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AS DINÂMICAS DO DESENVOLVIMENTO SUL COREANO NO PERÍODO PÓS

GUERRA FRIA

Pedro Miguel Pessoa Silva¹

Resumo

Este artigo busca explicar e explorar as facetas por trás do ávido desenvolvimento
Sul Coreano no período Pós-Guerra Fria,adentrando no novo século. Separando essa
análise por tópicos, onde serão tratadas por áreas as especificidades do país discutido
dentro do recorte temporal proposto. Esses tópicos, terão foco maior no desenvolvimento
econômico, social, ambiental, cultural e nas relações exteriores. Onde serão feitas
comparações com os governos do país durante o período da Guerra Fria, e as
características autoritárias no período das Coréias Unificadas. Para melhor se
compreender o caso e análise, serão utilizadas ideias de Carlos Eduardo Vidigal, onde o
mesmo fala sobre Nova Ordem Mundial, Gilberto Dupas para maior compreensão da
esfera ambiental, e os relatórios do Banco Mundial. Além de autores Sul-Coreanos como
lpyong J. Kim, Seok‐soo Lee e Chung-In Moon, todos especialistas no período
Pós-Guerra Fria. Por fim, observar os dados a partir das singularidades estudadas para
se traçar um panorama da condução Coreana, se atentando às relações e perspectivas
do país.

Palavras-chave: Ásia. Coreia do Sul. Guerra Fria. Política Externa. Leste da Ásia.
Economia. Geopolítica. Desenvolvimento.

1. Introdução

Quando falamos sobre a República da Coreia, precisamos entender que o contexto


da Ásia é único em diversos fatores, entre eles, estão os moldes de interação entre os
estados, e isso se torna mais singular ainda quando citamos a Ásia do Leste. Se trata de
uma região quase que autônoma economicamente e por muito tempo, e a entrada em um
sistema democrático capitalista global se deu de maneira relativamente tardia, todavia, a
participação Sul Coreana se dá de maneira impactante tanto no período da Guerra Fria,
como no período posterior.
A característica que distinguia a Guerra Fria das demais, era a bipolaridade
estrutural que "dividia o mundo em dois", sendo uma parte sob influência dos Estados
Unidos da América (EUA) e a outra sob égide da extinta União Soviética (URSS). Porém,
ao citar essa bipolaridade, é necessário dizer que muitos outros países além dos dois
grandes "influenciadores" tiveram participação ativa no período. Essa característica é o
que a revista Asian Perspective² vai chamar de "Causas Estruturais de Cooperação".
Estrategicamente, a o Leste da Ásia é uma área de importância crucial principalmente
para os EUA, também por motivos geopolíticos devido à proximidade com a URSS. Com
isso, podemos ver uma evolução das relações entre Estados Unidos e Coreia do Sul
desde 1945, e aumento na cooperação relativa aos setores econômico e militar. É
possível dizer que a Guerra Fria estreitou em grande parte as relações entre Coreia do
Sul e Estados Unidos, mesmo sendo esse relacionamento considerado como algo
próximo ao de um patrão com um vassalo, devido a quebra de autonomia política
promovida pelos EUA no território do país asiático, em troca de assistência militar e
segurança regional.

Se vê necessário explicar que esse relacionamento assimétrico não teve início na


Guerra Fria, e sim em 1940, e se fortaleceu com o fim da Guerra das Coreias. Quando
nos encaminhamos para analisar o período pós Guerra Fria, a Coreia do Sul se mostra
um dos estados com situação mais delicada por consequência de sua alta dependência
militar e econômica com os Estados Unidos. Sendo essa alimentada desde 1940, o
patronato por parte dos EUA agora se vê ameaçado, forçando o país do Leste Asiático a
se reorganizar internamente e desenvolver regionalmente de outras maneiras.

2. O Desenvolvimento Econômico no Período Pós Guerra Fria

Os impactos da influência americana transformaram toda uma geração que


começou a pensar de maneira completamente diferente em relação ao longo período de
intervenção externa. Segundo pesquisas Sul Coreanas, em 1999 cerca de 89% dos
Coreanos era a favor da manutenção das alianças para com os Americanos, em 2002 o
número caiu bruscamente para apenas 56%. Essa parcela da população, que agora é a
maioria jovem que trabalha pela manutenção do país, representa quase que a totalidade
dos ativos financeiros, logo, a economia também teria que passar por profundas
mudanças para poder se sustentar sem impactos externos diretos. Com isso, os pontos
que caracterizam a virada de mesa sul coreana estão principalmente na intervenção
estatal na economia, a substituição de importações, criação de uma indústria cultural que
promove o país internacionalmente e desenvolve a economia, e os esforços ambientais
rumo ao novo mundo.

Precisamente em 1991, ano do fim da Guerra Fria, já era possível observar as


movimentações da Coreia do Sul para buscar seu espaço para se tornar menos
dependente de esforços externos e empréstimos. Por isso, no mesmo ano, as ações de
negócios entre China e Coreia do Sul tiveram um exponencial aumento, o que
consequentemente levou a um desenvolvimento econômico surpreendente que levou a
Coreia do Sul a um patamar não alcançado antes.

2.1 Diminuição da Pobreza e Chaebols³

Segundo relatórios do Banco Mundial, nos anos 90 o leste da Ásia conseguiu


registrar uma queda de 150% no número de pessoas que vivem com menos de 1 dólar
por dia, isso também é consequência das políticas econômicas que foram desenvolvidas
no período de reorganização democrática do país. A industrialização latente organizou
uma força de trabalho e redução nos índices de desemprego que não tinham sido vistos
antes, a Coreia do Sul tinha finalmente trespassado a imagem de país rural para se tornar
um país industrializado. Todavia, o crescimento em 1990 não foi tão grande como nos
anos passados, e isso se deve pelo crescente número das importações de produtos
oriundos (Peças e bens comuns) de países vizinhos como Japão e China.

Com a chegada de material e o desenvolvimento de mão de obra especializada, a


Coreia do Sul reinventava sua economia com a ascensão dos Chaebols, modelos únicos
de empresas formadas a partir de grandes conglomerados familiares. Agora, esses
grandes conglomerados como LG, Hyundai e Samsung possuem tamanha influência na
economia e exportações, a ponto de elevar o patamar do soft-power Sul Coreano.
Atualmente, a nação do Leste da Ásia é uma das 12 maiores economias do mundo,
sendo a quarta da Ásia. Dominada ainda pelos Chaebols e em parte por sua imensa
indústria cultural, espera-se que em breve esteja entre as 10 maiores economias do
mundo.

3. Impactos do Soft Power para o Desenvolvimento do País

Segundo Carlos Eduardo Vidigal, o período que caracterizou o fim da Guerra Fria
despertou um mundo não bipolarizado. Como o mundo iria se portar com o fim da
bipolarização? A resposta para essa pergunta talvez esteja na Ásia com o crescimento
expressivo das novas superpotências, seja em Soft, Hard ou Smart Power. Ao falar de
globalização, pensamos em EUA, Japão e União Europeia que se tornaram os bastiões
do capitalismo, sendo que o Japão tem grande influência regional sob a Coreia do Sul,
assim como os EUA ainda exercem influência por meio do seu Soft Power de alcance
global. A Coreia do Sul com o fim da influência norte americana passou por um período
perigoso, se tornando quase que um Estado Falido, todavia, a atração não só criada pelo
desenvolvimento econômico do país, mas também sua indústria cultural faz com que um
país que seja um mero influenciador regional consiga estar aos mesmos pés com uma
potência global.

“Líderes em países autoritários podem usar coerção e comandos políticos autoritários para tentar
manter o controle. Em democracias, existe o uso da combinação de indução e
atração”.(Barden,2019) (BARDEN, James. A Superpower between Superpowers: How Post-Cold War South Korea
Leveraged Pop Culture into Soft Power. Harvard Journal, [s. l.], p. 1-73, Maio 2019. Disponível em:
https://dash.harvard.edu/bitstream/handle/1/42004231/BARDEN-DOCUMENT-2019.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 16 maio 2021. Trad.Livre: Pedro Miguel )

Querendo ou não, o relacionamento com os Estados Unidos ainda se mostra


deveras importante na política externa, ainda mais nas políticas de segurança e em todo o
fundo político possibilitado pelas alianças com o país norte-americano. O conceito de Soft
Power em Nye, reflete algo mais coercitivo e atrativo, e isso foi justamente o buscado no
desenvolvimento dos sentidos para uma inserção internacional efetiva. Segundo Nye,
novamente o poder brando é ainda mais desafiador quando o governo sofre com
influências externas, não dependendo só de si para alcançar a efetividade e aceitação.
Sabendo disso, há um período de maturação da cultura Sul Coreana que principalmente
de 1995 a 2006 que se mostra decisivo na ampliação do poder brando. Nesse período,
conseguimos observar a ampla ascensão do K-POP, e da indústria do cinema. Ambos
responsáveis por inserir o país em um mundo globalizado.

3.1 Desenvolvimento ambiental e Soft Power

Embora os problemas ambientais estejam cada vez mais presentes nas agendas
internacionais, ainda há movimentos negacionistas e contrários à agenda do clima.
Todavia, a crise ecológica é um tema de proporções globais, logo, é necessário que todos
participem e se engajem no tema. A escassez de água, ar e solo fértil é sentida todos os
dias em diversos lugares do planeta, principalmente em países que sofrem com
embargos, como a Coreia do Norte e Palestina. Porém, quando falamos sobre a Coreia
do Sul e a conturbada relação com a Coreia do Norte, há um aspecto ambiental
interessante, relativa a Zona Desmilitarizada da Coreia.
Existem projetos de preservação que se intensificaram no período da Pós Guerra
Fria relativos à manutenção de espécies e à biosfera. O doutor em ciências ambientais
Jaehwan Hyun sugere que esse ambiente preservado entre os dois países que
historicamente estão em conflito, habilita o surgimento de uma nova modalidade de Soft
Power, o ambiental.

A apropriação dos campos de trabalho de cientistas Sul Coreanos por parte dos
americanos fizeram os mesmos desenvolverem novos métodos de estudo, e esses, são
testados por meio de diversas abordagens na Zona Desmilitarizada. Atualmente, o
controle da vegetação também é utilizado para ajudar as vigilâncias militares, assim como
o controle de animais. Mostrando a importância da preservação ambiental como um todo,
e o uso da mesma na prevenção de possíveis conflitos em uma Zona que vive em
constante tensão.

4. Conclusão

Dados os fatos, é notável o crescimento exponencial da Coreia do Sul e todos os


caminhos trilhados para se estabelecer um bom crescimento econômico aliado a uma
indústria forte e um Poder Brando notável. Todavia, é importante ressaltar que as
influências Norte Americanas ainda são visíveis e impactam diretamente no governo e na
indústria socio-cultural. Atualmente, o país se mostra capacitado e em franco crescimento
para poder se tornar uma das maiores economias globais.

Ainda há de fato um desconhecimento por parte do Oriente para com a Coreia do


Sul, e a falta de interações entre as nações dos dois pólos do planeta. Não obstante, essa
"barreira" vem sendo quebrada com os métodos atrativos desenvolvidos pela
"re"-organizada democracia e conglomerados sul coreanos. Dito isso, os esforços do país
se mostram notáveis, e isso se mostra refletido na ávida ampliação de suas capacidades
de diálogo e inserção internacional.

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¹Graduando de Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília

²Revista de Relações Internacionais sobre a Ásia com foco dos países do Leste
³Chaebols são grandes grupos empresariais formados por grandes famílias ou clãs unidos.

Bibliografia:

BARDEN, James. A Superpower between Superpowers: How Post-Cold War South Korea
Leveraged Pop Culture into Soft Power. Harvard Journal, [s. l.], p. 1-73, Maio 2019.
Disponível em:
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KIM, Choong. Changing Korean Perceptionsof the Post–Cold War Eraand the U.S.–ROK
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