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DISCIPLINA

Direito Processual Disciplinar Militar


Prof. Conteudista Rafael Botelho Silva

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SUMÁRIO
O processo Administrativo Disciplinar Militar....................................................... 2
Meios de apuração .......................................................................................................... 7
Espécies de processo administrativo ....................................................................... 7
A sindicância e o PAD em espécie ............................................................................ 9
O Conselho de Justificação e o Conselho de Disciplina ....................................11

O processo Administrativo Disciplinar Militar

Em sentido ampla, a palavra processo significa uma sequência


de atos realizados numa sucessão lógica, com o objetivo de alcançar
determinada finalidade. Já em uma acepção jurídica, costuma-se empregar o
termo significando um conjunto de atos coordenados por meio dos quais o
Estado promove a prestação jurisdicional ou administrativa do seu
destinatário.
Portanto, no sentido jurídico, o processo é a relação jurídica que
se forma entre autor, réu e o Estado, em que o aparelho jurisdicional estatal,
substituindo a vontade das partes, se coloca como um ente imparcial para
julgar a pretensão resistida. É o instrumento da atividade jurídica exercida pelo
Estado para promover tanto a prestação de sua função jurisdicional quanto a
de Administração Pública.
Porém, na doutrina processual existe divergência sobre o
significado e a distinção de conteúdo dos termos processo e procedimento.
No Direito, o processo configura uma relação jurídica em que os sujeitos
processuais se vinculam e exercitam atos numa sucessão lógica para alcançar
um provimento estatal final (judicial ou administrativo). Por sua vez, o termo
procedimento refere-se ao ritualismo processual, isto é, ao conjunto de praxes
ou à sequência dos atos do processo. O procedimento é, portanto, o modo e a
forma como são exercidos os atos processuais.
Em relação ao termo processo administrativo, e ainda sobre a
divergência terminológica estabelecida pela doutrina processualista relativa à
sua denominação entre processo ou procedimento administrativo, pode-se
assim resolvê-lo. Processo é o conjunto de atos realizados numa relação
jurídica intersubjetiva para se obter a prestação jurídica estatal, ao passo que
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procedimento é o modo de realizar esses atos, como já mencionado
anteriormente.
Não há como deixar de empregar a denominação processo
administrativo para designar o instrumento pelo qual o Estado promove a
prestação jurídica como Administração Pública. Assim, processo
administrativo é o instrumento de que o Estado-Administração se utiliza para
exercer a sua função estatal na realização do interesse público.
Com a normatização constitucional do processo administrativo
disciplinar militar, positivada na nova Carta Magna, houve a assimilação por
parte do direito administrativo disciplinar militar de várias garantias
constitucionais e processuais em favor dos acusados, as quais antes somente
existiam no processo penal.
Porém, mantiveram-se, mesmo na atual carta constitucional, os
mesmos pilares mestres, quais sejam, a hierarquia e a disciplina. Estes dois
elementos de sustentação da estrutura militar, quando atingidos, por mais
bando que seja, provoca o desencadeamento de todo o mecanismo de
autodefesa destes pilares, que se consubstancia no Poder Punitivo, quer seja
penal, quer seja administrativo disciplinar.
Daí, uma fez que haja violação aos princípios norteadores da
administração pública militar, é desencadeado o processo administrativo
punitivo que é promovido pela Administração para a imposição de
penalidades aos infratores dos regulamentos.
Contudo, uma questão se impõe ao percebermos que há, no
ordenamento jurídico pátrio, a Lei nº. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, que tem
justamente o condão de regulamentar o processo administrativo no âmbito
da Administração Pública Federal. O que faz gerar a questão sobre sua
aplicabilidade ao processo administrativo disciplinar militar.
Seu artigo 1º permite identificar sua finalidade especial, qual
seja, a proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos
fins da administração. Visto que no tocante aos fins da Administração Pública,
estes se resumem num único objetivo, o bem comum da coletividade
administrada, poderia surgir o questionamento sobre se poderia tal lei ser
aplicada no âmbito da administração pública militar.
Com isso em mente, restaria então definir quem são os
administrados que o art. 1º da lei do processo administrativo federal elegeu

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como sendo sujeitos da proteção de seus direitos, os destinatários do bem
comum que deve ser proporcionado.
Mostra-se claro que administrados são todos os indivíduos que
fazem parte da coletividade administrada, sendo que este conceito não pode
ser confundido com o de servidores públicos, que são os agentes públicos
encarregados pela Administração Pública, que realizam os fins por ela
estabelecidos. Assim, a título de exemplo, pode-se ter que Servidor público
poderia ser o chefe de uma determinada repartição pública voltada ao
controle sanitário de certo Estado ou Município, com poder de polícia para
determinar se as regras de vigilância sanitária estão sendo corretamente
cumpridas.
Também deve ser destacada a premissa de que a Lei nº.
9.784/99 regula o processo administrativo de natureza externa, ou seja,
daquele que atinge os administrados que não têm nenhuma vinculação com
processos internos, tampouco de natureza disciplinar, que envolvem a
atuação de servidores públicos. Neste diapasão, a Lei nº. 9.784/99 insere-se no
amplo leque de controle de Administração Pública, em específico o controle
da administração pelos administrados, que se caracteriza pela ação dos
indivíduos em defesa de qualquer de seus direitos ou ataque dos atos
administrativos que no mínimo pareçam prejudiciais ou nocivos aos princípios
da administração pública.
Assim, pode-se afirmar que a Lei nº. 9.784/99 não tem o objetivo
de regular os processos administrativos disciplinares, isso em decorrência do
próprio texto legal da referida lei, que em seu artigo 69, que estabelece que
os processos administrativos específicos continuarão sendo regidos por lei
própria, aplicando-se a tais processos apenas subsidiariamente os preceitos
da Lei nº. 9.784/99, destacando-se que tal utilização subsidiária não deve
ocorrer quando puder ferir a natureza do processo disciplinar específico.
No que concerne aos destinatários do processo administrativo
disciplinar, pode-se afirmar que no Brasil, há primariamente duas espécies de
agentes públicos, sendo eles os civis e os militares. Ainda podem ser
subdivididos em federais e estaduais, bem como entre estatutários e não
estatutários.
Já em relação ao Processo Administrativo Miliar
especificamente, a Constituição de 1988 trouxe várias modificações para os
diversos campos do poder, impactando as mais diversas reformas, sendo esse

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novo cenário jurídico gerador de inovações, que surgiram no Direito
Administrativo Militar, resultante da confirmação do Estado Democrático de
Direito, e passaram a motivar a atualização dos inúmeros regulamentos das
Forças Armadas.
Assim, como em todos os ramos do direito, existem princípios
que devem ser observados quando se trata de Processo Administrativo Miliar,
em especial os relativos a questões disciplinares, visto que haverá a extinção
ou criação de direitos, ponto nevrálgico no sistema jurídico, principalmente
em se tratando de Direito Administrativo. A especialização desse ramo do
Direito em nenhum momento afasta a aplicação dos princípios
constitucionais, que devem ser observados e respeitados.
Tais princípios são os elencados na Constituição da República,
com especial aplicação ao processo, sendo eles o Princípio do contraditório e
da ampla defesa, o Princípio da presunção de inocência, o Princípio da
legalidade, e o Princípio do devido processo legal. Note-se que tais princípios
são de observância geral
O Princípio do contraditório e da ampla defesa, antes do
advento do novo texto constitucional, não se aplicava no processo
administrativo disciplinar militar, sendo que ao praticar em tese uma
transgressão disciplinar o militar em regra apresentava apenas uma
justificativa, que era analisada pela autoridade militar. Com base nas
informações prestadas, a autoridade decidia pela punição ou não do infrator.
Contudo, esse procedimento foi modificado, tendo atualmente um
procedimento próprio em que tal princípio deve sim ser observado.
As garantias observadas em juízo também devem ser aplicadas
ao processo administrativo militar, deixando o indivíduo de ser apenas um
objeto de investigação para ser parte, podendo se defender por meio de um
advogado constituído. O acusado poderá acompanhar as provas produzidas e
contraditá-las, indicar testemunhas, ter acesso aos autos, sob pena de
cerceamento das garantias que foram asseguradas a todos os brasileiros e
estrangeiros residentes no país.
O princípio da presunção de inocência também se aplica ao
processo administrativo militar, mesmo que a administração pública possua
poderes especiais e que na dúvida o princípio a ser aplicado é o in dubio pro
administração. A punição caso, fique configurada a falta, deve ser aplicada de
forma justa, não se permitindo meros juízos de valor ou de especulação. Os

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direitos do cidadão, militar ou não, não podem ser limitados com meros
indícios. Deve-se ter provas da materialidade da transgressão bem como da
sua autoria para que se possa imputar a um militar as penas cominadas pela
lei. Salienta-se, estas provas devem ser concretas e consistentes para que se
possa ter um real juízo sobre os fatos.
A prisão administrativa militar cautelar deve ser usada com
moderação pelas autoridades militares. Não basta uma mera justificativa para
que o militar seja encarcerado, sendo necessária a existência de indícios que
indiquem autoria e materialidade. A prisão indevida do militar traz como
consequência a obrigação do Estado de indenizar o administrado pelos danos
morais e materiais que foram suportados em atendimento ao artigo 37, § 6º,
da Constituição Federal, sendo a responsabilidade objetiva do Estado.
O Princípio da legalidade também deve ser observado no
Processo Administrativo Disciplinar Militar, sendo que tal aplicação, por certo
tempo, gerou controvérsia no Direito Administrativo Militar, mesmo com o
advento da Constituição de 1988. As acusações relativas às transgressões
disciplinares não podem ser genéricas, devendo ser específica, impedindo a
existência de uma acusação por fato que não esteja previamente estabelecido
como transgressão.
O direito administrativo militar possui particularidades que o
afastam do direito administrativo aplicado aos servidores civis, como a
possibilidade de cerceamento da liberdade do militar, que traz como
consequência a necessidade da existência de normas claras e precisas, que
possam permitir o exercício da ampla defesa e o conhecimento prévio das
definições de tais atos como transgressão disciplinar.
O Princípio do devido processo legal deve ser obedecido, visto
que todas as Forças, sejam Armadas ou Auxiliares, têm seus regulamentos,
próprios ou não, em que estão prescritos os procedimentos a serem
cumpridos diante de uma transgressão disciplinar em tese.
A Administração Pública militar está sujeita aos princípios
constitucionais estatuídos no artigo 37 da Constituição Federal, sendo que o
administrador público militar, no exercício de suas funções, especialmente a
disciplinar, deve pautar a sua atuação por essas normas constitucionais para
a validade do ato administrativo. Assim, A regra constitucional submete
destacadamente o processo administrativo à égide do princípio do devido
processo legal com o objetivo de evitar o arbítrio estatal nas relações entre a

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Administração Pública e o administrado sobretudo quando se tratar de
processo administrativo disciplinar.
A doutrina e a jurisprudência modificaram e ampliaram o
sentido princípio do devido processo legal, atribuindo uma interpretação mais
extensiva aos conceitos de procedural due process e substantive due process.
O primeiro trata do devido processo legal como garantia puramente
processual, segundo a qual não se permite que qualquer decisão que envolva
bens jurídicos dos indivíduos provenha de um processo que não seja regido
por regras claras, permissivas do exercício do sagrado direito à defesa. O
segundo, por sua vez, trata da noção de limitação do poder governamental.

Meios de apuração

Os meios de apuração das transgressões disciplinares podem


se constituir, basicamente, da sindicância e dos processos administrativos
disciplinares destinados a tal fim.
Como serão melhores explanados posteriormente, em se
tratando de Sindicância, a apuração de transgressão disciplinar será sempre
realizada por meio da sindicância investigativa, a qual deverá sempre respeitar
os princípios acusatórios, constitucionalmente reservados aos estiverem
potencialmente sujeitos a sofrerem punição disciplinar.
As sindicâncias são reservadas aos casos de transgressão
disciplinar mais leves e estão regulamentadas especificamente para cada
Força, seja Armada ou Auxiliar.
Já no caso de transgressões disciplinares mais graves, deverá ser
observado o que regulam os regramentos destinados ao Processos
Administrativos Disciplinares, bem como os regulamentos dos Tribunais de
Honra.

Espécies de processo administrativo

Em se tratando de apuração disciplinar, para tanto podem ser


destacadas duas espécies de servidores públicos: os civis e, os militares,
subdivididos estes em federais (os integrantes das forças armadas) e estaduais
(os integrantes das polícias militares e corpos de bombeiros militares).
Para os servidores civis, em âmbito federal, o processo disciplinar
dos servidores está regulado pela Lei nº 8.112/90, que instituiu o regime

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jurídico único dos servidores públicos civis da União, prescrito entre seus
artigos 143 a182. Por não ser objeto de análise do presente material, tal estatuto
não será abordado.
Em âmbito federal, os processos administrativos disciplinares
militares propriamente ditos podem ser divididos em duas modalidades
básicas: o Conselho de Justificação, regido pela Lei nº. 5.836, de 05.12.1972,
destinado a julgar, através de processo especial, da incapacidade do oficial –
militar de carreira – para permanecer na ativa ou na situação de inatividade
em que se encontra e; o Conselho de Disciplina, regido pelo Decreto Federal
nº. 71.500, também de 05.12.1972, cuja finalidade - assegurada ampla defesa ao
acusado – é a de julgar a incapacidade do aspirante a oficial ou guarda-
marinha e demais praças com estabilidade assegurada, para permanecer na
ativa ou na situação de inatividade em que se encontram.
De outra banda, tem-se o procedimento disciplinar militar, os
quais são regulados pelos regulamentos disciplinares, sendo eles o Decreto nº
88.545, de 26 de julho de 1983, que aprova o Regulamento Disciplinar para a
Marinha, o Decreto nº 76.322, de 22 de setembro de 1975, que aprova o
Regulamento Disciplinar da Aeronáutica, e o Decreto nº 4.346, de 26 de agosto
de 2002, que aprova o Regulamento Disciplinar do Exército.
Tais procedimentos, apesar de estarem subordinados aos
preceitos processuais estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, têm
muito mais similitudes com o processo administrativo do que com o processo
judicial propriamente dito. Devido a sua natureza, que poderá gerar uma
punição disciplinar, a depender dos fatos apurados, deverão obedecer os
preceitos já abordados, como o da ampla defesa e do contraditório, sob pena
de estarem eivados de ilegalidade, podendo desencadear uma nulidade
procedimental.
Da mesma forma em âmbito estadual, sendo a mesma lógica
seguida, visto que, embora em esfera diferente, devem ser obedecidos os
mesmos princípios e preceitos.
Tal procedimento administrativo, como já dito, muito mais
semelhante à sindicância do que com o processo disciplinar propriamente
dito, pode ter duas naturezas. A sindicância poderá ser investigatória ou
acusatória, sendo que no primeiro caso, o fato é conhecido, mas o autor do
ilícito administrativo é desconhecido. No segundo caso, tanto o autor como o
fato são conhecidos, e a autoridade Administrativa busca colher elementos

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para comprovar os indícios dos fatos que são atribuídos ao militar, a
funcionário civil, que poderá ser submetido a um processo administrativo para
a perda do cargo ou da função, ou para a aplicação de outras penalidades
previstas em lei.

A sindicância e o PAD em espécie

Como já visto, para que o militar, estadual ou federal, seja punido


de forma legal, é necessário que se instaure, antes da punição, um
procedimento para averiguar o fato ocorrido, e, em caso de confirmação do
ato irregular, aplicar a sanção ao servidor, sendo a sanção ou punição a
consequência jurídica dos atos infracionais.
A Sindicância e o PAD são dois procedimentos distintos para
averiguar, no meio militar, as circunstâncias dos fatos e punir os responsáveis,
sendo que procedimento tem suas características próprias.
A Administração Pública militar dispõe de amplo poder de
investigação para apuração de fatos que possam configurar infrações
funcionais, sendo a sindicância é uma das formas de apuração destes fatos.
Por meio da Sindicância investigativa é o procedimento para
averiguar se houve alguma irregularidade praticada no serviço público
quando o fato é conhecido, porém, sem um autor determinado, podendo
inclusive nem haver um autor do fato, como ocorre nos casos de danos ao
erário em decorrência de eventos da natureza.
Em tais casos, se busca apurar se o dano é decorrente de fato de
evento da natureza, podendo inclusive averiguar se tal dano, que mesmo
causado por infortúnio, poderia ter sido evitado se o responsável pelo material
tivesse agido de forma diferente da que agiu.
Uma das principais características da sindicância investigativa é
que ela é um procedimento inquisitorial, ou seja, não estão presentes
postulados como contraditório e ampla defesa, destacando-se que, em caso
de se verificar um possível autor do fato, tal sindicância deverá ter sua natureza
alterada para uma sindicância acusatória, em que todos os princípios
aplicados ao Direito Processual deverão ser observados.
Como dito, os envolvidos no procedimento não tem a garantia
de contraditório, sendo que contraditório é a garantia que o investigado tem
de participar ativamente do procedimento e fazer a sua defesa.

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A sindicância investigativa é um procedimento mais sumário
(mais célere e com menos formalidades), que tem como função esclarecer
fatos relativos a denúncias ou suspeitas de irregularidades cometidas no
serviço público militar, ou mesmo para apurar fatos que de outra forma
tenham vindo ao conhecimento do Comando.
Como já colocado, pelo fato de não haver direito de defesa dos
investigados, a sindicância investigativa não poderá jamais aplicar penalidade
ao servidor, sendo que para tal finalidade, deverá haver a alteração da
natureza da sindicância.
Ao final desta espécie de sindicância, a comissão poderá chegar
a conclusão de se arquivar o procedimento, por ter concluído não haver
irregularidades ou infrações funcionais, ou pedir a instauração de uma
sindicância punitiva ou de um PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar),
quando descobre a ocorrência de conduta lesiva ao interesse público ou o
cometimento de infração disciplinar.
Destaca-se que os militares que participaram da comissão
responsável pela sindicância investigatória não podem ser responsáveis pela
condução de uma eventual sindicância punitiva ou PAD, decorrentes dela,
pois não se cumpriria com a devida imparcialidade se pessoas que já
opinaram acerca dos fatos, opinião esta formada na sindicância investigativa,
conduza uma nova investigação.
Caso sejam apuradas as infrações na sindicância investigativa, a
comissão encaminha o relatório conclusivo para a autoridade competente,
para que seja instaurada uma sindicância punitiva ou um PAD.
A Sindicância Punitiva é o procedimento disciplinar indicado
para apurar e punir situações que envolvem infrações funcionais mais leves. A
sindicância punitiva pode ser consequência da investigativa, quando esta
tenha esclarecido as circunstâncias da infração disciplinar ou indicado os
autores. Feito isso, deve ser feita a citação dos militares acusados, para que
esses possam participar do procedimento, indicando as suas provas, dando
suas versões dos fatos e acompanhando os atos da comissão.
No entanto, havendo o conhecimento prévio da materialidade e
de indícios fortes de autoria, existe a possibilidade de instaurar a sindicância
punitiva de imediato, sem a sindicância investigativa prévia.
O PAD, assim como a sindicância investigativa, é o instrumento
para apuração de ilícitos administrativos, com a consequente punição dos

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militares envolvidos. A maior diferença entre os dois é que o PAD é destinado
para a aplicação de sanções mais graves.
Na prática, a sindicância punitiva acaba sendo um
procedimento mais simplificado em relação ao PAD, já que este envolve
situações mais graves, tais como corrupção, possíveis cometimentos de
crimes militares entre outros ventos mais graves. Destaca-se que no caso de o
encarregado do PAD chegar a conclusão de ter havido o cometimento de
crime militar, deverá, em seu relatório, apontar tal fato para que haja a
instauração de Inquérito Policial Militar, destinado a apuração de crimes
militares em vez de ilícitos administrativos disciplinares.
Apesar da diferença da gravidade dos fatos, da mesma forma
que na sindicância punitiva, o servidor tem, no PAD, total garantia de
contraditório e ampla defesa, podendo participar ativamente do processo, no
intuito de livremente fazer a sua defesa, tendo oportunidade de dar a sua
versão dos fatos, rebater as provas produzidas e acompanhar todo o trabalho
da comissão do PAD.
Por fim, destaca-se que a instauração de PAD não depende de
uma prévia instauração de Sindicância investigativa, a depender das
circunstâncias já conhecidas sobre os fatos (materialidade) e a possível autoria
do ilícito.

O Conselho de Justificação e o Conselho de Disciplina

O Tribunal de Honra, gênero das espécies Conselho de


Justificação e o Conselho de Disciplina, consiste num Tribunal de natureza
jurídica de processo administrativo, sendo constituído por militares com
precedência hierárquica ao acusado, aplicado com o intuito de julgar a
capacidade do aspirante-a-oficial de carreira, das praças da ativa com
estabilidade assegurada, e das praças da reserva para permanecerem na
Força, verificando se possuem a capacidade de continuarem honrando a farda
verde-oliva. O CD não se aplica ao aspirante-a-oficial temporário e nem à praça
sem estabilidade.
Assim, tanto o Conselho de Justificação como o Conselho de
Disciplina são processos administrativos especiais, destinados a verificar a
incapacidade dos militares em permanecerem na ativa ou situação de
inatividade em que se encontrem, sendo-lhes garantida ampla defesa.

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O Conselho de Disciplina é um processo administrativo
destinado a julgar a incapacidade das praças integrantes das Forças Armadas
e das Força Auxiliares, com estabilidade assegurada por lei, para continuarem
no serviço ativo, ou quando na inatividade a continuarem dignas de suas
graduações, devido ao cometimento de uma falta disciplinar de natureza
grave, e de outros atos previstos em lei, que as tornou incompatíveis com a
função militar, ou policial militar.
Conforme o artigo 2º do Decreto nº 71.500, de 5 de dezembro
de 1972, submetida a Conselho de Disciplina, " ex officio ", a praça acusada
oficialmente ou por qualquer meio lícito de comunicação social de ter:

a) procedido incorretamente no desempenho do cargo;

b) tido conduta irregular; ou

c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor militar


ou decoro da classe.

Ainda, será submetida ao referido julgamento a praça que for


afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Militares, por se tornar
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de
funções militares a ele inerentes, salvo se o afastamento é decorrência de fatos
que motivem sua submissão a processo; condenado por crime de natureza
dolosa, não previsto na legislação especial concernente à segurança do
Estado, em Tribunal Civil ou Militar, a pena restritiva de liberdade individual
até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado a sentença; ou pertencente a
partido político ou associação, suspensos ou dissolvidos por força de
disposição legal ou decisão judicial, ou que exerçam atividades prejudiciais ou
perigosas à segurança nacional.
Destaca-se que a praça da ativa das Forças Armadas, ao ser
submetida a Conselho de Disciplina, é afastada do exercício de suas funções.
A nomeação do Conselho de Disciplina, por deliberação
própria ou por ordem superior, é da competência do Oficial-General, em
função de comando, direção ou chefia mais próxima, na linha de
subordinação direta, ao Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial, Suboficial ou
Subtenente, da ativa, a ser julgado, do Comandante de Distrito Naval, Região
Militar ou Zona Aérea a que estiver vinculada a praça da reserva remunerada
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ou reformado, a ser julgada ou do Comandante, Diretor, Chefe ou autoridade
com atribuições disciplinares equivalentes, no caso das demais praças com
estabilidade assegurada.
O Conselho de Disciplina é composto de 3 (três) oficiais da
Força Armada da praça a ser julgada, sendo que o membro mais antigo do
Conselho de Disciplina, no mínimo um oficial intermediário, é o presidente, o
que lhe segue em antiguidade é o interrogante e relator, e o mais moderno, o
escrivão. Não podem fazer parte do Conselho de Disciplina o oficial que
formulou a acusação, os oficiais que tenham entre si, com o acusador ou com
o acusado, parentesco consanguíneo ou afim, na linha reta ou até quarto grau
de consanguinidade colateral ou de natureza civil;, nem os oficiais que
tenham particular interesse na decisão do Conselho de Disciplina.
O Conselho de Disciplina funciona sempre com a totalidade de
seus membros, em local, onde a autoridade nomeante julgue melhor indicado
para apuração do fato.
Já em relação ao Conselho de Justificação, este é destinado a
julgar, através de processo especial, a incapacidade do oficial das Forças
Armadas (somente os oficiais de carreira) para permanecer na ativa, criando-
lhe, ao mesmo tempo, condições para se justificar. Ainda, o Conselho de
Justificação pode, também, ser aplicado ao oficial da reserva remunerada ou
reformado, presumivelmente incapaz de permanecer na situação de
inatividade em que se encontra
Assim como no Conselho de Disciplina, é submetido a Conselho
de Justificação, a pedido ou "ex officio" o oficial das forças armadas quando
acusado oficialmente ou por qualquer meio lícito de comunicação social de
ter procedido incorretamente no desempenho do cargo, tido conduta
irregular ou praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor militar ou o
decoro da classe.
Ainda, pode ser submetido ao Conselho de Justificação o oficial
que for considerado não habilitado para o acesso, em caráter provisório, no
momento em que venha a ser objeto de apreciação para ingresso em Quadro
de Acesso ou Lista de Escolha, afastado do cargo, na forma do Estatuto dos
Militares por se tornar incompatível com o mesmo ou demonstrar
incapacidade no exercício de funções militares a ele inerentes, salvo se o
afastamento é decorrência de fatos que motivem sua submissão a processo,
condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial

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concernente a segurança do Estado, em Tribunal civil ou militar, a pena
restrita de liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado
a sentença ou pertencente a partido político ou associação, suspensos ou
dissolvidos por força de disposição legal ou decisão judicial, ou que exerçam
atividades prejudiciais ou perigosas à segurança nacional.
Destaca-se que, para ambas as espécies de Tribunal de Hora, é
considerado, entre outros, pertencente a partido ou associação o militar que,
ostensiva ou clandestinamente estiver inscrito como seu membro, prestar
serviços ou angariar valores em seu benefício, realizar propaganda de suas
doutrinas ou colaborar, por qualquer forma, mas sempre de modo inequívoco
ou doloso, em suas atividades.
Também o oficial da ativa das Forças Armadas, ao ser submetido
a Conselho de Justificação, é afastado do exercício de suas funções
automaticamente, quando condenado por crime de natureza dolosa, não
previsto na legislação especial concernente a segurança do Estado, em
Tribunal civil ou militar, a pena restrita de liberdade individual até 2 (dois) anos,
tão logo transite em julgado a sentença ou pertencente a partido político ou
associação, suspensos ou dissolvidos por força de disposição legal ou decisão
judicial, ou que exerçam atividades prejudiciais ou perigosas à segurança
nacional. Também, a critério do respectivo Ministro, no caso de acusado
oficialmente ou por qualquer meio lícito de comunicação social de ter
procedido incorretamente no desempenho do cargo, tido conduta irregular
ou praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor militar ou o decoro da
classe.
A nomeação do Conselho de Justificação é da competência do
Comandante da Força Armada a que pertence o oficial a ser julgado (no texto
da Lei consta o Ministro) e do Comandante do Teatro de Operações ou de Zona
de Defesa ou dos mais altos comandantes das Forças Singulares isoladas, para
os oficiais sob seu comando e no caso de fatos ocorridos na área de sua
jurisdição, quando em campanha no país ou no exterior.
O Conselho de Justificação é composto de 3 (três) oficiais, da
ativa, da Força Armada do justificante, de posto superior ao seu, sendo o
membro mais antigo do Conselho de Justificação, no mínimo um oficial
superior da ativa, e o presidente, o que lhe segue em antiguidade é o
interrogante e relator, e o mais moderno, o escrivão.

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Não podem fazer parte do Conselho de Justificação o oficial que
formulou a acusação, os oficiais que tenham entre si, com o acusador ou com
o acusado, parentesco consanguíneo ou afim, na linha reta ou até quarto grau
de consanguinidade colateral ou de natureza civil, nem os oficiais subalternos.
Quando o justificante for oficial-general cujo posto não permita a nomeação
de membros do Conselho de Justificação com posto superior, estes serão
nomeados dentre os oficiais daquele posto, da ativa ou na inatividade, mais
antigos que o justificante. Quando o justificante é oficial da reserva
remunerada ou reformado, um dos membros do Conselho de Justificação
pode ser da reserva remunerada.
Em relação aos Tribunais de Hora a serem constituídos pelas
forças Auxiliares, destaca-se que cada uma das Forças Auxiliares detém
regramentos próprios que poderão instituir regras específicas diferentes das
regras destinadas às Forças Armadas, mas devem respeitar a natureza dos
referidos Tribunais, devendo manter-se em consonância dos os regramentos
de orem geral.

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