em leis, mas
proteção social a todos que dela necessitarem, sem
contribuição prévia (Mi- isoladamente não são suficientes para
estas
garantir um processo de transfor-
nistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MDS, 2004), mação social nas camadas subalternas.
marcando a ampliação dos recursos públicos na área social e os avanços na O Centro de Referência de Assistència Social é um equipamento público
politica social brasileira (Pochmann, 2007). Os segmentos de menor rendi-
estatal, que se enquadra na proteção social básica e é responsável pela execu-
mento foram os mais beneficiados. Em 2008, por
exemplo, a base da pirâmi- ção do Programa de Atendimento Integral à Famíilia (Paif). Fica localizado,
de social (os 10% mais pobres) apresentava 25% do seu rendimento decor- obrigatoriamente, em territórios onde há presença de vulnerabilidades e riscos
rente de transferências monetárias, enquanto em 1978, eram apenas 7% sociais e presta serviços continuados, enfocando a familia e os vinculos co
(Pochmann, 2010b). munitários no seu desenvolvimento, e não apenas nos momentos de maior
A Politica Nacional de Assisténcia Social, criada em 2004 e operaciona- dificuldade (MDS, 2009). O cadastro no CRAS permite acompanhar a din-
lizada através do Sistema Unico de Assistncia Social em 2005, apresenta como mica habitual dos assistidos, o que possibilita a construção de uma compreen-
projeto politico a radicalização dos modos de gestão e financiamento das são das famílias e da comunidade como um todo (Costa e Cardoso, 2010).
ofertas institucionais no campo da assistncia social, produzindo uma impor O CRAS tem por objetivo o desenvolvimento local e pretende se consti
tante ruptura histórica com os tradicionais modelos assistencialistas e a lógi- tuir como espaço de referência e "porta de entrada" para os serviços da assis-
tência social, buscando potencializar o território de modo giobal e produzir
ca de viabilizar direitos como favores (Centro de Reíerência Técnica em Psi alivio imediato da pobreza. O foco da atuação no Centro de Reíerència de
cologia e Politicas Públicas Crepop, 2008). Tal processo visa à superação
da condição de subalternidade, focando no desenvolvimento global das fami- Assistência Social é a prevenção e promoção da vida, por isso o trabalho deve
lias e das comunidades e, consequentemente, na interrupção do ciclo inter primar pelas potencialidades, valorizando os aspectos saudáveis presentes nos
geracional de pobreza (Costa e Cardoso, 2010). sujeitos, nas famílias e na comunidade (Crepop, 2008).
O SUAS estabelece ainda duas formas de proteção social, que se reportam A equipe do CRAS deve ser formada por profissionais, preferencialmen-
te do mesmo município, e deve contar com assistentes sociais, psicólogas,
às vulnerabilidades e aos riscos que os cidadãos enfrentam no contexto em
auxiliares administrativos, estagiários e coordenador. O trabalho requer a
que vivem: a Proteção Social Básica, relativa às ações de vigilância social
e
coletiva, vista
prevenção de situações de risco, por meio de aquisições e desenvolvimento capacidade de produzir escuta qualificada individual e com a
promoção
oferecidos e a da
contribuir para independência dos benefícios
a
muitos níveis, dos direitos da populaçâo assistida, o que requer uma mudan- As psicólogas devem ainda integrar as
autonomia na perspectiva da cidadania.
ça paradigmática importante (Crepop. 2008). de trabalho em igualdade de condições e
com liberdade de ação, con-
equipes
E preciso transformar nossas compreensoes sobre a pobreza e a maneira ótica de assistència, rompendo com o
tribuindo para construção de uma nova
de atuarmos sobre ela, incluindo o assistido como participante ativo dessa
paradigma da tutela, das ações dispersas e pontuais (Crepop, 2008).
construção, de objeto da politica a sujeito político. Ë preciso, portanto, reco- paradoxo, pois nele
Para Costa e Cardoso (2010), o CRAS abriga um
nhecer que essas comunidades já existiam antes da chegada dos técnicos, assistencialistas e mantenedoras do status
convivem simultaneamente práticas
assumindo uma postura atenta quanto ao que o usuário pode nos ensinar
transformadoras, cujo objetivo éa superação das desigualdades
sobre os enfrentamentos da sua condição de vida (Silva, 2010). quo e práticas
sociais. Nesse destacam a
sentido, do profissional como decisiva para o
ação
de transformação da realidade social, ainda que
processo de manutenção ou
lenta e gradualmente, pois a atitude do profissional que
realiza a intervenção,
4.2 As psicólogas no CRAS/SUAS como interpreta leis,
as normas e orientações vigentes e como articula tais
foco as necessidades, potencialidades, objetivos e experiências dos oprimidos, existência de sujeitos que a produzem coletivamente.
e compreende que intervir na capacidade de transformação do sujeito
envol-
Descrevendo o perfil das psicólogas que atuam no SUAS, Fontenele (2008)
ve a construção de novos significados, pois para romper com os processos de destaca que a maioria é jovem, com poucos anos de prática e que os serviços
exclusão é importante que o sujeito perceba-se num lugar de poder, de cons- dificuldades vivencia-
trutor do seu próprio direito e da satisfação de suas necessidades. Pressupõe- apresentam alta rotatividade de profissionais. Entre as
das nesses equipamentos públicos, Barreto (2011) situa a baixa remuneração
-seque o trabalho das psicólogas no CRAS, ao atuarem em aspectos da sub-
jetividade, contribua para o desenvolvimento de tais potencialidades. proissional e a falta ou precariedade de recursos e equipamentos operacionais
entre outros. Alerta
para o trabalho, tais como transporte, computadores,
produzir mudanças na realidade social, contudo, é necessária uma
Para ainda para importância de uma dimensão humana ao lidar com tal gama de
mudança ampla de significados no contexto social, ressignificando a com- sofrimentos e a necessidade de a formação de psicólogos e psicólogas incluir
preensão sobre os modos de produção da vulnerabilidade social (Crepop, subsidios para atuação nesses contextos.
2008). Compreender o papel do individuo aliado à influência das relações
As pessoas assistidas pelo SUAS têm histórias marcadas pela miséria
sociais, valores conhecimentos culturais sobre o desenvolvimento humano
e
social e emocional, refletidas, por vezes, em experièncias traumáticas. Barre-
pode favorecer a elaboração de uma atuação profissional que contribua para
to (2011) questiona sobre a qualidade do contato humano que o profissional
transformação das sociais. Para tanto, é indispensável refletir
desigualdades técnico-usuário: limites e
consegue estabelecer com os assistidos, na relação
sobre o cenário das politicas sociais e a relação técnico-usuário, incluindo os dos profissionais para lidar com tamanho sofrimento, além
atravessamentos que o contato com a desigualdade social extrema, materia-
recursos subjetivos
do suporte institucional para trabalhar com experiências arduamente
conso-
lizada em contextos de miséria, produzem nos proDissionais. da de refletir
lidadas na subjetividade dos usuários. Trata-se importåncia
A inclusão da psicologia no SUAS reflete o entendimento da interface
atuação das psicólogas no SUAS numa perspectiva que para
avance
sobre a
entre os fatores psicológicos e sociais nas situações de risco e vulnerabilidade. além dos estudos de sua inserção nesta política pública.
Na assisténcia social básica, e mais especificamente no CRAS, deve-se atuar
Ainda que os profissionais não estejam preparados para lidar
com o
sobre a dimensåo subjetiva que caracteriza estas situaçöes, fortalecendo vinculos é
sofrimento oriundo da miséria e da desigualdade social, justamente a esse
socioafetivos, de forma que as atividades de atendimento tenham por principio
LUANE NEVES SANTos
A PSICOLOGIA NA ASSISTÊNCIA SOCIA.
metida socialmente, pois são diversos os desafios no campo da formação e PSICÓLOGAS COM O"SOCIAL":
prática proñissional para firmar uma práxis guiada pelos direitos humanos, campos de expressão das desigualdades
autonomia dos sujeitos e justiça social. Tal procedimento requer envolvimen-
to e compromisso com o enfrentamento da miséria humana e a
transformação
da realidade social. O trabalho nas políticas públicas, e mais especificamente
no CRAS/SUAS, requer um psicólogo em movimento, inquieto, capaz de
estranhar o que se torna tão familiar que passa a ser concebido como natural. uando me refiro ao encontro das psicólogas "social>", quero des-
com o
Requer um psicólogo receptivo às inovações, que acolha o desafio coletivo de tacar que a psicologia, durante muito tempo, manteve-se distante da
produzir alternativas nos campos da produção teórica e da atuação profissio- realidade social brasileira e da ampla camada pobre da nossa sociedade. Este
nal (Bock, 1997). encontro, portanto, no está dado como algo natural. E uma construção social
e histórica, fruto de movimentos
Nessa perspectiva, o estudo da dimensão subjetiva, presente neste cam políticos no campo da ciência e profissão,
que sustentaram a importância de a psicologia se aproximar da injusta reali-
po e nestas práticas na assistência social, apresenta potências referidas aos
dade social brasileira com vista a transformá-la. E na recente
individuose às coletividades. Fala-se, para além do que já se sabe e conhece ampliação do
sobre as ações profissionais nas politicas do SUAS, de uma dimensão que campo de trabalho de psicólogos e psicólogas e sua inserção nas políticas
públicas, principalmente nas políticas sociais, que seremos convidados a tra-
representa a presença do sujeito e da coletividade na construção e caracteri
balhar pela superação das desigualdades sociais e pobreza no país, se confron-
zação deste campo de trabalho. A subjetividade social atravessa de modo
tando com fenômenos e necessidades anteriormente ignorados.
constante a individualidade, motivo pelo qual se observa que a subjetividade
individual é capaz de produzir novos sentidos subjetivos de acordo também Multiplicam-se as difculdades no campo da assistência nas políticas
com o espaço social em
sociais, a partir de concepções teóricas e técnicas dicotòmicas, nas quais in-
que a ação do sujeito se desdobra (González Rey,
2005c). Nessa dinámica de entrelaçamento da subjetividade social às subjeti- dividuo e sociedade são vistos como elementos isolados e sem interconexão.
vidades individuais coloca-se, então, a questäo: quem é a psicóloga que vai Mais especificamente sobre o CRAS, Rozzotti (2010) alerta que a qualidade
trabalhar nas políticas sociais com as populações subalternas? do trabalho depende essencialmente do objetivo e da compreensão que temos,
como técnicos, do que é vulnerávele o que faz a vulnerabilidade neste país,