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Era normal que o pecador se sentisse por vezes sozinho perante Deus numa época em que
o individualismo, sob todas suas formas, estava em processo de desenvolvimento. As
pessoas agora estavam sujeitas a um novo tipo de pecado: o da cobiça. Nobres e
burgueses abastados, construíam cada vez mais capelas particulares, sempre competindo
uns com os outros.
Um tal individualismo é evidentemente solidá rio de uma certa afirmaçã o do espírito laico.
DEPRECIAÇÃ O DO SACERDÓ CIO
A sociedade rural da alta IM permitia o desabrochar de uma cristandade comunitá ria
dominada pela hierarquia eclesiá stica e pelas abadias. Pelo contrá rio, a ascensã o da
burguesia e do artesanato, e mais geralmente do elemento laico, numa civilizaçã o mais
urbana, agora com a inserçã o do luxo, a afirmaçã o de um certo sentimento nacional, a
geral confusã o dos espíritos num clima de insegurança, em suma, os defeitos da Igreja
engendraram, no final da Idade Média, uma espécie de anarquismo cristã o. Numa
atmosfera de confusã o das hierarquias e dos valores, os fiéis sã o distinguiam tao
nitidamente o sacro do profano, o padre do leigo.
A BÍBLIA, HUMANISMO E REFORMA
-O APARECIMENTO DO LIVRO
Mais do que nunca, nesses tempos de confusã o, os fiéis tinham a necessidade de se
apoiarem sobre uma autoridade infalível, mas onde achar essa infalibilidade
tranquilizadora quando se duvidava do padre? Em quem depositar uma fé segura? Seria
no pró prio Deus. A bíblica se tornava assim o ultimo recurso, mas também a rocha que as
tempestades humanas nã o submergiriam. As multidõ es nã o sabiam ler, porém, as elites
dirigentes sabiam ler e cada vez mais se apaixonavam pela literatura.
A literatura em si se achou naturalmente reforçada e difundida pela descoberta da
imprensa. Do ponto de vista religioso, o aparecimento do livro impresso produziu uma
verdadeira revoluçã o, em relaçã o à s necessidades espirituais do tempo.
O humanismo, afinal de contas, foi muito mais religioso que se afirmou durante muito
tempo. Apesar de terem acontecido extravagâ ncias, todavia, no conjunto, os humanistas
foram espíritos religiosos, mas independentes!
Redescobrindo a Antiguidade, reatando com o verdadeiro Aristó teles, tornando-se leitores
de Platã o e Plotino, eles evoluíram a maior parte das vezes para uma concepçã o otimista
do homem. Descobriram na alma humana uma aspiraçã o natural para Deus (derrocada no
intermédio da Igreja) e descortinaram em cada religiã o uma manifestaçã o pelo menos
parcialmente vá lida desse impulso para o divino.
Os humanistas nã o negavam o pecado original, mas, em geral, nã o insistiam nele. Nã o iam
a Deus pelo caminho do desespero, que foi o de Lutero. Significa isso que o humanismo
podia ser integrado exatamente como é pela teologia católica do tempo? Como L.
Febvre escreveu que houve, nã o uma Renascença, mas vá rias Renascenças, conviria dizer
o mesmo do humanismo: o plural fica melhor que o singular.
Reencontrando a Escritura, limpando-a à maneira de um quadro, das impurezas que a
obscureceriam, os humanistas aspiravam a uma religiã o simples, vivida, evangélica, cujos
dogmas deveriam ser poucos numerosos e na qual deveria se procurar e achar a paz de
espírito da imitaçã o de Jesus. As cerimô nias supersticiosas teriam que dar lugar a um culto
pró ximo daquele da Igreja primitiva.
Por conseguinte, o humanismo preparou a Reforma de dois modos: contribuiu para
aquele regresso à Bíblia que era uma das aspirações de época; chamou a atenção
para a religião interior, reduzindo a importância da hierarquia, do culto os santos e
das cerimônias, ao mesmo tempo.