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Algumas recomendagoes para a expressao oral: fala e discurso Precisamos saber fazer bem todas as tarefas da luta e da organizagao, tanto internamente no Movimento, como quando iremos representd-lo em outros espacos, em todas as situacgdes, por mais adversas que sejam: uma conversa pessoal, uma negociagao, uma discussao mais aprofundada, uma palestra na Universidade, um discurso para a base, para outros puiblicos, uma entrevista, enfim, tudo o que se refere A comunicagio é uma arte, isto é, exige habilidades, conheci- mentos ¢ exercicios praticos. As orientagées que apresentamos a seguir, sao apenas alguns elementos relacionados com a pratica do discurso e da fala em publico, mesmo porque, no existem reccitas acabadas. Cada militante deve escolher o seu estilo, exercita- lo, aperfeigod-lo e, para os militantes iniciantes, essas reco- mendacées podem ser muito uteis. Com certeza existem outras orientag6es ¢ a prépria pra- tica de grandes liderangas de massa podem nos oricntar nesse processo, reafirmando que: Sé se aprende fazer discurso, fazendo. E, se nao sabemos fazer, provavelmente é porque no tivemos oportunidade, pois, capacidade todos nds possuimos, basta desenvolvé-la por intermédio do exercicio pratico. Método de Organizagao 71 1-E preciso preparar Ja vimos que todas as tarefas devem ser preparadas, planejadas antes de serem executadas. Existem estudos que demonstram que o sucesso nas atividades reside, em grande medida, na preparagio. Ou seja, nao basta apenas fazer, é preciso saber aprender fazer, para fazer bem. Portanto, o primeiro aspecto importante é que devemos ter a preo- cupagio de preparar. Nao podemos apenas confiar que na hora tudo dard certo, agir sempre de improviso, devemos pensar naquilo que vamos realizar para que saia o melhor possivel. Sé faga de improviso aquilo que o imprevisto exigir ¢ mesmo assim, esforce-se para fazer o melhor. No caso da fala em putblico ¢ do discurso, devem ser bem preparados para que se transmita com eficiéncia e cla- reza a mensagem que desejamos. Nao basta apenas pronun- ciar palavras agitando o puiblico. A mensagem a ser trans- mitida é que deve ser assegurada, pois do contrario nao terd efeitos prdticos. Pode-se escrever o discurso como forma de prepard-lo, outros podem ler antes e dar a sua opiniao. Nesse caso, n&o se preocupe em decorar pois pode dar problema na hora de falar. E importante ter claro: 0 tema do discurso; os objetivos que pretende alcangar com a intervengao; as fontes de pesquisa para a argumenta¢do e seguir um plano de preparagio basico. A propésito de orientacgao, poderd ser: 1.1 - Introdugao E o momento de captar a atengio, de estabelecer uma 72 Caderno de Formagdo n° 35 sintonia com 0 publico, que precede o discurso propriamente dito. Eo momento que prepara o ambiente, o publico para a mensagem que queremos ¢ iremos transmitir. Aqui, de forma indireta se apresenta o tema que vai ser desenvolvido no discurso. Existem varios métodos que podem ser usados, apds ter cumprimentado e valorizado o publico presente: a) Emocionar 0 publico: Consiste em citar um fato pouco comum e vivo, que atraia a atengao dos ouvintes e provoque aplausos; b) Apelar aos interesses diretos do auditério: O orador se preocupa com 0 estado fisico dos ouvintes, com o estado emocional, etc; c) A apresentacao de um problema: O orador pode apresentar uma questo dificil, um problema que provoca © publico, os faz pensar, desperta o interesse pois se trata de buscar uma solugao; d) Fazer referéncia a acontecimentos, ao momento e lugar: O orador dedica suas primeiras palavras para come- morar determinada data ou acontecimento histérico, ocorrido no local, regido, pais ou até no mundo; e) Recorrer a personalidades: No inicio da falagao, 0 orador pode mencionar o nome de uma pessoa destacada, inclusive, pronunciar uma frase desse pensador, etc. £) Recorrer a fontes conhecidas de informagao: Pode utilizar uma frase, fazer referencia a uma noticia que foi pu- blicada numa revista, num jornal conhecido, ou mesmo na televisao, etc.; g) Recorrer 4 prépria personagem do orador: Falar de Método de Organizagao 73 si mesmo é um poderoso método de atengo para estabelecer contato com o ptiblico, desde que a pessoa que vai falar tenha uma trajetéria e o faca com muita modéstia. 1.2 — Transmisséo da Mensagem Aqui vem o corpo do discurso, 0 contetido, a mensa- gem que nos propusemos a transmitir. Eo desenvolvimento do assunto que deve ter um raciocinio e sequéncia ldgica, de maneira que o publico consiga acompanhar ec entender essa mensagem. Eo momento da dentincia, da empolgacao, da conscientizago, do chamamento, da motivagao, que deve estar ligada & parte anterior — a introdugao. Aqui é impor- tante nao deixar nada de fora e nem colocar coisas demais, que ao invés de esclarecer e motivar, acaba confundindo o puiblico. Algumas orientag6es para ajudar na preparacao: a) Observar para que tenha uma estrutura ldgica; b) O discurso deve ser estruturado em forma de uma cadeia de antecedentes e consequentes, isto é, sempre que menciona algo, dd a explicacao logo em seguida; c) Ao passar de um tédpico para outro, de uma parte para outra, deve manter a atenc4o do publico, caso contrario, verds a dispersao e conversas paralelas; d) O contetido, a temdtica do discurso deve ser interes- sante, importante para os que esto ouvindo e de dominio puiblico de quem esta falando. 1.3 - Conclusao Todo o discurso deve ter um fechamento da mensagem. 74 Caderno de Formagiio n° 35 Nao pode terminar uma fala sem o ptiblico perceber que vocé est4 concluindo, ou seja, é 0 momento de amarrar e firmar as propostas, firmar as idéias chaves do contetido da mensagem; ¢ o momento de concluir 0 raciocinio que estava desenvolvendo. Alguns métodos que podem ser utilizados: a) Fazer uma breve repeticao (destacar) dos problemas, das grandes quest6es apresentadas na parte central do discurso; b) Apresentar as tarefas concretas que o ptblico tera que assumir, enumerando uma a uma, esclarecendo-as sinte- ticamente — pois j4 explicou de forma detalhada durante a parte central do discurso; c) Esclarecer as perspectivas, antecipando o futuro, as conquistas ¢ também as deficiéncias, dificuldades que serao encontradas no processo mas que, seréo superadas com o empenho de todos, dando um carater otimista (sem exage- ros), com uma visio realista do processo; d) Um final ilustrativo, empregando uma frase bonita, marcante, uma frase de uma personalidade, de um lutador destacado, capaz de emocionar o publico, que responderd com muita animagao; e) As tiltimas palavras devem ser bem fortes, marcantes, porque elas se tornaraéo um convite para que te ougam novamente, Esses trés momentos, no ato de pronunciar o discurso, nao devem ser pronunciados. Por exemplo, nao ha neces- sidade de dizer que vocé ird concluir a fala. O ptiblico deverd perceber o término através do rumo, da conclusao da men- _ Método de Organizagio 75 sagem que estava transmitindo. Mas devem estar incerli- gados na prepara¢ao porque dao corpo ao discurso: Do que vocé vai falar aparece na introdug’o (preambulo); 0 que falou aparece na transmisséo da mensagem (parte central) e, do que vocé falou aparece na conclusao. Essa é uma regra muito importante € prdtica. 2 - Execuciio - a pratica do discurso Esse é talvez, 0 momento mais dificil para a maioria dos militantes. Principalmente para os iniciantes, as sensa- ges so as mais diversas, desde tremedeira, calafrios, “bran- cos”, palavras que engasgam, etc. Tudo isso natural, mas, através do exercicio vai se superando a timidez, a inseguranga e em seu lugar vem a firmeza, a tranquilidade, de maneira que falar em publico se torne natural. Para auxiliar nesse processo, algumas orientagdes (recomendagées) podem ajudar: 2.1 — O microfone E comum em grandes eventos, utilizar o microfone. Muitos nunca usaram ¢ se assustam ao perceber a sua voz sair diferente nas caixas de som. E importante nao se impor- tar com isso. Comece a falar sem preocupagao, procurando manter o microfone a alguns centimetros de distancia da boca. Essa distancia esté relacionada a poténcia e qualidade do som, mas, sempre € bom manter uma distancia, do con- trdrio a voz fica muito abafada. E importante constatar se o microfone est ligado antes 76 Caderno de Formagio n° 35 de comegar a falar. Se acaso acontecer microfonia (baru- hao enorme), mantenha a calma, olhe para o técnico de som e espere que o problema seja solucionado. Ficar nervoso é pior; 2,.2-A voz Ninguém deve se preocupar muito com o tipo de voz, pois existem muitas diferengas, algumas mais agradaveis, outras menos, O que importa aqui, é falar com entusiasmo, com convicc4o, com auto-estima, com alegria ou com raiva, colocando 0 corag’o naquilo que se fala. Aquele que estd ouvindo, presta ateng4o no que é dito e na convicgio com que se diz, por isso, ¢ importante modificar 0 tom de voz, de acordo com o assunto em desenvolvimento; 2.3 — O nervosismo Se antes de iniciar o discurso vocé se sente nervosa, relaxe, respire profundamente trés a quatro vezes, isso ajudard recuperar 0 equilibrio e 0 tom da voz. Se preferir, pode segurar alguma coisa (caneta, o microfone) na m&o enquanto fala, ou, contrair as maos enquanto fala; 2.4 —A posi¢éo do corpo O corpo também fala, expressa impressGes, sentimentos, expectativas. Durante o discurso os gestos ajudam muito; as palavras sairio com mais énfase e melhora a entonagao de maneira que pode expressar melhor aquilo que esté querendo dizer. Nao fale nunca com os bracos cruzados, nem com as Método de Organizagao 77 mios nas costas ou nos bolsos, ponha todo 0 corpo em atitude dindmica. N&o ande muito para os lados, é recomendavel ir para a frente sempre que o assunto é mais interessante (algo novo); os pés podem ficar um a frente do outro numa distancia de 10 a 15 cm. E bom visualizar todo 0 auditério, saudar o auditério com a voz e com 0 olhar. A voz 0 principal recurso que o orador possui, por isso, nunca baixe a cabeca quando estd falando e, aconselhavel que as mAos estejam na altura da cintura, facilita os gestos. 2.5 — A entonagéo da voz Quando se faz um discurso, usando sempre a mesma entonagao e ritmo da voz, sem dar vida 4s palavras, com certeza serd um orador chato, com um discurso monétono, que tera como consequéncia o aborrecimento do ptiblico. Também, nao é preciso exagerar, basta falar com naturalidade, modulando a voz, pois, se falar baixo demais, as pessoas nao © escutarao e desviarao a atengao ¢, se falar alto demais logo estard cansado e o publico irritado com aquela “gritaria’, por isso, combine a modulagao e continuarés com a atencao do puiblico; 2.6 —A velocidade da voz Assim como a entonagio ¢ importante, a velocidade da voz também, de maneira que nao se deve falar répido demais porque criara um sentimento de inquietagao no publico e, nem devagar demais ou deixando pausas muito longas entre 78 Caderno de Formagao n° 35 uma palavra e outra, a ndo ser quando a pausa tem um si- gnificado especial, vocé faz uma pergunta e, antes de dar a resposta deixa uma pausa para que os ouvintes reflicam ¢ pensem na resposta ~ Onde esto os assassinos dos trabalhadores rurais? (pausa) esto soltos, impunes, como se nada tivessem feito, etc.. ; 2.7 ~ O tipo de frases Use sempre frases curtas ¢ claras. Evite o uso de pardgrafos longos e complexos demais. Por vezes nos perdemos com frases longas ¢ no final nem nés mesmos sabemos o que dissemos ¢ acabamos por nao concluir aquilo que queriamos dizer. E aconselhavel usar palavras simples, porém nao simplista, adaptadas 4 compreensao de todo o publico. Sempre que usarmos uma palavra técnica ou complexa, precisamos explicd-la, pois, o importante nao é demonstrar que sabemos mas sim, nos fazer entender para que a mensagem seja transmitida e assimilada; 2.8—A linguagem Sempre que o ptblico for de trabalhadores, procure usar uma linguagem popular. Ditos populares, contos e histérias, episddios, etc. podem ser usados e enriquecem o discurso, pois o ptiblico estabelece relagao entre uma coisa ¢ outra € grava a mensagem. Por isso, é importante ter referéncias, as caracteristicas do ptiblico para o qual vocé ird falar, fale da realidade e Método de Organizacao 79 sobre a realidade deles, como forma de conscientiza-los e transmitir a mensagem politica. E bom tomar cuidado com as teorias e abstragées, procurando falar com exemplos, comparagées, por exemplo: ao invés de dizer alimento, diga arroz, feyjao, carne; ao invés de dizer animais, diga vaca, porco, etc. Se nao podemos tocar, sentir, cheirar e ver as palavras que utilizamos, 0 puiblico poderd achar um bonito discurso mas, se recordarao de muito pouco da mensagem. As pessoas devem sentir-se parte daquilo que vocé esta falando. Cuidado também, com os cacuetes como: né; entende; certo; correto, etc. Essas repeticdes tornam o discurso cansativo ¢ ritante. Se alguém tem, deve se preocupar e procurar corrigi-lo. 3 - Auto-avaliacio A avaliagio do desempenho no discurso ¢ importante ¢ necessdria. Pode ser feita ao término de cada discurso pro- ferido. Busque, pega a opiniao dos companheiros (as), pois as criticas, sugestdes e observagdes servem para corrigir deficiéncias, falhas ¢ aperfeigoar o discurso e a fala em pti- blico. Nunca se preocupe em imitar alguém, cada mi-litante deve buscar seus caminhos, construir seu estilo préprio. 4—O orador O orador € 0 elemento ativo que determina o processo do discurso no sistema de direcdo. Para auxiliar nesse processo de formagao ¢ qualificagao na arte de falar em publico, é importante destacarmos mais alguns elementos: 80 Caderno de Formagio n° 35 4.1 — Aspectos positives do orador a) Possuir conhecimentos profundos na matéria, no assunto que desenvolve no discurso; deve dizer algo novo, que 0 auditério ainda nao sabia; b) Ter claridade ¢ firmeza nos objetivos politicos da orga- nizag4o que participa e/ou da luta que estd desenvolvendo; c) Ter sempre um nivel e quantidade de informagées superiores ao nivel do publico; d) Atuar com desenvolrura na tribuna, com boas qualidades vocais, gestos e cultura de linguagem; c) Habilidades necessdrias para reunir materiais para o discurso, organizando-os de acordo com os objetivos da intervencdo, preparando com seriedade o discurso, deixando de lado 0 improviso; f) Reagir corretamente diante da conduta do auditério, procurando estabelecer uma relagao reciproca; g) Facilidade de concentragao e desenvolvimento do raciocinio Iégico ¢ claro na exposigao. 4.2 — Aspectos negativos de um orador a) Pedir desculpas por nao estar preparado; por ser mal discursador; por ter pouco tempo, etc.; b) Demonstrar inseguranga ¢ despreparo; c) Demonstrar prepoténcia; d) Desprestigiar 0 puiblico, 0 auditério; e) Usar intencionalmente palavras e termos dificeis que o publico nao entende; f) Dizer verdades que ja sao conhecidas por todos; Método de Organizagao g) Comegar o discurso assim: Nao sei se vocés poderao compreender ....; Nao sei se vocés estfo suficientemente preparados para entender. Companheiros (as), esses séo alguns elementos que podem e devem contribuir com a pratica, com a arte de falar, de se comunicar em publico. Com certeza, existem outros elementos e inclusive formulados por quem domina o assunto, mas, esse subsidio pretende ser uma contribuigao a partir de estudos ¢ andlises que tivemos a oportunidade de participar e fazer. Como dissemos no inicio, nao se trata de receita, trata- se de orientagdes que podem qualificar a atuagao da militancia € tornar mais eficiente a nossa relago com a massa, Cada um deve buscar construir o seu préprio caminho, seu préprio estilo no ato de se comunicar coma base, tendo clara a impor- tancia de buscarmos cada vez mais a eficdcia ¢ a auto-superagio na pratica do discurso ¢ da comunicagio em priblico. Para tanto, exercite bastante, treine sempre que tiver oportunidade, faga sempre de forma planejada, consciente, com maturidade para, além de ser um excelente orador, ter também a habilidade para ser um bom ouvinte. Adelar Jodo Pizetta Jacaret, outubro 2000 82 Caderno de Formacio n° 35

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