O texto se inicia falando sobre um Museu em Berlim em um evento bianual
que permite às pessoas visitarem qualquer horário do dia, e foca no fato que mesmo com chuva as pessoas esperavam nas ruas para acessar os acervos. Tal Museu, mostrava a história da República Democrática Alemã, a alemã socialista na época do Muro de Berlim, e permitia experiências inovadoras ao público com uma forma de interação com o passado. Além de dar enfoque a necessidade das pessoas de “fazer parte” da história, também comenta sobre a dualidade que ele representa. “Museu de Si” e “Museu dos Outros” são dois termos citados que representam bem o conceito. A ideia de ver o outro como exótico ou se identificar com a história por meio da experiência. No decorrer do texto, se começa a relacionar a história ao termo “patrimônio” e a ideia de evitar sua monumentalização, trazer o conceito mais perto da comunidade. O objetivo não era contar o passado de forma mais “correta” e sim com um regime mais pessoal e emocional. Contudo, em um breve momento, o texto logo se questiona sobre a perda do gênero legítimo da escrita histórica. Seguindo, comenta sobre a própria localização do Museu DDR ter significado. Próximo da Ilha dos Museus, com edificações utilizadas para diferentes finalidades com o passar dos anos, que abrem a discussão do que pode ser considerado patrimônio. O que pode ser considerado patrimônio? Qual momento pode-se constituir como herança histórica daquele território? Sucedendo, o texto fala sobre a narrativa dos anos 1800, a criação da matéria “História”, sua relação direta com o período que foi criada e tudo que levou a constituição de uma política de patrimônios. É nesse meio do século XIX que as narrativas modernas sobre o passado e o patrimônio chegam a ser compreendidas, por uma necessidade da sociedade de narrar o passado. Para o autor, tal reflexão do passado deve ser feita de forma específica, operando a partir da ausência de informações e o que tais ausências e o próprio patrimônio provocam. Partindo da visão que a reflexão de um patrimônio é uma forma de escrita do passado, ela deve ser feita a partir de uma perspectiva cientificizada. Assim, volta-se ao Museu DDR, que diferindo desse ideal, como o autor coloca: “Aponta para os paradoxos do ser moderno: a necessidade de preencher com certezas – e com lembranças – aquilo que é incerto por sua própria condição – o tempo pretérito.” O PATRIMÔNIO PROJETADO SESSÃO TEMÁTICA: PROJETO CONTEMPORÂNEO E PATRIMÔNIO EDIFICADO O texto traz uma nova visão, relacionando o projeto contemporâneo ao patrimônio edificado. A primeira vista "projeto" e “patrimônio” parecem opostos, o primeiro remetendo “ação” e o segundo algo “pretérito”, porém, a ideia aqui é questionar de uma nova forma a ideia de edificações patrimoniais. Com uma visão, não de “Como manter?” e sim de “Como transformar?” as velhas arquiteturas. Também afirma que, apesar das diversas teses de como deve ser conservada uma arquitetura pretérita, não se existe um método científico que determine como se deve prosseguir em todos os casos. Geralmente, os discursos sobre preservação da arquitetura aludem ao patrimônio já reconhecido e se dedicam principalmente às recomendações sobre os procedimentos que devem ser adotados em sua restauração. Contudo, no artigo, o foco está na relação que pode existir com um patrimônio edificado e um projeto contemporâneo. Difere da ideia de um “restauro” e segue mais o rumo de uma “reforma”, no sentido de dar um novo uso – talvez mais necessário no momento – a edificação. Para argumentar tal perspectiva, a autora traz dois projetos: o SESC Pompéia, de Lina Bo Bardi, e o Museu do Pão, do escritório Brasil Arquitetura. Em resumo, seguindo os passos de Lina, Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci lidam com a paisagem pré-existente valorizando a memória da população local ao mesmo tempo que não prescinde de um projeto novo. Uma forma de trazer o patrimônio como parte de uma cidade viva e contemporânea. Ambos operam projetos que modificando a edificação pré-existente às converteram em patrimônio. Seguindo, apresenta-se o termo de “Arquitetura Extemporânea”, que no contexto, aparece na diferença da pré-existência e os edifícios que vieram complementá-las de forma ativa, transformadora e com propósitos. Desta forma, conclui-se que de fato não existe uma fórmula quando se trata de tais intervenções. Pessoalmente, ligando o fato do crescimento exponencial das cidades a questões sustentáveis, vejo imprescindível a necessidade de projetos que dêem novos usos à arquitetura pré-existente, algo que exceda objetivos unicamente culturais. Pensar a própria cidade como patrimônio. O PATRIMÔNIO CULTURAL E A MATERIALIZAÇÃO DAS MEMÓRIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS O artigo reflete sobre a diversidade ligada ao patrimônio e seus meios de intervenção. A ocidentalização do mundo e a ideia criada do “desenvolvido” e “subdesenvolvido” é reforçada pelo o que se entende como moderno e ignora diversidades culturais e biológicas. Utilizando de um turismo discriminado- ao invés de utilizar a educação como forma de “transmitir” ou trocar valores entre culturas para promover conhecimento - se depravam bens e industrializam a cultura, tornam lucrativa. Outro ponto colocado é a divergência entre culturas do que se é considerado patrimônio. Além de certos patrimônios nem sempre serem reconhecidos por outros grupos, alguns ainda podem vincular-se a mais de um, ou até migrar para outros. Dessa forma, mesmo que um patrimônio seja considerado “legado” de um povo e “conjugue o sentido de pertencimento a mais de um grupo”, não se pode ignorar a diversidade como essencial socialmente. O grande questionamento do texto é de como se pode pensar as relações entre os patrimônios e as culturas na sociedade contemporânea. Somando os diversos emblemas da sociedade atual, o capitalismo, a globalização, a desvalorização de minorias e culturas julgadas subdesenvolvidas e a individualidade ligada à memória cultural, responder tal pergunta parece uma linha tênue do que de fato é patrimônio. Conclui-se então que a cultura é uma construção social e que as pessoas trocam entre si uma gama de referenciais simbólicos e de práticas sociais. E um patrimônio, na contemporaneidade, tem simplesmente o papel de respeito à diversidade. Acredito que no Brasil, talvez mais que qualquer outro lugar, entender de fato a diversidade cultural é imprescindível para se reconhecer um patrimônio e as formas de intervir e restaurar. Além de sermos um país amplamente diverso, lidamos com problemáticas derivadas de uma colonização, que de certa forma, conta nossa história como povo, fazendo então parte de uma memória coletiva nacional. Como arquitetos e urbanistas temos que considerar não apenas a necessidade de manter uma “memória viva”, mas também tirar proveito de nossa abundante arquitetura pré-existente para sanar as consequências de nossa história e responder: Como podemos utilizar nossos patrimônios para melhorar a qualidade de vida da população?