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Universidade Metodista Unida de Moçambique

Ficha dos Conteúdos da Cadeira de Paradigmas Educacionais

Curso: Licenciatura em Ciências da Educação


Docente: dra. Dicxita Vijendra
Semestre: 2°
Turma/Ano: 2°
Número da Ficha: 5

Capítulo 5- Paradigma da Dialéctica Social


O paradigma da dialética social incide sobre os problemas da sociedade, sobre as
transformações sociais e culturais necessárias à sua evolução.

É com vista a uma mudança social e que nos interessamos pelas relações entre as
pessoas e as instituições, pelas interações entre a personalidade individual e a
sociedade, e pelos fenômenos da modernidade (peso dos mass-media, pelo propósito
de tudo ou nada).

É a consolidação em práticas concretas de transformação, de movimento, de libertação,


interesse de emancipação, de interação constante entre ação e a reflexão.

No cerne das preocupações destes paradigmas, estão os fatos sociais, como as relações,
as ideologias, e os factos psicológicos, como o inconsciente colectivo e o conjunto das
relações entre as instituições sociais, políticas econômicas e culturais. Estas relações
constituem uma dialética social preocupada com a libertação da pessoa e da sociedade.

5.1.Tendências do Paradigma da Dialética Social

1. Uma visão muito respeitadora dos princípios do marxismo, que insistia nas
relações de poder e na libertação do povo.
2. Uma visão anarquista que insistia na libertação da pessoa enquanto membro de
uma sociedade.

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3. Uma visão psicanalítica que visava libertar a pessoa dos constrangimentos sociais
que prejudicam o seu desenvolvimento.

5.1.1 Componentes de elementos da dialética social


Modo de conhecimento: a dialética como princípio do saber, a forte relação entre a
experiência concreta, as condições culturais e o pensamento individual.

Relações entre a pessoa, a sociedade e a natureza: fusão dos interesses da pessoa e


da sociedade, a experiência é constituída por uma relação dialética entre as pessoas,
a pessoa sendo corporal e membro da coletividade, cria-se coletivamente ao criar o
mundo.

Valores e interesses: consciência da sua própria autonomia, Justiça, igualdade,


descoberta dos valores, a partir da experiência da pessoa na sua relação com a natureza
e com as rotas pessoas.

Modo de execução: esperança numa revolução, no mínimo em mudanças consideráveis,


o trabalho humano como atividade humana criadora, determinação da consciência das
pessoas através do seu ser social.

Significado Global: progresso no sentido de uma sociedade, do poder partilhado, não-


dividido, sem classes, e desigualdades, onde as pessoas possam vir a criar a sua própria
história numa construção mútua delas próprias e da sociedade.

5.2 O Paradigma Sociointeracional de Educação


5.2.1 A natureza do paradigma sociointeracional
Neste final do século XX, estamos perante 3 abordagens diferentes deste paradigma
educacional.
● Modelo socialista
● Modelo democrático
● Modelo anarquista

Os três modelos têm um ponto em comum:

1. Criticam de forma mais ou menos violenta, o papel da educação na sociedade.


2. Analisam a educação enquanto instituição social e prestam uma atenção muito
particular à influência dos fatores culturais e sociais no desenvolvimento da
pessoa.

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3. Problematizam todas relações entre a educação e as outras esferas sociais, daí
a designação de paradigma sócio-interacional da educação.

Podemos estender três importantes tendências:


● A tendência socialista: inspira-se sobretudo na dialética marxista (a educação
deve servir essencialmente de para libertar a classe dos trabalhadores).
● A tendência democrática: abrange todas as teorias que se preocupam com a
democratização da sociedade.
● A tendência anarquista: refere-se principalmente às relações entre a pessoa e
a sociedade, e reivindica uma maior autonomia da pessoa.

As funções do paradigma sócio-interacional

Função geral: abolir as relações dominador/dominado, professores/alunos, favorecer


o aparecimento de uma sociedade autogerida.

Função epistemológica: reconhecer a transversalidade das instâncias políticas,


ideológicas e econômicas, trabalhar em verdadeiros meios de trabalho para
compreender melhor a relação fundamental entre os conhecimentos e a organização da
sociedade.

Função cultural: ser anti-ideológico, conceber a pessoa como ser social, conceber a
pessoa como aquela que está sempre em situação de transformar a ordem estabelecida,
definir a pessoa pela sua relação com os outros.

Função política: criticar e substituir uma forma de democracia ao serviço da classe


dirigente, facilitar o aparecimento de uma sociedade autogerida.

Função econômica e social: efetuar uma análise institucional social, realizar a


autogestão social, fazer participar ao máximo todas as pessoas nos processos de
produção, procurando eliminar a burocracia.

5.3 O Dialogismo e a interatividade: Novos Paradigmas para a educação


contemporânea

A educação à distância caracteriza-se pelo método tutorial de ensino-aprendizagem,


onde o professor actua propiciando, mesmo sem estar ao lado do aluno, o suporte
necessário para que o mesmo possa gerir o seu processo de aprendizagem.

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Assim, a figura do tutor se associa a um papel de apoio, e não a de transmissão de
conhecimentos. Neste sentido, já não tem lugar a figura do educador, "banco de dados"
, que actua como mero transmissor de saberes previamente legitimados a alunos que
funcionam como meros recetores passivos.

Esta modalidade educacional exige um novo paradigma educativo, demandando do


educador uma nova postura, menos autocrática e monológica.

Dialogismo é um dos princípios teóricos fundamentais para se pensar uma prática


educativa que não pretende ser mais estática e "bancária" , mas sim, onde o educador
se assuma como aquele "provocador" de experiências que abrem as possibilidades para
a produção e construção dos saberes através de uma progressiva consciência, de que
ser humano é um ser inacabado, é aquele que está em permanente "estado de busca"

Já não cabe à escola e ao educador a função de transmissão de conhecimentos, mas


sim possibilitar o aprendizado usando as múltiplas e variadas modalidades de
informação já disponíveis.

A dialogicidade inerente à prática pedagógica.


A actual sociedade da informação, demanda mudanças significativas na educação, entre
elas a substituição da transmissão unidirecional pela educação continuada e centrada
no aluno e a rejeição daquele tipo de ensino "bancário", entre outras mudanças
paradigmáticas. A educação online constitui uma interessante oportunidade para o
necessário deslocamento da pedagogia da transmissão para pedagogia do diálogo.

Interactividade: não é só um elemento que impõe a educação online, mas é o produto


e a fonte irradiadora de todas as estratégias dialógicas que podem compor o processo
educacional a distância ( o professor que busca a interatividade com os seus alunos,
propõe o conhecimento, não o transmite).
Paulo Freire elaborou uma Pedagogia do Oprimido em que a convocação de "ser mais"
própria do homem é afirmada no anseio da liberdade, de justiça, de luta dos oprimidos,
pela recuperação da sua humanidade roubada.

A consideração de Paulo Freire sobre educação parte do princípio de que vivemos em


uma sociedade dividida em classes, e marcada pela desigualdade das oportunidades.

Ressignificando o papel do professor

O professor em busca da interatividade com seus alunos, propõe o conhecimento, não


o transmite.

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Em sala de aulas, é mais que um instrutor, treinador, parceiro, conselheiro, guia,
facilitador e colaborador

É formador de "problemas" , provocador de situações, arquiteto de percursos,


mobilizador das inteligências, múltiplas e coletivas na experiência do conhecimento.

Faz com que o aluno, experimente a criação do conhecimento quando participa,


interfere e modifica.

Por sua vez, o aluno deixa o lugar da recepção passiva, de onde, ouve, olha e copia, e
presta contas para se envolver com a proposição do professor.

5.4 A Intersubjetividade a Retórica


Da objetividade a intersubjetividade: contribuições da teoria do agir comunicativo
para o paradigma interpretativo

Teoria do agir comunicativo: é a estrutura onde ocorrem os diálogos e o entendimento


entre os seres humanos, para que a comunicação e o entendimento venham ocorrer de
uma forma adequada entre as pessoas.

Assim, a subjetividade entre as percepções pessoais e as características próprias dos


sujeitos, passaram a ser devidamente incorporadas à análise das interações entre os
sujeitos das pesquisas, acrescentando alternativas no antigo paradigma sujeito-objeto
de se admitir a interação entre os entes envolvidos na construção do conhecimento.
Esta epistemologia mais interativa está associada ao paradigma interpretativo.
Paradigma interpretativo: é subjetivista, orienta-se pela tentativa de compreender o
mundo tal como ele é percebido e vivido, compreender a natureza fundamental do
mundo social e, ao nível da experiência subjetiva.

Procura explicações no terreno da consciência individual e da subjetividade, na


perspectiva das participantes e não na dos observadores da acção (não desprezar a
subjetividade presente no espírito humano).

Para compreender a complexidade real dos fenômenos educativos, como fenômeno


social, é imprescindível chegar aos significados compartilhados pelos grupos,
comunidades e culturas.

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A complexidade da investigação educativa reside precisamente nesta necessidade de
ter acesso aos significados, já que estes só podem ser captados do modo situacional, no
contexto dos indivíduos que o produzem e tocam.

A racionalidade comunicativa, passa a ser pragmática a partir do momento que a


relação intersubjetiva assumida por sujeitos aptos de falar e agir, se entendem uns com
os outros sobre alguma coisa.

Para tanto, os que agem de maneira comunicativa, movimentam-se de uma linguagem


natural e fazem uso de interpretações ligadas pela tradição, ao mesmo tempo que se
referem a uma coisa no mundo objetivo único, em seu mundo social e partilhado e no
respectivo mundo subjetivo.

Condições de essenciais para a manutenção do agir comunicativo na teoria do agir


comunicativo.

1. A Inclusividade: nenhuma pessoa capaz de dar uma contribuição relevante pode


ser excluída da participação.

2. A distribuição simétrica de liberdades comunicativas: todos devem ter as


mesmas chances de fazer as contribuições.

3. Condição de fraqueza: o que é dito pelos participantes têm de coincidir com o


que pensam.

4. Ausência de constrangimento externos ou que Residem no interior da


estrutura da comunicação: os posicionamentos na forma de "sim" ou "não" dos
participantes quanto às pretensões de validades verificáveis, tem de ser
motivados pela força de convicção de argumentos convincentes.

5.5 Ligações entre os Paradigmas da Dialéctica Social e Sociointeracional

Paradigma da Dialéctica Paradigma


Social Sociointeracional

Modo de Conhecimento Oposição dos contrários, Abolir as relações entre


coexistência da identidade dominadores e dominados,
e da diferença mostrar transversalidade
das instituições e das
organizações

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Relações entre a pessoa, Ciência da pessoa como Reconhecer a
a sociedade e a natureza sinônimo de ciência da transversalidade das
sociedade, fusão dos instâncias políticas,
interesses da pessoa e da ideológicas e econômicas
sociedade assim como das
instituições de das
organizações

Valores e Interesses A liberdade como Conceber a autonomia das


consciência da sua própria pessoas como condição e
autonomia finalidade da autogestão

Modo de execução Esperança número Conceber a liberdade


evolução ou hein como um produto social e
mudanças importantes coletivo

Significado Global Abolição da exploração Abolir as relações entre


entre as pessoas dominadores e dominados
entre professores e alunos

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