Por Que Voltamos A Falar e A Trabalhar Com A Pedagogia de Projetos

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Por que voltamos a falar e a trabalhar com a Pedagogia de Projetos? Maria Carmen Silveira Barbosa Professora asstentena Faculdade de Educa ‘fo da UFRGS, Doutora em Educacio einte- ‘ante do GEIN — Grupo de Estudos em Edu cagéo Infantil, Tem publicado artigos em revistas cienticas e de divlgacdo e livtos pela Ecitora Mediacdo. ua AWvaro Cortéa da Siva, 605 CEP: 96820-640 ‘Santa Cruz do Sul/ RS Tel: (51) 717-2760 ea@compusat.com br Nos ultimos anos, a pedagogia de projetos vem sendo reinterpre- tada por varios autores como Jolibert (1994), Hemsndez (1998, 1999, 2000), Edwards, Gandini & Forman (1999), Rabitti (1999) ¢ ‘As mudancas soci esto sempre «6es n0 modo de produzir ede si institu a ci8ncia moderna em u teorias cientifcas demonstram que construido, pelos homens e mulhel mai suas Frontera em fungio de abg dade. Para compreender o mund pois As pesquisas sobre aprendizagem e conhecimer Revolucio Cognit, apesar de néo estarem compl as prticas educativas, subsiciaram e apontaram para a de reverros as dinémicas escolares, Com as investigac gicas descobriu-se que o cérebro humano & um sisterna 20 fortemente plistico e a inteigénca é 0 processo de estabele interrelagdes entre as estruturas cerebras, Tamém estd cada vez mais daro que novas conexées entre grupos de neurbnios diferentes acontecem sempre que é necessrio garantir uma melhor qualidade de vida aos organismas. As pesquisas biolbgicas contemporéneas afirmam que. um tipo particular de interagéo entre ‘organismos em contextos particulares, ‘As teorias de aprendizagem apontam pare a superacéo da polari- zacBo entre oinato eo ambiental, aftmando que o conhecimento, € construido socialmente, a partir das possiblidades de interacdes ue 0s sujitos tém com o ambiente isco e social onde esto in seridos. Nao s6 a escola, mas todo 0 ambiente, ensina e aprender significa modificar-se e madificar 0 ambiente, a cultura. Desse ais se vista como oD ..) mas se configure, acme de tudo, como um processo de construczo da rao, dos por ques, dos signfcados, do sentido das coisas, dos outros, da natureza, de realizacdo, de realidade, da vide. (..) € um processo de auto e sécio construgéo, um ato de verdaderae propria co-construcéo.” (Finale, 1994) Isto &, mudou-se de uma visio de inteligéncia como a capacidade de receber passivamente informacoes, processar e produzir respos- tas ou apenas articular conhecimentos para a caracterizacdo da mes- ‘ma como) capacidade de escoer as stuacdes problersticas ue interessam e de escolher as metas em busca das quais remos nas lancar, em outras palavres, pela capacidade de projeter” (Ma~ chado, 2000, p. 18) (s estudios abservam que 0s sujetos da aprendizagem sio sores hhumanos por intero, isto ¢, que todas as dimensdes da sua vida festdo em ago quando estdo aprendendo. Desse modo as oraticas, educates dever levar em conta os vérios aspectos humanos {quando © objetivo ¢ auxliaros alunos ainterretar ecomoreerder ‘© mundo que os cicunda, ‘ partir dos principios acim arrolados podemos observar que a 00 en ARATE re er combs onthe et ae renee ea paged dee jetos pode ser uma possibilidade interessante em termas de GRRE 012 corer esa vido curcuar mltacetads O'que é projetar CGonforiie.o Dicionario Auréio (1995), a palavra projeto significa @tirer Tonge) arremessar, plapejar, isto é, pensar efou fazer uma 42G20 direcionada para o futufo. £ um plano de trabalho, ordenado particularizado para seguir uma idea ou propésito, mesmo que Nago, bizatro, Um projeto é um plano com caractersticas e possi- Bilidades de concretizacao. Um plano de acio, com in- Henes0, que potencializa ume capacidade de avaliar o futuro'a quem 0 propde ou 0 vive; que, por antecipar- S@ na consciéneiae ter como base o passado e o presen 16, da uma conséqiente capacidade metodolégica para @ escolha dos meios necessirios para a concreta eal 22¢60 do plato. Um projeto pode ser esbocado através eediferentes reoresentacdes, como célculos, desenhos, fextos, equemas e esbocos, que definam o percurso a S21 Uttizado para a execucdo de uma ida Um projeto & uma abertura para possibilidades amplas de encaminhamento e de resolucao. Ele evolve uma vasta gama de varivels, de percursos imprevisves, imaginativos,crativos, ativos e intligentes, acompa- nnhados de uma grande flexbilidade de organizacdo. Os projetos permite criar, sob forma de autoria sin- gular ou de grupo, um modo préprio pare abordar ou Construir uma questo e respondé-la. A proposta de trabalho com projetos possibilta momentos de auto- rnomia e de dependéncia do grupo: de cooperacao do arupo sob uma autoridade mais experiente e também de liberdade: momentos de individualidade e de so- clabilidade; de interesse e de esforco; de jogo e de trabalho como fatores que expressam a complexidade "Go Tato educative. ened Pee omens Ty ear) ere PEE Revista de educacto «a imaginacSo no caminho para 2 elaboragSo de projetos. justamen- te 0 caréter operator ds projetos que os dstingue com mais nit cdez das utopias: enquanto um projeto sempre se apresenta muni- do de elementos operatérios que jastrumentalize as aces transfor- ‘madoras e apontam no sentidalda)sua realizacéo, uma utopia no considera Sequer a discusséo$obre 0s caminhos ou a possibiidade de sua reaizacéo,” £m seu lv, Das coisas nascem coisas, Bi baiha com projetos no ambito do desig Perar com os elementos que nos apon- tam como se faz para construir ou conhecer as coises, um valor liberatério para todos os seres humanos. Munari (1998, p.7) apon- ‘ta que projetamos cotidisnamente e que até mesmo os livros de cu- lindtia s80 um exemplo de ung ivro de metodolagia de projetos. ‘Aa longo do seu texto, Munari (1998) traca um paralelo entre (05 projetos em design €o projto de fazer uma refeicdo para qua- tro pess0a5 (ver quadro abaixo}, A questio fundamental, de acor- o.com o autor, & fazer uma boa constituicéo, recorte, exposico do problema, pois, apesar desse recurso (especificar e clarear 0 problema) néo resolver por si s6 a questo, ele contém, desde o principio, 0s elementos necessérios para encaminhar 0 processo de solucdo das questées. eae ee Ped espinatre ar) Deed aoa) omer eed Creed cat ue Que tipc ay eee Crt Verificagao Pee eater) Machado (2000) afirma que projetar & um dos tracos mais caracterstcos da espécie humana, A vida é um Projeto em permanente atualizacéo. “Sonhos, iusdes, @ particularmente utopias sdo essencials para alimentar re eer Te et emcees Gon ‘Como pode se visto nos dois exemplos dads, o projeto de design ou ‘a receta de arroz verde, as estruturas de projetos apresentam alguns ppontos geals, que podem ser considerados comin, @ outros que sd especifcos, estando de acordo com a problemstica desenvoWida. No campo educativo a pedagogia de projetos tem, em grandes linhas, 0s mesmas momentos decisivos Hé sempre um momento de decisao inicial ede avaliagSo final mas 2 forma como os momentos s8o articulados, subdivididos e orga rizados fica a ctitéio do grupo de alunos e educadores, (2) Sinte tizando algumas idéias de Robira (1999) e Rinaldi (1994), pode- amos dizer que os projetos evocam a ida de um percurso dindmico, sensivel aos ritmos comunicativos, e contém dentro de si o sent do eo tempo da pergunta, da pesquisa, da cance, Rinaldi (19 afirma que é preciso formu ROTO O profeto Ser3 dese nnsecamente vinculada ao seu conteddo. 0 projeto néo é uma simples representaczo do futuro, do emanha do possivel, de ume idia; &0 futuro a fazer, um amanha a concte tizar, um possvel a transformar em real, uma idéiaatransformar em ato." Garbier, In: Machado, 2000) Os projets no campo da educacao Um dos grandes problemas que temos enfrentado nas escola 60 de repensa @operacionalizacio do curriculo, tendo em vista integra: + 08 interesses imediatos das ciancas; + as necessidades que nés, os adultos, acreditamos que sejam aquelas apresentadas pelas criancas; + os conhecimentos produzidos pela nossa cultura e que so fun- ddamentas para que as criancas compreendam e possam sent se inseridas no mundo (aqui estdo presentes os conteddos es colares especificos); + estilo dos projetos de rlacionar-se com o conhecimento, que 6 também muito peculiar as riancas,jé que supde a curosida- de, a abservacio, a reflexdo, a articulacSo, a experimentacao, ‘A pedagogia de projets é um dos muitos modos de concretizar 0 curricula escolar. Um dos primeiros entraves que encontramos para im programa de ensino geralmente diz rspeito a um percur SO due ji esta previamenteestabelecido, um instumento rigido, de avtoridade, que inclui os objtivos gerais de um sistema centali- ado, a0 invés de ser somente um ponto de referéncia, Gardner (1995) enfatiza, com muita propriedade, que ¢impossve com todo ‘ conhecimento acumulado nos dias de hoje pensarmos em uma 30 & mais posse tatar cada dscplina como lum amontoado de informacées especalizadas queso senidas nas escola, da a dia, hora apds hora, em pequenas colheradas. Os projetos pedagégicos tém como base saber part, na prética escola, de uma situacdo problema e global dos fenémenos, da realidade do grupo e nao da interpretacéo tebrca ja sistematizada através das disiplinas. Sigifica ter uma perspectiva de trabalho ‘lobalizado ou transdisciplinar, o que nao quer dizer, obrigatoria~ mente, que todas as areas do conhecimento girem ao redo de um ‘mesmo tema, de forma forcade, mecanica,irreal; mas que se deve procurar levar em conta 05 verdadeiros vinculos e conexées dos cconhecimentos. “Cade assunto pode desdabrarse, construir sobre si mesmo, questionarse, iuminar-se a parti de dentro, e erguer Bontes com as disciplinas parceias.( man, 1997, p. Como falamos anteriormente, 0s projetos no tém um esquema nico e pré-concebido, Nem sempre os projetos tém a mesma es- trutura pois esta dependerd sempre do tipo de problema que est sendo proposto, das experiéncias prévias do grupo e das possibil- ddades concretas da escola. Os projetos devem ter garantida essa estrutura mutante, inovadora, para nao se tornarem modos singu- lares e repetitivos de vere analisar 0 mundo. Essa abertura provoca uma certa inseguranca nos educadores ja que eles nao podem ter, desde 0 primeiro encontro, 0 mapeamento do projeto como um todo pois este sera elaborado paulatinamente pela aco, avalia fo, replanejamento. Como afirma Joliert (1994), exstem diferentes tipos de projetos: ae grupo de alunos como, por exemplo, projetos winculsdos 2 organizacso do ambiente da sala de aula, & merenda, as regras de organizacio da biblioteca © 20 uso ios jogos da sala. Outros projetos a autora denomina de, usados eae eas OMe nizam para realizar algo pratico, concreto, como uma horta, um aquério, um jornal, uma praia; € hd ainda outros denominados que tém como objetivo ~aprofundar o estudo de algum tema especfico através de planos de estudos. E importante lembrar que uma mesma turma de alunos pode desen- volver vatos e distintos projetos ao longo do ano, que muitos deles podem ter uma exsténciaconcomitante e que nem todos os projetos precisam necessariamente ser desenvolvidos por todos os alunos esse tipo de orgarizacéo pedagégica os contedidos de ensino ade- {quads 20s alunos de uma tercera sie, por exemplo, (em termas de lingua portuguesa, de matematica, das céncias, das arts plisticas e ‘outros) dever estar caros para os educadores eles devem saber quais (5 contetidos necessirios para as criancase assim poderso contr- buir na elaboracéo dos projets. A ordem em que esses contetidos serGo trabalhadoso nivel de profuncidadeo tipo de abordager ses detinida pelo processo do trabalho cooperativo do grupo Se observarmos as novas programacées escolares vemos que os ‘bjetivos para as éreas de conhecimento so cada vez mais gerais; dda primeira a quarta série, o que importa é formar um leitor e um, Drodutor de textos competente, mas quais contetidos e como 0 ensino sera desenvalvide somente saberemos ao longo do percurso definido por cada grupo. As disciplines, seus conteidos funda- mmentais e suas ubdivisdes soos contetdos dos professores eno © programa de trabalho dos alunos. Sabemos que o conhecimento 1n3o élinear e, cada vez mais, observamos que ele existe sob a forma de rede com miltipas relacdes e inter-elacées. Nao é possvel ensinar regras gramaticais subdividdas em temas para cada més do ano ~ marco: separacéo de silabas, abi: pontuacdo ~ pois 20 MERE revista de ecucacao criangas sao vstas como sujeitos que possuem suas préprias tco Fas sobre o mundo e seu funcionamento e em que qualquer cons ‘truco nova de conhecimentos parte das concepcoes anteriores para problematizar e reconstrut. (© tempo de elaboracio e execucdo de um projeto pode ser de curto, rmédio e longo prazo. Ele também pode ser continuo ou descont- uo, com pausas ou suspensbes, A escrita de um projeto sé pode ‘sti na medida em que é vista como uma hipdtese e ndo como tum dever set, pois ela & feta a0 longo do processo de construcéo do trabalho, acompanhando-o, Assim, no hd somente uma forma de pensar ou prescrever um projeto. Os projets seve para aprender para que seam coloadas data pesquisa, a procurar informs, exec atic, ad vidar, a argumentar, a opinar, a pensar. Também, pelo seu caréter de investigacso e comunicacao, auxliam a aprender a ulizaro fax, © video, 0 computador, o microscépio vendo como esses meios. servem tanto para aprender como para demonstrar 20s outros. agquilo que ja saber. A aprendizagem acontece em situagdes concretas, de interacao, como um processo continuo e dinamico em que se afirma, se constrdi e desconstréi, se faz na incerteza, com flexibi dade, aceitando novas duvidas, comportando a curiosidade, a criatividade que perturba, que levanta conflitos. produzir 0s textos é que surgem as dividas de uso funcional da Tinguagem que podem, nesse momento, em que ha significagso, ser estudadas, edeverdo ser retomadas em todas a sties sempre que necessério, Nao pode haver um “é oi ensinado e ponto final’, pois, hum grupo as aprendizagens nao acontecem de uma inica vez € pata todos do mesmo mado. ‘Aexperincia no trabalho com projetos geralmente tem tido como areas de conhecimento privilegiadas a de cincias e estudos 50- ciais. Pouco a pouco comecam a ser construidos projetos que tém como principal eixo outros campos do conhecimento, como a ln- guagem ea educacéo fisca, envolvendo, por exemplo, a escrita de uma receta, a aprendizagem de um jogo, etc. A aprendizagem acontece em situacOes concretas, de interagéo, ‘como um processo continua e dinémico em que se afirma, se constr6i e desconstri, se faz na incerteza, com flexibilidade, acei- tando novas dividas, comportando a curiosidade, a criatividade que perturba, que levanta confitos. Um modo de educar em que as Trabalhar com projetos ndo significa apenas ter uma sala dindmica e ativa, pois muitas vezes essasatividades so apenas uma forma de higer-estimulacdo, em que, aes SS a "Os resultados sa0 mutos © 500 Wstos0s, mas 05 processos s80 pobres, parcias,fragmen- tados e duram apenas 0s tempos da realizacSo. Muitas vezesessas atividades S30 repettvas eo process parece um carossel, em que se faz muito, um atrés do outro, sem sentido definid. ‘As novasreflexdes sobre as pedagogias de projetos procuram su- perar essa visso da atividade em si, como era apregoada pela Es- cola Nova, de principios do século, para a escola investigaco, pro- motora do ctescimento auténtco da cianca através da gestdo do seu conhecimento, Para Tonucci € fundamental que a escola propicie tanto a riqueza Cultural crticae cientfica, como uma riqueza de atividades © de capacidades prtico-operatvas, Na escola, o aluno examinaré "suas ‘experiéncias, conhecerd seu ambiente e recuperaré sua histeie", em contato dreto com o ambiente socal das criancas e dos adults; “um ambiente que, ainda que vvido, necessita comunicarse. Neste sentido e dentro deste processo, as diversas téricas, as diversas linguagens se usar, por assim dizer, para veificar, para apropriar tte Se aD MTonucci, 1988) © papel do professor na pedagogia de projetos ‘hos professores essa dindmica oferece a possibildade de reinven- tar 0 seu profisionaismo, desir da ueba, da sobrecarga de traba- tho, do isolamento, da fragmentacao de esforgos para crar um es- aco de trabalho cooperatvo, cratvo e paricipatvo. O professor passa a ocupar o papel de co-criador de saber e de cultura, aceitan- ‘do com plena consciéncia a “wuineraildade do préprio pap, junto ‘ divda, 20 erro, 20 estupor ea cuosidade. (Rinaldi, 1994, p. 15) Os projetos demandam a criac5o de uma escuta atenta ede um 1 que confecere fegistiar 0s Mod0s COMO Cade cranca participa da construcéo dos conhecimentos propos: tos ern um projeto, Essa observacio & permeada pela subjetividade do educador, pois observar ndo & perceber a realdade, mas consti uma realidade. A andlise dos reistros ajuda a interpretar as men sagens que esto dando sentido e significado & vida do grupo. Também 2 pedagogia de projetos possibiltatrataro trabalho docen- te como atividade dindmica e no apenas repetitva. O professor pode repensar a sua prétca, se atualizare transformar a compreen- so do mundo através do estudo continuo e coletvo juntamente com as criangas. Também & possivelrevsar seu modo de ensinare, com isso, transformar sua prépria histria como sujeto educador. A vida cooperaty estabelece na sala de aula ajuda o pro- tesor ser da Mlb as comoarnar wea, 2 co-produzirestratégias pedagagicas, a car e a aprender novos temas. Ao professor cabe priontariamente cian um ambiente pro- Picio em que a curosida eet a ee rpg Gb7 Crt mao wronem a0) 3) & preciso que a sala de aula e a escola tornem-se uma ccomuidade de investigacao, na qual as criangas possam aprender tumas com as outras e possam dialogar com os professores, com 10s textos, materia e atividades. Criar conhecimentos e sigifica- dos com solidariedade socal A escolha do tera ou de um problema para um projeto pode advir das experiéncias anteriores das criancas, de projetos ja rea- | lizados ou que ainda estejam em andamento. Também o professor, 0s pais ea comunidade podem propor projetos pare 0 grupo de criancas, a partir de suas observacoes e da constatacso. de questées pertinentes para 0 desenvolvimento do grupo e das criangas. A soluso e a construcéo do problema a ser resolvido ou compreendido pode ser feita pelas criancas maiores, através da ‘argumentacao. Para sabermos se um tema ou problema é real> mente interessante & preciso ver se ele, como diz Lipman (1997), “intranguilizou as mentes Para que os pais acompanhem os trabalhos escolares ¢ importante que a escola os mantenha informados sobre quais 05 trabalhos que estdo sendo feitos pelas criancas, quais 0s temas estudados. A comunidade, e em especial 0s pais, so dtimosinformantes para as criancas. Essa comunicacdo pode ser feita através de reunies, bilhetes e/ou cartazes afixados na sala de aula ou no hall de entra da da escola Cabe ao professor, independentemente do trabalho com as crian- ano letivo, realizar uma previsdo dos contetidos que podem vir a ser trabalhados, atualizar-se em relacdo ao tema, discutir 0 tema tos fazendo também propostas de trabalho para 0 grupo. No livro ‘mento que, de outro modo, no seria possivel despertar nas crian- «2. Isto 6,0 ensino precede eestimula 0 desenvolimento mental da cianca © papel das criancas e do grupo na pedagogia de projetos para 0 po de alunos os Projetos propiciam a criagéo de uma com significados compartihhados. Os pro- do debate, da argu- ido cotear diferentes pon- 105 de vista, do confronto de opiniées, do negociarsignificados, da construcéo coletiva do conhecimento, do desenvolver novas habi- lidades e aperfeicoar aquelas ja dominadas, do prazer de expor 0 seu saber, do vere sentir as controvérsias e do construir uma vio coletva, As criangas engajam-se na sua prépria aprendizagem. ‘A construcdo de um grupo de aprendizagem que colabora, que se cenvolve com as tarefas, que &co-responsével pelo empreendimen- t0.coletvo, define uma efetiva participacéo no grupo. € importan- te lembrar que as criancas podem criar projetos individualmente ou ainda em pequenos grupos ou duplas. Cada um pode ser dife- rente, ter seus proprios inteesses, mas & preciso aprender a con- vier @ aprender com os limites da vida coletva Apetagoca de proicts vt cian como un ss ‘Alguém que fogla de Projetos oferece o papel de protagonistas das suas aprendizagens, de aprender em sala de aula, além dos conteddos, 0s diversos procedimentos de pesquisa e de organizacao e expressa0 dos conhecimentos. Os projetos, apesar de partirem de situacdes signficativas e concretas da vida das criancas, devem ajudé-las a afastar-se das mesmas, para que possam ultrapassarsituagoes par: ticularizadas, em que estdo imersas em suas vidas cotidianas, para EXIGE Revista de Educacio integré-las em uma nova comunidade, de outro tipo, composta, or adultos (professores)e outrascriancas (colegas) em um espaco diferente, simbdlco, abstrato, um mundo de signifcados gerais que estdo ligados 20 que ela vé e faz Para desenvolver os projetos, 0 grupo como um todo (criangas e adultos) aia procura de informacées externas em diferentes fontes: conversas ou entrevistas com informantes,passeios ou visitas, ob- servagbes, exaloracio de materials, experéncias concretas, pesqui- sas biblograficas. Esse é 0 momento em que se formulam as dife- renteship6teses,seleionam e coletam materi, vidénciase pl jam experiéncias. Nesse momento surge a criacao dos jogos, at vidades draméticas, experéncias cientifica, desenhos, esculturas, marcenatia, misica, grafico, redacbes, desenhos, modelos, mini tras, nimeros, clculs, seriacBes,classiicacbes, ampliacdo de voca- bulario especifco, textos coletvos, hist6rias contadas oralmente & escritas. A organizacdo do prédio e da sala de aula também pode facilitar tanto a emergéncia de um projeto como a possibilidade de olocé-lo em andamento, Os laboratérios, sala de dramatizacdo, sala de muitimida, sala de esportes ou ciferentes cantos ou ateliés ‘a sala de aula auxiiam a criar um ambiente de pesquisa, ‘Apts ainvestigacéo ¢ preciso possibitar momentos coletves, em que a constelacéo de elementos trabalhados ao longo do projeto é rein- ventada, E passa de materia-prima (bruta) para uma reconstituiglo narratva da experiéncia, Aqui se desenvolvem as habilidades de in- terpretare coordenar a dias encontradas e de formular concetos, isto é, de organizar o difuso montando um conjunto com sentido. Nesse momento é necessirio escolher o que deve ser registrado, como é possivel registrar, selecionar, reelaborar as partes mais sig- nificativas e ajudar a construir um tipo de coificagdo daguilo que foi pesquisado, Passa-se da experiéncia concreta das ctiancas para a distintas formas narrativa, em que as atividades e hablidades ligadas ao pensamento tedrico se poem em acéo. Se apenas tra- balhamos as atividades empiricas, esquecendo das possibilidades de generalizacéo, de deslocamento para outro contexto, de teori- 2zagdo, estamos deixando de cumprir um dos papéis especificos da escola, As ctiancas precisam das linguagens simbdlicas e de con- ceitos abstratos para compreender melhor o mundo. Fara registrar e posteriormente comunicar 0 que foi conhecido é preciso conhecer formas distintas de narratvas, como as lingua ‘gens visual, verbal, escrta, matematica, musica, corporal, além de set necessério aprender 2 fazer uso de tecnologias, como lapis, uadro, mural, computador, internet, gravador, video, biblioteca & centro de documentacSo. Aprende-se a dominar as técricas e os rmateriais criando varias modalidades de registro. (Os materiais produzidos nesse momento podem formar a meméria, ppedagégica do trabalho e uma fonte de consulta para as demais, eiancas, £ importante que 0 educador procure utilizar diferentes Formacies com variedade de enfo- Depois do material estar organizado as criancas podem expé-l, recontando e narrando-o através de diferentes inguagens. A ava- liagdo do trabalho desenvohido &feita a partir do reencontro com 2 situagéo-problema levantada inicialmente e com os comentétios feitos sobre 0 propostoe o realizado. Os dossis sio uma estraté- ia importante para a organizacS0 final dos projetos. E importante lembrar que cada finalizacio de projeto propde novas perguntas estas podem ser utilzads para encaminhar novos projetos. Aqui feito 0 exercicio meta-cognitivo sobre a aprendizagem realizada Também para 05 pais 0 regstro do que foi realizado em sala de aula permite descobrir 0 processo cognitivo de seu filo; vé-o atuan- do em outro tino de espaco social oportuniza a valorizaggo © a patlcipacio no trabalho escolar. Os projetos criam estratégias significaivas de aprendizagem que podem ser continuamente replanejadas e reorganizadas, produ- indo, assim, novos e inusitados conhacimentos. O professor ¢ 0 ‘grupo de criancas esto continuamente propondo novas pergun- {as e procurando novos meios para solucioné-las. Trabalhar atra- vés de projetos¢ fundamentaro trabalho educativo no didlogo, na tolerancia, nas divesidades, nas diferencas enas interacbes ~ tacos fundamentals para o desenvohimento s6cio-afetivo e s6cio-cog- nitiva, Para aqueles que consideram que a escola precisa transfor- mar-se para acompanhar e discutir os movimentos da sociedade e da culture contemporéneas, a pedagogia de projetos é uma pers- pectiva de operacionalizacéo do currculo bastante fecunda Notas: (1) Para concer um pouco mais da histéria da Pedagogia de Projetos, ver Barbosa (2000) e Herénder (1998), capitulo (2) ara conhecer momentos do trabalho com projetos em sala de aula, ver Barbosa (2000) (3) Vygotsky exempitica com as cidades de Atenas, Foren, Pats e Viena, {que em determinada momento hstorico foram expacos que tiveram atitudes criatvas em todas as areas, Referéncias bibliograficas: BARBOSA, Maria Carmen Siveira. Pedagogia de Protos na Educacio Infantil In: Ponejamento e Avalagso:perspectivas nfo canvencionas Porto ‘Alegre, Mediacéo, 2000 EDWARDS, Carlyn; GANDIN} Lela; FORMAN, Georges. As cem linguagens 12 enanca. A abordagem da Reggio Elia da Primera Infancia. Porto Alegre, Armed, 1999, GARDNER, Howard, ntefigéncias Mulls teria na pritia. Porto Alege, Armed, 1995, HERNANDEZ, F.& VENTURA, M.A organizacéo do curculo por projetos de trabalho. Porto Alegre, Artes Médicas, 1998 HERNANDEZ. Tensgreso e mudanca na educacSo: os projetas de trabalho Porto Alegre, Artmed, 1998, HERNANDEZ, F Cufture Visual, Mudanca Educative Proeto de Trabstho Porto Alegre, Artied, 2000, JOLIERT,losete Formando Criancas Letras. Porte Alagt, Artes Médias, 1994 LUPMAN, Mattnen. Nataschs Dilogos\ygotsanos. orto Alege, Armed. 1997 "MACHADO, Nison José. Eolacagéo: Projets e Valores. SP, Ed. Escrturas, 2000, [MUNAR, Bruno. Dis cosas nascom clas. Rio de ane, Martins Fontes, 1998, RABITT. A Procura de dimensso perdida. 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