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SOBRE O ESCLARECIMENTO

Enrico Martinho (GRR20224611)

Matéria: Seminário de leitura, análise


e produção de textos filosóficos I

Docente: Rodrigo Brandão.

Os filósofos do século XVIII trazem em suas obras os temas mais atuais a sua época,
nessa época e até os dias de hoje vemos a atualidade que esses temas estão inseridos, pois não
foram solucionados e mesmo se fosse talvez continuaria preso na atualidade. Em uma época,
essa que a tolerância não era tolerada, e uma revolução se via em pauta, o tema o que é o
esclarecimento é percebido como atual e sempre visto como atual nas sociedades prévias, a
pergunta a resposta o que é o esclarecimento é dada ao Kant e os demais filósofos deste
século. Para Kant, “O esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele
próprio é culpado”1, entenderemos o sentido disso enquanto continuamos.

Nesta época a revolução francesa estava em pauta, e se está revolução foi o meio pelo
qual houve o progresso, e ainda, se algo sempre progride em uma linha contínua para cima,
eram as perguntas dadas na época, junto ainda do questionamento o que é o esclarecimento.
Muito provavelmente esse seja o combustível de progresso, pois esse progresso se dá pelos
corajosos e engajados, pois estes são o que notam o possível progresso, sendo o
esclarecimento talvez como a percepção de um progresso em vista, por esse e mais motivos
essa época pode ter sido uma dá mais importantes para a filosofia, nesta que passou a ser
chamada também de filosofia moderna. A partir da percepção do atual se deu a faísca do que
era a filosofia para esses pensadores, o esclarecimento, possuindo certamente diversos
aspectos importantes nesse pensamento, esses que tentarei aplicar meu entendimento nesse
texto.

1
KANT. 1985. Resposta à pergunta: Que é o esclarecimento?
2

Foucault sobre este período em questão, diz ser a primeira vez que se vê a filosofia 2,
pois essa pensa a partir de uma atualidade, aquele pensamento que pode resultar em um
progresso atual, não apenas como uma verdade única e final das coisas, sendo quase trágico,
possuindo dentro do esclarecimento o esclarecimento. Pois aquele que tem é esclarecido deve
também refletir em o que seus atos podem resultar, e o esclarecimento do esclarecimento se
dá neste assunto, como que algo a partir do momento que se é notado o esclarecimento pode
começar a funcionar a partir da ação correta.

Pensando no âmbito da civilização Mendelssohn diz, "A ilustração relaciona-se com a


civilização como a teoria à prática, como o conhecimento aos costumes, como a crítica a
virtuosidade”3, ou seja, o esclarecimento funciona na civilização como ideal e podendo ser na
prática algo diferente do ideal, voltando aí também ao cuidado do ilustrado, esse conhece o
ideal, mas também deve conhecer a prática ideal, para isso deve conhecer a própria prática que
ele está inserido, quando Kant diz que para sair da menoridade exige esforço e coragem, se
relaciona com isso, pois aquele que teoriza não necessariamente prática, mas sai da
menoridade aquele que teoriza e prática segundo a razão, que sabendo o que é o
esclarecimento, ou seja, aquilo que tira o homem na menoridade, realmente sai da
menoridade. E veremos por que exige coragem, pois se voltarmos a citação de Kant em que
ele diz, “O esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é
culpado”, a saída da menoridade é quase inevitável quando o homem é livre 4, e para sair dela
é necessário coragem e esforço, mas ao sair dela o homem no âmbito da civilização apenas
está seguindo um aparente ciclo de ruína e construção, sendo o esclarecimento verdadeiro
talvez a percepção que se dá sempre pelos aparentes altos e baixos? Então a saída da
menoridade seria admitir que quando se está no mais alto ponto de algo o próximo será a
estaca zero, e no ponto mais baixo o ponto mais alto? Então o esclarecimento é o meio que
leva um ponto ao outro, mas seria impossível pensarmos em um ciclo exatamente igual
infinitamente, ele se dá com algo novo, poderíamos pensar que dentro disso entra outro ciclo
maior ainda um de progresso e regresso racional , mas estaria me estendendo além do ponto.
Mendelssohn diz que, uma civilização perfeita onde o que se preocupa é somente o excesso
de felicidade nacional essa está sujeita somente a ruína ou para o caminho para baixo, pois
não há mais para onde subir5, portanto aquele que é esclarecido possui também o cuidado em
2
FOUCAULT. 1994. O que é o iluminismo? p.2.
3
MENDELSSOHN. 1992. Sobre a pergunta: O que quer dizer ilustrar? p.62.
4
KANT. 1985. Resposta à pergunta: Que é o esclarecimento? p.102.
5
MENDELSSOHN. 1992. Sobre a pergunta: O que quer dizer ilustrar? p.65.
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agir, pois seu esclarecimento pode ser dado de forma mais grandiosa do que racional. Sendo
este o maior perigo, pois assim foi com a revolução, este evento que traz a partir da vontade
de progresso algo grandioso no sentido do que se foi necessário para o progresso, ao perceber
a posição atual, o esclarecido percebe os signos e percebe que a mudança não é somente a
guerra, ou os altos se tornando baixos e vice-versa, e por este motivo não deve ser evitada, pois por
trás de um grande espetáculo a um progresso naqueles não envolvidos no espetáculo esse seria o
signo a se notar. No espírito humano, diz Kant, “Está uma faculdade de progredir”6, e esse
progresso não se dá apenas por guerras, o verdadeiro esclarecimento seria a vontade de
progresso, independente do ciclo, o progresso não entra no ciclo, pois esse não muda esse
continua sendo ciclo, o progresso se dá em outro âmbito, um âmbito do ser humano como ser
humano, desse como usando de todos os meios para buscar o progresso sendo com uma
revolução se for necessário.

Um dos aspectos mais importante do esclarecimento talvez seja justamente a leitura de


signos, signos esses que permanecem obscuros, pois se Kant diz que estavamos em uma
época de esclarecimento e não de esclarecidos e o signo se é dado por esclarecimento, ou pelo
combate aos preconceitos, que talvez sejam o próprio signo, esse que foi visto na época pode
ser visto atualmente, ou seja, o signo como um preconceito a ser combatido pelas luzes,
veremos que neste caso algo continua obscuro.

Na época os signos passaram a ser notados a partir da revolução francesa, por isso a
importância deste evento histórico, sobre esta Kant escreve, “Não esperei que este evento
consista em altos gestos ou delitos importantes cometidos pelos homens, em razão de que o
que era grande se torna pequeno ou o que era pequeno se torna grande, nem em antigos e
brilhantes edifícios que desaparecem como que por magia enquanto em seu lugar surgem
outros como que saídos das profundezas da terra. Não se trata de nada disto” 7, aqui o que é
tratado é mudança dos elementos quando se dá o esclarecimento, para entendermos melhor
coloco o que Mendelssohn respondeu quando foi perguntado na mesma ocasião que Kant,
"Quando as determinações essenciais do ser humano(...)opõem-se as inessenciais(...), o
ilustrado, deve proceder com cuidado e prudência, tolerando de preferência o preconceito, ao
invés de, com ele, expulsar logo a verdade que lhe está tão intimamente ligado”8. O homem
como livre está inevitavelmente no caminho do esclarecimento, mas ao raciocinar, tanto Kant

6
FOUCAULT. 1994. O que é o iluminismo? p.7.
7
Ibid. p.5
8
MENDELSSOHN. 1992. Sobre a pergunta: O que quer dizer ilustrar? p.64.
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quanto Mendelssohn explicam que deve se levar em conta a vida privada, ou neste caso Kant
diz que deve se fazer o uso da razão de modo privado, em que se obedece mas raciocina, isso
leva a pessoa privada a cumprir seu cargo, mas podendo questiona-la, o exemplo dado é, se o
soldado agisse pelo seu questionamento todas as ordens que foram dadas por ele pelo general
esse não agiria, Kant diz que deve se expressar a opinião, mas obedecer.

O esclarecimento vem como luta a certos preconceitos, esses preconceitos são notados
por signos, e o progresso também, quando lemos essa passagem vemos em que sentido o
esclarecimento é dado, e do porquê ele é dado, "O que significa positivamente "pensar por si
mesmo" permanece obscuro. É que não sabemos bem o que significa a preposição "contra"
quando dizemos que as Luzes lutam contra os preconceitos. Aliás, elas mesmas não sabiam
muito bem. Elas lhe conferiam múltiplas acepções, de direito incompatíveis, mas, no entanto,
coexistentes. Poder-se-ia mesmo dizer que as Luzes nada mais foram que a determinação
desta adversidade: elas foram um conflito sobre o sentido a dar ao conflito." 9A preposição
contra talvez possa ser um sentido ao progresso, e o preconceito não havendo nada de
progresso, pois, “Sem combate contra os preconceitos, a própria razão se transforma em uma
fria imitação e o desejo de originalidade reconduz ao preconceito e à superstição” 10, sendo o
progresso aquilo dado pelas luzes, e o preconceito como total oposto das luzes também é total
oposto do progresso. O preconceito seria o oposto das luzes pois esse possui os olhos
fechados, se enganando com aquilo que não vê, já as luzes lutando contra o preconceito,
talvez esse seja o significado de “pensar por pi mesmo”, esse pensar por si mesmo como a
luta das luzes contra o preconceito, em qual sentido racional as luzes lutam contra os
preconceitos permanece obscuro, mas sabemos que ao pensar por si mesmo, ou seja, lutando
contra os preconceitos, a razão rema em direção ao progresso e não ao regresso, pois o
regresso vem como preconceito, pois este não anda continua como imitação constante, e o
progresso contra o regresso. Portanto sem combate ao regresso a razão se transforma em
preconceito, e as luzes vem como um sentido ao conflito, um sentido para frente. Portanto, o
preconceito é algo que não é natural, pois é apenas uma fria imitação, Voltaire então explica o
que são os esclarecidos, "Meus filósofos são pessoas honestas que não têm princípios fixos
sobre a natureza das coisas, que não sabem o que ela é, mas que sabem muito bem o que ela
não é"11, não sabem o que ela é pois a natureza não é fixa, com o progresso vemos que a

9
Bertrand Binoche, “Écrassez l'infâme!": philosopher à l'âge des Lumières.
10
Mendelssohn, Öffentlicher und Privatgebrauch der Vernunft, 1785.

11
Voltaire, carta a D'Alembert de 5 de abril de 1766.
5

natureza não é fixa, pois nem sempre também o progresso se de forma continua, as vezes se é
necessário o ciclo, mas algo que estava na mente daqueles envolvidos e não envolvidos
também é a luta contra o preconceito, pois esse se dava como a real natureza, enquanto se
tornava algo gélido e sem razão, algo justamente que a natureza não é. Portanto a época do
esclarecimento continua na atualidade, não somos esclarecidos, mas estamos entendendo cada
vez mais o que não é esta natureza, e apenas com o progresso que se entendi, pois não pode
ser fixa, se nos fixarmos no que já foi entendido perderíamos o progresso, a imitação
continuaria.
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REFERÉNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KANT, I. Resposta à pergunta: Que é o esclarecimento? 2ª ed. Trad: Raimundo Vier.


Petrópolis: Vozes, 1985: p.100-116.

MENDELSSOHN, M. sobre a pergunta: O que quer dizer ilustrar? Trad: Maria Lúcia
Cacciola. São Paulo: Revista de filosofia departamento da USP, 1992: p.59-65.

FOUCAULT, M. O que é o iluminismo? Trad: Wanderson Flor do Nascimento. Paris:


Gallimard, 1994.

VOLTAIRE, F.M. Carta a D'Alembert de 5 de abril de 1766.

BINOCHE, B. “Écrassez l'infâme!": philosopher à l'âge des Lumières. 2018.

MENDELSSOHN, M. Öffentlicher und Privatgebrauch der Vernunft, 1785.

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