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Artes Visuais
Aluna:
Isabel de Lima Pinheiro
RESENHA CRÍTICA:
Crato, Ceará
Novembro de 2019
RESENHA CRÍTICA:
“A ESCULCULTURA NO CAMPO AMPLIADO” (KRAUSS, 2008 - REEDIÇÃO)
Isabel de Lima Pinheiro1
Em seu texto, Rosalind Krauss explica de maneira sucinta e muito elucidativa a evolução da
lógica do pensamento artístico do período anterior ao século XIX ao modernismo e deste ao
pós-modernismo a partir da história da escultura. Ao abordar a virada para o pós-modernismo,
a autora fala da dificuldade de restringir os novos trabalhos em conceitos fechados e conceitua
o que seria o campo expandido, trazendo conexões complexas que desafiam a lógica em que
estávamos acostumados a operar e que os artistas, principalmente os da década de 70 mas
também os anteriores, começam a questionar.
Krauss inicia falando sobre a forte ligação entre escultura e monumento, colocando a primeira
como uma “representação comemorativa” cujo local onde se situa ou que foi destinada para
estar é de suma importância. Nesse sentido, a escultura se comporta como marco,
relacionando o local onde se encontra com o significado que ela carrega.
A partir do século XIX, a escultura vai perdendo cada vez mais o seu local, ou a importância
deste vai se dissolvendo e, justamente nesse ponto, é que acontece a virada para o
modernismo. Os dois primeiros exemplos citados são obras do Rodin que fracassaram por
causa da perda de local. Elas nunca chegaram a ser colocadas nos locais que foram
concebidas para estar ou a servir ao propósito para o qual foram produzidas. As obras são “As
Portas do Inferno”, que não cumpriam a função de porta, e a estátua de Balzac, que se tornou
abstrato demais para ser aceito por quem fez a encomenda (segundo Rodin).
Em relação à produção dos anos 50, a definição e conceituação dessas obras começam a se
complicar. Sobre esse momento, KRAUSS afirma: “Neste ponto a escultura modernista
surgiu como uma espécie de buraco negro no espaço da consciência, algo cujo conteúdo
positivo tornou-se progressivamente mais difícil de ser definido e que só poderia ser
localizado em termos daquilo que não era”
Ao dizer que a escultura passa a ser definida por aquilo que ela não era, a autora se refere ao
entendimento da escultura como, ao mesmo tempo, uma não-paisagem e uma não-arquitetura,
ela era “tudo aquilo que estava sobre ou em frente a um prédio que não era prédio, ou estava
na paisagem que não era paisagem”.
1
Graduanda em Artes Visuais pela Universidade Regional do Cariri.
À primeira vista, a soma dessas duas negativas parece explicar por completo a questão.
Porém, se ampliarmos mais um pouco, a não-arquitetura passa a ser paisagem e a não-
paisagem passa a ser arquitetura. Isso significa que a soma das negativas se torna a soma do
seu oposto, no caso, paisagem mais arquitetura. Para ela, essa “expansão lógica” é o que gera
um “campo logicamente ampliado” no qual “um conjunto de binários é transformado num
campo quaternário que simultaneamente tanto espelha como abre a oposição original”. A
leitura nesse momento torna-se mais densa e, para ajudar, a autora coloca um diagrama que
ilustra o pensamento:
Ela cita artistas como Robert Morris, Robert Smithson, Michael Heizer, Richard Serra, Walter
de Maria, etc., como sujeitos que sentiram essa permissão de pensar em campo expandido
entre 1968 e 1970. Para ela, a produção desses artistas já não tinha mais como ser considerada
modernista, demarcando aí a virada para o pós-modernismo. Outros autores interpretam essa
quebra de paradigma de maneiras diferentes, atribuindo, por exemplo à pintura e não a
escultura a possibilidade de ver, entender e analisar essa evolução.
Trazendo as ideias de Thierry De Duve, essa virada teriaa acontecido muito antes, com
Duchamp e seus ready-mades, o que colocaria o pós-modernismo contemporâneo ao próprio
modernismo e questionaria se existe de fato uma ruptura entre as duas ou se uma é apenas a
continuação da outra. Pessoalmente, entendo e compreendo melhor a visão defendida pela
Rosalind Krauss, que torna muito mais concreto e palpável essa transição das Belas Artes para
todas as linguagens em campo expandido. O fato de nos situar através da produção escultórica
também auxilia muito essa percepção, por mais que nos primeiros anos de estudo não
saibamos quase nada sobre ela, já que a maioria dos autores explicam a história da arte através
da pintura.