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Monografia
O Balançar de Jean-Honoré Fragonard.
São Paulo
2021
Em todos os lugares e sempre, mulheres e meninas são vistas em balanços
em fotos ou estátuas, feitas na Creta e na Grécia antigas, na época pré-colombiana
da América Central, Oriente Próximo e Extremo, e no pós-medieval na Europa.
Mulheres nesse balançar são quase uma regra, no entanto, e em lugar nenhum, em
nenhum momento, elas foram tão brilhantemente descritas como na França do século
XVIII.1
Há alguns anos atrás, Hans Wentzel, um historiador da arte alemão, fez uma
pesquisa específica sobre as cenas de balanços (Swinging scenes) na arte ocidental. 2
Ele notou que estas, repentinamente, desapareceram durante o período medieval e
renascentista, visto que tais retratos não conseguiam absorver e transmitir a ideia
filosófica e religiosa predominante nesses períodos. Essas mesmas cenas,
posteriormente, passam a reaparecer no século sétimo, principalmente em meios
impressos e quase sempre dentro de um contexto emblemático. Esses trabalhos não
buscam enfatizar o prazer do esporte de balançar em si, mas provavelmente, trazer à
visão outros elementos ou qualidades: o ar – meio em que o balanço ocorre-, ou talvez
porque é o símbolo de uma atividade que não produz nada tangível - a ociosidade-,
ou, em última instância, porque envolve constantes idas e vindas, a "inconstância". 3
1
POSNER, Donald. “The Swinging Women of Watteau and Fragonard.” The Art Bulletin, vol. 64,
no.1, 1982, p. 75.
2 Wentzel, 187-218.
3 Wentzel cita um exemplo, 193, n. 10.
4
POSNER, Donald. “The Swinging Women of Watteau and Fragonard.” The Art Bulletin, vol. 64,
no.1, 1982, p. 76.
2
encenação, uma vez que isso representava uma expressão física, uma liberdade,
onde em outros ambientes era algo estritamente controlado pela corte. Nesse sentido,
os balanços em particular, o ato de balançar-se, forneceu um espaço no qual o
comportamento e a expressão física foram dados novas liberdades.5
4
quem controla o balanço, que, por sua vez, pode ser interpretado como alguém que
foi transformado em um companheiro inconsciente ou um ineficaz guardião12.
12
NEVILLE, R. "Jean Honore Fragonard". Burlington Magazine, III, 1903, p.56.
13
Ananoff (as in n. 20), II, 25, fig. 952. Watteau also used the motif. Cf. Rosenberg and Camesasca,
Nos. 82, 110.
14
POSNER, Donald. “The Swinging Women of Watteau and Fragonard.” The Art Bulletin, vol. 64,
no. 1, 1982, p.76.
15
Ibid. p.84.
16
Ibid.
5
é tanto sobre a criação de arte lúdica quanto sobre erotismo e prazeres privados17.
Sua representação divertida de um passeio em um balanço convida o espectador
deve considerar a função e o caráter dos jogos amorosos entre os sexos, as alegrias
físicas de brincar ao ar livre e em ambientes fechados, estimulação estilística e um
jogo artístico com significado. Entretanto, apesar das descrições realizadas por
inúmeros autores, não podemos ainda tomá-las como solução para esse quebra
cabeça iconográfico, não é seguro - a imagem continua a incentivar o espectador a
adivinhar, a elaborar sua própria anedota além da intenção inicial de projeto do artista.
A ideia do balanço traz, também, conclusões incertas e flutuantes: um visualizador
desorientado deslizando para frente e para trás entre um variedade de suposições e
possibilidades.
17
MILAM, Jennifer. "Playful Constructions and Fragonard's Swinging Scenes", Eighteenth-
Century Studies, Vol. 33, No. 4, The Culture of Risk and Pleasure (Summer, 2000), p.556
18
POSNER, Donald. “The Swinging Women of Watteau and Fragonard.” The Art Bulletin, vol. 64,
no. 1, 1982, p.78.
6
A mulher no balanço demonstrando seu envolvimento apaixonado com um
amante escondido nos arbustos, ou ela está exibindo sua natureza inconstante, indo
e voltando entre os dois homens? É o homem que puxa as cordas um amigo
conspirando com o jovem casal, ou ele é o guardião enganado da mulher ou o marido
traído? Faz o gesto de Cupido relaciona-se ao segredo da relação e encontro dos
amantes, ou simboliza mais geralmente os mistérios do amor? Esse jogo de quebra
cabeças não possui fim.
O entendimento artístico e os motes por trás de uma obra, não é algo a ser
solucionado e equacionado, pois, na realidade, configura uma experiência de atrair o
observador para a interpretação mais profunda da arte, em suas várias facetas. É a
experiência visual envolvente: é como um simples passeio em um balanço.
7
Referências Bibliográficas
POSNER, Donald. “The Swinging Women of Watteau and Fragonard.” The Art Bulletin, vol. 64,
no. 1, 1982, pp. 75–88.
RICALDES, João. "História da Arte em 200 Obras", n°1 (2020). Clube de Autores, 30/10/2020.