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psicologia das massas e análise do eu

psicologia individual se dirige ao ser humano particular, investigando os caminhos pelos quais
ele busca obter a satisfação de seus impulsos instintuais, mas ela raramente, apenas em
condições excepcionais, pode abstrair das relações deste ser particular com os outros
indivíduos. Na vida psíquica do ser individual, o Outro é geralmente considerado enquanto
modelo, objeto, auxiliador e adversário, e, portanto, a psicologia individual é também, desde o
início, psicologia social, num sentido ampliado, mas inteiramente justificado.

Nas mencionadas relações com os pais e irmãos, com a amada, o amigo, o professor e o
médico, o indivíduo sempre sofre a influência de apenas uma pessoa, ou um número mínimo
delas, cada uma das quais adquiriu para ele significação extraordinária.

MASSAS
a psicologia de massas trata o ser individual como membro de uma tribo, um povo, uma casta,
uma classe, uma instituição, ou como parte de uma aglomeração que se organiza como massa
em determinado momento, para um certo fim.
psicologia social ou de massas, existe o hábito de abstrair dessas relações, e isolar como objeto
de investigação a influência que muitas pessoas exercem simultaneamente sobre o indivíduo,
pessoas às quais ele se acha ligado de algum modo, mas em muitos aspectos elas lhe podem
ser estranhas.

atos psíquicos sociais e narcísicos

instinto social — herd instinct, group mind [instinto de rebanho, mente do grupo]
impulso instutual

O ensaio de Freud denominado Psicologia das Massas e Analise do eu , que


foi publicado em 1921 é um dos mais importantes textos para a compreensão
dos fenômenos psíquicos dos indivíduos inseridos na coletividade. O autor
retraz uma questão que sempre o inquietou: o que mantém coesa uma massa
de pessoas?
Este que é um dos chamados “textos sociais” do autor foi construído à luz de
estudos sobre antropologia e psicologia dos povos. A década de 20 foi uma
época em que a Europa estava ainda devastada pela Primeira Grande Guerra
Mundial e já caminhava a passos largos para o desenvolvimento de formas
totalitárias de poder nazistas e fascistas . O texto Psicologia das Massas e
Analise do eu é um eco desse período em que a individualidade era aniquilada
pela força das multidões e pela intolerância . Cenário este que vigora entre
nós com impactante assertividade após cem anos de sua publicação .
Conceitos que Freud já havia trabalhado anteriormente em suas obras , como
Identificação , libido, recalque , eu ideal , ideal do eu , regressão, idealização,
fascínio amoroso, sugestão e hipnose foram trazidos nesse ensaio para tratar
a relação da Psicologia da mente grupal com a Psicologia individual .
O contraste ente a Psicologia Social e a Psicologia Individual são abordadas e
ressoam através de demandas como : O que mantem os indivíduos das
massas ligados em uma unidade? Porque o indivíduo, alinhado a uma
multidão com características de massa psicológica modifica seu
comportamento individual ? Quais são os mecanismos inconscientes que
propiciam que pessoal envoltas a uma massa, uma multidão, se submetam
cegamente a um líder, a uma ideologia ?
Para o Pai da Psicanalise, a Psicologia individual, concomitantemente é
Psicologia social , já que via de regra , o Outro entra na vida do sujeito como
um auxiliador , objeto , modelo de referência ,concorrente ou adversário.
Uma pessoa só se constitui em comparação e em relação ao outro, assim o
outro indivíduo é um elemento constitutivo do eu. Somos agradáveis ou
desagradáveis , generosos ou egoístas, bons ou ruins em comparação com
aquele que não é .
Esses argumentos tautológicos , de forma redundante podem explicar que o
outro só existe enquanto existe para nós sejam nas relações familiares , no
amor , na vida profissional , acadêmica ou em qualquer ligação externa.
A psique do indivíduo em sua estrutura funcional possui um vínculo com a
alma da raça. Há contraposição das causas heterogenias acabam por imergir
as causas homogêneas . Aquilo que é único em cada sujeito é desmoronada
frente ao fundamento inconsciente comum a todos .
Freud ratifica a teoria que Le Bon trouxe em seu livro Psicologia das
Massas :

“ ...a massa psicológica é um ser provisório , composto de elementos


heterogêneos que por um instante se soldaram , exatamente como as
células de um organismo formam, com a sua reunião, um ser novo que
manifesta características bem diferentes daquelas possuídas por cada
uma das células”.
(LE BOM, 1895, p.13).

Massa, no sentido comum da palavra , seria o agrupamento de indivíduos


independente de idade, ideologia , cultura ou crença. Porém , uma massa
psicológica seria a reunião , a congregação desses sujeitos em um
enlaçamento coletivo . Quando o individuo se torna membro de uma massa ,
os impulsos instituais , a mente inconsciente é liberta e esse individuo adquire
a sensação de invencibilidade , resultante de seu anonimato que o mistura a
multidão.
Demandas como : De que modo a psique do indivíduo funciona a partir do
momento que ele é inserido em um grupo com uma liderança ? e como esse
líder , que necessita ser forte para que exerça efeito sobre o ego desse
indivíduo? são explicada como manifestações das sugestões da massa e
podem ser comparadas aos fenômenos de influência hipnótica. Pessoas com
esse comportamento tendem a converter ideias em atos .
No comportamento em massa desaparecem as singularidades da pessoa, o
comportamento de um contamina o comportamento do outro através da
sugestionabilidade , é como um contagio. Um comportamento primitivo, pouco
polido, sem os vernizes sociais , aflora.
Na massa coletiva há a ligação de indivíduos entre si e há a ligação do grupo
com um líder . A massa coletiva é , segundo Freud , ordenada pelo
inconsciente e é extraordinariamente influenciável , crédula, ilusória , acrítica e
o improvável não existe para ela. As ideias antagônicas podem coexistir e
articulam a evasão da consciência moral e do sentimento de
responsabilidade .
Isso quer dizer que as massas , sob a influência da sugestão , pode levar o
sujeito tanto ao extremismo dos instintos cruéis e destrutivos , quanto a
provas devotas de renúncia , abnegação e moralização. Um grupo pode ir do
altruísmo ao egoísmo, da salvação para aniquilação.  Freud (1921 p. 88) afirma
que "[…] o indivíduo submete sua peculiaridade à massa e se deixa sugerir por
outros", e acrescenta que "sente a necessidade de estar com eles e não de se
opor a eles, talvez por amor deles".
.
Freud disserta a respeito das representações em massa que despertam o
sentimento de identificação no sujeito e por isso leva-o a incorporar-se
enquanto parte da massa, no sentido de que este se constitui moralmente
especificamente em função do grupo a que pertence.
Dois exemplos de massa artificiais citadas por Freud são a igreja e o
exército , que são grupos organizados e duradouros que se institucionalizam a
partir de medidas conservadas e que servem de proteção a sua estrutura
primária de modo a impedir que se suscitem mudanças dentro destas, para
tanto se nutre uma relação da libido do indivíduo enquanto parte dessas
massas para que o sujeito lute para mantê-las como a si mesmo.

"A massa é um rebanho obediente, que nunca pode viver sem senhor.
Ela tem tal sede de obedecer que se subordina instintivamente a
qualquer um que se nomeie seu senhor[...] tem tanta sede de
obediência que se submete instintivamente a quem se autodenomina
seu mestre" .( FREUD 1921p.37)

Essa massa artificial necessita de uma força externa e de opressão para


se manter agrupada e o desligamento do sujeito a essa massa coletiva é
desestimulado. Quanto maior a libido maior a coesão. Nessa massa artificial
eles sentem-se iguais e amados de forma igualitária pelo líder e isso os
mantem coligados.
Desta maneira cria-se uma relação com a massa coletiva semelhante ao
enamoramento, onde o outro é tido como objeto amado e encaminhado nas
ações de modo a manter regular a base de determinada relação. No entanto,
as massas podem dissolver e provocar um vazio no sujeito que se entende
como parte , e uma vez que perde seu objeto libidinal , pode facilmente
desenvolver neuroses.

"As principais características do indivíduo que se encontra na massa


são as seguintes: desaparecimento da personalidade consciente,
predomínio da personalidade inconsciente, orientação dos
pensamentos e dos sentimentos na mesma direção por meio da
sugestão e do contágio, tendência à execução imediata das ideias
sugeridas. O indivíduo não é mais ele mesmo; tornou-se um autômato
desprovido de vontade."( FREUD. 1921 P.36)

Do individual ao social ,Freud demostra sua maestria em trazer na obra


Psicologia das Massas e Analise do Eu ,o mecanismo que se põe em jogo na
formação da massa ,partindo da noção de libido e suscitando duas coisas
que a constituem: a existência do líder e a ligação de uns indivíduos com
outros.
Referencias:

LE BON, G. Psicologia das massas. Niterói: Teodoro, 2013. (Original publicado em 1895).
Psicologia das massas e análise do Eu e outros textos (1920-1923). Trad. Paulo
César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

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