, Freud concebeu todos eles como processos que ocorrem em um sistema e sua
consciência é constituída pela atividade de outro sistema.

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A consciência que uma pessoa tem de seus próprios processos espirituais, ou de seus
conteúdos, é uma forma de consciência, pelo sistema ômega, de parte do que se passa em psi.

Por um lado, as qualidades sensoriais, respondem pela proporção da percepção sensorial as


experiências prazerosas e dolorosas, descritas por Freud nos capítulos 11 e 12 da Parte I do
Projeto, evocam sentimentos de prazer ou desprazer no ômega, mas são independentes deles.

Além disso, os efeitos dessas experiências, descritos no Capítulo 13, são, respectivamente, o
desejo e a defesa primários, independentes do ômega, pois são gerados automática e
inconscientemente no cérebro. A primeira função do sistema de consciência, descrita no
Projeto, diz respeito aos signos de realidade, ou signos de qualidade sensorial, que distinguem
entre percepção e representação originada na mente.

Texto 4: “O conflito psíquico na teoria de Freud” – 06.09.2022.

No Projeto para uma psicologia científica (1895), o aparelho psíquico é concebido como
formado por partículas materiais chamadas de neurônios, que podem estar mais ou menos
carregados por Q, quantidade de energia psíquica. Nessa teoria, o modo como se dá a
circulação de Q no sistema neuronal é o que caracterizará o ponto de vista econômico. Essa
economia é regulada por dois princípios: 1) o princípio da inércia diz que os neurônios
tendem a se desfazer de Q; 2) como uma descarga total tornaria o sistema incapaz de realizar
qualquer coisa, o princípio da constância cuida de reter uma quantidade mínima de Q
constantemente presente no sistema. O desprazer estaria relacionado a um aumento da tensão
do aparelho psíquico, enquanto o prazer estaria relacionado a uma diminuição. Todo o
funcionamento mental estaria voltado para diminuir o desprazer e gerar o prazer, ou
seja, estaria regido pelo que Freud chamou de Princípio do prazer. No entanto, o sujeito logo
aprende que nem sempre a satisfação dos seus prazeres é a melhor opção, uma vez que tais
atos podem ter como contrapartida uma punição.

Assim, passa a adiar alguns prazeres em troca de outros, mais seguros, e para isso utiliza-se de
processos racionais de avaliação e julgamento objetivo das causas e consequências envolvidas
em um determinado contexto. Essa ponderação, que vem contrabalancear o domínio do
princípio do prazer, foi chamada por Freud de Princípio da realidade. O princípio do prazer

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está relacionado ao processo primário, que se encarrega de descarregar excitação, enquanto o
princípio da realidade está relacionado ao processo secundário, que permite a inibição dessa
descarga. Assim, o inconsciente é definido por uma forma de energia livre, e pela
predominância do processo primário e do princípio do prazer, enquanto o consciente é
definido pela energia ligada e predominância do processo secundário e princípio da
realidade. O recalque e a repressão procuram expulsar conteúdo do Cs e impedir que eles
voltem a aparecer, enquanto as formações do inconsciente tentam burlar a resistência e a
censura para fazer com que determinados conteúdos surjam. "O conceito de introjeção, por
sua vez, é descrito como o passo final de um processo mais amplo." Vemos, assim, que são
processos extremamente semelhantes, mas que apresentam vetores opostos – enquanto a
projeção representa um movimento para o exterior, a introjeção é um movimento para o
interior, de modo que estes conceitos se ligam intimamente ao par Sujeito – Mundo
Externo. Tanto em um caso como no outro, a origem desses afetos é uma situação anterior ao
tratamento analítico, sendo os sentimentos de então transferidos de forma inconsciente para a
figura do analista.
A transferência negativa é caracterizada pela presença de sentimentos hostis do paciente em
relação ao seu psicanalista, enquanto a transferência positiva, considerada por Freud como
condição necessária para que houvesse um tratamento bem sucedido, é baseada na presença
sentimentos amorosos. Esta é a primeira teoria geral das pulsões formulada por Freud, sendo
as pulsões sexuais expressas pela libido, energia sexual, enquanto as pulsões do ego
representam sua tendência à autopreservação. " Em uma de suas conferências, Freud declara
que o conflito patogênico, isto é, gerador de neurose, é aquele que se dá entre as pulsões
sexuais e as pulsões do ego, chamadas também de forças instintuais não-sexuais". Na segunda
teoria das pulsões, Freud estabeleceu que pela atuação concorrente ou mutuamente oposta
entre as pulsões de vida e as pulsões de morte poderíamos explicar toda uma multiplicidade
de fenômenos.
As primeiras procuram preservar a vida, combinando e agregando elementos em organizações
complexas e funcionais, enquanto as segundas fazem o caminho inverso, levando a vida
organizada de volta ao seu estágio inicial, que é o de substância desagregada e
inanimada. Embora esse levantamento esteja longe de ter sido completo e
exaustivo, esperamos ter demonstrado a presença de pensamento antitético ao longo de todo o
percurso teórico de Freud, pois os exemplos escolhidos foram retirados tanto de textos iniciais
como de outros ao longo dos vários momentos de reformulação teórica pelos quais a obra de

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Freud passou. Obviamente, em diversos momentos Freud utilizou-se de formulações que não
podem ser reduzidas a pares de opostos – exemplos disso são as noções de equação etiológica
e de sobre determinação. Ponto de extrema importância também é o fato de que a clínica
freudiana encara a verdade de cada sujeito como algo singular, o que aponta para um
pluralismo de verdades subjetivas, e nos lança muito além de qualquer simplificação dualista.
A produção de Freud não deve ser subsumida a tais categorizações genéricas demais, pois ela
tem como traço singular a impossibilidade de ser classificada satisfatoriamente em alguma
destas categorias. Quando muito, será monista, dualista e pluralista ao mesmo tempo. Assim
sendo, não pretendemos classificar pura e simplesmente Freud como dualista, uma vez que o
seu pensamento é maior do que isso, mas ao contrário, apontar para o que há de dualismo no
pensamento freudiano. Esta abordagem pode ser esclarecedora para a compreensão de um
conjunto de conceitos, cujas definições e relações entre si passam pelos pares de contrários.

A partir desse ponto, Freud compara esse achado de sua investigação dos sonhos com o
trabalho do filólogo Karl Abel, que chamou a atenção para o fato de que várias palavras em
egípcio significam, ao mesmo tempo, uma coisa e o seu exato oposto. Abel reconhece em
seguida que casos de significação antitética também estão presentes em outros grupos
linguísticos, e enumera vários exemplos. De vez que todo conceito é dessa maneira o gêmeo
de seu contrário, como poderia ele ser de início pensado e como poderia ele ser comunicado a
outras pessoas que tentavam concebê-lo, senão pela medida do seu contrário...? Essa
explicação já havia aparecido antes na filosofia de Hegel, para quem um conceito só se define
na relação que estabelece com seu contrário, com aquilo que lhe é diferente.

Se um parasse, o outro pararia também, e o mundo desapareceria, pois este necessita dos dois
para construir uma realidade aparentemente estável. Se todos na Terra reconhecerem o bem
como o bem, deste modo já se pressupõe o mal. Por exemplo, o formoso é o contrário do
feio, o justo do injusto e assim outra infinidade de coisas. É absolutamente necessário que as
coisas que têm seu contrário nasçam desse contrário, como quando uma coisa cresce é
necessário que tenha sido menor para crescer.

Sendo assim, poderíamos interpretar a presença de antíteses no pensamento freudiano como


mais do que mera casualidade. O próprio processo de definição de um conceito deve passar

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necessariamente por aquilo que ele não é, já que, se tudo fosse idêntico, não haveria razão
para distinguir e existiria uma só palavra. 

É somente pela heterogeneidade que as ideias se tornam claras e tomam forma – e nada
melhor do que recorrer às comparações para delimitar um conceito e assim melhor comunicá-
lo a outra pessoa.

Entretanto, nada disso seria possível se não encontrássemos essa mesma heterogeneidade e


polaridade no mundo mesmo a que nos referimos como juiz de toda e qualquer teoria e
descrição humana. Dessa forma, as polaridades presentes nos pensamentos e esquemas de
Freud seriam o reflexo da presença real de oposições na realidade psíquica, e isso
explicaria, consequentemente, sua presença no discurso psicanalítico que a procura
descrever. A imagem da alma humana perpassada por contradições constitutivas surge como o
retrato fiel da concepção freudiana do homem, na qual observamos a presença irremediável de
conflitos que fazem do mundo interior um campo de batalha. Não se pode viver sem estar, em
alguma medida, em desencontro consigo mesmo, e não há apaziguamento absoluto.
Esses mesmos autores propõem uma maneira de entender os conflitos na obra de Freud a
partir da metapsicologia, isto é, conflitos dentro dos aspectos tópicos, econômicos e
dinâmicos. Embora esta seja uma sugestão interessante, optamos por um enfoque ainda mais
geral e abrangente, que ultrapassa tal ordem de classificação, uma vez que o conflito entre
pulsão de vida e de morte, por exemplo, pode ser caracterizado como simultaneamente
econômico e dinâmico.

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Texto 5: “Fases Psicossexuais Freudianas” – 13.09.2022.

No decorrer da vida o ser humano passa por constantes transformações. O homem durante seu
crescimento passa por fases relevantes e necessárias para seu desenvolvimento, e isso inclui
as fases sexuais. A medida que as crianças vão crescendo, mudanças no comportamento
sexual são percebidas Mudanças que podem causar susto e desconforto a quem não entende
ou não está preparado para se pôr diante de certas situações relacionadas a sexualidade. A
pesquisadora e educadora Infantil sabe que podem ser encontradas algumas lacunas nas
realidades de muitos centros de Educação Infantil e algumas delas podem ser percebidas
quando o assunto tratado é a sexualidade das crianças, pois muitos educadores não
compreendem que alguns comportamentos que as crianças apresentam são apenas coisas
normais do seu desenvolvimento e, são vistos como anormalidades e às vezes são realizados
julgamentos contra a criança acerca dos comportamentos que ela apresenta, mesmo podendo
saber que, de acordo com Freud sexualidade estará sempre nas nossas vidas, pois ela "nos
acompanha desde o nascimento até a morte". 

Nessa perspectiva Durante mais de quarenta anos Freud explorou o inconsciente pelo método
da associação livre, desenvolvendo a primeira teoria abrangente da personalidade. Breuer e

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Freud fizeram parceria nos estudos de alguns casos de histeria que foram curados por meio
desta técnica. Mas, as divergências em seus pontos de vista apareceram quando suas ideias se
tornaram divergentes ao se tratar do fator sexual na histeria, pois enquanto Breuer mantinha
um ponto de vista tradicional sobre a sexualidade, Freud defendia que os conflitos sexuais
seriam as causa da histeria e com isso Freud começou a sustentar seus estudos
sozinhos, desenvolvendo ideias que viriam a fundamentar a sua teoria psicanalítica. Os
estudos de Freud foram fundamentais para que hoje seja reconhecido que a sexualidade está
presente também na infância. Freud participou da conferência nos Estados Unidos que tratava
dos estudos psicanalíticos, no ano de 1909, e na oportunidade apresentou os motivos que
fizeram com que ele remetesse a infância para entender os motivos das neuroses na fase
adulta. Os sintomas da neurose são consequências da sexualidade que um dia foi reprimido na
infância.

Nos estudos de Freud, ele considerou que a sexualidade vem desde o nascimento da


criança, assim ele foi o primeiro a considerar como natural em crianças o que para muitos
pode ser considerado com errado ou até mesmo estranho, como ereções, masturbação e até
mesmo algumas coisas que podem ser consideradas simulações sexuais. Não é verdade
certamente que o instinto sexual, na puberdade, entre no indivíduo como, segundo o
Evangelho, os demônios nos porcos. A criança possui, desde o princípio, o instinto e as
atividades sexuais. Ela os traz consigo para o mundo, e deles provêm, através de uma
evolução rica de etapas, a chamada sexualidade normal do adulto.

Desse modo, Freud estabeleceu os períodos e fases e acreditava que as crianças passavam


durante suas vidas, fases que eram interrompidas com a chegada de outra nova fase. Freud
apresentou as fases psicossexuais, na qual mostrou que o desenvolvimento do ser homem se
dá por estágios, estágios estes que foram denominados por estágio oral, anal, fálico, latência e
por último o estágio genital. No estágio oral que acontece do 0 aos 18 meses da
criança, comer é a atividade mais prazerosa e que é produzida pela boca, comer estimula os
lábios e a cavidade oral, podendo ser jogado fora o alimento que não agradar. No Estágio Oral
surge a dependência, pois a criança neste período é quase que totalmente dependente da
mãe, já que é ela quem o alimenta e protege do que lhe possa fazer mal.

Esse sentimento de dependência permanece durante fases da vida, como exemplo quando a


pessoa está angustiada e insegura. Freud acreditava que o maior nível de dependência é

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quando se é desejado a volta para o útero da mãe. O Estágio Anal ocorre dos 18 meses aos 3
anos de vida da criança, e é nesse estágio que após ocorrer a digestão dos alimentos, os
mesmos ficam acumulados no intestino, para depois ser expelido. Os esfíncteres começam a
ser controlados a partir dos dois anos de vida, e é nesse momento que a criança tem a sua
primeira experiência de decidir o controle de um impulso que vem de seu próprio
instinto, pois ela começa a aprender a segurar sua necessidade de aliviar as tensões anais.

O modo como à criança é educada e o jeito que a mãe encara as situações de proscrição das
fezes pode produzir nas crianças efeitos que dizem respeito com a formação de valores da
criança. Quando a mãe faz uso de métodos rigorosos, pode acontecer de a criança começar a
reter as fezes e quando esse modo de retenção se generaliza por outras condutas na vida da
criança, e a mesma pode adquirir um caráter retentivo. A criança por ser forçada a manter
algo consigo, mesmo que lhe cause certo grau de desconforto pode também fazer com que
tenha consigo a avareza, ou quando as medidas tomadas pela mãe é muito intensa a criança
pode começar a repelir as fezes em horas não apropriadas. Mas por outro lado, se a mãe tiver
outra postura em relação às fezes da criança como, incentivar para que a criança
defeque, elogie quando a mesma realiza o processo, ela pode começar a perceber que defecar
é importante para ela, e a partir disso a criança pode criar a base para uma personalidade
criativa e produtiva, além de que outros traços de caráter podem surgir durante o Estágio
Anal.

O Estágio Fálico acontece dos 3 aos 6 anos da criança, e de acordo com Hall e Lindzey é nele
que surge as primeiras sensações sexuais e uma certa agressividade no que diz respeito ao
funcionamento dos genitais. É nesse estágio que aparece o complexo de Édipo, que decorre
do início da masturbação e de fantasias que a criança produz em sua vida. Os autores ainda
salientam que, Freud considerou que identificar o Complexo de Édipo se tornou uma de suas
maiores descobertas no estudo da sexualidade. Segundo Freud "apaixonar-se por um dos pais
e odiar o outro figuram entre os componentes essenciais do acervo de impulsos psíquicos que
se formam nessa época".

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