O documentário “Absorvendo o tabu”, vencedor do Oscar de 2018, retrata a perda de
confiança e autoestima das mulheres indianas por causa da ausência de absorventes. De
forma análoga, no cenário hodierno brasileiro, a pobreza menstrual constitui uma face obscura da sociedade. Dessa forma, a ineficiência legislativa e a dificuldade em adquirir itens básicos de higiene menstrual são os principais agravantes dessa problemática.
Diante desse entendimento, primeiramente, é relevante abordar que o Estado é responsável
por assegurar a saúde social. De acordo com a Constituição Federal de 1988, é dever dele garantir o bem-estar e a dignidade de toda a população. Entretanto, sabe-se que o documento não é aplicado na prática, posto que a não utilização de produtos essenciais para o período menstrual provoca riscos que vão além da higidez emocional. Nesse sentido, pode provocar lesões nos órgãos reprodutores e infecções no trato urinário, uma vez que são usados tecidos, jornais e até miolos de pão no lugar de absorventes. Logo, é notável a ineficácia de políticas públicas que visem o melhor para pessoas que passam, mensalmente, por esse fenômeno natural do corpo humano.
Outrossim, em segundo plano, a precariedade de infraestrutura em determinados
ambientes, como as regiões periféricas, é um fator impactante. Segundo o relatório de Livre para Menstruar, no Brasil, 20% das adolescentes não possuem água tratada em casa e 200 mil estudam em escolas com banheiros sem condições de uso. Desse modo, o manejo da higiene menstrual torna- se mais complicado. Além disso, para quem se encontra em situação vulnerável economicamente, o custo dos produtos necessários para tal é muito alto. Atualmente, não são tidos pela lei como artigos básicos, o que impede que eles façam parte do conjunto de itens essenciais em cestas básicas e sejam isentos de impostos cobrados pelo Governo Federal.
Infere-se, portanto, que devido à negligência estatal e a circunstância insalubre das
periferias, a pobreza menstrual carece de um processo de supressão. Sob esse viés, cabe ao Poder Legislativo, responsável por administrar e fiscalizar as leis nacionais, criar projetos efetivos que reivindiquem a disponibilidade de absorventes. Tal ação pode ser concluída através de um redirecionamento de verbas, com o fito de reformular os parâmetros deste impasse no país. Ascendem, assim, as possibilidades de uma realidade distante do documentário da Netflix, Absorvendo o tabu.