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FICHA DE LEITURA 2.1.

UNIDADE Antropologia Estruturalista

Objectivo da Unidade  Apresentar os expoentes e o foco da analise estrutural


 Introdução ao sistema de Parentesco
Competências  Conhecer os expoentes, o centro da analise estrutural
 Ter noções do sistema de Parentesco

2.5.1 Estruturalismo
Como movimento filosófico, o estruturalismo tem um papel decisivo na trajetória que
envolve o embate entre o positivismo lógico, a fenomenologia, a fenomenologia existencial
e o historicismo.
Constitui um movimento difuso e complexo de ideias que se desenvolveu no dominio das
ciências sociais e humanas, a partir dos ano 1960, após o declinio do existencialismo,
sobretudo na Escola Francesa.Trata-se de um modelo de formalização dos dados do real na
sua diversidade e de um método de análise da organização logica subjacente aos fenomenos,
concluindo por evidenciar o modelo incosciente capaz de constituir a lei desses fenomenos.

2.5.2 Objecto da análise estrutural


É a procura dedutiva das estruturas essencialmente inconscientes que podem ser reveladas
através da homologia das condutas e das narrativas.

2.5.3 Estruturalismo nas ciências sociais e humanas


A extensão do Estruturalismo nas ciências sociais e humanas está ligada por um lado, ao
desenvolvimento de técnicas de medida estatistica e de quantificação matemática e, por outro
lado, ao character polissémico da noção complexa de "Estrutura" corelacionada com a de
"sistema" e de "modelo".

2.5.4.1 Estrutura
Uma primeira acepção é a de significação, nó vital do sentido. Esta noção de Estrutura-
essencia é utilizada pela fenomenologia de Husserl e pela psicopatologia de Goldeinstein,
retomada e desenvolvida posteriorimente, em França por Sartre e Merleau-Ponty.
Uma segunda acepção é a de esquema matematico ou estatistica. Assim, considerando certos
elementos e um conjunto de operações definidas sobre os mesmos construe-se por exemplo,
estruturas de espaço vectorial e estruturas de grupo. Em Psicologia, diz-se de um
sosciograma que ele representa a Estrutura de um grupo, e fala-se da análise estrutural dos
grupos para designar a representação em forma de grafico ou de matriz, de relações de atração
ou de repulsa entre os membros do grupo.
Da mesma maneira, em estatistica fala-se de Estrutura da matriz de correlações entre
variaveis, para indicar que os valores dessas correlações não são distribuidos de modo
aleatório.

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Igualmente em sociologia, com "Estrutura socioprofissional" pretende-se designar a
distribuição dos individuos de uma população em diversos tipos de posições
socioprofissionais.
Numa Terceira acepção estrutura é sinonimo de forma, ou seja a totalidade perceptiva
anterior à soma das partes ou dos elementos que a compoem. Neste sentido é utilizada pelo
gestaltismo evidenciado pelos teóricos da Psicologia da forma (Wertheimer e kohler na
Alemanha e P. Guillaume em França) que se substitui à Psicologia atomistica de tipo
behaviorista.

2.5.4.2 Na acepção empirica


Designa um sistema de relações sociais observaveis. É neste sentido que autores de diversas
áreas cientificas falam de Estrutura. Por exemplo: em antropologia Radcliffe-Brown; em
Psicologia Kurt Lewin; em sociologia Georges Gurvitch

2.5.4.3 Na Linguistica
Em linguistica a análise estrutural consistes em conceber os elementos de uma lingua como
conjuntos de elementos interdependentes de sistemas. A linguistica filosofica é substituida
com Ferdinand de Saussure, N. Troubezkoy, R. Jakobson, entre outro pela análise dos
sistemas linguisticos e da fonologia estrutural.

2.5.4.4 Na sociologia
Em sociologia o Estruturalismo entronca no L´Espirit des Lois (Espirito das Leis), que hoje
se traduziria por Estrutura social de Montesquieu cujo projecto consiste em analisar os
sistemas formados pelas leis, costumes, instituições das nações em distinguir os tipos de
sistemas possiveis e em determiner os principios de cada sistema.

2.5.4.5 Murdock
Aplica às sociedades tradicionais não ocidentais a ideia fundamental desenvolvida por
Montesquieu; para ele a noção de Estrutura social designa a coerencia e a interdependencia
das instituições sociais. Esta ideia foi retomada pelo estruturo-funcionalismo de T. Parson
que consiste em conceber as instituições economicas e familiars como compondo um sistema
de elementos interdependentes.
Numa sociedade industrial a adaptação dos individuos ao mercado de emprego supoe que
por um lado, os elos familiares com os seus ascendentes sejam suficientemente amplos para
não prejudicar a mobilidade geografica e, por outro lado, que o filho possa orientar-se para
uma profissão diferente da do Pai, permitindo a mobilidade professional. Destaca-se assim a
" homologia de estruturas" entre a familia de tipo nuclear e a organização industrial das
sociedades e reciprocamente, entre a familia de tipo extenso e a organização económica das
sociedades tradicionais.
Por ultimo da-se relevo à utilização "formal" de Estrutura não consolidada em referência ao
seu conteudo sensivel, mas como um "modelo" real subjacente a toda a realidade empirica e
que poe em relevo a relação social ou psicologica destacada pela análise estrutural. Assim,
uma Estrutura é um conjunto de elementos entre os quais existem relações tais que, qualquer
modificação de um elemento ou de uma relação implica a modificação dos outros elementos
e relações.

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Este é o conceito de Estrutura que nos interessa e que se relaciona directamente com o
dominio da análise estrutural. Esta noção não se refere a realidade empirica das relações
sociais existentes mas ao modelo construido a partir delas. As realidades empiricas servem
apenas, de reveladores provisorios de relações concebidas a diversos niveis de abstração,
sobre o modo binario de "oposições pertinentes". Trata-se de uma corrente teorica
circunscrita em antropologia e tem como seu grande e notorio expoente Claude Levi-Strauss.

A análise estrutural em antropologia fundamenta-se no postulado da interdependência dos


elementos das sociedades e, neste aspecto, representa um avanço consideravel em
comparação com com a análise descritiva dos períodos anteriores a qual considerava esses
elementos das sociedades como justapostos e visava explicações de tipo genealogico.

No entanto, a noção de Estrutura, enquanto conceito científico é uma categoria do


pensamento discursivo não podendo sair do nivel limitado, porque abstracto da disciplina
que a utiliza. Ora, o nivel abstracto, como afrima R. Boudon, não é explicativo da totalidade
do ser, embora o seu conhecimento contribua para a exclarecer.

A análise estrutural introduzida e desenvolvida em linguística por F. de Saussure, para quem


os processos de linguagem são resultantes das interações entre sinais e sentidos, entre
significantes e significados, foi sistematicamente aplicada em antropologia por Claude Levi-
Strauss, graças a profunda influência exercida por R. Jakobson.

2.5.6 Objectivo da análise estrutural


Consiste em revelar, pelo método dedutivo as "estruturas do homem universal
essencialmente inconsciente" que podem ser detectadas, a partir das regras de parentesco,
mitologias, ritual, praticas culinarias, arte, ideologias politicas e outras.

2.5.6.1 Exemplos de alguns sistemas de parentesco


Assim analisando, exemplos de alguns sistemas de parentesco caracteristicos de sociedades
não ocidentais, Levi-Strauss observa elementos dificilmente explicaveis. Muitas sociedades
autorizam casamentos entre primos cruzados, ou seja, o casamento de “Ego" com a filha do
Irmã de sua mãe ou com a filha da Irmã de seu pai, mas interditam o casamento entre primos
paralelos, ou seja, o casamento com a filha da Irmã da mãe ou com a filha do Irmã o do pai.
Mais curiosamente, ainda, certas sociedades interditam um dos tipos de casamento entre
primos cruzados e não o outro conforme se trate de sociedades matrilineares ou
patrilineares.

Veja a tabela que segue onde temos exemplos de parentes da parte paterna e da parte materna.
Timbalily e Joseph casaram-se e tiveram três filhos: Francis, Miriam e Luis. Os três, cada
um casou-se e teve filhos. Do lado direito temos Mangany e Sanida Macenga que casaram-
se e também tiveram três filhos: Anely, Iraneti e Khodack. Todos casaram-se por sua vez e
tiveram filhos. O nosso foco na imagem está em Luis e Anely que casaram-se. Os filhos tem,
neste caso, tios e tias maternos e paternos, ou seja, tios da parte do pai e da parte da mãe. Nos
dois casos encontramos primos paralelos. Os primos cruzados resultam a partir do
cruzamentos de ambas partes. A questão que se coloca para ser pensada é saber se o EGO
(filhos de luis e Anely), pode casar com os filhos ou filhas do irmão do pai ou do irmão da
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mãe. A resposta vai, certament variar de cultura para cultura de acordo com a tradição local.
Veja no modelo que segue e pense na sua cultura e tradição.

2.5.7 Elementos dificilmente explicaveis que fazem parte da estrutura do inconsciente

Muitas sociedades autorizam casamentos entre primos cruzados, ou seja, o casamento de


"Ego" com a filha da Irmã de sua mãe ou com a filha da Irmã de seu pai, mas interditam o
casamento entre primos paralelos, ou seja, o casamento com a filha da Irmã da mãe ou com
a filha do irmão do pai. Pense como como é na sua cultura.
2. Certas sociedades interditam um dos tipos de casamento entre primos cruzados e não o
outro, conforme se trate de sociedades matrilineares ou patrilineares.
Aqui é bom que cada um pense como acontecem os casamentos na sua sociedade e se
ela é de tradição matrilinear ou patrilinear, questão a ser respondida no fim da ficha.

2.5.8 Contributo de Levi-Strauss


Foi mostrar que os diferentes sistemas de regras de autorização e de interdição do
casamento são soluções particulares quanto a circulação das mulheres entre os vários
seguimentos da sociedade. Aqui entra a ideia de Endogamia e exogamia.

a) Casamentos endogâmicos – são aqueles que acontecem dentro do grupo.


b) Casamentos exogâmicos – são aqueles que acontecem fora do grupo.

2.5.9 Estruturalismo antropologico de Levi-Strauss


Procura as estruturas inconscientes subjacentes às instituições e aos costumes. São estas
estruturas que constituem os verdadeiros esquemas conceptuais "invariantes" ao nivel da

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actividade inconsciente do espirito e o processo de "equilibrio" que a partir de formas simples
conduz a verdadeiras estruturas permanentes, assegurando ao ser vivo as suas homeostasias
e às sociedades humanas a sua estabilidade.

2.5.10 Analise estrutural enquanto metodo

Constitui um rigoroso metodo de objectivação dos factos socioculturais.

2.5.11 Limitação
-Fechando-se em si mesma e transformando-se em teoria ou em ideologia, minimiza ou anula
os factos concretos e a dinamica do social vivo e reduz toda a realidade a um puro
racionalismo e formalismo.
-Pela reificação de postulados, deduz das condiçõoes particulares dos fenomenos
proposições metodologicas e ontologicas generalizadas; os fenomenos sociais e culturais,
sendo produto ou a manifestação das estruturas, não podem ser analisados como o resultado
da acção dos homens. Só as estruturas tem uma existência "real" os individuos são simples
aparencias ou "suportes da estrutura".
-Minimiza ou anula, na sua analise, as significações porque são muito diferenciadas,
irredutiveis à norma, impendindo assim a descoberta das regularidades. O estruturalismo
para objecto da sua analise recorre às instituições e aos mitos esvaziados de comportamentos,
pretendendo atingir as categorias universais do pensamento, ou seja, o que é comum a
todos os homens.

2.5.11.1 Exemplos:
Levi-Strauss revelou nas estruturas elementares do parentesco, nos costumes alimentares,
nas narrações miticas uma dupla estrutura que deve estar na base do pensamento humano e
que comanda a configuração do mundo: o movimento e o fixismo.

2.5.12 Duvidas e questionamentos


Este dualismo que as estruturas revelam existe verdadeiramente no interior do pensamento
humano, enquanto elemento primordial, ou se não passará, antes, de uma projecção, no
pensamento dos povos tradicionais não ocidentais da logica dualista propria do pensamento
occidental? Nos seus estudos, os estruturalistas revelam as estruturas fundamentais do
pensamento universal ou não revelarão antes, a estrutura fundamental do seu proprio
pensamento?

2.5.13 Tipos de analise


Privilegiando a analise sincronica em relação a analise diacrónica a analise estrutural destaca
tipologias sumarias, mas não a diversidade de tipos sociais.
-No estudo dos fenomenos de que o tempo é parte constitutivo, a apreensão sincrónica do
sentido de que a pratica é investida torna-se impossivel, como nota Pierre Bourdieu.
-Assim a literature e a experiência antropologicas fornece-nos uma série de fenómenos
sociais, cujo sentido é sempre, em grande parte, retrospectivo; isto acontece, por exemplo
em fenomenos de ostentação económica como do tipo "Potlatch" que envolvem lutas de
prestigio e de poder; o significado de DOM só pode caracterizar-se, plenamente, a partir do

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CONTRA-DOM, que respondendo ao DOM, lhe dá simultaneamente a sua medida e o seu
sentido; neste caso a comunicação e a troca constituem as bases da estruturação do vinculo
social e politico.

2.5.1.4 Contribuições da analise estrutural


A analise estrutural de Levi-Strauss (as correntes de pensamento de meta-antropologia
estruturalista e marxista predominante na Escola Francesa, embora mais propensa a
actualizar os mecanismos de especulação teorica e epistemological do que a analizar as
relações de poder ou o funcionamento das instituições, CONTRIBUIU para a renovação
metodológica em antropologia.
-Na verdade, a metodologia estrutural de Levi-Strauss rompe com a epistemologia da
racionalidade e do lugar atribuido ao sujeito transcendental e revela que a grande variedade
de relações empiricas só é inteligivel a partir de um numero limitado de estruturações
possiveis de materiais culturais dum numero reduzido de "invariantes" comandados por
aquilo que o autor chama de “Leis universais que regem as actividades inconscientes do
espirito".
-Opõe-se ao evolucionismo e ao historicismo genético; à analise dos processos em termos de
explicação causal opõe-se a inteligibilidade estrutural das diferentes combinatorias duma
instituição, dum comportamento ou duma narração revelada através das estruturas
inconscientes, sobretudo das formas elementares e complexas de parentesco e do mito,
fazendo aparecer uma identidade formal (um inconsciente universal) através da
multiplicidade de conteudos materiais diferentes. Discipulo da analise durkheimeana Levi-
Strauss revelou-se mais sensivel à "estrutura estruturada" do que à "estrutura estruturante"
privilegiando a análise do simbolo em relação à função.

Portanto, estruturalismo vem da ideia de estrutura. Neste sentido, estutura não é nada mais
do que um conjunto de elementos interligados e interdependentes que mantem uma coesão
dentro de um Sistema. Dentro do Sistema quando um elemento falha é toda a estrutura que
fica em desequilibrio. Assim é também concebido o Sistema de Parentesco.

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Trabalho
1. Qual é o seu grupo etnico?
2. Qual é a sua tradição, matrilinear ou patrilinear?
3. No seu grupo etnico são permitidos os casamentos entre primos paralelos e entre
primos cruzados?
4. Caso sejam permitidos, pode dar algum exemplo esquematizado de um casamento
que aconteceu entre primos paralelos ou cruzados? Faça um quadro semelhante ao
que está na ficha.
5. Na sua cultura são proibidos os casamentos entre primos? Caso sim, qual tem sido o
fundamento ou a razão da proibição? O que é que os mais velhos dizem a respeito
desse tipo de casamento?
6. Não existe povo sem história. Cada um de vocês vem de uma familia que tem parentes
maternos e paternos. Faça uma arvore genealogica da sua familia mostrando os avós
paterno e materno, de onde vieram até chegar ao nascimento de cada um de vocês.
Para tal deve conversar com as pessoas mais velhas da sua familia para obter os
dados.

Prazos:
Envio: a partir de 12/08/2020 até sexta feira 21/08/2020, 23h:00
Canal de envio simultaneo: Plataforma e no email: alonemaia13@gmail.com

Bibliografia
Jakobson, R. Lingüística e comunicação. São Paulo: Cultrix,1973.
LAPLANTINE, François. A especificidade da pratica antropológica. In: Aprender
Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003

THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. O Primeiro Estruturalismo: Método de


Pesquisa para as Ciências da Gestão. RAC, v. 10, n. 2, Abr./Jun. 2006: 137-156. Disponivel
na plataforma.

Hughes, J., & Sharrock, Y. .La filosofía de la investigación social (2a ed.). México:
Fondo de Cultura Económica. (1999).

Levi-Strauss, Claude. Introduction à l´oeuvre de Marcel Mauss. In M. Mauss. Sociologie


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Levi-Strauss, Claude. Anthropologie structurale II. Paris: Plon,1973.

Levi-Strauss, Claude. Les limites de la notion de structure en ethonologie. In R. Bastide


(Org.). Sens et usages du terme structure. Haya; Mouton. 1962. (pp. 40-45).

Levi-Strauss, Claude. Anthropologie structurale. Paris: Plon, 1958.

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