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Escola e pesquisa

Marcio Tadeu Girotti

Introdução
A escola é vista como um ambiente de aprendizagem, onde a relação professor-aluno é
estabelecida como aquele que ensina e aquele que aprende, sendo o professor o transmissor do
conhecimento, e o aluno, o receptor. Mas será que a escola não pode desempenhar outro papel?
Nesta aula veremos como o ambiente escolar aliado à pesquisa é capaz de apresentar o professor
como um formador, e não simples transmissor de conhecimento.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• compreender que a pesquisa tem início na escola;


•• entender o papel do professor formador e o processo científico e educativo.

1 Pesquisa como princípio científico


A escola desempenha um papel fundamental na vida daquele que aprende, e também é a
base para aquele que ensina ou irá ensinar. O espaço escolar é tido como um ambiente onde
alunos aprendem conteúdos para sua formação básica como cidadãos que vivem em socie-
dade, enquanto o professor é aquele que, dotado de conhecimento, ensina e faz com que o aluno
aprenda. Nesse sentido, a escola é apresentada como um simples espaço de aprendizagem, mas
será que ela não pode possuir outra função? A pesquisa de caráter científico não pode fazer parte
do contexto escolar? Ninin (2008) afirma que a escola pode, sim, ser um espaço de pesquisa; mas
seria somente uma pesquisa de conteúdo, ou também de pensamento crítico?
Pedro Demo (2011) defende que a escola possui um claro papel de formação, apresentando
aos jovens a pesquisa como princípio científico e princípio educativo. Segundo o autor, o ato de
pesquisar começa na escola, porém é pouco explorado.
Não é preciso começar a estudar metodologia científica somente na universidade, mas sim,
já na escola. Quem nunca fez uma pesquisa quando criança em que se buscava informações em
jornais e revistas, conteúdos, recortes e outras coisas para um trabalho de determinada disciplina?
Isso não é fazer pesquisa?
Figura 1 – A pesquisa escolar

Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com

Ainda segundo Demo (2011), a pesquisa como princípio científico é compreendida como a
construção e reconstrução do conhecimento científico, que ocorre nas universidades, em âmbito
acadêmico-científico, seguindo o rigor da ciência e com a aplicação de metodologias científicas.
Isso é feito através da articulação entre teoria e prática.
Para o autor, a pesquisa não é feita somente em um estágio de amadurecimento intelectual,
como no ensino superior. Ela é de grande uso já na formação dos mais jovens, incentivando o
aluno a buscar conhecimento por si só próprio.
Da mesma forma, Ninin (2008) defende que a escola seja um espaço de formação, que leve
o jovem a se tornar um estudante autônomo, que busca conhecimento por si próprio.A tese é defi-
nida pelo autor como a pesquisa em seu aporte de princípio educativo.

FIQUE ATENTO!
As vantagens da pesquisa no âmbito escolar não estão restritas à busca do conhe-
cimento. Incentivar a pesquisa contribui também para a construção da autonomia
do estudante, que ganha o papel de aluno-autor.

2 Pesquisa como princípio educativo


A pesquisa como princípio educativo está unida intimamente ao “aprender bem”, ou seja: o
aluno que se diferencia dos demais é aquele que pesquisa, que vai em busca de novos conheci-
mentos além dos aprendidos na escola. Para Demo (2011), quem não sabe pesquisar também não
sabe ensinar, não sabe falar sobre aquilo que aprendeu e não consegue transmitir conhecimento.
Com a pesquisa, o aluno pode expressar suas próprias opiniões por meio de suas indaga-
ções, e com a mediação do professor, esse processo transforma o estudante de aluno-copiador
em aluno-autor. Nestes casos, a pesquisa é usada como um instrumento para problematizar situ-
ações e atingir novos saberes.
Para Ninin (2008), esse é o espaço que a pesquisa deve ocupar na escola: a busca por um
pensamento crítico e reflexivo, que conduz a novos conhecimentos.
Na educação básica, segundo Demo (2011), é preciso buscar o apoio de um professor que
também seja pesquisador, pois é a pesquisa que fundamenta a prática docente. Este professor
precisa ter o seu próprio texto e ser autor do conhecimento, mostrando para o seu aluno que ele
também pode e precisa elaborar conteúdos para tornar-se um aluno-autor.

EXEMPLO

Um professor de História que não faz pesquisa não dominará a sua área, pois ele
não busca construir novos saberes nem contesta o que lhe é apresentado – apenas
reproduz aquilo que aprendeu.

A pesquisa, quando bem empregada, ajuda o aluno a aprender o conteúdo e a se tornar um


estudante autônomo: ela desenvolve a habilidade de localizar as informações, selecioná-las e
utilizá-las melhor. Também possibilita a aprender com independência, pois, como explica Pedro
Demo (2010, p. 40), “a criança transforma conhecimentos já disponíveis na sociedade em algo
novo para ela”.

Figura 2 – Professor mediador

Fonte: ESB Professional/Shutterstock.com

Lembre-se que é função do professor avaliar e orientar o aluno no universo da pesquisa. Para
que o estudante aprenda bem, é preciso saber motivá-lo, orientando-o na busca do conhecimento,
ou seja: o professor não pode somente dar aula, mas sim conduzir seus alunos pela aula, incenti-
vando-os a procurar novos saberes.
FIQUE ATENTO!
Para ensinar o aluno a pesquisar e construir conhecimento, o professor precisa
sempre avaliar e orientar o aluno neste processo, acompanhando o processo da
aprendizagem com atenção.

SAIBA MAIS!
Leia o artigo “A pesquisa como princípio educativo com vista à alfabetização
científica no ensino fundamental”, de Santos e Fredenozo (2012), e entenda melhor
as contribuições da prática da pesquisa no ensino de ciências. O texto completo
está disponível no link <http://revistapos.cruzeirodosul.edu.br/index.php/epd/
article/viewFile/454/377>

3 O papel do professor formador


Na medida em que a escola tem o papel de formar o indivíduo, o professor deve possuir o
papel de formador, construindo o conhecimento, fazendo-se autor e também transformando o
aluno em autor. “Se o docente só dá aula, sem produção própria, não podemos superar o instrucio-
nismo na escola e na universidade” (DEMO, 2009b, p.14).
Na prática docente, muitos professores solicitam a execução de uma tarefa sem dar as ins-
truções necessárias para desenvolvê-la. Isso é contrário à ideia do professor que orienta a apren-
dizagem do aluno.
Para Ninin (2008), o professor deve desenvolver a habilidade de pesquisa com seus alunos,
os dotando de ferramentas que auxiliem na prática da investigação, a busca pelo conhecimento.
O ideal neste caso seria determinar os objetivos da aprendizagem, levando em conta os pro-
cedimentos da os conteúdos, e depois convidar o aluno a explorar a biblioteca, artigos, conteúdo
da internet, entrevistas e outros materiais.
Mesmo assim, muitos professores ainda solicitam atividades apenas com o mesmo roteiro:
data para entrega, nomes dos alunos, indicação das partes do trabalho, orientações gerais...
Trabalhando assim, a pesquisa torna-se um simples instrumento avaliativo: ou seja, uma
nota, sem preocupação com o processo de aprendizagem, mas apenas um produto final.Quando
isso acontece, o professor tem papel secundário na educação estudante, pois o próprio não se
coloca como orientador deste mesmo processo.
A escola como ambiente de formação prevê um aluno que adquire conhecimento e um pro-
fessor que transmite saber. No entanto, essa concepção de escola não forma alunos autônomos,
que possam construir seu saber, mas reféns da passividade da educação. Contrário a esta pers-
pectiva, uma escola que aplica a pesquisa como ferramenta para aquisição de conhecimento pro-
porciona a formação de um aluno-autor, que busca o saber com a ajuda da figura do professor.
Figura 3 – A tarefa por mera instrução

Fonte: Brian A Jackson/Shutterstock.com

A partir do acesso à informação e ao conhecimento, via internet, o papel do professor como


formador tem sido repensado, se aproximando da figura de um mediador no processo ensino-
-aprendizado, ou de um animador, como aquele que anima/instiga a alma do educando, provocan-
do-a para buscar conhecimento. (BOHADANA; MARQUES, 2004)

FIQUE ATENTO!
Se o professor somente solicita uma tarefa sem oferecer as devidas orientações,
essa atividade permanece como um simples instrumento avaliativo, sendo a nota a
sua única utilidade. Ignorar esse processo é o mesmo que prejudicar a autonomia
de aprendizagem do aluno.

Segundo Demo (2011), a escola, na figura do professor, precisa incentivar a autonomia do aluno
oferecendo o tema da pesquisa e os materiais para que ela possa desenvolvê-la. Também é crucial
propiciar espaços de debates de ideias, além de aguçar a criatividade e a curiosidade dos estudantes.

Neste cenário, um professor deve:


•• orientar os alunos sobre como buscar informações;
•• disponibilizar referências bibliográficas;
•• oferecer condições favoráveis para a pesquisa;
•• instruir o aluno a utilizar a técnica do fichamento (destacar as partes importantes do
conteúdo pesquisado), mostrando que a pesquisa não é uma cópia de informações, e
sim uma síntese reflexiva sobre o que foi pesquisado.
Figura 4 – Professor formador

Fonte: Monkey Business Images/Shutterstock.com

O professor deve trabalhar para incentivar a curiosidade do aluno, que se interessará mais por
aquilo que tem interesse e vontade de conhecer. Os assuntos que afligem a mente dos estudantes
e geram mais curiosidade são o melhor caminho para aprofundar o conhecimento.

EXEMPLO
Um professor de Química, ao ensinar a composição de vários materiais usados
por pintores, pode sugerir a realização de pesquisas sobre História da Arte, unindo
Química, História, Artes e Geografia em uma única atividade. Essa interdisciplinari-
dade permite examinar o tema por vários lados de modo simultâneo, incentivando
o aluno a ampliar o seu conhecimento através do contato com outras áreas.

SAIBA MAIS!
Para conhecer novas perspectivas de pesquisa com o uso da tecnologia no ambiente
escolar, leia esse o artigo de Pedro Demo (2009a), “Aprendizagens e novas tecnologias”,
no link<http://www.pucrs.br/famat/viali/doutorado/ptic/textos/80-388-1-PB.pdf>.

Como nos explica Ninin (2008, p.21), a pesquisa escolar é pautada em instrumentos que “pro-
piciam a construção do conhecimento e o desenvolvimento da autonomia” do estudante, através
de ações que estimulam a reflexão crítica e priorizam as capacidades de descobrir, questionar,
criticar, argumentar e criar.
Por fim, é importante destacar que o professor precisa sempre apresentar fontes confiáveis
ao aluno, ensiná-lo a tomar notas e escrever textos e resumos, incentivá-lo a entrevistar especia-
listas no assunto, mostrar modelos e formas para produzir o produto final e, enfim, contribuir para
a apresentação dos resultados
Fechamento
Nessa aula, você teve a oportunidade de:

•• entender que a escola é o primeiro espaço para desenvolver pesquisa;


•• saber que a pesquisa conduz o aluno a ser autônomo em seu conhecimento;
•• compreender que o professor precisa ter papel de formador, e não simples transmissor
do conhecimento.

Referências
BOHADANA, Estrella; MARQUES, Márcio Mori. A escritura e o papel na era digital. Aprender – Cad.
de Filosofia e Pisc. Da Educação, Vitória da Conquista, Ano II, n. 3, p. 63-78, 2004.

DEMO, Pedro. Aprendizagens e novas tecnologias. Revista Brasileira de Docência, Ensino e Pes-
quisa em Educação Física, v. 1, n. 1, p. 53-75, ago. 2009a. Disponível em: <http://www.pucrs.br/
famat/viali/doutorado/ptic/textos/80-388-1-PB.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2017.

______. Educação Hoje: “Novas” tecnologias, pressões e oportunidades. São Paulo:Atlas, 2009b.

______. 5 etapas da boa investigação. Revista Nova Escola, São Paulo, ano XXV, n. 237, p. 40-47,
nov. 2010.

______. Pesquisa: princípio científico e educativo. 14. ed. São Paulo: Cortez, 2011. NININ, Maria Otília
Guimarães. Pesquisa na escola: que espaço é esse? O do conteúdo ou o do pensamento crítico?
Educação em Revista, Belo Horizonte, n. 48, p. 17-35, dez. 2008. Disponível em: < http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982008000200002>. Acesso em: 21 jun. 2017.

SANTOS, Reginaldo dos; FRENEDOZO, Rita de Cássia. A pesquisa como princípio educativo com
vista à alfabetização científica no ensino fundamental. In: Encontro de Produção Discente – PUCSP,
Anais... 2012. Cruzeiro do Sul. São Paulo. p. 1-12. Disponível em: <http://revistapos.cruzeirodosul.
edu.br/index.php/epd/article/viewFile/454/377>. Acesso em: 27 abr. 2017.

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