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PLANEJAMENTO URBANO

Autoria: Felipe Buller Bertuzzi

1ª Edição
Indaial - 2021
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci

Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz


Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.
B552p

Bertuzzi, Felipe Buller

Planejamento urbano. / Felipe Buller Bertuzzi – Indaial:


UNIASSELVI, 2021.

135 p.; il.

ISBN 978-65-5646-407-7
ISBN Digital 978-65-5646-406-0
1. Urbanismo. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 710

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
O Planejamento Urbano e suas Interfaces............................... 7

CAPÍTULO 2
Os Instrumentos do Planejamento Urbano............................. 53

CAPÍTULO 3
O Planejamento e o Urbanismo Contemporâneo.................... 93
APRESENTAÇÃO
Caro estudante! Seja muito bem-vindo à disciplina de Planejamento Urbano
do Programa de Pós-Graduação lato sensu da UNIASSELVI. Será um prazer
dialogarmos sobre essa temática que é extremamente importante para as
cidades onde vivemos. As abordagens deste livro irão lhe auxiliar a desenvolver
habilidades que serão fundamentais para a aplicação no mercado de trabalho!

Inicialmente, no primeiro capítulo, serão expostas as principais teorias


do urbanismo e do planejamento urbano para que, em seguida, você possa
compreender os processos que originaram a composição das cidades ao longo
da história internacional e, posteriormente, do Planejamento Urbano e Regional
no Brasil. Será com esses entendimentos que você terá o conhecimento técnico
científico necessário para a elaboração das melhores estratégias urbanas em
sua vida profissional. Além disso, estará apto a avaliar e aplicar os conceitos já
elucidados ao longo da história no urbanismo atual.

Já no segundo capítulo, iremos discutir as estratégias atuais do planejamento


urbano que vêm sendo realizadas nas mais diferentes cidades do mundo, bem
como as formas legais do exercício do planejamento nas cidades que precisam
ser respeitados. Com isso, você terá instrumentos técnicos para analisar as
dinâmicas das políticas públicas frente às necessidades urbanas atuais. Além
disso, você poderá aliar as propostas de planejamento urbano aos instrumentos
legais vigentes.

Por fim, o terceiro capítulo irá lhe instigar e promover o debate acerca
dos desafios urbanos a partir de trabalhos já realizados no âmbito nacional e
internacional, a fim de capacitá-lo para o pensamento crítico e a prática de técnicas
para a análise do espaço urbano. Na prática, você poderá analisar a viabilidade
e o estudo de projetos urbanos bem-sucedidos, captar as melhores estratégias
para o desenvolvimento urbano local e auxiliar na solução de problemas urbanos
a partir de princípios sustentáveis.

Está preparado para desbravarmos todo esse conhecimento juntos?

Lembre-se sempre: A transformação só existirá se houver conhecimento!

Professor Arq. Me. Felipe Buller Bertuzzi


C APÍTULO 1
O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS IN-
TERFACES

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 apreender as principais teorias do urbanismo e do Planejamento Urbano;


 conhecer os processos históricos do Planejamento Urbano e Regional no
Brasil;
 agregar conhecimento técnico-científico para a elaboração das melhores
estratégias urbanas;
 avaliar e aplicar os conceitos já elucidados ao longo da história no urbanismo
atual.
Planejamento Urbano

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O presente capítulo irá abordar as definições de planejamento urbano a partir
de uma breve história do urbanismo. É preciso entender o planejamento urbano
sob a perspectiva de uma disciplina que visa encontrar soluções para a melhoria
das cidades e que esses recursos perpassam de uma forma transdisciplinar, isto
é, requer decisões conjuntas a partir de diferentes atores da sociedade.

Mas para essa análise acontecer é necessário compreender o processo


histórico da configuração das comunidades, da aglomeração urbana e dos
primeiros desafios acarretados pelo processo de urbanização. Muitas decisões
tomadas ao longo da história desencadearam em divisões do espaço urbano que
ascenderam e continuam provocando o fortalecimento da desigualdade social,
como o uso e a apropriação do solo urbano por meio do zoneamento, a priorização
da requalificação de áreas urbanas que visavam melhorar a aparência da cidade
ao ocultar áreas mais pobres, dentre outros. Para isso, será apresentado o
processo da constituição das cidades, extremamente importante para que você
consiga relacionar às decisões urbanas tomadas nos dias atuais.

Na sequência, abordaremos a história do planejamento urbano e regional


no Brasil, levando em consideração as suas potencialidades e fragilidades,
bem como a análise das determinações anteriores com aquilo que vem sendo
feito atualmente. Para isso, serão evidenciados os períodos (ou fases) do
planejamento urbano brasileiro que considerou momentos de pura unilateralidade
sobre a cidade e também da compreensão de que o espaço urbano necessita ser
pensado por todos.

Por fim, serão apresentadas algumas maneiras de intervir no espaço urbano


– ainda que de uma forma generalista – para que você compreenda quais os
problemas mais decorrentes e as maneiras de intervenção na cidade a partir de
uma gestão urbana integrada.

Nesse sentido, o presente capítulo buscará lhe situar sobre o que essa
disciplina do Planejamento Urbano quer dizer a partir de um passo a passo
sistemático com inúmeras provocações ao longo do texto que lhe farão refletir
sobre a cidade contemporânea.

Vamos lá?

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Planejamento Urbano

2 A NECESSIDADE DO
PLANEJAMENTO
Você tem alguma ideia de como surgiu o termo “planejamento urbano” e
como ele é tratado nos dias de hoje? Iremos abordar esse conceito com você! Mas
antes disso, é preciso desmembrar essas palavras e entender, separadamente, o
que cada uma delas significa. Vamos nessa?

2.1 DEFINIÇÕES DE PLANEJAMENTO


URBANO E UMA BREVE HISTÓRIA DO
URBANISMO
Quando falamos em planejamento, logo vem à mente o ato de organizar,
preparar uma determinada atividade ou um determinado espaço. Quando
planejamos algo, quer dizer que estamos querendo buscar melhorias para a
resolução de um problema, não é verdade? Isso ocorre quando estudamos para
uma avaliação na faculdade ou quando precisamos realizar alguma refeição ou
mesmo pensar em como será a viagem do final de ano. Esses são exemplos muito
simples de atividades que requerem um planejamento prévio, uma organização
para que as nossas atividades saiam conforme o esperado!

Para envolver um entendimento científico e lhe auxiliar ainda mais na


compreensão dessa temática, Yehezkel Dror define planejamento como sendo
“o processo de preparar um conjunto de decisões para ação futura, dirigida à
consecução de objetivos através dos meios preferidos” (DROR, 1973, p. 323). Em
outras palavras, o autor desta frase quis dizer que o planejamento se trata de um
processo preparatório para o alcance de metas, realizado em conjunto com todas
as pessoas envolvidas.

É importante ressaltar que, muitas vezes, as decisões tomadas no momento


de todo o processo de planejamento não necessariamente serão as mesmas a
serem executadas (SABOYA, 2011). Isso porque é necessário avaliar o contexto
e todas as circunstâncias envolvidas a fim de verificar se a resolução daquele
problema será realmente efetiva.

Conseguiu compreender o que significa planejamento? Agora, iremos


descobrir o sentido da próxima palavra que compõe o entendimento da presente
disciplina do curso! O termo “urbano” está ligado diretamente à cidade e trata do
espaço civilizado em que vivemos.

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Aqui, tratamos o termo civilizado como sendo a união de


aspectos que compõem uma civilização, uma sociedade. Dentre eles
estão os fatores intelectuais, morais e materiais de uma região, por
exemplo!

A origem no latim, “urbanus”, significa “pertencente à cidade”, relacionado


diretamente aos habitantes que nela vivem (VESCHI, 2019). E é nesse meio,
dotado de inúmeras interconexões, que praticamos as nossas atividades diárias
e nos relacionamos com o ambiente externo. Para exemplificar algumas das
características que compõem a zona urbana estão: as edificações, o perfil viário,
as redes de iluminação, os serviços de saúde, educação, áreas de lazer, dentre
muitos outros. Todos esses componentes de uma cidade fazem parte e estão
inerentes a nossa vida cotidiana.

Portanto, se unirmos os dois termos, entendemos que “planejamento urbano”


trata da organização e do crescimento das cidades a partir de diferentes
olhares e análises que abordaremos neste capítulo. Apesar de muitas vezes os
termos “urbanismo” e “planejamento urbano” serem encarados como sinônimos, o
urbanismo está voltado às características territoriais das cidades (ao desenho da
cidade), enquanto o planejamento urbano abre-se para um sentido interdisciplinar,
ainda mais amplo (DUARTE, 2009). Ele remete ao conjunto de medidas que visam
alcançar objetivos sob aspectos da arquitetura, sociologia, geografia, economia,
engenharia, entre outros.

Segundo Jorge Wilheim (importante planejador urbano do Brasil), o objetivo


do urbanismo é analisar criticamente a realidade do espaço da vida urbana,
oferecer uma visão desejável e possível, propor e instrumentar uma estratégia
de mudança. Esta estratégia deveria ser acompanhada pelos instrumentos
necessários para induzir e conduzir a alteração de realidade proposta (DUARTE,
2009).
Assim, o
Vamos em frente? Talvez você já esteja se perguntando: “Mas planejamento
como isso de fato ocorre na prática?”. urbano volta-se
para a garantia do
desenvolvimento
O planejamento urbano acontece a partir de processos técnicos ordenado das
(profissionais habilitados para pensar a cidade, como urbanistas e comunidades
engenheiros) e pelo poder público, responsável pela gestão da cidade. pertencentes à
Além disso, torna-se muito importante a participação da população em cidade.

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Planejamento Urbano

todo esse processo, pela qual relacionaremos nos próximos capítulos. Assim, o
planejamento urbano volta-se para a garantia do desenvolvimento ordenado das
comunidades pertencentes à cidade.

Esperamos que você tenha entendido! Agora que entendemos o que significa
esse termo, iremos tratar sobre a relação do planejamento com as cidades.
Estudaremos como surgiu a preocupação com a organização do espaço urbano e
quais as implicações nas mais diferentes cidades do mundo.

Por mais recente que o planejamento urbano possa parecer, o homem já


formava “cidades” há milhares e milhares de anos. Benevolo (1997) relacionou
o surgimento desses agrupamentos ancestrais como geradores da divisão de
classes, um contraste social que era evidenciado por aqueles que dominam e os
que eram dominados. E isso refletia muito nas formas de habitar e na determinação
daqueles que poderia ter mais recursos de sobrevivência em detrimento de
outros. Esse processo era muito sustentado pela produção agrícola em que a
sociedade aprimorava as suas técnicas a fim de construir, gradativamente, a sua
própria evolução. Aos poucos, esses agrupamentos foram se espalhando e se
desenvolvendo em diferentes locais do mundo (Figura 01).

Leonardo Benevolo (1997) traz o comparativo do processo de


evolução em seu livro intitulado História da Cidade, que retrata o
desenvolvimento da civilização humana.
BENEVOLO, L. História da Cidade. 3. ed. São Paulo: Perspectiva
S/A, 1997.

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL


AO LONGO DE MILHARES DE ANOS

FONTE: Adaptada de Benevolo (1997)

Aos poucos, foram sendo feitas descobertas de recursos que poderiam


ser cultivados para a subsistência, das ferramentas que seriam utilizadas e
do local onde as pessoas seriam assentadas. A instalação das comunidades
próxima a leitos de rios favorecia todo esse desenvolvimento, como a irrigação
para o cultivo de plantas e cereais, o transporte, a troca de mercadorias, dentre
outros (BENEVOLO, 1997). Assim, o funcionamento da cidade começou a ser
implantado.

Com o passar do tempo, essa tipologia “aberta” de cidade foi trocada por
regiões cercadas. Há cerca de 2000 a.C., as cidades sumerianas – localizada
na região sul da Mesopotâmia – resumiam-se em construções muito próximas
de dezenas de milhares de habitantes, mas também verticais no formato de
pirâmide, os chamados zigurates (BENEVOLO, 1997). A Figura 2 demonstra como
era evidente a distinção de classes, em que os mais pobres já viviam em áreas
compactas e aglomeradas mais distante da região central dotada de armazéns,
lojas, laboratórios dentre outros serviços.

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Planejamento Urbano

FIGURA 2 – FORMATO DAS EDIFICAÇÕES E A DIVISÃO DE CLASSES

FONTE: Adaptada de Benevolo (1997)

Com o tempo, as cidades passaram a ser desenvolvidas com certa


regularidade geométrica, intercalando espaços abertos e fechados, muitas
vezes distribuídos ao redor de pátios centrais. Resultado do processo evolutivo
do ser humano que, ao longo da história, foi descobrindo diferentes formas
de organização espacial em prol de sua sobrevivência. E todo esse caminho
percorrido foi decorrente do conhecimento empírico, ou seja, do ato de o ser
humano agir conforme as suas experiências, vivências e necessidades.

E aí... o que você está achando? Conseguiu captar a ideia desse panorama
histórico que trouxemos para você? Julgamos extremamente necessário para
que você consiga compreender a real noção de planejamento urbano que
abordaremos neste livro.

Agora, daremos um salto na cronologia histórica para lhe mostrar como todo
esse processo desencadeou em mudanças extremamente desafiadoras e que
nos perseguem até os dias de hoje! Vamos lá?

Apesar de diferentes formatos e tipologias que foram surgindo ao longo de


milênios e em todas as localidades do mundo, um período muito recente da nossa
história acelerou o desenvolvimento urbano e evidenciou, com muito mais força, a
necessidade de se pensar a cidade.

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Ainda neste capítulo, falávamos sobre o papel do planejamento na


resolução de problemas. No caso das cidades, isso não foi diferente. Isso porque
a Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XVIII na Inglaterra,
provocou o esvaziamento de uma população que até então morava em áreas
rurais para se deslocarem à área urbana das cidades, o que gerou um aumento
muito significativo de pessoas que buscavam empregos e a esperança de uma
qualidade de vida melhor do que eles já tinham.

Revolução Industrial: período de grandes transformações


ocasionadas pelo surgimento da indústria e da aceleração da
produção!
Esclarecendo: é importante saber que o processo acelerado de
migração para as cidades foi denominado “êxodo rural”.

Fazendo uma analogia para que você entenda: era como se um estádio de
futebol com capacidade de 100 mil pessoas passasse a receber 375 mil naquele
mesmo espaço ao longo de vários anos. Ou seja: a capacidade de absorção da
população nas cidades já estava esgotava!!!

E não bastasse isso, o processo iniciado na Europa (também chamado de


alastramento ou espalhamento urbano) foi se disseminando pelo mundo todo,
crescendo de 500 mil para 1 bilhão de pessoas entre os séculos XVIII e XIX.

Para deixar ainda mais ilustrativo esse crescimento, o gráfico a seguir retrata,
em percentagem, o quanto o processo de urbanização impactou no mundo, entre
os anos 1500-2016. Também é possível fazer uma relação com o crescimento
populacional do Brasil e do Reino Unido.

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Planejamento Urbano

GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO DA URBANIZAÇÃO NOS ÚLTIMOS 500 ANOS

FONTE: Our World in Data baseado no UN World Urbanization Prospects (2018)

Ao contrário das melhorias humanas que se pretendia buscar refúgio nas


cidades, esse salto resultante do aumento significativo da densidade populacional
acabou gerando o oposto das expectativas. Uma série de problemas relacionados
ao ambiente físico foi gerada a partir do acúmulo de lixo, do esgoto a céu aberto
e, consequentemente, da proliferação muito acelerada de doenças infecciosas.
Todo esse impacto gerado a partir da grande “aglomeração” de pessoas acendeu
um alerta que perdura até os dias de hoje: a necessidade de se pensar a cidade,
visando encontrar alternativas viáveis para a sua sustentabilidade. O campo desse
estudo, denominado urbanismo, visa estudar as relações entre a vida humana
e o espaço físico vivido, a fim de encontrar soluções para o melhoramento da
qualidade de vida.

Todo esse processo histórico que praticamente mudou o rumo da sociedade


mundial pode ser resumido na Figura 3, servindo de ilustração para que você
tenha em mente que a aceleração do desenvolvimento industrial – que hoje é o
propulsor da economia, principalmente tecnológico – foi um dos motivos pelo qual
estamos estudando as cidades no dia de hoje.

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

FIGURA 3 – SÍNTESE DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NAS CIDADES

FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/brasil/urbanizacao.htm>. Acesso em: 29 jun. 2021.

Aviso importante: Vale ressaltar que quando tratamos sobre


os acontecimentos históricos de uma forma sequencial, isso não
significa que eles ocorreram de maneira simultânea em todos os
cantos do mundo. Fazemos isso para que você entenda e construa
todo o processo e os seus desdobramentos de uma maneira lógica,
ok?

Então, vamos retomar a lógica do planejamento. Quando observamos uma


dificuldade, precisamos solucioná-la, correto? O mesmo aconteceu para as
cidades. Com o passar dos anos, o Urbanismo passou a ser uma disciplina a ser
estudada por profissionais que voltavam o olhar para a tentativa de solucionar
esses problemas.

Pois bem, talvez você esteja se perguntando: como o planejamento urbano


surgiu somente agora, se as cidades já existiam há muito mais tempo?

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Planejamento Urbano

A resposta para essa questão é a seguinte: somente a partir desse momento,


no século XIX, que o planejamento urbano passou a ser entendido com um trabalho
resultante de profissionais que realmente “planejassem”, que desenvolvessem um
método, um procedimento de como as cidades deveriam ser, apesar das cidades
antigas que vimos anteriormente terem sido construídas e ampliadas conforme
as intenções da época. Vale ressaltar que a “falta de planejamento” remetido
às cidades da antiguidade voltam-se unicamente para o funcionamento urbano
e a distribuição territorial como um todo, excetuando dessa discussão
Excetuando dessa
análises sobre descobertas e formas de sobrevivência extremamente
discussão análises
sobre descobertas importantes e relevantes para os dias atuais.
e formas de
sobrevivência Os estudos propriamente ditos focados no planejamento urbano
extremamente e na arquitetura passaram a ser discutido no período do pós-revolução
importantes e industrial. Os arquitetos e urbanistas – adeptos do Modernismo que
relevantes para os
se instaurava na Europa do início do século XX – defendiam a ideia
dias atuais.
da padronização das edificações visando reduzir custos e serem
produzidos em grande escala. Tratava-se de um movimento de manifestações
artísticas e culturais com o intuito de romper com o tradicionalismo vigente e
propor novas soluções à cidade.

O livro História crítica da arquitetura moderna, desenvolvido por


Kenneth Frampton, discute as origens da arquitetura moderna a partir
de uma perspectiva contextualizada sobre a prática arquitetônica
atual e a sustentabilidade. Vale a pena conferir!
FRAMPTON, K. História crítica da arquitetura moderna. São
Paulo: Martins Fontes, 2015.

Ao surgir esse regramento nos espaços de morar, novos hábitos e formas


de apropriação dos espaços construídos e não construídos foram sendo criados.
É nesse momento que surgem estudos urbanos com a existência de grandes
conjuntos habitacionais realizados por arquitetos e urbanistas da época.

E com o intuito de realizar trocas de experiências entre profissionais que


seguiam essa linguagem arquitetônica nas edificações e nas cidades, foram
criados os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, muito conhecidos
pela sua abreviatura: os CIAM’s (Figura 4).

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

FIGURA 4 – FOTO RETIRADA NA PRIMEIRA EDIÇÃO DO EVENTO (CIAM I)

FONTE: Adaptada de Ferreira e Queiroz (2021)

Apesar de eles se reunirem com o objetivo de realizar trocas de experiências,


será que o evento se resumiu a esse único intuito?

Na realidade, o que eles também queriam era universalizar/unificar os


princípios da arquitetura moderna entre eles e, a partir disso, gerar uma única
forma de expressão, uma arquitetura e um urbanismo que falassem a mesma
língua!

Nesse sentido, buscaram discutir sobre a ideologia funcionalista –


pensamento focado na funcionalidade da habitação e da cidade –, sustentada
pela racionalização econômica e industrialização na projeção dos espaços físicos.
Ou seja: defendiam a ideia de que as construções precisariam ser padronizadas,
baratas, construídas rapidamente e em grande escala (GURGEL, 2021).

O Quadro 1 visa sintetizar as principais ideias debatidas nos CIAM’s, para


que você compreenda a importância histórica desses momentos de discussões
do planejamento urbano! Com o objetivo de ficar ainda mais didático e facilitar a
sua aprendizagem, os CIAM’s foram agrupados em três períodos:

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Planejamento Urbano

QUADRO 1 – OS CONGRESSOS INTERNACIONAIS DE ARQUITETURA


MODERNA (CIAM’S) E SEUS RESPECTIVOS PERÍODOS

1º PERÍODO (1928- 2º PERÍODO (1933- 3º PERÍODO (1947-


1933) 1947) 1956)

CIAM I  Suíça CIAM IV  Grécia CIAM VII  Itália

CIAM VIII  Inglaterra


CIAM II  Alemanha CIAM V  França
CIAM IX  França
CIAM III  Bélgica CIAM VI  Inglaterra CIAM X  Iugoslávia

Pauta: Criação de Pauta: Planejamento


padrões mínimos na Urbano; Recon- Pauta: Arquitetura como
construção: busca pela strução das cidades. arte; Preocupação com
racionalização. Organizador: Arq. e o habitat.
Urb. Le Corbusier.
FONTE: Adaptado de Gurgel (2021)

• 1º PERÍODO (1928-1933)

O ponto de partida dos congressos, dado na Suíça (CIAM I), teve como
discussão principal as técnicas construtivas modernas (como o uso do
concreto armado), a padronização da construção, a economia e o urbanismo.
Posteriormente, no CIAM II, foram abordados os padrões mínimos da habitação,
sob orientação do arquiteto Ernst May, o qual sustentava a ideia de que as
unidades habitacionais deveriam possuir “a máxima função com o mínimo de
forma” (GURGEL, 2021, s.p.).

Já o CIAM III discutiu a problemática da obtenção de terras para a construção


de empreendimentos. Os resultados do evento resultaram na publicação Razões
de construção racional. Além disso, essa edição também tratou da configuração
urbana, como o gabarito ideal (altura das edificações) e as distâncias que as
edificações deveriam ter entre si. Tudo isso foi sendo pensado sob o pretexto de
dividir o solo a partir de uma perspectiva racional. De um modo geral, o 1º período
dos CIAM’s trouxe à tona a discussão sobre a racionalização na construção,
frisando a execução da maior quantidade possível de edificações de baixo custo e
de rápida construção.

Talvez você esteja pensando: por que estou estudando sobre a habitação, se
o foco dessa disciplina é o planejamento urbano? Não deveríamos estar pensando
a partir de um ponto de vista mais amplo?

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

As discussões sobre a funcionalidade da unidade habitacional é pensar o


espaço urbano. Os arquitetos e urbanistas pensavam no macro (cidade), a partir
do micro (habitação). Defendiam que a arquitetura precisaria ser racional para
que a cidade também fosse. E isso tudo é planejamento urbano, um sistema
complexo que envolve muitas conexões!

Por isso é necessário compreender todo o processo dos CIAM’s, a fim de


estudar as temáticas abordadas em cada edição e analisar os resultados obtidos.
Veremos que o 2º período dos CIAM’s foi fundamental para compreendermos o
impacto que o estudo das edificações gerou nas cidades!

• 2º PERÍODO (1933-1947)

Agora, sim, chegamos à análise “macro”: chegamos à cidade! O CIAM IV


teve como objetivo realizar a análise de 33 cidades no que tange à ordem e à
funcionalidade urbana. Esse evento, coordenado pelo Arquiteto e Urbanista Le
Corbusier, resultou na “Carta de Atenas” (Figura 5), um manifesto urbanístico
criado por arquitetos que visou expor os problemas urbanos consequentes do
crescimento das cidades.

A Carta de Atenas pode ser lida na íntegra no site: https://


edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2974977/mod_resource/content/3/
aula12_Corbusier_Le_A_Carta_de_Atenas.pdf.

Publicada em Paris, no ano de 1941, a Carta foi sustentada na ideia de


que era necessário criar uma legislação que regrasse sobre o desenvolvimento
urbano, a fim de evitar a expansão desenfreada das cidades europeias. Em
outras palavras, a Carta sugeriu que o Estado fosse o responsável por regular os
interesses coletivos da cidade sobre os individuais! (CORBUSIER, 1933).

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Planejamento Urbano

FIGURA 5 – A CARTA DE ATENAS

FONTE: Adaptada de Corbusier (1933)

Mas de que forma a Carta evidenciou a necessidade de se seguir um


regramento urbanístico?

Ela define as ações desenvolvidas na cidade com base em quatro pontos


importantes: HABITAR, TRABALHAR, RECREAR e CIRCULAR (Quadro 2). Em
cada agrupamento foram definidos indicativos de como o planejamento da cidade
deveria acontecer para que a estrutura urbana pudesse alcançar o equilíbrio.

QUADRO 2 – ESPECIFICIDADES DA CARTA DE ATENAS

FONTE: Adaptada de Corbusier (1933)

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Mesmo defendendo a substituição de áreas degradadas por áreas verdes,


a Carta de Atenas assegurava a manutenção de edificações históricas a fim
de garantir a preservação da identidade da cidade. Apesar disso, as novas
construções que seriam construídas não poderiam ser desenvolvidas com base
em estilos antigos, a fim de evitar uma “reconstituição inverídica” do passado.

Em resumo, a Carta de Atenas visava ORGANIZAR a cidade a Em resumo, a Carta


partir da ORDEM e do ALINHAMENTO urbanos da Europa. de Atenas visava
ORGANIZAR a
Ao contrário das demais edições, o CIAM V foi realizado durante o cidade a partir
da ORDEM e do
período da II Guerra Mundial. Devido a isso, os arquitetos precisaram
ALINHAMENTO
se reunir em diferentes países. Nesse evento, cada agrupamento de urbanos da Europa.
profissionais discutiu uma temática, como o planejamento pós-guerra
e a preparação da legislação. Anos depois, o CIAM VI ocorreu com o intuito de
compartilhar as experiências dos grupos que, sem se comunicar previamente,
debateram sobre ideias muito parecidas. Em contraponto às outras edições que
ocorreram fortemente baseadas na racionalização e funcionalidade da cidade,
este abordou a questão estética: desde a análise das reais necessidades
humanas até a relação do arquiteto com escultores e pintores.

• 3º PERÍODO (1947-1956)

Este último período de congressos resultou em uma mescla de assuntos


julgados pertinentes pelos profissionais arquitetos e urbanistas. O CIAM VII, por
exemplo, envolveu discussões sobre o desenvolvimento de novas cidades e
também sobre a questão estética.

Por outro lado, o CIAM VIII voltou-se à análise da Carta de Atenas. Verificou-
se que a carta fracassou em definir apenas quatro pontos para delimitar as funções
da cidade. Era necessário dar destaque ao centro, o “coração da cidade” como
o quinto ponto. Sob um ponto de vista mais humano, o pedestre passou a ser
entendido como um dos estruturadores do espaço urbano. Nos mesmos moldes,
o CIAM IX considerou a importância do indivíduo no processo de construção do
espaço. Com a temática “habitat humano” sustentou-se a ideia de que deveria
haver uma relação entre os habitantes de uma família e de uma sociedade. Por
consequência, a Carta de Atenas foi mais uma vez criticada por não levar em
consideração a identidade e as relações entre o bairro e a residência, isto é, era
preciso predominar as relações humanas sobre funcionais descritas na Carta de
Atenas.

Por fim, o CIAM X – que contou com a presença de arquitetos e urbanistas


da nova geração, excetuando Le Corbusier, por exemplo – desenvolveram a
chamada “Carta do Habitat”, que levou em consideração as relações do indivíduo

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Planejamento Urbano

com a família e com a comunidade; as necessidades do ser humano em se isolar


e também em ter contato com a natureza.

Tratava-se do surgimento de um novo momento na história da cidade: a


preocupação com os problemas reais que afligiam a qualidade de vida humana,
contrariando uma arquitetura modernista que visava enquadrar e regrar toda
a ação humana. A cidade passou a ser vislumbrada a partir de um olhar mais
aberto, sustentado pela compreensão do ambiente em que aquele indivíduo se
desenvolve (FERREIRA; QUEIROZ, 2021).

Surge, portanto, uma grande distinção de ideias:

QUADRO 3 – DISTINÇÃO DE IDEIAS

FONTE: Ferreira e Queiroz (2021, s.p.)

Tratava-se da transição de uma arquitetura racional pela “valorização da


ótica do usuário, pela consideração dos aspectos culturais envolvidos em
arquitetura, pela leitura da cidade em termo dos diferentes níveis de associação
humana, pelo retorno da valorização da rua como espaço de convivência”
(BARONE, 2002, p. 188).

Mas como esses pensamentos funcionavam na prática?

A seguir, serão apresentados, de uma forma mais detalhada, os responsáveis


por dar vida às correntes de pensamento que Choay (2005) chamou de urbanismo
progressista e urbanismo culturalista, predominantes no século XX.

QUADRO 4 – RELAÇÃO ENTRE AS DUAS VERTENTES DO URBANISMO


URBANISMO URBANISMO
PROGRESSISTA CULTURALISTA
Objetivos Modernizar a cidade, Buscar uma nova forma de
adequando-a ao modelo vida ao retomar princípios
de vida industrial e costumes do passado
Tony Garnier, Walter Camillo Sitte, Ebenezer
Profissionais
Gropius e Le Corbusier Howard e Raymond Unwin
FONTE: Adaptado de Choay (2005)

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Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

O urbanista Walter Gropius (1883-1969), adepto à modernização da cidade,


defendia a padronização de prédios, sustentando a ideia de que a repetição
poderia ser mais econômica e a verticalização reduziria as grandes distâncias a
serem percorridas na cidade. Nos mesmos moldes do urbanismo progressista, o
urbanista Tony Garnier (1869-1948) acreditava que as grandes cidades deveriam
advir dos princípios industriais, como a separação das funções urbanas, o que
hoje chamamos de zoneamento (zonas específicas para residências, para as
áreas de indústria, comércio etc.), a exclusão de pátios internos e estreitos dos
lotes e a criação de áreas verdes para que todos pudessem utilizar de forma
comunitária.

Já o urbanista franco-suíço Le Corbusier (1887-1965), também adepto


do urbanista progressista, desenvolveu um dos modelos utópicos de cidade,
as chamadas “cidades ideais”. Seu intuito era desenvolver uma cidade que
pudesse ter muitos espaços verdes e captação de luz solar, a fim de garantir aos
residentes um estilo de vida melhor. Com a preocupação de planejar a cidade com
o foco na distribuição espacial, o traçado urbano e a aparência da cidade, o ano
de 1922 foi marcado pelo desenvolvimento do projeto intitulado “Ville Radieuse”,
classificado com um centro urbano para 3 milhões de habitantes com destaque
para arranha-céus localizados na área central e dotados de apartamentos e
escritórios interligados por uma rede de transportes. Nas áreas mais afastadas
do centro foram projetados blocos menores para a alocação de trabalhadores de
classes mais baixas (BOSTJAN, 2020).

FIGURA 7 – PROJETO DA VILLE RADIEUSE, PROJETO DE CIDADE DESENVOLVIDO


POR LE CORBUSIER

FONTE: Bostjan (2020,s.p.)

25
Planejamento Urbano

De uma maneira geral, Le Corbusier pôde resumir o seu estudo urbano em


alguns princípios: modelo linear, edificações elevadas sobre pilotis e destaque
para o centro da cidade. Pensou-se em uma cidade com alta densidade e um
zoneamento bastante definido, como áreas destinadas estritamente a residências,
hotéis, negócios, indústrias etc.

Segundo Le Corbusier (1933, s.p.), "A cidade de hoje é uma coisa morta,
porque seu planejamento não é na proporção geométrica. O resultado de um lay-
out verdadeiramente geométrico é a repetição, o resultado da repetição é um
padrão. A forma perfeita”.

Ao contrário dessa vertente que prezava por um desenvolvimento mais


evolucionista, haviam urbanistas que procuravam focar no mais simples e
resgatar as origens mais antigas, como a arquitetura da Idade Média, em que
as construções não possuíam uma regularidade geométrica, mas defendendo
a ideia de que cada edificação deveria ter as suas dimensões próprias, fora da
padronização.

Enquanto o arquiteto e historiador Camilo Sitte (1843-1903) visualizava a


cidade medieval sob o ponto de vista estético, com traçados viários irregulares,
casas com alturas diferentes e praças enclausuradas, o urbanista Ebenezer
Howard (1850-1928) considerava que o urbanismo ideal deveria ser a cidade-
jardim, uma espécie de “união” da cidade altamente densa com o campo. Segundo
ele, os órgãos públicos e o lazer deveriam ser localizados na área central e as
indústrias na zona periférica da cidade para facilitar o desenvolvimento produtivo.
Além disso, a população seria planejada para 30.000 pessoas, sendo 2.000
advindas do campo, o que justifica a ideia harmônica entre o homem e a natureza.

Já o urbanista Raymond Unwin (1863-1940) defendia a padronização de


casas destinadas aos operários que possuísse custo baixo e que, ao mesmo
tempo, garantisse as condições de salubridade. Aliado a isso, destacava a
necessidade de desenvolver áreas verdes em grandes extensões junto às
novas edificações. Para tanto, desenvolveu juntamente a Barry Parker (1867-
1947), o Projeto de Implantação de Letchworth (Figura 8), situada na Inglaterra.
Embasados em uma topografia plana, desenvolveram quarteirões com traçados
orgânicos – se comparados com o Urbanista Progressista em que os quarteirões
possuíam características de traçados mais retilíneos.

26
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

FIGURA 8 – PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE LETCHWORTH,


DESENVOLVIDO PRO RAYMOND UNWIN E BARRY PARKER

FONTE: Zimmermann (2021, s.p.)

Independentemente da vertente de urbanismo aqui evidenciada, sendo


progressista ou culturalista, tratavam-se de modelos “prontos” que visam construir
uma cidade nova, sem considerar os reais problemas enfrentados pelas cidades
reais. É como se ignorasse a cidade em que viviam para planejar uma nova área
urbana. Será mesmo que isso resolveria todos os problemas?

Lembrando que essas proposições foram originadas após o período da


revolução industrial, acometendo o crescimento exponencial das cidades e
gerando problemas sanitários e de superlotação de pessoas.

Além disso, esses planos se limitavam a um modelo que poderia ser


replicado sem considerar as especificidades das cidades. Para Taylor (1988, p.
14), “Os planos e as decisões de planejamento eram feitos geralmente baseadas
na intuição ou, ao invés disso, baseadas em concepções estéticas simplistas da
forma urbana [...]”.

Apesar dessas fragilidades, muitos modelos foram aplicados ao longo de


várias localidades do mundo, inclusive no Brasil, em que abordaremos mais
adiante.

27
Planejamento Urbano

Recapitulando, vimos, até o momento, como aconteceu o início dos


estudos de planejamento urbano. Vale lembrá-lo de que precisamos estudar os
acontecimentos históricos para compreender o passado, mas, acima de tudo, abrir
os nossos olhos para as decisões tomadas no nosso dia a dia e na idealização do
futuro da cidade!

Ressaltamos a você que é extremamente importante saber como tudo isso


ocorreu e como a civilização humana se comporta nos dias de hoje em relação ao
espaço urbano. Por isso, deixamos a seguir alguns questionamentos para a sua
reflexão. Pensar a partir desses questionamentos é fundamental para seguirmos.
Vamos lá?

• Será que o planejamento urbano em que vivemos atualmente é


unicamente intuitivo ou leva em consideração critérios técnicos nas
etapas de idealização e execução dos processos?
• A projeção e a distribuição de espaços abertos e fechados na cidade
gera igualdade a todos os indivíduos? Devemos criar uma cidade “ideal”
do “zero” ou analisar os problemas existentes e procurar resolvê-los
pontualmente?

1) Sobre o Planejamento Urbano, assinale a resposta correta:

a) ( ) Trata-se de uma técnica oriunda do urbanismo que visa


estudar unicamente as características sociais das cidades.
b) ( ) Trata-se da organização e do crescimento das cidades em
um sentido mais amplo de caráter indisciplinar. Visa alcançar
diferentes objetivos sob a perspectiva de várias áreas do
conhecimento.
c) ( ) Estuda somente o traçado urbano das cidades, sem
considerar outros atributos.
d) ( ) Por vezes é confundido com o urbanismo, mas ambos se
voltam para a proposição de estratégias para a melhoria do
espaço urbano.
e) ( ) Apenas as alternativas B e D estão corretas.

2) Iniciado na Inglaterra do século XVIII, a Revolução Industrial


provocou o inchaço urbano, período de grandes transformações
ocasionadas pelo surgimento da indústria e da aceleração da
produção. Pode-se dizer que esse processo foi consequência
do(a):

28
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

a) ( ) Abandono rural, em que os habitantes do campo migraram


para a cidade em busca de empregos e de uma melhor qualidade
de vida.
b) ( ) Urbanização planejada, em que os indivíduos buscavam
migrar ordenadamente para as cidades.
c) ( ) Êxodo rural, em que os habitantes do campo migraram para
a cidade em busca de empregos e de uma melhor qualidade de
vida, o que gerou diversos problemas sociais.
d) ( ) Migração rururbana, em que poucos habitantes do campo
migraram para a cidade em busca de melhor qualidade de vida.
e) ( ) Nenhuma das anteriores.

3) Os estudos propriamente ditos focados no planejamento urbano


e na arquitetura passaram a ser discutidos no período do pós-
revolução industrial. A partir daí, surgiriam adeptos do Movimento
Modernista. Sobre esse movimento, leia as asserções e assinale
a alternativa correta:

I- O Modernismo voltou-se para a padronização das construções


e a criação de padrões mínimos para se viver, resultando em
cidades funcionalistas.
II- Defendia a manutenção das cidades, sem definir a separação
das funções urbanas.
III- Tratava-se de um movimento dotado de manifestações artísticas
e culturais com o intuito de romper com o tradicionalismo vigente
e propor novas soluções à cidade.
IV- Ao defender as funções urbanas (zoneamento), definiam
construções na área central sem levar em consideração o
gabarito (altura) dos prédios.
V- A Carta do Habitar surgiu com o intuito de evidenciar a importância
das relações com a família e a comunidade, contrariando
aspectos estritamente funcionalistas e padronizadas da Carta de
Atenas.

a) ( ) I e IV estão incorretas.
b) ( ) III e V estão corretas.
c) ( ) II e IV estão incorretas.
d) ( ) I, II e V estão corretas.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

29
Planejamento Urbano

2.2 HISTÓRIA DO PLANEJAMENTO


URBANO E REGIONAL NO BRASIL
Até o momento, verificamos como as cidades foram sendo constituídas e
as primeiras ideias de planejamento urbano sendo aplicadas. Após terem sido
originadas na Inglaterra do século XVIII, iremos estudar o surgimento desses
conceitos no Brasil. Vamos lá?

Posterior ao avanço das discussões sobre o planejamento urbano do


continente europeu para outras localidades do mundo, o Brasil também passou a
incorporar ideias relativas à organização territorial.

E para essa compreensão, debateremos acerca da visão de dois autores


que contribuíram e contribuem significativamente para a compreensão histórica
dos estudos urbanos no Brasil: os arquitetos e urbanistas prof. Dr. Flávio Villaça
e a prof. Dra. Maria Cristina da Silva Leme. Ambos trazem elementos muito
enriquecedores para o entendimento desse processo! Você está preparado?

Esses conceitos sobre o Planejamento Urbano no Brasil que


estão sendo discorridos advêm do livro O processo de urbanização
no Brasil, de Sueli Ramos Schiffer, e do livro A formação do
pensamento urbanístico no Brasil: 1895-1965, de Maria Cristina da
Silva Leme. Vale a pena a leitura dessas obras para complementar o
seu entendimento sobre este tema!

Inicialmente, vamos tratar do planejamento urbano brasileiro na visão do prof.


Dr. Flávio Villaça. O arquiteto, que desenvolveu muitos trabalhos nessa temática,
analisou planos realizados entre os anos de 1875 e 1992 no país, criando algumas
definições para facilitar o entendimento de cinco diferentes vertentes encontradas
(VILLAÇA, 1999):

30
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

QUADRO 5 – VERTENTES DO PLANEJAMENTO URBANO, POR FLÁVIO VILLAÇA


PLANEJAMENTO URBANO LATO
Discursos aliados às práticas.
SENSU
PLANEJAMENTO URBANO Planos diretores que, muitas vezes, ficaram
STRICTO SENSU no discurso.
Instrumento do planejamento urbano que
ZONEAMENTO regula o uso e a ocupação do solo ur-
bano.
PLANEJAMENTO DAS CIDADES Cidades criadas a partir de planos de em-
NOVAS belezamento, visando à monumentalidade.
Implantação de planos de saneamento e
URBANISMO SANITARISTA
espaços públicos verdes nas cidades.
FONTE: Adaptado de Villaça (1999)

De uma forma resumida, o que autor quer dizer é que existem várias formas
de encarar o planejamento urbano. Inclusive, faremos uma analogia para que
você compreenda melhor. Quando decidimos realizar um curso de pós-graduação
no Brasil, podemos optar por duas modalidades: a pós-graduação stricto sensu e
a lato sensu. Você sabe a diferença de cada uma delas?

A primeira, stricto sensu, refere-se a cursos de mestrado e doutorado, em


uma abrangência mais teórica, enquanto a tipologia lato-sensu remete aos cursos
de especialização, mais práticos e com conceitos que podem ser aplicados no dia
a dia da profissão. Conseguiu entender a diferença? Enquanto um campo é mais
teórico, o outro é mais prático!

Da mesma forma, o que Villaça (1999) chama de Planejamento Urbano


Stricto Sensu refere-se à organização de diretrizes para o desenvolvimento
de uma cidade, como é o caso do Plano Diretor. Segundo ele, trata-se de um
planejamento que muitas vezes não é seguido e aplicado, ficando apenas no
papel. Por outro lado, o que é definido como Planejamento Urbano Lato Sensu
remete ao ato de aplicar os estudos e diretrizes previamente realizadas.

Outra vertente citada pelo autor e que complementa o Plano Diretor de uma
cidade foi o Zoneamento. Trata-se de um instrumento do planejamento urbano
e que visa definir, a partir de critérios, a ordenação e o controle do uso do solo
urbano. É essa ferramenta que define qual a localidade da cidade poderá ter uma
maior área construída, quais os limites de altura poderão construir etc. (BRASIL,
2001).

Já o planejamento de cidades novas remete à preocupação com o


embelezamento das cidades, ideia muito próxima das cidades que não
consideravam a funcionalidade como sendo o aspecto mais importante. Por fim,

31
Planejamento Urbano

trata do Urbanismo Sanitarista, praticamente instinto na década de 1930, e que


sustentou a ideia de inclusão de planos de saneamento e áreas verdes, parques
e praças a fim de garantir locais arejados para a garantia da qualidade de vida
da população a partir das técnicas do Engenheiro Sanitarista Saturnino de Brito
(VILLAÇA, 1999).

Conseguiu compreender essas diferenças? Mais adiante, ainda neste livro,


relacionaremos estes conceitos a casos reais para que fique ainda mais claro
para você!

Mas agora, iremos abordar cada passo dado em prol do planejamento urbano
no Brasil, segundo a prof. Dra. Maria Cristina da Silva Leme e embasamentos de
Villaça (1999). Para que fique mais claro e objetivo para você, apresentaremos
uma síntese que resume essas fases e o seu período de duração:

QUADRO 6 – FASES DO PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL

FONTE: Adaptado de Leme (1999)

• 1ª FASE: Planos de embelezamento (1875-1930)

Essa fase foi totalmente proveniente dos planos europeus, em que se tinha
como foco o alargamento de vias, a retirada de pessoas de baixa renda dos
centros das cidades, o desenvolvimento de uma infraestrutura e o embelezamento
de áreas verdes, como praças e parques. Era um plano voltado à reorganização
de áreas muito pontuais sem abranger toda a cidade.

Preocupava-se com Preocupava-se com a estética da área central, deixando-a mais


a estética da área contemplativa. Além disso, os cortiços eram enxergados como problemas
central, deixando-a
da cidade e que precisavam ser exterminados, o que era caracterizado
mais contemplativa.
como uma “limpeza” do espaço urbano central. Inclusive, foi nesse período
que o Engenheiro Sanitarista Saturnino de Brito desenvolveu planos de saneamento
e o fomento às áreas verdes nas cidades (LEME 1999; VILLAÇA, 1999).

Um desses exemplos pode ser visualizado na Figura 9. Trata-se do Plano


Pereira Passos para o município do Rio de Janeiro. Era necessário prezar pela
“higienização” do centro da cidade (a) para que o local pudesse ser revitalizado e
prol do tão somente embelezamento (b).

32
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

FIGURA 9 – COMPARATIVO ENTRE O PROCESSO DE LIMPEZA


URBANA (A) E A REVITALIZAÇÃO DO CENTRO DA CIDADE (B)

FONTE: Adaptado de Barbosa (2011)

• 2ª FASE: Planos de conjunto (1930-1965)

Ao contrário da 1ª fase, esta foi embasada em um planejamento voltado a


todos os bairros que compunham o território da cidade. A partir desse momento
na história do Brasil, a ideia de embelezamento foi sendo complementada com a
funcionalidade. Isso porque os arruamentos passam a ser pensados para o trajeto
dos carros. Além disso, essa fase também passou a incorporar os zoneamentos a
partir do controle do uso do solo (LEME, 1999).

Resultante de um amplo diagnóstico, o Plano de Alfred Agache foi


desenvolvido para a cidade do Rio de Janeiro com o discurso de implementação
de diretrizes científicas e técnicas.

FIGURA 10 – PLANO DE ALFRED AGACHE, PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

FONTE: Leme (1999, p. 363)

33
Planejamento Urbano

• 3ª FASE: Planos de desenvolvimento integrado (1965-1971)

Nestes planos, passaram a ser considerados os aspectos sociais e


econômicos em conjunto com as características territoriais da cidade. Para Villaça
(1999), esta fase visou identificar os inúmeros problemas que precisavam ser
resolvidos na cidade, resultando em uma grande complexidade de informações e
ações para serem idealizadas e executadas. No entanto, o fato desses problemas
muitas vezes não serem a prioridade das classes dominantes da cidade, muitos
dos objetivos traçados não eram realizados por impedimentos de toda a natureza.

Um dos exemplos que pode ser mencionado e que foi originado nessa fase
foi o Plano Doxiadis, o qual envolveu inúmeras diretrizes adaptadas às diferentes
realizadas da cidade do Rio de Janeiro.

FIGURA 11 – PLANO DOXIADIS, PARA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

FONTE: Leme (1999, p. 359)

• 4ª FASE: Planos sem mapas (1971-1992)

Tratavam a cidade a partir de diretrizes genéricas, sem evidenciar as


diferenciações do espaço urbano de uma maneira pontual e integrada. Eram
conhecidos como planos sem mapas, pois não eram regidos por diagnósticos e
projetos urbanos, o que resultava na “maquiagem” dos problemas urbanos que
continuaram existindo e até aumentando.

34
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Pois bem! Como foi visto até o momento, as fases aqui discriminadas
apresentam um panorama de como as cidades eram pensadas ao longo do último
século.

Você deve ter notado que foram várias as alterações de entendimento, as


proposições de cada época. Enquanto num primeiro momento se ignorava a
funcionalidade da cidade, a evolução desses pensamentos fez incorporá-la nas
decisões da cidade com o intuito de diagnosticar os problemas urbanos e procurar
resolvê-los.

Independentemente de construir a cidade a partir de nomenclaturas – Lato


Sensu, Stricto Sensu ou Zoneamento – é preciso destacar aqui que a cidade
infelizmente se deteve à sustentação de interesses das classes mais abastadas,
ao encarar a zona urbana como uma possibilidade de enriquecimento. E essa
visão, sustentada tanto por Villaça (1999) quanto por Leme (1999), referente aos
instrumentos da cidade evidenciados nos parágrafos interiores, reforçam a ideia
de um desenvolvimento urbano unilateral, em que há um direcionamento para a
distinção de pessoas mais ricas em áreas centrais em detrimento de proletariado,
moradores de locais adjacentes ao centro. Acusa-se, portanto, uma distinção de
cunho social no território maquiada de leis e diretrizes urbanas.

É importante que você compreenda que as decisões urbanas (espaciais)


estão diretamente relacionadas aos contextos social e econômico de toda a
população. Os textos anteriores nos mostraram que é necessário lançar um olhar
cada vez mais integrado sobre o território!

Uma das formas que existem no Brasil em prol do desenvolvimento das


cidades são dispositivos legais que serão vistos na 5ª fase do planejamento
urbano no Brasil e que perdura nos dias de hoje. Vamos nessa?

• 5ª FASE: Constituição de 1988 e Estatuto da Cidade

Aliado ao processo de redemocratização do Brasil – ocorrido a partir da


Constituição de 1988 – o planejamento urbano passou a ser compreendido
como um processo político e com participação social. Esta lei, que rege sobre
o atual modelo político do país, reconhece os Planos Diretores como o principal
instrumento de planejamento.

O Plano Diretor é o principal instrumento de planejamento de uma O Plano Diretor é o


cidade. Criado em 2011, o Estatuto da Cidade estabeleceu o “direito à principal instrumento
cidade sustentável” a partir de princípios e diretrizes que deveriam ser de planejamento de
adotados nos Planos Diretores e seguidos por cidades que possuam o uma cidade.
mínimo de 20 mil habitantes (VILLAÇA, 1999).

35
Planejamento Urbano

A 5ª fase do planejamento urbano brasileiro trata-se, portanto, do período que


estamos vivendo, sem data de término: o chamado urbanismo contemporâneo!
Mesmo assim, ainda temos muito que percorrer!

Apesar de estarmos alicerçados em definições e diretrizes por esses


dispositivos legais que visam impulsionar o desenvolvimento das cidades,
precisamos continuar pensando a cidade sob o ponto de vista sustentável!
E é por isso que estamos aqui estudando sobre o planejamento urbano, para
que consigamos estabelecer estratégias que resultem na efetiva melhoria da
qualidade de vida das cidades e, sobretudo, da população que nela vive!

Apesar de esses instrumentos existirem, é preciso que eles sejam


constantemente revisados a ponto de responderem às expectativas e
atendimentos locais de cada município. Dentre as questões a serem analisadas
está o funcionamento da mobilidade urbana, da habitação, de diferentes setores
e serviços municipais etc.

É importante saber que o Plano Diretor não se trata unicamente de um modelo


reaplicado em diferentes locais do Brasil. Ele deve ser único, contemplando
as reais necessidades da população local, por isso deve passar por períodos
periódicos de revisão.

Vale lembrar aqui, que mesmo com essas normativas, muitos indivíduos
não as seguem ou procuram burlá-las a fim de suprir os próprios interesses. Por
isso, devemos pensar sobre como ocorre um desenvolvimento urbano na nossa
cidade.

Agora que vimos de uma forma mais prática como as técnicas do


planejamento urbano se sobressaem sobre as cidades, deixaremos algumas
questões para que você reflita.

• O que vem sendo produzido no espaço urbano atual vai de


encontro com as normativas instauradas no município?
• O Estatuto da Cidade está sendo considerado um instrumento
de planejamento urbano Stricto Sensu (fica no campo da teoria e
não se aplica) ou Lato Sensu (se aplica)?

36
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Para finalizar, deixamos a você uma outra questão para reflexão e que
também é uma provocação da prof. Dra. Maria Cristina da Silva Leme: enquanto
profissionais e cidadãos que somos, como podemos fazer para que os planos
sejam efetivamente cumpridos e que garantam uma melhor equidade na
ocupação do solo urbano?

1) Relacione as lacunas a seguir:

(a) Estatuto da Cidade


(b) Planejamento Urbano Stricto Sensu
(c) Planos de embelezamento
(d) Zoneamento

( ) Instrumento que determina a utilização do solo urbano.


( ) Diretrizes para o desenvolvimento de uma cidade: o Plano Diretor.
( ) Estabelece o direito à cidade sustentável.
( ) Processo de limpeza urbana que visou à revitalização do centro
da cidade.

2) Qual a fase do Planejamento Urbano no Brasil passou a envolver


a participação social na tomada de decisões? E qual a fase que
mais se contrapôs a esse princípio? Por quê?

3) Em qual fase eram desenvolvidos planos regidos por diagnósticos


e projetos urbanos que maquiavam os problemas urbanos ao
invés de resolvê-los?

a) ( ) 1ª fase: Planos de embelezamento (1875-1930).


b) ( ) 2ª fase: Planos de conjunto (1930-1965).
c) ( ) 3ª fase: Planos de desenvolvimento integrado (1965-1971).
d) ( ) 4ª fase: Planos sem mapas (1971-1992).
e) ( ) 5ª fase: Constituição de 1988 e Estatuto da Cidade.

37
Planejamento Urbano

2.3 O PLANEJAMENTO COMO


MECANISMO DE INTERVENÇÃO NO
ESPAÇO URBANO
Após todo esse apanhado histórico que lhe foi apresentado, você está
conseguindo perceber a relação das decisões tomadas pelo homem com a
produção do espaço urbano?

O principal deles foi o crescimento urbano desenfreado no período da


revolução industrial. Talvez esse tenha sido o motivo pelo qual, até hoje,
discutimos as formas de solucionar os problemas das cidades.

Agora que você teve uma fundamentação mais ampla de como funcionou
e ainda funciona o universo do planejamento urbano, vale a pena relembrar e
reforçar alguns conceitos tratados na primeira parte deste capítulo.

Você lembra quando falamos sobre o significado do termo “urbano” como


sendo aquilo que “pertence à cidade”? E que resume todas as características
físicas (como edificações, perfil viário, redes e serviços) que se relacionam
diariamente a nossa vida cotidiana?

Pois bem, talvez agora fique ainda mais claro para você que o urbanismo
se trata do estudo da relação entre a sociedade e os espaços construídos e não
construídos, no que se refere a sua ocupação, organização e intervenção. Dentro
dele está o planejamento urbano, técnica responsável por encontrar soluções
práticas para os problemas da cidade. Portanto, o Urbanismo se resume ao
estudo da cidade, tendo como técnica o planejamento urbano que visa solucionar
os problemas urbanos.

Essa forma de encarar o processo de urbanização passou a ficar evidente


a partir da metade do século XX, com a regulamentação e a ordenação do
crescimento populacional. As cidades passaram a ser vistas não somente como
locais dotados de ruas e quarteirões, mas sim como um sistema complexo que
envolve questões econômicas, sociais e ambientais que se interligam no desenho
urbano. E a forma de resolver todas essas questões emerge da proposição de
melhorias urbanas resultantes de um planejamento consistente.

38
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Para que isso ocorra de uma maneira efetiva é necessário que É necessário que
exista uma gestão integrada da cidade para o alcance de um espaço exista uma gestão
urbano de qualidade (NOVAES, 2021). É necessário que exista uma integrada da cidade
gestão integrada da cidade para o alcance de um espaço urbano de para o alcance de
qualidade. um espaço urbano
de qualidade.

Para ilustrar essa ideia, traremos o exemplo do município


de São Paulo. Por meio da Figura 12 é possível notar a expansão urbana da
cidade paulista no hiato de 100 anos: entre 1881 e 1983 a partir de um estudo
desenvolvido por Grostein (1987).

FIGURA 12 – EXPANSÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE


SÃO PAULO EM UM PERÍODO DE 100 ANOS

FONTE: Grostein (1987)

Esse crescimento, fortalecido pela industrialização da década de 1930,


acelerou o processo de urbanização e, junto à ampliação territorial de quadras e
ruas, também gerou muitos problemas de cunho social, econômico e ambiental.
Social, por impulsionar distinções no espaço urbano, excetuando as pessoas
mais vulneráveis para as bordas da cidade e, assim, afastando os habitantes de
uma infraestrutura de qualidade e do acesso a serviços básico, processo que se
denomina segregação socioespacial. Econômico, por definir um custo ao uso do
solo, garantir a infraestrutura básica para o desenvolvimento dos mais diferentes
serviços, determinar a localização espacial das áreas residenciais, comerciais
e industriais, a fim de gerar riqueza ao município. Ambiental, por intervir no
ambiente natural muitas vezes reduzindo a quantidade de áreas verdes na cidade
e prejudicando a sustentabilidade ambiental (NOVAES, 2021).

39
Planejamento Urbano

E cada uma dessas definições, apesar de possuírem seus próprios


conceitos, precisam andar integradas para que a estrutura da cidade responda
positivamente aos interesses da população.

No livro intitulado Brasil, cidades: alternativas para a crise


urbana, Ermínia Maricato discute sobre as práticas urbanísticas
e as prioridades estabelecidas no espaço urbano que geram a
diferenciação do uso do solo e, por consequência, a segregação
socioespacial.

Não basta planejar habitações populares em áreas muito distantes do


centro da cidade para justificar a resolução do déficit (deficiência) habitacional
brasileiro que existe (problema social), se essa população ficará distante dos
principais serviços da cidade como saúde, habitação e segurança. Isto é: não
adianta resolver um problema na mesma medida em que se criam outros. Da
mesma forma que a falta de assistência à população de baixa renda tende a
desencadear problemas urbanos, como a produção de lixo urbano e descarte em
locais impróprios, gerando impactos à própria saúde devido à morada em locais
insalubres e impactos ambientais.

Um fato bastante calamitoso que iniciou no ano de 2019 e se intensificou


substancialmente no Brasil no início de 2020 foi a Pandemia do Novocoronavírus
(COVID-19). A desigualdade social que já era bastante clara no país se intensificou
ainda mais. A falta de infraestrutura, somada à necessidade de cuidados
higiênicos para evitar a proliferação do vírus, exacerbou ainda mais os problemas
que vêm sendo enfrentado há muito tempo pelas cidades brasileiras. Além disso,
ficou muito evidente o embate entre o setor econômico e as questões social e
ambiental, gerando diferentes interpretações sobre o momento atípico em que se
vivia:

“Precisamos fechar tudo para evitar a proliferação desse vírus!”


“Mas a falta de trabalho mata mais que o vírus, precisamos manter tudo
aberto!”
“Eu moro em um casebre com esgoto a céu aberto, não possuo banheiro e
resido com várias pessoas em um único cômodo. Como querem que eu cuide da
minha saúde se não possuo o mínimo para se viver?”

40
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Talvez essas perguntas e afirmações justifiquem a necessidade de uma


gestão integrada do território urbano. Não basta ajeitar um lado se o outro
continuará torto.

Para isso, existe a necessidade de se pensar no desenvolvimento sustentável


da cidade. Isso significa que é preciso conciliar o desenvolvimento ambiental,
econômico e social. Esse entendimento já existe desde 1987, quando teve a sua
aceitação pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento:

[…] desenvolvimento sustentável é um processo de


transformação no qual a exploração dos recursos, a direção
dos investimentos, a orientação do desenvolvimento
tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e
reforça o potencial presente e futuro, a fim de atender
às necessidades e aspirações futuras […] é aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas
próprias necessidades (CMMD, 1988, p. 46, grifo do autor).

O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do


presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as
suas próprias necessidades (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO, 1988, p. 46).

A Figura 13 apresenta essa correlação de uma forma bastante clara:

FIGURA 13 – RELAÇÃO ENTRE AS TRÊS ESFERAS


DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICO,
SOCIAL E AMBIENTAL

FONTE: Adaptado de Carvalho (2021)

41
Planejamento Urbano

A inter-relação desses conceitos já demonstra que a sustentabilidade não se


resume apenas a questões ambientais, correto? Vamos imaginar um exemplo:
a gestão urbana de uma cidade decide fomentar o setor industrial na cidade a
fim de desenvolver o setor econômico, gerando emprego e renda à população
(esfera social). Após a análise territorial do município é decidido que essa área
será alocada em locais afastados das áreas residenciais, nas bordas do município
(zona que deve ser definida e oficializada no Zoneamento do Plano Diretor do
município).

A pergunta é: para garantir que o tripé da sustentabilidade se concretize,


basta que a empresa se instale naquela zona e desenvolva o seu negócio local?
A resposta é: não! Para que haja uma integração completa desse sistema é
preciso considerar a questão ambiental. Mas como? Elaborando um Estudo de
Impacto Ambiental (EIA). A depender da empresa a se instalar naquele local é
preciso observar quais impactos ela poderá gerar ao ambiente (poluição do ar,
alteração da fauna e da flora, geração de resíduos etc.) e comprovar de que forma
o empreendimento irá controlar os impactos gerados ao meio ambiente.

Conseguiu entender como funciona essa integração? Perceba que para


justificar o exemplo anterior, precisamos trazer à tona umas das ferramentas do
planejamento urbano, o EIA. Saiba que trataremos mais a fundo dessas práticas
nos próximos capítulos.

Antes de ir para o próximo exemplo, queremos lhe mostrar que, ao longo dos
últimos anos, esse tripé sofreu uma alteração bastante significativa. A partir de
agora, é necessário que a dimensão cultural seja associada à social, econômica e
ambiental de forma igualitária. Vejamos:

42
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

FIGURA 14 – RELAÇÃO ENTRE AS QUATRO ESFERAS DA SUSTENTABILIDADE:


ECONÔMICO, SOCIAL, AMBIENTAL E CULTURAL

FONTE: Adaptado de Carvalho (2021)

A inclusão dessa nova dimensão vai de encontro ao entendimento de que


não há um “modelo” ou uma “receita de bolo” para ser seguida. O planejamento
ideal para a cidade de Salvador/BA provavelmente não será ideal para Fortaleza/
CE, mesmo que as duas cidades possuam praticamente a mesma quantidade
populacional e estarem localizadas no Nordeste (segundo dados do IBGE, 2010).
Ou então afirmar que o planejamento urbano de uma determinada cidade pode
ser reaplicado e outra devido às mesmas dimensões territoriais.

Esses dois exemplos não fazem sentido. Sabe por quê? É preciso levar em
conta o desenvolvimento local no que diz respeito às questões social, econômica,
ambiental e também cultural. É preciso estar ciente de que não existem modelos.
Deve-se analisar a realidade local de cada cidade para que sejam tomadas as
decisões que respondam às necessidades da população. E a questão cultural faz
muita diferença nesse processo.

Traremos algumas questões aqui de exemplos que você já leu neste capítulo.
Vamos ver se você vai lembrar:

43
Planejamento Urbano

• Os arquitetos e urbanistas modernistas levavam em consideração


os aspectos culturais ao desenvolverem as chamadas “cidades
ideais”?
• Na última edição dos Congressos Internacionais de Arquitetura
Moderna (CIAM X), os arquitetos da nova geração da época
ofereceram uma nova visão sobre a cidade, em contraponto ao
urbanismo modernista que vinha sendo exercido. O que mudou?

Vale deixar claro que, apesar desses conceitos de sustentabilidade


terem surgido nos anos 1980, eles já poderiam estar implícitos nos projetos
desenvolvidos da época.

Agora, sim, gostaríamos de lhe apresentar mais um exemplo para elucidar


na prática como essas quatro dimensões se entrelaçam. Uma gestão municipal
resolve requalificar uma área urbana degradada e transformá-la em um parque
urbano de referência. Decide desenvolver o projeto paisagístico preservando a
vegetação existente e propondo funções urbanas, como espaços para caminhada,
bancos, brinquedos infantis, lixeiras e áreas de contemplação. Após o período de
obras, a prefeitura propõe a realização de uma entrega pública à comunidade.
Nos primeiros meses, a população adere à solução proposta pelo município, mas
após um ano de área requalificada, a frequência de visitantes diminui, o que gera
o aumento da sensação de insegurança no local.

Na sua opinião, o que você acha que gerou esse afastamento de uma
área aparentemente planejada, com uma infraestrutura toda nova e destinada à
população local? Se você pensou que faltou a interação com a população, você
ACERTOU!

Recuperar áreas degradadas é muito importante, pois desenvolve o


quesito ambiental das dimensões sustentáveis. A questão econômica também é
fortalecida, tendo em vista que a reestruturação do local ajudou na valorização
imobiliária das residências do entorno, em um primeiro momento. Mas será que
as questões social e cultural foram atendidas?

O fato de o parque urbano estar aberto, disponível à população 24 horas por


dia, parte do pressuposto que todos da cidade tenham acesso, correto? Sim e
não. Vamos lá: se os moradores moram próximo, a chance de eles utilizarem esse
parque é muito maior. Mas se as pessoas que moram longe (como geralmente

44
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

é o caso da população de baixa renda) e que dependem do transporte público


ou outros meios para se deslocar até esse parque, será que ele será utilizado
com uma maior frequência por elas? Uma solução para isso seria qualificar áreas
próximas a essas pessoas para que elas tenham um acesso mais facilitado.
Mas para que isso ocorra, seria necessário realizar uma análise do entorno e,
principalmente, ir em busca da aceitação da população local. E é nesse ponto
que esbarramos no fator fundamental desse exemplo que trouxemos a você: a
dimensão cultural.

Será que a requalificação desse parque urbano levou em consideração a


participação da população nas decisões? Foram realizadas entrevistas, aplicado
questionários, realizando outros tipos de métodos para verificar se aquelas
soluções são realmente aquilo que a população precisa e quer?

Seguindo nesse caso hipotético que trouxemos, o que faltou incluir no parque
foram quadras de esporte para que a população utilizasse com maior frequência,
tendo em vista que existe uma escola próxima e que não possui infraestrutura
para a prática de esportes.

Resumo da história: faltou incluir a população no processo de desenvolvimento


do parque urbano. A população não recebeu todas as dimensões que sustentam
o desenvolvimento de uma cidade de forma completa. Talvez isso justifique a
não utilização duradoura do local, exceto nos primeiros meses quando tudo era
novidade.

E em que isso tudo desencadeou? Em uma nova degradação do ambiente.


Na dimensão econômica, a valorização dos empreendimentos do entorno não
era mais tão atrativa como estava sendo no período em que o parque possuía
uma grande procura. E a dimensão ambiental passou a perder força a partir do
momento em que o local passou a ser descuidado pela prefeitura. Ou seja, tudo
voltou a ser como era antes.

Como falamos, esse é um caso hipotético para que você observe como
todas as dimensões andam interligadas. E é um compromisso integrado entre
a gestão pública, a gestão privada, a participação da universidade por meio de
pesquisadores e a população local. Esses quatro setores que se relacionam em
prol de ambientes de inovação são chamados de Quádrupla Hélice.

45
Planejamento Urbano

FIGURA 15 – ELEMENTOS ESTRUTURANTES DA QUÁDRUPLA HÉLICE

FONTE: Nicolas (2016, s.p.)

Portanto, vê-se que uma coisa está ligada à outra. E na complexidade em que
vivemos, principalmente nas cidades grandes, torna-se cada vez mais necessário
olhar para todas essas implicações quando se tenta resolver um problema.

E por falar em problema, eis o momento adequado para tratarmos das


dificuldades que afligem as cidades brasileiras:

• DIFICULDADES URBANAS

Como citado anteriormente, o déficit habitacional é um deles. Resultante


da falta de habitações de qualidade, muitos indivíduos residem em instalações
precárias, sem o saneamento básico para viver com dignidade. Inclusive, esse
problema está ligado a outro: as grandes distâncias que essas pessoas precisam
percorrer para ter acesso aos serviços urbanos, consequência da retirada
das pessoas do centro em direção às periferias, processo conhecido como
gentrificação. E aqui fazemos uma referência aos planos de embelezamento das
cidades (ocorridos no início do século XX no Brasil) e que tinha como
Segundo Jan objetivo revitalizar as áreas centrais e deixá-las bonitas, e destinando
Van Weesep, a
os moradores da classe baixa para as bordas da cidade.
gentrificação se
resume em uma
“expressão espacial Segundo Jan Van Weesep, a gentrificação se resume em uma
de uma profunda “expressão espacial de uma profunda mudança social” (BATALLER,
mudança social” 2012, p. 9).
(BATALLER, 2012,
p. 9).

46
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

Outra dificuldade que é muito presente nas grandes cidades diz respeito
ao trânsito e ao congestionamento, principalmente em horários de grande
movimento. Falha bastante gritante tanto nos sistemas de mobilidade individual
como na superlotação do transporte público.

Também é uma grande dificuldade a inexistência ou baixa qualidade de


infraestrutura pública básica, como a iluminação, sistemas de drenagem, falta
de pavimentação asfáltica, inexistência de tratamento de esgoto e de resíduos,
dentre outros.

Tais problemas e limitações demonstram a necessidade de se PENSAR A


CIDADE do ponto de vista ESTRATÉGICO. E quais as formas de fazer isso?
Segundo Novaes (2021), dentre as soluções estão:

• Garantir o correto FUNCIONAMENTO dos serviços.


• Garantir a EFICIÊNCIA e a EFICÁCIA das infraestruturas públicas.
• Atendimento às NECESSIDADES dos CIDADÃOS (lembre-se da
Quádrupla Hélice).
• PLANEJAMENTO e REGULAMENTAÇÃO do adensamento e
crescimento das cidades.
• QUALIFICAÇÃO e REQUALIFICAÇÃO dos espaços urbanos.

Esses modos de resolução de problemáticas que atingem o espaço urbano


está sendo muito pautado no uso de tecnologias como forma de acelerar os
processos e garantir ainda mais qualidade de vida aos indivíduos.

E é nesse contexto que surge o termo “cidades inteligentes” ou smart


cities. Você já ouviu falar nesse termo? Se não, vamos às explicações. Muitos
pesquisadores compreendem o conceito de cidades inteligentes como sendo uma
visão estratégica para o futuro urbano (ANGELIDOU, 2012). Trata-se da utilização
da tecnologia para impulsionar os avanços nos mais diversos setores de uma
cidade. No entanto, este é um conceito que ainda não chegou a um consenso em
comum.

Inclusive, as mais recentes definições dependem da ideia de que a cidade


precisa ser inteligente, humana e sustentável, rompendo a unilateralidade do
foco na tecnologia e envolvendo o indivíduo como o protagonista de um processo
evolutivo de cidade.

A Figura 16 retrata a amplitude que abrange uma cidade inteligente, que


envolve os vários setores da sociedade para pensarem acerca do espaço urbano.
O Planejamento Urbano é a técnica essencial para determinar o avanço e/ou
instauração de uma cidade inteligente e, acima de tudo, humana e sustentável.

47
Planejamento Urbano

FIGURA 16 – RELAÇÃO DE ASPECTOS À CONSTRUÇÃO


DAS CIDADES INTELIGENTES
HUMANAS E SUSTENTÁVEIS

FONTE: Novaes (2021, s.p.)

Vamos compreender quais outras aplicações práticas estão incorporadas


à gestão urbana integrada? Fique ligado nos próximos capítulos. Mas antes,
deixamos a você algumas questões para a reflexão.

• A cidade onde você mora está tomando alguma providência em


relação aos problemas urbanos?
• Você acha que as cidades atuais estão levando em consideração
os aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais de forma
integrada para garantir uma cidade inteligente?

48
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

1) Para alcançar uma gestão integrada de qualidade na cidade


é preciso envolver as quatro esferas da sustentabilidade.
Descreva quais são elas e a importância de cada uma para o
desenvolvimento sustentável.

2) Leia as afirmações a seguir e marque V (para verdadeiro) e F


(para falso):

a) ( ) O atendimento às necessidades dos cidadãos é uma das


formas de se pensar a cidade sob o ponto de vista estratégico.
b) ( ) A qualificação e a requalificação dos espaços urbanos sem a
participação popular gera maior agilidade e eficiência no pós-uso
desses espaços.
c) ( ) É necessário planejar e regulamentar o adensamento e o
crescimento das cidades para que evite a ineficiência dos serviços
públicos e privados na cidade.
d) ( ) O processo conhecido como gentrificação é o mais correto
para corrigir o déficit habitacional das cidades brasileiras.

3) Em relação ao planejamento e aos mecanismos de intervenção no


espaço urbano, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) Quaisquer interferências no meio urbano precisa obter a


aceitação da população local.
b) ( ) O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às
necessidades do presente e compromete o atendimento às
necessidades das gerações futuras.
c) ( ) De acordo com os últimos estudos, a cidade para ser
considerada inteligente (tecnológica) também precisa considerar
a inteligência humana e sustentável.
d) ( ) A dimensão cultural no processo de desenvolvimento é
essencial, pois reforça que não existe modelos prontos: deve-se
observar a realidade de cada cidade para que sejam tomadas as
decisões apropriadas.

49
Planejamento Urbano

3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Conforme observamos neste capítulo, as cidades mais antigas possuíam
problemas muito parecidos com os que temos hoje. A única diferença é que os
processos de urbanização se intensificaram, tornando ainda mais emergente a
necessidade de discussão em prol da busca de soluções concretas e efetivas.

Compreendemos que o Plano Diretor, apesar de ser um instrumento originado


pela legislação brasileira, precisa ser instituído em municípios com o mínimo de 20
mil habitantes e deve considerar as especificidades locais para a sua real eficácia.
E para que isso aconteça é imprescindível que haja um processo de gestão
integrada no município que envolva o governo, as empresas, a universidade e,
acima de tudo, a sociedade em geral para a tomada de decisões.

É nesse contexto de ecossistema que as esferas social, econômica, ambiental


e cultural se relacionam, a fim de resolver os problemas reais que a cidade
enfrenta. Isso significa que a mesma abordagem utilizada em São Paulo para
melhorar a mobilidade urbana não será a mesma para o Rio de Janeiro, apesar
de as duas serem grandes metrópoles. É necessário realizar o levantamento das
necessidades locais e adequá-las aos instrumentos e ferramenta pertinentes para
a melhoria das questões urbanas.

Com esses conhecimentos adquiridos e embasados em conceitos técnicos


aqui dispostos, será possível elaborar as melhores estratégias urbanas no
mercado de trabalho, a fim de contribuir significativamente para a construção de
cidades mais inteligentes, humanas e sustentáveis.

No próximo capítulo, visualizaremos de uma maneira mais detalhada como os


instrumentos do planejamento urbano funcionam para garantir o desenvolvimento
das cidades.

REFERÊNCIAS
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Cities, v. 47, p. 95-106, 2012. Disponível em: https://doi.
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50
Capítulo 1 O PLANEJAMENTO URBANO E SUAS INTERFACES

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Planejamento Urbano

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ZIMMERMANN, A. P. de O. Arquitetos do Urbanismo Progressista e


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progressista%20e%20culturalista.pdf. Acesso em: 25 mar. 2021.

52
C APÍTULO 2
OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO
URBANO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 discutir as estratégias atuais do Planejamento Urbano;


 exemplificar as formas legais do exercício do planejamento nas cidades;
 analisar as dinâmicas das políticas públicas frente às necessidades urbanas
atuais;
 aliar as propostas de planejamento urbano aos instrumentos legais vigentes.
Planejamento Urbano

54
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Este capítulo tem o objetivo de levar até você as formas legais de aplicar
o planejamento urbano nas mais diferentes cidades. Para isso, é necessário
compreender a legislação federal e as leis criadas especificamente para cada
município.

Antes dessas compreensões, é muito importante que você perceba que a


cidade está em constante mudança. O que for planejado para o dia de hoje, pode
não ser mais o ideal no dia de amanhã. Isso se dá devido à alta velocidade da
informação e do conhecimento, consequentes do processo de globalização.

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das


Nações Unidas (ONU) apontam para a urgência de melhorar as condições sociais,
culturais, econômicas e ambientais da nossa sociedade. Enquanto que, até o ano
de 2015, o foco principal era direcionado ao desenvolvimento econômico das
cidades, hoje se fala muito no desenvolvimento sustentável a partir de uma visão
integrada e equilibrada.

Mas o que isso tem a ver com o planejamento urbano? Absolutamente tudo!
É cada vez mais necessário aliar as decisões projetuais nos setores da habitação,
saneamento básico, resíduos sólidos e mobilidade urbana às reais necessidades
da população e sempre visando reduzir ao máximo os impactos gerados pelas
novas ações e propostas. Estes objetivos, acordados em nível mundial, fazem
parte da Agenda 2030 que visa universalizar, integrar e “não deixar ninguém para
trás” no desenvolvimento sustentável da sociedade.

Precisamos colocar em prática as legislações sob um olhar holístico,


atualizando-as para as necessidades urbanas das mais diferentes localidades
brasileiras. Veremos como isso pode ser aplicado nos instrumentos urbanos
devidamente ancorados pela legislação federal: instrumentos de Indução do
Desenvolvimento Urbano, de Regularização Fundiária, de Democratização da
Gestão Urbana e de Financiamento da Política Urbana.

Todos eles foram criados a partir do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), Lei
que estabelece as diretrizes da política urbana no Brasil. É a partir dele que saem
planos diretores para fomentar o desenvolvimento das nossas cidades, visando
atender às necessidades da população.

Está preparado para desbravarmos todo esse conhecimento juntos? Lembre-


se sempre: A transformação só existirá se houver conhecimento!

55
Planejamento Urbano

2 O PLANEJAMENTO URBANO E
SUAS FERRAMENTAS
Muitos pensam que as cidades crescem de maneira descontrolada, sem o
mínimo de regramento. No entanto, poucos sabem que existem regulamentações
para diferentes casos que veremos na sequência. Mas antes, precisamos lembrar
que a cidade por si só é muito complexa. E quando falamos em complexo não é
no sentido “difícil” de ser, mas por ser um território delimitado que possui inúmeros
sistemas trabalhando simultaneamente e interdependente.

2.1 PRODUÇÃO DO ESPAÇO,


PLANEJAMENTO E POLÍTICAS
PÚBLICAS
Já parou para pensar como funciona o nosso corpo? Se algum dos nossos
membros ou órgãos declarar “independência”, um caos é instaurado e teremos
problemas de saúde. Assim é a cidade: se o sistema de mobilidade urbana
não estiver de acordo com as legislações vigentes e não responder às reais
necessidades do lugar, é muito provável que problemas aconteçam.

Nos dias de hoje, em que a nova condição de mundo está voltada à grande
velocidade das informações a partir da globalização, torna-se necessário nos
adequarmos e pensarmos em como estabelecer novos paradigmas nessa
condição sistêmica.

Essa necessidade está sendo fortemente evidenciada pelos 17 Objetivos


de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas
(ONU). Trata-se de um plano de ação proposto para o mundo todo em prol da
prosperidade e do fortalecimento da paz universal. Dentre os objetivos está o
objetivo 11 – Cidades e comunidades sustentáveis, que tem tudo a ver com o
que estamos estudando. Precisamos pensar na cidade do agora, mas também
analisar e projetar meios sustentáveis para que não haja implicações para as
próximas gerações.

56
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

Para que você possa verificar detalhadamente todos esses


objetivos, basta acessar o link: http://www.agenda2030.com.br/.

Por conta desses entendimentos e ao contrário das consequências da


Revolução Industrial, em que as visões eram (e ainda continuam sendo)
mecanicistas, em um contexto de repetições, hoje o mundo exige novas formas
de apropriação, como processos interativos e sustentáveis nas mais diferentes
escalas. Em outras palavras, precisamos parar de reproduzir o que vem pronto,
fugir de modelos estáticos, mas criar alternativas específicas para determinadas
situações.

Vamos dar um exemplo para que você consiga compreender essas ideias.
O planejamento catalão para os Jogos Olímpicos de 1922, bastante promissor
em Barcelona, foi cobiçado por diferentes cidades que sucederam às edições
dos jogos. Intitulado “modelo Barcelona”, muitos queriam copiar as estratégias
desenvolvidas naquela localidade, esquecendo que as culturas, a localização, as
formas de apropriação são completamente diferentes. A cidade do Rio de Janeiro,
por exemplo, foi uma das cidades-sede a “vender” essa ideia, mas que resultou
em inúmeros problemas na cidade, como a remoção de moradores próximos
às áreas de intervenções e a posterior subutilização das instalações olímpicas
(BERTUZZI, 2020).

Voltamos a frisar que a cidade está sendo cada vez mais complexa, exigindo
a todo o momento processos retroativos de causa e efeito por meio dos seus
planejadores. O que planejarmos para hoje, pode não ser o ideal para o amanhã.
É necessário que haja mecanismos que possibilitem a interatividade, a busca pelo
entendimento de diferentes frentes, visões distintas para que sejam debatidas as
melhores soluções de cidade.

O que fazíamos antigamente e o que ainda fazemos é focar em uma única


resposta “certa” para os problemas. Ou então, uma única causa ou único culpado
por determinada situação. Porém, hoje é necessário pensar de forma sistêmica
e integrada, em que todos os envolvidos precisam opinar, participar, discutir,
contrariar, convergir.

Quando existem debates públicos sobre as melhorias dos espaços livres


públicos na cidade, os gestores municipais devem promover o debate com a
população geral que usufrui desses espaços para o lazer e recreação, mas

57
Planejamento Urbano

também com os defensores do meio ambiente, com os comerciantes, taxistas etc.


Pois essas áreas promovem a interação de todas essas pessoas que as utilizam
para momentos de descanso, mas também para aqueles que precisam desses
locais para o seu sustento.

Consegue compreender como a gestão integrada deve funcionar? E isso


cabe aos planejadores de cidades pensarem soluções que viabilizem a inter-
relação de todos esses agentes.

Lembrando que não devemos buscar uma única solução para tudo, mas
várias soluções que abarquem a diversidade que existe no território urbano.

Sugerimos que você assista a este vídeo. Ele não fala


diretamente sobre a cidade, mas nos faz perceber sobre a importância
de enxergarmos o mundo como algo sistêmico, imprevisível e
instável. Esse vídeo fará você abrir a sua mente para uma visão
de mundo ainda mais aberta e diversa: https://www.youtube.com/
watch?v=EdPS5LjT6Ts

E é nesse contexto de mudanças que daremos continuidade a este capítulo.


Todo e qualquer pensamento, formas de pensar a cidade ou técnica aplicada ao
espaço urbano tende a promover mudanças em todo o sistema, e isso se chama
inovação.

E você sabe de que forma podemos fazer isso? Aliando a engrenagem urbana
brasileira (legislação e instrumentos do desenvolvimento urbano) a um processo
de governança local a partir de ecossistemas de inovação. A Figura 1 apresenta os
regramentos existentes e que norteiam o desenvolvimento das cidades. Apesar de
cada um possuir os seus objetivos próprios, eles fazem parte de um “todo”, que é
a cidade. Como falamos anteriormente, as leis e os instrumentos de planejamento
urbano são interdependentes, sendo que um precisa do outro para a manutenção
de uma cidade! Lembre-se sempre da gestão integrada. Ah! E fique tranquilo, pois
iremos abordar cada um destes planos e leis neste capítulo. Está preparado?

58
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

FIGURA 1 – LEGISLAÇÕES E INSTRUMENTOS DO


PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL

FONTE: WRI Brasil (2018, s.p.)

Você notou que as preocupações com o planejamento urbano se


intensificaram a partir da Constituição Federal de 1988? E isso não aconteceu por
acaso.

No que tange a nossa área de estudo, a Constituição Federal de 1988


estabeleceu o princípio da função social de propriedade, trazendo junto da
sociedade brasileira o amparo à distribuição justa de benefícios no processo
de urbanização. Essa legislação, que se constitui em um Estado democrático

59
Planejamento Urbano

de direito, é consequência da movimentação popular dotada de ideias comuns


que visavam assegurar o bem-estar dos seus habitantes a partir da garantia de
direitos que, dentre eles estão o direito à vida, à igualdade de oportunidades, à
habitação, à propriedade como função social, dentre outros (BRASIL 1988).

Foi a partir dessa constituição que houve a promoção da descentralização


da receita tributária para os governos estaduais e municipais, possibilitando com
que os gestores locais pudessem promover melhorias com uma maior autonomia.
Dessa forma, a gestão urbana poderia ser de mais fácil resolução, pois o problema
era mais “próximo” e podia-se ter mais controle.

Foi a partir daí que surgiram outros regramentos, como o Estatuto da Cidade,
em 2001. Essa lei visou normatizar mecanismos e procedimentos que visassem
promover a ordenação e o controle do uso do solo urbano, a fim de evitar decisões
especulativas e gestões inadequadas do território (CIDADES SUSTENTÁVEIS,
2021).

O planejamento e a implantação de instrumentos de política urbana são


essenciais para a tomada de decisão. Se acompanhados de investimentos
públicos, podem corrigir desigualdades no curto, médio e longo prazo.

Dois anos depois da promulgação do Estatuto da Cidade, foi criado o


Ministério das Cidades (2003, s.p.), com o intuito de "Combater as desigualdades
sociais, transformando as cidades em espaços mais humanizados, ampliando o
acesso da população à moradia, ao saneamento e ao transporte”. Tal criação foi
estabelecida a partir de forte demanda de movimentos sociais voltados à reforma
urbana (REIS, 2010).

Dentre as competências do Ministério das Cidades incluía a política de


desenvolvimento urbano, as políticas de habitação, saneamento ambiental,
trânsito e transporte urbano, a partir da interlocução com diferentes esferas do
governo, setor privado e organizações (DADOS, 2021). Ou seja: esse ministério
fazia a interlocução entre as cidades e o governo federal, promovia um elo para
onde os problemas estavam, em nível local.

Essa preocupação coma visão de descentralização – ainda que focada na


receita tributária a partir da Constituição de 1988 – passou a ser incorporada nas
cidades, mas que ainda precisa percorrer muito caminho. Vale lembrar que a
sustentabilidade das cidades só ocorre se partirmos para uma gestão integrada
efetiva que compreenda setores públicos, privados, instituições e a população.

60
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

Para dar andamento aos avanços das políticas públicas das últimas duas
décadas, foi criada em 2005, a Lei de Habitação, a qual criou o Sistema Nacional
de Habitação de Interesse Social, o Fundo Nacional de Habitação de Interesse
Social (FNHIS) e o Conselho Gestor do FNHIS (BRASIL, 2005). Essa lei visou
implementar políticas públicas que promovessem moradia digna à população de
baixa renda, como forma de reduzir o déficit habitacional existente no país.

A expressão “déficit habitacional” se refere à falta de habitações


(em dados numéricos) de uma determinada região.

A partir daí foi estabelecida a união de diferentes sujeitos integrantes do


Ministério das Cidades, do Conselho Gestor, da Caixa Econômica Federal (CEF)
e demais membros da comunidade civil a partir da representação de instituições,
associações, sindicatos etc. A interlocução desse ecossistema possibilitou discutir
sobre as políticas públicas da habitação de interesse social, muito problematizada
no passado quando o sistema promovia habitações de má qualidade, haviam
critérios bancários para a seleção dos usuários desses recursos, e também a
centralização desses regramentos no âmbito federal (BRASIL, 2005).

Após a instauração dessa lei, dentre as inúmeras melhorias nesse setor, foi
facilitada a aquisição/melhoria de unidades habitacionais nas áreas urbanas e
rurais e a criação de equipamentos comunitários caracterizados como áreas de
interesse social. E tudo isso deveria ser coordenado pelo Ministério das Cidades
em conjunto com os demais agentes formadores do Conselho Gestor.

Vê-se, portanto, uma forma de promover o relacionamento com diferentes


agentes da sociedade, sejam eles técnicos, sociedade civil ou entidades. É
baseada nessa interlocução que devemos nortear as decisões de planejamento
urbano.

Mesmo com esses avanços em prol das cidades, esse foi o primeiro passo
de muitos que ainda precisam ser dados. O fato de uma lei entrar em vigor não
resolve os problemas que vivemos na sociedade. Ainda há muito a ser feito,
principalmente quando verificamos as estatísticas: Segundo a Fundação José
Pinheiro (2021), o número registrado no Brasil, em 2019, chegou a 5,877 milhões
de moradias faltantes no país. Trata-se, infelizmente, de uma situação bastante
alarmante.

61
Planejamento Urbano

FIGURA 2 – CHARGES ILUSTRATIVAS EM REFERÊNCIA


AO DÉFICIT HABITACIONAL NO BRASIL

FONTE: <http://www.arionaurocartuns.com.br/2017/07/charge-moradia.html>; <


https://www.youtube.com/watch?v=Pk36PVrgIVM>. Acesso em: 28 abr. 2021.

Você consegue visualizar situações parecidas com a figura


anterior na sua cidade? Se sim, há uma predominância para essa
caracterização nas bordas da cidade? Caso a resposta também seja
positiva, essas são as consequências do processo de segregação
socioespacial, que fortalece essa distinção no espaço urbano. Reflita
sobre isso e tente encontrar outras formas que intensificam essas
desigualdades em seu município.

Visualizando isso, o que de fato é possível fazer para tentar reduzir essas
distinções sociais? Uma das formas é promover debates sobre as condições
atuais de acesso à terra. Devido aos custos de implantação – que em geral são
mais altos em áreas centrais da cidade – há a promoção de uma locação de
empreendimentos de baixa renda em áreas afastadas, dificultando o acesso a
serviços situados em grande parte no centro da cidade.

Além do valor da terra, o custo das habitações também é um problema. Uma


das formas de reduzi-lo está na incorporação de novas tecnologias construtivas
que permitam a padronização de processo e o aumento da produtividade,
fazendo com que se torne menos oneroso o custo de construção. Vale dizer que
a redução de custo deve estar diretamente condicionada à garantia da qualidade
dos serviços, inclusive se adequando a critérios de eficiência energética das
edificações. É preciso cuidar para não cair no problema da reprodução em grande
escala sem qualidade, pois poderão haver novos problemas no futuro.

62
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

E muito relacionado à habitação está o saneamento, infraestrutura básica


para a sustentação da qualidade de vida da população, um dos direitos básicos
assegurados pela Constituição Federal. Trata-se da distribuição de água tratada,
coleta e tratamento de esgoto, limpeza urbana, manejo apropriado de resíduos
sólidos e a drenagem de águas da chuva.

Criada em 2007, a Lei nº 11.445 visou estabelecer diretrizes nacionais


para o saneamento básico, a partir da criação de um Comitê Interministerial de
Saneamento Básico (BRASIL, 2007). Recentemente, em 2020, a Lei nº 14.026
atualizou o Marco Legal do Saneamento, apresentando mudanças sobre as
políticas voltadas às áreas de coleta e reciclagem de resíduos sólidos e limpeza
urbana, bem como o estabelecimento de novas metas para o acesso a esses
serviços (BRASIL, 2020):

QUADRO 1 – METAS PROJETADAS PELO MARCO LEGAL DO SANEAMENTO BÁSICO


(LEI Nº 11.445/2020)

% em 2018 META para 2033


53,2% da população com acesso à 90% da população com acesso à co-
coleta de esgoto leta de esgoto até 31 de dezembro de
2033
83,6% da população com acesso à 99% da população com acesso à água
água tratada tratada até 31 de dezembro de 2033
FONTE: Adaptado de Chequi (2020)

E para levar o saneamento à grande parte da parcela da população, a nova lei


estabelece a obrigatoriedade de licitação para a prestação desses serviços, o que
não existia antes. Assim, com o fomento à competitividade, tende-se a estimular
a eficiência na prestação destes serviços fornecidos à população. Além disso, a
criação de blocos regionais para a disseminação desses serviços terá o objetivo
de integrar municípios de pequeno porte, garantindo a viabilidade técnica e, por
consequência, melhorando a eficiência dos serviços. O papel dos prestadores
de serviços recai sobre a busca por soluções compartilhadas, como Políticas
Público-Privadas (PPPs) a partir de critérios ainda mais claros e padronizados
(CHEQUI, 2020).

Esse compartilhamento e interlocução entre as cidades pode ser


compreendido como um sistema de cogestão, em que várias localidades
interagem para promover melhorias no desenvolvimento local e regional.

Na construção de cidades sustentáveis que promovam diretrizes para o


melhor funcionamento da zona urbana não poderia ficar de fora a preocupação
com a gestão dos resíduos sólidos. Publicada em 2 de agosto de 2010, a Lei

63
Planejamento Urbano

nº 12.305 definiu que todos os materiais utilizados nas mais diversas atividades
humanas e que fosse descartado seria compreendido como resíduo sólido. Tal
regramento incide sobre a necessidade de se gerir esses resíduos de forma
integrada, transferindo responsabilidades aos geradores de resíduos e ao poder
público, a fim de evitar que houvessem danos ambientais e à saúde da própria
população (BRASIL, 2010).

Apesar dessa legislação já estar vigente no país há mais de 10 anos, muitas


cidades brasileiras ainda não possuem uma infraestrutura adequada para a
correta destinação desses resíduos. Para se ter uma ideia, a geração desses
resíduos aumentou 19% entre os anos de 2010 e 2019.

GRÁFICO 1 – RELAÇÃO ENTRE A GERAÇÃO, COLETA E A DISPOSIÇÃO


INADEQUADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL

FONTE: ABRELPE (2020, s.p.)

Como observado no gráfico anterior, o quesito “geração” é o que mais destaca,


se relacionado com o processo da coleta e do envio para locais inadequados. E é
exatamente a redução da geração dos resíduos que precisamos evitar, segundo a
Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS.

64
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

FIGURA 3 – ORDEM DE PRIORIDADE SEGUNDO


A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS
SÓLIDOS (PNRS)

FONTE: Apoena Socioambiental (2020, s.p.)

Antes de pensar em reduzir, reutilizar, reciclar ou tratar os resíduos é


fundamental pensar nas mais diferentes formas de não gerá-los. Uma das maneiras
de contribuir para isso é investindo na educação ambiental em práticas escolares,
nas mais diversas formas de divulgação dessa temática, na fiscalização (do poder
público e também a nossa), entre outros. Somente assim conseguiremos fazer a
nossa parte e colaborar para a mudança dessa cultura que nos assola.

Para prosseguir com as principais legislações que regem sobre as nossas


cidades está a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que defende o acesso
da população à cidade a partir de sistemas integrados e sustentáveis (BRASIL,
2012). Na prática, essa lei dá segurança jurídica para que os municípios possam
priorizar transportes coletivos e não motorizados a fim de reduzir o incentivo a
veículos de uso individual. A Figura 4 sintetiza os anseios dessa legislação.

FIGURA 4 – OBJETIVOS CENTRAIS DA POLÍTICA


NACIONAL DE MOBILIDADE URBANA

FONTE: Capacidades (2013, s.p.)

65
Planejamento Urbano

Sugerimos que você acesse o site “Capacidades”, que faz parte


do Programa Nacional de Capacitação das Cidades, do Ministério do
Desenvolvimento Regional. Basta você se cadastrar gratuitamente.
Ele vai lhe ajudar a compreender, de forma bastante didática, as
políticas públicas urbanas integradas no processo de promoção do
Direito à Cidade e da inclusão social: http://www.capacidades.gov.br/.

Verifica-se, portanto, que essa política de mobilidade urbana visa fortalecer


o desenvolvimento social, ambiental, econômica e cultural da cidade, dimensões
estas que já vimos no capítulo anterior. Ao mesmo tempo em que se propõe a
redução da desigualdade (social), há também o fomento à utilização de sistemas de
mobilidade não motorizados para a redução da emissão de poluentes (ambiental).
Além disso, esses incentivos, que dependerão de uma mudança cultural de uma
sociedade que subestima usos alternativos e sustentáveis, também poderão
implicar positivamente na economia a partir da eficiência e integração do sistema
de transporte público.

Até o momento, vimos como a legislação se aplica às cidades a partir da


particularidade que cada uma possui. No entanto, devido ao alto crescimento
populacional das cidades, algumas se destacaram por se tornarem “centralidades”
de grande potência e referência para uma determinada região e até para o país. E
para essas cidades, damos o nome de Metrópole.

Metrópole se refere a uma cidade de altas complexidades


de ordem econômica, sociocultural e política. Cunningham (2010)
compreende a metrópole como sendo “um espaço híbrido, a
metrópole produz novos espaços de autonomia que semeiam as
sementes das novas relações sociais e novas formas de cooperação”
(CUNNINGHAM, 2010, p. 17).

66
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

São Paulo, por exemplo, é considerada uma metrópole por ser conhecida
com o a capital financeira do país em que o Brasil inteiro está interligado. Se
realizarmos uma viagem de avião de Porto Alegre/RS para Campo Grande/MS
precisaremos fazer uma parada em São Paulo para, só depois, seguir viagem
para o destino final. Assim, a cidade paulista detém alto poder de integração
territorial do país. Consegue perceber a importância dessa cidade para todo o
Brasil?

E é nesse contexto que surge o Estatuto da Metrópole, Lei nº 13.089 (BRASIL


2015). Essa recente legislação teve como objetivo realizar direcionamentos a
cidades que fazem parte de regiões metropolitanas, em que os limites de cada
município não são evidentes após um crescimento urbano sobreposto, gerando o
processo de conurbação.

FIGURA 5 – ESQUEMA REPRESENTATIVO DO PROCESSO DE CONURBAÇÃO

FONTE: Polon (2014, s.p.)

Devido a isso, o Estatuto da Metrópole definiu critérios para a instauração


de governanças interfederativas que possibilitasse a integração entre as
cidades acerca de políticas públicas criadas em comum. Essa estrutura precisou
incorporar órgãos colegiados, debates, audiências sobre as mais diversas
funções públicas pertencentes à cidade, como: planejamento e uso do solo,
transporte, habitação, saneamento, meio ambiente, desenvolvimento econômico,
atendimento social, esporte e o lazer. E tudo isso deveria estar sintetizado em um
Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) que englobasse diretrizes
para o macrozoneamento, áreas restritivas à urbanização, dentre outros (BRASIL,
2015; RIBEIRO, 2017).

Recentemente, foi definida a partir da Medida Provisória nº 818 (BRASIL,


2018), que a conclusão desses planos integrados de áreas metropolitanas deverá
ser finalizada até a data de 31 de dezembro de 2021. Esse adiamento faz com
que os municípios tenham mais tempo para desenvolver todo esse planejamento.

67
Planejamento Urbano

Por outro lado, o fato de promover a extensão dos prazos pode contribuir para a
negligência no desenvolvimento de soluções a serem tomadas em prol do bem
comum.

Esses processos tendem a aumentar ainda mais a complexidade da cidade,


tendo em vista que os sistemas irão abranger dimensões territoriais ainda
maiores.

“A cidade existe quando as pessoas criam vínculos provisórios ou


permanentes e quando o sentimento de pertencimento é inseparável das pessoas
com elas mesmas e delas com a cidade” (FIAMENGUI et al., 2017, p. 1).

Em um nível ainda mais local, o desenvolvimento urbano é gerido a partir do


Plano Diretor de uma cidade. Trata-se de uma lei municipal que visa ordenar o
território municipal (urbano e rural), analisando e determinando o desenvolvimento
de cada região da cidade a partir da regulamentação do solo. Segundo o Estatuto
da Cidade (BRASIL, 2001), é exigida a implantação de Plano Diretor – dentre
outras obrigatoriedades – em cidades com o mínimo de vinte mil habitantes e/
ou que integrem regiões metropolitanas e aglomerações urbanas. Tal documento
precisa conter a delimitação das atividades nas áreas urbanas a partir do
parcelamento do solo, da funcionalidade das edificações e a sua utilização, e a
sua revisão deve ser feita a cada dez anos (BRASIL, 2001).

O quadro a seguir sintetiza todas as etapas, funções e regras necessárias


para a implementação do Plano Diretor:

QUADRO 2 – OBRIGATORIEDADES PARA A IMPLANTAÇÃO


DO PLANO DIRETOR NAS CIDADES

Plano Diretor
Etapas Funções Regras
Identificar a realidade e Incentivar o cresci- É obrigatória a criação do Plano
os problemas da cidade mento e o desen- Diretor a municípios com mais
(junto à população) volvimento local de 20.000 habitantes
Definir temas e objeti- Garantir o atendi- É obrigatória a criação do Plano
vos a serem trabalha- mento às necessi- Diretor a municípios integrantes
dos dades da população de regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas
Escrever a proposta de Garantir que a pro- É obrigatória a criação do Plano
Plano Diretor priedade urbana Diretor a municípios de áreas
esteja vinculada às de interesse turístico
funções anteriores

68
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

Enviar a proposta à Fazer cumprir a Lei É obrigatória a criação do Plano


Câmara Municipal para do Estatuto da Ci- Diretor a municípios com em-
as discussões dade (BRASIL, 2001) preendimentos de alto impacto
ambiental
Estabelecer prazos e
formas de aplicação do
Plano Diretor
Realizar a revisão do
Plano Diretor a cada 10
anos
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

1) Leia as afirmações a seguir e marque V (para verdadeiro) e F


(para falso):

a) ( ) A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) define como


principal prioridade a redução da produção de resíduos sólidos
nas cidades.
b) ( ) A Política Nacional de Mobilidade Urbana dá segurança
jurídica para que os municípios possam priorizar transportes
coletivos e não motorizados a fim de reduzir o incentivo a veículos
de uso individual.
c) ( ) As novas metas propostas pelo Marco Legal do Saneamento
(Lei 11.445/2020) limitam-se ao acesso à coleta de esgoto para
90% da população brasileira até o ano de 2033.
d) ( ) Uma das formas de melhorar o acesso à moradia no Brasil
é reduzir o custo de acesso à terra e o custo de habitações,
condicionado à garantia da qualidade dos serviços.

2) Após o Estatuto da Cidade ser instituído, houve a criação


do Ministério da Cidades, órgão responsável por combater
as desigualdades sociais visando transformar as cidades
em espaços mais humanizados nos setores de habitação,
saneamento e transporte. Descreva quais as competências do
Ministério e como funcionava na prática a relação entre o governo
federal e os municípios.

3) Sobre o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), importante


legislação para a formulação de políticas públicas urbanas,
assinale a resposta correta:

69
Planejamento Urbano

a) ( ) Os planos diretores englobam somente as áreas urbanas do


município.
b) ( ) Apenas cidades com mais de 20 mil habitantes são obrigadas
a criarem Planos Diretores.
c) ( ) Essa lei foi criada com o intuito de fortalecer a valorização
imobiliária, principalmente nas grandes cidades.
d) ( ) Apenas a alternativa A está incorreta.
e) ( ) Nenhuma das anteriores.

2.2 INSTRUMENTOS LEGAIS DO


PLANEJAMENTO URBANO
Pudemos verificar as várias legislações que norteiam o ordenamento
territorial do nosso país. Mas, como sabemos, para que a lei seja aplicada de
maneira efetiva no espaço urbano é preciso conhecer os instrumentos técnicos
que a definem. Tais instrumentos originam de tributos, zoneamento e parâmetros
urbanísticos (SOUZA, 2003). Ainda assim, são classificados da seguinte forma:
informativos, inibidores, estimuladores, coercitivos e outros.

QUADRO 3 – CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE INSTRUMENTOS URBANOS

Meios de divulgação de informações relevantes


Informativos
para os agentes modeladores.
Limitam a margem de manobra dos agentes modela-
Inibidores dores do espaço urbano. Ex.: edificação compulsória,
desapropriação.
Incentivos fiscais, vantagens financeiras a investi-
Estimuladores
dores para a atração de investimentos.
Estabelecem proibições e limites legais, como os
Coercitivos índices urbanísticos, proibições e determinações do
uso do solo.
FONTE: Adaptada de Sousa (2015) e Araújo (2011)

Para fazer jus a que é determinado em Lei, existem vários instrumentos que
visam vincular as decisões legislativas à realidade da cidade:

70
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

QUADRO 4 – CLASSIFICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS URBANOS


2.2.1 Instrumentos de Indução do Desenvolvimento Urbano
2.2.2 Instrumentos de Regularização Fundiária
2.2.3 Instrumentos de Democratização da Gestão Urbana
2.2.4 Instrumentos de Financiamento da Política Urbana
FONTE: O autor

Na sequência, estudaremos cada um desses instrumentos, a fim de visualizar


os diferentes mecanismos que influenciam diretamente na complexidade da
cidade.

2.2.1 Instrumentos de Indução do


Desenvolvimento Urbano
QUADRO 5 – OBJETIVOS DA REGULAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
Instrumento Objetivos
• Pode destinar partes da cidade aos mais diferentes
membros da sociedade.
• Tem o poder de gerar oportunidades e riquezas no
espaço urbano.
• Pode promover ou combater a segregação socio-
espacial.
• Pode gerir sobre a propriedade urbana que precisa
exercer a sua função social.

Regulação do Uso e

Ocupação do Solo

FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

71
Planejamento Urbano

QUADRO 6 – OBJETIVOS DO MACROZONEAMENTO

Instrumento Objetivos
• Estabelece diretrizes para as zonas delimitadas
no espaço urbano. Ex.: zona urbana, zona rural,
zona central, zonas periféricas etc.
• Trata-se do alicerce em que serão amparados to-
dos os outros instrumentos de regulação urbana.
• O macrozoneamento não é focalizado, ele se
trata de uma subdivisão mais ampla da cidade,
Macrozoneamento não interferindo diretamente nas normas de ocu-
pação dos lotes.
• É a partir desse instrumento que é estabelecido o
direito de construir na cidade.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

QUADRO 7 – OBJETIVOS DAS ZONAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL (ZEIS)

Instrumento Objetivos
• Áreas destinadas à moradia popular, com boa in-
fraestrutura, a partir do Plano Diretor da cidade (Habi-
tação de Interesse Social).
• A implantação de ZEIS serve para possibilitar a regu-
larização de áreas ocupadas, cortiços, loteamentos
clandestinos.

Zonas Especiais
de Interesse So-
cial (ZEIS)

FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

72
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

QUADRO 8 – OBJETIVOS DO DIREITO DE SUPERFÍCIE


Instrumento Objetivos
• Possibilita a construção em um local por
um determinado tempo, mesmo que não se
Direito de Superfície tenha o direito à propriedade.
• Trata-se do pagamento pela utilização do
espaço aéreo ou do subsolo, como as redes
de eletricidade, telefonia etc.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

QUADRO 9 – OBJETIVOS DO SOLO-CRIADO OU OUTORGA


ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR
Instrumento Objetivos
• Trata-se de tudo que é construído e que extrapola os
limites do Plano Diretor. Quem construir a mais de-
verá pagar à prefeitura por isso.
Distinção do que é direito de propriedade e direito de
Solo-criado ou Ou- •
construir.
torga Onerosa do
Tem o intuito de combater a valorização imobiliária
Direito de Construir •
gerada pelos investimentos públicos.
• Definição prévia do preço por metro quadrado (m²).

FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Saboya (2008) e Oliveira (2012)

73
Planejamento Urbano

QUADRO 10 – OBJETIVOS DAS OPERAÇÕES URBANAS

Instrumento Objetivos
• Áreas destinadas à requalificação urbana ou
implantação de projetos, como parques, revi-
Operações Urbanas talização de ruas etc.
• Utiliza regras específicas para o uso e ocu-
pação do solo em prol da melhoria do espaço
urbano.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

QUADRO 11 – OBJETIVOS DO DIREITO DE PREEMPÇÃO

Instrumento Objetivos
• Áreas da cidade em que o Poder Público tem
preferência no processo de compra e ven-
da, caso necessário.
• Essas áreas já devem estar estipuladas pre-
viamente no Plano Diretor da Cidade.

Direito de Preempção

FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Versa (2021)

74
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

QUADRO 12 – OBJETIVOS DO CONSÓRCIO IMOBILIÁRIO


Instrumento Objetivos
• Parceria entre o proprietário e o poder público.
• O proprietário cede a terra ao poder público, que realiza
a construção de um empreendimento. Após construído,
o empreendimento retorna para o proprietário no valor
da terra cedida.

Consórcio Imo-
biliário
FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Versa (2021)

2.2.2 Instrumentos de Regularização


Fundiária
QUADRO 13 – OBJETIVOS DO USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL
URBANO/CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA

Instrumento Objetivos
Usucapião Especial de • Indivíduo que possuir como sua área edifica-
Imóvel Urbano/ Con- da de até 250m² e que a utiliza por cinco anos
cessão de Uso Especial (ininterruptamente) para fins de moradia e que
não seja proprietário de outro imóvel urbano
para fins de moradia ou rural.
FONTE: Adaptado de Brasil (1988), Brasil (2001) e Canário (2021)

75
Planejamento Urbano

QUADRO 14 – OBJETIVOS DO USUCAPIÃO URBANO COLETIVO/


CONCESSÃO COLETIVA DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA

Instrumento Objetivos
Usucapião Urbano Coleti- • População de baixa renda que estiver ocu-
vo/ Concessão Coletiva de pando áreas urbanas de, no mínimo, 250m²
Uso Especial para fins de e que a utiliza por cinco anos (ininterrupta-
moradia mente) para fins de moradia e que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
FONTE: Adaptado de Brasil (1988), Brasil (2001) e Canário (2021)

QUADRO 15 – OBJETIVOS DA CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO

Instrumento Objetivos
Concessão de Direito • Direito aplicável a terrenos públicos ou partic-
ulares para fins de urbanização, edificação e
Real de Uso outras utilizações de interesse social.
FONTE: Adaptado de Brasil (1988), Brasil (2001) e Canário (2021)

2.2.3 Instrumentos de Democratização


da Gestão Urbana
QUADRO 16 – OBJETIVOS DOS DEBATES, AUDIÊNCIAS E CONSULTAS PÚBLICAS

Instrumento Objetivos
• Solicitadas pelo poder público para a discussão de
projetos e planos urbanos de grande relevância
para a cidade.
• Pode ocorrer de duas formas: Referendo (o resulta-
do da votação ORIENTA a decisão dos governantes)
e Plebiscito (o resultado da votação vale como DE-
CISÃO FINAL).
Debates, Audiências
e Consultas Públicas

FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Canário (2021)

76
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

QUADRO 17 – OBJETIVOS DAS CONFERÊNCIAS SOBRE


ASSUNTOS DE INTERESSES URBANOS

Instrumento Objetivos
Conferências sobre • Trata-se de eventos e encontros periódicos
Assuntos de Interesses entre o poder público e a sociedade civil
Urbanos representada por diferentes setores da comu-
nidade.
• Um dos exemplos de conferência é o proces-
so de revisão de Planos Diretores, em que a
participação da sociedade nas decisões é
obrigatória.

FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Canário (2021)

QUADRO 18 – OBJETIVOS DO CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO URBANO

Instrumento Objetivos
Conselho de Desenvolvi- • Órgão colegiado que abrange os diferentes
mento Urbano setores da sociedade civil e o poder público.
• Possuem a incumbência de acompanhar e
fiscalizar as ações oriundas do planejamento
territorial.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Canário (2021)

QUADRO 19 – OBJETIVOS DO ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA (EIV)

Instrumento Objetivos
• Serve para medir o efeito de grandes em-
preendimentos em uma determinada região,
como o adensamento construtivo, áreas des-
matadas, impactos na renda da população etc.
Estudo de Impacto de Viz-
• Tal instrumento precisa estar alinhado com a
inhança (EIV)
população dos bairros próximos a esses em-
preendimentos, a fim de evitar incômodos
gerados por construções em desacordo com a
legislação vigente.
• Caso haja descumprimentos na lei, os propri-
etários desses empreendimentos deverão re-
alizar compensações ou contrapartidas nas
áreas em que os impactos irão incidir.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Canário (2021)

77
Planejamento Urbano

QUADRO 20 – OBJETIVOS DA GESTÃO PARTICIPATIVA DO ORÇAMENTO

Instrumento Objetivos
• Baseada em assembleias realizadas em dif-
erentes regiões da cidade a fim de captar as
prioridades de investimento público.
• Cada localidade é representada por “delega-
Gestão Participativa do
dos” que serão responsáveis por votar nas as-
Orçamento
sembleias que podem ser temáticas (com foco
na educação, saúde, habitação etc.) ou por
agrupamento urbano (idosos, jovens etc.).
FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Canário (2021)

QUADRO 21 – OBJETIVOS DA INICIATIVA POPULAR DE PROJETOS DE LEI

Instrumento Objetivos
Iniciativa Popular de Pro- • Reunião de um grande número de assinatu-
jetos de Lei ras a partir da sociedade civil para a proposição
de planos e projetos que poderá tramitar em
órgãos legislativos.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Oliveira (2012) e Canário (2021)

2.2.4 Instrumentos de Financiamento da


Política Urbana
QUADRO 22 – OBJETIVOS DO IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL
URBANO (IPTU) PROGRESSIVO NO TEMPO
Instrumento Objetivos
Imposto Predial e Territori- • Visa punir o proprietário de uma determinada
al Urbano (IPTU) Progres- localidade por não exercer a função social do
sivo no Tempo imóvel.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

QUADRO 23 – OBJETIVOS DA EMISSÃO DE TÍTULOS


Instrumento Objetivos
Emissão de Títulos • Caso em que o poder público municipal poderá
realizar a desapropriação de um imóvel após
cinco anos de cobrança do IPTU.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

78
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

QUADRO 24 – OBJETIVOS DA TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DE CONSTRUIR


Instrumento Objetivos
• Autoriza o proprietário de imóvel urbano a exer-
cer o direito de construir em um outro local,
quando as atividades do imóvel forem voltadas
à implantação de equipamentos urbanos e co-
Transferência do Direito
munitários, preservação do interesse histórico,
de Construir
paisagístico, social, ambiental ou cultural e tam-
bém em prol de programas de regularização
fundiária.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

QUADRO 25 – OBJETIVOS DA POLÍTICA TRIBUTÁRIA


Instrumento Objetivos
Política Tributária • Tarifas e tributos sobre imóveis e serviços pú-
blicos urbanos diferenciados em função do in-
teresse social.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e Oliveira (2012)

Como pudemos ver, existem vários instrumentos que, aliados aos Planos
Diretores, definem os índices urbanísticos para o ordenamento de uma cidade.
Dentre os seus principais objetivos estão o controle do aumento das cidades,
redução dos conflitos entre os usos e as atividades, o controle da mobilidade,
proteção de áreas verdes a fim de evitar a ocupação urbana e a manutenção dos
custos da propriedade (JUERGENSMEYER; ROBERT, 2003).

A figura a seguir apresenta alguns conceitos que podem parecer semelhantes,


mas que possuem diferentes definições:

FIGURA 6 – DIFERENÇAS ENTRE PARCELAMENTO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

FONTE: Gestão Urbana SP (2021, s.p.)

79
Planejamento Urbano

A figura anterior esclarece de uma forma muito didática como isso funciona.
Enquanto o parcelamento do solo se limita unicamente à divisão territorial do solo
(sentido macro), uma área ainda não construída, o uso se refere à distribuição
das funções na cidade (residencial, comercial, industrial) a partir da localização
definida pelo zoneamento urbano da cidade. Por fim, a ocupação é compreendida
em um sentido mais micro, olhando diretamente para os critérios construtivos que
devem ser seguidos pelo empreendimento.

Dessa forma, é possível observar uma gradual projeção do espaço físico da


cidade baseada na escala “do maior para o menor”. É preciso analisar e aplicar
diretrizes que impactem uma maior parcela da população (locais de comum e uso
público) para só depois olhar para “dentro” da edificação (critérios de altura, áreas
máximas a serem construídas etc.).

E é a partir desse enfoque em diferentes parâmetros que outros conceitos vão


surgindo na discussão do planejamento urbano para a efetividade do zoneamento
urbano. São eles:

FIGURA 7 – DESDOBRAMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

FONTE: Adaptada de Carmo (2021)

80
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

Como pôde ser observado na figura anterior, os parâmetros urbanísticos se


desmembram em diferentes ferramentas que se incorporam às grandezas e aos
índices urbanísticos. Vale lembrar que cada um deles deve ser observado sob o
ponto de vista da legislação municipal. É ela quem regula a sua implementação.

Para esses regramentos está incorporado, no planejamento de uma cidade,


o Código de Obras: Lei Municipal que dispõe sobre as regras gerais e específicas
para a aprovação de projetos, licenciamento, execução de edificações, permitindo
que haja construções, demolições e alterações de uso.

O quadro a seguir irá apresentar as características de cada uma das


grandezas urbanísticas que são regidas por essas legislações:

QUADRO 26 – SÍNTESE DAS GRANDEZAS URBANÍSTICAS

Representa a altura máxima


permitida para uma edificação.
Gabarito Depende da localização na
cidade. Geralmente, em áreas
mais centrais são permitidos
prédios mais altos.

Trata-se do recuo obrigatório


Afastamento que o lote deve possuir para
que uma edificação nova seja
construída.

Representa a soma da
Área metragem de todos os
construída pavimentos construídos em
um lote.

81
Planejamento Urbano

Somatório das áreas dos


Área útil espaços internos, sem
construída considerar paredes e
divisórias.

FONTE: Adaptado de Araújo (2011) e Souza (2015)

Essas características são fundamentais para iniciar o desenvolvimento


de qualquer projeto na malha urbana. É imprescindível realizar a análise das
legislações vigentes para que o projeto seja desenvolvido em conformidade com
elas.

Além das grandezas, também existe os índices urbanísticos, os quais


possuem o objetivo de delimitar até que ponto determinado poderá ter de
metragem construída e de áreas livres permeáveis:

QUADRO 27 – SÍNTESE DOS ÍNDICES URBANÍSTICOS

Taxa de Ocu- Trata-se da área de


pação (TO) projeção horizontal
sobre o lote.

É a porcentagem de
Taxa de Perme- área do lote que deve
abilidade (TP) permitir a infiltração
da água.

82
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

Coeficiente de É a relação entre a


Aproveitamen- área total construída
to (CA) e a área do lote.

Trata-se da metragem
Índice de Áreas
destinada às áreas ar-
Verdes
borizadas no terreno.

FONTE: Adaptado de Araújo (2011) e Souza (2015)

Justaposto a esses parâmetros, também podem surgir outros conceitos para


definir a ocupação no solo:

• Área bruta: área total do lote, incluindo ruas e praças.


• Área líquida: área destinada unicamente a fins residenciais.
• Densidade bruta: número total de moradores que residem em uma
determinada área.
• Densidade líquida: número de pessoas que residem em uma
determinada localidade, dividido pela área do lote.

Todas essas definições devem estar muito claras no dia a dia do planejador
urbano. É importante saber distinguir as suas características para que erros sejam
evitados, por exemplo, confundir Taxa de Ocupação (TO) com Coeficiente de
Aproveitamento (CA). Ou então não saber discernir área construída de área útil
construída.

Quando se relacionam os instrumentos econômicos com o planejamento


urbano, tende-se a estabelecer um disciplinamento da expansão urbana com o
intuito de incentivar determinadas atividades em prol do interesse comum. Dentre
eles está o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), ferramenta com potencial
para combater a atividade especulativa e promover a regularização fundiária de
locais atingidos pela segregação socioespacial (ARAÚJO, 2011; SOUZA, 2015).

83
Planejamento Urbano

Como vimos antes, uma das formas de promover essa equidade social no
espaço urbano é aplicando o IPTU progressivo no tempo, diretriz evidenciada no
Estatuto da Cidade e que promove esse aumento de imposto a edificações já
existentes e não aproveitados (BRASIL, 2001).

FIGURA 8 – FUNCIONAMENTO DO IPTU PROGRESSIVO NO TEMPO

FONTE: Yagura (2021, s.p.)

Esse aumento de tributos ocorreu a partir do momento em que é instaurado o


Plano Diretor, também no Estatuto da Cidade. Segundo a legislação:

Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social


quando atende às exigências fundamentais de ordenação da
cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento
das necessidades dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à
justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas,
respeitadas as diretrizes previstas no art. 2o desta Lei (BRASIL,
2001, s.p.).

A partir dessa lei, a propriedade urbana passou a ter obrigatoriamente uma


função, uma utilização. Não basta “ter” várias terras ou imóveis, mas esses
espaços precisam estar promovendo algum tipo de função, caso contrário, os
tributos serão aumentados para essa propriedade. Além disso, também poderá
haver desapropriações e outras punições.

Você consegue observar qual o objetivo desse instrumento? É tentar conter


a especulação imobiliária que ocorre em detrimento ao déficit habitacional
exorbitante no nosso país e que já falamos anteriormente.

O planejamento urbano ocorre dessa forma: inserindo ferramentas,


instrumentos, diretrizes para promover o ordenamento de uma cidade que vise
melhorar a qualidade de vida de todos os envolvidos.

84
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

E para que toda a cidade tente seguir uma organização territorial coerente,
existe o zoneamento. Tal instrumento faz parte do plano diretor de uma cidade
e visa distinguir a cidade a partir de agrupamentos, as chamadas zonas. Essa
separação funcional do território visa determinar em qual localidade poderá
existir uma densidade construtiva maior (construir mais) ou menor (construir
menos). Além disso, é por meio do zoneamento urbano que são definidos os usos
permitidos para determinadas localidades. Por exemplo: nas áreas centrais da
cidade há uma tendência para o uso misto (residencial e comercial), enquanto em
áreas mais afastadas, para os usos industriais.

Para reforçar a ideia de integração promovida a partir do zoneamento


urbano, Dorneles (2010, p. 465) aponta que “a divisão do território através do
zoneamento tem por objetivo delimitar a expansão urbana e a distribuição
espacial da população de forma a garantir o desenvolvimento econômico, social e
o equilíbrio ambiental”.

A figura a seguir apresenta o Zoneamento Urbano da cidade do Rio de


Janeiro, para que você possa perceber como esse instrumento é apresentado
junto ao Plano Diretor de cada cidade.

FIGURA 9 – ZONEAMENTO URBANO DO RIO DE JANEIRO/RJ

FONTE: Andreatta, Hazan e Denadai (2021, s.p.)

85
Planejamento Urbano

Cada localidade possui uma metodologia para determinar as limitações de


usos e ocupações ao longo do território de uma cidade. Enquanto o zoneamento
do Rio de Janeiro denomina Zona Residencial Unifamiliar (ZRU), outras cidades
podem trabalhar com Zona Residencial (ZR1), por exemplo.

1) Dentre os Instrumentos de Indução do Desenvolvimento Urbano


estão o Macrozoneamento e a Regulação do Uso e Ocupação
do Solo, responsáveis por delimitar o espaço urbano por zonas.
Sobre esses instrumentos, analise as seguintes asserções:

I. O Macrozoneamento se trata de uma delimitação pontual da


cidade, interferindo diretamente nas normas e ocupação dos
lotes.
II. A Regulação do Uso e Ocupação do Solo está condicionada à
função social da propriedade.
III. O Macrozoneamento é responsável por delimitar quais serão as
áreas residenciais, comerciais e industriais na cidade.
IV. Dependendo da Regulação do Uso e Ocupação do Solo, pode-se
promover ou combater a diferenciação socioespacial na cidade.

Assinale a alternativa correta:


a) ( ) I e II estão incorretas.
b) ( ) Apenas a alternativa IV está correta.
c) ( ) I, II e IV estão corretas.
d) ( ) II e III estão incorretas.
e) ( ) II e IV estão corretas.

2) Relacione as colunas:
( ) Altura máxima permitida em
1. Coeficiente de Aproveitamento (CA)
uma determinada localização.
2. Afastamento
( ) Área de projeção horizontal
3. Taxa de Ocupação (TO)
sobre o lote.
4. Gabarito
( ) Relação entre a área total
construída e a área do lote.
( ) Recuo obrigatório que o lote
deve possuir.

3) Existem vários instrumentos urbanos que visam vincular as


decisões legislativas à realidade da cidade. Sobre os Instrumentos
de Regularização Fundiária, assinale a alternativa correta:

86
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

a) ( ) O Usucapião Especial de Imóvel Urbano/Concessão de Uso


Especial para fins de moradia pode ser solicitado por indivíduos
que estejam residindo há mais de 5 anos em áreas de, no
mínimo, 250 m².
b) ( ) O Referendo e o Plebiscito são formas de participação
sociedade em Conferências sobre Assuntos de Interesses
Urbanos.
c) ( ) O Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) Progressivo
no Tempo serve para punir o proprietário de uma determinada
localidade por não exercer a função social do imóvel.
d) ( ) O Direito de Preempção se aplica a casos em que qualquer
indivíduo tem preferência no processo de compra e venda de
uma determinada área da cidade.
e) ( ) As alternativas B e C estão corretas.

3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Como pôde ser visto neste capítulo, abordamos as legislações que permeiam
o campo do planejamento urbano, sobre as estratégias atuais e as formas legais
de intervenção nas cidades.

Junto a essas leis estão os instrumentos, necessários para colocar em


prática todos os artigos e incisos traçados nas leis. Vimos que existem diferentes
tipos de instrumentos, desde aqueles que estão voltados ao planejamento em
nível macro e micro (Indução do Desenvolvimento Urbano) até aqueles que
se vinculam ao Financiamento da Política Urbana, os quais se articulam para
promover cidades que sigam o regramento estipulado pelos Planos Diretores,
sempre em consonância com o Estatuto da Cidade. Além disso, existem os
Instrumentos de Democratização da Gestão Urbana que defendem a participação
de diferentes setores da sociedade em todas essas decisões e os Instrumentos
de Regularização Fundiária que promovem a concessão de direitos.

Complexo, não? Isso tudo faz parte de uma cidade! Não basta projetar
a inclusão de uma rua sem levar em consideração a incidência de todos
esses instrumentos no município. Por isso falamos tanto da gestão integrada,
comunitária, sustentável. É preciso pensar no hoje, mas prevendo as implicações
de amanhã, tanto nos campos social, econômico, ambiental e cultural de uma
sociedade.

87
Planejamento Urbano

Com esses conhecimentos adquiridos e embasados em conceitos técnicos


aqui dispostos, será possível analisar as dinâmicas das políticas públicas frente
às necessidades urbanas atuais e aliar as propostas de planejamento urbano aos
instrumentos legais vigentes.

No próximo capítulo, visualizaremos como essas legislações e seus


respectivos instrumentos são aplicados em casos reais, para que você consiga
visualizar a aplicabilidade teórica em exemplos práticos, a fim de captar as
melhores estratégias para o desenvolvimento urbano local.

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em: https://abrelpe.org.br/panorama/. Acesso em: 28 abr. 2021.

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ocupação do solo. 2021. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.
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investigação do legado olímpico após as transformações urbanas na
cidade do Rio de Janeiro. 2020. 242 f. Dissertação (Mestrado) - Curso
de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, IMED, Passo Fundo, 2020.
Disponível em: https://www.imed.edu.br/Uploads/DISSERTACAO%20
FINAL_Felipe%20Buller%20Bertuzzi.pdf. Acesso em: 27 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o


marco legal do saneamento básico e altera a Lei nº 9.984,
de 17 de julho de 2000. Brasília: DOU de 16/7/2020.

88
Capítulo 2 OS INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO

BRASIL. Medida Provisória nº 818, de 11 de janeiro de 2018. Altera a Lei


nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015, que institui o Estatuto da Metrópole,
e a Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que institui as diretrizes da
Política Nacional de Mobilidade Urbana. Brasília: DOU de 12/1/2018.

BRASIL. Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015. Institui o


Estatuto da Metrópole, altera a Lei nº 10.257, de 10 de julho de
2001, e dá outras providências. Brasília: DOU de 13/1/2015.

BRASIL. Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da


Política Nacional de Mobilidade Urbana. Brasília: DOU de 4/1/2012.

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política


Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro
de 1998; e dá outras providências. Brasília: DOU de 3/8/2010.

BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece diretrizes


nacionais para o saneamento básico. Brasília: DOU de 8/1/2007.

BRASIL. Lei nº 11.124, de 16 de junho de 2005. Dispõe sobre o


Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o
Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui
o Conselho Gestor do FNHIS. Brasília: DOU de 17/6/2005.

BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Institui o


Estatuto da Cidade. Brasília: DOU de 11/7/2001.

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Brasil, de 5 de outubro de 1988. Brasília, 1988.

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91
Planejamento Urbano

92
C APÍTULO 3
O PLANEJAMENTO E O URBANISMO
CONTEMPORÂNEO

A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 instigar e promover o debate acerca dos desafios urbanos a partir


de trabalhos já realizados no âmbito nacional e internacional;
 capacitar o pensamento crítico e a prática de
técnicas para a análise do espaço urbano;
 analisar a viabilidade e o estudo de projetos urbanos bem-sucedidos;
 captar as melhores estratégias para o desenvolvimento urbano local;
 auxiliar na solução de problemas urbanos a partir de princípios sustentáveis.
Planejamento Urbano

94
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Após verificarmos toda essa carga teórica que sustenta a disciplina de
planejamento urbano, verificamos que é necessária a compreensão de que
a cidade é um local complexo, dotada de leis e instrumentos que norteiam as
decisões urbanas e, mais do que isso, precisam estar vinculadas a uma gestão
integrada, multidisciplinar.

Neste capítulo, portanto, veremos como tudo isso se aplica na prática das
cidades. A partir de alguns exemplos, veremos diferentes formas de planejar a
cidade sob a ótica de diferentes localidades, tanto nacionais quanto internacionais.
Veremos como o Estatuto vem sendo aplicado em algumas situações a fim de
facilitar o seu entendimento sobre essa lei que rege o espaço urbano.

Vale destacar que é importantíssimo olhar para os lugares que “deram certo”,
mas entender que não podemos replicá-los de modo literal (como modelos), isso
porque cada realidade, cada território possui a sua particularidade. Veremos os
pontos positivos, negativos, e sempre evidenciando a importância de o planejador
estar em completa sintonia com os demais agentes que devem fazer parte de
todo o processo.

Ao final, relacionaremos esses estudos de caso com os Objetivos de


Desenvolvimento Sustentável (ODS). Será que as cidades estão sendo pensadas
de forma inclusiva, segura, resiliente e sustentável?

Está preparado para desbravarmos todo esse conhecimento juntos? Lembre-


se sempre: A transformação só existirá se houver conhecimento!

2 OS DESAFIOS URBANOS DA
ATUALIDADE
Como pudemos verificar nas laudas anteriores, para que o planejamento
urbano aconteça é necessário seguir as legislações e os instrumentos que
direcionam as mais diferentes ações. Uma das leis que estão vinculadas a
essa lógica urbana é o Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001), em que sustenta
um planejamento urbano com a participação direta da sociedade a partir de um
melhor desempenho no corpo técnico-administrativo das gestões municipais a
partir de uma estrutura integrada sustentada pelo plano diretor.

95
Planejamento Urbano

Mas como realizar tudo isso na prática? E como fazer isso a partir de um
processo de planejamento participativo? Desenvolvendo um diagnóstico da
situação urbana do município a fim de descobrir os principais desafios a serem
enfrentados na cidade. Após, deve-se verificar junto à estrutura administrativa
municipal, a disponibilidade técnica disponível para a resolução desses desafios.
Por fim, deve-se consultar o acervo tecnológico da prefeitura a fim de verificar as
possíveis adequações e/ou modificações nas bases cartográficas e informações
do cadastro imobiliário.

Mas o que são essas bases cartográficas no âmbito urbano? São formas
de captação da imagem da cidade com o intuito de fornecer informações para as
projeções urbanas, como o lançamento de infraestruturas e cobranças de IPTU.
Segundo Teixeira (2000), a cartografia urbana apresenta os traçados urbanos
da cidade ou de partes dela, podendo ser observadas as estruturas existentes
como quarteirões, a localização das edificações e demais características físicas
pertencentes ao meio urbano. Tal conceito reforça o que Harley (1990) já dizia,
que as bases cartográficas tratam de uma representação gráfica de aspectos do
mundo real.

As formas de representação desse “mundo real” podem ser feitas de várias


formas: incialmente, capta-se a partir de imagens de satélite as características da
cidade. Após, é realizada uma “ortorretificação”, que nada mais é que a correção
das distorções que a imagem aérea pode gerar, a fim de traduzir a imagem
em desenhos com linhas e traços que forma os quarteirões, lotes e demais
características físicas. Além disso, também é possível encontrar as curvas de nível
a partir dessas imagens a fim de verificar quais lugares possuem declividades e
quais são planos.

É a partir dessa representação gráfica que podemos tomar conhecimento das


mais diferentes necessidades da cidade, sejam definições para o uso, ocupação
do solo e habitação, estratégias para a mobilidade urbana, saneamento, estudos
sobre as diferenças sociais, dentre muitos outros.

Fazendo uma analogia é como se precisássemos desse ingrediente (mapas


cartográficos) para elaborar uma receita (planos, diretrizes para a cidade) que
irá suprir a “fome” da população (resolução dos mais diferentes problemas).
Para reforçar, o quadro a seguir destaca a importância da cartografia para o
desenvolvimento das cidades.

96
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

QUADRO 1 – OBJETIVOS DA CARTOGRAFIA PARA O PLANEJAMENTO URBANO

Ferramenta de auxílio na TOMADA DE DECISÃO


Análise do ESPAÇO URBANO
CARTOGRAFIA E Orienta a política de DESENVOLVIMENTO e ORDE-
PLANEJANETO UR- NAMENTO
BANO Planeja a EXPANSÃO URBANA do município
Detecta os PROBLEMAS URBANOS e AMBIENTAIS
Auxilia no planejamento de POLÍTICAS PÚBLICAS
para as cidades
FONTE: Adaptado de Coelho (2021)

Um desses exemplos pode ser visto na Figura 1: a partir da imagem aérea


(A) é possível transcrever, a partir de outros softwares (como o AutoCAD, por
exemplo) (B) ou digitalizações, e captar essas informações por meio de desenhos.

FIGURA 1 – PROCESSO DE TRANSCRIÇÃO DAS INFORMAÇÕES


PARA A CRIAÇÃO DE BASES CARTOGRÁFICAS URBANAS

FONTE: Moreira (2016, s.p.)


É importante frisar
que as bases
É importante frisar que as bases cartográficas e o cadastro cartográficas e o
imobiliário são PRODUTOS oriundos de um PROCESSO de cadastro imobiliário
planejamento urbano sustentado pelo plano diretor municipal. são PRODUTOS
oriundos de um
PROCESSO de
É a partir dessas informações (dados cartográficos e do cadastro planejamento
imobiliário) que se obtém a leitura da realidade municipal e dá subsídio urbano sustentado
para uma atuação legítima. pelo plano diretor
municipal.

97
Planejamento Urbano

Após esses levantamentos, parte-se para o momento de verificação dos


recursos financeiros disponíveis e da observação da vontade política e dos mais
diversos seguimentos da sociedade. Para tanto, é necessário existir um Conselho
Municipal de Desenvolvimento Urbano, grupo de cunho consultivo (aconselha)
e deliberativo (decide). Assim, também, para fazer jus a uma fiscalização e
legitimação do planejamento participativo, deve-se haver um Núcleo Gestor ou
Comissão do Plano Diretor.

Uma equipe técnica do Plano Diretor é necessária para coordenar todos


os trabalhos que competem o planejamento, dotada de profissionais das mais
diferentes áreas, como arquitetos, engenheiros, assistentes sociais, biólogos
etc. E para colocar em prática todos os objetivos levantados pelas equipes
é necessário criar um plano de trabalho (termo de referência) a partir de uma
metodologia. Em resumo, deve-se:

QUADRO 2 – SÍNTESE DO PROCESSO DE PLANEJAMENTO URBANO


Sensibilizar as secretarias Construir soluções em CAPACITAR as sec-
municipais para a importân- conjunto com as represen- retarias e entidades
cia do PLANEJAR tações dos segmentos da
SOCIEDADE
FONTE: O autor

Como já trabalhado no capítulo anterior, o Estatuto da Cidade trata-se da Lei


que estabelece as diretrizes da política urbana no Brasil. É a partir dele que saem
planos diretores para fomentar o desenvolvimento das nossas cidades, visando
atender às necessidades da população (BRASIL, 2001).

É nesse sentido que, a seguir, você vai comparar algumas normativas


exigidas pelo Estatuto da Cidade e como ele vem sendo aplicado na prática, a
partir de casos reais (quadros 3 a 7):

98
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

QUADRO 3 – RELAÇÃO ENTRE O ESTATUTO DA CIDADE


E A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

O que o Estatuto da Cidade diz?


“XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e
construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arque-
ológico” (BRASIL, 2001)
Em outras palavras...
Deve-se assegurar a manutenção de edificações e localidades históricas, pois
resguardam a memória e a história de uma cidade.
O problema:
Muitos prédios antigos, apesar de não
serem tombados como patrimônio
histórico e cultural, passar por anális-
es para verificar a existência ou não de
um valor arquitetônico que justifique
essa certificação do edifício. O que
acontece muitas vezes é a demolição
desses prédios para a inserção de no-
vos empreendimentos. Perante a lei,
não há impedimento para a demolição
desses prédios desde que sejam
seguidas as normativas relativas à
construção civil. Vale ressaltar que a
demolição de prédios tombados con- Prédio antigo, em Fortaleza/CE
stitui crime contra o patrimônio cultural.
A solução:
Uma das formas de garantir a per-
manência de uma edificação histórica
que represente um valor à cidade é o
processo de tombamento. A imagem
ao lado foi considerada Patrimônio
Histórico e Cultural do Estado do Rio
do Janeiro para fins de preservação.
Dessa forma, ficam impedidas alter-
ações estruturais e a comercialização
deste imóvel. Escola Municipal Cicero Penam no Rio
de Janeiro/RJ
FONTE: Adaptado de Extra (2021) e Diário do Nordeste (2021)

99
Planejamento Urbano

QUADRO 4 – RELAÇÃO ENTRE O ESTATUTO DA


CIDADE E O ESTUDO DE IMPACTO DE
VIZINHANÇA (EIV)

O que o Estatuto da Cidade diz?


“XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada
nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com
efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou con-
struído, o conforto ou a segurança da população” (BRASIL, 2001)
Em outras palavras...
Tal diretriz volta-se para o direito à gestão democrática urbana, o qual garante o
acesso e o poder de interferência da população nas decisões e implementações
da política urbana.
O problema:
Será que as nossas cidades es-
tão preparadas para ouvir de fato
a população? Ou simplesmente
impõem decisões urbanas unilat-
erais que não resolvem os reais
problemas da população?

Na charge ao lado, vemos que


a implantação de um empreen-
dimento incomodou moradores
do entorno. Isso demonstra que
muito provavelmente não houve Trata-se da análise prévia dos efeitos que
esse diálogo, faltando um Estudo novos empreendimentos podem gerar no seu
de Impacto de Vizinhança (EIV) entorno. No caso da charge, esse problema
consistente. aparece como um adensamento construtivo
Lembra que já falamos desse in- em uma área que impossibilitou o acesso
strumento no capítulo anterior? viário e até visual para lojas que já estavam
instaladas naquela redondeza.
A solução:
No caso da imagem a seguir, é possível observar que um empreendimento que
comercializa fast-food foi instalado em frente a uma rua bastante movimentada
de Curitiba/PR. Você saberia dizer qual impacto pode ser gerado a partir dessa
implantação?
Essa situação é clássica de um impacto na circulação viária, em que haverá uma
tendência de aumento na fluidez do trânsito devido a esse empreendimento. São
os chamados polos geradores de tráfego.

100
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

A solução encontrada para esse


problema foi a criação de uma
via paralela à via principal que dá
acesso ao estacionamento da em-
presa, evitando que hajam impac-
tos indesejáveis no trânsito.
Mas lembre-se: cada caso preci-
sa ser avaliado de forma individ-
ual, pois depende do contexto em
que está inserido! Não existem Empreendimento em Curitiba/PR
modelos a serem replicados. As
soluções emergem da interativi-
dade entre todos os envolvidos!
FONTE: Adaptado de Brasil (2001) e DENATRAN/FGV (2001)

QUADRO 5 – RELAÇÃO ENTRE O ESTATUTO DA CIDADE E O DIREITO À MORADIA

O que o Estatuto da Cidade diz?


“XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por popu-
lação de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de
urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação
socioeconômica da população e as normas ambientais” (BRASIL, 2001)
Em outras palavras...
A diretriz tem o intuito de garantir o direito à moradia de milhões de brasileiros
que vivem em condições precárias, considerados ilegais e irregulares pela leg-
islação urbana.
O problema:
O Estatuto da Cidade visa pro-
teger legalmente o direito à
moradia para as pessoas que
vivem em favelas, loteamentos
populares e periferias a partir
da urbanização de áreas ocu-
padas pela população consid-
erada de baixa renda.

Loteamento irregular em Sorocaba/SP


A solução:
Uma dessas formas é estabelecer as Zonas Especiais de Interesse Social
(ZEIS), definidas a partir do zoneamento da cidade e que reservam áreas para
este fim.

101
Planejamento Urbano

Imagem ilustrativa que representa a


Empreendimento habitacional Canaã em
destinação de áreas da cidade para
Passo Fundo/RS
as ZEIS

FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Secretaria de Obras e


Habitação (2018) e Jornal Cruzeiro do Sul (2018)

QUADRO 6 – RELAÇÃO ENTRE O ESTATUTO DA CIDADE E A


SIMPLIFICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO DE PARCELAMENTO

O que o Estatuto da Cidade diz?


“XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo
e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o au-
mento da oferta dos lotes e unidades habitacionais” (BRASIL, 2001)
Em outras palavras...
Os parâmetros atuais são complexos e dificultam a possibilidade de ofertar lotes.
A simplificação desse processo auxiliaria na obtenção de mais moradias, garan-
tindo as condições de salubridade e qualidade ambiental.
O problema:
Um dos problemas que envolvem
esse assunto é a alta burocracia
cobrada para a aprovação de pro-
jetos nas prefeituras. Segundo a
legislação, o prazo para a análise
de projetos gira em torno de 30 dias.
No entanto, como podemos ver na
imagem ao lado, esse prazo se es-
tende por muito mais tempo. Esse
problema pode sim ser causado
pela alta demanda de processos,
mas também pela elevada buroc-
racia que a legislação exige. Essa Notícia do Jornal O Progresso, de Doura-
morosidade nas análises gera, por- dos/MS
tanto, o atraso no início das obras.

102
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

A solução:
Uma das formas de se resolver ou ao menos amenizar tal situação, seria simpli-
ficar o trabalho da avaliação dos processos, tendo em vista que já existe profis-
sional(is) habilitado(s) para responder por inconformidades na legislação. Desse
modo, será que precisaria de uma análise bastante morosa por parte da prefei-
tura?

O processo de desburocratização já é algo visado por várias prefeituras e gov-


ernos. Um desses casos pode ser visto no Distrito Federal: o governo local sim-
plificou processos e regularizou 28 áreas e aprovou 11 parcelamentos de solo, o
que beneficiou mais de 225 mil habitantes, segundo notícia da Agência Brasília
(2021). Houve, também, a aprovação histórica de 2.220 alvarás de construção
durante a pandemia da COVID-19.

Notícia veiculada no Jornal Agência Brasília (2021)

Outra forma de acelerar esse processo pode ocorrer a partir da implantação de


plataformas digitais que permitam agilizar o processo de documentação e tam-
bém facilitam a inter-relação entre os próprios órgãos internos da prefeitura.
FONTE: Adaptado de Brasil (2001), Marques (2021) e Agência Brasília (2021)

103
Planejamento Urbano

QUADRO 7 – RELAÇÃO ENTRE O ESTATUTO DA CIDADE


E A HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
O que o Estatuto da Cidade diz?
“XVI – Isonomia de condições para os agentes públicos e privados na pro-
moção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urban-
ização, atendido o interesse social” (BRASIL, 2001)
Em outras palavras...
É importante que haja uma integração efetiva entre os entes públicos e privados,
dialogando com a população da cidade.
O problema:
Mesmo com uma legislação defend-
endo a discussão entre os mais dif-
erentes entes envolvidos em uma
determinada proposição urbana, em
muitos casos, as prefeituras não con-
sideram de fato os anseios da popu-
lação.

A imagem ao lado retrata um dess-


es casos. Ao contrário do que rege
o Plano Diretor de Niterói/RJ, os tra-
balhadores locais de vários quiosques
da Praia de Charitas não foram infor-
mados sobre a requalificação urbana
que será feita na orla do bairro. Se-
gundo O GLOBO (2021), o Plano Di-
retor estabelece que a regularização
das políticas de urbanismo da cidade
deve considerar o diálogo com todos
os entes envolvidos.

104
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

A solução:
Um exemplo que é fruto de uma gestão integrada foi a requalificação da Rua
14 de Julho, na cidade de Campo Grande/MS. A partir de um estudo desen-
volvido em parceria com a Prefeitura Municipal e o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), as alterações propostas para a área visaram captar as
percepções de empresários e consumidores da Rua 14 de Julho (CG NOTÍCIAS,
2021). Em pesquisa recente, 93% da população e dos comerciantes aprovaram
as mudanças realizadas na área. Consequência de um trabalho em conjunto, a
partir da criação de ecossistemas que promoveram métodos interativos de coop-
eração para que o resultado pudesse ir de encontro com as necessidades locais.

Rua 14 de Julho, de Campo Grande/MS, após ser revitalizada

Ao olhar para este exemplo, podemos lembrar os conceitos que estudamos nos
outros capítulos deste livro: a gestão integrada a partir das dimensões social,
econômica, ambiental e cultural. É preciso que haja um processo interativo entre
os envolvidos. Não somente sob a perspectiva da consulta, do “sim” ou “não”,
mas da investigação dos anseios dos indivíduos que realmente irão usufruir do
espaço urbano. Recentemente, a cidade tem sido entendida como um processo,
algo não estático, e que precisa de modos de interação constantes. Isso sustenta
conceitos novos de “co-cidade”, “cidade compartilhada” e “cidades inteligentes”.
FONTE: Adaptado de Brasil (2021) e O Globo (2021)

1) A cartografia urbana trata-se da captação da imagem da cidade


com o intuito de fornecer informações para as projeções urbanas,
como o lançamento de infraestruturas e cobranças de IPTU.
Sobre essa temática, assinale a alternativa INCORRETA:

a) ( ) A cartografia urbana apresenta os traçados urbanos da


cidade, podendo ser observadas posteriormente as estruturas
existentes como quarteirões, a localização das edificações e
demais características físicas.

105
Planejamento Urbano

b) ( ) Não é preciso realizar correção das distorções que a


imagem aérea pode gerar, pois a imagem já apresenta de forma
automática as linhas e traços que formam os quarteirões, lotes e
demais características físicas.
c) ( ) É a partir dessa representação gráfica que podemos tomar
conhecimento das mais diferentes necessidades da cidade,
sejam definições para o uso, ocupação do solo e habitação,
estratégias para a mobilidade urbana, saneamento, estudos
sobre as diferenças sociais, dentre muitos outros.
d) ( ) A cartografia urbana orienta a política de desenvolvimento e
ordenamento e planeja a expansão urbana do município.
e) ( ) A cartografia urbana detecta os problemas urbanos e
ambientais e auxilia no planejamento de políticas públicas para
as cidades

2) O Estatuto da Cidade trata-se da Lei que estabelece as diretrizes


da política urbana no Brasil. É a partir dele que saem planos
diretores para fomentar o desenvolvimento das nossas cidades,
visando atender às necessidades da população. É a partir dele
que devem ser elaborados os planos diretores do município. No
âmbito do planejamento urbano, responda:

I. A isonomia de condições para os agentes públicos e privados


na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao
processo de urbanização, atendido o interesse social refere-
se à integração efetiva entre os entes públicos e privados, sem
necessariamente dialogar com a população da cidade.
II. A regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas
por população de baixa renda mediante o estabelecimento de
normas especiais de urbanização se resume em garantir o direito
à moradia de milhões de brasileiros que vivem em excelentes
condições, considerados legais e regulares pela legislação
urbana.
III. Dentre as formas de proteção, preservação e recuperação do
meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural,
histórico, artístico, paisagístico e arqueológico está o tombamento
de edificações históricas em prol da preservação da cultura e
identidade locais.
IV. Para o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) torna-se opcional
realizar audiências do Poder Público municipal e da população
interessada nos processos de implantação de empreendimentos
ou atividades com efeitos potencialmente negativos.

106
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

V. A equipe técnica do Plano Diretor visa coordenar todos os


trabalhos que competem o planejamento, dotada de profissionais
das mais diferentes áreas, como arquitetos, engenheiros,
assistentes sociais, biólogos etc.

a) ( ) I e II estão incorretas.
b) ( ) Apenas a alternativa V está correta.
c) ( ) I, II e IV estão corretas.
d) ( ) III e V estão corretas.
e) ( ) II e IV estão incorretas.

3) A isonomia de condições para os agentes públicos e privados


na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao
processo de urbanização, atendido o interesse social é de
extrema importância para uma integração efetiva entre os entes
públicos e privados, dialogando com a população da cidade.
Vimos, neste capítulo, um exemplo de exclusão da sociedade em
importantes discussões. Nesse sentido, descreva qual é a melhor
solução técnica para resolver esse problema de gestão.

2.1 ESTUDOS DE CASOS


A seguir, apresentaremos a análise de algumas cidades que dão exemplos de
planejamento urbano, mas que também mostram como as tentativas de planejar a
cidade pode não dar certo.

A cidade de Copenhagen, capital da Dinamarca, é um desses exemplos


positivos. Conhecido como o “Plano dos Cinco Dedos”, um plano de mobilidade
urbana, o desenvolvimento de linhas de transporte foi fortemente incentivado a
partir de cerca de 1,2 mil pontos de ônibus, transporte aquático e metrô, os quais
compuseram o sistema de transporte público da cidade (ESTADÃO, 2020).

Além disso, a cultura da bicicleta é uma forma de locomoção muito respeitada


na cidade. Para se ter uma ideia, a cidade é dotada de estacionamentos para as
bicicletas em diversos pontos da cidade, estrategicamente alocados nas estações
de ônibus e metrô. Os semáforos são sincronizados para garantir que os ciclistas
não precisem parar em momentos de grande fluxo de veículos.

107
Planejamento Urbano

FIGURA 2 – TIPOS DE MOBILIDADE URBANA EM COPENHAGUE

FONTE: Estadão (2020, s.p.)

Além dessa preocupação com a qualidade de vida, o fomento a um transporte


público de qualidade está diretamente relacionado à utilização de energia
renovável e aos conceitos de mobilidade verde e cidade inteligente.

“A forma urbana Consegue visualizar uma gestão integrada que vincula as


e o desenho de dimensões social, econômica, ambiental e cultural? “A forma urbana
Copenhagen são
e o desenho de Copenhagen são o produto de um tráfico ferroviário
o produto de um
tráfico ferroviário cuidadosamente integrado sob um desenvolvimento urbano” (GHIDINI,
cuidadosamente 2009, p. 10).
integrado sob um
desenvolvimento Mas por que a cidade de Copenhagen se voltou para uma
urbano” (GHIDINI, mobilidade urbana focada no pedestre e nos ciclistas? Isso se deu a
2009, p. 10).
partir de um planejamento urbano voltado à diminuição da congestão de
veículos, desde a década de 1970. Vale ressaltar que não se tratou do extermínio
do uso do carro, mas sim da readequação de um modo de locomoção motorizado.
Como consequência da aplicação dessas estratégias, o fluxo de veículos foi
reduzido em 10%, o que hoje resulta em uma média de 330 automóveis para cada
1 mil habitantes (GHIDINI, 2009).

108
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

Além disso, Ghidini (2009) também destaca outras táticas que foram inseridas
no meio urbano em prol da mobilidade urbana sustentável: uso da bicicleta,
sinalização preferencial para os ônibus, aumento da quantidade de ônibus que
alcançassem as mais diferentes regiões da cidade, entre outros.

A expressão “mobilidade urbana sustentável” remete à


integração da proteção ambiental, à sustentabilidade econômica
e à justiça social, importantes condicionantes no processo de
planejamento (IPEA, 2016). Daremos como exemplo o carro, que,
por si só, fere a dimensão ambiental por ser movido a substâncias
poluentes ao meio ambiente, seu custo acaba sendo caro devido
às condições de obtenção e manutenção (economia) e a sociedade
muitas vezes não consegue adquiri-lo ou mantê-lo, dada as
condições de desigualdade (justiça social). Além de tudo isso, o carro
é uma forma de locomoção individual que toma muito espaço da
via pública, ao contrário de um ônibus que consegue abrigar mais
pessoas e otimizar o espaço utilizado.

Além de uma análise de muitos fatores para a proposição dessas estratégias,


dentre elas estava o fato de a cidade de Copenhagen possuir declividades muito
baixas, o que a torna ideal para a utilização da bicicleta (COLVILLE, 2015; KUNZ,
2018) – o que talvez justifique um poder cultural muito forte em prol do uso da
bicicleta como meio de locomoção. A Figura 3 apresenta a evolução da malha
cicloviária de Copenhagen.

109
Planejamento Urbano

FIGURA 3 – MAPA REPRESENTATIVO DA EVOLUÇÃO DA MALHA


CICLOVIÁRIA DE COPENHAGEN ENTRE OS ANOS DE 1912-2013

FONTE: Carstensen et al. (2015, p. 6)

110
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

Similar a Copenhagen no que tange ao planejamento urbano embasado na


mobilidade sustentável temos a cidade brasileira de Curitiba/PR. Considerado
como um novo “paradigma urbanístico”, a maior cidade do sul do Brasil é
considerada um exemplo de bastante destaque quando se trata de uma
transformação urbana em prol das pessoas (DIAS; JÚNIOR, 2017).

O quadro a seguir apresenta o caminho do desenvolvimento territorial de


Curitiba que resultou nas diretrizes urbanas que conhecemos hoje:

QUADRO 8 – BREVE LINHA DO TEMPO QUE RESUME A TRAJETÓRIA


DE CURITIBA/PR NO PROCESSO DE PLANEJAMENTO URBANO

COMISSÃO DE SEMINÁRIO
PLANO PLANEJAMENTO CURITIBA DO IPPUC PLANO
AGACHE DE CURITIBA AMANHÃ (1965) DIRETOR
(1941-1943) (1954) (1965) (1966)

Debates entre Instituto de


1º Plano De Período de mod- autoridades mu- Pesquisa
Urbanização de ernização no nicipais e rep- e Plane- 1º Plano
Curitiba/PR planejamento ur- resentantes da jamento Diretor de
bano sociedade civil Urbano de Curitiba
Curitiba
(IPPUC)
Ações: adoção Ações: mod- Ações: sur- Ações: Ações:
do sistema radial ernizar o Plano gimento da constituído Consol-
de vias Agache, atuali- Assessoria de para nor- ida as
Organização zando-o para a Pesquisa e tear a or- políticas
da cidade por nova realidade da Planejamento ganização urbanas
setores (indus- cidade que super- Urbano de Cu- territorial impor-
trial, comercial, ava 180 mil habi- ritiba (APPUC) da cidade tantes
administrativo, tantes para a posterior a partir de para o
educacional, criação do Pla- um Plano desen-
desportivo e res- no Preliminar Diretor volvi-
idencial de Urbanismo mento de
Ampliação da (PPU) e do Curitiba
rede de esgoto Instituto de
População es- Pesquisa e
timada: 140 mil Planejamento
habitantes Urbano de Cu-
ritiba (IPPUC)

FONTE: Prefeitura Municipal de Curitiba (2015, s.p.) e Instituto de


Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (2021, s.p.)

111
Planejamento Urbano

Foi no ano de 1965 que as transformações iniciaram na capital paranaense.


O Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) foi constituído para
nortear a organização territorial da cidade a partir do Plano Diretor. O arquiteto e
urbanista Jaime Lerner, que participou da criação da entidade, ajudou a nortear o
início dos trabalhos urbanos que envolveram uma ação direta no fluxo de veículos
e no crescimento espacial urbano. Na prática, houve restrições no trânsito de
veículos na área central da cidade de Curitiba (DIAS; JÚNIOR, 2017).

Além disso, pode-se dizer que Curitiba já apostava em uma gestão integrada
que promovia várias diretrizes urbanas, baseando-se nas três funções básicas
que se resumem em Uso do Solo, Transporte Coletivo e Sistema Viário:

FIGURA 4 – TRÊS FUNÇÕES BÁSICAS DO PLANEJAMENTO DE CURITIBA/PR

FONTE: IPPUC (2021, s.p.)

QUADRO 9 – DIRETRIZES CRIADAS AS PARTIR DAS FUNÇÕES


BÁSICAS URBANAS DA CIDADE DE CURITIBA/PR

1. Hierarquização do sistema viário


2. Zoneamento do uso do solo
3. Regulamentação dos loteamentos
4. Renovação urbana
5. Preservação e revitalização dos setores históricos tradicionais
6. Oferta de serviços públicos e equipamentos comunitários
FONTE: IPPUC (2021, s.p.)

112
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

Houve, também, a definição de uma distribuição dos corredores de


transporte de forma linear e não radial (SOUZA, 2001; DIAS; JÚNIOR, 2017). A
Figura 5 apresenta a adequação da cidade ao Sistema Trinário que instauraria o
crescimento linear idealizado: uma via destinada ao transporte coletivo, duas vias
para o tráfego lento (de acesso a comércio e residências) e duas vias de tráfego
rápido em sentidos opostos.

FIGURA 5 – CONFIGURAÇÃO ESPACIAL LINEAR A PARTIR


DO SISTEMA TRINÁRIO DE CURITIBA/PR

FONTE: IPPUC (2021, s.p.)

Observa-se na figura anterior que a conformação linear respaldada pelo


Sistema Trinário ligou trechos na malha viária que até então estavam isolados.
Mas não basta pensar somente na mobilidade urbana se o uso e ocupação do
solo não forem idealizados de forma conjunta. Para tanto, o planejamento da
cidade se baseou em uma ocupação de alta densidade (alto potencial construtivo)
nas áreas centrais destinadas às zonas comerciais e, à medida que os quarteirões
vão se afastando do centro, passou a ser definido – agora sim de forma radial –
às demais zonas: residencial, rural, verde e especial.

FIGURA 6 – CONFIGURAÇÃO ESPACIAL LINEAR A PARTIR


DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DE CURITIBA/PR

FONTE: IPPUC (2021, s.p.)

113
Planejamento Urbano

Essas foram as diretrizes traçadas nas primeiras soluções para a cidade.


É evidente que, ao longo dos anos, novas proposições precisam ser feitas,
movimentadas pelo aumento populacional, novos hábitos, dentre outros aspectos
a considerar.

De acordo com o Ranking Connected Smart Cities 2020, promovido pela


Urban Systems, que coleta os dados de municípios brasileiros que possuam mais
de 50 mil habitantes, Curitiba foi considerada a terceira cidade mais inteligente
do Brasil dentre os 673 municípios avaliados (Figura 7). Isso se deu a partir da
análise de 70 indicadores em 11 eixos temáticos distintos: Mobilidade, Urbanismo,
Meio Ambiente, Tecnologia e Inovação, Empreendedorismo, Educação, Saúde,
Segurança, Energia, Governança e Economia (URBAN SYSTEMS, 2021b).

FIGURA 7 – CURITIBA, CLASSIFICADA COM O 3º LUGAR


NO RANKING CONNECTED SMART CITIES 2020

FONTE: Urban Systems (2021b, s.p.)

114
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

A imagem anterior mostra que Curitiba ficou em primeiro lugar no eixo temático
“Urbanismo”, o qual o resultado se origina da análise considera vários indicadores
(Figura 8). Dentre os motivos que fizeram Curitiba estar nessa posição, destacam-
se: o atendimento urbano de água e esgoto em 100% da cidade; o investimento
ser de R$ 655,00 por habitante em urbanismo; 100% da população viver em área
de médio e alto adensamento (URBAN SYSTEMS, 2021a).

FIGURA 8 – INDICADORES DO EIXO TEMÁTICO “URBANISMO”


DO RANKING CONNECTED SMART CITIES 2020

FONTE: Urban Systems (2021a, s.p.)

A lista completa e mais detalhes da classificação das cidades,


eixos temáticos, indicadores, entre outros, pode ser verificado no
“Ranking Connected Smart Cities 2020” disponível em: https://
d335luupugsy2.cloudfront.net/cms/files/48668/1600973008Ranking_
CSC_2020.pdf.

Outra indicação que deixamos a você é o portal intitulado


“Connected Smart Cities” que reúne conteúdos, notícias, eventos
dos mais diversos temas relacionados aos eixos temáticos que vimos
anteriormente. Vale a pena acessá-lo com frequência para verificar
o que vem sendo feito para garantir cidades inteligentes humanas e
sustentáveis: https://portal.connectedsmartcities.com.br/.

115
Planejamento Urbano

Todas essas avaliações são para dizer “esta cidade possui condições que
garantam o bem-estar humano”.

Dias e Júnior (2017) fazem uma relação direta entre as intervenções em


mobilidade urbana e a alta qualidade de vida nas cidades. Para os autores, essa
sinergia faz emergir um sentimento de “um sentimento de pertencimento e orgulho
da população, que possibilita, ao curitibano, não só o desfrute e a autoexpressão,
mas também o cuidado com seus espaços públicos, servindo de exemplo para o
restante do País” (DIAS; JÚNIOR, 2017, p. 656).

A figura a seguir elucida a relação entre diferentes épocas que retratam


hábitos também distintos.

FIGURA 9 – RELAÇÃO ENTRE ÉPOCAS DISTINTAS NA CIDADE DE CURITIBA/PR

FONTE: Dias e Júnior (2017)

Gehl (2014) destaca que a apropriação humana no espaço público


deve emergir de uma cidade viva em que as pessoas se sintam convidadas a
permanecer, caminhar ou pedalar nos mais variados espaços. E em meio ao
processo de desenvolvimento das cidades, novas formas de gestão vêm sendo
pensadas com o intuito de aproximar cada vez mais a população de fóruns
e discussões sobre a cidade. Nesse aspecto, um novo conceito chamado
“Governança Antecipatória”, que consiste na exploração, previsão, definição e
direção de estratégias para uma determinada região (RAMOS, 2016).

Em outras palavras, essa forma de gestão da cidade visa envolver a


sociedade em todos os passos do processo; consiste em mapear direções que
realmente resolvam os problemas da sociedade. Não basta mudar a cidade
simplesmente para deixá-la bela, mas sim que a cidade se torne também útil para
a população que ali vive.

116
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

Reflexão: Volte à imagem anterior e analise: qual das imagens


demonstra uma interação e um sentimento de pertencimento mais
forte à cidade?

Na sequência, traremos um caso de planejamento urbano brasileiro que, na


verdade, se trata de um exemplo a “não ser seguido”. Isso mesmo! Precisamos
estar atentos às propostas que não deram certo para tentar não repeti-las.

O caso é bastante emblemático: trata-se do planejamento de Brasília, no


Distrito Federal, inaugurada no ano de 1960. Você se recorda dos princípios
modernistas que falamos no início deste livro?

Pois então... Brasília/DF seguiu as diretrizes desse movimento, criando


zoneamento de atividades, grandes blocos afastados e ensolarados circundados
por grandes vias (LING, 2019). Proposta pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa,
a “nova” cidade que viria a ser a capital do Brasil foi proposta com base nos
princípios dos CIAM e da Carta de Atenas (OLIVEIRA, 2008).

Projetada a partir de dois eixos: o Eixo Monumental, destinado às áreas dos


poderes executivo, legislativo e judiciário e alocadas na área central do Plano
Piloto de Brasília (formato de “avião”). Próximo a esse centro, foram situados os
setores comerciais. Já o Eixo Rodoviário deu espaço para os setores residenciais,
representados pelos grandes quarteirões (NÓBILE, 2010).

FIGURA 10 – PROJETO URBANO DESENVOLVIDO POR LÚCIO COSTA


PARA O CONCURSO DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA/DF, EM 1957

FONTE: Oliveira (2008)

117
Planejamento Urbano

Em meio a um contexto histórico em que o desenvolvimento do automóvel se


fortalecia, o sistema ferroviário deixou de ser prioridade, elucidando o fomento ao
transporte individual. Você já deve ter ouvido falar que Brasília foi “projetada para
os carros”, certo? E realmente foi. Isso porque as superquadras – como o próprio
nome já diz – destoam de um processo de caminhabilidade e apropriação pela
população. Apesar de esses quarteirões terem sido pensados de forma aberta ao
público, para que as áreas verdes se comunicassem com as vias e a população
pudesse caminhar e se utilizar desses espaços livres, existe um outro problema:
o clima árido do Cerrado que dificulta a transição de pedestres. O paisagismo
projetado para a cidade não produz sombreamentos, o que também problematiza
o conforto térmico da cidade. Essas condições, portanto, intensificam a utilização
do carro como o melhor meio de locomoção em Brasília (CHICONI, 2015).

Outro problema bastante evidente da capital do Brasil é a segregação


socioespacial, massificada após o surgimento das cidades-satélite. Já no Plano
Piloto desenvolvido por Lúcio Costa havia previsão de que essas novas regiões
existiriam. No entanto, "As cidades-satélites não deveriam ter surgido como
uma periferia da cidade", ressalta o arquiteto e urbanista Henrique de Carvalho,
pesquisador na USP (VEIGA, 2020, s.p.).

Cidade-satélite é o nome que se dá a centros urbanos formados


a partir de um ponto urbano central. No caso de Brasília/DF, existem
15 cidades-satélite que circundam o Plano Piloto.

Vê-se, portanto, que apesar de parecer uma cidade “perfeita” e totalmente


planejada com a distribuição das funções urbanas de maneira metódica, os
problemas urbanos foram sendo evidenciados muito fortemente ao longo dos
anos. Havia a previsão de que a cidade teria cerca de 500 mil habitantes 40 anos
depois, em 2000. O problema é que, segundo o censo do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), a população tinha quatro vezes mais que o
planejado: cerca de 2 milhões de habitantes (NÓBILE, 2010). A estimativa para o
censo do IBGE para 2020 é de uma população de 3 milhões de habitantes.

A qualidade de vida urbana desvanece diante das grandes distâncias a serem


percorridas diariamente, do transporte de massa ineficiente, que consome energia
e tempo, e da demanda por novas infraestruturas, que acrescenta problemáticas

118
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

ambientais, entre tantas outras. [...] A única certeza reside na necessidade de


uma mudança de paradigma, que pense a cidade para os seus cidadãos (DIAS;
JÚNIOR, 2017, s. p.).

Ao contrário de Brasília/DF, em que a locomoção individual é imprescindível


devido às grandes distâncias, temos a cidade-Estado de Singapura, no continente
Asiático, que viu a sua população crescer quase o dobro nos últimos 30 anos (G1,
2018).

Tal crescimento populacional se dá em grande parte pela busca por melhores


condições econômicas e de acesso a serviços de qualidade como a saúde
e a educação. E foi baseado na preocupação com as pessoas que Singapura
desenvolveu diretrizes para o planejamento urbano.

QUADRO 10 – 10 PRINCÍPIOS PARA SE VIVER EM CIDADES DE


ALTA DENSIDADE DESENVOLVIDOS PARA SINGAPURA
01 Planejamento para Crescimento a Longo-Prazo e Renovação
• Metas de longo a médio prazo;
• Controle de desenvolvimento de modo responsável;
• Decisões inteligentes de planejamento prematuro em prol de uma "cidade
habitável".

119
Planejamento Urbano

02 Abrace a Diversidade, Adote a Inclusão


• Projetando para uso misto e flexibilidade no uso de terra garante que as co-
munidades não dependam só de uma indústria para sua economia.

03 Traga a Natureza Para Perto das Pessoas


• As cidades precisam estar dotadas de espaços com massas verdes,
parques, corpos de água, locais de recreação. Essas inserções naturais no
meio urbano auxiliam no controle da qualidade do ar e das temperaturas,
a fim de reduzir o valor provocado pelo aquecimento de coberturas imper-
meáveis no solo.

120
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

04 Desenvolvimento Acessível, Bairro de Uso Misto


• Projeção de bairros compactos e autossuficientes visando fortalecer os
laços comunitários e diminuir a agitação dos grandes centros.

05 Faça os Espaços Públicos Funcionarem


• Reativar espaços inutilizados a fim de gerar oportunidades de desenvolvi-
mento e gerar vitalidade à cidade.

121
Planejamento Urbano

06 Priorize o Transporte Verde e Opções de Construção


• Incentivo ao transporte verde a fim de reduzir o consumo;
• Gestão consciente de recursos;
• Ampliação da rede de transporte público;
• Percursos de pedestres seguros e acessíveis.

07 Alivie a Densidade com Variedade e Cordões Verdes


• Zoneamento estratégico de uso misto (edifícios altos e baixos em uma mes-
ma região).

08 Ative Espaços para Maior Segurança


• A aplicação do princípio “os olhos da vizinhança na rua” tende a gerar uma
maior sensação de segurança de quem reside e transita na região, gerando
um sistema de inclusão natural baseado na confiança entre vizinhos e comu-
nidades.

122
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

09 Promover Inovação e Soluções Não Convencionais


• Busca por novas soluções e inovações aos problemas urbanos no que diz
respeito à administração de recursos e o uso da terra.

123
Planejamento Urbano

10 Faça "Parcerias (Pessoas Público Privado) 3Ps"


• A colaboração é fundamental para interligar as mais diferentes necessi-
dades e preocupações.

FONTE: Adaptado de Vinnitskaya (2013) e Centre of Liveable Cities Singapore (2021)

A íntegra do documento original dos “10 princípios


para se viver em cidades de alta densidade” pode ser
verificado no link: https://www.clc.gov.sg/docs/default-source/
books/10principlesforliveablehighdensitycitieslessonsfromsingapore.
pdf.

“Transporte Verde” é designado a meios de locomoção que


possuem baixa ou nenhuma emissão de poluentes na atmosfera,
como bicicletas, carros elétricos etc.

124
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

A expressão “os olhos da vizinhança na rua” foi criada pela


ativista Jane Jacobs no livro “Morte e Vida das Grandes Cidades”,
de 1961. Trata-se da importância de se dar vida às cidades a fim de
gerar áreas urbanas mais igualitárias e seguras. Quanto mais ativa a
cidade for, mais segura ela fica.

E é nesse momento de planejamento que devem surgir as mais diferentes


estratégias que visem aproximar os indivíduos da função da cidade. A figura a
seguir apresenta um esquema que exibe uma situação bastante interessante de
como o espaço público pode se portar.

FIGURA 11 – FATORES QUE CONTRIBUEM PARA


UMA EXPERIÊNCIA ATIVA DE PASSEIO

FONTE: Adaptada de Bloomberg (2013)

125
Planejamento Urbano

Vimos exemplos de cidades sob o aspecto de várias realidades: Copenhagen,


que investiu na mobilidade urbana fortalecida pelas suas condições culturais;
Curitiba, que promoveu um reordenamento da cidade a partir da implantação de
um Sistema Trinário integrado à projeção de diretrizes para o uso e apropriação do
solo; Brasília, que foi uma cidade projetada do “zero” e que causou e ainda causa
problemas urbanos dos mais variados tipos; já Singapura promoveu princípios/
diretrizes de reestruturação da cidade frente à expansão da urbanização.

Ao relacionar esses quatro exemplos, o que você vê em comum? As duas


primeiras cidades já existiam e foram reordenadas conforme as necessidades
locais. A terceira foi 100% planejada. Já a quarta, também promoveu uma
readequação nas mais diferentes frentes.

E a pergunta que deixamos para você refletir é a seguinte: Qual dessas


alternativas é mais viável do ponto de vista social, ambiental, econômico e
cultural: cidades novas com traçados e infraestruturas novas (modelo utópico de
cidade; cidades ideais) ou a averiguação dos problemas urbanos contemporâneos
visando resolvê-los de maneira pontual, a fim de analisar todas as variáveis
possíveis (gestão integrada do território)?

Bem, esperamos que você tenha compreendido até aqui que o planejamento
urbano se faz a partir de visões múltiplas da realidade local. E devido à celeridade
com que as coisas vêm acontecendo, precisamos estar cada vez mais preparados
para enfrentar os problemas e promover as soluções oportunas.

Atualmente, tudo isso que discutimos neste livro sobre o planejamento das
cidades já é evidenciado na Nova Agenda Urbana. Este documento foi adotado
na Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano
Sustentável (Habitat III), realizado na cidade do Quito, capital do Equador. Trata-
se de uma visão compartilhada em prol de um futuro melhor e mais sustentável em
defesa dos direitos e da igualdade aos benefícios e oportunidades nos sistemas
urbanos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2019).

A implementação da Nova Agenda Urbana contribui para


a implementação e a localização da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável de maneira integrada e para o
alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
e de suas metas, inclusive o ODS 11 de tornar as cidades e
os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2019,
p. 4).

126
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

Um dos objetivos que nós mais devemos ficar de olho e fomentar é o 11


– Cidades e Comunidades Sustentáveis que tem como objetivo: “Tornar
as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis” (AGENDA 2030, 2015, s.p.).

Mas como fazer isso? Parece muito amplo... É para isso que existem as
metas, que servem para dar direção às ações que, ao final, alcançarão o objetivo
11 das ODS! Vamos conferir cada uma delas no Quadro 11?

QUADRO 11 – METAS DO OBJETIVO 11 - CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS


Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de as-
11.c sistência técnica e financeira, para construções sustentáveis e robus-
tas, utilizando materiais locais.
Até 2020, aumentar substancialmente o número de cidades e assenta-
mentos humanos adotando e implementando políticas e planos in-
11.b tegrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adap-
tação à mudança do clima, a resiliência a desastres; e desenvolver e
implementar, de acordo com o Marco de Sendai para a Redução do
Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de
desastres em todos os níveis.
Apoiar relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre
11.a áreas urbanas, periurbanas e rurais, reforçando o planejamento nacion-
al e regional de desenvolvimento.
Até 2030, proporcionar o acesso universal a espaços públicos se-
11.7 guros, inclusivos, acessíveis e verdes, em particular para as mul-
heres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência.
Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das ci-
11.6 dades, inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão
de resíduos municipais e outros.
Até 2030, reduzir significativamente o número de mortes e o número
de pessoas afetadas por catástrofes e diminuir substancialmente as per-
11.5 das econômicas diretas causadas por elas em relação ao produto inter-
no bruto global, incluindo os desastres relacionados à água, com o foco
em proteger os pobres e as pessoas em situação de vulnerabilidade.
11.4 Fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cul-
tural e natural do mundo.
Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável, e a ca-
11.3 pacidade para o planejamento e a gestão participativa, integrada e
sustentável dos assentamentos humanos, em todos os países.

127
Planejamento Urbano

Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros,


acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos, melhorando
11.2 a segurança rodoviária por meio da expansão dos transportes públicos,
com especial atenção para as necessidades das pessoas em situação
de vulnerabilidade, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e ido-
sos.
Até 2030, garantir o acesso de todos a habitação segura, adequada e
11.1 a preço acessível, e aos serviços básicos e urbanizar as favelas.
FONTE: Agenda 2030 (2015)

FIGURA 12 – OS 17 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS)

FONTE: Agenda 2030 (2015)

1) Relacione as colunas: ( ) Cidade planejada que não preveu


seu crescimento, gerando problemas de
1- Copenhagen mobilidade e segregação socioespacial.
2- Curitiba/PR ( ) Cidade dotada de semáforos
3- Brasília/DF sincronizados com o trânsito de
4- Singapura bicicletas.
( ) Cidade que traçou princípios de
desenvolvimento próprios em prol da
qualidade de vida da população local.
( ) Cidade que baseou o deu
desenvolvimento urbano em três funções
básicas: Uso do Solo, Transporte
Coletivo e Sistema Viário.
128
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

2) Visualize as afirmações a seguir e marque V (para verdadeiro) e F


(para falso):

a) ( ) A aplicação do princípio “os olhos da vizinhança na rua” tende


a gerar uma maior sensação de segurança de quem reside
e transita na região, gerando um sistema de inclusão natural
baseado na confiança entre vizinhos e comunidades.
b) ( ) O Sistema Trinário resume-se em vias destinadas aos ciclistas,
vias para o tráfego lento e vias de tráfego rápido.
c) ( ) Uma das formas de melhorar o acesso à moradia no Brasil
é reduzir o custo de acesso à terra e o custo de habitações,
condicionado à garantia da qualidade dos serviços.
d) ( ) A expressão “mobilidade urbana sustentável” remete à
integração da proteção ambiental, a sustentabilidade econômica
e a justiça social, importantes condicionantes no processo de
planejamento.
e) ( ) As inserções naturais no meio urbano para a estruturação de
espaços de áreas verdes como parques, locais de recreação etc.
devem ser opcionais, pois auxiliam no controle da qualidade do
ar e das temperaturas, a fim de reduzir o valor provocado pelo
aquecimento de coberturas impermeáveis no solo.

3) Dentre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),


temos o objetivo 11 que trata das “Cidades e Comunidades
Sustentáveis”, visando tornar as cidades e os assentamentos
humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Nesse
contexto, aponte três metas que você, enquanto planejador
urbano, poderia se engajar.

3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Pudemos verificar neste capítulo que os desafios urbanos da sociedade
estão diretamente ligados às relações entre as legislações, seus instrumentos e
a participação de um corpo técnico-administrativo em conjunto com a sociedade.
Mas para que isso ocorra de fato é necessário realizar diagnósticos das mais
diferentes situações urbanas que existem na cidade para que as melhores
soluções sejam tomadas.

129
Planejamento Urbano

Vimos que uma das formas de realizar o levantamento dessas informações


é a partir da cartografia urbana, ferramenta que capta os aspectos da cidade e
que auxiliam no processo de resolução dos problemas. Tal ferramenta auxilia na
tomada de decisões, contribui para a geração de análises e orienta a política de
desenvolvimento e ordenamento do município.

Mas para que tudo isso corra, é preciso que os gestores municipais saibam a
importância do planejamento e consigam construir soluções de forma conjunta com
a sociedade. Desse modo, fica mais fácil aplicar legislações que, muitas vezes,
se limitam ao que está escrito no “papel” e não se pratica. Um dos exemplos que
trouxemos foi a relação de alguns itens do Estatuto da Cidade. Se bem elaborado,
é possível sim colocar em prática ações de proteção e preservação do meio
ambiente, o estudo prévio de empreendimentos que poderão causar impactos
negativos à população, a urbanização de áreas ocupadas pela população de
baixa renda, a simplificação da legislação de parcelamento e a integração
efetiva da população nos processos decisórios. É necessário incorporar todas
essas questões às reais necessidades urbanas a partir das visões de todos os
envolvidos.

Também pudemos verificar alguns exemplos de cidades sob o aspecto de


várias realidades. Inclusive, fizemos uma provocação a você, lhe questionando
qual(is) daquela(s) alternativa(s) era a(s) mais viável(is) do ponto de vista social,
ambiental, econômico e cultural: cidades novas com traçados e infraestruturas
novas (modelo utópico de cidade; cidades ideais) ou a averiguação dos
problemas urbanos contemporâneos visando resolvê-los de maneira pontual, a
fim de analisar todas as variáveis possíveis (gestão integrada do território)? Esse
questionamento visou focar a análise daquela cidade em específico, e não se
deve entender essas boas práticas como modelos a serem seguidos. Podemos
nos inspirar, mas as soluções precisam ser moldadas no local, na origem do
problema a partir de diagnósticos, discussões e análises muito específicas.

Dentre as cidades apresentadas, tivemos dois exemplos internacionais


(Copenhagen e Singapura) e um nacional (Curitiba) que nos apresentaram
várias soluções que melhoraram o sistema viário, o uso e ocupação do solo e a
preocupação com a qualidade de vida do cidadão. Já Brasília, concebida a partir
de um projeto de “cidade ideal”, nos mostrou que não houve um pensamento
urbano de forma integrada, mas sim unilateral pelos técnicos – até porque ainda
não existiam moradores no local para opinarem sobre o projeto, resultando em
problemas na mobilidade urbana, conforto térmico, dentre outros.

130
Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

Assim, pudemos observar que as cidades precisam ser repensadas sob


vários aspectos, integrando profissionais e a sociedade. A cidade é um quebra-
cabeça “pré-montado”, e cabe aos planejadores urbanos reorganizar as peças a
fim de estabelecer uma harmonia. Voltamos a frisar: não existe uma solução única
para tudo, mas “várias soluções” para realidades diferentes, localidades distintas.
Devemos ter a legislação como base para nortear decisões, mas cada localidade
deve ter, em sua essência, a solução ideal para aqueles que ali residem.

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Planejamento Urbano

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Capítulo 3 O PLANEJAMENTO E O URBANISMO CONTEMPORÂNEO

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