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Impactos da dieta humana na microbiota intestinal e risco de

doenças.

A microbiota intestinal é composta por uma grande diversidade de microrganismos,


incluindo simbióticos, patógenos oportunistas e organismos comensais. O microbioma
intestinal desempenha um grande papel na saúde humana que é diretamente afetada
pela nossa dieta diária. Por isso, o desequilíbrio entre as espécies da microbiota
intestinal pode levar ao desenvolvimento de doenças. Segundo um estudo feito por
Cummings J, et al. em 1997 e Xia Lj. OMRF em 2020 a microbiota intestinal
normal está relacionada com o desenvolvimento do sistema imunológico, absorção e
geração de tecido, morfogênese e ossos, e metabolismos homeostáticos. Bem como
sua capacidade de sintetizar vitaminas benéficas como folato, biotina e vitamina K.
[Cummings J, et al, 1997; Xia Lj. 2020]
Os microrganismos de diversos grupos da microbiota intestinal, podem ser
considerados como órgãos metabólicos, dado o seu grande impacto na saúde, no
metabolismo, fisiologia, nutrição e sistema imunológico do hospedeiro. Um estudo
feito por Guinane CM, et al, em 2013, usando uma técnica molecular avançada
possibilitou a classificação precisa de centenas de comunidades microbianas. Esta
classificação revelou que a microbiota intestinal humana é principalmente composta
por quatro principais filos de bactérias, Firmicutes, Bacteroidetes, Actinobactérias e
Proteobactérias.
Os Bacteroidetes são um dos filos predominantes no intestino humano, representadas
como bactérias benéficas ou simbiontes, encontradas na microbiota intestinal humana
saudável, são bactérias Gram negativas e estão envolvidas na digestão de carboidratos
complexos, pois são capazes de transformar moléculas complexas em compostos
simples, e na regulação do sistema imunológico [Russell AB, et al., 2014; Pribyl A.,
2019].
Proteobactérias e alguns Firmicutes são em sua maioria bactérias Gram-positivas que
também digerem carboidratos [Berry D. 2016]. No entanto, alguns deles são
patógenos oportunistas associados a doenças crônicas. As Actinobactérias
compreendem os Gram-positivos envolvidos na digestão de celulose; eles
desempenham um papel notável na manutenção e no equilíbrio microbiano através da
produção de agentes antibacterianos e antifúngicos [Cecilia B, et, al., 2018.].
A Disbiose, isto é, uma alteração da microbiota intestinal pode ser causada por
diversos fatores, como idade, estresse, estilo de vida, genética, ingestão de
medicamentos, como antibióticos, ambiental, e pela dieta diária [Gad el-Hak HN,et,
al., 2018]. Contudo o equilíbrio de um intestino com Disbiose, pode ser restaurado
tomando probióticos diários de qualidade[Hill C, et al., 2014.]. Normalmente,
produtos probióticos contém diversas cepas microbianas pertencentes aos gêneros:
Lactobacillus, Bifidobacterium e Lactococcus, Enterococcus e Estreptococos
[Dudek-Wicher R, et, al., 2021]. Os probióticos possuem mecanismos de reação que
podem agir inibindo o desenvolvimento de bactérias patogênicas, como Clostridium
perfringens, Campylobacter jejuni, Salmonella enteritidis e Escherichia coli, bem
como várias espécies de outros gêneros patogênicos, que causam intoxicação
alimentar e entram na corrente sanguínea [Hussain SA, et, al., 2017]. Além de
também produzirem diferentes complexos de vitamina B, aumentando a eficácia do
sistema imune, e melhorando a absorção de vitaminas e compostos minerais,
necessários para a síntese de ácidos orgânicos e aminoácidos do organismo. Os
probióticos também são capazes de produzir antibióticos que inibem bactérias
patogênicas, prevenindo inflamações, e a progressão imunossupressora.[Mancuskova
T, et, al.,2018]

O crescimento ou o desvanecimento do microbioma benéfico pode levar a impulsionar


metabólitos em uma direção saudável ou aumentar gêneros patógenos oportunistas, o
produzindo certos metabólitos que influenciam na fisiologia e expressão gênica do
hospedeiro, consequentemente resultando no desenvolvimento de diversas doenças.

● Dieta humana e digestão


A dieta humana consiste em diferentes variedades de alimentos, como carboidratos, proteínas
e gorduras. Para o bom funcionamento do organismo e a prevenção de doenças é preciso ter
um bom equilíbrio entre estes constituintes, os quais influenciam diretamente a comunidade e
a diversidade da microbiota intestinal. A digestão desses constituintes leva à variabilidade nos
produtos finais, que desempenham um papel fundamental papel na prevenção, gestão e
tratamento de certas doenças como câncer e diabetes[Macfarlane GT,et al,. 2012; Soldati L,
et al., 2018; Martín-Peláez S, et al, 2020]. A maior parte da digestão das proteínas acontece
no intestino, o cólon processa em menor grau as proteínas que ainda não foram digeridas,
onde há as condições necessárias para a secreção de bactérias proteolíticas. Os produtos finais
da degradação de proteínas são aminoácidos, amônia, aminas e ácidos graxos de cadeia curta.
Altas concentrações de amônia estão relacionadas com o desenvolvimento de doenças
[Walker AW, et al, 2020]. Em uma dieta contendo níveis alterados de gordura na composição
da microbiota intestinal pode diminuir os níveis de Bacteroidetes e aumentar Firmicutes e
Proteobactérias.[Hildebrandt MA et al, 2009; Turnbaugh PJ, et al, 2006.]. Essas alterações
resultam na redução da produção microbiana de ácidos graxos de cadeias curtas e
antioxidantes. Essas mudanças metabólicas podem ser sinais potenciais e riscos de doenças.
Já os carboidratos complexos, são digeridos mais lentamente pelo intestino, por conter mais
fibras na sua composição. A digestão de fibras vegetais aumenta a simbiose da microbiota que
leva ao aumento de ácidos graxos de cadeia curta, que são responsáveis pelo fornecimento de
energia, também, exercem efeitos benéficos para homeostase da glicose e sensibilidade à
insulina [Besten G. et al, 2013].

Estudos demonstraram uma correlação significativa entre uma dieta rica em fibras e uma
redução do risco de síndrome do intestino irritável, doença inflamatória intestinal, doenças
cardiovasculares, diabetes e câncer de cólon [25,28].
.
● Doenças que podem ocorrer como resultado da alteração do
microbioma intestinal.
A dieta humana fornece os nutrientes vitais, e influência no tempo e na
qualidade de vida [29], e no estado fisiológico de muitos órgãos, por isso uma
dieta desequilibrada composta por alimentos altamente processados, com
aditivos, emulsificantes, e adoçantes artificiais, comprometem a barreira que
reveste o intestino humano, enfraquecendo-a e favorecendo patógenos e
contribuindo para o desenvolvimento de doenças que são geradas pela alteração
da microbiota intestinal, e resultam em doenças inflamatórias, cardiovasculares,
diabetes tipo 2 e vários tipos de câncer [31, 30].

Doença inflamatória Intestinal


A Doença inflamatória intestinal (DII), compreende um grupo de condições
inflamatórias do intestino delgado e cólon. O desenvolvimento de DII pode estar
relacionado com vários fatores, tais quais, ambientais, genéticos, imunológicos, ou
microbianos (desequilíbrio na microbiota intestinal), todos esses fatores de maneira
separada ou em conjunto podem contribuir para o desenvolvimento de DII
[Wehkamp J, et al, 2013].
Um estudo feito por Carding S, et al em 2015 e outro por Kowalski K, et al, em
2019, concentrado na microbiota intestinal, especialmente com hospedeiros
suscetíveis à doença, e evidenciou que os desequilíbrios na população microbiana
intestinal podem estar associada a muitas doenças, incluindo DII.

Crohn disease
A doença de Cronh é uma DII grave, que afeta os intestinos delgados e grosso, bem
como a boca, esôfago, estômago e ânus. As alterações microbianas associadas a
doença de Cronh desempenham um papel importante na causa da doença.
Microbiomas foram comparados de pacientes com DII mostram um aumento relativo
na abundância de Enterobacteriaceae, incluindo Escherichia coli e Fusobacterium,
Serratia marcescens e espécies fúngicas como Candida tropicalis, em comparação
aos seus parentes saudáveis. Essas mudanças levam a alterações metabólicas, como
um aumento na ocorrência das vias do estresse oxidativo e uma diminuição no
metabolismo básico e produção de ácidos graxos de cadeia curta [Chiodini RJ, et al,
2015].

Ulcerative colitis
A colite ulcerativa é uma doença inflamatória que causa o aparecimento de úlceras na
parede intestinal, que ocorre principalmente no cólon e íleo distal, onde contém
maiores concentrações bacterianas intestinais.
Em pacientes com colite ulcerativa, foi encontrada uma maior incidência de
Enterobacteriaceae e Bacteroides fragilis em comparação com parentes saudáveis dos
pacientes [Wang KY, et al, 2005]

Síndrome do intestino irritável


A síndrome do intestino irritável é uma doença do trato digestório que afeta o
intestino grosso, causando cólicas, dor abdominal, distensão abdominal, gases e
diarreia, constipação ou ambos. Dentre os pacientes com síndrome do intestino
irritável, as comunidades da microbiota intestinal mostraram uma alteração onde as
Proteobactérias e os filos Firmicutes aumentam, enquanto Actinobacteria e
Bacteroidetes diminuem, em comparação com pacientes saudáveis [Krogius-kurikka
L, et al, 2009].

● Diabetes e obesidade
Diabetes tipo 2 é uma doença crônica onde há uma resistência do organismo a
insulina e aumento dos níveis de açúcar no sangue, e está relacionada a maus hábitos
alimentares, e obesidade. Estudos realizados para explorar a correlação entre a
microbiota intestinal e DT2, revelaram a importância do microbioma intestinal na
fisiopatologia da doença [Tong X, et al, 2018, Gurung M, et al 2020]. Geralmente,
algumas bactérias benéficas, como as produtoras de butirato, Faecalibacterium sp. e
Roseburia, podem ser importantes na eficácia de melhorias na diabetes e no
transtorno de obesidade [Tong X, et al, 2018].

● Doenças Cardiovasculares
A disbiose do microbioma provou estar envolvida na progressão e patogênese de
Doenças Cardiovasculares (DCV), incluindo aterosclerose, hipertensão e insuficiência
cardíaca. A produção de N-óxido de trimetilamina (TMAO) como produto líquido
derivado de uma dieta diária específica reflete a estreita relação entre a microbiota
intestinal e eventos cardiovasculares futuros [Heidenreich PA, et al, 2011].
Suzuki et al. em 2017 descobriu que níveis elevados de TMAO no sangue estavam
diretamente ligados a pacientes com DCV, como doença arterial coronária (DAC),
doenças agudas e falha crônica do coração. Vários estudos têm sido realizados para
demonstrar a alteração microbiana e os gêneros envolvidos na incidência e progressão
de DCV [Yoshida N, et al, 2018;Yin J, et al, 2015; Karlsson FH, et al, 2012], e
relatam uma menor abundância do filo Bacteroidetes e maior abundância da ordem
Lactobacillales, em particular Enterococcus sp., em pacientes com DCV em
comparação com pacientes sem DCV com fatores de risco para DAC.
Aceleração cancerígena
A alteração do microbioma intestinal foi destacada por muitos estudos do
envolvimento do microbioma intestinal na progressão do câncer e tem sido marcado
como algo que acelera a carcinogênese [Rea D, et al, 2018; Zhu J, et al, 2018].
No entanto, uma dieta desequilibrada, que é um fator entre outros, podem permitir a
expansão de alguns micróbios oportunistas em detrimento do benéfico, produzindo
assim níveis de toxinas que por sua vez são capazes de desencadear inflamação e/ou
tumorigênese. O órgão mais afetado uma alteração nos micróbios intestinais é o
próprio sistema digestivo, resultando no que é chamado de "câncer GI",
especificamente esofágico, cânceres gástrico, colorretal, hepático e pancreático
[Garrett WS, et al, 2015,Song M, et al, 2020]. o mecanismo mais simples que leva à
carcinogênese é quando o microbioma intestinal do hospedeiro é prejudicado e o
sistema imunológico do hospedeiro falha em restaurar a homeostase dos tecidos de
revestimento. Em um tal ambiente, a microbiota pode influenciar a carcinogênese por
(a) alterando a proliferação e morte da célula hospedeira, (b) perturbando a função do
sistema imunológico do hospedeiro e (c) influenciar negativamente metabolismo
dentro de um hospedeiro por indução de enumeração seletiva de certos membros da
microbiota, especialmente patobiontes. Para o câncer colorretal, um microbioma
prejudicado permite o florescimento da entrada de Bacteroides e patobiontes
toxigênicos Fusobacterium e Campylobacter [Brennan CA, et, al, 2016;Pickard JM,
et al, 2017].

Doenças Neurodegenerativas
Carabotti et al, em 2015, descobriram que o eixo intestino-cérebro interage com as
células intestinais e o sistema nervoso entérico, bem como com o sistema nervoso
central, através de vias neuroendócrinas e metabólicas. Além disso, a função do
sistema nervoso entérico pode ser influenciada pela microbiota intestinal quando eles
produzem quantidade alteradas de neurotransmissores, incluindo ácido
gama-aminobutírico (GABA), derivados de aminoácidos (serotonina, melatonina e
histamina) e derivados de ácidos graxos ou catecolaminas biologicamente ativas
(dopamina e norepinefrina) no lúmen intestinal [Ambrosini YM, 2019,Asano Y, et
al, 2012]. Portanto, metabólitos resultantes da disbiose do microbioma intestinal
podem estimular o sistema nervoso simpático [Zubcevic J, et al, 2019; Mayer EA et
al, 2017], causando impactos na aprendizagem e na memória que levam à doença de
Alzheimer [Zhu S, et al, 2020; Bulgart HR, et al 2020]. Outros estudos mostraram
que algumas bactérias pertencentes ao filo Bacteroidetes (Porphyromonas gingivalis)
foram detectadas no cérebro e podem estar envolvidas em doenças
neurodegenerativas, particularmente para a doença de Alzheimer [Carabotti M, et al,
2015, How KY, et al, 2020]. No entanto, para a doença de Parkinson, metabólitos do
intestino desequilibrado microbioma, em particular patógenos Gram-negativos, são os
gatilho para a perda de neurônios dopaminérgicos e mitocôndrias disfunção
[Matheoud D, et al, 2019; Liu J, et al, 2020].
● Conclusion
Conclui-se com esta pesquisa que os maus hábitos diários alimentares da população,
isto é dietas desequilibradas e ingestão de alimentos “ruins” ao longo do tempo pode
levar a uma diminuição de grupos benéficos da microbiota intestinal e o crescimento
de grupos patogênicos causando doenças graves. Portanto, uma dieta equilibrada sem
distúrbios da microbiota intestinal é um fator importante para manter a saúde e a
longevidade humana.

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