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Revista de Jovens e Adultos da

Convenção Batista Fluminense


Revista evangélica trimestral da Convenção Batista
Fluminense.
O intuito desta revista é servir de material de edu-
cação cristã acerca do que é ensinado na Palavra de
Deus, pela leitura e interpretação dos escritores des-
tas lições.
Esta revista não é um manual para a vida cristã, mas
um material de auxílio educacional. Antes de tudo leia
a Bíblia, que é a Palavra de Deus.

Publicada pela Convenção Batista Fluminense, pro-


duzida pelo Departamento de Educação Cristã, jun-
tamente com o Departamento de Comunicação.

(21) 9 9600-6132 | contato@batistafluminense.org.br


Rodovia BR-101, KM 267 - Praça Cruzeiro, Rio Bonito/RJ
(CEP 28.800-000)
Sumário
9 Primeiras Palavras

18 Palavra do Redator
21 Apresentação
25 Lição 1 A Biografia de Jesus

35 Lição 2 Palavras Marcantes

44 Lição 3 As Leis do Reino

53 Lição 4 Histórias Inesquecíveis

62 Lição 5 Vede Que Vos Tenho Predito

71 Lição 6 Sinais e Maravilhas

80 Lição 7 Autoridade Sobre as Forças do Mal

88 Lição 8 A Cura de Toda Dor

98 Lição 9 A Natureza Lhe Obedece

106 Lição 10 O Legado de Cristo

114 Lição 11 Novas de Grande Alegria

121 Lição 12 A Maior Prova de Amor

133 Lição 13 A Grande Vitória

145 Ficha Técnica


O que estamos
preparando para 20
as próximas
edições 23
1° Trimestre 2023
Epístola aos Romanos
Pr. Danilo Azevedo Aguiar

2° Trimestre 2023
1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas
Pr. Alonso Colares

3° Trimestre 2023
1 e 2 Epístola aos Coríntios
Pr. Valtair Miranda

4° Trimestre 2023
Josué, Juízes e Ruth
Pr. Fabio Martins

4
Primeiras Palavras
Pr. Amilton Ribeiro Vargas
Diretor Executivo da CBF
Membro da PIB
Universitária do Brasil

A prosperidade que
Deus deseja para você
Quando pensamos em prosperidade geralmente
a pensamos apenas no aspecto material (econô-
mico-financeiro) e não poucas vezes esquecemos
das coisas imateriais (emocionais e espirituais), as
quais, embora o dinheiro não possa comprar, são
as mais essencialmente humanas, pois trazem sen-
timento de realização e bem-estar mais duradouro
e permanente.

Meu desejo é que estas palavras sejam estímulo


para grandes vitórias para sua vida e de todos que
você ama. Eu sei que Deus guarda experiências
muito boas para seu futuro. Não fosse assim, Paulo
9
não teria dito em I Coríntios 2,9: “mas, como está
escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem
jamais penetrou em coração humano o que Deus
tem preparado para aqueles que o amam.”

Costumo dizer que muitos não prosperam por não


saberem diferenciar desejos de necessidades.

Se os bens materiais e o dinheiro não forem bem


administrados, embora não seja esta área a essen-
cial, isso pode tirar o sono e trazer turbulências até
em nossa vida espiritual, mas essa questão pode
ser resolvida também pelo Senhor, que pode operar
milagres nas coisas de que necessitamos e não te-
mos condições para resolver com nossos próprios
recursos, especialmente se não forem resultantes
de nossas escolhas.

A grande maioria das pessoas tem feito escolhas


equivocadas, por exemplo: gasta seus recursos
com desejos, não se importando com nada mais
no momento, a não ser com a satisfação, sequer
chegando a pensar nas consequências. Por essa
razão, 78% dos brasileiros estão endividados (julho
2022), sendo que 28,7% destes estão com o nome
negativado no SPC/SERASA. Será que a maioria foi
por gastar com necessidade? Isso tem solução!
10
Precisamos aprender a fazer diferença entre de-
sejo e necessidade. Quando ficamos preocupados
em satisfazer os desejos sem que Deus nos conceda
isso, deixamos de lado o compromisso do Senhor,
nosso Deus Maravilhoso que se compromete a su-
prir nossas necessidades. Veja essa linda promes-
sa: “O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá
todas as vossas necessidades em glória, por Cristo
Jesus.” (Filipenses 4:19)

Quando as coisas estão fora de controle é impor-


tante perguntar: Nossas escolhas têm sido orien-
tadas pelo Senhor, ou somos do tipo que pedimos
e não recebemos? Como diz a palavra de Deus, em
Tiago 4:3, “pedis e não recebeis, porque pedis mal,
para esbanjardes em vossos prazeres.”

Há muitos anos fiz um curso sobre liberdade fi-


nanceira e a primeira coisa que nos foi ensinado é
que existe uma sequência que precisa ser segui-
da rigorosamente: Primeiro precisamos aprender
a ganhar dinheiro; segundo precisamos aprender
a poupar e terceiro precisamos aprender a gastar.
É nessa hora que precisamos fazer pelo menos
três perguntas: Eu preciso comprar isso? Eu pre-
ciso agora? Eu tenho dinheiro para pagar sem fa-
11
zer dívida e sem prejudicar meus projetos de longo
prazo? Estes geralmente são os mais importantes.
(se você perguntar ao Dr. Google ou Youtube, talvez
eles lhe ofereçam mais perguntas e vídeos muito
interessantes).

Entretanto, o conselho da palavra ainda é o me-


lhor, pois só Deus pode desembaraçar nosso ca-
minho quando as coisas parecem não ter solução,
conforme a palavra nos ensina: “Deus é a minha
fortaleza e a minha força, e ele perfeitamente
desembaraça o meu caminho” (II Samuel 22:33).
Com Deus você não apenas aprende, mas adquire
sabedoria para não cair em armadilhas do inimigo,
bem como recebe o poder para superar a si mes-
mo e vencer tentações e compulsividades.

Quando você tem compromisso com Deus, Ele


tem compromisso com o suprimento de suas neces-
sidades, O meu Deus, segundo as suas riquezas,
suprirá todas as vossas necessidades em glória,
por Cristo Jesus. (Filipenses 4:19). No entanto, não
podemos esquecer o passado de eventuais equí-
vocos, pois muitas vezes as pessoas levam anos
fazendo tudo errado e querem que Deus resolva
aquilo que é consequência... “Tudo que o homem
12
plantar, isso também colherá” (Gálatas 6:7).

Em qualquer circunstância Deus demonstra seu


amor para conosco e nos dá promessa de solução,
mas é preciso ter prazer em Deus e nas coisas es-
pirituais, como diz o salmista: “Deleita-te também
no Senhor, e te concederá os desejos do teu cora-
ção. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele,
e ele o fará.” (Salmos 37:4-5.)

Então, “Entrega o teu caminho ao Senhor” Creia


em Jesus de todo o coração e Ele o abençoará cada
vez mais!

Como é bom ter prazer no Senhor!

13
Palavra do Redator
Pr. Samuel Pinheiro
Diretor do Departamento de
Educação Cristã da CBF e
Coordenador Acadêmico da
FABERJ

“Louvarei o nome de
Deus com cânticos e
proclamarei sua gran-
deza com ações de gra-
ças” (Salmos 69:30).
Grande é a nossa grati-
dão por esta edição, a última de 2022. É com ale-
gria e júbilo que apresentamos a revista Palavra de
Vida para o 4º trimestre deste ano. Primeiramente,
somos gratos a toda equipe e pessoas que, des-
de sua constituição, tem colaborado para que este
feito seja possível. Especialmente, agradeço ao Pr.
Alonso por ter trabalhado com tanto afinco e des-
treza, sendo uma inspiração, apoio e suporte nesta
primeira edição em que trabalho.
Também agradecemos imensamente aos pasto-
res da Primeira Igreja Batista em Alcântara. Foi um
privilégio ler em primeira mão palavras tão revigo-
rantes e elucidativas a respeito de nosso Senhor e
Salvador. Que nosso Deus e Pai derrame das mais
lindas e ricas bênçãos sobre a vida de cada um.
O tema de nossa revista neste trimestre é Jesus
Cristo: vida e obra. A cada lição, teremos contato
18
com textos bíblicos que comprovam a identidade
de nosso Mestre e Senhor: Verbo que se fez car-
ne, Segunda Pessoa da Trindade, Homem e Divino,
Servo Sofredor, Salvador Ressurreto. Ao lermos as
lições, a cada semana, nossas orações enquanto
equipe de produção de nossa revista, é que cada
irmão e cada irmã seja visitado e visitada pela po-
derosa presença de nosso Senhor, tendo seus co-
rações elevados à devoção, temor e adoração ao
único que é digno de nosso Louvor.
Os amados irmãos poderão constatar algumas
mudanças e diferenças entre esta e edições ante-
riores. Isso se deve a medidas de usabilidade de
nossa revista, pensando em como cada leitor pode-
rá usufruir do melhor que temos a oferecer. Cremos
que fazemos sempre o nosso melhor, pois sempre
o fazemos como para Deus. Sendo assim, nosso
coração tem a expectativa de que seja um trimes-
tre abençoador.
Finalmente, com alegria demonstramos nossa
gratidão à equipe de revisores da FABERJ, assim
como o trabalho de nossas educadoras cristãs na
elaboração dos recursos didáticos. Ainda, agra-
decemos o empenho e trabalho que o Pr. Rodrigo
Zambrotti e toda a sua equipe têm realizado na dia-
gramação e produção final de nossa revista. Que o
Senhor nosso Deus esteja com cada um de nós!
19
Apresentação

“E conhecereis a
verdade, e a verdade
vos libertará”
João 8:32
Pôncio Pilatos ao inquirir o Senhor Jesus lhe per-
guntou: “O que é a verdade”? Não sabia o governa-
dor romano que a personificação da Verdade estava
em pé diante dele naquele momento. Vivemos atual-
mente na chamada era da informação, e aquilo que
deveria ser motivo de satisfação e avanço tem se tor-
nado causa de imensa preocupação. O acesso irres-
trito e ilimitado a toda e qualquer informação acer-
ca dos mais variados assuntos de todas as partes
do mundo tem sido causa de grande confusão nes-
se primeiro quarto do século XXI. Somos solapados
constantemente por todo tipo de inverdades, ou seja,
“verdades de conveniência” que tão somente visam
atender aos interesses daqueles que as propagam.
Faz-se necessário portanto, mais do que nunca, reafir-
marmos nossas convicções e mantermos fincadas as
estacas de nossa fé no solo firme e seguro da Palavra
de Deus. As Escrituras Sagradas tem como ápice a
revelação da pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.
Ele é a verdade essencial no qual baseamos toda
nossa fé e esperança a despeito das circunstâncias
21
que nos afetam neste presente tempo. Sendo assim,
caminharemos ao longo deste trimestre através de
lições que irão convidar o leitor a explorar a biografia
do Mestre. Serão abordadas as mais diversas face-
tas de seu ministério terreno, desde o anúncio de seu
nascimento até a notícia mais fantástica da história
humana: a ressurreição de Cristo. Contudo, as lições
estão ordenadas por temas e não cronologicamente,
proporcionando aos estudantes uma abordagem te-
ológica diferenciada sobre a pessoa de Jesus Cristo.
Esperamos suscitar nos corações um desejo profundo
de conhecer ainda mais a verdade a respeito do Deus
que se fez homem a fim de resgatar a humanidade do
“reino das trevas para a sua maravilhosa luz”, Aquele
que encantou a todos com suas palavras e milagres e
também contrariou a muitos com suas verdades cor-
tantes e confrontadoras. O Filho do Homem fez muita
diferença nos mundos físico e espiritual; neste, sal-
vando almas e, naquele, operando milagres. O Cristo
que entregou a sua vida na cruz do calvário, decretou
a grande e definitiva vitória sobre a morte e o inferno.
Que as verdades eternas a respeito do nosso gran-
de Mestre inundem o seu coração e alimente a sua
alma.
Desejamos a todos um ótimo trimestre de estudos!
22
Quem escreveu
Com muita satisfação e honra as lições des-
te último trimestre foram escritas pela equi-
pe pastoral da Primeira Igreja Batista em
Alcântara:
Pr. Elierme Mantaia - Casado com Georgina
Oliveira Mantaia, pai de Elierme Mantaia Jr e
Juliana de Oliveira Mantaia - Lições 02 e 03.
Pr. Leandro da Costa Carvalho - Casado com a
Dra Renata Santos de Moura Carvalho - Lições
07 e 09.
Pr. Lucas do Amaral Silva - Noivo da irmã
Thamara Ayres - Lições 04 e 11.
Pr. André Luiz Cotrim de Alencar - Casado
com Valéria Lima Pinheiro Cotrim, pai de Isaque
Pinheiro Cotrim de Alencar- Lições 05 e 06.
Pr. Vanderlei Batista Marins - Casado com
Rita de Cassia Silva Miranda Marins, pai de
Eber Jonathas Miranda Marins e Mikhael
Wander Miranda Marins (in memoriam). Avô de
Júlia Suett Marins e de Heitor Gabriel Martins
Marins. Escreveu as demais lições.

23
Lição 1
Texto Base: João 20.30,31

A Biografia
de Jesus

Por Pr. Vanderlei Batista Marins

Leitura Diária
SEG Mateus 8.18-22

TER Atos 7.54-60

QUA Lucas 18.35-43

QUI Romanos 15.1-13

SEX Mateus 3.13-17

SÁB 1 João 4.9-15

DOM João 17.1-26

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Jesus é a pessoa central da Bíblia, clímax da
Revelação do Pai (Hb 1.1,2), graça vestida de hu-
manidade (Jo 1.14) e Verbo encarnado (Jo 1.1-3). A
Sua história de amor sacrificial, de entrega plena e
de doação pela missão reflete o propósito eterno de
redenção da humanidade. Os fatos que ornamen-
tam essa história, a sua biografia, encontram-se
nos sinóticos, como são chamados os evangelhos
de Mateus, Marcos e Lucas, por cultivarem simila-
ridades e sequências de fatos, deixando evidente
a humanidade de Jesus, apresentando-o como ho-
mem e, pelo evangelho de João, que enaltece a sua
divindade e o apresenta como Deus.

Jesus realizou muitos milagres, maravilhas ex-


traordinárias que encantaram, mas, também, pro-
vocaram inquietações diversas. Aqueles que eram
por eles beneficiados, festejavam e se deliciavam.
Mas, na sua grande maioria, líderes, autoridades
religiosas e integrantes da aristocracia judaica cri-
ticavam e lançavam dúvidas sobre a sua origem,
veracidade e integridade.

Olhando para o texto bíblico em destaque, perce-


bemos que os milagres eram construtivos e pedagó-
gicos, traziam à tona o poder e a grandeza de Jesus
26
Cristo, o Messias divino. Seus feitos ficam além da
possibilidade de catalogar, excedem a capacidade
de registro pleno, absoluto e integral, conforme Jo
21.25.

Entrar em contato com a sua biografia, observan-


do os destaques que a compõe, mostra a sua es-
sência, promessa e missão.

1. Jesus é o Filho do Homem


Essa era uma expressão muito comum nas pági-
nas das Sagradas Escrituras, especificamente no
Novo Testamento. Como Jesus gostava de chamar
a si mesmo de Filho do Homem, sendo a primeira
vez em Mt 8.20, para confrontar um escriba que afir-
mava segui-lo por qualquer lugar, independente de
situações ou circunstâncias e, consequentemente,
para colocar à prova os que desejavam caminhar
com Ele seguindo-o na trajetória da vida.

A esse respeito, a voz profética nos encanta quan-


do constatamos o que disse Dn 7.13,14. O que rela-
tou o profeta era algo incomum a um simples mortal,
a qualquer pessoa que fosse detentora de alguma
coroa dos reinos de então. Tal afirmação proféti-
ca encontra agasalho na expressão de Mt 26.64.
27
Ao afirmar essas palavras diante do sinédrio, Jesus
angariou a fúria do sumo sacerdote, que rasgou as
suas vestes e o acusou de blasfêmia. Tal atitude
conquistou outras vozes, que proclamaram ser Ele
réu de morte (Mt 26.65,66).

Os olhos do profeta Daniel, guiados por Deus,


atravessaram os séculos e vislumbraram o triun-
fo do Filho do Homem, para quem todas as coisas
convergem.

Outro fato significativo foi a experiência de Estevão,


cheio do Espírito Santo, perante o sinédrio, relata
verdades duras e contundentes (At 7.51-53), repro-
vando as atitudes dos integrantes do Tribunal e dos
seus pais, dizendo ser eles “teimosos e incircunci-
sos de coração e de ouvidos”. Foi exatamente dian-
te daquelas autoridades, que ele afirmou “eis que
vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à
direita de Deus” (Atos 7.56).

Que cena triste pela forma cruel e desumana de


uma liderança, que deveria ter discernimento, sen-
so de justiça e julgar sem parcialidade, lendo com
nitidez os acontecimentos do tempo e dependendo
de Deus para se posicionar com correção, humani-
dade e amor. Mas, também uma cena gloriosa. Pois
28
ver os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à
direita de Deus, foi amparo nas agressões que lhe
sucederam, segurança para enfrentar a realidade
do martírio e certeza do triunfo sobre a morte.

A identificação de Jesus como o Filho do Homem


nos remete à sua humilhação e sofrimento, reali-
dades marcadas pelo seu nascimento, pelo exercí-
cio do seu ministério e por ter sido traído, negado,
preso e morto. Mas, também, por sua exaltação,
instrumentalizada na ressurreição e promessa de
sua volta, evidenciando a sua notável e gloriosa di-
vindade.

2. Jesus é o Filho de Davi


Esse título é atribuído a Jesus e nos remete à sua
identificação terrena. É uma alusão a descendên-
cia de Davi (Lc 1.32,33). Essa ligação é terrena,
segundo a carne (Rm 1.3), vista na árvore genea-
lógica, uma exposição cronológica sobre os ascen-
dentes.

A genealogia de Jesus (Mt 1.1-17), nos ensina


várias lições: há um propósito eterno que se mani-
festa no tempo; o ser humano é indispensável aos
ideais divinos; as gerações se comunicam através
29
da família; os problemas e lutas fazem parte da
vida, mas não determinam sobre ela; apesar da
fragilidade humana, o poder de Deus, Sua miseri-
córdia e graça sempre estarão presentes; pessoas
podem mudar, serem restauradas e ocupar lugar
de honra na história. Também aponta para o fato
de o Messias ser o Filho de Davi, pertencer a sua
linhagem, egresso da Tribo de Judá, pela pessoa
de José, seu pai adotivo, e de Maria, sua mãe, ins-
trumento para a encarnação do Verbo (Mt 1.21).

A promessa de uma dinastia que jamais teria fim


parecia ter fracassado, levando-se em conta ape-
nas a composição da monarquia hebraica, com os
filhos biológicos de Davi. Mas, através de Jesus, a
promessa “Estabelecerei para sempre o seu reino”
(2 Sm.7.13) se concretizou (Mc 1.11; Hb 1.5); es-
tava mais viva do que nunca, eficaz e pujante para
atravessar os séculos. Deus não falha no que ga-
rante aos seus, Ele é justo e cumpridor dos seus
compromissos. Jesus, é, portanto, verdadeiramente
o Messias, integrante da família real do homem se-
gundo o coração de Deus e Seu ungido, para anun-
ciar um novo tempo, o ano aceitável do Senhor, as
novas de redenção e as virtudes daquele que pode
transportar das trevas para a Sua maravilhosa luz.
30
Jesus foi identificado em diversos momentos
como Filho de Davi. Algo surpreendente por surgir de
lábios sofredores, como no caso do filho de Timeu,
cego mendigo excluído do convívio social, que à mar-
gem do caminho clamava por auxílio, tendo por Ele
a sua vida e visão restauradas (Mc 10.46-52). Há
também situações de pessoas agredidas pelo ma-
ligno. O caso da mulher cananeia com a sua filha
endemoninhada (Mt 15.21-28) e, em adição, des-
taca-se a postura da multidão, surpresa pela cura
de um endemoninhado cego e mudo (Mt 12.22,23).

O significado desse título não se restringe à huma-


nidade de Jesus, vai além da sua linhagem huma-
na. A prova maior encontramos no fato de Davi ter
chamado o Messias de Senhor (Sl 110.1; Mt 22.43-
45), indicando sua divindade. Com isso, concluímos
que Jesus é, ao mesmo tempo, seu filho e Senhor;
fato não destoante na história da Revelação Bíblica,
pois Jesus é ao mesmo tempo Deus e homem. O
próprio Jesus faz a seu respeito e, consequente-
mente corroborando com o assunto, uma notável
e linda declaração: “Eu sou a Raiz e a Geração de
Davi, a brilhante Estrela da Manhã” (Ap 22.16).
31
3. Jesus é o Filho de Deus
A obra redentora de Jesus é a expressão máxima
do amor divino, realidade possível pelo sacrifício do
calvário. Quando nos referimos à pessoa do Filho,
trazemos à memória não propriamente a eternida-
de de Deus, mas a sua manifestação no tempo (Jo
3.16,17).

O Filho esvaziou-se (Fl 2.5-11), renunciou à glória


para viver a vida humana, falar aos humanos e mos-
trar-lhes o caminho de volta ao Pai (2Co 5.18,19).
Conquanto Jesus tivesse natureza humana, não ti-
nha pecado, era perfeito em tudo (Cl. 2.9). A de-
signação “Filho de Deus” ornamenta a biografia de
Jesus, identifica a sua Deidade, o Filho é Divino, da
mesma essência e substância que o Pai (Jo 10.30).
Ao lermos o Novo Testamento percebemos o Pai fa-
zendo uma significativa declaração sobre o Filho,
exaltando-o soberanamente, aclamando à vista de
todos, por ocasião do seu batismo no Rio Jordão
(Mt 3.16,17).

Paulo, após a sua conversão (At 9.1-18), come-


çou a proclamar nas sinagogas que Jesus é o fi-
lho de Deus (At 9.20), deixando os seus ouvintes
perplexos, atônitos, e os Judeus revoltados, bus-
32
cando oportunidade para silenciarem a sua voz (At
9.21-24). Em Gálatas 1.15,16, o Apóstolo falando
aos gentios do seu encontro com Cristo proclama
que Deus, o Pai, achou por bem revelar a ele o Seu
Filho, acrescentando que o fizera como a um aborti-
vo (1Co. 15.8). Esse tema, Filho de Deus, foi muito
utilizado em sua pregação como porta-voz do céu
entre os homens, vox clamantis de Jesus na divul-
gação da redenção (2Co 1.19). Para ele, Jesus era
o Pré-existente Filho de Deus enviado ao mundo.

Observando os evangelhos, percebemos que


Marcos apresenta Jesus como Filho de Deus (Mc
1.1). Mateus e Lucas o reconhecem como tal; João
enaltece o relacionamento Pai-Filho, dizendo que
em virtude da natureza eterna, o Filho possui todas
as prerrogativas divinas para revelar o Pai (Jo 1.18).

Para pensar e agir


A biografia de Jesus mostra a sua humanidade, a
sua divindade e evidencia a sua missão.

A presença de não-judeus na genealogia de Jesus,


pessoas que cometeram falhas e até graves erros,
mas que tiveram experiência com Deus e mudaram,
mostra que o Senhor não faz acepção de pessoas
33
(At 10.34,35), que não são pelos méritos humanos,
e sim por graça divina que as coisas acontecem.

A vida de Jesus é expressiva, vai muito além da


questão de longevidade. Ela evidencia essência,
qualidade, modalidade nova, vida plena que ema-
na da graça, mediante a fé (Ef. 2.8,9), e que reflete
a missão de Cristo como “o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).

Jesus é vida que opera vida, algo evidente nos


muitos milagres por Ele realizados, que davam tes-
temunho da sua deidade. Em Jo 14.6, a Palavra re-
flete o seu testemunho. Jesus é vida que gera vida
e conduz à vida.

34
Lição 2
Texto Base: Jo 7:46 e Mc 1:22

Palavras
Marcantes

Por Pr. Elierme Mantaia

Leitura Diária
SEG João 7.37-46

TER João 3.1-15

QUA Mateus 8.23-27

QUI Lucas 4.36,37

SEX Mateus 8.1-13

SÁB João 8.1-11

DOM João 10.1-16

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Todos nós podemos lembrar daquele professor
ou professora especial que disse ou fez algo que im-
pactou nossas vidas, olhar para trás com gratidão
e ver a diferença que fez em nossas vidas. Lembro-
me, com carinho, de Dona Nara, minha professora
no colégio Dôrval Ferreira da Cunha. Ela, por mui-
tas vezes, deu aulas extras para podermos fazer o
exame admissional nos colégios Henrique Lage ou
Liceu Nilo Pessanha, no qual fui aprovado, pela gra-
ça de Deus e ajuda dela. Grandes mestres vieram
e se foram ao longo dos tempos, homens e mulhe-
res que demonstraram profundo conhecimento em
sua área de atuação. O mundo teve seus grandes
professores, homens de intelecto gigante e exten-
sa pesquisa, homens cujas palavras estimularam
o pensamento e abriram a visão de vastos campos
do conhecimento. Jesus é o mestre por excelência.
Ele tocou a alma das pessoas. Estimulou com gen-
tileza os que não tinham esperança. Marcou com
suas palavras a vida das pessoas.

1. Porque tinham poder (Mc 1:22)


Todas as vezes que Jesus falava ninguém fica-
va indiferente. Mesmo aqueles que não acredita-
vam que Ele era o Messias ficavam atônitos com
36
suas palavras. Os soldados perplexos exclamaram
“Jamais alguém falou como este homem” (Jo 7:46).
Os fariseus ficaram irados, pois até mesmo os guar-
das foram impactados pelas marcantes palavras
de Jesus. Mas, o que é necessário para compreen-
dermos o efeito de suas palavras sobre as pesso-
as? Como entender o fascínio provocado em todos
quantos o ouviam? Até mesmo um mestre da lei
procurou Jesus para tentar entender. Nicodemos
deixa isso claro quando afirma: “Rabi, bem sabe-
mos que és mestre vindo de Deus, porque ninguém
pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não
for com ele” (Jo. 3:2). Todo homem judeu compa-
recia à sinagoga no sábado para ouvir sobre a lei.
Jesus foi à sinagoga, no sábado, não como um ju-
deu comum, Ele foi ensinar a sua doutrina, que não
eram meras repetições de escritos da lei como fa-
ziam os fariseus. Jesus tinha grande zelo e ardor
pelas coisas de seu Pai, razão pela qual ensinava
com autoridade. Seus ensinos vinham diretamente
de Deus, o Pai (Jo 12.49).

Se pudéssemos ouvir Jesus hoje da mesma for-


ma que seus discípulos, é certo de que ficaríamos
tão embevecidos quanto os que ouviram suas pa-
lavras naquele tempo. Não era tão somente o que
37
Ele falava, mas como falava. Jesus falava com au-
toridade. Ele não apenas demonstrava ter pleno
conhecimento sobre tudo quanto era questionado,
como também tinha poder para fazer muito além
das possibilidades de qualquer pessoa.

A Escritura atesta de várias maneiras o ofício


profético de Cristo, e Ele exerceu o seu ministério
profético com total autoridade nos seus ensinos
(Mt 7:28,29; Mt 28:18). Ele é prenunciado como
profeta em Dt 18.15, cuja passagem é aplicada a
Cristo em At 3.22, 23. Ele fala de Si como profeta
em Lc 13.33. Além disso, Jesus afirma que traz uma
mensagem do Pai (Jo 8.26-28; 12.49, 50; 14.10,
24; 15.15; 17.8, 20). Ele prediz coisas futuras nos
seus ensinos com toda autoridade (Mt 24.3-35;
Lc 19.41-44), e fala com singular autoridade (Mt
7.29). Suas poderosas obras serviam para autenti-
car a Sua mensagem. Em vista disso tudo, o povo o
via como o Profeta (Mt 21.11, 46; Lc 7.16; 24.19;
Jo 3.2; 4.19; 6.14; 7.40; 9.17).

2. Porque tinham autoridade


As palavras de Jesus marcam porque tem autori-
dade.
38
a) Autoridade sobre a natureza (Mt
8:27)
Os discípulos entraram em um barco e Jesus foi
com eles. Em dado momento, formou-se uma forte
tempestade. Seus discípulos estavam muito assus-
tados e com medo. Eles eram pescadores, estavam
acostumados a enfrentar tempestades, mas esta
não era uma simples garoa. De fato, as ondas inun-
davam o barco e eles achavam que iriam morrer.
Entretanto, apesar do tempo ruim, Jesus dormia.
Como pode alguém dormir debaixo de uma tempes-
tade? Poderia ser uma pergunta legítima de alguns
de seus discípulos. Entretanto, o grito de deses-
pero foi: “Senhor, salva-nos”! Jesus, pergunta aos
discípulos: “Por que vocês estão com tanto medo,
homens de pequena fé?” Então, Ele se levantou
e falou com a natureza. Ele repreendeu o vento e
o mar (Mt. 8.26), sendo prontamente obedecido.
E em profunda perplexidade perguntaram “Quem
é esse que até os ventos e mar lhe obedecem?”.
Ficou muito evidente que o poder de Jesus estava
muito além da compreensão daqueles discípulos.
Somente Deus poderia, com tanta facilidade, do-
minar a natureza.
39
b) Autoridade sobre os demônios
Enquanto caminhava pelas ruas e aldeias e até
mesmo em uma sinagoga de Israel, Ele se deparou
com pessoas que eram escravizadas por demônios.
Jesus libertou essas pessoas com grande autori-
dade. “E veio espanto sobre todos, e falavam uns
e outros, dizendo: Que palavra é esta, que até aos
espíritos imundos manda com autoridade e poder,
e eles saem”? (Lc 4:36).

c) Autoridade para ensinar


Frequentemente citamos outros professores, es-
critores ou especialistas em nosso campo de es-
tudo, mas Jesus não tinha que fazer isso. Ele falou
com Sua própria autoridade porque “toda autorida-
de no céu e terra lhe fora dada” (Mt 28:18).

d) Autoridade para curar


Jesus curava e isso era notório em todos os luga-
res por onde passava. Muitas vezes curou pessoas
quando as encontrava pelo caminho e/ou quando
elas o procuravam onde Ele estava. Vale destacar
que a sua bendita ação em benefício das pessoas
aconteciam estando elas perto ou longe. Vejamos:
40
● Perto (Lc 13:12)

Há vários relatos de pessoas doentes de diversas


enfermidades que tiveram um encontro com Jesus
e foram curadas apenas com suas palavras: “E,
vendo-a Jesus, chamou-a a si, e disse-lhe: Mulher,
estás livre da tua enfermidade” (Lc.13:12).

● Longe (Mt 8:5)

Um centurião romano se dirigiu a Jesus dizen-


do que seu servo estava em casa muito doente.
Prontamente, Jesus diz que irá à sua casa para
curar aquele servo. O centurião diz não ser digno
de receber Jesus em sua casa. Ele diz a Jesus que
bastava uma palavra e seu servo seria curado. Ele
argumenta que sabe o que é dar uma ordem e ser
obedecido. Que ele ordenava a um de seus solda-
dos que fosse e ele iria e a outro que viesse e ele vi-
ria. Que ele também estava sujeito a ordens. Então
Jesus disse àquele centurião. “Vá! Assim como você
creu, assim acontecerá”. E aquele servo foi curado.

3. Por que traziam esperança


Uma pobre mulher fora pega em adultério e leva-
da até Jesus apenas para por Jesus à prova. Pela
41
lei, ela estava condenada. Vale lembrar que a lei
determinava que os adúlteros, homem e mulher,
deveriam ser apedrejados até a morte (Lv. 20:10).
Porém, somente a mulher fora denunciada pelo adul-
tério. O homem com quem ela havia adulterado po-
deria até estar no meio daquela gente acusadora.
No entanto, Jesus não discute as questões legais.
Ele apenas disse aos acusadores “Aquele que den-
tre vós está sem pecado seja o primeiro que atire
pedra contra ela” (Jo. 8:7). Como todos saíram um
após outro, não sobrou mais ninguém para acusá-
-la. Então, Jesus disse “Mulher, onde estão aque-
les teus acusadores? Ninguém te condenou?” E ela
disse “Ninguém, Senhor”. E disse-lhe Jesus “Nem
eu também te condeno; vai-te e não peques mais.”
(Jo 8.10-11). Uma palavra de misericórdia e espe-
rança para aquela mulher.

Para pensar e agir


Jesus sempre teve as palavras certas para todos
os momentos. Sempre surpreendeu seus ouvintes
com ensinamentos profundos, porém de forma sim-
ples. Ele tinha autoridade sobre a natureza, sobre
as doenças, sobre os demônios. E Ele tinha poder.
Nunca ninguém havia visto alguém como ele.
42
Como tem sido a minha maneira de falar? As mi-
nhas palavras são consonantes com as palavras
de Jesus?

Quando falo do evangelho, falo com autoridade


ou falo verdade com cara de mentira?

Nossas palavras precisam ser marcantes, dife-


renciadas e significativas, assim como foram as
de Jesus Cristo, nosso amado Mestre, Salvador e
Senhor.

43
Lição 3
Texto Base: Mateus 5:12

As Leis do
Reino

Por Pr. Elierme Mantaia

Leitura Diária
SEG Mateus 5.1-12

TER Mateus 5.13-19

QUA Mateus 5.20-30

QUI Mateus 6.1-13

SEX Mateus 7.1-14

SÁB Mateus 7.15-23

DOM Mateus 9.10-13

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O que as expressões “sal da terra”, “luz do mun-
do”, “Deus e Mamom”, “bem-aventurados os man-
sos”, “dar a outra face” e “pérolas aos porcos” têm
em comum? Elas aparecem em vários textos e cita-
ções com muita frequência e todas elas se originam
no Sermão do Monte, o maior sermão já proferido
em todos os tempos. Esse sermão consiste nos en-
sinamentos de Jesus aos seus discípulos, que são
narrados no Evangelho de Mateus.

1. A Estrutura do Sermão do Monte


De acordo com o Dr. Dale C. Allison Jr., professor
de Novo Testamento no Seminário de Princeton,
USA, o sermão do monte tem a seguinte estrutura.
A introdução Mt.4:25 e a conclusão Mt 7:28;8:1.
Estes textos têm uma simetria e se correspondem
e têm as seguintes palavras ou frases em comum:
Mt 4:25 “numerosas multidões o seguiam”; Mt 5:1
“monte”; Mt 5:1 “subiu”; Mt 5:1,2 “ensinar”; Mt
7:28-8:1 “grandes multidões o seguiam”; Mt 8:1
“as multidões”; Mt 7:28 “monte”; Mt 8:1 “descen-
do”; Mt 8:1”ensino”; Mt 7:28 “as multidões”. Além
disso, “abrir a boca” Mt 5:2 tem como contrapartida
“quando Jesus terminou estas palavras” Mt 7:28.
O resultado de um começo e um fim que se espe-
45
lham e a criação de uma inclusão espremida en-
tre Mt 4:23-5:2 e Mt 7:28-8:1 como um livro entre
dois suportes, Mt 5:3-7:27 é marcado como uma
unidade. Isso, por sua vez, implica que o esboço
mais simples do sermão é: Introdução Mt 4:23-5:2;
Discurso Mt 5:3-7:27; Conclusão Mt 7:28-8:1.

Dr. John Stott, eminente teólogo e escritor, diz que


a essência do Sermão da Montanha foi o apelo de
Cristo a seus seguidores para serem diferentes de
todos os demais. “Não sejam iguais a eles”, disse
Jesus (Mt 6.8). O Reino que Cristo proclamou deve
ser uma contracultura, exibindo todo um conjunto
de valores e padrões distintos do mundo.

Dr. Martyn Lloyd Jones, em sua magna obra “O


Sermão do Monte”, afirma-nos que esse discurso
do Senhor Jesus permite-nos refletir com serieda-
de acerca das elevadas demandas da vida cristã
e, ao mesmo tempo, continua cativando o coração
dos crentes, levando-os a considerar a beleza e a
profundidade das palavras do Senhor Jesus regis-
tradas em Mateus 5, 6 e 7. O Sermão do Monte,
conforme diz Lloyd Jones, não é um código de ética
ou moral; é, antes, uma descrição do que o cristão
deve ser.

46
2. As bem-aventuranças
No transcurso de seu ministério, Jesus frequente-
mente se dirigia às multidões; assim também acon-
tece em Mt 5:1. O discurso todo é antecedido por:
“E ele abriu sua boca e passou a ensiná-los, dizen-
do” (Mt 5:2; Lc 6:20). Encerra-se com as mesmas
palavras: “Ora, quando Jesus acabou de proferir
estas palavras, estavam as multidões maravilha-
das de sua doutrina” (Mt 7:28; Lc 7:1). Em ambos
os evangelhos, o cenário histórico é o mesmo; o
“Sermão do Monte” é precedido por uma grande
multidão que se reúne para ouvir o Mestre. A se-
quência das ideias é a mesma: as bem-aventuran-
ças, a supremacia da lei do amor e a parábola dos
dois construtores. Jesus fala inicialmente das Bem-
aventuranças; em seguida, fala dos cidadãos do
Reino e de sua relação com o mundo, como sal da
terra e luz do mundo (Mt 5:12-16). Em sequência,
Jesus apresenta a justiça do Reino e o alto padrão
exigido pelo Rei (Mt 5:17 - Mt 7:12).

A introdução do sermão é a famosa passa-


gem tradicionalmente conhecida como as “Bem-
aventuranças” Mt 5:1-17, a palavra que introduz
cada frase na septuaginta (a versão em latim) é
47
“beatus”, que significa “muito feliz”, no grego é
makarios, que significa “supremamente abençoa-
do”. “Bem-aventurados os pobres de espírito... Bem-
aventurados os que choram... Bem-aventurados
os mansos... Bem-aventurados os que têm fome e
sede de justiça... Bem-aventurados os misericordio-
sos... Bem-aventurados os puros de coração... Bem-
aventurados os pacificadores... Bem-aventurados
os que são perseguidos”. Estas são as leis do Reino.
Parece uma lista de características que o cristão
tem e pelas quais é abençoado e feliz; mas, na ver-
dade, oferece uma série de desafios colocados por
Jesus àqueles que desejam segui-lo, deixando cla-
ro onde deve estar sua prioridade na vida. Se ser
cristão não significa necessariamente ser pobre,
oprimido ou vitimizado como Jesus foi; envolve ten-
tar ser gentil, compreensivo e reconciliador, como
Jesus se propôs a ser; então os cristãos são todos
‘bem-aventurados’, isto é, afortunados, pois estão
imitando seu Mestre de todas essas maneiras. Eles
pertencem a Deus, e Ele está do lado deles: ‘deles
é o Reino dos céus’.

A primeira bem-aventurança nos dá uma pista im-


portante sobre o que todas elas estão apontando.
Pode ser observado que o equivalente no Sermão
48
da Planície, de Lucas, que começa de forma mais
simples, “Bem-aventurados vocês que são pobres”
Lc. 6:20, exemplificando a preocupação de Lucas
em mostrar Jesus particularmente preocupado
com os economicamente pobres e vulneráveis na
sociedade. Em contraste, Mateus escreve: ‘Bem-
aventurados os pobres de espírito’, dando ao en-
sinamento de Jesus uma dimensão mais espiritu-
al que está em consonância com o ensinamento
do Antigo Testamento sobre ‘os pobres de Deus’,
os anawim (pobres), que eram reconhecidos como
aqueles que colocaram toda a sua confiança em
Deus e em seu cuidado por eles. Logo no início do
Sermão do Monte, Jesus convida todos os que que-
rem segui-lo a serem ‘pobres de espírito’ — isto é,
nunca serem totalmente dependentes de si mes-
mos ou de seus recursos e bens materiais, mas
confiando sempre no amor de Deus por eles, acon-
teça o que acontecer.

Depois de listar as bênçãos pelas quais seus se-


guidores se identificam com ele, Jesus afirma que
seus discípulos são ‘o sal da terra’, tornando a água
saudável por meio de seu discipulado “Então saiu
ele ao manancial das águas, e deitou sal nele; e
disse: Assim diz o Senhor: Sararei a estas águas; e
49
não haverá mais nelas morte nem esterilidade” (2
Reis 2:21); e como a ‘luz do mundo’ Mt 5:13-16, ilu-
minando outros em seu testemunho cristão. Jesus
faz uma afirmação muito importante e de grande
significado, dizendo que qualquer bem que eles fa-
çam na condição de discípulos, estarão fazendo
pelo poder de seu Pai: ‘deixe sua luz brilhar diante
dos outros, para que eles vejam vossas boas obras
e deem glória ao vosso Pai que está nos céus’ (Mt
5:16). No fim da parte introdutória do sermão, Jesus
tranquiliza seus discípulos que vieram do judaísmo
dizendo que a Lei do Reino não deixará de lado a
lei mosaica. Pelo contrário, Jesus diz que veio “não
para abolir, mas para cumprir” a lei e os profetas
(Mt 5:17).

3. O Sermão do Monte e a vida do


cristão
O “Sermão do Monte” foi pronunciado na prima-
vera do ano 28 d.C., após Jesus ter passado uma
noite em oração (Lc 6:12). A oração foi seguida pela
escolha dos doze discípulos (Mc 3:13-19; Lc 6:13-
16). Esta, por sua vez, foi sucedida pela cura de
muitos enfermos (Lc 6:17-19). Vindo em sequên-
cia o “Sermão do Monte” (Lc 6:20-49).
50
Ao finalizar o referido Sermão, Jesus nos advertiu
a fazermos nossas escolhas de forma apropriada,
com base nas orientações de Deus em Sua Palavra
e não simplesmente seguir a multidão, tomando o
caminho mais fácil para viver. Em Mt 7:13,14 Jesus
fala da porta estreita, que não é a escolha mais
confortável e nem a escolha da maioria. Ele nos
adverte sobre os falsos profetas que afirmam ser
cristãos, mas cujas vidas não refletem os valores
de Deus e a verdadeira conversão. Profetas e mi-
nistros devem ser avaliados por seus frutos — suas
ações e os resultados das mesmas. No versículo
16, é dito “Por Seus Frutos”. Então Jesus deu uma
advertência muito séria: “Nem todo aquele que me
diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus,
mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está
nos céus” Mt 7: 21. Nem todo que se auto intitula
cristão é realmente cristão. Devemos obedecer às
leis do Reino dadas por Jesus no sermão do monte,
caso contrário Jesus dirá: “Eu nunca vos conheci;
apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquida-
de!” Mt 7:23.

Para pensar e agir


As impactantes palavras de Jesus no Sermão do
51
Monte devem ser cuidadosamente observadas por
todos aqueles que dizem ser seus discípulos. Se a
práxis diária não for a de dar a outra face, ser luz
ou ser sal fora do saleiro, ou seja, se não for o fiel
cumprimento das Leis do Reino, não seremos súdi-
tos deste Reino.

No meu dia a dia tenho obedecido às “Leis do


Reino”? Tenho feito tudo o que Ele tem nos orienta-
do a fazer? Guardar, observar e obedecer ao Rei do
Reino e Suas diretrizes precisam ser o nosso ideal.

52
Lição 4
Texto Base: Mateus 13.3a, 10, 11

Histórias
Inesquecíveis

Por Pr. Lucas do Amaral Silva

Leitura Diária
SEG Mateus 13.3-9

TER Mateus 13.18-23

QUA Mateus 13.24-30

QUI Mateus 13.36-43

SEX Mateus 13:34,35

SÁB Lucas 21:29-31

DOM Efésios 2.3-5

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Quando estamos na escola, observamos tanto
nas atividades que o professor passa, quanto nos
livros os exemplos do conteúdo ali proposto, seja
um cálculo de matemática ou um exercício de língua
portuguesa, que serve como orientação para uma
melhor compreensão daquilo que está sendo pas-
sado. Outra experiência que temos desde criança
são as fábulas e apólogos que nos trazem muitas
histórias que têm como objetivo nos ensinar uma
lição ou nos ajudar a compreender algo da vida.
Ilustrar é uma das melhores formas de transmitir um
ensinamento. Na cultura oriental são muito usadas
as parábolas, ilustrações e histórias. Jesus fez uso
delas como ferramenta de propagação da palavra
da vida.

O vocábulo “parábola” (termo originado da pala-


vra grega “Parabolê”), por derivação significa “pôr
as coisas lado a lado” e se assemelha à palavra
“alegoria”, que por derivação significa “dizer as coi-
sas de maneira diferente”. O Dr. Augustus Strong,
notável teólogo batista, comenta: “No que tange
às parábolas de Jesus registradas nos evangelhos,
tanto a supervalorização como a supersimplifica-
ção devem ser evitadas na interpretação das pa-
rábolas. As parábolas de Jesus visam iluminar o
54
ouvinte, apresentando-lhe ilustrações que possam
concluir por si mesmo e, neste caso, com a ajuda
do Espírito Santo, a absorção das verdades espi-
rituais do texto. As verdades assim aprendidas fi-
xam-se na mente e no coração mais facilmente.”

Nesta lição aprenderemos um pouco sobre as


ilustrações que Jesus contou para revelar as verda-
des profundas do Reino de Deus. Estudaremos as
estruturas das mais conhecidas parábolas e sua
aplicação para nossos dias.

1. O Semeador
A primeira parábola que encontramos no Novo
Testamento dita e explicada por Jesus é a parábo-
la do semeador (Mt 13.1-23), em que ele saiu a
semear e parte das sementes caíram pelo cami-
nho e as aves as comeram, outra parte caiu em
solo rochoso, onde rapidamente as sementes ger-
minaram, mas como não tinha muita terra para fir-
mar suas raízes ao sair o sol as queimou e secou.
Outras caíram em meio a espinhos e os espinhos
as sufocaram. Por fim, outra caiu em boa terra, ger-
minou e deu muitos frutos.

Esta parábola não precisa de muito esforço para


55
compreender, já que o próprio Cristo deu sua expli-
cação (Mt 13.18-23). As primeiras sementes que
caíram pelo caminho representam o coração da-
queles que ouviram as boas novas e não as com-
preenderam, nem acolheram, então vem o maligno
(as aves) e leva aquilo que foi semeado (13.19).

As sementes que caíram em solo rochoso são os


que recebem com alegria a mensagem, mas por
conta da perseguição e angústias deste mundo logo
a abandona (13.20-21). Os ensinos aqui descritos
nos permitem aplicar aos que se mostram inconsis-
tentes, nominais, sem raízes profundas, instáveis,
vulneráveis e que jamais pagariam o preço pelo
evangelho, nem muito menos estariam dispostos a
dar a sua vida por ele.

As que caíram em meio aos espinhos são os que


ouvem a palavra, mas a preocupação com este mun-
do e a sedução das riquezas os sufocam, tirando
seu foco do alvo, tornando-os infrutíferos (13.22).
São aqueles cujo os corações ainda estão fascina-
dos e ligados à realidade e demandas deste mun-
do.

Por fim, as que caíram em boa terra são os que


ouvem a palavra e a compreende e assim dão bons
56
frutos (13.23). Estes são os salvos e redimidos ver-
dadeiramente por Cristo.

2. O Joio e o Trigo
Imediatamente após a parábola do semeador,
Jesus lhes contou uma outra parábola (13.24-30),
que falava sobre um homem que semeou boa se-
mente em seu campo, mas ao anoitecer veio seu
inimigo e semeou joio no meio de seus trigos. Ao
produzir o fruto, apareceu também os joios, e seus
servos propuseram que fossem arrancados, mas o
senhor não deixou que fizessem isto, pois ao ten-
tar arrancá-los poderiam também arrancar os tri-
gos. Então disse-lhes que esperassem a colheita,
pois no dia da colheita diria aos seus ceifeiros para
ajuntar os joios e os queimar e que os trigos fossem
recolhidos e postos em seu celeiro.

Esta parábola é interpretada mais adiante por


Jesus (13.36-43). Ele começa explicando o que sig-
nifica cada elemento. O que semeia a boa semen-
te é o Filho do Homem (13.37), o próprio Cristo; o
campo é o mundo; a boa semente são os filhos do
Reino, os servos de Jesus, os salvos; o joio são os
filhos do maligno (13.38), os ímpios; o inimigo que
57
os semeou é o diabo; a ceifa é a consumação dos
séculos e os ceifeiros são os anjos (13.39). Então
Ele explica o contexto da história (13.40-42), dizen-
do que assim como o joio é colhido para ser lança-
do no fogo, assim será no fim dos tempos com to-
dos os que praticam a iniquidade, sendo lançados
na fornalha acesa, ardente (13.50). Já os justos
resplandecerão no Reino (celeiro) de seu Pai, o lar
celestial para todo o sempre.

Nesta parábola podemos compreender o motivo


de vermos tantas pessoas que aparentam ser rege-
neradas, mas que na verdade são joios em nosso
meio. Não é fácil para nós distinguirmos aqueles
que são pecadores em processo de santificação
daqueles que são ímpios disfarçados demonstran-
do sua verdadeira natureza. Por isso, precisamos
tolerar com paciência os injustos pois no grande
dia o Senhor da seara dará a recompensa de cada
um.

3. O Reino dos céus


A expressão “Reino dos céus” ocorre 33 vezes
em Mateus. O “Reino de Deus” ocorre 4 vezes em
Mateus (Mt 12:28; 19:24; 21:31; 21:43), 14 ve-
58
zes em Marcos, 32 vezes em Lucas e 2 vezes em
João (Jo. 3:3,5), 6 vezes em Atos, 8 vezes nas car-
tas de Paulo e 1 vez em Apocalipse (Apoc. 12:10).
O “Reino dos céus” e o “Reino de Deus” são varia-
ções linguísticas da mesma ideia. A língua judaica
frequentemente colocava um termo apropriado no
lugar do nome da deidade (Lc 15:21; Mt 21:25; Mc
14:61). Na parábola do joio, assim como em mui-
tas outras, vemos a expressão “O Reino dos Céus
é como”. Essa frase se repete inúmeras vezes, po-
dendo estar explícita ou implícita, mas a verdade
é que todas as parábolas de Jesus falam sobre o
Reino dos Céus. Cristo sabia que se falasse direta-
mente, a mente humana dificilmente entenderia ou
teria uma noção de como realmente é o lar celeste
(Jo 16.12). Então Jesus usa as parábolas para dar
uma ideia de como é o Reino de Deus.

O Reino dos Céus ou Reino de Deus é o tema


central da pregação de Jesus, segundo os evan-
gelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). A pro-
clamação do reino por Jesus seguia a pregação de
João Batista, só que nos ensinos de Cristo a men-
sagem do Reino tem uma amplitude eterna. Jesus
anunciava o Reino (Mc 1:14,15) não simplesmente
como uma realidade que está para realizar-se em
59
um futuro escatológico, mas também como uma re-
alidade que já se fizera presente em Sua própria
pessoa, vida e ministério (Mt 9:35; Mt 12:28; Lc
17:20,21).

Quão maravilhoso é para nós sabermos que Deus


se importou em nos explicar sobre o seu reino, so-
bre as coisas que outrora nos eram ocultas, mas
que pelo seu Santo Espírito nós as compreende-
mos. É maravilhoso saber que Deus quis comparti-
lhar conosco parte de seu conhecimento eterno (Pv
2.6, Ef 1.17, 2 Pe 1.3-7). Maravilhosa é a Graça de
Deus que pelo seu precioso amor não apenas nos
dá o conhecimento do Reino, mas nos chama a fa-
zer parte dele, mesmo não sendo merecedores (Ef
2.3-5).

Para pensar e agir


1. Olhando para a parábola do Semeador, você
entende que tem sido que tipo de semente, aquela
que recebe da Palavra da Verdade e logo a abando-
na por conta das coisas desse mundo ou a que foi
semeada em terra boa e produz bons frutos? Que
frutos você tem produzido?

2. Como se sente ao saber que Deus comparti-


60
lha com você as coisas do seu reino?

Deus te chamou não para viver para sempre nes-


te mundo, mas para ter uma vida eterna ao lado
dEle, então não perca o alvo, agarre-se em Cristo,
pois Ele é“.. o caminho, e a verdade, e a vida…” (Jo
14.6).

61
Lição 5
Texto Base: Mateus 24 e 25

Vede Que Vos


Tenho Predito
Marcos 13:23

Por Pr. André Luiz Cotrim de Alencar

Leitura Diária
SEG Mateus 24:1-14

TER Mateus 24:15-28

QUA Mateus 24:29-41

QUI Mateus 24:42-51

SEX Mateus 25:1-13

SÁB Mateus 25:14-30

DOM Marcos 13:1-23

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O famoso “Sermão Profético”, também chama-
do “Profecia do Monte das Oliveiras” está registra-
do nos três evangelhos sinóticos, respectivamente
nos textos de Mateus 24 e 25, Marcos 13:1-27 e
Lucas 21:5-36. Nesse importante conjunto de en-
sinamentos, Jesus dá aos seus discípulos instru-
ções acerca dos eventos do porvir, a fim de que
estivessem preparados quando estes aconteces-
sem. Ele não dá detalhes a respeito dos aconteci-
mentos, mas orientações sobre o comportamento
diante das circunstâncias. Muito mais do que falar
sobre o “quando”, o Senhor focaliza suas palavras
no “como”. Os ensinos do Mestre foram preciosos
no enfrentamento daqueles dias difíceis vivencia-
dos pelos cristãos do primeiro século e certamente
continuam valiosos para os cristãos da atualidade.

Interessante pensar que esta conversa entre


Jesus e seus discípulos teve origem na admiração
demonstrada por eles ao observarem as belíssi-
mas edificações do Templo de Jerusalém. Os após-
tolos nitidamente esperavam que o Senhor com-
partilhasse com eles do mesmo entusiasmo diante
dos luxuosos adornos do templo. Frustrando suas
expectativas, Jesus profetiza a respeito da com-
pleta destruição daquelas paredes imponentes.
63
Surpreende como a visão daqueles homens estava
meramente limitada ao natural, enquanto o Mestre
enxergava muito além do que seus olhos eram ca-
pazes de ver. Precisamos estar atentos a fim de não
sermos distraídos pelas belezas do mundo natural
e ficarmos “míopes” para as verdades eternas.

1. Queda de Jerusalém e Segunda


Vinda de Cristo (Mt 24:1-41)
Os elementos que compõem as palavras proféti-
cas proferidas por Cristo neste sermão estão relacio-
nados às perguntas feitas pelos discípulos quando
chegaram ao Monte das Oliveiras, após deixarem
o ambiente do templo. Estas indagações, por con-
seguinte, foram provocadas pelo prenúncio da des-
truição daquele lugar sagrado (Mt 24: 2, 3).

Nesta seção do texto, o evangelista reuniu os di-


zeres de Jesus que predizem a queda de Jerusalém
e a vinda final do Filho do Homem em juízo. Parece
que os discípulos quando colocaram essas duas
interrogações em justaposição, atrelaram os dois
eventos muito de perto em suas mentes. Para eles,
a iminente queda da cidade santa e a vinda de
Jesus, que marcaria o fim da presente era, acon-

64
teceriam concomitantemente. Contudo, Jesus de-
monstra preocupação em orientar seus discípulos
no sentido de que esses dois “julgamentos” não
ocorreriam necessariamente em ordem cronológi-
ca imediata. O Mestre passa, então, a exortá-los
a não se deixarem levar pelas enganosas afirma-
ções dos falsos Messias que surgiriam de tempos
em tempos, bem como não considerarem que os
eventos que poderiam parecer de natureza desas-
trosa (a exemplo: guerras entre nações, terremotos
e fomes severas), fossem sinais incontestáveis de
que o fim estava próximo. Esses acontecimentos,
na verdade, constituem apenas o “princípio das do-
res” (Mt 24: 4-8). Jesus também previu a persegui-
ção da igreja promovida pelo mundo, o consequen-
te “abandono da fé”, surgimento de falsos profetas
e decadência espiritual com traições e ódio den-
tro do próprio corpo cristão. A culminância desses
eventos está na profecia a respeito da pregação do
evangelho do reino pelo mundo inteiro, “então virá
o fim” (Mt 24: 9-14).

Nos versos 15-28, Jesus passa a tratar dos


eventos relacionados à destruição de Jerusalém.
O Senhor faz menção da expressão “abominável
da desolação” ou “abominação assoladora”, ter-
65
mo utilizado pelo profeta Daniel em 11:31 e 12:11,
cujas predições tiveram seu cumprimento por meio
do monarca selêucida Antíoco Epifânio, que no ano
170 a.C. profanou o templo ao erigir um altar a Zeus
e ordenar sacrifícios sobre ele. Entendemos, por-
tanto, que essa profecia possui duplo cumprimen-
to. O evangelista Lucas interpretou que a consuma-
ção dessa fala profética dar-se-ia quando do cerco
e posterior invasão da cidade de Jerusalém fosse
perpetrada pelos exércitos romanos (Lc 21: 20).

O surgimento deste sinal seria uma indicação para


os habitantes da Judéia de que chegara o tempo de
sua desolação. Conforme as instruções de Jesus,
deveriam fugir imediatamente para os montes, e
tão depressa que não haveria tempo de salvar seus
pertences. Os discípulos deveriam orar para que as
condições dessa fuga fossem favoráveis, ou seja,
para que não tivesse de ser realizada no inverno,
nem no sábado.

2. Cumprimento das Profecias


Os chamados “sinais dos tempos” anunciados
por Jesus servem para confirmar a verdade de suas
palavras e não para o estabelecimento de um ca-
66
lendário escatológico. Certamente, o cumprimento
desses eventos fortaleceu a fé dos primeiros cren-
tes, bem como das gerações posteriores que pude-
ram observar no curso da história a realização des-
sas profecias. Vamos destacar aqui alguns desses
sinais.
● No ano 70 d.C., cerca de 37 anos após o
sermão profético ter sido pronunciado no Monte
das Oliveiras, sob a liderança do comandante
romano Tito, a cidade de Jerusalém é invadida
e destruída pela segunda vez em sua história.
Quando chegou a crise, os judeus cristãos fugi-
ram para Pella, na Peréia, uma das cidades de
Decápolis. Para chegar lá, tiveram que fazer uma
viagem de 160 quilômetros através dos montes
da Judéia e de Moabe. “Então os que estiverem
na Judéia fujam para os montes” (Mt 24: 16). Os
soldados romanos também colocaram fogo no
Templo e, posteriormente, por ordem de César,
nivelaram as suas paredes, na demolição sis-
temática da cidade. “Em verdade vos digo que
aqui não ficará pedra sobre pedra que não seja
derrubada” (Mt 24:2).
● “Porque virão muitos em meu nome, dizen-
do: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos” (Mt
67
24:5). O historiador Flávio Josefo afirma que
quando Félix era o procurador da Judéia, torna-
ram-se tão numerosos os “impostores de nature-
za religiosa” que alguns deles eram mortos qua-
se todos os dias. Três desses falsos cristos são
mencionados no livro de Atos: Teudas (5:36),
Judas da Galiléia (5:37) e o egípcio (21:28).
● “E ouvireis falar de guerras e rumores de
guerras (...)” Quando lemos esta passagem, na-
turalmente pensamos nos inúmeros conflitos
bélicos de nossa história recente. Contudo, é
importante observar que os judeus do primeiro
século vivenciaram o cumprimento dessas pa-
lavras ainda em sua época.
● “(...) e haverá fomes e terremotos em vários
lugares”. A grande fome predita por Ágabo (At
11:28) também foi registrada por alguns historia-
dores, como Suetônio, Tácito e Eusébio. Ocorreu
nos dias do imperador Cláudio César (41-54
d.C.) e foi tão severa em Jerusalém que muitos
morreram de inanição, por falta absoluta de ali-
mentos. Ocorreram também vários terremotos
nesse período. Em Creta, 46 d.C.; Apamea, na
Frígia; Campanha; Laodicéia e Jerusalém, 67
d.C.
68
3. A importância de sermos
vigilantes
Jesus deixa claro neste sermão que não há meios
de predizer os eventos precisos que precederão a
vinda final do Filho do Homem, pois esses eventos
serão tão inesperados como a vinda do dilúvio nos
dias de Noé, ou o arrombamento de uma casa feito
por um ladrão. O Mestre orienta seus discípulos a
estarem preparados para o inesperado. Conforme
podemos observar na parábola do servo fiel e do
infiel, os que foram colocados por seu Senhor em
posições de responsabilidade especial, os líderes e
mestres da igreja cristã, devem estar tão constan-
te e fielmente ocupados com o seu trabalho que,
quando ele voltar, ache-os prestando serviço a seu
Senhor.

O dever de vigiar mostra-se tão essencial que o


Senhor Jesus insere em seu discurso três parábo-
las que tratam do senso de expectativa que precisa
existir em todo aquele que aguarda pelo advento da
segunda vinda. Para garantir a atitude de vigilância,
cada geração deve considerar a possibilidade de
estar vivendo nos últimos tempos, e que todos es-
ses acontecimentos podem ser completados den-
69
tro de um breve período.

Para pensar e agir


1. Os discípulos ficaram admirados diante da be-
leza do Templo. Assim como eles, nós também nos
maravilhamos mais com os encantos desta terra
em detrimento das maravilhas dos céus?

2. Jesus alertou seus discípulos quanto ao cuida-


do que deveriam tomar a fim de não serem engana-
dos pelos falsos profetas, bem como não se deixa-
rem alarmar pelos acontecimentos deste mundo.

3. Jesus enfatizou a importância de nos manter-


mos alertas acerca da sua vinda. Precisamos culti-
var o senso de expectativa de que o nosso Senhor
voltará em breve.

70
Lição 6
Texto Base: Lucas 7:22,23

Sinais e
Maravilhas

Por Pr. André Luiz Cotrim de Alencar

Leitura Diária
SEG Lucas 7:11-17

TER Lucas 7:18-23

QUA Lucas 7:24-28

QUI Lucas 5:17-26

SEX Lucas 8:22-25

SÁB Mateus 14:22-33

DOM João 20:24-31

Voltar para o sumário


João Batista, homem acostumado à liberdade do
deserto, agora estava encerrado em uma prisão,
na masmorra de Maquerós, nas proximidades do
mar Morto. Permaneceria ali por quase um ano até
ser martirizado. Diante de tantos sinais extraordi-
nários operados por Jesus, talvez João tivesse a
expectativa de ser libertado dessa masmorra por
uma intervenção sobrenatural. Porém, em virtude
de as circunstâncias não mudarem, ele envia dois
de seus discípulos a Jesus, para saber se ele era
mesmo o Messias, ou se haveria de esperar outro
(Lc 7: 19). Causa-nos estranheza quando nos depa-
ramos com este episódio registrado nos evangelhos
de Mateus e Lucas, tendo em vista que fora o pró-
prio João Batista, o grande precursor do Messias,
a reconhecer e apontar para Ele como aquele que
haveria de vir (Jo 1: 29-34). Como o grande profeta
agora questiona suas próprias convicções?

João falou sobre um Messias que traria o juízo


de Deus. Um Messias que colocaria o machado na
raiz da árvore. Um Messias que recolheria a palha
e a jogaria na fornalha acesa. João, talvez, esperou
que Jesus viesse exercer seu juízo, sua vingança,
brandindo a espada com uma corte celestial para
libertá-lo. Mas o que João escuta é sobre os atos
72
de misericórdia de Jesus. O Messias não se move
para libertá-lo. Enquanto Jesus está cuidando dos
enfermos, João está mais próximo do martírio. A
resposta que Jesus apresentou diante do questio-
namento do Batista, evidenciava os sublimes pro-
pósitos contidos nos sinais e maravilhas realizados
pelo Cristo. Nesta lição falaremos destes propósi-
tos e observaremos que os milagres tinham um ob-
jetivo muito maior.

1. Os milagres de Jesus
evidenciavam a chegada do Reino
de Deus
O anúncio da iminente chegada do Reino de Deus
estava no centro da mensagem de João Batista, a
ele coubera a nobre tarefa de apregoar essa impe-
riosa mensagem: “Arrependei-vos, pois o reino do
céu está próximo”. (Mt 3:2).

A vinda de Jesus marcava uma linha divisória.


Ele veio inaugurar o reino. E os valores do reino
são completamente diferentes de tudo o que os ho-
mens conheciam. E o menor daquele reino é maior
do que o maior entre os homens. Conforme a ava-
liação feita por Jesus acerca de seu primo e arauto
73
que lemos em Lc 7: 28 “entre os nascidos de mu-
lher, não há outro maior que João”. Contudo, João
pertencia à era da promessa. O menor do reino é
maior não por causa de quaisquer qualidades que
venha a possuir, mas sim porque pertence ao tem-
po do cumprimento. Jesus não está subestimando
a importância de João; está colocando os cidadãos
do reino na perspectiva apropriada.

Os milagres de Jesus evidenciavam a chegada do


Reino, pois a mensagem transmitida por meio deles
mostrava que o reino dos céus abre as portas para
que os rejeitados sejam aceitos. Ninguém era mais
discriminado na sociedade do que os cegos, os co-
xos, os leprosos e os surdos. Eles não tinham valor,
eram marginalizados pela sociedade. Eram como
excesso de bagagem à beira da estrada. Mas, a
estes que a sociedade chamava de escória, Jesus
valorizou, restaurou, curou e devolveu a dignidade.
Jesus manda dizer a João que o reino que ele está
implantando não tem os mesmos valores dos rei-
nos deste mundo. No reino de nosso Senhor Jesus
Cristo a sepultura não tem força e a morte não tem
mais a última palavra. O problema do homem não
é o tipo de morte que enfrenta agora, mas o tipo de
ressurreição que terá no futuro (Jo 5.29; Jo 11.25).
74
Se Jesus é o nosso Senhor, então a morte não tem
mais poder sobre nós. Seu aguilhão foi arrancado.
A morte foi vencida (1Co 15: 54-57).

2. Os milagres de Jesus
apresentavam a mensagem do
evangelho
O ministério de Jesus não se limitava a cura do
corpo, mas, sobretudo, a cura da alma. Não há nada
mais inclusivo do que o evangelho de nosso Senhor
Jesus Cristo. Nosso Mestre por excelência ensinava
a todos quantos desejassem ouvir suas palavras.
Curava e libertava de espíritos maus tantos quantos
se aproximassem dele a fim de serem agraciados
pela virtude que dEle fluía. O alcance indiscrimina-
do do ministério de Jesus é expresso por Ele mes-
mo ao afirmar: “Vinde a mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt
11: 28). Contudo, a mensagem do evangelho não é
apenas inclusiva, mas, também e principalmente,
transformadora. Todos aqueles que vinham a Jesus
conforme estavam, não poderiam permanecer na
mesma condição em que se encontravam.

Jesus não curava apenas por curar, sem obje-


75
tivo. Sempre fazia a ponte com a Sua mensagem.
Quando Jesus alimentou a multidão em Jo 6:35,
Ele se declarou como pão da vida; depois de livrar
a mulher adúltera do apedrejamento (Jo 8: 12) e
antes de abrir os olhos do cego (Jo 9:5), se revelou
como a luz do mundo. Na cidade de Betânia, quan-
do conversava com Maria, irmã de Lázaro, Jesus já
sabendo o grande milagre que iria realizar, afirmou
ser a ressurreição e a vida (Jo 11: 25).

Os propósitos dos milagres de Jesus eram para


apontar a existência de Deus, glorificar ao Pai, de-
monstrar a grandeza do Seu poder, a revelação de
Jesus como Messias, o Filho de Deus.

3. Os milagres de Jesus revelavam


a Sua divindade
Além de testificar acerca da chegada do Reino e
apresentar o teor da mensagem evangelística, os mi-
lagres revelavam a divindade de Cristo. Observamos
no evangelho de João que os milagres registrados
atestam que Jesus é o Filho de Deus. “Na verdade,
fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais
que não estão escritos neste livro. Estes, porém,
foram registrados para que creiais que Jesus é o
76
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nome” (Jo 20: 31). A designação Filho
de Deus, ao contrário do que os arianos modernos
afirmam, evidenciam a divindade de Cristo “Quem
nele crê não é julgado; o que não crê já está julga-
do, porquanto não crê no nome do unigênito Filho
de Deus” (Jo.3.18). O uso da expressão unigênito
Filho de Deus é uma das formas pelas quais João
apresenta Cristo como divino.

Jesus apresentou sua divindade em diversas


ocasiões, podemos citar alguns desses eventos.
No caso da tempestade acalmada (Mt 8.23-27;
Mc 4.35-41; Lc 8.22-25), vemos que a pergunta
dos discípulos era exatamente sobre Sua pessoa:
“Quem é este que até os ventos e o mar lhe obe-
decem?” (Mt 8.27; Mc 4.41; Lc 8.25). Embora ne-
nhuma conclusão dos seus discípulos seja dada,
a pergunta pode ser entendida como retórica, pois
ficou evidente que entre os homens, ninguém teria
tal poder. Entretanto, quando Cristo anda sobre as
águas, segundo o relato de Mateus, fica evidente
que os Seus discípulos o reconheceram como Deus:
“Verdadeiramente és Filho de Deus!” (Mt 14:33).

Jesus demonstrou possuir soberania divina, ou


77
seja, autoridade exclusiva de Deus, no fato de que
Ele podia perdoar pecados (Lc 5:17-26). Quando
se trata de pecado no sentido mais geral, porém,
meros homens não têm autoridade para perdoar.
Pecados são ofensas contra Deus, e só Deus pode
perdoá-los. O Antigo Testamento deixou claro esse
fato: “Contigo, porém, está o perdão, para que te
temam” (Sl 130:4). Deus disse: “Eu, eu mesmo,
sou o que apago as tuas transgressões por amor
de mim, e não me lembro dos teus pecados” (Is
43:25). Daniel disse: “Ao Senhor, nosso Deus, per-
tence a misericórdia e o perdão, pois nos temos re-
belado contra ele” (Dn 9:9).

Por fim, na relação de Cristo com o sobrenatural


vemos os espíritos malignos reconhecendo a natu-
reza divina de Jesus. Os demônios na cidade dos
gerasenos clamaram em alta voz: “Que tenho eu
contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo?” (Lc 8: 28).
Certamente que as forças das trevas já conheciam
a real natureza de Jesus Cristo, ao contrário dos
homens que ainda estavam descobrindo.

Para pensar e agir


1. A prisão fez com que o grande João Batista
78
questionasse suas próprias convicções. Como te-
mos enfrentado as circunstâncias desfavoráveis
da nossa vida? As dificuldades têm enfraquecido
ou fortalecido nossa fé?

2. Jesus Cristo veio inaugurar o Reino de Deus! Os


valores deste reino são muito diferentes daqueles
defendidos pela sociedade. Assim como o Senhor
apresentou esses valores ao longo do seu ministé-
rio, somos desafiados a fazer o mesmo em nosso
dia a dia.

3. Os milagres realizados por Cristo apontavam


para a revelação de sua natureza divina, bem como
para a realidade do reino dos céus e a natureza
de sua mensagem transformadora. Não podemos
ter dúvidas acerca destas coisas, pois delas fomos
chamados para darmos testemunho.

79
Lição 7
Texto Base: Marcos 8:16,17

Autoridade
Sobre as
Forças do Mal

Por Pr. Leandro da Costa Carvalho

Leitura Diária
SEG Lucas 8:26-39

TER Atos 10:36-38

QUA Marcos 1:21-28

QUI Lucas 13:10-17

SEX Marcos 5:1-20

SÁB Marcos 7:24-30

DOM Marcos 9:14-27

Voltar para o sumário


Os maravilhosos prodígios de Jesus mostraram
como Sua autoridade, Sua presença e Seu modo
de lidar com as pessoas significavam salvação e li-
bertação para elas. Assim, também significou para
nós quando nos encontramos com o Mestre. Temos
plena consciência de que o encontro com Cristo era
o princípio de uma nova vida e receber a salvação,
que é dádiva de Deus e presente imerecido. Por
isso, devemos ser gratos a Ele e reconhecer o Seu
senhorio e a Sua autoridade.

Jesus é quem tem toda a autoridade no céu e na


terra (Mt 28.18). Tudo está no domínio e controle
de Suas mãos e debaixo do Seu poder, inclusive
nossas vidas, o universo e as forças do mal (1 Co
15.27; Ef 1.20-23). Como faz bem a certeza que
Jesus Cristo, o Messias de Deus, é quem sustenta
todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3).
Nesta lição, estudaremos os milagres que Cristo re-
alizou em pessoas possessas de espíritos malignos.
Vamos também aplicar esses ensinamentos para
compreendermos como identificar e, assim como
Jesus, sermos agentes de cura espiritual contra as
ações malignas que tanto agridem nesse tempo.
81
1. Como agentes de Cristo
devemos valorizar aqueles a quem
nosso Senhor valorizou
O texto de Lc 8:26-39 nos relata como Jesus re-
alizou mais um de seus milagres. Antes de chegar
com seus discípulos ao destino pretendido, enfren-
taram uma forte tempestade. Neste momento, de-
pois que os ventos foram acalmados, eles foram
levados ao seu porto desejado, e navegaram para
a terra dos gadarenos, e ali chegaram à praia, con-
forme lecionam objetivamente os versículos 26 e
27 do mesmo texto, como segue: “Então, rumaram
para a terra dos gadarenos, fronteira da Galiléia.
Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encon-
tro um homem possesso de demônios que, havia
muito, não se vestia, nem habitava em casa algu-
ma, porém vivia nos sepulcros”. E, logo o Senhor se
encontrou com o alvo de sua missão naquele lugar.
Jesus deu tanto valor àquela vida, que considerou
que valeria a pena atravessar a tempestade para
libertá-la.

Às vezes, devemos renunciar à satisfação e até


mesmo aos benefícios e confortos pessoais para
ganharmos uma oportunidade de sermos úteis às
82
pessoas e investirmos para a salvação de suas al-
mas.

Jesus Cristo é o regente do tempo e da eternidade,


Senhor sobre toda a criação, Aquele que em tudo
tem a supremacia, que abriu mão da Sua glória, es-
vaziou-se para descer a este mundo e se entregar
naquela cruz para resgatar a humanidade perdida
e decaída. Que maravilha e exemplo de amor! Ele
se importou com toda a humanidade, sendo para
nós, os que creem, exemplo de conduta e de como
também devemos nos importar com aqueles que
estão presos pelo pecado e cegos de entendimen-
to (2Co 4.3,4).

Quando lemos sobre a pessoa de Jesus, vemos


que Ele se importou com o outro. Isso demonstra
que como servos de Cristo devemos nos importar
também com o próximo. Deus sempre olhou para
o necessitado com carinho e é com este mesmo
olhar que devemos ver quem está ao nosso redor.
Desprezar e escarnecer o necessitado é insultar
diretamente a Deus (Pv. 17.5), a Palavra nos ensi-
na que devemos ser justos e não negar a justiça a
quem precisa (Dt 27.19). Como servos do Senhor,
devemos agir como Ele agiu, valorizando os que se
83
encontram desvalorizados. Pois, na cruz de Cristo,
todos nós fomos levantados. Por isso, devemos pres-
tigiar àqueles a quem Deus, na pessoa de Jesus,
valorizou.

2. Como agentes de Cristo


devemos fazer o bem como o
nosso Senhor
“Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o
Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda
parte, fazendo o bem, e curando a todos os oprimi-
dos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10:38).
A igreja em seu início, fato que podemos conferir no
livro dos Atos dos Apóstolos, dava testemunho de
que Jesus andou pela terra dos judeus fazendo o
bem. Esse “fazer o bem” é depois explicado com
a cura de doentes e a expulsão de demônios. Isso
combina com o que os evangelhos narram sobre
a maneira íntima de como o Mestre se importou
com os necessitados, com a Sua compaixão para
com os doentes e para com todos os que, no modo
de pensar da época, estavam “oprimidos”. Jesus
se empenhava ativamente por todos os necessita-
dos. Diante dos frutos maus e dolorosos das tre-
vas, Ele colocava somente atos bons. As Escrituras
84
Sagradas nos ensinam a olhar para Jesus para al-
cançarmos o ideal e os propósitos de Deus. Vamos
avançar olhando para Cristo, o Mestre bendito, imi-
tando-o e seguindo os seus passos. Aprendemos
que Jesus, o Filho amado, enviado de Deus, veio a
este mundo para oportunizá-lo e fazer-lhe o bem.
Agora, Ele nos envia para fazermos à semelhança
dos Seus feitos.

A liberdade que Cristo nos dá nos faz olhar com


compaixão para os que estão aprisionados pelo pe-
cado e por toda força maligna. Assim como fomos
alcançados e chamados por Cristo, devemos ser
instrumentos nas mãos do nosso Mestre para que
o bem chegue a tantos outros que carecem.

3. Como agentes de Cristo não


devemos ser insensíveis
No tópico anterior, vimos que Jesus andou fazen-
do todo o bem e que Ele nos envia para fazermos o
mesmo. E isso implica em não sermos insensíveis
ao sofrimento do próximo. Em Lc 13:10-17, temos
o relato de Cristo livrando uma mulher daquilo que
a aprisionava. Encantam-nos os resultados do Seu
agir, que não se limitam ao tempo. A passagem em
destaque indica a sua autoridade, poder e genero-
85
sidade, pois a mulher não podia realizar nenhuma
ação sobre ela mesma, não tinha como endireitar-
-se. Mas, o Senhor agiu em seu favor. De igual modo,
a humanidade sem Cristo também não pode endi-
reitar-se. Somente Ele tem toda autoridade e todo
poder para restaurar vidas, salvar almas e mudar
a história do ser humano. Jesus quis e realizou um
milagre na vida dessa mulher, libertando-a do mal
que a acometia. Assim como Cristo agiu naquela
vida, Ele também quer agir, neste tempo, na vida
de muitos outros através da Sua igreja.
A ação de Jesus tira a insensibilidade. A dureza
de coração nos faz perder muita coisa. Quando não
se tem Jesus na vida, perde-se a sensibilidade no
ser. E como é ruim alguém que não tem mais sen-
sibilidade. As coisas boas, mínimas e necessárias,
que nos são dadas por misericórdia divina, perdem
valor e sentido, e deixamos de ser gratos a quem
em tudo nos sustenta. Jesus ensina a nos impor-
tarmos com o sofrimento do outro. Não devemos
ser indiferentes. Porque o toque de Cristo transfor-
ma, e Ele nos transformou para sermos agentes
de transformação. O toque de Jesus liberta, e Ele
nos libertou para sermos mensageiros da liberda-
de. Somente Cristo pode e tem o poder para liber-
tar de toda e qualquer prisão. Sejamos verdadeiros
86
representantes de Cristo.
“Torna para tua casa, e conta quão grandes coi-
sas te fez Deus. E ele foi apregoando por toda a
cidade quão grandes coisas Jesus lhe tinha feito”
(Lc 8:39). O homem que Jesus havia libertado não
anuncia uma mensagem teórica, mas o que Jesus
realizara em sua própria vida, fala da sua própria
experiência. Ele era um retrato vivo do poder do
evangelho, um verdadeiro testemunho da graça li-
bertadora e salvadora.
Assim deve ser a nossa vida, refletindo as vir-
tudes de Cristo Jesus. Como Ele pregou, devemos
pregar. O nosso Mestre se importou com os perdi-
dos, também devemos nos importar com eles. Ele
nos curou, devemos ser, então, instrumentos viabi-
lizadores da graça, que plenamente redime, liberta
e restaura.

Para pensar e agir


De que Cristo lhe libertou? Seja grato a Ele.
Cristo nos libertou para anunciarmos a liberdade.
Salvou-nos para levarmos a mensagem de salva-
ção.
Estejamos disponíveis nas mãos do Senhor, como
agentes de restauração espiritual.
87
Lição 8
Texto Base: João 3:1-2

A Cura de
Toda Dor

Por Pr. Vanderlei Batista Marins

Leitura Diária
SEG Mateus 8.5-13

TER Marcos 2.1-12

QUA Marcos 4.35-41

QUI Lucas 8.49-56

SEX Lucas 17.11-19

SÁB João 2.1-12

DOM João 6.1-15

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Os milagres são manifestações da parte do
Senhor que evidenciam o Seu poder, autoridade,
divindade e missão. Também, serviram para con-
substanciar, dar credibilidade à obra que estava re-
alizando (1Co 1.22). Destaco, aqui, dois conceitos
sobre milagre: do dicionário Aurélio, afirmando que
é “Fato sobrenatural oposto às leis da natureza.” e,
do Michaelis, quando leciona que é “Fato ou acon-
tecimento fora do comum, inexplicável pelas leis da
natureza”.

A palavra ‘milagre’ é muito significativa e, facil-


mente, ligada à Pessoa de nosso Salvador e Senhor
Jesus Cristo, o Messias divino, vista na encarnação
do verbo (Jo 1.14). Enquanto o inimigo articulava os
seus ardis e os homens voltavam para si mesmos,
empreendendo ações egoístas, Jesus operava ma-
ravilhas divinas, sinais extraordinários e miraculo-
sos, mostrando grande diferença em relação aos
seus adversários. Os feitos de Jesus evidenciavam
o projeto da eternidade e mostravam o Seu grande
e sacrificial amor para o resgate da humanidade.

Muitos foram os milagres por Cristo operados,


conforme registrado nos evangelhos, revelando efi-
cácia, plena suficiência, superioridade e domínio
89
de Jesus sobre todas as coisas, como por exem-
plo: a morte e o inferno, o diabo e seus agentes,
as enfermidades e, por remate, a própria nature-
za. Conquanto, a expressão “muitos milagres” es-
teja aqui mencionada, devo ressaltar que o Senhor
Jesus realizou muito mais do que isso; foi além do
que fora registrado nos evangelhos, à luz de João
21.25.

1. O propósito dos milagres de


Jesus
Jesus desafiou a força da natureza, demonstrou
que tem domínio diante das enfermidades, sobre
as potestades das trevas, sobre a morte e o peca-
do e, também, sobre o inferno, tudo isso para tes-
tificar o poder que como, Deus, possuía. O Texto
Sagrado afirma: “E, chegando-se Jesus, falou-lhes,
dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na ter-
ra.” (Mt 28.18). Jesus, enquanto Deus demons-
trou Seu poder, para que ‘cressem nele e fossem
salvos’. O apóstolo João registrou diversos sinais
que seu Mestre realizou, para com isso provar que
Jesus é Deus, de acordo com o que está escrito em
João 20.31: “Mas estes foram escritos para que
vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus
90
e, crendo, tenham vida em seu nome”.

Além de mostrar Seu poder, para que cressem


que, Ele tinha sido enviado por Deus, Jesus veio
para fazer a vontade do Pai: “Porque eu desci do
céu, não para fazer a minha vontade, mas a von-
tade daquele que me enviou”. (Jo 6.38). Em mo-
mento algum, Jesus queria chamar a atenção para
si ou somente atrair uma multidão com seus feitos
milagrosos com o fim de obter fama e dinheiro; Ele
curava, saciava a fome das pessoas e ressuscitou
os mortos, porque “jamais deixou de socorrer os
necessitados e aflitos, pois, compadecia-se deles.
O sofrimento e a dor das pessoas que o cercavam
chamava-lhe a atenção e, por isso, ele sentia mi-
sericórdia e agia para socorrê-los. “E, Jesus, sain-
do, viu uma grande multidão, e possuído de íntima
compaixão para com ela, curou os seus enfermos”
(Mt 14.14).

2. A existência de um Deus livre


e pessoal decide a questão da
possibilidade dos milagres
Se Deus é o Criador do mundo, ninguém pode
negar-lhe o direito e o poder de intervir nele. Aquele
91
que crê em Deus como soberano, de vontade livre
e pessoal, não pode negar-lhe a possibilidade dos
milagres. Uma vez admitindo-se que Deus é um ser
pessoal, onipotente e livre para agir, crer que Ele
possa intervir no mundo, é uma conclusão já envol-
vida na crença em ser livre; pessoal e onipotente.

Afirmar, como o fazem os filósofos e teólogos racio-


nalistas, de que Deus tem de se limitar a manifes-
tar-se de acordo com as leis da natureza, contradiz
essa liberdade – é o oposto do que seria realmen-
te de esperar. É ilógico, anti-teológico e anti-bíblico
admitir o milagre da criação e negar a possibilidade
dos milagres subsequentes. O que Deus fez, uma
vez, pode ser capaz de fazer sempre, se Ele assim
o quiser, no âmbito da sua Soberania.

3. A vontade soberana de Deus


Se os milagres são possíveis a um Deus imutável,
inalterável em Seu poder, então eles são prováveis
de ocorrer ainda em nossos dias, se estiverem de
acordo com a vontade soberana de deus. A espe-
rança presumida e pré-assumida de que Deus vai
agir e intervir, reveste-se, de fato, de um caráter ir-
resistível. “Deus amou o mundo de tal maneira que
92
deu o Seu Filho Unigênito” – eis o maior de todos
os milagres. Uma vez admitido o milagre do amor,
como atributo comunicável do Deus pessoal, o mi-
lagre da redenção do pecador se nos imporá como
consequência lógica desse iniludível fato.

Admitindo-se a realidade de um Deus soberano,


eterno e pessoal por um lado, e de um mundo morto
em seus delitos e pecados, a possibilidade do mi-
lagre da redenção daqueles que creem em Cristo,
torna-se um profundo a priori teológico e uma ver-
dade absoluta.

O filósofo holandês do século XVII (1632-1677),


Benedictus Spinoza, negou a possibilidade de mi-
lagres, porque não cria na existência de um Deus
pessoal. O filósofo inglês, David Hume, negou a pro-
babilidade dos milagres, porque negou a liberdade
de Deus e o aprisionou no mundo que Ele tinha
criado, com suas leis invioláveis e inalteráveis. Um
milagre para os filósofos racionalistas seria um ato
de violação de Deus de Seu espaço hermético e de
suas próprias leis naturais.

Se o miraculoso não faz parte nem mesmo dos


desígnios e propósitos eternos de Deus e de Seus
atos na história, então não se deve orar junto ao lei-
93
to de um enfermo e moribundo; não se deve clamar
a Deus por auxílio em face da morte ameaçadora,
visto que nem que seja de Sua vontade soberana,
Ele interviria no curso da vida de Seu povo.

Há sem dúvida, uma uniformidade na natureza;


há leis que governam a operação das causas secun-
dárias no mundo físico. Todavia, isto não significa
que Deus não possa deixar de lado as leis da natu-
reza, e não possa produzir um efeito extraordinário,
que não resulte de causas naturais. Quando Deus
opera milagres, produz efeitos extraordinários de
maneira extraordinária. Houve teólogos reformados
mais antigos (séculos XVI-XVIII), os quais não hesi-
tavam em falar dos milagres como completamente
improváveis de acontecer, visto que isto seria uma
ruptura ou violação divina das leis da natureza.

O Dr. Charles Hodge, em sua obra Outline of


Theology (Conteúdo da Teologia), p.275, assim afir-
ma “Quando se há um milagre, as leis da natureza
não são violadas, mas são superadas num deter-
minado ponto por uma superior manifestação da
vontade de Deus. As forças da natureza não são
anuladas ou suspensas, mas são apenas neutrali-
zadas, num ponto particular, por um poder superior
94
a elas”.

4. Quanto aos milagres, os cristãos


podem ser definidos:

a) Os Cessacionistas:
Os quais afirmam categoricamente que, os mila-
gres ocorridos no passado do povo de Deus e mais
pertinentemente, na Igreja primitiva, não podem
acontecer na presente Era;

b) Os Contemporanistas:
Os quais afirmam que, os milagres que aconte-
ceram no passado, fazem parte da fatualidade de
Deus para a Sua Igreja e ainda podem acontecer,
se assim Deus o quiser;

c) Os Normativistas:
Os quais afirmam que, os milagres acontecidos,
nos tempos bíblicos, têm necessariamente que
acontecer em nossos dias.

95
Para pensar e agir
Como filhos de Deus e servos do Senhor Jesus,
podemos afirmar com segurança as seguintes ver-
dades:

1. Que os milagres não foram realizados por Deus


de maneira acidental ou extemporânea;

2. Que nunca foram realizados por Cristo como


exibição de poder, ou destinados a provocar admi-
ração;
3. Que os milagres realizados pelo Senhor Jesus
foram feitos atestatórios da Sua Messianidade e
Deidade (Jo 20.30,31);
4. Que os milagres acontecidos na história, tinham
como finalidade precípua, a manifestação da glória
de Deus.

Naturalmente, cremos que o nosso Deus pode


usar todos os recursos que ELE quiser, para curar
alguém, ou mesmo resolver quaisquer tipos de pro-
blemas.

Entretanto, como cristãos bíblicos e neo-testa-


mentários, também cremos que, o SENHOR pode
agir miraculosamente na vida dos seus servos,
96
curando-os e trazendo-lhes solução, se esta for a
Sua vontade santa, soberana para aquela vida.
Deus se fez homem em Jesus Cristo, proporcionan-
do-nos o maior de todos os milagres: a salvação
das nossas almas por meio da fé em Cristo Jesus.
A Existência de um Deus livre e pessoal decide a
questão da possibilidade dos milagres (Is 43.11;
Rm 11.33-36).

Ao esvaziar-se da glória, a prioridade de Jesus


não foi realizar milagres, mas tornar-se servo, sen-
do obediente, entregando-se por nós (Fl 2.7,8). Sua
missão, na dinâmica do tempo, foi salvar o peca-
dor, não apenas das enfermidades quanto ao físi-
co, mas a alma da eterna condenação. Logo, não
há dúvida: o maior milagre operado por Cristo é a
salvação pelos méritos do Calvário e do túmulo va-
zio.

97
Lição 9
Texto Base: Lucas 8:25

A Natureza
Lhe Obedece

Por Pr. Leandro da Costa Carvalho

Leitura Diária
SEG Lucas 8:23-25

TER Sl 65:7; Lc 5:1-11

QUA Marcos 4:35-41

QUI Filipenses 4:6,7

SEX Mateus 14:22,33

SÁB Lucas 5:17-25

DOM João 21:1-14

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A redenção da humanidade só poderia ser reali-
zada por um mediador que em si mesmo reunisse
as duas naturezas: a divina e a humana. Isto porque
o seu trabalho seria o de reconciliar o homem com
Deus e apaziguar a justiça divina. Somente Jesus
poderia realizar tal intento, por ser o Verbo encar-
nado, o Deus-Homem. Na Pessoa do Filho, o Pai
passou a viver a vida humana, estendendo-lhe a
mão e instrumentalizando o seu retorno aos céus.

Cristo é soberano sobre os espaços, os tempos


e as eras. Está acima de tudo e todas as coisas
estão no controle de Suas mãos. Pois todo poder a
Ele pertence. Ele é Rei soberano, tem o domínio, a
primazia, a majestade, e age para que tudo concor-
ra de acordo com a Sua boa, agradável e perfeita
vontade. Então, vale ressaltar que Cristo é supe-
rior a tudo e a todos. Por isso, toda a criação está
debaixo do Seu governo e escrutínio. Também lhe
obedece e deve a Ele render glória, tributo e louvor.

Nesta lição, iremos refletir a respeito dos mila-


gres de Jesus sobre a natureza e sobre as leis na-
turais, evidenciando a autoridade do Mestre sobre
a criação e indicando os objetivos que Ele queria
comunicar mediante esses sinais.
99
1. A autoridade de Cristo
“E, navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma
tempestade de vento no lago, e enchiam-se de água,
estando em perigo. E, chegando-se a ele, o desper-
taram, dizendo: Mestre, Mestre, perecemos. E ele,
levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água;
e cessaram, e fez-se bonança.” (Lucas 8:23,24).
Conforme a Bíblia nos ensina, há uma só persona-
lidade em Cristo, mas duas naturezas: a humana e
a divina, sendo cada uma delas perfeita. Pela des-
crição bíblica acima, visualizamos claramente as
duas naturezas intimamente entrelaçadas, o que
a teologia chama de união hipostática. O Mestre
Jesus que dormiu exausto depois de um dia cheio
no cumprimento de Sua missão, testifica da Sua
verdadeira humanidade; mas também Se levanta e
acalma o vento e o mar, o que prova ser Ele verda-
deiramente Deus.

Cristo tem autoridade porque é superior em


grandeza, pois encontramos nEle o auge da reve-
lação; porque Deus o constituiu herdeiro de todas
as coisas, sendo enviado pelo próprio Pai; porque
é o Criador do universo. Ele é aquele por meio de
quem Deus fez o universo; é o resplendor da glória
100
de Deus; expressão exata do Ser Divino, por isso,
se queremos ver o Pai, devemos olhar para o Filho
(Jo 14.9,10; Jo 10.30, 1Jo 5.20; Cl 1.15), porque
pelo poder da Sua palavra sustenta todas as coi-
sas; porque é superior em obras, pois tem poder
para purificar os nossos pecados; porque está em
um lugar superior, de elevada posição e destaque,
à destra do Pai (Hb 1.1-3).

Jesus em tudo tem supremacia. É Soberano em


glória, poder, obra, majestade e honra. É inigualável
e maravilhoso. Ele é o cabeça da Igreja (Cl 1.18),
por isso tem autoridade sobre ela, que é o seu cor-
po. Tudo passa pelo crivo da Sua vontade, ou seja,
Ele dirige todas as coisas. Não é por força ou de-
sejo humano, seja quem for, inclusive, os que aos
nossos olhos podem parecer mais importantes e
proeminentes. O que rege e governa sobre a Igreja
e todas as coisas é Cristo. E Ele não divide Sua gló-
ria com outro, porque o nosso Mestre é incompará-
vel.

O mesmo Jesus que sentiu cansaço, que acal-


mou o vento e o mar, também tem autoridade para
perdoar pecados (Lc 5.20-24). E nisto está a ma-
ravilha: que Cristo está no barco da nossa vida, Ele
101
está em nós, acalmando toda e qualquer tempes-
tade na vida dos que O servem, também, curando,
perdoando e purificando dos pecados.

2. O poder pertence a Cristo


Esta porção da Palavra nos ensina que tudo está
sujeito às mãos de Cristo. Tudo pertence a Ele. Se a
natureza, juntamente com suas leis, obedece ape-
nas a quem tudo criou, Jesus prova ser o Criador,
Sustentador, o Mantenedor da natureza e de todo
ser que existe, Regente do tempo e da eternidade.
O vento ouve a Sua voz. O mar se acalma ao Seu
falar. Todo o universo se curva diante da Sua auto-
ridade e poder.

Nós também somos criaturas do Senhor. A Ele


pertencemos e devemos honra e glória. Assim como
Jesus tem o controle de todas as coisas, nossas vi-
das estão asseguradas em Suas mãos porque tudo
Lhe pertence. “Porque estou certo de que, nem a
morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principa-
dos, nem as potestades, nem o presente, nem o
porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem al-
guma outra criatura nos poderá separar do amor
de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor”
102
(Rm 8:38,39).

No capítulo oito do evangelho de Lucas é desta-


cado justamente a plena autoridade de Jesus so-
bre todas as coisas. Ele está revelando o seu po-
der sobre as leis da natureza, acalmando o mar (v.
24); mostrando a sua autoridade sobre os demô-
nios, libertando o gadareno de uma legião (v 33);
demonstrando a sua autoridade sobre a enfermi-
dade, curando uma mulher hemorrágica, que vivia
doze anos prisioneira de sua doença (v.43-48); e
ressuscitando a filha de Jairo para provar que até
a morte está debaixo da sua absoluta autoridade e
poder (v. 54,55).

Vejam a beleza e grandeza do nosso Senhor.


Domínio, poder e autoridade pertencem a Jesus.
“... Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o
nome que está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho ...” (Fp 2.9,10).
Que maravilha é poder servir ao Rei dos reis, Senhor
dos senhores, Deus de toda a criação, que com po-
der absoluto nos resgatou e nos conduziu para per-
to de Si.
103
3. A certeza da Paz em Cristo
O Senhor do céu e da terra estava no mesmo
barco que os discípulos e, por isso, a embarcação
não poderia afundar. O Rei do universo, de igual
modo, está conosco, não precisamos ter medo das
tempestades. Note, no relato do evangelista Lucas,
a paz de Jesus. Enquanto a tempestade rugia com
toda fúria, Jesus estava dormindo certo de que o
Pai cuidaria dEle.

O Príncipe da Paz vai com os Seus. Na jornada


aqui neste tempo, muitas tempestades nos acome-
terão. Contudo, a diferença está no modo como as
enfrentaremos. Que seja sempre na dependência
de Cristo Jesus, o Deus-Homem. Porque a certeza
da presença dEle conosco e em nós é o que nos dá
coragem e paz para enfrentarmos as adversidades
e situações da vida.

Qual tem sido a sua tempestade? Lembre-se de


que Cristo tem o domínio sobre todas as coisas;
tem toda autoridade e poder; está no barco que
chamamos de vida. Não temas e não desanimes,
mas olhe para Jesus, a âncora da nossa alma (Hb
6.19).
104
Para pensar e agir
Cristo provou ser homem e por isso Ele pode se
compadecer das nossas fraquezas. A nossa vida
está nas mãos de Cristo Jesus, o Deus-Homem.
Servimos a quem tudo pode. Por isso, podemos ter
a certeza de que em nossas lutas e adversidades
o nosso Senhor está conosco e, se Ele está conos-
co, está tudo bem! Aprendemos, à luz da Bíblia, que
para quem tem esperança, sempre tudo vai muito
bem.

Está enfrentando tempestade? Saiba você que


há um jeito de enfrentá-la e que a melhor e mais
segura maneira de enfrentar é na dependência do
Nosso Senhor, que tem um propósito em tudo.

Ele quer nos fazer crescer e fortalecer a nossa


fé. De modo que a nossa caminhada aqui seja ex-
clusivamente na dependência dEle.

O que te causa temor? As circunstâncias ou o


Senhor das circunstâncias? Os discípulos tiveram
medo porque olharam para as circunstâncias. Olhe
sempre para Jesus, autor e consumador da nossa
fé (Hb 12.2).

105
Lição 10
Texto Base: João 1:11-14

O Legado
de Cristo

Por Pr. Vanderlei Batista Marins

Leitura Diária
SEG João 1:1-14

TER João 3:31-36

QUA João 5:19-29

QUI Filipenses 2:1-11

SEX Cl 1:13-20

SÁB Hebreus 1:1-14

DOM Ap 19:11-16

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Chegamos aqui à maravilhosa e sublime verda-
de, âmago da teologia. JESUS É DEUS. Jesus Cristo,
embora verdadeiro homem, era também verdadei-
ro Deus. Este é um dos maiores fundamentos da
fé cristã. Os judeus compartilham a crença da exis-
tência de um Ser Supremo, e o reverenciam como
o Deus dos patriarcas e profetas do Tanakh (a bí-
blia judaica, que nós cristãos chamamos de Antigo
Testamento); todavia, apenas o Cristianismo reco-
nhece a Divindade de Jesus. O Novo Testamento
atribui as perfeições e atributos de Deus à pessoa
de Jesus. Vejamos alguns aspectos principais de
identificação de Deus Pai com o Deus Filho.

Quando lemos as Escrituras do Antigo e Novo


Testamentos e suas profecias, percebemos que
Jesus é a figura central de toda a revelação bíblica.
Toda a Bíblia aponta para Jesus. Ele não somente
é o Salvador prometido (Lc 2:11). Mas, Ele é tam-
bém o Senhor do Universo, o autor da Criação (Jo
1:1-3), da mesma natureza do Pai (Jo 10:30), o Rei
dos Reis e Senhor dos senhores (Ap 19:16).

O texto do Antigo Testamento foi traduzido para


a língua grega por 70 sábios em Alexandria, sul do
Egito, no ano 270 a.C., cuja tradução foi chamada
107
de Septuaginta. O nome Sagrado de DEUS – YHWH,
geralmente interpretado pelos judeus do AT como o
nome proibido, na língua grega a palavra usada foi
KYRIOS (Senhor). Os judeus já o faziam no Antigo
Testamento, utilizando o termo ADONAY em lugar de
YHWH. O nome KYRIOS foi utilizado cerca de 700
vezes para o texto do Antigo Testamento na versão
grega. Este título Sagrado e exaltado foi atribuído a
Jesus, muitas vezes nos textos apostólicos. Várias
vezes, os escritores do Novo Testamento aplicaram
textos que falam de DEUS diretamente a Cristo (Leia:
Mt 22:43, 44; Sl 110:1; Lc 2:11; At 2:36; Mt 1:23;
Is 7:14; Jo 20:28, 29).

1. A primeira confissão de fé do
Novo Testamento
A declaração pelos cristãos de que JESUS É O
SENHOR. (Leia: Rm.10:9; Rm. 14:9; 2Co. 4:5; Fp
2:11; 1Pe 3:15; At 16:31). Ele é exaltado como
Senhor dos senhores. (Leia: 1Tm 6:15; Ap 17:14;
Ap 19:16).

Primeiro legado
A glória de Deus. O teólogo Bruce Milne, em sua
108
obra “Estudando as Doutrinas da Bíblia”, faz o se-
guinte e pertinente comentário:

A glória de Deus é a manifestação visível de Sua


majestade (Ex 24:15-18; Ex 4:34; Lv 9:6,23; 2Cr.
7:1-3; Is 6:1-4; Ez 1:28). A glória de Deus servia
no Judaísmo como um santo e reverente substituto
para o próprio nome Sagrado. A glória de Deus é
intransferível (Is 42:8; 48:11). No entanto, o Novo
Testamento fala da glória de Cristo em vários luga-
res (Jo 8:54; Jo 17:5; Jo 17:24; Hb 1:3).

Segundo legado
A adoração a Deus e a Cristo. Oferecer adora-
ção a qualquer outro ser, além do Senhor Deus,
era totalmente inconcebível e tido como um pecado
capital, ou seja, uma grande culpa e ofensa à san-
tidade de Deus. Essa ofensa constituiu-se o mais
terrível e abjeto de todos os pecados (Ex 2 :3-6; Dt
6:4,13-15). Todavia, todos os discípulos, os quais
eram judeus, adoravam e cultuavam a Jesus. Cristo
foi adorado e recebeu a adoração (Mt 2:2; Jo 9:38;
Mt 28:16,17).

Doxologias são atribuídas a Cristo (Rm 11:33-


36; 2Tm 4:18; 2Pe 3:18; Ap 1:5); duas doxolo-
109
gias são atribuídas tanto ao Pai como ao Filho (Ap
5:13; 7:10). Orações foram dirigidas a Cristo (At
7:59; 9:13; 1Co 16:22; Ap 22:20). Passagens de
adoração do Antigo Testamento são transferidas
de Adonai para Cristo (Is 8:13; Rm 9:33; 1Pe 2:7;
1Pe. 3:15). Na Septuaginta, a tradução comum da
palavra hebraica SHALAH (adoração, inclinação),
foi utilizada a palavra grega PROKYNEIA. Nos en-
sinamentos de Jesus, ela descreve a atitude que
devemos adotar somente para Deus (Mt 4:10). Os
evangelistas do Novo Testamento, no entanto, usa-
ram esta palavra para descrever a atitude do povo
em relação a Jesus (Mt 2:2; 8, 11; 14:33; Mc 5:6;
Jo 9:38). Portanto, a reação dos discípulos para
com o Cristo ressurreto é pertinente “O adoraram”
(Mt 28:17; Lc 24:52), uma reação que tem resso-
nância no livro de Apocalipse (Ap 5:12), uma de-
monstração clara da Divindade.

O teólogo Leon Morris, em sua magna obra “O


Evangelho de acordo com João”, comenta sobre a
Divindade de Jesus:

Há um contraste explícito entre um modelo de


existência, que tem um início definido e um que “é
Eterno”. Jesus aludiu a Ele mesmo, com a termi-
110
nologia Divina “Eu sou” (Jo 6:48; 8:59; 10:9,10;
11:25, 26; 15:1; 14:6) em várias ocasiões nos
evangelhos, cuja expressão foi a maneira pela qual
Deus se identificou a Moisés e aos antigos hebreus
como o único e verdadeiro Deus (Ex 3:14, 15). A
Bíblia também atribui ao Senhor Jesus o poder de
ter criado todas as coisas (Jo 1:1-3; Hb 1:3).

Terceiro legado
Jesus é o filho do Deus vivo e possui a mes-
ma natureza do Pai. O texto de Oséias 11:1 foi
interpretado pelos escritores do Novo Testamento,
como referindo-se a pessoa de Jesus, o “Filho de
Deus”. A passagem de Mateus 2:15 aplica esse
texto de Oséias diretamente a Jesus Cristo. O tex-
to de Salmos 2:7 é também um relevante contexto
Cristológico no Antigo Testamento, conforme vemos
em At 13:33 e em Hb 1:5.

A declaração de fé do apóstolo Pedro tem uma


significação especial para a cristologia dos evan-
gelhos, quando ele declara “Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo” (Mt 16:16). Após Jesus acalmar a
tempestade, os seus discípulos declararam “ver-
dadeiramente tu és o Filho de Deus” (Mc 14:33). O
111
apóstolo Paulo afirma que na ocasião de sua ressu-
reição, Jesus foi designado o “Filho de Deus” (Rm
1;4). Em outras palavras, a prova inconteste de que
Jesus é o “Filho de Deus” é que a morte não conse-
guiu retê-lo no sepulcro. Veja outros textos do Novo
Testamento que declaram a filiação Eterna de Jesus
(Leia: Jo 5:18; 20:31; Gl 2:20: At 9:20; Rm 1:3,4;
Ef 4:13; Cl.1:15-20; 1Jo 5:20).

Quarto legado
Jesus é a segunda pessoa da trindade e o Deus
encarnado. Foi a segunda pessoa da Trindade que
assumiu a natureza humana, o Deus Unigênito se
fez carne (Jo 1:14). Ao mesmo tempo, devemos lem-
brar que cada uma das pessoas divinas agiu na en-
carnação (Leia: Mt 1:20; Lc 1.35; Jo 1:14; At 2:30;
Rm 8:3; Gl 4:4; Fp 2:7). Quer dizer também que a
encarnação foi uma ativa realização da parte dEle.
Ao se falar de encarnação em distinção do nasci-
mento do Logos, dá-se ênfase à Sua participação
ativa neste fato histórico, e se pressupõe a Sua pre-
existência. Não é possível falar da encarnação de
alguém que não teve existência prévia.

Essa preexistência é claramente ensinada na


112
Escritura (Jo 1.1; 2Co 8.9; Gl 4:4); O preexisten-
te Filho de Deus assume a natureza humana e se
reveste de carne e sangue humanos, um milagre
que ultrapassa o nosso limitado entendimento. Isto
mostra claramente que o infinito pode entrar em
relações finitas, e de fato entra, e que, de algum
modo, o sobrenatural pode entrar na vida histórica
do mundo.

Para pensar e agir


O primeiro legado demonstrou, à luz das Escrituras,
que toda a glória deve ser tributada pela igreja tanto
ao Pai quanto ao Filho. No segundo legado, apren-
demos que a Igreja deve adorar a Deus e a Cristo
ao mesmo tempo. Os próprios anjos de Deus ado-
ram tanto ao Pai quanto ao Filho (Hb 1:5,6). No
terceiro legado, nós nos apropriamos da verdade
iniludível de que Cristo é o Filho de Deus e possui a
mesma natureza do Pai (Jo 10:30; Cl 1:18,19; Hb
1:1-4). No quarto legado, nós absorvemos a verda-
de de que Cristo é a Segunda Pessoa da Trindade
e é também o Deus Encarnado (Jo 1:1-3). E ago-
ra, sabedores e conhecedores destas realidades
Supremas e magníficas das Escrituras, devemos vi-
ver para adorar, servir e glorificar a Deus e a Cristo
em nossas vidas.
113
Lição 11
Texto Base: Lucas 2:10 e 11

Novas de
Grande Alegria

Por Pr. Lucas do Amaral Silva

Leitura Diária
SEG Lucas 2.10,11

TER Lucas 1.26-35

QUA Mateus 1:20-25

QUI Lucas 2:4-7

SEX Lucas 2:10-12

SÁB Gálatas 4:4-5

DOM Filipenses 2:5-8

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Você com certeza já deve ter tido a experiência
de receber uma boa notícia da qual aguardava an-
siosamente para ter resposta, seja uma vaga de
emprego, um concurso público, uma confirmação
de gravidez ou qualquer outra boa notícia que al-
guém pode receber. Imagine agora ter novidades
de algo que você, seu pai, seu avô, enfim, gerações
inteiras aguardavam, ou seja, a resposta do cumpri-
mento de uma promessa feita há séculos, mas que
agora se cumpriu. Há pouco mais de dois mil anos,
um grupo de pastores de Belém experimentou essa
sensação. Certamente, foi uma alegria sem medi-
da. Nesta lição, estudaremos sobre o acontecimen-
to singular do nascimento de Jesus e seu significa-
do para a humanidade. Assim, refletiremos sobre a
importância da vinda do Filho de Deus e Salvador
do mundo e a aplicação desse acontecimento em
nossas vidas.

1. A Promessa
Todas as coisas foram criadas por Deus, para Ele,
para a glória dEle (Rm 11.36).

Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo


descansou, fez toda a criação perfeita e boa (Gn
115
1). Porém, ordenou ao homem que não comesse
do fruto da árvore do conhecimento do bem e do
mal. No entanto, a serpente enganou Eva e ela co-
meu e deu do fruto ao seu marido que também o
comeu. Dessa forma, o primeiro casal desobede-
ceu a Deus, fazendo com que o pecado entrasse
no mundo e corrompesse toda a natureza criada
(Gn 3).

Naquele momento, o pecado que entrara em


seus corações imediatamente os separou daquela
comunhão íntima e singular que até então desfru-
tavam com Deus. Por isso, a Sua objetiva pergunta
“onde estás?” (Gn 3.9). A partir desse momento,
toda humanidade passa a ser escrava do pecado
e merecedora do castigo eterno (Rm 3.23).

Deus poderia encerrar ali e deixar toda a huma-


nidade ir para o inferno, se assim o fizesse, estaria
sendo justo. Mas, não o fez, pois, além de justo, é
misericordioso (Lm 3.22-23).

Depois da queda do homem, Deus anuncia a pro-


messa da vinda do Messias, daquele que esmaga-
ria a cabeça da serpente e compraria os escravos
do pecado a preço de Seu próprio sangue, reconci-
liando-os com o Criador. (Gn 3.15). Essa promessa
116
toma forma no período patriarcal com o chamado
de Abrão (Gn 12: 1-3). Conforme o desenrolar da
história do povo de Deus, muitas foram as vozes
que proclamaram a vinda do Messias, como a pa-
lavra de Moisés em Dt 18:15: “O Senhor, teu Deus,
te despertará um profeta do meio de ti, de teus ir-
mãos, como eu; a ele ouvireis”, cuja referência tam-
bém encontramos em At 3:22-26.

2. A preparação
Deus, então, põe em prática o grandioso plano
de redenção da humanidade. O que lemos nas pá-
ginas do Antigo Testamento é exatamente o Criador
dando curso a história a fim de preparar o mundo
para a vinda do Messias.

Desde a chamada de Abrão, passando pela cria-


ção do povo escolhido, a promulgação da lei e o
estabelecimento da religião de Israel, cada batalha
vencida ou perdida, cada rei coroado ou destrona-
do, cada império erguido ou destruído, tudo foi para
que a história chegasse no ponto apropriado para o
nascimento e ministério de Jesus Cristo. O apósto-
lo Paulo chamou este momento de “plenitude dos
tempos” (Gl 4: 4). Para tanto, Deus também o fez
117
levantando profetas que nas mais variadas épocas
e circunstâncias anunciaram a vinda do Ungido do
Senhor (Lc 24: 44).

Podemos destacar dois aspectos históricos que


contribuíram significativamente para a propagação
das boas novas: o primeiro deles, foi a helenização
da maior parte do mundo conhecido da época, ten-
do como característica marcante o uso predominan-
te do idioma grego nas relações entre os povos. Em
segundo lugar, no período de dominação do Império
Romano foram criadas muitas estradas ligando as
cidades e vilarejos, facilitando as viagens e propor-
cionando o desenvolvimento das rotas de comércio
da época. Esses fatos viabilizaram que Jesus e os
apóstolos se deslocassem de uma cidade para ou-
tra com maior facilidade e frequência, bem como, o
investimento em viagens missionárias para promo-
ção do reino (At 13: 1-4), e visitas às igrejas para
confirmação da fé dos santos (At 14: 22; 15: 36).

3. O cumprimento da promessa
Tudo que diz respeito a vida de nosso Senhor
Jesus Cristo foi extraordinário, no que concerne ao
seu nascimento, não poderia ser diferente. Maria
recebeu a visita de um anjo que anunciou que daria
118
à luz ao Filho de Deus, ao Ungido do Senhor, numa
ação do Espírito Santo enquanto ainda era virgem
(Lc 1.34,35). Não obstante, o espantoso anúncio
feito à jovem naquela ocasião, o profeta Isaías, mais
de 700 anos antes, já havia predito a forma mila-
grosa por meio da qual o Cristo seria concebido (Is
7: 14).
O nascimento virginal de Jesus aponta para Sua
divindade e impecabilidade, pois, sendo Maria pe-
cadora, deu à luz àquele que não tinha pecado al-
gum. Sendo assim, por meio da ação do Espírito
Santo, a humanidade de Jesus não foi afetada pela
natureza de sua mãe, o que lhe qualifica como o
perfeito sacrifício para a remissão de pecados e
Salvador de todos aqueles que, por meio dele, che-
gam a Deus (Hb 4: 15; 7: 25-28).
Jesus foi crescendo em estatura e sabedoria
(Lc 2.52), realizou milagres, mostrando que era o
Messias de Deus, pregou a Palavra de vida eterna,
trouxe consolo, paz, luz e esperança a um mundo
que outrora estava obscurecido.
O nascimento de Jesus representou o encontro
do divino com o humano, ou seja, pela manjedoura
Jesus trouxe Deus para o convívio dos homens e,
pelo sacrifício da cruz, Jesus leva o homem para o
convívio com Deus.
119
Para pensar e agir
Cristo nasceu, cresceu e viveu sem pecado al-
gum (2Co 5.21). Somos hoje chamados para ser-
mos semelhantes a Ele, vivendo como Ele viveu,
fugindo do pecado e fazendo a vontade do Pai (Ef
5.1-2). Isto conseguimos quando somos nascidos
de novo, quando o Espírito de Deus opera em nós
e abandonamos a influência da natureza pecami-
nosa, a herança do primeiro Adão e então, debaixo
do senhorio do segundo Adão (Jesus Cristo), evi-
denciamos os efeitos do novo nascimento e somos
levados a viver como Ele (1Co 15: 45-49).
O nascimento de Cristo nos deu a esperança da
libertação do pecado, não apenas para a vida futu-
ra, mas, sobretudo, a certeza de que podemos ven-
cê-lo no presente e que não estamos mais sob seu
pesado jugo, mas debaixo da Maravilhosa Graça
de Jesus! (Jo 1: 14; 16,17).
Você se enche de esperança ou temor ao saber
que Cristo se fez homem, nasceu, morreu, ressus-
citou e voltará?
Seu coração tem se esvaziado do velho homem,
para viver como Cristo viveu, ou tem vivido pelos
seus próprios propósitos?
120
Lição 12
Texto Base: Mateus 27:23-31

A Maior Prova
de Amor

Por Pr. Vanderlei Batista Marins

Leitura Diária
SEG João 3.16-18

TER Lucas 22.66-71

QUA Lucas 23.1-12

QUI Jo 18.39b; 19.1-16

SEX Marcos 15.21-32

SÁB Marcos 15.33-43

DOM Mateus 27.45-54

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Não há prova de amor mais expressiva do que
dar o seu próprio Filho para a redenção da humani-
dade. Deus, em Cristo, pagou o preço da nossa sal-
vação, através do sangue do Cordeiro eterno, que
nos purifica de todos os pecados (1Jo 1.7). Pois,
sem ele não tem como haver remissão (Hb. 9.22).
Por isso, salvou-nos, assegurando-nos vitória de di-
mensão eterna.
O sacrifício do Calvário, além de mostrar amor
incondicional, revela que Deus não desistiu do ser
humano, coroa da Sua criação. Que o eterno plano
de redenção se evidenciou no tempo, trazendo sal-
vação a todo aquele que crê (Tt. 2.11-13). Jesus é
a nossa redenção, segurança, proteção e amparo.
Para tanto, pagou um preço alto e doloroso para
que pudéssemos ter vida abundante! (Jo 10.7-10).
Olhando para o relato bíblico, percebemos a indi-
ferença daqueles para os quais Jesus veio, não o
recebendo (Jo 1.11). A crueldade de líderes religio-
sos, a exemplo de Mt 23; o caminho do calvário,
com a coroa de espinhos, simbolizando a zomba-
ria; a cruz pesada, demonstrando o meio mais vil
e cruel de castigo ou punição; o manto de púrpura,
apontando para a ironia; as bofetadas, revelando
agressividade dos injustos para com o justo. Foi as-
122
sim a trajetória do Senhor aqui nesta terra. Em tudo
não pecou, nEle não foi achado falha alguma (1Pe
2.22-24). Porém, disseram que Ele deveria morrer
porque se fez Filho de Deus (Jo.19.7).
Jesus passou pelo corrompido julgamento dos
judeus, sendo por ele condenado. Na presença do
governador, as acusações são apresentadas, a in-
quirição é feita, mas Ele manteve-se em silêncio,
impressionando Pilatos com sua postura de resig-
nação, equilíbrio e elevado controle diante de uma
situação tão adversa. De acordo com os Evangelhos,
na ocasião da Páscoa, o governador adotava o cos-
tume de soltar um preso, mediante o arbítrio do
povo. Naquela ocasião, sendo manipulados pelos
poderosos da época, o povo escolheu entre Jesus e
Barrabás, optando pelo malfeitor. Quanto a Jesus,
foi açoitado (Mt 27.24-26) e entregue para ser cru-
cificado. Esse ato de crueldade revelou a nature-
za pecaminosa e perversa das pessoas, multidões
e líderes que patrocinaram e tornaram-se atores
mais influentes daquele cenário. Aquele quadro
também evidenciou amor, generosidade e graça do
Pai Celestial, que com o nascimento de Cristo, em
Belém, trouxe Deus para o convívio com os homens
e, com a sua morte, na cruz, levou os homens para
123
o convívio pleno com Deus. A maior prova de amor!

1. Mostrou-se triunfante diante de


atitudes equivocadas
Diante da escolha do povo por Barrabás, por influ-
ência do sinédrio, a Palavra de Deus em Mt 27.18
diz “porque sabia que era por inveja que eles tinham
entregado Jesus”. A inveja é arma cruel, pois vê o
outro como concorrente, obstáculo e adversário.
Então, a atitude que surge é livrar-se do incômodo,
eliminando do convívio o que faz sombra ou causa
barreira aos interesses defendidos e proclamados.
Jesus realmente tornou-se um obstáculo aos líde-
res religiosos desconectados do projeto divino, es-
pecialmente para o sumo sacerdote e expressiva
parte do sinédrio.
Acusaram Jesus falsamente, pois não eram reais
as alegações de que Ele “pervertia a nação, era con-
tra pagar tributo a César e se proclamava Cristo, o
Rei” (Lc 23.2). Ao ser questionado por Pilatos, mos-
trou-se notável e elegante, sem semelhança algu-
ma com os seus algozes, pois respondeu “Tu o di-
zes! ou seja, o senhor está dizendo isso” (Lc 23.3),
o que levou Pilatos, autoridade romana, a declarar
“Não vejo neste homem crime algum” (Lc 23.4).
124
Jesus nada falou sobre a escolha da multidão,
apenas por ocasião do desfecho na cruz, rogou ao
Pai que perdoasse todo aquele povo por não saber
o que estava fazendo (Lc 23.34) e que não lhe im-
putasse tal pecado. Que atitude bendita a de Jesus,
demonstrando incondicional amor, oferecendo-se
pelos pecadores, o justo pelos injustos, o santo pe-
los ímpios e o perfeito pelos imperfeitos.
Diante de todos os erros, equívocos e perversi-
dades, Jesus mostrou-se impecável e triunfante,
deixando evidente a sua irretocável diferença. Foi
como a ovelha muda caminhando para o matadou-
ro, sem falar, questionar ou reclamar (Is 53.7). É a
singularidade do Mestre da Galileia, sendo superior
a tudo e a todos, mostrando que cumpria a sua mis-
são com altruísmo e verdadeiro amor. Independente
das atitudes e escolhas humanas, Jesus triunfou e
com Ele triunfarão os que creem e se rendem ao
seu sacrifício. Sua morte no calvário expressa ple-
nitude de vida, vitória sobre o pecado e a morte, o
inferno e tudo que se opõe a Deus. Nele encontra-
mos o perdão que restaura o ser e a realidade da
vida, operando salvação (Jo 3.17). Encontramos a
graça que nos faz participantes da natureza divina
(2Pe 1.3,4), herdada pelo novo nascimento, quan-
125
do somos gerados de novo (1Pe 1.23). O sacrifício
de Cristo é a nossa salvação. Por Ele, o Mestre pa-
gou a nossa dívida (Cl 2.14), venceu a morte (At
2.24) e nos garantiu vitória (Rm 8.37; 1Co 15.57).

2. Evidenciou nobreza diante do


crivo da humilhação
Os opositores e acusadores de Jesus fizeram de
tudo por sua condenação. Para que tal intento fos-
se alcançado, usaram de artifícios, armadilhas e
ciladas. Não foram elogiosas e dignas de apreço as
atitudes dos principais sacerdotes e de todo siné-
drio, que buscaram construir narrativas e forjar tes-
temunhas que falsamente acusassem Jesus (Mc
14.55-59). Anás e Caifás agiram de forma desto-
ante, não coerente com a lei que deveriam seguir e
defender no sinédrio (Mt 27.20). Quando Jesus não
refutou, contestando ser o Filho de Deus, eles o le-
varam a Pôncio Pilatos, pedindo que lhe decretas-
se pena de morte, alegando ser Ele Rei dos Judeus
(Mc 14.61). Os tribunais Judeu (sinédrio) e Romano
(Pilatos) não poderiam ter sentenciado Jesus com
a pena de morte pelas acusações apresentadas,
os crimes que lhe foram imputados, descritos em
Lc 23.2. Mas, Pilatos seguiu o julgamento mesmo
126
assim, sem ter achado nEle crime algum que justi-
ficasse a sua condenação (Lc 23.4,14,15). Então,
disse-lhes que o prisioneiro seria açoitado e solto
(Lc 23.16). Fato contestado pela multidão, que gri-
tava “Se você soltar esse homem, não é amigo de
César! Todo aquele que se faz rei é contra César” (Jo
19.12,13). Diante disso, “... Pilatos entregou Jesus
para ser crucificado, e eles o levaram” (Jo 19.16).
Mas, mesmo diante de todos os ardis, artifícios e
ciladas, o Mestre portou-se com dignidade e equilí-
brio, evidenciando nobreza diante dos malfeitores,
não reclamando dos seus, nem dos que lhe faziam
males.
Pilatos, ao ceder aos caprichos da multidão in-
fluenciada pelos principais sacerdotes e os anciãos
(Mt 27.20), entregou o prisioneiro para ser açoita-
do (Mt 27.24-26), pois sabia que Jesus nada fez
para ser digno de tal punição. Mas, vendo que a
multidão estava desgovernada e descontrolada,
temendo uma confusão generalizada, algo que se
Roma soubesse não o perdoaria, preferiu sacrificar
o acusado, cometendo um erro na justiça do jul-
gamento, a colocar em risco o seu futuro político.
Então, pega um vaso com água, lava as mãos (Mt
27.24) e entrega Jesus para ser crucificado. Diante
127
de tudo, Ele permaneceu com a Sua postura impe-
cável, mostrando nobreza diante do crivo da humi-
lhação!
Ao ser açoitado com aquele chicote pequeno, mas
de tiras longas com pontas finas de metal ou osso,
para ferir e rasgar a pele das costas ou de outra
parte do corpo por elas alcançada, Jesus sofreu
sem murmurar, reclamar ou lançar culpas.
O Mestre da Galileia viu e ouviu a decisão do povo
e os gritos de recepção a Barrabás. Interessante,
desde aquele momento, o justo começou a pade-
cer pelo injusto. Fato que merece destaque: o jul-
gamento de Jesus serviu para libertar das prisões
físicas um malfeitor. E, o Seu sacrifício na cruz, foi
suficiente para libertar das prisões espirituais os
cativos de Satanás.
Os soldados do governador conduziram Jesus
para o Pretório, com toda a corte reunida (Mt 27.27)
e colocaram sobre Ele uma capa de escarlate, ver-
melha, semelhante às que eram usadas pelos solda-
dos. Esse tipo de capa que colocaram sobre Jesus
foi para deboche, zombaria e humilhação. Mas,
mesmo sem intenção, estavam apontando para a
realidade do sangue de Cristo que purifica de todo

128
o pecado (1Jo 1.7), proporcionando salvação para
servirmos ao Deus vivo (Hb 9.14). A coroa de espi-
nhos e a cana, como cetro, era para, mesmo que
ironicamente, ele fosse apresentado como Rei (Mt
27.29). Conquanto a motivação fosse de verdadei-
ra exposição e escárnio da pessoa do Filho de Deus
— o Messias divino, o resultado foi aclamá-Lo Rei,
indicando o mais efetivo e expressivo significado da
morte de Cristo: remissão dos pecados, salvação
pelo derramamento de sangue e que Jesus, o Rei
Eterno, sofreu, venceu e reina majestoso, no tempo
e na eternidade.

3. Teve seu ápice com Cristo


pregado na cruz
O sinédrio judaico conseguiu autorização roma-
na para crucificar Jesus (Mc 15.13-15). Mas, não
tiveram êxito, pois Jesus ressuscitou e, os seus dis-
cípulos, após o revestimento do Espírito Santo (At
2.1-13) tornaram-se ousados e com intrepidez fala-
vam do que tinham visto e ouvido (At 4.20), enten-
dendo que mais importa obedecer a Deus do que
aos homens (At 5.29b) e avançaram testemunhan-
do, por toda parte, sobre a morte e a ressurreição
do Senhor e de como aparecera aos seus (Jo 21.1-
129
14).
A crucificação era um método de execução usado
pelos romanos e também por nações antigas como
a Assíria, Média e Pérsia, que utilizavam tal punição
para castigar escravos e criminosos. Era, portanto,
a forma mais vil, rude e vergonhosa de morte. Mas,
foi exatamente neste cenário que o amor de Deus
se expressou com toda a sua exuberância, virtude
e graça (2Tm 1.9). A cruz é o ápice mais expressivo
e contundente do amor divino revelado aos seres
humanos, sendo a sua mais feliz, produtiva e ma-
ravilhosa expressão e prova de amor. Em Jo 15.13
encontramos “Ninguém tem amor maior do este:
de alguém dar a sua própria vida pelos seus ami-
gos”. Deus nos amou de tal maneira que não pou-
pou Seu próprio Filho (Rm 8.32), deu-se pela nossa
redenção (Ef 1.7,8), para que por Ele tivéssemos
vida em abundância (Jo 10.10b).
No caminho do Calvário o Mestre foi padecendo
angústia, dor e, naquela região de morte, chama-
do “lugar da caveira” (Mt 27.33), fora afixada na
cruz a seguinte inscrição “Este é Jesus, o Rei dos
Judeus” (Mt 27.37); quando os soldados Lhe ofe-
receram bebida forte, para que ficasse como que
anestesiado, Ele recusou de pronto (Mc 15.23). A
130
Palavra diz que Ele “...morreu na hora nona” (Mc
15.25,34,37), sem que Suas pernas ou ossos fos-
sem quebrados, cumprindo-se o que estava nas
Escrituras (Sl 22; Mc 15.24, 27,28). Ali, o Senhor
Jesus deu a Sua vida por nós, reconciliando-nos
com o Pai e deixando aberto o caminho de aces-
so direto aos céus, com o véu que fora rasgado de
alto a baixo (Mc 15.38), inaugurando o sacerdócio
universal dos crentes.
A crucificação de Cristo no Calvário é o retrato da
graça, a maior prova de amor e presente imerecido.
O apóstolo Paulo chama a crucificação de manifes-
tação do poder de Deus (1Co 1.23,24), maravilha
demonstrada aos homens para mudar o curso da
vida e proporcionar uma nova realidade espiritual,
como expressão do amor de Jesus (Ef 2,8).
Após vencer a morte, Jesus deixou claro que cruz
significa sofrer pelos pecados (Fp 2.8; Hb 12.2),
reconciliar-se com o Pai (2Co 5.19; Cl 1.20), para
termos paz (Ef 2.16). A Cruz, portanto, simboliza a
glória do evangelho (1Co 1.17); é dívida paga (Cl
2.14), é libertação garantida (Rm 6.6-11). A Cruz
também é símbolo do amor, do poder de Deus e
da vitória do salvo. Cristo pregado no madeiro é o
símbolo da nossa salvação, é vitória sobre o peca-
131
do, é a maior prova de amor que alguém pudesse
conhecer.

Para Pensar e Agir


1. O sacrifício de Jesus, a sua morte, retrato da
graça, foi um presente divino. “Nisto conhecereis
o amor: Que Cristo deu a sua vida por nós...” (1Jo
3.16 a). Esta é uma magnífica, notável e imensa
prova de amor!
2. O sofrimento de Jesus, conquanto doloroso, foi
o espelho do amor incondicional do Pai, transmiti-
do pelo Filho obediente ao propósito da eternidade
e deixado no tempo, à disposição de todo aquele
que crer.
3. Enquanto Satanás influenciava os homens
para, aparentemente, fazerem o pior; Jesus fazia o
melhor: operava a nossa redenção.
4. A maior prova de amor foi o Justo sofrer pelos
injustos, o Santo pelos pecadores, para que a vida
fosse abundante. Essa prova de amor triunfou so-
bre as mazelas e equívocos das pessoas; eviden-
ciou nobreza ao passar pelo crivo da humilhação e
teve o seu ápice em Cristo na cruz. Qual tem sido a
nossa atitude diante de tudo isso?
132
Lição 13
Texto Base: Marcos 16:1-11

A Grande
Vitória

Por Pr. Vanderlei Batista Marins

Leitura Diária
SEG João 20. 1-10

TER João 20.11-18

QUA João 20.24-29

QUI Lucas 24.13-35

SEX Lucas 24.36-49

SÁB Mateus 28.16-20

DOM Atos 1.6-11

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A ressurreição de Cristo é uma das realidades
mais gloriosas e significativas à fé cristã. Descreve
triunfo, vitória, supremacia e notoriedade de Cristo
sobre a morte, fazendo-se para nós, primícias dos
que dormem (2Co 15.20-23).

Nos evangelhos, encontramos brilhantes e pre-


ciosos testemunhos assegurando a existência da
ressurreição, conforme Mt 28.1-10; Mc 16.1-13;
Lc 24.1-12, Jo 20.1-10. Somando-se a essas des-
crições bíblicas, encontramos outros preceitos do
Novo Testamento quanto ao assunto, começando
pelos apóstolos, testemunhas oculares da ressur-
reição do Senhor, que contundentemente sobre ela
dissertavam e confrontavam as pessoas, indican-
do que Jesus venceu, está vivo à destra do Pai (1Pe
3.22), pois é o regente absoluto da eternidade e
do tempo, além de ser plenamente merecedor, dig-
no de receber reverência, adoração, honra, glória e
louvor (Ap 4.11).

A ressurreição foi real, corpórea e o seu resulta-


do constatado e testemunhado por muita gente. As
mulheres, por exemplo, foram as primeiras a con-
templá-Lo ressurreto, recebendo dEle uma incum-
bência (Mt 28.7). Então, saíram “apressadamente”
134
para honrar o mandado, quando o Mestre veio ao
encontro delas e as saudou. Imediatamente, “elas,
aproximando-se, abraçaram os pés dele e o ado-
raram” (Mt 28.9). Outro momento significativo foi
quando Jesus chamou Tomé e lhe disse “Ponha aqui
o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda tam-
bém a sua mão e ponha no meu lado ...” (Jo 20.27).
E, por remate, quão maravilhosa foi a experiência
de Pedro quando pregava na casa de Cornélio, fa-
lando sobre a pessoa de Jesus (At 10.40,41).

A ressurreição, além de ser expressiva manifesta-


ção de vitória, é cumprimento da Palavra (Lc 24.25-
27,46). Ela aconteceu depois do sábado, na manhã
de domingo, o dia do Senhor.

O evangelho de Mateus narra Jesus fazendo uma


saudação às mulheres “Alegrem-se, fiquem conten-
tes!”. Ressurreição é júbilo, um brado de alegria e
contentamento. É a expressão visível da vitória e
triunfo de Jesus Cristo, o nosso Salvador e Senhor.

Algo notável a ser considerado é que foi conce-


dido aos anjos o privilégio de testemunhar a res-
surreição; já aos humanos, a notícia sobre ela. A
ressurreição é, portanto, uma incomparável e gran-
diosa vitória!
135
1. Identificada pelo sepulcro vazio
Aqui está a grande e marcante diferença entre
o cristianismo e os demais segmentos religiosos.
Nestes, os corpos dos seus fundadores ficaram
restritos, limitados aos túmulos. O corpo de Jesus
jamais, pois se fosse encontrado há muito teriam
destruído a fé cristã.

O sepulcro vazio é prova lúcida e irrefutável de que


o evangelho é absolutamente verdadeiro, Palavra
do Senhor, que Cristo ressuscitou dos mortos, está
vivo e, categoricamente, à luz de Rm 1.4, foi “decla-
rado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de
santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus
Cristo, nosso Senhor”.

O sepulcro vazio testifica o triunfo de Jesus sobre a


morte (Jo 20.11-18), evidencia o cumprimento das
Escrituras (1Co 15.3,4), declara ser substancial a
nossa fé (1Co 15.14) e que a morte foi tragada na
vitória, realidade alcançada exclusivamente pelos
méritos de Cristo Jesus, o Senhor (1Co 15.54,55).

Algumas são as evidências da ressurreição: A pre-


ocupação das autoridades religiosas que articula-
ram o julgamento e condenação de Jesus sob os
136
olhos dos romanos, quando colocaram guardas para
vigiarem onde o mestre fora sepultado (Mt 27.62-
66); o testemunho das mulheres, levando a notí-
cia, algo não comum entre os judeus (Lc 24.1-10);
os evangelhos informam que a pedra fora removida
(Mt 28.2; Mc 16.3; Lc 24.2). Conquanto, Mc 16.5
indique a presença naquele local de “um jovem...
vestido de roupa comprida e branca”, Lc 24.4 men-
ciona a presença de “dois varões com vestes res-
plandecentes” e em Jo 20.1, encontramos apenas
que “... sendo ainda escuro, viu a pedra tirada do
sepulcro”, e que dois discípulos acharam os lençóis
e, à parte, o lenço que estava sobre Sua cabeça (Jo
20.6,7). Tudo isso indica que o corpo de Jesus fora
colocado naquele local, havia estado ali. Todavia,
não mais estava, ressuscitou, venceu a morte, Sua
grande vitória.

Diante do exposto, não restam dúvidas sobre a


bendita e gloriosa intervenção divina, ação sobre-
natural de Deus, mostrando Sua autoridade e co-
mando sobre todas as coisas nos céus e na Terra.

O sepulcro vazio aponta para a superioridade


de Cristo, que se fez homem, humilhando-se até a
morte de Cruz (Fl 2.8), dando-se por amor para a
137
remissão dos nossos pecados (Cl 2.13,14). Mas,
nada pode detê-Lo, sendo mais forte do que os for-
tes, vencendo a morte, visto subindo aos céus (At
1.3-11), e sendo glorificado, recobrando a glória de
que abriu mão para estar entre nós. É verdadeira
referência de fé, pois o Salvador está vivo, com Ele
podemos falar e sermos ouvidos. A Sua ressurrei-
ção reacende a nossa esperança, trazendo ânimo
novo, vigor renovado e certeza de que o choro será
substituído pela alegria, o pranto pela celebração
e a morte jamais será o fim (Jo 11.25,26; 14.19).
Cristo venceu e com Ele venceremos também (Jo
16.33b; 1Jo 5.4,5).

2. Marcada por uma dualidade:


medo e contentamento
Ao entrarem em contato com o cenário da res-
surreição, os personagens que lá estiveram foram
tomados por um misto de sentimentos: medo e ale-
gria. (Mt 28.8). Diante daquela situação, ficaram so-
bressaltados, perplexos e cheios de interrogações,
afinal de contas, o corpo de Jesus não estava lá;
viram umas figuras no recinto, não comuns ao seu
cotidiano, além da tensão normal inerente àquele
quadro.
138
Ao ouvirem a notícia da ressurreição e recebe-
rem o desafio de anunciá-la aos discípulos, foram
imersas em temor e assombro (Mc 16.7,8), de tal
maneira que o silêncio as cercou. Diz-nos a Bíblia
que “...nada diziam a ninguém”. Era, realmente, um
quadro inusitado, cheio de inquietações e até de
perigo, uma vez que a efervescência sobre o que
acontecera a Jesus estava bem nítida na mente e
no cotidiano de todo o povo em Jerusalém, confor-
me constatamos na conversa dos dois discípulos
no caminho de Emaús. Ali, fica tudo muito claro, as
coisas que aconteceram a Jesus ganharam domí-
nio público, era fato corriqueiro e notório entre todo
o povo.

Naquele mesmo ambiente, além do temor, pode-


mos destacar a alegria pela vitória de Jesus Cristo
sobre o poder do pecado e da morte. Também, o
grande contentamento de poder ver Jesus e tocá-
-lo após aquele período de sofrimento, dor e mor-
te que eles presenciaram. Agora, poder abraçar os
pés do Salvador ressurreto (Mt 28.9) é motivo de
indescritível satisfação e regozijo.

Quando lermos o relato de Mt 28.1-10, notamos


as reações pela presença divina: os guardas des-
139
maiaram de medo (v. 4), as mulheres foram conso-
ladas e animadas pela contundente verdade “Jesus
vence a morte”. Venham conferir, o sepulcro está
vazio (v. 6). Outra alegria naquele ambiente foi a
incumbência recebida: levar a mensagem da res-
surreição. Foi ordem de Jesus (v. 7). Elas podiam
falar do conteúdo da mensagem, pois viram que o
corpo do Mestre não estava no sepulcro. Por isso,
transmitiram uma mensagem de esperança, a mor-
te perdeu o seu poder de império. Podiam sair da
tristeza e do esconderijo, pois não estavam mais
sozinhos, o Senhor está presente!

Temor, no contexto bíblico, vai além de medo e


receio. É respeito, reconhecimento, manifestação
de obediência ao Senhor e disposição em cumprir
com os seus preceitos e vontades (Jo 14.21), sen-
do-lhe fiel (Sl 86.11), zelando pela pureza espiritu-
al (Sl 24.3,4), buscando santidade (1Pe 1.15; Hb
12.14) e um aprimoramento para as ações da vida.
A ressurreição, grande vitória do Cordeiro Eterno,
conduz à adoração (Mt 28.9,10), curvar-se ante a
Sua face, ouvir a Sua voz, agir impulsionado por Sua
palavra e motivado por Seu amor. (Jo 21. 15-17).

No mesmo ambiente, onde o medo e o contenta-

140
mento tiveram espaço, sem dúvidas este superou
aquele. Pois, a ressurreição, além de uma boa notí-
cia, é uma realidade gloriosa e promissora, da qual
a Igreja, o Novo Testamento e o dia do Senhor dão
testemunho da Sua grandeza e magnífica impor-
tância. Pois, se Cristo não ressuscitasse seria vã
nossa fé (1Co 15.13,14), não teríamos salvação e,
por conseguinte, o plano divino de redenção teria
falhado, tudo seria em vão.

3. Aponta para o desafio da grande


comissão e ascensão de Jesus
A ressurreição de Cristo traz desafios à igreja; pois
a possibilita crer, esperar e pregar a respeito des-
ta grande vitória sobre o pecado e a morte. Jesus,
ao ressuscitar, aparece aos seus e transmite-lhes
uma missão (Leia: Mc 16.15,16). Essa pauta pre-
cisa ser observada e integrar a realidade dos dis-
cípulos do Mestre da Galileia, na forma do que en-
contramos em Mt 28.19,20. É o que chamamos
de “a Grande Comissão”, a agenda de Jesus para
a Sua Igreja amada, vitrine de Deus e militante nas
demandas do tempo na promoção do Reino.

Sem ressurreição, a vida seria sem sentido ou ine-

141
xistente. Assim como não existiria o Cristianismo e
a Igreja, estaríamos todos mortos em nossas trans-
gressões (Ef 2.1).

A ressurreição é motivadora da Grande Comissão,


instrução ministrada pelo Cristo ressuscitado aos
seus discípulos para que espalhassem os seus en-
sinamentos por todas as nações. Essa palavra de-
monstra ser muito mais do que opção, era ordem do
Senhor. Então, anunciar a verdade eterna sempre
foi e será a Sua preocupação, compartilhada com a
Igreja, que deve cumprir tal intento por obediência a
Sua voz e amor aos perdidos (At 1.8). Essa agenda
de Jesus é um imperativo à vida cristã, que valoriza
o discipulado e o ensino, aperfeiçoando os salvos
para o exercício do ministério (Ef 4.12). Tendo con-
cluído o seu conteúdo com uma exuberante pro-
messa que traz paz e equilíbrio para transitar em
meio aos lobos (Lc 10.3), às turbulências e aflições
da vida, mas sempre com o ânimo recobrado, com
tranquilidade e segurança, conforme Ele assegurou
(Mt 28.20b). A ascensão, o Seu retorno à glória, in-
dica a conclusão de Sua trajetória neste mundo, do
Seu ministério terreno (Mc 16.19, Lc 24.50,51).

Com a ascensão de Jesus, os discípulos ficaram

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com os olhos voltados para os céus (At 1.9,10), pois
estavam privados de Sua presença física. Daí, en-
tão, serem confortados ao ouvirem uma agradável
promessa descrita em At 1.11. Diante do exposto, a
ascensão de Jesus foi real, visível e física (At 7.56)
sendo muito mais do que uma simples subida da
Terra para os céus, como Jesus disse que aconte-
ceria (Jo 14.28; 20.17). Ela nos remete a algo bas-
tante expressivo: Cristo venceu a humilhação, o so-
frimento e a dor; recobrou a Sua glória, tendo o Seu
sacrifício aceito pelo Pai; foi coroado como Rei dos
reis e encontra-se junto ao Pai, exaltado por toda a
eternidade (Fl 2.9).

Para Pensar e Agir


• A ressurreição foi o triunfo de Cristo sobre o
pecado e a morte. A Sua e nossa vitória! É a reali-
dade mais expressiva, significativa e gloriosa da fé
cristã. Também, apresenta-se como a grande dife-
rença entre o cristianismo e os demais segmentos
religiosos.
• A ressurreição é o brado de alegria. É a ex-
pressão visível da vitória de Cristo, que teve espaço
num ambiente marcado por uma dualidade: medo
e contentamento, onde as autoridades e os guar-
143
das ficaram apavorados. Mas, as mulheres que ali
estavam alcançaram tranquilidade e alegria, por
constatarem que o Senhor não ficara preso ao do-
mínio da morte, pois Seu corpo não estava ali: ven-
ceu, triunfou!
• A ressurreição foi uma lição de superação de
preconceitos. As mulheres foram arautos das boas
novas, transmitindo a linda mensagem de encora-
jamento e esperança. De forma segura e solene,
informaram o grande sucesso de Cristo. Tornaram
a notícia pública por ordem do Cristo ressurreto, e
cumpriram com maestria a missão: anunciar a vi-
tória sobre a morte, sendo esta também a nossa
missão.
• Sem ressurreição não existiria cristianismo,
igreja e salvação. A nossa fé seria vã, inútil e inexis-
tente. Mas, cumpriu-se as Escrituras e adquirimos
a garantia de triunfarmos como Ele triunfou.
• A vitória da ressurreição do Senhor foi identifi-
cada pelo sepulcro vazio, marcada pelo pavor dos
adversários e celebração dos que nEle criam e apon-
ta para o desafio da Grande Comissão. Precisamos
honrar a obra de Cristo, dedicando-nos verdadeira-
mente a ela. NEle somos mais do que vencedores.

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Ficha Técnica

Revista da Convenção Batista Fluminense


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