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Desenvolvimento e Aprendizagem
da Criança na Educação Infantil
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Desenvolvimento e Aprendizagem
da Criança na Educação Infantil
• Introdução;
• Formas de Aprendizagem e a Educação Infantil;
• Reflexos Jurídicos dos Conceitos Teóricos;
• Educação Infantil na Contemporaneidade.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Abordar as formas de aprendizagem na edução infantil, através da ludicidade;
• Conhecer a experiência com os objetos e com as situações;
• Entender como gamificar a aprendizagem através de prêmios no aprendizado;
• Aprender sobre os reflexos jurídicos dos conceitos teóricos, tais como a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação.
UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil
Introdução
Durante muito tempo, a Educação Infantil foi direcionada ao atendimento de
crianças que necessitavam de assistência enquanto suas mães trabalhavam fora. Esse
caráter assistencialista da Educação Infantil privilegiava o cuidado com a criança
como principal objetivo das instituições. Até hoje, alguns professores entendem que
seu papel junto às crianças é mantê-las limpas, alimentadas e saudáveis, com grande
destaque para o “cuidar”.
Figura 1 – Centro de Educação Infantil (CEI) de Campinas, creche fundada da década de 1940
Fonte: campinas.sp.gov.br
Porém, a partir de 1996, com a LDB nº 9394, a Educação Infantil foi inserida no
sistema educacional como a primeira etapa da educação básica. Portanto, somente
cuidar não mais atende aos objetivos legais propostos; é preciso educar. Foi a pri-
meira vez que as creches foram consideradas espaços de aprendizagem e formação
infantil em sentido educacional.
Cuidar: significa “zelar pelo bem-estar ou pela saúde de; tratar da saúde de; sustentar;
empregar a atenção; ter desvelo por” (MICHAELLIS).
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O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crian-
ças que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas im-
portantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Para se atingir os
objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvi-
mento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e proce-
dimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre desen-
volvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em
conta diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25)
Como você pode perceber, o professor de Educação Infantil deve ser capaz de
entender que o cuidar e o educar não se separam e também de manter o equilíbrio
entre esses dois processos no atendimento das crianças. Deve pensar apoiado em
uma concepção integral da criança, visando ao desenvolvimento cognitivo, afetivo,
emocional, físico e social.
Para tanto, é preciso saber como as crianças aprendem e o que pode auxiliá-las
a crescer e evoluir.
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UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil
Formas de Aprendizagem
e a Educação Infantil
A forma como as crianças desenvolvem a aprendizagem, seja em relação a com-
portamentos, habilidades, hábitos seja quanto aos conhecimentos, pode ocorrer de
diferentes maneiras. Depende também da forma como essa criança é apresentada ao
objeto de aprendizagem ou estimulada a realizar esta ou aquela tarefa. Entender de
que maneira isso acontece é fundamental para compreender na prática os elementos
abordados acima sobre o desenvolvimento infantil.
O TedX “Novas formas de aprender e ensinar”, com os palestrantes João Pedro Magnani
e Pedro Lu, versa sobre a questão das possibilidades de aprendizagem e da maneira como
isso pode ser explorado. Disponível em: https://youtu.be/IOMmdBpTKqc
Ludicidade
A ideia de que a educação infantil pode começar antes da fase de alfabetização
trouxe consigo reflexões acerca de outros aspectos da infância. A primeira delas é
a de que a aprendizagem vai muito além dos conteúdos teóricos que são ensinados
formalmente nos quadros-negros; aprende-se a cada momento e as ferramentas que
materializam essa realidade são muitas e diversas.
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Lúdico vem do latim ludus que, de acordo com Huizinga: “abrange os
jogos infantis, a recreação, as competições, as representações litúrgicas
e teatrais, e os jogos de azar” (HUIZINGA, 2004, p. 41). Acrescenta
que os jogos têm um profundo cunho estético, uma intensa e fascinante
capacidade de excitar. Lúdico deriva também do radical latino In lusio
que quer dizer ilusão, em jogo. Talvez essa característica explique a ideia
de simulacro que reside por detrás do conceito.
Vygotsky (1998) inicia seu pensamento na ideia de que o ser humano possui fun-
ções psicológicas de processamento de informações e acontecimentos e que elas
podem ser divididas em duas categorias: elementares ou superiores. Ações reflexas
e instintivas – como olhar em direção à fonte de um barulho, por exemplo – são
elementares, pois são mais básicas e naturais, sendo compartilhadas por animais e
garantidas por natureza aos seres vivos; estão atreladas à sobrevivência. Já as funções
superiores são típicas da convivência social do homem, sendo construídas à medida
que cada pessoa interage, aprende e pensa enquanto indivíduo inserido na sociedade.
Note que as funções superiores são desenvolvimentos psíquicos que não nascem
com a criança, mas desenvolvem-se por meio de suas vivências, experiências e in-
terações. É nesse sentido que nasce a Teoria Histórico-cultural do Desenvolvimento
Humano de Vygotsky, na qual o pensador considera que o desenvolvimento das
funções superiores só acontece no processo de vivência e interação.
O autor considera ainda que cultura é todo o produto da vida social do indivíduo.
A partir dessa vivência e do desenvolvimento das funções superiores, as próprias
funções elementares incorporam-se culturalmente. Ou seja, o ser humano desenvol-
ve-se a ponto de ressignificar as funções naturais dentro de sua realidade, efetuando
a passagem da ordem da natureza à ordem da cultura (SIRGADO, 2000).
O programa “Nós da Educação”, do canal EducaPlay, aborda as teorias de Vygotsky com uma
entrevista com a professora Zoia Prestes. Disponível em: https://youtu.be/i6NQ1S_SDUw
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UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil
O desenvolvimento infantil também foi alvo dos estudos de Jean Piaget, educador
e pensador suíço. O autor (1973) considera que as crianças passam por etapas de
desenvolvimento com potencialidades específicas, fundamentais para seu desenvol-
vimento pleno. São elas:
• Sensório-motor (0 a 2 anos): criança em fase de exploração de seu meio;
linguagem ainda limitada e não há função semiótica (criação de referenciais
mentais de significado);
• Pré-operatório (2 a 7 anos): desenvolvimento da linguagem, da capacidade
semiótica e do entendimento de modelos;
• Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos): capacidade de interiorizar ações e
conceitos, realizando atividades desenvolvidas em pensamento próprio, coorde-
nação de ações e capacidade de entender pontos de vista externos;
• Operações formais (11 ou 12 anos em diante): capacidade de pensamento
estrutural, no qual se desenvolvem ideias, noções, valores e questionamentos de
modelos tradicionais.
Quer entender melhor sobre os estágios de desenvolvimento infantil abordados por P iaget?
O artigo “O Desenvolvimento da Criança nos Primeiros Anos de Vida”, de Durlei de
Carvalho Cavicchia, é uma boa leitura sobre o tema. Disponível em: https://bit.ly/2A17gI1
A criança passa de simples esquemas de ação para condutas mais complexas, por
meio de processos que, conforme você leu, Piaget denomina assimilação (aplicação
do mesmo esquema a diferentes objetos e situações) e acomodação (pequenas mu-
danças que a criança introduz nos esquemas para adaptar-se a situações diferentes).
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A criança pequena, que se encontra na etapa sensório-motora, faz uma aprendiza-
gem do mundo que a envolve e aprende a resolver as situações com as quais convive
à medida que vai colocando em prática esquemas cada vez mais complexos para
indagar e intervir na realidade.
Figura 2
Fonte: Getty Images
A atividade com objetos é muito importante para a criança durante toda a in-
fância. Mas você vai perceber que, a partir do momento em que a criança se torna
capaz de se comunicar pela linguagem, haverá mudanças no tipo de atividade que a
ela fará para conhecer o mundo: ela passará a fazer operações mentais não visíveis,
utilizando a linguagem como instrumento de pensamento. De qualquer modo, o
contato com os objetos e a experiência que a criança tem através do jogo individual,
em grupo ou com uma pessoa adulta são situações de aprendizagem básicas durante
todo o período que poderíamos considerar como etapa da educação infantil.
Já ouvir falar em Annie Sullivan? A professora ganhou notoriedade após trabalhar com
Helen Keller, uma criança surda e cega. A educação aconteceu por meio do tato e da explo-
ração de objetos táteis. A descoberta desse modo de aprendizagem e o desenvolvimento da
menina são retratados no filme “O milagre de Anne Sulivan”, de 1962.
Veja o trailer, disponível em: https://youtu.be/bedqZxHX6QA
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UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil
cena etc. Todas as situações que envolvem a rotina de sua vida, como acordar, vestir-
se, tomar café, brincar no parque, almoçar, passear, jantar, ou mesmo ações menos
rotineiras, como ir ao cinema, ao restaurante, viajar, servem para que a criança
estabeleça uma lógica em suas ações uma vez que as situações se apresentam sempre
de forma parecida.
Através de tais situações, a criança aprende a identificar os objetos que
são previsíveis de encontrarem-se em determinados lugares (é estranho
encontrar uma escova de dentes na cozinha) , a maneira como as coisas
estão habitualmente situadas no espaço (as cadeiras encostadas ou abai-
xo da mesa, os quadros na parede) e também a sucessão temporal de
determinadas situações (primeiro tira-se as fraldas sujas: depois, limpa-se
o bumbum; depois se põe fraldas limpas e começa-se a vestir a criança;
ou, para passear, primeiro se põe o casaco, em seguida o gorro/boné
e, finalmente, pega-se o carrinho em que vai a criança, abre-se a porta,
etc.). (BASSEDAS, 1999, p. 26-27)
Os Prêmios e os Castigos
Você já deve ter presenciado crianças sendo premiadas (um sorriso, um abraço,
um presente, um comentário elogioso etc.), ou castigadas (indiferença, uma cara bra-
va, algumas palavras com tom de aborrecimento etc.) por alguma conduta. Muitas
vezes, tais prêmios ou castigos são utilizados para mostrar à criança quando suas
condutas são aceitas ou não, entendendo quais limites lhes são impostos ou cedidos.
Na escola, é comum percebermos desentendimentos entre professores e alunos,
entre pais e filhos, pois as crianças testam os limites dados pelos adultos, tentando
fazer o que normalmente não é permitido.
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Figura 3
Fonte: Getty Images
Bassedas (1999) destaca que os prêmios e castigos são ferramentas úteis para
trabalhar situações de aprendizagem das normas de conduta. Porém, é preciso que
haja coerência e bom senso no estabelecimento de normas pelo adulto, evitando
também ser inflexível na negociação dos limites, uma vez que isso ensina a criança
a não negociar e ser também inflexível, tornando-se incapaz de compreender que
pode haver diferentes soluções para determinadas situações.
A Imitação
Você vai perceber, na etapa da educação infantil, que as crianças aprendem imitan-
do o que veem e vivem com as pessoas que estão ao seu lado. O pai, a mãe, os educa-
dores, os professores, coleguinhas são importantes para a criança e servem de modelo
para suas ações. Expressões, modo de agir, atitudes e comportamentos são imitados.
Isso não é de todo ruim, uma vez que as experiências vividas e a imitação de
situações ou pessoas darão chance à criança de demonstrar o que está sentindo ou
de representar situações vividas, tanto boas quanto ruins, mostrando ao adulto como
se sente.
Assim, através da imitação, as crianças podem aprender com as pessoas
que para elas são modelos a controlar e a representar situações vividas,
bem como vivê-las. (BASSEDAS, 1999, p.28)
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UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil
Por que isso é importante? Porque é somente a discussão transversal de temas tão
relevantes quanto à educação que permite avanços concretos na realidade prática.
É preciso juntar os avanços referenciais e teóricos com os elementos, limitações e
possibilidades da educação escolar para criar modelos e ferramentas aplicáveis em
toda a sociedade.
Figura 4
Fonte: Getty Images
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De acordo com Saviani (p. 299, 2008):
Em consequência da exclusão do princípio da vinculação orçamen-
tária, o governo federal foi reduzindo progressivamente os recursos
Cad76_04ARTIGOS.pmd 1/4/2009, 09:58 298 Cad. Cedes, Campi-
nas, vol. 28, n. 76, p. 291-312, set./dez. 2008 299 Disponível em Der-
meval Saviani aplicados na educação: “desceu de 7,60% (em 1970), para
4,31% (em 1975), recuperando-se um pouco em 1978, com 5, 20%”
(Vieira, 1983, p. 215). Assim, liberado da imposição constitucional, o in-
vestimento em educação por parte do MEC chegou a aproximadamente
um terço do mínimo fixado pela Constituição de 1946 e confirmado pela
LDB de 1961.
Em 1996, foi promulgada a versão atualizada da lei, vigente até os dias de hoje.
Ela incorpora as correntes teóricas e as vivências que discutimos até agora e iremos
explorar mais as suas definições no próximo capítulo.
Em Síntese
Você já sabe a importância do currículo para a Educação Infantil; sabe como as crianças
dessa faixa etária aprendem, quais são suas fontes de conhecimento. Seja qual for a
fonte de conhecimento destacada na aprendizagem da criança, é preciso atenção aos
materiais didáticos utilizados, aos objetos e brinquedos, às condições do ambiente físico
e aos recursos humanos disponíveis, pois, juntos, esses elementos constituem-se com-
ponentes fundamentais para a elaboração de um currículo rico, com conteúdos, ativida-
des, conceitos, habilidades e competências necessários à aprendizagem, e que levarão
ao desenvolvimento de uma Educação Infantil de qualidade.
Em resumo, até aqui vimos que, quando escolhemos uma concepção de cuidado e edu-
cação integrada com a família, é necessário considerar várias dimensões do relaciona-
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Documentário “Um, Dois, Três, Brincando”
https://youtu.be/0Oc4eFg8lHQ
Leitura
Da Ação à Compreensão: um Passeio pela Teoria de Piaget
https://bit.ly/2z4agmp
Crianças na Educação Infantil: a Escola como lugar de Experiência Social
https://bit.ly/309jlFy
Processo de Criação das Primeiras Creches Brasileiras e seu Impacto
sobre a Educação Infantil de Zero a Três Anos
https://bit.ly/2U8Nzoq
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UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil
Referências
BASSEDAS, E. et al. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Artmed, 1999.
PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: Livraria José Olympo.
Editora/Unesco, 1973.
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