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Índice

Agradecimentos. III
Epigrafe... IV
Dedicatória.. .V
Declaração de Autenticidade. .VI
Abreviaturas...... VII
Resumo................ VIII
Introducão............. 8

CAPITULO-1:CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA. 12

1.1.Abordagem Geral do Processo Administrativo Contencioso. 12

1.1.1.Origem da Palavra Processo.. 12

1.1.2.O Sentido Amplo do termo Processo. 12

1.1.3 O sentido restrito do termo Processo.. 13

1.2 Abordagem sintética do Processo Administrativo Contencioso. 13

1.2.1 Processo Administrativo Contencioso e Procedimento Administrativo. 15

1.3 Objecto do Processo Administrativo Contencioso. 16

1.3.1 O sentido amplo do termo Contencioso. 17

1.3.2 O sentido restrito do termo Contencioso. 18

1.4 Fontes do Direito Processual administrativo Contencioso. 18

1.5 Delimitação do Direito Processual administrativo Contencioso. 19

1.6.1 Principios Constitucionais sobre o Poder Administrativo.. .21

1.6.1.1 Principio da legalidade.


22
1.6.1.2.Princípio da Justiça e da imparcialidade. 23
1.6.1.3 Principio da Ética.
23

1.6.1.4 Princípio da Igualdade. 24

1.6.1.5 Princípio da prossecucão do interesse público. 24

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1.6.1.6 Principio do respeito pelos direitos e interesses legitimos dos particulares. .25

1.6.2 Dualidade Funcional dos Principios do Direito Administrativo.. 25

1.7 Estrutura Escalonada da Ordem Jurídica. .26

1.7.1 A Constituicão da República de Mocambique. 27

1.7.2.0 Direito Internacional (Convencões e tratados) e os Actos normativos infraconstitucionais......


28

1.7.3 Actos de administracão..


28

1.8 Principios Constituintes do Poder Jurisdicional 29

1.8.1 O Tribunal. 29

1.8.2 O Tribunal Administrativo. 29

1.8.3.Imparcialidade. 30

1.8.4 Irresponsabilidade. 31

1.8.5 Inamovibilidade. 31

1.8.6 Independência dos Juizes.


32

1.9 Competências do Juiz Presidente do Tribunal Administrativo Provincial. 32


CAPITULO-2:O PRINCIPIO DA INDEPENDÊNCIA DO JUIZ NO DIREITO COMPARADO....
34

2.1 Regime Juridico da Independência do Juiz em Portugal. 35

2.2 Regime Jurídico da Independência do Juiz no Brasil. 37

2.3 Regime Jurídico da Independência do Juiz na Itália. 39


CAPÍTULO-3:DISCUSSÃO DO PROBLEMA À LUZ DA CONTEXTUALIZAÇÃO.....42

3.Hierarquia na Função Administrativa. 43

3.1 Características do modelo hierárquico. 43

3.2.Espécies de hierarquia na função administrativa. 44

3.3 Conteúdo da relação hierárquica administrativa.. 45

3.3.1Poderes do Superior. 45

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3.3.2 Deveres e sujeições do subalterno.


45

3.4 Hierarquia na Funcão Jurisdicional. 47

3.4.1 Natureza Jurídica do Princípio da Independência dos Juízes/Magistratura. 47

3.4.2 Hierarquia das normas das Internas..


50

3.4.3 Conflito Interno de normas. 51

3.4.3.1 Critério Cronológico. 51

3.4.3.2 Critério da especialidade


52

3.4.3.3 Critério Hierárquico.


53

Conclusão.
56
Recomendações.
Erro! Marcador não definido.
Referências bibliográficas..
60
Anexos e Apêndices.
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Introdução
A Independência do Juiz Relator no Processo Administrativo Contencioso Moçambicano é objecto de estudo deste

trabalho de fim de curso para a obtenção do grau de Licenciatura em Direito na Universidade Católica de Moçambique,(UCM) -

Extensão de Lichinga. Propomo-nos neste trabalho analisar a Independência do Juiz Relator no Processo Administrativo

Contencioso Moçambicano,discutindo a conformidade do n.°5 do artigo 85 da Lei do Processo Administrativo Contencioso,Lei

n.°7/2014, de 28 de Fevereiro,adiante designada por (LPAC), para com os artigos 217, n.°1, da Constituição da República de

Mocambique, adiante designada por (CRM) e do Estatuto dos Magistrados Judiciais de Moçambique, adiante designado por

(EMJ), Lei n.°7/2009, de 11 de Março, respectivamente. Nesses termos, o citado n.°5 do artigo 85 da Lei do Processo

Administrativo Contencioso, LPAC, refere que se o colectivo de Juizes da formação de julgamento entender ser necessária a

realização de qualquer diligência no processo, o Juiz presidente daquele colectivo, ordena ao Juiz relator do Processo a que

proceda à sua realização num prazo por ele determinado. Do outro lado, a nossa ordem constitucional, no também anteriormente

citado artigo-217, n.°1, da Constituição da República de Mocambique, CRM, diz que no exercício das suas funções, os Juizes

são independentes e apenas devem obediência a lei. Na mesma senda o artigo-4 do Estatuto dos Magistrados Judiciais de

Moçambique, subscreve-se a ordem Constitucional,ao dizer que os magistrados judiciais julgam apenas segundo a Constituição,

a lei e a sua Consciência, não estando sujeitos, a ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores
das decisões proferidas, em via de recurso,pelos tribunais superiores. Atento ao tema, visualizam-se posições diversas entre as

disposicões legais supracitadas no que concerne a Independência do Juiz Relator do Processo,onde no referido n.°5 do artigo 85

da LPAC, demonstrando-se que no Processo administrativo contencioso moçambicano o Juiz Relator de Processo, obedece a

ordem do Juiz Presidente do colectivo de julgamento de processo administrativo contencioso e não à Constituição, a Lei, e a sua

consciência, conforme os artigos 217, n.°1 e 4, da CRM e do EMJ, respectivamente. Nesses termos, frente ao Princípio

Constitucional da Independência dos Juízes patente no referenciado artigo 217, n.°1 da CRM, conjugado com o artigo 4 do EMJ,

viu-se que o n°5 do artigo 85 da LPAC, adopta solução diversa do princípio supra mencionado, pois deste,infere-

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se que o Juiz Presidente do colectivo de Juízes, ordena o Juiz Relator de Processo, num prazo por aquele (Juiz
presidente do colectivo de Juizes) determinado, quando deve realizar diligência no processo. Por isso, tendo em
conta o Princípio Constitucional e Estatutário da Independência dos Juízes, como explicar que deva, aquele Juiz
(Presidente), ordenar ao Juiz Relator sobre quando deve realizar diligência no processo, sendo os Tribunais Órgãos
de Natureza Judicial e não Administrativa; porque é que um Juiz relator deve se submeter a ordens ou instruções do
Juiz presidente de um Tribunal Administrativo Provincial, sendo os tribunais, órgãos de natureza Judicial, e que por
causa dessa característica, aos Juízes é conferida uma actuação jurisdicional sujeita apenas à Lei e aos ditames da
sua consciência, então ao Princípio da Independência; com essas indagações, chegamos ao problema central deste
estudo,cuja formulação ganha corpo na seguinte interrogativa: será que o n.°5 do artigo 85 da Lei de Processo
Administrativo Contencioso é compativel com o Principio Constitucional e Estatutário da Independência do Juiz no
Julgamento de Processos? O tema que estudamos neste trabalho baseia-se no Processo Administrativo
Contencioso e Direito Constitucional,concretamente no Direito Judiciário', consequentemente do Direito Público,de
onde inferimos a questão da conformidade do n.°5 do artigo 85 da Lei do Processo Administrativo Contencioso de
Moçambique, Lei n.°7/2014, de 28 de Fevereiro,(LPAC),para com o artigos 217,n.°1, da Constituição da República
de Moçambique, (CRM) e do Estatuto dos Magistrados judiciais de Moçambique, (EMJ). Este trabalho tem como
objectivo geral: Analisar a conformidade do n.°5 do artigo 85 da LPAC, com n.°l do artigo - 217 da CRM e 4 do EMJ.
E especificamente visa: Identificar os Princípios constituintes do Poder Jurisdicional; descrever as Competências de
um Juiz Presidente de Tribunal Administrativo Provincial; verificar a primazia entre as normas jurídicas em
Moçambique; explicar a natureza jurídica do Princípio da Independência dos Juízes na Função Jurisdicional. O
estopim para apresentarmos o trabalho em apreço parte da necessidade de buscar entendimento em volta da tutela
jurídica do Princípio da Independência dos Juízes no Direito moçambicano, onde de forma geral, procuramos
analisar o carácter de subordinação do Juiz Relator ao Juiz Presidente num determinado Processo Contencioso
Administrativo, no que concerne à tomada de diligências,

AMARAL,Diogo Freitas do,Manual de Introdução ao Direito,vol.I,Almedina,2012,pp.289-290.Ramo de direito público constituído pelo sistema de
normas juridicas que regulam a organização, a competência e o modo de funcionamento dos tribunais, bem como dos restantes órgãos e
serviços do Estado que colaboram permanentemente como Poder Judicial.
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(elemento da função Jurisdicional), e consequente o conteúdo e aplicabilidade do Princípio supracitado. Assim,


sendo os Tribunais órgãos de Natureza Judicial, característica essa que confere aos Juízes uma esfera reservada,
própria, e particular, na decisão diante de uma relação controvertida, isto é, na função jurisdicional, significa que,
uma vez introduzida uma causa para julgamento no tribunal, nela não podem intervir autoridades estranhas senão
nos casos previstos na lei e pela forma regulada no processo, competindo ao (s) Juiz (es) decidir segundo os
preceitos legais e os ditames da sua consciência, sem que devam obediência a ordens ou instruções, sejam elas
provenientes de quem forem, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas,em via
de recurso, pelos tribunais superiores. Outrossim,porque o temos como de extrema importância pela sua actualidade
dada a criação e expansão dos Tribunais Administrativos ao nível das Províncias do nosso País, e que se deve
perceber até que ponto existe e se respeita o Principio da Independência dos Juízes no Processo Contencioso
Administrativo para que os já criados Tribunais Administrativos e sua expansão possam acompanhar a efectivação
da implementação do Princípio em referência, bem como para que haja um funcionamento legal dos tribunais, no
que respeita à função jurisdicional, como garantia dos cidadãos, para uma justiça satisfatória a todos que a ela
recorrem. Para a concretização deste trabalho recorremos a pesquisa bibliográfica' na medida em que procedemos
a uma análise descritiva do funcionamento do Princípio da Independência dos Juízes. Sendo que apoiamo-nos ao
enfoque3 qualitativo e quantitativo, onde fazemos o levantamento da opinião e atitudes da população acerca de
determinada situação,por meio de uma entrevista, no caso sobre a obediência do n.°5 do artigo 85 da lei de
processo administrativo contencioso ao principio constitucional da Independência do Juiz no Julgamento de
Processos, onde fazemos a caracterização do funcionamento dos contornos do Princípio da Independência dos
Juízes, analisando documentos legais e manuais. Isto por meio de uma (1) técnica de colecta de dados', a análise
da Legislação e de manuais. Fizemos recurso a essa técnica pelo facto de ter sido necessária contextualização
teórica do Princípio da Independência do Juiz, e pelo facto da pesquisa ser baseada no enfoque qualitativo, para
além de que esta técnica possibilitou-nos a obtenção de dados com menor custo na realização do

2MARCONI,Marina de Andrade;LAKATOS,Eva Maria, Técnicas de Pesquisa,7'edicão,atlas,São Paulo ,2011,p.57.


3SOUSA,Maria José. Como fazer investigação,dissertações,teses e relatórios. Pactor,Lisboa,2011,p.256. 4SOUSA,Maria José. Como fazer
investigação, dissertações, teses e relatórios. Pactor, Lisboa,2011,pp.70-71.
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trabalho. Desta forma,o trabalho está estruturado pelas seguintes partes: a Introdução,onde fazemos a
apresentação do tema, problematização, sua delimitação e localização, objectivos, geral e específicos,
justificativa,metodologia, o plano temático que tem a seguinte estrutura: Capitulo - I: Contextualização; Capítulo -II: O
Principio da Independência do Juiz no Direito Comparado;Capítulo -III: Discussão dos resultados à luz da
Contextualização. E por fim daremos a conclusão, sugestões e as referências Bibliográficas usadas para a
realização do trabalho.
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CAPÍTULO-1:CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

1.1.Abordagem Geral do Processo Administrativo Contencioso


Várias são as definições dadas pelos doutrinadores sobre o Processo Administrativo Contencioso, porém,
para melhor percepção,vamos estudar a origem das palavras que compõem a disciplina da qual retiramos o
problema de estudo que se faz pertinente.
1.1.1.Origem da Palavra Processo
Do latim,a palavra processo, é processus, de procedere, que significa ir por diante, andar para frente, prosseguir,
assim, o significado exacto do termo processo é, pois, marcha por diante, avanço, progresso, desenvolvimento. Em
linguagem comum e jurídica, de forma desenvolvida e conservadora da matriz originária da palavra, e integrando o
sentido primitivo nas suas definições,têm a palavra processo como significado de, acção de prosseguir, ordem
sequencial, série de acções que ocorrem de certo modo5.

1.1.2.O Sentido Amplo do termo Processo


É o conjunto ordenado de actos que se desenvolvem,progressiva e dinamicamente,com objectivo determinado,
desde o momento inicial até ao instante final; é um conjunto sistemático de procedimento6.
Ou, é a sucessão ordenada de formalidades preestabelecidas tendentes à formação ou à execução de uma vontade
funcional?.
Assim,percebemos das definicões acima que destacam-se, a unidade dos actos que o constituem, (o
processO), e o seu carácter teleológico.

SPLACIDO & SILVA,Vocabulário Jurídico, Vol.III e IV. apud CISTAC, Gilles, Direito Processual Administrativo Contencioso,Teoria e
Prática,Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.45.
CRETELLA JUNIOR,José, Curso de Direito Administrativo,apud CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso,
teoria e prática,Vol.I,Escolar,Maputo,2010 p.46.
CAETANO,Marcello,Manual de Direito administrativo, Vol.I,Almedina,10edição,1980.apud CISTAC,Gilles, Direito Processual
Administrativo Contencioso.,Teoria e Prática,Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.46.
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1.1.3 O sentido restrito do termo Processo


Neste sentido, processo não é um desenvolvimento qualquer, mas é a sequência de actos que se desenvolvem,
ordinariamente, pelos juízes nos tribunais. Processo é o juízo que se realiza segundo determinadas regras e com
especial solenidade para configurar e punir um crime ou para decidir uma controvérsia8.
Nesta perspectiva, entendemos que a noção de processo, é inseparável do conceito de jurisdição, pois o processo
é, de acordo com o dito acima, instrumento de jurisdição, tanto quanto podemos notar nas seguintes definições:
Que processo é o conjunto dos actos que hão - de praticar-se em juízo na propositura e desenvolvimento da acção;
ou ainda que processo é a relação jurídica entre as partes e o tribunal10.
Portanto, para a elaboração da definição do processo administrativo contencioso, o eixo director dessa elaboração
será a vertente Judicial da palavra processo, em que processo, na referida vertente judicial, eixo director da
definição do processo administrativo contencioso- é a sequência de actos destinados à justa composição de um
litígio, mediante a intervenção de um órgão independente - (princípio estruturante do poder jurisdicional), revestido
de verdade legal (autoridade do caso julgado) e imparcial de autoridade, o tribunal'!.

1.2 Abordagem sintética do Processo Administrativo Contencioso


Nesta abordagem, unimos todos os elementos previamente identificados do substrato processo
administrativo contencioso. Assim sendo, e nesta perspectiva, como definicão,o processo
administrativo contencioso é a sequencia de actos destinados à justa composição de um litígio
emergente da actividade administrativa, mediante a intervenção de um órgão independente de
autoridade e imparcial, o tribunal, através de umna decisão com força de verdade legal'2.
Outros dizem que,
O Direito Processual Administrativo Contencioso - constitui o conjunto de normas e
8CARREIRA ALVIM, J:E. apud CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso,teoria e prática,Vol.I,Escolar,Maputo,2010 p.48.
CARREIRA ALVIM,J:E. apud CISTAC, Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso,teoria e prática,Vol.I,Escolar,Maputo,2010 p.48.
1°Idem.p.48
1'Idem.p.49.
12CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso,teoria e prática,Vol I,Escolar,Maputo,2010,p.59.
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princípios jurídicos que regulam junto dos tribunais os direitos de defesa face aos direitos da
Administração Pública13.
Outra definição do Direito Processual Administrativo Contencioso - diz que este pressupõe o conjunto de garantias
que se efectivam através da intervenção dos tribunais administrativos'4.
Mais ainda outros dizem que,
O Direito Processual Administrativo Contencioso, é o conjunto de normas juridico-administrativas que visam
acautelar, declarar, e colocar a disposição às pessoas jurídicas, as formas processuais adequadas que possam ser
tomadas pelos tribunais administrativos com vista a satisfação da relação controvertida jurídico administrativa entre
a administração pública e as pessoas juridicas'5.

Confrontadas,estas definições com o Direito positivo vigente em Mocambique,elas carecem de uma substituição, de
forma a dar mais precisão ao conteúdo da disciplina, não se tratando de corrigir um elemento da definição, apenas
uma introdução de um novo elemento, o tribunal, mas não qualquer tribunal.
Assim a definição que nos é mais plausível, e adoptada pelos doutrinários moçambicanos,pelo facto das jurisdições
administrativas serem aquelas formalmente qualificadas como tal, e consequentemente,na ordem jurídica
moçambicana à jurisdição administrativa corresponde o tribunal administrativo,16 e os tribunais administrativos lato
sensu,'7 e ainda pelo facto de encontrarmos nela elementos do processo administrativo contencioso, como,a
estrutura (sequência de actos), o objecto (litigio emergente da actividade administrativa), o fim (justa composição
desse litígio), o meio (os tribunais administrativos), e o resultado (uma decisão), sendo por essas razões a definição
material do Direito Processual administrativo Contencioso, a seguinte:
O Direito Processual Administrativo Contencioso em Moçambique - é a sequência de actos destinados à justa
composição de um litígio emergente da actividade administrativa, mediante
a intervencão de um órgão independente de autoridade e imparcial, os tribunais
13AMARAL,Diogo Freitas do,Curso de Direito Administrativo - o poder administrativo e as garantias dos particulares,Volume IV,2a
Parte,Livraria Almedina,1983,p.51. 14
CAUPERS, João, Direito Administrativo, Aecquitas, Lisboa,1995,p.97.
15 AMARAL,Diogo Freitas,ALMEIDA,Mário Aroso,Grandes linhas da reforma do Contencioso administrativo,
Almedina,Coimbra,2002,p.51. 16Cfr.Artigo-223,n.°1/b)da CRM.
17Cfr.n°2 do artigo supracitado-lato sensu referimo-nos as jurisdições especializadas: tribunais fiscais e aduaneiros.
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administrativos, através de uma decisão com força de verdade legal'8.


Podemos traduzir das definicões acima dizendo que trata-se do direito fundamental e Constitucional19 de tutela
jurisdicional dos direitos e interesses legalmente protegidos dos administrados que se dá o nome de “direito
processual administrativo contencioso,que é caracterizado de ser actuado por uma ordem específica e própria de
tribunais, através de meios processuais também específicos e próprios, sendo então um direito adjectivo,do
substantivo queo direito administrativo.
Em termos de definição, a partir das definições supra, entendemos adoptar segundo a nossa percepção ser a
melhor a que nos diz que, o Direito Processual administrativo contencioso-é o ramo de Direito público constituído
pelo conjunto de regras jurídicas segundo as quais as acções e os recursos devem ser propostas e os trâmites e
métodos que esses devem seguir no seu desenvolvimento em juizo20.

1.2.1 Processo Administrativo Contencioso e Procedimento Administrativo


Processo e procedimento têm uma raiz etimológica comum, do latim: procedere, significando acção de proceder ou
acção de prosseguir, mas apesar disso, são termos diferentes,ora vejamos:
De uma forma geral podemos dizer que o Processo Administrativo Contencioso é constituido de vários
procedimentos, no sentido de operações parciais que integram o processo; por exemplo: num mesmo recurso
contencioso de anulação, o recorrente realizou vários "procedimentos” (regista a sua petição de recurso, produziu
alegações,etc.)22.
Mas isso não basta, pois a distinção entre Processo Administrativo Contencioso do Procedimento Administrativo,
aparece em vários níveis, mas acentuaremos dois níveis, que nos sugerem mais práticos e técnicos jurídicos,
primeiro nivel diz respeito ao:
a) Estatuto dos órgãos cuja vontade funcional será exteriorizada, sendo então:
· Um órgão ou autoridade Jurisdicional -no caso do Processo Administrativo Contencioso;

18CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e prática.Vol.I,Escolar.Maputo,2010,p.62.


19Cfr.artigo-62,n.°1 ab initio da CRM.
20CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e prática.Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.62. 21 Cfr. o
Glossário anexo à Lei no 14/2011, de 10 de Agosto.
22PLACIDO&SILVA,Vocabulário Jurídico,Vol.III e IV.apud CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e
prática.Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.73.
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·Um órgão ou autoridade Administrativa - no caso do Procedimento Administrativo23;


Enquanto o segundo nivel diz respeito a:
b) O acto resultante da sequência de actos ou formalidades praticadas tem uma natureza diferente
segundo o tipo de figura jurídica em causa:
É um acto jurisdicional (sentença/acórdão) no caso do processo administrativo contencioso
sujeito a um regime jurídico específico (fundamentacão obrigatória, caso julgado, menções
obrigatórias)24;
E um acto da administração pública (por exemplo, uma decisão administrativa), no caso de
procedimento administrativo, sujeito a um regime juridico meramente diferente, por exemplo,
a Administração Pública, em princípio, não tem o dever, salvo disposição contrária expressa
na lei lato sensu25,de fundamentar as suas decisões26.

1.3 Objecto do Processo Administrativo Contencioso


Tal o próprio nome refere, o objecto do processo administrativo contencioso, é administrativo, ou seja:
A actividade administrativa- aquela em que se traduz no exercício da função administrativa do Estado, ou
de outras pessoas colectivas de Direito Público, que de acordo com o critério orgânico, tem-se o tribunal
(Juiz administrativo) - que é o Juiz das pessoas colectivas de Direito Público27.

Por isso,podemos afirmar que o processo administrativo, é aquele da actividade administrativa, isto é, a jurisdição
administrativa conhece das pretensões que se deduzem em relação à actividade administrativa e apenas em relação
a esta actividade; com a excepção das actividades da administração cujo juízo não pertence ao Juiz administrativo:
actos praticados

23PLACIDO & SILVA,Vocabulário Jurídico,Vol.III e IV.apud CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e
prática.Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.73-74.
24Cfr.artigo-81 da LPAC.
25Cfr. Contrário sensu,do artigo 253,n.°2 daCRM e artigo- 12 das normas de funcionamento dos serviços da administração pública, aprovadas
pelo Decreto n.°30/2001,de 15 de Outubro.
26RIVERO,J.Autorités administratives et autorités jurisdicionnelles, apud. CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e
prática.Vol.I,Escolar,Maputo,2010,pp.80-82.
27Idem.pp.52-56.
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no exercício da função política, actos de governo, ou políticos, normas legislativas e responsabilidade pelos danos
decorrentes do exercício da função legislativa, ou actividades ligadas ao exercício da função legislativa, actividades
relacionadas com o exercício da função jurisdicional ou actos relativos à instrução criminal e ao exercício da acção
penal28.
Em suma, a justiça administrativa conhece do contencioso da actividade das pessoas colectivas de Direito
Público29.
Assim, para que a jurisdição administrativa seja competente, a acção - lato sensu - deve ser intentada contra um
acto da administração (Estado, Autarquia local, associações públicas, pessoas colectivas de utilidade pública
administrativa e outras entidades públicas)30 que constitui manifestação exterior, produto ou resultado, por vezes
que se apresenta na prática sob uma grande diversidade de forma3' da sua actividade. Assim, a jurisdição
administrativa conhecerá dos recursos e acções movidos por pessoas privadas contra a Administração, os litígios
entre agentes públicos e a administração, ou entre duas pessoas colectivas de Direito Público, (ex. Estado e
autarquia local).

1.3.1 O sentido amplo do termo Contencioso


Dissemos anteriormente, para que a jurisdição administrativa seja competente, é necessário que a acção seja
intentada contra um acto da administração, pois a justiça administrativa conhece do contencioso das pessoas
colectivas de Direito público que são as que praticam a actividade administrativa, é o momento então, de perceber o
que é o contencioso.
O termo contencioso em sentido amplo, significa a contestação entre as pretensões opostas ou ainda de forma
genérica,o litígio.
Aqui o litígio aparece como a perturbação da situação jurídica de uma pessoa, resultando do comportamento de
uma outra pessoa ou ainda de uma outra causa, que necessita a concessão de uma protecção judicial segundo as
regras vigentes, a fim de que a situação perturbada seja restabelecida32.

28 Cfr.artigo-5 da Lei n.° 24/2013,de 1 de Novembro.


29 SILIOTOPOULOS, E. droit administratif hellenique. apud CISTAC, Gilles, Direito Processual Administrativo Contencioso,
teoria e prática.Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.54.
30Cfr.Artigo-25 da Lei supracitada,conjugado com o artigo 230, n.°1 da CRM.
31REBELO DE SOUSA,M.& SALGADO DE MATOS,A.Direito Administrativo Geral,III, apud CISTAC,Gilles, Direito Processual
Administrativo Contencioso, teoria e prática. Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.54.
32CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso,teoria e prática.Vol I.Escolar.Maputo,2010,p.57.
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Assim, por litígio administrativo, entende outro autor ser:


Toda a perturbação de uma situação jurídica provocada por um acto ou uma omissão de um órgão, no sentido
restrito, de uma pessoa colectiva de direito público ou de uma pessoa fisica que presta serviços para uma pessoa
colectiva de direito público (isto é, um órgão lato sensu) no fundamento de uma relação jurídica especial, com a
finalidade de realizar a sua actividade, que pode ser imputada a esta pessoa colectiva, e que concerne ou cria uma
relação sujeita às normas do direito administrativo33.

1.3.2 O sentido restrito do termo Contencioso

No sentido jurídico/restrito, o contencioso tem por finalidade o tratamento do litígio (administrativo) ao qual importa,
para o restabelecimento da paz social,procurar uma solução definitiva. Assim, entende-se por contencioso, ... le
letige porté devant une jurisdiction34. Nesta perspectiva, deve se considerar que o processo contencioso é o
processo litigioso que tem por finalidade obter a solução judicial de um conflito de interesses ou a composição da
lide, que contém uma pretensão insatisfeita ou resistiva.

1.4 Fontes do Direito Processual administrativo Contencioso


Quanto às fontes35, antes de mais e de forma mais simples, podemos dizer que fonte é o local de onde algo
provém. No Direito, as fontes são os factos jurídicos de onde as normas emanam. Portanto,de forma enumerada,
temos as seguintes fontes:
a) A Constituição -enquanto a ordenação jurídica fundamental de uma comunidade politica,que delimita essa
comunidade e lhe fixa o sentido essencial (... )36.
Ou ainda, a Constituição- o conjunto de regras fundamentais da estrutura do Estado,sejam escritas ou não, em
maior ou menor número, mais ou menos simples ou complexos37.
b) A Lei-toda norma de carácter geral definida por mandado conhecido do poder competente para a impor e
como acatado38.

33SPILIOTOPOULOS.apud.CISTAC,Gilles,Direito Processual Administrativo Contencioso,teoria e prática. Vol I.Escolar.Maputo,2010,p.57.


34GOHIN,Olivier. apud. CISTAC,Gilles, Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e prática. Vol I.
Escolar.Maputo,2010,p.58. -Litigio levado para uma jurisdição.
35CAUPERS,João, Direito Administrativo, Aecquitas, Lisboa, 1995,p.53.
36ROCHA,Isabel,et al. Introdução ao estudo do Direito,12°ano,Porto,1998,p.196.
37MIRANDA,Jorge.Direito Constitucional s/ed,Lisboa,1977,p.16.
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c) Regulamento-trata-se de uma norma jurídica de carácter geral e execução permanente dimanada de uma
autoridade administrativa sobre matéria própria da sua competência.
d) Jurisprudência dos tribunais administrativOs:
São o conjunto das decisões dos mesmos tribunais sobre casos concretos que lhe são submetidos, revelando, pois,
a orientação que seguem ao julgar, essas decisões só tem força de caso julgado, ou seja, vinculam o caso concreto
sobre o qual é proferida a decisão do tribunal, porque as razões que servem de fundamento à decisão não vinculam,
como se de normas gerais se tratassem, pois, outros tribunais quando julgarem casos semelhantes, por força das
funções3" e competências que os tribuunais têmt0.
e) Assentos-que surgem quando há decisões diferentes sobre o mesmo caso, resultantes de interpretação e
aplicação de uma mesma lei4l.
f) O Costume - norma de carácter geral definida pelo uso ou práticas constantes e sancionada pela coacção
em virtude da convicção comum, partilhada pelos órgãos do estado,pela sua obrigatoriedade2.

1.5 Delimitação do Direito Processual administrativo Contencioso


Entre o Direito Processual administrativo Contencioso e o Direito Administrativo existe uma relação de protector a
protegido, o protector sendo ao serviço do protegido, ou seja, o regime do contencioso é direccionado a garantir o
respeito das regras de fundo em outras palavras,(do direito substantivo) e a solução dos conflitos aos quais eles
podem ser motivo.43
Assim, o Direito Administrativo constitui o pressuposto necessário do processo administrativo contencioso, este que
aparece solidário e independente, do Direito Administrativo como direito substantivo.
a)O Direito Processual administrativo Contencioso é solidário44 do Direito administrativo porque ele intervêm
sempre em apoio num processo que, por hipótese,

38Idem.p.81
39
Cfr.artigos - 212, n.°s1 e 2 e 230, n.°1 ambos da CRM.
40ROCHA, Isabel, et al. Introdução ao estudo do Direito, 12° ano,Porto,1998,p.181.
41 CAETANO,Marcello, Manual de Direito administrativo,Vol.I,Almedina,10ed,1980,p.81.
42Idem.p.81
43Cfr. o Preâmbulo da LPAC.
44PESCATORE, Introduction à la science du droit, apud, CISTAC, Gilles, Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e
prática. Vol.I,Escolar,Maputo,2010,pp.93-94.
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incide sobre o fundo do direito, e também porque o legislador pode agir sobre o procedimento para exercer
uma influência sobre o fundo do direito; por exemplo, tornando mais ou menos acessível o conhecimento dos
recursos ou das acções pelo juiz através da ampliação ou não dos pressupostos processuais, da imposição de
formalidades complexas ou da ampliação dos critérios da legitimidade processual.
b) O Direito Processual administrativo Contencioso é independente45 do Direito Administrativo substantivo,
apesar de existirem ligações estreitas e necessárias entre eles,pois o Direito Processual administrativo
Contencioso garante a sanção das regras do Direito administrativo por meios próprios, os tribunais, isto é, o
Direito Processual administrativo Contencioso é independente do Direito administrativo substantivo que estuda as
regras de fundo administrativas, porque estuda os procedimentos jurisdicionais.
1.6 Interpretação das normas do Direito Processual administrativo Contencioso No que concerne a interpretação
das normas este ramo de Direito tem de se socorrer aos principios gerais contidos no artigo 9 do Código Civil, pois
não existe um método de interpretação próprio para o Direito Processual administrativo Contencioso.

Seja como for, e em todo o caso, qualquer que seja o critério de interpretação, nunca ele pode conduzir a outro
resultado que não seja o apuramento de um sentido da norma, ou seja, de um significado deveras existente na
norma, que ela comporte sem violência ou contrafaccão.46
Isto é, as regras gerais de interpretação das normas jurídicas funcionam no âmbito do processo administrativo
contencioso, conquanto se tenha de ter em consideração que o Direito Processual Administrativo Contencioso visa
servir o Direito Administrativo e, consequentemente, não se podem esquecer os princípios dominantes deste quando
se quer encontrar o sentido mais correcto para as normas que o integram;
Assim, o direito à tutela jurisdicional efectiva, consagrado pelo artigo - 2 da LPAC, impõe uma interpretação das
normas processuais no sentido de lhes atribuir o sentido mais favorável a efectividade deste direito, e já que não se
podem esquecer os princípios dominantes do Direito Administrativo, vejamos.

45Idem.p.94.
46CAETANO,Marcello,Manual de Direito administrativo,Vol.I,Almedina,10ed,1980:52.apud.CISTAC,Gilles, Direito Processual
Administrativo Contencioso,teoria e prática,Vol.I,Escolar,Maputo,2010,p.185.
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1.6.1 Princípios Constitucionais sobre o Poder Administrativo


Em termos conceituais, são regras gerais que a doutrina identifica como condensadoras dos valores fundamentais
de um sistema, que por meio de um processo lógico denominado abstracção indutiva, os estudiosos extraem da
totalidade de normas específicas as ideias-chave que animam todo o complexo de regras+?.
Assim, os principios informam e enformam o sistema normativo. Informam porque armazenam e comunicam o
núcleo valorativo essencial da ordem jurídica. Enformam porque dão forma, definem a feição de determinado ramo,
são por isso, regras gerais norteadoras de todo o sistema jurídico.
Caso para concordarmos, visto que entendemos também que o principio é o mandamento nuclear de um sistema,
verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo -lhes o espírito
e servindo de critério para exacta compreensão e inteligência delas, exactamente porque define a lógica e a
racionalidade do sistema normativo, conferindo- lhes a tónica que lhe dá sentido harmónico.
Violar um princípio é muito mais grave do que violar uma norma. A desatenção ao princípio implica ofensa não
apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de
ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio violado, porque representa insurgência contra
todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, no nosso caso,é uma grave inconstitucionalidade e
ilegalidade 48.
Interessa- nos aqui falar dos princípios constitucionais, Chamados também de princípios explícitos ou expressos,
porque estão directamente previstos na Constituição49, dos quais, dado o nosso trabalho, abordaremos
directamente, o da legalidade, justiça e imparcialidade, boa-fé, igualdade,o da prossecução interesse público e o
princípio do respeito pelos direitos dos particulares.

47CAETANO,Marcello,Manual de Direito administrativo,Vol.I,Almedina,10ed,1980:52. apud. CISTAC,Gilles,


Direito Processual Administrativo Contencioso, teoria e prática,Vol.I,Escolar,Maputo,2010,pp.77-80.
48 MELLO,Celso António Bandeira de,apud MAZZA,Alexandre. Manual de Direito Administrativo,
2ed.Saraiva,Brasil,2012,pp.77-78.
49Cfr.artigo-249 da CRM.
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1.6.1.1 Princípio da legalidade


Em termos conceituais este princípio, é aquele inerente ao Estado de Direito, e que representa a subordinação da
Administração Pública à vontade popular50. O exercício da função administrativa não pode ser pautado pela
vontade da Administração ou dos agentes públicos, mas deve obrigatoriamente respeitar a vontade da Lei5l.
Isto porque as leis administrativas são, normalmente, de ordem pública e seus preceitos não podem ser
descumpridos, nem mesmo por acordo ou vontade conjunta de seus aplicadores e destinatários, uma vez que
contêm verdadeiros poderes- deveres, irrelegáveis pelos agentes públicos2.
E o princípio da legalidade é o mais importante princípio específico do Direito Administrativo. Dele derivam vários
outros, tais como: finalidade, razoabilidade, economia e proporcionalidade. Ou seja, do princípio da legalidade,
resulta que a Administração Pública só pode praticar as condutas autorizadas em lei.
O conteúdo da legalidade é desdobrado em duas dimensões fundamentais ou sub -princípios:
a) Princípio da primazia da lei;
b)Princípio da reserva legal.
O princípio da primazia da lei, ou legalidade em sentido negativo, enuncia que os actos administrativos não podem
contrariar a lei. Trata - se de uma consequência da posição de superioridade que, no ordenamento, a lei ocupa em
relação ao acto administrativo.
Quanto ao princípio da reserva legal, ou legalidade em sentido positivo, preceitua que os actos administrativos só
podem ser praticados mediante autorização legal, disciplinando temas anteriormente regulados pelo legislador. Não
basta não contradizer a lei. O acto administrativo deve ser expedido secundum legem.
A reserva legal reforça o entendimento de que somente a lei pode inovar originariamente na ordem jurídica. O acto
administrativo não tem o poder jurídico de estabelecer deveres e proibições a particulares, cabendo -lhe o singelo
papel de instrumento de aplicação da lei no caso concreto.

50MAZZA,Alexandre. Manual de Direito Administrativo, 2ed.Saraiva,Brasil,2012,p.84.


51Cfr.artigo - 249, n.2 ab initio da CRM, conjugado com os artigos 4 da Lei n.° 14/2011, de 10 de Agosto e artigo-
6 da Lei n°24/2013, de 1 de Novembro, republicada com a entrada em vigor da Lei n.°7/2015, de 6 de Outubro.
52Hely Lopes Meirelles,apud MAZZA,Alexandre,Manual de Direito Administrativo,2edição.Saraiva,Brasil,2012,
p.84.
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1.6.1.2.Princípio da Justiça e da imparcialidade


O Princípio da Imparcialidade estabelece um dever de isenção na defesa do interesse público, impedindo
discriminações e privilégios indevidamente dispensados a particulares no exercício da função administrativa. Neste
princípio, traduz -se a ideia de que a administração tem que tratar todos os administrados sem discriminações,
benéficas ou detrimentosas53.
O Princípio da Justica, significa que na sua actuação a Administracão Pública deve harmonizar o interesse público
específico que lhe cabe prosseguir com os direitos e interesses legitimos dos particulares eventualmente
afectados54.
O Principio da Justica, tal como se encontraactualmente consagrado na Constituição, comporta, pelo menos três
corolários, sob a forma de outros tantos princípios.
a) Princípio da justiça strictu senso: segundo este princípio, todo o acto administrativo praticado com base em
manifesta injustiça é contrário à Constituição e, portanto, é ilegal, podendo ser anulado em recurso
contencioso55pelo Tribunal Administrativo competente.

1.6.1.3 Princípio da Ética


O princípio jurídico da ética administrativa não impõe o dever de atendimento à moral comum vigente na sociedade,
mas exige respeito a padrões éticos, de boa -fé, decoro,lealdade, honestidade e probidade incorporados pela prática
diária ao conceito de boa administração. Certas formas de acção e modos de tratar com a coisa pública, ainda que
não impostos

directamente pela lei, passam a fazer parte dos comportamentos socialmente esperados de um bom administrador

público, incorporando -se gradativamente ao conjunto de condutas que o Direito torna exigiveis.
Assim, define - se a ética nos processos administrativos, como um dever de actuação segundo padrões éticos de
probidade, decoro e boa-fé,lealdade para com as instituições a servir, e manter conduta compativel com a
moralidade administrativa56.

53Cfr.artigo-249,n.2 in fine, da CRM conjugado com o artigo-7 da Lei n.°14/2011,de 10 de Agosto. 54 Cfr.artigo-249,n.°2 in fine,da
CRM.
55Cfr.Artigo-32 da LPAC,Lei n.°7/2014,de 28 de Fevereiro, conjugado com o artigo 253/3 da CRM, de onde abstrai-se que o recurso contencioso
é o meio de impugnação de um acto administrativo, a fim de obter a anulação ou a declaração de nulidade ou inexistência desse acto.
56Cfr artigo - 249, n.°2 in fine da CRM conjugado com o artigo - 8 da Lei n.° 14/2011, de 10 de Agosto.
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1.6.1.4 Princípio da Igualdade57


O princípio da igualdade obriga a Administração Pública a tratar igualmente os cidadãos que se
encontram em situação objectivamente idêntica e desigualmente aqueles cuja situação for objectivamente
diversa58.
A igualdade impõe que se trate de modo igual o que é juridicamente igual, e de modo diferente o que é juridicamente
diferente, na medida da diferença, isto é, proibição de discriminação, e proibicão de diferenciacão59.

1.6.1.5 Princípio da prossecução do interesse público


A administração pública prossegue o interesse público, sem prejuízo dos direitos e interesses dos administrados que
são protegidos por lei60.
A noção interesse público traduz uma exigência - a exigência de satisfação das necessidades colectivas. Pode-se
distinguir o interesse público primário dos interesses públicos secundários: O interesse público primário, é aquele
cuja definição compete aos órgãos governativos do Estado, no desempenho das funções, política e legislativa; os
interesses públicos secundários, são aqueles cuja definição é feita pelo legislador, mas cuja satisfação cabe à
Administração Pública no desempenho da função administrativa.
A prossecução de interesses privados em vez de interesse público, por parte de qualquer órgão ou agente
administrativo no exercício das suas funções, constitui corrupção e como tal acarreta todo um conjunto de sanções,
quer administrativas, quer penais, para quem assim proceder.
A obrigação de prosseguir o interesse público exige da Administração Pública que adopte em relação a cada caso
concreto as melhores soluções possíveis, do ponto de vista administrativo (técnico e financeiro): é o chamado dever
de boa administração.
Assim, o interesse público é o interesse colectivo, é o interesse geral de uma determinada comunidade, é o bem-
comum6l.

57Cfr.artigo - 253, n.°s 1 e 2 da CRM conjugados com o artigo - 15 da Lei n.° 14/2011, de 10de Agosto. 58Cfr. artigos - 35 e
249,n.°2 ambos da CRM.
59AMARAL,Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, vol.II, 2edição, Almedina,2012,pp.137-138. 60Cfr.artigo-249,n.°1
da CRM.
61Cfr.artigo-249 ab initio, da CRM, conjugado com o artigo - 5 da Lei n.°14/2011,de 10 de Agosto.
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1.6.1.6 Princípio do respeito pelos direitos e interesses legítimos dos particulares62 Aqui estão em causa os direitos e
interesses legitimos de todos os sujeitos de direito. Há interesse legitimo,porque a obrigação de respeitar a legalidade que recai
sobre a Administração pode ser invocada pelos particulares a seu favor, para remover as ilegalidades que os prejudiquem e para
tentar em nova oportunidade a satisfação do seu interesse, na certeza de que, ao tentá-lo, na pior das hipóteses, se esse
interesse acabar por ser insatisfeito ou prejudicado, essa insatisfação ou esse prejuízo terão sido impostos legalmente, e não já
ilegalmente63.

Este princípio lembra-nos, que a prossecução do interesse público não é o único critério da acção administrativa,
nem tem um valor ou alcance ilimitados. Há que prosseguir, sem dúvida, o interesse público, mas respeitando
simultaneamente os direitos dos particulares.
E ainda que o princípio da legalidade nasceu como limite à acção da Administração Pública; a sua função era a de
proteger os direitos e interesses dos particulares. Embora o princípio da legalidade continue a desempenhar essa
função, o certo é que se conclui entretanto que não basta o escrupuloso cumprimento da lei por parte da
Administração Pública para que simultaneamente se verifique o respeito integral dos direitos subjectivos e dos
direitos legitimos dos particulares64.
Existem interesses próprios dos particulares, porque esses interesses são protegidos directamente pela lei como
interesses individuais, e porque, consequentemente, a lei dá aos respectivos titulares o poder de exigir da
Administração o comportamento que lhes é devido, e impõe à Administração a obrigação jurídica de efectuar esse
comportamento a favor dos particulares em causa, o que significa que se esses comportamentos não forem
efectuados, os particulares dispõem dos meios juridicos, designadamente dos meios jurisdicionais, necessários à
efectiva realização dos seu direitos.

1.6.2 Dualidade Funcional dos Princípios do Direito Administrativo


Nesses termos os princípios do Direito Administrativo cumprem duas funções principais:

62Cfr.artigo-253,n.°2 in fine,da CRM.


63AMARAL,Diogo Freitas do,Curso de Direito Administrativo, vol.II, 2edição, Almedina, 1988,pp.89. 64Idem.pp.90-91.
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a) Função hermenêutica: se o aplicador do direito tiver dúvida sobre qual o verdadeiro significado de
determinada norma, pode utilizar o princípio como ferramenta de esclarecimento sobre o conteúdo do
dispositivo analisado;
b) Função integrativa: além de facilitar a interpretação de normas, o princípio atende também à finalidade de
suprir lacunas, funcionando como instrumento para preenchimento de vazios normativos em caso de ausência
de expresso regramento sobre determinada matéria.
Assim, os princípios seriam regras cuja aplicação integral dependeria de condições fácticas e jurídicas
indispensáveis, sem as quais seu conteúdo poderia incidir apenas parcialmente65. Apresentadas as generalidades
sobre o Direito Administrativo para melhor percepção do nosso trabalho, tanto quanto aquelas generalidades que
estão intrinsecamente ligadas ao tema, importa-nos apresentar também a hierarquia das leis, ou estrutura
escalonada da ordem jurídica dado ao tema e ao problema que discutimos neste trabalho, ora vejamos.

1.7 Estrutura Escalonada da Ordem Jurídica


A ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo plano, situadas umas ao lado das outras, mas é

uma construção escalonada de diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas.


A sua unidade é produto da conexão de dependência que resulta do facto de a validade de uma norma, que foi produzida de
acordo com outra norma, se apoiar sobre essa outra norma, cuja produção, por sua vez, é determinada por outra; e assim por
diante, até abicar finalmente na norma fundamental - pressuposta. A norma fundamental - hipotética, nestes termos - é, portanto,
o fundamento de validade último que constitui a unidade desta interconexão criadora66.

Nesses termos,existem diferentes tipos de órgãos estaduais que emanam, no exercício do seu poder
legislativo,diferentes tipos de actos, isto é, leis, decretos- leis, decretos e regulamentos. Assim, importa saber se
existe alguma hierarquia entre os diversos actos legislativos, pois, face a um conflito entre dois actos, necessário é
saber qual deles prevalece, tendo em conta os

65
MAZZA,Alexandre,Manual de Direito Administrativo,2edição.Saraiva,Brasil,2012,p.78. KELSEN,Hans, Teoria Pura do Direito,
Martins Fontes, 6°edição,São Paulo,1999,p.155.
66
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princípios subjacentes à hierarquia das normas67, nomeadamente:


a) As leis especiais prevalecem sobre as leis gerais;
b) A lei de grau inferior não pode dispor contra a norma de uma lei de grau superior;
c) A hierarquia das leis respeita a hierarquia dos órgãos de que são emanados;
d) Os actos legislativos dos órgãos de administração nacional prevalecem sobre os actos legislativos dos
órgãos de administração local, e ambos sobre as leis dos órgãos corporativos. Assim, a ordem jurídica, tem a
seguinte configuração:

1.7.1 A Constituição da República de Moçambique

Figura o topo da hierarquia, é a lei fundamental, que para além de fixar os grandes princípios de ordem política,
social e económica, estabelece o regime jurídico de produção e modificação das normas jurídicas, por isso mesmo
designa-se também de lei primária, ao seu lado está a lei constitucional ou lei de revisão.
É lei fundamental porque nela (na constituição da Republica de Moçambique) estão consagrados e protegidos os
direitos e deveres fundamentais do cidadão e estabelecidas as regras de organização e funcionamento dos órgãos
estaduais superiores, nomeadamente os que exercem o poder legislativo com efeito, é a Constituicão que
estabelece as regras para a criação dos demais actos do Estado, designadamente, das leis, que por sua vez não
podem dispor contra a constituição nem contra os princípios nela consagrados, sob pena de serem declaradas
inconstitucionais68.
A Constituição pode ser tida num sentido material69, quer dizer: a norma positiva ou as normas positivas através
das quais é regulada a produção das normas jurídicas gerais. Esta Constituição pode ser produzida por via
consuetudinária ou através de um acto de um ou vários indivíduos a tal fim dirigido, isto é, através de um acto
legislativo. Como, neste segundo caso, ela é sempre condensada num documento, fala-se de uma Constituição
“escrita”70, para a distinguir de uma Constituição não escrita, criada por via consuetudinária.
Da Constituição em sentido material deve distinguir-se a Constituição em sentido formal,isto
é, um documento designado como “Constituição” que - como Constituição escrita - não só

67ROCHA,Isabel, et al. Introdução ao estudo do Direito.12°ano,Porto,1998,p.163.


68Idem.pp.150-151.
69KELSEN,Hans, Teoria Pura do Direito, Martins Fontes, 6edicão,São Paulo,1999,p.155.
70Cfr.artigo-42 da CRM.

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contém normas que regulam a produção de normas gerais, isto é, a legislação, mas também
normas que se referem a outros assuntos politicamente importantes7.
E,além disso,preceitos por força dos quais as normas contidas neste documento, a lei constitucional, não podem ser
revogadas ou alteradas pela mesma forma que as leis simples, mas somente através de processo especial
submetido a requisitos mais severos2. Estas determinações representam a forma da Constituição que, como forma,
pode assumir qualquer conteúdo e que, em primeira linha, serve para a estabilização das normas que aqui são
designadas como Constituicão material e que são o fundamento de Direito positivo de qualquer ordem jurídica
estadual?3.

1.7.2.0 Direito Internacional (Convenções e tratados) e os Actos normativos


infraconstitucionais
Estes surgem na piramide hierárquica/estrutural logo após a Constituicão e as leis constitucionais, conforme o
seguinte texto:
Os tratados e acordos (convenções) internacionais, validamente aprovados e ratificados vigoram na ordem jurídica
moçambicana após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente Mocambique4; Essas
mesmas normas de Direito internacional têm na ordem jurídica interna de Moçambique o mesmo valor que
assumem os actos normativos infraconstitucionais emanados da Assembleia da República, e do Governo, consoante
a sua respectiva forma de recepção75.
Desta redacção, retiramos que os tratados e convenções internacionais, estão em termos hierárquicos, na mesma
posição que os actos normativos infraconstitucionais, tais como as Leis,Decretos-leis,e os decretos76.

1.7.3 Actos de administração

Em terceiro lugar estão os actos de administração, onde temos os regulamentos e actos administrativos,
nomeadamente: despachos, instruções, circular, regulamentos policiais,

7KELSEN,Hans,Teoria Pura do Direito,Martins Fontes,6edição,São Paulo,1999,p.155.


72 Idem.
73Idem.
74ROCHA,Isabel,et al. Introdução ao estudo do Direito, 12° ano, Porto, 1998, p.162

75Cfr.Artigo-18 da CRM.
76Cfr.artigo-143,n.51,2,3,4,conjugado com os artigos 182,210 e 158,todos da CRM.
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regulamentos e posturas locais7.


Vista a estrutura da ordem juridica, passamos a descrever as competências dos juízes presidentes dos tribunais
administrativos provinciais e da cidade de Maputo. A lei n° 24/2013, de l de Novembro, traz-nos esses elementos.

1.8 Princípios Constituintes do Poder Jurisdicional

Tendo em conta que o nosso estudo é de âmbito do Direito Jurisdicional é também relevante apresentarmos aqui os
princípios que constituem o poder jurisdicional, sendo os 78tribunais órgãos de soberania, para tal, começamos por
trazer algumas definições ligadas aos princípios que nos vamos referir.

1.8.1 O Tribunal
É o órgão singular ou colegial que, a requerimento de alguém e procedendo com independência e (...), segundo
fórmulas preestabelecidas, possui autoridade para fixar a versão autêntica dos factos incertos ou controversos de
um caso concreto a fim de determinar o Direito aplicável a esse caso em decisão com força obrigatória para os
interessados?.
Outrossim, trata-se de um órgão80 de soberania que administra a justiça em nome do povo, competindo-lhe o
exercício da justiça, ou seja a tutela judiciária.
Vimos das duas definições que aos tribunais é confiada a função jurisdicional, sendo que como efeito dessa
confiança, os tribunais, que são órgãos de soberania81, administram a justiça, incumbindo-lhes assegurar a defesa
dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir
os conflitos de interesses públicos e privados.
1.8.2 O Tribunal Administrativo
É o órgão superior da hierarquia dos tribunais administrativos, fiscais e aduaneiros, que controla a legalidade dos
actos administrativos e da aplicação das normas regulamentares

77ROCHA, Isabel, et al. Introdução ao estudo do Direito,12° ano,Porto,1998,p.163.


78 Cfr.artigos-133 e 212 ambos da CRM.
79CAETANO,Marcello,Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional,6edição,TOMO-II,Coimbra, Lisboa,1972,pp.663-664.
80ROCHA,Isabel, et al. Introdução ao estudo do Direito,12° ano,Porto,1998,p.194.
81Cfr.artigo-133 in fine,da CRM.
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emitidas pela Administração Publica, bem como a fiscalização da legalidade das despesas
públicas e a respectiva efectivação da responsabilidade por infracção financeira82.
Ou,é órgão especial da administração pública, de tipo jurisdicional, que dirime os conflitos emergentes de relações
jurídico-administrativas, ou seja, relações reguladas pelo direito administrativo83.
E ainda pode se dizer que - constitui a jurisdição com objectivos de tutelar a legalidade e a defesa de direitos e
interesses legitimos daqueles que se relacionam juridicamente com a administracão pública84.
Vemos nas definicões acima que o tribunal administrativo é um órgão que garante a efectivacão das garantias
jurisdicionais ou contenciosas através do tribunal administrativo, sendo então uma jurisdição comum da
Administração Pública, com função jurisdicional85. Nesses tribunais, no exercício das suas funções, os Magistrados
Administrativos são guiados por princípios que lhes dão o pleno exercício do poder jurisdicional, dentre os quais:

1.8.3.Imparcialidade

Esta consiste 86 no completo alheamento do tribunal relativamente aos interesses em conflito nos casos que lhe são
submetidos. Como resultado desta garantia, regra geral, 87ninguém pode ser juiz em causa própria, pois o tribunal
considera-se sempre árbitro, é, por isso, superior aos conflitos que examina e não toma, neles, posição definitiva
antes da sentença final, sem prejuízo do artigo-38 do EMJ.
Assim, é vedado88 aos magistrados judiciais intervir em processos nos quais paricipe,como magistrado ou
funcionário de justiça, pessoa a que se encontrem ligados por casamento, comunhão de vida, parentesco, ou
afinidade em qualquer grau da linha recta ou até ao segundo grau da linha colateral.

82 Cfr.artigo-228 da Lei supra citada.


83 CAUPERS,João, Introdução ao Direito Administrativo, Âncora, 5a edição,Lisboa,2000,p.254.
84 Idem.pp.254-255.
85Cfr.artigo-230, n.°1 da CRM- pois se julga, então é judicial.
86CAETANO,Marcello, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional, 6edição,TOMO-II,Coimbra, Lisboa,1972,pp.672-673.
87Cfr.artigo-38 do EMJ-Lei n°7/2009,de 11 de Marco.
88 Cfr.artigo-7 da Lei supracitada.
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1.8.4 Irresponsabilidade
Esta é mais uma garantia da independência e consequentemente de justiça nos tribunais, segundo a qual aos juízes
é garantida a irresponsabilidade, no sentido de que os Magistrados89 não podem ser responsabilizados pelos seus
julgamentos e decisões, excepto nos casos previstos na lei.
Ou seja, desde que o Juiz proceda dentro da sua competência e de acordo com as regras legais e morais da sua
função, não é licito responsabiliza-lo pelos erros de facto ou de direito que outro tribunal apure, em recurso, erros
que muitas vezes mais não são do que divergências de apreciação e de interpretação.
Porém, essa garantia de irresponsabilidade dos Juízes quando correctamente exerçam a sua função de Julgar com
Independência necessária, não os isenta, de responder pelos seus actos naqueles casos em que usarem do cargo
para fins diferentes dos quais a autoridade lhes confere ou em que recusarem prestar justiça.

1.8.5 Inamovibilidade
Além de ser uma garantia de justiça para os cidadãos, constitui uma garantia funcional dos Juízes dos tribunais,
segundo a qual, os Magistrados Judiciais9° não podem ser transferidos, suspensos,promovidos, aposentados,
demitidos ou por qualquer forma mudados de situação, se não nos casos previstos no EMJ.
A inamovibilidade' consiste então na nomeação vitalícia dos Juízes e por ser uma garantia de independência, pois
sem ela o Juiz integro, insensível a pressões mais ao menos claras da Administração,estaria ameaçado de ser
perturbado na sua carreira, afastado da judicatura ainda que a título de promoção, ou vítima de violência.
Desta forma os caracteres mais fracos procurariam agradar ao poder, servindo de dóceis instrumentos à vontade
governamental na expectativa de melhoria de situação, promoção mais rápida ou de vantajosas comissões de
serviço. Por isso, não basta para a inamovibilidade que a carreira do magistrado seja regulada pela lei: é preciso que
a lei não esteja à mercê do governo.

89Cfr.artigo-5 da mesma Lei.


9°Cfr. Artigo - 6 do EMJ - Lei n°7/2009, de 11 de Março.

9CAETANO,Marcello, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional,6edição,TOMO-II,Coimbra,


Lisboa,1972,pp.673-675.
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1.8.6 Independência dos Juízes
Trata-se de um estatuto92, que os juízes têm que os isenta de dependências internas e externas, que os desvincula de ligações
institucionais e da responsabilidade política pelas suas acções e omissões perante quem os designou.

De outra forma, a independência dos juízes - constitui uma garantia de justiça, um poder que existe e foi estatuído,
como manifestação da soberania do poder judicial, (visto que são, os tribunais órgãos de soberania), para existir no
interesse dos cidadãos, em que o Magistrado exerce a função de Julgar segundo a Lei, sem sujeição a ordens ou
instruções, salvo o dever de acatamento dos tribunais inferiores em relação às decisões dos tribunais superiores,
proferidas por via de recurso, no nosso caso esta questão de recursos está mencionada no rodapé-85 do ponto 1.9,
mais adiante da página seguinte.
Podemos retirar das duas definições, que a Independência dos Juízes é um meio de que os Juízes dispõem de
exercer livremente as suas funções, no sentido de que uma vez introduzida a causa para julgamento num tribunal,
nela não podem intervir ordens nem instruções, competindo aos Juízes decidir segundo os preceitos legais e os
ditames da sua consciência, sem que devam obedecer a ordens ou instruções sejam de quem forem, ora, vejamos
quais são as competências do Juiz Presidente de um tribunal administrativo provincial.

1.9 Competências do Juiz Presidente do Tribunal Administrativo Provincial Em termos de definição,Competência - é a


medida do poder jurisdicional93; Sendo certo que nos tribunais, a hierarquia diz respeito fundamentalmente a recursos4.
Ora,sendo assim,qual éa medida do poder jurisdicional de um Juiz Presidente do Tribunal Administrativo Provincial?

De forma directa, a resposta seria que a medida do Poder Jurisdicional de um Juiz Presidente do Tribunal
Administrativo Provincial está no que e até onde ele pode fazer, e que se resume no seguinte:
a) Representar os tribunais e assegurar as suas relações com os demais órgãos de soberania e quaisquer
autoridades;
92DINIS, Almerinda et al. Introdução ao Direito,12°ano,Texto,Lisboa,1998,p.156.

93PRATA,Ana,Dicionário Jurídico, 5ed.Almedina,Coimbra,2012, pp.313-315.


94 Cfr.artigo 3,n.53,4 e 5 conjugado com os artigos-26,n.°1,alíneas a),b),e),g),h),i) e k);28,alineas a),b),c),e d); 30, alineas a) e e); e 34, alínea d),
todos da Lei n°24/2013, de 1 de Novembro, republicada com a entrada em vigor da Lei n.°7/2015, de 6 de Outubro.
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b) Dirigir o tribunal, superintender nos seus serviços e assegurar o seu funcionamento normal;
c) Presidir a sessão de distribuição de processos;
d) Exercer a acção disciplinar sobre os funcionários do tribunal e aplicar as respectivas sanções nos
termos da lei;
e) Dar posse aos funcionários do tribunal;
f) Proceder às nomeações e propostas que por lei lhe sejam conferidas;
g) Elaborar um relatório anual sobre o estado dos serviços;
h) Exercer as demais funções atribuídas por lei95.
Associadas a estas competências do juiz presidente de um tribunal administrativo de província que fazem a sua
medida do poder jurisdicional, deve se ter o facto de a jurisdição administrativa não poder aplicar leis e principios
que ofendam a constituição6.

95Cfr.artigo-45, n.°1 da Lei n°24/2013, de 1 de Novembro.


96
Cfr. Artigo-6 da Lei supracitada.
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CAPITULO-2:O PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA DO JUIZ NO DIREITO


COMPARADO
Neste capitulo pretendemos analisar o regime jurídico da Independência do Juiz no quadro do Direito Comparado nos

ordenamentos jurídicos de Portugal, Brasil e Itália, ordenamentos jurídicos esses que demonstraram ter elementos importantes a

considerar que são fundamentalmente o facto do seu sistema jurisdicional, ao nível da Independência do Juiz, tema do nosso

trabalho, ter profundas semelhanças ao sistema moçambicano.


Antes de mais, vimos ser necessário trazer algumas bases que no nosso entender são mais generalistas, pois
parecem-nos ser abordagens que a maior parte dos ordenamentos jurídicos democráticos7seguem, trata-se da
Declaração Universal Dos Direitos do Homem de 1948,de onde extraímos o seguinte:
Todo o homem tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal
independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal
contra ele.98

Do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966:

Todas as pessoas são iguais perante os Tribunais e as Cortes de Justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida
publicamente e com as devidas garantias por um Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido por
lei99.
A Declaração de Viena e Programa de Acção ressaltam a importância de tal instituição para os direitos humanos no
contexto de uma sociedade democrática,parágrafo-27:
Cada Estado deve ter uma estrutura eficaz de recursos jurídicos para reparar infracções ou violações de direitos
humanos. A administração da justiça, por meio dos órgãos encarregados de velar pelo cumprimento da legislação e,
particularmente, de um Poder Judiciário e uma advocacia independentes, plenamente harmonizados com as normas
consagradas nos

97 A Independência do juiz, para dizer o direito, é estabelecida pela própria ordem jurídica como forma de garantir ao cidadão que o Estado de
Direito será respeitado e usado como defesa contra todo o tipo de usurpacão. Neste sentido, a independência do juiz é, igualmente, garante do
regime democrático,” MAIOR,Jorge Luiz Souto & FAVA,Marcos Neves, A defesa de sua independência: um dever do magistrado, 2006, disponível
em
http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,acesso em 03/Junho de 2016.As 9h49 minutos. Na nossa Constituição da República,veja-se, sobre o
Estado de Direito democrático, o artigo -3.
98 Cfr.artigo-10,da Declaração Universal Dos Direitos do Homem de 1948.
99Cfr.artigo-14,n.°1,do Pacto Internacional de Direitos Civis e Politicos de 1966.

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instrumentos internacionais dos direitos humanos, é essencial para a realização plena e não discriminatória dos
direitos humanos e indispensável aos processos de democratização e desenvolvimento sustentável'00.
A Convenção Interamericana de Direitos Humanos, Pacto de San José da Costa Rica, de 1969, artigo-8,enuncia:
Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou
tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, no apuramento de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza
civil,trabalhista, fiscal ou de qualquer outra naturezal01.
O artigo - 25 da Convenção sobre a protecção judicial faz referência a juízes ou tribunais competentes, expressão
também utilizada na Carta Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos no seu artigo-7/1.
Além dessas normas convencionais, a independência e a imparcialidade judicial têm valor de princípios gerais do
direito reconhecidos pelas nações civilizadas, no sentido do artigo -38/1/b) do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça; ele também explica que a prática geral de administrar a justiça de forma independente e imparcial é aceita
pelos Estados como regra de direito e constitui, portanto, um costume internacional no sentido do artigo - 38/1/c) do
Estatuto.
Em consonância a essa visão sobre a Independência da Magistratura/dos Juízes, dada pela Declaração Universal
Dos Direitos do Homem de 1948, é possível verificar a consignação da idéia da Independência dos Juízes na
Constituição de vários países como nos que se seguem, cada um com suas particularidades e semelhanças para
com o outro:

2.1 Regime Jurídico da Independência do Juiz em Portugal


Aqui, a jurisdição administrativa que é a jurisdição comum da Administração Pública,resulta

100JR.Jayme Benvenuto Lima, et al.Independência dos Juizes no Brasil -Aspectos relevantes, casose
recomendações,2005,disponivel em: https://www.gajop.org.br/arquivos/publicacoes/Independencia dos juizes no
Brasil portugues.pdf acesso em 13 de Junho de 2016, as 9h e 35 minutos.
101

Jayme Benvenuto Lima, et al. Independência dos Juízes no Brasil-Aspectos relevantes, casos e recomendações,2005,disponivel
em:https://www.gajop.org.br/arquivos/publicacoes/Independencia dos juizes no_Brasil_portugues.pdf acesso em 13 de Junho de 2016, as 9h e 35
minutos.
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de uma determinação constitucional102, de onde abstrai-se o seguinte: Os tribunais são independentes e apenas
estão sujeitos à lei. E ainda abstrai-se o seguinte: nos feitos submetidos a julgamento não podem os tribunais aplicar
normas que infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios nela consignados'03.

Não obstante, a independência da magistratura foi definida no Estatuto judicial de 1927, no seu artigo-14,como
sendo:
O direito de,por intermédio do Conselho Super Judiciário, escolher os seus membros para os diversos cargos
judicias e de exercer livremente as respectivas funções sem sujeição a outros ditames que não sejam os que as leis
impõem e a consciência inspiral04.
Era a consagração da ideia contida no projecto da constituição de 1911 da nomeação dos magistrados pela própria
magistratura, mas que a Assembleia Nacional Constituinte rejeitou, mas por iniciativa do Dr. Afonso Costa,
entendendo que tal nomeação devia competir ao governo. Na edição de 1928 do Estatuto a definição da
independência ficou restrita a 2a parte (exercícios livre das funções), desaparecendo a 1a (escolha e colocação dos
juízos pelos próprios juízes)105.
O estatuto de 1944 diz que:
A independência consiste no direito de exercer as funções de julgar sem sujeição as ordens de outros juízes ou
tribunas ou de quaisquer autoridades, salvo nos casos expressamente consignados na lei106.
Finalmente, no Estatuto de 1962 diz-se que, a independência consiste no facto de o magistrado exercer a função de
julgar segundo a lei, sem sujeição a ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento dos tribunais superiores,
proferidas por via de recurso.

A independência dos tribunais reside, como sempre temos ensinado, em:


Uma vez introduzida a causa para julgamento num tribunal, nela não poderem intervir

102
CAUPERS, João, Introdução ao Direito Administrativo, Âncora,5edição,Lisboa,2000,p.251.
103Cfr.artigos- 203 e 204, ambos da CRP, - in vii revisão constitucional, 2005, disponível em
https://www.parlamento.pt/Legislacão/Documents/constpt2005.pdf.acesso em 12 de Junho de 2016.As 19h20 minutos.
104CAETANO,Marcello, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional,6edição,TOMO-II,Coimbra, Lisboa,1972,p.671.
105Idem.
106Idem.

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autoridades estranhas senão nos casos previstos na lei e pela forma regulada no processo,
competindo aos juízes decidir segundo os preceitos legais e os ditames da sua consciência, sem que devam
obediência a ordens ou instruções, sejam elas provenientes de quem forem. Assim, a hierarquia judiciária é uma
hierarquia de tribunais que só funciona de harmonia com leis do processo segundo o mecanismo dos recursos. O
ministro da justiça não é hierárquico dos juízes nem tem qualquer intervenção no julgamento das causas afectas aos
tribunais, salvo quando pretenda nelas defender o interesse público, pós neste caso mandara ao ministério requerer
ou promover como parte, sujeitando-se as sentenças judiciais. Um juiz não pode ser punido por desobediência a
pressões da Administração ou do governo para que julgue de certa maneira e não de outra107.

2.2 Regime Jurídico da Independência do Juiz no Brasil


No Brasil,Constituição e leis contemplam a maioria dos itens apontados pelos diversos princípios da ONU. A
independência do Judiciário é consagrada constitucionalmente, cabe mencionar o artigo - 5, garantindo igualdade
perante a lei, e particularmente o inciso LIII -ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente. De acordo com o artigo 92, os juízes são considerados como “órgãos” do Poder Judiciário no tribunal a
que eles pertencem,oque tende a eximi-los de qualquer idéia de hierarquia108.
No âmbito legislativo, tem-se a Lei Complementar n.° 35, de Março de 1979, dispondo sobre a Lei Orgânica da
Magistratura Nacional,instrumento que organiza as condições de ingresso e de exercício da profissão, detalhando as
garantias enunciadas na Constituição (artigos 25 a 32, título II). Destacamos, no título III, capítulo I - Dos Deveres do
Magistrado,o art. 35,inciso I: “Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exactidão, as disposições
legais e os actos de oficio.” No mesmo artigo, mencionamos, ainda, o inciso VIII: “manter conduta irrepreensível na
vida pública e particular109.

107CAETANO,Marcello, Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional,6edição,TOMO-II, Coimbra,Lisboa,1972,pp.672-


673.
108JR. Jayme Benvenuto Lima, et al. Independência dos Juízes no Brasil - Aspectos relevantes, casos e
recomendações,2005,disponivel em:https://www.gajop.org.br/arquivos/publicacoes/Independencia dos
juizes no Brasil portugues.pdf.acesso em 13 de Junho de 2016, as 9h e 35 minutos.

Idem.
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Aqui reconhecem-se duas dimensões distintas no conceito de independência dos juizes: dimensão institucional, que vislumbra a

independência do Judiciário enquanto instituição do Estado democrático, e a dimensão individual, que considera a independência

do juiz enquanto protagonista da instituição. As duas dimensões são necessárias para assegurar a independência, porém a

segunda será examinada com mais atenção, por constituir objecto do nosso estudo110.

Em 1985,SINGHVI,L. M. já apontava essa dupla dimensão:

Os conceitos de independência e imparcialidade do Judiciário, que são as marcas da legitimidade da função,


postulam tantos atributos individuais como condição institucional, suas ausências levam à negação da justiça e torna
a credibilidade do processo duvidosa'"".

Evidentemente, essas duas dimensões estão intrinsecamente interligadas. Quanto à dimensão individual, significa
que os juízes têm o direito de gozar de independência no exercício das suas funções, por isso, se beneficiam de
uma série de garantias. Em contrapartida, têm o dever de decidir os casos levados à sua análise de acordo com a
lei, e com imparcialidade'12.

A protecção da independência individual significa que o juiz se deve precaver contra influências, subornos, pressões,
ameaças ou interferências, directas ou indirectas, de qualquer origem ou por qualquer razão, essas ameaças e
pressões podem ser de natureza externa, (sociedade em geral e as partes no processo e ainda os Poderes
Executivos e Legislativos) ou interna (os próprios colegas, no entanto, pode provir, também, da hierarquia)'13.

Sobre esse aspecto, alguns autores como Zaffaroni, observa que, a lesão à independência interna costuma ser de
maior gravidade do que a violação à própria independência externa e, após exemplificar em que pode consistir essa
lesão à independência interna, avalia que ela é muito mais contínua,subtil,humana, deteriorante e eticamente
degradante114.

110JR.Jayme Benvenuto Lima, et al. Independência dos Juízes no Brasil -Aspectos relevantes, casos e recomendações,2005,disponivel
em:https://www.gajop.org.br/arquivos/publicacões/Independência dos juízes no_Brasil_portugues.pdf. acesso em 13 de Junho de 2016,as 9h e 35
minutos.
111Idem.
112 Idem.
113Idem.
114Idem.

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Diz ainda que a Independência do Juiz implica, portanto, ausência de hierarquia dentro da instituição. Tribunais ou
jízes superiores não são habilitados a dar “ordens” aos de nível inferior, por isso, os juízes se diferenciam de
funcionários públicos 15.

Um Juiz Independente, ou melhor, um juiz simplesmente não pode ser concebido, em uma democracia moderna
como um empregado do executivo ou do legislativo, nem pode ser um empregado da corte ou do supremo tribunal.
Um Poder Judiciário não é hoje concebível como mais um ramo da Administração, e, não se pode conceber sua
estrutura na forma hierarquizada de um exército. Um Judiciário verticalmente militarizado é tão aberrante e perigoso
quanto um exército horizontalizado116

2.3 Regime Jurídico da Independência do Juiz na Itália


A base de fundamento sobre a Independência dos Juízes na Itália, está contida na sua Constituição, onde se pode
ler que, A justiça é exercida em nome do povo. Os Juizes se submetem apenas à lei117.
Os Magistrados italianos gozam de amplas garantias de independência - externa e interna. A hierarquia foi
praticamente desmantelada a partir dos anos sessenta. Todas as decisões que dizem respeito aos Magistrados são
tomadas por um órgão, o Conselho Superior da Magistratura.
Procuraram eles reforçar substancialmente a Independência internal18 do Magistrado italiano, que pode isso ser
interpretado no sentido de abater a hierarquia interna no seio da magistratura no artigo -107, também da sua
Constituição da República, segundo o qual, “os magistrados distinguem-se entre si somente pela diversidade de
funções”. A interpretação que vingou da referida passagem é no sentido de que todos os Magistrados, de qualquer
grau de jurisdição, são peças essenciais para o funcionamento da justiça. A diferença entre eles é apenas de

115JR.Jayme Benvenuto Lima, et al. Independência dos Juizes no Brasil-Aspectos relevantes,casos e


recomendações,2005,disponivel em:https://www.gajop.org.br/arquivos/publicacões/Independência_dos juizes no Brasil
portugues.pdf.acesso em 13 de Junho de 2016, as 9h e 35 minutos. 116 Idem.
117 Cfr.artigo-101 da Constituição da República da Itália.
118Quando se quer focar a relação entre o magistrado singular e seus superiores hierárquicos, isto é da
possibilidade do juiz decidir livremente, sem sujeição ao poder de controle dos juízes de grau superior
(obviamente que não se está aqui a referir ao ineliminável controle jurisdicional. NETO, Eugênio Facchinni, o
poder judiciário e sua independência - in uma abordagem de direito comparado, 2009, disponível em
http://www.hseditora.com.br/DFJ/8-Doutrina-7-.htm,acesso em 03 de Junho de 2016. As 9h50 minutos.
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função, e não de importância.


De referir que nem sempre foi assim, a Independência interna como externa da Magistratura é uma conquista
histórica, pois a magistratura italiana pré-republicana (ou seja, anterior ao segundo pós-guerra, derrocada do
fascismo e democratização do país) apresentava garantias de independência muito limitadas, tanto externa quanto
internamente.
Do ponto de vista externo, o judiciário, seguindo o modelo francês, era visto mais como um sector especializado da
Administração Pública do que um poder autónomo com respeito à independência interna, o quadro era ainda pior.
Emblemático, a respeito, o juízo expresso por S. Merlino, em 1890:“O magistrado inferior está subordinado ao seu
superior, o juiz está subordinado ao Director do Fórum, o Director do Fórum se sujeita ao Presidente do Tribunal, e
assim por diante.
Para compreender o enorme grau de submissão e dependência da magistratura italiana relativamente ao governo,
no período liberal (que vai da reunificação italiana-Il Risorgimento, em 1861, à ascensão de Mussolini ao poder, em
192 2), basta ler o discurso de Giovanni Giolitti (importante figura política italiana, que ocupou por cinco vezes o
cargo de primeiro-ministro da Itália), em 1897, quando procurava definir a posição do judiciário em relação ao poder
executivo: ao governo restam os seguintes poderes sobre a magistratura. Dispõe livremente sobre os pretores, que
não possuem nenhuma garantia. Os magistrados são todos nomeados pelo governo; suas promoções dependem
inteiramente do beneplácito do governo; o governo pode negar-lhes remoções e tranșferências; é o governo quem
determina as funções que tocam a c ada magistrado, e quem designa, a cada ano, os magistrados que devem julgar
as causas cíveis e criminais e os designa para integrar as várias secções dos tribunais; é o governo que
discricionariamente lota os procuradores de justiça junto aos tribunais e escolhe os magistrados que devem exercer
as funções de juízes- instrutores (...); por último, o Ministro da Justiça tem direito de chamar diante de si e
admoestar qualquer membro de ou tribunais' 611
Assim, a independência é um pressuposto indispensável à imparcialidade. Assim entende-se melhor a articulação
entre os dois conceitos, a independência de que estamos falando não é absoluta, ela tem limites. Esses são postos
pela lei -entendida como regra de direito, quer de natureza constitucional, quer legislativa -, dentro da qual, o Juiz
aplica a norma de direito, de

119NETO, Eugênio Facchinni, o poder judiciário e sua independência - in uma abordagem de direito comparado, 2009,disponível em
http://www.hseditora.com.br/DFJ/8-Doutrina-7-.htm,acesso em 03 de Junho de 2016.As 9h50 minutos.
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acordo com as especificidades do caso que está submetido à sua análise,buscando estabelecer-
ou restabelecer - justiça por meio da decisão que vai ser levado a tomar120.
Se, porventura, o juiz abusar da independência, buscando, por esse meio, propiciar favores ou vantagens indevidos
para uma das partes - e, às vezes, para ele mesmo - e prejuízo indevido à outra, ele se coloca em situação de
ilegalidade. Estamos aqui diante de um problema de equilíbrio entre o valor de garantia e instrumental da
independência, externa e interna, dos juizes, e o outro valor moderno do dever democrático de prestar contas121.
Cabe ressaltar que a independência não é vantagem do Juiz destinada a trazer beneficios pessoais, mas um
atributo, um meio, destinado à finalidade de garantir ao juiz de poder desenvolver, com plena autonomia e
independência, as funções que lhe são demandadas. Por fim, longe de ser um privilégio para os juízes, a
independência da magistratura é necessária para o povo, que precisa de juízes imparciais para harmonização
pacífica e justa dos conflitos de direitos.
A garantia de independência judicial tem por objectivo não apenas assegurar que a justiça seja feita em casos
individuais, mas também assegurar a confiança pública no sistema. Independência do Judiciário não é nem o direito
nem o privilégio dos juízes. É o direito de todos os consumidores da justica122.

120JR. Jayme Benvenuto Lima, et al. Independência dos Juizes no Brasil-Aspectos relevantes, casos e
recomendações,2005,disponivel em:https://www.gajop.org.br/arquivos/publicacoes/Independencia_dos
juizes no Brasil _portugues.pdf. acesso em 13 de Junho de 2016, as 9h e 35 minutos.
121

Idem.
122Idem.

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CAPÍTULO-3: A Independência do Juiz Relator no Processo Administrativo


Contencioso Mocambicano
O tema deste trabalho é a Independência do Juiz Relator no Processo Administrativo Contencioso Moçambicano, cujo

Problema do estudo nasce do facto do n.°5 do artigo-85 da LPAC,aquele Juiz, ser ordenado a efectuar diligências de um

determinado processo em julgamento, num prazo determinado pelo Juiz Presidente de Tribunal Administrativo Provincial, tendo

em vista que os artigos -217,n°1 da CRM e 4 do EMJ,postulam, respectivamente que, no exercício das suas funções, os juízes

são independentes e apenas devem obediência à lei; E do EMJ, os Magistrados Judiciais julgam apenas segundo a Constituição,

a lei e a sua Consciência, não estando sujeitos à ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das

decisões proferidas, em via de recurso, pelos tribunais superiores, destes factos então questionamo-nos, até que ponto, o n.°5 do

artigo -85 da LPAC, de onde abstrai-se o seguinte, quando os juízes membros da formação de julgamento entenderem

necessário realizar-se qualquer diligência, o presidente da referida formação ordena ao relator do processo a que proceda à sua

realização num prazo por ele determinado, obedece ao Princípio Constitucional e Estatutário da Independência dos Juízes?

Vimos na contextualização deste estudo, que o Juiz Presidente do tribunal administrativo provincial não tem a competência para

ordenar ao Juiz relator no julgamento de qualquer que

seja o processo123.
Não obstante referir a Lei que os Juízes são nomeados pelo Conselho Superior da Magistratura judicial administrativa, aprovados

em concurso público,124 e que os Juizes presidentes dos tribunais administrativos provinciais tomam posse perante o presidente

do tribunal administrativo e aqueles dão posse aos respectivos juízes dos tribunais de província.'125

Associadas a estas competências do juiz presidente de um tribunal administrativo de província

que fazem a sua medida do poder jurisdicional, deve se ter o facto de a jurisdição

administrativa não poder aplicar leis e princípios que ofendam a constituição126. Resta-nos

123Cfr.artigo-45, n.°1 Lei n°24/2013, de 1 de Novembro, republicada com a entrada em vigor da Lei n.°7/2015, de 6 de Outubro.
124 Cfr.Artigos-57 e 58 da Lei supra citada.
125Cfr.Artigo-59 da Lei em referência.
126Cfr.artigo-6 Lei n°24/2013, de 1 de Novembro, republicada com a entrada em vigor da Lei n.°7/2015, de 6 de Outubro.
42

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saber da hierarquia, na função administrativa e na função jurisdicional.

3. Hierarquia na Função Administrativa


Em termos gerais a hierarquia na função administrativa resulta da terceira modalidade de organizacão
dos servicos públicos27, a também denominada de organização vertical/hierárquica dos serviços
públicos. Assim, a que definir a hierarquia, que:
É o modelo de organização administrativa constituído por um conjunto de órgãos e agentes
com atribuições comuns e competências diferenciadas, ligados por um vinculo jurídico que
confere ao superior o poder de direcção e ao subalterno o dever de obediência'28.
Como podemos perceber, a hierarquia, antes de mais, é um modelo de organização, vertical,
como foi dito, mas não é o único, há modelos horizontais - baseados no trabalho em equipa,
ou na colegialidade, ou no princípio do consenso, no nosso caso, obedece-se o modelo de organização
hierárquica na função administrativa'29.

3.1 Características do modelo hierárquico


O modelo de organização hierárquica é marcado por duplo traço característico específico,
nomeadamente:
a) Comunidade de atribuições e diferenciação de competências entre órgãos e agentes da
Administração - significando que para haver hierarquia é indispensável que existam pelo menos dois
órgãos administrativos ou um órgão e agente (superior e subalterno), que um e outro actuem para a
prossecução de atribuições comuns, e cada um deles disponha por lei de competências
diferenciadas;
b) Vínculo jurídico constituído pelo poder de direcção e pelo dever de obediência-quer dizer, entre
superior e subalterno ha um vinculo juridico tipico,chamado «relação hierárquica». Não se trata de
uma relação jurídica próprio sensu, pois não se estabelece entre dois sujeitos de direito como tais,
mas entre órgãos, ou entre órgãos e agentes, da mesma pessoa colectiva pública: trata-se de uma
relação inter-

AMARAL,Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo,Vol.I.Almedina,Coimbra,1988,p.620-Que são organizações humanas criadas no seio
de cada pessoa colectiva pública com o fim de desempenhar as atribuições desta, sob a direcção dos respectivos orgãos, ex.de policia, de
educação, saúde, obras públicas e transportes,etc. 128Idem.p.639.
129Cfr.artigo-252 da CRM.
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orgânica130

3.2. Espécies de hierarquia na função administrativa


Há várias modalidades de distinção de hierarquia, aqui nos interessa a principal, que distingue a hierarquia
interna da hierarquia externa. Ora vejamos:
a) Hierarquia interna: é o modelo de organização interna dos serviços públicos que assenta na
diferenciação entre superiores e subalternos;
Como vemos, a hierarquia interna consiste num modelo de organização em que se toma a estrutura vertical como
directriz, para estabelecer o ordenamento das actividades em que o serviço público se traduz, diz-se por isso que
esta hierarquia é a hierarquia de agentes,pois alem de trazer a ordem de actividades do serviço público, nesta
hierarquia deparamo-nos fundamentalmente com vinculos de superioridade e de subordinação entre agentes
administrativos: tratando-se acima de tudo da divisão de trabalho, e não da distribuição de competência entre
órgãos, por isso denomina-se por interna, por ser um fenómeno que incide apenas ao interior de um organismo, é
orgânica, sem projecção no exterior, não é relacional.
b) Hierarquia externa - é o modelo de organização da administração que assenta no ordenamento
dos poderes jurídicos em que a competência consiste numa pessoa colectiva pública.
Percebemos então, que esta hierarquia é uma hierarquia de órgãos, onde os vínculos de superioridade e
subordinação intercedem entre órgãos da Administração, não estando em causa a divisão do trabalho entre agentes,
mas a repartição das competências entre aqueles a quem esta confiado o poder de tomar decisões em nome da
pessoa colectiva, aqui os subalternos não se limitam a desempenhar actividades, praticam actos administrativos,
que não esgotam sua eficácia dentro da esfera jurídica da pessoa colectiva em cujo nome foram praticados:são
actos externos, projectam-se na esfera jurídica de outros sujeitos de direito, atingem particulares; diz por isso que a
hierarquia externa, esta sim, é relacional'31.

130AMARAL,Diogo Freitas do,Curso de Direito Administrativo,Vol.I,Almedina,Coimbra,1988,p.639. 131Idem.pp.639-642.


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3.3 Conteúdo da relação hierárquica administrativa


De uma forma geral, o conteúdo da relação hierárquica administrativa - traduz-se nos poderes do superior e nos
deveres e sujeições do subalterno.

3.3.1Poderes do Superior'132
a) Poder de direcção - faculdade de o superior dar ordens e instruções, em matéria de serviço,ao subalterno, este
poder não carece de consagração legal expressa,trata-se de um poder inerente ao desempenho das funções de
chefia; Sendo as ordens - comandos individuais e concretos, através dos quais o superior determina aos subalternos
a adopção de uma determina conduta especifica, podem ser dadas verbalmente ou de forma escrita; Ao passo que
as instruções - são comandos gerais e abstractos através dos quais o superior determina aos subalternos a
adopção, para o futuro, de certas condutas sempre que se verifiquem as situações previstas, sendo denominadas de
«circulares» as instruções dadas por escrito e por igual a todos os subalternos.
b) Poder de supervisão - consiste na faculdade de o superior hierárquico revogar ou suspender os actos
administrativos praticados pelo subalterno; Este poder pode ser exercido de duas formas: 1a - por iniciativa do
superior - que para o efeito avocará a resolução do caso; 2a - em consequência de recurso hierárquico perante ele
interposto pelo interessado.
c) Poder disciplinar - é a faculdade de o superior punir o subalterno, mediante a aplicação de sancões previstas na
lei em consequência das infraccões à disciplina da função pública, cometidas133.

3.3.2 Deveres e sujeições do subalterno


Aos poderes do superior correspondem os deveres e sujeições dos subalternos, esses deveres e sujeições são de
variada indole, como por exemplo, os deveres que directamente dizem respeito à relação de serviço temos: os
deveres de obediência, assiduidade, zelo e aplicação, sigilo profissional, urbanidade, respeito pelos superiores,
etc134.
·Há que sublinhar os limites ao dever de obediência: 1°- este consiste na obrigação de o

132Cfr. artigo-16 da Lei n° 7/2012, de 8 de Fevereiro.


133AMARAL,Diogo Freitas do,Curso de Direito Administrativo,Vol.I,Almedina,Coimbra,1988,pp.639-649. 134Idem.pp.649-654.
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subalterno acatar e cumprir as ordens dos seus legitimos superiores hierárquicos,


dados em objecto de serviço e com a forma legal135.
«Quid iuris», se a ordem, provindo muito embora de legitimo superior do subalterno, versando matéria de serviço e
tendo sido dada pela forma devida, for intrinsecamente ilegal,implicando portanto, se fosse acatada, a prática pelo
subalterno de um acto ilegal ou mesmo ilícito.
Duas são as correntes que justificam na sua resposta a essa afirmação, entre elas a corrente hierárquica - segundo
a qual ao subalterno não cabe interpretar nem questionar uma ordem do seu legitimo superior hierárquico, apenas
deve cumpri-la, pois admitir o contrário seria subversão a razão de ser da hierarquia, quando muito o subalterno
poderá exercer o direito de respeitosa representação junto do superior, tendo contudo de cumprir efectivamente a
ordem se esta for mantida ou confirmada por aquele;
Uma outra corrente a que perfilha o Estado moçambicano, por força do 136Principio do Estado de direito e a
submissão da Administração Pública à lei, conjugados com o artigo 40 do Estatuto dos funcionários e agentes do
Estado, (EGFAE), Lei n.° 14/2009 de 17 de Março, é a corrente legalista - segundo a qual não existe dever de
obediência em relação a ordens julgadas ilegais, aquele dever cessa apenas se a ordem implicar a prática de um
acto criminoso; ou ainda cessa se a ordem for patente e inequivocamente ilegal, por ser contrária á letra ou ao
espírito da lei.
Mas devem ser cumpridas pelo subalterno, todas as ordens e instruções que emanarem do legitimo superior
hierárquico, em objecto de serviço, com forma legal, e não implicarem a prática de um crime.Contudo,137se forem
dadas ordens ou instruções ilegais (ilegalidade que não constitua crime), o funcionário ou agente que lhes der
cumprimento só ficará excluído da responsabilidade disciplinar se antesda execução tiver reclamado ou tiver exigido
a transmissão ou confirmação delas por escrito, fazendo expressa menção de que considera ilegais as ordens ou
instruções recebidas.
Está claro que na função administrativa há sim uma hierarquia na qual um (o superior) manda e outro (o subalterno)
obedece, vejamos se o mesmo acontece na função jurisdicional.

135Cfr.artigo 39,n.°2 do EGFAE-Lei n.°14/2009,de 17 de Marco.


136
Cfr.artigos-3,249,n.°2,e 252/2 ambos da CRM conjugados com os artigos 40/3 e 4 do EGAFAE.
137Cfr.Artigos-40,n.°3 e 4 ambos do EGFAE-Lei n.° 14/2009,de 17 de Março.
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3.4 Hierarquia na Função Jurisdicional


Não existe hierarquia, próprio sensu, na função Jurisdicional tal definimos como na função administrativa, no sentido
de que hajam ordens e instruções, que os juízes superiores dão aos juízes subalternos, e estes cumpram, na
qualidade de subordinados daqueles, cabendo então a um Juiz Presidente de tribunal de província o poder de
direcção e aos outros Juízes o dever de obediência, isto não existe na função jurisdicional, mas sim na função
administrativa do tribunal,como vimos no ponto anterior.
Fala-se, por exemplo em hierarquia dos tribunais para significar a que a organização judiciária
se encontra estruturada por graus de forma que aos tribunais de primeira instância acrescem
outros, em número menor e de competência territorialmente mais ampla, destinados a
reapreciar as decisões tomadas pelos primeiros, se os interessados se não conformarem com
138
elas'38
Todavia, não existe aqui o vínculo de subordinação que é característico da hierarquia administrativa: a função dos
tribunais superiores não é dar ordens aos tribunais inferiores sobre o modo como estes hão - de desempenhar a sua
missão. E, para além disso, não é na existência de uma «hierarquia» dos tribunais que se baseia a possibilidade de
recurso, antes se afigurando mais adequado entender, bem ao contrário que é a vontade legal de assegurar o direito
de recorrer que conduz à criação de uma certa «hierarquia» de tribunais139. Porque esta hierarquização dos
tribunais tem vista a reapreciação das decisões dos tribunais inferiores em via de recurso,pelos tribunais superiores,
limitando-se a esta característica a hierarquia dos tribunais.
3.4.1 Natureza Jurídica do Princípio da Independência dos Juízes/Magistratura
Dissemos anteriormente que os tribunais,
São órgãos de soberania a quem compete exercer a função jurisdicional, e é através deles que o Estado exerce o
poder judicial, significa que somente aos tribunais compete conhecer e decidir os casos que lhe são submetidos de
acordo com a natureza do tribunal, no nosso caso, os tribunais administrativos, por via de processo, mediante
aplicacão do Contencioso Administrativo140

138AMARAL,Diogo Freitas do, Curso de Direito Administrativo, Vol.I, Almedina,Coimbra,1988,pp.634-635. 139Cfr.


Artigos - 3 n.°52/a), b) e c), 3 e 4 e 5 conjugados com artigos 39 e40 todos da Lei n.°25/2009,de 28 de Setembro-Lei
orgânica do tribunal administrativo. 140
Cfr.artigos - 133 e 212 ambos da CRM.
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No entanto,e 141porque as suas decisões prevalecem sobre as demais autoridades, 42para exercer a referida
função jurisdicional ou judicial com justiça, objectividade, e imparcialidade, os tribunais precisam de gozar de
independência material (objectiva) assim como de independência pessoal (subjectiva), esta última que respeita aos
Juízes enquanto personificação dos tribunais, mas não como qualidade pessoal, e sim e essencialmente às
condicões objectivas criadas pelo sistema para assegurar que possam exercer a sua função apenas em obediência
à lei.
A independência dos tribunais e dos Juízes tem em vista assegurar a boa administração da justiça e garantia do
cidadão contra eventuais abusos do poder, para que o cidadão possa não só confiar em tribunais e Juízes que têm
as condições para efectivamente serem imparciais e servir a justiça no interesse da protecção ao cidadão.
Esta independência pode ser tomada em várias perspectivas, com significados diversos: independência perante os
restantes poderes do Estado; independência perante quaisquer grupos da vida pública; independência perante
outros tribunais e independência perante a organização hierárquica da burocracia judicial'43, importa aqui referir que
nos interessa esta última vertente de independência, a que tomaremos em análise a seguir.
Como é possível notar, em termos gerais, a independência dos juízes ou da magistratura, foi definida desde as
Constituições, de 1975 no seu artigo 65, e 1990 no seu artigo 164/1, até a actual Constituicão da República de
Mocambique no seu artigo 217/1; igualmente,a independência da magistratura foi estabelecida desde o estatuto
judiciário de 1991,Lei n.°10/91, de 30 de Julho, até ao actual estatuto judiciário de 2009,Lei n.°7/2009, de 11 de
Marco.
Em todos esses documentos o seu conteúdo traduz - se pelo facto de ser o direito de(...) exercer livremente as
respectivas funções sem sujeição a outros ditames que não sejam os que as leis impõem e que a consciência
inspira, e mais, o princípio da independência dos juízes, significa que eles têm o direito de exercer as funções de
julgar sem sujeição às ordens ou

141Cfr.Artigo-215 da CRM.
142 SILVA.Germano Marques da,Curso de Processo Penal I-noções gerais, elementos do processo penal, 6edição, Revista e
actualizada, Verbo, edição babel, Lisboa, 2010,apud CUNA,Ribeiro José,Licões de Direito Processual Penal,
Escolar,Maputo,2014,p.202.
143 SILVA. Germano Marques da,Curso de Processo Penal I-nocões gerais, elementos do processo
penal,6ed.Revista e actualizada, Verbo,edição babel,Lisboa,2010,apud CUNA, Ribeiro José,Licões de Direito
Processual Penal, Escolar,Maputo,2014,p.203.
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instruções de outros juízes ou tribunais ou de quaisquer autoridades, exceptuando, o dever de


acatamento dos tribunais superiores, proferidas por via de recurso.
Centrando-se, como dissemos na independência perante a organizacão hierárquica da burocracia judicial.
Esta refere-se a ordens e instruções que possam ser dirigidas a um Juiz por outros Juízes hierarquicamente
superiores, ou pelos titulares dos órgãos do aparelho de direcção judiciário, às quais por força da aludida
independência não deve obediência ou cumprimento, excepto se forem de carácter genérico, e tendo por finalidade
uma maior eficácia e qualidade da administração da justiça, e que as mesmas não se refiram ao exercicio da função
jurisdicional/judicial, e consequentemente não traduzam qualquer espécie de pressão sobre o sentido da decisão a
tomar num caso sujeito a apreciação'44.
É caso que nos leva a inferir, que temos aqui um conflito de normas, pois, a CRM, o EMJ, e as
demais lei supracitadas dizem o mesmo sobre a independência, porém, o n.°5 do artigo -85 da
LPAC,diz o contrário dessas leis, ao autorizar que o Juiz Presidente de um tribunal
administrativo de província, ordene ao juiz relator a realizar diligências de um determinado
processo, num prazo por aquele determinado, pois as tais diligencias são um acto de função
jurisdicional,pois referem a actividade jurisdicional e essa ordem traduz uma pressão ao modo
de resolução do caso, e com essa pressão vai ditar o sentido da decisão a tomar no caso sujeito
a apreciação, sem dizer que não faz parte das competências do Juiz presidente do tribunal
administrativo provincial, ordenar o juiz relator, a não ser como antes citamos, em casos
genéricos que não traduzam o poder jurisdicional e nem pressão ao Juiz relator, no nosso caso.
O Juiz relator é o magistrado a quem tiver sido distribuído determinado processo, cabendo-
lhe dirigir os termos do processo'45, ao passo que o juiz presidente é o representante do
Tribunal no plano interno e externo, exercendo a mencionada qualidade por mandato de
146
cinco anos
Podemos afirmar que o princípio da independência dos juízes tem natureza jurídica Constitucional e Estatutária, por
isso, as demais leis, tais como as supracitadas, incluindo a lei de Processo Administrativo Contencioso,Lei
n.°7/2014,de 28 de Fevereiro,(LPAC),devem

144CUNA,Ribeiro José,Lições de Direito Processual Penal,Escolar,Maputo,2014,p.202.


145Cfr n.°1 do artigo - 21 da Lei n.°14/2014, de 14 de Agosto, republicada com a entrada em vir da Lei n.°8/2015, de 6 de
Outubro.
146Cfr. n.°2 do artigo - 20 da Lei n.°24/2013, de 1 de Novembro, republicada com a entrada em vigor da Lei n.°7/2015,de 6 de
Outubro.
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estar em conformidade com a Lei Constitucional, e as normas Constitucionais prevalecem sobre todas as outras
normas no ordenamento jurídico moçambicano, nos termos do princípio da legalidade 147. Esta regra de
prevalência das normas constitucionais funda-se pelo facto da hierarquia das normas em Moçambique, a
Constituição da República ser a base de todas as Leis,como demonstramos,e igualmente demonstramos as
competências de um juiz presidente do tribunal administrativo de província.
Cabe-nos então, notada existência de conflitos de normas, por não existir uma hierarquia como tal na função
jurisdicional, tal como na função administrativa, falar agora onde há hierarquia para podermos apresentar os critérios
para resolução do conflito de normas, mas antes, vejamos a hierarquia das normas, tal como apresentamos na
contextualização a hierarquia das fontes de Direito,existe a hierarquia das normas.
3.4.2 Hierarquia das normas das Internas
Já que o no n.° 5 do artigo-85 da LPAC analisado em relação aos artigos - 217/1 da CRM e 4 do EMJ, leva-nos a
constatar a possibilidade de existência de conflito interno de normas, que hierarquicamente estão dispostas da
seguinte forma:
a) A Constituição e leis constitucionais
b) Actos legislativos
c) Actos regulamentares e
d) Normas estatutárias148
Vejamos agora como lidar com tais conflitos existindo, como tal. Em caso de conflito,as normas de hierarquia
superior prevalecem sobre as normas de hierarquia inferior. Ora, a hierarquia das normas depende da hierarquia das
fontes em que estão contidas ou de que promanam. A esse respeito, faz-se logo uma grande distinção, que é a que
mais nos interessa aqui,entre a Constituição,149 e leis ordinárias.

147Cfr.Artigo-2/4 da CRM.
148CANOTILHO,J.J,Direito Constitucional,Almedina,5aedição,Coimbra,1991,p.793.
149A Constituição é ordenação sistemática e racional da comunidade política, plasmada num documento escrito, mediante o qual se garantem os
direitos fundamentais e se organiza, de acordo com o princípio da divisão de poderes, o poder político.Idem.p.12
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3.4.3 Conflito Interno de normas


Em geral há conflitos de leis de no tempo, (sucessão de leis no tempo)150 conflitos de leis no espaco, (quando um
facto ou situação jurídica concreta tem atinências com dois ou mais ordenamentos juridicos- casos tratados no
Direito Internacional Privado)151 e conflitos internos de normas, estes últimos que nos interessam.
Os Conflitos internos de normas, de que constatamos neste estudo -são aqueles que se verificam quando o mesmo
facto concreto aparece abrangido pelas hipóteses legais de normas simultaneamente em vigor no mesmo
ordenamento jurídico, mas cuja aplicação simultânea é impossivel por implicar uma contradição'52.
Ou ainda, conflitos de normas - é o facto de uma norma determinar uma certa conduta como devida e outra norma
determinar também como devida uma outra conduta, inconciliável com aquela153
Seja qual for o tipo de conflitos de normas, temos que assentar em que o postulado da unidade da ordem jurídica,
que é característica do sistema jurídico exige, portanto, que não se verifiquem contradições entre as suas normas.
Ao falar da unidade como característica do sistema jurídico nos regimes de supremacia da lei escrita como o
nosso154, a ordem juridica é unitária neste tipo de regime porque todo e qualquer acto ou comando que nela se
produza vem sempre a considerar-se “autorizado” pelo acto normativo originário, ou acto constitucional155.
Podemos afirmar que,156há três critérios para resolucão de conflitos de normas,passemos agora a ver as
especificidades de cada um desses critérios, a saber:

3.4.3.1 Critério Cronológico


Com fundamento no princípio da lex posterior, em que entre duas normas incompatíveis, prevalece a norma
posterior. Obedecida a idéia de que a manifestação de vontade posterior se

150Cfr.artigos-12 e 13 ambos do Código Civil - Em vigor na República de Moçambique, 1a edição -Decreto-Lei n° 47344,de 25
de Novembro de 1966. 151
Cfr.artigos-14 a 65 do Decreto-Lei supra citado.
152MACHADO, J.Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador,Almedina,5a
reimpressão,Coimbra,1991,p.173.
153KELSEN,Hans, Teoria Pura do Direito, Martins Fontes,6ed.São Paulo,1999,p.144.
154Cfr.artigo-2, n.°5 2 e 3 da CRM conjugado com artigo-1 do Código Civil-Em vigor na República de
Moçambique,1a edição-Decreto-Lei n° 47344,de 25 de Novembro de 1966.
155

MARQUES,J.Dias, Introdução ao Estudo do Direito, 4a edição,Lisboa,1972,pp-355-356.


156KELSEN,Hans,Teoria Pura do Direito,Martins Fontes,6ed.São Paulo,1999,pp.143-146.
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sobrepõem a anterior manifestação. Assim: lex posterior derogat lex priori. Outro entendimento seria contrário ao
avanço do pensamento jurídico e a própria dinamicidade do sistema jurídico.
Segundo este critério entre duas normas contrárias, num mesmo ordenamento juridico como antes nos
referimos,sobre os conflitos internos de normas, de que tratamos aqui neste trabalho, prevalece a norma posterior,
regra geral, vendo nessa vertente, entre a norma do n.° 5 do artigo -85 da LPAC para com o n.°1 do artigo - 217 da
CRM e artigo - 4 do EMJ,prevaleceria a norma da LPAC, portanto, o seu n.° 5 do artigo - 85157. Iremos agora, ver o
segundo critério, que se resulta da ressalva deste primeiro critério, ou seja, trata-se de uma excepção ao princípio
cronológico.

3.4.3.2 Critério da especialidade


Chamado de lex specialis, este critério tem como princípio lex specialis derogat lex generali. Segundo este
critério,havendo duas normas incompatíveis, prevalece a norma especial158 sobre a norma gerall59. O escopo
deste critério é o de dar maior valor a justiça que se encerra na distinção de categorias específicas e desenvolver o
ordenamento. Um efeito interessante se refere ao facto de por se tratar de uma inconsistência do tipo total - parcial
há uma eliminação apenas parcial da norma geral, diferente dos demais critérios que destituem de aplicação toda
uma norma, ou mesmo as duas.
Dissemos ao nível da definição que é norma geral aquela que subtrai parte da matéria que é abordada pela norma
especial, regulamentando-a de forma diferente ou anulando-a, ou seja, gerando uma idéia contrária ou de
contrariedade. Assim, por força do n.° 3 do artigo - 7 do citado Código Civil, a norma geral não revoga a norma
especial, pelo vendo do prisma deste segundo critério, a relação entre o n.°5 do artigo - 85 da LPAC e o artigo -4 do
EMJ, prevaleceria esta última norma, pois esta é especial ao judiciário. Importa aqui, para retirar quaisquer
equívocos, que a LPAC é geral no sentido de que consagra o regime comum do processo contencioso
administrativo, mas que em relação ao Cod.Civ. a LPAC é especial,o

157Cfr.artigo-7,n.°2 in fine do Código Civil-Em vigor na República de Moçambique,1a edição-Decreto-Lei n°


47344,de 25 de Novembro de 1966.
158 TORRES, António Maria M, Introdução ao estudo do Direito,Rei dos livros,Lisboa,1998,p.51:a regra especial é aquela que destina-se a
desenvolver, completar ou integrar os aspectos especificos, não contemplados na norma geral, bem como a derrogar alguns princípios gerais
quando o legislador considera ser essa a solução mais acertada. 159Idem.p.51-A regra geral é aquela cujo campo de aplicação é geral.
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mesmo não se verificando em relação ao EMJ, onde em relação a ele, (EMJ), a LPAC é geral, uma vez que o EMJ
traz um tratamento diferenciado à uma classe, a classe dos magistrados públicos.
Não basta pararmos por ai, o nosso ordenamento jurídico está organizado hierarquicamente no que tange às fontes
de direito, hierarquia baseada sobre vários critérios, conforme referimos na contextualização, sendo um deles, o
órgão de que promanam tais fontes, em que no topo da hierarquia das fontes, entre nós, está a Constituição da
República de Moçambique, surge ai, a base do terceiro critério para a solução de conflitos internos de normas.

3.4.3.3 Critério Hierárquico


Chamado de lex superior, este critério se refere à solução de antinomias entre duas normas na qual prevalece a
norma superior, ou seja, a norma de hierarquia superior, em obediência ao principio lex superior derogat lex inferiori.
Tal facto se deve ao ordenamento jurídico, que se compõem de normas em planos diferentes, em ordem hierárquica,
consequentemente gerando a revogação das normas inferiores pelas normas superiores. Esta relação entre as
normas em maior ou menor grau hierárquico se deve a força de seu poder normativo, quanto menor esta força,
menor também será a capacidade de se estabelecer uma regulamentação que esteja em oposição a uma
regulamentação superior.
Nesses termos, analisando a relação entre o n.°5 do artigo -85 da LPAC para com o n.°1 do artigo - 217 da CRM,
prevaleceria o disposto nesta última norma160.
À luz da colocação do problema do nosso trabalho, a discussão é centrada na conformidade do artigo - 85/5 da
LPAC, em relação ao n.° 1 do artigo - 217 da CRM, e ao artigo - 4 do EMJ, isto pelo facto de a estrutura da ordem
jurídica moçambicana ser uma construção escalonada de normas supra e infra - ordenadas umas às outras, como
demonstramos no capitulo-1, em que uma norma do escalão superior determina a criação da norma do escalão
inferior,tendo em conta esse facto do terceiro critério, e pelo facto de existirem normas especiais,como também há
pouco nos referimos, especializadas para o assunto,e pelo facto de umas virem depois de outras, à nível
cronológico.
De uma forma geral, tendo em conta os três (3) critérios para a resolução do conflito de normas constatado vimos
que sendo normas emanadas de fontes de hierarquia diferente,
160Cfr.artigo-2,n.° 4 da CRM.

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prefere a norma de fonte hierárquica superior, estamos aqui perante o primeiro critério, (o critério da superioridade:
lex superior derogat legi inferiori); No caso de conflito de normas da mesma hierarquia, prefere a lei mais recente,
estamos aqui perante o segundo critério, (o critério da posteridade: lex posterior derogat legi priori); E como
excepção deste segundo critério, nasce o terceiro, segundo o qual, a lei especial prevalece sobre a lei geral, critério
da especialidade: lex specialis derogat legi generali, ainda que esta seja posterior, salvo se outra for a intencão do
legisladorl61.
Visto por via da análise desses três critérios, nos parece vislumbrar de que seja tomando que critério for dos três, a
relação de prevalência entre o n.°5 do artigo - 85 da LPAC e o n.°1 do artigo-217 da CRM, recairá para o n.° 1 do
artigo -217 da CRM, tendo em conta o critério da superioridade, como há pouco vimos, fazendo a mesma relação
para com o artigo 4 do EMJ, também recairá a relação de prevalência para este último, tomando em conta o
segundo e o terceiro critério de resolução de conflito e normas, assim sendo o n.°5 do artigo 85 da LPAC viola a
CRM e o EMJ.
Em geral, as normas de leis ordinárias, (como o caso do n.°5 do artigo -85 da LPAC) que contrariem as leis
constitucionais (como o caso do n.° 1 do artigo - 217 da CRM),padecem do vício de inconstitucionalidade, pelo que
não devem ser aplicadas pelos tribunais ou por outros órgãos aplicadores do direito.
Que em termos de definição, a teoria clássica da inconstitucionalidade foi elaborada,tendo conta duas premissas
fundamentais:
Quanto ao parâmetro da inconstitucionalidade que - é toda a lei que viola os preceitos constitucionais tornando-se
ilegal todo o acto que contraria o "o direito da lei" isto é, o direito contidoo plasmado em actos legislativos: quanto
aos efeitos do controlo uma norma inconstitucional é ipso jure nula, está ferida de nulidade absoluta'62.
Existem diversos tipos de inconstitucionalidade que podemos aferir, quando há uma violação da constituição, que
passamos a destacar:
a) Inconstitucionalidade por acção é a inconstitucionalidade positiva, a que se traduz na prática de um acto
político público que, por qualquer dos seus elementos infringe a constituição.

161MACHADO, J. Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Almedina, 5a edição, reimpressão,Coimbra,1991,pp.170-171.


162ROCHA,Isabel, et al. Introdução ao estudo do Direito.12° ano,Porto,1998,p.194.
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b) A inconstitucionalidade por omissão é a inconstitucionalidade negativa, a que resulta da inércia ou do
silêncio de qualquer órgão do poder, o qual deixa de praticar em tempo certo exigido pela constituição.

Estes dois tipos são os principais, tendo alguns acessórios, que faremos questão de invocar para esclarecer os
equívocos que poderão existir ao longo deste trabalho. Tanto o agir quanto o não agir, podem ser inconstitucionais.
Ao praticar um acto ou editar uma lei contrária à constituição, está sendo cometida uma inconstitucionalidade por
acção. Já quando o poder politico deixa de editar e deixa de dar a operacionalidade uma lei exigida pela
constituição, temos aí uma inconstitucionalidade por omissão.
Temos a inconstitucionalidade total ou parcial, quando esta afecta um só acto ou uma só parte do acto, pode ser
uma norma e face a um conjunto de normas de um diploma ou parte de uma norma e não toda a norma. Quando
estamos perante uma inconstitucionalidade por omissão total compreende-se que há uma falta absoluta de medidas
legislativas ou outras que dêem cumprimento a uma norma constitucional ou a um dever prescrito por norma
constitucional e fala-se de inconstitucionalidade por omissão parcial quando há falta de cumprimento constitucional
quanto a alguns dos seus aspectos ou dos seus destinatários163.
A inconstitucionalidade material e formal, a primeira alude essencialmente ao conteúdo da norma e a segunda á
forma do acto jurídico político. Ainda existe a inconstitucionalidade originária, que dá-se na vigência de certa norma
constitucional emite-se um acto (ou um comportamento omissivo) que a viola, e temos a superveniente quando uma
nova norma constitucional surge e dispõe em contrário de uma lei ou de outro acto precedente.

163MIRANDA,Jorge,Teoria da Constituição,Almedina,Coimbra,1999,p.338.
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Conclusão
O estudo sobre a Independência do Juiz relator no Processo Administrativo Contencioso mocambicano, ora em
desfecho, no qual questiona-se a conformidade do n.°5 do artigo-85 da Lei do processo administrativo contencioso,Lei n.° 7/2014,
de 28 de Fevereiro, (LPAC), face aos artigos -217, n.°1,e 4 da Constituição da República de Moçambique, adiante designada por
(CRM) e do Estatuto dos Magistrados Judiciais de Moçambique EMJ, Lei n.°7/2009, de 11 de Março, respectivamente. Em busca
da resposta,traçou-se o seguinte objectivo geral Analisar a conformidade do n.°5 do artigo - 85 da LPAC, com o artigo 217, n.°1
da CRM e artigo-4 do EMJ.

No nosso trabalho demonstramos, como principal foco, a partir de análises de legislação, manuais, que um dos
princípios constituintes do poder judicial é o Principio da Independência dos juízes/magistratura, cuja natureza
jurídica é mormente constitucional e estatutária, ao abrigo dos artigos-217,n.°1 dessa mesma Lei primária, (CRM),
de onde abstrai-se que, no exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem obediência à
Lei; e 4 do Estatuto dos magistrados judiciais de Moçambique, (EMJ), os magistrados judiciais julgam apenas
segundo a Constituição, a Lei e a sua Consciência, não estando sujeitos, a ordens ou instruções, salvo o dever de
acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas, em via de recurso, pelos tribunais superiores.
Isto significa que o direito de exercer as funções de julgar, que é exclusivo aos juízes, deve ser
feito por estes, (Juízes), segundo à Lei, e os ditames da sua consciência, sem sujeição a ordens
ou instruções sejam elas provenientes de quem forem, isto porque a hierarquia judiciária é uma
hierarquia dos tribunais que só funciona de harmonia com as Leis de processo, segundo o
164

mecanismo dos recursos


Mecanismo de recursos esse, que confere o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões proferidas
pelos tribunais superiores em sede de recursos. Essa análise, ligada ao plasmado no n°5 do artigo 85 da LPAC, leva
ao contrário do que preceitua a CRM no seu artigo-217,n.°1,bem como do artigo 4 do EMJ, chegamos a conclusão
que há um choque entre o que diz o n°5 do artigo - 85 da LPAC com o disposto no n°l do artigo - 217 da CRM, e

164CAETANO,Marcello. Manual de Ciência Politica e Direito Constitucional,6edicão,TOMO-II,Coimbra,Lisboa,1972,pp.672-673.


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ainda com o artigo-4 do EMJ, podendo até afirmar-se, após cuidada interpretacão,
insubordinação à Lei mãe e a disparidade com o estatuto.
O resultado da pesquisa feita, ora vejamos,a Independência dos Juízes constitui um importante elemento do poder
jurisdicional, que por sua vez se torna uma garantia aos que recorrem àquele poder num Estado de Direito e
Democrático como o nosso. Nesta ordem de ideias, ao aplicar-se o n°5 do artigo - 85 da LPAC, no qual o Juiz relator
obedece a ordem do Juiz Presidente do tribunal,para efectuar diligências num processo, (elemento da função
jurisdicional), e num prazo determinado por ele, (o Juiz Presidente),determinado,deparamo-nos com uma clara e
tremenda violação do Principio da Independência do Juiz, que este tem no exercício da função jurisdicional.
Ao Juiz relator, e qualquer outro Juiz é reservada uma esfera particular no exercício da função jurisdicional, não
tendo que obedecer ordens ligadas à função jurisdicional, porque não existe uma hierarquia na função Judicial/
jurisdicional como a da função administrativa, onde há uma relação de subordinação, sendo o superior hierárquico,
quem manda e o subalterno,obedece, antes porem, a hierarquia judiciária, é tida apenas em casos de recursos.
A análise feita das normas em conflito constatadas e resolvidas por meio dos três critérios, hierárquico, cronológico e
da especialidade, baseando-se na unidade/não contrariedade do sistema juridico165, nos termos referidos
anteriormente neste trabalho, aponta para a inconstitucionalidade material e parcial, do artigo- 85 da LPAC, uma vez
que afecta apenas o seu do n°5 do artigo 85, que contraria o previsto no citado n°l do artigo - 217, da CRM, como
está bem escrito na nossa Constituição da República, que no exercício das suas funções,os juízes são
independentes e apenas devem obediência à Lei; e ilegalidade pois está em disparidade para com o artigo - 4 do
EMJ, segundo o qual, os magistrados judiciais julgam apenas segundo a Constituição, a Lei e a sua Consciência,
não estando sujeitos, a ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decisões
proferidas, em via de recurso, pelos tribunais superiores.
A não detecção e declaração desta inconstitucionalidade, que resultará na nulidade ipso iure do citado n°5 do artigo
- 85 da LPAC, produzindo efeitos ex tunc, isto é, invalidado e cessada sua vigência desde o momento da sua
entrada em vigor e não apenas a partir do momento da

165CANOTILHO,J.J,Direito Constitucional, Almedina, 5edição, Coimbra, 1991,p.48. -É o sistema de normas juridicamente vinculantes.
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declaração de inconstitucionalidade, e proibição da sua aplicação à situações ou relações desenvolvidas à sombra


da sua eficácia e ainda pendentes166 por via da fiscalização concreta167, proporciona não Independência do
Juiz relator, o que prejudica as garantias de justiça dos cidadãos, pelo facto destes terem a justiça como fonte única
e segura para solução dos seus litigios de forma legal e com equidade.
Esta conclusão é tirada porque as normas de leis ordinárias, (como o caso do n.°5 do artigo -
85 da LPAC) que contrariem a Constituição (o caso do n.°1 do artigo - 217 da CRM),
padecem do vício de inconstitucionalidade, pelo que não devem ser aplicadas pelos tribunais
ou por outros órgãos aplicadores do direito, sendo este, vício grave que a ilegalidade onde se
contraria a lei especial, afastamos a ilegalidade e prevalece a inconstitucionalidade, assim, o
n.°5 do artigo -85 da LPAC é nulo e de nenhum efeito jurídico,1 e deverá ser alvo de
apreciação e declaração de inconstitucionalidade pelo Conselho Constitucional, nos termos
do artigos conjugados, 241, e 244, n.°l/a), 245 - todos da CRM, por via da fiscalização
concreta, nos termos do artigo - 214 também da lei supra citada e associando os elementos
contidos nos capítulos do nosso trabalho, segundo os quais temos uma hierarquia das leis,
onde a primeira delas, em termos de supremacia, é a Constituição da República de
Moçambique,que contém as normas e princípios basilares, e que nenhuma outra lei pode
dispor contra o previsto na Constituição, sob pena de inconstitucionalidade, conjugada ao facto
da jurisdição administrativa não pode aplicar leis ou principios que ofendam a
Constituição,169 e ainda porque esta jurisdição, obedece o principio da tutela jurisdicional
efectiva que compreende o direito de obter, em prazo razoável, uma decisão judicial que
aprecie, com forca de caso julgado, cada pretensão regularmente deduzida em juízo, bem
como a possibilidade de a poder executar e obter as providencias cautelares, antecipatórias ou
170
elementos esses que a
conservatórias, destinadas a assegurar o efeito útil da decisão,
aplicação do nosso caso do n°5 do artigo - 85 da LPAC, não confere nem ao Juiz relator nem
mesmo das pessoas com litígios tutelados pelo Direito administrativo,porque dispõe contra o
n°l do artigo-217 da CRM e é

166CANOTILHO, J.J,Direito Constitucional, Almedina, 5edição, Coimbra,1991 p.1083 167


Cfr.artigo-214 da CRM.
168Cfr.artigo-35 da Lei n.° 7/2014,de 28 de Fevereiro.
169Cfr artigo-6 da Lei n.° 24/2013, de 1 de Novembro, republicada com a entrada em vigor da Lei n.°7/2015,de 6 de Outubro.
170Cfr.artigo-4,n°1 da Lei n.°7/2014,de 28 de Fevereiro.
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Sugestões
De forma a dar sentido a pesquisa importa-nos, deixar as seguintes sugestões neste trabalho de fim de curso:
Que se solicite a apreciação de inconstitucionalidade do n°5 do artigo 85 da LPAC,nos termos do artigo - 245 da
CRM, para que tenhamos um poder judicial administrativo consolidado em termos de independência.

Que se harmonize o n°5 do artigo - 85 da LPAC com a Constituição da República e Com o Estatuto do
Magistrados judiciais, ambos de Moçambique, através do processo de fiscalização concreta, à luz do artigo 214
da CRM.

Convictos da necessidade imperiosa da garantia da Independência dos juízes, para uma maior eficácia
e eficiência do poder jurisdicional e pelo respeito à Constituição da República de Moçambique que se
aprecie e declare a inconstitucionalidade do n°5 do artigo-85 da LPAC,à luz do artigo 244,n.°1/a) da
CRM.

Deve se aplicar efectivamente o princípio da Independência dos Juízes nos Tribunais Administrativos,
no sentido de que tanto quanto nos tribunais judiciais, nos tribunais administrativos não haja dúvidas
sobre a aplicação efectiva do referido princípio para garantia dos particulares e uma justiça
administrativa célere e credível.

✓ Que o princípio da Independência dos Juízes não seja simplesmente formal, seja aplicado em todos os
tribunais para que os sujeitos que recorrem aos tribunais administrativos sintam que de facto o princípio existe tal
como aponta a sua denominação.

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Referências bibliográficas

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Parte IV:Fontes orais


Dra. Belinha Mário Maulana-Magistrada Judicial
Hélder Naífe (MA)-Magistrado Administrativo

Dr. Hugo Mapilele-Magistrado Administrativo


Dr.Gabriel Desejado Gabriel Mepina- Advogado e docente universitário

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