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Sociologia das Gerações e das

Juventudes
“Wouldn't it be nice if we were older
Then we wouldn't have to wait so long?
And wouldn’t it be nice to live together
In the kind of world where we belong?”
- Wouldn’t it be nice, Beach Boys

1 – Introdução
Pretendemos propor aqui um abordagem fazer uma revisão da literatura teórica sobre
a questão de Gerações, e, em relação com este, a problema da Juventude. Tal abordagem é uma
síntese de teorias anteriores, as do Karl Mannheim, e seus comentadores, do Philip Abrams,
Adotamos aqui a abordagem teórico desenvolvido pelo Karl Mannheim(1968, 1972) e Philips
Abrams(1981). Além destes autores outros, no lado da questão sobre a juventude na modernidade,
como Alberto Melucci, Carmen Leccardi, e a brasileira Marialice Mencarini Foracchi também são
inspirações para nosso propósito, além de outros autores. De forma abreviada podemos dizer que
este texto se trate da categoria, grupo, ou classe social geração. Geração é um localizador social
potente, e merece ser mais validada pelos sociólogos e cientistas sociais em geral. Este localizador
social é tão capaz, em princípio, quanto classe, raça, e gênero etc. para nos informar sobre
perspectivas do mundo. A questão sobre a juventude, para nossos interesses, é secundário, ao menos
teoricamente. Tanto na questão sobre gerações quanto para juventude, o que deve ser entendido
desde o começo que eles não são categorias metafísicas ou essencialistas estanques. Não existe, a
priori, uma medida universal para gerações, nem existe um significado universal sobre ser jovem.
Em primeiro lugar resgataremos a discussão feita por Karl Mannheim na década de
trinta, nos apoiando de vários textos secundários que comentam e criticam a visão do Mannheim.
Em seguida discutiremos a contribuição do sociólogo Philip Abrams que visava fundar a questão de
gerações firmemente no campo histórico, acreditando assim poder acabar com a binominal
indivíduo – sociedade.
Discutiremos após estas secções sobre uma fase no ciclo-da-vida que nas sociedades
modernas têm sido considerada revelador no que diz respeito as pressões que estas sociedades
exercem nos seus membros. A principal ponto de referência para nos é Marialice Foracchi, que
trabalhando na questão do Movimento Estudantil, elaboro uma síntese interessante a partir de
Mannheim, Talcott Parsons, e S. N. Eisenstadt. Para tanto, resgataremos, os trabalhos destes
autores, além do Foracchi. Outros dois autores além destes entrarão na nossa discussão, Melucci e
Leccardi, dado suas reflexões sobre o tempo.

2 – A sociologia das gerações


2.1 – A visão de Karl Mannheim
A sociologia das gerações tenha um histórico tão antigo quanto a própria sociologia,
se iniciando com trabalhos do Auguste Comtei.
A perspectiva que defenderemos neste artigo se baseia, no entanto, na obra do Karl
Mannheim, em dois trabalhos curtos. O Problema da Juventude na Sociedade Moderna (1968), e O
Problema das Gerações (1972), e é com eles que começaremos nossa exposição teórica. Falaremos
nesta secção apenas da segundo texto, deixando o primeiro para quando abordamos a questão da
juventude propriamente.
Publicado originalmente na final da década de 1920 o texto O Problema das
Gerações é um marco na teoria sociológica sobre gerações. Como Mannheim fala expõe no textoii a
primeira coisa a se fazer ao escrever um texto é retomar as discussões anteriores. Assim, ele traça
uma distinção entre duas “escolas” que existiam até aquele momento, a positivista do Comte, e a
Romântica-Histórico do Wilhelm Dilthey. Entre estes dois Mannheim mostra uma clara preferência
para a perspectiva do Dilthey. Contrário a perspectiva do Comte, quantitativa, Dilthey defendia que
a via qualitativa era o melhor adequado para compreender as gerações. Em plena acordo em isto,
Mannheim elaborou sua própria teoria.
Um dos pressupostos da teoria Mannheimiana, na verdade do Dilthey, é a distinção
entre tempo exterior(quantitativa) e tempo interior(qualitativa), referente aos indivíduos. Para estes
autores, o tempo exterior é desprezível na análise de gerações, é apenas o lado subjetivo que
importa.
Logo no início, Mannheim estabelece que gerações não são grupos concretos. Por
um grupo concreto entende-se organizações com propósitos específicos com membros ativos.
Exemplos dados no texto são a “família, tribo, e seita” iii. A unidade formada pelo vínculo geracional
não é essa mesma. O que resulte disto é que a despeito do fato que os vínculos que ligam as pessoas
serem fracos, eles não conseguem abdicar sua participação nele.
Para conseguir entender a natureza deste fenômeno social, Mannheim propõe
entendemos gerações como homologa a classe. Ambos são localizadores. Mannheim argumenta que
o conceito de Klassenlage – de posição de classe seja útil aqui, que existeria uma posição de
geração Concebida de forma mais amplo posição de classe é uma questão de localização
(Lagerung).iv
Como Mannheim argumenta mais adiante o fato de pertencer um local social é
extremamente significativa. Ele não apenas restringe negativamente o escopo de experiências
passiveis de ser experimentado pelos jovens e crianças, como estimula certos comportamentos
positivamente. Assim, diremos que existem tendências “inerente em”v cada local. Essa ideia não é
de tudo original, Mannheim na verdade esta falando de enteléquia, conceito do romântico-
historicista Pinder:
A enteléquia de uma geração representa a expressão do sentimento
genuíno do significado da vida e do mundo, de seus objetivos internos ou de suas “metas
íntimas” (cf. Mannheim, 1993: 201/518) que estão relacionadas ao “espírito do tempo”
(Zeitgeist) de uma determinada época ou ainda à sua desconstrução, uma vez que várias
gerações estão trabalhando simultaneamente na formação do que viria a ser o “espírito do
tempo (cf. Schäffer, 2003: 58 p.).(209 p.)vi
Para tanto, Mannheim diz que as gerações são nadas mais do que uma tipo particular
de identidade de localidade que venha a existir graça aos dados naturais que venha da transição de
uma geração a outra, e as subsequentes experiências.vii
É neste contexto que Mannheim discute a relação entre as gerações, através da noção
de contato fresco vira a ser uma questão importante para o estudo de gerações. Contato fresco é
sempre um novo relação. Culturas são sempre desenvolvidas por novos participantes, que entrem
em contato com uma herança cultural com o qual eles assemelham de forma nova. Há segundo
Mannheim duas formas de contato fresco, mudança de relações sociais (e.g. sair de casa dos pais) e
mudanças de fatores vitais (i. e. de gerações.)viii
Como vimos a questão de gerações se trate de localização parecidas. Portanto é um
tipo de teoria de estratificação de experiência (Erlebnisschichtung)ix. É importante frisar que
segundo a teoria mannheimiana nascer no mesmo local físico, ou época, não faz dois indivíduos da
mesma geração. Ter nascido em 1800 não fazem dos chineses e alemães da mesma geração x. As
experiências as quais esses duas populações terão acesso não serão idênticas, e portanto não fazem
parte do mesmo estrato. Não precisamos ir tão longe geograficamente para que estabelecer que não
se pode pautar gerações exclusivamente em ano de nascimento, pois segunda esta teoria, nem
alemães nascidos no mesmo ano são necessariamente da mesma geração. Sendo um fenômeno
estratificante, segui-se daí que não poderemos colocar alemães camponeses e burgueses no mesmo
estrato.xi
Segundo Mannheim para entender gerações é necessário compreender que existe três
aspectos deste fenômeno: Generationslagerung (posição geracional), Generationszusammenhang
(conexão geracional) e Generationseinheit (unidade geracional)xii
Assim, é importante entender que posição não exausta esgota a questão de gerações.
É também necessário saber sobre a conexão geracional. As pessoas tenham que “participar numa
destino comum”xiii. Conexão geracional depende de laços concretos entre seus membros. Por
unidade geracional deve ser compreendido como sendo formado por laços ainda mais fortes do que
as da conexão geracional. Pode-se ser do mesmo conexão mas de unidades diferentes. O exemplo
dado por Mannheim é de alemães liberais e conservadores. Ambos, digamos numa contexto urbano,
ou rual, são exposto as mesmas perspectivas sociais, no entanto, fazem parte de unidades diferentes.
No início deste exposição dizemos que em relação ao tempo era apenas o subjetivo e
não objetivo que é relevante. No entanto, como Aboim e Vasconcelos (2013) mostrarem bem, é
ilusório acreditar que a separação entre tempos interiores e exteriores podem ser efetivamente
sustentados. Como estes autores argumentarem tempo em Mannheim não é visto como único mas
múltiplo. Voltando ao exemplo dos Alemães e Chineses de 1800, o tempo destes não são a mesma
coisa. O problema, segundo os autores, é que são eventos do tempo exterior que engatilham o
interior. Tempo interior ganha importância na teoria mannheimiana graça a eventos históricos, ou
seja, exterior ao indivíduo. Só podemos concluir disto que, a despeito das afirmações do Mannheim,
o tempo exterior é de fato tão importante quanto o interior.
Outra ponto importante que estes autores trazem, relacionada com este, é o fato que
na teoria mannheimiana gerações são formadas graça a influência de um rompimento histórica. O
problema identificada com isto é a restrição de um único evento como definidora. Segundo os
autores, processos históricas são mais importantes. Segundo eles: “A generation is not created by an
event, but by multiple series of entangled events, that is, a historical dynamic. It is this historical
dynamic and its embodiment and transformation through agency that makes a generation much
more than a cohort” (ABOIM, VOSCONCELOS, 2013, 40 p.). Esse ponto, no entanto, não foi
ignorada pelo Mannheim. A despeito de uma leitura possível indique que o texto parece indicar que
gerações são criadas apenas por rompimentos, num parágrafo importante, Mannheim aponta para o
fato que o ritmo de mudanças socio-culturais como dinâmica que possibilita o surgimento de
gerações, bem como sua impossibilidade:
The quicker the tempo of social and cultural change is, then,
the greater are the chances that particular generation location
groups will react to changed situations by producing their own
entelechy. On the other hand, it is conceivable that too greatly
accelerated a tempo might lead to mutual destruction of the I
embryo entelechies. (MANNHEIM, 1972, 310 p.)
Portanto, tempo social é um fator fundamental na formação de gerações, e como
veremos depois na vida dos jovens em particular.

2.2 – A visão do Philip Abrams


2.2.1 Identidade e o problema de gerações
Passamos agora para nosso segundo ponto de referência para o estudo de gerações, o
inglês Philip Abrams, particularmente se referendo dois capítulos de sua obra póstumas Historical
Sociology (1982). Estes capítulos (The historical sociology of individuals: identity and the problem
of generations e The historical sociology of individuals: monsters and heroes: careers and
contingencies) se empenham em proporcionar uma maneira de abordar a questão de identidades de
uma perspéctica histórico-social, se inspirando na teoria de gerações do Mannheim.
Abrams (1982a) inicia sua discussão problematizando a visão dualística – indivíduo/
sociedade – herdada do Émile Durkheim na sociologia. Abrams reconhece a importância que este
binominal teve no desenvolvimento da sociologia, e do “ocidente” em geral. Ele também relembre a
importância política que este binarismo tenha para os europeus e norte-americanos, alguns em
certos momentos chegam a negar a existência de uma sociedade. Em contra posição a isso outros se
preocuparem em defender a legitimidade do conceito de sociedade. Neste contexto Abrams
relembra o texto do Durkheim A Divisão Social do Trabalho como um exemplo. Ele, no entanto,
lamenta que essa visão leva a uma visão “objetificada” sobre a consciência. Ainda sobre Durkheim,
Abrams ressalte que a despeito do fato que Durkheim é um autor famoso por sua visão
estruturalista, na qual predominava a sociedade, ele, no entanto, não consegui escapar do dualismo
indivíduo/sociedade. Baste relembrar suas representações individuais e coletivas.
Este dualismo, é claro, como Abrams note no texto, não se restringe a Durkheim,
outros autores também pensarem sobre esta questão. Na área da psicologia, por exemplo, ele
aparece de várias maneiras. Na psicanálise é o super-eu. Dualismo tampouco é estranho aos
psicólogos da infância.
Reconhecidamente, pelo Abrams, é com grande dificuldade, no entanto, que se
abandona o dualismo. Exista, no entanto, alguns abordagens sociológicas, segundo Abrams que
aponta para um possível solução, como as do interacionismo simbólico e fenomenologia. Como
vemos quanto tratamos do segundo capítulo seu de nosso interesse, o interacionismo simbolológico
é de particular interesse dele.
Segundo Abrams exista ainda uma maneira de abordar a questão que tenha sido
negligenciada, a histórica:
That is the possibility of building seriously upon the common observation
that individuality, like society, is and can only be constructed historically - that socially
organised time is the common medium in which social structure and identity generate each
other. (ABRAMS, 1982, p. 230)
Ou seja, o dualismo indivíduo/sociedade pode ser colapsado graças ao fato que
ambos são sempre construções históricos.
Essa visão, segundo o próprio Abrams, não é uma inovação inédita sua, pois, autores
como Anselm Strauss e George H. Mead já se posicionarem deste maneira, como o Berger e
Luckmann:
As Strauss (1977:764) put it: 'Identities imply not merely personal
histories but also social histories … individuals hold memberships in groups that are
themselves products of the past. If you wish to understand persons – their development and
their relations with significant others – you must be prepared to view them as embedded in
historical context.' When, in The Social Construction of Reality Berger and Luckmann
direct our attention to the phenomenon of 'identity types', 'social products tout court'
(1967:195), (idem, 230)
Outro autor fundamental, e que não poderia faltar, para a abordagem proporcionado
pelo Abrams é Norbert Elias:

in place of the sterile pursuit of the formal interrelation of individual and


society he proposes the historical analysis of what he calls 'human figurations'. (idem, 231
p.)
Na interpretação oferecido pelo Abrams, Elias entendia bem que a distinção
indivíduo e sociedade não era propício. Ele compreendia que os processos que estruturava e
estratificava a “sociedade” também ocorram no nível individual, estruturando seu afetos. Esse
processo foi de acertando os “significados-e-esturutras”xiv, criando assim novos indivíduos e
sociedades, uma mudança que não se pode captar sustentando a binominal indivíduo/sociedade.
Abrams relembra a metáfora de danças feito pelo Elias, mas diz que, apesar de ser
boa, uma metáfora de um jogo sem regras é melhor ainda. Na metáfora do Elias a dança é usada
para refletir sobre “mudanças figuracional”:
One can certainly speak of a dance in general, but no one will imagine a
dance as a structure outside the individual or as a mere abstraction. The same dance
figurations can certainly be danced by different people but without a plurality of
reciprocally oriented and dependent individuals, there is no dance. Like every other social
figuration a dance figuration is relatively independent of the specific individuals forming it
here and now, but not of individuals as such. (Elias apund Abrams, 1982, 233 p.)
Por sua vez, na formulação do Abrams:

Dances after all are rule-governed as to both form and content. It would
be only reasonable to say of an individual sitting eating an apple on a dance floor where
others were doing the polka that he was not dancing. But the involvement of individuals in
the social is closer and more creative than that. The image of the game without rules
emphasises those properties. That is to say, if we can envisage a game in which both the
objects of play and the rules of play, the number and disposition of the players, the very
sense of what the game is about are all alterable within the framework of the rule that
everyone is a player and must go on playing, we shall approach a more balanced sense of
the part played by individuals in the historical production of social figurations.” (234 p.)

Na página seguinte

The game is only what the players are playing at a given moment - a
fleeting pattern of rule-making projects. On the other hand, what the players are playing
from moment to moment is not just a game some of them are trying to change and others to
preserve. It is also the game as it was inherited by the whole set of contemporary players.
[…] If one's object of study is the 'state of play' one can indeed make a map of the network
of inter-dependencies within and making-up a particular figuration at a chosen moment. But
to explain the distinctive features of such a map, analysis of the course of the game up to
that moment becomes essential - precisely because the map does not present a structure
independent of the lives of individuals nor an aggregate of individuals free of the
interdependencies of the social game.” (235 p.)

Assim, ficamos com uma imagem na qual nem um individualismo metodológico,


nem um estruturalismo rígido cabe.
Na minha opinião, não se trate, no entanto, de negar a existência de indivíduos, como
eu, que estou escrevendo este texto num sexta-feira a tarde, ou de quem que seja que esteja lendo
este texto quando e onde for, mas de entender que no nível de análise sociológica isso é bem menos
importante do que entender os processos e relações de significados culturais compartilhados em
rede que estão em jogo, sem apelar para uma binominal enganosa.
Se, ainda seguindo Elias, por via do Abrams, nos perguntamos onde que surge esta
ideia falsoxv veremos que:
The firmer, more comprehensive and uniform restraint of the affects
characteristic of [the] civilisation shift, together with the increased internal compulsions
that ... prevent all spontaneous impulses from manifesting themselves directly ... these are
what are experienced as the capsule, the invisible wall dividing the 'inner world' of the
individual from the 'external world', the 'individual' from 'society'. (Elias apund Abrams
1982, 237-238)
Nas palavras do Abrams: “Socially the civilising process distances people from one
another by stratification; psychologically it achieves the same effect by encapsulating the self.” (238
p.)
Ficamos assim, com um problema residual, de saber se a sociologia pode, ou não
revogar para si, ou abandonar a tentativa de explicar cada um de nós enquanto seres únicos. Pode a
sociologia explicar Fulano ou Beltrano, ou será que eles tenham que ser dissolvido. Para Abrams, a
resposta é não, mas para conseguir tal feito teremos que adicionar alguns elementos à sociologia
figuracional do Elias. Temos que entrar na sociologia de “identidades individuais e carreiras morais
(idem, 240)”. Para fazer isto, primeiro o Abrams se torna para o “problema dos bárbaros”(idem 240
p.) do Parsons.
O problema dos bárbaros é um problema de gerações, segundo Abrams xvi, que por
sua vez é: “a problem of the mutual phasing of two different calendars: the calendar of the life-cycle
of the individual and the calendar of historical experience.”(240 p.). Segundo Abrams este ponto de
vista tampouco é controverso:
Indeed, it seems that whatever particular theory of the dynamics of
identity-formation is favoured -whether it is held to be a matter of 'significant others', the
'super-ego', 'ego-identity', 'the generalised other' or the 'institutional self' - there is a
considerable consensus about the extent to which the process must be seen as a matter of a
specifically historical entry into some specific historical figuration - an interweaving of
personal and collective histories. In this double sense identity formation en masse is seen as
a historically located historical sequence.(241 p.)
Segundo Abrams, resguardando as diferenças entre eles, sociólogos como Berger,
Luckmann, Goffman aceitam que identidades são situadas historicamente.
Como vimos, na perspectiva do Abrams “The individual thus enters a world which
not only has been made but remains to be re-made.”(250 p.). Por mais instituições podem se impor
a cada um de nós, sempre há uma reação da nossa parte. Assim: “We need a perspective which can
allow for the fact that identities are assembled through the meshing-together of two types of
historically organised time: the life history and the history of societies.”(idem 249-250)
Após uma discussão longa sobre os trabalhos do Erik Erikson, do qual nos poupamos
aqui, Abrams chega a conclusão que: “Sociologically, then, a generation is that span of time within
which identity is assembled on the basis of an unchanged system of meanings and possibilities. A
sociological generation can thus encompass many biological generations.”(idem, 256 p.). Ou ainda,
nas palavras do Freixa e Leccardi(2010):
Para Abrams uma geração, no sentido sociológico, é o período de tempo
durante o qual a identidade é construída a partir de recursos e significados que estão
socialmente e historicamente disponíveis. Assim, novas gerações criam novas identidades e
novas possibilidades para a ação.(190-191 p.)
A seguir há uma discussão sobre trabalhos sobre atitudes politicas diferentes
pautadas em gerações, também poupada aqui, na qual Abrams se encontra com o pensamento do
Mannheim, no que se toca a quentão de unidades geracionais, sua utilidade para explicar diferenças
intrageracionais, ressaltando que geração não poder ser separada de classe, religião, raça etc.
também tenha que ser consideradas: “Here as elsewhere historical sociology means more work, not
less […] Far from exempting us from the study of social structure any attempt to grapple with the
problem of the historical formation of identity forces us in just that direction.” (idem, 262 p.)

2.2.2 Monstros e Heróis


No item anterior expomos como Abrams pretendia lidar com a questão de identidade
num nível macro. Agora tratamos dos casos particulares. Ele abre esta parte do texto com a
afirmação que tratar de indivíduos particulares é apenas uma questão de ser mais preciso na
análisexvii. Abrams ressalte que um ramo da sociologia que havia, já algum tempo, debruçada sobre
esta questão, de desenvolvimento identitário: a sociologia do desvio. Abrams abre o questionamento
se os processos descritos pelos sociólogos do desvio seriam exclusivos dos desviantes, ou, se na
verdade são apenas um caso particular dos processos que todos somos partidários.
Pode parecer estranho, num contexto de discussão de sociologia de gerações e
histórica falar de sociologia do desvio. No entanto, Abrams recorre aos clássicos como do Edwin
Lemert, Howard Becker: e outros, para nos mostrar como que ele cabe aqui. Começando com
Lemert, Abrams lembra sua noção de um desvio secundário:

Secondary deviation is a response to a response, a matter of what the


individual makes of what a significant social audience has made of what it took the
individual to have been or to have done in the first place. Or as Lemert puts it (1967:40)
'secondary deviation refers to a special class of socially defined responses which people
make to problems created by the societal reaction to their deviance'.(idem, 270 p.)

Para Abrams, esse processo de um desvio secundário é eminentemente histórico.


Como ele se trate de uma incorporação, uma reação a atitudes de outros, ele tem uma natureza
temporal, e portanto, uma dimensão histórico.
We need a model which takes into account the fact that patterns of
behaviour develop in orderly sequence […] we must deal with a sequence of steps, of
changes in the individual's behaviour and perspectives, in order to understand the
phenomenon. Each step requires explanation, and what may operate as a cause at one step
in the sequence may be of negligible importance at another step […] Th explanation of each
step is thus part of the explanation of the resulting behaviour. (BECKER, apund.
ABRAMS, 271 p.)
Assim, Abrams chama nossa atenção para um aspecto da teoria do desvio, os básicos
conhecidos por todo sociólogo profissional que não deve ser apreciada por muitos, sua dimensão
temporal, histórico. Abrams segui daí para relembrar, e ressaltar o lado histórico dos conceitos de
carreira e contingência, tal como usado pelo Becker e Goffman, como esses conceitos se tratam de
sequências de negociações nos quais os indivíduos estão constantemente. Abrams ainda ressalte
como, resguardando as diferenças a maioria das teorias do desvio tenham duas coisas em comum.
Em primeiro lugar eles estressam a dupla facexviii da construção identitário público e privada. Em
segundo lugar eles tenham ambos um lado analítica e cronológica. Por um lado as etapas que
devem ser perpassados, de outro os dados empíricos, biográficos realmente vividos. Assim, Abrams
afirme: “Individuals are their biographies. And insofar as a biography is fully and honestly recorded
what it reveals is some historically-located history of self-construction - a moral career in
fact.”(idem, 280 p.). Mais adiante ele afirme: “The individuality of even the most peculiar
individual may, then, be understood sociologically once individuality itself is recognised as a matter
of historically located historical processes.”(idem, 281). Como afirmada anteriormente, trate-se
apenas de uma questão de nível de análise sociológica e ser mais, ou menos especifico.
Seguindo na sua linha de argumentação Abrams toma as biografias de vários
revolucionários, principalmente de 1917 para ressaltar a localização histórica destes, e assim
voltando para a questão de gerações:
Consider a few cases. Lenin was 47 when he made his revolution in 1917;
he was 23 when he first joined an overtly revolutionary organisation; he was 17 when he
first identified himself as a person committed to a revolutionary purpose. Trotsky and Stalin
were both much younger men; in 1917 they were both 38; but Trotsky had first joined a
revolutionary organisation at the age of 23 and Stalin at 22; Stalin had first committed
himself to the idea of being a revolutionary at 18, Trotsky at 17.For Bukharin, Zinoviev and
Kamenev the picture is the same; respectively they were 31, 47 and 35 in 1917; they
became permanent members of revolutionary movements at 24, 20 and 22; and they
committed themselves to revolution at 18, 18, and 17. In more general terms, the average
age of the Bolshevik leadership in 1917 was 39; but the average age at which they had first
committed themselves subjectively to revolutionary action, first defined themselves socially
as revolutionaries, was 17. In a famous study of the leadership of the CPSU[Partido
Comunista da União Soviética] in 1930 Davis (1930:47) found that 82% of his 163
Communist leaders had been under the age of 25 when they first joined a revolutionary
movement. The median age for joining was 20; and the median age of their first publicly
noted radical activity was 18.( idem, 283 p.)
É importante frisar aqui, para não ter nenhuma confusão, que o ponto não é que a
juventude predisponha a atitudes revolucionaria, mas de que a convergência de dois tempos,
individuais e sociais, pode revolucionar: “It is not life-history but life-history in the context of some
specific social history that seems to be important.”(idem, 283 p.)
O próximo ponto teórico que resgatamos, através do Abrams é de significaçãoxix, que,
pro sua vez venha do David Matza:

“[…] we could call the process of becoming radical and which like the
process of becoming deviant is at bottom a process of, “signification', historically located
and historically realised.
Broadly understood signification is a matter of the production in rather
cogent and consistent ways of signs intended to define given actors in a given manner.”(288
p.)

Essa noção não é de tudo estranho à discussão que já tivemos sobre carreiras e
desvios secundários. A diferença é que enquanto aqueles conceitos dizem respeito a etapas a
significação diz respeito o processo urgente de criar uma “unidade de significados”(idem 284 p.)
para formação de uma nova identidade. Concluímos nossa exposição da contribuição do Philip
Abrams para a sociologia das gerações citando o próprio autor:
I have tried to show that what is exceptional about the life of an
exceptional individual is the location of that life in a particular historically organised milieu
and the interactional patterning of the series of experiences through which individuation is
then achieved - in fact, the meshing of life-history and social history in a singular fate.
Individual lives are indeed unique but their uniqueness, I suggest, is not a matter of some
elusively private personal factors but of the diversity of movement available to historically
located individuals within historically located social worlds. Life histories are created by
self and others to produce heroic or mediocre individuals through sequences of action,
reaction, action in the setting of historically specific possibilities and impossibilities,
opportunities and constraint(idem 297 p.).

2.3 – Geração Globalizada?


Queremos aqui discutir uma nova tendência que está se formando no estudo das
gerações, que seja a ideia de uma geração e juventude global.
Segundo Beck e Beck-Gernsheim no seu texto de 2008 Global Generations and the
Trap of Methodological Nationalism vivendo em um mundo pós Chernobyl, 9/11 e Coca Cola não
podemos encarar os fenômenos de gerações e juventudes sob uma perspectiva nacionalista: “This
sphere of experience can no longer be understood as a nationally bounded unit, but is determined by
global dynamics.”(BECK, BECK-GERNSHEIM, 2008, 25 p.) A sociologia tenha, a despeito das
mudanças sociais dos últimos décadas, continua tendo uma orientação nacional nas suas pesquisas.
Para os autores isso distorce a realidade das juventudes que são particularmente suscetíveis a
influência do contexto globalizada. “It is precisely here—this is our central argument—that a
cosmopolitan perspective becomes necessary, which privileges the simultaneity and the mutual
interaction of national and international, local and global determinations, influences and
developments.” (idem, 26 p.) As mudanças da Primeira Modernidade para a Segunda, a introdução
de riscos globais muda profundamente a relação entre as gerações, bem como o sentido de
fronteiras e segurança nacional. Os autores frisam que a mensagem metodológico do texto é “that
what in a national context appears as a nationally determined break between generations, can only
be properly deciphered in a cosmopolitan perspective.”(idem, 26 p.) No entanto, é essencial lembrar
que isto não quer dizer que existe uma geração jovem que tenha consciência globalizada. Neste
sentido os autores fazem uma distinção importante:
it is useful to distinguish between two levels: first the level of the social
scientific observer, who researches generations in a global frame of reference (observer
perspective); second the level of the active subjects, the members of the global generations,
who see themselves in a global frame of reference (actor’s perspective).(idem, 26 p.)
É importante sempre ter em mente, além disto que a globalização não é distribuída de
forma universal ou igual. Nem todo jovem tenham a mesma acesso ao Nike, por exemplo. Para os
autores, portanto, a questão é investigar a relação entre essa nova geração global e as gerações
anteriores, levando em consideração as desigualdades sociais e seus efeitos sobre os jovens de
hojexx
Para os autores, a despeito de mudanças recentes, a desigualdade não é um tema que
tem sido levado a sério academicamente no âmbito internacional. Para os autores o que tenha levada
a desigualdade internacional uma tema cada vez mais discutido são a)Post-colonial discourse of
equality b) The nation state dualism of human rights and civil rights c) Spread of transnational ways
of life d) new communications media and transport technologies. Entendido deste maneira a
geração global é definitivamente não ocidental. Segundo os autores a parte não ocidental deste nova
geração se mantenham vigilantes, e críticos, revindicando a igualdade com seus contrapartes
ocidentaisxxi.
Cultualmente os autores chamam atenção para a mídia globalizada. Filmes que
mostram contextos dispares são consumidos transnacionalmente. Além de verdades, surge assim
ficções e mitos com os quais não podemos nos deixar de comparar com nossa situação vivida:
Everywhere in the world more and more people look at their own lives
through the optic of possible ways of life presented by the mass media in every conceivable
way. That means: today imagination has become a social practice; in countless variants it is
the engine for the shaping of the social life of many people in many different societies’
(Appadurai, 1998, p. 22).(idem, 28 p.)
Exposto a outras realidades e ideologias povos não “ocidentais” se questionam sobre
essa nova realidade, e se preguntam por que eles são tão pobres e oprimidos. Para muitos jovens a
imigração tenha virada uma válvula de escape e com isso um fenômeno pouco conhecido antes da
modernidade e de grandes fluxos imigratórios tenha aparecida: a reunião familiar, bem como
transição financeira de partes de parentes que trabalhoem em países mais desenvolvidos para seus
familiares que permanecerem para trás.xxii
To sum up: to understand what motivations are becoming normality in the
younger generation in the Second and Third Worlds today, it is necessary to understand the
power of the images, messages, standards coming out of the First World. They invariably
contain—directly or indirectly—the invitation, the temptation to go out and risk departing
from the homeland.(idem, 29 p.)
Entendido economicamente a globalização não é, no entanto, apenas uma abertura de
mercados mas também de desregulação e cortes em garantias. No que diz respeito a jovens, se antes
salários e propriedade era mais modesto em gerações anteriores a probabilidade de encontrar um
emprego estável era maiorxxiii.
Fechando sua discussão sobre a geração global Beck e Beck-Gernsheim reconhecem
que quem conhece a história pode levantar pontos contra sua tese. Será que não faz já algum tempo
que a geração global existe? Por exemplo as experiências socialistas dos internacionais no século
XIX e início do XX. Ou a geração de 1968. No entanto, para os autores:
In 1968, it was an essentially politically constituted generation and
adherence to it was defined by active participation in protests. At the start of the 21st
century, in contrast, it is cosmopolitan experiences and events —like those mentioned at the
beginning of this article—which have become the key to the space of expectation of the up
and coming generation. Put very simply: then there was collective action, today there is
individualist reaction […] This ‘global generation’ is at heart unpolitical, because it breaks
down into different fractions in a conflictual relationship with each other (idem, 33-34 p.)
[RECOLOCA ISSO PARA O CASO BRASILEIRA]

3 – A sociologia da juventude
3.1 – Algumas Considerações Gerais
Passamos agora para nosso próximo tópico, a juventude. Talvez a primeira
informação que devemos trazer aqui para nosso leitor é a modernidade deste termo. Fruto do estilo
de vida da classe média industrial a juventude, entendido como uma fase entre a infância e a
maioridade tenha sido visto de dois pontos de vista. Por um lado se trate de uma fase de
desenvolvimento maioridade individual. Por outro lado, mais privilegiado pelos sociólogos
estrutural-funcionalistas, ele é uma fase integração na sociedade, extrapolando os limites da família.
Para melhor entender este fase da vida foram elaboradas novos áreas de conhecimento a partir do
século XVIII, tais como a pedagogia, para guiar essa parcela da humanidade, tornado eles em
pessoas que tenham algum valor para a sociedade xxiv. Chegando ao século XX a juventude foi
padronizada, pautada no ideal burguesa do juvenil, algo que as outras classes sociais se viram
constrangido a se conformar. Foram identificadas estágios de desenvolvimento, que graças as
incertezas do futuro foram expandidos, resultando num prologamento da juventude. Esse conceito
foi operacionalizada por educadores se desenvolvendo em estruturas de controle social. O
desenvolvimento pessoal passou a ser vinculada com instituições sociais, criando expectativas
normativas.xxv Segundo Henze(2015) a juventude é vista enquanto um tabula rasa. Daí a pertinência
que a educação sempre tivera nestes estudos e enquanto uma classe social que não e plenamente
integrada na sociedade eles sempre fara parte destes teorias.
A juventude enquanto uma categoria que surge com a modernidade é, portanto, refém
de suas flutuações. Como a autora Henze ressalte, ele foi elaborada para pensar sobre uma categoria
moderna, mas muitas vezes sem levar o desenvolvimento da modernidade em consideração.
The ideas of the youth age, its length, character, course and forms, have
been adapted to the transformations of an industrialised working society towards a post-
modern and globalised service society, so that also theories on youth got split into countless
short-living “ad-hoc theories” and attempts to generally reconceptualise social biographies.
The idea of a clear-cut life stage youth does not fit any longer to our times.(HENZE, 8 p.)
Segunda a autora, na contemporaneidade a linha entre infância e maioridade é
borrada, virando uma fase com traços de dependência infantil e responsabilidade adulta graça, em
boa parte, ao enfraquecimento da categoria de classe:
The dissolution of class society and binding age structures has unfolded
of a variety of life-options and possible biographies which opened up various,
individualised ways to become an adult. Individualisation here means that the biographies
of the people are dissolved from given fixations and handed over as an individual task to
decide openly and independently (op cit., 10 p.)
O que vemos na modernidade é uma proliferação de opções de vida que não são
rigidamente preestabelecidas. As biografias tenham que ser elaboradas. Nada disto, no entanto,
aniquila a importância da passagem por estágios que foi elaborada, que, ainda são relacionadas ao
mercado de trabalho, algo que é por sua vez capitalizada em recursos sociais(educação, qualificação
etc.)xxvi. O prolongamento da educação e a especialização do trabalho são marcos disto. A juventude
nesta situação perde seu caráter especial sem, no entanto perder sua função social. [TALVEZ NÃO,
TERIA QUE REVER ESTE AFFIRMAÇÃO]
Se queremos entender como a juventude participa ativamente no processo social
temos que ir além da simples adesão a papéis sociais, Temos que ver ela reinventa esses papéis, e
como eles são institucionalizadas. É através desses que conhecemos o mundo e nos mesmos. Sendo
um processo o tempo está em jogo, e assim o futuro vira um ponto de foco importante para os
jovens, que por sua vez é carregada de expectativas, e assim vira uma questão de poderxxvii.
A juventude tem sido visto por duas vias segundo Henze. Por um lado tem a visão de
gerações, por outro a ideia de ser os heróis da nação. Pertencer uma estruturar social é ser
localizada temporalmente. Dada as discrepâncias que existem entre as expectativas de vida, gerados
pelo tempo e ritmo social, na modernidade essa perspectiva é bastante interessante. Como os heróis,
que tendem a ser jovens, esses são de certa forma marginalizadas que apontam para o futuro. Por
isso a juventude tem, se não um caráter inerentemente política, se empresta facilmente para a
política. Os jovens tenham que decidir sobre quais símbolos, estruturas etc. serão mantidos e como
serão mantidos, sempre com um passado que prefigura e restringe a maneira como isto será
dadaxxviii.

3.2 – Mannheim sobre o Problema das Juventude Moderna


Escrito no fervor da Segunda Guerra Mundial, há mais um texto do Karl Mannheim
com o qual nos inspiramos. Neste texto Mannheim tente apontar para possíveis medidas que a
sociedade inglesa deve tomar para garantir a vitória da democracia sobre as formas autoritárias.
Esse texto abre com duas questões: “O que a juventude nos poder dar? O que a juventude pode
esperar de nós?”(MANNHEIM, 1968, 69 p.), apenas a primeira será desenvolvida ao longo do
texto.
A discussão se inicia ressaltando que a educação não é mais vista de forma
supratemporal pelos sociólogos. A formação dos jovens é sempre contextual e tenha que ser visto
deste maneira, a juventude não tendo um sentido universal, variando de sociedade para sociedade, e
tempos em tempos.
Se referindo a movimentos educacionais de sua época Mannheim crítica uma
formação laissier-faire acreditando que ele perturbe a relação entre o indivíduo e a sociedade. Se a
educação autoritário de tempos passadas é inaceitável tampouco é sábio substituir ele por uma
educação individualista que foca apenas nas necessidades do indivíduo.
Para Mannheim a juventude é entre as forças latentes que toda sociedade pode
utilizar. Se ele é aproveitado ou reprimido depende do tipo de sociedade e do contexto. Como
qualquer força latente, não basta que elas exista é necessário que essa força latente seja integrado.
Se a sociedade não organiza suas juventudes ele não terá importância. As sociedades que
organizarão seus jovens são as sociedades dinâmicas enquanto as sociedades estáticas, que
valorizam a tradição são que menos fazem este trabalho. É importante frisar que não se trate de
sociedades progressistas contra conservadores. Após a Primeira Guerra Mundial foram a Alemanha,
Itália, Rússia e o Japão que tiveram grandes grupos juvenis, enquanto os EUA, Inglaterra e França
desconhecerem esse fenômeno. Além disto, como o gráfico seguinte – elaborado por Hans Gerth,
reproduzido pelo Mannheim em nota de roda pé - mostra o partido nazista era bastante jovem,
(dados em porcentagem).

Idade Partido Nacional- P.N.S. P.N.S. P.S.D. População total


Socialista
1931 (1935)
1932 1935 (1931)
18-30 37,6 42,2 35,4 19,3 31,1
31-40 27,9 27,8 27,9 27,4 22,0
41-50 19,6 17,1 20,8 26,5 17,1
Mais de 50 14,9 12,9 15,9 26,8 29,8

O traço marcante da juventude para Mannheim é que ele não pertence ao status quo
e, portanto, terá que ser integrado a ele. Não podemos explicar a juventude através da biologia na
perspectiva elaborada na primeira parte deste texto. A puberdade, fase de eferverscência biológica
universal, não tem, no entanto, a mesma importância em toda a sociedade. Ele dotado da
significância que tenha na sociedade moderna por coincidir com a abertura que temos neste fase da
vida para a sociedade maior, além dos muros da casa e da vizinhança, entrando assim em contato
com valorizações antagônicas pela primeira vez. Assim, a juventude é um ser social marginalizada
na sociedade.
Como vemos esse breve contribuição ao estudo da juventude feita por Mannheim
traz algumas perspectivas importantes que deve ficar em mente quando tratamos deste assunto, que
pode ser resumido dizendo que, como todas as categorias sociais, ele não tem um sentido inerente
que escapa de mudanças no espaço e no tempo. No entanto, de forma geral podemos dizer que a
juventude na modernidade é marcada por ser marginalizada e um potente reserva social, desde que
seja organizado.

3.2 – Jovem Radicais


Como vemos com Mannheim não exista um sentido universal do que seria a
juventude, que, pelo contrário, ele é contingente a tipo de sociedade na qual ele exista. Já fizemos
alguns comentários a respeito disso quando iniciamos essa discussão, agora aprofundamos um
pouco sobre o que caracteriza a experiência de uma parcela dos jovens, que seja a juventude
universitária, geralmente burguesa. Entre os autores nos quais nos baseamos é Octávio Ianni, com
seu texto de 1962 O Jovem Radical.
Como frisa Ianni no início do seu texto vivemos num sistema capitalista. Segundo
Ianni é a partir deste regime econômico que a juventude – categoria, tal como que conhecemos no
“Ocidente”, criada pela burguesia – ganhe relevância política, graças à velocidade das
transformações sociais, que pesa de forma especial nos jovens. A questão que move o texto – que se
limita uma análise da classe média e não outras – são contradições envolta das atividades políticas
dos jovens:
Jovens procedentes das diversas camadas sociais desenvolvem atuações
políticas geralmente incompatíveis com os interesses de suas classes. Esse é uma das
contradições das sociedades estruturadas em termos da democracia burguesa. Nelas o
processo de incorporação dos grupos imaturos não é automático e espontâneo. Ao
contrário, ele se realiza por meio de mecanismos complexos, que nem sempre apanham
plenamente o indivíduo. (IANNI, 1968, 226 p.)
A contradição, portanto, é entre atividades políticas que muitos jovens desenvolvem,
que não são conducente as interesses da classe social de sua origem. Os jovens, sem fortes laços de
classe social, conhecendo principalmente o âmbito familiar, são “desvinculados”. Ao entrar para o
mercado de trabalho, por exemplo, jovens são confrontados, talvez pela primeira vez, com vários
interesses contraditórios com os quais terá que lidar com, alguns dos quais são em consonância com
suas classes sociais, outros nãoxxix. O problema que surge é que, não tendo relações de classes fortes,
os jovens desconhecem as implicações que as posições políticas com os quais entram em contato
terão na sua vida, alguns chegam até apoiar relações econômicas que não melhorem suas
perspectivas de vida. Outros pelo contrário serão radicalizadas defronte as contradições entre seus
interesses e as relações econômicas vigentes, e a alienação subsequente:
O radicalismo política é a manifestação de um tipo peculiar de
consciência social, isto é, histórica, desenvolvida pelo jovem em condições determinadas;
exprime a apreensão, pela consciência, dos primeiros sintomas da própria alienação, que
se manifesta já no próprio lar. No interior da família, onde se organiza e se condensa a
praxis dos primeiros anos da vida da pessoa, exprimem-se as evidências iniciais de
contradições insupertavies (idem, 229 p.).
Esse radicalismo se desenvolve, segundo Ianni, apenas quando a alienação é
socializada. Citando Jean-Paul Sarte, escrevendo sobre revolucionários em países subdesenvolvidas,
é ressaltado que a juventude é um grupo demográfico. Mas esse “demo” ganhe relevância se ele
ganhe uma importância social – se esse grupo social é, como vemos com Mannheim, é organizada
de alguma maneira. Um das maneiras que isto pode se dar é pelo mercado de trabalho, através do
qual os jovens entram em relações de classe e as limitações imposta a eles:
[…] o jovem radical é um produto natural do sistema social em que se
encontra imerso. O seu radicalismo produz-se exatamente no momento em que ele próprio
descobre que o seu comportamento é tolhido, prejudicado, e, muitas vezes, deformado
institucionalmente (idem, 238 p.)

No processo de retotalização da personalidade em desenvolvimento na


adolescência, o jovem organiza intelectualmente a sociedade global em termos concretos,
totalizado a sua personalidade com base numa nova e muita mais ampla visão do mundo.
(Idem, 242 p.)
Como vemos, para Ianni, graças a separação entre a vida familiar e a vida de trabalho
é que cria o radicalismo juvenil. Essa tese será reelaborada por uma outra socióloga brasileira,
Marialice Foracchi, com o qual nos tratamos mais adiante no texto. Antes de chegar a ela, no
entanto, expomos algumas reflexões do Talcott Parsons que acreditamos merecer interesse.
3.3 – Jovens Diferenciadas
[REVISÃO TOTAL, TIRAR MUITO, ADICIONAR ALGUNS OUTROS]
Pouco lido hoje há, no entanto, em seletos artigos do Talcott Parsons insights que
merecem ser resgatas, se por nenhum outro motivo para melhor compreender, uma outra autora que
é nossa principal inspiração. No seu texto de 1962, Youth in the Context of American Society,
Parsons abre via para reflexões que tenham alcance profundas que serão apresentados abaixo.
Parsons inicia este texto ressaltante certas particularidades da sociedade americana
no início da década de 1960 e sua relevância para o futuro. Pela primeira vez os EUA tinha um
presidente que nasceu no século XX, e os jovens daquele época tampouco tinham fortes ligações
com o século anterior. Parsons prevê que o século vinte será lembrado por ser turbulenta e de
transição, e que a estrutura social dos EUA é a estrutura do futuro. Portanto, entender suas
características, e como ele influência a formação da cultura juvenil é importante.
A primeira coisa ser considerada é a natureza industrial da sociedade americana.
Junto esse(s) fator(es) é a expansão educacional que se via em conjunto com a industrialização.
Outro fator que nós interessa aqui é sua vocação religioso. Na analise parsoniana, fortemente
influenciado pelo Weber, a sociedade americana é dotada de uma ética protestante. Disto resulte
que existe uma cultura de ativismo instrumental no país. Compreensível dentro da análise
weberiana de ascetismo intramundano a sociedade americana é marcada por ser fortemente
voluntarista. É comum que pessoas que não exerce nenhuma atividade política dedica, em
momentos de desastre ambiental, por exemplo, seu tempo sendo voluntários em missões de
caridade. Existe assim um forma de individualismo institucional que vigora no país que é laçado a
uma noção de um bem social, em termos do asceticismo intramundana. O peso deste cultura cai
fortemente sobre os ombros dos jovens, segundo Parsons. Esse sistema de valores não é teleológico
em natureza, no entanto. A despeito de ser um sistema progressista – em grande medida dada a
natureza pluralista do país, sem um consenso simbólico dada a composição populacional – segundo
Parsons ele não tem um fim determinado. Ele é, no entanto, estável na sua visão, sofrendo
alterações nos seus subsistemas.
Entre os processos que levara a mudanças que Parsons prevê, e que moldara a cultura
juvenil é a da diferenciação. Segundo Parsons:

Differentiation refers to the process by which simple structures are


divided into functionally differing components, these components becoming relatively
independent of one another, and then recombined into more complex structures in which
the functions of the differentiated unites are complementary. A key example in the
development of industrial society everywhere is the differentiation, at the collectivity level,
of the unit of economic production from the kinship household.(PARSONS, 1962, 103 p.)
Tipico da sociedade industrial moderna, há uma separação entre o lugar de trabalho e
o lar. Houve, nos termos do Parsons uma diferenciação entre estes locais nas sociedades industriais.
Entre os efeitos disto é que a sociedade não pode ser vista mais como uma aglomeração de casas,
famílias, isoladas economicamente sustentáveis. Existem nesta nova sociedade, casas que são
improdutivas – a maioria diga de passagem – como lugares produtivas que não são lares i. e. firmas.
Com isso surge novos papéis sociais a serem desempenhado, muitos vezes pelo mesmo individuo.
Um mesmo homem pode ser – deve ser – um chefe de família e um empregado.
Outro processo social que vemos ocorrer é a da inclusividade. Com a diminuição de
famílias agricultores há ao mesmo tempo um aumento no número de famílias assalariadas. Uma
mudança inclui um outro paralelo. Podemos pensar nisto em termos de expansão de mercados.
Outro inclusividade que acompanhou esse processo foi a doa expansão do sistema educacional.
Exigência de formação intelectual formal virou uma questão chave na modernidade.
Houve em conjunto estes processos o que Parsons chamou de um aprimoramento
normativa. As mudanças sociais tenham, de alguma maneira, ser legitimados, não apenas no nível
individual mas também no plano social. Não deve existir, se o sistema vigente for continuar,
grandes conflitos entras os valores da sociedade. Para tanto é necessário que há um processo de
generalização de normas que minimiza contradições éticas e legitimada a ordem. Podemos,
voltando a Weber, pensar em como a ética protestante virou um ética capitalista. Se não fosse pelo
aprimoramento normativa, pela generalização deste ética para outras esferas da vida, não teremos a
sociedade contemporânea tal como conhecemos.
Segundo Parsons é graças esses processos, e o sistema de valores vigente nos EUA
que moldava a cultura juvenil, e criava mais, não menos pressão só o indivíduo:

To sum up, we may state that both the nature of the American value
pattern and the nature of the process of change going on in the society make for
considerable difficulties in the personal adjustment of individuals. On the one hand, our
type of activism, with its individualistic emphases, puts heavy responsibility for
autonomous achievement on the individual. On the other hand, it subjects him to important
limitations […] (idem, 105 p.)

A separação do lar e do trabalho, a expansão e exigência de educação formal, a


dependência das crianças ao núcleo familiar nos primeiros anos da vida são fatores
importantíssimos na formação da cultura juvenil americana segundo o autor.
It seems fair, then, to conclude that in getting a formal education the
average young American is undertaking a more difficult, and certainly a longer, job than his
father or mother did, and that it is very likely that he is working harder at it. A growing
proportion is prolonging formal education into the early adult years, thus raising important
problems about marriage, financial independence, and various other considerations.( idem,
109 p.)

Compared to our own past or the most other societies , there is a more
pronounced, and above all (as noted) an increasingly long segregation of the younger
groups, centered above all on the system of formal education It may be argued especially
that the impact of this process is particularly pronounced at the upper fringe of the youth
period, for the rapidly increasing proportion of the age cohort engaged in higher education
– in college, and, very importantly, in postgraduate work. These are people who are adults
in all respects except for the element of dependency, since they have not yet attained full
occupational independence.(idem, 113 p.)

Contrário a outros comentadores que chamaria atenção, ou tentaria nos convencer


que a sociedade moderna facilita a vida humana, Parsons vai na outra direção, chamando atenção
para o fato que, em conjunto aos lazeres que a sociedade moderna traz, ele produziu muitas
exigências que caiem com bastante peso sobre os ombros dos jovens gerando e influenciando
profundamente a formação de uma cutra distinta na modernidade.

3.4 – Juventude, Familia e Classe


Chegamos, enfim, na autora que serviu como inspiração focal da nossa pesquisa.
Falecida prematuramente a socióloga brasileira Marialice Mencarini Foracchi é a autora de duas
obras fundamentais para entender o fenômeno da juventude moderna O Estudante e a
Transformação da Sociedade Brasileira (1977)[1965] e A Juventude na Sociedade Moderna (1972).
De matriz weberiana a sociologia foracchiana é uma síntese dentre, os autores já discutidos aqui,
dos trabalhos do Mannheim, Parsons, Ianni, e Eisenstadt.
Segunda a autora toda sociedade tenha um ideal de um “adulto”. Este ideal
expressaria o “ethos” daquela sociedade que seus almejarão atingir. Para atingir este ideal as
sociedades estabeleçam e passa para seus jovens “etapas” pelas quais eles devem passar. É a
existência destes etapas que criam as gerações.
Uma geração “pode ser definida como tal, na medida em que possui um estilo de
ação peculiar que se distingui de estilos de ação preexistente”(FORACCHI, 1972, 19 p.). É
importante entender que, seguindo Mannheim, Foracchi entenda que gerações são fenômenos
estratificantes: “Há uma “estratificação diferencial da vida” no jovem e no adulto, que se explica
pelas diferenças de locação social”(idem, 20 p.) e é a partir destes localidades diferentes que
devemos entender os conflitos de geração, que na verdade se tratem de um questionamentos dos
mais jovens sobre a cosmovisão que herdarem da geração anterior. Assim conflitos de gerações são
melhor entendidos como auto-conflitos para a autora. Não se trate tanto de uma geração rebelar
contra um outro quanto uma geração questionando si mesmaxxx
Sendo continuidade intergeracional fundamental para a existência de culturas. É,
principalmente em sociedades altamente diferenciadas, fazer a transmissão cultural de uma vez só.
Disso decorre que a cultura terá que ser transmitido de forma parcelada. Isto, no entanto, não ocorre
de forma puramente tranquila, gerando problemas na passagem da juventude para a maioridade. O
resultado disto, para muitos, é um questionamento em bloco sobre a realidade social. O conflito de
gerações é o resultado de uma geração não saber como ou não querer preservar o que a anterior lhe
legou. Visto de outro anglo ele ocorre quando uma geração não sabe ou não quer absorver às
críticas e redefinições da posteriorxxxi.
Para ser claro, “Há, na juventude, um significado que a transcende […] mas não há
virtude especial em ser jovem. Acontece apenas que chegou o momento dos jovens entrarem na
história”(idem, 33 p.). A juventude se afirma enquanto etapa que responde as frustrações da vida
adulta insatisfatório. É, sem dúvida, uma fase difícil. Alguns se tornaram “jovens profissionais”,
alienados. Outros partirão para a análise, e participarão experimental “desvendando” ilusões, e
procuram outros marginalizados enquanto aliados. Estes, ao contrário dos alienados que focam em
espaços formais, se toram para os agentes humanos. “Tal decisão não possui, originalmente, um
embasamento político, embora significado político. A vinculação partidário, ou ideologia é um
resultado desse decisão e não uma condição para que ela seja assumida”(idem, 35 p.). [DA PARA
PROBLEMATIZAR ESTE AFIRMAÇÃO A LUZ DAS PESQUISAS SOBRE MOVIMENTOS
SOCIAIS]
Tudo isso ocorre em face um sistema social em crise e é a crise, a estrutura e
exclusão do mercado ocupacional que leva a alienação e radicalização. Esta consciencização,
segunda a autora, depende de certos privilégios que apenas uma minoria detenha. É o
reconhecimento da potência latente no sistema que gera radicalização, algo que apenas uma
intelligentzia, com formação universitária sobre perceber. Recentemente este posicionamento do
Foracchi tenha sida criticada por Weller, ao menos no contexto atual:
O funk e o hip-hop podem ser citados como exemplo de movimentos
geracionais/juvenis não mediatizados pela formação acadêmica de seus precursores, os
quais passaram a ocupar um espaço relevante no processo de constituição de gerações nos
anos 1990, persistindo até o presente (cf. entre outros: Dayrell, 2005; Tavares, 2009; Weller,
2010).(WELLER, 2010, 216 p.)
Weller não nega que a universidade foi durante a década de 1960 um importante, se
não o mais importante centro de radicalização juvenil, apenas aponta para a existência de outros
vias contemporaneamente. [RELOCAR ESTE PARTE]
Segundo Foracchi o processo de radicalização passa pela:
a) modificação de percepção da realidade social, modalizada pela
confrontação pessoal com a miséria social b) no processo de engajamento que se ativa em
decorrência de tal percepção c) elas determinações da condição de privilégios que gerarem,
socialmente, para o jovem, a viabilidade da opção radical(op. cit., p. 40)
Por outro lado Foracchi apontava que a educação é muito valorizada pela população
popular, visto como revolucionário. Radicalizar é abandonar origem. No entanto, em boa parte em
função da interrupção as camadas populares tende nem à alienação ou ao radicalismo mas ao
conformismo.
Uma perspectiva forte compartilhado dentre os universitários na época das pesquisas
da Foracchi era de que a universidade era um microcosmo da sociedade maior:
Esta definição [microcosmo da sociedade] apresenta uma dupla
implicação: por um lado traduz o fato de que o sistema universitário reflete as crises da
sociedade e, por outro lado, chama atenção para as crises que são inerente ao próprio
sistema universitário.(op. cit. 43 p.)
É importante frisar que a natureza da universidade é ligada a população que o
componha. No seu texto Foracchi aponta pelo fato que no Brasil a maioria dos alunos são os
primeiros da família a ingressar, enquanto na Europa o caso era o contrário, mas esteve em via de
mudar. Em dado época as universidades europeias moldavam os estudantes. Depois eles passarem a
dar autoconfiança aos estudantes, algo que ocorre de forma distinto a alunos de classe popular. A
universidade é seletivo deste maneira, influenciado seus ingressantes de formas distintas conforme
sua classe social for mais ou menos acostumados como capital, sociocultural que encontrão na
universidade.xxxii
Conforme Maria Helena Olivia Augusto(2005) na obra da Foracchi encontramos um
analise que se preocupa com:
As relações interpessoais e as manifestações vinculadas à situação de
classe, além da referência aos processos de transformação da sociedade inclusiva, foram os
pontos destacados na análise do estudante como categoria social (AUGUSTO, 2010, 13 p.).
A análise das classes sociais, particularmente da pequena burguesia, é central na
sociologia foracchiana. Através dele podemos captar “[…] padrões de pensamento e de experiência
inerentes ao estilo de convivência da sociedade moderna” (Foracchi, 1977, p. 66)
Nele a classe, como categoria explicativa, é o eixo básico da exposição, já
que a compreensão objetiva do processo de constituição do estudante como categoria
social, não dispensa a elucidação da natureza e do vínculo de classe (FORACCHI, 1977, p.
6).
Segundo Nilson Weisheimer(2015, p. 8) “A concepção de classe social adotada por
Foracchi apoia-se em Mannheim e Fernandes, que foram atentos leitores de Marx,”, e conforme já
destacamos possibilite inferir algo sobre a psicologia destes.
Outro elemento de interesse são as situações interpessoais, particularmente, além da
geração como já vimos, referente à família com o qual o estudante mantém o que Foracchi chamou
relações de manutenção: “Estas formalizam a situação de classe no nível das relações interpessoais,
pois propiciam uma modalidade de ajustamento entre o jovem e o adulto que envolve o modo pelo
qual ambos são socialmente categorizados”(AUGUSTO, 2010, 14 p.). Entre as considerações que
desperte interesse é a relação de dependência que é estabelecida entre os estudantes e seus pais.

A dependência econômica não chega a preocupá-los, pois consideram


esse encargo parte da obrigação familiar, sendo portanto “natural”. A aparente gratuidade
dessa manutenção, que afigura não exigir nenhum retorno por parte dos jovens, revela-se,
entretanto, não tão desinteressada (idem, p. 14).

Os universitários entrevistados pelo Foracchi tendiam a responder quando


questionado se eles deviam algum retorno aos seus pais pela formação que lhe eram proporcionados
a seu custo diziam que não. No entanto, conforme veremos a seguir, ao menos implicitamente, isto
não parece ser o mesmo mentalidade dos pais: “Sucede, todavia, que, se a atuação familiar é vista
como investimento, que trará seus ganhos no futuro, havendo a expectativa de que as dificuldades
presentes sejam recompensadas com as conquistas vindouras […]”(idem, p. 14). Se os filhos viam
como obrigatório o apoio dos pais, estes por sua vez viam nos seus filhos uma maneira de garantir
seu futuro e se elevar socialmente. “É ambíguo o sentido das relações de dependência existentes
entre os estudantes e suas famílias: de um lado, elas contêm potencialidades criadoras; de outro,
envolvem limitações evidentes.”(idem, 15 p.). Ser mantido pela família, fora de casa, é libertadora
de um lado, mas também vem com óbvios condições, i.e. boa desempenho acadêmica etc..
É através da sua relação com sua família que os estudantes são vinculados ao sistema
social maior. Nas palavras do Weisheimer Foracchi:
Assim demonstrou que os jovens se vinculam ao sistema global
inicialmente por meio da família, que ocupa uma posição nas relações sociais de produção.
Portanto, essa é a primeira instituição a promover a adesão do jovem ao sistema e, por
consequência, a uma determinada situação de classe.(op. Cit. 101)
Essas relações não são sem suas paradoxos, no entanto, como Foracchi nos mostra:
Aqui está o sentido ambíguo da dependência a que antes nos referimos: só
na qualidade de totalmente mantido é que o jovem dispõe de condições para ser um
estudante. E são paradoxalmente esses mesmos fatores que criam obstáculos à sua
realização pessoal porque reprimem, inclusive, as mais simples manifestações de vontade
autônoma. Como ser estudante, e portanto categoria social independente, se não é possível
deixar de ser, ao mesmo tempo, jovem dependente, submisso e comprometido?
(FORACCHI, 1977, p. 27-28)
O jovem é valorizada, e mantido nesta situação, pela valorização da sua
inexperiência que permitiria que ele seja o depositário dos esperanças futuros da família. Sua
inexperiência é, no entanto, sempre pensada em relação ao dos adultos e “Desse modo, estaria
confirmada a contradição inerente à inexperiência que se valoriza e à vontade que se subordina, tal
como se caracterizaria a condição social do jovem estudante mantido pela família”(Weisheimer, p.
101-102 p.) Essa inexperiência é aproveitado e moldada, na perspectiva foracchiana, em prol e pela
situação de classe da família de origem.
Para explicar as maneiras pelo qual a dependência é expresso Foracchi utilize o
conceito de estilo de dependência. Segundo Weisheimer em nota de roda pé:
Foracchi recorre à noção de estilo de pensamento de Mannheim para
propor um estilo de dependência, afirmando que “há, então, um estilo de relações sociais,
no qual está compreendido aquilo que poderíamos designar como estilo do grupo”
(FORACCHI, 1965, p. 63). Ainda como argumenta a autora: “A noção de estilo é bastante
adequada, pois, afirmamos, envolve tanto variações no modo dos indivíduos se
relacionarem entre si, quanto os fatores sociais responsáveis por tais variações” (Ibid., p.
66).(idem, p. 103)
Os estilos de dependências são vários e refletem na visão da Foracchi a situação da
família na estratificação social. A dependência do jovem é um reflexo da posição de classe da
família. Talvez seja forte demais dizer que tal como o jovem está para a família a família está para a
classe social, mas é nesta direção que vai à análise.
Há mais um paradoxo fundamental que aparece na análise. O jovem sai de casa, da
família, para, como dizemos antes, garantir o futuro da família. Para tanto há o que Foracchi chamo
de retorno às origens.xxxiii É esperada do jovem, que se transforma em estudante que, em algum
momento, em alguma medida volte para a família. Há um problema profunda que surge, no entanto.
Ao sair de casa o jovem, em certa medida, escape das relações, e obrigações de parentesco, e entre
em relações de classe, que não operam sobre as mesmas lógicas. Tencionada entre estes dois polos
boa parte dos jovens fazem tudo o que podem para ampliar sua própria autonomia.
Ao entrarem no mercado de trabalho, no entanto, os jovens constatem algo frustrante.
Sua formação acadêmica é incapaz de garantir uma boa posição no mercado, seja pela mal
qualidade da formação, seja pela supersaturação – existem muitos mais pessoas formadas em uma
dada curso do que o mercado consegui absorver – os estudantes, se veem num situação pouca
promissora, e os que se radicalizam, foco da pesquisa da Foracchi, se rebelam contra o sistema.
Como explique Weisheimer:
O aspecto decisivo é que as reivindicações de carreira levam o estudante a
perceber, gradativamente, que as implicações sociais da sua ação são amplas, ou seja, que
mais que o padrão vigente de carreira, o que ele realmente deseja transformar é a ordem
que o produz(idem, 108 p.).
Os estudantes, em conjunto uns com os outros, percebem que a estrutura profissional
vigente não são conducentes para o plano de vida que tinham formados ao sair de casa e sobre sua
própria autopercepção, e são radicalizadas ao constatar que não conseguem reverter esta situação
isoladamente. Há, portanto, como dizemos um paradoxo aqui. O estudante sai de casa para manter e
acender a família. Ao tentar, ao menos no caso da pesquisa da Foracchi, veem que a única maneira
fazer isto, e de ganhar sua própria autonomia é revoltar contra o próprio sistema que suas famílias
fazem parte, e os motivam.
Há mais um aspecto da obra do Foracchi que merece nossa atenção. Trate-se o que a
autora chamo de uma vinculação experimental com o presente. Segunda a autora não há uma
ruptura total com o passado:
Há, sim – e isto pode revestir-se da aparência de ruptura -, uma
vinculação experimental com o presente. A emergência dessa vinculação experimental com
mo presente, como processo em formação na sociedade moderna e que permeia em todos
os seus aspectos é manifestada socialmente na prática da juventude Nele ficam
demonstradas, de modo ainda vago, as condições e os conteúdos da profunda transformação
social em curso na sociedade moderna. (op cit. p. 103)

Em linhas gerais, esse modo de adaptação envolve um processo de


socialização específico que, em termos sociais, pressupõe a rejeição dos objetivos culturais
dados e dos recursos institucionais vigentes, mobilizados para concretizá-los. Traduz um
anseio de criação de alternativas sociais novas e de recursos eficientes para realizá-
las(idem, 108 p.)
Conforme veremos mais adiante quando discutimos as contribuições do Melucci e
Leccardi essa valorização é um marca forte da juventude na modernidade.

3.5 – Jovens enquanto Modelo Cultural


No seu texto de 2017 O Jovem como Modelo Cultural Angelina Peralva, chama
nossa atenção para mais detalhes destes os processos iniciada na modernidade. Se referindo a obra
de Philippe Ariès, Peralva destaque que a separação do lar e do lugar de trabalho implique
mudanças na estilo de formação profissional. Em sociedades pré-modernas esse processo era um de
aprendizadoxxxiv. Com a separação ele se transformou num de socialização. Foi com essa mudança
segunda a autora que nosso entendimento atual de infância e juventude começa segunda a autora.
Durante séculos a maneira como crianças aprenderem oficios eram convivendo com adultos.
A autora nota que esse processo, parte da racionalização moderna, se deu de forma
vertical, ou seja, partia das elites aristocráticas e burguesas indo em direção às camadas populares,
de forma lenta. Foi apenas quando o Estado tomou para si a função de expandir a educação,
tornando ela obrigatório para todos até certa fase que vejamos a democratização da educação, e a
cristalização das idades da vida.xxxv Segunda a autora “Os processos através dos quais ocorre a
cristalização social das idades da vida são múltiplos e convergentes.” (PERLAVA, 2017,15 p.), ele
passa pela separação do lar e do trabalho, do lugar da criança dentro e fora destes lugares e seus,
bem como sua escolarização, relações que segunda a autora retardarem a entrada no mundo adulto.
Estabelecida fases da vida eles são hierarquizadas, Segundo Peralva sob uma tensão
que é intrínseca à modernidade: por um lado sua orientação para a futuro, por outra sua valorização
do passado. Esse dilema, percebido pelo Hannah Arendt a referência para Peralva, resulte em uma
educação intrinsecamente conservadora, que como Durkheim aponta “é a ação exercida, pelas
gerações adultas, sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social.”
(DURKHEIM apund PERLAVA, 2017, 18 p.). Segunda Peralva não é atoa que a sociologia da
juventude, em boa parte, foi uma sociologia do desvio. i.e. do jovem delinquente, como também de
gerações.xxxvi
Para Perlava, no entanto, “Essa estrutura de oposições significativas que deu abrigo a
uma sociologia da juventude desaparece ou se dissolve, no bojo da aceleração das transformações
contemporâneas e hoje só se mantém na ótica da crise ou de uma reação conservadora.”(idem, 21
p.). Se as distinções que geraria a consciência geracional mude de forma lenta, ou excessivamente
rápida essa consciência não se forma, que segunda Peralva é o caso pressente. Mudanças sociais nos
últimos décadas, como prologamento da escolarização e a entrada tardia, como saída, no mercado
de trabalho, essa tomada de consciência que poderemos ver anteriormente é dificultada, e modifica
o que significa ser jovem.

3.6 – O Jovem e o Futuro


Segundo Carmen Leccardi em Por um Novo Significado do Futuro (2005) o
diferimento das recompensas – em termos simples, chutando a lata para frente – é a maneira como a
modernidade socializa. Sendo a juventude uma fase da vida, como já vimos anteriormente, que visa
a preparação para a vida adulta, podemos entender ele como um espece de diferimento. Assim os
jovens vivem segunda a autora em função do futuro. O presente não é apenas uma ponte entre o
futuro e o passado como a dimensão que o preparaxxxvii. Neste caso:
A identidade pessoal, consequentemente, constrói-se em relação a uma
projeção de si no tempo vindouro (o que quero ser?), graças à qual não apenas o passado
adquire sentido, mas também é tolerada uma eventual frustração que pode acompanhar as
experiências do presente.(LECCARDI, 2005, 36 p.)
O futuro é um espaço de construção de uma biografia, de um projeto de vida, na
qual, principalmente os jovens se projeta quais coisas farão e quem eles serão. “Em suma, a
perspectiva biográfica à qual remete o diferimento das recompensas implica a presença de um
horizonte temporal estendido, uma grande capacidade de autocontrole, uma conduta de vida para a
qual a programação do tempo se torna crucial.”(idem, 36 p.). O cotidiano é vivida meticulosamente.
A modernidade, no entanto, é um época de incertezas, e sob estas condições os jovens aproveitam
mais do presente do que o futuro. Vivendo um tempo social acelerada convém aproveitar o instante
e não renunciar os benefícios do presente em prol de um futuro ao longo prazo.
Apoiando-se em trabalhos do Norbert Elias, Leccardi chama nossa atenção para
épocas cognitivas – como nosso modo de perceber e viver o tempo não é um dado biológico ou
metafísica mais varia historicamente.xxxviii Em outras épocas a relação com o tempo, seja do
presente, seja com o futuro é distinta. Em sociedades pré-modernas o presente é mais importante do
que a futura. Conforme o futuro ganha mais importância, e é diferenciada do passado e presente a
maneira de conceber o tempo torna-se mais abstrata e menos passível ser experimentadoxxxix.
O tempo moderno segundo Leccardi é um tempo vetorial mas sem uma finalidade
sem um sentido a não ser distinguir o antes e o depois – perfeito para manufatura xl. Sem conteúdo
religioso para garantir o que virá o tempo moderno é incerto e aberto:
Formulado pela filosofia iluminista, o conceito de futuro aberto exercerá,
ao menos por dois séculos, uma influência profunda e difusa nos esquemas culturais da
modernidade. Evaporada a ideia de um plano divino para o futuro, o devir aparece ligado,
por um duplo fio, às escolhas e às decisões do presente(idem, 41 p.).
Passadismo é suplementado pelo futurismo e “Consequentemente, expectativas sobre
o futuro e experiências amadurecidas no passado não são mais correspondentes: o progresso as
dissocia.” (idem 41 p.) O futuro, no entanto, é o depositário da esperança. Incerto como é a
ideologia do progresso garante que o melhoramento é indiscutível. O efeito, como já vimos
anteriormente neste texto, é um maior atenção sobre os indivíduos, como eles agirão para
influenciar o futuro. Seguindo a linha do Ulrick Beck, Leccardi esclarece o que seria por detrás dos
mudanças que levam ao quadro traçado por ela. Segundo esta perspectiva vivemos numa Segunda
Modernidade, na qual as certezas que o Iluminismo da Primeira Modernidade não são mais
garantidas. Com a globalização, o pluralismo de valores e autoridade, e o individualismo
institucionalizada os riscos globais deste época não são mais passiveis de cálculo xli. [RECOLOCA
ISSO DE FORMA ABRASILEIRADA E NÃO EUROCENTRICO]
Nesta situação a criação de uma biografia é dificultado. O lapso de tempo entre o
presente e o futuro, agora preenchido de tantos riscos torna esse processo extremamente penoso.
Defronte esta dificuldade não será mais o futuro que será o foco mais o presente estendido, um
lapso de tempo próximo suficientemente breve para o domínio humano mais amplo ao ponto que
permita alguma forma de projeçãoxlii. É, no entanto, uma projeção sem um projeto. Ao contrário se
trate de selecionar “futuros virtuais” segundo Leccardi.
A primeira modernidade delineou um cenário no qual não apenas os dois
termos se correspondem respectivamente, mas também projeto coletivo e projeto individual
representam duas faces da mesma moeda. Os objetivos do projeto coletivo – liberdade,
democracia, igualdade, bem-estar econômico – aparecem como as condições básicas para a
realização do projeto individual. As biografias, por sua vez, estruturam-se em torno dessa
coincidência. A segunda modernidade tende a apagar, com a ideia de continuidade
temporal, também a ideia de projeto antes construída pelo ápice da modernidade. Hoje nos
confrontamos, portanto, com construções biográficas de um caráter inédito, desvinculadas
das formas de projeto tradicionalmente entendidas (idem, 46 p.).
Neste sentido, Leccardi compare esta situação com a discussão do Lévi-Strauss sobre
o bricolage. A atual situação seria um na qual utilizamos ferrações que não são intencionadas para
tais fins. Sem um fim predeterminada os ferramento são escolhidos momentaneamente seguindo
uma lógica prática. Portanto, os resultados são contingentes e podem ser inteiramente estranhos aos
desejos iniciaisxliii.
Desinstitucionalizada o curso da vida a trajetória biográfica não mais garantida.
Segunda a autora visto como uma fase transitório a juventude é propício para pensar a relação entre
a identidade individual e identidade social. A passagem bem-sucedidos pelas etapas institucionais
era a garantia do madurecimento. Mas como vimos esse processo tenha enfraquecida. Nesta
situação, como já ressaltamos, há um peso maior sobre os indivíduos de criar seus próprios futuros.
Ainda segunda Leccardi sobre o prolongamento da juventude: “a transformação decisiva consiste,
entretanto, no desaparecimento da possibilidade de ancorar as experiências que os jovens realizam
[…] no mundo das instituições sociais e políticas”(idem 49 p.)
A autora ressalta, no entanto, que não devemos focar exclusivamente no lado
negativo deste novo situação. Há jovens que conseguem aproveitar a incerteza:
Numa pesquisa recente realizada com jovens franceses e espanhóis, na
qual apareceu uma orientação biográfica análoga, isso foi eficazmente definido como
“estratégia da indeterminação” (Lasen, 2001, p. 90). Essa expressão procura ressaltar a
crescente capacidade dos jovens com mais recursos reflexivos (por exemplo, os estudantes)
de ler a incerteza do futuro como multiplicação das possibilidades virtuais, e a
imprevisibilidade associada ao devir como potencialidade agregadora, não como limite à
ação […] Aqui, o controle sobre o tempo biográfico não se identifica com a capacidade de
realizar projetos específicos, o que neutraliza os eventuais imprevistos que apareçam no
caminho. O controle equivale, antes, à vontade de atingir os objetivos gerais almejados –
grande parte dos jovens, mesmo na ausência de verdadeiros projetos existenciais, possui um
ou mais objetivos de grande fôlego colocados no futuro: no tocante ao trabalho, à vida
privada ou, antes, ao “cuidado de si” à la Foucault (1984).(idem, 51 p.)
É importante ressaltar, no entanto, que o sucesso neste caso tenha um carácter
classista como Leccardi aponta tendo tanto capital econômico como cultural e social:
Quem, pelo contrário, possui poucos recursos sociais e culturais parece,
sobretudo, sofrer com a perda do futuro progressivo e da capacidade de propor projetos da
primeira modernidade. Para esses jovens, o futuro, fora de controle, pode ser somente
anulado, apagado para dar lugar a um presente sem fascínio(idem, 52 p.).
3.7 – Tempo e Movimento
No seu texto Juventude, Tempo e Movimentos Sociais (2017) Alberto Melucci afirme
que é importante que façamos análises tanto microssociológico como macrossociológica. Para
iniciar essa tarefa Melucci ressalte que
1) conflitos e movimentos sociais em sociedades complexas mudam do plano material para o plano simbólico;
2) a experiência do tempo é um problema central, um dilema central;
3) pessoas jovens, e particularmente adolescentes, são atores-chave do ponto de vista da questão do tempo em
sociedades complexas.(MELLUCCI, 2017, 29 p.)
A sociedade contemporânea é uma sociedade que parte de uma perspectiva de que a
“ação humana” é seu motorxliv. De produção material passamos para a produção de signos e relações
sociais. Exista uma maior autonomia na parte dos autores sociais de formarem si mesmas através de
investimentos cognitivos, culturais e material. Transformações de caráter sistêmico possibilitarem
sistemas de informação de alta densidade. Passamos de controle da natureza, para a
mercadorização, para o desenvolvimento da reflexividade do eu que produz informação,
comunicação, sociabilidade, cada vez mais imerso no sistema e que modifique sua percepção sobre
ele.
Podemos tomar, por exemplo, a transmissão de valores até agora inquestionável que
agora possibilita uma redefinição/invenção de capacidades formais de aprendizado, habilidades
cognitivas, criatividadexlv. Por um lado nossa sociedade permite maior ação social e intervenção; por
outro lado é marcada por um aumento de controle social sistemático. Indivíduos tenham percepção
do potencial que tenham, mas também que esta potencialidade é limitada “que [esse sistema] afeta
suas raízes motivacionais e suas formas de comunicação.”(idem, 28 p.).
Os sistemas complexas nos quais vivemos requerem que seus elementos tenham
certo grau de autonomia: “Sem o desenvolvimento das capacidades formais de aprender e agir
(aprendendo a aprender), indivíduos e grupos não poderiam funcionar como terminais de redes de
informação, as quais têm que ser confiáveis e capazes de autorregulação.”(6 p.)
Para Melucci a sociedade não é simplesmente dominação e regras culturais aplicadas
a vida – é um campo de conflito, que ocorre nas áreas de maior investimento simbólico e
informacional. Os grupos sociais que travem estes disputas são aqueles são mais exposto a este
processo, e eles são temporários e serve como indicador de problemas cruciais da sociedade. De
ação efetiva passou-se para um “formal” que transmite uma mensagem pela sua própria
existênciaxlvi. Nesta situação Melucci questiona se é próprio falar em ““movimentos” quando a ação
se refere a significados, a desafios face aos códigos dominantes que dão forma à experiência
humana? Mais apropriado seria falar de redes conflituosas que são formas de produção
cultural”(idem 6 p.).
Em sociedades simbólicos tempo é categoria básica construtiva da nossa experiência
e a juventude, biologicamente e culturalmente, tem relação especial com o tempo, reflete portanto
em nossa sociedade dilemas conflituais básicos. Capitalismo tenha duas referências temporais
fundamentais a primeira é a máquina; não é nem natural nem subjetiva “Aliás, em qualquer cálculo
pautado na racionalidade instrumental, a máquina estabelece uma continuidade entre tempo
individual e tempo social”(idem, 30 p.) A orientação finalista é a segunda referência apontada pelo
Melucci. O tempo é linear, progressivo, “tempo tem direção e o seu significado só se torna
inteligível a partir de um ponto final, o fim da história.” (30 p.)
No entanto, Melucci frisa que atualmente podemos perceber um distanciamento em
relação a este modelo pois cada vez mais exista diferenças entre os tempos individuais e, portanto,
separação entre o tempo individual e o tempo social, algo que não vemos em sociedades pré-
modernas. Segundo Melucci: “Em sistemas mais altamente diferenciados, a descontinuidade
tornou-se uma experiência comum” (idem, 31 p.) A diferenciação traz consigo novos desafios. Ele
diminui a capacidade de homogenizar, e a necessidade de integrar as diferenças coletivos e
individuais dentre uma biografia.xlvii “Além disso, um tempo diferenciado é cada vez mais um
tempo sem uma história, ou melhor, um tempo de muitas histórias relativamente
independentes.”(33, p.) O tempo nessa situação, descontinuo, é claramente cultural, e vire um
campo de conflito – como medir, como valorizar a história.
É na adolescência que começa a ser percebido tensão entre tempo e identidade, pois é
no tempo que as pessoas priorizarem suas ações. Como o tempo é experimentado depende de
fatores cognitivos, emocionais e motivacionaisxlviii. A organização do tempo organiza a biografia que
molde a identidade. Como já ressaltamos, na modernidade há uma autonomização da construção de
biografias. Os adolescentes se orientam para o futuro. Para estes a perspectiva temporal é aberto, e é
orientado para a autorrealização. Enquanto uma condição cultural a juventude se desprende de
compromissos estáveis com o espaço e a cultura: “Estilos de roupas, gêneros musicais, participação
em grupos, funcionam como linguagens temporárias e provisórias com as quais o indivíduo se
identifica e manda sinais de reconhecimento para outros.”(idem 36 p.)
O mundo moderno é feita de vários “zonas”, cada um com uma lógica de
comportamento diferente. Não se consegui garantir que suas ações serão sempre adequados
movendo de uma zona a outra. Excesso de opções amplia o imaginário cultural, que incorpora a
novas lógicas o que já preexistia e, nesse sentido, a experiência é cada vez menos uma realidade
transmitida e cada vez mais uma realidade construída com representações e relacionamentos: menos
algo para se “ter” e mais algo para se “fazer”.”(idem 36 p.). Os adolescentes que vivem nesta
situação sofrem com toda esse leque de opções tanto no plano emocional quanto cognitivo, com a
aparente inconsequência de suas ações e com o poder simbólico. A experiência nesta situação se
dissolve, levando a frustração, tédio e falta de motivação. Patologias de adolescentes é dissolução
da perspectiva temporal. Experiência se tornou uma necessidade para adolescentesxlix
Para os adolescentes de hoje a experiência de tempo como possibilidade,
mas também como limitação, é uma maneira de salvaguardar a continuidade e a duração;
uma maneira de evitar que o tempo seja destruído em uma sequência fragmentada de
pontos, uma soma de momentos sem tempo.(idem, 37 p.)
Para lidar com a fragmentação da experiência a identidade é pautada no presente.
Eles, devem ser capazes de comunicar, ou não, com o mundo exterior para manter seus
relacionamentos sem ser dominado por eles. Para lidar com a amplitude de experiências eles
precisam de lógicas não racionais e de consciência de si e responsabilidade para poder relacionar
com outros.
Falta de ritos de passagens, e novos maneiras de relacionar com adultos obriga a
juventude a procurar caminhos novos para vivenciar experiências fundamentais dos limites.
Conhecer os limites é fundamental para se mover em qualquer direção. Para tanto, comunicação
com o exterior ou uma monólogo interno é necessário. A oscilação entre estes dois níveis cria uma
ciclo de aberturas e fechamentos, marcando a transformação da vida pessoal.l
Na sua relação com o tempo os jovens chama atenção para a falta de neutralidade do
tempo:
Desafiando a definição dominante do tempo, os adolescentes anunciam
para o resto da sociedade que outras dimensões da experiência humana são possíveis. E
fazendo isto, eles apelam à sociedade adulta para a sua responsabilidade: a de reconhecer o
tempo como uma construção social e de tornar visível o poder social exercido sobre o
tempo(idem p. 39)
Desde ao menos a década de 1960 os jovens tenham sidos protagonistas de vários
movimentos sociais. Segundo Melucci exista três modelos de ação comunicativa:
1) Profecia: portadora da mensagem de que o possível já é real na experiência direta dos que o proclamam. A
batalha pela mudança já está encarnadona vida e estrutura do grupo. A profecia é um exemplo notável da
contradição a que me referi. Profetas sempre falam em nome de terceiros, mas não podem deixar de
apresentar-se a si mesmos como modelo da mensagem que proclamam. Nesse sentido, como os movimentos
juvenis se batem para subverter os códigos, eles difundem culturas e estilos de vida que penetram no mercado
ou são institucionalizados.
2) Paradoxo: aqui a autoridade do código dominante revela-se através do seu exagero ou da sua inversão.
3) Representação: aqui a mensagem toma a forma de uma reprodução simbólica que separa os códigos de seus
conteúdos os quais habitualmente os mascaram. Ela pode se combinar com as duas formas acima (movimentos
contemporâneos de juventude fazem grande uso das formas de representação como o teatro, o vídeo, a mídia)
(idem, 40-41 p.)
Em cada caso os movimentos funcionam como mensageiros que revelam a sociedade
o que ele não percebe sobre si mesmoli
Os movimentos juvenis são redes dispersos, fragmentados, grupos no cotidiano,
laboratórios da experimentaçãolii. São redes esporádicos voltados para problemas específicos. Assim
exigem uma mudança no conceito de atores coletivos. Sendo o conflito agora travando no plano
simbólica os atores não podem ser encaradas como estáveis, a leque de identidades está em
constante fluxo, pois os atores vivem as contradições. Segundo Melucci pode-se utilizar a hipótese
de conflitos sistêmicos antagônicos se é visto como um campo no qual os atores podem variar: “O
campo é definido pelos problemas e diferentes os atores que o ocupam expõem para toda a
sociedades questões relacionadas com o sistema na sua totalidade e não só com um grupo ou uma
categoria social.”(idem p. 42). Os jovens sinalizem problemas referentes a condição de vida,
produção e distribuição de recursos de significados e se mobilizem para conquistar o direito de
tomar controle desse processo.

5 – Conclusão
Como vimos ao longo deste texto a juventude é um fenômeno típica da modernidade.
Ela expressa muitos dos conflitos e crises mais profundas deste tipo de sociedade e conforme seus
consequências se aprofundam e desenvolvem o que signifique ser jovem mude também. A relação
que estes tenham com o tempo é especial. Sendo uma fase de transição entre a infância e a
maioridade, a juventude revela muito sobre as interseccionalidades de classe social e família.
Enquanto um resultado da necessidade da transmissão cultural dos velhos aos mais jovens ele revela
de forma clara o quão importe é fazer análises geracionais. Confrontado o ritmo da modernidade os
jovens de hoje tenham sua identidade, bem como seus posicionamentos políticas, moldada de tal
forma que os distingui das gerações anteriores. Como Bourdieu apontou em Juventude é Apenas
uma Palavra(XXXX, 94 p.) “Classification by age(but also by sex and, of course, class…) always
means imposing limits and producing an order to which each person must keep, keeping himself in
place”(94 p.) A despeito de não ser, como classe, raça ou gênero, historicamente uma das grandes
divisores políticas que motivarem a criação de partidos ou movimentos sociais a juventude, como
espero ter elucidada um pouco aqui, é uma categoria social com forte significado político, e
conforme a sociedade de risco se agrava[AGRAVA OU SEMPRE ESTEVE PRESENTE NO
BRASIL?] pode se tornar cada vez mais relevante no futuro próximo.
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i BAORTOLAZZO, Sandro Faccin. De Comte a Bauman: Algumas aproximações entre os conceitos de geração e

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ii MANNHEIM, K.. The Problem of Generations: In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

iii MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

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iv MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

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v MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

vi WELLER, 2010, 209 p.


vii MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

viii MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

ix MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

x MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

xi MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

xii WELLER, 2010, 206 p.


xiii MANNHEIM, K.. The Problem of Generations In. KECSKEMETI, P. (ed.) Karl Mannheim: Essays. Routledge.

1972. 276-322.

xiv ABRAMS, Philips. The Historical Sociology of Individuals, 231 p.

xv “Scientifically this image of the individual is of course quite unwarranted; whatever version of the familiar image we
prefer -identity, superego, character -the essence of individuality is manifestly not 'there' in the individual in the way the
heart is in the rib cage”(236 p.)
xviABRAMS, Philips. The Historical Sociology of Individuals, 240 p.

xvii The Historical Sociology of Individuals, 267 p.

xviii “Two-sidedness” no original


xix “Signification” no original
xx BECK, BECKGERNSHEIM, Global Generations and the Trap of Methodological Nationalism, p. 26
xxi BECK, BECKGERNSHEIM, Global Generations and the Trap of Methodological Nationalism, p. 27 - 28
xxii BECK, BECKGERNSHEIM, Global Generations and the Trap of Methodological Nationalism, p. 28-29
xxiii BECK, BECKGERNSHEIM, Global Generations and the Trap of Methodological Nationalism, p. 32
xxivHENZE, Valeska. On the Concept of Youth, p. 5

xxv HENZE, Valeska. On the Concept of Youth, p. 7

xxvi HENZE, Valeska. On the Concept of Youth, p. 8

xxvii HENZE, Valeska. On the Concept of Youth, p. 9

xxviii HENZE, Valeska. On the Concept of Youth, p. 12

xxix IANNI, Octávio O Jovem Radical


xxx FORACCHI, Marialice, A juventude na Sociedade Moderna
xxxi FORACCHI, Marialice, A juventude na Sociedade Moderna
xxxii FORACCHI, Marialice, A juventude na Sociedade Moderna
xxxiii FORACCHI, Marialice, A juventude na Sociedade Moderna
xxxiv PERALVA, Angelina, O Jovem enquanto Modelo Cultural
xxxv PERALVA, Angelina, O Jovem enquanto Modelo Cultural
xxxvi PERALVA, Angelina, O Jovem enquanto Modelo Cultural
xxxvii LECCARDI Carmen, Para uma nova Significado do Futuro
xxxviii LECCARDI Carmen, Para uma nova Significado do Futuro
xxxix LECCARDI Carmen, Para uma nova Significado do Futuro
xl LECCARDI Carmen, Para uma nova Significado do Futuro
xli LECCARDI Carmen, Para uma nova Significado do Futuro
xlii LECCARDI Carmen, Para uma nova Significado do Futuro
xliii LECCARDI Carmen, Para uma nova Significado do Futuro
xliv MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais. 2017, p. 27
xlv MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 28
xlvi MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 28
xlvii MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 32
xlviii MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 33
xlixMELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 37
l MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 39
li MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 41
lii MELLUCCI, Alberto, Juventude, Tempo e Movimentos Sociais., 2017, p. 41

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