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Sexualidade
e Orientação
Sexual: Cultura e
Transformação Social
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
Créditos
Sexualidade
e Orientação
Sexual: Cultura e
Transformação Social
Livro didático
Designer instrucional
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
UnisulVirtual
Palhoça, 2014
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2014 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
Revisor(a)
Diane Dal Mago
306.76
C96 Cruz, Tânia Mara
Sexualidade e orientação sexual : cultura e transformação social
: livro didático / Tânia Mara Cruz ; design instrucional Isabel Zoldan
da Veiga Rambo. – Palhoça: UnisulVirtual, 2014.
104 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliograia.
Introdução | 7
Capítulo 1
Gênero, sexo e sexualidade | 9
Capítulo 2
Sexualidade em debate | 35
Capítulo 3
Identidades de gênero e orientação sexual | 67
Considerações Finais | 93
Referências | 95
Bons estudos!
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Capítulo 1
9
Capítulo 1
Seção 1
Gênero, cultura e natureza
Você sabia que a sexologia foi criada no inal do século XIX e que seus
estudos ancoravam-se em uma base interdisciplinar como a biologia,
psicologia, história, sociologia e antropologia?
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
idade, que culminou em sua prisão (UOL, 2014). Em outro caso, diametralmente
oposto, por ser uma expressão de identidade e não um crime social, uma ação
discriminatória marcou a cidade de Quelendorf, na Alemanha. Em 1998, um
movimento de eleitores na cidade alemã alegou que o prefeito não ‘era mais
a mesma pessoa’, solicitando a destituição do cargo de prefeito para Norbert
Michael Lindner, no momento em que ele decidiu tornar-se mulher e feminina.
Nesse exemplo de Quelendorf , trazido por Louro (2000), ela tece uma relexão
interessante, ao comentar que mudanças de partido ou de posição política não
parecem provocar a mesma ira.
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Capítulo 1
Parte desse modo de ver busca sua justiicativa no fato de que a reprodução
parece ser um processo puramente biológico, e que de modo candente seria a
mulher a igura central desse processo. Utilizamos a expressão parece biológico
porque partilhamos da concepção de que os seres humanos são biopsicossociais
e que não é possível separar exatamente o que é natureza e o que é cultura, por
mais que haja concepções que busquem no biológico uma essência humana
da qual decorrem todas as características. À busca em elementos da natureza
para justiicar quaisquer diferenças entre seres humanos, atribuindo aptidões
físicas e psicológicas para diferenças geográicas, étnicas, de sexo, entre outras,
designamos como determinismo biológico. À busca de explicações para um
fenômeno a partir de uma essência comum que independe de fatores externos,
designamos como essencialismo.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Claro que é possível haver elementos comuns para uma proposição feminista, a
partir do dado básico da igualdade social entre os sexos em todos os sentidos
(econômicos, culturais, afetivos etc.), mas vamos trazer um pouco dessa história
para que você compreenda as diferentes correntes feministas.
Essa luta começou há pouco mais de dois séculos, antes mesmo de ser utilizada
a palavra feminismo. Antes disso havia homens e mulheres que, de modo isolado,
lutavam pela igualdade entre homens e mulheres, mas enquanto manifestação
política, é a participação das mulheres nas revoluções burguesas da França e
Inglaterra, no século XVIII, que tem sido considerado o marco histórico. Naquela
época, as mulheres cobravam do novo ideário burguês os direitos à igualdade de
participação política, de educação e, consequentemente, de acesso às proissões
oriundas da formação escolar. As ações das mulheres foram severamente
reprimidas, como aconteceu com a jovem escritora Olympe de Gouges, que ainda
jovem escreveu a famosa Declaração dos Direitos das Mulheres e das Cidadãs
no ano de 1791, pouco antes de a Revolução Francesa começar e depois
foi guilhotinada.
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Capítulo 1
Hegemonia
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Capítulo 1
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Tais concepções são alimentadas também pelo senso comum ainda presente
nas ciências biológicas: é frequente encontrar, em intervalos de tempo
regulares, extensas matérias em jornais, revistas e programas de televisão que
buscam justiicar quaisquer diferenças na anatomia dos órgãos sexuais, nos
cromossomos, hormônios ou, a partir do desenvolvimento da neurociência, na
relação entre hormônios e conexões neuronais.
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Capítulo 1
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
A antropologia cultural ou etnologia, por ser uma ciência que realiza um estudo
comparativo de diferentes formas de organização social, sempre foi um terreno fértil
para se compreender como se dão as relações entre homens e mulheres, abrindo
uma perspectiva crítica sobre a organização atual dessas mesmas relações ou
procurando, ainda, encontrar elementos que expliquem o que levou à divisão sexual
de trabalho entre homens e mulheres e à dominação masculina.
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Capítulo 1
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 1
Seção 2
Dos primeiros usos de gênero aos
novos signiicados
2.1 As origens
O conceito de gênero apareceu pela primeira vez nos Estados Unidos no início da
década de 60. Haraway (2004) nos traz um pouco desta história inicial:
Nos Estados Unidos, o uso tornou-se crescente nas décadas seguintes, mas na
França, por exemplo, durante muito tempo predominou a expressão ‘relações
sociais de sexo’ e que inclusive perdura parcialmente até início do século XXI.
Por um certo tempo, houve no Brasil uma mescla na forma de usar os conceitos,
devido às inluências dos dois países, mas no inal dos anos noventa passou a
haver um predomínio do uso do conceito ‘relações de gênero’ ou ‘gênero’, às
vezes de modo equivocado, expresso pela simples troca de palavras.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Vamos reletir sobre o conceito de gênero. De que modo ele faz parte de
nossa vida?
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Capítulo 1
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Frisemos que não se pode utilizar gênero como sinônimo de mulheres e homens,
confusão que ainda se faz presente em muitos textos sobre gênero e diiculta
sua compreensão. Os termos homem ou mulher são variáveis necessárias para a
compreensão das relações de gênero no presente momento, e sua explicitação
em censos demográicos e demais pesquisas tem sido uma antiga reivindicação
feminista. Como saber, por exemplo, sobre a diferenciação escolar ou salarial se
não se perguntar quantos são homens e quantos são mulheres? Nesses casos,
a substituição da categoria sexo por gênero só nos tem causado problema. Se
gênero não é sinônimo de sexo, por que a troca? Mais adequado seria para
o avanço acadêmico e político se fosse agregada a pergunta sobre o gênero,
além da pergunta sobre o sexo, pois expressar masculinidades ou feminilidades
descoladas do sexo biológico é, no momento da escrita deste texto, uma
reivindicação já presente no movimento LGBT.
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Capítulo 1
Relita conosco: como uma pessoa que é do sexo biológico homem, mas
se considera do ponto de vista do gênero como feminina, responderia a
uma enquete sobre sexo biológico? Em outros termos: se não houver a
pergunta sobre o sexo biológico deduziremos que todos que responderam
à pergunta de gênero, com a resposta ‘feminina’, seriam... mulheres?
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Por isso, faremos uma distinção conceitual: manteremos o antigo (mas nem
por isso ultrapassado) conceito de sexo biológico, no sentido descritivo das
diferenças anatômicas básicas dos sujeitos que os dividem em homens e
mulheres, e também no sentido de sujeitos políticos; utilizaremos gênero(s) como
construções simbólicas de feminilidades e masculinidades, vistos em relação
ou separadamente independente do sexo biológico ou da orientação sexual
de quem os expresse; e relações de gênero quando nos referirmos às relações
sociais mediadas pelos signiicados de gênero, sejam elas relações entre
quaisquer sujeitos.
Seção 3
Interseções de gênero, raça e classe na
vivência educativa.
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Capítulo 1
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 1
Ocorre que os sujeitos não são passivos e resistem a esse controle. Por isso,
vivenciamos na escola a existência de padrões de normalidade permeada por
todo um universo subterrâneo de transgressões e sociabilidades que escapam da
norma. O longo tempo passado na escola desde a mais tenra infância contribui
para que estudantes tenham um perspicaz conhecimento de seus meandros e da
criação de estratégias de sobrevivência nela, sem se submeterem totalmente.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Nesse sentido, ainda que o resultado da identidade singular seja fruto das
diferentes instâncias de aprendizagem social ao longo da vida, podemos airmar a
centralidade da escola na produção de identidades e que suas marcas profundas
nas lembranças embasam determinadas concepções de mundo e formas de
convívio social de modo duradouro. A lembrança de professores/as e de colegas
acompanha as novas vivências proissionais e sociais e terá impacto no modo
desse sujeito conceber e intervir na sociedade à sua volta.
Quem não se lembra das aulas de educação física e dos corpos masculinos e
femininos em evidência e angústias? Aos meninos o compulsório aprendizado do
jogo de futebol, e às meninas o vôlei, a ginástica ou na arquibancada para evitar
o suor dos corpos. No recreio as diferenças corporais nos modos de brincar entre
meninos e meninas, eles donos de quase todo o território em corridas e lutinhas,
e elas na luta para entrar no futebol ‘deles’ ou atraí-los para suas corridas,
perante o silêncio omisso da escola. Na sala de aula, outros aprendizados
físicos: o corpo controlado nos mínimos gestos – considerados excessivamente
femininos ou masculinos, e nunca adequados ao ‘sexo biológico’?
Da sua vida de criança ou jovem estudante que marcas você traz desse
passado? Quais as estratégias utilizadas para driblar a vigilância de adultos
e até de colegas para evitar a punição pelas transgressões?
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Capítulo 1
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 1
Mesmo não sendo uma unidade produtiva que expresse antagonismos de classe
e desigualdade, a escola pública também expressa em si as diferenças
decorrentes dos aspectos econômicos que são convertidas em hierarquias.
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Capítulo 2
Sexualidade em debate
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Capítulo 2
Seção 1
Freud, Reich e a sexualidade humana
No momento em que Freud inicia seus estudos, inal do século XIX, a medicina
ocidental já se detinha desde o século XVIII sobre a sexualidade e porque não
dizer, de sua regulamentação, nesse caso, em conjunto com outras instituições
como a Igreja e o Estado.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 2
De maneira poética, Chico Buarque retratou sua versão edipiana ao compor uma
letra para a música de Guinga, e airmou que a fez para sua mãe e as memórias
de infância. (BUARQUE, 2014). Leia trechos da música no quadro abaixo:
Você, Você
(música Guinga – letra Chico Buarque)
Que roupa você veste, que anéis? Pra quem você tem olhos azuis
Por quem você se troca? E com as manhãs remoça
Que bicho feroz são seus cabelos E à noite, pra quem
Que à noite você solta? Você é uma luz
De que é que você brinca? Debaixo da porta?
Que horas você volta?
(...) No sonho de quem
(...) Você vai e vem
Me sopre novamente as canções Com os cabelos
Com que você me engana Que você solta?
Que blusa você, com o seu cheiro Que horas, me diga que horas, me diga
Deixou na minha cama? Que horas você volta?
Você, quando não dorme
Quem é que você chama?
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Vamos analisar as características das três primeiras fases para que você consiga
ter uma visão básica sobre o pensamento freudiano.
A fase oral corresponde aos primeiros meses, por volta do oitavo mês, mais
ou menos, sendo que a libido está associada ao processo de alimentação
em que primeiro surgem “urgências vitais (fome, por exemplo) que aparecem
como estímulos internos, excitação em busca de satisfação. O prazer ligado
à boca, de sugar, e o brincar com o seio materno surgem apenas como ato
secundário.” (DELOUYA, 2011, p.10). A necessidade da nutrição provoca o
choro, o desespero e em seguida a calmaria, resultante da voz e toque humanos
seguidos da satisfação da necessidade infantil: todo o contexto interativo em que
se darão essas sucessivas cenas produzirão um conjunto de representações, ou
construções de iguras psíquicas e que se constituem como a humanização inicial
da criança pela construção e vínculos afetivos.
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Capítulo 2
Em seguida à fase oral, temos a fase anal, que se situa entre o inal do primeiro
ano e o terceiro ano de vida e está ligado ao controle dos esfíncteres, em novas
áreas corporais que geram tensão e gratiicação pela estimulação e produção de
fezes, que a criança passa a usufruir conforme a tensão e descarga subsequente.
Em nossa cultura, os adultos, muito preocupados com a higiene, exercem uma
pressão grande sobre a criança, que se submete às restrições e proibições
em troca do amor, antecipando o controle ou deixando de buscar o prazer em
brincadeiras relacionadas a essa fase.
Na sequência, temos então a fase fálica que é a descoberta dos órgãos sexuais
seus e dos outros e a manipulação em busca do novo prazer. É nessa fase que
se dá o Complexo de Édipo, conlito sexual em que a criança deseja um dos
genitores e entra em conlito com o outro (chamada também de fase edípica).
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 2
Em seus textos, Freud deu margem à ideia de que o ser humano é, inicialmente,
um ser de desejo, e que o objeto do desejo pode ser múltiplo, muito além do
que se atribui no senso comum como sexo oposto. Todavia, atribuía o nome de
invertido (porque direcionava a libido a algo semelhante a si mesmo, invertendo
o direcionamento ‘normal’) àquele/a que tinha práticas sexuais com pessoas do
mesmo sexo, considerando uma inversão do processo natural de sexualidade
entre homens e mulheres. Airmava ainda que Complexo de Édipo bem resolvido
poderia contribuir, no futuro, para a deinição da heterossexualidade.
Você sabia que, ao Para Mark Poster (1979), um estudioso de Freud, houve
tentar aprofundar a na sociedade europeia diferentes formas de família e
ideia do Complexo
de Édipo de modo
de expressão da sexualidade. Poster e outros autores
diferenciado para designam a família estudada pela psicanálise como família
homens e mulheres, nuclear burguesa, pois teve seu surgimento junto com as
Freud criou a alternativa
classes burguesas e depois se expandiu para as demais
feminina com o
Complexo de Electra? classes. Segundo Poster, será na família burguesa,
No entanto, após (em processo que culmina com o Complexo de Édipo),
deinir a mulher como que as crianças aprenderão a separar amor e sexo, e a
continente negro
vincular amor e exclusividade, amor e autoridade, amor
e desconhecido,
abandonou essa ideia, e propriedade, essas três últimas devido ao controle
mantendo apenas um adultocêntrico sobre a criança no contexto da família
complexo para ambos. nuclear, o qual se dá entremeado pela construção psíquica
vinculada à sexualidade. Até hoje se discute que parte da
violência e demais problemas nas relações amorosas que têm sido denunciados
pelos/as feministas decorrem desse aprendizado familiar.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 2
Para Reich, qualquer conlito de ordem psíquica vivenciado pela criança pode
desequilibrar e produzir a neurose, que se manifestará no corpo por meio
da estase, (uma interrupção do luxo energético) e, consequentemente, da
respiração, que tem como resultado inal a criação de couraças musculares,
tensionamentos, que transformarão a diiculdade respiratória em permanente e
bloqueadora da capacidade de realização do orgasmo. A questão das couraças
e do bloqueio da potência orgástica ele trabalhará no livro Análise do Caráter
(REICH,1998). Toda a sua obra será destinada à relexão do que impede o prazer
e da importância da sexualidade no cotidiano das pessoas.
Figura - 2.2 - Sonho de gato
Fonte: BM (2010).
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Dois anos são importantes para o trabalho de Reich. Leia um trecho extraído da
Cronologia publicada pelo Instituto de Formação em Pesquisa em Reich, no site de
mesmo nome (IFP, 2014, s.p):
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Capítulo 2
Para Kignel (2011, p.28), o movimento SexPol era uma prática inovadora e
original por ser:
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Após o rompimento com a psicanálise, Reich residiu por algum tempo na Europa
e depois de perseguido no contexto da segunda guerra mundial, passa a viver
nos Estados Unidos, onde suas teorias continuavam a incomodar. A igura de
Reich é polêmica: no decorrer de sua trajetória, suas críticas não eram aceitas:
primeiro rompe com a psicanálise, depois com o Partido comunista e, mais tarde,
torna-se também um exilado.
A terceira fase, nos anos 40-50, é considerada o período mais polêmico de Reich,
quando seus estudos passam a focar a energia vital que designa como Orgone.
Ao inventar um equipamento que considera um acumulador de energia, visando à
cura de doenças (inclusive o câncer), sofre acusações e destruição de seus livros
e equipamentos pelo órgão governamental norte-americano Food and Drugs
Association (FDA), instituição que regula remédios, alimentos e equipamentos.
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Capítulo 2
Seção 2
Foucault e a noção moderna de sexualidade
As discussões contemporâneas sobre sexualidade e corpo, de algum modo,
necessitam passar pelas relexões de Foucault (1926-1984), embora esse autor
tenha tratado de muitas temáticas. Para ele não há uma sexualidade, nem mesmo
uma sexualidade que tenha existido em todas as épocas: “não se deve concebê-
la como uma espécie de dado da natureza que o poder tenta pôr em xeque,
ou como um domínio obscuro que o saber tentaria, pouco a pouco, desvelar. A
sexualidade é um dispositivo histórico.” (1993a, p.100)
É necessário entender o que ele quer dizer com esse novo conceito. Para ele,
dispositivo histórico signiica
Nessa direção, situa a nova linha de corte para a questão da sexualidade no inal
do século XVIII e durante o XIX, exatamente com a multiplicação de proissionais
que criarão quatro estratégias, eixos, de controle sexual:
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Não signiica dizer que todos esses sujeitos e situações não existissem antes,
mas a coniguração desse conjunto de dispositivos é que vai construir, modelar
e iluminar esses contextos, passando a produzi-los de maneira sistematizada.
Dentro do que Foucault chama de bio-poder (FOUCAULT, 1993), as tecnologias
direcionadas à sexualidade assumiram, desde então, centralidade na vida social.
A tese da repressão sexual não será rejeitada totalmente por ele, mas o que
importará, de fato, é que ele considera a repressão apenas um dos mecanismos
pelos quais age o poder e sua ênfase estará no modo pelo qual o poder age
como modelador, produtor, de uma determinada sexualidade.
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Capítulo 2
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Essa forma de Foucault pensar a sexualidade não está desvinculada do seu modo
de construir a trama histórica:
no que diz respeito ao fato de haver tantas falas sobre sexo, ele
mostra que é preciso perguntar quem está falando, a partir de
que lugar e de que ponto de vista, quais são as instituições que
provocam e pressionam para que se fale e quais as que
acumulam, conservam e propagam o que é dito.(GONÇALVES,
2011, p.18)
Ao adentrar na história da
sexualidade, procurou compreender
os dispositivos de controle
e vigilância que a sociedade
organiza em torno do prazer
(ou desprazer), procurando ver
o que, normalmente, não se
procura encontrar.
Fonte: Esquizoia (2013).
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Capítulo 2
Como fugir da norma? Como indagar sobre o que julgamos ser universal e
inevitável? Como criar um outro olhar?
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Seção 3
Movimentos sociais e a sexualidade
Para o feminismo radical era tão importante atuar nos espaços públicos
da política institucional e contra a opressão e a exploração capitalista
quanto questionar o que se passava na esfera privada das relações
amorosas e sexuais. Família e sexualidade são chamadas ao centro da
discussão e é criado o slogan, sucessivamente estampado em cartazes
e faixas nas grandes manifestações, que nunca perde a atualidade:
‘O pessoal é político! ’
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Capítulo 2
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Como alternativa mais radical, situamos o aborto, temas dos mais controversos
e difíceis dentro e fora do movimento feminista. Entre os religiosos é assunto
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Capítulo 2
Por isso, a luta pelo direito ao aborto no Brasil segue já há quase 30 anos, e o
feminismo vem lutando pela sua descriminalização e tem conseguido alguns
avanços. No inal dos anos 1980, garantiu o início do atendimento aos casos
previstos por lei – estupro e risco de vida à gestante – em serviços públicos de
saúde. (SCAVONE, 2010, p.54).
Por iniciativa de Paula V., foi feita uma petição popular para o PLC 3/2013,
por intermédio do site da AVAAZ (2013), com a entrega de um documento
à presidenta Dilma, para que ela sancionasse (não vetasse) o PLC, com a
subscrição de 3.717.000 assinaturas.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Esta lei, embora não traga qualquer alteração nas regras que
hoje regem o atendimento à saúde de mulheres e adolescentes
vítimas de violência, representa um reforço legal precioso para
as orientações que regem este atendimento, traduzidas na
Norma Técnica de Atenção aos Agravos da Violência Sexual
contra Mulheres e Adolescentes, do Ministério da Saúde, fruto
de amplo consenso na área médica e entre os movimentos de
mulheres. Esta Norma Técnica vigora desde 1999 e foi revisada e
aprimorada em 2005. (AVAAZ, 2013)
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Capítulo 2
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 2
Heterossexismo
A ‘segunda onda’ foi marcada por maior visibilidade pela chegada da epidemia
da Aids na década de 80, e também pela incorporação do ‘sujeito gay’ como
consumidor privilegiado dentro do capitalismo, marca que passa a fraturar o
movimento gay devido às diferenças de classe dentro dele. Apesar de todo o
‘pânico moral’ estabelecido contra a comunidade gay em todos os países, no
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Foi nesse contexto que atuaram os grupos Triângulo Rosa e Atobá, do Rio de
Janeiro, e o Grupo Gay da Bahia. O objetivo destes grupos, além das atividades
comunitárias, era promover mudanças na sociedade e em diferentes níveis do
governo, que servissem para diminuir a discriminação contra os homossexuais.
Interessava incidir nas ações de governo, na política partidária, no âmbito legislativo
e em organizações da sociedade civil. Foi o Grupo Gay da Bahia que coordenou
a campanha pela retirada da homossexualidade do Código de Classiicação de
Doenças do Inamps.
Para Bastos (2002), houve no Brasil, dos anos 90 e 2000, uma especiicidade
que facilitou esse processo devido à articulação entre movimentos sociais LGBT
e produtores de conhecimentos (entre eles médicos/as e cientistas sociais) que
passaram a intervir nas políticas públicas de modo decisivo, inclusive em um
trânsito entre acadêmicos e integrantes de ONGs, que passam a atuar como
gestoras governamentais. Esse processo gerou uma contrapartida ‘estatal’ para
o movimento, atrelando-o à agenda estatal, o que gerou (e tem gerado) intensas
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Capítulo 2
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
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Capítulo 2
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Por ora, partilhamos da visão de Girard e Castro (2012) que aponta a necessidade
de conjugar “a luta contra a repressão, a conquista de direitos e a vontade de
transformar uma sociedade desigual (...) evitando a fragmentação crescente e um
fechamento identitário que arruinaria as possibilidades de alianças ” (s.p). Faz-se
necessário, portanto, buscar a articulação de lutas por direitos com a produção
de situações as quais desnudem a realidade econômica e social que as mantém e
não se perca de vista a necessidade de coalizões de diferentes grupos políticos
feministas e LGBT.
Figura - 2.8 - Grupo Queer - Transgender Equality Esperamos que, com esse
Network Ireland (TENI)
breve panorama, você tenha
conseguido se situar, de um
modo básico, nas lutas travadas
pelos movimentos LGBT no
Brasil e no mundo e siga
conosco nos estudos sobre a
construção da identidade de
gênero e orientação sexual e
mais adiante, de como lidar
Fonte: TENI (2014).
com essa temática dentro da
proposta contemporânea de
Educação Sexual.
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Capítulo 3
Identidades de gênero e
orientação sexual
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Capítulo 3
Seção 1
A (difícil) presença do corpo e da
sexualidade na escola
A corporeidade é foco de inúmeros estudos na contemporaneidade. Neles se
airma que
Importante resgatar que o corpo quieto e imóvel foi deinido como necessário em
uma determinada época e lugar, que data do surgimento da escola (com suas
interfaces religiosas) e do capitalismo, período conhecido como Modernidade,
entre os séculos XVII e XIX.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Louro (2000) retrata, de modo poético em seu texto quase autobiográico, o seu
período em uma escola pública, como direcionado à negação do corpo como
prazer e vida, e da construção da criança inquieta e alegre em uma aluna bem
comportada e preocupada com o aprendizado dos ‘conteúdos’, em uma
sociedade classista e competitiva.
Mas o que torna a escola tão diferente dos demais espaços e, ao mesmo
tempo, tão importante para a construção do corpo e da sexualidade,
mesmo havendo outras instâncias que também o fazem?
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Capítulo 3
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Mas até mesmo as crianças criam espaços de autonomia perante o adulto, como
podemos ver no exemplo abaixo. O autoerotismo infantil, para desespero de
quem as educa, está presente, seja no parquinho ou até mesmo em situações de
punições não relacionadas com a sexualidade.
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Capítulo 3
estudantes essas mesmas ideias, de forma crítica, sobre o que signiicam essas
mudanças e as problematizando.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Será que as práticas que crianças e jovens trazem para a escola são
sempre críticas à uma sexualidade conservadora? O que você pensa a
esse respeito?
Em resposta a essa pergunta, poderíamos dizer que sim e não, tendo por base
as concepções de Gramsci (2004), um ilósofo italiano que pensou muito a
respeito do senso comum e do bom senso. Nesse sentido, crianças não são
diferentes dos adultos: expressam as contradições do mundo exterior à escola.
Podem até vivenciar, no espaço educativo, práticas de gênero e sexualidade
opostas das que vivenciam no bairro ou dentro de sua família.
Pudemos observar, por exemplo, crianças de uma escola pública na zona sul
da cidade de São Paulo que, no início dos anos 2000, expressavam uma forma
particular de relações de gênero (CRUZ, 2004). Foi inventada pelas culturas
infantis ali presentes um tipo de relação social baseado em uma agressividade
recíproca entre os sexos, a qual designamos como sociabilidade baseada no
conlito. Imaginamos terem sido construídas para dar conta de uma ‘guerra
dos sexos’, alimentada por um ambiente escolar que a tudo categoriza por
sexo (nas salas de aula, nas ilas de entrada etc.), o que certamente combina-
se com as experiências da masculinidade hegemônica de fora dela. Em
parte, eram brincadeiras para estarem juntos e, muitas vezes, permeadas por
aspectos erotizados, que em alguns momentos ultrapassavam as fronteiras
da aceitação recíproca, quando ocorriam os xingamentos pelos meninos e os
tapas pelas meninas. (CRUZ; CARVALHO, 2006) Tais experiências das relações
sociais de gênero podem, em momentos futuros, voltar-se contra as meninas,
pensando aqui nos altos índices de violência entre casais, principalmente (mas
não só) heterossexuais.
73
Capítulo 3
A angústia sexual que esse contexto provoca entre as jovens passa ao largo da
escola e educadores/as não se sentem preparados para dar suporte a tantas
diiculdades que até podem ultrapassar as possibilidades do ato educativo
escolar, visto tratar-se de aspectos de ordem íntima e familiar. Mas as fronteiras
entre espaços educativos formais e não formais são tênues na sociedade
contemporânea e as pedagogias sexuais, que atuam em paralelo à escola e
permeiam diferentes instâncias, estão presentes e mais fortes que a escola, e
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
75
Capítulo 3
Seção 2
A construção do desejo nos meandros do
gênero e da orientação sexual
Para falar de sexualidade, dialogamos com a política, a ilosoia, a psicanálise,
a história. Nessa trajetória elaboramos a ideia de sexualidade como construção
social (e contextualizada em cada cultura) de corpos, desejos, comportamentos
e identidades. O exercício da sexualidade remete aos sujeitos, objetos de nosso
desejo e conigura-se como prática sexual. E damos muitos nomes a isso:
relações sexuais, fazer sexo, transar ou, de modo mais poético, fazer amor.
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Capítulo 3
Homossexualidade
Antes designada como ‘homossexualismo’, em 1990 deixou de ser considerado um
distúrbio psicossocial e foi retirado da Classiicação Internacional de Doenças (CID),
sendo substituído o suixo ‘ismo’ pelo suixo ‘dade’, que passou a signiicar ‘modo
de ser’. O preixo ‘homo’ signiica semelhante, igual, ou seja, aquele que deseja
relacionar-se sexual e/ou amorosamente com pessoas do mesmo sexo biológico.
Lesbianidade
Safo, poeta grega, tinha uma vida sexual livre e se relacionava com as mulheres
na ilha grega em que vivia, chamada Lesbos, de onde veio a expressão –
lésbicas, para designar a relação sexual e/ou amorosa entre mulheres. De modo
semelhante ao termo homossexual com o surgimento da sexologia, no inal do
século XIX a palavra ‘lesbianismo’ signiicava doença mental, sendo alterada
posteriormente para ‘lesbianidade’.
Intersexos
São pessoas que podem: expressar uma clara ambiguidade genital; ter uma
genitália com aparência feminina, por exemplo, com aumento do clitóris; ter uma
genitália com aparência masculina, por exemplo, com micropênis; entre outras
possibilidades. Apesar do termo ‘intersexos’ ainda ser bem utilizado, a área
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médica tem revisto essa nomenclatura, que tem sido alvo de polêmica entre
movimentos e a medicina, já que se insiste na ideia de anomalia. Para Damiani,
“Já há vários anos, abolimos o termo intersexo dos diagnósticos, preferindo a
expressão ADS, [Anomalia da Diferenciação Sexual] já que intersexo denota um
sexo intermediário ou um terceiro sexo, o que não é adequado para os pacientes.”
(DAMIANI, 2007, s.p)
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Capítulo 3
Sobre esse tópico, Foucault nos traz um belo exemplo com a história de
Herculine Barbin, um hermafrodita francês do século XIX, que nasceu com sexo
indeterminado (um pequeno pênis), mas foi criado/a como uma moça. Ao ser
pressionado/a por médicos e advogados a se deinir e tornar-se um homem, a/o
jovem Alexina/Herculine, que antes vivia, nas palavras de Foucault, no “limbo feliz
de uma não identidade” (FOUCAULT, 1982, p.6), termina provocando sua própria
morte. A necessidade da verdade sobre o sexo biológico e de suas amarras com
a identidade de gênero, necessidade ainda de setores médicos em pleno século
XXI, aprisiona não só as pessoas intersexos (nome atual dado aos hermafroditas),
mas a todos os seres humanos, e tem sido uma luta das minorias sexuais em
todo o mundo.
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Por outro lado, a identidade de gênero relaciona-se com a orientação sexual para
aqueles/as a quem direcionamos nosso desejo, porque os signiicados de gênero
estão imbricados na construção da sexualidade e que é resultante de uma história
própria das vivências prévias familiares e sociais, onde tudo aparece mesclado;
vivências que constituem um modo particular de sentir e agir em relação ao outro
e do que provoca o prazer.
Em outras palavras, o que é considerado erótico e desejante para um, pode não
ser para o outro. Aqui falamos tanto dos estereótipos como de características
gerais associadas aos atributos de feminilidades ou masculinidades disponíveis
socialmente (não raro dicotômicos e antagônicos), expressos por meio da
estética, do comportamento, da linguagem, da imagem, do cheiro, dos códigos
corporais da sedução, entre outros. Podemos dizer, baseados na psicanálise
contemporânea, que na construção da psique os elementos que provocam prazer
tendem a se irmar como características próprias (de si) ou almejadas no outro;
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Capítulo 3
nesse processo complexo ‘de quem sou e quem eu desejo’ é que se constituem
as identidades de gênero e a orientação sexual.
Mas o que vem a ser um(a) transexual? Seria possível uma deinição?
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Como airmou Bento (2008), a convivência satisfatória com seu corpo original não
desqualiicaria ou tornaria menos transexual um sujeito que se autodeine como
transexual e, tampouco, obrigaria-o a deinir-se em apenas uma das orientações
sexuais, seja ela como heterossexual, homossexual, ou bissexual.
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Capítulo 3
Por todas essas questões, uma das defensoras da teoria Queer, Butler
(2003), problematiza o conceito de transexualidade e gênero, e aponta para
a transitoriedade e o questionamento de identidades que pretendem ‘ixar’ e
‘delimitar’ as experiências de gênero e orientação sexual. Podemos elaborar a
partir de toda essa problematização que a cadeia sexo biológico, gênero, desejo
e práticas sexuais não podem ser uniicadas, daí a necessidade de resistirmos
criativamente no cotidiano às deinições simplistas de sexo e gênero.
Apesar de adotar aqui o termo Orientação Sexual por ser ainda o mais utilizado,
cabe lembrar que o termo inicialmente adotado para as preferências sexuais era
‘opção sexual’, e que na década de 80 passou a ser substituído para ‘orientação
sexual’ no Brasil, pelos movimentos sociais e governo. Em concordância com
outros autores, pensamos que o conceito Orientação Sexual é problemático,
na medida em que ele questiona a ideia de que a sexualidade também pode
ser ‘uma escolha’, mesmo que não haja uma escolha descontextualizada das
experiências de vida dos sujeitos, desde a infância e dos limites sociais dados.
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Capítulo 3
Seção 3
Homofobia e diversidade sexual na educação
O direito à liberdade de identidade de gênero e de orientação sexual esbarra em
uma barreira cultural: a homofobia, que intensiicou sua manifestação no período
pós-AIDS, circula com frequência em diferentes espaços na contemporaneidade
e faz parte do rol de discriminações cotidianamente presente em meios
proissionais, religiosos, programas de humor e, claro, ambientes escolares.
No entanto, antes mesmo de tal termo existir, Oscar Wilde, um escritor inglês
do século XIX, foi condenado a dois anos de trabalho forçado, morrendo logo
após ser solto, devido às péssimas condições de sua prisão. Foi acusado de
pederastia e sodomia por estabelecer relações afetivas e sexuais com outro
homem mais novo do que ele. Wilde, à época, compôs um poema em que
cunhou a expressão O amor que não ousa dizer seu nome e que deu origem
a ilmes e outros textos poéticos.
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Por outro lado, nas ruas, segue-se a violência contra os demais, não raro com
assassinatos, o mesmo se podendo dizer de trans (masculinos ou femininos),
seguidos por assassinatos de lésbicas, como demonstra esta notícia, a partir de
dados de 2009:
(...)
Segundo o antropólogo Luiz Mott, um dos fundadores do Grupo
Gay da Bahia, [professor da Universidade Federal da Bahia],
dentre os homossexuais assassinados no ano passado [2009],
117 eram gays, 72, travestis, e nove, lésbicas.
(...)
“A cada dois dias um homossexual é assassinado no Brasil
e precisamos dar um basta nesta situação”, airmou Marcelo
Cerqueira, presidente do GGB. (RELATÓRIO, 2009)
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Capítulo 3
E você, já parou para pensar nas relações entre leis e mudanças culturais?
Como se posiciona em relação a esse debate que se enquadra dentro da
área de direitos sociais e sexuais?
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Sexualidade e Orientação Sexual: Cultura e Transformação Social
Homofobia e sexismo:
(...) Esse processo de naturalização da homofobia foi sendo construído
historicamente, primeiro evidenciando como o cristianismo, herdeiro da
tradição judaica, delega à heterossexualidade o único comportamento
natural conforme a lei divina, inaugurando assim uma homofobia até
então desconhecida nas populações. A heterossexualidade enquanto
normalidade para Deus e o casamento monogâmico como responsável
pela procriação, expressos na bíblia judaico-cristã, apresentam resquícios
ainda hoje levados a cabo nos discursos político-administrativos. Para
legitimar isso, a monogamia e os “papéis de gênero” são extremamente
marcados, já que cada indivíduo (o homem e a mulher) possui um papel
importante na “formulação da vida”. (...) (FERNANDES, 2009, p.215)
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Capítulo 3
Pesquisas sobre a escola no início dos anos 2000 (em números que ainda
permanecem altos) revelam intensa homofobia entre alunos e professores.
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Assim sendo, educar para a diversidade signiica estar atentos/as para a busca
de transformação e emancipação em todas as dimensões da vida humana.
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Considerações Finais
Sobre sua prática docente, cabe a você deinir o tipo de atuação que pretende
realizar enquanto educador/a, que pode ser desde o simples cuidado para
evitar atitudes discriminatórias para com estudantes e colegas (e deles entre si),
como exercitar a escuta compreensiva, ou até mesmo ousar e propor projetos
de educação sexual nos espaços onde já atua ou vai atuar. O que importa é
estar sintonizado/a com as mudanças necessárias e respeitar a diversidade de
identidades de gênero e de orientação sexual.
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Sobre o Professor Conteudista
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