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“Avé-Marias”
Localização temporal
Os acontecimentos situam-se no final da tarde, quando os sinos tocam as ave-marias, isto é, por
volta das 18 h, correspondendo ao período do dia apresentado no título.
A dimensão épica
A dimensão épica é ativada pelo recurso à memória, tal como comprovam os versos que
integram a sexta estrofe, onde claramente se vê a referência às descobertas marítimas, à luta
contra os mouros, à ação de Camões, um passado grandioso que o “eu” não verá jamais, como
o próprio afirma.
Denúncia sociomoral
A denúncia sociomoral resulta das críticas que aqui se evidenciam, suscitadas pela observação
da vida luxuosa de alguns citadinos, que contrasta com a dos pobres trabalhadores. Veja-se as
três últimas estrofes, onde se destaca a vida de miséria das varinas, que se opõe à dos que podem
frequentar os “hotéis da moda”.
Marcas linguísticas da subjetividade do sujeito poético
O uso da 1.a pessoa gramatical ao nível dos pronomes pessoais e formas verbais, o emprego de
vocabulário de conotação negativa na caracterização do espaço e, ainda, o recurso aos pontos
de exclamação, sugerem a emotividade do “eu” deambulante.
“Noite fechada”
Localização temporal
O título aponta para um período do dia em que é necessário recorrer à luz artificial e a uma maior
vigilância, factos que são comprovados nos versos “A espaços, iluminam-se os andares” (v. 9) e “Partem
patrulhas de cavalaria” (v. 29).
Contraste entre passado épico (de camões) e presente negativo (percecionado pelo sujeito
poético)
O contraste entre o passado e o presente concretiza-se, de forma visual, pela oposição entre a
grandiosidade do passado épico português, presente na monumental estátua de Camões “de proporções
guerreiras” (v. 23) e a massa acumulada de “corpos enfezados” (v. 26) com que o “eu” se depara na sua
deambulação.
“Ao gás”
Crítica social e antirreligiosidade
A crítica social é evidenciada na alusão irónica a determinadas figuras humanas, como é o caso das
“impuras”, das “burguesinhas do catolicismo” (numa alusão clara aos falsos fiéis), da “lúbrica pessoa” e
da “velha, de bandós”.
A referência ao velho professor de latim, que se transformou num pedinte, vem confirmar a visão crítica
da cidade, onde as injustiças e a solidão proliferam, apesar do bulício que aí reina. É mais uma
confirmação de que a cidade confina, aprisiona, é um inferno ou um mundo de fantasmas de que urge
fugir.
A antirreligiosidade é visível na segunda estrofe, onde existe uma clara associação entre o comércio e a
igreja (o narrador, em jeito de alucinação, pensa estar numa imensa catedral profana), e em versos
como “As burguesinhas do catolicismo / Resvalam pelo chão minado pelos canos;” (vv. 9-10), “As freiras
que os jejuns matavam de histerismo.” (v. 12).
“Horas mortas”
Localização temporal
A viagem noturna do narrador levou-o até ao momento da escuridão mais profunda, momento
em que todas as luzes já se apagaram, restando apenas a que é libertada pelos astros, isto é,
uma luz natural, contudo, escassa, porque a poluição faz com que os astros fiquem com
“olheiras”.
Evasão
O desejo de transmigrar resulta da necessidade de se libertar, de fugir de um espaço geográfico
que é uma espécie de prisão fantasmagórica que lhe retira a liberdade e o amor e do qual o
poeta tem de se afastar.
A ânsia de liberdade inscreve-se nos domínios espacial e temporal, uma vez que no presente
claustrofóbico da cidade surge o desejo de, no futuro, “explorar todos os continentes / E pelas
vastidões aquáticas seguir!” (vv. 23-24), ou seja, a opressão, a solidão, o confinamento e a
morte, associados à cidade, devem ser substituídos por uma maior nitidez, pela libertação e
pelo amor possível noutro espaço, aqui representados metaforicamente pelas “vastidões
aquáticas”.
É na sexta estrofe que se evidencia a esperança num futuro que poderá inspirar-se num
passado longínquo.
A dimensão épica
Está presente na referência às frotas dos avós e à exploração de novos continentes através do
mar, como se pode ler na sexta estrofe.