BELO HORIZONTE / MG
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO
Sumário
CONTEXTO E DEFINIÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS........................................... 4
NORMAS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS .......................................... 5
TRATADOS................................................................................................................ 5
COSTUME ................................................................................................................. 6
DECLARAÇÕES, RESOLUÇÕES ETC. ADOTADAS PELOS ÓRGÃOS DAS
NAÇÕES UNIDAS ................................................................................................................. 6
PERSPECTIVAS HISTÓRICAS DOS DIREITOS HUMANOS .................................... 7
O Iluminismo .......................................................................................................................... 7
Revolução Francesa .............................................................................................................. 8
O término da Segunda Guerra Mundial ................................................................................. 8
DOCUMENTOS IMPORTANTES PARA A FORMAÇÃO E RECONHECIMENTO DAS
LIBERDADES ...................................................................................................................... 10
ORIGEM DOS DIREITOS HUMANOS ..................................................................... 13
AS DECLARAÇÕES DE DIREITOS ......................................................................... 15
ARTIGOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS: ............... 15
A ORIGEM E FORMAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS INDIVIDUAIS NO
BRASIL ................................................................................................................................ 20
A Origem Do Conceito De Cidadania E Sua Importância Para O Advento Dos Estados
Modernos............................................................................................................................. 22
A INEXISTÊNCIA DE REVOLUÇÕES BURGUESAS NO BRASIL E SUAS
CONSEQUÊNCIAS ............................................................................................................. 23
MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ............ 27
SOCIEDADES MULTICULTURAIS .......................................................................... 28
Cenário Pós-Colonial ........................................................................................................... 29
CONCEITOS DE CULTURA, IDENTIDADE E DIFERENÇA .................................... 31
Identidade Cultural............................................................................................................... 32
Igualdade E Diferença ......................................................................................................... 34
Universalismo e Relativismo ................................................................................................ 35
QUESTÕES E TENSÕES NO COTIDIANO: GÊNERO, RAÇA, ORIENTAÇÃO
SEXUAL E RELIGIÃO ......................................................................................................... 38
ETNOCENTRISMO, ESTEREÓTIPO E PRECONCEITO ......................................... 40
EDUCAÇÃO MULTICULTURAL ............................................................................... 47
CURRÍCULO E INTERCULTURALIDADE................................................................ 49
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL DE GÊNERO
Fonte: www.significados.com.br
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TRATADOS
Um tratado é um acordo entre os Estados, que se comprometem com regras
específicas. Tratados internacionais têm diferentes designações, como pactos, cartas,
protocolos, convenções e acordos. Um tratado é legalmente vinculativo para os Estados que
tenham consentido em se comprometer com as disposições do tratado – em outras palavras,
que são parte do tratado.
Um Estado pode fazer parte de um tratado através de uma ratificação, adesão ou
sucessão.
A ratificação é a expressão formal do consentimento de um Estado em se
comprometer com um tratado. Somente um Estado que tenha assinado o tratado
anteriormente – durante o período no qual o tratado esteve aberto a assinaturas – pode
ratificá-lo.
A ratificação consiste de dois atos processuais: a nível interno, requer a aprovação
pelo órgão constitucional apropriado – como o Parlamento, por exemplo. A nível internacional,
de acordo com as disposições do tratado em questão, o instrumento de ratificação deve ser
formalmente transmitido ao depositário, que pode ser um Estado ou uma organização
internacional como a ONU.
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COSTUME
O direito internacional consuetudinário – ou simplesmente “costume” – é o termo usado
para descrever uma prática geral e consistente seguida por Estados, decorrente de um
sentimento de obrigação legal.
Assim, por exemplo, enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é,
em si, um tratado vinculativo, algumas de suas disposições têm o caráter de direito
internacional consuetudinário.
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A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, por exemplo,
recebeu o apoio dos Estados Unidos em 2010, o último dos quatro Estados membros da ONU
que se opuseram a ela.
Ao adotar a Declaração, os Estados se comprometeram a reconhecer os direitos dos
povos indígenas sob a lei internacional, com o direito de serem respeitados como povos
distintos e o direito de determinar seu próprio desenvolvimento de acordo com sua cultura,
prioridades e leis consuetudinárias (costumes).
O Iluminismo
O Iluminismo (ou Era da Razão) configurou revolução intelectual que se efetivou no
continente europeu, particularmente na França, durante o século XVIII. Esse movimento
representou o auge das transformações culturais iniciadas no século XIV pelo movimento
renascentista, e colocou em destaque os valores da burguesia, favorecendo o aumento dessa
camada social.
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Revolução Francesa
Eis que ganha importância a Revolução Francesa, que foi um movimento político e
social que questionava os privilégios da nobreza e do clero, bem como o poder absoluto do
monarca. Por volta de 1789, a França enfrentava uma grave crise econômica, sendo que a
maioria dos trabalhadores rurais pagava excessiva carga tributária. Já a indústria funcionava
de forma muito artesanal e o comércio também enfrentava dificuldades.
Dentre as principais vitórias dos revoltosos franceses, está a proclamação da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, documento dos mais
indispensáveis para a evolução concreta dos direitos humanos. Ele assegura, dentre outros
direitos, a liberdade, a igualdade e a propriedade. A Declaração, inspirada em ideias
iluministas, serviu de base para a construção de diversas Constituições de Estados
Democráticos. A Revolução Francesa incentivou muitos outros movimentos revolucionários
nas décadas seguintes, marcando a luta pelo fim dos privilégios sociais e pela promoção da
dignidade humana.
O lema da Revolução Francesa era: liberdade, igualdade e fraternidade. Tais ideias
representam as três primeiras e clássicas gerações ou dimensões de direitos.
Nessa conjuntura, calha sublinhar a doutrina de Immanuel Kant, exposta em suas
obras Crítica da Razão Pura (1781), Crítica da Razão Prática (1788) e a Crítica do Juízo
(1790). Com arrimo em uma vertente racionalista, Kant definiu o Estado como instrumento de
produção das leis, representando os cidadãos, sendo a liberdade o principal fundamento para
se valorizar a dignidade humana.
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Estado não é mais o único ator internacional, o instituto da soberania é flexibilizado e o Direito
Internacional dos Direitos Humanos emerge. Este é materializado pelo sistema global de
proteção aos direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), posteriormente
complementado pelos sistemas regionais (europeu, americano e africano).
Dos marcos históricos mais citados lança-se, a partir de agora, ao estudo dos
pensamentos mais significativos.
Findada a Segunda Guerra em 1945 exalta-se uma nova corrente de pensamento, a
qual normalmente é aprofundada nas obras de Direito Constitucional. Todavia, merece aqui
destaque, porque além de fortemente influenciar a salvaguarda interna dos direitos
(fundamentais), também respingou suas balizas nas normativas internacionais (direitos
humanos). Trata-se do pós-positivismo.
Transpassados o jus naturalismo e o positivismo, ocupou lugar o pós positivismo.
Todavia, entender os dois primeiros pensamentos é premissa para se chegar à compreensão
do terceiro.
Conforme Barroso, o jus naturalismo está fundado na existência de um Direito natural,
sua concepção consiste no reconhecimento de que há valores e pretensões humanas
legítimas que não decorrem de uma norma jurídica emanada do Estado, i.e., independem do
Direito positivo. Esse Direito natural tem validade em si, legitimado por uma ética superior que
estabelece limites à própria norma estatal [11].
Já o positivismo “foi fruto de uma idealização do conhecimento científico, uma crença
romântica e onipotente de que os múltiplos domínios da indagação e da atividade intelectual
pudessem ser regidos por leis naturais, invariáveis, independentes da vontade e da ação
humana. (...) O positivismo comportou algumas variações e teve seu ponto culminante no
normativismo de Hans Kelsen”.
Ainda de acordo com a doutrina do professor Barroso, a “superação histórica do jus
naturalismo e o fracasso político do positivismo abriram caminho para um conjunto amplo e
ainda inacabado de reflexões acerca do Direito, sua função social e sua interpretação. O pós-
positivismo é a designação provisória e genérica de um ideário difuso, no qual se incluem a
definição das relações entre valores, princípios e regras, aspectos da chamada nova
hermenêutica e a teoria dos direitos fundamentais”.
Com o pós-positivismo, distinguem-se dois institutos: o princípio e a regra. Ambos são
espécies do termo norma e, ambos, possuem normatividade. Na linha desse pensamento,
Canotilho refere-se ao sistema jurídico do Estado Democrático português como um “sistema
normativo aberto de regras e princípios”. A mudança “de paradigma nessa matéria deve
especial tributo às concepções de Ronald Dworkin e aos desenvolvimentos a ela dados por
Robert Alexy. A conjugação das ideias desses dois autores dominou a teoria jurídica e passou
a constituir o conhecimento convencional da matéria”.
Em complemento, e já em fase conclusiva, levando em conta sua importância para a
compreensão evolutiva dos direitos dos seres humanos, calha abordar a perspectiva histórica
dos direitos partindo do estudo sobre os documentos mais relevantes indicados pela doutrina
especializada. Por derradeiro, o rol não é taxativo, meramente exemplificativo, contudo, o
arcabouço de fontes a seguir delineado ocupa papel de realce para a consolidação de direitos
básicos, garantidores de um mínimo existencial.
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Magna Carta
O primeiro documento majoritariamente referido pela doutrina quanto aos direitos
humanos é a Magna Carta, de 1215. Trata-se de um acordo entre reis e barões revoltados.
Ela direciona-se à proteção dos direitos dos ingleses, originários da law of the land (lei da
terra). Embora restrita aos ingleses, ela é o nascedouro dos direitos, tendo influenciado
inúmeros outros documentos. Seu principal desiderato é a limitação do poder do rei. A
judicialidade é um dos princípios do Estado de Direito.
Prevê, v.g., direito de ir e vir, propriedade privada e graduação da pena do delito.
Petition of Rights
Em 1628 adota-se a Petition of Rights. Ela reafirmou os direitos da Magna Carta, dando
ênfase à, v.g., propriedade e à proibição da detenção arbitrária.
Bill of Rights
A Declaração de Direitos de 1689, ou Bill of Rights, submete a monarquia inglesa à
soberania popular. Ela limita a autoridade real. Ao rei não mais é permitido suspender leis ou
as descumprir, muito menos pode cobrar tributos sem o consentimento do Parlamento.
Assegura-se a supremacia do Parlamento. Neste momento, são dados passos importantes
para a definição da separação de poderes.
Rule of Law
Os quatro documentos citados (Magna Carta, Petition of Rights, Habeas Corpus Act e
Bill of Rights) exaltam a regra da Rule of Law, que dispõe sobre a necessidade de todos se
sujeitarem ao Direito (Estado de Direito), inclusive os detentores do poder.
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Declaração de Virgínia
Uma noção mais clara de direitos individuais é instaurada com a Declaração de
Virgínia, de 1776, a qual abre caminho para a independência dos Estados Unidos. Ela
preceitua sobre o direito de igualdade, o poder emanado do povo, o direito à felicidade, a
separação de poderes, o direito geral ao sufrágio e o direito à propriedade. Em 04 de julho de
1776 há também a Declaração Americana da Independência.
Constituição Francesa
Outra fonte histórica dos direitos humanos é a Constituição Francesa, de
1848, fundamental para a futura consagração dos direitos econômicos e sociais
(segunda geração) nas Leis Fundamentais dos demais países.
Constituição do México
Mais recente, mas mesmo assim influenciadora, foi a Constituição do México, de 1917.
Ela constitucionalizou de forma expressa os direitos econômicos, sociais e culturais[17] e
exaltou a função social da propriedade. O seu art. 123 tratava de vários assuntos inéditos em
âmbito constitucional, tais como a limitação da jornada de trabalho, a disciplina do trabalho de
menores, bem como a limitação de horas diárias para os menores, a limitação de horas de
jornada de trabalho noturno, o descanso semanal, o salário mínimo, a igualdade salarial, o
direito de greve e outros institutos inovadores que vieram proteger os hipossuficientes
integrantes das relações de trabalho.
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tessitura, gize-se que o processo “universal dos direitos humanos teve início com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, (...) afirmando serem os direitos
humanos (...) universais, indivisíveis, interdependentes, inter-relacionados e dotados de
unidade (....)”, e se consolidou com os dois Pactos de Nova York, ambos de 1966.
A despeito da perspectiva adotada (marcos, pensamentos ou documentos), o estudo
da evolução histórica dos direitos humanos conduz à conclusão de que eles estão em
constante processo de enriquecimento, haja vista que a “conquista e a ampliação do rol de
direitos é uma imperativa e constante necessidade mundana, sob pena de a figura humana,
com o passar do tempo, ser relegada a segundo plano; o que é inconcebível”.
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a declaração afirmava que “os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem são a
fundação de todo e qualquer governo”. Quem passa a deter a soberania é a nação, e não o
rei. Todos são proclamados iguais perante a lei, eliminando todos os privilégios de
nascimento. Termos como “homens”, “homem”, “todo homem”, “todos os homens”, “todos os
cidadãos”, “cada cidadão”, “sociedade”, e “todas as sociedades”, asseguram a universalidade
dos direitos afirmados naquele documento. A reação à sua promulgação foi imediata,
chamando a atenção da opinião pública nos países vizinhos para a questão dos direitos. A
reação do inglês Edmund Burke em Reflections on the Revolution in France, de 1790, constitui
inclusive o texto fundador do conservadorismo.
A importância desse documento nos dias de hoje é ter sido a primeira declaração de
direitos e fonte de inspiração para outras que vieram posteriormente, como a Declaração
Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU (Organização das Nações Unidas), em
1948. Prova disso é a comparação dos primeiros artigos de ambas:
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
AS DECLARAÇÕES DE DIREITOS
As declarações de direitos se apresentam de maneira parecida: após um preâmbulo
que introduz a temática geral do texto, segue uma lista de artigos que explicitam vários
direitos. Faz-se necessário ressaltar, contudo, que uma declaração de direitos é muito mais
do que uma enumeração de direitos. O preâmbulo da Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão, de 1789, revela a intenção dos seus autores: eles “expõem”, “declaram”,
“lembram”. » à Declaração é um ato de reconhecimento: não se trata de um ato criador. Os
direitos por ela enunciados existem, são inerentes à natureza humana. Seria, portanto,
absurdo pretender criá-los. Basta constatar a sua existência.
Este fato é importante porque estabelece a diferença clara entre as declarações de
direitos e os textos legais: uma lei pode ser revogada pela mesma autoridade que a
promulgou, enquanto que um direito não pode ser eliminado porque ninguém é responsável
pela sua criação.
O que podemos fazer é constatar a sua existência e reconhecê-los. » à Declaração
tem um caráter pedagógico: estes direitos foram esquecidos ou ignorados. Faz-se necessário
torná-los incontestáveis. Para este efeito, um simples enunciado não basta, é preciso uma
exposição que forneça explicações que convençam o leitor.
A Declaração propõe uma sistematização das relações entre o homem e a sociedade.
O seu caráter doutrinal, sua intenção pedagógica, contrasta com o empirismo característico
dos documentos mais recentes. » Nesta declaração de direitos constata-se a ausência de um
caráter efetivador: os constituintes sabiam perfeitamente que a constatação dos direitos
humanos não basta para assegurar o seu respeito. Depois de declará-los, é ainda preciso
garanti-los. Trata-se, contudo, de duas etapas distintas.
A Declaração indica os direitos que implicam numa garantia, mas a efetivação dessa
garantia incumbe à Constituição, de acordo com a fórmula do artigo 16 da própria Declaração:
“Toda sociedade na qual (…) a garantia dos direitos não é assegurada não tem constituição.
” Constata-se aqui que um certo paradoxo cerca a ideia de direitos humanos tal qual
explicitada pelas declarações de direitos.
Com efeito, se por um lado trata-se de uma ideia bastante utópica e sonhadora, por
outro lado, a efetivação dos direitos remete a várias questões práticas que têm influência
direta na nossa vida cotidiana. Além disso, como conciliar a ideia filosófica de que os direitos
humanos existem desde sempre, pois estão inevitavelmente associados à própria existência
do ser humano, e a possibilidade de progresso das condições e da consequente libertação do
gênero humano da opressão e das injustiças que os direitos humanos podem promover na
medida em que passam a ser reconhecidos? Este paradoxo explica porque os direitos
humanos foram considerados por muito tempo como um capricho de sonhadores incorrigíveis.
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Artigo 2°
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na
presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de
língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de
nascimento ou de qualquer outra situação.
Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território
independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Artigo 3°
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo 4°
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos
escravos, sob todas as formas, são proibidos.
Artigo 5°
Ninguém será submetido à tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes.
Artigo 6°
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua
personalidade jurídica.
Artigo 7°
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei.
Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.
Artigo 8°
Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais competentes
contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela
lei.
Artigo 9°
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo 10°
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Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos
e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja
deduzida.
Artigo 11°
1- Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que
todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.
2- Ninguém será condenado por ações ou omissões que, no momento da sua prática, não
constituíam ato delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo,
não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o ato
delituoso foi cometido.
Artigo 12°
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu
domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contrastais
intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.
Artigo 13°
1- Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior
de um Estado.
2- Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu,
e o direito de regressar ao seu país.
Artigo 14°
1- Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo
em outros países.
2- Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente
por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos princípios das
Nações Unidas.
Artigo 15°
1- Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade.
2- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de
mudar de nacionalidade.
Artigo 16°
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1- A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família,
sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na
altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.
2- O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros
esposos.
3- A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção
desta e do Estado.
Artigo 17°
1- Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade.
2- Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.
Artigo 18°
Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;
este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim em público como
em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.
Artigo 19°
Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e
difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de
expressão.
Artigo 20°
1- Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas.
2- Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo 21°
1- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios públicos do seu
país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente escolhidos.
2- Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções públicas
do seu país.
3- A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos: e deve exprimir-
se através de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual,
com voto secreto ou segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de
voto.
Artigo 22°
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Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social; e pode
legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis,
graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a organização e
os recursos de cada país.
Artigo 23°
1- Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2- Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3- Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita
e à sua família uma existência conforme com a dignidade humana, e completada, se
possível, por todos os outros meios de proteção social.
4- Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em
sindicatos para defesa dos seus interesses.
Artigo 24°
Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitação
razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.
Artigo 25°
1- Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua
família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao
alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e
tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice
ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes
da sua vontade.
2- A maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as
crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social.
Artigo 26°
1- Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a
correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório. O
ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores
deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito.
2- A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos
direitos do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos,
bem como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção
da paz.
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3- Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos
filhos
Artigo 27°
1- Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade,
de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste
resultam.
2- Todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer
produção científica, literária ou artística da sua autoria.
Artigo 28°
Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma
ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e as liberdades enunciadas na
presente Declaração.
Artigo 29°
1- O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e
pleno desenvolvimento da sua personalidade.
2- No exercício deste direito e no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às
limitações estabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o
reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade
democrática.
3- Em caso algum estes direitos e liberdades poderão ser exercidos contrariamente e aos
fins e aos princípios das Nações Unidas.
Artigo 30°
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a
envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar a alguma
atividade ou de praticar algum ato destinado a destruir os direitos e liberdades aqui
enunciados.
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Nesse contexto histórico, a cidadania foi privilégio de poucos e ainda hoje se encontra
em um processo de formação que se dá em decorrência dos movimentos sociais e populares
que fazem surgir os direitos fundamentais.
No Brasil, desde seu nascimento como Estado independente, foram os movimentos
sociais que deram sentido e efetividade aos direitos fundamentais e à cidadania.
Verificou-se, em nosso processo histórico, uma inversão, pela qual os direitos
fundamentais criados nos textos constitucionais, doados de cima para baixo pelas elites,
nunca foram conhecidos pela população e adquiriram muito pouca efetividade. Somente na
atualidade os movimentos sociais geram e tornam efetivos alguns direitos fundamentais
existentes no País.
Essa inversão, aparentemente contrária a quase tudo o que se tem dito e ensinado
sobre direitos fundamentais da pessoa humana no Brasil, procura denunciar a teoria
individualista dos direitos humanos, a qual, sob a roupagem da subjetividade, banalizou
conquistas históricas da população brasileira, esvaziando os direitos humanos em seu
significado político e jurídico. Quando um povo não produz os movimentos revolucionários ou
perde a memória histórica de movimentos populares que geraram direitos fundamentais,
pode-se dizer que perdeu parte de sua soberania e cidadania.
Quando os direitos fundamentais não decorrem de conquistas sociais e populares,
mas são concedidos em Cartas Constitucionais, num movimento vertical de normatização que
não conta com a efetiva participação popular no processo legiferante, como ocorreu no Brasil,
eles tornam-se meras ideologias, que banalizam os significados dos direitos fundamentais e
ocultam seu significado jurídico e político. A possibilidade de tal reflexão só foi possível ao
nos depararmos com a situação histórica e atual dos direitos fundamentais da pessoa humana
no Brasil. Trata-se de se admitir uma dura realidade: a cidadania e os direitos fundamentais
no Brasil jamais alcançaram o sentido histórico, político e jurídico que representaram nos
países europeus ou nos Estados Unidos da América do Norte. E isso se deve, por um lado, à
habilidade de nossas elites políticas de protagonizar um processo civilizatório patrimonialista
e patriarcal e, por outro, à baixa adesão da população a movimentos sociais, quase sempre
derrotados e apagados ou desfigurados em sua importância histórica e política.
Nos estados nacionais europeus ou mesmo nos Estados Unidos da América do Norte,
as revoluções burguesas foram decorrência do efetivo exercício da cidadania e fizeram surgir
declarações de direitos.
No Brasil, onde o projeto de Estado nacional foi criado artificialmente por uma elite
política imperial, não se verificou o efetivo exercício da cidadania em seus primeiros séculos
de existência. Dessa forma, não houve no País uma revolução burguesa e os direitos
fundamentais foram importados de constituições e declarações de direitos de nações
europeias ou norte-americana.
A ideia de cidadania possui uma origem muito antiga, mas que foi reconstruída e
aperfeiçoada em diferentes momentos da história da civilização ocidental, até tornarse um
conceito fundamental na luta pela reconstrução dos Estados absolutistas em Estados
democráticos, nos séculos XVII e XVIII.
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Nos períodos da alta à média Idade Média, as vilas e cidades europeias formaram-se
aos pés dos mosteiros e igrejas. A vida dos homens ilustres e letrados formava-se sob a
influência das ordens religiosas. Os destinos políticos das cidades já não eram decididos pelas
Assembleias dos Cidadãos, mas pela autoridade religiosa e pelo poder secular, exercido por
um príncipe ou rei coroado pelo Papa. Nesse cenário, a ideia de cidadania foi substituída pela
ideia de súdito, que representava o homem livre submetido ao poder político do Rei. Contudo,
a ideia de cidadania ressurgiria por volta do século XIV com o Renascimento.
Como se sabe, este representou um retorno de muitos dos valores culturais, jurídicos
e filosóficos que eram próprios ao mundo greco-romano. A partir de então, as cidades e vilas
europeias deram início a um lento e gradual processo de emancipação política em relação ao
poder exercido pela Igreja Católica. Ora, esse processo emancipatório das cidades e vilas
europeias deu-se por meio dos movimentos sociais, entre os quais um de grande importância
foi a Reforma Protestante, verificada no início de 1517 a partir das teses de Martinho Lutero.
Para a resposta à segunda indagação, isto é, de que forma esse instituto da cidadania foi
fundamental para a construção dos Estados nacionais e dos Estados modernos, é preciso
destacar a importância da Reforma Protestante e o modo pelo qual contribuiu para muitos dos
fundamentos do surgimento do Estado moderno.
Ocorre que a Reforma Protestante foi um marco histórico que inaugurou valores éticos
e políticos inovadores: o fim do domínio político da Igreja Católica; o surgimento de liberdades
políticas; liberdade de culto e de religião; liberdade de imprensa, liberdade de pensamento e,
principalmente, liberdade de cátedra nas universidades. Evidentemente o fim do predomínio
político da Igreja Católica foi conquista de uma cidadania efetiva que propiciou um movimento
social de grande importância. Lutero jamais esteve só! Com ele a população alemã enfrentou
o poder da Igreja Católica de sua época e as reformas religiosas deram causa a muitas
reformas políticas, as quais influenciaram outros povos e Estados, como a Inglaterra e a
França. Ora, nesse momento histórico da civilização ocidental, a liberdade de cátedra nas
universidades foi fundamental para o surgimento de novas ideias jurídicas e políticas. Dentre
elas, talvez a mais importante tenha sido a que se propôs a reconstruir o conceito de
cidadania, o qual passou a ser discutido direta ou indiretamente em inúmeras obras
acadêmicas que se popularizaram entre os jovens e acadêmicos de então. Merece ser
mencionadas aquelas de autores iluministas, como Montesquieu, Locke, Rousseau e Kant,
entre outros, que influenciaram no surgimento das revoluções burguesas e,
consequentemente, no aparecimento dos Estados modernos fundados na cidadania, na
democracia constitucional e nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. As ideias
jurídico-filosóficas que propiciaram a Revolução Americana e a Revolução Francesa
propagaram-se por todo o mundo e pelo novo mundo.
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dia 9 de julho de 1932, as oligarquias cafeeiras do estado de São Paulo se rebelaram contra
a ditadura Vargas, organizando um movimento popular conhecido como Revolução de 1932.
Apesar da derrota, o movimento representou um marco nas lutas pelos direitos fundamentais
no Brasil e fez que o País construísse a segunda Constituição Republicana, a Constituição de
1934.
Nas décadas de 1940 e 1950 o Brasil viu florescer seu período de ouro. Na economia,
nas artes, na música e nos esportes surgiu uma geração que construía uma sociedade justa
e igualitária, procurando diminuir as desigualdades sociais existentes nos segmentos de
classes, intensificando a luta para extirpar o analfabetismo, instituindo um salário mínimo que
buscava concretizar a ideia de direitos mínimos aos menos favorecidos.
O avanço dos movimentos sociais urbanos e o aparecimento das Ligas Camponesas,
no início da década de 1960 exerceram forte pressão política por reformas de base na
sociedade brasileira, como a exigência de reforma agrária, erradicação do analfabetismo e
fim da desigualdade entre homens e mulheres nas relações trabalhistas, dentre outras
reivindicações políticas. Como reação a esses movimentos sociais crescentes, as elites
políticas, em conjunto com a Igreja Católica, organizaram o evento denominado “Marcha da
família com Deus pela liberdade”, o qual significou o sinal verde para que as forças militares
levassem a termo um golpe de Estado ocorrido no dia 1º de abril de 1964, fazendo com que
o presidente João Goulart abandonasse o poder e se exilasse no Uruguai.
Após o golpe de Estado, os movimentos sociais foram proibidos e duramente
reprimidos, e as lideranças camponesas e sindicais perseguidas e presas. A Lei de Segurança
Nacional foi utilizada para prender as forças oposicionistas e as lideranças dos movimentos
sociais que se erguiam contra a ditadura militar. Milhares foram assassinados e
desaparecidos, mas os movimentos sociais nunca desapareceram totalmente na luta pela
redemocratização do País.
Na década de 1980, a sociedade civil brasileira reorganizou-se em seus diversos
segmentos e deu início a um processo de manifestações políticas que exigiam o fim do
governo militar e a redemocratização. Importante foram os papéis desempenhados pela OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) que, em suas reuniões anuais, fazia publicar documento
exigindo a normalização da vida política do País e denunciando os abusos praticados pelo
regime militar. De igual importância foram as atuações da ABI (Associação Brasileira de
Imprensa) pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e pelo Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC.
Por fim, em 1984 o governo militar viu-se amplamente derrotado nas eleições gerais
para governadores, deputados federais e senadores. Era o fim da ditadura militar e o início da
redemocratização do Estado brasileiro. Esse momento da história brasileira foi marcado pela
construção de uma nova Constituição Federal, a Constituição de 1988, a mais democrática e
representativa Carta Constitucional do Estado brasileiro. Contudo, um dos efeitos nefastos do
período de governo militar no Brasil foi a desmobilização dos movimentos sociais existentes
no Brasil.
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SOCIEDADES MULTICULTURAIS
Fonte: www.diegobrandao.jusbrasil.com.br
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Cenário Pós-Colonial
Fonte: www.cartacapital.com.br
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dos direitos civis. Como resultado prático buscam-se melhorias em termos legais,
econômicos, políticos sociais e culturais para as denominadas minorias.
O multiculturalismo configura-se como política de gestão da multiculturalidade e/ou
movimentos culturais demandados pela valorização da diferença como fator de expressão de
identidade (s). Este, enquanto movimento de ideias, resulta de um tipo de consciência coletiva
para a qual as orientações do agir humano se oporiam a toda forma de centrismos
(SEMPRINI, 1999). Assim, esta política afronta as concepções monoculturais das sociedades
etnocêntricas.
Os Estados Unidos da América, Canadá, Austrália, Inglaterra, Espanha e outros mais
são exemplos de países onde as sociedades passaram a assumir formalmente a
multiculturalidade. Deste feito, tais países engendraram políticas públicas como formas de
gestão da pluralidade cultural. A América Latina, e nesta o Brasil, também se pôs diante da
necessidade de valorizar a diversidade cultural (UNESCO, 2002). Valorização esta situada na
legislação e na formatação de políticas públicas específicas.
Coroando esta política pública encontram-se programas antirracistas. Um lado prático
destes consiste em levar professores/as e alunos/as a intervir em casos de “constrangimento
racial e cultural”. A dimensão pedagógica do programa tem como finalidade a identificação
das práticas racistas sistêmicas implicadas na definição de políticas e práticas de imigração,
moradia, emprego e educação.
No Brasil é disputado o reconhecimento da diferença através de políticas
compensatórias (índios, negros, portadores de necessidades especiais, mulheres, jovens,
idosos, gays, etc.). Não obstante, este reconhecimento é marcado por contradições próprias
da formação política e cultural expressa em desigualdades sociais.
O Estado brasileiro assumiu a multiculturalidade como um condicionante da
estruturação social. Por isso, pôs no corpo da Lei Maior (BRASIL, 1988) este feito cultural
como marca da formação social do país. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDBEN, Lei 9394/96, (BRASIL, 1996) trouxe uma concepção de educação para a diversidade
cultural. Este processo de reforma estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Fundamental (BRASIL, 1998).
Em outros âmbitos legais foram implantadas políticas públicas na forma de ações
afirmativas nas universidades. A Lei nº 12.711/2012 foi sancionada em agosto de 2012. Ela
garante a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas universidades federais e
institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos integralmente do
ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. O restante
(50%) das vagas permanece no processo de seleção universal. A reforma universitária está
atravessada por este eixo transversal. Neste processo reformista foi criada a Secretaria de
Promoção de Políticas de Igualdades Raciais – SEPPIR e A Secretaria da Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI. Outras reformulações hão sido
desenvolvidas para o fortalecimento de grupos sociais discriminados ou postos à margem da
sociedade. São políticas encorajadoras das questões multiculturais. Estas, portanto,
constroem-se mediante desafios. Porque a expressão das mesmas desloca poderes. O que
tenciona relações antes mantidas em uma aura de naturalização.
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Fonte: www.portalmie.com
Nos últimos tempos a cultura tem sido o foco das discussões antropológicas devido
ao estudo de sua evolução ser essencial à compreensão da diversidade cultural da espécie
humana. Conforme Laraia (1996), o termo “cultura” foi definido pela primeira vez, no final do
século XVIII, por Edward Tylor que através do termo germânico “Kultur”, que significava os
aspectos espirituais de uma comunidade, com a palavra francesa “Civilization”, que significava
as realizações materiais de um povo.
Ao tratar do conceito de cultura, a sociologia se ocupa em entender os aspectos
aprendidos que o ser humano, em contato social, adquire ao longo de sua convivência. Esses
aspectos, compartilhados entre os indivíduos que fazem parte deste grupo de convívio
específico, refletem especificamente a realidade social desses sujeitos. Características como
a linguagem, modo de se vestir em ocasiões específicas são algumas características que
podem ser determinadas por uma cultura que acaba por ter como função possibilitar a
cooperação e a comunicação entre aqueles que dela fazem parte.
A cultura possui tanto aspectos tangíveis - objetos ou símbolos que fazem parte do
seu contexto - quanto intangíveis - ideias, normas que regulam o comportamento, formas de
religiosidade. Esses aspectos constroem a realidade social dividida por aqueles que a
integram, dando forma a relações e estabelecendo valores e normas.
Esses valores são características que são consideradas desejáveis ou indesejáveis no
comportamento dos indivíduos que fazem parte de uma cultura, como por exemplo o princípio
da honestidade que é visto como característica extremamente desejável em nossa sociedade.
As normas são um conjunto de regras formadas a partir dos valores de uma cultura,
que servem para regular o comportamento daqueles que dela fazem parte. O valor do princípio
da honestidade faz com que a desonestidade seja condenada dentro dos limites
convencionados pelos integrantes dessa cultura, compelindo os demais integrantes a agir
dentro do que é estipulado como “honesto”. As normas e os valores possuem grandes
variações nas diferentes culturas que observamos. Em algumas culturas, como no Japão, o
valor da educação é tão forte que falhar em exames escolares é visto como uma vergonha
tremenda para a família do estudante. Existe, então, a norma de que estudar e ter bom
desempenho acadêmico é uma das mais importantes tarefas de um jovem japonês e a
pressão social que esse valor exerce sobre ele é tão forte que há um grande número de
suicídios relacionados a falhas escolares. Para nós, no entanto, a ideia do suicídio motivado
por uma falha escolar parece ser loucura.
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Mesmo dentro de uma mesma sociedade podem existir divergências culturais. Alguns
grupos, ou pessoas, podem ter fortes valores baseados em crenças religiosas, enquanto
outras prefiram a lógica do progresso científico para compreender o mundo. A diversidade
cultural é um fato em nossa realidade globalizada, onde o contato entre o que consideramos
familiar e o que consideramos estranho é comum. Ideias diferentes, comportamento, contato
com línguas estrangeiras ou com a culinária de outras culturas tornou-se tão corriqueiro em
nosso dia a dia que malparamos para pensar no impacto que sofremos diariamente, seja na
adoção de expressões de línguas estrangeiras ou na incorporação de alimentos exóticos em
nossa rotina alimentar.
Uma cultura não é estática, ela está em constante mudança de acordo com os
acontecimentos vividos por seus integrantes. Valores que possuíam força no passado se
enfraquecem no novo contexto vivido pelas novas gerações, a depender das novas
necessidades que surgem, já que o mundo social também não é estático. Movimentos contra
culturais, como o punk ou o rock, são exemplos claros do processo de mudança de valores
culturais que algumas sociedades viveram de forma generalizada.
O contato com culturas diferentes também modifica alguns aspectos de nossa cultura.
O processo de aculturação, onde uma cultura absorve ou adota certos aspectos de outra a
partir do seu convívio, é comum em nossa realidade globalizada, onde temos contato quase
perpétuo com culturas de todas as formas e lugares possíveis.
Identidade Cultural
A identidade cultural ainda é bastante discutida dentro dos círculos teóricos das
Ciências Sociais em face de sua complexidade. Entre as possíveis formas de entendimento
da ideia de identidade cultural, existem duas concepções distintas que devemos destacar
dentro dos estudos sociológicos mais recentes. Essas concepções de identidade são
brevemente explicadas por Anthony Giddens, sociólogo britânico, e nos ajudarão a entender
melhor esse conceito.
Fonte: www.pt.slideshare.net
O conceito de identidade refere-se a uma parte mais individual do sujeito social, mas
que ainda assim é totalmente dependente do âmbito comum e da convivência social. De forma
geral, entende-se por identidade aquilo que se relaciona com o conjunto de entendimentos
que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo aquilo que lhe é significativo. Esse
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Igualdade E Diferença
Igualdade e diferença são temas velhos a despeito de sua permanência no debate
atual. Esses temas estiveram enlaçados com os processos históricos emergentes e
alcançaram várias formas de aparição histórico-discursiva que nem sempre combinavam a
igualdade como oposto a uma desigualdade naturalizada, que demandava busca de soluções,
exemplo disso era na Antiguidade
Clássica, cuja igualdade não era universalizável aos “não cidadãos”, aos “bárbaros”,
mas sim, apenas aos cidadãos.
Fonte: www.aee2013cristina.blogspot.com.br
democrático, como é o caso do Brasil, afirma que todos são iguais sem distinção de qualquer
natureza, porém a estrutura concreta das sociedades revela as diversidades de ordem
cultural, social, de gênero, étnico-racial e as interferências das mesmas nas condições de vida
e de história dessas sociedades e a necessidade da busca de uma igualdade material,
substantiva, que perpassa pelo reconhecimento do direito a diferença.
Noutras palavras, existem dois tipos de igualdade: a legal – àquela que está presente
em dispositivos jurídicos; e a material – àquela que se consubstancia na vida cotidiana,
garantindo que todos os sujeitos usufruam os mesmos direitos e oportunidades.
Entretanto, o direito a igualdade material, real, só se legitima quando o direito as
diferenças são respeitadas. Com efeito, nas sociedades pluriétnicas, a noção de neutralidade
do Estado, nas esferas econômica e social, se traduz na crença de que a mera introdução de
dispositivos legais é o suficiente para garantir a existência de uma sociedade harmônica, onde
independentemente da diversidade, seria assegurado a todos a efetiva igualdade de acesso
aos bens produzidos pela humanidade, mas a discriminação se dá exatamente quando
indivíduos são tratados iguais em situações diferentes, e quando diferentes, em situações
iguais.
Nesse contexto, a discussão de igualdade tem trazido à cena as várias coletividades,
as diversas demandas específicas dos grupos excluídos histórica e culturalmente, como as
mulheres, os índios, os negros, os homossexuais, os deficientes, etc., que lutam pelo direito
às diferenças como pressuposto ao direito à igualdade, ou seja, uma discriminação positiva.
Universalismo e Relativismo
Com o processo de internacionalização dos direitos humanos, compreendido como um
fenômeno do pós-guerra - de 1945 em diante - houve a necessidade premente de se
formalizar, em diversas cartas, declarações e pactos internacionais, um rol mínimo de direitos,
individuais e coletivos, que os Estados e as Organizações Internacionais se comprometem a
respeitar, manter e promover.
O objetivo era fomentar o reconhecimento e a valorização da dignidade da pessoa
humana, independentemente, das diversidades culturais e do regime jurídico adotado por
cada Estado.
Fonte:www.pulpitocristao.com
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Nesse ínterim, foi idealizado um complexo sistema de proteção dos direitos humanos,
o qual, num contexto global é exercido pela ONU, e, nas perspectivas regionais, pelas
organizações internacionais. Destacam-se os sistemas: europeu, africano, asiático e
interamericano. Acredita-se que parte das monstruosas violações aos direitos humanos da
era Hitler poderiam ter sido evitadas, caso tais sistemas existissem.
Pela adoção do novo paradigma, o qual situa a tutela dos direitos humanos como tema
de legítimo interesse internacional, foi necessário restringir o conceito de soberania estatal, a
qual se caracterizava, até então, por sua natureza ilimitada. Assim, a proteção dos direitos
humanos não deve mais, reduzir-se ao âmbito interno de cada Estado, visto que a violação
dos direitos humanos não é um problema doméstico, mas sim, uma questão que afeta toda a
comunidade internacional.
A concepção universalista, notadamente demarcada a partir da Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948, oferece como contra-argumentos à crítica relativista, os
seguintes:
b) Contra a crítica da imposição da cultura ocidental aos demais povos, como expressão
imperialista, os universalistas reagem à postura relativista afirmando que vários Estados
promovem graves e generalizadas violações aos direitos humanos, sob a justificativa da
manutenção da identidade cultural. O discurso relativista, nesses termos, estaria
impregnado de conveniência e segundas intenções, haja vista valer-se como ideologia
para oprimir as populações subjugadas por essas práticas vis e inexpugnáveis, e, ao
mesmo tempo, para impedir a interferência da sociedade internacional na seara dos
direitos humanos.
Para reforçar essa crítica, ainda, era imprescindível refutar o argumento da falta de
representatividade dos Estados na adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948, o que para os relativistas era um sinal da arrogância dos países ocidentais. Assim, em
1993, foi adotada a Declaração e Programa de Ação de Viena. Neste acordo internacional
houve a tentativa, via normativa, de se afirmar a universalidade como característica intrínseca
aos direitos humanos. Para tanto o fórum de Viena contou com a participação de 171 Estados,
os quais de forma livre e consensual acordaram que, resguardadas as particularidades
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Assim, a crítica deve recair não sobre o Direito Internacional dos Direitos Humanos,
mas sim sobre as próprias características da sociedade internacional, cujos atores principais,
Estados, são, ao mesmo tempo, produtores, destinatários e aplicadores da norma
internacional, podendo então interpretá-la de modo unilateral para atingir seus fins”.
Por derradeiro, rebate-se a crítica “desenvolvimentista” à perspectiva universalista dos
direitos humanos, afirmando-se que a inexistência de recursos econômico-financeiros não
deve servir de mote a permitir uma postergação ad infinitum do gozo destes direitos. Ademais
é preciso lembrar que os direitos previstos nas declarações de direitos humanos são
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
denominados de mínimo ético irredutível ou mínimo existencial, ou seja, compõe o rol mínimo
de direitos e garantias que devem ser asseguradas para possibilitar a existência de uma vida
digna.
Nesse sentido, vislumbra-se que as políticas de Estado devem ser orientadas, prima
facie, para a implementação fático-jurídica dos direitos humanos, os quais, em muitos casos,
também são direitos fundamentais, por estarem também previstos nas diversas Constituições
estatais. Além disso, é falacioso o argumento de que a existência de riquezas fomenta a
implementação dos Direitos Humanos, em especial, os econômicos, sociais e culturais. A
realidade dos Estados é demarcada por grandes desigualdades econômicas internas, as
quais alijam a grande população do acesso a tais direitos, mantendo o status quo de seletas
elites locais.
Fonte: www.radiocidadecaratinga.com.br
Nos diversos contextos culturais existem fronteiras simbólicas que delimitam, de forma
semipermeável, as diferenças entre os indivíduos e grupos sociais. Quando tais fronteiras se
tornam rígidas, não permeáveis, e passam a qualificar alguns grupos a partir da
desqualificação constante e difusa de outros grupos, percebemos o preconceito em ação, ou
seja, a discriminação. Quando estas fronteiras rígidas são alvos de transgressão, percebemos
a violência e a intolerância, subjacentes às práticas discriminatórias, em relação aos/às
supostos/as 'transgressores/as'. Para a manutenção das desigualdades sociais é fundamental
que tais fronteiras sejam respeitadas, não importando o preço pago em termos de sofrimento
psíquico. Afinal, sentir-se inferiorizado/a ou desqualificado/a por defeitos pressupostos não é,
certamente, uma experiência agradável.
Apesar dessa fragmentação, gênero, raça, etnia, religião e sexualidade estão
intimamente imbricados na vida social e na história das sociedades ocidentais e, portanto,
necessitam de uma abordagem conjunta. Para trabalhar estes temas de forma transversal, é
fundamental manter uma perspectiva não essencialista em relação às diferenças. A adoção
dessa perspectiva justifica-se eticamente, uma vez que o processo de naturalização das
diferenças étnico-raciais, de gênero ou de orientação sexual, que marcou os séculos XIX e
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Precisamos, portanto, ir além da promoção de uma atitude apenas tolerante para com
a diferença, o que em si já é uma grande tarefa, sem dúvida. Afinal, as sociedades fazem
parte do fluxo mais geral da vida e a vida só persevera, só se renova, só resiste às forças que
podem destruí-la através da produção contínua e incansável de diferenças, de infinitas
variações. As sociedades também estão em fluxo contínuo, produzindo a cada geração novas
ideias, novos estilos, novas identidades, novos valores e novas práticas sociais.
Não precisamos recuar tanto no tempo para encontrar diferentes formas de
organização social e manifestações culturais: nossos antepassados agiam e pensavam de
forma muito diversa da nossa. Num passado não muito distante, a situação da mulher no
Brasil, por exemplo, era bastante distinta da atual. Os costumes de muitas famílias da nossa
oligarquia rural exigiam que os pais escolhessem aquele que desposaria sua filha. Uma série
de fatores influía na decisão dos pais e mães: desde alianças antigas entre as famílias,
obrigações recíprocas, promessas feitas, às vezes, antes do nascimento dos filhos e filhas,
até mesmo questões como o dote e os interesses econômicos, contando muito pouco o desejo
dos filhos e das filhas. Hoje as coisas são bem diferentes e, embora uma série de elementos
de diversas ordens interfira na escolha do/a parceiro/a, o desejo individual é representado
pela coletividade como decisivo.
A diversidade das manifestações culturais se estende não só no tempo, mas também
no espaço. Se dirigirmos o olhar para os diferentes continentes, encontraremos costumes que
nos parecerão, à luz dos nossos, curiosos ou aberrantes. Do mesmo modo que os povos
falam diferentes línguas, eles expressam das formas mais variadas os seus valores culturais.
O nascimento de uma criança será festejado de forma variada se estivermos em São Paulo,
na Guiné- Bissau ou no norte da Suécia: a um mesmo fato aparente – o nascimento –
diferentes culturas atribuem significados distintos que são perceptíveis por meio de suas
manifestações.
Fonte: megaarquivo.files.wordpress.com
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Fonte: www.empoderadasnagestao.wordpress.com
psiquiátrica que buscava a cura para aquele mal. Foi necessária a contribuição de outros
campos do conhecimento para romper com a ideia de “homossexualismo” como doença e
construir os conceitos de homossexualidade e de orientação sexual, incluindo a sexualidade
como constitutiva da identidade de todas as pessoas.
O preconceito contra pessoas com orientação sexual diferenciada vem sendo
fortemente combatido pelo Movimento LGBT. Consideradas, no passado, um pecado pela
religião (e por muitos até hoje), uma doença pela medicina, um desvio de conduta pela
psicologia, as prá- ticas homoeróticas, nas últimas décadas, têm contribuído para a superação
do estigma que as reprova e persegue. Embora se trate de um grupo social ainda fortemente
estigmatizado, é inegável que a atuação dos movimentos sociais tem provocado mudanças
no imaginário e agregado conhecimentos sobre a homossexualidade, de maneira a tirá-la da
“clandestinidade”. Há pouco mais de uma década, era impensável a “Parada do Orgulho Gay”,
atualmente denominada Parada LGBT, por exemplo, que ocorre em boa parte das grandes
cidades brasileiras. Cada vez mais vemos homossexuais ocupando a cena pública de
diferentes formas. A atual luta pela parceria civil constitui uma das muitas bandeiras dos
movimentos homossexuais com apoio de vários outros movimentos sociais.
Fonte: pedrovallsfeurosa.com.br
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inferioridade feminina, por um lado, e superioridade masculina, por outro. É o caso dos livros
em que a mulher ocupa os lugares de menos prestígio, como, por exemplo, a organização e
limpeza da casa, ou quando aparece como ajudante nas atividades masculinas, como
enfermeiras e garçonetes. Silenciosamente, vão sendo demarcados, com uma linha nada
imaginária, os lugares dos homens e os lugares das mulheres. E os homens e as mulheres
que fugirem desse roteiro pré-definido terão seus valores humanos ameaçados ou violados.
O grupo social, respaldado por um conjunto de ideias machistas, exercerá seu controle e
fortalecerá os mecanismos de exclusão e negação de oportunidades iguais.
É importante destacar que há mudanças acontecendo. No que se refere às mulheres,
por exemplo, historicamente em situação de desigualdade com relação aos homens, sua
entrada progressiva no mercado de trabalho, seu acesso a ambientes antes considerados
“masculinos” e, inclusive, a predominância feminina em determinadas profissões liberais se
deram em meio a um processo de transformação pautado, entre outros fatores, pelas
demandas dos movimentos feministas, muito vigorosos em todos os países ocidentais, nas
últimas décadas. Esse processo veio acompanhado de uma profunda discussão sobre a
construção das feminilidades e masculinidades nos diferentes processos de educação e pela
organização política das mulheres na luta contra o preconceito e as discriminações e pela
construção da igualdade.
A superação das discriminações implica a elaboração de políticas públicas específicas
e articuladas. Os exemplos relativos às mulheres, aos homossexuais masculinos e femininos,
às populações negra e indígena tiveram a intenção não apenas de explicitar que as práticas
preconceituosas e discriminatórias – misoginia, homofobia e racismo – existem no interior da
nossa sociedade, mas também que essas mesmas práticas vêm sofrendo profundas
transformações em função da atuação dos próprios movimentos sociais, feministas, LGBT,
negros e indígenas. Tais movimentos têm evidenciado o quanto as discriminações se dão de
formas combinadas e sobrepostas, refletindo um modelo social e econômico que nega direitos
e considera inferiores mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, negros, indígenas. A
desnaturalização das desigualdades exige um olhar transdisciplinar, que, em vez de colocar
cada seguimento numa caixinha isolada, convoca as diferentes ciências, disciplinas e saberes
para compreender a correlação entre essas formas de discriminação e construir formas
igualmente transdisciplinares de enfrentá-las e de promover a igualdade.
Daquilo que vimos refletindo até aqui, fica evidente que a escola é instituição parte da
sociedade e por isso não poderia se isentar dos benefícios ou das mazelas produzidos por
essa mesma sociedade. A escola é, portanto, influenciada pelos modos de pensar e de se
relacionar da/na sociedade, ao mesmo tempo em que os influencia, contribuindo para suas
transformações. Ao identificarmos o cenário de discriminações e preconceitos, vemos no
espaço da escola as possibilidades de particular contribuição para alteração desse processo.
A escola, por seus propósitos, pela obrigatoriedade legal e por abrigar distintas diversidades
(de origem, de gênero, sexual, étnico-racial, cultural etc.), torna-se responsável – juntamente
com estudantes, familiares, comunidade, organizações governamentais e não
governamentais – por construir caminhos para a eliminação de preconceitos e de práticas
discriminatórias. Educar para a valorização da diversidade não é, portanto, tarefa apenas
daqueles/as que fazem parte do cotidiano da escola; é responsabilidade de toda a sociedade
e do Estado.
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Compreendemos que não se faz uma educação de qualidade sem uma educação
cidadã, uma educação que valorize a diversidade. Reconhecemos, porém, que a escola tem
uma antiga trajetória normalizadora e homogeneizadora que precisa ser revista. O ideal de
homogeneização levava a crer que os/as estudantes negros/as, indígenas, transexuais,
lésbicas, meninos e meninas deveriam se adaptar às normas e à normalidade. Com a
repetição de imagens, linguagens, contos e repressão aos comportamentos “anormais” (ser
canhoto, por exemplo) se levariam os “desviantes” à integração ao grupo, passando da
minimização à eliminação das diferenças (defeitos). E o que seria normal? Ser homem-
macho? Ser mulher feminina? Ser negro quase branco? Ser gay sem gestos “afetados”?
Espera-se que o discriminado se esforce e adapte-se às regras para que ele, o diferente, seja
tratado como “igual”. Nessa visão, “se o aluno for eliminando suas singularidades
indesejáveis, será aceito em sua plenitude” (Castro, 2006, p 217).
Essa concepção de educação justificou e justifica, ainda hoje, a fala de educadores e
educadoras, os quais, ainda que reconheçam a existência de discriminações dentro e fora da
escola, acreditam que é melhor “ficar em silêncio”. Falar do tema seria acordar preconceitos
antes adormecidos, podendo provocar um efeito contrário: em vez de reduzir os preconceitos,
aumentá-los. E, nos silêncios, no “currículo explícito e oculto”, vão se reproduzindo
desigualdades. Quando a escola não oferece possibilidades concretas de legitimação das
diversidades (nas falas, nos textos escolhidos, nas imagens veiculadas na escola etc) o que
resta aos alunos e alunas, senão a luta cotidiana para adaptar-se ao que esperam deles/as
ou conformar-se com o status de “desviante” ou reagir aos xingamentos e piadinhas e
configurar entre os indisciplinados? E, por último, abandonar a escola.
A diversidade está presente em cada entrelinha, em cada imagem, em cada dado, nas
diferentes áreas do conhecimento, valorizando-a ou negando-a.
É no ambiente escolar que as diversidades podem ser respeitadas ou negadas. É da
relação entre educadores/as, entre estes/as e os/as educandos/as e entre os educandos/as
que nascerá a aprendizagem da convivência e do respeito à diversidade. “A diversidade,
devidamente reconhecida, é um recurso social dotado de alta potencialidade pedagógica e
libertadora. A sua valorização é indispensável para o desenvolvimento e a inclusão de todos
os indivíduos.
Políticas sócio educacionais e práticas pedagógicas inclusivas, voltadas a garantir a
permanência, a formação de qualidade, a igualdade de oportunidades e o reconhecimento
das diversas orientações sexuais e identidades de gênero [e étnico raciais], contribuem para
a melhoria do contexto educacional e apresentam um potencial transformador que ultrapassa
os limites da escola, em favor da consolidação da democracia” (Texto-base da Conferência
Nacional de LGBT – Direitos Humanos e Políticas Públicas: o caminho para garantir a
cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, p. 19, 2008) É no ambiente
escolar que os/as estudantes podem construir suas identidades individuais e de grupo, podem
exercitar o direito e o respeito à diferença.
Faz-se necessário contextualizar o currículo, “cultivar uma cultura de abertura ao novo,
para ser capaz de absorver e reconhecer a importância da afirmação da identidade, levando
em conta os valores culturais” dos/as estudantes e seus familiares, favorecendo que
estudantes e educadores/as respeitem os valores positivos que emergem do confronto dessas
diferenças, possibilitando, ainda, desativar a carga negativa e eivada de preconceitos que
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
marca a visão discriminatória de grupos sociais, com base em sua origem étnico-racial, suas
crenças religiosas, suas práticas culturais, seu modo de viver a sexualidade. Trata-se,
portanto, de tarefa transdisciplinar, pela qual todos os educadores e educadoras são
responsáveis. Cada área do conhecimento pode e tem a contribuir para que as realidades de
discriminação sejam desveladas, seja recuperando os processos históricos, seja analisando
estatísticas, seja numa leitura crítica da literatura ou na inclusão de autores de grupos
discriminados ou que abordem o tema. Seja, ainda, na análise das ciências biológicas e
naturalização das desigualdades.
Espera-se, portanto, que uma prática educativa de enfrentamento das desigualdades
e valorização da diversidade vá além, seja capaz de promover diálogos, a convivência e o
engajamento na promoção da igualdade. Não se trata, simplesmente, de desenvolver
metodologias para trabalhar a diversidade e tampouco com “os diversos”. É, antes de tudo,
rever as relações que se dão no ambiente escolar na perspectiva do respeito à diversidade e
de construção da igualdade, contribuindo para a superação das assimetrias nas relações
entre homens e mulheres, entre negros/as e brancos/as, entre brancos/as e indígenas entre
homossexuais e heterossexuais e para a qualidade da educação para todos e todas.
É no ambiente escolar que crianças e jovens podem se dar conta de que somos todos
diferentes e que é a diferença, e não o temor ou a indiferença, que deve atiçar a nossa
curiosidade. E mais: é na escola que crianças e jovens podem ser, juntamente com os
professores e as professoras, promotores e promotoras da transformação do Brasil em um
país respeitoso, orgulhoso e disseminador da sua diversidade.
EDUCAÇÃO MULTICULTURAL
Fonte: www.pt.dreamstime.com
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
CURRÍCULO E INTERCULTURALIDADE
Fonte: www.focussocial.eu
O cenário dos espaços escolares tem sofrido grandes alterações desde os fins do
século XVIII, quando começaram a surgir, por toda a Europa, pequenas escolas para retirar
da rua crianças filhas das classes trabalhadoras que eram obrigadas a abandonar os filhos
enquanto trabalhavam. A escola, que tinha sido criada apenas para elites, foi, lentamente,
alargando a sua base de recrutamento a clientelas sociais diversas que a foram transformando
numa escola de massas e de contato entre grupos de diferentes culturas.
Sofrendo o efeito da progressiva multiculturalidade da sociedade, a escola passou a
confrontar-se com uma realidade desajustada dos currículos etnocêntricos e monoculturais
que a caracterizavam. Esse desajuste, aliado aos ideais democráticos que passaram a
orientar muitas das políticas educativas, foi instituindo o discurso de “uma escola para todos”
e reclamando a necessidade de se repensar o currículo nas condições de sucesso que
oferece aos diferentes alunos que passaram a frequentá-la.
De fato, muitos dos debates do passado — que olhavam a educação face à diferença,
centrando-a nas questões individuais e, algumas vezes, analisando a apenas numa
perspectiva meramente psicológica — passaram a dar lugar a outros que sustentam a
importância do grupo e do contexto cultural. Quero, com isso, dizer que, atualmente, têm sido
admitidas como explicações para os acontecimentos educativos posições que, em vez de se
centrarem exclusivamente nos sujeitos e nos seus “dotes” individuais, têm em conta os
contextos em que ocorrem esses acontecimentos, as representações que deles fazem os
diferentes atores sociais e a complexidade que atravessa qualquer situação de formação.
Mesmo sem recuarmos muito no tempo, e se nos centrarmos nestas últimas décadas,
notamos, na verdade, bastantes diferenças no tipo de preocupações (e, portanto, também no
tipo de discursos) que atravessam a educação escolar quando pretende refletir sobre o tipo
de respostas que oferece aos seus clientes. Enquanto, nos anos 1980, a ênfase era colocada
na igualdade de oportunidades individuais e na justificação da necessidade de uma reforma
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
que se constituísse como um meio de combate ao insucesso escolar e de melhoria dos índices
de desempenho dos alunos, nos anos 1990, reconhece-se a responsabilidade que tem, nesse
sucesso ou insucesso, a organização do sistema escolar, e começa a ser expresso o
imperativo de uma política da diferença para proporcionar quer uma real igualdade de
oportunidade a todos os grupos, quer um enriquecimento pessoal e social que possa advir
das interações entre esses diversos grupos. Mas qual a origem dessa atenção à
multiculturalidade?
Fonte: www.dm.com.br
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
escolar dos alunos. Depois de ultrapassada a explicação baseada no Q.I. dos alunos,
justificou-se o nível diferenciado dos seus desempenhos escolares pelo handicap
sociocultural de que eram portadores, pelas técnicas de ensino utilizadas pelos professores
e, mais recentemente, pelo tipo de organização do sistema escolar, pela capacidade, ou
incapacidade, de se levar a cabo uma diferenciação pedagógica que promova uma educação
em que tenham lugar as diversas culturas.
É evidente que essas diferentes explicações corresponderam, também, e
correspondem a diferentes concepções curriculares e a diferentes papéis atribuídos aos
professores. Da concepção meramente técnica do currículo, que o olha como algo de neutro
— e na qual as atenções são apenas com o como, e não com o porquê, e em que aos
professores cabe o papel de apenas executarem o que é prescrito —, tem-se vindo a caminhar
para uma concepção que considera que o currículo não é neutro na seleção dos
conhecimentos afirmados como mais importantes nem é neutro na forma como organiza a
transmissão desses conhecimentos nem nos processos que adota para a sua estruturação.
Dito de outro modo, aceita-se que o currículo é atravessado por relações de poder e
“transmite visões sociais particulares e interessadas” (Moreira e Silva, 1995: 7), pelo que
distribui desiguais oportunidades de sucesso aos diferentes grupos socioculturais. Por isso,
tem-se vindo a afirmar que cabe às escolas e aos professores adequarem esse currículo —
que é prescrito em nível nacional — às realidades locais, assumindo, portanto, os professores
um papel ativo na configuração curricular.
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Fonte: bookbuilder.cast.org
As respostas educativas que têm sido dadas ao multiculturalismo têm variado ao longo
dos anos, de país para país, de escola para escola e, mesmo, de professor para professor,
influenciadas por concepções ideológicas, teóricas e contextuais diversas. Na intenção de
suscitar alguma reflexão em torno de possíveis efeitos das respostas que se dão à
multiculturalidade e que, à partida, poderiam não ser desejados, explicito algumas dessas
respostas. Assim:
Adeptos de algumas correntes, perante o multiculturalismo, põem em prática uma
educação que se confina à aceitação passiva da diferença, nada fazendo no sentido de a
fazer interagir. É aquilo a que se pode chamar de educação multicultural benevolente ou
passiva, pois reconhece a diferença sem a querer conhecer.
Das críticas a essa educação multicultural, por não resolver os problemas
decorrentes da diferença e que se traduzem em fenômenos de racismo e atitudes xenófobas
da responsabilidade dos grupos das culturas majoritárias, há quem defenda uma educação
antirracista, que tem como objetivo principal combater os estereótipos, preconceitos e outras
atitudes geradoras de marginalização racial.
Perspectivas que consideram ser empobrecedor, para cada uma e para todas as
culturas, isolá-las, impedindo interações e confrontos entre diferentes histórias, vivências e
valores, apostam no enriquecimento mútuo proveniente de uma convivialidade refletida.
Apostam, portanto, no que se designa como uma educação intercultural.
Se pensarmos nas consequências de cada um desses tipos de atitude escolar, é
previsível que a aceitação passiva (e não interagida) da diferença acentue essa diferença e
provoque até a “guetização”. É o que se passa, também, quando olhamos paternal e
caritativamente os alunos que pertencem a grupos sociais e econômicos desfavorecidos, mas
não os desafiamos a desenvolverem o seu potencial cognitivo nem lhes proporcionamos
ocasiões de conhecerem a organização e as regras da cultura majoritária e de maior poder.
É com ela, também, que essas crianças terão de viver e conviver. Por isso, o
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
desconhecimento das suas lógicas e dos processos do seu funcionamento não mais faz do
que favorecer situações de exclusão. Há que se proporcionar a esses alunos um bilinguismo
cultural, que lhes permita conhecer e reconhecer as suas origens, mas, simultaneamente,
aceder ao usufruto dos direitos da cidadania conferidos pelo convívio com outras culturas.
Com o que acabei de dizer, não pretendi negar o direito à diferença. A intenção foi
realçar a possibilidade de cada um ter acesso a bens de outras culturas, sem ter de negar e
rejeitar a sua identidade e as especificidades que dela lhe advêm. É sabido que o
reconhecimento pela escola (e na escola) de diferentes manifestações e comportamentos
culturais tem repercussões ao nível das autoestimas dos elementos dos grupos minoritários,
gerando confiança e predisposição para a aquisição de outros saberes. É nisso que cada um
ou uma de nós, educador ou educadora, terá de acreditar se quiser vencer o fatalismo do
insucesso escolar e contribuir para a construção de uma sociedade mais democrática.
Em síntese, uma educação intercultural não encara a diversidade dos alunos como um
problema e, perante ela, recorre a práticas que permitem a cada um deles conhecer melhor a
si e aos outros. Para isso, transporta para a escola os saberes do cotidiano e as
especificidades dos diversos grupos e trabalha-os não de forma esporádica e fragmentada,
mas contextualizados e vivenciados por processos interagidos.
Essa atitude educativa é, portanto, substancialmente diferente de um “currículo
turístico”, onde os temas da diversidade cultural, da situação diferenciada das mulheres e
outros aspectos das especificidades de certos grupos socioculturais e étnicos promovem um
olhar do “diferente” como algo de estranho e de exótico. Essa é apenas uma atitude de
contemplação que, ao procurar definir ou descrever as culturas em presença, numa atitude
comparativa, tem, muitas vezes, o efeito perverso de separar o “nós” dos “outros” e de só
realçar as diferenças, reforçando os estereótipos.
A Figura 2 ilustra o tipo de interação entre culturas característico da educação
intercultural e o que o distingue de uma educação monocultural e de uma multicultural.
Fonte: www.construirnoticias.com.br
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
de culturas diversas, em vez de constituir um obstáculo para o ensino, pode ser um fator de
enriquecimento, pela reciprocidade que essa situação acarreta e pelas oportunidades de
aquisição que oferece da “competência cultural” (Leite, C. 1997: 118).
De fato, quando acreditamos nas vantagens que decorrem dessas interações culturais,
desenvolvemos práticas que contemplam as especificidades diversas dos alunos, damos
lugar, na escola, aos saberes do cotidiano dos diversos grupos e trabalhamos esses saberes
não de forma esporádica e fragmentada, mas, sim, de uma forma contextualizada e vivenciada
por processos interagidos.
Como, também, noutro momento, disse C. Leite (1997: 315–316) e apoiandome em
M. Rey (1986: 24–37), podemos considerar que a concretização dessas ideias, ou seja, o
desenvolvimento de uma educação intercultural é facilitado se nos orientarmos pelas
seguintes ideias-base:
1- As culturas devem ser apreendidas no seu dinamismo através de processos interativos
que impliquem reconhecimentos mútuos e que desocultem relações de dominação.
2- A educação intercultural é um princípio subjacente a toda a atividade escolar, e não uma
nova disciplina; é o que Merino Fernández e Muñoz Sedano (1995: 155) consideram ser
“fundamentalmente uma educação de valores e de atitudes”.
3- Uma postura e opção interculturais pressupõem uma ação integrada que não se esgota
nos conteúdos e nas matérias selecionados para o ensino e a aprendizagem. Ao
contrário, atravessam todos os aspectos da organização e gestão curriculares como,
por exemplo, a elaboração de programas e dos horários escolares, a seleção dos
recursos materiais e humanos, o tipo de atividade extraescolar, etc.
4- A escola é o lugar privilegiado de co-educação e tem de ser o lugar de criação de
condições de comunicação real entre alunos de origens diversas, de forma a permitir
uma partilha de experiências e o desenvolvimento de atitudes de aceitação.
5- É importante a valorização das culturas maternas dos diversos grupos presentes na
escola, quer pelo poder de expressão da identidade pessoal e social, quer pela
significação que comporta enquanto reconhecimento do direito à diferença.
6- A arte, enquanto expressão artística e cultural, é uma forma privilegiada de comunicação
e reconhecimento das diversas culturas.
7- A implicação das famílias e outros elementos da comunidade é não só uma condição
importante de aprendizagem, como também um fator gerador de um maior
conhecimento e articulação entre eles.
Mas, a esse propósito, vale a pena também lembrar que não podemos olhar a
educação intercultural como uma panaceia para remediar as dificuldades educacionais
colocadas pelas crianças e pelos jovens das minorias e resolver todas as situações de
desigualdade, discriminação e exclusão econômica, social e cultural. Ela é apenas um
processo de aquisição de um biculturalismo, ou seja, um meio de adquirir competência em
duas culturas: a cultura de origem e a do grupo social majoritário e que detém o poder, pois
só assim se criam condições para que todos sejam capazes de vir a usufruir da totalidade dos
bens sociais.
como a economia no uso e na escolha lexical, o uso de uma linguagem conversacional, tramas
que despertam o interesse e cativa a atenção e que se desenvolvem rapidamente, ilustrações
ou gravuras que ajudam a compreensão, fazendo da literatura um recurso viável para ser
utilizado no tempo previsto para um período escolar.
O uso da literatura multicultural também propicia uma reflexão sobre as atitudes e
crenças com relação à diversidade. Valores culturais são formados a partir de uma tradição
histórica e representam aspectos da formação de um povo, elementos presentes na vida de
uma população e que compõem e caracterizam uma sociedade. Valores culturais não são
necessariamente permanentes e podem sofrer adaptações com mudanças em fatores
históricos, evolução social e econômica, contato com outros grupos e culturas, como, por
exemplo, com a vinda de imigrantes, que trazem consigo novos valores e elementos culturais,
passando a destruir processos discriminatórios. Entretanto, partiremos da ideia de que
nenhuma forma de discriminação ocorre no vácuo. Ao contrário, elas sempre se entrelaçam
a outras formas de discriminação, bem como à maneira pela qual uma sociedade se organiza.
A discriminação, nessa visão, apresenta-se sob as mais variadas formas, desde a intolerância
manifestada em seu mais alto grau através de atos de violência, até as práticas mais sutis, de
forma moral e social, que podem se dar através das brincadeiras ou do isolamento do
indivíduo na sociedade.
A marginalização é uma das maneiras de excluir os indivíduos ou os grandes
contingentes populacionais do processo de tomada de decisões a respeito de sua própria vida
e da vida do país. A participação dessa maneira é dificultada por uma série de obstáculos
culturais, matérias e políticos. Pensamos que uma educação multicultural é capaz de
desenvolver sensibilidade para a pluralidade de valores e culturas. Para tanto, é necessário
resgatar valores culturais antes segregados, a fim de reduzir, ou quem sabe extinguir, os
preconceitos. Este é um desafio não só de quem sofre algum tipo de preconceito, mas sim de
todo aquele que se indigna com atitudes de exclusão, seja ela étnica, cultural, racial, religiosa,
social ou sexual.
Porém, infelizmente, a escola ainda está um pouco distante de desempenhar o seu
papel como uma organização multicultural, visto que muitas vezes é nela que encontramos
situações que reforçam o preconceito e a não valorização do outro como ele é. Pensar que
além de aprender sobre metodologia e desenvolvimento cognitivo, físico e emocional de seus
estudantes, professores em formação necessitam desenvolver também um entendimento e
uma apreciação por diversidade na sala de aula.
O uso da literatura, principalmente literatura multicultural, pode ajudar nesta tarefa
apresentando diversos temas e conteúdo de uma forma que agrade aos estudantes e que
também os motive a levar em consideração e a questionar diferentes valores, novas
perspectivas e diversas formas de compreender o mundo e de relacionar com as situações
que a vida apresenta.
A escola é uma instituição cultural e tem como função social transmitir cultura e
transmitir às novas gerações o que de mais significativo culturalmente produziu a
humanidade.
Os autores afirmam que um dos problemas que têm ainda afligido a educação é sua
visão homogeneizadora da cultura escolar, o que a torna, na verdade, um espaço de conflitos,
haja visto que os alunos que não se adaptam à realidade que encontram, desestabilizam sua
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
lógica e instalam outra realidade sociocultural. É dessa forma, então, que a escola é chamada
a desempenhar outro papel. “A escola, nesse contexto, mais que transmissora da cultura, da
“verdadeira cultura”, passa a ser concebida como um espaço de cruzamento, conflitos e
diálogo entre diferentes culturas” (MOREIRA; CANDAU, 2003, p. 160).
Segundo Moreira e Candau (2003), muitos dos relatos sobre situações de
discriminação mostraram, também, que a escola é palco de manifestações de preconceitos e
discriminações de diversos tipos. Contudo, a escola tende a não reconhecer tais conflitos,
reforçando, dessa forma, o preconceito. Numa perspectiva mais crítica do multiculturalismo,
a escola deveria desafiar o preconceito através de práticas pedagógicas mais comprometidas
com a pluralidade de culturas existentes na escola. Logo, trabalhar a identidade negra é
emblemático da luta das identidades multiculturais, visto que muitas vezes o preconceito racial
é reforçado no ambiente escolar.
Ao relacionar o multiculturalismo com a educação, é possível identificar seu caráter
questionador em relação aos conhecimentos produzidos e transmitidos pelas instituições
escolares, evidenciando etnocentrismos e estereótipos criados pelos grupos sociais
dominantes, silenciadores de outras visões de mundo. Assim, uma educação sustentada por
essa perspectiva pressupõe um processo dinâmico e permanente de relação, diálogo e
aprendizagem entre culturas em condições de respeito e legitimidade mútua.
A escola é um espaço onde há reprodução e também produção de novos saberes. Na
escola há uma predominância da cultura dominante, mas também convivem as manifestações
das culturas dominadas, num espaço de conflito e de emancipação.
Percebe-se que a questão multicultural na educação é um grande desafio para as
próximas décadas, visto que esta questão acolhe significações que admitem objetivos
diversos, fundamentos ideológicos específicos, cujos limites nem sempre são claros e
transparentes, não podendo também dissociar a questão das condições sociais e econômicas
concretas de cada sociedade.
Portanto, trabalhar democraticamente para uma educação multicultural voltada para a
diversidade, em vez da proposta segregacionista ou endereçada aos alunos diferenciados
culturalmente, como nas formas assimilacionista e compensatória. Para isso necessitamos
de:
a) Possibilitar um contexto democrático de decisões sobre os conteúdos do ensino, no qual
o interesse de todos seja representado;
b) Modificar a forma de entender, praticar e de atuar com a cultura dominante no ensino,
integrando outras culturas não dominantes neste processo;
c) Realizar uma análise crítica, investigando como cada escola internamente, no seu
projeto, em suas práticas de ensinar, pode atender à diversidade.
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Fonte: www.ibradd.org.br
É no período pós-guerra que surge o Direito Internacional dos Direitos Humanos como
uma tentativa de situar os direitos fundamentais na base da ordem internacional
contemporânea. Para que esse objetivo fosse alcançado, seria necessária uma
universalização e internacionalização desses direitos, ou seja, a questão dos Direitos
Humanos deveria ir além das fronteiras dos Estados Nacionais.
Esse processo de internacionalização acabou gerando o surgimento de um sistema
normativo internacional, voltado para a proteção e amparo dos direitos fundamentais. O
sistema internacional de proteção dos direitos humanos dialoga com os sistemas nacionais
para a garantia e o respeito aos direitos e às liberdades fundamentais dos indivíduos. Todavia,
se o Estado se torna negligente frente ao compromisso de promoção dos Direitos Humanos,
o sistema internacional possui legitimidade para cobrar desses Estados.
Essa legitimidade tem lugar, sobretudo, quando se estabelece uma efetiva relação do
Estado Nacional com a ordem internacional, no sentido de garantia dos direitos fundamentais.
De outra maneira: quando o Estado aceita o aparato internacional. Nessa perspectiva, a
intervenção internacional é uma medida que reflete apenas em um auxílio ou em um
complemento à proteção interna desses direitos. O processo de internacionalização dos
direitos humanos desencadeia a democratização do cenário internacional, uma vez que surge
a sociedade civil internacional, composta por organizações não governamentais e por
indivíduos, que passam a poder acionar órgãos internacionais em casos de violação dos
direitos humanos.
Por essas razões, a dimensão da cidadania no exercício de garantia dos direitos
humanos, sobretudo no plano internacional, sugere que o favorecimento do acesso às Cortes
internacionais a indivíduos ou grupos organizados, não só contribui para a efetivação dos
direitos humanos, como se realiza, propriamente, o entendimento de que o sistema
internacional de proteção desses direitos envolve um sistema legal juridicamente vinculante,
podendo ser exigível, portanto, diretamente pela cidadania. É preciso, no entanto, refletir
sobre como a proteção dos direitos humanos costuma se realizar no interior de ordenamentos
jurídicos internos dos Estados democráticos e, sobretudo para os objetivos deste trabalho, na
democracia brasileira.
As declarações francesas de 1789 e americana de 1776, no início da idade
contemporânea, trazem a ideia de cidadania apoiada em um discurso liberal, em que os
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Fonte: www.patriciapaulausp.blogspot.com.br
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
No entanto, ressalte-se que este processo ainda está em evolução, tendo em vista
que em algumas sociedades ainda se identificam poucos avanços em relação aos direitos
humanos. Bobbio (2004) destaca que os direitos humanos são históricos, modificáveis,
suscetíveis de constante transformação e alargamento de seus horizontes, relacionando-se à
própria civilização humana em seus diferentes níveis sociais de desenvolvimento. Dessa
forma, torna-se essencial discutir acerca deste conceito para que se possa compreendê-lo em
sua amplitude diante das constantes transformações histórico-sociais, bem como sua relação
intrínseca com a educação.
Os direitos humanos podem ser definidos como um conjunto de instituições que
concretizam, em cada tempo histórico, as necessidades sociais relacionadas à sua dignidade.
Tais necessidades devem ser reconhecidas positivamente pelo ordenamento jurídico
conferindo a estes direitos o caráter de universalidade. Nesse sentido, Pérez Luño (1999, p.
48) leciona que os direitos humanos são um “[...] conjunto de faculdades e instituições que,
em cada momento histórico, concretiza as exigências da dignidade, da liberdade, da
igualdade humana”.
No entanto, embora o reconhecimento dos direitos humanos e sua consequente
positivação em algumas regulamentações, como a Declaração Universal dos Direitos do
Homem, tenham se expandido ao longo dos anos, ainda se vislumbram constantes afrontas
a tais direitos evidenciando-se a necessidade de constante observância dos dispositivos
postos visando o respeito e a garantia de proteção a todos em suas diversidades.
Para Gorczevski (2005), os direitos humanos são universais, absolutos e inerentes ao
homem, não dependendo de concessão por parte do Estado, entretanto, apesar de inerentes
à natureza humana, o “[...] seu reconhecimento e proteção é o resultado de um longo processo
histórico, que ocorreu de forma lenta e gradual, passando por várias fases e, eventualmente,
com alguns retrocessos”. Os direitos humanos trazem o sentido de igualdade entre os sujeitos
ao representarem o reconhecimento de que todos são dignos do mesmo respeito,
independentemente de diferenças biológicas ou sociais. Não há, pois, distinção entre os
sujeitos de direitos.
Ainda que não se identifique um conceito único de tais direitos, pode-se indicar um
núcleo central comum: a ideia de universalidade. Esta característica de universalidade é
essencial para se chegar à uma definição de direitos humanos, pois, sem atribuir a estes o
caráter de universalidade, corre-se o risco de criarem-se fragmentações em sua titularidade,
concebendo-se a existência de direitos cabíveis apenas a determinados grupos sociais.
Assim, falar que os direitos humanos apresentam a característica da universalidade,
significa dizer que os mesmos são inerentes a todos os homens, pelo simples fato de serem
humanos, em todas as épocas e espaços sociais, devendo ser respeitados indistintamente.
Nesse contexto, a lei escrita positiva tais direitos, tornando-se igualmente aplicável a todos.
Segundo Gorczevski (2009) os direitos humanos constituem-se em valores superiores
existentes no mundo axiológico concretizados por meio dos direitos fundamentais positivados.
Tem-se, portanto, a necessidade de evidenciar a distinção entre direitos fundamentais
e direitos humanos, tendo em vista as constantes concepções de serem termos sinônimos.
Os direitos humanos são direitos naturais cabíveis a todos os homens, independente de
nacionalidade, enquanto que os direitos fundamentais se referem à positivação destes direitos
nos respectivos ordenamentos jurídicos pátrios.
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Fonte: www.edu-cacao.blogspot.com.br
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Conquista da Babilônia
Fonte: quersaberdequer.blogspot.com.br
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Fonte: www.penapensante.com.br
Inspirado nesses princípios, Ciro partiu para novas conquistas expandindo seu
império. A Persa tornou-se muito extensa, compreendendo os atuais países: Irã, Iraque, Síria,
Líbano, Jordânia, Israel, Egito, Turquia, Kuwait, Afeganistão, parte do Paquistão, parte da
Grécia e da Líbia.
Sua existência manteve-se por mais de duzentos anos até a conquista definitiva por
Alexandre, O Grande em 332 a. C. Ciro foi um imperador que deixou um legado sobre a arte
da liderança, no qual a administração embora centralizada, tinha como foco trabalhar para o
proveito de seus súditos.
O Império Romano
Dando seguimento ao contexto histórico, em Roma, por volta do ano de 509 a.C, os
abusos dessas leis ditas divinas, começaram a incomodar o povo, provocando a desconfiança
de que ao invés dos Deuses, havia por de trás dessas leis, indivíduos interessados em obter
proveitos.
Foi então que os súditos começaram a exigir que as leis fossem feitas pelos homens
e não pelos Deuses.
Fonte: www.esquerda.net
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Fonte: www.quadrosartejur.com.br
O resultado disso, foi a elaboração das Leis das XII Tábuas, um documento de
relevante valor histórico, pois representou a abolição do ius divino (direito divino) e deu início
ao ius civilis (direito civil). As Doze Tábuas foram afixas das na porta do fórum para que todos
tivessem conhecimento das Leis. Abordava sobre Direito Processual, Família, Sucessões,
Negócios Jurídicos e Direito Penal.
Foi o primeiro diploma escrito que eliminou as diferenças de classes dando origem ao
Direito Civil. Mas, assim como todas as leis primitivas, ainda mantinha um sistema onde as
penas e os procedimentos eram rigorosos.
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
Idade Média
Contexto histórico
A Idade Média inicia-se com a Queda de Roma, por volta do ano de 476 e estende
até o ano de 1453. Roma, naquela época, era muito grande, tinha fronteiras com Europa,
África e Ásia. Não era simples mantê-la.
E como Roma já tinha conquistado todas as regiões que era de seu interesse, não
havia mais território para expandir-se. Esse fato trouxe vários prejuízos para Roma, porque
as conquistas rendiam lucros que advinham dos saques e da escravização de seus cidadãos.
Com esse prejuízo, Roma não visualizou outra solução senão os aumentos dos impostos e o
uso do dinheiro do cofre público. Isso agravou ainda mais a situação do Império.
Outro fato que ensejou a queda de Roma foi o Cristianismo. O número de pessoas
que não reconheciam a divindade do imperador aumentou. Os cristãos tornaram inimigos do
governo e começaram a ser perseguidos. Para enfatizar mais a crise, nessa época, o Império
estava sendo invadido e saqueado pelos Bárbaros. Esse fato, fez com que as pessoas de
maior poder aquisitivo abandonassem as cidades e fossem para as fazendas em busca de
segurança e proteção.
Aqueles que não possuíam terras, dirigiam-se até essas fazendas para pedir abrigo
aos proprietários. Em troca do abrigo, essas pessoas propunham a autorização para plantar
nas terras, mediante entrega de parte dessa produção para o proprietário.
Esse fenômeno ficou conhecido como “ruralização de Roma”. Foi a partir desse
momento que iniciou a instauração do feudalismo na idade média.
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
pessoas mais importantes da região para a função de julgar. Algumas vezes até nomeavam
um juiz, mas esse não julgava, apenas acompanhava o procedimento e zelava pelo
cumprimento da sentença.
Quando firmou o feudalismo, o direito de julgar passou para os senhores feudais. Mas
eles tinham a prerrogativa de nomear um substituto caso não quisessem exercer essa função.
Foi nesse contexto histórico que no ano de 1215, na Inglaterra, surgiu a Magna Carta. O Reino
Inglês estava sob o domínio do Rei João conhecido como “João Sem Terra”, e encontrava-se
sob ameaça de ser invadida e conquistada pelo Rei da França, Felipe Augusto.
Esse fato fez com que a Inglaterra permanecesse em guerra com a França por anos,
não apenas com o intuito de se defender, mas de conquistar o território francês. Isso
ocasionou altos gastos para Inglaterra que se encontrava fragilizada devido ao fracasso da
Terceira Cruzada.
Mediante essa fragilização, o rei João, ordenou o aumento de cobranças de tributos
sobre os feudos gerando um enorme descontentamento dos barões feudais, que entendia
esse ato como uma opressão por parte do Rei.
Fonte: www.bikesmusicandmore.com
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DIVERSIDADE ÉTNICO RACIAL E DE GÊNERO
do monarca.” O grande problema consistia que naquela época, ano de 1213, a Inglaterra era
feudo de Roma. O Papa tinha autoridade sobre a Inglaterra de forma que todas as leis e
decisões tomadas pelo Rei deveria passar pelo crivo papal. E como a Magna Carta não foi
submetida a esse procedimento, o Rei João, recorreu ao Papa e requereu a sua anulação.
Mas no ano de 1216, o Rei João faleceu e deu lugar ao seu sucessor Henrique III, que
retomou os direitos propostos na Magna Carta. A Magna Carta trouxe para esse período, a
previsão de Direitos ainda não presentes na história, como o habeas corpus, o direito de
propriedade e o devido processo legal. Obviamente não podemos afirmar que após o seu
advento tudo caminhasse perfeitamente. Entretanto, uma demonstração da viabilidade de tal
comportamento havia sido dada, apesar de que ainda não foi suficiente para garantir os
Direitos Humanos.
Idade Moderna
A Idade Moderna compreende o período dos séculos XV até o XVIII, iniciando com a
Tomada de Constantinopla no ano de 1453, até a Revolução Francesa no ano de 1789. Foi
um período de grandes revoluções e acontecimentos. Nesse período os Direitos Humanos
deixam de ser exclusivamente das elites e passa a ser uma conquista de uma classe
emergente.
Nas fases anteriores poder-se-ia falar de direitos de príncipes, de etnias, de
estamentos, ou de grupos, mas não de direitos humanos como faculdades jurídicas de
titularidade universal. O grande invento jurídico-político da modernidade reside, precisamente,
em haver ampliado a titularidade das posições jurídicas ativas, ou seja, dos direitos a todos
os homens, e em consequência, ter formulado o conceito de direitos humanos. Esse caráter
universalista dos Direitos Humanos, foi influenciado por vários fatos ocorridos na Idade
Moderna. Os mais importantes para o nosso estudo são: a Revolução Gloriosa, a Declaração
de Virgínea, a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa.
Revolução Gloriosa e a Petition Of Rights
Fonte: www.estudofacil.com.br
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substituição do Rei da Dinastia Stuart, que representava os católicos, por Guilherme, Príncipe
de Orange da Holanda que representada os protestantes.
O motivo dessa revolução, consistia no fato de que o rei Jaime II queria conduzir o
país dentro das diretrizes da doutrina católica e isso desagradava os nobres. Então, foi
realizado um acordo secreto entre o Parlamento inglês e o príncipe da Holanda, Guilherme
de Orange, para que o trono fosse entregue a ele. Assim, o rei Jaime II foi compelido a assinar
um documento chamado “Petition of Rights” o qual afirmava que o rei não poderia criar
impostos sem declarar guerra e nem assinar tratados sem a autorização do Parlamento. Essa
nova ordem mostrou que para acabar com o absolutismo, não era necessário acabar com a
figura do rei, desde que aceitasse a ser submisso as decisões do Parlamento. Representou,
na verdade, a transição de uma monarquia absoluta para uma monarquia Parlamentar.
Para os Direitos Humanos sua importância consiste no fato de que ela reafirmou os
direitos da Magna Carta, dando ênfase a propriedade e a proibição da detenção arbitrária.
Afirmou que nenhum homem livre seria detido ou aprisionado, tampouco despojado de seu
feudo, suas liberdades, nem exilado senão em virtude de sentença.
Fonte: www.direitonahistoria.blogspot.com.br
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Fonte: www.grupohistoriado.blogspot.com.br
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Revolução Francesa
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Idade Contemporânea
A idade Contemporânea se deu a partir da Revolução Francesa até aos dias atuais.
No segundo período da Revolução Francesa, alguns direitos denominados sociais,
especificamente os direitos relacionados ao trabalho, apareceram na sociedade, mas com
uma visão individualista. Essa ótica individualista fez com que esses direitos não
abrangessem a sociedade de forma igualitária.
Portanto, foi necessário que o Estado intervisse para que a justiça social fosse
concretizada. Dessa forma, temos a transição do Estado Liberal para o Estado Social, ou seja,
a passagem da primeira geração de direitos; que são os valores ligados a liberdade (civis e
políticos), no qual exigia-se uma abstenção do Estado, para os direitos de segunda geração;
que são os direitos sociais, econômicos e culturais, onde era preciso a atuação do Estado
para concretizar esses direitos.
No entanto, para que esses direitos se tornassem universais, foi necessário um
discurso de Direitos Humanos que abrangesse todas as nações. Esse episódio ocorreu
apenas após a Segunda Guerra Mundial. E até que isso ocorresse, vários fatos contribuíram
para que culminasse a internacionalização dos Direitos Humanos. Nesse período, os eventos
de maior importância para os Direitos Humanos foram: a Constituição Mexicana (1917) e
alemã (1919), a Liga das Nações Unidas (1919) e a Organização das Nações Unidas (1945).
pelo conflito, condenando-a financeiramente pelos desastres causados e ainda criou a Liga
das Nações. O objetivo da Liga das Nações era manter a paz e a ordem mundial, evitando
que novos conflitos desastrosos ocorressem. No conselho consultivo da Liga das Nações
estavam as potências vitoriosas da primeira guerra mundial: Grã-Bretanha, França, Itália,
Japão e mais tarde a Alemanha e a União Soviética. Os EUA não faziam parte da Liga porque
alegou que sua entrada desviaria o tradicionalismo da sua política externa.
No entanto, a Liga das Nações, não possuía um corpo militar destinado a sustentar e
promover situações de paz em áreas de conflitos. O seu instrumento de coerção baseava-se
em ações econômicas e militares, e isso não era suficiente para pressionar os países a
manterem os princípios instituídos pela Liga.
Dessa forma, perante a fragilidade da Liga e o sentimento de ultranacionalismo dentro
da Alemanha, advindo do fato de ter sido condenada a ressarcir todos os Estados vencedores
da Primeira Guerra Mundial, culminou-se a Segunda Guerra Mundial.
Seu início se deu quando Hitler invadiu a Polônia no ano de 1935. No decorrer da
Guerra, Hitler exterminou metade da população Judaica em terríveis campos de
concentração, totalizando em média 9 milhões de mortos. Nunca o Direito Humano tivera tão
próximo da extinção e tão desesperado por mudança. Então, almejando impedir que esse
episódio se repetisse, os países de todo o mundo juntaram-se e formaram a Organização das
Nações Unidas no ano de 1945.
Fonte: www.historiaonline.com.b
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Segunda Guerra Mundial, e com o intuito de construir um mundo sob novos alicerces
ideológicos, os dirigentes das nações que emergiram como potências no período pós-guerra,
liderados por Estados Unidos e União Soviética, estabeleceram, na Conferência de Yalta, na
Rússia, em 1945, as bases de uma futura paz mundial, definindo áreas de influência das
potências e acertando a criação de uma organização multilateral que promovesse
negociações sobre conflitos internacionais, para evitar guerras e promover a paz e a
democracia, e fortalecer os Direitos Humanos.
Embora não seja um documento com obrigatoriedade legal, serviu como base para os
dois tratados sobre direitos humanos da ONU de força legal: o Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Continua a ser amplamente citado por acadêmicos, advogados e cortes constitucionais.
Especialistas em direito internacional discutem, com frequência, quais de seus artigos
representam o direito internacional usual.
Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A
III) em 10 de dezembro 1948.
Preâmbulo
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da
família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça
e da paz no mundo, considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento
de um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da
liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta
aspiração do ser humano comum.
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império
da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a
tirania e a opressão, considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações
amistosas entre as nações, considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na
Carta, sua fé nos direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa
humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram promover o
progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla.
Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em
cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades
fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades, considerando que
uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o
pleno cumprimento desse compromisso.
Agora portanto a Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos
Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações,
com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tendo sempre em mente
esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a
esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e
internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos,
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tanto entre os povos dos próprios Países Membros quanto entre os povos dos territórios sob
sua jurisdição.
Carta da ONU
A Carta da ONU é o tratado que estabeleceu as Nações Unidas. A Carta das Nações
Unidas foi elaborada pelos representantes de 50 países presentes à Conferência sobre
Organização Internacional, que se reuniu em São Francisco de 25 de abril a 26 de junho de
1945. No dia 26 de junho, último dia da Conferência, foi assinada pelos 50 países a Carta,
com a Polônia – também um membro original da ONU – a assinando dois meses depois.
A Carta da ONU é o documento mais importante da Organização, como registra seu
artigo 103: “No caso de conflito entre as obrigações dos membros das Nações Unidas, em
virtude da presente Carta e as obrigações resultantes de qualquer outro acordo internacional,
prevalecerão as obrigações assumidas em virtude do presente Carta”.
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Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) como
parte do programa Juventude Viva.
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pois são eles que definem políticas, escolhem como agir em determinadas situações,
financiam a organização. Esse financiamento é protocolo a partir do momento em que o país
adentra a organização e é definido de acordo com a riqueza e o desenvolvimento de cada
um.
Por esse financiamento ser uma grande fonte de renda para que a ONU consiga
realizar projetos, campanhas e políticas continuadas, houve um rebuliço internacional quando
o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a preparação de decretos em que
corta radicalmente o repasse de verbas para a ONU, além de retirar os Estados Unidos de
acordos multilaterais. Hoje, a ONU conta com 193 países membros e o orçamento do biênio
de 2016/2017 é de 5,61 bilhões de dólares.
Onde a ONU está sediada
São tantos países que integram a ONU, que você deve estar se perguntando onde fica
a sua sede. Bom, foi durante a primeira reunião da Assembleia Geral em Londres, no ano de
1946, que ficou decidido que a sede permanente da Organização seria nos Estados Unidos.
Os desdobramentos disso foi que o magnata John Rockefeller ofereceu cerca de oito milhões
de dólares para a compra de parte dos terrenos na margem do East River, na ilha de
Manhattan, em Nova York e a cidade de Nova York ofereceu o restante dos terrenos para que
fosse construída a sede da Organização.
A primeira sede e a estrutura principal da ONU, portanto, estão em Nova York. Mas
existem outras sedes da ONU em Genebra (Suíça), Viena (Áustria), Nairóbi (Quênia), Addis
Abeba (Etiópia), Bangcoc (Tailândia), Beirute (Líbano) e Santiago (Chile), além de escritórios
espalhados em grande parte do mundo.
Como são as reuniões da ONU?
Devido ao tamanho dessa organização, a Carta da ONU definiu a existência de seis
órgãos principais: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e
Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado. Todos são
vitais para o seu funcionamento e administração, mas existem dois em especial que
precisamos conhecer mais a fundo: a Assembleia-Geral e o Conselho de Segurança.
A Assembleia-Geral da ONU
Fonte: www.rtp.pt
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Fonte: www.nemrisp.wordpress.com
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Fonte: www.nacoesunidas.org
CONSELHO DE TUTELA
Fonte: www.pt.wikipedia.org
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Fonte: www.nacoesunidas.org
SECRETARIADO
Fonte: www.opiniaoenoticia.com.br
Principais funções
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ARAÚJO, Ulisses F.; AQUINO, Júlio Groppa. Os Direitos Humanos na Sala de Aula:
A Ética Como Tema Transversal. São Paulo: Moderna, 2001.
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
CANDAU, Vera Maria. Multiculturalismo e Direitos humanos. In: REDE
BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS.
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