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Marcelo Alcantara Holanda
-Professor Associado de Medicina Intensiva e Pneumologia da Universidade Federal
do Ceará (UFC)
-Médico da UTI respiratória do Hospital de Messejana, Dr Carlos Alberto Studart Gomes.
-Idealizador da plataforma xlung para ensino da Ventilação Mecânica
Pode-se definir como modo ventilatório, o processo pelo qual o ventilador pulmonar
mecânico determina, seja parcial ou totalmente, como e quando os ciclos respiratórios
mecânicos são ofertados ao paciente. O modo determina substancialmente o padrão
respiratório do paciente durante a ventilação mecânica. Do ponto de vista
classificatório, ainda há necessidade de um consenso ou padronização internacional
sobre este tema, havendo ainda nos dias de hoje uma terminologia confusa, não
padronizada. Esta situação é agravada pela adoção de distintos nomes de marca
pelos fabricantes de ventiladores pulmonares, muitas vezes para modos com
funcionalidades semelhantes, senão idênticas, por razões de ordem comercial. Em
2010, cerca de 54 nomes de “modos” ventilatórios eram disponíveis, em 49 marcas de
ventiladores pulmonares. Todo este cenário contribui para grandes desafios no
treinamento de profissionais de saúde e, principalmente, favorece um manejo às vezes
inadequado dos modos ventilatórios mais comuns, chegando a por em risco a vida dos
pacientes sob ventilação mecânica.
Constitui objetivo deste capítulo apresentar uma definição simples e lógica dos
modos ventilatórios mais utilizados, aqui chamados de básicos. Ele se divide em 4
partes: a conceituação do ciclo respiratório espontâneo, fisiológico, seguido do ciclo
respiratório ofertado pelo ventilador pulmonar, mecânico; os modos ventilatórios mais
usados, seus ajustes e limitações, e finalmente, as perspectivas de novos modos
recentemente disponíveis. Para facilitar as explicações sobre os diferentes ciclos e
modos serão utilizadas figuras obtidas a partir de simulação computacional, tendo por
base a equação do movimento de gases no sistema respiratório em um modelo
unicompartimental linear com registro das curvas de fluxo, volume e pressão ao longo
do tempo.
Nesta figura, o esforço muscular inspiratório, representado pela Pmus, varia em intensidade e
duração em cada ciclo. A Pmus, ao expandir o volume da caixa torácica, segundo a lei de Boyle,
reduz a pressão dos gases alveolares, representado pela pressão alveolar, em azul, a valores
um pouco abaixo da pressão atmosférica, considerada o valor zero de referência. Isto gera um
gradiente de pressão entre as vias aéreas proximais (narinas e boca) e o parênquima pulmonar.
Em consequência deste gradiente, ocorre um fluxo de ar do ambiente externo para os alvéolos
através das vias aéreas, o fluxo inspiratório. O formato e a intensidade da onda deste fluxo é
determinado por este gradiente pressórico e pela resistência das vias aéreas. Ao longo do
tempo, um certo volume de ar é insuflado aos alvéolos, ou seja, um volume corrente (VC), que
é definido pelo produto: fluxo x tempo. A medida que os alvéolos são insuflados e o
parênquima pulmonar é estirado, a pressão elástica do tecido pulmonar se eleva na razão
direta do volume corrente inspirado dividido pela complacência dos pulmões e da caixa
torácica.
O tempo inspiratório consiste no intervalo que vai desde o início da entrada de ar até o
momento em que o valor máximo do VC é atingido. Com a diminuição gradual da Pmus no final
da inspiração, seguindo até o relaxamento completo dos músculos inspiratórios, a pressão
alveolar, antes negativa, se eleva progressivamente até o ponto em que excede a pressão das
vias aéreas proximais, que se mantém zero. Neste ponto, a onda de fluxo se inverte em direção
ao ambiente externo a partir dos pulmões, iniciando-se a expiração. Por convenção, a onda de
fluxo expiratória tem sinal negativo. O ar é expirado passivamente, impulsionado pela pressão
alveolar que se encontra elevada no instante final da inspiração devido o aumento da retração
elástica pulmonar e o relaxamento da musculatura inspiratória. A exalação se processa
segundo a constante de tempo do sistema respiratório, que consiste no produto da Raw x Cst,
até o momento em que a pressão alveolar se equilibra novamente com a pressão das vias
aéreas quando o fluxo cessa.
O tempo expiratório é computado como o intervalo que dura do início do fluxo expiratório até
o começo da inspiração subsequente. Cabe ao centro respiratório, localizado no bulbo, todo o
controle deste processo, sendo o mesmo determinado por complexos mecanismos
envolvendo, entre outros elementos, impulsos neurais aferentes de quimiorreceptores
periféricos e centrais, mecanorreceptores nos pulmões e caixa torácica, do córtex cerebral e de
outras regiões do sistema nervoso central. É neste intricado mecanismo do ciclo respiratório
que atua o ventilador pulmonar mecânico. Não surpreende que o suporte ventilatório ainda
apresente grandes limitações apesar de grandes avanços tecnológicos nas últimas décadas.
Além destas duas grandes divisões, o ciclo do ventilador pulmonar também pode ser
classificado quanto às variáveis que são controladas ao longo da inspiração: sejam elas tempo,
fluxo, pressão ou volume ou mesmo a combinação de duas ou mais destas. Assim um ciclo dito
CONTROLADO pode ser CICLADO A VOLUME (VCV do inglês Volume Controlled Ventilation), ou
seja, programado para findar ou “ciclar” quando se atinge um valor pré-determinado de
volume corrente (VC) ou CICLADO A TEMPO COM PRESSÃO CONTROLADA OU CONSTANTE
(PCV, do inglês Pressure Controlled Ventilation).
Ciclos controlados
As figuras 2 e 3 apresentam ciclos controlados ciclados a volume.
Figura 2. Ciclos respiratórios mecânicos do tipo CONTROLADO e CICLADO A VOLUME (VCV). O
fluxo inspiratório foi modificado nos 3 ciclos, resultando em diferentes tempos inspiratórios e
pressões nas vias aéreas (em vermelho). A pressão alveolar, em azul, não variou por ser
determinada pelo VC, que é fixo (linha tracejada). Referir-se ao texto abaixo para mais
detalhes.
É possível observar que a determinação do VC em ciclos com Pressão Constante nas vias aéreas
se faz de forma indireta, variando-se, ora o Ti (na figura 4), ora o “delta” de pressão acima da
PEEP nas vias aéreas (figura 5) ou mesmo ambos. É importante destacar que ciclos
respiratórios em PCV não garantem os valores de pressão alveolar, uma vez que esta é
determinada pela relação entre o VC e a complacência estática do sistema respiratório.
Habitualmente pode-se fixar o Ti em um determinado valor, 0,6 a 1,2s, por exemplo, titulando-
se o “delta” de pressão na via aérea parta se atingir um determinado VC desejado.
Em resumo os ciclos controlados podem ser basicamente do tipo VCV ou PCV, havendo modos
híbridos que unem características dos dois tipos de controle que serão abordados em capítulo
específico sobre novos modos. Neste ponto podemos definir que o modo ventilatório,
antigamente chamado de controlado, somente ofertaria ciclos controlados ao paciente.
Obviamente, modos controlados puros não são mais utilizados pois resultariam em grande
desconforto para os pacientes quando estes fizessem uso de sua musculatura respiratória.
Ciclos assistidos
Uma situação bem mais complexa ocorre quando o comando neural (drive) e a musculatura do
sistema respiratório do paciente estão ativos. Neste caso virtualmente todos os ventiladores
pulmonares mecânicos monitorizam a “demanda” do paciente através da mensuração
contínua do fluxo e/ou pressão no circuito do ventilador. O ajuste, comumente denominado de
“sensibilidade”, determina o limiar de variação de fluxo ou pressão que será reconhecido pelo
ventilador como esforço muscular do paciente. Uma sensibilidade bem ajustada é crucial para
que o paciente seja capaz de deflagrar ou disparar ciclos respiratórios quando assim desejar.
Um ajuste de sensibilidade a pressão de -1 a -2cmH2O ou a fluxo de 2 a 5l/min são
recomendáveis. Sabe-se que o ventilador dispara mais facilmente com a sensibilidade a fluxo,
embora o valor clínico deste recurso seja discutível. As figuras 6 e 7 apresentam ciclos do tipo
VCV e PCV, respectivamente, no paciente com esforço muscular variável.
Comparando-se ciclos assistidos VCV e PCV há uma grande diferença quanto a resposta do
ventilador à demanda muscular do paciente. Em PCV, o ventilador, ao aumentar a oferta de
fluxo e de VC em relação ao esforço do paciente, potencialmente menos desconfortável.
Considerando-se que uma das metas principais da ventilação mecânica é aliviar a dispneia e o
trabalho muscular respiratório, este tipo de ciclo é mais favorável quando se deseja que o
paciente apresente contração muscular respiratória, como é habitual logo após as primeiras 24
a 48h que seguem a intubação traqueal.
Além dos ciclos assistidos em VCV e PCV, os ventiladores dispõem de um terceiro tipo de ciclo
assistido presente na Ventilação com Pressão de Suporte (PSV, do inglês Pressure Support
Ventilation). Os ciclos assistidos com PSV são semelhantes aos ciclos em PCV exceto pelo
mecanismo de ciclagem, sendo este a fluxo e não a tempo. A figura 8 ilustra e explica o
mecanismo de ciclagem em PSV.
Figura 8. Ciclos respiratórios mecânicos do tipo ASSISTIDOS e CICLADOS A FLUXO COM
PRESSÃO DE SUPORTE (PSV), com sensibilidade a fluxo, 3L/min. A ciclagem ocorre quando se
atinge um determinado limiar de fluxo inspiratório. Na maioria dos ventiladores costuma ser
configurado para valores entre 20 a 25% do pico de fluxo inspiratório. O VC, a curva de fluxo, e
diferentemente dos ciclos em VCV ou PCV, o Ti, podem todos variar a depender da interação
paciente-ventilador
Com base nos tipos de ciclos respiratórios que são ofertados ao paciente, 3 modos
ventilatórios considerados básicos podem ser reconhecidos, são eles o Assistido/Controlado
(A/C, do inglês assist/control), a ventilação com pressão de suporte (PSV) e a ventilação
mandatória intermitente sincronizada com PS, modo híbrido entre os dois primeiros (SIMV, do
inglês Synchronized Intermitent Mandatory Ventilation).
Figura 11. Modo A/C-PCV. Ajustes: f prog:15 rpm, Δpressão acima da PEEP de 20cmH2O, Ti:1s,
f total entre 16 a 20 irpm, sensibilidade a pressão, -2cmH2O. Neste caso específico o ventilador
é “obrigado” a ofertar no mínimo 15 ciclos por minuto que podem ser controlados ou
assistidos. Caso o paciente não faça esforço muscular algum, todos os ciclos serão controlados
e terão a duração total de 4 segundos (60s/15 rpm), sendo o Ti programado de 1s, a relação I:E
caso todos os ciclos fossem controlados seria de 1:3. Contudo, como o paciente realiza uma
frequência respiratória superior a programada o tempo expiratório é variável. Note que o
antepenúltimo ciclo foi assistido. Como o paciente não realizou esforço dentro das janelas de 4
segundos subsequentes o ventilador ofertou dois ciclos controlados em sequência. Observar o
aumento do VC e a modificação da onda de fluxo em resposta a demanda do paciente nos
ciclos assistidos.
Via de regra opta-se por se iniciar o suporte ventilatório no modo A/C-VCV, logo após a
intubação traqueal, quando o paciente se encontra sedado ou mesmo sob bloqueio
neuromuscular. São duas as vantagens de se iniciar neste modo e não em A/C-PCV: pode-se
determinar com mais facilidade a mecânica respiratória (o leitor pode se reportar ao capítulo
correspondente a este tema) e segundo, e talvez mais importante, a pressão alveolar fica sob
maior controle uma vez que esta é sempre determinada pela relação entre o VC e a
complacência estática do sistema respiratório. Particularmente, o emprego de uma estratégia
ventilatória protetora, com a utilização de baixos VCs em pacientes com SDRA, pode ser feita
com mais facilidade e segurança no modo A/C-VCV. Atenção especial deve ser dada a variação
da pressão de pausa neste modo ventilatório. O alarme de pressão portanto deve ser bem
ajustado.
Já o modo A/C-PCV pode ser uma excelente opção para uma ventilação predominantemente
assistida, quando o paciente apresenta esforços musculares respiratórios, numa fase de
transição para o processo de retirada da ventilação mecânica. Atenção especial deve ser dada
a monitorização do VC neste modo ventilatório. O alarme de VC máximos e mínimos devem ser
bem ajustados.
Modo PSV
No paciente que apresenta uma boa recuperação da doença de base e a sedação é revertida,
comumente se emprega o modo PSV, onde somente há disparos pelo paciente, ou seja, todos
os ciclos são assistidos com a adição da Pressão de suporte como apresentado na figura 12.
Figura 12. Modo PSV. Não há ciclos controlados, apenas assistidos. Ajustes: PS acima da PEEP:
20cmH2O nos dois primeiros ciclos, sendo reduzida para 15cmH2O nos demais. Observar que a
redução da PS implica em mudanças na oferta de fluxo e VC, reduzindo ambos e “exigindo”
adaptações por parte do paciente. Este passa a variar a Pmus, a depender da sua demanda por
fluxo e VC. O Ti pode variar ciclo a ciclo.
O modo PSV costuma ser usado no desmame, onde se reduz a PS gradualmente avaliando-se a
capacidade do paciente se adaptar a níveis cada vez mais baixos até que um valor mínimo seja
atingido, habitualmente entre 7 a 10cmH2O. Como somente ciclos assistidos são ofertados o
alarme de apnéia com ventilação de backup deve ser bem ajustado.
Figura 13. Modo SIMV-VCV com PS, registro de um minuto. Ajustes: f:6 irpm, PS de 15cmH2O.
O ventilador divide um minuto em 6 intervalos de tempo iguais de 10 segundos, sendo
obrigado a ofertar um ciclo do tipo VCV em cada um deles. Este será do tipo assistido se o
paciente fizer um esforço capaz de disparar um ciclo no intervalo de tempo da janela ou será
controlado e ofertado no instante final da mesma, caso o paciente não o faça. Observar que,
neste caso, o VC nos ciclos com PS são inferiores aos dos ciclos VCV marcados com um
asterisco. O último ciclo é do tipo controlado devido a apneia que o paciente apresentou após
a dose de um sedativo (seta).
O modo SIMV com PS é bastante utilizado. Apresenta como vantagem a garantia de uma
frequência respiratória mínima onde se pode estabelecer um VC fixo (SIMV-VCV) ou uma
Pressão Constante na via aérea com ciclagem a tempo (SIMV-PCV). Como desvantagem
principal destaca-se a complexidade de seus ajustes e a dificuldade para se reconhecer as
diferenças entre os ciclos com PS e aqueles em VCV ou PCV. A tabela abaixo resume as
características principais dos modos ventilatórios básicos.
Tabela 1. Principais características dos modos ventilatórios básicos
Novos modalidades ventilatórias têm sido desenvolvidas. Eles incluem modos híbridos que
mesclam, por exemplo, características dos modos A/C-VCV e A/C-PCV (Pressurre regulated
volume control, PRVC, Volume Assured Pressure Support Ventilation, VAPS e autoflow), modos
que ofertam a pressão na via aérea em proporção ao esforço muscular do paciente
(Proportional Assisted Ventilation – PAV ou Automatic Tube Compensation - ATC) ou ao
comando neural (Neurally Adjusted Ventilatory Assist - NAVA) e modos com mecanismos para
auto-ajuste da PSV (Volume Support Ventilation). Embora promissores, a maior parte destes
modos ainda não foi incorporado ao dia-a-dia da ventilação mecânica e ainda há poucas
evidências de sua superioridade em relação aos modos básicos quanto a desfechos clínicos
relevantes como a duração da ventilação mecânica e a sobrevida. Particularmente os modos
que favorecem a maior sincronia paciente-ventilador serão abordados no capítulo
correspondente a este tema.
Bibliografia
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Carvalho CRR - Ventilação Mecânica. Volume I – Básico. Clínicas Brasileiras de Medicina Intensiva, São Paulo: Ed. Atheneu,
2000
Carvalho CRR - Ventilação Mecânica. Volume II – Avançado. Clínicas Brasileiras de Medicina Intensiva, São Paulo: Ed.
Atheneu, 2000