2022
Introdução
Sumário
A eliminação da tuberculose (TB) como problema de saúde pública é um
1 Força de trabalho das desafio assumido pelo Brasil, que possui metas de redução da incidência
coordenações estaduais e de
em 90% e de diminuição no número de mortes pela doença em 95% até
capitais e o desenvolvimento
das ações em tuberculose
2035 (quando comparado aos dados de 2015)1. Essas metas estão alinhadas
durante a pandemia de covid-19 aos compromissos políticos de alto nível estabelecidos pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU). As
estratégias para o alcance dessas metas e compromissos estão descritas
no Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose1.
Esse levantamento integrou o rol de atividades Os resultados apresentados abaixo incluem todas as
para monitoramento dos efeitos da pandemia no coordenações das UF (n = 27) e 22 coordenações de
enfrentamento da TB realizadas pela CGDR e, subsidiou capitais (quatro municípios não responderam a todas
as discussões sobre as recomendações e estratégias as rodadas do inquérito, e, por isso, foram excluídos
de apoio técnico para continuidade das ações nos da análise).
territórios. A iniciativa foi inspirada na experiência
da coordenação de TB do estado de São Paulo, que
Alterações na força de trabalho
utilizou essa estratégia para coletar dados junto às suas
coordenações municipais. das coordenações de tuberculose
durante a pandemia de covid-19
O questionário era composto por perguntas fechadas
(de múltipla escolha) e abertas (numéricas ou de texto). O número de profissionais nas coordenações variou
A força de trabalho das coordenações de TB das UF e entre as UF. De maio de 2020 a janeiro de 2022, a média
das capitais foi caracterizada a partir do número de de profissionais por equipe das coordenações estaduais
profissionais de nível superior na equipe; adoção de e do Distrito Federal/DF se manteve entre 5,0 e 5,5
trabalho remoto, carga horária reduzida ou rodízio entre pessoas; para as coordenações das capitais, esse valor
trabalhadores; alocação de profissionais da equipe foi de 4,7 para 3,2 profissionais por equipe.
para atuar no enfrentamento da covid-19; e ocorrência
de adoecimento pela covid-19. Em 2022, foi adicionada Houve redução média de 57,8% no número de
uma questão sobre o número de profissionais com pelo profissionais atuando presencialmente nas
menos duas doses de vacina contra a covid-19. coordenações das UF e de 70,2% nas coordenações de
capitais em 2020, por decorrência das alterações nas
O desenvolvimento das ações em TB foi questionado modalidades de trabalho. Em 2022, 22 UF referiram a
às coordenações a partir de perguntas a respeito da adoção de formatos híbridos de trabalho, enquanto
restrição e/ou interrupção de um rol de atividades es- apenas 3 capitais mantiveram profissionais em trabalho
tratégicas, selecionadas a partir de discussões técnicas remoto, seja de forma exclusiva ou alternada com
internas e de acordo com a respectiva competência de momentos presenciais.
cada instância federada no enfrentamento da TB.
A alocação de técnicos das equipes de TB nas atividades
O presente boletim apresenta dados referentes a de enfrentamento da covid-19 ocorreu em cerca de 40%
3 inquéritos realizados nos meses de junho e setembro das UF (Figura 1) e por 55% das capitais respondentes
de 2020 e no mês de fevereiro de 2022, coletados por em 2020. Apesar do número ter diminuído entre as
meio de questionário virtual enviado às coordenações aplicações do questionário, 5 coordenações estaduais e
estaduais e de capitais de TB, via FormSUS e por 5 municipais ainda mantinham profissionais apoiando
meio da ferramenta MicrosoftForms (em fevereiro de ações de covid-19 no ano de 2022.
2022). O questionário solicitava aos respondentes que
considerassem a situação dos programas de TB no mês
anterior ao preenchimento do inquérito.
Unidades Federativas
Sem profissionais alocados Com profissionais alocados
Fonte: Questionários eletrônicos aplicados junto às coordenações de controle da tuberculose das UF e capitais do Brasil, em junho/setembro de 2021 e fevereiro de 2020.
FIGURA 1 Distribuição de coordenações estaduais e do DF com profissionais alocados em ações da covid-19. Brasil, por UF, em maio e
agosto de 2020 e janeiro de 2022
O adoecimento de profissionais pela covid-19 também capitais (50,0%) com membros de sua equipe com
foi identificado – com expressivo aumento, a cada covid-19 somente naquele mês. Ainda considerando
inquérito, de coordenações referindo afastamento esse período, 94,2% das coordenações relataram que
de integrantes de suas equipes por causa da doença. todos os profissionais de sua equipe haviam tomado
Em janeiro de 2022, foi observado o maior número pelo menos duas doses da vacina contra covid-19 até
de coordenações das UF (77,8%) (Figura 2) e das aquele momento.
Unidades Federativas
Coordenação sem adoecimento Coordenação com adoecimento
Fonte: Questionários eletrônicos aplicados junto às coordenações de controle da tuberculose das UF e capitais do Brasil, em junho/setembro de 2021 e fevereiro de 2020.
FIGURA 2 Distribuição de coordenações estaduais e do DF com profissionais que adoeceram por covid-19. Brasil, por UF, em maio e agosto
de 2020 e janeiro de 2022
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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 33 | Set. 2022
TABELA 1 Proporção da descontinuidade de ações de enfrentamento da tuberculose, segundo as coordenações das UF. Brasil, maio/agosto
de 2020 e janeiro de 2022
Fonte: questionários eletrônicos aplicados junto às coordenações de controle da tuberculose das UF e capitais do Brasil, em junho/setembro de 2021 e fevereiro de 2020.
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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 33 | Set. 2022
Fonte: Questionários eletrônicos aplicados junto às coordenações de controle da tuberculose das UF e capitais do Brasil, em junho/setembro de 2021 e fevereiro de 2020.
*Os municípios de Florianópolis, Maceió, Natal e Rio Branco foram excluídos da análise, pois não responderam a todas as aplicações do inquérito.
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Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Volume 53 | N.º 33 | Set. 2022
de gerenciamento, são ações que precisam se somar 5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância
à implementação e à operacionalização de um plano em Saúde. Boletim epidemiológico nº 10 - Boletim
estratégico. COE Coronavírus. Brasília: Ministério da Saúde; 2020.
Por fim, aponta-se como limitações a ausência dos dados 6. Moura EC, Silva EN da, Sanchez MN, Cavalcante FV,
para o ano de 2021 (uma vez que o questionário não foi Oliveira LG de, Oliveira A, et al. Timely availability of
aplicado nesse período) e a coleta de dados apenas a public data for health management: COVID-19 wave´s
partir da perspectiva do gerente das ações de TB. analysis [Internet]. SciELO Preprints. 2021. Disponível
O levantamento de dados em fontes distintas e de forma em: https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/
periódica seria recomendável para minimizar vieses. preprint/view/2316.
Como vantagens, a realização de inquéritos virtuais 7. Lippincott C, Perry A, Munk E, Maltas G, Shah M.
se mostrou uma ação de baixo custo que permitiu Tuberculosis treatment adherence in the era of
a interação com as coordenações estaduais e de COVID-19. Res Sq [Preprint]. 2022 Jul 12: rs.3.rs-1777276.
capitais de forma oportuna. Isso possibilitou o Disponível em: https://doi.org/ 10.21203/
levantamento de necessidades das UF para elaboração rs.3.rs-1777276/v1.
de recomendações sobre a vigilância e atenção à TB
em tempos de covid-19, além de sinalizar tendências 8. MacLean EL, Villa-Castillo L, Ruhwald M, Ugarte-Gil C,
que foram analisadas posteriormente por meio do Pai M. Integrated testing for TB and COVID-19. Med (N
monitoramento de bases de dados. Y). 2022 Mar 11;3(3):162-166. Disponível em: https://
doi.org/10.1016/j.medj.2022.02.002.
*Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas (CGDR/DCCI/SVS/MS): Denise Arakaki, Fernanda
Dockhorn Costa, Geisa Poliane de Oliveira, Gerson Fernando Mendes Pereira, José Nildo de Barros Silva Junior, Isabela Lucena Heráclio, Layana Costa
Alves, Patrícia Bartholomay Oliveira, Patrícia Rodrigues Sanine, Rafael Giglio Bueno, Swelen Botaro, Tatiana Silva Estrela, Tiemi Arakawa.
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