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Índice

1. Introdução 03
1.1. Sobre o Comitê 03
1.2. Apresentação dos diretores 04
2. O ECOSOC 05
3.Radioatividade e energia 05
3.1. O uso da radioatividade 06
3.2. O uso da energia nuclear 06
3.3. Outros tipos de energia 08
3.3.1. Combustíveis fósseis 08
3.3.2. Energias renováveis 08
3.4. Os impactos da radioatividade 10
3.4.1. Os impactos da radiação em humanos 10
3.5. Impactos da energia nuclear 11
3.6. Ações internacionais a respeito do uso de energia nuclear 12
4. Contexto histórico – A Guerra Fria (1947-1991) 13
4.1. O bloco Capitalista durante a Guerra Fria 16
4.1.1. Os Estados Unidos durante os Governos Truman e Eisenhower 17
4.1.2. John F. Kennedy e Lyndon Johnson 17
4.1.3. Guerra do Vietnã (1959-1975) 18
4.1.4. Anos 70 - Instabilidade e a Crise do petróleo 19
4.1.5. Ronald Reagan 21
4.2. O bloco Socialista durante a Guerra Fria 22
4.2.1. A Revolução de Outubro e a futura URSS 23
4.2.2. Desestalinização 24
4.2.3. Crise Soviética 25
4.2.4. A Primavera de Praga 26
4.2.5. Atuação da URSS em relação ao desastre de Chernobyl 26
5. Acidentes anteriores ao de Chernobyl 27
5.1. O acidente de Chalk River (Canadá, 1952) 27
5.2. O incêndio de Windscale (Inglaterra, 1957) 28
5.3. O desastre de Kyshtym (URSS, 1957) 29
5.4. O acidente de SL-1 (EUA, 1961) 31
5.5. O acidente em Three Mile Island (EUA, 1979) 32
6. O Acidente de Chernobyl 34
6.1. As causas do Acidente 36
6.2. Cronologia do Acidente 36
6.2.1. Antes da explosão do Reator 4 37
6.2.2. Depois da explosão do Reator 4 40
7. Impactos do Acidente 40
7.1. Impactos sociopolíticos 41
7.2. Impactos econômicos 41
7.3. Impactos ambientais 42
7.4. Impactos biológicos 43
8. Dossiês 45

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1. Introdução
“Não havia nenhuma maneira que poderiam ter sabido naquela manhã Que
eles acordaram num dia fatídico
O vento assassino desceu sem um aviso
E ninguém teve a chance de fugir
Os bombeiros foram corajosos, lutavam com honra
Mas o fogo era mais do que parecia ser
E, um por um, eles caíram ao lado de seus companheiros
As vítimas de um inimigo que não se podia ver
Mamãe, onde você está - Papai, onde você foi
E onde estão todas as crianças que costumavam jogar aqui
Só Deus sabe
O que eles viram desafiou todas as explicações
Alguém disse que as árvores estavam vermelhas
Eles disseram que a luz veio da radiação
Mas talvez sejam os espíritos dos mortos
Se foram as casas, os jardins e os parques infantis
Se foram as almas que fizeram suas vidas aqui
Eles dizem que este lugar será sempre uma cidade fantasma Será
por pelo menos 600 anos”

- Tradução da canção Ghost Town, de Huns & Dr. Beeker

1.1. Sobre o comitê


Dia 26 de abril de 1986, um dia que jamais será esquecido por milhões de ucranianos.
Vários inocentes, vítimas de um acidente fatal do qual não tinham controle. Tiveram que
sair de suas casas, abrir mão de sua rotina, ver entes queridos morrendo, conviver com
doenças crônicas e terem sua produção econômica abalada. Uma fatalidade que
demonstra o risco da energia nuclear e o perigo que os humanos podem causar ao
quererem manipular a natureza para seus interesses.
É no contexto dessa tragédia que o mundo aprofunda sua discussão sobre o uso da
energia nuclear, e, até mesmo, sobre a existência das perigosas bombas nucleares, em um
contexto em que eram usadas para expor superioridade das duas potências participantes
da Guerra Fria. Discutem se seria viável manter a expansão de um tipo de energia que,
apesar de eficiente, acessível e menos poluente que o uso dos combustíveis fósseis, pode
causar tamanha tragédia, resultante de apenas um erro de planejamento e execução. Pois,
infelizmente, Chernobyl não foi a primeira, e certamente não será a última catástrofe
nuclear. Discutem também se seria viável o mundo expandir tanto a sua pesquisa nuclear
e usá-la para construir destruidoras armas nucleares, que, em um piscar de olhos, podem
causar mais destruição do que todas as guerras juntas.
As grandes potências sempre dirão que a ocorrência de tais acidentes não justifica o
mundo abrir mão de uma energia tão poderosa, que gerou tantos empregos, lucro e
desenvolvimento tecnológico. Dirão que a existência de armas de destruição em massa
pode ser uma forma de mostrar avanço tecnológico, garantir autodefesa (ou seria
planejamento de um futuro ataque?) e tornar o mundo um lugar sem guerras diretas, um
tipo de “paz armada”. Até que ponto isso seria verdade, principalmente se tratando de

3
uma época em que o homem acreditava poder dominar a natureza e não tinha a menor
consciência sobre a importância do meio ambiente, do qual o próprio ser humano é parte,
e que era capaz de ir às últimas consequências em nome do poder?
É nesse contexto, em pleno final da Guerra Fria, quando a União Soviética atravessava
uma profunda crise político-econômica, quando o mundo capitalista colhia os efeitos de
duas desastrosas crises do petróleo e a Ucrânia mostrava uma situação de impactos
humanos, ambientais e sociais de urgência, que os senhores delegados se reunirão para
discutir essa importante temática. Um comitê em que os senhores decidirão os rumos da
humanidade, que terão o poder de lutar por um planeta com mais paz e harmonia, ou
aproximá-lo de uma inevitável futura catástrofe. A decisão está em suas mãos, o mundo
inteiro espera atentamente pelo que os senhores decidirão nessa reunião

1.2. Apresentação dos diretores

Julia Diniz
Oioi, delegados e delegadas, sejam muito bem vindos ao comitê! Sou a Júlia Diniz, tenho
17 anos e estou no 3º ano do ensino médio. Essa é a segunda vez que eu participo de uma
simulação e a primeira como diretora. Meu outro contato foi como delegada, na 9ONU de
2018 e eu devo muito a esse projeto pela oportunidade de ter contato com o ambiente
enriquecedor e único que é o mundo da simulação.
Estou muito animada para ser diretora e podem ter certeza que vou fazer de tudo para que
a experiência de vocês seja inesquecível!

Gabriela Salles
Olá senhoras e senhores delegados! Meu nome é Gabriela, mas podem me chamar de
Gabi, tenho 15 anos e estou no 1° ano do ensino médio. Esse ano participei da minha
primeira simulação, nesse mesmo comitê e me senti muito honrada de participar mais
uma vez, agora como diretora. Por isso tenho bem menos experiência do que os demais
diretores, mas espero aprender muito com eles e com vocês também! Me apaixonei pelo
projeto e acredito que aprendi muito com toda a preparação e a simulação. A 9ONU é
uma enorme oportunidade de aprendizado de várias áreas como por exemplo a oratória.
Espero que possamos aprender muito e ter uma simulação divertida e proveitosa.
Agradeço pela oportunidade e boa sorte a todos!

Jose Henrique
Olá senhores delegados! Sejam muito bem-vindos ao comitê de Chernobyl na 9ª ONU de
2021. O meu nome é José Henrique, eu tenho 16 anos (mas já terei 17 na simulação), estou
no 2º ano do Ensino Médio e eu serei um dos diretores que acompanhará vocês durante
nossos dois dias de simulação. Em 2019 eu fiz parte desse mesmo comitê como Alemanha
Oriental e a experiência foi um divisor de águas para mim, já que me encontrei no mundo
das MUNs e continuei participando de outras simulações de todo o Brasil. Chernobyl
ultrapassa os quesitos ambientais e econômicos, atingindo questões políticas, militares e
sociais delineadas nos moldes da Guerra Fria, o que demonstra a importância de
discutirmos e debatermos sobre o tema. Essa será a minha primeira simulação como
diretor, estou ansioso para conhecer todos vocês e moderar o debate. Por fim eu agradeço
a confiança dos senhores delegados ao escolherem participar de Chernobyl e espero que
também tenham uma ótima experiência.

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Natalia Maria
.Olá Delegados! É com muita satisfação que eu os dou boas-vindas a este comitê. Sou
Natália Maria Carvalho Ribeiro, tenho 16 anos e curso o 2° ano do Ensino Médio aqui no
Santo Antônio. Sendo minha segunda vez como diretora, fico muito honrada de ser
chamada para compor a mesa este ano. Em minha primeira experiência de simulação, eu
me apaixonei completamente com o modelo de debate e vi o quanto cresci como pessoa
enquanto simulava. Não só trabalha suas habilidades de retórica e argumentação, mas
também te faz sentir como parte de algo especial, uma família, que está ali
compartilhando experiências, alegrias e medos com você. Assim, espero que possamos
vivenciar isto juntos nessa simulação, e seja tão bom e proveitoso quanto foi pra mim.
Obrigada pela oportunidade!

Arthur Buzelin
Ei gente, eu sou o Arthur Buzelin do 3A. Eu tenho 17 anos, quero cursar ciencia da
computação e minha cor favorita é roxo, acho que foi suficiente. Essa é minha segunda
vez sendo diretor de chernobyl e eu espero que vocês possam aproveitar muito o comitê,
é uma experiencia incrivel e eu tenho certeza que vocês irão amar <3.

Arthur Pedro
Ei pessoal, aqui é o Arthur Pedro! Tenho 15 anos, estou cursando o 1° ano do ensino
médio e pretendo estudar jornalismo. Essa 9ONU será minha terceira simulação, porém
a primeira como diretor. Sendo diretor de primeira viagem, estou muito feliz de ter sido
chamado para compor a mesa desse ano, e espero poder ajudar e aprender com vocês
nessa experiência incrível, para que seja tão boa quanto foi a minha! Boa sorte para todos
e aproveitem :)

•••
2. O. ECOSOC
O ECOSOC, Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, criado em 1946,
é um dos 6 principais órgãos da ONU e examina questões globais que não se enquadrem
na segurança internacional. Além de ser responsável por coordenar o trabalho econômico
e social da Organização e também os órgãos especializados da ONU, desenvolve
pesquisas e relatórios que englobam essas esferas, analisando as questões sobre a ótica de
um desenvolvimento sustentável (ou sustentado). É conhecido por prezar a cooperação e
a diplomacia, focando na multilateralidade nas interações entre os países-membros,
promover o respeito aos direitos humanos e coordenar ações humanitárias. Por ser
recomendatório, cabe a ele fazer recomendações à Assembleia Geral e às agências
especializadas e preparar minutas para discussão nestas Casas. Apesar de seu caráter
recomendatório, por ser um dos órgãos principais, é de competência do ECOSOC
delimitar sua própria decisão sobre um tema a menos que a Assembleia Geral já tenha
deliberado sobre a matéria previamente.

3. Radioatividade e energia
O acidente de Chernobyl foi resultado de um mal funcionamento da usina nuclear de
Chernobyl, unidade de produção de energia da região. Assim como qualquer forma de

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produção elétrica, a energia nuclear possui vantagens e desvantagens para o meio
ambiente para as comunidades ao seu redor. Nessa parte do guia iremos tratar sobre estas
vantagens e desvantagens de diversas formas de produção de energia, incluindo a nuclear.

3.1. O uso da radioatividade


Antes de tratar da energia nuclear devemos abordar qual a fonte de onde vem essa
energia, o principio físico da radioatividade. Este é o processo em que um átomo, seja por
uma tendência natural ou uma induzida em laboratório, tem seu núcleo modificado,
liberando energia e radiação.
Muito além do uso na energia nuclear, a radioatividade possui diversas outras
aplicações, como a médica, científica e militar.
Dentro da medicina, a radioatividade pode ser usada na execução de exames, como os
raios-X, e tratamentos, como a radioterapia, contribuindo para a melhora da condição de
vida de diversas pessoas e permitindo o tratamento e cura de ferimentos e doenças, como
ossos quebrados e até tumores cancerígenos.
Os usos militares da radiação são conhecidos pela maioria das pessoas, devido à
importância histórica das armas de destruição em massa, com destaque para as bombas
atômicas. Muito além de bombas, a radiação possui outras aplicações militares, como nos
submarinos nucleares, onde está é usada como fonte de energia, permitindo-os
alcançarem maiores distancias enquanto submersos, operarem por mais tempo e sem
necessidade de parar.
Dentro da ciência a radiação possui usos mais específicos, sendo usada em diversos
experimentos e ferramentas úteis para a realização de inovações. Uma dessas ferramentas
que exemplifica bem como a radiação pode ser usada pela ciência é o processo de datação
por carbono, utilizada pela arqueologia.
Portanto podemos ver como a radioatividade possui grande utilidade para o mundo e
como possui diversas aplicações.

3.2. O uso da energia nuclear


Uma vez que já abordamos outras vantagens da radiação devemos tratar de um dos
focos deste comitê, a energia nuclear.
A energia nuclear é conhecida e utilizada desde 1942 quando o primeiro reator nuclear
do mundo foi testado e funcionou durante 28 minutos na cidade de Chicago nos Estados
Unidos. Este reator, conhecido como Chicago Pile-1, no entanto, possuía apenas
propósitos experimentais e consistia de um equipamento de alto risco, uma vez que não
possuía equipamentos de segurança essenciais a usinas atômicas. Com este sucesso a
pesquisa sobre energia nuclear seguiu em frente, porém, devido ao contexto político
causado pela 2ª Guerra Mundial, esta se voltou para o uso militar, como no Projeto
Manhattan, responsável pela criação da 1ª bomba atômica. Com isso o uso da energia
nuclear permaneceu restrito a setores governamentais até que, em 1954, mais de 10 anos
depois, foi inaugurado e posto em funcionamento o 1º reator nuclear com propósitos civis,
na cidade de Obninsk, próxima a Moscou. Com o tempo a relevância dessa forma de
produção de energia tem crescido, estando muitos países interessados em seu potencial.
As usinas nucleares atuam por meio do processo de reação em cadeia para produzir
energia. Esta reação consiste na fissão consecutiva de átomos, processo que se passa na
região do combustível nuclear do reator.
Basicamente o processo de fissão nuclear consiste da reação de certos átomos ao serem
atingidos por um nêutron, átomos muito pesados que, com a adição deste nêutron a seu
núcleo, se tornam instáveis, e acabam tendo seu núcleo repartido, dando origem a outros

6
átomos menores e mais estáveis, conhecidos como produtos de fissão, e liberando energia
cinética1, raios gamas 2, além de outros nêutrons livres.
Com esta liberação de nêutrons livres a reação em cadeia pode ocorrer, uma vez que
estes nêutrons podem induzir a fissão nuclear de outros átomos e assim em diante,
liberando cada vez mais energia cinética, convertida posteriormente em energia térmica 34.
No entanto, em uma usina nuclear se deseja que a reação de fissão seja controlada, para
que não haja riscos de explosões ou derretimentos (devido ao calor que a reação libera) e,
por isso, se utilizam os materiais de controle. Estes consistem em materiais que interferem
no processo da reação em cadeia ao absorverem parte dos nêutrons liberados, impedindo
que estes de induzir a fissão de outros átomos. Estes materiais podem estar presentes na
forma de barras de controle que são inseridas ou removidas da região onde ocorre a reação,
controlando assim o número de nêutrons utilizáveis, além de poderem estar presentes em
outros componentes do reator, como o agente refrigerante, cuja função primaria é captar
a energia térmica produzida pela reação para que esta possa ser utilizada.
Uma vez que o reator está atuando

1 Se trata da energia envolvida no movimento de um corpo


2 Tipo de radiação extremamente energética e muito perigosa aos seres vivos devido a sua ação
mutagênica
3 Energia presente na mudança de temperatura de um corpo

4 Equipamento que converte energia cinética de sua rotação em eletricidade

7
adequadamente ele pode ser utilizado na produção de
eletricidade. O calor captado pelo agente refrigerante,
então, é utilizado para ferver água de forma a produzir
vapor, que atua movendo uma turbina 4, que, por sua
vez, gera eletricidade que pode ser empregada para
diversos fins.

A energia nuclear
possui diversas
vantagens enquanto
fonte de energia,
uma vez que se
trata de uma
energia altamente
concentrada, ou
seja, de alta
produtividade, e de
alto rendimento,
além de possuir
reservas de combustível muito maiores do que as reservas de combustível fóssil e não
necessitar de condições ambientais especificas para ser produzida, o que a torna muito
valorizada em países como o Japão, que possui poucos recursos. Somado a estas
vantagens, a energia nuclear também não contribui para o efeito estufa, e abre a
possibilidade de maior independência energética para os países importadores de petróleo
e gás natural.

8
3.3. Outros tipos de energia
É importante, também, que tratemos de outras formas de energia, uma vez que estas
compõe um dos aspectos importantes da discussão, a necessidade de energia.

3.3.1. Combustíveis fósseis


Os combustíveis fósseis são, desde a revolução industrial, uma das principais fontes de
energia utilizadas pelo mundo, por isso possuem grande importância econômica. Este
tipo de combustível existe em diversas formas, como o carvão mineral, o petróleo e o
gás natural, sendo todos estes originados da decomposição de seres vivos soterrados. Os
combustíveis fósseis são compostos por
moléculas ricas em carbono, elemento que se
envolve no processo de combustão 5,
liberando energia na forma de luz e calor, e
por isso ao serem queimadas permitem a
obtenção de uma quantidade razoável de
energia, por isso são utilizadas desde a pré-
história. Dentre estes combustíveis o
petróleo ganhou grande destaque a partir
do século XX, sendo empregado em larga
escala pela indústria,
devido as inovações tecnológicas e a demanda por combustíveis em larga escala. Durante
o período tratado no comitê, questões relacionadas ao aquecimento global ainda não se
tratavam de um problema para a comunidade internacional, portanto as desvantagens
mais comuns associadas aos combustíveis fósseis eram os riscos no processo de extração
dos produtos e no transporte deste, além dos custos de extração e a insegurança quanto à
disponibilidade destes, questão levantada após as crises do petróleo. Outro problema é a
baixa produtividade energética quando comparado a outras formas de produção
energética, como a nuclear, em que, para se produzir iguais quantidades de energia, tem
de se usar uma massa muito maior de combustíveis fosseis do que de material radioativo.
Apesar destes problemas, o uso de combustíveis fósseis traz certas vantagens, como a
obtenção de diversos subprodutos utilizáveis, a facilidade de transporte e a eficiência das
tecnologias existentes no aproveitamento desta energia.

3.3.2. Energias Renováveis


As energias renováveis consistem de processos que permitem a obtenção de
energia com base em recursos renováveis, como a energia hidrelétrica, a eólica e a solar.

5 Processo de queima

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A energia hidrelétrica consiste no processo
de obtenção de energia com base nos recursos
hídricos da região. Este processo se dá,
geralmente, por meio da construção de uma
barragem, que permite se controlar o fluxo de
água que passa por determinada região. Esta água
retida, então, é liberada de forma controlada e
usada para rodar uma turbina, que produz energia
elétrica que é distribuída posteriormente. A água
empregada, posteriormente, é reencaminhada
para seu curso natural, permitindo a continuidade do ciclo da água e a renovação dos
recursos utilizados.

A energia eólica, por sua vez, produz eletricidade


com base na força do vento. Neste processo são erguidas
diversas turbinas com hélices de dezenas de metros de
extensão, de forma que, com o vento, estas girem e
movimentem a turbina, que produz eletricidade.
Já a energia solar faz uso da própria luz do sol
para gerar energia. Existem duas formas de captação da
energia solar, a fotovoltaica e a heliotérmica.
A energia solar fotovoltaica consiste de um
processo que transforma a energia solar diretamente
em
energia elétrica ao usar placas fotovoltaicas, grandes
placas feitas de materiais semicondutores 6 que, ao
serem expostos a luz solar, absorvem energia. Está é
absorvida na forma de fótons pelos elétrons do material
que, então, alcançam um estado de excitação ao ponto de
se tornarem elétrons livres 7 . Estes são encaminhados
para fora da placa, onde sua energia pode ser utilizada na
forma de eletricidade.

Já no sistema heliotérmico se usa um sistema de


espelhos para refletir a luz do sol de forma que esta
esquente uma substância conhecida como fluido
térmico. O calor deste fluido térmico é usado, então, para
aquecer uma fonte de água que se transforma em vapor
e gira uma turbina, produzindo assim a energia elétrica.
Todos estes processos possuem a grande vantagem de
não dependerem de algum tipo de combustível finito como a energia nuclear e os
combustíveis fosseis, sendo então adequadas para o uso
em longo prazo e livres da questão dos preços dos recursos uma vez que estiverem em
operação, além de apresentarem pouco ou nenhum impacto ao meio ambiente.

6 Materiais que possuem pouca tendência de conduzir eletricidade, o suficiente para não se tratarem de
materiais isolantes (material que não conduz eletricidade) porém não tanta a ponto de ser considerado
um condutor
7 Elétrons não ligados a algum núcleo atômico

10
No entanto, estas formas de produção de energia dependem muito das condições
naturais de cada região, não sendo possíveis de empregar em qualquer local. Além disso,
todas necessitam de grande investimento financeiro para o desenvolvimento tecnológico
necessário e demandam uma grande área territorial, seja para zonas de alagamento, no
caso da hidrelétrica, seja para a produção de quantidades rentáveis de energia, como no
caso da solar e da eólica que dependem da criação de grandes parques de produção de
energia

3.4. Os impactos da radioatividade

Ao ser introduzido a meios como ar ou água, os radionuclídeos são diluídos e se


dispersam. Isso faz com que a radiação se espalhe fácil e rapidamente tornando possível
observar a presença desse elemento por quase todos os compartimentos do ambiente. Essa
radiação, quando em grande concentração, causa sérios danos ao ecossistema. A partir do
momento que a radiação atinge o solo, a agua ou o ar, é iniciada uma cadeia de
contaminação que causa efeitos de longa duração, afetando toda a vida a seu alcance, com
destaque para os efeitos prejudiciais à fauna e flora local.
Além disso, quando o meio ambiente é contaminado, os índices de radioatividade
permanecem altos naquele local por um período extenso de tempo. O solo contaminado
não se torna, geralmente, infértil mas futuras plantações no local estarão,
consequentemente, contaminadas.

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3.4.1. Os impactos da radiação em humanos
O contato humano com a radiação em excesso e sem o uso de equipamentos de proteção
é prejudicial à saúde, podendo levar a diversas enfermidades. Isso pode ser visto, por
exemplo, ao se analisar casos de cientistas que trabalhavam com radiação 8: Wilhelm
Roentgen, descobridor dos raios-X, morreu de câncer no intestino em 1923 e Marie Curie,
cientista pioneira no ramo da radioatividade, morreu de leucemia em 1934.
A radiação pode causar danos em nível celular, gerando sua morte ou a modificação do
material genético, e, dependendo do número de células afetadas, causar a morte de um
órgão. A modificação intensa do DNA leva, muitas vezes ao câncer. Além disso, se as
células afetadas pela radiação forem aquelas que passam a informação para os
descendentes (esperma ou óvulo), desordens genéticas podem surgir, assim afetando
diversas gerações.
Os efeitos decorrentes da radiação podem ser imediatos ou tardios, dependendo da dose
de radiação à qual a pessoa é exposta. Doses muito pequenas de radiação podem não ter
significância, como por exemplo um exame de raio X.

3.5. Impactos da energia nuclear


A energia nuclear oferece uma fonte eficaz e menos nociva ao meio ambiente, isto
é, quando usada com cuidado. Ela é considerada uma energia limpa, pois não há a emissão

8Isso é observável, principalmente, com pioneiros no ramo da radiação. Como os efeitos prejudiciais
dessa à saúde humana ainda não eram completamente conhecidos, muitas vezes não se usavam os
equipamentos de proteção adequados.

12
de carbono. Quanto a emissões totais de gases do efeito estufa por unidade de energia
gerada, tem valores de emissão comparáveis ou menores do que a energia renovável.
Apesar de não ser renovável, essa fonte produz muita energia com pouca matéria,
ou seja, ela é de alto rendimento. Além disso, a usina nuclear apresenta baixo impacto
ambiental durante sua instalação e seu funcionamento é independe do clima, sendo
favorável à sua eficiência.
Embora esse tipo de energia seja constantemente associado a acidentes nucleares,
a usina, na verdade, diminui a chance de acidentes. Porém, quando acontecem, os
acidentes podem ser catastróficos, gerando diversos prejuízos econômicos e ambientais.
Para manter uma usina nuclear funcionando, é preciso arcar com altos custos de
construção e manutenção, visto que a energia vem da fissão de um material extremamente
perigoso, que geralmente é o urânio. Usinas nucleares normalmente têm altos custos de
capital para a construção da usina, mas baixos custos de combustível. Assim, é exigido
que o país que for construi-la tenha acesso a extensos fundos, pelo menos durante sua
construção.
A produção de energia nuclear gera resíduos radioativos, que podem ser
extremamente prejudiciais à saúde. Esse resíduo radioativo pode ser dividido em alto nível
e baixo nível:

• O resíduo radioativo de alto nível diz respeito ao descarte de materiais altamente


radioativos criados durante a produção de
energia nuclear. Eles requerem
gerenciamento sofisticado para que sejam
isolados com sucesso da biosfera,
considerando também o longo tempo de
existência dos radionuclídeos. Isso
geralmente requer tratamento, seguido
por uma estratégia de gestão de longo
prazo envolvendo armazenamento
permanente, descarte ou
transformação dos resíduos em uma
forma não-tóxica.
Depósito de lixo radioativo na URSS

• O resíduo radioativo de baixo nível pode ser considerado objetos contaminados,


como roupas, capacetes, luvas, ferramentas e os materiais de construção da usina. Estes
materiais podem ser reutilizados no futuro por perderem a radioatividade.

O descarte do resíduo radioativo de alto nível é, portanto, o mais complicado e oneroso


de ser feito adequadamente e, por isso, gera maiores preocupações por parte da
comunidade internacional. Antes de ser descartado, este tipo de resíduo, deve ser
armazenado em instalações específicas, como reservatórios de resfriamento, por décadas.
Neste período, a temperatura e a radioatividade dos resíduos decaem, facilitando seu
posterior descarte. Não é sustentável, no entanto, que sejam construídas estações de
armazenamento sem planos específicos já elaborados para o subsequente descarte, mesmo
que isso possa ser adotado em momentos críticos. O adequado descarte destes resíduos
pode ser feito de diversas maneiras, sendo as mais aceitas: o descarte em altas
profundidades no solo, em formações geológicas no fundo do oceano, no solo oceânico
em si ou em áreas glaciais.

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3.6. Ações internacionais a respeito do uso de energia nuclear
Em 1953, em um a Assembleia Geral da ONU, o Presidente Dwight D. Eisenhower,
dos Estados Unidos, propôs a criação de um órgão para regular incentivar e auxiliar a
pesquisa, o desenvolvimento e a aplicação prática da energia atômica para usos pacíficos
em todo o mundo.
Em 1954, os Estados Unidos propuseram à Assembleia Geral a criação de uma
agência internacional para assumir o controle de material físsil, que poderia ser usado
tanto para energia nuclear quanto para armas nucleares. Esta agência estabeleceria uma
espécie de "banco nuclear". A URSS deixou claro que rejeitaria qualquer custodia
internacional de matéria físsil a não ser que os Estados Unidos concordassem a um
desarmamento. Apesar disso, a União Soviética estava aberta à criação de uma câmara de
compensação para transações nucleares.
Em 1955, as Nações Unidas realizaram a primeira Conferência Internacional sobre
os Usos Pacíficos da Energia Atômica, em Genebra, na Suíça. Em julho do mesmo ano, o
Conselho da Organização para a Cooperação Econômica Europeia estabeleceu o Comitê
Diretor para Energia Nuclear e encarregou-o da criação da Agência Europeia de Energia
Nuclear. A Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM) foi fundada pelo
Tratado de Roma em 25 de Março de 1957 e entrou em funcionamento em 1 de Janeiro
de 1958.
A EURATOM, por ser uma organização supranacional, tem determinados poderes
legislativos. O tratado também prevê uma agência central de abastecimento, criando assim
o monopólio de todo o material físsil produzido ou importado para a Comunidade. O
tratado também prevê uma agência central de abastecimento, criando assim o monopólio
de todo o material físsil produzido ou importado para a Comunidade. A EURATOM é
proprietária dessas matérias, associando sua função a esse fato. O Tratado de Roma previa
ainda a criação das denominadas "empresas comuns", que têm certas obrigações para com
a Comunidade, mas também tem certos privilégios, entre os quais os privilégios fiscais de
que não podiam beneficiar ao abrigo da legislação nacional. Uma atividade específica da
Comunidade é o intercâmbio de informações, incluindo até patentes secretas. Um
dispositivo legal para cooperação técnica dentro da Comunidade que eu acho de especial
interesse é o chamado "Contrato de Associação".
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), fundada em 1957, foi
concebida como um meio de garantir o fornecimento adequado e igual de material nuclear
aos Estados Membros e como um instrumento para salvaguardar os usos pacíficos da
energia nuclear. O primeiro propósito perdeu importância quando as fontes de urânio se
mostraram abundantes. Não obstante, promovendo projetos de assistência e
desenvolvendo normas para as normas de saúde e segurança, a Agência contribuiu para o
desenvolvimento da energia nuclear nos seus Estados-Membros e para o desenvolvimento
da legislação nuclear.

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4. Contexto histórico – A Guerra Fria (1947-1991)


Após a Segunda Guerra Mundial, em que os países capitalistas (Estados Unidos e
Europa Ocidental) e a União Soviética estiveram aliados em nome do combate às
ideologias nazifascistas propagadas pelos países do eixo, há início de uma nova era na
geopolítica mundial, a Guerra Fria, marcada pela bipolarização global, visto que o mundo

14
esteve dividido sob o comando de duas grandes potências, os Estados Unidos e a URSS,
enquanto os outros países viram-se obrigados a aliar-se a um dos dois lados.
A disputa entre as duas potências não constituiu um conflito bélico direto, no
entanto, houve uma série de conflitos armados em países da África, Ásia e América,
consequentes de tal bipolaridade. Tanto os EUA quanto a URSS tentaram afirmar-se
como potências através da expansão de sua influência política e de diversas disputas,
como a corrida armamentista, corrida espacial e corrida nuclear, as quais serão detalhadas
posteriormente. Enquanto a URSS demonstrou como objetivo o expansionismo territorial,
sob a justificativa revolucionária e anti-imperialista, os EUA desejavam aumentar sua
influência política e conter tanto a União Soviética quanto a ideologia comunista. Foi
devido à existência desses dois pontos a serem combatidos que o Estado norte-americano
se viu diversas vezes em contradição, como se pôde ver na Iugoslávia, Vietnã e Caribe.
A Iugoslávia9 de Josip Broz Tito era um Estado socialista, no entanto, rompeu com o
governo soviético por não desejarem subordinar-se ao stalinismo, dessa maneira, obteve
apoio norte-americano. No Vietnã e Caribe, houve a instalação de governos socialistas
apoiados pelos soviéticos, entretanto, é contestável se deter a influência soviética nessas
áreas era realmente necessário para os objetivos norte- americanos.
Os estudos acadêmicos sobre o que originou a divisão mundial durante a pós
Segunda Guerra não chegam a consenso, havendo, na época, duas diferentes correntes
que tentam explicar tal evolução, sendo elas:

• Tradicionalistas: A corrente tradicionalista foi amplamente usada por políticos e


estudiosos americanos para justificar as ações militares dos EUA, tendo em vista que,
segundo ela, o expansionismo belicista soviético gerou o conflito, enquanto os EUA
adotaram uma postura defensiva. Utilizam-se, para tal, do Bloqueio soviético em Berlim,
o golpe do partido comunista na Tchecoslováquia e o avanço das tropas do norte da
Península da Coréia sobre a região sul como fatos que exemplifiquem essa visão.

• Revisionistas: Contrariando a visão tradicionalista propagada no mundo ocidental,


alega que os Estados Unidos são de fato responsáveis pela Guerra Fria, baseando-se, para
isso, no que foi dito segundo a Doutrina Truman. Essa doutrina baseia-se no discurso do
presidente norte-americano, o qual alegava que o mundo estaria dividido entre governos
democráticos e regimes totalitários comunistas, dessa maneira, na suposta tentativa de
estabelecer a paz e os direitos universais, o ocidente deveria investir no combate ao
regime soviético e a sua expansão. Expressões claras de seu discurso foram: o Plano
Marshall, a criação da OTAN e o apoio financeiro e logístico à Grécia e Turquia, os quais
serão detalhados posteriormente. Os revisionistas afirmam ainda que Stalin apresentou
uma política externa moderada, permitindo, inicialmente, a existência de governos
capitalistas na Hungria e Tchecoslováquia, além de apresentarem os Estados Unidos
como verdadeiros impedidores da paz mundial, haja vista o desenvolvimento nuclear
norteamericano e o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, que demonstraram o poderio
nuclear dos EUA.
Em 1945, a Conferência de Yalta, que foi o segundo de 3 encontros (além de Teerã
e Potsdam), onde os representantes do EUA e da URSS se encontraram em segredo para
repartir as zonas de influência entre oriente e o ocidente, isto é quem seguiria um regime

9País socialista no sudeste da Europa formado pelas atuais Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia, Macedônia
e Montenegro. Extinta após a Guerra Fria.

15
marxista e quem seguiria um regime capitalista . Esta demonstra um sentimento em
comum entre as duas potências de que havia uma necessidade mútua de união para a paz,
fato que levou o presidente americano Franklin Delano Roosevelt a reconhecer e permitir
a consolidação soviética no Leste Europeu, onde o Exército vermelho e os partidos
comunistas constituíram a maior resistência à ocupação nazista. A URSS consentiu em
entrar na Guerra da Manchúria, como forma de auxiliar os EUA a conter o expansionismo
japonês no Pacífico.
Cinco meses depois, a Conferência de Potsdam, que foi o encontro dos líderes
dos países vitoriosos da segunda guerra mundial para decidir como seria administrada a
Alemanha, e decidir outros assuntos
de pós-guerra. Marcou um
enrijecimento da Inglaterra e EUA
(agora sob comando de Truman) no
que tange à relação com os
soviéticos. Os Estados Unidos, após
anunciarem o sucesso no
desenvolvimento da bomba
nuclear, sentiram-se
confiantes para imporem- se sobre a
URSS, e, dessa maneira, exigiram a
realização de eleições livres no leste
europeu. Como forma de evitar o
desequilíbrio da balança de poder,
dividiram a Alemanha e a capital
Berlim em 4 zonas de influência, entre EUA, França, Reino Unido e URSS, além de um
ressarcimento financeiro da Alemanha para os vencedores.
As tensões se intensificaram após a Conferência de Potsdam, quando Stalin
recusou-se a realizar eleições livres na Polônia e os EUA recusaram-se a fornecer
mantimentos e empréstimos aos soviéticos.
A Guerra Fria teve seu início de facto após a Doutrina Truman. O Plano
Marshall, expressão de tal discurso, consistiu em uma ajuda financeira aos países
europeus após a Segunda Guerra, para que estes pudessem se reconstruir, mas o real
objetivo do EUA era: primeiramente impedir o avanço do comunismo, remover
barreiras comerciais e modernizar a indústria, além de com este “empréstimo” ele
lucrar muito devido a dívida gerada. A URSS viu tal financiamento como forma de os
EUA consolidarem seu domínio sobre o continente, e, junto aos países do bloco
socialista, boicotou tal ajuda. Para administrar o Plano Marshall, surgem Organização
Europeia de Cooperação Econômica e o Benelux, que, em conjunto com a CECA 9,
forma, em 1957, a Comunidade Econômica Europeia, embrião da atual União Europeia.
Militarmente, a disputa se acirrou com a criação da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), em 1949, aliança militar de autodefesa do bloco capitalista
que consiste em um sistema de defesa coletivo em que os membros concordam em
defender uns aos outros em caso de um ataque de qualquer entidade externa,
respondida pela URSS com o Pacto de Varsóvia (1955).

16
O mundo dividido pela Guerra Fria. Em azul
escuro, os países membros da OTAN. Em azul claro,
outros países do bloco capitalista. Em vinho, países
membros do Pacto de Varsóvia. Em vermelho,
países socialistas alinhados com a URSS. Em rosa,
países socialistas não alinhados com a Urss ou
países alinhados com a URSS, mas não socialistas.
Em cinza, países neutros.

4.1. O bloco Capitalista


durante a Guerra Fria

Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos, a Europa Ocidental e seus aliados adotaram um
modelo de produção econômica baseado no capitalismo. No entanto, desde a crise de
1929, na qual as ideias do liberalismo clássico foram enfraquecidas, o capitalismo
praticado foi baseado nas ideias do economista inglês John Maynard Keynes, que previa
uma maior participação do Estado na economia para garantir o pleno emprego e a
superação de momentos de crise. O estado, principalmente nos países europeus, adotou
uma postura voltada à garantia de direitos sociais, como moradia, educação, saúde,
distribuição de renda, direitos trabalhistas, etc., o denominado Welfare State (Estado de
Bem-estar social). Para isso, aumentou consideravelmente sua intervenção na economia,
tanto na produção de empresas estatais quanto na cobrança de mais impostos. A produção
industrial esteve baseada em um modo de produção fordista, que mecanizou e fragmentou
a produção dos trabalhadores, aumentando a produtividade e, ao mesmo tempo,
reduzindo o poder do trabalhador de controlar seu ritmo de trabalho.
O modelo econômico adotado apresentou resultados positivos, o que serviu de
propaganda para o bloco capitalista. Entre 1945 e 1970, o mundo capitalista viveu a
denominada “Era do Ouro”, como definido pelo historiador Eric Hobsbawn. Essa
época foi marcada por uma maior integração global e crescimento econômico
extremamente acelerado e que atingisse grande parte da população, e não apenas as
camadas mais altas, como ocorria anteriormente, fato que não ocorreu tão fortemente
nos EUA, onde prevaleceu uma forte desigualdade entre brancos e negros. Apesar de
ter atingido em maior escala os países desenvolvidos, alguns países subdesenvolvidos,
vide Brasil, México e Argentina, conseguiram se industrializar por meio de medidas
protecionistas e intervenção estatal, e não houve crises de fome endêmica, salvo em
casos de guerra. A produção industrial quadruplicou e o comércio de manufaturados
aumentou em dez vezes. Foram adotadas inúmeras medidas para impedir a formação
de monopólios, como combate a cartéis e trustes. Não obstante, acelerou-se a
devastação ambiental, baseada na ideologia de domínio da natureza pelo homem.
Houve possibilidade de os Estados Unidos venderem seus excedentes globalmente e
obterem abundância de matéria-prima. Atrelado a isso, houve uma intensa produção
de conhecimentos científicos, que atingiram, em maior grau, o mundo desenvolvido.
Os Estados Unidos consolidaram-se como potência hegemônica devido ao plano
Marshall, instalação de multinacionais e à Conferência de Bretton Woods 10, que tornou o
dólar moeda internacional e criou o FMI e o Banco Mundial. Foi devido a essa hegemonia
que, segundo estudos, entre 20 e 30 milhões de pessoas morreram de causas diretamente

10
Conferência realizada em 1944 objetivando decidir os rumos da economia mundial no pós Segunda
Guerra.

17
ligadas ao governo, como operações militares e guerras, fora as mortes geradas pelas
ditaduras implantadas em alguns países alinhados.

4.1.1. Os Estados Unidos durante os Governos Truman e Eisenhower


Como se sabe, a era Truman foi marcada por uma intensa luta contra o comunismo
e a URSS. Outro fato marcante foi o início da Guerra da Coréia (1950 -1955). A Coréia
fora dividia no paralelo 38 entre os EUA (parte sul) e URSS (norte). Temendo a influência
americana no Pacífico, causada pela instalação de bases militares norte-americanas no
Japão, e baseando-se no sucesso da Revolução Chinesa, os norte-coreanos invadem a
parte sul da Península. Com aval da ONU, os americanos empreendem uma ação militar
na região, marcando o primeiro grande conflito gerado pela disputa da Guerra Fria. A
China, temendo uma invasão americana no país, entrou no conflito. As hostilidades se
encerraram apenas em 1955, sendo possíveis apenas devido à morte de Stalin e ascensão
de Eisenhower ao poder nos EUA. A guerra fez o orçamento militar americano
quadruplicar em apenas dois anos.
O governo Eisenhower substitui a intervenção militar pura por uma política
militarista mais ligada à produção nuclear e ao uso da CIA. Utilizou da Guerra Fria como
justificativa para expandir e consolidar o imperialismo americano em certas áreas. Um
exemplo de tal política foi o golpe de estado ocorrido na Guatemala em 1954. O
presidente do país, Jacobo Arbenz, iniciou um programa de reforma agrária que utilizaria
terras pertencentes a empresas americanas que realizavam a exploração da banana,
principal matéria prima fornecida pelo país latino,
distribuindo-as aos camponeses. Vendo seus interesses
prejudicados, os norte-americanos, apoiados pela Igreja
Católica guatemalteca, realizam um golpe de estado, usando
como justifica um possível alinhamento de Arbenz ao governo
soviético. Tal operação causou a morte de mais de 140 mil
guatemaltecos e a sucessão de governos militares e
autoritários, sendo esse o primeiro conflito latino-americano
resultante da Guerra Fria. Fato semelhante ocorreu no Irã,
onde um governo que pretendia estatizar poços de petróleo foi
substituído por um governo ditatorial e pró-estados unidos.

Durante o governo Eisenhower, a economia cresceu baseada no consumismo e


naO presidente Dwight D. Eisenhower
exportação da cultura americana globalmente. Prevaleceu uma forte desigualdade social,
sobretudo racial, causada pelas leis segregacionistas adotadas no país desde o final do
século XIX.

4.1.2. John F. Kennedy e Lyndon Johnson


Posteriormente ao governo republicano de Eisenhower, dois democratas
comandaram o país entre 1961 e 1968, época marcada por tensões diplomáticas, como a
Guerra do Vietnã e a Crise dos Mísseis, e por uma maior participação do estado no
combate à pobreza e desigualdades sociais e raciais nos Estados Unidos.
Kennedy foi responsável pela Aliança para o Progresso, programa de empréstimos
aos países da América Latina que conteve os movimentos socialistas e aprofundou o
imperialismo na região. Foi durante seu governo que surgiu o muro de Berlim, que
objetivava conter a migração de pessoas da parte oriental para a ocidental. Internamente,

18
iniciou o apoio à luta pelos direitos civis dos negros, ao proibir a discriminação racial no
acesso a serviços de saúde e educação.
Após a morte de Kennedy, Johnson assume a presidência em 1963 e é eleito em 1964.
Foi em seu governo que houve intensificação do movimento pelos direitos civis dos
negros, que tiveram inúmeros resultados positivos, como a Lei dos Direitos Civis de 1964,
que findou os sistemas estaduais de segregação racial. Foi também responsável pelo início
da Great Society e da “Guerra contra a Pobreza”, programas responsáveis por distribuição
de renda e acesso a serviços como saúde e educação, beneficiando pobres e pessoas de
classe média. Diplomaticamente, manteve-se a posição rígida na Guerra do Vietnã e
houve apoio o golpe militar no Brasil, que usou do pretexto de combate ao comunismo
para derrubar o governo João Goulart, o qual pretendia realizar reformas populares
(agrária, urbana, educacional, etc.), conhecidas como reformas de base, além de ter um
projeto econômico mais nacionalista. Com a justificativa do possível alinhamento do
presidente com a URSS, mas pretendendo manter seus interesses e, dessa maneira,
combater um presidente que privilegiava mais os interesses nacionais e populares, apoiou
um golpe de estado que instalou um governo militar ditatorial, impopular e que atendesse
aos interesses norte-americanos.

4.1.3. Guerra do Vietnã (1959-1975)


A Guerra do Vietnã foi o maior e mais mortal conflito decorrente da Guerra Fria,
além de ser o maior conflito que contou com a participação dos EUA.
A ex-colônia francesa foi dividida, após a Segunda Guerra, entre Vietnã do norte
(socialista) e do sul (capitalista e anticomunista). O líder do Vietnã do sul, temendo uma
unificação do país sobre regime comunista, deu um golpe de estado e, em 1954, instaurou
uma ditadura que perseguia comunistas e era apoiada pelos EUA. O Vietnã do norte
enviou guerrilheiros ao sul, os chamados vietcongs, com objetivo de unificar as duas
regiões sob regime comunista. Esse grupo teve um imenso apoio devido à impopularidade
do líder anticomunista sul-vietnamita, que tinha um governo corrupto, elitista e marcado
pela intolerância religiosa aos não católicos. Em 1959, a guerra entre as duas regiões
inicia oficialmente, sendo os EUA responsáveis, inicialmente, apenas por apoio logístico
ao sul.
Em 1963, ocorre um golpe de estado e a instalação de um novo governo no Vietnã
do sul, que pretendia desmanchar a
imagem

autoritária causada pelo governo anterior


no país. Os Estados Unidos entram
oficialmente na guerra em 1964, sob
justificativa de atentado a um navio
americano no Golfo de Tonkin. Os
americanos, através da operação Rolling
Thunder, iniciam um bombardeio aéreo da
região, o que foi ineficaz para cessar os Guerrilheiros vietcongs durante a guerra
vietcongs. Dessa maneira, os Estados Unidos iniciaram o ataque terrestre por meio
de soldados, que detinham um armamento altamente superior ao dos guerrilheiros
vietnamitas. Não obstante, não estavam acostumados com o clima tropical, a vegetação
densa e os perigos naturais da região. O exército estado-unidense, sem possibilidades de
vitória nesse cenário, passou a utilizar armas químicas, como Napalm, que destruíram
diversas florestas e causaram diversos problemas de saúde na população, como câncer e

19
mutações genéticas. A imagem dos Estados Unidos foi ainda mais manchada devido aos
maus tratos contra civis vietnamitas em busca de guerrilheiros vietcongs.
A contestação da guerra entre a população dos EUA foi extremamente forte,
principalmente entre grupos pacifistas. Contestava-se os claros crimes de guerra
cometidos pelo exército, o gasto excessivo com uma guerra em uma região de importância
estratégica contestável e o fato de os EUA estarem perdendo a guerra, fato que ocorreu
devido ao maior conhecimento dos guerrilheiros sobre as condições naturais locais.
Sob a presidência de Richard Nixon, os Estados Unidos retiraram-se da guerra,
em 1973, aceitando dar apenas apoio logístico ao exército sul-vietnamita, promovendo a
“vietnamização”, ou seja, melhorar a força militar do Vietnã do sul para que eles
pudessem deter os vietcongs. No entanto, tornou-se inviável financeiramente a
manutenção desse apoio, com isso, em 1975, a potência capitalista retira-se
completamente do Vietnã, dando vitória ao
Vietnã do norte.
Tal conflito serviu de propaganda ao
bloco socialista devido à atitude agressiva
norte-americana e sua subsequente derrota.
Influenciou diretamente o imaginário da
população estado-unidense, que
teve vergonha de admitir a derrota da
grande potência perante uma nação
subdesenvolvida e com pouco apoio
soviético.
Movimentos pacifistas nos EUA contra a guerra

4.1.4. Anos 70 - Instabilidade e a Crise do petróleo


Entre meados dos anos 1960 e 1970, a hegemonia norte-americana no mundo
capitalista começa a ser abalada. A recuperação econômica da Europa e Japão havia se
completado e os países do Terceiro Mundo apresentavam uma rápida industrialização.
Dessa maneira, os produtos americanos sofreram enorme concorrência e tiveram,
consequentemente, menor demanda no mercado internacional. Para sanar a necessidade
de gastos com os programas de combate à pobreza e a Guerra do Vietnã, criou-se uma
inflação, responsável pela desvalorização do dólar, estimulando as importações de
produtos norte-americanos. Paralelamente, o desemprego aumentou, e população de
classe média passou a endividar-se. Dessa maneira, a classe média, formada
majoritariamente por brancos, começou a culpar os programas de distribuição de renda
pela desaceleração econômica.
Em 1968, o republicano Richard Nixon é eleito, e, apesar de apresentar uma
pauta inicialmente voltada à redução de gastos, não teve apoio do congresso,
principalmente devido à Guerra do Vietnã, na qual permaneceu até 1973. Manteve
também a estrutura de gastos sociais e altos impostos herdados dos democratas.
Diplomaticamente, destacam-se entre os feitos do governo Nixon os acordos de
contenção das armas nucleares e o golpe militar no Chile. O país latino era governado
pelo socialista Salvador Allende, que ascendeu ao poder não por meio da revolução, mas
via eleições, o que dificultou o apoio da URSS, descrente ao governo. Entre as medidas
de Allende que desagradaram os Estados Unidos, destacam-se a nacionalização da
exploração do cobre, principal matéria-prima chilena, e a reforma agrária. Baseando-se
nisso, os EUA, através da CIA, financiam greves de paneleiros e caminhoneiros, e, em

20
11 de setembro de 1973, matam o presidente chileno, instalando, no lugar, o ditador
Pinochet, que tornou o Chile o primeiro país neoliberal no mundo.
Os anos 70 foram marcados por 2 graves crises que abalaram o mundo capitalista,
a crise do petróleo de 1973 e a de 1979. Os Estados Unidos tinham uma forte dependência
de petróleo como fonte de energia, o que tornava a produção interna insuficiente. O
Oriente Médio, devido aos baixos custos e abundância de tal riqueza, tornou-se a principal
região de exploração do petróleo, inicialmente realizada pelo cartel Sete Irmãs, formado
por empresas norte-americanas, britânicas e holandesas. Em 1960, os países árabes
tentaram quebrar o monopólio desse cartel, criando a OPEP, organização que controlaria
os preços de petróleo mundialmente, beneficiando as empresas árabes.
Em 1973, ocorre a primeira crise, quando o Egito e a Síria atacam Israel no feriado
judeu de Yom Kippur, e, em resposta, os Estados Unidos enviam apoio militar a Israel,
gerando uma guerra entre árabes e israelenses. Em resposta ao apoio ocidental a Israel
durante a guerra, a OPEP quadruplica ao preço do barril de petróleo no mercado
internacional. A segunda crise, em 1979, foi resultado da Revolução Islâmica ocorrida no
Irã. O aiatolá (líder religioso) Khomeini subiu ao poder, derrubando o governo pró-
ocidental de Mohamed Reza Pahvali, instalando uma teocracia islâmica, que pretendia
quebrar a hegemonia bipolar dos EUA e URSS. Temendo o desequilíbrio da balança de
poder, os EUA estimulam a invasão do Irã pelo Iraque, sob justificativa de disputa de
fronteira. Inicia-se, dessa maneira, a Guerra Irã-Iraque, que reduz drasticamente a
produção petrolífera.
As duas crises trouxeram severas
consequências para as economias
capitalistas. Nos Estados Unidos, os
efeitos foram mais sentidos nas regiões em
que não havia produção de petróleo.
Houve intenso racionamento dos
combustíveis, o que estagnou a atividade
dos caminhoneiros e causou conflitos em
postos de gasolina; um crescente
desemprego, gerado pela ineficiência
produtiva devido à falta desse tipo de

O presidente iraquiano Saddam Hussein energia; aumento da


inflação e tentativas e o Ayatolá iraniano de reduzir a demanda dos automóveis por combustíveis, como
limites de velocidade
maiores, para utilizar menos gasolina. O presidente Carter adotou medidas que
desregulamentassem a produção de petróleo interna, permitindo que o país dependesse
menos das exportações. Os países árabes, em contrapartida, tiveram um intenso ganho
econômico, visto que puderam, finalmente, deter o controle sobre a produção e o mercado
petrolífero. Foi devido ao lucro que esses países obtiveram que muitos grupos terroristas
que estavam surgindo localmente tiveram dinheiro para armarem-se.

21
A falta de gasolina nos postos e o limite
de velocidade, efeitos da crise do petróleo

A crise do petróleo
ascendeu um debate nos Estados
Unidos sobre o uso de novas fontes
de energia. Painéis de energia solar,
etanol, fogão a lenha, energia
nuclear, etc., foram formas de
energia que o mundo adotou para
suprir a dependência de petróleo, a
qual é, ainda, extremamente forte.

4.1.5. Ronald Reagan


No momento atual em que o comitê se passa (1986), os Estados Unidos
encontram-se sobre o governo do presidente conservador Ronald Reagan, que ascendeu
ao poder em 1980, sobre demanda de uma população desacreditada após as crises
econômicas dos anos 70, culpando as políticas sociais e a forte diplomacia pela situação
delicada da política e da economia norte-americanas. Durante o governo de seu antecessor,
o democrata Carter, os EUA adotaram uma postura extremamente diplomática, sendo
Carter responsável pelo avanço dos acordos nucleares e por uma relação diplomática com
o bloco socialista. Muitos governos ditatoriais outrora instalados pelos EUA, como o
Somoza na Nicarágua, perderam o apoio de Carter. O Somoza foi derrubado pelos
sandinistas, grupo de viés socialista, em 1979.
A postura diplomática norte-americana foi rompida por Reagan, principalmente
devido à invasão soviética ao Afeganistão, em 1979. Esse episódio, somado a diversas
vitórias dos soviéticos no Terceiro mundo, fez os norte-americanos acreditarem que
deveriam ter uma postura diplomática mais agressiva, que tentaria, a qualquer custo,
conter o socialismo.
Reagan foi responsável por perpetuar a Guerra Irã-Iraque para que pudesse vender
armas, e, dessa maneira, financiar grupos de direita na América Latina, que combateria a
crescente influência dos movimentos sandinista e castrista no continente. Também apoiou
grupos anticomunistas na África e o grupo radical islâmico mujahideen, no Afeganistão,
o qual pretendia combater a invasão soviética. Além do árduo combate ao comunismo
internacional, estabeleceu também apoio incondicional a Israel, até mesmo quando o país
invadiu o vizinho Líbano, culminando na desastrosa Guerra Civil Libanesa. Foi, devido
a isso, que os gastos militares norte-americanos aumentaram substancialmente.

Na economia, Reagan
adotou a ideologia neoliberal,
comungada pela primeira-
ministra britânica Margareth
Thatcher. Essa ideologia
previa o fim do protecionismo
econômico mundial e da
intervenção do estado na
Margareth Tatcher

22
economia, reduzindo, por exemplo, empresas estatais, impostos, leis trabalhistas,
programas sociais, etc. Tal ideologia passou a ter forte apelo devido às crises do petróleo
e aos altos gastos dos Estados europeus, tanto militarmente quanto em programas sociais.
Reagan promoveu, em 1982, um elevado corte de impostos, no entanto, a Guerra Fria
exigia muito dinheiro para suas operações militares. Com isso, aumentou os juros para
conseguir empréstimos, causando uma recessão econômica, em 1982, a qual só foi
superada pela retomada da produção de petróleo no Oriente Médio. Após essa época, para
evitar outra crise, Reagan promoveu um massivo corte nos gastos sociais, o que foi
responsável pelo crescimento da pobreza e do abandono dos menos favorecidos. O
cinturão da ferrugem, por exemplo, foi sucateado, sendo que os trabalhadores das
indústrias dessa região tiveram uma elevada redução em seus salários.
Portanto, os Estados Unidos encontram-se, no contexto em que o comitê se passa,
hostis à URSS e ao comunismo, além de poucos dispostos a arcarem com muitos gastos,
dada sua ideologia neoliberal e os altos gastos militares.

4.2.O bloco Socialista durante a Guerra Fria


Mesmo após a queda do Muro de Berlim, os ideais de Karl Marx permanecem
admirados por muitos, tanto do mundo desenvolvido quanto do mundo subdesenvolvido.
Como um todo, a teoria de Marx defende que as sociedades estão em um processo de
evolução, passando por sistemas econômicos injustos, o qual possuiria como destino final
o Comunismo.
No sistema comunista, os meios de produção e as propriedades pertencem a todos,
ou seja, não são reservados aos indivíduos ou empresas. Marx visava, inicialmente, um
Estado provisório, a implementação da Ditadura do Proletariado, um Estado, contudo,
democrático pois representaria os interesses da maioria e por fim, aos poucos, o Estado
seria abolido e a sociedade atingiria o Comunismo, o estágio final de tal processo, logo o
propiciador de um meio justo. O filósofo afirmava que a história da humanidade é
moldada pela luta de classes, na qual, na época descrita por Marx e vivida na Rússia
Czarista, ocorria entre a burguesia e o proletariado.
Karl Marx foi um grande crítico do Capitalismo. Através da elaboração da teoria
valor-trabalho, a qual determina que uma mercadoria vale o tempo que leva para alguém
produzi-la, aponta tal sistema como injusto pois os empresários conseguem um lucro
desproporcional ao verdadeiro valor dos produtos vendidos. Os burgueses, donos dos
meios de produção, obtém esse maior lucro através da exploração do proletariado.
Em uma de suas obras mais famosas, Manifesto Comunista, Marx, juntamente
com Engels, apresenta o Capitalismo como um sistema fadado ao fracasso, deste modo
prevê que as crises
econômicas, provindas dos
altos e baixos do sistema,
iriam aumentar e causar
maiores danos sócias, como o
desemprego, contudo, concluí
que o proletariado, após obter
consciência dessa exploração,
tomaria o poder e
implementaria a Ditadura do
Proletariado citada Foto de Karl Marx à direita e Friedrich Engels à esquerda
anteriormente.

23
4.2.1.A Revolução de Outubro e a futura URSS

Quando os bolchevistas, defensores da


revolução socialista e da instalação da
Ditadura do Proletariado, liderados por Lenin
e apoiados pelos sovietes, tomaram o poder,
em 1917, usaram os lemas de Lenin para
demonstrar suas intenções. Os lemas mais
usados são: “Todo poder aos sovietes” e “Paz,
terra e pão”, sendo esse último o resumo dos
anseios revolucionários dos sovietes. Ao
analisar mais a fundo a última frase abordada,
relacionamos “Paz” à saída da Primeira
Guerra Mundial, já que a guerra
estava agravando a crise socioeconômica já existente na Rússia Czarista, “terra” à
nacionalização das fábricas, bancos e comércio, ou seja, nacionalização dos meios de
produção e “pão” ao confisco das terras da nobreza e da burguesia, logo à implementação
de uma grande reforma agrária.
Após a revolução bolchevista (Revolução de Outubro de 1917), eclodiu na Rússia
uma guerra civil. A Guerra Civil Russa envolvia o Exército Vermelho liderado por
Trotsky, composto por sovietes e o Exército Branco, composto por liberais,
conservadores, monarquistas e menchevistas.
Visando a vitória, Lenin instituiu o “comunismo de guerra”, estabelecendo uma
lei que obrigava a população a entregar todos os excedentes das produções ao Estado,
com o intuito de sustentar a indústria bélica e as necessidades básicas do exército. Para
não gerar grandes consequências deste forte desincentivo estatal, como a baixa produção,
o trabalho foi colocado como obrigatório e essencial. Graças a essa jogada, o Exército
Vermelho derrota o sofisticado e rico Exército Branco, mas a Rússia estava muito abalada
economicamente, contudo, o Estado socialista não possuía uma base para sustentar seu
desenvolvimento socioeconômico, logo foi criada a NEP.
A NEP, Nova Política Econômica, colocada em prática por Vladimir Lênin,
consistia na execução de práticas socialistas e capitalistas, com o objetivo de recuperar a
economia russa e, consequentemente, a longo prazo consolidar o socialismo. Tal política
é descrita, por diversos historiadores e outros pesquisadores, por uma frase famosa: “Um
passo para trás, para depois da dois à frente”.
A União das Republicas Socialistas Soviéticas foi estabelecida pelos bolcheviques
em 1922. A URSS possuía um sistema político baseado em um partido único: PCUS,
Partido Comunista da União Soviética, e alta intolerância aos opositores políticos, os
quais, consequentemente, sofreram grandes perseguições. A economia era estatizada,
logo o Estado controlava os meios de produção e a distribuição de salários, visando a
impossibilidade da desigualdade social. Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, Moldávia, Estônia,
Letônia, Lituânia, Georgia, Arménia, Azerbaijão, Cazaquistão, Uzbequistão,
Turcomenistão, Quirguistão e Tajiquistão compunham a URSS.
Após a morte de Lenin em 1924 o posto de líder começou a ser disputado entre
Stálin, o qual defendia que o socialismo deveria se estabilizar e concretizar na Rússia para
depois prosseguir para a Europa, e Trotsky, defensor da revolução permanente, logo de
uma missão imediata, realizada pelo exército russo, que propagasse a revolução

24
comunista para o resto do mundo. Stálin vence a disputa e em 1929 Trotsky é expulso da
URSS, criticando amargamente, em seu exílio, as condutas de seu opositor até 1940,
quando é assassinado por ordens de Joseph Stálin.
A partir de 1928, comandada por Stálin, a URSS aboliu a NEP e passou a
direcionar sua economia pelos planos quinquenais, os quais visavam o estabelecimento
de prioridades para a produção agrícola e industrial de
cinco em cinco anos. A política econômica de Joseph
efetivou a coletivização das propriedades agrárias, as
tornando estatais, conhecidas como sovkhozes, ou
kolkhozes (cooperativas).
Stalin priorizou, através dos planos quinquenais,
o desenvolvimento das indústrias de base (mineração,
máquinas e energia), através de investimentos em
tecnologia e educação. Em uma visão política, Stálin é
caracterizado por seu governo ditatorial o qual se opunha
aos ideais libertários e igualitários do socialismo teórico.

Joseph Stalin em 1902

A política externa, para a URSS, nesse período era favorável. Stálin recebeu apoio
internacional de diversos partidos comunistas espalhados pelo mundo e demonstrou
possuir reconhecimento político das nações capitalistas após a entrada da União Soviética
na Liga das Nações em 1934. Seu governo também foi admirado por tornar a URSS uma
potência mundial e obter a erradicação do analfabetismo, qualificando a mão de obra,
logo, apesar de suas diversas desqualificações, Stálin aumentou progressivamente a
qualidade de vida soviética.

4.2.2. Desestalinização
A desestalinização ocorreu na Era Khrushchov após a morte de Stálin, entre 1953
e 1965. Nikita Khrushchov, Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista
da União Soviética, denunciava o regime autoritário de Stálin e seu culto à personalidade
(uma estratégia de propaganda política a qual tenta propagar pontos positivos, reais ou
supostos, quanto ao governante). O novo governante provocou a libertação de diversos
prisioneiros políticos dos Gulags, campos de trabalho forçado construídos por Stálin os
quais abrigavam prisioneiros políticos, criminosos e opositores no geral.
Nessa época ocorreu mudanças nas relações internacionais. A URSS deixou de
lado a inimizade com a Coreia do Sul e se aproximou da Iugoslávia. No apogeu da Guerra
Fria, ocorreu a criação do Pacto de Varsóvia entre os países socialistas do Leste Europeu
e a União Soviética, o qual garantia uma aliança militar, ou seja, uma ajuda mútua caso
acontecesse alguma agressão militar nos territórios participantes do pacto e a legitimidade
do exército socialista percorrer e se estabelecer em tais territórios,
Khrushchov ficou conhecido, durante a Guerra Fria, como um líder político de
comportamento grosseiro perante as autoridades de outros países. A Era de Khrushchov,
contudo, foi marcada por tal guerra e, consequentemente, por eventos como a construção
do Muro de Berlim pela Alemanha Oriental (socialista) e a Crise dos Mísseis de Cuba
que geraram uma crise na política externa da URSS. A tensão e a rivalidade entre a União
Soviética e os Estados Unidos eram altas e alimentavam um desenvolvimento tecnólogo
(armamentista e espacial) de competição que visava sempre demonstrar qual sistema
econômico era o mais propiciador de avanços.

25
“A União Soviética faz
mísseis como fábrica de
salsicha” - Trecho de um
discurso de Khrushchov

Charge representando os EUA e a URSS durante a Guerra-Fria

4.2.3. Crise Soviética


Durante as décadas de 50 e 60 a URSS conseguiu igualar seu desenvolvimento
econômico ao dos EUA e às vezes demonstrava superioridade, como na corrida espacial
quando enviaram o primeiro ser vivo ao espaço, mas em 1970 a União Soviética começa
a entrar em uma crise profunda que a levaria à fragmentação.
A URSS demonstrava esgotamento econômico através de problemas graves como
a falta de alimentos. A crise se agravou após a invasão ao Afeganistão e se consolidou,
pois, a maior parte dos recursos era direcionada aos setores militares. A capacidade
industrial, contudo, não era o suficiente para atender à população, a qual pouco era ouvida
e consultada na elaboração de estratégias para escapar da crise, logo ocorreu uma
descrença por parte desta em relação ao Estado e ao sistema.
Na década de 80 a população soviética passou a ter grande dificuldade em obter
produtos básicos e essenciais para sua sobrevivência. Em 1985 Mikhail Gorbatchev
assume o poder e busca soluções para a grande crise econômica em questão e, para isso,
lança dois grandes projetos: a Perestroika e a Glasnost (transparência política, garantindo
uma abertura política e maior liberdade de expressão).
A Perestroika representava uma reestruturação política através de diversas
reformas como a redução de investimentos no setor de defesa. Para realizar tal redução,
a URSS promoveu a desocupação do território afegão, renegociação da redução de
armamentos definida com os EUA nos acordos de Yalta e a minimização da interferência
política em outras nações socialistas
4.2.4. A Primavera de Praga
A Primavera de Praga foi um movimento que ocorreu na Tchecoslováquia (Leste
Europeu) em 1968 liderado pelo Chefe de Estado Alexander Dubcek. O movimento
reivindicava a adoção de reformas liberais, ou seja, contra os ideais socialistas
centralizadores e conservadores impregnados ao país durante o regime autoritário
soviético, logo não apenas liberais, mas também socialistas libertários defenderam essa
revolta. Tal revolta foi fortemente reprimida pelo Pacto de Varsóvia.

26
Este movimento reformista contou com a participação de grande parte da
população, principalmente de intelectuais e operários, causando grande impacto sobre a
URSS. A União Soviética viu
nesse movimento a possibilidade
de desequilíbrio na dominação
socialista no Leste Europeu em
plena Guerra Fria e, por tal
motivo, agiu de maneira rápida e
agressiva. Apesar de ter sido um
movimento falho, a Primavera de
Praga demonstrou que nem toda a
população do Leste Europeu
concordava com a dominação
soviética a qual demonstrava Foto da Primavera de Praga sinais de desgaste.

4.2.5. Atuação da URSS em relação ao desastre de Chernobyl


O desastre de Chernobyl ocorreu na República Socialista Soviética da Ucrânia, no
dia 26 de abril de 1986. No dia 27 de abril, os militares começaram a medir o nível de
radioatividade no ar em Pripyat.
Após tais resultados, Gorbachev formou uma
comissão de análise, visando elaborar estratégias de
resolução. O renomado químico soviético, Valery
Legasov participou ativamente dessa comissão,
informando detalhadamente a situação ao Governo e
elaborando estratégias para que um segundo acidente
não ocorresse.
Foto de Valery Legasov

•••

27
5. Acidentes anteriores ao de Chernobyl
5.1. O acidente de Chalk River (Canadá,
1952)
O primeiro acidente
nuclear significativo da história
ocorreu no Laboratório Nuclear
de Chalk River 11 em
Ontario, Canada em 12 de dezembro de
1952. Após uma cadeia de erros humanos, o
reator nuclear NRX, que no momento dos
erros estava passando por um teste de
funcionamento em condições de baixa energia, se superaqueceu, o que, agravado
por erros de execução no processo de desligamento emergencial, fez com que os
mecanismos de resfriamento do reator sofressem danos. Com o sobreaquecimento se
agravando, o reator explodiu, danificando sua estrutura e liberando radiação na atmosfera
e água contaminada em um dos andares abaixo do reator. Pela instalação em que o reator
se localizava ser distante de áreas habitadas, as descargas radioativas na atmosfera não
acarretaram danos a civis. A água contaminada foi transportada para uma área perto do
Rio Ottawa onde foi descontaminada antes de liberada no rio.
A descontaminação foi efetiva e nunca foram encontradas medições de radiação
no Rio Ottawa acima das permitidas para água potável. Nos esforços de limpeza e
reconstrução da área do acidente, foram empregados militares canadenses e
estadunidenses, que, segundo a AECl 12, nunca receberam doses de radiação acima das
permitidas na época.
Em 1958, após a reconstrução do reator que em 1952 originou o acidente, ocorreu
na mesma instalação nuclear outra ocorrência. Após componentes do reator NRU se
superaquecerem e romperem dentro do núcleo do reator, um incêndio se iniciou, e
combustível radioativo foi despejado em uma área de manutenção. O combustível, através
do sistema de ventilação, acabou contaminando outras áreas do prédio além de áreas a
favor do vento em relação à posição do reator. O fogo, que já havia se espalhado para a
área de manutenção, foi extinto por uma equipe de cientistas e o Exército foi novamente
acionado para a limpeza da área.
Considerando os dois acidentes, foram empregados mais de mil militares, além de
voluntários, e esses alegadamente não foram expostos a níveis de radiação prejudiciais, e
não sofreram danos à saúde nos eventos. No entanto, deve-se considerar que não foram
conduzidos estudos médicos para checar a taxa de incidência de câncer nesse grupo com
o passar dos anos. Há relatos, como o do ex-militar envolvido na descontaminação após
o acidente de 1958, Bjarnie Hannibal Paulson, em que se afirma que os equipamentos de
proteção e as medidas de segurança não foram completamente efetivos, e que as doses de
raios-alfa recebidas desencadearam quadros de câncer posteriormente.

11 Chalk River Nuclear Laboratories, tradução livre


12 Atomic Energy of Canada Limited

28
5.2. O incêndio de Windscale (Inglaterra, 1957)

Com a necessidade de produzir a


sua própria bomba nuclear para se
colocar ao patamar dos Estados Unidos e
consequentemente, conseguir firmar uma
aliança no que tange aos programas
nucleares de ambos os países, o Reino
Unido lançou, em 1946, um projeto que
incluía a produção de plutônio para a sua
primeira bomba e, para isso, a construção
de dois reatores nucleares. Os reatores
foram rapidamente construídos, o que
afetou a qualidade das estruturas, e em
1952 já estavam funcionando.
Na manhã do dia 7 de outubro de 1957, detectou-se no reator n°1 uma anomalia
de temperatura: o combustível estava se aquecendo mais lentamente que o normal e o
reator operando abaixo das temperaturas esperadas. Esse era um problema comum nos
reatores a base de grafite, e era tratado pelos engenheiros, sem conhecimento adequado
sobre o comportamento do grafite em diferentes temperaturas, através de efetivos
reaquecimentos, que já haviam se tornado procedimentos de rotina. No dia seguinte, 8 de
outubro, um segundo aquecimento foi inadequadamente aplicado, sendo que o aumento
da temperatura foi maior que o esperado. No entanto, o dissipamento de energia foi
efetivo e o problema aparentemente resolvido. Apesar do aparente sucesso da operação,
na noite do dia 9, quarta-feira, a temperatura do reator começou a subir rapidamente,
alcançando 400°C. A temperatura continuou a subir, com os controladores ventilando
mais ar pelo reator no intuito de resfriá-lo até o dia 10, o fatídico dia do acidente. Mesmo
com as inúmeras tentativas de ventilar mais ar pelo reator, um medidor de temperatura
continuava acima dos parâmetros ideais e o nível de radiação na chaminé do reator estava
acima do esperado. Estranhando o ocorrido, técnicos foram enviados para checar o que
estava acontecendo.
Chegando ao reator, se depararam com um incêndio, que apenas tinha sido
agravado pelo crescente fluxo de ar. Os ventiladores, mesmo alimentando o fogo, foram
mantidos ligados para tornar a temperatura suportável para os bombeiros. Diversas
tentativas de apagar o fogo foram feitas, desde o uso de CO2 até a retirada do combustível,
mas nenhuma obteve êxito. Passou-se a considerar o uso de água para apagar o incêndio,
o que poderia também causar uma explosão semelhante ao de uma bomba de hidrogênio.
No entanto, visto que se a temperatura subisse acima de 1300° todo o reator poderia se
incendiar, a equipe chefe de operação da instalação decidiu pelo uso da água. Com o
fechamento dos ventiladores e o derramamento de água o fogo finalmente cedeu.
Como o ar que passava pelo reator era diretamente, após passar por um filtro na
chaminé, liberado na atmosfera, houve duas grandes liberações de radiação: uma no início
do incêndio e outra após o despejo da água, que formaram uma nuvem radioativa.
Os trabalhadores da instalação foram orientados a vestirem máscaras de proteção
e ficarem dentro de prédios e construções fechadas, além de receberem doses de iodo.
Foram medidos os níveis de radiação no ar em lugares habitados perto de onde se
localizava o reator, e detectou-se que esses não eram alarmantes, estando dentro dos

29
parâmetros permitidos. A preocupação seguinte tangendo a saúde da população civil era
a possibilidade de o leite produzido em áreas próximas nos dias seguintes ao acidente
estar contaminado com iodo-131, radioativo. Foi, portanto, proibida a produção e venda
de leite num raio de 500 km2 em torno do reator. Mesmo sendo um assunto controverso,
estima-se que a radiação tenha causado em torno de 100 mortes no Reino Unido, mas que
estas não podem, pela quantidade, serem distinguidas das mortes em circunstâncias
normais.
O primeiro ministro, Harold Macmillan temeu que, se divulgadas as reais causas
do acidente, erros imprudentes na construção e no treinamento do pessoal envolvido
ligados à pressa em se desenvolver o projeto nuclear e construir a bomba de hidrogênio,
e que já haviam sido indicado previamente por cientistas, a confiança pública e os seus
planos de uma aliança nuclear junto ao presidente americano Eisenhower, que apenas
esperavam aprovação do Congresso, podiam ser permanentemente abalados e os seus
esforços para uma aliança se provariam inúteis. Assim, o relatório 13 da comissão
indiciada para análise do acidente foi censurado, só indo a público em 1988, e o noticiado
foi que o acidente teria sido de pequena magnitude e causado por um erro de julgamento
cometido pelos operadores de Windscale.

5.3. O desastre de Kyshtym (URSS, 1957)

Em meio à corrida nuclear entre


o bloco capitalista e o bloco socialista
durante a Guerra Fria, a URSS
enxergava a necessidade de se
fortalecer no âmbito nuclear e se
colocar à frente na disputa. Foi
construída então, de 1945 a 1948, a
instalação nuclear de Mayak e a cidade
militar de Ozyorsk, ambas mantidas em
sigilo e não dispostas nos mapas, com o
intuito de produzir a primeira bomba de
hidrogênio da URSS. Como eram
instalações sigilosas, o complexo ficou conhecido como Chelyabinsk-40, ou
simplesmente complexo de Kyshtym, a cidade mais próxima conhecida publicamente.
A necessidade de se obter resultados rapidamente fez que a construção da planta
nuclear fosse imprudente, sem preocupações com os efeitos que a radioatividade causaria
nos ecossistemas locais. Em 1949, reportou-se a produção da primeira bomba nuclear
soviética, o que aumentou ainda mais a cobrança por resultados rápidos por parte de
Moscow, e consequentemente deu abertura a práticas questionáveis em nome da rapidez.
O lixo radioativo originado pelo reator que gerava plutônio para a construção das
bombas era diretamente descartado em rios e lagos próximos, como o rio Techa e o lago
Karachai, sendo que desses e de outros lagos da região também era retirada a água usada
no resfriamento do reator. O descarte inadequado desse material radioativo tornou o rio e
os lagos extremamente poluídos, emitindo níveis de radiação muito acima do permitido.
O lago Karachai teve que, na década de 90, ser coberto com concreto haja vista à radiação
que emitia. Junto à exposição derivada das águas contaminadas, a falta de qualidade da

13“The Penney Report”, ou “Report of the Commitee of Inquiry established by the United
Kingdom Atomic Energy Authority (UKAEA)”

30
estrutura originou diversas descargas de radiação no período de 1949 a 1952, e estima-se
que por volta de 17,000 trabalhadores e moradores de vilas próximas tenham recebido
doses de radiação acima do adequado, o que levou a aumentos nas taxas de câncer,
deformidades e mortes por exposição aguda à radiação nessa população.
Foi então planejada uma solução simples para o descarte do lixo, mas que também
oferecia riscos devido a sua simplicidade, que posteriormente levaram ao desastre em
questão. Foram construídos grandes tanques de aço enterrados a uma distância de quase
8 metros da superfície, equipados com resfriadores de ar responsáveis por manter a
temperatura do lixo radioativo que passaria a ser descartado nos tanques em uma faixa de
segurança.
Em 1956 detectou-se que a temperatura de um dos contêineres estava subindo,
mas devido a uma fraca estrutura de manutenção e a dificuldade de rastrear a origem do
problema pela equipe de engenheiros, fez com que nenhuma medida fosse tomada a
respeito da situação constatada. No dia 29 de setembro de 1957, as temperaturas que já
vinham subindo por mais de um ano atingiram um ponto crítico. O sistema de
resfriamento de um dos tanques falhou e as substâncias radioativas atingiram a
temperatura de 350°C, o que levou à combustão do material e uma explosão equivalente
à de 70 toneladas de TNT. Grandes doses de radiação foram expelidas na atmosfera, junto
à quantidades significativas de césio-137 e estrôncio-90, isótopos extremamente danosos
ao meio ambiente e à saúde humana, com um tempo de sobrevida no meio externo
considerável.
A nuvem radioativa formada começou a se dirigir na direção norte e nordeste,
segundo o vento, afetando uma área de aproximadamente 1000km², conhecida como
numa região atualmente conhecida como EURT 14. 63% da área afetada era usada na
agricultura, 20% era composta por florestas e 23 comunidades rurais se localizavam na
região. As autoridades demoraram para iniciar a evacuação da população nesse raio que
ofertava extremo risco à saúde, e só após 1 semana, as vilas começaram a ser evacuadas,
não sendo os moradores informados do motivo pelo qual estavam sendo realocados. Por
volta de 11,000 pessoas foram evacuadas nos 2 anos seguintes ao acidente, sendo que os
que se voluntariavam ou não aceitavam deixar suas terras, eram usados nos esforços de
destruir as lavouras contaminadas e desmatar as áreas afetadas. Graves danos à saúde dos
que residiam ou ajudaram na limpeza da área foram observados, tanto pelo nível de
radiação no meio externo, quanto pela ingestão de alimentos e leite contaminados por
isótopos radioativos. Quanto ao meio ambiente, esforços foram tomados na área do EURT,
em uma tentativa de diminuir os danos à flora e fauna da região, através de medidas como
a retirada de camadas do solo que tinham sido mais contaminadas, o uso de fertilizantes
e plantações especiais, entre outros. A utilização do território nesta área foi
temporariamente banida, mas em 1961 começaram-se a retomada de algumas atividades
nas terras.
O acidente foi mantido em sigilo até que, em 1980, um cientista soviético
dissidente, Zhores Medvedev, publicou um livro nos Estados Unidos sobre o evento,
reportando o ocorrido. Seus relatos foram subestimados pela comunidade científica
americana, que não relacionava os níveis alarmantes de radiação na região a um evento
único e sim pelo funcionamento de Mayak durante os anos, e pelo Governo dos EUA,
que mesmo, através da CIA, tendo conhecimento do ocorrido, temia que se divulgada a
extensão do desastre, seus próprios planos nucleares seriam colocados em xeque. Em
1988, foram divulgadas fotos da área de Kyshtym e da planta nuclear, mas somente em

14 East Urals Radioactive Trace

31
1989 a URSS reconheceu o ocorrido, levando a público informações sobre o acidente,
considerado o acidente nuclear mais grave antes de Chernobyl.

5.4. O acidente de SL-1 (EUA, 1961)

Devido a iminência de confrontos entre


os EUA e a URSS durante a Guerra Fria, o
governo estadunidense julgou necessário
instalar bases militares de observação no
Círculo Ártico, que seriam responsáveis por
avisar o comando central do Exército em caso
de indícios de invasões ou ataques soviéticos,
dando aos militares norte-americanos algum
tempo para preparar defesas. Como as bases se
localizariam em áreas remotas, abastecê-las
seria extremamente oneroso e de execução impeditiva, o que criou a demanda para uma
fonte de energia capaz de produzir energia, mesmo que em uma baixa potência, por um
tempo extenso com pouca necessidade de recargas. A solução apresentada foi um reator
nuclear que pudesse ser montado no local, utilizado e depois enviado para outra
localização, e que pudesse funcionar com pouca interferência, diminuindo o custo de
abastecer os postos avançados e gerando energia para estes. Surgiu então o primeiro
protótipo do reator a ser usado nas bases, o SL-15, montado na Instalação Nuclear SL-1
para testar o seu funcionamento. O reator começou seu funcionamento em outubro de
1958, sendo operado por uma equipe especialmente treinada para suas especificações e
procedimentos de segurança. A instalação na qual o reator se localizava era uma
construção cilíndrica de aço de aproximadamente 12 metros de diâmetro e 14 metros de
altura, desenhada para conter apenas baixos níveis de pressão em caso de algum acidente
devido à sua posição remota. O reator, por sua vez, era resfriado à base de água e não era
operado e nem abastecido em sua capacidade máxima, o que por sua vez conferia à haste
de controle central do reator, responsável por absorver nêutrons evitando que colidissem
com átomos livres, o que poderia gerar uma grande quantidade de energia, muito mais
reatividade que em outros desenhos de reatores.
No dia 21 de dezembro de 1960, o reator foi desligado para as festividades de
Natal, como acontecia anualmente, e a equipe especializada que conduzia as operações
entrou de férias, o que vinha acontecendo desde o início do funcionamento. O local passou
então, temporariamente, a ser controlado pela equipe de 3 técnicos de manutenção, que
seriam os responsáveis por ligar de novo o reator no dia 3 de janeiro de 1961. Nesta data,
às 21:01, o reator estava prestes a voltar ao seu funcionamento usual, faltando apenas que
alguns procedimentos fossem tomados. Era necessário retirar a haste central de controle
manualmente alguns centímetros, atingindo o limite seguro de extensão de

15 Stationary Low-Power Reactor Number One

32
aproximadamente 10 centímetros. No entanto, por um motivo desconhecido16, a haste foi
estendida por mais de 50 centímetros, o que causou novas cadeias de eventos de fissão e
fez com que o reator entrasse em criticidade imediata. Nos próximos 4 milissegundos
após a extensão excessiva da haste, foi liberado calor suficiente para que fizesse a água
do reator vaporizar. A quantidade concentrada de vapor do reator gerou uma explosão e
toda a carcaça deste foi arremessada a mais de 1 metro de altura. As hastes de controle e
outras peças foram arremessadas com força suficiente para se alojarem no teto da
estrutura que abrigava o reator.
O operador do reator, o membro do Exército John Byrnes e seu estagiário, Richard
McKinley foram imediatamente arremessados pela explosão, matando Byrnes e ferindo
gravemente Mckinley, que viria a falecer no dia seguinte pelos ferimentos sofridos e a
radiação recebida. O terceiro técnico, o supervisor de turno Richard Legg, que foi o que
estendeu a haste e que estava acima da carcaça do reator, foi empalado e preso ao teto
pelas peças que lá se alojaram, morrendo no mesmo instante.
Um alarme de emergência foi automaticamente emitido para os serviços de atendimento
mais próximos, e as equipes de resgate corajosamente se expuseram a altas doses de
radiação num esforço para salvar os técnicos, que infelizmente foram vítimas fatais do
acidente.
A radiação emitida pelo acidente não causou maiores danos à população devido à
localização afastada da instalação nuclear, no entanto, as equipes de descontaminação
compostas por centenas de pessoas, foram expostas a níveis perigosos de radiação.
O acontecido, além de mudar o design dos reatores montados posteriormente a
fim de evitar ocorrências, iniciou novos procedimentos de segurança que evitem a
possibilidade de uma criticidade imediata, como a movimentação das hastes, que passou
a ser completamente computadorizada. A energia nuclear, antes vista como uma fonte
revolucionária, que forneceria energia limpa praticamente ilimitada e a baixos custos, foi
transformada em uma preocupação pública, e o programa nuclear dos Estados Unidos foi
atingido por uma onda de ceticismo por parte da população, sendo abalado por diversas
manifestações que expunham os riscos que eram gerados pelo uso da radioatividade em
campos pacíficos.

16Especula-se que o técnico não tinha conhecimento adequado sobre o funcionamento da estrutura, ou
que o metal da haste estava corroído, fazendo necessário mais esforço para realizar o procedimento, o
que pode ter induzido o erro. Há uma terceira teoria, explorada em filmes e livros, de que o técnico
responsável pelo procedimento, causou o acidente propositalmente por estar envolvido em um
escândalo conjugal, mas que se provou falsa após a descoberta de que o supervisor que estendeu a
haste e não o outro técnico.

33
5.5. O acidente em Three Mile Island (EUA, 1979)

A Estação Nuclear de Three Mile Island,


localizada em uma ilha perto do rio Susquehanna,
na Pensilvânia, e composta por duas unidades
autônomas, TMI-1 e TMI-2, experienciou o que é
considerado o pior acidente nuclear da história dos
Estados Unidos, grande parte pela repercussão que
alcançou.
No dia 28 de março de 1979, por volta das
4:00, o sistema de resfriamento secundário da
unidade 2 sofreu uma falha, o que sozinho não
representava maiores problemas, mas que causou
um aumento de temperatura no circuito principal de resfriamento do núcleo do reator.
Devido à subida de temperatura, a turbina de geração de energia e também o reator
automaticamente desligaram-se, o que fez com que a pressão no sistema primário, já
sobreaquecido, a subir. Para controlar a situação, uma válvula de alívio remotamente
controlada localizada no topo do pressurizador se abriu, sendo que após a pressão se
normalizar, deveria ter voltado à posição padrão, fechando.
O fechamento, no entanto, não ocorreu, mesmo que os instrumentos na sala de
controle indicassem o contrário. Era mostrado aos controladores que um sinal de “fechar”
havia sido enviado para a válvula, e eles supunham, portanto, que o processo tivesse se
concretizado. Não havia um instrumento mostrando diretamente a posição em que se
encontrava a válvula e, por isso, era impossível detectar o erro, que estava fazendo com
que a água de resfriamento em forma de vapor escapasse pela válvula para o tanque de
drenagem do líquido refrigerante, gerando uma situação de perda de material resfriador
na usina sem o conhecimento dos operadores. Bombas de injeção de alta pressão
começaram, então, a bombear água do sistema reserva, de reposição, dentro do sistema
do reator, o que, considerando que o vapor continuava a escapar, fez com que água de
resfriamento entrasse no pressurizador 17, aumentando o nível de líquido nele.
Com o nível do pressurizador subindo, os operadores concluíram que o sistema
do reator estava com muita água e, portanto, o fluxo de água de reposição foi diminuído18.
A pressão no reator atingiu um patamar tão alto que as bombas de resfriamento
começaram a vibrar e foram então desligadas, deixando o núcleo do reator sem um
sistema que o resfriasse mecanicamente19. Descoberto por água, o núcleo superaqueceu,
atingindo a temperatura de 1300°C, o que gera uma reação entre o zircônio e o vapor,
liberando calor e danificando as hastes de combustível, o que leva ao despejo de conteúdo
radioativo nos fluídos de refrigeração e de lá para o reservatório de contenção.

17 O pressurizador é um tanque, que contém a válvula de alívio, no sistema principal de resfriamento,


responsável por manter a pressão em patamares adequados neste. Em reatores como o TMI-2, a água
no sistema de resfriamento principal ao redor do núcleo não pode ferver, e por isso o pressurizador a
mantém submetida a altas pressões
18 Treinados inadequadamente, os operadores acreditavam que a única variável que influenciava o nível

do reator era a quantidade total de água de resfriamento do sistema. Na verdade, a subida no nível da
água era perfeitamente normal considerando que havia uma abertura na parte superior deste 19 Os
operadores acreditavam que a estrutura ainda estava completamente coberta por água, o que preveniria
um superaquecimento

34
Há mais de 2 horas do início da cadeia desastrosa de eventos na instalação, um
alarme de radiação dispara na área de contenção, fazendo com que os operadores
finalmente percebessem a extensão da gravidade dos eventos que ocorriam. Suspeitando
que talvez tivessem causado uma transferência de radiação pela válvula de alívio, que já
tinha antes do acidente altas taxas de vazamento, os operadores fecharam uma válvula de
bloqueio entre o pressurizador e a válvula de alívio, cessando de vez a perda de líquido
de resfriamento, já contaminado. No entanto, com o fechamento da válvula, a
transferência de calor entre o núcleo e o meio se encerra também, causando com que o
primeiro se aquecesse ainda mais, aumentando também a pressão no sistema primário de
resfriamento. Os controladores inicializam então uma das bombas primárias responsáveis
por enviar água resfriada no gerador de vapor diretamente no combustível extremamente
quente. Isso gera uma dispersão do combustível quente acima do nível da água na carcaça
do reator. Depois de um tempo, a vaporização da água no combustível eleva a pressão no
sistema primário a níveis extremamente perigosos, obrigando os controladores a
reabrirem a válvula de bloqueio, reiniciando o vazamento de água resfriadora, nesse ponto
ainda mais radioativa, e disparando mais alarmes de radiação.
A água vazando para o reservatório de contenção é automaticamente bombeada
para tanques de armazenamento localizados em um prédio secundário, cujas estruturas
não eram herméticas. Os tanques então transbordam, criando uma fonte de vapor
radioativo que possivelmente escaparia da instalação nuclear. Um estado de emergência
é nesse momento disparado, 3 horas e 20 minutos após o início do acidente. A área de
contenção é isolada, encerrando a transferência do reservatório para o prédio auxiliar.
Os operadores da planta reiniciam o sistema de resfriamento a uma baixa potência,
causando um novo choque entre a água fria e o vapor aquecido, retornando o sistema à
vazão usual. O núcleo é finalmente, após 4 horas após o início dos eventos, resfriado,
retornando à temperatura adequada. Nas próximas 12 horas, a tensão não diminuiria,
sendo que o processo de retirar a maior parte do hidrogênio e dos demais gases de fissão,
alternadamente abrindo e fechando a válvula de alívio e reiniciando bombas primárias e
injeções de segurança, que impediam o sistema primário de se preencher completamente
e supostamente poderiam gerar uma explosão massiva19. Às 20:00 do dia 28 de março de
1979, uma quarta-feira, o acidente tinha enfim chegado ao seu desfecho. A descarga de
radiação na atmosfera foi insuficiente para causar maiores danos à saúde ou ao meio
ambiente, sendo impossível correlacionar casos de câncer ao acidente, e tendo sido
necessário apenas isolar a localização da planta em si.
Analisando o quadro geral do ocorrido, nota-se que as causas principais do
acidente foram erros humanos derivados do treinamento inadequado da equipe, falhas nos
componentes e deficiências no desenho da estrutura da planta nuclear, além dos
protocolos de segurança falhos, que não levavam em conta medidas a longo prazo. A
confiança pública no uso pacífico da radioatividade e no campo da energia nuclear foi
profundamente abalada, em grande parte porque as informações repassadas aos cidadãos
minimizavam inicialmente a gravidade das ocorrências, gerando uma impressão na
população de que a NRC21 não era capaz de fiscalizar e manter o funcionamento de
reatores com segurança, além de que estavam tentando encobrir seus erros, ameaçando a
já instável situação econômica do setor. Um ano após o acidente, uma pesquisa
independente apresentou os resultados de que apenas 42% dos entrevistados conseguiam
ver, no futuro, a operação de um reator nuclear de forma segura.

19 Foi posteriormente descoberto que o risco de explosão era quase nulo visto que não havia quantidade
significativa de oxigênio no sistema. 21 Nuclear Regulatory Commision

35
O acidente em Three Mile Island gerou, por final, maior conhecimento sobre a
energia nuclear e um enrijecimento das normas que englobam o campo nos Estados
Unidos. Os designs das instalações nucleares se tornaram mais detalhados, sendo gerados
vários estudos sobre qual seria a configuração mais segura de um projeto nuclear. As
especificações requeridas para operadores de usinas se tornaram mais exigentes, os
treinamentos passaram a ser mais específicos, e as condições de trabalho, englobando o
equipamento e instrumentos de controle, melhoraram. Os protocolos de segurança se
tornaram mais eficazes, prevendo medidas para situações diversas, e a operação da NRC
modificou-se, assumindo um caráter muito mais assertivo, além de que no final do ano
de 1979, foi criada a INPO20, que seria responsável por identificar e fiscalizar problemas
e defeitos na construção e no funcionamento de instalações nucleares. Todas essas
medidas buscavam reconquistar a confiança dos cidadãos estadunidenses no setor da
energia nuclear

•••

6. Acidente de Chernobyl
O Acidente nuclear de Chernobyl, ocorrido em 26 de abril de 1986 devido a uma
explosão no Reator N°4 da Usina Nuclear de Chernobyl (Pripyat, Ucrânia), afetou a vida
de milhares de pessoas irremediavelmente, sendo considerado o pior acidente nuclear da
história mundial.
Os quatro reatores de água pressurizada de Chernobyl, do projeto soviético
RBMK (Reactor Bolsho Moshchnosty Kanalny), eram, segundo o próprio nome, reatores
de canal de alta potência. Muito diferentes dos reatores comerciais normalmente usados
ao redor do mundo, eram capazes de produzir tanto plutônio quanto energia, em um dos
modelos de produção de menor custo existentes. Empregavam um sistema de
funcionamento único, com um moderador de grafite e água como líquido refrigerante.
Como desvantagem, os reatores desse modelo eram extremamente instáveis em baixa
potência, devido ao projeto das hastes de controle e a outros fatores, como o “coeficiente
positivo de vácuo” (positive void coefficient). Se perdessem água de resfriamento, a
produção de energia e as reações em cadeia eram aceleradas, o que oferecia um grande
perigo.
No dia 25 de Abril de 1986, estava previsto o desligamento do reator para uma
manutenção de rotina. Resolveu-se então, aproveitar as circunstâncias do desligamento e
testar se o resfriamento do núcleo do reator continuaria acontecendo de forma adequada
em caso de perda de energia na estação até que a fonte de energia emergencial a diesel se
tornasse operativa. O mesmo teste já havia sido aplicado no ano anterior, em 1985, mas
como não foram obtidos os resultados necessários, decidiu-se realizar novamente este,
numa nova tentativa. Antes do teste, a equipe encarregada deste ordenou o desligamento
do sistema de resfriamento central emergencial do reator, responsável por fornecer água
para a refrigeração do reator no caso de algum incidente. Essa ação, mesmo não afetando
significantemente a cadeia de eventos subsequente, reflete a negligência dos técnicos em
relação à obediência aos procedimentos de segurança recomendados. Com o
prosseguimento dos eventos, o controlador de rede se negou a permitir um desligamento
adicional do reator, argumentando que a energia era necessária para o funcionamento da
rede.

20 Institute of Nuclear Power Operations

36
No entanto, com a insistência dos técnicos da equipe, por volta de 23h ele
concordou com uma nova redução de potência. O reator, que deveria ser estabilizado na
faixa de no mínimo 700 MWt, provavelmente devido a erros operacionais, se encontrava
na faixa dos 30 MWtb por volta de 00h30 do dia 26 de abril. Devido a um conjunto de
circunstâncias não previstas, as tentativas de reestabelecer a potência originalmente
planejada não deram resultados. Nesse processo, várias das hastes de controle foram
retiradas, e às 01h03 o reator se estabilizou na faixa dos 200MWt. Mesmo esse não sendo
o patamar adequado de energia, foi decidida pela equipe a continuação do teste, que
efetivamente iniciou-se às 01h23. As válvulas de parada da turbina de desaceleração
foram fechadas e as bombas acionadas por esta começaram a decair, o que, junto à vazão
reduzida e à entrada de água no núcleo em uma temperatura um pouco acima da ideal,
causou a formação de vácuos na parte inferior do reator. Isso, junto à combustão completa
do xenônio, é considerado como a explicação mais plausível para o subsequente aumento
de energia.
Esse aumento pode ser alternativamente explicado pela inserção das hastes de
controle após o pressionamento do botão de desligamento emergencial (scram button).
Após 43 segundos do início do teste, sinais na sala de controle indicavam que o reator já
atingia o poder de 530 MWt e continuava a subir descontroladamente. Conjuntos de
combustível do reator se romperam, levando a um aumento na geração de vapor, o que,
consequentemente, levou a um aumento ainda maior na potência. Nesse momento, a
situação passou a apresentar grande risco haja vista que danos em apenas três desses
conjuntos teriam sido suficientes para um grande acidente. A ruptura desses elementos
aumentou tanto a pressão no reator que a placa de suporte deste se soltou, esmagando as
hastes de controle que, no momento, estavam apenas parcialmente inseridas. O circuito
de resfriamento do núcleo se despressurizou e a situação, depois de 1 minuto do início
dos testes, já estava crítica, como indicado no registro operacional do engenheiro-chefe
de Controle do Reator na data. Duas explosões se seguiram, a primeira gerada pelo vapor
acumulado após a ruptura dos conjuntos de combustível e dos danos às hastes de controle.
Após cerca de 3 segundos, a segunda explosão, possivelmente causada pelo acumulo de
hidrogênio derivado de reações entre o vapor e zircônio, foi sentida. Materiais estruturais,
o moderador de grafite e combustível foram ejetados, sendo acompanhados pelo início de
uma série de incêndios. O núcleo do reator, já destruído, ficou exposto à atmosfera. Em
Chernobyl, não existiam estruturas de contenção maciças como era o padrão em outras
usinas ao redor do mundo. Sem elas, radiação escapou para o ambiente em grandes escalas.
O acidente foi decorrente de um conjunto de falhas no cumprimento de normas
básicas de segurança que, junto a problemas estruturais nas hastes de controle devido à
construção apressada do reator, agravaram os erros operacionais ocorridos durante o teste.
Como o teste era considerado pela equipe como de pequena escala e ligado à parte não
nuclear da estação, o que se provou inverídico, foi realizado sem a troca de informações
e cooperação entre a equipe
encarregada de realizá-lo e os
profissionais ligados à manutenção e
segurança na planta nuclear. As
precauções e procedimentos de
segurança incluídos no protocolo da
operação eram inadequados e
insuficientes, e os operadores não
foram alertados do potencial perigo e
dos riscos que o teste apresentava.

37
Trabalhadores da Usina Nuclear de Chernobyl

6.1. Cronologia do Acidente


6.1.1. Antes da explosão do Reator 4
Em 1970, se inicia a construção da cidade de Pripyat, na qual seria habitada pelos
trabalhadores da Usina Nuclear de Chernobyl.
Em 1972, ocorrem discussões em Kiev sobre o tipo de usina nuclear a ser
construída em Chernobyl. O engenheiro-chefe da construção da Usina de Chernobyl,
Grigori Medvedev, propõe a construção de reatores de água pressurizada (PWRs). Ele
informa o Ministro de Energia da Ucrânia, Aleksei Makukhin, que um RBMK (um reator
de água fervente) libera quarenta vezes mais radiação do que um PWR. O cientista
Alekzandrov se opõe a isso, dizendo que o RBMK-1000 não era apenas o reator mais
seguro, mas também produzia a eletricidade mais barata. Com isso, decidiu-se construir
os reatores de tubo de pressão RBMK.
Em 1977, o primeiro Reator da Usina Nuclear de Chernobyl começa a operar,
seguido pelo segundo Reator, em 1978
Em 1979, a construção da cidade de Pripyat é finalizada.
Em 1982, um colapso parcial do núcleo ocorre no Reator 1. A extensão do
acidente não foi divulgada até 1985. O reator foi reparado e colocado em operação em
alguns meses.
No dia 20 de dezembro de 1983, o Reator 4 é inaugurado na Usina Nuclear de
Chernobyl. A inauguração foi noticiado pela mídia em 22 de dezembro, um dia festivo
para trabalhadores do setor de energia. Na URSS, era costume que todos os setores de
emprego público tivessem seu próprio dia especial, quando recebiam aclamação pública
pelo seu trabalho e recebiam bônus extras.
Em 1985, Ministro da Energia, Anatoly Mayorets, decretou que as informações
sobre quaisquer efeitos adversos causados pelo funcionamento do setor de energia sobre
funcionários, habitantes e meio ambiente não eram adequadas para publicação em jornais,
rádio ou televisão.
Em fevereiro de 1986, Vitali Sklyarov, Ministro do Poder e Eletrificação da
Ucrânia, em referência aos reatores nucleares na Ucrânia, é citado na revista Soviet Life
dizendo: “As chances de um colapso são de uma em 10.000 anos. As usinas têm controles
seguros e confiáveis que são protegidos de qualquer falha com três sistemas de
segurança”.
No dia 27 de março, um artigo escrito por Lyubov Kovalevska (supostamente
gerente sênior da Usina Nuclear de Chernobyl) é publicado. Nesse artigo, ela escreve que
a construção, o acabamento e o concreto de baixa qualidade, juntamente com furtos e
incompetência burocrática estão criando uma bomba-relógio. Ela afirma que: “As falhas
aqui serão reembolsadas, pagas nas próximas décadas”.
Na noite do dia 25 de abril de 1986, o Reator 4 estava programado para ser
desligado para manutenção de rotina. Foi decidido usar essa oportunidade para se fazer o
teste com o Reator.
Na madrugada do dia 26 de abril de 1986, o teste realizado falhou, ocasionando a
explosão do Reator 4 e emitindo grandes quantidades de radiação.

38
O Reator 4 depois da explosão

6.1.2. Depois da explosão do Reator 4


Os primeiros bombeiros, trabalhadores e jornalistas que chegarem ao local foram
expostos a doses letais de radiação e foram as primeiras vítimas de Chernobyl
A cidade mais próxima à usina era Pripyat, localizada a apenas três quilômetros
dali e com uma população de 43.000 habitantes. No dia seguinte após a explosão, os
moradores ficaram expostos a uma radiação 50 vezes maior do que a considerada normal
na atmosfera. Naquele ritmo, em quatro dias a exposição poderia levar à morte de todas
as pessoas da cidade.
O nível de radioatividade começava a subir e os moradores de Pripyat tinham que
ser retirados da cidade. Os moradores receberam duas horas para recolher seus pertences.
A evacuação dos 43.000 residentes de Pripyat levou 3,5 horas, usando 1.200 ônibus de
Kiev. Os moradores lembram que todos estavam com pressa, mas ninguém estava em
pânico. Os moradores de Pripyat foram solicitados a levar com eles apenas o que era
necessário por dois ou três dias, alguma comida, uma troca de roupas íntimas e seus
documentos de identidade.

“Pela atenção dos moradores de Pripyat! A Câmara Municipal informa que devido ao
acidente na usina de Chernobyl, na cidade de Pripyat, as condições radioativas nas
proximidades estão se deteriorando. O Partido Comunista, seus funcionários e as forças
armadas estão tomando as medidas necessárias para combater isso. No entanto, com o
objetivo de manter as pessoas tão seguras e saudáveis quanto possível, sendo as crianças
a principal prioridade, temos de evacuar temporariamente os cidadãos nas cidades mais
próximas do Oblast de Kiev. Por essas razões, a partir de 27 de abril de 1986, às 14h,
cada prédio poderá ter um ônibus à sua disposição, supervisionado pela polícia e pelos
funcionários municipais. É altamente aconselhável levar seus documentos, alguns
pertences pessoais vitais e uma certa quantidade de comida, para o caso, com você. Os
executivos seniores das instalações públicas e industriais da cidade decidiram sobre a lista
de funcionários que precisavam permanecer no Pripyat para manter essas instalações em
bom estado de funcionamento. Todas as casas serão guardadas pela polícia durante o
período de evacuação. Camaradas, deixando suas residências temporariamente por favor,
certifique-se de ter desligado as luzes, equipamentos elétricos e água e feche as janelas.
Por favor, mantenha a calma e a ordem no processo desta evacuação a curto prazo.”

Um trecho do anúncio de evacuação da cidade de Pripyat

39
Daqueles que tentaram voltar mais tarde, tendo percebido que Pripyat estava
perdido para sempre, para buscar pertences de afeto, alguns tiveram sucesso, mas muitos
mais encontraram edifícios com alarme e militares armados.
O governo criou uma zona de
exclusão em um raio de 30 quilômetros em
torno do reator que explodiu, afetando a cidade
de Chernobyl e pequenas comunidades. 130 mil
pessoas tiveram que se mudar. Toda essa área
foi abandonada e se tornará inabitável para o ser
humano por algumas décadas.
Evacuação da cidade de Pripyat

Os moradores tinham sido expostos a doses altas de radiação que poderiam alterar
a composição do sangue e provocar diversos tipos de câncer. Enquanto isso, o vento
começou a levar nuvens de partículas e poeira radioativas para o norte da Europa,
afetando uma região de mais de mil quilômetros. Florestas vizinhas foram queimadas por
causa da radiação, que também provocou uma queda acentuada na vida selvagem.
O reator continuava a queimar. Uma operação militar gigantesca foi montada para
apagar o incêndio. A solução foi despejar, com a ajuda de helicópteros, toneladas de
chumbo e areia para tentar conter o fogo, evitando que a radioatividade se espalhasse
ainda mais. Apenas no dia 6 de maio, o fogo foi controlado.
Helicópteros jogando toneladas de material para
tentar conter o fogo no Reator 4

A maioria dos soldados que participou das


missões de emergência morreu por causa da
exposição à radiação. Em semanas, as vítimas
começaram a surgir nos hospitais, com problemas
como a deterioração da medula óssea e
queimaduras profundas pelo corpo.
No dia 28 de abril, às 9 :30, a equipe da
Usina Nuclear de Forsmark, na Suécia, detectou
um surto perigoso de radioatividade. Inicialmente
recolhido quando uma verificação de rotina revela
que os sapatos de sola usados por um engenheiro
de segurança radiológica na fábrica eram
radioativos. Às 21 :03, noticiários da TV de
Moscou anunciam que ocorreu um acidente na
Usina Nuclear de Chernobyl.

“Medidas estão sendo tomadas para eliminar as consequências do acidente. A ajuda está
sendo dada aos afetados. Uma comissão do governo foi criada”.
Trecho dos noticiários da TV de Moscou

Às 23:00, um laboratório de pesquisa nuclear dinamarquês anuncia que ocorreu


um MCA (acidente de máxima credibilidade) no reator nuclear de Chernobyl. Eles
mencionam um derretimento completo de um dos reatores e que toda a radioatividade
foi liberada.

40
No dia 29 de abril, a primeira informação real no mundo ocidental ocorreu na
manhã de terça-feira, quando um poderoso satélite de reconhecimento americano
forneceu aos analistas de Washington fotos de Chernobyl. Ficaram chocados ao ver o
teto estourado acima do reator e a massa incandescente ainda fumegando. As primeiras
fotos soviéticas do acidente de Chernobyl foram censuradas pela remoção da fumaça
antes de serem impressas nos jornais. Autoridades polonesas decidem distribuir
comprimidos de iodo no nordeste do país para bebês e crianças para protegê-los do
câncer de tireoide.
No dia 1 de maio, o vento mudou de direção e agora está soprando na direção da
capital ucraniana, Kiev. Desfiles anuais do 1º de Maio realizados em Kiev e na capital
de Belarus, Minsk, para enfatizar que tudo estava “normal”.

Parque fechado na Alemanha Oriental devido


à grande quantidade de radiação

No dia 5 de maio, um aterro começa a


ser construído no Rio Pripyat para tentar evitar
que ele seja contaminado.
Dia 23 de maio, o governo Soviético
ordenou a distribuição de solução de iodo à
população.
Em novembro, o Sarcófago que abriga o reator foi concluído. Ele destina-se a
absorver a radiação e conter o combustível remanescente. Considerado uma medida
provisória e construído para durar de 20 a 30 anos, seu maior problema é a falta de
estabilidade, pois, como foi construído às pressas, há risco de ferrugem nas vigas
Apesar do acidente, vale considerar que a Usina Nuclear de Chernobyl ainda
continuou em funcionamento após o acidente.

Construção do Sarcófago no
Reator 4

•••

7. Os impactos do acidente
O acidente teve uma repercussão em escala global, causando grandes impactos
sociais, econômicos e, principalmente, ambientais.
O ex-presidente, Mikhail Gorbachev destacou que o preço da catástrofe "foi
incrivelmente alto, não só em relação a perdas humanas, mas também no âmbito
econômico".

41
7.1. Impactos sociopolíticos
Muito mais do que apenas pelos efeitos causados devido às descargas de radiação
na atmosfera, o acidente de Chernobyl é marcante pelos impactos sociopolíticos que
desencadeou.
Na esfera política, o acidente trouxe à tona movimentos de cunho ambientalista
que contestavam os planos de Moscou para a expansão do poder nuclear, tanto para fins
pacíficos quanto em armamentos, na próxima década. Grande parte da população passou
a questionar o uso da energia nuclear, colocando o segmento em xeque. Também levou,
principalmente em áreas próximas a Chernobyl, a uma desconfiança dos cidadãos
soviéticos em relação ao regime de Gorbachev e sobre sua capacidade de realmente
proteger a URSS e responder ao acidente, o que se deve em grande parte pelo seu extenso
silêncio após o ocorrido, só se pronunciando dia 28 de março. Enquanto entre o povo,
deixado no escuro, sem informações concretas, espalhavam-se rumores de que a radiação
era contagiosa e de que beber álcool protegia da contaminação, Gorbachev, em seu
discurso, era omisso em relação a Chernobyl, dirigindo sua fala para a questão das armas
nucleares. O acidente fez também com que, mesmo com a política da glasnost, o regime
voltasse a políticas secretas, o que foi posteriormente duramente repreendido tanto pelo
povo soviético quanto pelas civilizações ocidentais, que acusavam Gorbachev de
esconder e atrasar a transmissão de informações cruciais. Um dos grandes exemplos do
caráter secreto em que as informações eram tratadas foi o fato de que os mais de dois
milhões de habitantes da cidade de Kiev, a pouco mais de 100km do sítio do reator, só
foram informados sobre o risco que corriam 9 dias depois do acidente, enquanto as
famílias de membros do alto-escalão já haviam sido há muito evacuadas para outras áreas,
muitas vezes em outros países. Devido aos gastos decorrentes do acidente, Gorbachev
não conseguiu também cumprir com muitas de suas propostas, como programas sociais
incluindo melhores moradias e atendimento de saúde, o que aumentou o já existente
descontentamento com seu regime, que teve sua legitimidade questionada por alguns.
Já na esfera social, os maiores impactos de Chernobyl atingiram os cidadãos
evacuados de áreas próximas a Pripyat. Como não foram repassadas ao povo informações
adequadas sobre os reais perigos da radiação, pôde-se notar entre a população uma espécie
de radiofobia, ou seja, um pavor em relação a radiação, o que agravou o preconceito
sofrido pelos que foram realocados. Mesmo que, em alguns casos, recebessem casas
novas e pudessem escolher a localidade em que passariam a viver, a experiência ainda
representava um grande trauma. Na maioria dos casos, no entanto, os realocados iam para
a cidade em que fossem selecionados pelo governo, muitas vezes não tendo condições
básicas de moradia, e não conseguindo recuperar sua antiga condição econômica. Há
diversos relatos em que se percebe que o processo de evacuação não foi organizado e
calmo como noticiado pelo governo. Neste, é possível tomar conhecimento de casos em
que famílias foram separadas e nunca mais conseguiram se localizar tendo até mesmo
ocorrido eventos nos quais crianças foram separadas de seus pais e esses não puderam
sequer saber para qual localização seus filhos seriam enviados. Os que passaram pelo
processo da evacuação sofriam, na maioria das vezes, preconceito quando chegavam ao
locar designado, sendo vistos por alguns como um risco, sendo marginalizados na
sociedade. Em Omsk, por exemplo, onde um grande número de pessoas foi realocado,
circulavam piadas ofensivas que refletiam o sentimento dos habitantes em relação aos
recém-chegados, que colateralmente, agravaram o problema já existente das faltas de
moradias na cidade

42
“Você vive como uma pessoa normal. Uma pessoa comum. Assim, como todo mundo à
sua volta: vai ao trabalho e volta para casa. Recebe um salário médio. Uma vez por ano,
você sai de férias. Você tem mulher. Filhos. É uma pessoa normal! E de repente, de um
dia para o outro, você se torna um homem de Chernobyl. Um animal raro! Uma coisa que
interessa a todo mundo, mas que ninguém conhece. Você quer ser como todas as pessoas,
mas isso não é mais possível. Não há como voltar ao mundo anterior. Você passa a ser
olhado de forma diferente. As pessoas lhe perguntam: ‘Lá foi tão terrível assim? Como
foi o incêndio da central? O que você viu? ’. Ou, por exemplo: ‘ Você pode ter filhos? A
sua mulher o abandonou? ’. Nos primeiros tempos, todos nós nos tornamos raridades em
exposição. A própria expressão ‘homem de Chernobyl’ até hoje funciona como sinal
acústico. Todos giram a cabeça na sua direção. ‘Você é de lá! ’ Esse foi o sentimento dos
primeiros dias. Nós perdemos não a cidade, mas a nossa vida inteira”.

Relato de Nikolai Fomítch Kalúguin, ex-residente de Pripyat

7.2. Impactos ambientais


Como todo acidente envolvendo radiação, Chernobyl trouxe consequências
graves para a região, afetando diversos aspectos do ecossistema local. Tanto a fauna
quanto a flora e os próprios componentes físicos do local foram afetados de alguma forma
pelo desastre.
Com os incêndios e todo o evento do derretimento do reator foram liberadas
grandes quantidades de radiação na atmosfera da região, sendo que esta continuou sendo
liberada por, no mínimo dez dias. Todas estas partículas radioativas foram, então,
carregadas pelo vento alcançando grandes distancias, chegando a serem detectadas até na
região do Reino Unido e se espalhando por toda a Europa através das chuvas.
Nas regiões urbanas esta radiação se depositou nas paredes de prédios e em áreas
abertas como parques e praças, onde entraram em contato direto com o solo e com a
vegetação. Já nas regiões rurais a deposição do material radioativo em plantas e no solo
levou a contaminação de animais que se alimentavam destes, tanto os de criação quanto
os silvestres, e o próprio fluxo natural das chuvas levou a contaminação de rios e outros
ambientes aquáticos.
• Fauna
Contaminados pela radiação os animais começaram a sofrer mutações de diversas
naturezas, levando a morte muitas formas de plantas e animais e tornando outros estéreis,
além de gerar doenças como o câncer a longo prazo e, portanto, afetando fortemente o
equilíbrio ecológico dessas regiões, causando grande número de mortes de espécies a
princípio. Posteriormente com a migração de animais de regiões não contaminadas este
quadro começou a se estabilizar.
As populações de peixes foram especialmente afetadas pela radiação por estarem
em contato constante com essa, sofrendo alterações bruscas em sua taxa de variabilidade,
assim como outros animais aquáticos e alguns invertebrados. Com as altas concentrações
de materiais radioativos dentro dos animais devido a sua alimentação, estes foram se
propagando, afetando todos os tipos de organismo da cadeia alimentar, desde os
herbívoros até carnívoros.
A radiação liberada também afetou fortemente a flora das regiões contaminadas,
principalmente plantas como as coníferas, muito comuns na região. Um dos exemplos
mais marcantes desta ação é o caso da Floresta Vermelha, em que, em cerca de quatro
quilômetros de floresta de coníferas que ficavam próximos a região do acidente, as

43
arvores começaram a adquirir uma coloração avermelhada após o acidente e morreram
devido a contaminação radioativa.
Fungos, enquanto agentes decompositores também foram extremamente afetados
pela radiação, concentrando altíssimas quantidades de radiação em seu organismo, o que
pode ser extremamente prejudicial a eles e quem se alimenta deles. Em ambientes
aquáticos as algas também foram bastante afetadas, aumentando ainda mais a
contaminação de espécies deste ambiente.

7.3. Impactos econômicos


O acidente nuclear de Chernobyl não foi apenas uma enorme tragédia humana e
ambiental, como também uma fator de abalo econômica que atingiu principalmente o
mundo socialista, mas também ecoou nas economias capitalistas. Sua ocorrência deu-se
em um momento em que a situação econômica global estava frágil: a URSS e seus estados
satélites colhiam os efeitos de seus altos gastos com as disputas da Guerra Fria,
ocasionando uma recessão e desabastecimento de bens de consumo generalizados. O
mundo capitalista, por sua vez, colhia ainda efeitos das duas catastróficas crises do
petróleo, enquanto a maioria dos países estava realizando uma incerta transição entre o
modelo socialdemocrata e o neoliberalismo. Os países latinos colhiam o efeito econômico
negativo de governos ditatoriais de direita ou esquerda, os quais geraram uma crise
causada por alto endividamento resultante de excessivos gastos.
Na URSS, os efeitos foram sentidos de imediato, e pioraram posteriormente. Uma
enorme orçamento foi planejado e seria destinado para: reassentar a população afetada;
criar uma zona de exclusão de 30 km ao redor do local onde o acidente ocorrera; construir
um sarcófago, o qual, posteriormente, seria substituído pela proposta vinda da Europa de
construir um reator novo extremamente vedado, que custaria 2,35 bilhões de euros caso
fosse concluída em 31 anos (2017); custear o tratamento de pessoas contaminadas pelos
problemas de saúde ocasionados, sobretudo o câncer de tireoide, que atingiu em torno de
4000 crianças que ingeriram leite contaminado; realizar estudos e ações de remoção dos
altos níveis de radiação no ambiente; e investir em pesquisas para gerar novas técnicas
agrícolas que pudessem produzir produtos não contaminados, levando-se em conta a alta
dependência das províncias menos desenvolvidos na parte europeias da URSS
(Bielorrússia, Ucrânia s Moldávia) da exportação de bens agrícolas. Muitas áreas outrora
utilizadas para a atividade agrícola tornaram-se ociosas, e inúmeros países dos dois blocos
econômicos suspenderam a compra de diversos alimentos provindos da região. Afirma-
se que o orçamento só não atingiu níveis impagáveis devido ao fato de ter ocorrido em
uma área próxima ao meio rural e à fronteira Belarus-Ucrânia. O acidente norte-
americano de Three Mille Island, por exemplo, teve um custo mais elevado devido à sua
ocorrência em área urbana. Os governos locais da Bielorrússia e Ucrânia propuseram que
os futuros países passassem a destinar, respectivamente, 6% e 5% de seu PIB em
indenizações ambientais, sociais e na área da saúde para as vítimas. Vale ressaltar
novamente que todo o prejuízo supracitado ocorreu em uma época de crise econômica na
URSS. É calculado que, resultante do acidente, a Ucrânia teve um prejuízo de 240 bilhões
de dólares, e a Bielorrússia, de 235 bi.
No restante do mundo, Chernobyl representou uma catástrofe econômica de
grandes proporções. Poucos dias após sua ocorrência, as ações da bolsa de valores de
Nova York, já prejudicadas pela instabilidade econômica no mundo capitalista,
despencaram ainda mais devido ao temor dos investidores em relação à indústria de
energia e armas nucleares norte-americana, as quais poderiam ter um enorme prejuízo,
haja vista que a insegurança instalada pelo impacto de Chernobyl colocou em cheque a

44
continuidade do projeto nuclear em todos os países. O preço de diversas commodities
presentes na pauta de exportação soviética decaiu, com destaque para grãos, carne e
algodão. Muitos economistas nesse momento preveem uma crise tão forte quanto ao
choque do petróleo de 1973. Se muitos países europeus pensavam em reduzir a queima
de combustíveis fósseis e substituí-la por energia nuclear devido à crise do petróleo, a
nova instabilidade prevista traria a desesperada discussão sobre outros tipos de energia,
ou, de imediato, abalaria a produção mundial, visto que a eficiência da energia nuclear no
processo produtivo seria subitamente perdida. Um efeito mais grave ainda seria o
aumento do preço de quaisquer fontes de energia, visto que a demanda energética seria
aumentada para contornar a crise. Caso esse aumento de preços ocorresse, haveria um
aumento da inflação nos países capitalistas, dessa maneira, a solução imediata seria
aumentar as taxas de juros, o que tornaria inviável para muitas empresas contraírem
empréstimos bancários para suas atividades e investimentos, e até para famílias pegarem
empréstimos para financiar a casa própria. Em resumo, seria uma reação em cadeia. No
ano em que esse comitê se passa (1986), os economistas do mundo fazem todas essas
previsões e estão desesperados para adotar soluções de como revertê-las.
Vale ressaltar que, na época do desastre, a gestão Reagan nos EUA, em parceria
com Israel, planejava um “Plano Marshall para o Oriente”, que consistiria em financiar
estados árabes que tivessem uma posição moderado no conflito Israel-Palestina (vide
Arábia Saudita, Catar, Omã e Emirados Árabes), no intuito de conseguir um retorno
financeiro para investir no combate ao terrorismo na Líbia, além de aumentar o acesso ao
petróleo da região, evitando que, futuramente, houvesse um novo embargo como o de 73.
Com a catástrofe de Chernobyl e seu consequente aumento por demanda energética, os
EUA viu-se mais desesperado em fazer o mundo aprovar tal plano, visando agora, mais
do que nunca, uma obtenção rápida e farta de petróleo que pudesse suprir a necessidade
americana.
Por fim, é importante frisar que os países do Terceiro Mundo, endividados, tinham
agora maior pressão para pagarem suas dívidas, visto que o Primeiro Mundo necessitava
de dinheiro para evitar a crise. O FMI passava agora a ser credor de muitos países do
bloco socialista, que necessitavam de empréstimos para solucionar os prejuízos do
acidente e iniciar sua transição para a economia capitalista.

7.4. Impactos biológicos


O acidente de Chernobyl expôs um grande número de habitantes da área,
voluntários e militares a grandes doses de radiação, muito acimas das seguras à saúde.
Animais silvestres na localidade em volta da instalação nuclear foram afetados,
contaminados pela radiação no ar e nas plantas componentes de suas dietas, e muitos
desses, nos anos seguintes ao acidente, sofreram mutações, além do desaparecimento de
algumas espécies da região.
Imediatamente após o acidente, foram empenhados 350.000 trabalhadores, os
chamados liquidadores. Entre eles se encontravam militares, funcionários da planta
nuclear, bombeiros, policiais locais e voluntários, que ficaram encarregados dos esforços
iniciais de limpeza e descontaminação da área ligados à contenção de danos, no período
de 1986 e 1987. Destes, por volta de 240.000 receberam as mais altas doses de radiação,
haja vista que trabalharam no raio de 30km, o mais próximo do reator. Alguns desses, por
volta de 134, enviados ao telhado do reator ou trabalhando perigosamente próximo dele,
mesmo com os equipamentos de segurança e períodos curtos de trabalho, receberam tão
altas doses que foram diagnosticados com síndrome aguda da radiação, que levou 28
destes à morte. Englobando também os trabalhadores da descontaminação após 1987, o

45
número chega a quase 600.000, mas apenas um pequeno número destes outros recebeu
frações de radiação que gerassem riscos à saúde. Considerando o grupo geral dos
liquidadores, o principal efeito na saúde foi a duplicação na taxa de susceptibilidade a
casos de leucemia.
Ainda em 1986, logo após o acidente, 116.000 cidadãos foram evacuados de suas
moradias, sendo que nos anos subsequentes, outras 230.000 pessoas foram realocadas
para áreas não contaminadas. Entres essas, observa-se a prevalência de distúrbios
psicológicos associados ao preconceito que sofreram e à imagem que desenvolveram de
si próprios, sendo percebidos como “pessoas contaminadas” ou como os “homens de
Chernobyl” ou ainda “os expostos”. Nos anos seguintes ao acidente, espalharam-se boatos
e informações não condizentes com a realidade, além de rumores associando quaisquer
problemas de saúde à radiação de Chernobyl, espalhando um grande temor na sociedade
em relação ao acidente e aos afetados por ele, seja os liquidadores, os moradores de áreas
próximas ou os que foram evacuados.
Até hoje, na Federação Russa, na Ucrânia e em Belarus, vivem cerca de 5 milhões
de pessoas em áreas contaminadas de baixo risco. Em localidades consideradas críticas
pela contaminação por césio, vivem por volta de 270.000, que recebem continuamente
radiação em níveis maiores do que em áreas não afetadas.
Na tabela ao lado, mostra-se o nível de
exposição à radiação em sievert21 acumulados em
20 anos (1986-2016). Para fins de observação, os
liquidadores mais expostos receberam nesse
período aproximadamente 100 mSV, o
equivalente a pouco mais de 9 tomografias de
corpo inteiro.
Apenas os liquidadores e os residentes de
áreas de risco (SCZs) receberam doses
consideravelmente acima aos níveis de radiação
normalmente recebidos por qualquer um em sua
vida habitual.
Por fim, a ocorrência de problemas de
saúde nas populações afetadas por Chernobyl,
especificamente os moradores de áreas
contaminadas e os que foram evacuados, é
percebida principalmente por um aumento
significativo nos casos de câncer de tireoide
daqueles que eram crianças e adolescentes
residentes de áreas próximas ao reator na época do
acidente. Isso foi em parte, influenciado pelo iodo
radioativo depositado no leite e ingerido pelas crianças, o que agravado pela deficiência
de iodo na dieta dessa região, fez com que o isótopo radioativo se acumulasse na tireoide.
Se a ingestão do leite não tivesse ocorrido nos meses seguintes ao do acidente, o aumento
de casos de câncer de tireoide provavelmente não ocorreria. Na Rússia, Belarus e Ucrânia,
foram diagnosticados 5.000 casos dessa doença nesse grupo.

21 Sievert é uma unidade de medida que leva em conta a quantidade de radiação ionizante absorvida, o
tipo de radiação e a susceptibilidade dos diversos órgãos e tecidos ao dano. No caso específico de
Chernobyl, a quantidade de radiação absorvida, medida em Grays (Gy) é semelhante à radiação
efetivamente recebida, medida em sieverts (Sv)

46
Em todos os indivíduos expostos, observa-se também um aumento na prevalência
de catarata e mortes por problemas cardiovasculares, além de impactos na saúde mental
desses indivíduos.
Nos 3 grupos que mais receberam radiação, os liquidadores, os evacuados e os
moradores de áreas estritas, estima-se, segundo diversos estudos, aproximadamente 4.000
casos extra de câncer associados ao acidente, o que corresponde a um aumento de
aproximadamente 4% na prevalência de câncer em indivíduos desse grupo.

•••

8. Dossiês

República Federal da Alemanha (Alemanha Ocidental) (Pró EUA)

A Alemanha Ocidental é parte reservada as nações


capitalistas após a divisão da Alemanha com as
conferências de Teerã e Yalta. Portanto, é uma região
com forte influência dos Estados Unidos, Inglaterra e
França, nações encarregadas da administração da
República Federal da Alemanha.
Esta divergência ideológica gerou um longo
conflito entre as duas Alemanhas no período em que elas buscavam reconhecimento.
Porém, a adoção de medidas que buscavam a normalização das relações entre as duas
Alemanhas (como a Ostpotlitik, na década de 70) resultou no abandono da Doutrina
Hallstein, que rompia as relações diplomáticas entre a Alemanha Ocidental e qualquer
país que reconhecesse a Alemanha Oriental, resultando em uma aproximação gradual
desses 2 Estados. Com o apoio das potências capitalistas, a Alemanha Ocidental
começou um grande crescimento econômico, conhecido como o milagre Alemão,
levando a forte industrialização da região e a um crescimento considerável na demanda
energética, suprida pelo uso de energia nuclear, mesmo contra a opinião pública.

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República Democrática da Alemanha (Alemanha Oriental) (Pró URSS) A
Alemanha Oriental era, inicialmente, a zona do
território alemão derrotado e ocupado pós Segunda
Guerra que coube à URSS, tornando-se uma república
independente em 1949. Juntamente com a
Checoslováquia, era um dos países mais ricos da região,
com um crescimento anual de 5%, apesar das
consequências do pós-guerra, com uma crescente
indústria automobilística, cinematográfica e siderúrgica, além do turismo, impulsionado
pela reconstrução e conservação de monumentos antigos históricos, datados, por
exemplo, do antigo Império Saxão. Foi um dos países do bloco Oriental que não
apresentou desabastecimento, visto que havia relações comerciais mais abertas com
países do ocidente, até mesmo a Alemanha Ocidental, além de portos e ferrovias terem
sido construídos e ampliados faculitando o escoamento de manufaturas. Havia, porém,
forte combate ao capitalismo através da adoção de diversas medidas, como o subsídio
de preços, o fechamento de muitas lojas e entidades privadas e a criação de empresas
coletivas. A energia vinha majoritariamente da compra do petróleo soviético por um
preço mais baixo do que o preço de mercado, fato que cessou durante a crise soviética
de 1980, o que gerou desabastecimento energético no país. Possuía algumas usinas
nucleares de baixa potência e com perceptíveis falhas de segurança, além de poucas
minas de carvão, e, no momento do comitê, planeja construir a usina de Stendal, a qual
seria a maior fonte de energia nuclear nas duas Alemanhas. Assinou um tratado com a
Alemanha Ocidental comprometendo-se a não produzir nem permitir a entrada de armas
nucleares no país, além de ter ratificado o Tratado de Não Proliferação. Portanto, a nação
é contra o armamento nuclear em quaisquer circunstâncias.

República Socialista Soviética da Bielorússia (Membro Observador

A República Socialista Soviética da Bielorrússia, uma das repúblicas constituintes da


URSS desde 1922, faz fronteira ao oeste com a Polônia, ao leste com a RSFS da Rússia,
ao norte com a RSS da Lituânia e a RSS da Letônia e ao sul com a RSS da Ucrânia. Tem
a economia predominantemente baseada na indústria bélica, na indústria de maquinaria
pesada, além da produção de bens de consumo como rádios e televisores. A Bielorússia
depende da RSFS da Rússia no que tange à disponibilidade de gás natural, e na década
de 60 foi descoberto petróleo na parte sudeste da república, que é explorado pela estatal
soviética “Glavtransneft”. Além do petróleo, a república tem uma das maiores reservas
de sais de potássio em todo o mundo, perto da capital Minsk. Já teve ogivas nucleares
soviéticas armazenadas em seu território, mas há uma tendência de reprovação no que diz
respeito à proliferação nuclear no país. Em 1983, começou a construção de sua primeira
usina nuclear, que se tornou uma usina termal após o acidente nuclear na vizinha Ucrânia.
A Bielorrússia foi fortemente afetada pelo acidente de Chernobyl, tendo grande parte de
seu território contaminado pela radiação, o que afetou gravemente sua produção agrícola.

48
Os custos estatais com saúde aumentaram devido a doenças decorrentes da radiação, além
de que o medo da radiação e seu efeito em futuras gestações levou a uma diminuição da
taxa de natalidade do país.

República Federativa do Brasil (Neutro)

O Brasil, com seu PIB per capita de cerca de U$1640,00, é uma república da
América do Sul. No Brasil predominam formas de produção de energia elétrica de
diversas naturezas, com destaque para a energia hidrelétrica amplamente utilizada no
país devido à gigantesca disponibilidade de recursos hídricos. Com os problemas
associados ao petróleo também ocorreu um crescimento rápido do uso da biomassa
como forma de energia, devido a incentivos governamentais e a disponibilidade de
recursos com a agricultura extensiva da região. Recentemente o Brasil revelou-se um
dos detentores de métodos para a produção de energia nuclear. Recém-saído de um
regime militar, o país neste período ainda passa por um estado de transição entre
regimes políticos.
República Socialista da Checoslováquia (Pró URSS)

A Checoslováquia foi um país localizado no centro da Europa, em uma região que


concentra uma abundância de minas de carvão e ferro. Em 1948, sofreu um golpe de
estado de viés comunista, visto que a URSS temia perder sua influência local devido: à
existência de partidos de diferentes ideologias; ao forte sentimento anticomunista no
leste; e à vontade do país em aderir ao plano Marshall. Foi imposto um governo
socialista militarizado. A economia tcheca sempre foi mais desenvolvida do que o
restante da Europa Oriental, marcada por uma industrialização responsável por 60% das
receitas econômicas e um PIB per capta superior a de determinados países da Europa
Ocidental. Era a única nação produtora de equipamentos nucleares no Leste Europeu.
Devido à sua forte industrialização, sempre necessitou de grande quantidade de energia,
não sendo possível apenas o uso das reservas de carvão, as quais não fornecem energia
suficiente como petróleo e gás natural, os quais eram importados da URSS, a preço
muito mais barato que o preço de mercado. A discussão sobre o uso desse tipo de
energia expande-se em 1985, com a descoberta de uma significativa reserva de gás
natural em Gbely. A energia nuclear no país foi introduzida com a inauguração do reator
KS 150 na usina de Bohunice, o qual operou até 1977, quando ocorreu um grave
acidente durante o reabastecimento do reator A-1 NPP, com a liberação de gases
radioativos em uma área aproximada de 48 km2 e foi acobertado pelo governo local.

49
Posteriormente, houve instalação da usina de Tremlin, próxima à fronteira com a
Áustria, gerando conflito com a nação vizinha, visto que a usina apresentava um design
semelhante ao usado em Chernobyl, tendo sido submetida à adaptações isoladas para
garantir a segurança dos trabalhadores. Já a usina de Dukovany, recém-inaugurada
(1985), possui uma alta capacidade energética e grande confiabilidade, fato que levou o
governo a estimar que, até os anos 2000, a energia nuclear poderia suprir cerca de 30%
da demanda local. O acidente nuclear de Chernobyl acentuou fortemente a discussão
sobre o uso de energia nuclear no país, um ano depois da construção de sua mais
poderosa usina. Tal fato ocorre devido aos impactos do acidente no país: houve uma alta
concentração no ar de elementos radiativos, a qual apenas voltou ao nível adequado nos
anos 90; um crescimento de 2% ao ano nos casos de câncer de tireoide, taxa superior a
de outros países contaminados no leste europeu, visto que o impacto de Chernobyl
localmente somou-se à herança do KS 150, além de diversos casos de leucemia
registrados; houve relatos de contaminação em alimentos como a famosa carne de javali;
e diminuiu-se a compra de produtos agrários vindos da URSS. Quanto às armas
nucleares, o próprio presidente tcheco afirma que o exército soviético, ao ocupar a nação
em 1968, instalou tal armamento em 3 bases militares secretas soviéticas no território
checo. O exército checo nunca teve acesso a tal armamento, que estava no local devido à
proximidade do país com a Europa Ocidental. A população local, com um ideal
altamente ligado aos movimentos em prol do combate ao autoritarismo e à intervenção
soviética, condena o uso de tal armamento, e o Estado ratificou o acordo de não
proliferação, em 1968. Apesar de apoiar os acordos feitos pelas grandes potências, como
o SALT I e II, é fiel à URSS ao alegar que as atuais propostas dos EUA representam
uma armadilha para deter o pesado armamento soviético sem desarmar o ocidente.
Busca, portanto, a existência de um acordo que seja benéfico à todas as nações.

República Popular da China (Neutro)

A China é uma república socialista e o país mais populoso do mundo. Na década


de 1980, o país estava sob o governo de Deng Xiaoping, que foi responsável por reformas
econômicas grandiosas e por abrir o mercado chinês para a economia global, formando
um socialismo próprio chinês.
Quando se trata de poder nuclear na China, em 1955, foi criada a Corporação
Nacional Nuclear da China, que supervisionou corporações, fabricantes, instituições,
institutos de pesquisa e usinas relacionadas a energia nuclear do país, incluindo aquelas
relacionadas a armas nucleares. Em 8 de fevereiro de 1970, a China emitiu seu primeiro
plano de energia nuclear, e o Instituto 728 foi fundado.
A cisão sino-soviética (1956-1966), um rompimento das relações politicas entre a
China e a URSS causada por divergências doutrinárias, concedeu a China uma posição
neutra diante do desastre de Chernobyl, visto que era considerada “uma nação amiga e
em desenvolvimento” pelos Estados Unidos, mas não deixava de ser socialista.

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República de Cuba (Pró URSS)

Cuba ganhou sua independência em 1898 após a guerra Hispano-Americana em


que os Estados Unidos venceram, liberaram a ilha, e a alinharam aos ideais capitalistas
americanos. Dos anos de 1953 a 1959 o país passou pela revolução cubana, com seu
líder Fidel Castro que instaurou o comunismo na ilha. Em 1960 a União Soviética, após
certa pressão, enviou mísseis nucleares a cuba para conseguir alvejar os EUA em caso
de guerra, essa ação gerou a crise de mísseis de cuba que culminou na maior tensão entre
americanos e soviéticos na historia. Por fim a União Soviética retirou os mísseis de cuba,
mas a relação deixada entre os capitalistas e socialistas ficou pior do que nunca. A
república de Cuba possui um PIB de 23,2 bilhões apresentando grande crescimento
econômico desde 1959. Este levou a uma maior necessidade de energia, que foi suprida
por um crescimento no uso de combustíveis fosseis e de outras fontes alternativas como
a biomassa e, em menor escala, a energia hidroelétrica e solar. Com sua recente
revolução a política cubana tomou rumos socialista, portanto teve uma grande
aproximação com a URSS. Esta aproximação gerou um forte conflito com os estados
Unidos. Com o apoio da União Soviética, esta nação começou seu desenvolvimento
nuclear em 1976, com o início da construção de sua primeira usina nuclear em 1983.

Estados Unidos da América

Os Estados Unidos da América são uma república constitucional federal que se


emancipou do Reino Unido, com sua independência declarada no dia 4 de julho de 1776
em uma guerra civil que durou até 1783, seu território se localiza na América do Norte,
fazendo fronteira com o México (sul) e com o Canadá (norte). Na década de 1980, sua
economia estava instabilizada, principalmente, por sua ineficácia em responder a novos
concorrentes que surgiam no mercado internacional. Em 1939, durante a Segunda Guerra
Mundial, os Estados Unidos começaram o Projeto Manhattan em resposta a rumores de
uma possível arma nuclear da Alemanha Nazista. Com apoio do Reino Unido e do Canadá,
o projeto resultou em um pioneirismo americano em armas nucleares. Após um início
lento sob a direção do National Bureau of Standards, a pedido dos cientistas britânicos e
dos administradores americanos, o programa foi colocado sob o Gabinete de Pesquisa e
Desenvolvimento Científico, onde em 1942 foi oficialmente transferido sob os auspícios
do Reino Unido. Em 1º de janeiro de 1947, a Lei de Energia Atômica de 1946 (conhecida
como a Lei McMahon) entrou em vigor, e o Projeto Manhattan foi oficialmente entregue
à Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos. Os soviéticos interromperam o

51
diálogo político com os EUA ao desaprovar o reaquecimento da corrida armamentista.
Com o potencial bélico aprimorado podia-se reforçar a doutrina Truman, que adotava
medidas intervencionistas, principalmente contra governos considerados
antidemocráticos, citando o próprio ex-presidente Harry Truman: “A fim de garantir o
desenvolvimento pacífico das nações, sem exercer pressão, os Estados Unidos assumiram
a maior parte na criação das Nações Unidas. Mas só concretizaremos nossas metas se
estivermos dispostos a ajudar povos soberanos na manutenção de suas instituições livres
e de sua integridade nacional contra imposições de regimes autoritários”. Os Estados
Unidos foram pioneiros no desenvolvimento de energia nuclear e apoiam maior
desenvolvimento desta forma de energia. A Segunda Guerra Mundial trouxe custos
inesperadamente altos no programa de armas nucleares (American Manhattan Project), o
que resultou em enorme pressão sobre as autoridades federais para desenvolver uma
indústria civil de energia nuclear que poderia ajudar a justificar as consideráveis despesas
do governo. Pesquisas sobre os usos pacíficos de materiais nucleares começaram nos
Estados Unidos sob os auspícios da Comissão de Energia Atômica, criada pela Lei de
Energia Atômica dos Estados Unidos de 1946. No que se trata do acidente nuclear de
Chernobyl, o vice-secretário de imprensa do presidente estadunidense, Ronald Reagan,
se pronunciou dizendo que os Estados Unidos tinham conhecimento especializado do
equipamento envolvido, níveis de radiação e dificuldades para acabar com os incêndios
contínuos na usina de Chernobyl. Além de prometer assistência humanitária e técnica ao
governo soviético, sua declaração também aumentou a pressão sobre Gorbatchev para
continuar a apoiar a glasnost, tornando-se mais aberta com as comunicações com o
Ocidente. Apesar disso, os Estados Unidos e a União Soviética não estavam do mesmo
lado. As narrativas soviéticas e ocidentais sobre tragédia diferiram drasticamente, pois
cada lado buscava uma vantagem estratégica. Enquanto os repórteres soviéticos tentavam
minimizar o incidente e desviar a sua gravidade com críticas aos Estados Unidos, mesmo
quando os seus próprios camaradas absorviam involuntariamente a radiação, os serviços
noticiosos ocidentais aproveitaram a oportunidade para envergonhar os soviéticos pelo
incidente. Apesar de toda a busca por superioridade, nenhum dos lados estava favorável
a conflitos diretos.

República Francesa (Pró EUA)

A França é um dos países mais desenvolvidos e ricos da Europa e possui bastante


influência no Bloco Capitalista. Foi um dos membros fundadores da Organização do
Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949. O país é um dos cinco "Estados de Armas
Nucleares" sob o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. É considerado o
quarto país a testar uma arma nuclear desenvolvida de forma independente em 1960, sob
o governo de Charles de Gaulle. O exército francês é conhecido por possuir um estoque
de armas com muitas ogivas nucleares operacionais, tornando-se o terceiro maior do
mundo. Em 1985, estimava-se que a França tivesse 435 toneladas de armas químicas em
seu estoque, a segunda maior na OTAN depois dos Estados Unidos. Até 1986, a França

52
já havia realizado cerca de 146 testes com bombas atômicas, sendo que 27 deles foram
realizados na Árgelia e a outra parte foi realizada na Polinésia Francesa, no Oceano
Pacífico. Tanto na Argélia quanto na Polinésia Francesa, há pedidos de indenização há
muito tempo exigidos daqueles que alegam ter sofrido danos causados pelo programa de
testes nucleares da França. O governo da França negou consistentemente, desde o final
da década de 1960, que o dano a militares e civis tivesse sido causado por seus testes
nucleares. A França apresenta uma extrema dependência na energia nuclear. A indústria
de energia nuclear francesa foi chamada de "uma história de sucesso" que colocou a nação
"à frente do mundo" em termos de fornecimento de energia barata com baixas emissões
de gás carbônico. Como resultado direto da crise do petróleo de 1973, em 6 de março de
1974, o primeiro-ministro Pierre Messmer anunciou inesperadamente o que ficou
conhecido como o "Plano Messmer", um enorme programa de energia nuclear destinado
a gerar toda a eletricidade da França a partir da energia nuclear. Na época da crise do
petróleo, a maior parte da eletricidade da França vinha do petróleo estrangeiro. A energia
nuclear permitiu à França compensar sua falta de recursos energéticos nativos aplicando
seus pontos fortes em engenharia pesada. A situação foi resumida em um slogan: "Na
França, não temos petróleo, mas temos idéias". O plano previa a construção de cerca de
80 centrais nucleares até 1985 e um total de 170 instalações em 2000. O trabalho nas três
primeiras fábricas, em Tricastin, Gravelines e Dampierre, começou no mesmo ano.
Électricité de France (EDF), substancialmente detida pelo governo francês, é a principal
empresa de geração e distribuição de eletricidade da França, administra as usinas
nucleares do país.
República Popular da Hungria (Pró URSS)

` A República Popular da Hungria, fazendo fronteira a leste com a RSS da Ucrânia, com
a Iugoslávia a sudoeste, com a Tchecoslováquia a norte e a oeste com a Áustria, foi um
dos Estados de maior influência socialista em todo o período da Guerra Fria, tendo sido
criada em 1949. Economicamente, seguia o diretório soviético, com destaque para o fato
de que não acompanhou o favorável crescimento econômico no pós-guerra
experienciado por parte do bloco capitalista, apesar dos investimentos na indústria
automobilística, com índices de inflação crescentes que impediam a aquisição de
produtos manufaturados. Com poucas reservas de minerais em seu território, a Hungria
é dependente de outros países do bloco em relação a importações de petróleo e gás natural.
Em status ativo de operação desde 1982, a Central Nuclear de Paks, com 3 reatores
nucleares já em funcionamento e 1 em construção, é a única usina nuclear do país,
responsável por aproximadamente 30% da produção de energia nacional. Por volta de
1974 chegaram na Hungria as primeiras armas nucleares soviéticas a serem armazenadas
no país, sendo que durante os próximos anos seriam lá mantidos mísseis balísticos e seus
lançadores, além de ogivas nucleares. A presença de armamento soviético no território
húngaro não era um segredo, tendo este sido expostos em comemorações públicas no
ano de 1975.

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República da Índia (Pró URSS)

A Índia consiste de um dos maiores países do mundo em extensão territorial. Esta


republica adquiriu sua independência recentemente, no ano de 1947, através de uma
difícil divisão da antiga colônia britânica na Ásia que deu origem também ao Paquistão.
Essa republica, desde sua independência, adotou medidas protecionistas quanto a
economia, muito influenciadas pelo modelo econômico da URSS, uma vez que este se
opunha ao modelo considerado opressor empregado pelos colonizadores ingleses, porém,
atualmente, começou a adotar políticas que reduzem a influência estatal. Com um PIB
per capita de 293,49 dólares (1985) a Índia possui uma matriz energética muito
dependente de combustíveis fosseis, além de possuir recursos para produção de energia
nuclear uma vez que possuem capacidade de produzir armas nucleares e já as incluem
em seu arsenal militar. Não é signatária dos acordos de não proliferação de armas
nucleares porém mantem a produção já que precisa manter a balança de poder
equilibrada na guerra da caxemina, contra seu vizinho Paquistão que também tem acesso
a esta tecnologia.

Repúblicas das Ilhas Marshall (Neutro)

As Ilhas Marshall são um arquipélago na região da Micronésia que pertence aos


Estados Unidos. Esta república foi alvo dos testes nucleares realizados pelos EUA
durante muitos anos, causando um grave impacto ambiental sobre algumas áreas, como
o atol do Bikini, levando a uma grande revolta da população local que começou a
adoecer e ser fortemente contaminada pela radiação. Sua economia é extremamente
dependente dos Estados Unidos, sendo que todo o combustível utilizado na região tem
de ser importado e em muitas das ilhas a produção que predomina é a de subsistência.

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Reino da Noruega (Pró EUA)

A Noruega é um país localizado a norte do continente europeu, tendo ganhado


independência política em 1905, após anos de união com a Suécia. Governada por uma
monarquia parlamentarista, apresenta um elevado nível de desenvolvimento econômico
e é um dos pioneiros em relação à questão ambiental, tendo criado, em 1972, o primeiro
ministério do meio ambiente no mundo, além de ter criado, já em 1962, seu primeiro
parque nacional, o qual possui 963 km2. A matriz energética da Noruega era
predominantemente constituída por hidroelétricas, até que, em 1969, a companhia
Philipis Petroleum descobriu a existência de petróleo no campo de Ekofisk, no Mar do
Norte. Pensando no desenvolvimento local, o país criou, em 1972 a StatOil, uma empresa
estatal que, em parceria com a semi-estatal Norsk Hydro, possuem monopólio na
extração petrolífera. Apresentou altíssimo desenvolvimento econômico e reformas em
sua educação pública decorrentes da exploração estatal de petróleo, no entanto, a crise
econômica de 1986 forçou a redução dos salários dos petroleiros e a exploração de uma
pequena parte do petróleo por empresas privadas. Esse combustível fóssil é a principal
fonte de energia no país, o que coloca a Noruega no centro do debate europeu sobre uso
de energia. O país tem uma forte opinião contra o uso de energia nuclear que vem se
mostrando perigosa e destrutiva, defendendo o uso de fontes alternativas, que mesmo
menos potentes são mais seguras. Sem a utilização da energia nuclear o mundo fica
necessitado de outras formas de energias, as quais a Noruega já tem certo conhecimento
o que traz uma obvia vantagem política. Durante a I Guerra Mundial, a Noruega
permanece neutra e durante a Segunda Guerra Mundial o país foi invadido pelos nazistas
por sua posição estratégica. Faz parte da OTAN e do bloco capitalista, no entanto, nunca
permitiu a entrada de bombas nucleares em seu território, haja vista sua fronteira com a
URSS. Assinou o tratado de não proliferação, em 1968, e concorda veementemente com
todos os tratados de desarmamento nuclear, e apesar de ser um país capitalista e pró-
EUA ia contra sua política de desenvolvimento bélico baseado em tecnologia nuclear.

República Socialista Federativa da Iugoslávia (Neutro)

A Iugoslávia foi formada em 1918, pela união da Sérvia, Croácia e Eslováquia.


Com isso, ela foi chamada de o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Somente em
1929 passou a se chamar de Reino da Iugoslávia. Durante a Segunda Guerra Mundial, a
Iugoslávia foi libertada dos domínios nazifacistas pelo militar Josip Broz Tito. Após a
libertação do país, Tito se tornou líder do mesmo, que passou a ser chamada de República

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Socialista Federativa da Iugoslávia. Ao contrário de alguns estados da Europa Oriental e
Central, que dependiam fortemente da União Soviética para sua libertação da Alemanha
nazista, a Iugoslávia emergiu após a guerra com um partido comunista forte e
independente, a Liga dos Comunistas da Iugoslávia. Nos anos imediatamente seguintes à
guerra, começaram a surgir tensões entre os governos soviético e iugoslavo. O líder
soviético, Josef Stalin, queria coesão e subordinação dentro do bloco comunista, mas o
presidente Tito tentou reconstruir a Iugoslávia em grande parte independente da
supervisão de Stalin. No final da década de 1940, o presidente da Iugoslávia, Josip Broz
Tito, ordenou o estabelecimento de um programa nuclear, considerando o
desenvolvimento da energia nuclear como fundamental para o desenvolvimento
econômico geral. Naquela época, nem os Estados Unidos nem a União Soviética estavam
dispostos a compartilhar seu conhecimento ou tecnologia nuclear.
Com isso, a Iugoslávia foi forçada produzir o seu próprio conhecimento e teconologia.
A pesquisa inicial da Iugoslávia beneficiou-se da colaboração com a Noruega.
Considerações de segurança foram um fator na decisão inicial de Tito de buscar uma
capacidade de armas nucleares. Temendo a retaliação de Stalin após a divisão entre os
dois países, Tito poderia ter pensado que um dissuasor nuclear desencorajaria uma
invasão soviética. Segurança, no entanto, não foi a única razão, e nem a mais importante.
Considerando a posição da Iugoslávia na época, o desejo de status internacional poderia
ter sido o fator decisivo. Na década de 1960, o presidente Tito encerrou o programa de
armas nucleares pela falta de resultados do programa e o grande gasto com as pesquisas
nucleares, que estava comprometendo a economia do país. No entanto, em 1974, depois
que a Índia, no qual a Iugoslávia competiu pela liderança do Movimento dos Países Não-
Alinhados (NAM), testou uma arma nuclear, o programa de armas da Iugoslávia foi
revivido novamente, embora a Iugoslávia se tornasse parte ao Tratado de Não-
Proliferação de Armas Nucleares (TNP) em 1970. Após a morte de
Tito, em 1980, a Iugoslávia continuou seu desenvolvimento de armas nucleares. Em
1981, sua primeira e única usina nuclear, a Nuklearna Elektrana Krsko (NEK), tornou-
se operacional. Em 1986, o Acidente de Chernobyl fez com que com que se encerrasse
essencialmente toda a investigação relacionada com a energia nuclear na Iugoslávia. O
programa nuclear da Iugoslávia não atingiu tanto sucesso e começou a se tornar mal
sucedido, por causa da falta de entusiasmo entre cientistas nucleares e recursos
financeiros insuficientes.

Japão (Pró EUA)

O Japão é um país formado por diversas ilhas, localizado na Ásia. Desde 1947, é
uma monarquia constitucional unitária com um imperador e um parlamento. Possui uma
das maiores populações do mundo, e é uma das maiores economias do mundo. Isso ocorre,
porque após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Japão passou por décadas de
recuperação. Com isso, teve um crescimento econômico espetacular até se tornar a
segunda maior economia do mundo, devido a investimentos do setor privado na
construção de novas fábricas e equipamentos e ao senso coletivo de trabalho, que deram
ao país uma alta taxa de crescimento média anual. Isso ocorre por uma série de fatores.

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Um deles, geopolítico, foi o medo de que o Socialismo avançasse sobre este país
completamente arrasado pela guerra. Outro fator, cultural, foi o investimento em
educação que formou e preencheu vagas no campo tecnológico. Desde o bombardeio de
Hiroshima e Nagasaki, o país tem sido um firme defensor dos sentimentos anti-nucleares.
Sua Constituição pós-guerra proíbe o estabelecimento de forças militares ofensivas e, em
1967, adotou os Três Princípios Não-Nucleares, excluindo a produção, posse ou
introdução de armas nucleares. Apesar disso, a ideia de que poderia se tornar uma
potência nuclear persistiu.

República Islâmica do Paquistão (Pró EUA)

O Paquistão é um país de maioria islâmica que surge em 1947 através de um


desmembramento da ex-colônia britânica da Índia. Durante a guerra fria, alinhou-se com
o bloco capitalista sob pretexto de conter o comunismo no sul da Ásia, no entanto, o real
objetivo dos EUA na região era garantir sua influência econômica em um território rico
em petróleo, urânio e carvão. A energia gerada no Paquistão provém principalmente dos
combustíveis fósseis (62%), entretanto, o programa nuclear paquistanês vem se
expandindo e, em 1965, seu primeiro reator nuclear começou a operar. O principal
destaque da nação no comitê é seu projeto de construção de armas nucleares. O país
mantém uma relação deveras hostil com à Índia devido à disputa pela região da
Caxemira, cuja parte leste está sob posse indiana, no entanto, possui uma população
majoritariamente islâmica, que deseja uma união com o Paquistão. Tal conflito é
agravado pela presença tanto de um solo extremamente fértil quanto da lã, usada para
produzir os famosos tapetes da região, de importância comercial e histórica. Tal conflito,
que gerou 3 guerras entre os dois Estados, levou o Paquistão a investir muito em
pesquisas nucleares secretas, as quais receberam forte suspeita de servir de uso militar,
sendo que havia inclusive suspeita de colaboração do país para a construção de armas
nucleares no Irã, Líbia e Coréia do Norte. Devido a isso, a nação paquistanesa passou a
sofrer sanções internacionais que bloquearam o compartilhamento de quaisquer
materiais e conhecimentos nucleares, levando o país a ter prejuízo na expansão de seu
projeto de 65 energia nuclear. A China, no entanto, continua realizando troca de
conhecimentos nucleares com o Paquistão, no intuito de dar suporte a esse rival da Índia,
visto que a relação chino-indiana é também bastante negativa. O governo paquistanês
não ratificou o tratado de não proliferação, e só cederá em abrir mão de seu programa
nuclear militar caso a Índia o faça inicialmente, visto que o Estado alega que só armou-
se em virtude da detonação da primeira bomba nuclear indiana, em 1974.

57
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte (Pró EUA)

O Reino Unido é um Estado soberano insular constituído da ilha da Grã-Bretanha, da


parte nordeste da ilha da Irlanda e de muitas outras ilhas menores, e cuja economia é
baseada predominantemente no setor industrial.
Quando se trata do acidente nuclear de Chernobyl, o Reino Unido teve uma
participação importante em impedir que a URSS não conseguisse esconder as
evidências do acidente, uma vez que ele detectou radiação em seu território e tornou
esse conhecimento público. As nuvens de radiação que chegaram em seu território
estavam em menores proporções, por isso seus impactos foram menores. O secretário
do Meio Ambiente, Kenneth Baker, procurou garantir ao público que os riscos eram
"insignificantes", enquanto John Dunster, chefe do Conselho Nacional de Proteção
Radiológica, disse que o número de mortos no Reino Unido chegaria a "dezenas de
pessoas". Mais de 130 mil pessoas foram reassentadas de certas regiões e especialistas
dizem que não deveria haver agricultura por pelo menos 200 anos. Ao todo, 10 mil
fazendas e 4 milhões de ovelhas foram restringidas pelo governo britânico devido a
impactos da radiação e/ou precauções.
A posse de armas nucleares é um componente importante da identidade nacional da
Grã-Bretanha. Nas décadas de 1940 e 1950, o Reino Unido procedeu a pesquisar e
desenvolver indústrias nucleares, ele foi um dos primeiros países a desenvolver e testar
armas nucleares e é um dos cinco Estados com armas nucleares sob o Tratado de Não-
Proliferação de Armas Nucleares.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido iniciou um programa de
armas nucleares, codinome Tube Alloys. Na Conferência de Quebec, em agosto de
1943, o programa foi incorporado ao American Manhattan Project. A contribuição
britânica para o Projeto Manhattan contou com cientistas britânicos participando da
maior parte de seu trabalho. O governo britânico considerou que as armas nucleares
seriam uma descoberta conjunta, mas a Lei de Energia Atômica Americana de 1946
(McMahon Act) restringiu outros países, inclusive o Reino Unido, do acesso a
informações sobre armas nucleares. Temendo a perda do status de grande poder da Grã-
Bretanha, o Reino Unido retomou seu próprio projeto, agora denominado High
Explosive Research. A partir de 1958, com o Acordo de Defesa Mútua entre o Reino
Unido e os Estados Unidos, os dois tem cooperado amplamente em questões de
segurança nuclear, compartilhando dados científicos classificados e materiais físseis
como o urânio-235 e o plutônio.

58
Confederação Suíça (Neutro)

A Confederação Suíça, localizada na Europa é um país bastante desenvolvido. A


Suíça se industrializou de forma bem rápida e chegou a se transformar na segunda nação
mais industrializada depois da Grã-Bretanha. Com a revolução industrial era preciso gerar
uma grande quantidade de energia, porém diferente de outros países a Suíça não utilizou
da energia a vapor (a partir do carvão) e sim da energia hidroelétrica, e mais tarde teve
grande avanço na energia nuclear que se tornou a principal fonte de energia do país. A
Confederação Suíça tem uma longa história de neutralidade, não estando em estado de
guerra internacionalmente desde 1815 e mantendo seu território livre de invasões durante
as grandes guerras. O país se manteve neutra durante a Guerra-Fria, mas fez planos
detalhados para adquirir e testar armas nucleares. Menos de duas semanas depois dos
bombardeios nucleares de Hiroshima e Nagasaki, o governo suíço começou a estudar a
possibilidade de construir armas nucleares e continuou seu programa nuclear militar
desde então. A Suíça assinou e ratificou o Tratado de Não- Proliferação de Armas
Nucleares. Nunca possuiu armas biológicas, mas tem um programa do alto comando do
Exército Suíço para desenvolver e testar armas químicas.

República Popular da Polônia (Pró URSS)

A República Popular da Polônia, estabelecida no pós-guerra em 1952, foi um Estado


socialista dentro da esfera de influência do bloco soviético. Na década de 70, sofreu com
a desaceleração das reformas econômicas que estavam sendo colocadas em prática na
recuperação do território após a Segunda Guerra, o que, junto aos efeitos da crise do
petróleo de 1979 e a estratégia mal sucedida do governo de aumentar o empréstimo de
capital externo, criou sérios déficits no orçamento polonês, levando a impactos na
qualidade de vida dos cidadãos. Na década de 80, o país vive um cenário de instabilidade
interna, com diversos episódios de grandes greves dos trabalhadores, uma economia
decadente e a ascensão de movimentos oposicionistas ao socialismo na república. Devido
ao longo litoral garantido com suas novas fronteiras depois da guerra, a Polônia passou
a ter importantes portos como o de Szczecin e Gdańsk e consideráveis reservas de carvão
e zinco. Durante a Guerra Fria, foi equipada com aviões militares e mísseis balísticos de
curto alcance como parte do Pacto de Varsóvia, mas não chegou a armazenar ogivas
nucleares, sendo signatária do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Durante os anos 80,
chegou a começar a construção de reatores nucleares, que foram abandonados devido à

59
opinião pública desfavorável e à repercussão negativa no setor nuclear do acidente de
Chernobyl.

República Socialista Soviética da Ucrânia (Membro-Observador)

A República Socialista Soviética da Ucrânia, localizada no leste europeu, foi


criada em 25 de dezembro de 1917, e após os anos de guerra civil se tornou uma
república da União Soviética em 1922. A Ucrânia era uma das repúblicas mais ricas da
URSS, tendo sido detentora de um terço do arsenal nuclear soviético nos anos 70. Devido
à sua rápida industrialização dos anos 30 e posteriormente nos anos 50 e 60, se tornou
um dos pilares da economia soviética. É extremamente rica em carvão e ferro, além de
o seu setor agrícola ser bastante desenvolvido. A Ucrânia depende da Rússia para o
abastecimento de gás natural e petróleo (que também são produzidos internamente),
enquanto exporta carvão. O país tentou diversificar suas fontes de energia, visto que o
processo de urbanização crescia substancialmente, com a instalação de hidrelétricas no
território. Apesar da campanha anti nuclear soviética, A Ucrânia foi uma das repúblicas
pioneiras em pesquisas e desenvolvimento de projetos para o reaproveitamento de
energia, sendo dependente da energia nuclear. Essa dependência começou em 1970, com
a construção da Usina Nuclear de Chernobyl, e, embora as condições de segurança nas
quais a planta foi construída fossem inadequadas quando comparadas com padrões
internacionais, as vantagens energéticas e economicas eram mais relevantes, além da
nova oferta de empregos ser significativa. Em 1986, a república foi extremamente
afetada pelo Acidente Nuclear de Chernobyl, que fez com que houvesse um grande
impacto em sua economia, com prejuízos vindos desde as providências decorrentes do
estabelecimento da zona de evacuação na cidade de Pripyat, até as consequências da
falta do distribuimento da energia oriunda da usina. A região afetada pelo acidente ficou
inutilizável, impedindo a prática de qualquer atividade econômica na região pelos altos
níveis de radiação registrados, além do gasto de cerca de U$240 bilhões para aliviar os
danos causados pelo acidente.

União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

A União Soviética (1922-1991) foi o primeiro país socialista do mundo. Com os planos
quinquenais stalinistas, o país, majoritariamente agrário, converteu-se em uma grande
potência industrial tendo crescimento até mesmo durante a era 1928-1940, uma das
maiores crises no mundo capitalista. Por conta da vitória na Segunda Guerra, os soviéticos
expandem seu poderio sobre o leste europeu, América e África, sob viés anti- imperialista.
Destacaram-se, em sua economia, as indústrias de petróleo, aço, automotiva, aeroespacial,
etc., sempre de acordo com as demandas da corrida armamentista e espacial. A era

60
soviética foi, até os anos 70, caracterizada por alta produtividade, taxas de desemprego
mínimas, investimentos no setor educacional, e por um programa habitacional de
construção de casas estatais. A catástrofe econômica inicia-se apenas nos anos 70, devido
aos altos gastos militares, mas foi controlada devido à crise do petróleo, detendo o país
inúmeras reservas petrolíferas concentradas nas regiões siberianas e do leste russo e sendo
sua economia beneficiada pelo aumento do preço de tal recurso. A crise foi novamente
iniciada no princípio dos anos 80 devido à catástrofe soviética na guerra do Afeganistão,
sendo a situação agravada pela queda dos preços do petróleo e gás. Tal fato gerou um
desabastecimento de produtos que levou o presidente Gorbatchev a iniciar uma abertura
econômica, a Perestroika, que não cessou a crise. A produção de energia elétrica sempre
foi de grande importância aos dirigentes locais, sendo fortemente destacada por Stalin e
Lênin, ocorrendo inicialmente em hidroelétricas e termoelétricas, essas movidas
inicialmente por gás e petróleo e depois por carvão. Com o Plano de Energia da URSS
determinou-se o início da produção de energia nuclear e o aprimoramento das usinas já
existentes. Um grande problema enfrentado pelos soviéticos foi o transporte de energia,
visto que 80% de seus recursos estão presentes em regiões desabitadas, além das grandes
distâncias entre minas de carvão registradas no território dificultar seu escoamento e
distribuição. A produção de energia nuclear se inicia nos anos 50 em resposta ao Projeto
Manhattan após o teste bem sucedido do primeiro dispositivo nuclear (RDS-1) testado
em 1949. O auge do programa bélico nuclear ocorre com a fabricação da bomba de
hidrogênio Tsar, a mais poderosa da história. Entre 1949 e 1990, a URSS testou 969
dispositivos nucleares que acarretaram grandes danos às áreas próximas e a seus
moradores, incluindo 214 bombas nucleares ao ar livre. A maioria destes testes, para
descobrir o potencial de dano duradouro das armas, ocorreu no Local de Testes de
Semipalatinsk (STS), no Cazaquistão, com aproximadamente 460 armas testadas, e expôs
centenas de milhares de cidadãos aos efeitos nocivos, sendo registrado um aumento de
50% de mutações em certas estruturas gênicas de residentes próximos ao local, levando
o STS a ser considerado um dos lugares mais contaminados do planeta.
Na Rússia, na península de Kola, elementos de combustível nuclear gastos geram
preocupação para a comunidade científica, contrariando o governo que afirma que
são seguros. No Quirguistão, os níveis de radiação são acentuados devido à
mineração de recursos como o urânio e o tório, realizada displicentemente. Quanto
ao acidente nuclear de Chernobyl, as ações do governo Gorbatchev já foram citadas
ao longo do guia. Por não confiar nos projetos de desarmamento que o Ocidente
propôs e receber uma negativa a seu projeto, a URSS manteve programas para
expandir seu arsenal, armando diversos países do bloco socialista. Mesmo não
concordando com a proposta do START I, estratégia do presidente Reagan para
desarmar o país, não obstante, assinou todos os recentes tratados de não proliferação,
vide SALT I e II. Deverá propor, no comitê, uma nova solução conciliatória.

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