Você está na página 1de 1

A Genealogia da Moral de Nietzsche

Esta obra de Friedrich Wilhelm Nietzsche detecta alguns pontos das origens dos valores
morais. O autor ressalta a inversão sofrida por tais valores pelas influências que se prendem
com força. O gênio provocativo de Nietzsche traz, assim, um texto com certo teor de
sarcasmo. Isso é facilmente verificado já na primeira das três partes da obra.

Todas as questões levantadas pelo homem da época de Nietzsche, principalmente os


psicólogos ingleses, não levam a nada, não trazem a origem do bem e do mal. O intuito de
Nietzsche, contudo, é a construção de uma História da Moral. Essa genealogia é uma crítica
ao elemento de afirmação pelo qual se move o pensamento de Nietzsche. Essa é a segunda
aplicação.

Para Nietzsche não há nada que seja bom em si mesmo. É contra esse utilitarismo que
Nietzsche luta. O utilitarismo não entra em sua moral. Toda essa conceitualização do ‘bom’ e
do ‘mau’, originada na antítese da divisão das classes sociais, nasce, justamente, do
pensamento de que o homem é um ser dominante.

Isso está inteiramente intrínseco em seus instintos. No instinto de dominação é que a


genealogia da moral encontrou sua real expressão. Como filólogo que é, Nietzsche faz uma
análise morfológico da palavra alemã schlecht . Daí, ele chega ao schlichtsweg e
schlechterding , o que traz, desde suas origens, a função de designar o homem
simples, plebeu.

Tudo isso para provar que as palavras nascem dentro das circunstâncias. Isso revela que a
classe dominante acabou associando a classe plebéia ao conceito daquilo que é mau, o
oposto, a antítese da classe nobre. Por isso, os homens que se sentem e são privilegiados é
quem espelham o conceito de ‘bom’.

A psicologia inglesa, empirista, é o que puxa o homem para baixo. Por isso, para Nietzsche
pouco importa o conteúdo dos comentários dos psicólogos. Eles puxam o homem para uma
passividade do majoritário. Em sua conceituação extremamente humana, colocando o
homem no centro das ações, Nietzsche cria teses totalmente contrárias à dos psicólogos
ingleses.

Contra toda essa dominação, Nietzsche defende que a Moral deve nascer
imparcialmente. Contudo, fazendo ainda um estudo psicológico da genealogia, Nietzsche
constata que a verdade quanto ao «bom» e ao «mau» adquire uma nova faceta se olhada
pelo lado da plebe. Tudo isso explica porque o homem só consegue pensar em relação ao
pensamento de outros. O bom é aquilo que o homem achou útil para si, vindo do outro.

A utilidade mesquinha, a referência a outros para pensar e agir tornam-se, para


Nietzsche, uma origem marcada de uma inércia duvidosa e de um hábito sem graça. Isso
somente distancia o homem daquilo que é realmente autêntico. Com sua obra, Nietzsche
não só demonstra um gênio perturbado com as relações dos homens, mas também nos
perturba, levando-nos a questionar os laços relacionais que todos temos. A proposta
nietzschiana de um ideal ascético, um asceticismo diferente do propagado pelos padres, é
aquele que coloca o homem no centro.
Essa proposta de Nietzsche é radical. Sem isso, o homem estará fadado a sempre encontrar o
fracasso, os valores perdendo seus sentidos , já que o ser humano transita entre os valores
de acordo com suas necessidades. Portanto, Nietzsche nos abre os olhos da razão e dos
sentimentos para algo mais chão, mais próximo da realidade humana. Resgatar as origens da
moral do homem é resgatar a ele próprio, colocando-o em sua dignidade de igualdade.

Parece até mesmo que Nietzsche pressentia, ou intuía, toda a sociedade contemporânea em
que vivemos. Dia após dia, o homem vai se tornando mais solitário, mais fechado em seu
mundo individual, perdendo valores, esvaziando-se.

Você também pode gostar