DA FILOSOFIA
2ª Edição
Indaial - 2019
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
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Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
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Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
C957t
ISBN 978-85-7141-420-4
ISBN Digital 978-85-7141-421-1
1.Filosofia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 100
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Sumário
APRESENTAÇÃO.............................................................................7
CAPÍTULO 1
A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLO-
GIA, LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL...........................9
CAPÍTULO 2
O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE...........................55
CAPÍTULO 3
A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA .............................................99
APRESENTAÇÃO
Há mais de 2.500 anos a filosofia emerge como não aceitação da explicação
supersticiosa da realidade. A característica fundamental do saber filosófico já é
expressiva pela própria etimologia da palavra filosofia, que significa relação, um
vínculo com o saber, amor e desejo em conhecer. Se a filosofia é uma relação,
é possível ensiná-la ou aprendê-la? Podemos dizer que quem ensina deve
manifestar esse relacionamento com o conhecimento, não superficialmente, mas
por uma vivência ou como forma de vida, maneira que os filósofos da Grécia
Clássica se envolviam com a racionalidade filosófica.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
2 O CONHECIMENTO FILOSÓFICO
COMO EPISTEME THEORETIKÉ NA
GRÉCIA ANTIGA
Desde sua origem na Grécia Antiga a filosofia tem o propósito de alcançar
o real pelo caminho do conhecimento verdadeiro. O conhecer para os gregos
estava ligado a um ato específico de enxergar a realidade: a teoria. Tanto a
filosofia quanto a ciência nascem dessa maneira de saber, aliás, é impossível
falar de ciência sem recorrer ao problema originário da filosofia forjado no século
VI a.C na Grécia Antiga. É consenso entre os estudiosos que a filosofia foi criação
grega, não sendo derivada de outras civilizações, como as orientais. É justamente
essa forma de conhecer a realidade pela teoria que colocam os gregos em uma
situação de originalidade. pois mesmo que alguns conhecimentos científicos,
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Temas e teorias da Filosofia
Por sua vez, a teoria consistia tanto para a filosofia grega como para
a matemática, no pensar as coisas, não na totalidade dos seus atributos e
aparências, porém na abstração de tudo o que não fosse essencial para a
compreensão do que era pensado, isto é, no conceber as coisas e os fatos a
serem conhecidos, procurando encontrar neles certos dados considerados
essenciais para a sua descrição, explicação e compreensão.
A gênese do que são os dados essenciais abstraídos das coisas nos remete
ao espírito aventureiro dos gregos. Com as navegações entre suas diversas ilhas
interligadas, os gregos viajavam e descobriam “coisas novas”. Daí o interesse
grego pela consistência das coisas novas que encontravam nas viagens. Foi
natural que ocorresse a pergunta: em que consiste isso que se encontra pelo
mundo? Essa seria a gênese inicial da filosofia, qual em grego tem um sabor
especial: ti to on? O que é o ente? Daí os filósofos naturalistas, também chamados
de pré-socráticos, investigam a origem de todas as coisas (naturais) no princípio
(arché).
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
que se encontra no mundo. É uma pergunta fundamental que exige uma resposta
essencial. Será uma resposta ao que se chama em filosofia quididade. Os gregos
tinham para explicar isso a palavra ousia, no português, essência ou substância,
como também “entidade”. Está na procura da ousia a origem da teoria.
Note-se que nas suas origens gregas, em vez de ciência, como entendemos
hoje, há um tipo de saber que, por assim dizer, desapareceu: a episteme
theoretike, traduz-se por uma “competência em ver as coisas teoricamente e não
por uma “ciência teórica””. Se perguntarmos por filosofia em Aristóteles vamos
encontrar como resposta: episteme teórica dos primeiros princípios e das causas
(metafisica). Daí epistemologia, ou seja, o estudo relativo à ciência pela teoria ou
logos.
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Temas e teorias da Filosofia
Dessa constatação podemos inferir que o que faz com que uma pessoa
tenha conhecimento sobre determinada situação e se distingue da mera opinião é
o que chamamos de justificação racional, ou seja, uma justificativa apoiada em
evidências lógicas.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
3 POLÍTICA E FILOSOFIA EM
PLATÃO: A EDUCAÇÃO COMO
CAMINHO À VERDADE
A filosofia e a política sempre estiveram em estreita relação, tanto que
em Sócrates a virtude é identificada com o viver bem ou a felicidade dentro da
cidade, ou seja, no âmbito político. Platão, como maior discípulo de Sócrates,
seguiu a herança do pensamento ético de seu mestre ao ponto de em sua teoria
política forjar o ideal de homem justo e virtuoso também relacionado ao problema
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Temas e teorias da Filosofia
epistemológico e educacional com a sua teoria das ideias. Vejamos como Platão
argumenta e correlaciona essas áreas do conhecimento.
Uma cidade nasce pelo fato de não existir nenhuma pessoa autárquica, isso
quer dizer que não existe ninguém que se basta a si mesmo e necessita de outros
e de seus serviços, por exemplo, de homens que cuidam da alimentação, que
realizem o trabalho de habitação, da defesa e segurança, também de alguns que
governem.
Para tais atividades a cidade deve ser dividida em três classes: a primeira
é a dos lavradores, comerciantes e artesãos. Nesta classe prevalece em seus
homens o aspecto da alma da concupiscência. Para que a classe possa se tornar
boa é preciso que haja o exercício da virtude da temperança, ou seja, o domínio
e a disciplina em relação aos prazeres e instintos. A segunda é a dos guardiães.
Nesta classe deve prevalecer a força ou o lado irascível da alma e que conciliem
mansidão e ousadia, tais como os cães de guarda com o intuito de proteger
a Polis. Sua virtude deve ser a coragem. A terceira é classe dos governantes.
Nela seus integrantes devem cumprir com zelo a missão de administrar e amar
a cidade. A contemplação do bem e seu aprendizado capacitam os governantes
e devem prevalecer a virtude da sabedoria como aspecto fundamental de suas
almas. Portanto, temos que na cidade ideal prevalecem a temperança na primeira
classe; a fortaleza ou coragem na segunda; e a sabedoria na terceira, porém em
todas elas a justiça é a virtude que estabelece um nexo entre as três tornando
a cidade uma perfeita harmonia entre suas partes e como consequência a
sociedade como um todo reflete o bem que é distribuído. Cada cidadão dentro de
sua classe deve desempenhar bem sua função e obedecer ao que sua natureza
ordena. Dessa forma, na cidade prevalecerá a justiça.
Para que cada cidadão esteja em plena sintonia com sua função, Platão
elabora seu programa educacional da seguinte forma: uma cidade em harmonia,
com seus cidadãos, deve ter uma educação perfeita. Porém, a primeira classe
dos artesãos, lavradores e comerciantes apreendem seus ofícios facilmente na
prática e não necessitam de uma educação especial. Para os guardiões, Platão
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
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Temas e teorias da Filosofia
Alegoria da caverna
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
GLAUCO - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça
durante toda a vida.
SÓCRATES - E dos objetos que lhes ficam por detrás, poderão ver
outra coisa que não as sombras?
GLAUCO - Não.
GLAUCO - Necessariamente.
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Temas e teorias da Filosofia
GLAUCO - Certamente.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
GLAUCO - Evidentemente.
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Temas e teorias da Filosofia
GLAUCO - Certamente.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
Matrix
Ficha Técnica e Premiações
Título original: The Matrix
Lançamento: 1999 (EUA)
Elenco: Laurence Fishburne (Morpheus); Carrie-Anne Moss (Trinity);
Hugo Weaving (Agente Smith); Keanu Reeves (Thomas A. Anderson
/ Neo); Joe Pantoliano (Cypher); Marcus Chong (Tank); Julian
Arahanga (Apoc); Matt Doran (Mouse); Belinda McClory (Switch);
Gloria Foster (Oráculo); Ray Anthony Parker (Dozer).
Duração: 136 min
Gênero: Ficção Científica
Direção e roteiro: Andy e Larry Wachowski
Produção: Joel Silver
Música: Don Davis
Fotografia: Bill Pope
Direção de arte: Hugh Bateup e Michelle McGahey
Figurino: Kym Barrett
Edição: Zach Staenberg
Efeitos especiais: Mass. Illusions, LLC / Manex Visual Effects /
Amalgameted Pixels
Estúdio: Village Roadshow Productions
Distribuidora: Warner Bros.
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Temas e teorias da Filosofia
4 O DESENVOLVIMENTO DA ÉTICA
E DA MORAL NO PENSAMENTO DE
SÓCRATES E ARISTÓTELES
Nascido em Atenas em 470/469 a.C., Sócrates é considerado o filósofo
mais influente de sua época e tem sua contribuição reconhecida em todas as
épocas posteriores, inclusive a nossa. Ele não escreveu nenhuma obra, o que
foi ensinado era transmitido pela palavra viva por meio de diálogos, da oralidade
dialética. O pensamento socrático foi escrito por seus discípulos, dentre eles, o
que mais escreveu foi Platão, inclusive muitas vezes tornando Sócrates porta-
voz de suas doutrinas. Por esse motivo, em muitos casos torna-se difícil saber o
que realmente é uma ideia apenas socrática ou se houve uma remodelação dos
pensamentos platônicos.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
p. 49). Quando nos referimos ao “em si mesmo” significa que para Aristóteles
a felicidade deve ser compreendida como a busca por ela mesma, ela é em si
mesma o maior bem a se alcançar, se queremos viver uma vida de acordo com o
bem não devemos procurar exteriormente, mas na própria felicidade.
a) Para a maioria das pessoas a felicidade é o prazer e o gozo, mas uma vida
gasta com o prazer, segundo Aristóteles, é uma vida que torna "semelhantes aos
escravos", e "digna dos animais".
b) Para alguns, a felicidade é a honra, mas a honra é extrínseca, ou seja, não
é em si mesma, necessita de algo externo para existir, portanto é dependente e
condicionada a que as pessoas te honrem.
c) Para outros, a felicidade está em juntar riquezas. Para Aristóteles, esta é a
mais absurda das vidas, chegando mesmo a ser vida "contra a natureza", porque
a riqueza é apenas meio para outras coisas, não podendo, portanto, valer como
fim.
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
A vontade parece querer sempre o que é o bem, ou seja, aquilo que parece
revestido de bem. Por isso, para ser bom, é necessário um querer o bem, e isso
somente o homem virtuoso reconhece como o bem verdadeiro.
4.5 A POLÍTICA
Aristóteles definiu o homem como animal político, isso quer dizer que não
simplesmente o classificou como animal social, mas que vive em sociedade
politicamente organizada. Para os gregos, a natureza do bem do indivíduo é a
mesma do bem da cidade, pois o interesse público é o mais belo de todos os
interesses. Desse modo, a cidade está para o indivíduo e o indivíduo está para a
cidade.
Sabemos que na Grécia Antiga nem todos eram cidadãos, pois para alcançar
esse nível a pessoa precisava participar da administração pública, fazendo parte
das assembleias e do governo da cidade. Era preciso ter o tempo livre para se
dedicar aos assuntos da coisa pública, por isso nem operários nem escravos
poderiam ser cidadãos. O escravo, por exemplo, era considerado um instrumento
que servia para produção de artefatos e objetos para o uso. O escravo é daquela
forma por natureza. Os antigos pensavam que era necessário ter escravos
porque a própria vida exige isso da natureza. Por isso laborar significava ser
escravizado pela necessidade, escravidão está inerente às condições da vida
humana. Pelo fato de serem sujeitos às necessidades da vida, os homens só
podiam conquistar a liberdade subjugando outros que eles, à força, submetiam à
necessidade. A degradação do escravo era um rude golpe do destino, um fardo
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Temas e teorias da Filosofia
4.6 O ESTADO
Na cidade ainda prevalecia a constituição, ou seja, a estrutura ordenadora da
cidade, e dela emana todo o funcionamento de todos os cargos, principalmente
da autoridade soberana. Aristóteles destaca que o poder soberano pode ser
exercido:
1. por um só homem;
2. por poucos homens;
3. pela maior parte.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
homens são, a melhor forma de governo é a politia, que é um meio termo entre a
monarquia e a aristocracia.
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
[...] A sabedoria prática determina o fim da ação. Para isso ela vai
primeiramente assumir que a atividade racional constitui eudaimonia,
pois somos seres racionais; em segundo plano, ela se move sobre
o juízo de quais “modos de ser” são racionais; terceiro, a sabedoria
prática etiqueta esses “modos de ser” como virtudes e todos os
outros como vícios. A sabedoria prática, por exemplo, julga que a
média (coragem) entre o excesso de imprudência e a deficiência da
covardia é racional. Assim, o excesso de imprudência e a deficiência
da covardia são vícios, ou seja, os extremos irracionais.
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Temas e teorias da Filosofia
a pessoa justa irá punir apenas com algum tipo de multa, serviço
comunitário ou encarceramento? Importante lembrar que a pessoa
justa é preocupada com os fatos que são relevantes à justiça. No
caso de Ane, que fraudou cidadãos idosos, houve um prejuízo
financeiro e psicológico, e ela agiu de forma moralmente responsável.
Na perspectiva da pessoa justa a justiça distributiva esgrime que o
Estado restrinja a liberdade civil de Ane (o Estado deve distribuir de
acordo com o mérito ou demérito e Ane já não merece a liberdade).
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
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Temas e teorias da Filosofia
viver contrariamente.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
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Temas e teorias da Filosofia
5 O ARISTOTELISMO E SUA
INFLUÊNCIA NA TEORIA TOMISTA
Não é pretensão nossa realizar uma investigação de todas as correntes
em todas as épocas do desenvolvimento da filosofia, mas realizar o estudo de
algumas temáticas inerentes ao saber filosófico em vários períodos. A seguir
temos uma cronologia resumida desses períodos:
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
Várias são as obras de Aquino, dentre elas temos: De ente et essentia (sobre
a essência, 1242-43); Suma contra os gentiles (suma contra os gentios, 1258-60);
De veritate (sobre a verdade, 1256-59) e sua principal obra Summa Theologica
(1265-73).
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
6 ARISTÓTELES E A
SISTEMATIZAÇÃO DA LÓGICA
Veremos agora como Aristóteles sistematiza a lógica. Gostaríamos de
ressaltar que não estamos explorando aqui os assuntos com uma sequência
cronológica, mas por uma abordagem temática sobre temas filosóficos.
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Temas e teorias da Filosofia
• as afirmativas: S é P;
• as negativas: S não é P;
• nas quantitativas temos: as universais: Todos os S são P, quando forem
afirmativas ou Nenhum S é P quando negativas;
• particulares afirmativas: alguns S são P ou negativas Alguns S não são
P;
• singulares: este S é P ou negativa este S não é P.
• A é verdade de B.
• B é verdade de C.
• Logo, A é verdade de C.
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Temas e teorias da Filosofia
A lógica ocupa uma área de relevância e tem uma extensão muito maior do
que a que apresentamos aqui, apenas sinalizamos os aspectos fundamentais do
silogismo aristotélico que podem ser aprofundados nas leituras que recomendamos
neste estudo. O pensamento lógico de Aristóteles permaneceu por mais de dois
mil anos quase que intacto e só após o surgimento da lógica simbólica, no século
XIX, da Era Cristã é que houve uma ampliação da lógica aristotélica. Pensadores
como Gottlob Frege, Georg Cantor, George Boole, Giuseppe Peano, Bertrand
Russell, Ludwig Wittgenstein, dentre outros, partiram das ideias de Aristóteles
para tornar o raciocínio lógico aplicável. Podemos afirmar que o desenvolvimento
dos computadores e dos sofisticados smartphones e aplicativos que são de
grande utilidade hoje só são possíveis por causa das análises aristotélicas.
Vejamos adiante algumas teorias da lógica a partir do século XIX.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
2 Considere as afirmativas:
I - A lógica é o estudo de métodos usados para distinguir o
raciocínio correto do incorreto.
II - A lógica só se interessa com a forma do argumento e não com o
seu conteúdo.
III - A lógica só se interessa com a validade do argumento e não
com a sua verdade.
IV - Tudo que é lógico tem sentido, mas nem tudo que é lógico é
verdadeiro.
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
com os números. Como pode uma coisa física ter relação com uma coisa não
física? Nisso está a base de uma teoria do dualismo platônico, os números são
elementos da alma racional, do pensamento, ao contrário do corpo físico que
é do mundo sensível e traz confusão e ilusão. Os números fazem parte do ser
inteligível e assim como a alma que é inteligível está em um corpo sensível, os
números povoam o pensamento para darem sentido às coisas sensíveis que o
homem tem contato. Na verdade, o argumento demonstrado tem ligação com um
mundo real cotidiano. Por exemplo, em tempos passados, os homens utilizavam
uma técnica muito diferente para contar um rebanho. Tinha-se para cada animal
uma pedra que, ao final do dia, ao recolher os animais, tendo uma falta, sobrava
uma pedra. Assim ele sabia que estava com um animal a menos. A pedra foi
substituída por símbolos numéricos. Contar agora e ter memorizado o número
de animais é bem mais prático que juntar pedrinhas. A conclusão que chegamos
aqui é que os números existem bem antes de nossa necessidade, ou seja, os
homens dessa época necessitavam de alguma coisa para não perderem animais,
eles sabiam que juntando as pedrinhas com a mesma quantidade de animais
tinham um sistema de exatidão. Os números, desse modo, são descobertos pela
necessidade e não inventados pelos humanos, eles são entidades em si.
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Temas e teorias da Filosofia
trabalho de Alexius Meinong, que mostra que mesmo os objetos dessa natureza
deveriam ter uma referência ontológica, pois sua negação implicaria também sua
existência.
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 1 A ABORDAGEM FILOSÓFICA NOS CAMPOS DA EPISTEMOLOGIA,
LÓGICA, EDUCAÇÃO, POLÍTICA E MORAL
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Bauru: EDIPRO, 2002.
AQUINO, T. de. Suma Teológica. V. 1, parte I. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola,
2001.
CRUZ, D. N. da. Ética das virtudes: uma alternativa para pensar o problema da
punição. In: Filosofia, ensino, diálogos e perspectivas de investigação. Rio
de Janeiro: Multifoco, 2018.
51
Temas e teorias da Filosofia
VARGAS, M. Para uma filosofia da tecnologia. São Paulo: Alfa - Omega, 1994.
52
C APÍTULO 2
O PROJETO FILOSÓFICO DA
MODERNIDADE
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
O pensamento filosófico moderno tem seu desenvolvimento mais
característico no início do século XVI, influenciado por diversos acontecimentos
como o Renascimento, o enfraquecimento da unidade política, religiosa e
espiritual, a contestação das ideias, até então vigentes, como as contidas na Bíblia,
a descoberta do novo mundo, a perda de prestígio da Igreja, o fortalecimento da
Reforma. Nesse contexto, a ordem do mundo é abalada, tudo parece fora de
lugar, até mesmo a Antiga Ciência, baseada nos princípios aristotélicos, perde seu
vigor com as novas descobertas científicas que colocavam à prova experimental
as teorias de Aristóteles.
2 O DISCURSO DO MÉTODO
E O ARGUMENTO DO COGITO
CARTESIANO
A Era Moderna é o período histórico que começa no século XVI e vai até
o século XIX. Contudo, ela vai muito além de um período histórico. Em sua
formação, a modernidade pode ser denominada como um vasto conjunto de
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
1994, p. 218). Dessa maneira “o logos divino que atravessa a visão pré-moderna é
substituído pela impessoalidade da lei científica, mas também e simultaneamente
pelo eu do sujeito” (TOURAINE, 1994, p. 218).
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Temas e teorias da Filosofia
Metódica”. Ele começa duvidando de tudo, a reviravolta causada pelo cogito (EU)
está na desconfiança dos sentidos que podem enganar. Duvidando até mesmo
de sua própria existência, Descartes conclui: “A noção que possuo do espírito
humano, enquanto é uma coisa pensante e não extensa, em comprimento,
largura e profundidade e que não participa de nada que faz parte do corpo, é
incomparavelmente mais clara do que a ideia de qualquer outra coisa corporal”
(DESCARTES, 2004, p. 291).
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
do sujeito moderno, desde sua época até os dias atuais. Não há dúvidas que o
sujeito cartesiano e o avanço da razão fizeram uma rápida difusão do projeto
moderno, conduzindo o indivíduo em direção às grandes descobertas, a começar
por si mesmo de tal forma que, sabendo de suas capacidades racionais,
transforma-se em um ser da ação, confiante e determinado a mudar os antigos
paradigmas da sociedade (CRUZ, 2011).
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Temas e teorias da Filosofia
Uma indagação nos inquieta: Não vimos no primeiro capítulo que os gregos
antigos como Platão, Sócrates e Aristóteles já não discutiam sobre o problema do
conhecimento? Sim, na Antiguidade, o conhecimento era pauta de discussões
e se identificava com a verdade, por isso o conhecer era o remédio para a
doença da ignorância. A diferença que podemos detectar entre os antigos gregos
e os modernos é a indicada por John Locke (1632-1704) em sua obra Ensaio
sobre o entendimento humano (Primeira publicação em 1690). Esses escritos
de Locke levaram-no a ser considerado o iniciador da teoria do conhecimento,
diferentemente dos gregos, ele inova ao propor uma análise de cada forma de
conhecimento que possuímos, detectando a origem e formação de nossas ideias,
o objetivo das teorias forjadas, a extensão do que conhecemos e também as
capacidades do sujeito cognoscente e sua relação com os objetos apresentados
à cognição. Eis o entusiasmo de Locke ao descobrir que o caminho correto é o de
examinar o intelecto humano:
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
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Temas e teorias da Filosofia
3 O ILUMINISMO E A PROPOSTA
KANTIANA DA MAIORIDADE
RACIONAL
O filósofo alemão, Immanuel Kant (1724-1804), em um escrito publicado em
1784 intitulado O que é o Iluminismo? ou Aufklärung, na língua alemã, ressalva
que o iluminismo é a saída do homem do estado de menoridade que ele deve
imputar a si mesmo. Minoridade é a incapacidade de recorrer-se ao seu próprio
intelecto sem necessitar ser guiado por outro. Seguia o lema “Sapere Aude” como
impulso e convocatória aos homens para a busca do conhecimento livre de uma
imposição externa.
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
certa forma, se expandiu por toda a Europa propondo uma nova interpretação
do saber, dos valores e das Instituições, manifestando pública e coletivamente a
mudança para uma nova ordem social, econômica e política, tendo como guias
a razão, condutora da liberdade humana. A ideia de modificação de tudo, até
mesmo no âmbito do sagrado, expressa bem essa nova forma de pensamento e
crítica aos tradicionais mecanismos de organização da sociedade. Os principais
representantes do Movimento Iluminista foram: Diderot, D’Lambert, Rousseau,
D’ Holbach, além de médicos, advogados, parlamentares e outros filósofos
conhecidos. A seguir, as características do Movimento Iluminista:
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Temas e teorias da Filosofia
Kant sintetiza que este esclarecimento, porém, nada mais se exige senão
LIBERDADE, e a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar
liberdade, a saber: a de fazer um uso público de sua razão em todas as questões.
Daí, Kant exclamar os limites da liberdade:
Kant explica que o valor da ação moral não se encontra no que deve ser
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
esperado dela, no seu efeito de retorno, não reside também em algum princípio
que necessite solicitar sua mobilidade para o efeito esperado. A validade da
ação moral está na forma como a máxima é apresentada, por exemplo, se houve
influência sentimental ou de terceiros, ela não será uma ação moralmente válida,
até porque, perde o caráter de universalidade. Temos que a ação deve estar
em concordância com a intenção do agente para ser validamente aceita. A razão
deve determinar a intenção do agir, com isso, recebe seu revestimento moral.
Se o ato realmente tem como característica esse formato, outros seres racionais
podem validar tal ação de forma igual.
Para Kant, todas as morais que têm como base os conteúdos comprometem
a autonomia da vontade, implicando em sua dependência, em relação às coisas
e, consequentemente, a lei da natureza e, por conseguinte, comportando a
heteronomia da vontade. Se observamos por essa ótica, anteriormente a Kant,
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Temas e teorias da Filosofia
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
3.1 FUNDAMENTAÇÃO DA
METAFÍSICA DOS COSTUMES
Metafísica dos Costumes é o mesmo que Ética Metafísica ou Ética Filosófica,
doutrina do comportamento, dos costumes que tira a sua prescrição não da
autoridade, mas da razão. Estendendo a relação entre filosofia e metafisica
também à ética, a Fundamentação da Metafísica dos Costumes pretende dar
uma fundamentação filosófica à ética.
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Temas e teorias da Filosofia
Kant ainda fala da diferença entre lei moral e lei jurídica. A jurídica ordena a
ação; a moral ordena o princípio da ação. A lei civil é um caso de lei heterônoma,
pois ela coage externamente o indivíduo, podendo cumpri-la por medo da punição.
Neste caso, o movente da lei civil é sensível.
• Aja de modo tal que a tua máxima se torne lei universal (essa é a única
fórmula que aparece na Crítica da Razão Pura).
• Aja prescindindo de tudo aquilo que é ligado ao próprio eu
(Fundamentação da Metafísica dos Costumes).
• Aja respeitando em cada homem a sua humanidade como fim e não
como meio.
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
proposição prática sintética a priori? E por que é que ela é necessária? – eis
um problema cuja solução não cabe já nos limites da Metafísica dos Costumes.
“(KANT, 2007, p. 91).
Não basta que a ação seja realizada conforme o dever, para ser moral a
ação deve ser realizada por dever. A vontade deve ser determinada somente pela
lei, não por outros motivos externos ao dever, e o único sentimento admitido é o
do respeito à lei, enquanto suscitado pela própria razão.
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
Visto que toda lei prática representa uma ação possível como
boa, e por isso como necessária para um sujeito determinável,
praticamente pela razão, todos os imperativos são fórmulas da
determinação da ação, que é necessária segundo o princípio de uma
vontade de algum modo boa. Ora, se a ação for boa, meramente,
como meio para alguma outra coisa, então o imperativo é hipotético;
se for representada como em si, boa, por conseguinte, como
necessária em uma vontade em si conforme à razão, como princípio
da vontade, então ele é categórico.
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Temas e teorias da Filosofia
para toda sorte de fins arbitrários, para nenhum dos quais podem
determinar se ele, por acaso, pode, efetivamente, tornar-se no futuro
um objetivo de seu educando, cujo respeito é, entretanto, possível
que ele algum dia viesse a tê-los, e esta preocupação é tão grande
que os pais habitualmente se descuidam de formar e corrigir o seu
juízo sobre o valor das coisas que eles, porventura, quisessem tomar
por fins.
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
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Temas e teorias da Filosofia
humanidade passa por três estágios de desenvolvimento. Por isso, em seu Curso
de Filosofia Positivista (1830-1842), Comte relata que descobre uma grande lei,
que cada ramo do conhecimento humano passa de forma necessária por três
estágios distintos:
a) o teológico;
b) o metafisico;
c) o positivo.
Segundo Comte, no primeiro estágio temos uma base necessária para que
a inteligência humana inicie sua trajetória; no segundo, temos apenas como
característica sua transição; e o terceiro, é definitivo, é o estado fixo. Podemos
dizer, então, que no estágio teológico temos a infância, no metafísico a juventude
e o positivo a maturidade humana.
Sendo superior, o estágio positivo deixa claro que já não é mais necessário
empregar métodos metafísicos, pois a filosofia positiva deve conduzir a sociedade
ao rigor da pesquisa científica, pois ela é capaz de finalizar o estado de crise
e a profunda desorganização das civilizações. Sem o conhecimento dos fatos
políticos não há resolução de crises sociais, por isso Comte empenha-se no
desenvolvimento da física social ou da sociologia científica.
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Dessa forma, podemos entender que a economia política enxergava nas leis
um fato de eternidade delas, isso significa que as leis eram tidas como imutáveis
da natureza. Há nesse pensamento uma absolutização ou transformação
de um fato em lei eterna e, portanto, ideologia. Os estudos dos economistas
clássicos levam à conclusão de que quanto maior o aumento da produção, mais
empobrecimento o operário sofre.
A economia política não explica por que as coisas são do jeito que são,
apenas explica que são assim, não há uma proposta questionadora, não mostra
como essas leis derivam da essência da propriedade privada, apenas expressa o
processo que acontece na realidade por fórmulas gerais, abstratas que recebem
validade e força de leis.
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
A religião é o ópio do povo, mas Marx não a ironiza, por perceber que ela
não é invenção de padres enganadores, ela é, antes de tudo, uma invenção de
uma sociedade sofrida, oprimida, que busca consolo em um mundo fantasioso.
Para eliminar essas fantasias é preciso acabar com as situações que a criaram.
Por isso, nas Teses sobre Feuerbach, Marx ressalta que “[...] os filósofos apenas
interpretaram o mundo de diferentes maneiras; porém, o que importa é transformá-
lo” (MARX; ENGELS, 2007, p. 538).
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Temas e teorias da Filosofia
Nestes escritos, Marx quer demonstrar que é possível que o homem viva ou
pode fazer-se humanamente, ou seja, humanizar a natureza juntamente a outros
homens, segundo suas necessidade e ideias. Nesse sentido, o trabalho social
é antropógeno, distinguindo os homens dos outros animais. Marx detecta pela
ótica histórica que o homem trabalha pela sua subsistência. A divisão do trabalho
acaba por mutilar a criatividade humana e “ao operário aliena-se a matéria-
prima; alienam-se os seus instrumentos de trabalho; o produto do trabalho
lhe é arrancado” (REALE; ANTISSERI, 2005, p. 176). Com isso, o operário é
mercadoria nas mãos do Capital, daí o significado da alienação do trabalho que
para Marx brotam também outras formas de alienação, por exemplo, Estado pela
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
política e a religião.
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
O exercício da indústria feudal ou corporativa, até então em uso, não foi mais
suficiente. Em seu lugar apareceu a manufatura. A divisão do trabalho entre as
diversas corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria
fábrica. Nesse meio-termo cresciam os mercados. A manufatura também deixou
de ser suficiente. A invenção das máquinas a vapor revolucionou a produção
industrial. A indústria manufatureira foi substituída pela grande indústria moderna.
Em lugar do segmento industrial médio entraram os milionários da indústria, os
burgueses modernos.
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A ideologia alemã
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
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Temas e teorias da Filosofia
6 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Considerando e avaliando o que foi exposto no presente capítulo, podemos
dizer que o que mais caracteriza o período estudado é o teor crítico de suas
correntes teóricas, por isso o itinerário do conhecimento humano tem um impacto
profundo ao chegar ao período filosófico conhecido como modernidade, iniciado
por volta do século XVI. Nesse período a Europa está imersa em um ambiente
de mudanças e enfraquecimento da antiga ordem do mundo, no caso da ciência,
novas descobertas colocam no crivo da experimentação as ideias aristotélicas,
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
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Temas e teorias da Filosofia
REFERÊNCIAS
BRESOLIN, K. Autonomia versus heteronomia: o princípio da moral em Kant e
Levinas. Conjectura: Filosofia e Educação, Caxias do Sul, v. 18, n. 3, p. 166-
183, set./dez. 2013.
DONNE, J. An anatomy of the world. In: Complet poetry and selected prose.
London: The Nonesuch Press; New York: Random House Inc, 1949.
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Capítulo 2 O PROJETO FILOSÓFICO DA MODERNIDADE
KANT, I. Beantwortung der frage: was ist auflärung? Petrópolis: Vozes, 1985.
MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
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C APÍTULO 3
A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
FIGURA 1 – A EXALTAÇÃO DA RAZÃO
FONTE: <http://www.serdigital.com.br/gerenciador/clientes/
ttf/noticias/295.jpg>. Acesso em: 22 maio 2019.
2 CRISE DA RAZÃO E DA
MODERNIDADE
Vimos, no segundo capítulo, o desenvolvimento da filosofia moderna a partir
das correntes racionalistas e empiristas, também observamos na teoria kantiana
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Temas e teorias da Filosofia
Dessa forma, a coisa em si, o real, não é penetrável pelo conhecer, tendo
acesso apenas pelas representações que o sujeito faz. Para ele podemos
ter conhecimento de nós mesmos, de nossa subjetividade pela reflexão e
autoconhecimento, por isso, o sujeito tem a capacidade de conhecer a si mesmo,
não somente a aparência. O sujeito tem a potencialidade de conhecer a si
mesmo enquanto sujeito, não como objeto, mas de modo direto, sem precisar
de conceitos, pela vontade. A vontade é a essência da subjetividade, ou seja,
do eu. A vontade escapa de ser objeto de conhecimento, mas faz comunicação
com o eu, mas Schopenhauer afasta-se da teoria kantiana ao mostrar que essa
vontade, por exemplo, a vontade de viver que cada sujeito tem, é somente
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
parte da vontade geral, isso significa que é no sentido imutável, eterno. Kant,
por sua vez, como vimos no capítulo anterior, elabora o que podemos chamar
de “metafísica da vontade”, perdendo o caráter de uma filosofia crítica tal como
ocorreu na discussão do idealismo transcendental.
3 OS ESTÁGIOS DA EXISTÊNCIA EM
KIERKEGAARD
Outro pensador crítico da tradição moderna, considerado o primeiro
existencialista, Soren Aabije Kierkegaard, escritor dinamarquês que viveu entre
1813 e 1855, manifesta em suas obras um misto de filosofia, teologia, psicologia,
literatura, ficção e crítica literal. Oriundo de uma família de classe média, gastou
sua herança escrevendo muitos livros.
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pretendemos focar nela, faremos ligações também com outras obras do autor
a fim de termos um panorama da sua crítica ao cristianismo em outros textos.
Gostaríamos de deixar claro que, diferentemente de outras seções deste módulo,
iremos realizar uma crítica ao conteúdo aqui exposto.
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
Esse tipo de moral dos fracos é consolidado por metafísicas que pressupõe
sustentá-lo em bases objetivas sem perceber que essas metafísicas são
invenções do que chamam de “mundos superiores”. Essas invenções são para
difamar o mundo terreno, este mundo, que para metafísicos como Platão é mera
aparência. Por isso a crítica ao cristianismo por abraçar esse tipo de metafísica e
por ter como base fundante essa moral dos fracos.
Um aspecto que talvez possa ser positivo é a percepção que Nietzsche tem
sobre o niilismo. O cristianismo teria como consequência o niilismo. O nada é o
que fica quando as ilusões perdem sua força. Entrando nesse estado procura-se
o sentido de todo acontecimento que ele não tem.
Esse anúncio da “morte do Deus Cristão” não significa que Nietzsche não
tenha apreço por Jesus Cristo, pelo contrário, ele nutre uma grande admiração
por sua figura, a ponto de o denominar como “o homem mais nobre”. Porém, o
cristianismo não é Cristo. Aqui consideramos um aspecto positivo que a obra traz,
essa distinção entre Cristo e o cristianismo. Na leitura do Anticristo temos a ideia
geral do que seja o cristianismo, ou seja, que é uma conjuração “contra a saúde,
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Temas e teorias da Filosofia
Claro que Nietzsche não está preocupado se Deus existe ou não, mas
que a influência dos sacerdotes, os ritos, a moral por trás da teologia, são
decadentes e anuncia e denúncia o niilismo que é recorrente, ou seja, Nietzsche
está preocupado em condenar o espírito de sua época, em denunciar e anunciar
a morte dos ideais divinos, o fim da doença do cristianismo e o anseio por um
retorno ao homem saudável, à vida terrena.
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existir, então tudo é permitido”. “Não seria essa a definição mais sucinta do apuro
em que se encontra o fundamentalista religioso?” O plano de com a morte de
Deus abrir um leque de possibilidades, antes proibidas, parece esbarrar quando
percebemos que aquele que acredita plenamente em Deus percebe a si como
instrumento divino, e por isso pode fazer o que quiser, “pois seus atos são
redimidos de antemão, uma vez que representam a vontade divina [...]”.
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Temas e teorias da Filosofia
do tipo de coisa que essa “gente insignificante” tinha dentro de suas cabeças e
que colocaram na “boca do mestre”. Ele parte principalmente resgatando partes
do evangelho escrito por Marcos. Bem, o difícil é saber qual critério Nietzsche teve
para considerar que essas passagens não foram o próprio Cristo que disse, uma
vez que ele busca no evangelho a fonte de pesquisa para descrever o “mestre”.
O que ele faz é buscar recortes de várias partes do evangelho que sejam
interessantes para pôr em evidência que o cristianismo terminou no próprio Cristo
e que os seguidores já iniciaram o processo de deformação do ensinamento.
Aqui, destacamos isso como aspecto negativo, pois não fica claro o que ele quer
com esses recortes.
Eis sua conclusão após ler o Novo Testamento, sua principal fonte de
pesquisa e crítica: “Em vão procurei no Novo Testamento por um único traço
de simpatia; nele não há nada que seja livre, bondoso, sincero ou leal. Nele a
humanidade nem mesmo dá seu primeiro passo ascendente - o instinto de
limpeza está ausente [...]” (NIETZSCHE, 2002, cap. XLVI).
O ANTICRISTO
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
6 CRISE DA RAZÃO
Vimos, no decorrer de nossa exposição, que desde Descartes, com a
descoberta do método, a razão passou a ser o fundamento de toda ordem, não
apenas científica, mas até mesmo política e moral na sociedade ocidental. A
centralidade do Eu pensante como critério de certeza, indubitável, abre uma nova
cortina na história do pensamento a ponto dessa nova fase ser considerada a
era das luzes, pois a razão seria a guia para dissipar as trevas da ignorância
e trazer a felicidade tão almejada pelos homens. A ciência, tendo como guia a
razão, garantiria um futuro promissor e levaria o homem a sua fase mais elevada.
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
Isso significa que a razão deixa de ser um fim em si mesmo e passa a ser um
instrumento de dominação, de poder. Sendo instrumento de poder, a razão
não é mais tida como objetivo de emancipar, mas por intermédio da técnica a
racionalidade é ofuscada pela cega e exacerbada fixação de produtividade. A
razão passa a ser ancilla administrationis (administração doméstica, empregada
da administração), pois renunciou a sua autonomia, e tornou-se um instrumento.
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Temas e teorias da Filosofia
PÓS-MODERNIDADE OU HIPERMODERNIDADE?
PENSANDO O SUJEITO CONTEMPORÂNEO SOB
AS ÓTICAS DE LIPOVETSKY E BAUMAN
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
Lipovetsky vem dizer que esse sujeito está imerso, agora, num
deserto inédito que escapa das categorias niilistas ou apocalípticas.
O sujeito opera no vácuo, silenciando a existência cotidiana. Um
deserto paradoxal onde não há catástrofes ou tragédias e que
acabou por se identificar com o nada e a morte. As instituições,
os princípios absolutos esvaziam a tal ponto que não passam de
organismos desativados. Que ser ou que tipo de homem sobrevive
nesse ambiente? “O homo psi” (narciso).
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EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO
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6 A HOLÍSTICA E A COMPREENSÃO
DO TODO
A palavra holismo vem do grego holos, significando o todo ou a explicação
de que as partes não podem ser consideradas separadamente, mas devem ser
consideradas como um todo, conectadas em um sistema. Muitos são os teóricos
que tratam direta ou indiretamente com a questão do todo. Na antiguidade,
podemos destacar Parmênides (quando afirma a unidade superior do ser, ou
seja, os opostos são "ser" e o ser é o todo, o presente), os estoicos (com a
sincronia de tudo entre as emoções e a natureza), Aristóteles, em sua Metafísica
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
que já dizia que “o todo é maior do que a simples soma das suas partes”, na
modernidade Espinoza também avalia e defende que uma coisa só pode ser
conhecida quando a inteligência percebe como ela encontra seu lugar necessário
na totalidade das coisas. Por ser uma temática muito ampla, inclusive com muitos
outros pensadores que não citamos aqui, focaremos nosso estudo sobre uma
teoria contemporânea: a Gestalt. O motivo dessa nossa empreitada é justamente
pelo fato de que essa vertente se posiciona contra uma corrente filosófica que
já trabalhamos aqui, a saber: o empirismo. Também contra o intelectualismo. A
teoria da Gestalt, ou psicologia da forma, surge no início do século passado e
significa figura estruturada ou forma. O filósofo austríaco Cristian von Ehrenfels
foi o primeiro a apresentar os seus princípios básicos.
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Temas e teorias da Filosofia
A TEORIA DA GESTALT
A PSICOLOGIA DA FORMA
A PERCEPÇÃO
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A BOA FORMA
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CAMPO PSICOLÓGICO
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INSIGHT
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A INTELIGÊNCIA E A PERCEPÇÃO
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Capítulo 3 A CRISE DA FILOSOFIA MODERNA
uma forma de conjunto que não é uma forma qualquer, mas a mais
simples possível que exprime a estrutura de campo; serão, pois, as
regras de simplicidade, de regularidade, de simetria, de proximidade
etc. as que determinarão a forma percebida. Daí uma lei essencial
chamada de prenhez de todas as formas possíveis, a que se impõe
é sempre melhor, a melhor equilibrada. Demais, uma boa forma é
sempre suscetível de ser transposta, exatamente como a melodia,
da qual mudamos todas as notas. Mas esta transposição, que
demonstra a independência do todo em relação às partes, explica-se
também pelas leis de equilíbrio: as relações são as mesmas entre os
novos elementos que terminam na mesma forma de conjunto que as
relações entre elementos anteriores, não graças a um ato de
comparação, mas a uma reformação do equilíbrio, exatamente como
a água de um canal, que recobra a mesma forma horizontal, mas em
níveis diferentes, depois da abertura de cada comporta. A
caracterização dessas boas-formas, bem como o estudo dessas
transposições provocaram inúmeros trabalhos experimentais, de
verdadeiro interesse. O que se deve notar, antes de tudo, como
essencial à teoria, é que as leis de organização são concebidas
como independentes do desenvolvimento, e, por conseguinte,
comuns a qualquer nível. Fácil é de perceber esta afirmação, se a
limitarmos à organização funcional ou equilíbrio sincrônico dos
comportamentos, pois a necessidade desse último rege os níveis em
qualquer grau. [...] Assim, é que os psicólogos da Forma se
esforçaram, acumulando impressionante material, para mostrar que
as estruturas perceptivas são as mesmas na criança e no adulto e,
sobretudo, nos vertebrados de qualquer categoria. [...] Três
aplicações da teoria da forma ao estudo da inteligência devem ser
especialmente consideradas: a de Köhler, sobre a inteligência
sensório-motora, a de Wertheimer, sobre a estrutura do silogismo, e
a de Duncker sobre o ato da inteligência em geral. Para Köhler a
inteligência aparece quando a percepção não se prolonga
diretamente em movimentos suscetíveis de assegurar a conquista
do objetivo. Um chimpanzé, na sua jaula, procura alcançar uma fruta
que se encontra fora do alcance de sua mão; um objeto intermediário
é então necessário, e o seu emprego definirá a complicação própria
da ação inteligente. Em que consiste esta última? Se um bastão for
posto à disposição do símio, mas numa posição qualquer, será visto
como um objeto indiferente. Colocado paralelamente ao braço
poderá ser subitamente percebido como possível prolongamento da
mão. Até então sem significação, o bastão passa a tê-la, pelo fato de
sua incorporação na estrutura do conjunto. O campo, pois, passará a
ser reestruturado e essas súbitas reestruturações caracterizam,
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7 A CONSCIÊNCIA: ENTRE A
HERMENÊUTICA E FENOMENOLOGIA
Edmund Husserl (1859-1938), principal representante da corrente
fenomenológica, argumentava sobre importância das próprias coisas na
constituição na relação de conhecimento, daí o lema da fenomenologia: “De volta
às coisas mesmas”.
Nessa terceira formulação temos uma síntese das duas esferas básicas,
forjando o próprio conhecimento. O conhecimento é pensado enquanto síntese,
formulado pelo próprio sujeito, com caráter formal, instituindo mecanismos lógicos
que estão presentes no aparato cognitivo. Sem o sujeito, o conhecimento não
seria possível, por isso, ele conhece o fenômeno, não a essência das coisas. O
fenômeno é aquilo que aparece ao homem, não sendo realidade em si mesmo. O
conhecimento do fenômeno se dá por uma estrutura formal e subjetiva implícita
no sujeito. Kant chama isso de elementos transcendentais do conhecimento,
ou os elementos a priori do entendimento. Isso significa que antes de qualquer
experiência a realidade é organizada no nosso aparato cognitivo. Todos os objetos
estão correlacionados com o sujeito que o conhece por meio da representação,
ou seja, na forma como os objetos são apresentados a nós em consonância com
a estrutura da nossa faculdade mental, nossas condições subjetivas.
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Temas e teorias da Filosofia
Aprender seria, então, essa forma de visar, não correndo mais o risco de
cairmos naquele modo em que as coisas são tragadas pela consciência. Temos
assim, a consciência como movimento de olhar e as coisas para que sejam visadas
pela consciência precisam que tenham autonomia. A isso, esse modo de visar
as coisas pela consciência, Husserl (1986), chama de intencionalidade. Afirmar
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que tenho consciência de alguma coisa não é o mesmo que considerar minha
posse, mas que esse “de” me deixa consciente que a coisa permanece exterior a
mim. Essa autonomia nos garante que as coisas estão lá em sua solidez. Husserl
alerta que considerar a apreensão do conhecimento fora dessa concepção leva
ao psicologismo, que confunde a mente com o objeto do conhecimento.
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8 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Apresentamos neste capítulo refletir sobre os aspectos da crise da filosofia
moderna ressaltando como o conceito de sujeito racional foi esvaziado dos seus
fundamentos. Vimos que com teorias modernas, especialmente o racionalismo e
o empirismo, a hermenêutica e a fenomenologia, presentes em várias áreas do
conhecimento humano, contribuem tanto para a percepção da realidade como
também para sua transformação.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra, 1995.
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