Você está na página 1de 71

Nutrologia de Cães e

Gatos

Prof. Dr Marcio Antonio Brunetto


FMVZ/USP
Classe Mamíferos
Ordem Carnivora
Sub-ordem Caniformia Sub-ordem Feliformia
Canedae Procyonidae Ursidae Hyaenidae Herpestidae Felidae
Comportamento alimentar natural do cão

 caçam em grupos - presas grandes


 competição na alimentação
 ingestão rápida do alimento
 grande quantidade de alimento por refeição
 alimentação intermitente
 ingerem frutas e algumas
plantas
E Axelsson Nature, 1-5 (2013) doi:10.1038/nature11837
Comportamento alimentar natural do gato

 Caçadores solitários
 Caçam ratos, pássaros, pequenos lagartos e
insetos
 Fazem várias pequenas refeições
(13 a 16 refeições /dia)
 Não se alimentam de frutas ou
vegetais
Particularidades nutricionais dos felinos

 Alta necessidade protéica (N e aminoácidos);


Arginina
Taurina
 Inabilidade de síntese vitamina A a partir de
carotenóides
 Baixa capacidade de síntese de Vitamina D
 Não conversão de triptofano em Niacina

(MORRIS, 1985, 2001)
Particularidades nutricionais dos felinos

 Necessidade de tirosina

 Necessidade de ácido araquidônico

 Metabolismo de carboidratos

(MORRIS, 1985, 2001)
“Elevada ingestão de amido (carboidratos, grão)
leva os gatos a obesidade e ao diabetes mellitus”

Posição oficial do American College of Veterinary Internal Medicine


(2011)

 Obesidade é influenciada pela ingestão de gordura, não de 
amido
 Gatos digerem mais de 98% do amido das rações, mesmo sendo 
carnívoros, digerem carboidratos muito bem
 O consumo de amido não altera a glicemia pos‐prandial de 
felinos
 Apenas a composição corporal leva a resistência insulínica: 
obesidade, independentemente da dieta
Energia
Termo utilizado em nutrição para descrever a 
energia química contida nos alimentos

Não é um nutriente por si próprio, mas uma


propriedade conferida à dieta por gorduras,
proteínas e carboidratos.
Energia

Derivada da oxidação de moléculas


orgânicas do alimento ou das reservas de
proteína, gordura e carboidratos do corpo
Energia
Todas as funções e processos vitais e
bioquímicos dos animais requerem energia.

andar, mastigar, digerir, regular temperatura corporal,


manter gradientes iônicos, síntese hepática de glicose,
absorver nutrientes pelo TGI, estocar glicogênio e
gorduras, síntese de proteínas...
Energia
A transferência de energia do nutriente para o organismo é feita
por uma série de reações bioquímicas enzimáticas que geram
outros compostos que contêm energia biodisponível ao
organismo.

O mais importante é o adenosina trifosfato (ATP)


Energia

Processos de oxidação de nutrientes


• Glicólise
• β-oxidação
• Desaminação
• Ciclo do ácido tricarboxílico
• Fosforilação oxidativa

Consomem energia para impulsionar íons, sintetizar


moléculas e ativar proteínas contrácteis
Energia

Necessidades Quantidade
do animal no alimento

ENERGIA

QUANTIDADE DE ALIMENTO
A SER INGERIDO
Componentes do
gasto energético
Componentes do gasto energético

1. Taxa Metabólica Basal


 60 a 75% do gasto diário
 Inerente ao metabolismo básico
 Energia gasta pelo organismo em repouso sob
condições de neutralidade térmica, 12hs após a última
refeição
Taxa metabólica basal

Corresponde de 65% a 70% das necessidades de EM

35-50% manutenção celular


(transp ions, turnover protéico e lipídico)

35-50% funções de suporte


(circulação, respiração, trabalho hepático e renal
função nervosa)

Varia com idade, peso corporal, raça, espécie, sexo,


status fisiológico, temperatura ambiente.
Componentes do gasto energético

2. Atividade Muscular Voluntária

 30% do gasto diário


 Peso e tamanho do animal, grau, duração e
intensidade do exercício físico
Componentes do gasto energético

3. Incremento calórico

 10% das calorias ingeridas

 “Termogênese induzida pelo alimento”

 Calor produzido pela digestão e absorção dos


nutrientes
Componentes do gasto energético

4. Termogênese adaptativa

 Perda energética adicional não obrigatória


 Mudança na taxa metabólica basal
• mudança ambiental
• alterações no consumo de alimentos
• estresse
Fatores que afetam o gasto energético
Taxa metabólica em repouso gatos (Hoenig et al., 2002)

120
100 100
100

80 72
67

60

40

20

0
machos fêmeas
inteiros castrados
Como escolher ou indicar a dieta
mais apropriada?

Conhecimento das
necessidades nutricionais e
particularidades da espécie e
do indivíduo em questão
Principais fatores a considerar
 Espécie
 Idade Tipo de dieta
 Condição reprodutiva
 Nível de atividade
Quantidade a 
 Gestação ser oferecida
 Lactação
 Raça
Cães e Gatos Adultos
Cães adultos em manutenção

Fatores principais a considerar

 Nível de atividade

 Condição reprodutiva

 Escore corporal
Cães adultos em manutenção

 Alimentos comerciais
 Alimentos para cães adultos em manutenção

 Alimentos para raças pequenas, médias, grandes e gigantes

 Raças com tendência à obesidade: alimentos light

 Controle da quantidade

 Alimentos indoor – animais de apartamento

 Menos calóricas e com redutores de odor de fezes


Necessidades nutricionais de cães adultos
AAFCO (2009)ª NRC (2006)b
Nutriente % sobre a matéria g/kg MS (dieta de 4.000
seca kcal)
Proteína 18 100
Arginina 0,51 3,5
Lisina 0,63 3,5
Metionina-cistina 0,43 6,5
Triptofano 0,16 1,4
Ácido linoleico 1,0 11
Cálcio 0,6 4,0
Fósforo 0,5 3,0
Magnésio 0,04 0,6
Zinco (mg/kg) 120 60
Vitamina A (UI/kg) 5000 5000
a – necessidades mínimas    b‐ Recommended allowance
Necessidades energéticas de
manutenção para cães adultos
Tipo Kcal/dia

Cão adulto jovem e 140 x (PC)0,75


ativo*
Dogue Alemão ativo 200 x (PC)0,75
Cão adulto ativo 130 x (PC)0,75
Terriers ativos 180 x (PC)0,75
Cães inativos* 95 x (PC)0,75
Idosos ativos ou 105 x (PC)0,75
Newfoundlands
PC = peso corporal em kg (NRC, 2006)
Gatos adultos em manutenção
 Maior necessidade proteica

 Taurina é essencial

 Maior necessidade de arginina, metionina e cisteína

 Ácidos graxos essenciais - derivados do linolênico

 Maior necessidade de niacina (B3) e piridoxina (B6)

 Não sintetizam a vit A a partir do betacaroteno

 Não sintetizam a vitamina D através da pele


Gatos adultos em manutenção

 Grande tendência à obesidade

 Animais inativos (indoors) e castrados Alimentos para gatos adultos


 Alimento ad libtum Alimentos lights
Alimentos para gatos castrados
 pH urinário
 Doença do trato urinário inferior de felinos
 Dieta deve ter controle do pH urinário
 Acidificantes
 Diurese
Necessidades nutricionais de gatos adultos
AAFCO (2009)a NRC (2006)b
Nutriente % sobre a matéria seca g/kg MS (dieta de 4.000 kcal)
Proteína 26 200
Arginina 1,04 7,7
Lisina 0,83 3,43,4
Metionina-cistina 1,10 6,5
Taurina 0,10 0,4
Ácido linoleico 0,5 11
Ácido araquidônico 0,02 0,06
Cálcio 0,5 2,9
Fósforo 0,5 2,6
Magnésio 0,04 0,4
Vitamina A (UI/kg) 5000 3333
Niacina (mg/kg) 60 40
a – necessidades mínimas    b‐ Recommended allowance
Necessidade energética diária de
manutenção para gatos adultos

Tipo Energia metabolizável/dia

Gatos domésticos magros 100 x (PC)0,67

Gatos domésticos obesos 130 x (PC)0,4

(NRC, 2006)
Costa, F. A.
Costa, F. A.
Fonte: HOVET/USP
Quanto fornecer?
Quantidade a ser fornecida

ENERGIA

Proteínas Carboidratos Gorduras

Substrato para crescimento, 
manutenção, reprodução, 
lactação, atividade física.....
Quantidade de energia do alimento

Cálculo da estimativa da energia metabolizável

Cálculo pela fórmula de Atwater modificado:

EM (kcal/100g) = (3,5 x Proteína) + (3,5 x carboidratos) + (8,5 x gordura)

No rótulo do alimento:
Proteina = Proteina bruta
Gordura = Extrato etéreo
Carboidratos = Extrativo não-nitrogenados – devem ser calculados pela diferença

ENN = 100 - (Umidade + PB + EE + Fibra + Mat. Mineral)


Quantidade de energia do alimento
Alimento com:
10% umidade; 24% PB; 12% EE; 8% MM; 3% FB

1. Calcular ENN
ENN = 100 – (10 + 24 + 12 + 8 + 3) = 43%

2. Calcular EM = (3,5 x 24) + (3,5 x 43) + (8,5 x 12)

EM = 84 + 150,5 + 102

EM = 336,5 kcal/100g 3,36kcal/g


Quantidade de energia do alimento

Cálculo da estimativa da energia metabolizável

Alimento seco
EM(kcal/100g) = (%PB x 5,65) + (% EE x 9,4) + (% ENN x 4,15) x 0,99 - 126

Alimento úmido
EM(kcal/100g) = (%PB x 3,9) + (% EE x 7,7) + (% ENN x 3,0) - 5
Estimativa da energia do alimento

PB x 3,5; EE x 8,5; ENN x 3,5


Estimativa da energia do alimento

Nova equação NRC


Estimativa da energia dos alimentos
Gatos
Quanto fornecer?

Calcular a necessidade de 
energia metabolizável diária
Necessidade energética de
manutenção para cães adultos
Tipo Kcal/dia

Cão adulto jovem e 140 x (PC)0,75


ativo*
Dogue Alemão ativo 200 x (PC)0,75
Cão adulto ativo 130 x (PC)0,75
Terriers ativos 180 x (PC)0,75
Cães inativos* 95 x (PC)0,75
Idosos ativos ou 105 x (PC)0,75
Newfoundlands
PC = peso corporal em kg (NRC, 2006)
Quanto fornecer?

Cadela labrador, adulto, 28 kg

EM (kcal/dia) = 95 (peso kg)0,75


= 95 (28) 0,75 = 95 (12,2)
= 1.159 kcal/dia
Quanto fornecer?

Quantidade necessidade de EM/dia


de ração = EM g alimento

1.159
= 3,36

= 344 gramas/dia
Quanto fornecer?

Gato, SRD, adulto, magro, 5kg

EM (kcal/dia) = 100 (peso kg)0,67


= 100 (5) 0,67 = 100 (2,93)
= 294 kcal/dia
Quanto fornecer?

Quantidade necessidade de EM/dia
de alimento = EM g alimento

294
= 3,8

= 77 gramas/dia
Associação Mundial de Medicina
Veterinária de Pequenos Animais

1. Temperatura
2. Pulso
3. Respiração
4. Avaliação da Dor
5. Avaliação Nutricional

Avaliação nutricional tem papel fundamental 


para o cuidado ótimo do paciente e deve deve fazer
parte da avaliação de rotina
1ª Etapa: Avaliação de triagem

‐ Inquérito nutricional
‐ Exame físico
‐ Avaliar fatores de risco nutricional

Ausência de  Presença de 
fatores de risco fatores de risco

Término da  2ª Etapa: Avaliação 
avaliação aprofundada
(Parr; Remillard, 2014)
FATORES DE RISCO NUTRICIONAL
Condição corporal

Costelas
Vértebras lombares
Fonte: HVGLN / FCAV - Unesp Ossos da pélvis Fonte: HVGLN / FCAV - Unesp
Curvatura abdominal     
Cintura
Gordura aparente

Fonte: HVGLN / FCAV - Unesp Fonte: HVGLN / FCAV - Unesp


Condição corporal

(Laflamme, 1997)
(Mawby et al., 2006)
Condição corporal

1 ‐ caquético 5 ‐ ideal 9 ‐ obeso


Costelas palpáveis com
Costelas, vértebras lombares  Costela palpável, sem 
dificuldade, recobertas por
e ossos pélvicos facilmente  excesso de tecido adiposo.  excesso de tecido adiposo.
visíveis. Não há gordura  Presença de cintura após as  Depósitos de gordura sobre
palpável. Afundamento da  costelas. Afundamento do  a região lombar e base da
cintura e abdômen abdômen cauda. Não existe cintura
Condição corporal
Sistema envolve
avaliação visual e palpação
Sistema envolve
avaliação visual e palpação
Fonte: HVGLN / FCAV - Unesp
Fonte: HVGLN / FCAV - Unesp
Fonte: HVGLN / FCAV - Unesp
Porcentagem de massa gorda
em diferentes raças (ECC 5 de 9)

35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
greyhound Std Poodle Golden Dachshund Siberian
Retriever Husky
Condição corporal

ECC ≥ 5: Maiores taxas de sobrevivência

ECC 1 a 3 ECC: sinaliza os pacientes que


necessitam de suporte nutricional mais
intensivo e que não podem permanecer em
anorexia

Pior prognóstico e maior morbidade! 
(BRUNETTO et al., 2009)
Escore de massa muscular (EMM)
Escore de massa muscular
Escore de massa muscular (EMM)

Escore 3
Massa muscular normal, sem perda 

Escore 2
Perda muscular leve

Escore 1
Perda muscular moderada

Escore 0
Perda muscular acentuada
(Michel et al., 2011)
Escore de massa muscular

Perda de tecido 
muscular

Você também pode gostar