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Evellyn Rubia dos Santos Anjos

O filme Escritores da Liberdade tem como cenário principal uma escola


que era muito prestigiada em um tempo anterior ,mas devido a um
projeto ,intitulado “Integração” da Secretaria de Educação que integrou
estudantes de periferia na escola, a escola perdeu seu prestígio porque as
notas caíram. Ameaças, brigas passaram a acontecer constantemente dentro
da escola. Neste projeto de integração estavam incluídos alunos envolvidos em
gangues, ou com tornozeleira eletrônica. Eles podiam escolher ir para o
reformatório ou à escola. Essa situação, não era uma realidade apenas dentro
da escola, no decorrer do filme, nós acompanhamos a vida de vários
estudantes que estão divididos em grupos que possuem as mesmas
característica física, étnica e racial. Há o grupo dos negros , dos asiáticos ,
latinos. Esses grupos são preconceituosos uns com os outros e estão
constantemente lutando por áreas nos bairros. Por um olhar torto lançado a
alguém corre-se o risco de ser baleado. Esse ódio e vivido e disseminado. Há
limites territoriais que os asiáticos não podem passar pois pertence aos negros
e limites territoriais pertencentes aos latinos que os demais grupos não podem
ultrapassar e quando esses limites são ultrapassados, há morte, discussões e
brigas. Cada um dos grupos possui suas gangues que protege seu grupo e
mata os demais grupos por qualquer situação. Essas situações são balizadas
pelo tráfico de drogas, constantes roubos e demais crimes. O ódio é nutrido
neles dia após dia ,sem possibilidade de conciliação. Por
conseguinte, essas situações de preconceito se repetem na escola. Nesse
sentido, a sala 203 reúne esses estudantes provenientes dos bairros periféricos
que têm uma relação muito forte com as gangues. Nesse contexto entra a
senhora G, Erin,uma professora novata. Ela fica responsável por lecionar na
sala do primeiro ano que é a 203 ,como é citado no filme “A sala dos burros”.
No primeiro dia de aula ,a professora se depara com brigas.Os alunos
não respondem nem ao menos seus comprimentos, eles a encaram e a
ignoram. Por muitos dias essa cena se repete, ela passa os dias escrevendo
conteúdo no quadro e não tem resposta e nem participação dos alunos, até
que um dia algo muda neste cenário. Ela se depara ,durante a aula , com um
papel que estava sendo passado de mesa em mesa, neste papel havia um
desenho caricato de um dos alunos. Ela faz uma comparação com a
discriminação sofrida pelos judeus na época do holocausto judeu. Ela toca no
assunto mais comum para eles, as gangues, explicando o que são nazistas
como se fossem uma gangue. A partir disso, ela consegue a atenção dos
alunos. Conseguida essa atenção, ela se empenha para mantê-la. E então no
filme é mostrado como se ela percebesse que o primeiro passo para que ela
consiga dominar a sala e ter atenção do aluno, é compreender todas as
especificidades que formam o aluno, pois antes de ele ser um aluno, ele é um
ser humano e ela respeita a essência d cada um, e também o contexto social
em que eles vivem. Assim como Paulo Freire diz em seu livro Pedagogia da
Autonomia. Vemos nascer nela o desejo de ensinar esses alunos, de educá-
los, de mostrar que é possível .
Segundo aspecto do filme que nos é apresentado e a forma como
instituições educativas e as autoridades veem e tratam esses alunos. Ela vai à
biblioteca selecionar livros para distribuir entre os alunos, entretanto ela é
barrada pois os livros não podem ser emprestados para a sala 203. Para a sala
2003 podem ser emprestados, apenas livros infantis . Ela questiona a decisão,
pois os livros estão guardados sem serem usados na biblioteca Eles afirmas
que é uma regra da escola, sendo assim não pode ser quebrada. Então, a
professora compra os livros e distribui para os alunos. Depois, ela pede auxílio
da secretaria de educação que demonstra resistência mas depois a concede
autonomia para lecionar ,comprar livros e levar os alunos em viagens. Durante
todo o filme, há uma série de embates entre a professora ,a diretoria da escola
e a secretaria de educação. Questiona constantemente o fato de ser criada
uma sala, um projeto de integração para esses alunos, porém sem os recursos
necessários para que o ensino se efetive. Nesse sentido,há uma Norma no
papel que não é realidade na prática.
Erin distribui para eles exemplares do diário de Anne Frank, e eles se
veem representados na história em que ela enfrenta as lutas, a guerra, o medo
e o preconceito latente. Após a leitura do livro,a professora os incentiva a
escrever seus próprios diários e se quisessem, permitissem que ela os lesse.
Os alunos permitem, e ela o faz. Nesses diários são descritas suas percas,
seus medos, conquistas e suas dores. Em um dos diários,uma aluna conta que
viu seu pai ser preso injustamente,no outro o garoto mora com a mãe que não
conversa com ele, por ele ser parecido com o pai morto, e seu irmão está
preso, ele narra que ninguém o enxerga. O que ele faz ou deixa de fazer não é
importante para ninguém. Em outro diário, um garoto é expulso de casa por
entrar em uma gangue e agora mora em becos. Em outros diários há meninas
que relatam as violências que elas sofreram de pais, namorados, homens.
Entretanto para diretoria da escola esses assuntos devem ser deixados de fora
da sala de aula e em sua opinião esses alunos não se importam com sua
educação. A questão é eles nem sabem que isso é importante como eles vão
se importar com algo que eles não entendem. Mas os empenhos da professora
mudam suas perspectivas. Por meio da educação que eles recebem na escola
eles percebem que há um outro caminho a seguir, que o mundo não se resume
as vivências em seus bairros, em suas casas, então cada vez mais eles
almejam essa liberdade e se esforçam no que aprendizagem pode os oferecer.
Essa educação só é possível porque a professora vê e ensina embasada na
perspectiva de construção do conhecimento. Interessante destacar que junto
ao conhecimento científico é atrelada a afetividade, conforme recomenda Paulo
Freire. A mudança de rumo que a vida dos estudantes toma se deve a proposta
de mudança feita pela professora e também pelo aceite por parte doas alunos,
“é uma via de mão dupla”.
A situação vivida pela professora também é conflitante porque vemos
que no início do filme ela leva uma vida confortável, morando com o seu
esposo, tendo a profissão dos seus sonhos, que é ser professora vemos que é
filha de um Pai Rico e mesmo assim ela percebe que é responsabilidade dela
também auxiliar esses alunos, esses jovens. Mesmo vivendo de modo
confortável ela consegue ser empática com os menos desfavorecidos. Seu pai
questiona a escolha dessa profissão, diz que ela deveria considerar aquele
trabalho apenas como “um trabalho”, “uma experiência”, mas no final do livro
diz que se orgulha. Seu marido diz apoiar sua profissão e admirar o que ela
vêm fazendo, os destaques e as notícias do jornal que vêm saindo sobre o
desempenho daqueles alunos que “não sairiam do primeiro ano”, mas na
pratica, ele não a apoia . Em um determinado momento ela diz para que ele a
apoie nesse algo tão grande que ela vem realizando, assim como as esposas
fazem com os seus maridos. Porém ,em uma declaração machista ele diz que
“eu não posso ser sua esposa”, diferenciando, desse modo, os papeis de
homem e de mulher no casamento. Ele não pode ser um espectador,
participante do seu sucesso, pois esse sucesso é maior que o dele, as
responsabilidades dela são maiores que as dele. Em um ápice de egoísmo, ele
chega a pedir que ela escolha entre ele e o alunos. No fim do filme ele se
divorciam. Ao longo de todo o filme ela se depara com frases machistas que
desqualificam-na. Entretanto, ela enfrenta esse preconceito de gênero e se
esforça em seu objetivo . Ela diz que ser professora e influenciar a vida dos
alunos daquela forma tornava a vida dela completa.
Uma das frases mais lindas em todo o filme, acontece no contexto em
que o aluno que escreve em seu diário que sua mãe não o enxerga para de ir a
escola por uma frustração e em uma autoavaliação ele se da um “0”, a
professora o questiona dizendo que isso não é verdade, e não é essa nota que
ele merece. Ela diz “eu enxergo você” e uma lágrima escorre dos olhos dele.

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