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UTOPIA – THOMAS MORUS

Leonardo Garcia Santana

Thomas Morus (1478-1535) foi um político, humanista, e diplomata inglês,


atuou diretamente na política através da chancelaria e como ministro parlamentar.
Morus provém de um ambiente político, seu pai era juiz, isto pode ter influenciado a
seguir sua notável carreira política.

LIVRO PRIMEIRO

A primeira parte da obra utopia de Thomas Morus, compreendida no livro


primeiro, resumidamente relata uma crítica do autor contra a sociedade da Europa.
Ao ser apresentado por Pedro a Rafael Hitiodeu, um notável homem com
grandes experiencias, Morus se afeiçoa com as experiencias de suas viagens e
acompanha o relato de grandes momentos vividos pelo historiador.
Rafael, por um lado, trata de relatar suas experiencias e também fazer uma
dura crítica ao modelo social e político da época. Isto está explicito quando diz: “Em
primeiro lugar, os príncipes cuidam somente da guerra. [...] Eles desprezam as artes
benfazejas da paz.[...] nada os detém. Em compensação, ocupam-se muito pouco
de bem administrar os Estados submetidos à sua dominação.” (p. 20).
Nota-se grande teor de insatisfação e de indignação ao associar algumas
pessoas que deveriam ser sábias, de “julgadores rabugentos, insensatos ou
presunçosos.” (p. 22)
Ao contrapor sobre a questão das severas penas e leis contra os ladrões,
que estavam discutindo sob a mesa em sua viagem a Inglaterra, Rafael argumenta
que “a morte é uma pena injusta e inútil, bastante cruel para punir o roubo, e fraca
para impedi-lo” e que é a própria sociedade que produzem estes ladrões, os quais
são extorquidos pelos “grandes” suas terras, direitos, felicidades e até sua própria
subsistência, sendo necessário assim partir para o roubo para subsistir. Esta
miséria, Rafael explica que é causa do excessivo número de nobres e zangões
ociosos, como também por disputas de terreno.
Neste relato do livro, o historiador faz também uma suposição para acabar o
marginalismo: “fácil seria torna-los laboriosos e úteis, dando-lhes um ofício honrado
e habituando-os a viver do trabalho de suas mãos.” (p. 28). Sobre as disputas de
terreno, ele cita que elas provocam mudanças na produção, causando assim a falta
de subsistência do próprio agricultor e de outros que vivem de sua contribuição. Ao
defender os ladrões, vítimas dessa sociedade opressora citada por ele, Rafael diz
que “qual é o seu crime? É o de não achar ninguém que queira aceitar os seus
serviços, ainda que eles os ofereçam com os mais vivos empenhos.” (p. 30) e que “a
escassez geral obriga todo o mundo a restringir sua despesa e sua criadagem. E os
que são despedidos, para onde vão? Mendigar ou roubar, se tem coragem.”
Diante da indignação de sua visão da sociedade da época ele enfatiza que
para que tenha uma sociedade mais justa deve ser realizada algumas medidas:

Arrancai de vossa ilha essas pestes públicas, esses


germens do crime e da miséria. Obrigai os vossos nobres
demolidores a reconstruir as quintas e burgos que destruíram, ou a
cederam os terrenos para os que quiserem reconstruir sobre ruínas.
Colocai um freio no avarento egoísmo dos ricos; tirai-lhe o direito do
açambarcamento e do monopólio. Que não haja mais ociosos entre
vós. Dai à agricultura um grande desenvolvimento; criai a manufatura
da lã e a de outros ramos da indústria, para que venha a ser ocupada
utilmente essa massa de homens que a miséria transformou em
ladrões, vagabundos ou lacaios, o que é aproximadamente a mesma
coisa. Se não remediardes os males que vos assinalo, não vos
vanglorieis de vossa justiça; é ela uma mentira feroz e estúpida. [...]
E, no entanto, que é que fabricais? Ladrões, para ter o prazer de
enforca-los. (p. 32-33)

Rafael defende a igualdade na porção de bens, uma situação utópica para


aquela realidade em que se situava, uma vez que a nobreza e a igreja possuíam
grandes partes delas e de certa forma podiam toma-las de seus súditos: “Minha
convicção intima, eminencia, é que é injusto matar-se um homem por ter tirado
dinheiro de outrem, desde que a sociedade humana não pode ser organizada de
modo a garantir pra cada um uma igual porção de bens.” (p. 34).
Para citar um dos modelos de sociedade justa, Rafael cita o modelo polilerita
danação Persia:

Além do tributo anual que pagam ao rei da Pérsia, gozam


de liberdade e se governam por suas próprias leis. Longe do mar,
cercados de montanhas, se satisfazem com os produtos do seu solo
feliz e fértil; vão raramente a outros lugares e raramente outros vêm
ao seu país. [...] Quando ali um indivíduo é apanhado em furto,
obrigam-no, primeiro, a restituir o objeto roubado ao proprietário e
não ao príncipe, como é de uso em outras partes. Os polileritas
julgam que o furto não destrói o direito de propriedade. Se o objeto
foi danificado ou perdido, o valor dele é descontado dos bens do
autor do furto, deixando-se o que sobrar do desconto à sua mulher e
filhos. Ele é condenado aos trabalhos públicos. (p. 37-38)

Este modelo argumentado por Rafael, tende a uma certa semelhança a ilha
de utopia que tratará no outro livro.
Ao ser indagado por Morus à possibilidade de estar participando do estado,
Rafael apresenta o motivo e as questões que o impediria de sair com êxito de tal
suposição. À suposição de participar de reuniões que levantem afirmações em favor
da nobreza e ao desprezo dos direitos básicos do indivíduo, ele se alteraria de forma
a ser bastante sincero em suas colocações:

Os homens fizeram os reis para os homens e não para os


reis; colocaram chefes à sua frente para que pudessem viver
comodamente ao abrigo das violências e dos ultrajes; o dever mais
sagrado do príncipe é velar pela felicidade do povo antes de velar
pela sua própria; como um pastor fiel, deve dedicar-se a seu
rebanho, e conduzi-lo às pastagens mais férteis. Sustentar que a
miséria pública é a melhor salvaguarda da monarquia, é sustentar
um erro grosseiro e evidente. (p. 58).

Ao voltar-se aos príncipes, Rafael demonstra sua aversão ao principado de


sua época, referindo que sua dignidade não está sobre reinar entre os mendigos,
mas sim entre os ricos e felizes:

ó vós que não sabeis governar senão arrebatando aos


cidadãos a subsistência e as comodidades da vida! - confessai que
sois indignos e incapazes de dirigir homens livres! Ou então corrigi
vossa ignorância, vosso orgulho e vossa preguiça: é isso o que
excita o ódio e o desprezo pelo soberano. Vivei de vosso patrimônio,
segundo a justiça; medi vossas despesas na proporção de vossas
rendas; detei as torrentes do vício; criai instituições de
benemerência, que previnam o mal e o estiolem no germe, ao em
vez de inventar suplícios contra os infelizes que uma legislação
absurda e bárbara impele ao crime e à morte.
Não ressusciteis leis carunchosas caídas no olvido e no
esquecimento, lançando sobre os vossos súditos toda a sorte de
obstáculos. Não eleveis o preço de um delito a uma taxa que o juiz
condenaria, como injusta e vergonhosa, entre simples particulares.
Tende sempre diante dos olhos este belo hábito dos macarianos. (p.
59-60).

Rafael ao revelar seus pensamentos mais íntimos a Morus, levanta sua


concepção social e política justa:
Em toda a parte onde a propriedade for um direito
individual, onde todas as coisas se medirem pelo dinheiro, não se
poderá jamais organizar nem a justiça nem a prosperidade social, a
menos que denomineis justa a sociedade em que o que há de melhor
é a partilha dos piores, e que considereis perfeitamente feliz o Estado
no qual a fortuna pública é a presa de um punhado de indivíduos
insaciáveis de prazeres, enquanto a massa é devorada pela miséria.
(p. 65-66)

Assim, apresenta alguns meios para que cure o mal social, tais são:
“Decretar um máximo de posse individual em terras e dinheiro; premunir-se por meio
de severas leis contra o despotismo e a anarquia; Denunciar e castigar a ambição e
a intriga. Não traficar as magistraturas; Suprimir o fausto e a representação nos altos
cargos, a fim de que o funcionário, para sustentar sua posição, não se entregue à
fraude e à rapina; ou, a fim de que não seja obrigado a dar aos mais ricos os cargos
que deveriam caber aos mais capazes”
Após esta colocação, Pedro Gil apresenta uma certa dúvida de povos que
possam existir seguindo tais concepções de Rafael. Assim, o historiador o responde
com o exemplo da sociedade da ilha de Utopia, a qual Morus dedica o segundo livro,
tratando sobre a descrição desta “maravilhosa ilha”.

LIVRO SEGUNDO

No inicio desta parte do livro, Rafael (personagem fictício que seria o próprio
Thomas Morus) descreve a parte física natural da ilha, com seus duzentos mil
passos de largura na parte media, com uma forma de um semicírculo.
Uma ilha espaçosa, com linguagem, instituições, hábitos, leis idênticas entre
si. Seus habitantes são vistos como rendeiros do que como proprietário do solo (daí
se chama a atenção da sua crítica contra a propriedade individual). Há casas
comodantes pelos campos com todas as coisas necessárias para a subsistência de
seus moradores.
A família agrícola se compõe de quarenta indivíduos, homens e mulheres, e
de dois escravos, sob a direção de um pai e de uma mãe de família, pessoas graves
e prudentes. O filarca é responsável por trinta famílias. E os cultivadores são sempre
rotacionados a cada ano a fim de não consumirem muito tempo de sua vida nos
trabalhos materiais mais penosos. As quantidades de alimentos são determinadas
de forma precisa, sendo reservado o excedente para os países vizinhos. Os
magistrados garantem meios para ajudar na subsistência.
Dessa forma, o relator passa de uma forma introdutória sobre as coisas
gerais da ilha de utopia.

 Das cidades da utopia e particularmente da cidade de Amaurota

Amaurota é a sede do governo e do senado. Todas as cidades são


semelhantes. No início desta parte, o autor faz uma breve descrição sobre as
propriedades físicas da cidade. Nestas cidades, os habitantes aplicam o principio da
posse comum, trocam de casa todos os dez anos e tiram a sorte da que lhes deve
caber na partilha, de forma que a propriedade se torne comunitária, saindo do
conceito da propriedade individual de sua época. Os utopianos mantem as cidades e
tudo aquilo que está e refere sobre ela de forma cuidadosa, garantindo que ela se
perpetue por muito tempo, visando o bem comum.
Por fim, relata sobre o fundador do império utopiano o Utopus, o legislador
que projetou esta ilha.

 Dos Magistrados
O magistrado é eleito anualmente pelas trinta famílias, ele é denominado
sifogrante. Dez sifograntes e suas trezentas famílias obedecem a um protofilarca.
Todos os sifograntes elegem por escrutínio um príncipe que é vitalício, a menos que
seja suspeito de tirania.
A questão da legislação na ilha de utopia é organizadamente formulada,
sendo as propostas discutidas somente à próxima sessão. As propostas são
discutidas em assembleia popular, enviadas aos sifograntes que transmitirão ao
senado. Toda a ilha é consultada.

 Das artes e Ofícios


As crianças desde cedo aprende com passeios recreativos de suas escolas
a teoria e prática nos campos da cidade, de forma que aprendam a trabalhar e
também trabalhem.
Além da agricultura, é ensinado também outros ofícios. As roupas possuem
a mesma forma para todos os habitantes, de modo que facilitem a vida e trabalho
destes. Os homens são encarregados das coisas penosas e as mulheres das mais
fracas. Os habitantes são livres para exercer a função que melhor convier, porém, a
cidade pode lhe designar uma função por motivo de utilidade pública.
Os sifograntes velam para que ninguém seja ocioso e preguiçoso, de forma
que todos exerçam com animo a sua profissão. O trabalho é dividido em seis horas,
três são dedicadas antes do meio dia, depois do almoço do meio dia repousam
durante duas horas e logo após completam suas outras três horas de trabalho, para
finalizar com a janta e o sono. Todas as manhãs os cursos públicos são abertos, e
todos tem direito de assisti-los.
À noite, depois do jantar, os cidadãos utopianos dedicam 1 hora ao
divertimento, sem voltar aos jogos de azar, considerados por eles estupidos e
perigosos, praticando somente aquelas coisas que estimulam as virtudes.
As horas de trabalho produzem abundantemente para todas as
necessidades e comodidades da vida, e ainda um supérfluo.
Nesta parte do livro, Rafael (Morus) aponta uma reflexão sobre o modelo
atual de sociedade que ele se situa:

Compreendereis facilmente se refletirdes no grande número


de pessoas ociosas existentes nas outras nações. Antes de tudo, são
essas quase todas as mulheres, que em si já constituem a metade
da população, e a maioria dos homens, ali onde as mulheres
trabalham. Em seguida, esta imensa multidão de padres e religiosos
vagabundos. Somai ainda todos esses ricos proprietários
vulgarmente chamados nobres e senhores; acrescentai também as
nuvens de lacaios e outro tanto de malandros de libré; e o dilúvio de
mendigos robustos e válidos que escondem sua preguiça sob o
disfarce de enfermidades. E achareis, em resumo, que o número dos
que, por seu trabalho, provêm ao gênero humano de todas as
necessidades é bem menor do que imaginais.
Considerai também como são poucos aqueles que a
trabalhar estão empregados em coisas verdadeiramente
necessárias. Porque, neste século de dinheiro, onde o dinheiro é o
deus e a medida universal, grande é o número das artes frívolas e
vãs que se exercem unicamente a serviço do luxo e do
desregramento. Mas se a massa atual dos trabalhadores estivesse
repartida pelas diversas profissões úteis, de maneira a produzir
mesmo com abundância tudo o que exige o consumo, o preço da
mão de obra baixaria a um ponto que o operário não poderia mais
viver de seu salário. (p. 92)
Em utopia os magistrados trabalham como os outros cidadãos, a fim de
estimula-los como exemplo. Os letrados são isentos de trabalho, dedicando aos
estudos intelectuais. Eles são responsáveis pela escolha dos embaixadores, padres,
protofilarcas e o príncipe.
Em seguida Rafael comenta sobre a organização dos habitantes em manter
a cidade e todos os edifícios em perfeito estado, também sobre as vestimentas que
facilitam sua vida laboriosa e social e acerca da superprodução e seu destino e
consequências na sociedade utopiana. E finaliza relatando a função das sociedades
publicas presente nesta sociedade:

O fim das instituições sociais na Utopia é de prover antes


de tudo às necessidades do consumo público e individual; e deixar a
cada um o maior tempo possível para libertar-se da servidão do
corpo, cultivar livremente o espírito, desenvolvendo suas faculdades
intelectuais pelo estudo das ciências e das letras. É neste
desenvolvimento completo que eles põem a verdadeira. felicidade.
(p. 96-97)

 Das Relações mútuas entre os cidadãos

A cidade é comporta por famílias na sua maioria unidas pelos laços de


parentesco. As cidades mantem-se em equilíbrio populacional. Quando foge do
equilíbrio são tomadas medidas para manter o equilíbrio novamente, tais como:
incluir membros em famílias menos numerosas, ir para cidades menos povoadas ou
emigração geral, fundando uma nova colônia.
O mais idoso preside a família, as mulheres servem seus maridos; as
crianças a seus pais, e os jovens aos mais velhos.
Os sifograntes residem em palácios com suas trinta famílias, onde farão a
refeição em comum. Os hospitais possuem abundancia de remédios e coisas
necessarias ao restabelecimento da saúde.
Nos jantares, os escravos fazem os trabalhos mais penosos e sujos. As
mulheres cozinham os alimentos, servem e tiram a mesa. As crianças e as amas
sentam-se em uma sala particular, ficando as crianças de 0 a 5 anos. A refeição
diurna tende a ser mais rápida que a noturna em razão do trabalho.

 Das viagens dos utopianos


Os cidadãos podem viajar, desde que não sejam impedidos, indo em
conjunto, munem-se da autorização em carta do príncipe e são dispostos de todos
os meios para que não passem por necessidades.
Nesta parte do livro, o autor descreve também sobre os tesouros e suas
economias. Nesta ilha é exportado produtos para os outros lugares, atuando sobre
os negócios. Na utopia não se utiliza dinheiro como transação, sendo utilizado
somente em momentos críticos. O ouro e a prata, cultuado e muito valioso em outros
lugares, nesta ilha não são valorizados, sendo utilizados nos escravos. Esta crítica
está ligada à riqueza material dos nobres na conjuntura de Thomas Morus. Seus
cidadãos são abertos à todos os conhecimentos, desde que não atrapalhe a ordem
de sua sociedade, e também estão dispostos em ensinar e trabalhar para ajudar as
outras nações. Eles vivem sob a virtude, vivendo segundo a natureza, obedecendo à
voz da razão. Para eles, a sabedoria reside em procurar a felicidade sem violar as
leis, trabalhando pelo bem comum: “Assim, em ultima analise, os utopianos reduzem
todas as ações e mesmo todas as virtudes ao prazer, como finalidade” (p. 125). As
vaidades são vistas de forma ridícula, como também os jogos de prazeres de caça e
azares. Estes se dedicam aos prazeres da alma: “Eles mantêm e cultivam de boa
vontade a beleza, o vigor, a agilidade do corpo, os dons mais agradáveis e felizes da
natureza.” (p. 135).
Ainda, nesta parte do livro, descreve qualidades do povo utopiano, como
sendo um povo ágil e nervoso, vigoroso, espiritual, amável, engenhoso, ama o lazer,
é paciente no trabalho, apaixonados pelo exercido e o desenvolvimento de espirito.

 Dos escravos

Nem todos os prisioneiros são entregues à escravidão, nem os filhos de


escravos são escravos. A escravidão recai somente sobre os cidadãos que possuem
culpas gravíssimas de grandes crimes. Há escravos que são voluntários, estes são
livres e recompensados quando saem do voluntariado.
Também nesta parte do livro, o autor trata sobre a questão da doença e da
morte. Ao falar sobre o casamento, ele relata que os utopianos valorizam o amor
conjugal, e quando este é dissolvido, o cônjuge é condenado a viver perpetuamente
no celibato. E o divorcio é raramente permitido. Sendo o adultério punido com a mais
dura escravidão, sendo sua reincidência punida com a morte.
Ao criticar a pena de morte de sua conjuntura, o autor idealiza na utopia de
que a pena maior de qualquer crime é a escravidão. Os utopianos não somente
afastam o crime pelas leis penais, como incitam à virtude com honrarias e
recompensas.
Sobre a questão da igualdade e das qualidades dos cidadãos, descreve que
os utopianos têm respeitos às pessoas elegidas aos diversos cargos, e estes não
são orgulhosos, tendo a justiça e bondade. O príncipe de utopia não se distingue
dos cidadãos, nem o sacerdote. Não há advogados, eles preferem defender sua
causa e confiar diretamente ao juiz, que examina de boa fé. Por fim, “Os utopianos
têm por princípio que não se deve ter por inimigo senão aquele que se torna culpado
de injustiça ou violência. A comunhão na mesma natureza parece-lhes um laço mais
indissolúvel do que todos os tratados.” (p. 159)

 Da guerra

Os utopianos abominam a guerra, mas a fazem somente por graves motivos,


para defender suas fronteiras ou repelir uma invasão inimiga. Assim, eles dedicam
certos dias para exercitar fisicamente. Gratuitamente prestam socorros a seus
amigos.
Em uma situação onde um utopiano seja maltratado ou morto injustamente,
os embaixadores punem os autores do crime com a morte ou escravidão.
São ágeis a ponto de tentar artifícios para que evitem uma guerra sangrenta.
Cada cidade recruta e exercita suas tropas formadas pelos que se alistam
voluntariamente. Suas armas são trabalhadas de forma que sejam poderosas e
surpreendentes. E através de sua vitória, não devastam terras, mas aproveitam cada
conquista para que obtenha desenvolvimento.

 Das religiões da utopia

As religiões de utopia são variadas. Porém, todos reconhecem a existência


de um único Deus, eterno, imenso, desconhecido, inexplicável, acima das
percepções do espírito humano, rendendo a ele unicamente, homenagens divinas.
Os utopianos prezam pelos rituais, tanto pelos rituais de exéquias quanto os
rituais de costumes no templo da cidade. Este templo não possui nenhuma imagem
ou referencias a algum Deus, pois deixam livremente para o culto individual,
tornando-o assim ecumênico.
Eles valorizam os padres e pontífices pelo seu íntimo trabalho público,
presidindo as coisas divinas, velam sobre a religião e são censores dos costumes.
Eles são eleitos pelos magistrados, e são educadores infantis, ensinando a moral e
a virtude.
Por fim, termina toda a centralidade do livro desejando a todos os países
uma república semelhante à que acabara de escrever.

ANÁLISE PESSOAL

Ao escrever esta obra, Morus se coloca como Rafael, através de uma estória
para amenizar sua condenação direta.
Morus se encontra em uma realidade de transformações sociais. A
descoberta do novo mundo, a insatisfação com a nobreza, com o absolutismo, com
a religião, com as leis, com a economia e a corrupção centrada nas mãos dos que
estão no “topo da pirâmide social” e a ociosidade destas pessoas, foram fatores
essenciais para o pensamento de Morus ao escrever esta obra.
Ele termina a obra querendo objetar questões levantadas por Rafael, porém
não faz isso preocupado que o assunto estenda. Porém, esta tática de Morus revela
um modo de se safar da condenação depois de ter escrito se passando pelo
personagem Rafael, condenando a sociedade atual em que ele estava situado.
Nota-se que suas observações são interessantes ao observar sobre o bem
comum, as aplicações justas das leis, e a desvalorização do prazer material,
situações que precisam ser aplicadas na atualidade em meio às injustiças
legislativas, o mal acima das coisas e sobre a valorização dos bens materiais.
BIBLIOGRAFIA

MORUS, Thomas. Utopia. Florianópolis: Ridendo Castigat Mores, 2001

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