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ISBN 978-85-9501-067-3
CDU 159.922
2a
edição
Andrew Christensen
Brian D. Doss
Neil S. Jacobson
Tradução
Mara Regina S. W. Lins e Marisa Rozman
2018
© Sinopsys Editora e Sistemas Ltda., 2018
Diferenças reconciliáveis — Reconstruindo seu relacionamento
ao redescobrir o parceiro que você ama, sem se perder
Andrew Christensen, Brian D. Doss e Neil S. Jacobson
Andrew Christensen
Agradecimentos ix
Fiquei honrado por ter sido convidado a participar da segunda edição de Di
ferenças reconciliáveis. A primeira edição que Andy e Neil escreveram foi um exce
lente exemplo de sua capacidade de conectar e integrar três áreas de especialização:
conhecimento da literatura de pesquisa sobre terapia de casal, habilidades de tera
peuta aprimoradas ao trabalhar com centenas de casais em dificuldades e uma capa
cidade de traduzir os conceitos em um formato que os casais poderiam aplicar por
conta própria nos seus relacionamentos.
As minhas contribuições para a segunda edição são o resultado das inúmeras
oportunidades de orientação e colaboração que tive ao longo dos anos. Meu coau-
tor, Andy, era meu mentor do Ph.D. e o catedrático de dissertação na UCLA. Ele,
mais do que ninguém, ajudou a moldar minhas ideias sobre sofrimento e interven
ção em casais. Igualmente importante, ele forneceu um exemplo brilhante de como
se pode ser bem-sucedido tanto pessoal como profissionalmente.
Tenho a sorte de ter outros mentores importantes no campo da terapia de
casal, incluindo Doug Snyder, que foi meu colega no Texas A&M por 5 anos; Scott
Stanley e Howard Markman, que ajudaram a moldar minhas ideias sobre prevenção
e Julian Libet no Charleston VA Medical Center, que me auxiliou no esforço para
adaptar minhas abordagens para terapia de casal com casais desfavorecidos. Também
me beneficiei imensamente das inúmeras colaborações com meus colegas Galena
Rhoades e Lorelei Simpson, que me proporcionaram tanto o desafio como a opor
tunidade de novas perspectivas.
Algumas das novas ideias que introduzimos na segunda edição foram criadas
e testadas como parte de nosso subsídio dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH)
dos Estados Unidos da América para desenvolver um programa baseado na web
para casais que enfrentam dificuldades em seu relacionamento (www.OurRela-
tionship.com). Assim, eu gostaria de agradecer ao NIH pelo apoio a esse trabalho e
às pessoas que fizeram esse projeto possível. Em particular, Emily Georgia, Larisa
Cicila e Judith Biesen que desempenharam papéis centrais na concepção e imple
mentação do programa baseado na web. Kelly Koerner, Cammy Bean e Mark Har-
rison ajudaram a me orientar na tradução de nossa abordagem de terapia em um
formato de autoajuda, e essas lições foram essenciais na formulação de muitas das
revisões desta edição. Nossos editores da Guilford, Christine Benton e Kitty Moore,
foram também extremamente prestativas a esse respeito. E Cherelle Carrington me
rece uma forte dose de apreço pela preparação do índice para este livro.
Finalmente, gostaria de agradecer o incalculável apoio que recebi de minha
esposa, Mandy, e nossos dois filhos, Abby e Matthew. Embora eu possa dizer muito
mais do que isso, uma das lições mais importantes que aprendi com eles é a impor
tância de separar minha vida profissional de minha vida pessoal. Assim, fico por
aqui — agradeço a vocês!
Brian D. Doss
Sumário
Prefácio ............................................................................................................ 13
mento. Alguns de vocês podem querer usar o livro à medida que bus
cam ajuda profissional de um terapeuta de casal (ver Capítulo 16).
Outros podem achar o livro suficiente.
Após a conclusão do nosso estudo, temos nos empenhado em
dois grandes esforços de divulgação. Primeiro, o Departamento de As
suntos de Veteranos dos EUA escolheu a IBCT como um dos trata
mentos baseados em evidências para disponibilizar aos casais de vetera
nos com necessidade de terapia de casal. Desde 2010, tenho estado for
temente envolvido na formação de terapeutas e consultores. Em segun
do lugar, Brian encabeçou um esforço para adaptar IBCT para acesso
on-line. Agora, como professor da Universidade de Miami, Brian obte
ve financiamento do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvi
mento Humano dos Estados Unidos para desenvolver e testar este siste
ma on-line. Desde 2009, Brian e eu trabalhamos juntos, cada um com
seus alunos de pós-graduação, para desenvolver e testar este programa.
Ambos os projetos obrigaram-nos a repensar a IBCT e a desenvolver
maneiras de torná-lo mais acessível. Nós quisemos incorporar estas me
lhorias em nosso livro e decidimos, então, revisar a primeira edição do
Reconcilable diferences (Diferenças reconciliáveis).
Esta edição revisada é diferente da primeira edição em cinco
maneiras importantes. Em primeiro lugar, ajudamos os leitores a de
finir um problema central no qual eles se concentrarão na medida
em que trabalharem no livro. Embora os casais, frequentemente, te
nham uma série de preocupações, geralmente estas se centram em
torno de um ou dois temas. Por exemplo, um casal pode constante
mente brigar sobre as responsabilidades (quem deve fazer o quê em
relação aos cuidados infantis e da casa e conforme o padrão de cada
um). Outro casal pode brigar sobre questões de intimidade (quão
perto devemos estar fisica e emocionalmente). Acreditamos que isso
ajuda a focalizar em profundidade uma questão central. Após obter
sucesso com esta questão central, você pode se concentrar em outras
questões. Em segundo lugar, fornecemos uma série de questionários
baseados em evidências com instruções sobre pontuação e interpre
18 Prefácio
A HistóriA de déborA
rasta pela vida, sempre cuidando dos negócios, preocupado em ter seu
trabalho feito, mas nunca mostrando muito entusiasmo ou dor. Ele diz
que seu estilo mostra o quão emocionalmente estável ele é. Eu digo que
isto mostra, justamente, como ele é passivo e entediado.
De muitas maneiras eu sou exatamente o contrário: eu tenho
muitos altos e baixos. Mas na maior parte do tempo eu sou cheia de
energia, otimista, espontânea. É claro que, às vezes, eu fico chatea
da, irritada e frustrada. Ele diz que isso mostra que sou emocional
mente imatura, que “eu tenho muito que aprender pra amadurecer”.
Eu acho que isto mostra que sou humana. É ele que é emocional
mente incapaz.
Eu realmente compartilho a maioria dos meus pensamentos e
sentimentos com ele: meus problemas no trabalho, minhas reações
com meus amigos, meus altos e baixos emocionais. Sua resposta?
Uma espécie de tolerância morna, às vezes interessado, às vezes não,
às vezes apenas por hábito, às vezes... Eu realmente não sei. Como
eu poderia saber, quando ele não me fala o que está se passando
com ele? Então, eu só divago, sentindo-me cada vez mais como se
eu estivesse falando comigo mesma. A esposa tagarela com o mari
do entediado.
Não era assim no começo. Ele nunca foi muito expressivo, mas
ele gostava de me escutar. E me contava coisas sobre si mesmo. No
início, embora a comunicação entre nós nunca tenha sido equilibrada,
era, pelo menos, recíproca. Eu pensava que ele iria, um dia, ficar mais
confortável comigo e confiar mais em mim, mas ele realmente confia
menos agora do que quando nos conhecemos!
Sua dificuldade de comunicação me incomoda mais quando dis
cordamos sobre algo. Eu quero discutir nossas diferenças e tentar en
contrar uma solução. Sei que existe conflito numa relação íntima; eu
não me sinto ameaçada por isto, e eu quero lidar com o probelma aber
tamente. Mas Frank não quer nem pensar em discutir o assunto. Ao
primeiro sinal de tensão, ele corre. Frequentemente ele responde com
um clichê banal “As coisas vão se resolver por si só”.
26 Três lados para cada história
A HistóriA de FrAnk
nenhum dos dois. Talvez a gente não pudesse ser rico, mas podería-
mos, pelo menos, ter mais intimidade. Por que não poderíamos ser
mais próximos? O que significava: Por que eu não poderia ser mais
íntimo? Tentei tornar a conversa mais leve, brincando que talvez a
gente não tivesse um gene da intimidade. Ela não gostou.
Quando chegamos em casa, tentei diluir a tensão, dizendo que
eu estava cansado e sugerindo que a gente fosse para a cama. Eu re
almente estava cansado, e a última coisa que eu queria era entrar na
velha briga de sempre, novamente. Mas Débora estava irredutível.
Ela argumentou que não havia nenhuma razão para não ficar acor
dados e discutir isso. Eu queria dizer que não tinha motivos para
discutir porque não seria uma discussão e sim um julgamento. Mas
eu não fiz, porque isso seria apenas mais uma evidência que ela usa
ria para me condenar.
Eu segui com a minha rotina de antes de dormir, dando-lhe o
mínimo de respostas. Se ela não vai respeitar meus sentimentos, por
que eu deveria respeitar os dela? Ela continuou falando, enquanto eu
colocava meu pijama e escovava os dentes, nem mesmo me deixou so
zinho no banheiro. Quando eu finalmente fui para a cama e apaguei a
luz, ela a ligou novamente. Eu virei para o lado para dormir, mas ela
continuou falando. Você pensaria que ela teria entendido a mensagem
quando eu coloquei o travesseiro sobre minha cabeça, mas não, ela o
puxou. Naquele momento eu joguei a toalha. Eu disse que ela era um
bebê, uma louca - Não me lembro de tudo o que eu disse. Finalmen
te, em desespero, eu fui para o quarto de hóspedes e tranquei a porta.
Eu estava muito perturbado para adormecer imediatamente, e não
dormi nada bem.
E de manhã eu ainda estava zangado com ela. Eu disse que ela
era irracional. Pela primeira vez, ela não tinha muito a dizer. A verda
de é que nós dois estávamos exaustos.
Diferenças Reconciliáveis 33
Como Frank temia uma discussão feia com Débora, ele tentou
ignorar o comentário dela. Em alguns momentos desvios como este
funcionavam para Frank porque eles evitavam uma conversa que leva
ria a uma discussão. No entanto, às vezes - como nesta ocasião - suas
táticas frustram Débora e contribuem exatamente para o conflito que
ele está tentando evitar. Quanto mais ele se afasta, mais irritada ela
fica. Qualquer pequena conversa que eles tenham consiste em ataques
mútuos e manobras defensivas, e a dança continua. Eles ficam tão
presos em seus respectivos papéis que não conseguem perceber os sen
timentos que têm em comum. E nessa noite em particular, ambos es
tavam com inveja de seus novos amigos.
Como problemas de Débora e Frank se acumularam, cada um
desenvolveu uma teoria de como as dificuldades do outro prejudi
cam o relacionamento. Cada um deles acha que a culpa é do outro,
e assim ambos se lembram seletivamente dos momentos de sua vida,
com enfoque naqueles que justificam os seus próprios pontos de vis
ta. Por exemplo, Débora acha que Frank é socialmente desajeitado e
com medo de intimidade. Ele tem poucos amigos e nenhum é ínti
mo. Quando ela tenta falar com ele sobre a falta de intimidade dos
dois, tal como após a noite que saíram com seus novos conhecidos,
ele evita a discussão. Esta maneira de agir, na visão de Débora, prova
que o medo dele de intimidade, até com a sua própria esposa, é a
origem de seus problemas.
Por outro lado, Frank acredita que a insegurança e imaturida
de de Débora são a causa de seus problemas. Ele usa o mesmo inci
dente, mas interpretado de forma diferente, para apoiar seu ponto
de vista. Para ele, Débora ficou chateada naquela noite apenas por
que seus amigos tinham mais dinheiro e eram mais carinhosos em
público do que ele e Débora. Frank acha que eles têm problemas,
porque ela não pode aceitar a si mesma e aos outros (mesmo seu
próprio marido) por aquilo que são. Ele vê sua emocionalidade co
mo imaturidade, seu ritmo agitado como cansativo, e seu desejo de
proximidade como fraqueza.
Diferenças Reconciliáveis 37
RECAPITULANDO
Este capítulo descreveu um caso de um conflito de um casal e apresentou
três lados: a opinião da esposa, a opinião do marido e uma visão mais objeti
va que incorporou as posições dos dois cônjuges. Este ponto de vista dos três
lados do conflito dá um gostinho do que está por vir no próximo capítulo,
no qual o explicamos a partir da perspectiva dos participantes.
Este capítulo também deu uma visão geral do foco do livro, com sua ênfa
se na aceitação como um caminho para a resolução de conflitos, e uma vi
são geral do formato do livro.
0 1 2 3 4 5 6
2. Em geral, qual frequência que você acha que as coisas estão indo
bem entre você e seu parceiro/a?
A maior parte Mais vezes sim
Todo tempo Ocasionalmente Raramente Nunca
do tempo do que não
5 4 3 2 1 0
0 1 2 3 4 5
Diferenças Reconciliáveis 45
0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4 5
0 1 2 3 4 5
46 Três lados para cada história
0 1 2 3 4 5
PontUAÇÃo e interPretAÇÃo do
QUestionário de sAtisFAÇÃo conjUgAL
Sua pontuação indica que, em geral, você está feliz com seu
relacionamento. Estar muito feliz com a sua relação como um todo
é uma boa perspectiva! Embora você ainda possa ter algumas ques
tões especiais que deseja trabalhar com este livro, parece que você
tem muitos pontos fortes que poderá aprimorar quando resolver es
sas questões. É ótimo que você esteja dedicando tempo para refor
çar um relacionamento que já é sólido e abordar os problemas an
tes que fiquem maiores.
como terapia de casal. Como muitos desses casais, você pode até
estar se sentindo frustrado ou sem esperança com o relaciona
mento. No entanto, é realmente muito bom que você esteja pro
curando maneiras de investir na sua relação, como trabalhar com
este livro. Provavelmente, você tem pontos positivos como indiví
duo, assim como o casal também tem e isto irá ajudá-lo a melho
rar a sua relação. Nós voltaremos aos pontos positivos ao lon
go do livro. Esperamos que a leitura e a execução dos exercícios
possam ser úteis para seu relacionamento. Além disso, vamos re
comendar mais recursos no final do livro, se você decidir buscar
ajuda adicional.
1. A nossa relação
0 1 2 3 4 5 6
é sólida
2. Nossa relação
0 1 2 3 4 5 6
me faz feliz
3. Tenho uma
relação quente
e confortável 0 1 2 3 4 5 6
com meu
parceiro/a
4. Eu realmente
0 1 2 3 4
sinto que somos 5 6
parceiros
de na maior
muito Um Algumas extrema
maneira parte das muito
pouco pouco vezes mente
alguma vezes
1. Ruim 0 1 2 3 4 5 6
2. Infeliz 0 1 2 3 4 5 6
3. Esvaziado 0 1 2 3 4 5 6
0 1 2 3 4
4. Sem vida 5 6
aparente falta de interesse quando ela fala sobre seu dia, é sentido
como rejeição.
Agora, Gui pode estar ciente da sensibilidade dela à rejeição, e
por isso ele pode tentar se “animar” para dar uma resposta mais entu
siasmada. Mas ela pode perceber estas tentativas forçadas e insinceras
e se sentir rejeitada de qualquer maneira.
Se estivéssemos assistindo a esses encontros, poderiamos nos per
guntar por que cada pessoa tinha uma reação tão forte a essas ações apa
rentemente sem importância. Por que Ronaldo se sentiu tão rejeitado
quando a doença de Carol tornou impossível para ela comer o jantar, ele
tinha cozinhado? Por que Sandra se sentiu tão atacada pelas pequenas crí
ticas de Maria da maneira como ela lidava com as crianças? Nossa confu
são seria compreensível porque não temos acesso à experiência interior
desses casais, e muito menos estamos a par de todos os últimos incidentes
que levaram a essa experiência. Estaríamos vendo apenas uma pequena
fatia de uma longa história, complicada e dolorosa que explica estas sensi
bilidades intensificadas por comentários aparentemente inocentes.
atração por você. Se o seu parceiro não passa muito tempo com você, tal
vez ele não tenha feito você uma prioridade em sua vida.
Enquanto você pensa sobre o comportamento recente de seu
parceiro em relação a você, você se lembra de atos similares no pas
sado. Um pequeno comportamento de egoísmo recente traz à mente
uma série de ações egoístas anteriores. Indícios recentes de que o seu
parceiro não lhe ama realmente lhe fazem recordar de outras situa
ções que o remetem à mesma conclusão. Em sua mente, você revisa
estes elementos incriminatórios, atuais e passados. Eles são as provas
que você apresenta no seu tribunal mental. Eles são o testemunho
de acusação sobre o qual seu júri mental delibera. Um veredito de
culpado parece correto.
Mas um veredito é apenas o primeiro passo para alcançar a jus
tiça. Em seguida, queremos nossos parceiros confessando sua culpa.
Eles precisam admitir que eles são egoístas ou insensíveis ou têm falta
de respeito e amor. No mínimo, eles deveriam pedir desculpas para
nós. Mais importante, eles precisam mudar. Eles devem trabalhar em
seu problema. Eles devem fazer esforços consistentes para serem mais
atenciosos e mais amorosos.
socializar muito com sua família e amigos, talvez ele tenha uma preo
cupante falta de confiança em si mesmo. Se o sua parceira é muito
crítica com você, talvez seja porque ela não aceita a si mesma e, por
tanto, não pode aceitar os outros.
Seu diagnóstico de seu parceiro pode sugerir algo ainda mais
grave do que problemas emocionais: um transtorno mental específico.
Se seu parceiro é temperamental e irritável, você pode concluir que ele
está deprimido. Se suas acusações sobre você parecem selvagens e in
fundadas, você pode diagnosticá-la como paranóica. Se seu comporta
mento durante as discussões parece irracional, você pode chamá-lo de
louco. E a sua loucura, não a sua maldade, que causa o comportamen
to hostil de nossos parceiros em relação a nós.
Em nosso esforço para entender as dificuldades emocionais ou
a doença mental de nossos parceiros, podemos investigar seu passa
do. Muitas vezes descobrimos pistas no comportamento de nossa fa
mília de origem. A família dele sempre põe panos quentes nas suas
diferenças e nunca enfrenta os seus conflitos diretamente, por isso
não é de se admirar que ele evite o conflito. Seu pai sempre a trata
como um bebê, então agora ela quer que eu a fique mimando. Os
pais dele nunca o forçaram a ser responsável, então ele é irresponsá
vel. A mãe dela é apática e, muitas vezes, deprimida, então talvez
isso explique o seu mau humor.
Depois de termos diagnosticado as doenças dos nossos parcei
ros, nós naturalmente, queremos que eles ouçam a nossa análise cui
dadosa de seus problemas e admitam que estamos certos. Apesar da
nossa falta de formação profissional, acreditamos genuinamente que
entendemos como nossos parceiros funcionam. Eles deveriam enfren
tar suas limitações emocionais ou seus transtornos mentais, aceitando
nossos diagnósticos. Uma vez que eles reconheçam abertamente e não
estejam defensivos, presume-se que queiram melhorar. Podemos suge
rir alguns livros de autoajuda que irão reforçar a nossa perspicácia so
bre o que está errado com eles. Podemos recomendar alguma terapia
para eles e talvez, até mesmo, para seus pais e irmãos. Se necessário,
poderiamos escolher o terapeuta apropriado para eles, inclusive forne
Diferenças Reconciliáveis 63
um amor que, com o tempo, o parceiro acabaria por mudar sua per
sonalidade. Acolher idéias como essas apenas enfatizam as falhas em
nossos parceiros.
Durante a batalha de acusações, certamente não sentimos
muita proximidade e amor por nossos parceiros. Podemos até sentir
a aversão ativa por eles. Se a briga é particularmente acalorada, po
demos admitir sentimentos e atitudes que uma vez estavam lá, mas
agora estão, lamentavelmente, ausentes. Podemos reconhecer “Os
velhos sentimentos simplesmente já não estão mais lá” ou “Eu não
me importo mais tanto com isso”. As claras referências ao tempo
(“velhos sentimentos” ou “não mais”) sugerem que os sentimentos e
as atitudes já existiram e que “naqueles” dias o comportamento
apropriado seguiu-se com naturalidade. Mas agir de uma maneira
amorosa, dadas as emoções atuais, seria uma mentira. E não vamos
mentir. Afirmações de nossa integridade frequentemente acompa
nham as confissões de nossa falta de sentimentos: “Eu tenho que
dizer a verdade — eu simplesmente não me importo mais” ou “Eu
não vou mentir para você: os sentimentos simplesmente não estão
lá”. As declarações, muitas vezes, implicam numa pressão para não
falar o que se está sentindo, presumivelmente para proteger o par
ceiro a curto prazo, mas também querer resistir por um comprome
timento com a verdade
Assim, o que começa como uma tentativa de explicar nossas
opiniões sobre nosso parceiro pode, facilmente, terminar numa bata
lha de acusações, em seguida, em admitir questões que colocam as
acusações em evidência, e finalmente, em declarações sobre não cui
dar ou não amar o outro. Estes últimos comentários podem ser parti
cularmente prejudiciais e ameaçadores.
O que se perde nessas discussões são as ações ou não agir que
inicialmente desencadearam dor e que nos levaram a nossas tentativas
de compreensão. O fato de que nos sentimos frequentemente rejeita
dos em nossas tentativas de nos aproximar de nossos parceiros pode
nunca ser expresso. Em vez disso, nossas acusações sobre seu medo de
Diferenças Reconciliáveis 69
RECAPITULANDO
Pela nossa perspectiva, discussões iniciam com ações ou ausência de comportamentos
de nossos parceiros que nos causam dor. Críticas, exigências injustas, aborrecimentos
acumulados e rejeição são os tipos de comportamento e resposta que podem desen
cadear conflitos. Se estes eventos raramente acontecem, nós podemos ignorá-los.
Quando eles acontecem repetidamente, nós tentamos compreender porque eles
acontecem. Quase sempre iniciamos nossa busca colocando o foco na outra pessoa. O
que há em nossos parceiros que leva a estas ações dolorosas? Nas nossas mentes, po
demos conduzir um tipo de uma investigação judicial em suas transgressões e con
cluir que nossos parceiros tem certas deficiências morais e de caráter: eles são egoís
tas, injustos ou desatenciosos. Se nós temos mais um entendimento psicológico, po
deremos conduzir uma avaliação diagnostica ao invés de uma investigação judicial,
concluindo que aquele que amamos tem problemas emocionais, tais como imaturida
de, insegurança neurótica ou depressão clínica. Ou, em vez disso, podemos avaliar a
inadequação de nossos parceiros, determinando a falta de treinamento como pai, a
falta de habilidade em comunicação, ou a inadequação em expressar amor, como a
raiz de seu comportamento nocivo.
Enquanto estamos engajados nesta análise de nossos parceiros, também podemos re
fletir sobre a nossa própria contribuição com estes problemas. Podemos nos sentir
como vítimas, mas nos perguntar se somos possivelmente coconspiradores. No míni
mo, nós selecionamos um parceiro com estas imperfeições. Será que também permi
timos estas falhas, ou mesmo as alimentamos? Poderiamos também nos culpar por
estas inadequações? Embora estas possibilidades podem, persistentemente, incomo
dar, é comum devolvermos o foco para a culpa de nossos parceiros, mais do que para
a nossa própria.
Quando concluímos nossas análises, naturalmente queremos dividi-las porque acredita
mos que, informar nossos parceiros de suas falhas, é a melhor maneira de fazê-los tra
balhar na sua mudança. Mas, mesmo quando acreditamos que estamos agindo a partir
de uma honestidade sincera e apresentamos nossas conclusões com cuidado, nossos
parceiros raramente são receptivos. Sentindo-se acusados, eles provavelmente se de
fenderão, e o que é ainda mais perturbador, eles devolverão suas próprias conclusões
sobre nós. São os nossos erros, não os deles, que causam os problemas. Na batalha de
explicações que se segue o que somente é admitido é aquilo que serve para intensificar
as acusações. As discussões sobre os eventos concretos que, inicialmente, originaram a
dor, perdem-se. Se a batalha de explicações é, particularmente, acalorada, um ou am
bos os parceiros, poderão dizer coisas que são mais dolorosas do que as ações originais
que levaram à discussão em primeiro lugar. Mesmo que exista alguma verdade em nos
sas acusações, embora exageradas, aquela verdade frequentemente se perde no ruído
da batalha. Os conflitos ficam num impasse, se é que não ficam aumentados, e ambos
fincamos o pé e nos recusamos a admitir qualquer necessidade de mudança própria.
Portanto, ações feitas numa tentativa de estimular mudança, acabam por impedi-la.
Diferenças Reconeiliáveis 73
Exercício: Identificando a
área central do conflito
conflito. Nós nos vestimos para ficar com nosso melhor visual. Nós es
colhemos atividades que ambos acharão agradáveis. Nós investimos
para tentar impressionar e agradar o outro. E somente quando começa
mos a passar mais tempo juntos, a nos encontrar com os amigos e as fa
mílias, e vamos morar juntos que, então, ficaremos expostos a possíveis
incompatibilidades. Nossos humores vêm à tona; nossos hábitos são re
velados; nossas idiossincrasias ficam expostas. E praticamente certo que,
em algumas dessas maneiras, não vamos nos afinar. Quando descobri
mos que as atrações não são fortes o suficiente ou as incompatibilidades
são muito grandes com uma determinada pessoa, nós terminamos o re
lacionamento.
Felizmente, com um maior contato nós não somente revelamos
mais incompatibilidades, mas também criamos maior proximidade e atra
ção. Ficamos mais confortáveis juntos e nos sentimos mais próximos ao
compartilhar mais e mais de nossas vidas. Áreas imprevistas de prazer po
dem aparecer. Começamos a descobrir que a vida com um parceiro é um
complexo equilíbrio entre aspectos positivos e negativos. Finalmente nos
comprometemos com alguém quando as atrações parecem fortes e as in
compatibilidades gerenciáveis.
Claro, esperamos uma vida feliz juntos, mas no amor como na vida
a única certeza é a mudança. A atração pode desaparecer ou o amor pode
crescer; as diferenças gerenciáveis podem se transformar, rapidamente, em
incompatibilidades problemáticas ou as grandes questões podem encolher
para minúcias. Talvez você espere passar muito tempo com seus pais
como casal, enquanto seu marido pensa que um jantar ocasional no do
mingo com seus sogros é suficiente. Com o tempo seu marido pode se
tornar mais afeiçoado a seus pais e desfrutar de passar mais tempo com
eles, ou você pode achar que você precisa de menos contato, e, desta ma
neira, a diferença entre vocês se dissipa. Mas também pode acontecer que
vocês endureçam em suas posições de maneira que o que era um proble
ma menor no início se torna um grande problema mais tarde.
Incompatibilidades podem mudar por meio de experiências in
dividuais, bem como por experiências compartilhadas. Kevin e Jonas
estavam em perfeito acordo sobre quanto tempo eles deveriam passar
Diferenças Reconciliáveis 83
juntos até que Jonas recebeu uma promoção em seu emprego. O de
safio, a excitação e a pressão do novo trabalho de Jonas fez com que
ele passasse mais e mais tempo trabalhando, e Kevin começou a se
sentir deixado de fora de sua vida.
Se incompatibilidades estão presentes de início ou se desenvol
vem ao longo do tempo, elas causam dificuldades para os casais porque
significam privação ou dor para um ou ambos. Quando Jonas passa me
nos tempo com Kevin, Kevin se sente negligenciado e não amado. Ele
se preocupa em não ser uma prioridade na vida de Jonas. Entretanto, se
Jonas negligenciar suas responsabilidades com o trabalho, ele se sentirá
ansioso e preocupado.
Se o seu marido quer menos contato com seus pais e você con
cordar com seus desejos, você pode perder este contato e se sentir cul
pado por negligenciá-los. Se o seu marido vai junto com você, ele
pode se sentir entediado com seus pais ou, pior, ressentido com você,
porque você o pressionou a ir. Incompatibilidades têm consequências
para cada um dos parceiros.
mido. O lema de seu pai era: “Se você não pode dizer nada de bom
sobre uma pessoa, não diga nada”. O ponto de vista de sua mãe era
“a maioria dos problemas se resolvem ao longo do tempo”. Ambos
os pais evitavam confronto. Palavras ásperas eram proibidas. O típi
co resultado quando havia um desentendimento entre os pais era
tensão, em vez de discussões abertas. A família obteve respeito e
consideração uns pelos outros, mas pagando o preço de pouca es
pontaneidade e abertura.
Em um nítido contraste com Melissa, a família de origem de
Nelson tinha uma abordagem “deixa tudo vir à tona” para o confli
to. Os membros confrontaram seus conflitos diretamente, expressa
ram suas opiniões livremente e raramente suprimiam qualquer de
seus sentimentos. Ambos os pais de Nelson eram fortes e obstina
dos. A família conseguiu uma troca emocional aberta, espontânea,
mas à custa da paz.
Naturalmente, a abertura dogmática e explosiva de Nelson
muitas vezes machuca Melissa emocionalmente e a faz se sentir des
respeitada e maltratada. Ele, por sua vez, frequentemente se sente
culpado por ferir seus sentimentos. No entanto, ele fica com raiva
porque ela não fala o que está na sua mente, e fica frustrado quando
ela simplesmente se retira diante do primeiro sinal de conflito. Em
bora suas diferenças sejam enormes e problemáticas, elas poderiam
enriquecer a vida um do outro. Melissa poderia aprender a ter a ex
pressividade emocional de Nelson, enquanto que ele poderia respei
tar e ser mais contido como ela.
Forças mais amplas do passado do que nossa história familiar
nos influenciam no presente. O contexto em que fomos criados pode
exercer pressões poderosas sobre nós. Se o marido vem de uma cultura
que valoriza o contato próximo com a família de origem, ele pode en
tender como uma responsabilidade obrigatória ter sua mãe viúva mo
rando com ele. Fazer o contrário seria vergonhoso. Se sua esposa vem
de um meio cultural que enfatiza distanciamento entre as gerações,
ela pode insistir na ideia de que casas de idosos poderia ser considera
da como uma opção. Por que sua sogra deveria invadir a privacidade
Diferenças Reconciliáveis 91
discordam, mas a própria Sarah não tem certeza do que ela quer. A
situação se torna ainda mais frustrante e confusa quando Helena
também se sente ambivalente. Uma parte de Helena sente que de
veria ter uma participação igual na criação de seus filhos - afinal,
elas são ambas mães, especialmente porque Sarah passa muito tem
po no trabalho e contribui tanto financeiramente para a família,
quanto Helena. Mas outra parte de Helena se sente despreparada
para a tarefa: ela não teve tanta experiência com crianças quanto
Sarah. E, para dizer a verdade, ela tem menos prazer em atendê-los
do que sua companheira.
Considere outro exemplo de como os conflitos dentro de cada
parceiro complicam os conflitos entre eles. Haroldo quer que Júlia
cuide melhor dele. Quando ele se sente deprimido ou estressado - o
que é frequente — ele quer ser mimado, acarinhado, servido. Júlia,
muitas vezes, resiste à sua pressão, sentindo que ela não deveria ter
que tratá-lo como um “bebê”. Afinal, ele não a trata dessa maneira
quando ela se sente mal. Mas há algo sobre a angústia explícita dele,
sua incapacidade de esconder sua mágoa, sua vulnerabilidade que
Júlia acha atraente. Ela se sente necessária, generosa e forte quando
cuida dele. Mas quando ela está preocupada com suas próprias ques
tões, ela acha suas demandas irritantes. Assim, ela alterna entre uma
atitude irritada “Oh meu, cresce” e uma atitude reconfortante “Ah,
meu doce, vai dar tudo certo”.
Por seu lado, Haroldo se sente desconfortável com o nível de
apoio que ele quer e precisa da Júlia. Ele não ignora suas idéias sobre
masculinidade e, muitas vezes, isto faz com que ele se sinta “inferior”
no relacionamento. Às vezes, quando ele só quer se afastar de seus
próprios pensamentos, ele considera a maneira como é tratado por ela
insultante e intrusiva. Assim ele alterna entre uma postura petulante
“Você não vai me ajudar?” com uma posição desafiante “Eu não pre
ciso de você!”.
Dado estes sentimentos contraditórios, não é de surpreender
que o conflito entre eles fique confuso. Não é de se admirar que eles
Diferenças Reconeiliáveis 93
BÊNÇÃOS CONTRADITÓRIAS
SIM E NÃO
RECAPITULANDO
Neste capítulo, consideramos os problemas de relacionamento como diferenças. Em
bora busquemos parceiros que sejam semelhantes a nós de muitas maneiras, também
procuramos parceiros que sejam diferentes de nós. E as coisas que são semelhanças
inicialmente podem vir a ser diferenças, e vice-versa, ao longo do tempo. Todos nós
temos genes únicos e histórias sociais únicas que moldam quem somos. Assim, nunca
podemos encontrar um clone para um parceiro e, mesmo que o fizéssemos, provavel
mente estaríamos descontentes com esse clone. Inevitavelmente, encontraremos um
parceiro cujas diferenças de nós ou semelhanças conosco causam problemas.
Essas diferenças são o material das brigas. Elas são o conteúdo em que nos envolvemos,
os problemas de relacionamento que enfrentamos. E como as diferenças e as semelhan
ças, que conduzem às incompatibilidades visíveis são frequentemente o resultado de in
fluências genéticas e históricas poderosas, não são fáceis de mudar.
Embora algumas diferenças de seu parceiro sejam definidas e nítidas, outras podem ser
mais nebulosas e escorregadias, acrescentando confusão aos seus conflitos. As boas
qualidades que você gosta em seu parceiro podem ser parte de uma constelação natu
ral que inclui algumas qualidades que você não gosta. A personalidade de seu parceiro
é, inevitavelmente, um "pacote fechado", e você não tem nenhum "poder de veto" pelo
qual você poderia cancelar algumas características, mas manter outras. Mesmo uma
única qualidade em seu parceiro pode evocar reações complexas e ambivalentes, pois,
às vezes, você a considera boa, mas fica incomodado com ela em outros momentos.
Exercício: Diferenças de
personalidade no seu relacionamento
que podem fazer a diferença
Instrução:
Aqui estão alguns traços de personalidade que podem, ou não, se
aplicar a você. Por favor classifique cada item para indicar em que me
dida concorda ou discorda dessa declaração. Você deve avaliar até que
ponto o par se aplica a você, mesmo se uma característica se aplica
mais fortemente do que a outra.
Eu me vejo como:
1. Extrovertido, empolgado
Discordo Nem
Concordo
Discordo Modera Discordo discordo Concordo Concordo
modera
Inteiramente damente um pouco Nem um pouco plenamente
damente
concordo
1 2 3 4 5 6 7
2. Reservado, quieto
Discordo Nem
Concordo
Discordo Modera Discordo discordo Concordo Concordo
modera
Inteiramente damente um pouco Nem um pouco plenamente
damente
concordo
1 2 3 4 5 6 7
3. Simpático, afetuoso
Discordo Nem
Concordo
Discordo Modera Discordo discordo Concordo Concordo
modera
Inteiramente damente um pouco Nem um pouco plenamente
damente
concordo
1 2 3 4 5 6 7
4. Crítico, briguento
Discordo Nem
Concordo
Discordo Modera Discordo discordo Concordo Concordo
modera
Inteiramente damente um pouco Nem um pouco plenamente
damente
concordo
1 2 3 4 5 6 7
Adaptado por Gosling, Rentfrow & Swann (2003). Copyright 2003 de Elsevier.
Adaptado com permissão. E no Brasil adaptado por Carvalho, Nunes, Primi.
Diferenças Reconeiliáveis 101
5. Confiável, autodiseiplinado
Nem
Discordo Concordo
Discordo Discordo discordo Concordo Concordo
Modera modera
Inteiramente um pouco Nem um pouco plenamente
damente damente
concordo
1 2 3 4 5 6 7
6. Desorganizado, descuidado
Discordo Nem
Concordo
Discordo Modera Discordo discordo Concordo Concordo
modera
Inteiramente damente um pouco Nem um pouco plenamente
damente
concordo
1 2 3 4 5 6 7
Pontuação de Interesse em Novas Experiências (9-10) =___ Escores maiores significam maior
interesse em novas experiências
102 "Como você pode ser assim?"
Pontuação de Expressividade Emocional (1-2) =____ Escores mais altos indicam maior facili
dade e interesse em discutir sentimentos
Pontuação de Desejo de Intimidade (1-2) =____ (Maiores pontuações significam maior de
sejo de intimidade)
Adapted from Bagby, Parker, andTaylor (1993). Copyright 1993 by Elsevier. Adapted
by permission.
Adapted from Christensen et al. (2006). Adapted with permission from the author.
Diferenças Reconciliáveis 103
SITUAÇÕES NO RELACIONAMENTO
QUE CRIAM SENSIBILIDADES
tarde ela obteve seu diploma. Ela recebeu uma proposta de emprego
num bom escritório de advocacia e queria assumir o cargo, mas To
maz pediu-lhe para adiar por um tempo. Ele assumiu responsabilida
des extras como sócio-chefe e precisava da ajuda dela em casa para re
ceber seus colegas e clientes. Ela concordou. Abaixo é como ela des
creve sua reação a essa decisão e eventos subsequentes:
um crime bocejar?” “Olha, eu estou cansada esta noite.” “Nós não so
mos pombinhos apaixonados.” “Lá vem você outra vez!” “Você é tão
exigente.” “Você não consegue ficar sem ser o centro das atenções.”
Por que tais ações, aparentemente pequenas, podem provocar
reações tão fortes? Isto pode ser explicado por nossa história. Um pa
drão crônico de negligência diária, no qual cada incidente pode ser
explicado facilmente, pode, eventualmente, criar poderosas reações de
mágoa e raiva. No romance de John Updike S., Sarah Worth deixa
seu marido de mais de duas décadas, que é médico, não por causa de
quaisquer ações graves de sua parte, mas por causa de suas “atrocida
des educadas de frieza e cegueira em relação a mim”. Em uma carta
para ele, ela descreve os “quase vinte e dois anos de crueldade mental
e emocional que você com sua frieza antisséptica infligiu em mim.”
Em uma carta dirigida à filha adulta, ela tenta justificar sua partida:
“Bem, recentemente fiz uma experiência. Não contei coisa alguma a
seu pai sobre o meu dia. E ele nunca, me perguntou. Nem uma vez, dia
após dia, fazendo força pra ficar calada - ele não percebeu absoluta
mente nada. Então ficou claro. Estou tão fora de suas percepções, que
eu poderia estar ausente de fato.” Uma longa história de negligência -
de atos desatentos, cada um pequeno e facilmente descartado se con
siderado isoladamente, mas poderosos em sua totalidade - levou Sa
rah a deixar seu marido e a vida material luxuosa que eles tinham.
"Nunca me deixe"
Em comparação com os animais, nós, seres humanos, temos
um período excepcionalmente longo de dependência de nossos pais.
Nós nascemos totalmente dependentes, incapazes até de nos virar ou
levantar a cabeça. Mesmo depois de um ano, mal conseguimos cami
nhar ou nos alimentar sozinhos. Demora quase duas décadas antes de
sermos reconhecidos pela sociedade como adultos capazes de lidar
com nossos próprios assuntos.
Os psicólogos do desenvolvimento estudaram o apego dos be
bês ao cuidador primário - geralmente a mãe (Bowlby, 1969) Porque
a sobrevivência física dos bebês, bem como seu bem-estar emocional,
depende de seu cuidador, e eles têm uma reação automática à separa
ção dela. Eles não deixam passar se ela os deixa sozinhos, particular
mente em um lugar desconhecido. Eles a usam como uma base segura
para explorar o mundo; se algo assustador lhes acontece, eles correm
de volta para seus braços. Os psicólogos especulam que, se o cuidador
é uma pessoa atenta à angústia da criança, se ele lida com a separação
sensivelmente para que o bebê esteja familiarizado com seu novo am
biente e novos cuidadores antes de sair, então a criança desenvolve
Diferenças Reconciliáveis 117
pode ser difícil porque tememos que eles não o façam como faríamos
- na verdade, muitas vezes não o fazem.
No processo de criação de filhos, os pais devem constantemente
tomar decisões sobre quanto controle manter e quanto ceder. É fun
ção dos pais proteger seus filhos, tanto física como psicologicamente.
Portanto, eles devem limitar a independência dos filhos até que estes
possam gerenciar situações particulares por conta própria. Quando e
em que situações as crianças pequenas podem brincar ou tomar ba
nho sozinhas? Quando você pode deixar as crianças caminhar pela a
loja por si só? Quando é que se pode permitir um adolescente pegar o
carro da família para sair à noite?
Mesmo crianças pequenas querem controle. Elas querem as coisas
à sua maneira. Elas querem fazer as coisas sozinhas. Alguma medida
adequada de controle é, certamente, necessária para seu bem-estar e de
senvolvimento apropriado. É claramente importante para sua satisfação.
Uma vez minha esposa e eu permitimos que nosso filho pequeno tivesse
o controle dos chocolates M & M que compramos para a família. Asse
guramos a ele que poderia ser o “chefe dos M & Ms.” Ele se encheu de
orgulho por ter propriedade e poder. Cuidadosamente e prudentemen
te, ele distribuiu os chocolates para os pais e sua irmã. Depois desse
acontecimento, ele ocasionalmente perguntava: “Posso ser o chefe de
...?” Ele queria reexperimentar o poder de ter controle.
Dada a luta entre os pais, que devem proteger seus filhos ao
exercer controle sobre seu comportamento, e as crianças que querem
independência e controle para si, não é de surpreender que algumas
pessoas possam emergir desta luta com uma certa sensibilidade sobre
controle. Talvez pais superprotetores exerceram controle excessivo que
gerou raiva e rebeldia. Talvez pais permissivos fracassaram em exercer
controle, então a criança se acostumou à pouca responsabilidade e
máxima independência. Experiências como essas podem levar alguém
a exercer controle sobre um parceiro ou a temer e rebelar-se contra
esse controle de um parceiro.
Conforme observado anteriormente, esta lista de vulnerabilida-
des psicológicas destina-se simplesmente a ilustrar os tipos de sensibi
124 "Você sabe como me machucar"
PROVOCAÇÃO OU VULNERABILIDADE?
RECAPITULANDO
Nossas sensibilidades são muitas vezes o barril de pólvora para conflitos. Profundos
incidentes de negligência, quando nossos parceiros não estão lá quando precisamos
deles, ou atordoantes exemplos de provocação, quando nossos parceiros fazem algo
que nos envergonha, nos humilha ou nos trai, certamente criarão conflito. Mas os
exemplos mais comuns de negligência e provocação, muitos dos quais são suprimi
dos ou ignorados, podem eventualmente causar conflitos também. 0 poder desses
eventos não reside apenas nas ações ou não ações de nossos parceiros, mas em
nossas próprias sensibilidades a esses eventos. Podemos ter vulnerabilidades desen
volvidas por meio de nossa experiência passada que, como as alergias psicológicas,
nos tornam especialmente reativos a possíveis ameaças de abandono ou aprisiona-
mento, falta de reconhecimento ou aprovação ou perda de controle. Discutimos
sobre incompatibilidades que criam força a partir das vulnerabilidades de cada um
de nós. Se nossas sensibilidades colidem com as de nosso parceiro, a dor e conse
quente briga podem ser ainda maiores. Queremos ser tratados com cuidado em
nossas áreas especiais de vulnerabilidades. No entanto, porque estamos apenas va
gamente conscientes ou nos sentimos envergonhados delas, não estamos abertos
para as nossas sensibilidades. Quando elas são ativadas, a emoção visível que ex
pressamos pode camuflar uma emoção escondida que não expressamos, para pro
teger a nós mesmos ou a nossos parceiros.
Diferenças Reconciliáveis 131
Brabo Solitário
Ofendido Isolado
Frustrado Distante
Furioso Abandonado
Irritado Medroso, Ansioso
Enraivecido Cauteloso
Rancoroso Intimidado
Desrespeitado Oprimido
Insultado Preocupado
Ridicularizado Culpado
Desconsiderado Envergonhado
Inferior Arrependido
Insignificante Sentido
Não confia em si Indigno
132 “Você sabe como me machucar'
JUNTANDO TUDO
Copyright The New Yorker Collection 2002 Barbara Smaller from www.cartoon-
bank.com. AlI rights reserved.
136 "Você não vê que estou estressado?"
isso nos referimos à sua posição atual, habilidades e status também. Ro
dolfo acredita que a assinatura de um acordo pré-nupcial seria uma decla
ração de falta de confiança entre ele e Marianne. Ele exige que eles “acre
ditem em seu amor um pelo outro” e que se vá para o casamento sem
pré-condições ou cláusulas financeiras. Marianne acredita que se deve fa
zer um acordo pré-nupcial como precaução realista em face das altas taxas
de separação e divórcio de hoje. Ela argumenta que “o amor não é incom
patível com a realidade”. Embora existam diferenças pessoais no nível do
romantismo e do realismo de Marianne e Rodolfo, suas diferentes situa
ções financeiras também os levaram a suas posições diferentes. Marianne
vem à relação com significativamente mais bens do que Rodolfo e perde
ría mais se eles se divorciassem. Rodolfo pode literalmente “dar-se ao
luxo” de ser mais romântico do que Marianne.
Status e capacidade podem afetar não apenas as reações de um
cônjuge para entrar em um relacionamento, mas também o seu
comportamento nessa relação. Juan e Angela têm reações muito di
ferentes em relação aos pensamentos e à discussão sobre uma possí
vel separação e divórcio. Juan acha que esses pensamentos e discus
sões são um exercício realista, diante dos conflitos que os dois estão
tendo. Ele ama Angela e realmente não quer um divórcio, mas acha
insuportável a ideia de ficar em uma relação sem amor e conflituosa
para o resto de sua vida. Angela, por sua vez, acha ameaçadora a dis
cussão sobre possível separação e divórcio. Para ela, trazer o tema
implica numa falta de amor e compromisso. Ela pergunta: “Por que
estamos discutindo isso com apenas 2 anos do nosso casamento?”
Embora possa haver muitos fatores que explicam essas diferentes re
ações, a capacidade atual, de ambos, de atrair outras pessoas é uma
delas. Juan é um cara gregário que amava o mundo do namoro e
achava muito fácil conhecer outras pessoas. Se ele e Ângela se divor
ciassem, rapidamente encontraria relacionamentos alternativos. Em
contraste, Angela é dolorosamente tímida e achou o mundo do na
moro bastante desagradável. Não poderia substituir facilmente Juan.
Não há nada de reconfortante para ela sobre a ideia de divórcio.
Diferenças Reconciliáveis 139
CIRCUNSTÂNCIAS EXTERNAS
E SENSIBILIDADES EMOCIONAIS
Danzae Pace
Autor desconhecido
ESTRESSE E DIFERENÇAS
RECAPITULANDO
Embora o que nós e nossos parceiros trazemos para um conflito é altamente influen
te, as circunstâncias externas em que nos encontramos também interferem nesse
conflito, para o bem e para o mal. Às vezes circunstâncias externas podem servir para
reduzir as diferenças entre nós dois ou para amortecer as sensibilidades emocionais
de um ou outro. No entanto, em alguns momentos as circunstâncias fazem exata
mente o oposto, acentuando nossas diferenças ou expondo nossas sensibilidades
emocionais. 0 pior tipo de circunstâncias externas são as estressantes, que podem
restringir nossa atenção em nossas próprias preocupações, diminuindo nossa atenção
às preocupações de nosso parceiro. Essas circunstâncias estressantes podem acentuar
nossas diferenças e aumentar nossas sensibilidades emocionais, especialmente quan
do nossa resposta normal ao estresse é diferente.
PONTUAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA
ESCALA DE PERCEPÇÃO DE ESTRESSE
Escore de 0-3
Você nos disse que, em geral, você se sente muito confiante e
capaz de lidar com o estresse em sua vida e você se sente no con
trole de situações estressantes. Isso é uma boa notícia porque suge-
150 "Você não vê que estou estressado?"
re que você não precisa ter que proteger seu relacionamento de seu
estresse muito frequentemente. No entanto, isso, naturalmente, não
significa que você não fique estressado em circunstâncias específi
cas e, nesses momentos, você precisará considerar as questões dis
cutidas neste capítulo.
Escore de 4-8
Seus resultados mostram que você sente que é capaz de lidar
com situações estressantes e controlar coisas importantes em sua
vida a maior parte do tempo. No entanto, parece haver certos mo
mentos em sua vida, quando as coisas começam a parecer fora de
controle, como se você não conseguisse lidar com elas. Embora seja
ótimo que isso não aconteça todo o tempo, ou mesmo na maioria
das vezes, quando você está se sentindo muito estressado, este pode
ter um grande impacto em você e seu relacionamento, como você
aprendeu neste capítulo.
Escore de 9-16
Sua pontuação indica que você está lidando com uma quantida
de significativa de estresse em sua vida. Portanto, o conteúdo neste
capítulo será espeeialmente importante para você. À medida que
você trabalha para fortalecer seu relacionamento, será importante
prestar atenção ao papel que o estresse tem. Mais tarde, vamos falar
sobre como proteger seu relacionamento do impacto do estresse.
JUNTANDO TUDO
seu registro de vendas este ano será menor do que o do ano passado pode
orecipitar uma discussão sobre quanto esforço ele está colocando no tra
balho. Em cada um desses três casos, Gabriel e Jana estão discutindo um
evento desencadeante, que é uma manifestação de suas abordagens de
vida um tanto incompatíveis.
Nós nos importamos profundamente com o conteúdo de nos
sos conflitos. Estamos investidos em fazer sexo esta noite, em não ir
à casa dos sogros neste fim de semana, e em obter mais atenção de
nossos parceiros. Queremos a liberdade de tirar o fim de semana
fora para uma caminhada com um amigo ou o poder de comprar o
novo sofá para a sala de estar. Nós nos importamos porque o conte
údo do conflito representa o problema que enfrentamos: um parcei
ro que difere de nós em uma questão importante, que não lida devi
damente nossas sensibilidades emocionais, e que não é atencioso às
nossas circunstâncias estressantes.
com seu grande apetite sexual do que pressionar Janete. Se ele não
exige, ele teme que não tenham nenhuma vida sexual. Lori não co
nhece outra maneira de lidar com a falta de envolvimento de Manuel
com as crianças do que criticá-lo quanto a isto e se queixar de ser uma
mãe solteira”. Se ela não se queixar, ela teme que ele vai esquecer
completamente seu papel de pai. E assim o padrão continua.
Vimos como o conteúdo do conflito tipicamente vem das dife
renças (ou similaridades) entre os parceiros e suas sensibilidades emo
cionais, muitas vezes como provocado por circunstâncias estressantes. O
processo de conflito é como o casal tenta resolvê-lo por meio da sua in
teração. Infelizmente, essas “soluções” frequentemente tornam o proble
ma pior. São curas tóxicas que agravam a doença. Eles são tratamentos
que são piores do que a doença. Sua intenção é criar mudanças para
melhor; seu resultado é criar uma mudança para pior. Abaixo detalha
mos tipos específicos de curas tóxicas.
Escalada
Polarização
Quando lidamos com nossos problemas de forma ineficaz, mui
tas vezes ficamos polarizados em nossas posições. Ficamos mais rígi-
172 Uma cura pior do que a doença
o que com faz com que ela se sinta culpada. Ao longo do tempo, ela
fica apreensiva e receosa em relação às aproximações dele. Ela começa
a questionar seu próprio interesse sexual, particularmente seu interesse
por Enrico. Tudo isso reduz qualquer interesse sexual inerente e es
pontâneo que ela tivesse em relação à ele. Quando ela se força a ter
contato sexual com Enrico, até mesmo quando ela não quer, toda a
experiência torna-se uma vivência emocional negativa para ela. Assim,
em consequência de seu conflito repetido sobre o sexo, o interesse de
Rosa diminui e a incompatibilidade deles aumenta.
A privação também pode desempenhar um papel na polarização
de um casal. Como ambos são incapazes de satisfazer suas necessida
des, estas podem se intensificar. Por exemplo, se o contato sexual
acontece cada vez menos, Enrico pode achar que seus desejos por sexo
aumentam. Além da simples privação desta experiência em particular,
Enrico pode sentir seus desejos por sexo aumentarem apenas porque
está sendo negado a ele — um prazer negado é um desejo intensificado.
Enquanto isso, Rosa percebe seu desejo sexual diminuindo por causa
da pressão de Enrico. Suas persistentes tentativas de resolver sua in
compatibilidade sexual tornaram a incompatibilidade maior. Suas so
luções repetitivas criaram um problema maior.
Afastamento
Depois que os conflitos se intensificam e as posições se tornam po
larizadas, os parceiros podem eventualmente terminar a discussão em de
sespero. Eles não conseguem chegar um no outro. O outro não “enten
deu”. Mais conversas sobre o assunto é impossível. Cada um recua para o
seu próprio canto e se fecha. Outras conversas, se houver alguma, são ten
sas e artificiais. Os parceiros tornaram-se alienados um do outro.
As vezes, no calor da discussão, são feitas observações que de
sencadeiam o afastamento. Pouco antes de sair da sala, Ralph sugeriu
que ele e Anita deveriam encontrar outra pessoa. Este comentário ca
talisou as inquietações dela sobre o comprometimento dele com a re
lação. Consequentemente, ela se afastou dele por dias.
174 Uma cura pior do que a doença
RECAPITULANDO
Neste capítulo, reunimos os componentes do conflito discutidos em capítulos ante
riores para criar uma análise DEEP (profunda) completa do conflito. Anteriormente,
na Parte II, vimos como nossos problemas com nossos parceiros são, muitas vezes,
prontamente compreensíveis se vistos à luz das Diferenças (D) entre nós, as reações e
sensibilidades Emocionais (E) que trazemos para o relacionamento, e as circunstâncias
Externas (E), particularmente as estressantes. Em nosso esforço para lidar com esses
problemas iniciais, respondemos repetidamente com métodos duvidosos que só cau
sam mais problemas. Estes métodos tendem a ser reforçados porque todos eles forne
cem alguns benefícios ocasionais. Mover-se contra o outro com acusação, culpa e
coerção pode liberar sentimentos de raiva ou forçar uma solução temporária; afas
tando-se do outro com evitação, negação e distanciamento pode fornecer refúgio
Diferenças Reeoneiliáveis 175
JUNTANDO TUDO
PRÓXIMOS PASSOS
se seu parceiro não está disposto a ler o livro, ainda é útil que você
leia sozinho. Mais tarde, vamos lhe mostrar maneiras que você
pode envolver o seu parceiro, tais como compartilhar construtiva
mente de sua análise DEEP com ele ou ela, mesmo se ele ou ela
não estiver lendo o livro.
Sabedoria é o primeiro passo para a aceitação nos relacionamen
tos. Até aqui você deverá ter um maior conhecimento do seu conflito
central a partir da sua análise DEEP (profunda). Na Parte III, mostra
remos como usar essa compreensão DEEP (profunda) para criar
maior aceitação em seu relacionamento. Ao fazê-lo, você pode dimi
nuir o conflito que contamina sua relação, particularmente o conflito
reativo. E tão importante quanto isso, é que você poderá aumentar a
intimidade entre vocês dois. Assim, como vantagem adicional, seu
parceiro poderá espontaneamente fazer algumas das mudanças que
você não conseguiu com suas curas tóxicas. Se não, a Parte IV o aju
dará a criar mudanças específicas na sua relação.
Parte III
Da Discussão à Aceitação
7
O delicado equilíbrio
Aceitação e mudança
No filme Céu Azul (Blue Sky, 1994), pelo qual Jessica Lange
ganhou um Oscar, ela retrata a esposa emocionalmente volúvel de
um especialista em radiação nuclear do exército (interpretado por
Tommy Lee Jones). Em uma cena, eles e suas duas filhas entram na
casa dilapidada que será sua nova casa em uma base militar no Ala-
bama. Perturbada com a mudança e com a péssima condição em
que se encontra a casa, Lange tem uma forte explosão emocional.
Ela rasga as cortinas, sai correndo para fora, pula no carro e fica ber
rando. Tommy Lee Jones corre atrás dela, e finalmente a resgata e a
leva de volta para casa. Na manhã seguinte, enquanto dorme, as me
ninas ainda estão chateadas com o incidente. Jones tenta confortar
suas filhas e explicar sua perspectiva a elas. Ele lhes assegura do seu
amor e o de sua mãe por elas. Ele usa a metáfora da água para expli
car sua mãe. Assim como a água pode ser líquida ou vapor ou gelo,
da mesma forma sua mãe tem várias propriedades que se alternam.
186 0 delicado equilíbrio
Ele diz a elas: “Eu tomei uma decisão há muito tempo que é somen
te amar suas propriedades básicas.” Jones claramente experimenta a
dor das explosões emocionais de sua esposa, contudo ele é capaz de
tolerar aquela dor, recuperar-se dela e aceitá-la. Ele ainda consegue
ser bem humorado com a situação e fazer um trocadilho usando as
palavras ‘nuclear fishing’ e ‘fission’ (as quais têm uma pronúncia pa
recida) representando a instabilidade da água, como é a de sua espo
sa. Ele vê seus comportamentos específicos no contexto mais amplo
de toda vida dela — apenas como uma de suas propriedades mutan-
tes. E ele vê seus comportamentos no contexto de sua vida juntos:
seu dinamismo emocional que faz dela a pessoa provocante, char
mosa e desafiante que ela é. Ao lidar com sua emotividade, ele nun
ca parece fraco ou submisso, mas forte e amoroso.
Este filme ilustra dramaticamente o que entendemos por
aceitação. Quando falamos em “aceitar” seu parceiro, queremos
dizer tolerar o que você considera um comportamento desagradá
vel dele, provavelmente compreender o significado mais profundo
desse comportamento, certamente vê-lo em um contexto mais am
plo, e talvez até apreciar seu valor e importância no relacionamento
de vocês.
Em forte contraste com este exemplo de aceitação segue um
exemplo de submissão. No filme Cenas de uma Família (Mr. & Mrs
Bridge, 1990), os personagens de Paul Newman e Joanne Woodward
estão jantando juntos em um clube quando um furacão se aproxima.
Todo mundo procura abrigo no porão, exceto Newman e Woodward,
porque Newman quer terminar o jantar. Aflita pelo perigo, ela quer
procurar refúgio, mas espera enquanto seu marido come. Quando o
vento intensifica e colide com o prédio, Newman comenta: “Eles
nunca lhe dão manteiga suficiente”. Woodward procura ansiosamente
em outras mesas, agora abandonadas, por mais manteiga para o pão
de Newman. Finalmente, quando seu medo do tornado supera seu
medo de ofendê-lo, ela questiona hesitante: “Você não acha que nós
poderiamos estar melhor lá embaixo no porão?”
Diferenças Reconciliáveis 187
A TERCEIRA SOLUÇÃO
RECAPITULANDO
Neste capítulo distinguimos entre aceitação e mudança. Mudança ocorre quan
do o autor de algum comportamento ofensivo (ou o parceiro que não tem algum
comportamento desejado) faz algo diferente. Uma pessoa crítica diminui a fre
quência ou a intensidade da crítica; um parceiro não afetuoso se torna mais afeti
vo. Aceitação ocorre quando o destinatário do comportamento ofensivo, ou a fal
ta do comportamento, responde de forma diferente. 0 receptor da crítica ou o
parceiro de um companheiro não afetuoso é menos tocado pela crítica ou pela
falta de afeto e não é tão ferido pelo comportamento ofensivo (ou falta do com
portamento).
Problemas nos relacionamentos podem ser resolvidos, pelo menos teoricamente, por
uma mudança completa por parte do emissor, aceitação completa por parte do re
ceptor, ou uma combinação dos dois. A terceira solução, uma combinação de aceita
ção e mudança, é claramente o caminho mais viável.
Certos comportamentos, como o abuso físico, nunca deveríam ser aceitos. Além disso,
certas características do outro, como uma característica física imutável ou uma ca
racterística de personalidade central, podem precisar ser aceitas. No entanto, existem
poucas regras universais, preciosas, que certamente devem ser mudadas ou devem ser
aceitas em todos os casais para um bom relacionamento existir. Na verdade, cada um
de nós deve decidir o que é inaceitável em nossos parceiros e o que somos incapazes
ou não estamos dispostos a mudar em nós mesmos (e, portanto, possivelmente preci
sam ser aceitos pelos nossos parceiros). O perigo é que a lista do que é inaceitável em
nossos parceiros pode ficar muito longa e a lista do que estamos abertos a mudar em
nós mesmos pode ser curta.
Quando consideramos os quatro aspectos da análise DEEP de um problema central
que descrevemos na Parte I, a aceitação será necessária para as diferenças funda
mentais entre você e seu parceiro, bem como para as reações emocionais e sensibili
dades que cada um de vocês traz ao relacionamento. Alguns estressores podem ser
mudados, mas outros simplesmente devem ser aceitos; o que pode ser mudado é
como você responde a eles. 0 padrão de comunicação é a área onde a mudança será
mais necessária. Falar com seu parceiro de forma mais construtiva é algo que todos
nós temos o poder de fazer.
Neste livro, focamos primeiro em promover a aceitação nos relacionamentos, não só
porque é importante por si só, mas também porque muitas vezes pode levar a mu
danças espontâneas. Quando há maior aceitação em uma relação, ambos os parceiros
serão menos defensivos e mais abertos para ouvir o que o outro precisa e quer. Am
bos podem responder a essas necessidades e desejos simplesmente porque se impor
tam com o outro.
208 0 delicado equilíbrio
PRÓXIMOS PASSOS
É óbvio que, para ele, Graze não está satisfeita sexualmente, e por isso
ele se sente como um fracasso sexual. Ele se sente fragilizado por toda
a situação; afinal, um homem de verdade deveria ser capaz de dar pra
zer à sua mulher. Então, talvez Graze queira fragilizá-lo; talvez ela se
sinta ameaçada por sua masculinidade e está tentando diminuí-lo.
Talvez inconscientemente ela queira que ele seja impotente!
Por sua parte, Graze sente tanta pressão e insatisfação de Chico
que ela questiona sua própria sexualidade. Ela vacila entre sentir raiva
dele por suas iniciativas e sentir-se inadequada como esposa e amante.
Em sua raiva, ela pode pensar que apenas uma estrela pornô poderia
satisfazer Chico. No entanto, ela sabe que sempre foi tímida e inibida
sexualmente. Infelizmente, sua relação sexual com Chico está distorci
da por tanta pressão que suas inibições aumentaram, não diminuíram.
Então, ela começa a pensar: “Talvez ele queira que eu me sinta inade
quada. Talvez ele esteja projetando em mim algum tipo de raiva in
consciente para com as mulheres.”
Mesmo se não supormos que nossas fortes reações emocionais
próprias envolvam motivos inconscientes e negativos em nosso parcei
ro, há uma outra maneira que as consequências emocionais do confli
to podem afetar nossas histórias sobre estes conflitos. Podemos encon
trar, na presença de nossa própria forte emoção negativa, a evidência
de uma ausência de forte emoção positiva em nossos parceiros em re
lação a nós. “Se você está fazendo algo que cria uma reação tão negati
va em mim, então certamente você não deve se preocupar com meus
sentimentos. Se você fizer coisas que me machucam, como você pode
me respeitar? Se você tomar atitudes que me fazem sentir não amado,
como pode realmente me amar?”
Erik quer um relacionamento mais próximo com Saul. Erik mui
tas vezes se sente negligenciado por ele, particularmente quando vê o
quanto de contato Saul tem com sua mãe e pode imaginar a intimidade
que eles devem ter juntos. Ele se pergunta se Saul realmente o ama. Em
sua raiva, ele acusa seu parceiro de falta de amor. Em momentos dramá
ticos, ele tira sua aliança de casamento e oferece a Saul com o desafio
“Por que você não dá a sua mãe? E ela, realmente, seu cônjuge, não eu!”
Diferenças Reeonciliáveis 217
dividido entre seu marido e sua mãe quando Erik reage a ela de for
mas que não lhe parecem amigáveis.
ção no conflito recente: Chico queria fazer amor com Graze e tentou
excitá-la com comentários sugestivos e uma proposta para assistir a
um filme pornô. Graze se sentiu pressionada por estes comentários e
ficou chateada com a proposta do filme. Eles discutiram brevemente e
depois se afastaram. Volte ao final do Capítulo 6, onde escreveu pela
primeira vez a sua análise DEEP (profunda) do seu conflito principal,
para obter idéias adicionais.
O Padrão de comunicação típico durante a nossa questão central:
você quer que seja feito.” Esta solução simples ignora pelo menos
duas grandes questões. Janice quer que Luiz seja mais parceiro, não
apenas um ajudante. Ela quer que ele se dê conta quando as crianças
precisam, quando a casa precisa ser arrumada, ou a louça precisa ser
lavada. E, então, que ele tome uma atitude. Em vez disso, ele se reti
ra em seu próprio mundo, lendo o jornal ou assistindo televisão, e
deixa toda a responsabilidade para ela. Quando ela fica sobrecarre
gada com as responsabilidades domésticas e o vê “em seu próprio
mundo”, ela fica extremamente irritada para pedir gentilmente ou
docemente por sua ajuda.
A solução simples de Janice para seu problema seria: “Luiz, le
vante e assuma um papel igual na família. Olha ao redor, veja o que
precisa ser feito e faça-o. Não espere que eu diga a você o que fazer ou
que as coisas fiquem completamente fora de ordem.” A solução sim
ples de Janice também ignora algumas facetas importantes do proble
ma deles: Luiz tem padrões diferentes de Janice para o lar e para as
crianças. E para ele agir por conta própria, as crianças teriam que estar
fazendo a maior bagunça, quase saindo do controle e a casa estar em
maior desordem do que Janice poderia tolerar. Então, Janice quer que
Luiz tome medidas de acordo com seus padrões, e não de acordo com
os dele, o que naturalmente seria muito mais difícil para Luiz. Além
disso, quando ele toma uma atitude, seja com as crianças ou com a
casa, muitas vezes não faz tão bem quanto Janice. Ela então o critica,
o que faz com que ele sinta que ela não ficará feliz a menos que seja
feito da maneira dela. Sendo assim, ele reage se afastando completa
mente das tarefas domésticas. Já começa que, em primeiro lugar, ele
nem quer assumir tais responsabilidades, especialmente porque ele é
criticado por seus esforços.
Assim, as soluções simples propostas por cada um não terão êxi
to. Eles colocam toda a responsabilidade sobre o outro, desconside
ram o papel de cada um no problema e ignoram as barreiras emocio
nais à sua implementação. Enquanto Luiz e Janice discutem sobre es
sas “soluções simples”, eles, provavelmente, criarão problemas reativos
que, no mínimo, complicarão seu problema inicial. Uma história que
Diferenças Reeonciliáveis 225
RECAPITULANDO
0 primeiro passo para resolver um problema é defini-lo adequadamente. Uma boa
definição de um problema de relacionamento é uma história sobre a dificuldade em
que ambos os parceiros conseguem concordar. É uma história que incorpora o tipo de
análise descrita na Parte II, mas para um problema único de um casal em particular.
Como qualquer boa história, uma narrativa sobre um problema de relacionamento
enfatiza certas características sobre outras. Uma boa história é aquela que enfatiza
as diferenças entre os parceiros em vez de debilidades em qualquer um deles, que sa
lienta as vulnerabilidades de cada um, em vez de violações por qualquer um, que
destaca os estressores que cada um experimenta e suas respostas compreensíveis, ao
invés das reações exageradas estressantes que cada um pode ter, que se concentra na
descrição e não na avaliação de seus esforços para lidar, e que define dilemas com
plexos ao invés de soluções simples para o problema. Tal história, que é uma "anato
mia de uma discussão" única para um casal, dá a cada parceiro uma rica compreen
são do problema que fornece uma base tanto para a aceitação como para mudança.
PRÓXIMOS PASSOS
Caminhando com
os sapatos do outro
Aceitação pela compaixão
Seja eu um pouco.
J ohn AJvide LinDqvist, Let the Right One In (2008)
que não a envolvem, ou mostra pouco interesse em fazer algo com ela,
sua raiva, muitas vezes, revela-se com sarcasmo: “Espero que não seja
um fardo para você ir comigo.” Ou na comparação provocativa: “Você
parece terrivelmente feliz em sair sozinho - bem mais feliz do que eu
tenho te visto nos últimos tempos.” Ou na acusação pura e simples:
“Você não me faz uma prioridade da sua vida. Estou lá embaixo na
sua lista.” Geraldo normalmente responde defendendo a si mesmo,
insistindo que ela é uma prioridade para ele, e que quer ‘mesmo’ estar
com ela. No entanto, quando ele fica completamente chateado, pode
contra-atacar: “Não tem maneira de te agradar. Você é tão insegura,
você precisa de atenção constante.” As vezes Sylvia fica tão desgastada
pelo conflito e se sente tão desesperada por receber o que precisa de
Geraldo que ela se fecha completamente. Ela para de culpar, mas a
raiva impregna seu silêncio.
O amor, o carinho ou a compaixão podem romper a nuvem de
raiva e distância que rodeia esse casal? Se você e seu parceiro estão pre
sos em um tornado semelhante de raiva e dor, pode parecer impossí
vel libertar-se disso. Mas quando seu foco muda das ações que ofen
dem para as sensibilidades emocionais que ficam machucadas por es
sas ações, você pode chegar a uma nova compreensão de cada um -
um entendimento que corta as discussões pela raiz e, ao longo do
tempo, aproxima vocês novamente.
Esta não é uma tarefa simples, é claro. A raiva é a emoção su
perficial mais comum a entrar em erupção durante um conflito e
tende a se tornar um estado crônico quando sentimos que as nossas
necessidades são frustradas repetidamente, quando nos sentimos
oprimidos por exigências constantes ou quando nos sentimos des
prezados, abatidos ou negligenciados dia após dia. Sob essas condi
ções, adotamos os métodos de enfrentamento discutidos no Capítu
lo 6, que geralmente entorpecem nossa compaixão e nos cegam para
o que precisamos manter em foco: as sensibilidades emocionais que
ficam feridas durante esse processo. Se optarmos pelo trio familiar
de acusação, culpa e coerção; as táticas evasivas de evitação, minimi-
zação e negação; ou uma estratégia mais sutil de colocar as barreiras
Diferenças Reeonciliáveis 233
Dica 1: Quando você está chateado, tente revelar seu estado emocional ao
seu companheiro sem culpá-lo por isso. Quando seu parceiro está chateado,
mostre interesse sobre seu estado emocional.
_________ ____________________________________________________ Z
236 Caminhando com os sapatos do outro
que ela sente dele e Geraldo tenta provar seu amor com uma lista de
fensiva de fatos.
Se Sylvia estivesse ciente do que estava acontecendo emocio
nalmente no momento e pudesse articulá-lo genuinamente, diria
algo como “Estou tão furiosa com você neste momento que não es
tou aberta a ouvi-lo. Eu só quero atacar você. “ Essa mensagem seria
difícil para Sylvia, porque Geraldo poderia usá-la facilmente contra
ela. “Viu? Você admitiu, você não se importa se eu te amo ou não,
você só quer me atacar”. No entanto, a revelação de Sylvia poderia
poupá-lo dos esforços inúteis de provar seu amor por ela. E poderia
fazê-lo escutá-la.
Este tipo de comunicação é, certamente, difícil, e, por vezes, até
mesmo impossível durante os conflitos. Mas ela pode levar você a um
outro pequeno passo para fora de seu círculo vicioso de discussão,
porque você está dizendo o que você sente vontade de fazer, como
atacar ou defender, em vez de realmente fazê-lo. Eles expressam o im
pulso no lugar da ação.
Dica 2: Quando você está emocionalmente chateado, tente dizer o que você
sente vontade de fazer ao invés de realmente fazê-lo. Quando seu parceiro
está chateado, tente discernir o que ele ou ela está sentindo que pode estar
conduzindo as ações perturbadoras do seu parceiro,
v_________________ ______________________________________________ X
do: “Eu não sou médico”. Ele disse a ela para ver o seu médico, que
é algo que frequentemente diz em resposta às muitas queixas físicas
dela (as quais cia admite). Neste ponto, sua mensagem para “ver o
seu médico” parece invalidante, encobrindo algo como “Não me en
cha o saco com isso.”
A preocupação de Sylvia é tão grande que ela marca uma con
sulta com seu médico. Ela conta a Geraldo sobre a esta marcação com
antecedência - e ele responde com um não muito convincente “Ah,
que bom.” Irritada por Geraldo demonstrar tão pouco interesse em
suas preocupações, Sylvia está vagamente consciente de que falar so
bre a marcação da consulta é, em parte, um teste: Será que ele vai se
lembrar de sua consulta e comentá-la?
Sylvia tem uma noite de sono agitada antes de sua consulta.
Naquela manhã, ela acorda preocupada, sente o seio e detecta o que
parece ser um caroço. Ela entra na cozinha e encontra Geraldo, como
de costume, com a cabeça enfiada no jornal, tomando o café da ma
nhã. Ele mal percebe sua entrada na cozinha.
Seu medo da sua consulta se transforma em raiva de Geraldo.
Ela diz sarcasticamente a seguinte observação: “Esse artigo do jornal
deve ser fascinante “.
Ele responde defensivamente: “Eu disse olá”.
“Ah, isso foi um olá? Eu pensei que era um tipo de grunhido.”
Geraldo presume que este é o mesmo velho conflito: “Por favor,
Sylvia. Um cara não pode nem ler o jornal em paz?”
Sylvia tem um impulso de desabafar algo sobre sua consulta,
mas não o faz, por medo de que ele vá ignorar suas preocupações. En
tão, se seus “nódulos” forem benignos, ele se alegraria por estar certo e
a reprenderia novamente, pois não deveria ter ficado tão perturbada.
O lado irritado dela espera que o médico encontre algo sério para
que ela possa usá-lo contra a rejeição e falta de consideração dele.
Geraldo deixa Sylvia naquele dia irritada com o que ele rotula
de “mau humor estranho”. Ele se pergunta, brevemente, se ela estaria
com tensão pré-menstrual. Ela sai naquele dia com uma mistura de
raiva de Geraldo e medo do que o médico pode encontrar.
Diferenças Reeonciliáveis 239
Dica 4: Quando você está chateado tente revelar as emoções brandas que po
dem existir ao lado das emoções duras que você experimenta. Se seu parceiro
está chateado, veja se consegue discernir quais emoções mais brandas ele ou
ela também podem estar sentindo.
V-------------------------------------------------------------------------------------- /
z--------------------------------------------------------------------------------------------------- h
Dica 5: Se você genuinamente pode fazê-lo, reconheça a validade na posi
ção do seu parceiro, sem abandonar a sua própria posição. Saiba que o seu
parceiro, às vezes, pode questionar a própria posição dele e sentir a validade
da sua.
\/
RECUPERAR-SE DO CONFLITO
Talvez sair para um bom jantar e um filme. Talvez jogar tênis. Talvez
ir às compras juntos. Quando Geraldo contou seus planos para o
fim de semana na manhã de sexta-feira, ela ficou arrasada e furiosa.
Ela estava chateada com o tal acampamento e zangada com a manei
ra como ele havia lidado. Por que ele não podia deixá-la saber o que
estava acontecendo com ele? A experiência validou suas suspeitas de
que ela não podia confiar nele, que ela nunca poderia saber o que
ele tinha na manga.
Uma discussão sobre os eventos e emoções que levaram ao
conflito pode transpor as dificuldades emocionais que os separam. A
medida que Sylvia aprendesse mais sobre os esforços de Geraldo
para ajustar seus planos à agenda deles, sobre sua apreensão em tor
no das reações dela e sobre sua busca de um momento oportuno
para revelar seus planos, Sylvia poderia ter mais empatia com o dile
ma dele. Da mesma forma, se Geraldo aprendesse mais sobre o que
se passava com Sylvia - sua crescente proximidade com ele durante
a semana, suas expectativas para o fim de semana e depois seu desa
pontamento e consequente desconfiança dele - ele poderia sentir
compaixão pelo drama dela.
Se Geraldo e Sylvia pudessem expressar o que tinham passado
antes do conflito e se pudessem sentir empatia com o dilema um do
outro, eles se sentiriam mais próximos apesar do - ou talvez até devi
do ao conflito. Essa discussão também pode ser um primeiro passo
para a mudança. Mesmo que uma conversa produtiva não seja suscep
tível de criar uma mudança dramática, Geraldo pode dar um passo
em direção a uma maior abertura com Sylvia na próxima vez. E em
bora Sylvia possa nunca receber com alegria a possibilidade de Geral
do passar um fim de semana acampando sem ela, poderia ficar mais
aberta a ouvir suas idéias e planos.
■ >
Dica 7: Para se recuperar de um conflito, tente revelar ao seu parceiro o que
estava acontecendo com você antes do conflito. Tente descobrir o que estava
acontecendo com seu parceiro um pouco antes do conflito.
\__________________________________ d
Diferenças Reeonciliáveis 251
Foco no positivo
Um último aspecto nas discussões que pode auxiliar na recu
peração, e que é menos provável que seja contraproducente, é um
foco no que é positivo. Mesmo em uma luta dolorosa, como a que
Sylvia e Geraldo tiveram sobre a viagem de acampamento, cada par
ceiro toma atitudes, frequentemente, que atenuam o conflito ou que
comunicam consideração ou cuidado. Na manhã que Geraldo saiu
para acampar, Sylvia disse-lhe para ter cuidado e aproveitar. A since
ridade que ele sentiu no comentário dela tornou mais fácil para que
ele desfrutasse sua viagem sem culpa. Ele tentou devolver o carinho,
e mesmo que ela não acreditasse literalmente no que ele disse (que
sentiria falta dela), ela aceitou o que Geraldo falou pela intenção
como foi dado. Além disso, quando ele voltou da viagem, eles esta
vam felizes em se ver. O abraço e o beijo fez com que ambos se sen
tissem bem. Qualquer atenção que um casal pode dar a suas ações
positivas, qualquer palavra de reconhecimento ou apreciação, pode
ajudar ambos os parceiros a se recuperar de um conflito que estava
repleto de ações negativas.
---------------------------------------------------------------------------- — -s
Dica 10: Para se recuperar de um conflito, reconheça qualquer atitude posi
tiva de seu parceiro que foi útil para você.
\ /
Diferenças Reeonciliáveis 255
RECAPITULANDO
Como as discussões são repetitivas, os casais podem achar que disseram tudo o que é
relevante sobre um determinado conflito. Assim, eles podem sentir que seus parceiros
simplesmente não os escutaram ou não responderam ao que eles haviam dito. Neste
capítulo discutimos muitas coisas que não foram ditas nos conflitos em curso. Os
parceiros podem não revelar seus sentimentos genuínos e imediatos, nem mesmo sua
raiva. Eles podem deixar de fora informações básicas importantes sobre o que levou a
seus sentimentos. Eles podem expressar apenas os pensamentos e emoções superfi
ciais "duras" que eles experimentam e não as ocultas e mais "brandas". Presos cm uma
determinada posição, eles nunca podem expressar o outro lado dessa posição, por te
mer que possam ser verdadeiras. Eles podem não revelar completamente suas preo
cupações sobre conflitos futuros.
Revelar esta informação não dita é na verdade arriscado. Ela pode ser transmitida
de forma acusatória ou ouvida como acusatória, de modo que pode levar a mais
conflitos. Mas essas revelações oferecem informações importantes sobre as sensi
bilidades do outro. A discussão subsequente poderia alterar o curso da briga e levar
a uma conexão empática entre o casal. Poderia promover a compaixão um pelo
outro, uma resposta que cada um precisa. Poderia levar o casal em direção a acei
tar os diferentes comportamentos e experiências de cada um ao invés de bri
gar. Embora os riscos sejam altos para o fracasso, esses tipos de discussões podem
aproximar os casais, apesar de suas diferenças. Portanto, este capítulo ofereceu seis
dicas para revelar essas informações muitas vezes não ditas e para identificá-las em
seu parceiro:
Com frequência os casais estão muito irritados e defensivos para revelar seu lado
vulnerável ao parceiro durante sua desavença. Sua discussão segue seu curso normal.
Mas então eles são confrontados com a recuperação da briga. A menos que os confli
tos conduzam ao divórcio, os cônjuges, depois, retornam à sua maneira normal de
tratar um ao outro. Como eles podem se recuperar do conflito mais rapidamente e
com menos ressaca emocional?
Depois de um conflito, ambos os parceiros ficam, frequentemente, menos irritados e
mais abertos ao outro. Às vezes, os casais podem se recuperar mais rapidamente e de
forma mais completa se puderem discutir o conflito sem retomá-lo, mas isso somente
se ambos estiverem prontos para tal discussão conciliatória. 0 capítulo deu quatro
dicas para as discussões conciliadoras:
1. Revele ao seu parceiro o que estava acontecendo internamente com você antes do
conflito, mas também tome conhecimento do que estava acontecendo interna
mente com ele.
2. Revele seus esforços na reconciliação e descubra os esforços de seu parceiro.
3. Pergunte se algo que você disse ou fez foi realmente doloroso para o seu parceiro
durante o conflito; revele a ele quaisquer danos que você sofreu.
4. Reconheça qualquer ação positiva de seu parceiro que foi útil para você.
ANTES DO CONFLITO
DURANTE 0 CONFLITO
RECUPERAÇÃO DO CONFLITO
PRÓXIMOS PASSOS
Ganhando alguma
perspectiva no conflito
Aceitação por meio de distância
emocional que promove tolerância
Ampliando o contexto
controvérsias. Ela se pergunta por que eles não “tocam nos seus pro
blemas”. Se Tiago e Eleanor percebessem suas próprias divergências à
luz de suas experiências familiares opostas, suas diferenças fariam per
feito sentido.
Ver suas diferenças no contexto de gênero, idade, cultura ou
história pessoal elimina parte da culpa e da falha encontrada. Você
não é “mau” ou “errado” por ser do jeito que você é. Você é sim
plesmente o produto natural do seu sexo, idade, cultura e história
pessoal. Sem culpa e culpa, seus problemas são menos propensos
a escalar ou polarizar ou levar à alienação. Em suma, eles são mais
aceitáveis.
• - \
Dica 1: Tente entender suas diferenças à luz de seus contextos incluindo as
experiências culturais associadas com a sua idade, gênero, identidade étnica
e história familiar.
V_______________________________________________________________ >
Dica 3: Depois de parar, respirar fundo e observar sua interação, tente pros
seguir de forma diferente rotulando o padrão de interação entre os dois.
Mesmo as frases simples como "eu penso que nós estamos entrando nele
outra vez" ou "aqui vamos nós com nossa dança usual" podem, frequente
mente, ser benéficos. Se você previamente já concordou com um termo para
descrever seu padrão de interação, invocar esse termo pode ser mais útil,
v.____________________________ _________________ __________________ J
270 Ganhando alguma perspectiva no conflito
------------------------------------------------------------------------------------—>
Dica 4: Tente introduzir humor em sua interação como um meio de diminuir
a tensão. Lembre-se, no entanto, que rir de si mesmo, até como um comen
tário autodepreciativo, provavelmente será mais bem sucedido do que impli
car com seu parceiro, não importa quão gentil seja a provocação.
\_------------------------------------------------ '
Diferenças Reconciliáveis 271
Dica 5: Tente fazer um comentário leve quando você vê que os dois vão
entrar em um conflito ou após o conflito passar, como um meio de diminuir
a tensão entre vocês. Mais uma vez, um comentário sobre você próprio pro
vavelmente será mais bem-sucedido do que um sobre seu parceiro.
<______________________________ .__________________________ X
blemas com seu parceiro, não importa o que eles sejam. Tiago no pas
sado também endossava esse ideal.
Eleanor tem vários amigos que servem como apoio emocional para
ela. Muitas vezes eles são uma melhor ajuda do que Tiago. Mas se ela tem
que recorrer a eles com muita frequência, fica chateada com o marido por
não estar lá para ela. E se sente ainda mais distante dele porque, assim,
Tiago não está fazendo parte de sua vida emocional. No entanto, a reali
dade é que Tiago não é capaz de ouvir a sua angústia tanto quanto ela
gostaria. As vezes, ela ficará angustiada e ele estará indisponível. Ela estará
só com seu mal-estar. Para Eleanor buscar consolo com seus amigos pode
ser uma solução, mas apenas parcial, devido à incompatibilidade do casal.
Embora os amigos ofereçam soluções para algumas incompatibili
dades, procurar sua ajuda e conselho tem riscos. E muito fácil tentar
transformar amigos em aliados contra nossos parceiros, o que somente
prejudica nossa própria relação, como foi discutido no Capítulo 6. Os
amigos ajudam mais quando podem satisfazer algumas de nossas necessi
dades, sem entrar no conflito que temos com nosso parceiro sobre as mes
mas. Então, esses amigos nos permitem aceitar nossos parceiros e sua ca
pacidade limitada de satisfazer todas as nossas necessidades.
------------------------------------- - \
Dica 8: Tente recorrer a seus amigos para atender algumas das necessidades
que seu parceiro tem dificuldade em satisfazer, desde que ele fique bem com
isso e seus amigos não se tornem seus aliados contra o seu parceiro,
k_____________________________ _ ________________________________ >
RECAPITULANDO
Como seus conflitos são tão dolorosos, os casais gostariam de exoreizá-los de suas
vidas. Eles querem apagar as disputas repetitivas e mandá-las embora, imediata
mente. Com certeza, Tiago e Eleanor gostariam de remover cirurgicamente o trau
ma repetido da reatividade de Eleanor, a reação de Tiago à ela, e uma mobilização
ainda maior de Eleanor. Neste capítulo não fornecemos remédios para exorcizar o
conflito. Em vez disso, temos mostrado maneiras de domar o conflito, domesticá-lo
em vez de demoli-lo. Mostramos que é possível que os casais aceitem os conflitos e
vivam com ele.
Diferenças Reeonciliáveis 279
1. Tente entender suas divergências à luz das diferenças de seus contextos incluindo
as experiências culturais associadas com a sua idade, gênero, identidade étnica e
história familiar.
2. Numa situação difícil com seu parceiro, PARE (STOP): Pare o que está fazendo;
Respire fundo; Observe a interação entre vocês dois; e prossiga de forma diferente
com a interação, como indicado nas três próximas dicas.
3. Tente rotular o padrão de interação entre vocês dois, particularmente se vo
cês mutuamente concordaram com um bom termo para descrevê-lo.
4. Tente introduzir humor em sua interação como um meio de diminuir a tensão.
Lembre-se, no entanto, que rir de si mesmo, até como um comentário autodepre-
ciativo, provavelmente será mais bem sucedido do que implicar com seu parceiro,
não importa quão gentil seja a provocação.
5. Tente fazer um comentário leve quando você vê que os dois vão entrar em um con
flito ou após o conflito passar, como um meio de diminuir a tensão entre vocês.
6. Após o calor da batalha, considere os benefícios positivos que as características
negativas de seu parceiro fornecem para você.
7. Tente verificar com seu parceiro antes de o expor a algo que possa desencadear
suas sensibilidades.
8. Tente recorrer a seus amigos para atender algumas das necessidades que seu par
ceiro tem dificuldade em satisfazer, desde que ele fique bem com isso e seus ami
gos não se tornem seus aliados contra o seu parceiro.
PRÓXIMOS PASSOS
Como muitos velhos ditados nos dizem, não há nada tão certo
como mudança. Não é uma questão de saber se nós e nossos relacio
namentos mudaremos, mas como eles vão mudar. Na verdade, manter
as coisas da maneira como são, com frequência, exige consideravel
mente mais esforço do que mudá-las. Se você duvida disso, tente
manter seu carro novo ou casa nova na mesma condição em que esta
va quando você comprou.
Um tipo de mudança é a modificação lenta e imperceptível que,
inevitavelmente, vem com o tempo. Nos relacionamentos, tais mu
danças podem ser boas ou ruins. O tempo e a experiência podem nos
suavizar. Questões que pareciam muito importantes para nós no iní
cio do relacionamento podem parecer menos mais tarde. Mas, por ve
286 Os dilemas da mudança estabelecida
zes, nossa experiência torna as coisas mais difíceis. Ficamos mais sen
síveis e irritados com nossos parceiros. Ficamos menos tolerantes.
Apreciamos menos das coisas boas que nosso parceiro faz. Tornamo-
-nos cada vez melhor e melhor em sendo pior e pior.
Outro tipo de mudança é mais súbita, geralmente provocada
pelas circunstâncias. Eventos negativos que afetam nossos relaciona
mentos podem acontecer inesperadamente, como perder um empre
go, lesionar-se ou contrair um problema de saúde grave. Ou eventos
positivos podem afetar nosso relacionamento de repente, como conse
guir uma promoção que requer uma mudança de cidade ou engravi
dar após várias tentativas malsucedidas. Se as mudanças trazidas
pelo tempo e pelas circunstâncias são súbitas ou graduais, muitas
vezes afetam nossos relacionamentos de maneiras imprevistas. Se
um acidente ocorrer, além de não saber que iríamos nos machucar,
não teríamos ideia de quão dramaticamente isso afetaria a divisão
de trabalho no relacionamento. Embora possamos ter batalhado
para a promoção de trabalho que significou que a família teria que
se mudar, não podemos prever a ruptura com nosso círculo de fa
miliares e amigos e como isso afetaria o nosso relacionamento.
Em contraste com essas mudanças, outro tipo que pode ocorrer
nos relacionamentos é a mudança deliberada. Queremos que nossos par
ceiros mudem de maneiras específicas. Queremos que eles ajam e sejam
diferentes para que nossa relação possa ser diferente. As vezes, queremos
essas mudanças deliberadas desde o início do relacionamento quando ob
servamos algo aversivo em nosso parceiro. Mais frequentemente, as mu
danças inevitáveis que o tempo e as circunstâncias trazem para nossos par
ceiros e nossos relacionamentos nos fazem buscar mudanças deliberadas.
DA ACEITAÇÃO À MUDANÇA
sões Fred reafirmou seu amor por Betina, mas insistiu que ele não es
tava pronto para um compromisso tão sério como casamento. A seus
olhos, o casamento era um prelúdio de ter filhos, e embora quisesse
crianças eventualmente, não estava pronto ainda. Betina expressou al
guma urgência para “ir adiante com o relacionamento”. Ela também
não estava pronta para a maternidade, mas, aos 31 anos, queria com o
casamento uma garantia de comprometimento e a intenção de ter fi
lhos no futuro. Durante os seguintes 6 meses eles tiveram uma série
de discussões sobre o casamento que frustraram a ambos. Betina cada
vez mais ficava em dúvida quanto aos sentimentos de Fred por ela e
sua disposição ou capacidade de se comprometer com o casamento.
Fred ficava cada vez mais desconfortável com a crescente pressão que
sentia. Ela começou a dar sinais a Fred, primeiro indiretamente e de
pois diretamente, que iria romper com ele, se ele não estivesse dispos
to a casar. No início, Fred avisou-a para não lhe dar um ultimato. Ao
se sentir tão pressionado, ele disse que ela estava blefando. Betina ter
minou a relação, jurando nunca mais vê-lo.
Como sentiam muita falta um do outro, eles reataram, mas não
demorou muito para que o velho problema surgisse mais uma vez.
Betina insistiu novamente que ou se casavam ou se separavam; Fred
tentou dissuadi-la de seu ultimato. Ela terminou o relacionamento
uma segunda vez, mas desta vez com maior convicção, sabendo que
uma reconciliação sem casamento só prolongaria sua dor. Embora ela
conversasse com Fred em certas ocasiões, ela se recusava a vê-lo. Suas
atitudes forçaram Fred a uma grande reavaliação de sua vida. Temia a
perda de alguém que se tornara a figura central de sua existência. En
tão, ele finalmente decidiu se casar com ela.
Betina insistiu no casamento num futuro próximo, para o qual
Fred, nesse ponto, concordou. Apesar de alguma discordância sobre a
cerimônia em si e alguns ajustes após o casamento, eles estavam felizes
em levar adiante seus planos. Como sua relação era essencialmente
boa e se preocupavam um com o outro tão profundamente, seu casa
mento era uma conexão sólida entre os dois. Anos mais tarde, eles se
290 Os dilemas da mudança estabelecida
MUDANÇAS DIÁRIAS
que ela está sempre íá como seu “apoio”, Lúcio tende a afrouxar sua
supervisão. Assim, Cátia tem dificuldade de ficar “livre”, mesmo
quando Lúcio está supostamente “de plantão”. A solução mais rápida
e fácil para este problema é alterar as circunstâncias. Se ele sair com as
crianças, então ela ficará verdadeiramente livre em casa; da mesma
forma, se ela sair de casa, então ela também ficará verdadeiramente li
vre. Em cada um desses casos, as crianças devem trazer seus problemas
e procurar a atenção de Lúcio, e ele deve supervisioná-las. As circuns
tâncias não permitem outra opção.
Da mesma forma, um marido que quer que sua esposa se junte
a ele em uma atividade que ela realmente não gosta, pode ser mais
bem sucedido se organizar circunstâncias sociais que apoiariam a ati
vidade. Um passeio de bicicleta, por exemplo, pode ser mais atraente
para sua esposa não esportiva se incluísse a melhor amiga dela ou che
gasse a um destino que ela gostaria de visitar.
Estudos de casais têm demonstrado consistentemente que as es
posas fazem mais trabalho doméstico e assistência aos filhos do que
maridos, mesmo quando ambos trabalham em tempo integral fora de
casa. Mas quando o casal trabalha em turnos diferentes, e os maridos
estão em casa com seus filhos enquanto suas esposas estão no traba
lho, eles cuidam das crianças e fazem as tarefas domésticas muito mais
do que de outra forma. As circunstâncias encorajam - de fato, literal
mente forçam - as mudanças que as esposas podem ter desejado
quando elas trabalhavam nos mesmos turnos que seus maridos.
-------------------------------
Dica 2: Para promover mudanças em seu parceiro, faça solicitações espe
cíficas em vez de gerais. Certifique-se de que seu pedido é que ele ou ela
tome determinadas ações positivas, em vez de parar certas ações negati
vas. Concentre-se principalmente, se não exclusivamente, em mudanças em
como seu parceiro age com você, em vez de como age em outros contextos
(trabalho, família e amigos) quando você não está presente. Quando pos
sível, tente organizar as circunstâncias que auxiliam a mudança que você
está solicitando.
\_______________________________________________________________ /
298 Os dilemas da mudança estabelecida
Talvez a mais importante razão pela qual seja difícil mudar nas
relações interpessoais é que a mudança toca em incompatibilidades
entre os parceiros ou em sensibilidades emocionais em um ou am
bos. Fazer uma mudança pode ameaçar uma característica funda
mental do outro. Por exemplo, Lúcio deseja que Cátia leve a vida de
forma mais amena, que não se preocupe tanto com tantas coisas, e
apenas “nade a favor da correnteza”... O mantra dele para ela é “não
sofra com as coisas pequenas.” E embora às vezes Cátia concorde
que ela deva levar a vida com mais calma, ela tem dificuldade em fa
zê-lo. Por natureza ela não é uma pessoa descontraída. E, por sua
vez, ela quer que Lúcio leve a vida mais a sério e seja mais ambicio
so. Na verdade, eles são fundamentalmente diferentes em sua abor
Diferenças Reconciliáveis 299
Ernani não confia em Jairo por boas razões. No início de seu re
lacionamento, ele descobriu que Jairo ainda estava vendo seu antigo
namorado secretamente. Ele sabe que o estilo de Jairo com os homens
é ser paquerador e provocante, e também sabe que Jairo não declara
302 Os dilemas da mudança estabelecida
publicamente que está num relação estável. Ernani lida com esse pro
blema mantendo um olho vigilante. De fato, ele está convencido de
que é a sua fiscalização que mantém Jairo fiel. Se ele ficasse menos
atento, Jairo poderia flertar com outros. Na verdade, a única maneira
que ele poderia ter certeza de que Jairo é confiável seria relaxar em sua
vigilância e ver que Jairo permanece fiel a ele. Mas Ernani tem medo,
com alguma justificativa, de se envolver em ações que poderiam levar
a uma relação de confiança.
Da mesma forma, Gisela se preocupa que Leandro não é cuida
doso o suficiente com Dudu, o filho pequeno deles que é muito ativo e
afoito. Como Leandro não é tão ansioso ou tão vigilante quanto ela,
Gisela fica hesitante em entregar completamente as responsabilidades
parentais para ele. Mesmo quando Leandro supostamente está “respon
sável” por Dudu, Gisela mantém uma orelha em pé e um olhar atento.
Ela passa por cima de Leandro quando ele está atendendo seu filho, e o
critica por sua falta de atenção. Exceto pelos ocasionais esforços irrita
dos dele para mostrar à Gisela quem é o responsável naquele momento,
Leandro vai ficando, realmente, menos cuidadoso com Dudu porque
Gisela está sempre lá supervisionando. E, embora mesmo que ela preci
se que o marido tome conta do filho às vezes, para que ela possa dar um
tempo nos cuidados de Dudu, ela teme dar a Leandro total responsabi
lidade porque ela não quer arriscar um acidente. Gisela quer que Lean
dro assuma o cuidado, mas não vai permitir isto. Mas Leandro também
não vai insistir em ser realmente responsável.
Dica 3: Mudar será difícil, se não impossível para o seu parceiro, se a mu
dança que você pede é contrária a uma característica central de quem seu
parceiro é ou está relacionada a uma forte sensibilidade emocional dele ou
dela. Mudar também será extremamente difícil se não for apenas uma al
teração de comportamento que você solicita, mas uma mudança de atitude
ou na reatividade emocional, ou se você minar essa mudança devido a suas
próprias ansiedades. Estar ciente destas dificuldades com a mudança pode
diminuir sua frustração com seu parceiro ou pode permitir uma conversa
mais sutil e construtiva sobre essas mudanças.
v______ _ ____________________________ ___________________________ >
Diferenças Reeoneiliáveis 303
RECAPITULANDO
A mudança é uma força inexorável. Inevitavelmente, nós mudamos, nossos parcei
ros mudam e nossos relacionamentos mudam. Mas estas não necessariamente se
movem na direção que desejamos. 0 que queremos é uma transformação delibera
da em áreas específicas de nossas inquietações. Às vezes queremos grandes mudan
ças imediatamente e confrontamos nossos parceiros para obter o que queremos.
Em raras ocasiões, uma mudança drástica e positiva é possível a partir de um con
fronto, um ultimato, mas apenas quando você pede algo específico. Por exemplo,
tomar uma decisão dentro de um período de tempo determinado, quando esta po
derá trazer mudanças positivas futuras e quando você pode fazer o pedido sem
criar tanta resistência em seu parceiro. Raramente nossas solicitações são nestas
condições. Além disso, o que muitas vezes queremos não é uma única decisão ou
uma única ação, mas mudanças corriqueiras e cotidianas no que o nosso parceiro
faz ou diz para nós.
Às vezes a mudança diária é fácil. Pedimos aos nossos parceiros ações específicas em
nosso relacionamento, ao invés de lhes pedir para mudar alguma coisa geral ou para
não fazer alguma coisa, e os eventos conspiram para apoiar essas ações. No entanto,
308 Os dilemas da mudança estabelecida
na maioria das vezes, as alterações solicitadas não são fáceis de serem feitas por eles.
Nossos pedidos atingem o núcleo de incompatibilidades ou vulnerabilidades que nos
dividem. As mudanças nestas áreas são sempre complicadas. Além disso, podemos so
licitar mudanças não apenas no comportamento dos nossos parceiros, mas também
no seu estado emocional. Podemos querer que eles sintam mais paixão por nós ou
que eles não se irritem quando ficam chateados. Embora eles tenham controle sobre
seu comportamento, eles têm pouco controle direto sobre como eles se sentem. Por
tanto, o cumprimento de nossos pedidos é difícil.
Se nossos parceiros não fizerem as mudanças diárias que buscamos, podemos tentar
justificar a eles essas mudanças. Podemos apontar como os outros cônjuges são, po
demos apelar para a igualdade ou para o amor, ou podemos nos gabar de toda nossa
mudança a favor do outro para justificar os nossos pedidos e inspirar conformidade.
Esses esforços muitas vezes são contraproducentes. Em vez de provar a necessidade
de que eles mudem, nossos esforços só geram mais briga pela mudança. Nós os pres
sionamos e eles resistem a mudar.
1. Use ultimatos somente nas raras circunstâncias quando há uma violação de rela
cionamento importante, uma decisão importante ou um grande problema pessoal.
Então, use-os apenas quando você está falando sério sobre cumprir sua intenção,
quando você está pedindo uma mudança específica dentro de um período de
tempo preciso, quando a mudança é susceptível de trazer algo positivo no futuro
e quando você pode fazê-lo sem criar tal resistência em seu parceiro que ele ou
ela vai se recusar simplesmente para salvar a própria pele.
2. Para provocar mudanças em seu parceiro solicite algo específico. Certifique-se de
que seu pedido seja para tomar ações positivas ao invés de parar certas ações ne
gativas. Concentre-se principalmente, se não exclusivamente, em mudanças em
como seu parceiro age com você, em vez de como ele ou ela atua em outros con
textos (trabalho, família e amigos) quando você não está presente. Quando possí
vel, tente criar circunstâncias que favoreçam o que você está solicitando.
3. Esteja alerta para áreas difíceis de mudança, tais como solicitações de alterar uma
característica central de quem seu parceiro é, solicitações que estejam ligadas a
fortes sensibilidades emocionais dele, pedidos de mudança de atitude ou uma mu
dança na reatividade emocional, demandas que possam prejudicar seu desejo de
vido a suas próprias inquietações.
4. Faça pedidos simples para uma mudança específica, isenta de justificativa e argu
mentação sobre o que seu parceiro deveria mudar.
Diferenças Reeoneiliáveis 309
PRÓXIMOS PASSOS
um tiro que sai pela culatra. Às vezes os casais usam a ação positiva
que eu sugiro para justificar seu comportamento existente. Digamos
que, como um passo positivo para a resolução de conflitos entre um
marido crítico e uma esposa retraída, estimulo o casal a expressar seus
sentimentos um ao outro. Na semana seguinte, o marido dá sermão
na sua esposa por causa de algumas falhas dela. Na outra sessão, ele
justifica sua crítica a ela dizendo: “Eu estava apenas expressando meus
sentimentos, como você (terapeuta) disse.”
Às vezes eu ofereço aos parceiros uma muleta para ajudá-los a se
comunicar, e eles acabam batendo na cabeça um do outro com ela. O
marido crítico pode usar minha sugestão para expressar seus senti
mentos como outra oportunidade de atacar sua esposa: “Você nunca
expressa seus sentimentos! Como você pode esperar que eu responda a
você quando você não faz nem mesmo uma coisa simples como essa,
que o médico aqui recomenda?
Eu aprendi que as tentativas de mudança, frequentemente, le
vam a mais do mesmo. Como terapeuta, permiti que isso acontecesse
ao não prever a relação entre minha intervenção e os círculos viciosos
de interação na qual o casal está aprisionado. Você pode evitar a mes
ma armadilha olhando verdadeiramente para os passos que está to
mando para tentar obter mudanças e prever, com base em sua histó
ria, como seu próprio parceiro provavelmente reagirá.
foi deixado por escavar o buraco novo. Eles cavam outro buraco
para aquele monte de barro, mas são confrontados com o mesmo
problema. Mais uma vez repetem seus esforços, sem sucesso. Como
eles podem se livrar do monte de barro feio restante? Eles consultam
seu sábio líder, que escuta a história cuidadosamente. Ele vai para o
local onde está o monte de barro e estuda a situação. Então ele passa
um tempo valioso, sozinho, pensando sobre o problema. Finalmen
te, ele anuncia a solução, com a qual toda a aldeia concorda que é
brilhante. A aldeia vai cavar um buraco enorme, grande o suficiente
para acomodar todo o barro!
zação das coisas do que ele, e se sente mais confortável quando tudo
está no seu devido lugar. Embora ele não tenha nenhuma objeção a
isto, e até mesmo ache útil, a desordem não o incomoda, desde que
ele possa “relaxar” em sua poltrona e ler. Para ele, raramente um ar
mário, ou prateleiras ou gavetas organizadas é sua meta - ou até
mesmo uma bancada na garagem vale a pena o esforço necessário
para realizá-lo. Assim, a motivação de Norton para a ordem rara
mente é suficiente para estimulá-lo a agir. Em contraste, Ceres, mui
tas vezes, vai colocar muita energia para manter tudo arrumado,
para ter a roupa em seu devido lugar, e assim por diante. No entan
to, ela não acha que deveria ter que fazer todo o trabalho enquanto
Norton fica sentado lendo. O que particularmente a irrita é usar seu
próprio tempo organizando todas as coisas dele. Assim, Ceres recor
re ao encorajamento, lembretes e alertas como uma maneira de dei
xá-lo mais envolvido na manutenção da ordem em casa. Norton se
tornou sensível a essas sugestões gentis. Ele não quer ser “adminis
trado”; nem Ceres quer ser um incômodo. Mas ainda, sem alguma
intervenção por parte dela, Norton não vai agir. Como com a gara
gem, que ele prometeu que iria limpar.
Para ver como esta história geral se desenrola neste incidente
particular da garagem, devemos dar uma olhada não só nas palavras e
ações de Ceres e Norton, mas também na comunicação emocional
que fazia parte dessas palavras e ações.
NORTON: (segue-a) Não fique tão Ops! Agora ela está realmente
chateada. Eu só não estava a fim de chateada. Eu odeio isso. Vou retirar
correr. Talvez mais tarde. o que eu disse. Eu farei qualquer
coisa para apaziguá-la, pra ela não
explodir num ataque de raiva.
Como esses comentários são mais diretos e abertos, eles têm uma
maior chance de sucesso.
A consciência das mensagens emocionais também permite que
cada um reconheça as reações do outro. Em vez de propor uma corrida,
Ceres poderia ter dito, “Aposto que você está irritado porque eu mencio
nei a garagem.” Se ela tivesse proposto a corrida, como na fala original,
Norton poderia ter dito: “Eu sei que você ao sugerir uma corrida está ten
tando ser agradável e suave para não criar qualquer tensão entre nós, mas
eu somente não estou a fim.” Esse reconhecimento do que o outro está
passando, com frequência, pode evitar a escalada emocional.
Em terceiro lugar, a conscientização permite a possibilidade de
ações positivas por qualquer das partes. Sabendo que Ceres estava preocu
pada com a garagem, mas não querendo instigar uma discussão, Norton
poderia ter oferecido a ela um prazo para a conclusão da tarefa. Sabendo
que ele estava chateado com sua menção à garagem, ela poderia ter espe
rado um pouco mais para fazer seu convite para uma corrida. Qualquer
uma dessas ações poderia ter evitado o desgaste emocional que se seguiu.
Vejamos outro exemplo dos benefícios da consciência do mo
mento presente em uma conversa que aconteceu entre Cláudio e Gló
ria um sábado à noite, quando eles não tinham nenhum plano.
Cláudio olha o guia de TV a cabo e sugere um filme para assis
tir. Ele lê a breve descrição e observa: “Eu ouvi dizer que deve ser um
filme meio sexy.”
Há uma pausa longa de Glória. “Não parece ser tão interessante
para mim.”
Cláudio responde com um pouco de desapontamento em sua
voz: “Bem, não há mais nada para se ver.”
Glória diz: “Você pode assistir, eu tenho uma leitura que eu
gostaria de fazer.”
“Eu esperava que pudéssemos fazer algo juntos”, Cláudio responde.
“Nós dois estaremos juntos na sala da TV. Talvez eu veja se for
interessante.”
Cláudio diz “Otimo!” sarcasticamente e sai dali.
322 Mudança estabelecida por meio da atenção plena [mindfulness]
sobre seus processos internos, não tem problema se você estiver apenas
vagamente consciente da emoção ou incerto do que a desencadeou. Um
comentário tal como "Estou começando a me sentir tenso, mas não tenho
certeza do motivo" pode alterar um conflito em potencial, porque desloca
a atenção para longe do conteúdo da discussão para os elementos emocio
nais, os quais poderiam, facilmente, desviar de uma discussão construtiva
sobre esse conteúdo. Uma boa maneira de se interessar pelo estado emocio
nal de seu parceiro é perguntar gentilmente ou expressar curiosidade sobre
o que ele ou ela está experimentando no momento. Se você acha que sabe
o que seu parceiro pode estar sentindo, expresse-o somente com cautela,
pois seu parceiro é a autoridade final sobre o que ele ou ela está sentindo.
Este esforço para parar o curso do que normalmente acontece e iniciar uma
nova e melhor direção pode interromper um padrão frustrante e levar a
uma interação mais construtiva.
v_______________________________________________________________ /
Consciência em retrospectiva'
ta. Como uma idiota, eu fico ali aguentando, tento ser doce, convi
do-o para uma corrida, e ele me rejeita novamente. Quando é que eu
vou aprender? Ele não tem consideração pelos meus sentimentos. O
único efeito que eu posso ter sobre ele é quando eu realmente explo
do; isso atrai sua atenção. Então eu tenho que ficar furiosa para obter
uma resposta do meu marido. Que tipo de casamento é este?
Norton também fica ruminando sobre o conflito que acabaram
de ter. O que há de errado com ela? Ela de novo me incomoda, e en
tão não suporta que eu fico irritado. Eu me recuso a correr com ela, e
ela age como se eu tivesse cometido um assassinato. Agora é ela quem
fica magoada e furiosa. Mas foi ela quem começou tudo!
Pensamentos e sentimentos como esses tornarão difícil para
Norton e Ceres se recuperarem desse conflito. Qualquer discussão ba
seada nessas experiências internas inflamará ainda mais sua briga. Se
em algum momento após o conflito eles se tornassem conscientes,
mesmo em retrospectiva, do que realmente aconteceu, eles poderiam
se recuperar mais facilmente e rapidamente. Por exemplo, se Norton
percebesse que sua procrastinação criou um problema para Ceres, ou
que a maneira dela de perguntar e de propor uma corrida foram esfor
ços genuínos para uma ação positiva, ou que ele estava sendo excessi
vamente sensível aos lembretes dela, então ele poderia ser mais recep
tivo ao comportamento dela e ao seu próprio. Da mesma forma, se
Ceres percebesse que seus lembretes apresentavam um problema para
Norton, mesmo quando mascarados de gentileza, ou que ela tinha di
ficuldade em tolerar a rejeição dele, ou que ele não sabia lidar com a
angústia emocional dela, ela também poderia ser mais receptiva com
ele e consigo mesma. A consciência de qualquer um desses sinais de
conflito poderia ter facilitado o retorno à normalidade para ambos.
Ceres poderia superar sua raiva e sair do quarto mais cedo com esta
consciência em retrospectiva. Da mesma forma, Norton poderia supe
rar sua raiva mais cedo e iniciar alguma reconciliação entre eles.
Algumas orientações específicas podem ajudar a alcançar a cons
ciência em retrospectiva. Primeiro, nós (e nossos parceiros), provável
Diferenças Reconciliáveis 327
ligada, e quer saber quantas ligações ele fez - um registro de suas ati
vidades. Agora ele, frequentemente, se recusa a lhe dar uma resposta.
Por que ele deveria responder a ela? O que está acontecendo com ela?
Como nenhum está ciente do que está acontecendo com o outro,
Carlos e Janete se distanciaram. Eles estão lutando individualmente
com fortes emoções, mas lutam em isolamento. Nesta situação difícil,
ambos não têm o apoio da pessoa que mais se importa com eles.
O que cada um transmitiría idealmente para o outro, mesmo
que não pudesse articulá-lo completamente? O que cada um precisa
tomar conhecimento do outro?
A mensagem de Janete seria: Estou frustrada porque você não en
controu um emprego. Isso, provavelmente, é óbvio para você. Mas mais
do que isso, estou ansiosa que você não vai conseguir um trabalho. Re
ceio por nosso futuro financeiro. Estou preocupada que vamos ter que
sobreviver com minha renda sozinha. Então não haverá nenhuma ma
neira para nós todos viajarmos e visitar meus pais, nenhuma maneira de
pagarmos a faculdade para as meninas. Nem tenho certeza de que pos
samos continuar a manter a casa. Diante desses medos poderosos e rea
listas, preciso ver que você está preocupado. Eu preciso que você me re
assegure que também sente alguma urgência sobre a situação. Quando
eu não recebo qualquer informação sobre o que você está considerando
em termos de um trabalho e o que você fez, eu fico desconfiada. Temo
que você não se importe com isso. Que você não fez nada. E então eu
entro em meu modo controlador - investigando, interrogando-o sobre
o que tem feito. Eu preciso de informações para acalmar meus medos, e
eu não estou recebendo isso de você.
A mensagem de Carlos seria: Ser demitido e tentar encontrar
um novo emprego é a crise mais difícil que enfrentei na minha vida.
Eu perdi a confiança em mim mesmo, e não acho que tenho todas as
habilidades tecnológicas que preciso para começar tudo de novo em
um novo emprego. Tenho que brigar comigo mesmo, todos os dias,
para me motivar a fazer alguma coisa. Eu definitivamente evito agir
porque não me sinto a altura, porque antecipo outro fracasso. E se
Diferenças Reeoneiliáveis 331
consigo me motivar, também devo lutar com a ideia de passar por vá
rias agências de emprego e entrevistas com o pessoal de recursos hu
manos. E se isso não fosse o suficiente, também tenho que brigar com
você. Eu odeio quando você fica me investigando, quando me inter
roga sobre o que eu fiz, quando eu vejo repúdio em seu rosto. Faz-me
sentir pior sobre mim mesmo.
No calor de sua briga, Carlos e Janete seriam incapazes de arti
cular suas posições tão claramente como nós as colocamos. Nem eles
compreendem completamente a posição um do outro no meio de seu
conflito. No entanto, qualquer comunicação que pudessem ter que
aproximasse suas posições, mesmo se feita depois de uma briga - uma
comunicação retrospectiva - seria útil porque poderia aumentar a
consciência desta situação desagradável. Mesmo sem comunicação,
cada um poderia ser capaz de obter algum aumento na consciência
em retrospectiva, simplesmente refletindo melhor só no problema.
Há, pelo menos, duas vantagens de quaisquer ganhos na cons
ciência retrospectiva tanto para Janete, como para Carlos. Primeiro,
como discutimos, pode diminuir sua luta interpessoal. Janete poderia
ficar menos fria ou zangada com Carlos e, talvez, não o monitorasse
tão de perto. E, se Carlos visse os comportamentos de Janete como
resultado do medo, em vez de repúdio a ele, poderia ficar mais pro
penso a se abrir sobre seus próprios medos. No entanto, pode haver
um segundo benefício: a consciência retrospectiva também poderia
ajudar Carlos a encontrar um emprego. Se Janete entendesse o que ele
estava passando, ela poderia encorajá-lo ou apoiá-lo de maneira que
realmente o motivasse. Se Carlos entendesse o que Janete estava pas
sando, ele poderia se sentir mais forte e até mesmo mais competente
ao assegurá-la de que seus medos financeiros não iriam se concretizar.
Poderia fazer um esforço mais intenso e consistente para encontrar
trabalho e poderia ser mais compreensivo com os esforços dela para
controlar a situação.
332 Mudança estabelecida por meio da atenção plena [mindfulness]
( '■------------------------------------------------------------------'j
Dica 2: Depois de uma interação difícil com o seu parceiro, considere a pos
sibilidade de tê-lo culpabilizado mais durante a discussão do que você se deu
conta. Lembre-se de que seu parceiro tem uma posição legítima e compreen
sível, mesmo se ele ou ela fez algo de errado. Tente entender essa posição e
você terá mais chance de aceitar o conflito que surgiu, recuperar-se e seguir
em frente. Esse entendimento também poderá ajudá-los no futuro a discutir
melhor se vocês revisitarem o conflito ou o encontrarem novamente.
<________________________________________________________ J
RECAPITULANDO
Esforços para mudar um relacionamento, seja por um terapeuta ou por nós mesmos,
podem ter consequências não intencionais. Em vez de criar mudança, nossos esforços
podem simplesmente ser mais do mesmo. Na verdade, podemos criar uma situação que
é uma versão pior do mesmo problema antigo. Para evitar que nossos esforços bem in
tencionados caiam nessas armadilhas, precisamos ter consciência do que está aconte
cendo entre nós. Um bom ponto de partida é a consciência da história de nosso proble
ma, elaborada no Capítulo 8. Então podemos ver como a história geral de nosso proble
ma se desenrola em interações cotidianas; tornamo-nos conscientes (mindful) da co
municação emocional durante nossas discussões uns com os outros. Essa consciência
nos mostra opções para alterar o curso de nossos conflitos enquanto eles estão ocor
rendo, às vezes prevenindo-os ou, pelo menos, minimizando seu impacto e facilitando a
recuperação deles. Embora tal consciência no momento presente é, muitas vezes, difícil
de alcançar, uma consciência retrospectiva do que aconteceu entre nós também pode
ajudar, facilitando a aceitação de uma discussão, uma recuperação mais rápida e moti
vação para buscar uma discussão mais produtiva.
0 capítulo ofereceu duas dicas, uma para a consciência no momento presente e uma
para a consciência retrospectiva
5. O que você poderia ter dito que teria reconhecido o que seu par
ceiro estava sentindo ou que poderia ter mostrado seu interesse
em relação ao que estava acontecendo com ele?
PRÓXIMOS PASSOS
‘‘eu te amo” quando você se sente amoroso ou dizer “você está lindo”
quando você se sente atraído por ele. Mas e aqueles momentos nos
quais você não se sente desta maneira? E realmente uma boa ideia di
zer algo que você não está querendo dizer?
Outro tipo de conselho comum aborda explicitamente os
sentimentos, mas presume que eles estão completamente sob nosso
controle. Considere o conselho, muitas vezes repetido, de não ir
para a cama irritado um com o outro, não estar com raiva ao mes
mo tempo, ou ser otimista e alegre com seu parceiro. Quando você
está com raiva ou pessimista, pode não ser possível terminar sua
raiva voluntariamente, muito menos transformá-la em otimismo e
boa disposição.
Nossa sociedade geralmente reconhece a distinção entre senti
mentos e pensamentos de um lado e comportamento do outro, por
isso parece estranho que, aqueles que dão conselhos sobre relações
interpessoais, muitas vezes não a reconhecem. Nossos costumes e
leis nos responsabilizam pelo que fazemos, mas não pelo que pensa
mos ou sentimos - e por boas razões. Nossos sentimentos e pensa
mentos são privados e não são prejudiciais para os outros, a menos
que levem a ações danosas e, mais importante, não podemos contro
lá-los tão facilmente quanto podemos controlar nosso comporta
mento. As vezes, podemos usar distração ou razão para alterar nos
sos sentimentos um pouco, especialmente se esses sentimentos não
são intensos. Podemos também tentar evitar certos sentimentos ou
pensamentos, evitando os desencadeadores previsíveis. Mas geral
mente nossos pensamentos, e especialmente sentimentos, vêm es
pontaneamente, sem serem convidados.
Os conselhos que nos incitam a ter certos sentimentos ou a
proibir certos pensamentos não consideram a distinção elementar en
tre o que fazemos e o que pensamos e sentimos. Portanto, geralmente
não são muito úteis.
338 Mudança estabelecida por meio da comunicação
los em vez de dar voz a eles. Quando saímos da sala e nos recusamos a
discutir um assunto com nosso parceiro, estamos atuando nossos sen
timentos de raiva e não falando sobre estes. Quando nos afastamos e
ficamos mal-humorados, estamos atuando nossa mágoa, em vez de
verbalizá-la. Mesmo quando falamos com nosso parceiro, podemos
estar atuando nossos sentimentos, em vez de expressá-los. Como ex
plicamos no capítulo 9, nossas palavras podem ser estimuladas por
nossas emoções ocultas, mas essas palavras podem não mencionar as
emoções. Quando chamamos nosso parceiro de idiota ou gritamos
“Nunca mais me faz isso de novo”, podemos pensar que nossos senti
mentos são perfeitamente claros, mas estamos realmente adotando a
tática desviante de se concentrar nas falhas da outra pessoa em vez de
nas nossas emoções escondidas.
Quando peço a um casal em terapia para expressar como eles
se sentem sobre uma questão importante, e estou fazendo perguntas
sobre uma pessoa, com frequência, o que eu obtenho é uma argu
mentação sobre a outra. Aqui está uma resposta típica de um mari
do quando perguntado sobre seus sentimentos sobre sua comunica
ção conjugal: “Ela não sabe como se comunicar muito bem. Ou ela
deixa escapar alguma emoção, não importa qual - e se a situação é
apropriada ou não - ou se recusa a falar sobre seus sentimentos. Ela
não pode ter apenas uma discussão simples e direta sobre qualquer
desacordo sem que ela fique tensa. Acho que ela tem medo de se
prejudicar ao tentar lidar com um problema racionalmente.” Obser
ve que o marido nunca mencionou nada sobre seus próprios senti
mentos ou mesmo sobre si mesmo.
Não se surpreenda se você se pegar “expressando suas emo
ções” desta maneira. Você pode acabar se sentindo machucado e frus
trado porque seu parceiro não escutou seus sentimentos. Mas talvez
você nunca os tenha expressado.
346 Mudança estabelecida por meio da comunicação
quando você é tão cruel.” “Eu me sinto machucado por você estar
sendo tão idiota.” E provável que o ouvinte ouça a acusação - egoísta,
cruel, idiota — mais do que qualquer expressão de sentimentos.
Há uma resposta a esta distorção também: exclua todas as refe
rências à outra pessoa. Em vez de “Eu me sinto irritado que você está
sendo tão egoísta” ou “Eu me sinto decepcionado quando você é tão
cruel”, tente “Eu sinto raiva por todo esse incidente” ou “Eu me sinto
muito desapontado”.
Sim, claro, há outra brecha. Dependendo do contexto, do tom
de voz e da expressão facial, uma declaração como “Eu me sinto irri
tado com todo esse incidente” poderia comunicar “Você sabe exata
mente o motivo pelo qual estou com raiva, você fez a coisa covarde
que me deixou com raiva e vai pagar por isso.” Quando a raiva é in
tensa, pode ser impossível não comunicar algum tom de julgamento
e culpa, não importa qual seja a escolha da palavra. A expressão de
raiva pode então levar à defensividade e contra-ataque em um par
ceiro, uma situação que o foco nos sentimentos do orador foi elabo
rada para ser evitada.
Se você deseja fazer uma abordagem para mudança no contex
to da aceitação, você precisa estar ciente desses maus usos da “Lin
guagem do Eu”. No entanto, uma genuína expressão de sentimen
tos, sem qualquer referência ao parceiro, é, com frequência, um bom
início para uma conversa. E é, particularmente, um bom começo
quando essa expressão inclui seus sentimentos ocultos e brandos.
Lembre-se do Capítulo 4 a distinção entre emoções superficiais e
ocultas. Podemos sentir raiva, mas também sentir mágoa. Podemos
sentir ressentimentos, mas também decepção. Podemos nos sentir
irritados, mas também negligenciados. Essas emoções ocultas mais
brandas, menos óbvias podem captar o interesse, a atenção e a em
patia de nosso parceiro.
Embora comentários como “Estou realmente com raiva”, “Es
tou realmente desapontado” e “Sinto-me negligenciado e ignorado”
sejam um bom início para uma conversa, é claro que mais precisa
348 Mudança estabelecida por meio da comunicação
ser dito. A menos que o gatilho para esses sentimentos seja óbvio,
seu parceiro pode perguntar a si mesmo ou diretamente a você: “Por
que você está com raiva?” ou “O que fez você ficar desapontado?”
Isso nos leva ao próximo tópico: como podemos falar sobre nossos
parceiros sem atacá-los.
--------------------------------------------------- -
Dica 1: Ao discutir problemas com seu parceiro, primeiro encontre um mo
mento e um lugar onde vocês se sintam confortáveis, razoavelmente calmos
e receptivos um ao outro. Depois, fale sobre suas próprias reações emocio
nais ao comportamento específico de seu parceiro. Mantenha o foco no
que você sente ao invés de no que seu parceiro sente. Se você puder, tente
descrever suas emoções ocultas mais brandas, assim como suas emoções
superficiais. Descreva o comportamento do seu parceiro que o incomodou
da maneira mais específica e neutra possível.
\ >
Agora eles estão bem dentro de uma briga sobre suas discus
sões referentes às crianças. Um ouvinte pode fazer uma perversão
ainda mais sutil da mensagem do orador, reafirmando as palavras do
orador precisamente, mas acrescentando uma ou duas palavras apa
rentemente inocentes.
Scottish proverb
apenas sobre o fato de que eles não deveríam discutir na frente das
crianças. Ela pode estar preocupada que eles como casal, e Tony
como pai, não estejam considerando o impacto de suas ações e pala
vras sobre os filhos. Não observar o impacto de suas discussões sobre
as crianças pode ser apenas um exemplo. Ela também pode estar
preocupada que ele não parece notar o impacto de seus diferentes
humores sobre as crianças. O desafio para Rose e Tony é poder dis
cutir este tema amplo, e talvez até mesmo o tema de Tony sobre
Rose superproteger as crianças, sem que a discussão se torne uma
confrontação confusa e angustiante que fale de tudo, menos do que
realmente deveria ser discutido. Assim, nosso desafio é restringir
nosso foco em um problema particular, mas sem limitar uma explo
ração completa e ampla desse problema.
-------------------------------------------------------------------------------------- s
Dica 3: Tente resolver os problemas quando ambos os parceiros estiverem
relativamente calmos e não incomodados com a questão. Tente definir o
problema cuidadosamente antes de considerar as possíveis soluções. Con
sidere tantas possibilidades quanto cada um de vocês pode pensar e avalie
seus possíveis efeitos antes de escolher qualquer uma delas. Negocie a so
lução mais adequada e experimente-a, revendo-a conforme necessário com
base em como ela funciona. No entanto, seja flexível na sua resolução de
problemas porque, como os nossos exemplos ilustraram, às vezes pode ser
útil flexibilizar as orientações. Em caso de dúvida, permita que a consciência
no momento presente e a consciência em retrospectiva de seu relaciona
mento molde as orientações gerais - elas não estão escritas em pedra.
\______________________ ___________________________________ >
Diferenças Reconciliáveis 363
RECAPITULANDO
Neste capítulo, revisamos algumas das regras de comunicação mais comuns. Descon
sideramos conselhos genéricos e óbvios que simplesmente encorajam as pessoas a
manter uma determinada atitude ou estados emocionais sem qualquer informação
sobre como alcançar esse estado. Em seguida, focamos três grandes categorias de
conselhos que dão prescrições comportamentais sobre o que fazer, levando-nos a su
gerir três dicas para a comunicação.
1. Ao discutir problemas com seu parceiro, primeiro encontre um momento e um lu
gar onde ambos se sintam confortáveis, razoavelmente calmos e receptivos um ao
outro. Então, fale sobre suas próprias reações emocionais ao comportamento espe
cífico dele, incluindo suas emoções mais brandas e ocultas, bem como suas emo
ções superficiais e descrevendo o comportamento de seu parceiro de forma mais
específica e neutra possível.
2. Ao escutar o seu parceiro, sintetize a sua mensagem sem distorcê-la ou dar qual
quer opinião e tente capturar sua validade. Lembre-se que compreensão não signi
fica concordância.
3. A resolução de problemas deve acontecer quando ambos estão relativamente cal
mos e definiram cuidadosamente o problema. Depois considere todas as possíveis
soluções, avalie seus prós e contras, negocie uma alternativa realizável e experi
mente-a, revisando-a, mais tarde, conforme necessário.
Como a maioria dos conselhos, estas dicas podem ser úteis se você entender e acei
tar suas limitações, se você for flexível em seu uso, adaptá-las conscientemente
(mindfully) com base em sua compreensão de você e seu parceiro e estar preparado
para falhas ocasionais.
Exercício: Comunicando-se
melhor com seu parceiro(a)
• Como você poderia dizer a seu parceiro sobre sua reação emo
cional a um comportamento particular dele ou dela relacionado
com o conflito central? Escreva uma mensagem que você pode
ria dar.
Se você e seu parceiro têm lido este livro até este capítulo, vo
cês poderiam tentar usar essas orientações de comunicação para
compartilhar, um com o outro, as análises DEEP (profundas) que vo
cês fizeram sobre um problema central no relacionamento. Por
exemplo, ao descrever a análise DEEP (profunda) que você fez, você
Diferenças Reeonciliáveis 365
PRÓXIMOS PASSOS
Como você já viu muitas vezes, a maioria dos esforços para me
lhorar os relacionamentos é direcionada para mudar nossos parceiros.
Uma transformação fundamental ocorre quando nos concentramos
nas mudanças que nós podemos fazer, e não nas que eles podem fazer.
Em vez de pressupor que somos culpados por quaisquer problemas,
essa mudança reconhece que só nós temos controle e responsabilidade
sobre nosso próprio comportamento. Da mesma forma, apenas nossos
parceiros têm controle e responsabilidade por suas próprias ações. E
estimulante saber que nós podemos mudar, ao invés de esperar, frus
trados, por uma iniciativa de mudança por parte de nossos parceiros.
Esta noção de mudar a si primeiro como um meio de mudar o seu re
lacionamento é a “peça-chave” da mudança deliberada.
Giane admirava Natan por suas muitas e excelentes qualidades.
Ele era um homem bom: honesto, generoso, trabalhador e compro
metido com a família. Ela sabia que ele a amava e nunca seria infiel.
No entanto, algumas de suas dificuldades de comunicação eram frus
trantes para ela. Muitas vezes Natan não a ouvia, distraía-se facilmen
te quando ela falava com ele e a interrompia a cada frase.
Primeiro ela tentou falar com ele sobre o problema. Algumas
vezes Natan reconhecia sua dificuldade; outras vezes ele se defendia.
Mas nada parecia mudar, então Giane comprou-lhe um livro sobre
comunicação. Com alguma persistência de sua parte, ela conseguiu
que o parceiro lesse alguns capítulos. Ele reconheceu alguns pontos
valiosos no livro, mas, ainda assim, seu comportamento não pareceu
mudar. Finalmente, Giane propôs que fossem para uma aula de trei
namento em comunicação oferecida pelo programa de extensão da fa
culdade local. Mas nesse momento Natan bateu o pé. A aula não era
realizada em uma noite boa para ele. Além disso, ele estava cansado
das constantes queixas dela sobre sua “incapacidade de se comunicar”.
Ela deveria apenas aceitá-lo pelo o que e como ele era.
Diferenças Reeoneiliáveis 369
como ele havia previsto, ficaram bem com o fato de que chegariam
um pouco mais tarde. Zeca resistiu à tentação de falar um “Eu te
disse.” Ele e Samantha dirigiram em um silêncio tenso para olhar
brevemente a paisagem, o que não estava muito à altura de sua ex
pectativa. Ele ficou surpreso por Samantha não ter comentado a de
cepção com o lugar, mas simplesmente ficado em silêncio. Quando
chegaram à casa de seus amigos, relaxaram um com o outro e se di
vertiram. Como ele se sentia melhor consigo mesmo por sua asserti-
vidade, ele ficou mais afetuoso com ela pelo resto do dia. Para sua
agradável surpresa, ela não resistiu.
Um incidente instrutivo como este não alterou a dinâmica entre
Zeca e Samantha. Ele precisará de uma maior consciência no momento
presente de seus próprios desejos e um maior envolvimento no planeja
mento de Samantha. Desta maneira ele poderá ver que pode obter mais
o que ele quer, em vez de reclamar por não ter suas necessidades satisfei
tas depois do fato ocorrido. Zeca vai ter que resolver o que é importante
para ele e o que não é porque ele nunca estará tão preocupado com o
planejamento como Samantha, e a maioria dos detalhes não importa a
ele da mesma maneira que para ela. Não vai ser fácil, mas provavelmen
te vai valer a pena todo esforço. Quando Zeca se sente impotente na re
lação, ele fica mal consigo mesmo e zangado com a parceira. Ele se afas
ta dela, o que exacerba o sentimento de Samantha de que tem que fazer
tudo sozinha no relacionamento, e isto os priva da intimidade que dese
jam. Qualquer movimento que Zeca faça para desenvolver uma maior
consciência, seja no momento presente, ou até mesmo a consciência em
retrospectiva, e afirmando seus próprios desejos, como o fez no exemplo
acima, seria um passo para alterar seu dilema.
mantha pode dizer: “Eu sei que você está com raiva agora. Talvez de
véssemos conversar mais tarde, mas eu quero que você saiba que eu
entendo seus sentimentos.” Fazer este reconhecimento, com estas pa
lavras positivas exigiriam uma força considerável por parte de Saman
tha. Mas quando ela os oferece a Zeca, ela está dando o único presen
te genuíno - um que vem sem nenhuma condição. Se ele parar um
momento para rever esta interação mais tarde, ele pode muito bem ser
tocado pela generosidade e coragem de sua esposa. Na verdade, seria
difícil para ele não ser afetado por uma ação positiva que resistiu até
mesmo às suas próprias tentativas de testá-la. Seu gesto simples e ver
dadeiro para com ele poderia levar a uma poderosa reconciliação entre
o casal. Além da resolução de seu conflito imediato, sua mensagem
comunica a Zeca que ela o escuta. Ela entende. Como resultado, ele
pode ter menos necessidade de distância para se proteger dela.
Uma pista sobre o que podemos fazer que fosse realmente di
ferente, que não é mais do mesmo, reside nas queixas dos nossos
parceiros. O que eles nos acusam de não fazer, o que eles pedem ou
exigem que façamos mais, podem incluir indicações para uma ação
construtiva de nossa parte. Contanto que o pedido não seja algo que
desencadeie nossas emoções brandas e vulneráveis ou que nos exijam
comprometer nossa identidade e nossos valores centrais, podemos
ser capazes de cumprir os pedidos de nossos parceiros pelo menos
uma parte do tempo. Por exemplo, se os nossos parceiros querem
que visitemos seus pais com mais frequência, juntarmo-nos a eles
para assistir a um evento desportivo ou um concerto ou filme, ou
simplesmente ajudá-los com um projeto, os seus desejos nos orien
tam para uma ação construtiva da nossa parte. Mesmo se não esta
mos entusiasmados com esses eventos, todos eles envolvem contato
com nosso parceiro. Podemos participar deles ocasionalmente sem
nos comprometer a fazê-lo tão frequentemente como eles poderiam
Diferenças Reeoneiliáveis 379
teiro, talvez porque se sinta culpada por estar longe das crianças ou
por Enrico ficar com todo o fardo neste sábado. Só porque ela genui
namente quer que ele tenha mais responsabilidades não significa que
seja fácil para ela abrir mão disto por si mesma.
Mesmo que Enrico e Rosa enfrentassem todos esses desafios, al
guns comentários inesperados de um ou outro poderiam desestabilizar
sua precária trajetória de genuína mudança. Vamos dizer que ele faça
a oferta de um sábado livre para Rosa, ela aceita, e ele realiza tudo cer
to. Em seu retorno para casa, ele compartilha sua experiência com ela.
Talvez ele tivesse alguma dificuldade com as crianças e agora tem uma
maior compreensão de quão desafiador pode ser passar um dia inteiro
com elas. Ele conta suas dificuldades e sua frustração e diz, “Agora eu
sei mais o que você quer dizer sobre o quão difícil é cuidar delas por
horas a fio e manter sua sanidade ao mesmo tempo”.
Rosa pode se sentir culpada por ter saído o dia inteiro. Ela
pode antecipar que ele vai usar este dia contra ela - que ele irá man-
tê-lo como prova do que ele faz para as crianças, que este dia irá in
validar todas as suas acusações de não envolvimento. Como resulta
do, ela pode reagir à sua expressão de frustração. “Bem, agora você
sabe o quão difícil pode ser. Talvez a partir de agora você será um
pouco mais solidário comigo e se oferecerá para ajudar mais do que
só de vez em quando.”
Se Enrico permanecesse atento (mindful), ele poderia manter a
mudança positiva e não ser arrastado para uma discussão: “Eu sei que
é difícil, e planejo me envolver mais. Hoje foi apenas um começo,
mas foi um começo de verdade”. No entanto, após um dia com as
crianças, isso pode ser pedir demais. Ele responde a seu comentário
provocativo com uma réplica irritada: “Eu não posso acreditar. Eu
aqui passo o dia inteiro com as crianças e tudo que você pode fazer é
saltar sobre mim.”
Ela responde: “Bem, você acha que um dia é tudo que você pre
cisa fazer. Então seu trabalho com as crianças foi feito por este ano
certo?” E uma discussão se desencadeia.
Diferenças Reconciliáveis 381
mos, talvez tivéssemos que lidar com conflitos no curto prazo, mas po
deriamos aumentar nossa satisfação em longo prazo.
Por exemplo, no nosso relacionamento sexual podemos abdicar
de um possível prazer ao invés de arriscar ferir ou constranger nossos
parceiros. Mencionar que se sente desconfortável por algo ou que pre
cisamos de um ritmo mais lento pode chateá-los ou criar tensáo. Pedir
algum comportamento que pudesse nos excitar poderia envergonhá-
los e a nós mesmos e interromper o momento de intimidade. Nosso
esforço para melhorar nossa vida sexual pode ser contraproducente e
piorar as coisas. Assim, nós nos submetemos ao desconforto ou re
nunciamos ao prazer para preservar o que temos. Nós desperdiçamos
oportunidades de melhorar o nosso próprio nível de satisfação sexual
e, em última análise, o de nossos parceiros.
Embora a nossa relação sexual seja, frequentemente, uma área
particularmente sensível na qual tentamos proteger os sentimentos de
nossos parceiros, podemos fazê-lo em quase todas as áreas. Por exem
plo, você pode estar assistindo a um programa de televisão que lhe in
teressa, mas seu parceiro lhe interrompe para dizer algo. Não queren
do machucar os sentimentos dele, você não diz honestamente “Eu re
almente quero assistir a este programa. Você pode me falar mais tar
de?” Em vez disso, você dá a seu parceiro metade de sua atenção, dei
xa a outra metade focada na televisão e se sente vagamente ressentido.
Enquanto isso, seu parceiro pode se sentir irritado com a pouca aten
ção que você deu.
Estes exemplos não pretendem simplificar demais. Exprimir seus
desejos pode criar sentimentos que machucam, gerar tensão ou precipi
tar uma discussão. O desconforto que talvez resulte da liberdade de ex
pressão pode não valer a pena. Em certas circunstâncias, como os senti
mentos de seu parceiro são importantes para você, pode ser melhor su
primir suas reações e deixar a situação passar. Uma orientação útL
como cuidar melhor de si mesmo, nunca deve substituir o bom senso.
Quando um problema se repete, no entanto, a confrontaçá:
pode ser melhor do que a proteção. Carla gostaria de passar mais tem
Diferenças Reeoneiliáveis 383
po longe de Diane. Ela gosta de, algumas vezes, fazer compras sozi
nha e gostaria de sair com seus amigos mais frequentemente sem
Diane. Por outro lado, Diane prefere fazer as coisas com Carla e vai
ajustar seu horário para ir com ela em quase todas as ocasiões, desde
eventos sociais até tarefas diárias. Carla geralmente não tem coragem
para dizer que ela quer fazer sozinha suas compras ou outras ativida
des corriqueiras. Sendo assim, Diane vai junto e Carla se sente ligei
ramente irritada pela presença da parceira. Sua única solução até
agora é ser ligeiramente desonesta: ela faz suas tarefas quando Diane
está ausente ou parece muito ocupada para acompanhá-la, ou inven
ta desculpas para não levar Diane junto quando ela se encontra com
um amigo. Carla se sente ligeiramente culpada por essas dissimula
ções, e, então, fica brava com Diane por colocá-la nessa posição de
fensiva. Mas cuidar melhor de si mesma e afirmar seu direito à ativi
dade independente significaria fazer coisas que machucariam os sen
timentos de Diane, o que, por sua vez, significaria mais culpa para
Carla. Poderia também precipitar uma discussão ou estimular Diane
a se retirar com ressentimento.
Não existe uma maneira fácil para Carla resolver sua necessi
dade de independência. Mas, seguindo o caminho mais tortuoso —
planejando o momento para as atividades corriqueiras ou compras,
oferecendo meias-verdades sobre o que ela e seus amigos vão fazer —
ela se obriga a repetir esses artifícios a cada vez que quer algum tem
po sem Diane. Enfrentar Diane mais diretamente sobre suas necessi
dades exigiría que ela lidasse com as respostas emocionais da parcei
ra e com as próprias, mas, com o tempo, uma mudança genuína po
deria acontecer. Poderia surgir um novo padrão de maior indepen
dência para ela na relação.
Carla poderia iniciar conversando sobre suas inquietações
com Diane. Seria importante para ela se concentrar em seu desejo
de ter um tempo seu, em vez de qualquer suposta dificuldade de
Diane, tal como a sua insegurança. Se a conversa enfatiza as inade
quações de Diane ao invés de seu próprio desejo de independência,
384 A peça-chave para a mudança estabelecida
MINIMIZE DANOS
bre sua posição. Você pode preparar o que vai dizer, excluir uma fra
se que não parece certa ou cortar uma parte do vídeo que pode ser
nociva. Se você usar a palavra escrita, não haverá tons de voz irritada
ou sinais de tensão facial para dispersar de sua mensagem. Final
mente, se o seu parceiro escolher responder da mesma forma, ele ou
ela irá desfrutar de alguns dos mesmos benefícios: liberdade de ex
pressão sem feedback ou interrupção e a oportunidade de preparar
uma resposta mais elaborada. Como resultado, o processo de comu
nicação poderá ser menos acusatório e menos defensivo. A alteração
do meio de comunicação pode mudar a mensagem.
Tamara: Não, não podemos dirigir de Los Angeles para San Fran
cisco em um dia.
Nelson: Claro que podemos. As pessoas fazem isso o tempo
todo em menos de um dia.
Tamara: Não, elas não fazem isso. A menos que sejam motoris
tas de carros de corrida.
Nelson: O que você sabe sobre distância e tempo. Podemos pegar a
autoestrada 5; são apenas algumas centenas de quilômetros!
Tamara: Besteira! São mais de 700 quilômetros. E é essa a sua
ideia de férias - ficar dirigindo em uma autoestrada?
Nelson: Minha ideia de férias é chegar aonde você quer ir o
mais rápido possível.
388 A peça-chave para a mudança estabelecida
Tamara: Eu não sei por que, mas estou ficando muito irritada
com essa conversa.
Nelson: Eu estou vendo.
Tamara: Bem, você também não está exatamente muito calmo.
Nelson: Isso é verdade. Estou frustrado também. Eu tenho lou
co para ir no Google e provar a você que LA e San Francisco es
tão a menos de 700 quilômetros de distância.
Tamara: (sorrindo) Por favor, não. Mesmo se você estivesse certo.
você ganharia a batalha, mas perderia a guerra. Porque eu poderia
me recusar a ir para a Califórnia com você de qualquer forma.
Diferenças Reeonciliáveis 389
RECAPITULANDO
Fazer mudanças positivas e deliberadas em nossos relacionamentos não é fácil, mas
podem ser feitas. Embora nossa tendência seja colocar foco no que nossos parceiros
deveriam mudar, teremos mais sucesso se nos concentrarmos no que nós podemos
mudar. Se fizermos menos do que fazemos normalmente e mais do que tipicamente
não fazemos, podemos conseguir mudanças positivas. Em particular, podemos tomar
medidas construtivas em vez de reclamar e criticar. Podemos fazer algo positivo para
os nossos parceiros, embora haja negatividade entre nós. Podemos fazer o que nossos
parceiros nos pediram para fazer. Nenhum desses atos aparentemente simples serão
fáceis de implementar. Podemos enfrentar nosso próprio ressentimento ou uma res
posta menos entusiasmada dos nossos parceiros.
Às vezes, podemos fazer uma genuína mudança em nossos relacionamentos, cuidan
do melhor de nós mesmos. Se não protegemos tanto nossos parceiros, podemos nos
sentir menos ressentidos. Mas temos de lidar com as nossas próprias inibições e culpa
sobre chateá-los ao fazer o que queremos fazer.
Em alguns momentos, nossos desentendimentos com nossos parceiros podem ficar
fora de controle. Nossos sentimentos e os deles são tão fortes que a discussão
construtiva torna-se impossível. Uma mudança positiva pode ser simplesmente para
Diferenças Reeoneiliáveis 393
nos como um “você”. Tudo isso pode torná-lo mais receptivo às lutas
nas quais você se encontra. Finalmente, com a parte IV, você deve ter
uma compreensão maior da dificuldade de fazer uma genuína mudança
deliberada e de uma consciência de como, frequentemente, os esforços
para mudar criam mais do mesmo.
Esperamos que você também esteja capacitado para ter a noção
de que a mudança genuína, embora difícil, é possível se você começar
com a única pessoa que você tem controle: você mesmo. Além disso,
vale a pena a luta pela verdadeira mudança, porque esta não só reduz
o conflito, mas também leva a uma maior intimidade. De modo ideal,
o impacto total deste livro levará a um abrandamento de sua posição
em relação ao seu parceiro e a uma apreciação das limitações humanas
e vulnerabilidades dele, bem como das suas próprias, mesmo quando
você se esforça para criar um relacionamento melhor e mais gratifi-
cante. Talvez você agora tenha começado a se afastar de incompatibili
dades antagônicas direcionando-se para diferenças reeonciliáveis.
Neste ponto, você pode achar útil avaliar seu progresso. Para
obter uma indicação objetiva deste, você poderia pegar novamente
os questionários de satisfação de relacionamento no Capítulo 1 e ver
se houve melhora. Se você não atingiu alguns dos objetivos descritos
acima ou se seu nível de melhoria na satisfação não é o que você
queria, pode ser adequado reler um capítulo ou seção ou refazer al
guns dos exercícios recomendados (ou fazê-los agora se você não os
fez). Também é possível que algum problema especial - um desres
peito de seu parceiro, como um caso, violência, abuso verbal ou um
transtorno grave em seu parceiro, como depressão ou alcoolismo -
impeça as mudanças positivas que imaginamos. Também é possívei
que suas dificuldades, exacerbadas ou não por problemas especiais-
exijam mais do que qualquer um de vocês possa fazer. Nesse caso.
você pode precisar de assistência profissional. Na Parte V abordare
mos cada um desses problemas especiais.
Parte V
Quando Aceitação
Não é Suficiente
15
tal. Além disso, atos específicos dentro de cada categoria variam dra
maticamente em sua importância: ser empurrado é muito diferente
de ser espancado. No entanto, cada um desses três tipos de ação é
destrutivo nos relacionamentos. Em cada caso, há vítimas. A vítima
de todos os três tipos de ação pode dizer de maneira convincente:
“Seja o que for que eu tenha feito de problemático para o nosso re
lacionamento, eu não merecia isso.”
mo campo de estudo. Fica claro que a maioria dos casais com eventos
violentos não os relata como um grande problema.
E mais provável que haja uma tendência para ignorar a violên
cia quando seu nível é baixo. Por que fazer tanto alarde por um
apertão ocasional ou empurrão? Na verdade, há uma razão muito
boa. A violência leve deveria ser sempre levada a sério, pois pode facil
mente escalar para uma violência mais grave. O empurrão pode ser
retribuído; mas depois esta troca de agressões pode se transformar
em chutar ou bater. O que antes parecia algo inocente pode se tor
nar perigoso. A violência leve também pode causar lesões acidentais
- por exemplo, uma pessoa que é empurrada pode tropeçar e cair.
Se você tem filhos, você tem outra boa razão para levar a sério a
agressão leve. Qualquer manifestação violenta entre os pais é preju
dicial para as crianças, não só porque ela dá um exemplo terrível
para eles e aumenta as chances deles serem fisicamente agressivos em
situações de conflito, mas também porque desencadeia ansiedade
nos filhos em relação aos pais. Eles podem sentir medo e querer pro
teger aquele que foi empurrado ou agredido. Pode perturbar seus
sentimentos em relação às duas pessoas mais importantes de suas vi
das. Além disso, a violência entre os pais que ocorre na frente da
criança poderia, certamente, pôr em perigo essa criança (a partir de
objetos lançados ou outras ações não intencionais), e tal violência é
considerada, por lei, um abuso infantil em potencial.
O que significa levar a violência a sério? Você precisa reconhecê-
-la abertamente como um problema. Você precisa falar sobre isso com
seu parceiro e estabelecer uma meta de não-violência em seu relacio
namento. Você precisa insistir em um padrão de “tolerância zero” para
a agressão. A seguir discutiremos os passos para alcançar esse objetivo.
Definindo abuso
mente não sabemos quantas vezes isso ocorre. No entanto, muitos dos
conceitos deste livro - especialmente em relação à aceitação - não são
apropriados para aqueles casos de controle nem para casos de maltra
to. Recomendamos que alguém neste tipo de relacionamento comece
com os recursos descritos acima sobre espancamento.
Agir no momento
Uma maneira eficaz de lidar com linguagem que é inaceitável
para você é agir de maneira que mostre que você não vai tolerar quando
isto ocorre. Por “agir” não queremos dizer uma discussão como a descri
ta, mas uma ação rápida para acabar com a linguagem imediatamente.
Se o seu parceiro está xingando você ou insultando com uma palavra
inaceitável, você pode simplesmente comunicar “Eu não vou ouvir você
Diferenças Reeonciliáveis 415
falar comigo assim”, e sair. Ou você pode ir embora sem qualquer co
mentário. Você não tem que tolerar ameaças ou xingamentos ou insul
tos. Dê um tempo para a situação e deixe o seu parceiro sem público.
Terminar uma conversa quando seu parceiro faz um comentário
desagradável comunica uma mensagem poderosa sobre esse comentá
rio, mas não é uma atitude fácil de tomar. Você pode ser tão provoca
do pelo ataque do seu parceiro que você quer atacar de volta. Você
não quer deixar a situação; seu impulso é ficar e brigar. Muitas vezes
isso leva a uma linguagem mais condenável, talvez de ambos os lados.
Da mesma forma, se você está envolvido na conversa ou se há alguma
urgência para esta, você pode não sentir vontade de terminá-la e espe
rar por um momento melhor.
INFIDELIDADE
fidelidade para que você possa entender o que foi violado e avaliar o
seu impacto. Quanto tempo a relação durou? Quão séria ela era? Al
guma vez discutiram sobre casamento? Será que eles foram para os
mesmos lugares especiais e românticos que vocês frequentaram como
casal? Eles alguma vez fizeram sexo em sua cama?
Muitas vezes, um enfrentamento se desenvolverá em torno das
revelações sobre o caso. Como seu parceiro não quer irritá-lo mais
ou alimentar sua própria culpa, ele, talvez, esconda detalhes. Ele ou
ela pode minimizar os fatos, tais como o tempo gasto ou os presen
tes comprados ou a intensidade dos sentimentos. A medida que você
sente a relutância dele em revelar o que realmente aconteceu, você
começa a temer que o caso tenha sido algo mais importante. Você
pressiona para obter detalhes, enquanto seu parceiro resiste. Você
pode se perguntar se em algum momento saberá toda a história.
Como sua sede por informação nunca parece ser satisfeita, você se
encontra perguntando coisas nos momentos mais estranhos. Passan
do na frente de um hotel na cidade, você pode perguntar: “Você já
foi lá com ele/ela?” Seu parceiro certamente ficará frustrado com o
que parece ser um fluxo interminável de perguntas: “Será que você
nunca vai desistir disso?”
Na terapia de casal, com frequência, estabelecemos um perío
do limitado para uma revelação completa. Averiguamos se aquele
que traiu está disposto a responder a todas e quaisquer perguntas
durante um número limitado de sessões de terapia, digamos duas ou
três. Durante essas sessões pedimos ao parceiro infiel que não mini
mize o envolvimento no caso. De fato, podemos pedir a ele ou ela
para contar o que houve o mais próximo da verdade. Por exemplo,
se um marido encontrou seu caso uma ou duas vezes por semana,
ele deveria dizer duas vezes por semana, em vez de uma vez. Desta
forma, sua esposa pode ter uma imagem clara e não minimizada do
caso e seu envolvimento nele.
Pedimos ao parceiro que foi traído que concorde em fazer per
guntas somente durante aquelas sessões especialmente designadas para
420 "Não faça isso comigo"
meiro lugar, pode muito bem ter havido problemas em seu relacio
namento ou dificuldades em sua receptividade às necessidades do
parceiro. Os casos sempre acontecem num determinado contexto;
eles não acontecem quando ambos estão completamente satisfeitos
com seu relacionamento atual. Mas o segundo ponto é ainda mais
importante: os casos extraconjugais não são feitos para resolver pro
blemas de relacionamento, e eles, geralmente, tornam esses proble
mas piores, não melhores. Há muitas outras maneiras construtivas
de responder a problemas de relacionamento que não envolvam se
gredo e traição. Embora você e seu parceiro sejam conjuntamente
responsáveis pelas dificuldades do relacionamento, seu parceiro é o
único responsável por escolher um caso como uma solução inade
quada para resolver esses problemas.
Esquece o caso
rível”, ou. “Você é um traste pelo o que fez comigo.” Uma desculpa
lhe parecia admitir ser este traste ou confessar um pecado imperdoá
vel. Em vez de oferecer um pedido de desculpas ou mostrar remorso,
ele tentava convencê-la de que o caso não era sério e que a outra mu
lher não significava nada para ele. Mas para Maria Luíza, as tentativas
de Joel para explicar o caso vinham como esforços para invalidar os
sentimentos dela. Ela ouvia em seus comentários a mensagem “Você
não deveria ficar tão chateada, eu não fiz nada tão ruim.” Assim, os
esforços dele para se explicar faziam com que ela ficasse mais brava. E
a raiva dela tornava mais difícil para ele ver o quanto ela sofria e res
ponder a isto adequadamente.
Um embate, como o que ocorre entre Joel e Maria Luíza, fre
quentemente acontece quando quem foi traído não consegue esquecer
o caso extraconjugal. Claro, seu parceiro quer que você siga adiante,
para parar de se concentrar no que aconteceu. Ele pode incentivar ou
mesmo insistir que você não pense no passado, que você olhe para o
futuro. Pode, ainda, perguntar por que você traz à tona o assunto
quando isso só cria sofrimento. Mas a traição pode ter abalado a sua
confiança ou ter sido tão emocionalmente traumática que você tem
dificuldade de esquecê-la. Você não consegue evitar pensar nisso. Com
frequência o caso vem à sua mente e você o traz à tona.
Mesmo que seu parceiro reconheça verbalmente a responsabili
dade pelo o que aconteceu, talvez você ainda não sinta muito alívio
ou satisfação. Seu parceiro pode ter admitido, relutantemente, depois
que você o pressionou a isto. Ele é mais veemente em justificar o caso,
apontando a inadequação em você ou no relacionamento ao invés de
reconhecer a sua própria responsabilidade pessoal.
Se você percebeu que seu parceiro compreendeu sua dor e real
mente sentiu muito pelo que ele ou ela fez, você poderia esquecer o
caso mais facilmente. Mas, em vez disso, você sente que ele se coloca
numa postura defensiva sobre a traição. As desculpas de seu parceiro
podem parecer muito falsas e não convincentes. Em resposta, sua rai
va aumenta e seu foco no caso extraconjugal é mais intenso.
Diferenças Reconciliáveis 425
nessa revelação uma base para a confiança. Seu parceiro não consegui
ria persistir na infidelidade, pois o compromisso com você e integri
dade pessoal fez com que parasse. Certamente, este tipo de experiên
cia, não importa o quão perturbadora, estabelece mais uma base para
a confiança futura do que uma situação em que você mesmo desco
briu a infidelidade em pleno auge.
Mesmo se você descobriu a traição, existem experiências em tor
no dela que promovem a confiança. Se você percebe a culpa e o remor
so genuíno de seu parceiro, você se reassegurar que ele tem fortes senti
mentos por você e um senso intacto de integridade. Se você vivência a
empatia de seu parceiro em relação à dor que você sofreu, você tem uma
razão para acreditar que ele não vai lhe machucar novamente.
A sensibilidade do seu parceiro aos seus sentimentos também
pode reforçar a confiança. Ele pode fazer esforços extras para lhe tele
fonar quando estiver ausente em viagens de negócios, para que você
possa sentir a segurança do contato com ele. Ela tolera sua inseguran
ça e suas perguntas. Ele pode deixar passar uma festa em que seu ex-
amante esteja presente.
Uma maior abertura é um antídoto direto para a desconfiança.
Ter segredos e enganar são aspectos necessários para a infidelidade. Se
o seu parceiro faz esforços para ser mais aberto, então haverá menos
pontos desconhecidos entre vocês dois e ele irá promover a sua con
fiança. Seu parceiro pode oferecer mais informações sobre o que se
passa com ele. Ela pode incluir você em seus círculos sociais do traba
lho para que você conheça seus colegas e amigos.
O que, em última análise, irá construir a sua confiança são os
esforços do seu parceiro dentro de seu próprio relacionamento. Se ele
abordar os problemas da sua relação, você sabe que esta é importante
para ele ou ela. Você sabe que seu parceiro quer estar com você.
O que complica todas essas experiências de construção de con
fiança é que elas não podem ser levadas apenas por seu parceiro. Sua
fúria acusatória pode dissipar a empatia dele. Suas exigências podem
anular sua sensibilidade. Seu interrogatório pode impedir muita aber
428 "Não faça isso comigo'
RECAPITULANDO
As três maneiras comuns pelas quais podemos ser maltratados nos relacionamentos
são (1) por meio da violência, da destruição ou da coerção física; (2) por abuso ver
bal, emocional ou psicológico; e (3) por meio da infidelidade dos nossos parceiros. Es
ses tipos de ações são muito diferentes umas das outras, particularmente em seu ris
co, mas são todas semelhantes por serem objetivamente erradas. Na maior parte des
te livro, tentamos afastá-lo de julgamentos morais, para que você veja seus proble
mas como diferenças e sensibilidades emocionais exacerbadas por estressores exter
nos e padrões de comunicação. No entanto, algumas ações, mesmo que sejam co
muns, são simplesmente erradas. Você não deveria ter que suportar a violência, o
abuso, ou a traição de alguém que o ama.
As ações presentes nestas três categorias não são igualmente erradas. Ser empurrado
é muito diferente de ser espancado. Ser chamado de "idiota" é muito diferente de ter
sua vida ameaçada. Fizemos uma distinção importante entre a agressão por um lado
e a agressão física de baixo nível por outro. Espancamento envolve lesões e intimida
ção e é quase sempre cometido por homens. Se você está em um relacionamento
com espancamento, este livro não é para você. É importante que você procure ajuda
em outro lugar, como por exemplo, chamando Central de Atendimento à Mulher-
SPM Nacional, no número 180 ou visitando seu site da DEAM- Delegacias Especiali
zadas de Atendimento à Mulher - Rede de enfrentamento à Violência contra a Mu-
Diferenças Reconciliáveis 429
Psiquiatras
Os psiquiatras são, antes de tudo, médicos clínicos. Assim como
seus colegas que mais tarde se tornarão cirurgiões ou radiologistas ou espe
cialistas em alguma outra área da medicina, eles passam pelos anos de fa
culdade de medicina, após completam um estágio ou residência e devem
passar por um exame de licenciamento estadual para a prática médica. O
treinamento da especialidade em psiquiatria vem principalmente durante
uma residência em psiquiatria, que acontece após receber o certificado e
dura 3 ou mais anos. Normalmente, esta residência centra-se em tratamen
tos médicos, como prescrição de medicamentos e hospitalização, para tra
tar transtornos mentais graves, como depressão e esquizofrenia. Psiquiatras
também aprendem a deliberar com outros médicos sobre pacientes com
distúrbios físicos que podem ser complicados por fatores psicológicos. A
terapia de casal geralmente não é um foco importante de seu treinamento.
Psicólogos clínicos***
Nos Estados Unidos os psicólogos clínicos têm um PhD ou
PsyD (doutorado em psicologia), em vez de um MD (doutorado em
* N. de T.: No Brasil as determinações legais dos profissionais que trabalham com terapia são
federais.
**N. de T.: No Brasil os psicólogos clínicos, após a formação na faculdade de psicologia, fa
zem cursos de pós graduação em diferentes abordagens terapêuticas para realizar psicotera-
pia. O treinamento engloba avaliação e tratamento dos transtornos mentais e supervisão de
atendimentos. Com relação à terapia de casal, há poucas instituições especializadas nesta
modalidade terapêutica.
Diferenças Reeonciliáveis 439
Assistentes Sociais*
Conselheiros**
sionais que podem fornecer rais referências pode significar ligar para
uma clínica de psicologia universitária ou um centro de saúde mental
da comunidade ou um profissional em uma organização de saúde. Mas
não se esqueça de perguntar se a pessoa que for recomendada trabalha
com casais que ficaram satisfeitos com o terapeuta que está sendo suge
rido. Provavelmente, relatos de clientes satisfeitos são, ainda, a melhor
maneira de encontrar uma terapia satisfatória. Pergunte também se o
terapeuta está praticando qualquer uma das abordagens empiricamente
apoiadas discutidas acima. Essa informação também aumentará as
chances de uma experiência bem sucedida.
Na escolha de um terapeuta, lembre-se que os custos podem
variar amplamente e não são necessariamente uma indicação de qua
lidade. Se solicitado, esses terapeutas, algumas vezes, negociam com
os clientes por menos do que seu valor normal. Além disso, há segu
ros de saúde que podem fornecer alguma cobertura para a terapia de
casal, especialmente se você estiver com um terapeuta que é contra
tado por ou que tenha um convênio com sua empresa para cuidados
de saúde.
Nos Estados Unidos existe um site http: //ibct.psych.ucla.edu,
dedicado à IBCT, que lista centenas de terapeutas em todo o país,
treinados nessa abordagem. A maioria desses terapeutas foi treinada
por meio do Departamento de Assuntos de Veteranos dos EUA,
programa de treinamento em saúde mental. Esses terapeutas licen
ciados passaram vários dias em uma oficina de treinamento na qual
aprenderam sobre IBCT do primeiro autor (A.Christensen.). Em se
guida, durante aproximadamente 6 meses, eles atenderam casais
usando esta abordagem enquanto eram supervisionados a cada se
mana por supervisores IBCT. Estes ouviram fitas de áudio das ses
sões de terapia desses terapeutas para que pudessem ver como esta
vam trabalhando e dar-lhes feedback preciso sobre o seu desempe
nho. Somente foram aprovados pela VA e estão listados neste site
aqueles terapeutas que tiveram um número suficiente de casais, que
participaram de um número suficiente de sessões de supervisão, e
Diferenças Reconciliáveis 443
sua dificuldade? Se você puder navegar nessas águas difíceis, você não
só irá ajudar o seu parceiro, como poderá aumentar a intimidade em
seu relacionamento. Uma luta conjunta contra um problema impor
tante pode trazer uma maior proximidade. Se você é aquele com a di
ficuldade pessoal, a sua abertura e desejo de olhar para si ajudará não
só a você, mas também ao seu relacionamento. Isto também pode per
mitir que seu parceiro lhe auxilie mais ativamente.
Está além do escopo deste livro examinar especificamente to
dos os possíveis problemas psicológicos que você ou seu parceiro
possam ter, ou mesmo considerar especificamente os mais comuns,
tais como ansiedade, depressão, problemas com álcool ou outras
drogas e disfunção sexual. Cada um desses problemas é complicado
por conta própria e pode impor desafios específicos em um relacio
namento íntimo. O que podemos fazer aqui é oferecer algumas dire
trizes gerais, com base nos princípios deste livro, para lidar com um
parceiro que tenha um transtorno psicológico. Na seção Recursos,
fornecemos informações para ajudar você ou seu parceiro a localizar
livros apropriados ou tratamento se algum de vocês estiver enfren
tando problemas individuais.
rido consome a cada dia; nem ele. O cônjuge com o problema pode
negar a gravidade da sua patologia; o parceiro pode ter medo de tra
zê-lo à tona.
Outros casais podem discutir sobre as dificuldades de um par
ceiro com frequência, mas de forma improdutiva. Um marido se quei
xa dos problemas com drogas de sua esposa, mas ela descarta ou igno
ra suas queixas. Uma esposa se queixa do completo desinteresse do
marido em relação ao sexo, mas ele desconsidera, passivamente, as in
quietações dela.
Se você tem um parceiro com um transtorno psicológico sério,
você pode sugerir que ele procure tratamento; você pode até mesmo
pressioná-lo. No entanto, seu aconselhamento, especialmente se for
baseado em algumas leituras sobre o problema, pode parecer como
conselhos autoritários, vindos de um “especialista” autodenominado.
Ou suas recomendações podem ser entendidas como uma mensagem
subliminar acusatória: “Você está tão mal que precisa de um psiquia
tra.” Seu conselho pode advir de sua própria frustração e transmitir a
seguinte conotação “E impossível para eu lidar com você, talvez os
profissionais possam fazê-lo.” Estas recomendações refletem suas pró
prias necessidades e não as necessidades de seu parceiro: “Eu não que
ro mais ter que lidar com isso, vá para um profissional.” Estas reco
mendações são, muitas vezes, de rejeição ao outro: “Leve seus proble
mas para outro lugar.”
Não é surpresa quando um parceiro reage negativamente às re
comendações que contêm essas mensagens. Ele pode discutir com
você, rejeitar seus apelos para que se trate, ou criticá-lo em troca. Pode
resistir a suas sugestões, simplesmente porque você as fez. Suas reco
mendações para tratamento podem, então, impedir que seu parceiro o
procure ou, no mínimo, postergue-o.
E melhor conversar com seu parceiro sobre seu problema
quando você não está frustrado com isso. Quando você não está
chateado, então pode se aproximar de seu parceiro com interesse
pelo seu bem-estar; sua mensagem, provavelmente, não terá tons de
452 Buscando profissionais
RECAPITULANDO
Apesar de seus melhores esforços, você pode ser confrontado com problemas de rela
cionamento, os quais você é incapaz de resolver só por meio da leitura deste livro.
Programas de relacionamento on-line também podem ser benéficos, como OurRela-
tionship.com, que é baseado nos princípios deste livro. No entanto, seus problemas
podem necessitar de ajuda profissional - aconselhamento de casal ou terapia de casal
- para melhorar seu relacionamento. Dezenas de estudos realizados em todo o mun
do mostraram que a terapia pode ajudar os casais a melhorar sua satisfação uns com
os outros. A terapia de casal certamente não é uma panacéia para problemas de rela
cionamento: alguns casais não são ajudados e outros recaem após o tratamento. Mas
pode ajudar a maioria dos casais a resolver suas dificuldades e melhorar sua relação.
Consulte a seção Recursos sobre fontes para lhe auxiliar na busca de terapeutas.
As dificuldades psicológicas de seu parceiro, tais como ansiedade, depressão, disfun
ção sexual ou alcoolismo, apresentam problemas para ambos. Na pior das hipóteses,
os problemas de relacionamento contribuem para o transtorno psicológico individual
e este interfere nos problemas de relacionamento. Na melhor das hipóteses, a relação
pode apoiar e até mesmo curar os problemas individuais de seu parceiro, contribuin
do para uma maior intimidade entre vocês. Se ambos conseguem discutir o problema
de forma construtiva, assim como se você aceitar suas limitações em influenciar o
comportamento do seu parceiro, proteger-se e se cuidar enquanto o ajuda, validando
sua angústia emocional, estimulando-o para ações construtivas e as reforçando, vo
cês podem unir forças para enfrentar o problema juntos ao invés deste lhes alienar.
Você pode procurar ajuda profissional e usá-la de forma eficaz.
Recursos
WEBSITES DOS AUTORES
1-800-799-SAFE (7233)
1-800-787-3224 (TTY)
No Brasil*: Central de Atendimento à Mulher—SPM Nacional, no número 180
460 Recursos
WEBSITES
www. thehotline. org www. ncadv. org
LIVROS DE AUTOAJUDA
Problemas Gerais de Relacionamento
Gottman, J. M., & DeClaire, J. (2002). The relationship cure:A stepguide tostrengthe-
ningyour marriage,family, andfriendships. New York: Three Rivers Press.
Johnson, S. (2008). Hold me tight: Seven conversationsfor a lifetime oflove. New York:
Little Brown.
Markman, H. J., Stanley, S. M., & Blumberg, S. L. (2001). Fightingfor your marria
ge: Positive steps for preventing divorce andpreserving a Lasting love. New York: John
Wiley.
Notarius, C., & Markman, H. C. (1994). We can work it out: How to solve con-
flicts, save your marriage, and strengthen your lovefor each other. New York: Berkley
Books.
Wile, D. B. (2008). After the honeymoon: How conflict can improve your relationship.
Oakland, CA: Collaborative Couple Therapy Books.
Infidelidade
Glass, S. P., & Staeheli, J. C. (2004). Not 'fustfriends”: Rebuilding trust and recovering
your sanity after infidelity. New York: Atria.
Snyder, D. K., Baucom, D. H., & Gordon, K. C. (2007). Gettingpast the ajfair: A pro-
grarn to helpyou cope, heal and move on-Together or apart. New York: Guilford Press.
Spring, J. (2012). After the affair: Healing the pain and rebuilding trust when a part-
ner has been unfaithful. New York: William Morrow.
ORGANIZAÇÕES PROFISSIONAIS
Os websites das maiores organizações profissionais que lidam com questões de saúde
mental dão informações sobre cada profissão em particular, oferecem assistência para
conseguir um terapeuta e informações sobre problemas em relação à saúde mental.
American Association for Marriage and Family Therapy
www.aamft.org
Association for Behavioral and Cognitive Therapies
www.abct.org
American Psychological Association
www.apa.org
American Psychiatric Association
www.psych.org
National Association of Social Workers
www.socialworkers.org
Registry of Marriage and Family Therapists in Canada, Inc.
www.marriageandfamily.ca/?ww_pageID=953C5 5 F2-1372-5A65-3BD 54999-
BE76B41F
International Association of Marriage and Family Counselors
www.iamfconline.org
Listamos vários sites com informações sobre alguns dos mais comuns trans
tomos mentais, os quais foram mencionados brevemente no capítulo 16
Mind
www.mind.org. uk
Christensen, A., Atkins, D. C., Berns, S., Wheeler, J., Baucom, D. H. & Simp-
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Índice remissivo
experiência que promove, 41-42, 193-194,
Abandono, sensibilidade ao 105-110, 116- 207-209
118, 126-127, 130-131, 145-147, 164, mudança espontânea e, 40-41, 193-196,
435-436 207-208, 230, 282, 286-287
Abordagem comporramental para a terapia o que não deveria ser aceito, 195-200
de casal, 434-438 o que deveria ser aceito, 200-203
Abordagem de resolução de problemas, 189- planejar para seu relacionamento 207-209
190-194,357-363 versus mudança, 187-192
Abuso. Ver também Violência no relaciona versus submissão, 186-187
mento. Acordo em relação às diferenças, mudanças,
desencorajando abuso verbal, 399-400, 409- 202-203
410, 415-416 Acusação
emocional, psicológico e verbal, 196-197, consciência em retrospectiva e, 325-326,
408-416, 428-429 332-333, 342, 376
físico, 109-110, 195-197, 207-208, 399- de falta de amor, 216-217,236-237, 383-384
401,405-408,428 reações exageradas e, 27-28, 154-155, 165,
humilhação pública, 196-199 171-172, 228-229, 275
verbal, 196-197, 399-400, 408-416, 428- curas tóxicas e, 158-159, 174-175, 181
429 verdade na, 70-72, 263-264
Aceitação do motivo inconsciente, 224-229
antes da mudança 193-196 Afastamento da emoção, 267-268
combinada com mudança, 192-194 Afastamento depois da briga, 173-175
confiança e, 208-209 Afeto físico. Ver também Exemplos de caso
definição, 185-187, 188 aceitação e mudança ao lidar com incom
descrição da, 40-42, 186-194, 204-208 patibilidades, 187-196, 200
desenvolvimento da, 41-42, 181, 209, 224- experiências do passado e, 88-91
225, 230, 259 Agressão física. Ver Violência no relaciona
exemplo de, 185-194, 202-203 mento
468 índice remissivo
consciência da mensagem emocional, 319- “Eu faço isso por você,” 303-305
325 “Eu” linguagem do, 345-346, 348-349
conselho para “expresse seus sentimentos”, “Eu realmente preciso que você mude,” 306-
342-346 307
duras comparadas com brandas, 239-241 Evento gatilho, 156-158
incompatibilidade na expressão das, 260- Evitação do problema, 161-163, 170-171,
264, 276-278 241-245
requisitar mudança nas, 295-297, 306-308 Exercícios. Ver também Avaliando seu rela
separando-as do comportamento, 335-338 cionamento aumentando sua consciência,
Emoções ocultas. Ver também Sensibilidades 332-334
emocionais compreensão DEEP (profunda), desenvol
avaliando suas, 130-133 vimento, 177-180
comparadas a emoções superficiais, 105-109 compreensão DEEP, elaboração, 211-223
como maneira do padrão de comunicação, conseguindo que seu parceiro mude, 308-
232-233, 236-237, 386-389 310
definição, 105-106 mudanças na comunicação, 257-259
dicas para revelar, 236-237, 239-242, plano de mudança e aceitação, 207-209
244-245, 254-256 plano de resolução de problemas, 363-
raiva como, 234-236 365
razões para esconder, 105-107 plano de tolerância, 279-281
Emoções superficiais, 105-106 plano para mudar a si, 393-395
avaliando as suas, 130-133 soluções que não funcionaram, 228-230
comparadas a emoções ocultas, 105-109 Exigências, 55-56, 204-205
problemas que elas criam, 106-107 Expectativas, 37-38
Enfrentamento Explicação do problema
estressores, 142-144 avaliação do desempenho do parceiro, 66-
incompatibilidade, 156, 173-174 67
Escalada antes do conflito batalha de acusações, 66-70
discutindo, 249-251 busca por, 58-64
interrompendo, 406-408 condenação das ações do parceiro, 61-62
Escuta ativa, conselho sobre, 349-358 diagnóstico do parceiro, 61-64
Espancamento. Veja Violência no relaciona enterrando o cerne da verdade, 70-72
mento papel de coconspiradores, 66-70, 72-73
Estressores Diários, 141-143 papel da vítima, 65-67, 72-73
Estresse. Ver também Circunstâncias externas Expressividade Emocional, Medida, 102
avaliando seu nível de, 148-151
emocionais, 145-147, 150-152 F
exacerbando diferenças, 144-146, 150-152 Falhar
exacerbando sensibilidades em estar lá quando é importante, 110-114
maiores estressores, 142-143 em mudar o parceiro, 366-368
mudança versus aceitação do, 205-206 Filhos
questão central e, 219-221 cuidados com e luta de poder, 377-382
seu papel nos relacionamentos, 141-144 competição por atenção parental, 119-
Estudos sobre irmãos gêmeos nas diferenças 121
humanas, 86-87 envolvimento em alianças e coalizões, 166
índice remissivo 473
Intimidade. Veja também em Casos: exem com o parceiro comparado com o resto do
plos, intimidade mundo, 295-297
avaliação de, 102-103 comigo versus com o mundo, 295-297
diferenças na, 80, 127-128 consciência em retrospectiva, 325-332
discusses sobre, 66-70, 231-232, 240-241 consciência, importância da, 317-318
e uma compreensão DEEP, 177-178 consciência no momento presente e, 317-
e emoçóes ocultas, 105-106, 117-120, 240- 318,324-325
241 cuidando melhor de si mesmo, 381-385
por meio de tolerância, 260-261 dando atenção positiva ao parceiro, 376-378
Intrusão, 162-164 desejos conflitantes em relação à, 297-298,
Inveja, 26-28, 97, 106-107 302- 303
Irritação acumulada, 55-57 desigualdade e dívida, propostas baseadas
em, 305
J dicas para, 291-292, 297-298, 302-303,
Jones, Tommy Lee, 185 306-307
Justificando a necessidade de mudança específica comparado com o geral, 291-
Justiça e igualdade, propostas para mudança 294
baseada cm, 303-305 espontânea comparado com planejada, de
liberada, 193-196
K fazendo o que o parceiro pede, 377-378,
Kleck, Robert, 124-125 381-382
imediata e dramática, 286-292
L justiça e igualdade, propostas baseadas em,
Lange, Jessica, 185 303- 305
Lincoln, Abraham and MaryTodd, 197-199 justificando necessidade por, 302-307
mudando a comunicação, 306-307
M mudando a si mesmo para mudar a rela
Medo ção, 367-374
abuso emocional e, 408-413, 429 não permitindo a necessária, 301-303
de intimidade, 35-36, 61-62, 68-69 o que deveria ser mudado, 195-200
rotulando o estado interno como, 343-344 por meio dos confrontos, 286-288
violência no relacionamento e, 403-404 tentativas que levam à mais ou pior do
Mensagens contraditórias, 91-93, 97-99 mesmo, 312-317
Milgram, Stanley, 134-135 tipos de, 285-287, 291-292
Mindfulness. Ver consciência da história do ultimatos para, 287-292
problema versus aceitação, 187-190
Mítica aldeia dinamarquesa, 316-317 Mudança espontânea, 193-196, 286-287
Motivo inconsciente, 214-217 Mueller, Charles, 88-89
Mr. and Mrs. Bridge (filme), 186-187
Mudança. Veja também em mudança em si N
mesmo baseada em aceitação, 286-287 Nomeando o problema no relacionamento,
ação construtiva, 373-3376 268-270
agindo versus inibindo a ação, 293-295 Negação do problema, 161-163, 174-175
apoiada pelas circunstâncias versus força de Negligência
vontade, 296-298 como sensibilidade emocional, 119-121
índice remissivo 475