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Aluno: Data: ___/___/___

3º ano EM
História da Arte – 4° Bimestre – 2019

Resgate do Romantismo
Leonardo Boff
Agosto de 2008

Observando os cenários sociais ao nível de mundo e de Brasil somos tomados de abatimento e de


melancolia. É melancólico ver a falta de sentido humanitário dos países ricos face aos pobres na fracassada
Rodada de Doha. Melancólica no Brasil é a decisão de juízes sem juízo que aprovaram candidaturas de
políticos com ficha suja, com total desconsideração do povo permitindo assim que seja governado por pessoas
sem credibilidade e ética. Colocam o código diante dos olhos para esconder a realidade, ocultando destarte o
direito e o bem comum aos quais deveriam servir. Grande é o abatimento por causa da ameaça de fome de
milhões de pessoas devido à desorganização introduzida pelo agronegócio mundial e à especulação dos
mercados de  commodities.Somos dia a dia alertados acerca do caos ecológico que se está instalando na
Terra, que ameaça a biodiversidade, e, no limite, a própria espécie humana. E a voracidade produtivista
continua desenfreada, desmatando, poluindo águas e envenenando solos.
Ninguém sabe para onde estamos indo. O certo é que o prolongamento da viagem da nave espacial
Terra, limitada em recursos e avariada em muitos pontos, pode provocar um desastre coletivo. Esta situação,
como o mostraram bem Michael Löwy (franco-brasileiro) e Robert Sayre, leva àquilo que é o titulo do livro de
ambos: “Revolta e Melancolia” (Vozes 1995). Leva à revolta contra o excesso de materialismo, de espírito
utilitarista na relação para com a natureza, inflação do esprit de géométrie pascaliano, dominação burocrática
e desencanto do mundo. Leva à melancolia face à anemia espiritual dominante na cultura, ausência da razão
sensível e cordial que funda o respeito à alteridade, a ética do cuidado e a responsabilidade universal.
Houve no passado e continua no presente um movimento cultural que se opôs ao que se
convencionou chamar de "espírito do capitalismo", detalhadamente estudado pelos dois autores citados: o
romantismo. Precisamos superar o sentido convencional de romantismo que o identifica com uma escola
literária ou artística. Romantismo é algo mais complexo e profundo. Trata-se de uma cosmovisão, de uma
forma de habitar o mundo, não apenas prosaicamente com artefatos, máquinas, ordenações sociais e
jurídicas mas principalmente habitar poeticamente o mundo ao articular a máquina coma a poesia, o trabalho
rotineiro com a criatividade, o interesse com a gratuidade, a objetividade nos conhecimentos com a
subjetividade emocional, o pão penosamente ganho,  com a beleza fascinante das relações calorosas. Isso
deve ser resgatado.
A sociedade da tecnociência e do conhecimento nos enviou ao exílio, roubou-nos o sentimento de um
lar e de uma pátria e principalmente nossa capacidade de nos comover, de chorar, de rir gostosamente e de
nos apaixonar pela natureza e pela vida. Somos condenados a viver sob o "sol negro da melancolia". Mas não
apenas os românticos (em termos analíticos) são afetados por esta melancolia. Mas também os adeptos da
cultura imperante. Um devastador vazio existencial marca milhares de pessoas que pelo consumo
desenfreado ilusoriamente o procuram preencher.
Esta condição humana faz suscitar novamente a utopia. Esta nasce da convicção de que o mundo não
está fatalmente condenado à melancolia. Há em nós e na sociedade virtualidades ainda não ensaiadas que,
postas em pratica, podem reencantar a vida. Eis uma utopia necessária, mensagem perene do romantismo.
Bem termina Michael Löwy sua obra: “a utopia ou será romântica ou não será”.

História da Arte – 3º ano


Outubro/2019
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