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RESENHA: O QUE É GERAÇÃO BEAT

Bueno A, Góes F. O que é Geração Beat. Brasiliense; 1984.

                                                                                                                              Weverton Calixto
Monteiro

O livro O que é Geração Beat é dividido em 5 partes, sendo a últimas indicações


para leitura. Em sua primeira parte, o livro faz uma introdução sobre a geração beat e a
falta de conhecimento por grande parte da sociedade por esse movimento dos anos 50's nos
Estados Unidos. Escrito em 1994 o apresenta uma certa dificuldade de análise sobre a
geração beat, ou beatnik, por conta do intervalo histórico entre o movimento destes
escritores e o ano em que o livro foi lançado. Algumas das informações aparecem, de certa
forma, datadas para os dias de hoje; alguns conceitos apresentaram se alteraram desde
1984. De qualquer modo, é uma excelente obra, principalmente, para quem se iniciando nos
estudos sobre o que, de fato, foi o movimento beat -seu início, seu impacto, suas figuras
mais icônicas e suas obras mais notáveis tanto na prosa, quanto na poesia-.
Com diversos abundantes dados fatos históricos, o livro faz o leitor não só conhecer, mas
também refletir sobre o era a geração beat e os traços que ela deixou até o ano em que o
livro foi lançado, e como nós sabemos, o que dela se resulta até os dias de hoje.   

O exemplar analisa como a sociedade enxerga os membros da geração beat como


membros malta, associando-os à sujeira, "rebeldes sem causa" -que fazem paralelo com a
figura pessoal do James Dean-, arruaceiros que não deixavam nada além de problema e
confusão por onde trilhavam. Seguindo, com pesquisas e informações, o livro confronta
essa visão da sociedade, entregando dados históricos e comprobatórios que mostram ao
leitor que a geração beat era muito mais do que isso. Analisando a história de como se
surgiu essas obras, o livro mostra que o fundamental para o trabalho de criação destes
autores foram o ritmo do Jazz, afinal, a escrita acompanhava o balanço, as batidas e o ritmo
desse gênero musical, o famoso bop, a ausência de normas conflitando e aglomerando o
sagrado e o profano nas obras e a batalha dos próprios autores em seus posicionamentos
que apontavam para os extremos: conhecimento interior pacífico, intrapessoal, e o
ativismo político, interpessoal.

Para entender melhor sobre o que era geração beat, é interessante observar a
definição convertida que os autores, André Bueno e Fred Góes, realizam em análise:

"A Geração Beat foi uma


                                    geração em movimento: ia
                dos poemas, às estradas,
                                    passando por bares e cafés,
                  festas e drogas,
                                comunidades e qualquer
                                    outro palco onde estivesse a
                  vida."

Compreendi, com o auxílio do texto, que por mais que o movimento dos jovens da
cena beat se aproximassem do movimento de esquerda estes eram criticados pela própria
por não realizarem um "trabalho organizado" ou até "trabalho revolucionário".

Já a crítica formalista apresentada no texto também criticava o estilo dos beats,


necessariamente por conta de os textos serem muito soltos, uma vez que a estilística dos
textos buscava a fluência do Jazz e isso não agradava de forma alguma a ótica careta dos
críticos.

Um grande ponto pertinente que o livro apresenta é o conceito de apropriação


cultural, um tema tão debatido na atualidade, já havia sido motivo de polêmica em 1984,
citando o controverso caso de Chuck Berry e Elvis Presley.

Formidável também é o esforço em pesquisa que o livro realiza para nos informar
da maioria das influências que os Beats tiveram, grandes poetas, romancistas e músicas,
quebrando com o conceito que a alta sociedade de intelectuais formulava de que integrantes
do movimento não eram cultos por desdenharem dos moldes acadêmicos e engessados das
vigorosas universidades americanas. Enquanto os beats se interessavam nas estradas e na
prática, as universidades se fechavam com seus muros na teoria. Este fez foi um dos pontos
mais trabalhado nas obras da cena beat: críticas ácidas ao conservadorismo dos E.U.A. e
aos seus intelectuais. Ao passo em que os beats realizavam a exaltação do Jazz e das
minorias, eles também não poupavam rejeição ao imperialismo americano. O próprio termo
BEAT teve sua origem no Jazz, para eles, o gênero era a cura para uma sociedade doente e o
livro faz um admirável trabalho em detalhar essas informações.

Conceitos fortes e questões históricas como a guerra do Vietnã, o movimento hippie


nos anos 60 -que surgiu como um descendente direto do movimento beat-, a difusão do
zen-budismo, ruptura com o sonho americano idealizado nos E.U.A., guerra fria com seu
pesadelo refrigerado e, seu anti-capitalismo, consumismo desenfreado e o Macartismo
também são dissecados e devidamente colocados no mesmo panorama em que o
movimento beat ocorria, seus contrastes, efeitos e discrepância.

Outra tarefa que o livro realiza de forma fenomenal é o distanciamento e a clara diferença
entre os beats com o fascismo, fazendo duras críticas ao segundo grupo. Por mais óbvia que
seja essa dessemelhança, nos anos 50's, o conservadorismo tratava ambos como "farinha do
mesmo saco", um erro grotesco, mas que carregava ideais da sociedade conservadora para
derrubar a geração beat.

Por fim, este é um livro que conclui sua função admirável, pois além de todas as notas que
ele entrega com suas pesquisas, vai afundo em algumas das obras mais famosas de grandes
autores como: Jack Kerouac, Allen Ginseberg, William Burroughs, etc.) É um ótimo guia
para iniciantes desejam conhecer mais a fundo o que foi a geração beat.

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