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Educação Infantil: Currículo

Desenvolvimento e Aprendizagem
da Criança na Educação Infantil

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Márcia Pereira Cabral

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Desenvolvimento e Aprendizagem
da Criança na Educação Infantil

• Introdução;
• Formas de Aprendizagem e a Educação Infantil;
• Reflexos Jurídicos dos Conceitos Teóricos;
• Educação Infantil na Contemporaneidade.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Abordar as formas de aprendizagem na edução infantil, através da ludicidade;
• Conhecer a experiência com os objetos e com as situações;
• Entender como gamificar a aprendizagem através de prêmios no aprendizado;
• Aprender sobre os reflexos jurídicos dos conceitos teóricos, tais como a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação.
UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil

Introdução
Durante muito tempo, a Educação Infantil foi direcionada ao atendimento de
crianças que necessitavam de assistência enquanto suas mães trabalhavam fora. Esse
caráter assistencialista da Educação Infantil privilegiava o cuidado com a criança
como principal objetivo das instituições. Até hoje, alguns professores entendem que
seu papel junto às crianças é mantê-las limpas, alimentadas e saudáveis, com grande
destaque para o “cuidar”.

Figura 1 – Centro de Educação Infantil (CEI) de Campinas, creche fundada da década de 1940
Fonte: campinas.sp.gov.br

Porém, a partir de 1996, com a LDB nº 9394, a Educação Infantil foi inserida no
sistema educacional como a primeira etapa da educação básica. Portanto, somente
cuidar não mais atende aos objetivos legais propostos; é preciso educar. Foi a pri-
meira vez que as creches foram consideradas espaços de aprendizagem e formação
infantil em sentido educacional.

Tornou-se necessário superar a concepção assistencialista que ainda predomina


na Educação Infantil, atendendo aos aspectos legais, mas, principalmente, revendo a
concepção que se tem de infância, a postura do professor que atua nesta faixa etária
e até mesmo as responsabilidades da sociedade perante essas crianças.

Estamos falando em cuidar e educar na Educação Infantil. Mas há diferença entre


essas duas ações?

Cuidar: significa “zelar pelo bem-estar ou pela saúde de; tratar da saúde de; sustentar;
­empregar a atenção; ter desvelo por” (MICHAELLIS).

De um modo geral, podemos entender cuidar como atenção e desvelo direciona-


do ao bem-estar e saúde de alguém. Na Educação Infantil, podemos perceber que o
“cuidar” é imprescindível e exige também conhecimentos e estratégias que possam
explorar a potencialidade pedagógica desse cuidar.

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O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crian-
ças que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas im-
portantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Para se atingir os
objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvi-
mento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e proce-
dimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre desen-
volvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em
conta diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p. 25)

O cuidar remete-nos, portanto, ao auxílio dado às crianças em seus primeiros passos


e atividades, com referência tanto ao aspecto biológico quanto ao aspecto afetivo e
emocional. Toda criança necessita de cuidados referentes à alimentação e asseio, mas
precisa, também, sentir-se segura, encontrar apoio e incentivo na figura do professor.
Além disso, cabe ao professor conhecer as necessidades que cada criança tem,
observando, ouvindo e respeitando cada uma delas, para que a própria criança também
possa identificá-las, auxiliando o atendimento.

Já educar significa proporcionar às crianças momentos em que suas capacidades


e habilidades possam ser desenvolvidas. Encontramos sua definição no RCNEI –
Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil:
Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras
e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir
para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoa­l e
de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito­,
confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da
realidade social e cultural. (BRASIL, 1998, p. 24)

É claro que crianças pequenas necessitam de cuidados essenciais, como higiene,


alimentação, segurança, mas, em contrapartida, interagem com o mundo e as outras
pessoas, participam de experiências que as levam a descobrimentos. Ao propiciar
o desenvolvimento desses dois momentos importantes à criança, o professor estará
trabalhando a educação.

Como você pode perceber, o professor de Educação Infantil deve ser capaz de
entender que o cuidar e o educar não se separam e também de manter o equilíbrio
entre esses dois processos no atendimento das crianças. Deve pensar apoiado em
uma concepção integral da criança, visando ao desenvolvimento cognitivo, afetivo,
emocional, físico e social.

Para tanto, é preciso saber como as crianças aprendem e o que pode auxiliá-las
a crescer e evoluir.

Entenda os processos educacionais que estão envolvidos no processo de cuidar e de que


maneira essa relação acontece no vídeo “Cuidar, Educar e Brincar”, do Instituto Advento e
disponível em: https://youtu.be/s71QaTgNdiw

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UNIDADE Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança na Educação Infantil

Formas de Aprendizagem
e a Educação Infantil
A forma como as crianças desenvolvem a aprendizagem, seja em relação a com-
portamentos, habilidades, hábitos seja quanto aos conhecimentos, pode ocorrer de
diferentes maneiras. Depende também da forma como essa criança é apresentada ao
objeto de aprendizagem ou estimulada a realizar esta ou aquela tarefa. Entender de
que maneira isso acontece é fundamental para compreender na prática os elementos
abordados acima sobre o desenvolvimento infantil.

Segundo Palácios (1991 In BASSEDAS, 1999), existem diferentes caminhos ou


maneiras de aprender que podem ser estudados para orientar nosso trabalho com as
crianças na Educação Infantil: a aprendizagem através da experiência com os objetos;
a aprendizagem através da experiência em determinadas situações; a aprendizagem
através do prêmio e do castigo; a aprendizagem por imitação; e a aprendizagem pela
formação de “andaimes” por parte da pessoa adulta ou outra pessoa mais capaz.

Vamos entender cada uma dessas formas de aprender da criança?

O TedX “Novas formas de aprender e ensinar”, com os palestrantes João Pedro Magnani
e Pedro Lu, versa sobre a questão das possibilidades de aprendizagem e da maneira como
isso pode ser explorado. Disponível em: https://youtu.be/IOMmdBpTKqc

Ludicidade
A ideia de que a educação infantil pode começar antes da fase de alfabetização
trouxe consigo reflexões acerca de outros aspectos da infância. A primeira delas é
a de que a aprendizagem vai muito além dos conteúdos teóricos que são ensinados
formalmente nos quadros-negros; aprende-se a cada momento e as ferramentas que
materializam essa realidade são muitas e diversas.

O desenvolvimento infantil está muito atrelado ao desenvolvimento de novas habi-


lidades e de percepções sobre o mundo em que está inserido. Espera-se, por exem-
plo, que as crianças sejam capazes de pular corda e de esperar na fila até chegar a
sua vez. Embora pareça corriqueira, essa atividade indica que a criança já desenvol-
veu suas capacidades motoras a ponto de conseguir executar a ideia prática da brin-
cadeira (pular a corda sem pisar nela, no caso), ao mesmo tempo em que entende o
conjunto sistemático de regras para conseguir seguir as normas proposta.

É nesse sentido que se observa a necessidade de considerar a importância de


elementos lúdicos na educação infantil. A ludicidade diz respeito ao que é feito com
a função de divertir, de representar a realidade e de expressar ideias e sentimentos.
Nas palavras de Leal e D’Ávila (2013, p. 43):

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Lúdico vem do latim ludus que, de acordo com Huizinga: “abrange os
jogos infantis, a recreação, as competições, as representações litúrgicas
e teatrais, e os jogos de azar” (HUIZINGA, 2004, p. 41). Acrescenta
que os jogos têm um profundo cunho estético, uma intensa e fascinante
­capacidade de excitar. Lúdico deriva também do radical latino In lusio
que quer dizer ilusão, em jogo. Talvez essa característica explique a ideia
de simulacro que reside por detrás do conceito.

Ou seja, a ludicidade é importante para desenvolver capacidades cognitivas e


funções psicológicas nas crianças. Nesse sentido, as contribuições do psicólogo e
expoente da educação Lev Semyonovich Vygotsky são essenciais, pois permitem
entender de que maneira essas capacidades são desenvolvidas. O pensador russo foi
um dos primeiros a considerar como as práticas de interação e condições de vida
influenciam na aprendizagem e no desenvolvimento infantil.

Vygotsky (1998) inicia seu pensamento na ideia de que o ser humano possui fun-
ções psicológicas de processamento de informações e acontecimentos e que elas
podem ser divididas em duas categorias: elementares ou superiores. Ações reflexas
e instintivas – como olhar em direção à fonte de um barulho, por exemplo – são
elementares, pois são mais básicas e naturais, sendo compartilhadas por animais e
garantidas por natureza aos seres vivos; estão atreladas à sobrevivência. Já as funções
superiores são típicas da convivência social do homem, sendo construídas à medida
que cada pessoa interage, aprende e pensa enquanto indivíduo inserido na sociedade.

Note que as funções superiores são desenvolvimentos psíquicos que não nascem
com a criança, mas desenvolvem-se por meio de suas vivências, experiências e in-
terações. É nesse sentido que nasce a Teoria Histórico-cultural do Desenvolvimento
Humano de Vygotsky, na qual o pensador considera que o desenvolvimento das
funções superiores só acontece no processo de vivência e interação.

O autor considera ainda que cultura é todo o produto da vida social do indivíduo.
A partir dessa vivência e do desenvolvimento das funções superiores, as próprias
funções elementares incorporam-se culturalmente. Ou seja, o ser humano desenvol-
ve-se a ponto de ressignificar as funções naturais dentro de sua realidade, efetuando
a passagem da ordem da natureza à ordem da cultura (SIRGADO, 2000).

Embasado nesse pensamento, Vygotsky entende a escola como espaço inicial


para esse desenvolvimento e considera as interações ali existentes essenciais para
a aprendizagem e desenvolvimento infantil. Para o autor, “é no brinquedo que a
criança aprende a agir numa esfera cognitiva ao invés de uma esfera visual externa,
dependendo das motivações e tendências internas e não dos incentivos fornecidos
pelos objetos externos” (VYGOTSKY, 1998, p. 100-101).

O programa “Nós da Educação”, do canal EducaPlay, aborda as teorias de Vygotsky com uma
entrevista com a professora Zoia Prestes. Disponível em: https://youtu.be/i6NQ1S_SDUw

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O desenvolvimento infantil também foi alvo dos estudos de Jean Piaget, educador
e pensador suíço. O autor (1973) considera que as crianças passam por etapas de
desenvolvimento com potencialidades específicas, fundamentais para seu desenvol-
vimento pleno. São elas:
• Sensório-motor (0 a 2 anos): criança em fase de exploração de seu meio;
linguagem ainda limitada e não há função semiótica (criação de referenciais
mentais de significado);
• Pré-operatório (2 a 7 anos): desenvolvimento da linguagem, da capacidade
semiótica e do entendimento de modelos;
• Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos): capacidade de interiorizar ações e
conceitos, realizando atividades desenvolvidas em pensamento próprio, coorde-
nação de ações e capacidade de entender pontos de vista externos;
• Operações formais (11 ou 12 anos em diante): capacidade de pensamento
estrutural, no qual se desenvolvem ideias, noções, valores e questionamentos de
modelos tradicionais.

As definições piagetianas são essenciais para a educação infantil, já que descre-


vem de maneira bastante clara aquilo que pode e deve ser desenvolvido em cada
etapa. Ou seja, nota-se de maneira sistematizada que as crianças estão sempre em
desenvolvimento e que as capacidades obtidas ao longo de suas vivências são essen-
ciais também para o desenvolvimento futuro. Trata-se de um processo de desenvolvi-
mento, no qual cada experimentação gera um crescimento cognitivo para a criança.

Quer entender melhor sobre os estágios de desenvolvimento infantil abordados por P­ iaget?
O artigo “O Desenvolvimento da Criança nos Primeiros Anos de Vida”, de Durlei de
­Carvalho Cavicchia, é uma boa leitura sobre o tema. Disponível em: https://bit.ly/2A17gI1

A Experiência com os Objetos


O conhecimento infantil processa-se e inicia-se com uma exploração dos objetos.
É na ação direta sobre determinado objeto que a criança desenvolve o conhecimento.

Durante os dois primeiros anos de vida, a criança realiza exploração e experimen-


tação constantes com objetos, o que lhe proporciona um conhecimento do mundo que
a envolve: as características dos objetos (os que têm gosto, os que fazem ruído, os que
são proibidos, pela mãe, de serem tocados, os que se movem, os que rolam...), as rela-
ções que podem ser estabelecidas entre os objetos e as situações (se movo isto, posso
ver o que está em cima; se peço água, conseguirei que meu pai venha me ver etc.).

A criança passa de simples esquemas de ação para condutas mais complexas, por
meio de processos que, conforme você leu, Piaget denomina assimilação (aplicação
do mesmo esquema a diferentes objetos e situações) e acomodação (pequenas mu-
danças que a criança introduz nos esquemas para adaptar-se a situações diferentes).

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A criança pequena, que se encontra na etapa sensório-motora, faz uma aprendiza-
gem do mundo que a envolve e aprende a resolver as situações com as quais convive
à medida que vai colocando em prática esquemas cada vez mais complexos para
indagar e intervir na realidade.

Figura 2
Fonte: Getty Images

A atividade com objetos é muito importante para a criança durante toda a in-
fância. Mas você vai perceber que, a partir do momento em que a criança se torna
capaz de se comunicar pela linguagem, haverá mudanças no tipo de atividade que a
ela fará para conhecer o mundo: ela passará a fazer operações mentais não visíveis,
utilizando a linguagem como instrumento de pensamento. De qualquer modo, o
contato com os objetos e a experiência que a criança tem através do jogo individual,
em grupo ou com uma pessoa adulta são situações de aprendizagem básicas durante
todo o período que poderíamos considerar como etapa da educação infantil.

É por isso que precisamos pensar em atividades que proporcionem situações de


jogo, experiência e manipulação de objetos diversos, bem como na realização de
experiências adequadas ao nível de compreensão das crianças dessa faixa etária.

Já ouvir falar em Annie Sullivan? A professora ganhou notoriedade após trabalhar com
Helen Keller, uma criança surda e cega. A educação aconteceu por meio do tato e da explo-
ração de objetos táteis. A descoberta desse modo de aprendizagem e o desenvolvimento da
menina são retratados no filme “O milagre de Anne Sulivan”, de 1962.
Veja o trailer, disponível em: https://youtu.be/bedqZxHX6QA

A Experiência com as Situações


Além das experiências com os objetos, as crianças da Educação Infantil vivem
experiências que se relacionam com as situações cotidianas. Com isso, elas já
conseguem pensar e antecipar o que esperam que aconteça, o que é natural para
determinada situação na qual ela está envolvida, imaginar a continuação de uma

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cena etc. Todas as situações que envolvem a rotina de sua vida, como acordar, vestir-
se, tomar café, brincar no parque, almoçar, passear, jantar, ou mesmo ações menos
rotineiras, como ir ao cinema, ao restaurante, viajar, servem para que a criança
estabeleça uma lógica em suas ações uma vez que as situações se apresentam sempre
de forma parecida.
Através de tais situações, a criança aprende a identificar os objetos que
são previsíveis de encontrarem-se em determinados lugares (é estranho
encontrar uma escova de dentes na cozinha) , a maneira como as coisas
estão habitualmente situadas no espaço (as cadeiras encostadas ou abai-
xo da mesa, os quadros na parede) e também a sucessão temporal de
determinadas situações (primeiro tira-se as fraldas sujas: depois, limpa-se
o bumbum; depois se põe fraldas limpas e começa-se a vestir a criança;
ou, para passear, primeiro se põe o casaco, em seguida o gorro/boné
e, finalmente, pega-se o carrinho em que vai a criança, abre-se a porta,
etc.). (BASSEDAS, 1999, p. 26-27)

Essas experiências também auxiliam a criança a perceber o que lhe é permitido


fazer em uma situação ou em outra, quais são as expectativas em relação ao seu
comportamento em determinadas situações, o que ela deve evitar. Para isso, é pre-
ciso que a criança se sinta segura, a fim de que sua participação nas situações habi-
tuais da vida leve à aprendizagem de coisas importantes e não sirva somente como
exercício de hábitos, mas sim contribua para o desenvolvimento de conceitos que
levarão ao crescimento e conhecimento de si mesmas e do mundo que as envolve.

A escola tem um papel fundamental na socialização das crianças e, portanto, no contexto


da aprendizagem com situações. Sobre esse tema, confira o artigo “Crianças na educação
infantil: a escola como lugar de experiência social”, disponível em: https://bit.ly/309jlFy

Os Prêmios e os Castigos
Você já deve ter presenciado crianças sendo premiadas (um sorriso, um abraço,
um presente, um comentário elogioso etc.), ou castigadas (indiferença, uma cara bra-
va, algumas palavras com tom de aborrecimento etc.) por alguma conduta. Muitas
vezes, tais prêmios ou castigos são utilizados para mostrar à criança quando suas
condutas são aceitas ou não, entendendo quais limites lhes são impostos ou cedidos.
Na escola, é comum percebermos desentendimentos entre professores e alunos,
entre pais e filhos, pois as crianças testam os limites dados pelos adultos, tentando
fazer o que normalmente não é permitido.

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Figura 3
Fonte: Getty Images

Bassedas (1999) destaca que os prêmios e castigos são ferramentas úteis para
trabalhar situações de aprendizagem das normas de conduta. Porém, é preciso que
haja coerência e bom senso no estabelecimento de normas pelo adulto, evitando
também ser inflexível na negociação dos limites, uma vez que isso ensina a criança
a não negociar e ser também inflexível, tornando-se incapaz de compreender que
pode haver diferentes soluções para determinadas situações.

O mais importante é que se evitem os castigos que influem de maneira negativa


na autoestima e na segurança da criança. Não se devem utilizar castigos que ridicula-
rizem a criança perante os outros ou utilizar a retirada de afeto como castigo. Ambas
as situações fazem a criança sentir-se insegura e causam-lhe sofrimento.

Tirinha de Chico Bento satirizando as punições. Disponível em: https://bit.ly/2zAerXA

A Imitação
Você vai perceber, na etapa da educação infantil, que as crianças aprendem imitan-
do o que veem e vivem com as pessoas que estão ao seu lado. O pai, a mãe, os educa-
dores, os professores, coleguinhas são importantes para a criança e servem de modelo
para suas ações. Expressões, modo de agir, atitudes e comportamentos são imitados.

Isso não é de todo ruim, uma vez que as experiências vividas e a imitação de
situações ou pessoas darão chance à criança de demonstrar o que está sentindo ou
de representar situações vividas, tanto boas quanto ruins, mostrando ao adulto como
se sente.
Assim, através da imitação, as crianças podem aprender com as pessoas
que para elas são modelos a controlar e a representar situações vividas,
bem como vivê-las. (BASSEDAS, 1999, p.28)

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Reflexos Jurídicos dos Conceitos Teóricos


Os desenvolvimentos acerca da educação e das formas de aprendizagem foram,
aos poucos, sendo incorporadas em esferas de discussão pública e institucional. Isso
significa que as concepções acadêmicas se juntaram às percepções e contribuições
de pais, profissionais da educação, alunos e pessoas de outras profissões para com-
por um volume de conhecimento que mescla teoria e prática.

Por que isso é importante? Porque é somente a discussão transversal de temas tão
relevantes quanto à educação que permite avanços concretos na realidade prática.
É preciso juntar os avanços referenciais e teóricos com os elementos, limitações e
possibilidades da educação escolar para criar modelos e ferramentas aplicáveis em
toda a sociedade.

Figura 4
Fonte: Getty Images

É nesse sentido que surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).


Promulgada em 1961, a legislação trouxe consigo noções de igualdade no direito
à educação, garantia de acesso a todos e a descrição de quais seriam as obrigações
do Estado sobre a educação. A aprovação se deu 13 anos após a apresentação
do primeiro projeto à Câmara, o que mostra o longo caminho percorrido para
esse acontecimento.

A segunda versão da lei foi aprovada em 1971, em contexto de ditadura militar.


O que se observou, então, foi praticamente a manutenção da estrutura anterior com
a desobrigação dos investimentos públicos mínimos na educação. Ou seja, o legado
da ditadura na LDB teve consequências diretas nos cortes de verbas e no aumento
da desigualdade de acesso.

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De acordo com Saviani (p. 299, 2008):
Em consequência da exclusão do princípio da vinculação orçamen-
tária, o governo federal foi reduzindo progressivamente os recursos
Cad76_04ARTIGOS.pmd 1/4/2009, 09:58 298 Cad. Cedes, Campi-
nas, vol. 28, n. 76, p. 291-312, set./dez. 2008 299 Disponível em Der-
meval Saviani aplicados na educação: “desceu de 7,60% (em 1970), para
4,31% (em 1975), recuperando-se um pouco em 1978, com 5, 20%”
(Vieira, 1983, p. 215). Assim, liberado da imposição constitucional, o in-
vestimento em educação por parte do MEC chegou a aproximadamente
um terço do mínimo fixado pela Constituição de 1946 e confirmado pela
LDB de 1961.

Em 1996, foi promulgada a versão atualizada da lei, vigente até os dias de hoje.
Ela incorpora as correntes teóricas e as vivências que discutimos até agora e iremos
explorar mais as suas definições no próximo capítulo.

Educação Infantil na Contemporaneidade


As considerações observadas ao longo do capítulo, que perpassam desde a ne-
cessidade da ludicidade na educação infantil e as formas de aprendizagem até os
reflexos dessas visões sobre a legislação de educação, são essenciais para entender o
contexto atual. Percebe-se que a necessidade de documentos referenciais escolares,
que considerem teóricos da educação juntamente com o contexto brasileiro, foi se
mostrando cada vez mais concreta e relevante.

É esse contexto de dinamismo e multiplicidade que a LDB se junta às Diretrizes


Curriculares para Educação Infantil e aos Referenciais Curriculares Nacionais para
Educação Infantil (RCNEI), que estudaremos no próximo capítulo.

Em Síntese
Você já sabe a importância do currículo para a Educação Infantil; sabe como as crianças
dessa faixa etária aprendem, quais são suas fontes de conhecimento. Seja qual for a
fonte de conhecimento destacada na aprendizagem da criança, é preciso atenção aos
materiais didáticos utilizados, aos objetos e brinquedos, às condições do ambiente físico
e aos recursos humanos disponíveis, pois, juntos, esses elementos constituem-se com-
ponentes fundamentais para a elaboração de um currículo rico, com conteúdos, ativida-
des, conceitos, habilidades e competências necessários à aprendizagem, e que levarão
ao desenvolvimento de uma Educação Infantil de qualidade.
Em resumo, até aqui vimos que, quando escolhemos uma concepção de cuidado e edu-
cação integrada com a família, é necessário considerar várias dimensões do relaciona-

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mento e desenvolvimento humanos. Já discutimos, também, que a tarefa dos professo-


res de Educação Infantil e da equipe pedagógica é providenciar, prover bem-estar para
a criança, evitando contágios de emoções negativas e promovendo alegria, cooperação,
curiosidade etc.
Vimos que, para educar em ambientes coletivos, é necessário planejar nossas ações para
aproximar as famílias do ambiente escolar e organizar essas aproximações no cotidiano.
A tarefa de planejar é complexa, não é mesmo? Precisamos organizar ambientes, dis-
cutir coletivamente os projetos, envolver as famílias, considerar a capacidade e as ha-
bilidades de cada faixa etária, considerar as estações do ano, entre outras providências.
Depois de tudo planejado e vendo que as crianças estão brincando, comendo, pulando,
investigando, perguntando, aprendendo, cuidando, educando, ficamos muito satisfei-
tos. Isso porque, quando a gente gosta, é claro que a gente cuida!

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Vídeos
Documentário “Um, Dois, Três, Brincando”
https://youtu.be/0Oc4eFg8lHQ

 Leitura
Da Ação à Compreensão: um Passeio pela Teoria de Piaget
https://bit.ly/2z4agmp
Crianças na Educação Infantil: a Escola como lugar de Experiência Social
https://bit.ly/309jlFy
Processo de Criação das Primeiras Creches Brasileiras e seu Impacto
sobre a Educação Infantil de Zero a Três Anos
https://bit.ly/2U8Nzoq

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Referências
BASSEDAS, E. et al. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Artmed, 1999.

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