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POLITEC-BA
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA TÉCNICA
DA BAHIA

Comum às especilidades
de Perito:
Perito Criminal de Polícia Civil, Perito Médico
Legista de Polícia Civil, Perito OdontoLegal de
Polícia Civil, Perito Técnico de Polícia Civil

EDITAL DE ABERTURA DE INSCRIÇÕES –


SAEB Nº 04/2022, DE 01 DE SETEMBRO
DE 2022

CÓD: SL-061ST-22
7908433226673
INTRODUÇÃO

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação. É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como
estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.

Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou esta introdução com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!


• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho;

• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área;
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total;

• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo;

• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.

• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame;

• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.

A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Vamos juntos!

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ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão e interpretação de textos. Tipologia textual. ........................................................................................................ 11
2. Ortografia oficial. ......................................................................................................................................................................... 25
3. Acentuação gráfica. ..................................................................................................................................................................... 25
4. Emprego das classes de palavras. ............................................................................................................................................... 26
5. Emprego do sinal indicativo de crase. ......................................................................................................................................... 31
6. Sintaxe da oração e do período. ................................................................................................................................................. 31
7. Pontuação. .................................................................................................................................................................................. 33
8. Concordância nominal e verbal. .................................................................................................................................................. 35
9. Regência nominal e verbal. .......................................................................................................................................................... 35
10. Significação das palavras. ............................................................................................................................................................ 36
11. Correspondência oficial (conforme Manual de Redação da Presidência da República). Aspectos gerais da redação oficial.
Finalidade dos expedientes oficiais. Adequação da linguagem ao tipo de documento. ............................................................. 37

Raciocínio Lógico
1. Estruturas lógicas. Lógica de argumentação: analogias, inferências, deduções e conclusões. Lógica sentencial (ou
proposicional). Proposições simples e compostas. Tabelas verdade. Equivalências. Leis de Morgan. Diagramas lógicos.
Lógica de primeira ordem. Princípios de contagem e probabilidade. Operações com conjuntos. Raciocínio lógico envolvendo
problemas aritméticos, geométricos e matriciais ....................................................................................................................... 49

Atualidades
1. Globalização: conceitos, efeitos e implicações sociais, econômicas, políticas e culturais. .......................................................... 71
2. Multiculturalidade, Pluralidade e Diversidade Cultural. .............................................................................................................. 77
3. Tecnologias de Informação e Comunicação: conceitos, efeitos e implicações sociais, econômicas, políticas e culturais ............. 78

Informática
1. Conceito de internet e intranet. Conceitos e modos de utilização de tecnologias, ferramentas, aplicativos e procedimentos
associados a internet/intranet. Ferramentas e aplicativos comerciais de navegação, de correio eletrônico, de grupos de
discussão, de busca, de pesquisa, de redes sociais e ferramentas colaborativas. Programas de navegação (Microsoft Internet
Explorer, Mozilla Firefox e Google Chromes). Sítios de busca e pesquisa na Internet ................................................................. 101
2. Noções de sistema operacional (ambiente Windows) ................................................................................................................ 104
3. Noções de IP ................................................................................................................................................................................ 124
4. Noções de IMEI ............................................................................................................................................................................. 124
5. Porta lógica ................................................................................................................................................................................. 125
6. Identificação e manipulação de arquivos. Conceitos de organização e de gerenciamento de informações, arquivos, pastas e
programas ................................................................................................................................................................................... 126
7. Backup de arquivos. Procedimentos de backup .......................................................................................................................... 129
8. Conceitos básicos de Hardware (Placa mãe, memórias, processadores (CPU) e disco de armazenamento HDs, CDs e DVDs).
Periféricos de computadores ...................................................................................................................................................... 129
9. Noções básicas de editores de texto e planilhas eletrônicas (Microsoft Word, Microsoft Excel, LibreOffice Writer e LibreOffice
Calc) ............................................................................................................................................................................................ 132
10. Segurança na internet: vírus de computadores; spyware; malware; phishing ............................................................................ 148
11. Metadados de arquivos .............................................................................................................................................................. 152

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ÍNDICE

12. Programas de correio eletrônico (Outlook Express e Mozilla Thunderbird) ................................................................................ 153
13. Grupos de discussão .................................................................................................................................................................... 155
14. Redes sociais ................................................................................................................................................................................ 157
15. Transferência de arquivos pela internet ...................................................................................................................................... 159
16. Computação na nuvem ................................................................................................................................................................ 159
17. Armazenamento de dados na nuvem (cloudstorage) .................................................................................................................. 161
18. Deepweb e Darkweb ................................................................................................................................................................... 162

Noções de Medicina Legal


1. Conceito, importância e divisões. Corpo de Delito, perícia e peritos. ............................................................................................ 165
2. Documentos médico-legais. Conceitos de identidade, de identificação e de reconhecimento. Principais métodos de 169
identificação. ................................................................................................................................................................................
3. Lesões e mortes por ação contundente, por armas brancas e por projéteis de arma de fogo comuns e de alta energia. ................ 175
4. Conceito e diagnóstico da morte. Fenômenos cadavéricos. Cronotanatognose, comoriência e promoriência. Exumação. Causa 191
jurídica da morte. Morte súbita e morte suspeita. ........................................................................................................................
5. Exame de locais de crime. Aspectos médico-legais das toxicomanias e da embriaguez. Lesões e morte por ação térmica, por 196
ação elétrica, por baropatias e por ação química. ........................................................................................................................
6. Aspectos médico-legais dos crimes contra a liberdade sexual, da sedução, da corrupção de menores, do ultraje público ao pudor 215
e do casamento. ...........................................................................................................................................................................
7. Asfixias por constrição cervical, por sufocação, por restrição aos movimentos do tórax e por modificações do meio ambiente... 219
8. Aspectos médico-legais do aborto, infanticídio e abandono de recém-nascido. ........................................................................... 224
9. Modificadores e avaliação pericial da imputabilidade penal e da capacidade civil. Doença mental, desenvolvimento mental 230
incompleto ou retardado, perturbação mental. ............................................................................................................................
10. Aspectos médico-legais do testemunho, da confissão e da acareação. ......................................................................................... 232
11. Aspectos médico-legais das lesões corporais e dos maus-tratos a menores e idosos. ................................................................... 240

Noções de Direito Administrativo


1. Noções de organização administrativa. Centralização, descentralização, concentração e desconcentração. Administração
direta e indireta. Autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista ................................................. 249
2. Ato administrativo. Conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies ............................................................................. 252
3. Agentes públicos. Legislação pertinente. Disposições constitucionais aplicáveis. Disposições doutrinárias. Conceito. Espécies.
Cargo, emprego e função pública ............................................................................................................................................... 262
4. Poderes administrativos. Hierárquico, disciplinar, regulamentar e de polícia. Uso e abuso do poder ........................................ 273
5. Licitação. Princípios. Contratação direta: dispensa e inexigibilidade. Modalidades. Tipos. Procedimento ................................ 279
6. Controle da Administração Pública. Controle exercido pela Administração Pública. Controle judicial. Controle legislativo ....... 289
7. Responsabilidade civil do Estado. Responsabilidade civil do Estado no direito brasileiro. Responsabilidade por ato comissivo
do Estado. Responsabilidade por omissão do Estado. Requisitos para a demonstração da responsabilidade do Estado. Causas
excludentes e atenuantes da responsabilidade do Estado ......................................................................................................... 293
8. Regime jurídico-administrativo. Conceito. Princípios expressos e implícitos da Administração Pública .................................... 298
9. Processo Administrativo Disciplinar ........................................................................................................................................... 307

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ÍNDICE

Noções de Direito Constitucional


1. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e coletivos; direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 311
segurança e à propriedade; direitos sociais; nacionalidade; cidadania e direitos políticos; partidos políticos; garantias
constitucionais individuais; garantias dos direitos coletivos, sociais e políticos .........................................................................
2. Organização político-administrativa do Estado. Estado federal brasileiro, União, estados, Distrito Federal, municípios e 322
territórios ..................................................................................................................................................................................
3. Administração pública. Disposições gerais, servidores públicos ................................................................................................ 326
4. Poder executivo. Forma e sistema de governo; chefia de Estado e chefia de governo ............................................................... 329
5. Defesa do Estado e das instituições democráticas: segurança pública; organização da segurança pública ................................ 330
6. Ordem social: base e objetivos da ordem social; seguridade social; meio ambiente; família, criança, adolescente, idoso, 331
índio ...........................................................................................................................................................................................

Noções de Direito Penal


1. Princípios básicos .......................................................................................................................................................................... 347
2. Aplicação da lei penal. A lei penal no tempo e no espaço. Tempo e lugar do crime. Territorialidade e extraterritorialidade da
lei penal ........................................................................................................................................................................................ 348
3. Infração penal: elementos, espécies, sujeito ativo e sujeito passivo ............................................................................................ 349
4. O fato típico e seus elementos. Crime consumado e tentado. Ilicitude e causas de sua exclusão. Excesso punível. Punibilidade.
Excesso punível. Culpabilidade (elementos e causas de exclusão). Imputabilidade penal. Concurso de pessoas ............................ 350
5. Crimes contra a pessoa ................................................................................................................................................................ 361
6. Crimes contra o patrimônio .......................................................................................................................................................... 369
7. Crimes contra a dignidade sexual ................................................................................................................................................. 373
8. Crimes contra a fé pública ............................................................................................................................................................. 375
9. Crimes contra a Administração Pública ........................................................................................................................................ 376

Noções de Direito Processual Penal


1. Direto processual penal. Princípios gerais, conceito, finalidade, características.Fontes.Sistemas de processo penal. Processo
criminal: finalidade, pressupostos e sistemas. ........................................................................................................................... 381
2. Lei processual penal: fontes, eficácia, interpretação, analogia, imunidades. ............................................................................ 388
3. Jurisdição; competência; conexão e continência; prevenção ..................................................................................................... 388
4. Inquérito policial. Histórico, natureza, conceito, finalidade, características, fundamento, titularidade, grau de cognição, valor
probatório, formas de instauração, notitia criminis, delatio criminis, procedimentos investigativos, indiciamento, garantias
do investigado, conclusão e prazos. .......................................................................................................................................... 393
5. Teoria da Prova: conceito, destinatários, meios, fontes e objeto de prova. Preservação de local de crime. Requisitos e ônus
da prova. Nulidade da prova. Documentos de prova. Reconhecimento de Pessoas e coisas. Acareação. Indícios. Busca e
Apreensão. ................................................................................................................................................................................ 398
6. Restrição de liberdade. Prisão em flagrante. .............................................................................................................................. 412

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ÍNDICE

Material Digital:
Promoção de igualdade racial e de gênero
1. Constituição da República Federativa do Brasil (Artigos 1º, 3º, 4° e 5°) ....................................................................................... 5
2. Constituição do Estado da Bahia, (Cap. XXIII “Do Negro”) ........................................................................................................... 6
3. Lei federal n° 12.288, de 20 de julho de 2010 (Estatuto da Igualdade Racial) .............................................................................. 6
4. Lei federal nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor) ............................... 12
5. Lei federal n° 9.459, de 13 de maio de 1997 (Tipificação dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor) ........................ 13
6. Decreto federal n° 65.810, de 08 de dezembro de 1969 (Convenção internacional sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial) .................................................................................................................................................................... 13
7. Decreto federal n° 4.377, de 13 de setembro de 2002 (Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra
a mulher) ................................................................................................................................................................................ 18
8. Lei federal nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha) ............................................................................................ 23
9. Código Penal Brasileiro (art. 140) ................................................................................................................................................ 29
10. Lei federal n° 9.455, de 7 de abril de 1997 (Crime de Tortura) ..................................................................................................... 29
11. Lei federal n° 2.889, de 1º de outubro de 1956 (Define e pune o Crime de Genocídio) ............................................................... 30
12. Lei federal nº 7.437, de 20 de dezembro de 1985 (Lei Caó) ......................................................................................................... 30
13. Lei estadual n° 10.549, de 28 de dezembro de 2006 (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial); alterada pela Lei estadual
n° 12.212, de 04 de maio de 2011 ............................................................................................................................................... 31
14. Lei federal nº 10.678, de 23 de maio de 2003, com as alterações da Lei federal nº 13.341, de 29 de setembro de 2016
(Referente à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República) ......................................... 43

Legislação - Direito Penal


1. Lei nº 11.343/2006 (tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes). ...................................................................... 47
2. Lei nº 12.850/2013 e suas alterações (crime organizado). .......................................................................................................... 59
3. Lei nº 8.072/1990 e suas alterações (crimes hediondos). ........................................................................................................... 64
4. Lei nº 7.716/1989 e suas alterações (crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor). .................................................... 65
5. Lei nº 9.455/1997 (crimes de tortura). ........................................................................................................................................ 66
6. Lei nº 9.605/1998 (crimes contra o meio ambiente). .................................................................................................................. 67
7. Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento). ..................................................................................................................... 73
8. Lei nº 9.503/1997 e suas alterações (crimes de trânsito - Código de Trânsito Brasileiro). ........................................................... 78
9. Lei nº 11.340/2006 e alterações (cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher “Lei Maria da
Penha”). ..................................................................................................................................................................................... 123
10. Decreto-Lei nº 3.688/1941 e suas alterações (Lei das Contravenções Penais). ........................................................................... 129
11. Lei nº 13.869/2019 e suas alterações (Lei de Abuso de Autoridade). .......................................................................................... 132

Legislação Extravagante
1. Lei nº 5.553/1968 (dispõe sobre a apresentação e uso de documentos de identificação pessoal) .............................................. 149
2. Lei nº 8.069/1990 e suas alterações (Estatuto da Criança e do Adolescente) .............................................................................. 149
3. Lei nº 10.741/2003 e suas alterações (Estatuto do Idoso) ......................................................................................................... 186
4. Lei nº 9.296/1996 (Interceptação telefônica) .............................................................................................................................. 196
5. Lei nº 7.492/1986 (Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional) .............................................................................................. 197
6. Lei nº 4.737/1965 e suas alterações (Código Eleitoral) .............................................................................................................. 199

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ÍNDICE

7. Lei nº 7.210/1984 e suas alterações (Lei de execução penal) ...................................................................................................... 234


8. Lei nº 9.099/1995 e suas alterações (Juizados Especiais Cíveis e Criminais) ................................................................................ 251
9. Lei nº 10.259/2001 e suas alterações (Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal) ................................ 257
10. Lei nº 8.137/1990 e alterações (Crimes contra a Ordem Tributária, Econômica e outras relações de consumo) .............................. 259
11. Título II da Lei nº 8.078/1990 e alterações (Crimes contra as Relações de Consumo) ................................................................. 261
12. Lei nº 8.429/1992 e suas alterações (enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo, emprego ou função na
administração pública direta, indireta ou fundacional) ............................................................................................................... 262
13. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Proclamada pela Resolução nº 217A (III) da Assembleia Geral das Nações
Unidas, de 10 de dezembro de 1948 ........................................................................................................................................... 270

Legislação Geral
1. Lei estadual nº 6.677, de 26 de setembro de 1994 (Estatuto do Servidor Público do Estado da Bahia) ....................................... 279
2. Lei estadual nº 9.433, de 01 de março de 2005 (Dispõe sobre as licitações e contratos administrativos pertinentes a obras,
serviços, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes do Estado da Bahia e dá outras providências) ........................... 297
3. Lei estadual nº 12.209, de 20 de abril de 2011 (Dispõe sobre o processo administrativo, no âmbito da Administração
direta e das entidades da Administração indireta, regidas pelo regime de direito público, do Estado da Bahia, e dá outras
providências)............................................................................................................................................................................... 331
4. Lei estadual nº 11.370, de 04 de fevereiro de 2009 (Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado da Bahia) e alterações .......................... 345

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LÍNGUA PORTUGUESA

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. • Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,
TIPOLOGIA TEXTUAL fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as pa-
ou que faça com que você realize inferências. lavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem verbal
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. com a não-verbal.
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
Percebeu a diferença?

Tipos de Linguagem
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que
facilite a interpretação de textos.
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela
pode ser escrita ou oral.

Além de saber desses conceitos, é importante sabermos iden-


tificar quando um texto é baseado em outro. O nome que damos a
este processo é intertextualidade.

Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar a
uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao su-
bentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos pré-
vios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao cresci-
mento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma aprecia-
ção pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido, afetan-
do de alguma forma o leitor.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analíti- O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia
ca e, por fim, uma leitura interpretativa. principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen-
É muito importante que você: tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja,
- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, esta- você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
do, país e mundo; significativo, que é o texto.
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões); texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações orto- título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
gráficas, gramaticais e interpretativas; o assunto que será tratado no texto.
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais po- Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
lêmicos; que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atra-
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre ído pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Dicas para interpretar um texto: pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
– Leia lentamente o texto todo. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada pa- estudos?
rágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
– Sublinhe as ideias mais importantes.
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia CACHORROS
principal e das ideias secundárias do texto.
– Separe fatos de opiniões. Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e mu- seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
tável). zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
– Retorne ao texto sempre que necessário. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
enunciados das questões. comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
– Reescreva o conteúdo lido. casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, tó- outro e a parceria deu certo.
picos ou esquemas.
Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar pa- sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
lavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu vocabu- to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
lário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas são uma falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
distração, mas também um aprendizado. do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a compre- ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
ensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula nossa mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora nos- As informações que se relacionam com o tema chamamos de
so foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além de subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias se- de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
letas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
do texto. Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a iden- capaz de identificar o tema do texto!
tificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se as ideias
secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explica- Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-
ções, que levem ao esclarecimento das questões apresentadas na -secundarias/
prova.
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um signi-
ficado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso o can-
didato só precisa entendê-la – e não a complementar com algum
valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e nunca
extrapole a visão dele.
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IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM Ironia dramática (ou satírica)
TEXTOS VARIADOS A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que
Ironia tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten-
Ironia  é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar
está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado
com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem). pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé-
A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex- dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con-
pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo
novo sentido, gerando um efeito de humor. da narrativa.
Exemplo: Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.

Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-


dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a
intenção são diferentes.
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível!
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ‐
Ironia de situação NERO EM QUE SE INSCREVE
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que principal. Compreender relações semânticas é uma competência
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
morte. Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
-se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.

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Busca de sentidos Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia-
Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a
os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O
apreensão do conteúdo exposto. tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
citadas ou apresentando novos conceitos. curto.
Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que
espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para
entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun- é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos
damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas. como horas ou mesmo minutos.

Importância da interpretação Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-


A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento,
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter- a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos imagens.
específicos, aprimora a escrita.
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa- Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre- opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, vencer o leitor a concordar com ele.
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apre- Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
ensão do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não de destaque sobre algum assunto de interesse.
estão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira alea-
tória, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários, Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido, za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que berdade para quem recebe a informação.
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes.
Fato
Diferença entre compreensão e interpretação O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
leitor tira conclusões subjetivas do texto. Exemplo de fato:
A mãe foi viajar.
Gêneros Discursivos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Interpretação
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No sas, previmos suas consequências.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
dárias. tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente ças sejam detectáveis.
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única Exemplos de interpretação:
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
encaminham-se diretamente para um desfecho. tro país.
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha.

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Opinião Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma
que fazemos do fato. pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên- clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento.
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião Outro aspecto que merece especial atenção são  os conecto-
pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais. res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as
Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do perí-
anteriores: odo, e o tópico que o antecede.
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou- Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto
tro país. Ela tomou uma decisão acertada. ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão para a clareza do texto.
do que com a filha. Ela foi egoísta. Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões sem coerência.
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
mos expressando nosso julgamento. tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião, Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
analisamos um texto dissertativo. mais direto.

Exemplo: NÍVEIS DE LINGUAGEM


A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
com o sofrimento da filha. Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
e o do leitor. o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
Parágrafo incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- e caem em desuso.
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- Língua escrita e língua falada
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
sentada na introdução. falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.

Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz Linguagem popular e linguagem culta
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
prova. presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e o diálogo é usado para representar a língua falada.
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí-
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto.

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Linguagem Popular ou Coloquial Características principais:
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase • Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje-
sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin- tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo caracterizadora.
– erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo- • Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu-
nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação, meração.
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular • A noção temporal é normalmente estática.
está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas, • Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini-
irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na ção.
expressão dos esta dos emocionais etc. • Normalmente aparece dentro de um texto narrativo.
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún-
A Linguagem Culta ou Padrão cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial.
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins- Exemplo:
truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên- Era uma casa muito engraçada
cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem Não tinha teto, não tinha nada
escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial, Ninguém podia entrar nela, não
mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas, Porque na casa não tinha chão
conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi- Ninguém podia dormir na rede
cas, noticiários de TV, programas culturais etc. Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Gíria Porque penico não tinha ali
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como Mas era feita com muito esmero
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam Na rua dos bobos, número zero
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- (Vinícius de Moraes)
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário comportamentos, nas leis jurídicas.
de pequenos grupos ou cair em desuso.
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, Características principais:
“mina”, “tipo assim”. • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
Linguagem vulgar do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
comida”. Exemplo:
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
Linguagem regional ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico, que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino. suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
perior para formação de oficiais.
Tipos e genêros textuais
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- Tipo textual expositivo
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- pode ser expositiva ou argumentativa.
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
exemplos e as principais características de cada um deles. neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.

Tipo textual descritivo Características principais:


A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, mar.
um movimento etc. • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
• Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
de ponto de vista.
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• Apresenta linguagem clara e imparcial. • Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em
prosa, não em verso.
Exemplo:
O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no Exemplo:
questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex- Solidão
pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de- João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era
terminado tema. o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe-
Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta- liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se.
ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa). Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni-
Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as- rem, um tirou do outro a essência da felicidade.
sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente. Nelson S. Oliveira
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurre-
Tipo textual dissertativo-argumentativo ais/4835684
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias GÊNEROS TEXTUAIS
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
(leitor ou ouvinte). dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são pas-
Características principais: síveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preservan-
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento do características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela que
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté- apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos textu-
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho ais que neles predominam.
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su- Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
gestão/solução).
Descritivo Diário
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações
Relatos (viagens, históricos, etc.)
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
Biografia e autobiografia
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e
Notícia
um caráter de verdade ao que está sendo dito. Currículo
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Lista de compras
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou Cardápio
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Anúncios de classificados
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o de-
senvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se rodeios. Injuntivo Receita culinária
Bula de remédio
Exemplo: Manual de instruções
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Regulamento
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente Textos prescritivos
administração política (tese), porque a força governamental certa- Expositivo Seminários
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Palestras
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Conferências
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Entrevistas
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Trabalhos acadêmicos
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Enciclopédia
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato- Verbetes de dicionários
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Carta de opinião
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Resenha
cobrança efetiva (conclusão). Artigo
Ensaio
Tipo textual narrativo Monografia, dissertação de
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta mestrado e tese de doutorado
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Narrativo Romance
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Novela
Crônica
Características principais: Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado. Fábula
Lendas
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his-
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente).
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Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for- As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas
ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi- uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a
nitos e mudam de acordo com a demanda social. veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu-
INTERTEXTUALIDADE tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o
A  intertextualidade  é um recurso realizado entre textos, ou que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As- da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur-
sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção sos de linguagem.
de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos Para compreender claramente o que é um argumento, é bom
existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa
ambos: forma e conteúdo. obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de
Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de escolher entre duas ou mais coisas”.
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri- Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas
provérbios, charges, dentre outros. coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
Tipos de Intertextualidade mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
(parodès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (se- que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
melhante) e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
a outro”. Esse recurso é muito utilizado pelos programas humorís- O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
ticos. um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a enunciador está propondo.
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
significa a “repetição de uma sentença”. demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) mento de premissas e conclusões.
e “graphé” (escrita). Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção A é igual a B.
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa A é igual a C.
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Então: C é igual a B.
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
“citação” (citare) significa convocar. que C é igual a A.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros Outro exemplo:
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois Todo ruminante é um mamífero.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). A vaca é um ruminante.
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são Logo, a vaca é um mamífero.
o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
ARGUMENTAÇÃO também será verdadeira.
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
propõe. banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de outro fundado há dois ou três anos.
vista defendidos. Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
der bem como eles funcionam.

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Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso Argumento de Existência
acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó- É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar
rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar-
expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi- do que dois voando”.
na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais
positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre-
associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante
essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci-
não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori- afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
zado numa dada cultura. vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na-
Tipos de Argumento vios, etc., ganhava credibilidade.
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu- Argumento quase lógico
mento. Exemplo: É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são
Argumento de Autoridade chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi-
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí-
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur- veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en-
so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica.
do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo”
garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver- Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
dadeira. Exemplo: aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe- com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
cimento. Nunca o inverso. indevidas.
Alex José Periscinoto.
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 Argumento do Atributo
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi-
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se que é mais grosseiro, etc.
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce-
acreditar que é verdade. lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor
Argumento de Quantidade tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida-
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- de.
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento competência linguística. A utilização da variante culta e formal da
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social-
largo uso do argumento de quantidade. mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de
Argumento do Consenso dizer dá confiabilidade ao que se diz.
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-
objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa
que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu- estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que por bem determinar o internamento do governador pelo período
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
carentes de qualquer base científica. tal por três dias.

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Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen- de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação comportamento.
deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
texto tem sempre uma orientação argumentativa. da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto mica e até o choro.
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó- Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-
outras, etc. Veja: vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca- ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos
vam abraços afetuosos.” dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de-
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun-
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am- Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá- mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
injustiça, corrupção).
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são ver as seguintes habilidades:
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma
o argumento. ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total-
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con- mente contrária;
texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta-
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite ria contra a argumentação proposta;
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, - refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir ta.
outros à sua dependência política e econômica”.
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar-
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa- gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi- válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
o assunto, etc). Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani- sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-
festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men- tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé-
(como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-
sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali- verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co-
dades não se prometem, manifestam-se na ação. meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo da verdade:
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- evidência; Indução
- divisão ou análise; O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti-
- ordem ou dedução; cular)
- enumeração. Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral
e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o – conclusão falsa)
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
A forma de argumentação mais empregada na redação acadê- Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con- fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con- tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise
maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, base-
caracteriza a universalidade. ados nos sentimentos não ditados pela razão.
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo- Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda-
particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
o efeito. Exemplo:
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) pesquisa.
Fulano é homem (premissa menor = particular) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Logo, Fulano é mortal (conclusão) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de-
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia- pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a
se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par- que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
O calor dilata o ferro (particular) todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina-
O calor dilata o bronze (particular) das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então,
O calor dilata o cobre (particular) o relógio estaria reconstruído.
O ferro, o bronze, o cobre são metais Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con-
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise,
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo-
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim
pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu- relacionadas:
são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco-
sofisma no seguinte diálogo:
lha dos elementos que farão parte do texto.
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
- Lógico, concordo.
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca-
- Claro que não! racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
Exemplos de sofismas: um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
Dedução lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
Todo professor tem um diploma (geral, universal) partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Fulano tem um diploma (particular) confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.

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Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme- É muito comum formular definições de maneira defeituosa,
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-
classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me- tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é
nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é
empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan-
no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973,
espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís- p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”.
ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial. - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, ou instalação”;
sabiá, torradeira. - o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé- definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan-
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro dida;d
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou diferenças).
seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
(Garcia, 1973, p. 302304.) As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in- paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que
trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres- consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala-
sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio- vra e seus significados.
nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam. A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem-
É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e
adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
de vista sobre ele. com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua- mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda-
gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma mentação coerente e adequada.
ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen- sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
cia dos outros elementos dessa mesma espécie. da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa- rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
- o termo a ser definido; expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus
- o gênero ou espécie; elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro-
- a diferença específica. cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe-
O que distingue o termo definido de outros elementos da mes- cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
ma espécie. Exemplo: Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa-
Elemento especie diferença nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados
a ser definidoespecífica apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por-
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em
virtude de, em vista de, por motivo de.
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Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli- dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra-
car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta- gumentação:
ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como: Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran-
quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu-
ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”;
segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver-
interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, dadeira;
assim, desse ponto de vista. Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi-
Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração dade da afirmação;
de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis-
frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de- te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto-
pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de- ridade que contrariam a afirmação apresentada;
pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de-
respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes.
além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados
interior, nas grandes cidades, no sul, no leste... estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para contra-
ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma argumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é
forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta- que gera o controle demográfico”.
belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
que, melhor que, pior que. desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade elaboração de um Plano de Redação.
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi- Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no tecnológica
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li- a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
ta, justificar, criando um argumento básico;
nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
caráter confirmatório que comprobatório.
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
(rever tipos de argumentação);
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
caso, incluem-se
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequ-
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
ência);
mortal, aspira à imortalidade); - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula- argumento básico;
dos e axiomas); - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature- poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se mento básico;
discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
parece absurdo). quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de menos a seguinte:
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
cretos, estatísticos ou documentais. Introdução
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se - função social da ciência e da tecnologia;
realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau- - definições de ciência e tecnologia;
sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opini- Desenvolvimento
ões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, - apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que ex- vimento tecnológico;
presse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade condições de vida no mundo atual;
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- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica- A coerência:
mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub- - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
desenvolvidos; - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social; tual;
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas- - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
sado; apontar semelhanças e diferenças; o aspecto global do texto;
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur- - estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
banos;
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar Coesão
mais a sociedade. É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
Conclusão ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequ- fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
ências maléficas; tem-se a coesão lexical.
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
apresentados. vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda- nentes do texto.
ção: é um dos possíveis. Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida- do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis- advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções A coesão:
diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
é inserida. - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários. componentes do texto;
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, PONTO DE VISTA
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes
textos caracterizada por um citar o outro. sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos de
vista diferentes. É considerado o elemento da narração que com-
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de preende a perspectiva através da qual se conta a história. Trata-se
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar de existir
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compre- diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma narrativa, con-
ensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de mobili- sidera-se dois pontos de vista como fundamentais: O narrador-ob-
zar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coerente, além servador e o narrador-personagem.
de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
Primeira pessoa
Coerência Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- o livro com a sensação de termos a visão do personagem poden-
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na do também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas
outra”). vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se só descobrimos ao decorrer da história.
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma Segunda pessoa
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um diá-
elementos formativos de um texto. logo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se sinta
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito quase como outro personagem que participa da história.
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
elementos textuais. Terceira pessoa
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas obser-
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo- vasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa em
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como al-
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de guém que estivesse apenas contando o que cada personagem disse.
imediato a coerência de um discurso.

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Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será transmi- • É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
tida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história é contada palavras forma/fôrma.
por mais de um ser fictício, a transição do ponto de vista de um para
outro deve ser bem clara, para que quem estiver acompanhando a Uso de hífen
leitura não fique confuso. Regra básica:
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
ORTOGRAFIA OFICIAL mem.

Outros casos
1. Prefixo terminado em vogal:
ORTOGRAFIA OFICIAL – Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein- – Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
troduzidas as letras k, w e y. semicírculo.
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O – Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
PQRSTUVWXYZ mo, antissocial, ultrassom.
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a – Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, das.
gui, que, qui.
2. Prefixo terminado em consoante:
Regras de acentuação – Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das -bibliotecário.
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
sílaba) persônico.
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
Como era Como fica
Observações:
alcatéia alcateia • Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
apóia apoia iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
apóio apoio • Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas • O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
rar, cooperação, cooptar, coocupante.
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no • Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. mirante.
• Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
Como era Como fica a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
pontapé, paraquedas, paraquedista.
baiúca baiuca • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
bocaiúva bocaiuva usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
vamos passar para mais um ponto importante.
– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem
e ôo(s). ACENTUAÇÃO GRÁFICA

Como era Como fica


abençôo abençoo Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
crêem creem
indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Vejamos um por um:
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
aberto.
Atenção: Já cursei a Faculdade de História.
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. fechado.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter, Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
reter, conter, convir, intervir, advir etc.). caso afundo mais à frente).
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Sou leal à mulher da minha vida. SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
As palavras podem ser: própria. Esses seres podem /lobisomem
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu- ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
-já, ra-paz, u-ru-bu...) reais ou imaginários.
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
sa-bo-ne-te, ré-gua...) SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima nomeiam ações, estados, bondade/
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…) qualidades e sentimentos que confiança/
não tem existência própria, ou lembrança/
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos: seja, só existem em função de amor/
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico, um ser. alegria
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...) SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N, referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter, de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...) mesmo quando empregado
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S), no singular e constituem um
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu, substantivo comum.
dói, coronéis...)
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais QUE NÃO ESTÃO AQUI!
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
Flexão dos Substantivos
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- • Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
nar e fixar as regras. no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
uniformes
EMPREGO DAS CLASSES DE PALAVRAS – Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
CLASSES DE PALAVRAS forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
Substantivo a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- macho/palmeira fêmea.
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata.  b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
Classificação dos substantivos testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/ o/a estudante, o/a colega.
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ • Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
sua estrutura. macaco/sabão – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/ – Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
são formados por mais de um porta-voz/
radical em sua estrutura. pé-de-moleque • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
diminutivo.
SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
são os que dão origem a mundo/
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
outras palavras, ou seja, ela é população
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
a primeira. /formiga
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 
SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
são formados por outros populacional/formigueiro Adjetivo
radicais da língua. É a palavra variável que especifica e caracteriza o substantivo:
SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão com-
designa determinado ser /Brasil posta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por
entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo:
espécie. São sempre iniciados Liberdade golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vesper-
por letra maiúscula. tino).

SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/ Flexão do Adjetivos


referem-se qualquer ser de cachorro/prima • Gênero:
uma mesma espécie. – Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
no: homem feliz, mulher feliz.

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– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona. 

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

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• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas, pouco,
pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas, vário, vá-
Variáveis
ria, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais,
um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

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Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

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Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).

• Conjunções Coordenativas

Tipos Conjunções Coordenativas


Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversativas contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
Alternativas já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
Conclusivas assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portanto...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conformativas Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante, etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Comparativas Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor, etc.
Consecutivas Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que, etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

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EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE
SINTAXE DA ORAÇÃO E DO PERÍODO

A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a


é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos
demonstrativo. estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) da sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita
coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar al-
• Devemos usar crase: gumas questões importantes:
– Antes palavras femininas:
Iremos à festa amanhã • Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sen-
Mediante à situação. tido completo. 
O Governo visa à resolução do problema. Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio! 
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas • Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a: locução verbal.
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial. Este filme causou grande impacto entre o público.
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti- A inflação deve continuar sob controle.
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase.
Mas... há crase, sim! • Período Simples: formado por uma única oração.
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- O clima se alterou muito nos últimos dias.
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante.
• Período Composto: formado por mais de uma oração.
– Expressões fixas O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
crase: Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período.
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às • Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à O problema da violência preocupa os cidadãos.
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon- • Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
didas, à medida que, à proporção que. A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
• NUNCA devemos usar crase: • Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo
– Antes de substantivos masculinos: direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da pre-
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a posição.
pé. A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou • Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transi-
plural) usado em sentido generalizador: tivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de
Depois do trauma, nunca mais foi a festas. preposição. 
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho- Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
mem. João gosta de beterraba.
• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime
– Antes de artigo indefinido “uma” determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica
Iremos a uma reunião muito importante no domingo. um verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
– Antes de pronomes Vamos sair do mar.
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. • Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem prati-
ca a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela. Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
A quem vocês se reportaram no Plenário? • Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um subs-
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico. tantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação
de um verbo.
– Antes de verbos no infinitivo Um casal de médicos eram os novos moradores do meu pré-
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar. dio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa no-
mes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicio-
nado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.
• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao su-
jeito da oração.

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A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos,
lanchamos.
Alternativas Manuela  ora  quer comer hambúrguer,  ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante,  portanto  não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar,  ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento
nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Substantivas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto indireto

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Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. quinta, terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por
vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas
Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de reunião.
condição
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de tarde.
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de suas casas.
tempo

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

PONTUAÇÃO

Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a organi-
zar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as funções da
sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BECHARA, 2009, p. 514)
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns sinais
gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reticências [ ...
]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ], travessão duplo
[ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).

Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pausa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo de
oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências.
Estaremos presentes na festa.

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Ponto de interrogação ( ? ) Vírgula
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati- São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica. ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes
Você vai à festa? disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
vírgula:
Ponto de exclamação ( ! ) 1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama- mos” o momento certo de fazer uso dela.
tiva. 2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
Ex: Que bela festa! alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
Reticências ( ... ) cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou 3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor menos importante e que pode ser colocada depois.
nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo. Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
Ex: Essa festa... não sei não, viu. dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
Dois-pontos ( : ) Maria foi à padaria ontem.
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída. Sujeito Verbo Objeto Adjunto
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
(discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo, Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-
distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva. re por alguns motivos:
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa. 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
Ponto e vírgula ( ; ) 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o verbo e o adjunto.
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume- Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem
ração (frequente em leis), etc. comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam- é necessária:
bém uma linda decoração e bebidas caras. Ontem, Maria foi à padaria.
Maria, ontem, foi à padaria.
Travessão ( — ) À padaria, Maria foi ontem.
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta- Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir sário:
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter- • Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de ção.
um diálogo, com ou sem aspas. Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. serem observadas na redação oficial.
• Separa aposto.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico • Separa vocativo.
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in- Brasileiros, é chegada a hora de votar.
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên- • Separa termos repetidos.
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados Aquele aluno era esforçado, esforçado.
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza-
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi- • Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
rem uma nova inserção. ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go- ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
vernador) efeito, digo.
O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
Aspas ( “ ” ) ou seja, de fácil compreensão.
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para tos).
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
da, para marcar o discurso direto e a citação breve. res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
• Separa orações coordenadas assindéticas.
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
ideias na cabeça...

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• Isola o nome do lugar nas datas. • Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006. soa gramatical que está subentendida no contexto.
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa líticos.
forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor- REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL
mações comprovam, etc.
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
nizar o problema.
• Regência Nominal 
CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan-
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar-
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple-
mento é estabelecida por uma preposição.
Concordância Nominal
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos • Regência Verbal
concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o
referem. verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido). 
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amisto- Isto pertence a todos.
sa.
Regência de algumas palavras
Casos Especiais de Concordância Nominal
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio: Esta palavra combina com Esta preposição
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam
alerta. Acessível a
Apto a, para
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na forma-
ção de palavras compostas: Atencioso com, para com
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso. Coerente com
Conforme a, com
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de
acordo com o substantivo a que se referem: Dúvida acerca de, de, em, sobre
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas. Empenho de, em, por
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando Fácil a, de, para,
pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quan- Junto a, de
do advérbios:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou Pendente de
meia dúzia de ovos. Preferível a
Próximo a, de
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem. Respeito a, com, de, para com, por
Situado a, em, entre
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o
substantivo estiver determinado por artigo: Ajudar (a fazer algo) a
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados. Aludir (referir-se) a

Concordância Verbal Aspirar (desejar, pretender) a


O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: Assistir (dar assistência) Não usa preposição
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor- Deparar (encontrar) com
mes.
Implicar (consequência) Não usa preposição
Concordância ideológica ou silepse Lembrar Não usa preposição
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne-
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no Pagar (pagar a alguém) a
contexto. Precisar (necessitar) de
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
Proceder (realizar) a
Blumenau estava repleta de turistas.
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú- Responder a
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con- Visar ( ter como objetivo a
texto. pretender)
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
sos. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
QUE NÃO ESTÃO AQUI!

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SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS

Significação de palavras
As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação. E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos que
compõem este estudo.

Antônimo e Sinônimo
Começaremos por esses dois, que já são famosos.

O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras. Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o significado
de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com homem que é antônimo de mulher.

Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é muito im-
portante para produções textuais, porque evita que você fique repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos exemplos,
para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/contentamento e homem é sinônimo de macho/varão.

Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperônimo
designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, cachorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais domés-
ticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com substantivo
coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das palavras, beleza?!?!

Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:

Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.

As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

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Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Acrescente-se, por fim, que a identificação que se buscou fazer
Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, das características específicas da forma oficial de redigir não deve
por estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, ensejar o entendimento de que se proponha a criação – ou se acei-
não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta. te a existência – de uma forma específica de linguagem administra-
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é tiva, o que coloquialmente e pejorativamente se chama burocratês.
justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma Este é antes uma distorção do que deve ser a redação oficial, e se
palavra, frase ou textos inteiros. caracteriza pelo abuso de expressões e clichês do jargão burocrático
e de formas arcaicas de construção de frases. A redação oficial não
CORRESPONDÊNCIA OFICIAL (CONFORME MANUAL DE é, portanto, necessariamente árida e infensa à evolução da língua.
REDAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA). ASPECTOS É que sua finalidade básica – comunicar com impessoalidade e má-
GERAIS DA REDAÇÃO OFICIAL. FINALIDADE DOS EXPE‐ xima clareza – impõe certos parâmetros ao uso que se faz da língua,
DIENTES OFICIAIS. ADEQUAÇÃO DA LINGUAGEM AO de maneira diversa daquele da literatura, do texto jornalístico, da
TIPO DE DOCUMENTO correspondência particular, etc. Apresentadas essas características
fundamentais da redação oficial, passemos à análise pormenoriza-
da de cada uma delas.

O que é Redação Oficial1 A Impessoalidade


Em uma frase, pode-se dizer que redação oficial é a maneira A finalidade da língua é comunicar, quer pela fala, quer pela
pela qual o Poder Público redige atos normativos e comunicações. escrita. Para que haja comunicação, são necessários:
Interessa-nos tratá-la do ponto de vista do Poder Executivo. A reda- a) alguém que comunique,
ção oficial deve caracterizar-se pela impessoalidade, uso do padrão b) algo a ser comunicado, e
culto de linguagem, clareza, concisão, formalidade e uniformidade. c) alguém que receba essa comunicação.
Fundamentalmente esses atributos decorrem da Constituição, que
dispõe, no artigo 37: “A administração pública direta, indireta ou No caso da redação oficial, quem comunica é sempre o Serviço
fundacional, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Público (este ou aquele Ministério, Secretaria, Departamento, Di-
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de lega- visão, Serviço, Seção); o que se comunica é sempre algum assunto
lidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)”. relativo às atribuições do órgão que comunica; o destinatário dessa
Sendo a publicidade e a impessoalidade princípios fundamentais de comunicação ou é o público, o conjunto dos cidadãos, ou outro ór-
toda administração pública, claro está que devem igualmente nor- gão público, do Executivo ou dos outros Poderes da União. Perce-
tear a elaboração dos atos e comunicações oficiais. Não se concebe be-se, assim, que o tratamento impessoal que deve ser dado aos
que um ato normativo de qualquer natureza seja redigido de forma assuntos que constam das comunicações oficiais decorre:
obscura, que dificulte ou impossibilite sua compreensão. A transpa- a) da ausência de impressões individuais de quem comunica:
rência do sentido dos atos normativos, bem como sua inteligibili- embora se trate, por exemplo, de um expediente assinado por Che-
dade, são requisitos do próprio Estado de Direito: é inaceitável que fe de determinada Seção, é sempre em nome do Serviço Público
um texto legal não seja entendido pelos cidadãos. A publicidade que é feita a comunicação. Obtém-se, assim, uma desejável padro-
implica, pois, necessariamente, clareza e concisão. Além de atender nização, que permite que comunicações elaboradas em diferentes
à disposição constitucional, a forma dos atos normativos obedece setores da Administração guardem entre si certa uniformidade;
a certa tradição. Há normas para sua elaboração que remontam ao b) da impessoalidade de quem recebe a comunicação, com
período de nossa história imperial, como, por exemplo, a obrigato- duas possibilidades: ela pode ser dirigida a um cidadão, sempre
riedade – estabelecida por decreto imperial de 10 de dezembro de concebido como público, ou a outro órgão público. Nos dois casos,
1822 – de que se aponha, ao final desses atos, o número de anos temos um destinatário concebido de forma homogênea e impes-
transcorridos desde a Independência. Essa prática foi mantida no soal;
período republicano. Esses mesmos princípios (impessoalidade, cla- c) do caráter impessoal do próprio assunto tratado: se o uni-
reza, uniformidade, concisão e uso de linguagem formal) aplicam-se verso temático das comunicações oficiais se restringe a questões
às comunicações oficiais: elas devem sempre permitir uma única in- que dizem respeito ao interesse público, é natural que não cabe
terpretação e ser estritamente impessoais e uniformes, o que exige qualquer tom particular ou pessoal. Desta forma, não há lugar na
o uso de certo nível de linguagem. Nesse quadro, fica claro também redação oficial para impressões pessoais, como as que, por exem-
que as comunicações oficiais são necessariamente uniformes, pois plo, constam de uma carta a um amigo, ou de um artigo assinado de
há sempre um único comunicador (o Serviço Público) e o receptor jornal, ou mesmo de um texto literário. A redação oficial deve ser
dessas comunicações ou é o próprio Serviço Público (no caso de isenta da interferência da individualidade que a elabora. A concisão,
expedientes dirigidos por um órgão a outro) – ou o conjunto dos a clareza, a objetividade e a formalidade de que nos valemos para
cidadãos ou instituições tratados de forma homogênea (o público). elaborar os expedientes oficiais contribuem, ainda, para que seja
Outros procedimentos rotineiros na redação de comunicações alcançada a necessária impessoalidade.
oficiais foram incorporados ao longo do tempo, como as formas de
tratamento e de cortesia, certos clichês de redação, a estrutura dos A Linguagem dos Atos e Comunicações Oficiais
expedientes, etc. Mencione-se, por exemplo, a fixação dos fechos A necessidade de empregar determinado nível de linguagem
para comunicações oficiais, regulados pela Portaria no 1 do Minis- nos atos e expedientes oficiais decorre, de um lado, do próprio ca-
tro de Estado da Justiça, de 8 de julho de 1937, que, após mais de ráter público desses atos e comunicações; de outro, de sua finalida-
meio século de vigência, foi revogado pelo Decreto que aprovou a de. Os atos oficiais, aqui entendidos como atos de caráter normati-
primeira edição deste Manual. vo, ou estabelecem regras para a conduta dos cidadãos, ou regulam
o funcionamento dos órgãos públicos, o que só é alcançado se em
sua elaboração for empregada a linguagem adequada.

1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/manual/manual.htm
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O mesmo se dá com os expedientes oficiais, cuja finalidade mais do que isso, a formalidade diz respeito à polidez, à civilidade
precípua é a de informar com clareza e objetividade. As comunica- no próprio enfoque dado ao assunto do qual cuida a comunicação.
ções que partem dos órgãos públicos federais devem ser compre- A formalidade de tratamento vincula-se, também, à necessária
endidas por todo e qualquer cidadão brasileiro. Para atingir esse uniformidade das comunicações. Ora, se a administração federal é
objetivo, há que evitar o uso de uma linguagem restrita a determi- una, é natural que as comunicações que expede sigam um mesmo
nados grupos. Não há dúvida que um texto marcado por expressões padrão. O estabelecimento desse padrão, uma das metas deste Ma-
de circulação restrita, como a gíria, os regionalismos vocabulares ou nual, exige que se atente para todas as características da redação
o jargão técnico, tem sua compreensão dificultada. Ressalte-se que oficial e que se cuide, ainda, da apresentação dos textos. A clareza
há necessariamente uma distância entre a língua falada e a escrita. datilográfica, o uso de papéis uniformes para o texto definitivo e a
Aquela é extremamente dinâmica, reflete de forma imediata qual- correta diagramação do texto são indispensáveis para a padroniza-
quer alteração de costumes, e pode eventualmente contar com ou- ção. Consulte o Capítulo II, As Comunicações Oficiais, a respeito de
tros elementos que auxiliem a sua compreensão, como os gestos, a normas específicas para cada tipo de expediente.
entoação, etc. Para mencionar apenas alguns dos fatores responsá-
veis por essa distância. Já a língua escrita incorpora mais lentamen- Concisão e Clareza
te as transformações, tem maior vocação para a permanência, e A concisão é antes uma qualidade do que uma característica do
vale-se apenas de si mesma para comunicar. A língua escrita, como
texto oficial. Conciso é o texto que consegue transmitir um máxi-
a falada, compreende diferentes níveis, de acordo com o uso que
mo de informações com um mínimo de palavras. Para que se redija
dela se faça. Por exemplo, em uma carta a um amigo, podemos nos
com essa qualidade, é fundamental que se tenha, além de conheci-
valer de determinado padrão de linguagem que incorpore expres-
mento do assunto sobre o qual se escreve, o necessário tempo para
sões extremamente pessoais ou coloquiais; em um parecer jurídico,
não se há de estranhar a presença do vocabulário técnico corres- revisar o texto depois de pronto. É nessa releitura que muitas vezes
pondente. Nos dois casos, há um padrão de linguagem que atende se percebem eventuais redundâncias ou repetições desnecessárias
ao uso que se faz da língua, a finalidade com que a empregamos. de ideias. O esforço de sermos concisos atende, basicamente ao
O mesmo ocorre com os textos oficiais: por seu caráter impessoal, princípio de economia linguística, à mencionada fórmula de empre-
por sua finalidade de informar com o máximo de clareza e conci- gar o mínimo de palavras para informar o máximo. Não se deve de
são, eles requerem o uso do padrão culto da língua. Há consenso forma alguma entendê-la como economia de pensamento, isto é,
de que o padrão culto é aquele em que a) se observam as regras não se devem eliminar passagens substanciais do texto no afã de
da gramática formal, e b) se emprega um vocabulário comum ao reduzi-lo em tamanho. Trata-se exclusivamente de cortar palavras
conjunto dos usuários do idioma. É importante ressaltar que a obri- inúteis, redundâncias, passagens que nada acrescentem ao que já
gatoriedade do uso do padrão culto na redação oficial decorre do foi dito. Procure perceber certa hierarquia de ideias que existe em
fato de que ele está acima das diferenças lexicais, morfológicas ou todo texto de alguma complexidade: ideias fundamentais e ideias
sintáticas regionais, dos modismos vocabulares, das idiossincrasias secundárias. Estas últimas podem esclarecer o sentido daquelas de-
linguísticas, permitindo, por essa razão, que se atinja a pretendida talhá-las, exemplificá-las; mas existem também ideias secundárias
compreensão por todos os cidadãos. que não acrescentam informação alguma ao texto, nem têm maior
Lembre-se que o padrão culto nada tem contra a simplicidade relação com as fundamentais, podendo, por isso, ser dispensadas. A
de expressão, desde que não seja confundida com pobreza de ex- clareza deve ser a qualidade básica de todo texto oficial, conforme
pressão. De nenhuma forma o uso do padrão culto implica empre- já sublinhado na introdução deste capítulo. Pode-se definir como
go de linguagem rebuscada, nem dos contorcionismos sintáticos e claro aquele texto que possibilita imediata compreensão pelo leitor.
figuras de linguagem próprios da língua literária. Pode-se concluir, No entanto a clareza não é algo que se atinja por si só: ela depende
então, que não existe propriamente um “padrão oficial de lingua- estritamente das demais características da redação oficial. Para ela
gem”; o que há é o uso do padrão culto nos atos e comunicações concorrem:
oficiais. É claro que haverá preferência pelo uso de determinadas a) a impessoalidade, que evita a duplicidade de interpretações
expressões, ou será obedecida certa tradição no emprego das for- que poderia decorrer de um tratamento personalista dado ao texto;
mas sintáticas, mas isso não implica, necessariamente, que se con- b) o uso do padrão culto de linguagem, em princípio, de en-
sagre a utilização de uma forma de linguagem burocrática. O jargão
tendimento geral e por definição avesso a vocábulos de circulação
burocrático, como todo jargão, deve ser evitado, pois terá sempre
restrita, como a gíria e o jargão;
sua compreensão limitada. A linguagem técnica deve ser empre-
c) a formalidade e a padronização, que possibilitam a impres-
gada apenas em situações que a exijam, sendo de evitar o seu uso
cindível uniformidade dos textos;
indiscriminado. Certos rebuscamentos acadêmicos, e mesmo o vo-
cabulário próprio a determinada área, são de difícil entendimento d) a concisão, que faz desaparecer do texto os excessos linguís-
por quem não esteja com eles familiarizado. Deve-se ter o cuidado, ticos que nada lhe acrescentam.
portanto, de explicitá-los em comunicações encaminhadas a outros
órgãos da administração e em expedientes dirigidos aos cidadãos. É pela correta observação dessas características que se redige
Outras questões sobre a linguagem, como o emprego de neologis- com clareza. Contribuirá, ainda, a indispensável releitura de todo
mo e estrangeirismo, são tratadas em detalhe em 9.3. Semântica. texto redigido. A ocorrência, em textos oficiais, de trechos obscuros
e de erros gramaticais provém principalmente da falta da releitu-
Formalidade e Padronização ra que torna possível sua correção. Na revisão de um expediente,
As comunicações oficiais devem ser sempre formais, isto é, deve-se avaliar, ainda, se ele será de fácil compreensão por seu
obedecem a certas regras de forma: além das já mencionadas exi- destinatário. O que nos parece óbvio pode ser desconhecido por
gências de impessoalidade e uso do padrão culto de linguagem, é terceiros. O domínio que adquirimos sobre certos assuntos em de-
imperativo, ainda, certa formalidade de tratamento. Não se trata corrência de nossa experiência profissional muitas vezes faz com
somente da eterna dúvida quanto ao correto emprego deste ou da- que os tomemos como de conhecimento geral, o que nem sempre
quele pronome de tratamento para uma autoridade de certo nível é verdade. Explicite, desenvolva, esclareça, precise os termos técni-
(v. a esse respeito 2.1.3. Emprego dos Pronomes de Tratamento); cos, o significado das siglas e abreviações e os conceitos específicos
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que não possam ser dispensados. A revisão atenta exige, necessa- a) do Poder Executivo;
riamente, tempo. A pressa com que são elaboradas certas comu- Presidente da República;
nicações quase sempre compromete sua clareza. Não se deve pro- Vice-Presidente da República;
ceder à redação de um texto que não seja seguida por sua revisão. Ministros de Estado;
“Não há assuntos urgentes, há assuntos atrasados”, diz a máxima. Governadores e Vice-Governadores de Estado e do Distrito Fe-
Evite-se, pois, o atraso, com sua indesejável repercussão no redigir. deral;
Oficiais-Generais das Forças Armadas;
As comunicações oficiais Embaixadores;
A redação das comunicações oficiais deve, antes de tudo, se- Secretários-Executivos de Ministérios e demais ocupantes de
guir os preceitos explicitados no Capítulo I, Aspectos Gerais da cargos de natureza especial;
Redação Oficial. Além disso, há características específicas de cada Secretários de Estado dos Governos Estaduais;
tipo de expediente, que serão tratadas em detalhe neste capítulo. Prefeitos Municipais.
Antes de passarmos à sua análise, vejamos outros aspectos comuns
a quase todas as modalidades de comunicação oficial: o emprego b) do Poder Legislativo:
dos pronomes de tratamento, a forma dos fechos e a identificação Deputados Federais e Senadores;
do signatário. Ministro do Tribunal de Contas da União;
Deputados Estaduais e Distritais;
Pronomes de Tratamento Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais;
Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
Breve História dos Pronomes de Tratamento
O uso de pronomes e locuções pronominais de tratamento tem c) do Poder Judiciário:
larga tradição na língua portuguesa. De acordo com Said Ali, após Ministros dos Tribunais Superiores;
serem incorporados ao português os pronomes latinos tu e vos, Membros de Tribunais;
“como tratamento direto da pessoa ou pessoas a quem se dirigia a Juízes;
palavra”, passou-se a empregar, como expediente linguístico de dis- Auditores da Justiça Militar.
tinção e de respeito, a segunda pessoa do plural no tratamento de
pessoas de hierarquia superior. Prossegue o autor: “Outro modo de O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos
tratamento indireto consistiu em fingir que se dirigia a palavra a um Chefes de Poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respec-
atributo ou qualidade eminente da pessoa de categoria superior, e tivo:
não a ela própria. Assim aproximavam-se os vassalos de seu rei com Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
o tratamento de vossa mercê, vossa senhoria (...); assim usou-se Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional,
o tratamento ducal de vossa excelência e adotou-se na hierarquia Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Fede-
ral.
eclesiástica vossa reverência, vossa paternidade, vossa eminência,
vossa santidade. ” A partir do final do século XVI, esse modo de
As demais autoridades serão tratadas com o vocativo Senhor,
tratamento indireto já estava em voga também para os ocupantes
seguido do cargo respectivo:
de certos cargos públicos. Vossa mercê evoluiu para vosmecê, e de-
Senhor Senador,
pois para o coloquial você. E o pronome vós, com o tempo, caiu em
Senhor Juiz,
desuso. É dessa tradição que provém o atual emprego de pronomes
Senhor Ministro,
de tratamento indireto como forma de dirigirmo-nos às autorida-
Senhor Governador,
des civis, militares e eclesiásticas.
No envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às
Concordância com os Pronomes de Tratamento autoridades tratadas por Vossa Excelência, terá a seguinte forma:
Os pronomes de tratamento (ou de segunda pessoa indireta)
apresentam certas peculiaridades quanto à concordância verbal, A Sua Excelência o Senhor
nominal e pronominal. Embora se refiram à segunda pessoa gra- Fulano de Tal
matical (à pessoa com quem se fala, ou a quem se dirige a comuni- Ministro de Estado da Justiça
cação), levam a concordância para a terceira pessoa. É que o verbo 70.064-900 – Brasília. DF
concorda com o substantivo que integra a locução como seu núcleo
sintático: “Vossa Senhoria nomeará o substituto”; “Vossa Excelên- A Sua Excelência o Senhor
cia conhece o assunto”. Da mesma forma, os pronomes possessivos Senador Fulano de Tal
referidos a pronomes de tratamento são sempre os da terceira pes- Senado Federal
soa: “Vossa Senhoria nomeará seu substituto” (e não “Vossa... vos- 70.165-900 – Brasília. DF
so...”). Já quanto aos adjetivos referidos a esses pronomes, o gênero
gramatical deve coincidir com o sexo da pessoa a que se refere, e A Sua Excelência o Senhor
não com o substantivo que compõe a locução. Assim, se nosso in- Fulano de Tal
terlocutor for homem, o correto é “Vossa Excelência está atarefa- Juiz de Direito da 10a Vara Cível
do”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeito”; se for mulher, “Vossa Rua ABC, no 123
Excelência está atarefada”, “Vossa Senhoria deve estar satisfeita”. 01.010-000 – São Paulo. SP

Emprego dos Pronomes de Tratamento Em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento
Como visto, o emprego dos pronomes de tratamento obedece digníssimo (DD), às autoridades arroladas na lista anterior. A dig-
a secular tradição. São de uso consagrado: nidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público,
Vossa Excelência, para as seguintes autoridades: sendo desnecessária sua repetida evocação.
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Vossa Senhoria é empregado para as demais autoridades e Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a au-
para particulares. O vocativo adequado é: toridades estrangeiras, que atendem a rito e tradição próprios, de-
Senhor Fulano de Tal, vidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das
(...) Relações Exteriores.

No envelope, deve constar do endereçamento: Identificação do Signatário


Ao Senhor Excluídas as comunicações assinadas pelo Presidente da Repú-
Fulano de Tal blica, todas as demais comunicações oficiais devem trazer o nome e
Rua ABC, nº 123 o cargo da autoridade que as expede, abaixo do local de sua assina-
70.123 – Curitiba. PR tura. A forma da identificação deve ser a seguinte:

Como se depreende do exemplo acima fica dispensado o em- (espaço para assinatura)
prego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem NOME
o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o Chefe da Secretária-geral da Presidência da República
uso do pronome de tratamento Senhor. Acrescente-se que doutor
não é forma de tratamento, e sim título acadêmico. Evite usá-lo (espaço para assinatura)
indiscriminadamente. Como regra geral, empregue-o apenas em NOME
comunicações dirigidas a pessoas que tenham tal grau por terem Ministro de Estado da Justiça
concluído curso universitário de doutorado. É costume designar por
doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura
Medicina. Nos demais casos, o tratamento Senhor confere a dese- em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao me-
jada formalidade às comunicações. Mencionemos, ainda, a forma nos a última frase anterior ao fecho.
Vossa Magnificência, empregada por força da tradição, em comu-
nicações dirigidas a reitores de universidade. Corresponde-lhe o O Padrão Ofício
vocativo: Há três tipos de expedientes que se diferenciam antes pela fi-
nalidade do que pela forma: o ofício, o aviso e o memorando. Com
Magnífico Reitor, o fito de uniformizá-los, pode-se adotar uma diagramação única,
(...) que siga o que chamamos de padrão ofício. As peculiaridades de
cada um serão tratadas adiante; por ora busquemos as suas seme-
Os pronomes de tratamento para religiosos, de acordo com a lhanças.
hierarquia eclesiástica, são:
Partes do documento no Padrão Ofício
Vossa Santidade, em comunicações dirigidas ao Papa. O voca- O aviso, o ofício e o memorando devem conter as seguintes
tivo correspondente é: partes:
Santíssimo Padre, a) tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que
(...) o expede:
Exemplos:
Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima, em co- Mem. 123/2002-MF Aviso 123/2002-SG Of. 123/2002-MME
municações aos Cardeais. Corresponde-lhe o vocativo:
Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou
b) local e data em que foi assinado, por extenso, com alinha-
Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal,
mento à direita:
(...)
Exemplo:
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Vossa Excelência Reverendíssima é usado em comunicações
Brasília, 15 de março de 1991.
dirigidas a Arcebispos e Bispos; Vossa Reverendíssima ou Vossa Se-
nhoria Reverendíssima para Monsenhores, Cônegos e superiores
c) assunto: resumo do teor do documento
religiosos. Vossa Reverência é empregado para sacerdotes, clérigos
Exemplos:
e demais religiosos.
Assunto: Produtividade do órgão em 2002.
Fechos para Comunicações Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores.
O fecho das comunicações oficiais possui, além da finalidade
óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário. Os modelos d) destinatário: o nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida
para fecho que vinham sendo utilizados foram regulados pela Por- a comunicação. No caso do ofício deve ser incluído também o en-
taria nº1 do Ministério da Justiça, de 1937, que estabelecia quinze dereço.
padrões. Com o fito de simplificá-los e uniformizá-los, este Manual
estabelece o emprego de somente dois fechos diferentes para to- e) texto: nos casos em que não for de mero encaminhamento
das as modalidades de comunicação oficial: de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura:
a) para autoridades superiores, inclusive o Presidente da Re- – Introdução, que se confunde com o parágrafo de abertura,
pública: na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Evite o
Respeitosamente, uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”, “Cumpre-
b) para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia in- -me informar que”, empregue a forma direta;
ferior: – Desenvolvimento, no qual o assunto é detalhado; se o texto
Atenciosamente, contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser tratadas
em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à exposição;
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– Conclusão, em que é reafirmada ou simplesmente reapresen- l) todos os tipos de documentos do Padrão Ofício devem ser
tada a posição recomendada sobre o assunto. impressos em papel de tamanho A-4, ou seja, 29,7 x 21,0 cm;
m) deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos Rich Text nos documentos de texto;
em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos. n) dentro do possível, todos os documentos elaborados devem
Já quando se tratar de mero encaminhamento de documentos ter o arquivo de texto preservado para consulta posterior ou apro-
a estrutura é a seguinte: veitamento de trechos para casos análogos;
– Introdução: deve iniciar com referência ao expediente que o) para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem
solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não tiver ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número do
sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo da comu- documento + palavras-chaves do conteúdo Ex.: “Of. 123 - relatório
nicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados completos produtividade ano 2002”
do documento encaminhado (tipo, data, origem ou signatário, e as-
sunto de que trata), e a razão pela qual está sendo encaminhado, Aviso e Ofício
segundo a seguinte fórmula: — Definição e Finalidade
“Em resposta ao Aviso nº 12, de 1º de fevereiro de 1991, enca- Aviso e ofício são modalidades de comunicação oficial pratica-
minho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 1990, do Depar- mente idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é expe-
tamento Geral de Administração, que trata da requisição do servi- dido exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de
dor Fulano de Tal. ” Ou “Encaminho, para exame e pronunciamento, mesma hierarquia, ao passo que o ofício é expedido para e pelas
a anexa cópia do telegrama no 12, de 1o de fevereiro de 1991, do demais autoridades. Ambos têm como finalidade o tratamento de
Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública entre si e,
projeto de modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste. ” no caso do ofício, também com particulares.
– Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer
algum comentário a respeito do documento que encaminha, pode- — Forma e Estrutura
rá acrescentar parágrafos de desenvolvimento; em caso contrário, Quanto a sua forma, aviso e ofício seguem o modelo do padrão
não há parágrafos de desenvolvimento em aviso ou ofício de mero ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o destinatário (v. 2.1
encaminhamento. Pronomes de Tratamento), seguido de vírgula.
Exemplos:
f) fecho (v. 2.2. Fechos para Comunicações); Excelentíssimo Senhor Presidente da República
Senhora Ministra
g) assinatura do autor da comunicação; e Senhor Chefe de Gabinete
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as seguin-
h) identificação do signatário (v. 2.3. Identificação do Signa- tes informações do remetente:
tário). – Nome do órgão ou setor;
– Endereço postal;
Forma de diagramação – telefone E endereço de correio eletrônico.
Os documentos do Padrão Ofício5 devem obedecer à seguinte
forma de apresentação: Memorando
a) deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo
12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé; — Definição e Finalidade
b) para símbolos não existentes na fonte Times New Roman po- O memorando é a modalidade de comunicação entre unidades
der-se-á utilizar as fontes Symbol e Wingdings; administrativas de um mesmo órgão, que podem estar hierarquica-
c) é obrigatória constar a partir da segunda página o número mente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata-se, portanto,
da página; de uma forma de comunicação eminentemente interna. Pode ter
d) os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser impres- caráter meramente administrativo, ou ser empregado para a ex-
sos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens esquerda posição de projetos, ideias, diretrizes, etc. a serem adotados por
e direta terão as distâncias invertidas nas páginas pares (“margem determinado setor do serviço público. Sua característica principal é
espelho”); a agilidade. A tramitação do memorando em qualquer órgão deve
e) o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de distân- pautar-se pela rapidez e pela simplicidade de procedimentos buro-
cia da margem esquerda; cráticos. Para evitar desnecessário aumento do número de comuni-
f) o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no míni- cações, os despachos ao memorando devem ser dados no próprio
mo, 3,0 cm de largura; documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação.
g) o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm; 5 O Esse procedimento permite formar uma espécie de processo sim-
constante neste item aplica-se também à exposição de motivos e à plificado, assegurando maior transparência à tomada de decisões,
mensagem (v. 4. Exposição de Motivos e 5. Mensagem). e permitindo que se historie o andamento da matéria tratada no
h) deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de memorando.
6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado não
comportar tal recurso, de uma linha em branco; — Forma e Estrutura
i) não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado, Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do padrão
letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou qualquer ofício, com a diferença de que o seu destinatário deve ser mencio-
outra forma de formatação que afete a elegância e a sobriedade do nado pelo cargo que ocupa.
documento; Exemplos:
j) a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em papel Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração Ao Sr. Subche-
branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para gráficos fe para Assuntos Jurídicos
e ilustrações;
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Exposição de Motivos - Se é o caso de solicitar-se abertura de crédito extraordinário,
especial ou suplementar;
— Definição e Finalidade - Valor a ser despendido em moeda corrente;
Exposição de motivos é o expediente dirigido ao Presidente da
República ou ao Vice-Presidente para: 5. Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente
a) informá-lo de determinado assunto; se o ato proposto for medido provisória ou projeto de lei que deva
b) propor alguma medida; ou tramitar em regime de urgência)
c) submeter a sua consideração projeto de ato normativo. Mencionar:
- Se o problema configura calamidade pública;
Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente da - Por que é indispensável a vigência imediata;
República por um Ministro de Estado. - Se se trata de problema cuja causa ou agravamento não te-
Nos casos em que o assunto tratado envolva mais de um Mi- nham sido previstos;
nistério, a exposição de motivos deverá ser assinada por todos os - Se se trata de desenvolvimento extraordinário de situação já
Ministros envolvidos, sendo, por essa razão, chamada de intermi- prevista.
nisterial.
6. Impacto sobre o meio ambiente (sempre que o ato ou medi-
— Forma e Estrutura da proposta possa vir a tê-lo)
Formalmente, a exposição de motivos tem a apresentação do 7. Alterações propostas
padrão ofício (v. 3. O Padrão Ofício). O anexo que acompanha a 8. Síntese do parecer do órgão jurídico
exposição de motivos que proponha alguma medida ou apresente Com base em avaliação do ato normativo ou da medida pro-
projeto de ato normativo, segue o modelo descrito adiante. A ex- posta à luz das questões levantadas no item 10.4.3.
posição de motivos, de acordo com sua finalidade, apresenta duas A falta ou insuficiência das informações prestadas pode acar-
formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter retar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil,
exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma a devolução do projeto de ato normativo para que se complete o
medida ou submeta projeto de ato normativo. exame ou se reformule a proposta. O preenchimento obrigatório do
No primeiro caso, o da exposição de motivos que simplesmen- anexo para as exposições de motivos que proponham a adoção de
te leva algum assunto ao conhecimento do Presidente da República, alguma medida ou a edição de ato normativo tem como finalidade:
sua estrutura segue o modelo antes referido para o padrão ofício. a) permitir a adequada reflexão sobre o problema que se busca
Já a exposição de motivos que submeta à consideração do Pre- resolver;
sidente da República a sugestão de alguma medida a ser adotada b) ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do pro-
ou a que lhe apresente projeto de ato normativo – embora sigam blema e dos efeitos que pode ter a adoção da medida ou a edição
também a estrutura do padrão ofício –, além de outros comentá- do ato, em consonância com as questões que devem ser analisadas
rios julgados pertinentes por seu autor, devem, obrigatoriamente, na elaboração de proposições normativas no âmbito do Poder Exe-
apontar: cutivo (v. 10.4.3.).
a) na introdução: o problema que está a reclamar a adoção da c) conferir perfeita transparência aos atos propostos.
medida ou do ato normativo proposto;
b) no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou Dessa forma, ao atender às questões que devem ser analisadas
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e even- na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo,
tuais alternativas existentes para equacioná-lo; o texto da exposição de motivos e seu anexo complementam-se e
c) na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada, ou formam um todo coeso: no anexo, encontramos uma avaliação pro-
qual ato normativo deve ser editado para solucionar o problema. funda e direta de toda a situação que está a reclamar a adoção de
certa providência ou a edição de um ato normativo; o problema a
Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à exposição ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe, seus efeitos
de motivos, devidamente preenchido, de acordo com o seguinte e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da exposição de
modelo previsto no Anexo II do Decreto no 4.176, de 28 de março motivos fica, assim, reservado à demonstração da necessidade da
de 2002. providência proposta: por que deve ser adotada e como resolverá
Anexo à Exposição de Motivos do (indicar nome do Ministério o problema. Nos casos em que o ato proposto for questão de pes-
ou órgão equivalente) nº de 200. soal (nomeação, promoção, ascensão, transferência, readaptação,
reversão, aproveitamento, reintegração, recondução, remoção,
1. Síntese do problema ou da situação que reclama providên- exoneração, demissão, dispensa, disponibilidade, aposentadoria),
cias não é necessário o encaminhamento do formulário de anexo à ex-
2. Soluções e providências contidas no ato normativo ou na posição de motivos.
medida proposta Ressalte-se que:
3. Alternativas existentes às medidas propostas – A síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico
Mencionar: não dispensa o encaminhamento do parecer completo;
- Se há outro projeto do Executivo sobre a matéria; – O tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos
- Se há projetos sobre a matéria no Legislativo; pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão dos
- Outras possibilidades de resolução do problema. comentários a serem ali incluídos.

4. Custos
Mencionar:
- Se a despesa decorrente da medida está prevista na lei orça-
mentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la;

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Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que c) indicação de autoridades.
a atenção aos requisitos básicos da redação oficial (clareza, conci- As mensagens que submetem ao Senado Federal a indicação
são, impessoalidade, formalidade, padronização e uso do padrão de pessoas para ocuparem determinados cargos (magistrados dos
culto de linguagem) deve ser redobrada. A exposição de motivos é Tribunais Superiores, Ministros do TCU, Presidentes e Diretores do
a principal modalidade de comunicação dirigida ao Presidente da Banco Central, Procurador-Geral da República, Chefes de Missão Di-
República pelos Ministros. Além disso, pode, em certos casos, ser plomática, etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, inci-
encaminhada cópia ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário sos III e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência
ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial da União, no todo ou em privativa para aprovar a indicação. O curriculum vitae do indicado,
parte. devidamente assinado, acompanha a mensagem.
d) pedido de autorização para o Presidente ou o Vice-Presiden-
Mensagem te da República se ausentarem do País por mais de 15 dias. Trata-
-se de exigência constitucional (Constituição, art. 49, III, e 83), e a
— Definição e Finalidade autorização é da competência privativa do Congresso Nacional. O
É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos Presidente da República, tradicionalmente, por cortesia, quando a
Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo Chefe ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz uma comunicação a cada
do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar sobre fato Casa do Congresso, enviando-lhes mensagens idênticas.
da Administração Pública; expor o plano de governo por ocasião e) encaminhamento de atos de concessão e renovação de
da abertura de sessão legislativa; submeter ao Congresso Nacional concessão de emissoras de rádio e TV. A obrigação de submeter
matérias que dependem de deliberação de suas Casas; apresentar tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta no inciso XII
veto; enfim, fazer e agradecer comunicações de tudo quanto seja do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão efeitos legais a
de interesse dos poderes públicos e da Nação. Minuta de mensa- outorga ou renovação da concessão após deliberação do Congresso
gem pode ser encaminhada pelos Ministérios à Presidência da Re- Nacional (Constituição, art. 223, § 3o). Descabe pedir na mensagem
pública, a cujas assessorias caberá a redação final. As mensagens a urgência prevista no art. 64 da Constituição, porquanto o § 1o do
mais usuais do Poder Executivo ao Congresso Nacional têm as se- art. 223 já define o prazo da tramitação. Além do ato de outorga
guintes finalidades: ou renovação, acompanha a mensagem o correspondente processo
a) encaminhamento de projeto de lei ordinária, complemen- administrativo.
tar ou financeira. Os projetos de lei ordinária ou complementar são f) encaminhamento das contas referentes ao exercício ante-
enviados em regime normal (Constituição, art. 61) ou de urgência rior. O Presidente da República tem o prazo de sessenta dias após a
(Constituição, art. 64, §§ 1o a 4o). Cabe lembrar que o projeto pode abertura da sessão legislativa para enviar ao Congresso Nacional as
ser encaminhado sob o regime normal e mais tarde ser objeto de contas referentes ao exercício anterior (Constituição, art. 84, XXIV),
nova mensagem, com solicitação de urgência. Em ambos os casos, para exame e parecer da Comissão Mista permanente (Constitui-
a mensagem se dirige aos Membros do Congresso Nacional, mas é ção, art. 166, § 1o), sob pena de a Câmara dos Deputados realizar a
encaminhada com aviso do Chefe da Casa Civil da Presidência da tomada de contas (Constituição, art. 51, II), em procedimento disci-
República ao Primeiro Secretário da Câmara dos Deputados, para plinado no art. 215 do seu Regimento Interno.
que tenha início sua tramitação (Constituição, art. 64, caput). Quan- g) mensagem de abertura da sessão legislativa.
to aos projetos de lei financeira (que compreendem plano plurianu- Ela deve conter o plano de governo, exposição sobre a situação
al, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e créditos adicio- do País e solicitação de providências que julgar necessárias (Cons-
nais), as mensagens de encaminhamento dirigem-se aos Membros tituição, art. 84, XI). O portador da mensagem é o Chefe da Casa
do Congresso Nacional, e os respectivos avisos são endereçados ao Civil da Presidência da República. Esta mensagem difere das demais
Primeiro Secretário do Senado Federal. A razão é que o art. 166 porque vai encadernada e é distribuída a todos os Congressistas em
da Constituição impõe a deliberação congressual sobre as leis fi-
forma de livro.
nanceiras em sessão conjunta, mais precisamente, “na forma do
h) comunicação de sanção (com restituição de autógrafos).
regimento comum”. E à frente da Mesa do Congresso Nacional está
Esta mensagem é dirigida aos Membros do Congresso Nacio-
o Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 57, § 5o), que co-
nal, encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da Casa onde
manda as sessões conjuntas. As mensagens aqui tratadas coroam o
se originaram os autógrafos. Nela se informa o número que tomou
processo desenvolvido no âmbito do Poder Executivo, que abrange
a lei e se restituem dois exemplares dos três autógrafos recebidos,
minucioso exame técnico, jurídico e econômico-financeiro das ma-
nos quais o Presidente da República terá aposto o despacho de san-
térias objeto das proposições por elas encaminhadas. Tais exames
ção.
materializam-se em pareceres dos diversos órgãos interessados no
assunto das proposições, entre eles o da Advocacia-Geral da União. i) comunicação de veto.
Mas, na origem das propostas, as análises necessárias constam da Dirigida ao Presidente do Senado Federal (Constituição, art. 66,
exposição de motivos do órgão onde se geraram (v. 3.1. Exposição § 1o), a mensagem informa sobre a decisão de vetar, se o veto é
de Motivos) – exposição que acompanhará, por cópia, a mensagem parcial, quais as disposições vetadas, e as razões do veto. Seu texto
de encaminhamento ao Congresso. vai publicado na íntegra no Diário Oficial da União (v. 4.2. Forma e
b) encaminhamento de medida provisória. Estrutura), ao contrário das demais mensagens, cuja publicação se
Para dar cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição, restringe à notícia do seu envio ao Poder Legislativo. (v. 19.6.Veto)
o Presidente da República encaminha mensagem ao Congresso, j) outras mensagens.
dirigida a seus membros, com aviso para o Primeiro Secretário do Também são remetidas ao Legislativo com regular frequência
Senado Federal, juntando cópia da medida provisória, autenticada mensagens com:
pela Coordenação de Documentação da Presidência da República. – Encaminhamento de atos internacionais que acarretam en-
cargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I);
– Pedido de estabelecimento de alíquotas aplicáveis às opera-
ções e prestações interestaduais e de exportação
(Constituição, art. 155, § 2o, IV);
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– Proposta de fixação de limites globais para o montante da Fax
dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);
– Pedido de autorização para operações financeiras externas — Definição e Finalidade
(Constituição, art. 52, V); e outros. O fax (forma abreviada já consagrada de fac-símile) é uma for-
Entre as mensagens menos comuns estão as de: ma de comunicação que está sendo menos usada devido ao desen-
– Convocação extraordinária do Congresso Nacional (Constitui- volvimento da Internet. É utilizado para a transmissão de mensa-
ção, art. 57, § 6o); gens urgentes e para o envio antecipado de documentos, de cujo
– Pedido de autorização para exonerar o Procurador-Geral da conhecimento há premência, quando não há condições de envio do
República (art. 52, XI, e 128, § 2o); documento por meio eletrônico. Quando necessário o original, ele
– Pedido de autorização para declarar guerra e decretar mobi- segue posteriormente pela via e na forma de praxe. Se necessário
lização nacional (Constituição, art. 84, XIX); o arquivamento, deve-se fazê-lo com cópia xerox do fax e não com
– Pedido de autorização ou referendo para celebrar a paz o próprio fax, cujo papel, em certos modelos, se deteriora rapida-
(Constituição, art. 84, XX); mente.
– Justificativa para decretação do estado de defesa ou de sua
prorrogação (Constituição, art. 136, § 4o); — Forma e Estrutura
– Pedido de autorização para decretar o estado de sítio (Cons- Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a estrutura
tituição, art. 137); que lhes são inerentes. É conveniente o envio, juntamente com o
– Relato das medidas praticadas na vigência do estado de sítio documento principal, de folha de rosto, i. é., de pequeno formulário
ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único); com os dados de identificação da mensagem a ser enviada, confor-
– Proposta de modificação de projetos de leis financeiras me exemplo a seguir:
(Constituição, art. 166, § 5o);
– Pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem sem Correio Eletrônico
despesas correspondentes, em decorrência de veto, emenda ou re-
jeição do projeto de lei orçamentária anual (Constituição, art. 166, — Definição e finalidade
§ 8o); Correio eletrônico (“e-mail”), por seu baixo custo e celeridade,
– Pedido de autorização para alienar ou conceder terras públi- transformou-se na principal forma de comunicação para transmis-
cas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188, § 1o); etc. são de documentos.

— Forma e Estrutura — Forma e Estrutura


As mensagens contêm: Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é sua
a) a indicação do tipo de expediente e de seu número, horizon- flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida para sua es-
talmente, no início da margem esquerda: trutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de linguagem incompatí-
Mensagem no vel com uma comunicação oficial (v. 1.2 A Linguagem dos Atos e
b) vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o cargo Comunicações Oficiais). O campo assunto do formulário de correio
do destinatário, horizontalmente, no início da margem esquerda; eletrônico mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a or-
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, ganização documental tanto do destinatário quanto do remetente.
c) o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utilizado, prefe-
d) o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e rencialmente, o formato Rich Text. A mensagem que encaminha al-
horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem direita. gum arquivo deve trazer informações mínimas sobre seu conteúdo.
A mensagem, como os demais atos assinados pelo Presidente Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de confirmação de
da República, não traz identificação de seu signatário. leitura. Caso não seja disponível, deve constar na mensagem o pe-
dido de confirmação de recebimento.
Telegrama
—Valor documental
— Definição e Finalidade Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem de
Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar os proce- correio eletrônico tenha valor documental, i. é, para que possa ser
dimentos burocráticos, passa a receber o título de telegrama toda aceito como documento original, é necessário existir certificação di-
comunicação oficial expedida por meio de telegrafia, telex, etc. Por gital que ateste a identidade do remetente, na forma estabelecida
tratar-se de forma de comunicação dispendiosa aos cofres públicos em lei.
e tecnologicamente superada, deve restringir-se o uso do telegra-
ma apenas àquelas situações que não seja possível o uso de correio
eletrônico ou fax e que a urgência justifique sua utilização e, tam-
bém em razão de seu custo elevado, esta forma de comunicação
deve pautar-se pela concisão (v. 1.4. Concisão e Clareza).

— Forma e Estrutura
Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a estrutura
dos formulários disponíveis nas agências dos Correios e em seu sítio
na Internet.

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Analise as assertivas e responda:
QUESTÕES (A) Somente a I é correta.
(B) Somente a II é incorreta.
(C) Somente a III é correta
1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é (D) A III e IV são corretas.
a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO
se fundamenta em intertextualidade é: 3. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que ain-
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido da suja o Brasil”:
há muito tempo.” I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se no desenvolvimento do assunto.
mete onde não é chamada.” II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro-
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente blemas no uso de conjunções e preposições.
mesmo!” III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, de palavras e da ordem sintática.
tudo bem.” IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” temática e bom uso dos recursos coesivos.
Analise as assertivas e responda:
Leia o texto abaixo para responder a questão. (A) Somente a I é correta.
A lama que ainda suja o Brasil (B) Somente a II é incorreta.
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br) (C) Somente a III é correta.
(D) Somente a IV é correta.
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei- Leia o texto abaixo para responder as questões.
ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio UM APÓLOGO
Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu- Machado de Assis.
peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica- — Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro- — Deixe-me, senhora.
funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro, — Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica, com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos der na cabeça.
se tornou uma bomba relógio na região.” — Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem ris- Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem
cos de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Se- o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
gundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos outros.
16 barragens de mineração em todo o País apresentam condições — Mas você é orgulhosa.
de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar — Decerto que sou.
órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta — Mas por quê?
Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, — É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um ama, quem é que os cose, senão eu?
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco — Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
regulatório da mineração, por sua vez, também concede priorida- que quem os cose sou eu, e muito eu?
de à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos ju- — Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
diciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz daço ao outro, dou feição aos babados…
Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com — Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer. puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+- mando…
QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL — Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
2. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
fato. trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa.
gênero textual editorial. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
que se trata de uma reportagem. costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
se trata de um editorial. orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a
isto uma cor poética. E dizia a agulha:

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— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
e acima… Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que e mando...” (L.14-15)
ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli- Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando
costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até abaixo e acima.” (L.25-26)
que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile. (E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de
a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da Onde me espetam, fico.” (L.40-41)
bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, 5. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
perguntou-lhe: em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
— Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que -vermelho.
vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? fra-assinado.
Vamos, diga lá. (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca- (D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: trarregra.
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é (E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze -mencionado.
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam,
fico. 6. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alterna-
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis- tiva em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão.
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a (A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”.
muita linha ordinária! (B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
(C) “sérios”, “potência”, “após”.
4. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis (D) “Goiás”, “já”, “vários”.
e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona- (E) “solidária”, “área”, “após”.
gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os 7. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
elementos dos textos: oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
nhados classificam-se, respectivamente, em
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
(C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
(D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
(E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.

8. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL –


2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamente
por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
(A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
(B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
(C) Pretendo viajar a Paraíba.
(D) Ele gosta de bife à cavalo.

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9. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No 13. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: o seguinte par de palavras:
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, (A) estrondo – ruído;
mas nunca à custa de nossos filhos...” (B) pescador – trabalhador;
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin- (C) pista – aeroporto;
dética adversativa; (D) piloto – comissário;
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex- (E) aeronave – jatinho.
plicativa;
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver- 14. (IF-SC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO- IF-SC - 2019 )
bial concessiva; Determinadas palavras são frequentes na redação oficial. Con-
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada forme as regras do Acordo Ortográfico que entrou em vigor em
sindética adversativa; 2009, assinale a opção CORRETA que contém apenas palavras gra-
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con- fadas conforme o Acordo.
cessiva. I. abaixo-assinado, Advocacia-Geral da União, antihigiênico, ca-
pitão de mar e guerra, capitão-tenente, vice-coordenador.
10. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode II. contra-almirante, co-obrigação, coocupante, decreto-lei, di-
ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma retor-adjunto, diretor-executivo, diretor-geral, sócio-gerente.
padrão na seguinte sentença: III. diretor-presidente, editor-assistente, editor-chefe, ex-dire-
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente. tor, general de brigada, general de exército, segundo-secretário.
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho. IV. matéria-prima, ouvidor-geral, papel-moeda, pós-graduação,
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe. pós-operatório, pré-escolar, pré-natal, pré-vestibular; Secretaria-
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião. -Geral.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso. V. primeira-dama, primeiro-ministro, primeiro-secretário, pró-
-ativo, Procurador-Geral, relator-geral, salário-família, Secretaria-
11. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- -Executiva, tenente-coronel.
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a Assinale a alternativa CORRETA:
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase (A) As afirmações I, II, III e V estão corretas.
acima, na ordem dada, as expressões: (B) As afirmações II, III, IV e V estão corretas.
(A) a que – de que; (C) As afirmações II, III e IV estão corretas.
(B) de que – com que; (D) As afirmações I, II e IV estão corretas.
(C) a cujas – de cujos; (E) As afirmações III, IV e V estão corretas.
(D) à que – em que;
(E) em que – aos quais. 15. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018)
Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da língua.
12. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012) Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que funda-
Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações mentem esses usos.
de concordância no texto abaixo. Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou 1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de
um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra- Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem.
tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo- 2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª
ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de- Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime.
flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as 3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um relaciona-
receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição mento difícil com a mãe e teria discutido com ela momentos antes
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan- de desferir os golpes.
ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso
salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa da vírgula em cada frase.
Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência ( ) Para destacar deslocamento de termos.
social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, ( ) Para separar adjuntos adverbiais.
responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF. ( ) Para indicar um aposto.
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
plural em “deflacionados”. (A) 1 – 2 – 3.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural (B) 2 – 1 – 3.
em “Elevaram-se”. (C) 3 – 1 – 2.
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as (D) 3 – 2 – 1.
regras de concordância com “economia”.
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
singular em “fez aumentar”.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
com “relevantes”.

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GABARITO
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1 E ______________________________________________________
2 C
______________________________________________________
3 D
______________________________________________________
4 E
5 D ______________________________________________________
6 A ______________________________________________________
7 B
______________________________________________________
8 A
9 D ______________________________________________________
10 B ______________________________________________________
11 A
______________________________________________________
12 A
13 E ______________________________________________________
14 E ______________________________________________________
15 C
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO

Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um


ESTRUTURAS LÓGICAS. LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO: trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirma-
ANALOGIAS, INFERÊNCIAS, DEDUÇÕES E CONCLUSÕES. ções, selecionando uma das possíveis respostas:
LÓGICA SENTENCIAL (OU PROPOSICIONAL). PROPOSIÇÕES A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das in-
SIMPLES E COMPOSTAS. TABELAS VERDADE. EQUIVALÊN‐ formações ou opiniões contidas no trecho)
CIAS. LEIS DE MORGAN. DIAGRAMAS LÓGICOS. LÓGICA DE B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as in-
PRIMEIRA ORDEM. PRINCÍPIOS DE CONTAGEM E PROBA‐ formações ou opiniões contidas no trecho)
BILIDADE. OPERAÇÕES COM CONJUNTOS. RACIOCÍNIO C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é
LÓGICO ENVOLVENDO PROBLEMAS ARITMÉTICOS, verdadeira ou falsa sem mais informações)
GEOMÉTRICOS E MATRICIAIS
ESTRUTURAS LÓGICAS
Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições.
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos
Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver proble- atribuir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos.
mas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das dife- Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.
rentes áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura
de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte Elas podem ser:
consiste nos seguintes conteúdos: • Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógi-
- Operação com conjuntos. co verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto,
- Cálculos com porcentagens. não é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geomé- - Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem?
tricos e matriciais. – Fez Sol ontem?
- Geometria básica. - Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Álgebra básica e sistemas lineares. - Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a
- Calendários. televisão.
- Numeração. - Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, am-
- Razões Especiais. bíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro
- Análise Combinatória e Probabilidade. do meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1
- Progressões Aritmética e Geométrica.
• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO
RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será conside-
Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de rada uma frase, proposição ou sentença lógica.
Argumentação.
Proposições simples e compostas
ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL • Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém
O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas
temporal envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo. p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
O mais importante é praticar o máximo de questões que envol-
vam os conteúdos: • Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógi-
- Lógica sequencial cas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
- Calendários simples. As proposições compostas são designadas pelas letras lati-
nas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
RACIOCÍNIO VERBAL
Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas
conclusões lógicas. por duas proposições simples.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de ha-
bilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma
vaga. Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteli-
gência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do
conhecimento por meio da linguagem.

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Proposições Compostas – Conectivos
As proposições compostas são formadas por proposições simples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que po-
demos vê na tabela a seguir:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F
Resposta: Certo

Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposi-
ção é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.

Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.

Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.

Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Conectivos (conectores lógicos)
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução: R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o regime fechado.
conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre- S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposi-
ção simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representa- qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
da pelo símbolo (→). Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item
Resposta: B. que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, in-
Tabela Verdade dependentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determi- falsas.
namos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a ( ) Certo
compõe. O valor lógico de qualquer proposição composta depen- ( ) Errado
de UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples com-
ponentes, ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados. Resolução:
Considerando P e Q como V.
• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do nú- (V→V) ↔ ((F)→(F))
mero de proposições simples que a integram, sendo dado pelo se- (V) ↔ (V) = V
guinte teorema: Considerando P e Q como F
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* pro- (F→F) ↔ ((V)→(V))
posições simples componentes contém 2n linhas.” (V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Exemplo: Resposta: Certo.
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições sim-
ples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da pro- Equivalência
posição (A → B) ↔ (C → D) será igual a: Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quan-
(A) 2; do mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a
(B) 4; mesma solução em suas respectivas tabelas verdade.
(C) 8; Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLO-
(D) 16; GIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima,
então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade
(última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia,
então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que
sejam as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela ver-


dade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da
Tautologia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, Exemplo:
então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que 5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é
sejam as proposições P0, Q0, R0, ... rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição (C) João é rico, e Maria não é pobre.
composta que não é tautologia e nem contradição. (D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.
Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o
objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na
qual identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto
à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposi-
ções). No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

Resposta: B.

Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Conectivo “ou” (v) 5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não dis-
Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. se o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
(Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente). Temos então sua tabela verdade:

Conectivo “ou” (v)


Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando
Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa). a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.

Conectivo “Se e somente se” (↔)


Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada
bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é
condição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição
necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somen-
te se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
• Mais sobre o Conectivo “ou” 4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela
– “inclusivo”(considera os dois casos) verdade:
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das
proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das
proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusi-


vo”(considera apenas um dos casos) Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as pro-
posições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.
Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a
S: Maria é jovem ou idosa tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qual-
quer questão referente ao assunto.
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das
proposições é verdadeira, podendo ser ambas. Ordem de precedência dos conectivos:
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos
proposições poderá ser verdadeiro ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica mate-
mática prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:
Conectivo “Se... então” (→)
Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada
subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer
sol, então irei à praia”.
1. Podem ocorrer as situações: Em resumo:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplo: ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distin-
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou tos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conecti-
operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbo- vo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica que
los (da linguagem formal) utilizados para conectar proposições de pode ou não existir entre duas proposições.
acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa
que apresenta exemplos de conjunção, negação e implicação, res- Exemplo:
pectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o Observe:
conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre- - Toda proposição implica uma Tautologia:
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposi-
ção simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representa-
da pelo símbolo (→).
Resposta: B

CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais propo-
sições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente - Somente uma contradição implica uma contradição:
do valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a
sua tabela-verdade:

Exemplo:
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a propo- Propriedades
sição ~P ∧ P é:
(A) uma tautologia. • Reflexiva:
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p. – P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
(C) uma contradição. – Uma proposição complexa implica ela mesma.
(D) uma contingência.
(E) uma disjunção. • Transitiva:
Resolução: – Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
Montando a tabela teremos que: Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
P ~p ~p ^p – Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R

V F F Regras de Inferência
V F F • Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
F V F
tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
F V F sições verdadeiras já existentes.

Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante Regras de Inferência obtidas da implicação lógica
de uma CONTRADIÇÃO.
Resposta: C

A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição


Q(p,q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadei-
ra. Representamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamen-
te temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).

Editora
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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
• Silogismo Disjuntivo Inferências

• Regra do Silogismo Hipotético

Princípio da inconsistência
• Modus Ponens – Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica
p ^ ~p ⇒ q
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo-
sição q.

A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a


condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
• Modus Tollens tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren-
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira
ou falsa.

Vejamos algumas formas:


- Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.

Onde temos que A e B são os termos ou características dessas


proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com


o tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.
Tautologias e Implicação Lógica – Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição
categórica em afirmativa ou negativa.
• Teorema – Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...) uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica-
ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição.

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.
Observe que:
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das • Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q. Teremos duas possibilidades.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P → Q
é tautológica.

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no – Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição
conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam- categórica particular geramos uma proposição categórica universal.
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de – Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos,
“Todo B é A”. sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca,
negando uma proposição de natureza negativa geramos, sempre,
• Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B” uma proposição de natureza afirmativa.
Tais proposições afirmam que não há elementos em comum
entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mes- Em síntese:
mo que dizer “nenhum B é A”.
Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte dia-
grama (A ∩ B = ø):

• Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”


Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta pro-
posição:

Exemplos:
(DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não
são pardos, e aqueles que não são pardos miam alto.
Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir-
mação anterior é:
(A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par-
dos.
(B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos.
(C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos
não miam alto.
(D) Todos os gatos que miam alto são pardos.
Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A” (E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é
tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Con- pardo.
tudo, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo
A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”. Resolução:
Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição
• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B” do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação.
Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três
representações possíveis: O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo
o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum).
Logo, podemos descartar as alternativas A e E.
A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção,
em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta-
mos a alternativa B.
Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
A é não B.
Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
são pardos NÃO miam alto.
Resposta: C

Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o (CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a
conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
conjunto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
que Algum B não é A. (A) Todos os não psicólogos são professores.
(B) Nenhum professor é psicólogo.
• Negação das Proposições Categóricas (C) Nenhum psicólogo é professor.
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as (D) Pelo menos um psicólogo não é professor.
seguintes convenções de equivalência: (E) Pelo menos um professor não é psicólogo.
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos
uma proposição categórica particular.
Editora
59
a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução: Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:
Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS
vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
menos um professor não é psicólogo.
Resposta: E

• Equivalência entre as proposições TODO


A
Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na AéB
resolução de questões.
Se um elemento pertence ao conjunto
A, então pertence também a B.

NENHUM
E
AéB

Existe pelo menos um elemento que pertence a


Exemplo:
A, então não pertence a B, e vice-versa.
(PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação
lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual
a cinco”?
(A) Todo número natural é menor do que cinco.
(B) Nenhum número natural é menor do que cinco.
(C) Todo número natural é diferente de cinco.
(D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco.
Resolução: Existe pelo menos um elemento comum aos
Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede- conjuntos A e B.
-se a sua negação. Podemos ainda representar das seguintes for-
O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o mas:
esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe ALGUM
ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To- I
AéB
dos e Nenhum, que também são universais.

Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem


quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
nativas A, B e C.
Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Resposta: D

Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.
Editora
60
60
a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC
Segundo as afirmativas temos:
(A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe
pelo menos um dos cinemas é considerado teatro.

ALGUM
O
A NÃO é B
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
mo princípio acima.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado,
Perceba-se que, nesta sentença, a atenção está a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama
sobre o(s) elemento (s) de A que não são B (en- nos afirma isso
quanto que, no “Algum A é B”, a atenção estava
sobre os que eram B, ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a diferença
entre conjuntos, que forma o conjunto A - B

Exemplo:
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de (D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi-
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é cativa é observada no diagrama da alternativa anterior.
casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que (E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor-
(A) existem cinemas que não são teatros. reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que
(B) existe teatro que não é casa de cultura. todo cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. também não é cinema.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.

Resolução:
Vamos chamar de:
Cinema = C
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos: Resposta: E
- Todo cinema é uma casa de cultura
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.
- Existem teatros que não são cinemas

Exemplo:
P1: Todos os cientistas são loucos.
- Algum teatro é casa de cultura P2: Martiniano é louco.
Q: Martiniano é um cientista.
O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento
formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.
Editora
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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Argumentos Válidos Comparando a conclusão do nosso argumento, temos:
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató- será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência
ria do seu conjunto de premissas. necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con-
junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do
Exemplo: conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido!
O silogismo...
P1: Todos os homens são pássaros. Argumentos Inválidos
P2: Nenhum pássaro é animal. Dizemos que um argumento é inválido – também denominado
Q: Portanto, nenhum homem é animal. ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade
das premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclu-
... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um são.
argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis. Exemplo:
P1: Todas as crianças gostam de chocolate.
ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CONTE- P2: Patrícia não é criança.
ÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido, Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate.
independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão!
Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois
• Como saber se um determinado argumento é mesmo váli- as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão.
do? Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé- de chocolate.
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo arti-
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa fício, que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela pri-
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar meira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”.
essa frase da seguinte maneira:

Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho- Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é
mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Pa-
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo trícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos
menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO. facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das
Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa- crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do
de uma total dissociação entre os dois conjuntos. diagrama:
1º) Fora do conjunto maior;
2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:

Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença


“Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em
comum.
Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:

Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não


gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este
argumento é válido ou não, é justamente confirmar se esse resul-
tado (se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!

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62
a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
- É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de chocolate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não! Pode
ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círculo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)! Enfim, o
argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a veracidade da conclusão!

Métodos para validação de um argumento


Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO, AL-
GUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocorre quan-
do nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se na construção
da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a desvantagem de ser mais
trabalhoso, principalmente quando envolve várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e considerando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a validade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibilidade
do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades. Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobriremos o
valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em verdade, para que o argumento seja considerado válido.
4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, considerando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da con-
clusão de maneira direta, mas somente por meio de análises mais complicadas.

Em síntese:

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Exemplo: • Quando Cláudio sai de casa, não faz frio.
Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido: • Quando Fernando está estudando, não chove.
• Durante a noite, faz frio.
(p ∧ q) → r
_____~r_______ Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o
~p ∨ ~q item subsecutivo.
Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando.
Resolução: ( ) Certo
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum ( ) Errado
ou nenhum?
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos Resolução:
à pergunta seguinte. A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre-
- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposi- missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas:
ções simples? A = Chove
A resposta também é não! Portanto, descartamos também o B = Maria vai ao cinema
2º método. C = Cláudio fica em casa
- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposi- D = Faz frio
ção simples ou uma conjunção? E = Fernando está estudando
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar F = É noite
então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos A argumentação parte que a conclusão deve ser (V)
seguir adiante com uma próxima pergunta, teríamos: Lembramos a tabela verdade da condicional:
- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição
simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta
também é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso
queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método!
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo
3º e pelo 4º métodos.

Resolução pelo 3º Método


Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão
verdadeira. Teremos:
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa! A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa,
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa, con- utilizando isso temos:
cluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma con- O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando
junção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou ambas estava estudando. // B → ~E
forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores lógicos Iniciando temos:
de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar adequado, 4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B
por meio do mesmo, não poderemos determinar se o argumento é = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove
ou NÃO VÁLIDO. tem que ser F.
3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V).
Resolução pelo 4º Método // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria
Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere- vai ao cinema tem que ser V.
mos: 2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda- = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio
deiro! sai de casa tem que ser F.
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas 5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V).
verdadeiras! Teremos: // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver- ser V ou F.
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é 1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo:
r é verdadeiro. Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi! dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
Resposta: Errado
Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si-
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que
o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido!

Exemplos:
(DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as
seguintes proposições sejam verdadeiras.
• Quando chove, Maria não vai ao cinema.
• Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema.
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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
(PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada, então
Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma bruxa.
Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
(A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
(B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
(C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
(D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
(E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.

Resolução:
Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão o
valor lógico (V), então:
(4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F) → V
(3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro (F) → V
(2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F) → V
(1) Tristeza não é uma bruxa (V)

Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)
Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B

LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA


Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:

01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.

Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

Editora
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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
2º passo – construir a tabela gabarito.
Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.
HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS
Carlos
Luís
Paulo

3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está resolvido:

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro Patrícia
Luís Médico Maria
Paulo Advogado Lúcia

Exemplo:
(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, todos
para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curitiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram, sabe-se que:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;
− Mariana viajou para Curitiba;
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza.

É correto concluir que, em janeiro,


(A) Paulo viajou para Fortaleza.
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia.
(D) Mariana viajou para Salvador.
(E) Luiz viajou para Curitiba.

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Resolução: Tipos de quantificadores
Vamos preencher a tabela:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador; • Quantificador universal (∀)
O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas:
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador
Luiz N
Arnaldo N
Mariana
Paulo Exemplo:
Todo homem é mortal.
− Mariana viajou para Curitiba; A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será
mortal.
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador Na representação do diagrama lógico, seria:

Luiz N N
Arnaldo N N
Mariana N N S N
Paulo N

− Paulo não viajou para Goiânia;


ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador mem.
A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
Luiz N N 1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
Arnaldo N N 2ª) Se José é homem, então José é mortal.
Mariana N N S N
A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.
Paulo N N A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
(x) (A (x) → B).
− Luiz não viajou para Fortaleza. Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão
de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional.
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador Aplicando temos:
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for-
Luiz N N N ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x
Arnaldo N N + 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira?
A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador,
Mariana N N S N
a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul-
Paulo N N gar, logo, é uma proposição lógica.

Agora, completando o restante: • Quantificador existencial (∃)


Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En- O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N S N N
Arnaldo S N N N
Mariana N N S N Exemplo:
“Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase
Paulo N N N S é:

Resposta: B

Quantificador
É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
proposição aberta em uma proposição lógica.
O quantificador existencial tem a função de elemento comum.
QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co-
muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃
(x)) (A (x) ∧ B).
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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
Aplicando temos:
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈ N
ANOTAÇÕES
/ x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x +
2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença ______________________________________________________
será verdadeira?
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador, ______________________________________________________
a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos
julgar, logo, é uma proposição lógica. ______________________________________________________

ATENÇÃO: ______________________________________________________
– A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B”
______________________________________________________
é diferente de “Todo B é A”.
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é ______________________________________________________
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”.
______________________________________________________
Forma simbólica dos quantificadores
Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B). ______________________________________________________
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B). ______________________________________________________
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B).
______________________________________________________
Exemplos: ______________________________________________________
Todo cavalo é um animal. Logo,
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo. ______________________________________________________
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo. ______________________________________________________
(D) Nenhum animal é cavalo.
______________________________________________________
Resolução:
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu- ______________________________________________________
sões:
______________________________________________________
– Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
– Se é cavalo, então é um animal. ______________________________________________________
Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça
de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma ______________________________________________________
de conclusão).
Resposta: B ______________________________________________________

(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi- ______________________________________________________


ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V.
______________________________________________________
Resolução: ______________________________________________________
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R) ______________________________________________________
tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores. _____________________________________________________
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
os valores de x devem satisfazer a propriedade. _____________________________________________________
Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne-
cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade. ______________________________________________________
– 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos
______________________________________________________
x e y.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais. ______________________________________________________
O elemento y pertence ao conjunto os números reais.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x). ______________________________________________________
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0. ______________________________________________________
X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de ______________________________________________________
x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor-
______________________________________________________
reto.
Resposta: CERTO ______________________________________________________

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a solução para o seu concurso!
RACIOCÍNIO LÓGICO
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ATUALIDADES

Um dos mais notáveis efeitos da Globalização é, sem dúvidas,


GLOBALIZAÇÃO: CONCEITOS, EFEITOS E IMPLICAÇÕES SO‐ a formação e expansão das multinacionais, também conhecidas
CIAIS, ECONÔMICAS, POLÍTICAS E CULTURAIS como empresas globais. Essas instituições possuem seus serviços
e mercadorias disponibilizados em praticamente todas as partes do
planeta. As fábricas, em muitos casos, migram das sociedades in-
dustrializadas para os países periféricos em busca de mão de obra
Quando falamos em geografia politica e econômica, pensamos barata, matérias-primas acessíveis e, claro, maior mercado consu-
em globalização. midor, isso sem falar na redução ou isenção de impostos.
Uma das características da globalização é a crescente integra- Outro efeito da Globalização foi a formação dos mercados re-
ção econômica em escala planetária, devido ao aumento das trocas gionais, por meio dos blocos econômicos. Esses acordos entre os
comerciais e financeiras, que consolida a formação de um mercado países facilitaram os processos de negociação para aberturas eco-
mundial influenciado pelas empresas transnacionais. nômicas e entrada de pessoas e bens para consumo.
Nesse contexto, ganhou notoriedade a Organização Mundial Apesar de amplamente difundida, há muitos protestos e críti-
do Comércio (OMC), instituição internacional que visa fiscalizar e cas à globalização, sobretudo ressaltando os seus pontos negativos.
regulamentar o comércio mundial. As principais posições defendem que esse processo não é democrá-
A globalização é o processo de interligação e interdependência tico, haja vista que os produtos, lucros e desenvolvimentos ocorrem
entre as diferentes sociedades e resulta em uma intensificação das predominantemente nos países desenvolvidos e nas elites das so-
relações comerciais, econômicas, políticas, sociais e culturais entre ciedades, gerando margens de exclusão em todo o mundo. Críticas
países, empresas e pessoas. Esse fenômeno é possibilitado pelo também são direcionadas à padronização cultural ou hegemoniza-
avanço das técnicas, com destaque para os campos das telecomuni- ção de valores, em que o modo de vida eurocêntrico difunde-se no
cações e dos transportes. cerne do pensamento das sociedades.
A expressão “globalização” foi criada na década de 1980. No De toda forma, a Globalização está cada vez mais consolidada
entanto, não podemos dizer que ela seja um processo recente, uma no mundo atual, embora existam teóricos que, frequentemente, re-
vez que teria se iniciado ao longo dos séculos XV e XVI, com a ex- afirmam a sua reversibilidade, sobretudo em ocasiões envolvendo
pansão ultramarina europeia, que iniciava uma era de integração revoltas contra o seu funcionamento ou o próprio colapso do sis-
plena entre o continente europeu e as demais partes do planeta. tema financeiro. O seu futuro, no entanto, ainda está à mercê não
Por outro lado, foi apenas na segunda metade do século XX que tão somente das técnicas e da economia, mas também dos eventos
esse fenômeno encontrou a sua forma mais consolidada. políticos que vão marcar o mundo nas próximas décadas.
Podemos dizer que o mundo só alcançou o nível atual de inte- O Enem apresenta uma tendência de abordar temas que pos-
gração graças aos desenvolvimentos realizados, como já dissemos, suam certa atualidade, ou seja, que se relacionem com eventos ou
no âmbito dos transportes e das comunicações. Esses meios são acontecimentos que sejam de relevância para o contexto atual da
importantes por facilitarem o deslocamento e a rápida obtenção de sociedade. Por esse motivo, além de estudar os temas básicos da
informações entre pontos remotos entre si. Tais avanços, por sua Geografia, é preciso sempre estar informado através do acompa-
vez, ocorreram graças à III Revolução Industrial, também chamada nhamento de notícias tanto na mídia televisiva quanto na impressa
de Revolução técnico-científica informacional, que propiciou o de- e, também, na internet.
senvolvimento de novas tecnologias, como a computação eletrôni- Nesse sentido, a Globalização emerge como um dos principais
ca, a biotecnologia e inúmeras outras formas produtivas. temas a serem abordados pela banca examinadora, haja vista que
Outro fator que também pode ser tido como uma das causas todos os seus conceitos e efeitos podem ser visualizados direta ou
da Globalização é o desenvolvimento do Capitalismo Financeiro, a indiretamente nas sociedades do mundo contemporâneo. Portan-
fase do sistema econômico marcada pela fusão entre empresas e to, a globalização no Enem é uma oportunidade de compreender as
bancos e pela divisão das instituições privadas em ações. Hoje em relações geopolíticas e sociais à luz dos estudos da Geografia.
dia, o mercado financeiro, por meio das bolsas de valores, operam A globalização é, de modo geral, vista como o processo de
em redes internacionais, com empresas de um país investindo em integração e inter-relação mundial envolvendo a economia, a cul-
vários lugares, alavancando o nível de interdependência econômi- tura, a informação e, claro, os fluxos de pessoas. Esse fenômeno
ca. instrumentaliza-se pela difusão e avanço dos meios de transporte
A título de comparação, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei e comunicação, haja vista que regiões distantes, antes tidas como
de Portugal sobre o descobrimento do Brasil levou alguns meses isoladas umas das outras, integram-se plenamente.
para chegar ao seu destino. Em 1865, o assassinato do presidente
dos Estados Unidos, Abraham Lincon, foi informado duas semanas
depois na Europa. Já em 11 de setembro de 2001, os atentados ter-
roristas às torres gêmeas do World Trade Center foram acompanha-
dos em tempo real, com o mundo vendo ao vivo o desabamento
dos prédios.
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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
O termo Globalização, apesar de ser considerado por muitos Globalização Cultural
um processo gradativo que se iniciou com a expansão marítima eu- Toda essa movimentação populacional e também financeira
ropeia, difundiu-se no meio intelectual apenas a partir da década acaba provocando mudanças culturais. Uma delas é a aproximação
de 1980. Assim, a sua consolidação ocorreu na segunda metade do entre culturas distintas, o que chamamos de hibridismo cultural.
século XX em diante, com a difusão do neoliberalismo, a propaga- Agora, através da internet, se pode conhecer em tempo real
ção de tecnologias, a integração econômica e comercial entre os costumes tão diferentes e culturas tão distantes sem precisar sair
países, a formação e expansão dos blocos econômicos e o fortale- de casa.
cimento das instituições internacionais, tais como a OTAN e a ONU. No entanto, os deslocamento de pessoas pode gerar o ódio ao
Além disso, os principais agentes da globalização são, sem dúvidas, estrangeiro, a xenofobia. Do mesmo modo, narcotraficantes e ter-
as empresas transnacionais, também conhecidas como multinacio- roristas têm o acesso à tecnologia e a utilizam para cometer seus
nais ou globais. crimes.

Globalização e Economia Agropecuária

Sistemas Agrícolas

Sistemas agrícolas são classificações utilizadas para a produção


agrícola e pecuária. Há dois sistemas, o intensivo e o extensivo.
Para definir se o sistema agrícola é intensivo ou extensivo são
considerados os pontos da produção em qualquer tamanho de pro-
priedade.
O sistema é revelado por resultados como a produtividade por
hectare e o investimento na produção.

Sistema Intensivo
No modelo da agricultura brasileira, o sistema intensivo é o
mais praticado. Por ele, são aplicadas técnicas modernas de previ-
são que englobam o preparo do solo, a forma de cultivo e a colheita.
A produtividade não está somente no rendimento obtido dire-
Os países dominam as grandes empresas ou as grandes empresas to do solo, mas do seu redimensionamento para resultar na maior
dominam os países? produção possível por metro quadrado (a chamada produtividade
média por hectare).
As empresas transacionais que comercializam no mundo todo No período de colheita, as perdas são equacionadas para que
são os principais agentes da globalização econômica. atinjam o mínimo. O mesmo vale para o armazenamento.
É certo que ainda falamos de governo e nação, no entanto, es- Esse sistema é criticado porque agride o meio ambiente por
tes deixaram de representar o interesse da população. Agora, os conta de fatos como: desmatamento para implantação de mono-
Estados defendem, sobretudo, as empresas e bancos. culturas ou pasto, uso de agrotóxicos, erosão e empobrecimento do
Na maior parte das vezes são as empresas americanas, euro- solo após sucessivos plantios.
peias e grandes conglomerados asiáticos que dominam este pro-
cesso. Sistema Extensivo
O sistema extensivo é o que menos agride o meio ambiente. É
Globalização e Neoliberalismo o sistema tradicional em que são utilizadas técnicas rudimentares
A globalização econômica só foi possível com o neoliberalis- que garantem a recuperação do solo e a produção em baixa escala.
mo adotado nos anos 80 pela Grã-Bretanha governada por Mar- Em geral, o sistema extensivo é usado pelo modelo denomina-
garet Thatcher (1925-2013) e os Estados Unidos, de Ronald Reagan do agricultura familiar e, ainda, pela agricultura orgânica.
(1911-2004). No primeiro, a produção é destinada à subsistência e somen-
O neoliberalismo defende que o Estado deve ser apenas um te o excedente é vendido. Há o uso de agrotóxicos, mas em baixa
regulador e não um impulsor da economia. Igualmente aponta a escala.
flexibilidade das leis trabalhistas como uma das medidas que é pre- Já o modelo de agricultura orgânica dispensa o uso de agrotóxi-
ciso tomar a fim de fortalecer a economia de um país. cos, privilegia alimentos saudáveis e permite a exploração racional
Isto gera uma economia extremamente desigual onde somente do solo.
os gigantes comerciais tem mais adaptação neste mercado. Assim,
muita gente fica para trás neste processo. Agricultura moderna
A agricultura moderna faz uso de várias tecnologias, como os
Globalização e Exclusão tratores, colhedeiras, ceifadeiras, adubo, fertilizantes, etc. Além
Uma das faces mais perversas da globalização econômica é a disso, também seleciona sementes modificadas geneticamente. No
exclusão. Isto porque a globalização é um fenômeno assimétrico e entanto, ela não se limita ao uso de máquinas; há também uso de
nem todos os países ganharam da mesma forma. biotecnologia.
Um dos grandes problemas atuais é a exclusão digital. Aqueles Ela se baseia no aumento da sua produção à medida em que
que não têm acesso às novas tecnologias (smartphones, computa- incrementa tecnologia. Isso nos leva ao importante conceito de pro-
dores) estão condenados a ficarem cada vez mais isolados. dutividade agrícola, que se diferencia de produtividade industrial. O
primeiro é a relação entre a produção realizada e a área cultivada.
Quando falamos de geografia agrária, podemos aumentar a produ-
tividade sem aumentar a área plantada.
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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
Esse tipo de agricultura é capitalizada, baseada em grandes - Extensiva - ovelhas de corte para a produção de carne.
investimentos. Por isso, a forma mais concreta de se falar em geo-
grafia agrária moderna é através dos famosos complexos agroindus- Tipos de criação suína
triais. Existe uma troca constante entre a indústria tecnológica e a - Extensiva - criação de porcos para a produção de banha e de
agropecuária, na qual a primeira oferece tecnologia e a outra ajuda carnes para consumo do próprio produtor. Nesse tipo de criação,
com capital. Por fim, ainda temos o sistema financeiro, responsável pouco são os cuidados técnicos e com a higiene.
por bancar toda essa cadeia produtiva. - Intensiva - porcos estabulados com cuidados científicos e mui-
ta higiene; destinados a produção de couro e carnes para indústrias
Agricultura tradicional e frigoríficos.
Ao contrário da agricultura moderna, a agricultura tradicional Os maiores rebanhos de suínos no planeta estão na China, Es-
faz uso de métodos ultrapassados e de mão de obra em larga esca- tados Unidos, Rússia e Brasil.
la. No entanto, há um caso particular, cujo o uso extenso de mão
de obra na versão moderna é necessário, que é a fruticultura. Se ti- Tipos de criação caprina
vermos uma produção agrícola de fruticultura, nos dois casos serão - Extensiva - criação de cabras para a produção de carne, mais
empregadas muita mão de obra, uma vez que certas partes dessa comum em regiões de relevo acidentados e de climas semiáridos
produção não podem ser mecanizadas, por exemplo, a colheita das ou áridos.
frutas. - Intensiva - produção estabulada de cabritos para o aproveita-
Outra diferença em relação à agricultura moderna, é que na mento da pele e da carne e de cabras fornecedoras de leite.
tradicional é necessário incorporar terras para aumentar a produ- A China, a Índia e a Itália são os grandes produtores.
ção. Então, tal tipo de é considerada de baixa produtividade e capaz
de gerar tantos impactos ambientais quanto a moderna. A agricul- Tipos de criação asinina
tura tradicional é típica dos países em desenvolvimento, o que não - Extensiva - jumentos e jegues destinados para corte ou para o
significa que não seja praticada na geografia agrária dos países de- uso na tração animal (carroças puxadas por jumentos são um exem-
senvolvidos. O mesmo ocorre com a moderna; embora seja pratica- plo de tração animal).
da mais amplamente nos países desenvolvidos, também é praticada - Intensiva - para selecionar reprodutores.
em menor escala em alguns países em desenvolvimento.
Tipos de criação equina
Pecuária - Extensiva - criação de éguas e cavalos para tração, montaria
Na pecuária, o rendimento também é avaliado para definir o ou corte.
sistema aplicado. Da mesma maneira que ocorre com a agricultura, - Intensiva - estabulada e com o propósito de selecionar e pre-
o modo de produção intensivo é direcionado para resultados ele- parar éguas e cavalos para atividades esportivas (“corrida de cava-
vados. lo” e “partidas de polo”).
A produção de gado pode ser a pasto ou em sistema de confi-
namento e a densidade de cabeças deve ser a maior possível. Muares
Para melhor desempenho da produção pecuária são avaliados Burros e bestas ou mulas originadas pelo cruzamento entre
os investimentos em: qualidade do solo, rendimento do pasto, con- equinos e asininos.
formação de carcaça (quando o gado de corte oferece maior quan-
tidade de carne), oferta de leite e genética de qualidade. Avicultura
É a criação de aves para o corte e para a produção de ovos.
Tipos de pecuária Nas áreas rurais de quase todos os países do globo são criados gali-
Denomina-se de pecuária a criação e reprodução de animais nhas e frangos, gansos, marrecos, codornas, perus e patos. O mais
com finalidades econômicas. Os animais assim criados e reproduzi- importante rebanho de aves, quantitativamente e quanto ao valor
dos são conhecidos como gado. econômico, consiste nos galináceos (frangos e galinhas).
Diversos são os tipos de gado: os bovinos, os ovinos, os suínos,
os caprinos, os asininos, os equinos e os muares. Tipos de criação galinácea
- Extensiva - destinada ao corte sendo a carne consumida pelo
Tipos de criação bovina próprio produtor ou enviada para frigoríficos com a objetivo de
- Extensiva - gado solto nas pastagens onde são criados novi- aproveitamento econômico.
lhos e engordados o “gado de corte”, bois que servem para a produ- - Intensiva - criação feita em granjas e fundamentalmente vol-
ção de carnes para mercado. tada para a produção de ovos.
- Intensiva - gado criado em estábulos, normalmente vacas
para a produção de leite. Na criação intensiva, a utilização de rações Outras atividades
adequadas e os cuidados veterinários possibilitam a inseminação Piscicultura - criação e reprodução de peixes e crustáceos em
artificial e a seleção de touros e de raças. cativeiro (no Chile, destaca-se a criação de salmão; no Brasil está
Os maiores rebanhos bovinos do mundo estão localizados na bastante difundida a criação de trutas).
Índia, nos Estados Unidos, na Rússia, no Brasil, na Austrália e na Sericicultura - criação de casulos de bichos-da-seda, ampla-
Argentina. mente praticada na Ásia (China, Japão, República da Coreia ou Co-
Um tipo de gado bovino muito produzido hoje é o búfalo, prin- reia do Sul e na República Democrática da Coreia ou Coreia do Nor-
cipalmente na Índia, na China, no Paquistão e nos Estados Unidos. te, os maiores produtores mundiais de seda).

Tipos de criação ovina


- Intensiva - criação de ovelhas para a produção de lã, principal-
mente na Austrália, na Nova Zelândia e na Rússia.

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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
Estrutura agrária Compra de produtos em excesso, mal acondicionamento são
A expressão estrutura agrária é usada em sentido amplo, signi- fatores que fazem com que milhões de famílias descartem quanti-
ficando a forma de acesso à propriedade da terra e à exploração da dade imensas de alimentos, sem reaproveitá-las. No futuro serão
mesma, indicando as relações entre os proprietários e os não pro- necessárias campanhas em todos os países – principalmente os ri-
prietários, a forma como as culturas se distribuem pela superfície cos – incentivando e ensinando o reaproveitamento de alimentos.
da Terra (morfologia agrária) e como a população se distribui e se Se os alimentos forem melhor manuseados e aproveitados, haverá
relaciona aos meios de transportes e comunicações (habitat rural). comida para todos.
A estrutura agrária são as características do espaço que são:
Estrutura fundiária- concentração de terras(muitas terras pouco uti- Globalização e sua influencia na economia
lizada) Produção agrícola- exportação no caso do Brasil Relações de Acima já falamos um pouco sobre o conceito da globalização,
trabalho- mão de obra , máquinas fazendo o trabalho que um dia então aqui, falaremos sobre o papel da globalização na economia.
foi feito pelo homem Ao longo do século XX, a globalização do capital foi conduzindo
à globalização da informação e dos padrões culturais e de consumo.
A Fome no mundo – Produção, distribuição e consumo de ali- Isso deveu-se não apenas ao progresso tecnológico, intrínseco à Re-
mentos volução Industrial, mas - e sobretudo - ao imperativo dos negócios.
Em várias partes do mundo persistem os problemas de saúde A tremenda crise de 1929 teve tamanha amplitude justamente por
ligados à falta de alimentos. Segundo a Organização Mundial de ser resultado de um mundo globalizado, ou seja, ocidentalizado,
Saúde (OMS) a subnutrição ainda é causa indireta de cerca de 30% face à expansão do Capitalismo. E o papel da informação mundia-
das mortes de crianças no mundo. Afetando o desenvolvimento fí- lizada foi decisivo na mundialização do pânico. Ao entrarmos nos
sico e mental de milhões de crianças, a subalimentação também anos 80/90, o Capitalismo, definitivamente hegemônico com a ru-
compromete seu desenvolvimento intelectual e profissional, dimi- ína do chamado Socialismo Real, ingressou na etapa de sua total
nuindo o número de cidadãos preparados para contribuir com o euforia triunfalista, sob o rótulo de Neo-Liberalismo. Tais são os
desenvolvimento de seus países. nossos tempos de palavras perfumadas: reengenharia, privatização,
Este é o ciclo vicioso a que são condenadas regiões pobres em economia de mercado, modernidade e - metáfora do imperialismo
todo o mundo: falta de acesso a alimentos gera subnutrição. Esta - globalização.
prejudica o desenvolvimento intelectual e profissional de parte A classe trabalhadora, debilitada por causa do desemprego,
da população. Na falta de cidadãos preparados, o crescimento da resultante do maciço investimento tecnológico, ou está jogada no
economia fica comprometido e desta forma não geram-se menos desamparo , ou foi absorvida pelo setor de serviços, uma econo-
recursos para produzir ou comprar alimentos para toda a população mia fluida e que não permite a formação de uma consciência de
– principalmente aquela mais necessitada. Por isso, é preciso que os classe. O desemprego e o sucateamento das conquistas sociais de
países detentores de tecnologia agrícola desenvolvida atuem nes- outros tempos, duramente obtidas, geram a insegurança coletiva
tes países na transferência de conhecimentos. com todas as suas mazelas, em particular, o sentimento de impo-
A fome ainda presente no século XXI não é por falta de alimen- tência, a violência, a tribalização e as alienações de fundo místico
tos. A produção mundial de comida é suficiente para abastecer os ou similares. No momento presente, inexistem abordagens racio-
atuais 7,3 bilhões de habitantes da Terra. Se parte da população nais e projetos alternativos para as misérias sociais, o que alimenta
dos países menos desenvolvidos não tem acesso a quantidades su- irracionalismos à solta.
ficientes de comida, isto se deve a fatores como insuficiente pro- A informação mundializada de nossos dias não é exatamente
dução local; falta de recursos do país para adquirir alimentos no troca: é a sutil imposição da hegemonia ideológica das elites. Cria
mercado internacional; e elevação dos preços internacionais devido a aparência de semelhança num mundo heterogêneo - em qual-
a ações especulativas, entre outros. quer lugar, vemos o mesmo McDonald`s, o mesmo Ford Motors, a
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricul- mesma Mitsubishi, a mesma Shell, a mesma Siemens. A mesma in-
tura (FAO) alerta que a população mundial deverá atingir 9 bilhões formação para fabricar os mesmos informados. Massificação da in-
em 2050, o que incrementará a procura por alimentos. Segundo os formação na era do consumo seletivo. Via informação, as elites (por
especialistas, para fazer frente a esta demanda, o mundo deverá que não dizer: classes dominantes?) controlam os negócios, fixam
atacar este problema em três frentes principais. Primeiro, aumentar regras civilizadas para suas competições e concorrências e vendem
a produção de produtos agrícolas, sem comprometer os recursos a imagem de um mundo antisséptico, eficiente e envernizado.
naturais, não avançando sobre áreas de vegetação natural. Isto sig- A alta tecnologia, que deveria servir à felicidade coletiva, está
nifica que o Brasil, por exemplo, precisará investir muito mais em servindo a exclusão da maioria. Assim, não adianta muito exaltar as
pesquisa e tecnologia – o que em parte já vem fazendo – para obter conquistas tecnológicas crescentes - importa questionar a que - e a
uma melhor produtividade das áreas agrícolas já existentes. quem - elas servem. A informação global é a manipulação da infor-
O segundo aspecto a ser considerado é a melhoria dos sistemas mação para servir aos que controlam a economia global. E controle
de armazenagem e distribuição das colheitas. Dados apontam que é dominação. Paralelamente à exclusão social, temos o individualis-
cerca de 30% dos produtos agrícolas mundiais são perdidos entre o mo narcisístico, a ideologia da humanidade descartável, o que favo-
campo e o ponto de venda do produto. Será necessário, na maioria rece a cultura do efêmero, do transitório - da moda.
dos países produtores, construir mais silos e armazéns, ampliar a De resto, se o trabalho foi tornado desimportante no imagi-
rede rodoviária, ferroviária e ampliar e modernizar as instalações nário social, ofuscado pelo brilho da tecnologia e das propagandas
portuárias. que escondem o trabalho social detrás de um produto lustroso,
A última providência sugerida pelos estudiosos é reduzir a pronto para ser consumido, nada mais lógico que desvalorizar o
perda de alimentos nos pontos de venda e entre os consumidores. trabalhador - e, por extensão, a própria condição humana. Ou será
Segundo um relatório elaborado pela FAO, depois de comprados, possível desligar trabalho e humanidade? É a serviço do interesse
aproximadamente 50% dos alimentos são jogados fora, tanto na Eu- de minorias que está a globalização da informação.
ropa quanto nos Estados Unidos. No Brasil aproxima 70.000 tonela- Ela difunde modas e beneficia o consumo rápido do descartá-
das (aproximadamente 2.800 carretas) de alimentos acabam no lixo vel - e o modismo frenético e desenfreado é imperativo às grandes
a cada ano no Brasil. empresas, nesta época pós- keynesiana, em que, ao consumo de
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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
massas, sucedeu a ênfase no consumo seletivo de bens descartá- Essas estratégias são na verdade cada vez mais excludentes. O
veis. Cumpre à informação globalizada vender a legitimidade de raio de ação das transnacionais se concentra na órbita dos países
tudo isso, impondo padrões uniformes de cultura, valores e com- desenvolvidos e alguns poucos países periféricos que alcançaram
portamentos - até no ser “diferente” (diferente na aparência para certo estágio de desenvolvimento. No entanto, o caráter setorial e
continuar igual no fundo). Por suposto, os padrões de consumo e diferenciado dessa inserção tem implicado, por um lado, na consti-
alienação, devidamente estandartizados, servem ao tédio do urba- tuição de ilhas de excelência conectadas às empresas transnacio-
nóide pós-moderno. nais e, por outro lado, na desindustrialização e o sucateamento de
Nunca fomos tão informados. Mas nunca a informação foi tão grande parte do parque industrial constituído no período anterior
direcionada e controlada. A multiplicidade estonteante de informa- por meio da substituição de importações.
ções oculta a realidade de sua monotonia essencial - a democrati- As estratégias globais das transnacionais estão sustentadas no
zação da informação é aparente, tal como a variedade. No fundo, aumento de produtividade possibilitado pelas novas tecnologias e
tudo igual. Estamos - e tal é a pergunta principal - melhor informa- métodos de gestão da produção. Tais estratégias envolvem igual-
dos? Controlada pelas elites que conhecemos, a informação globa- mente investimentos externos diretos realizados pelas transnacio-
lizada é instrumento de domesticação social. nais e pelos governos dos seus países de origem. A partir de 1985
esses investimentos praticamente triplicaram e vêm crescendo em
Principais tendências da globalização ritmos mais acelerados do que o comércio e a economia mundial.
A crescente hegemonia do capital financeiro Por meio desses investimentos as transnacionais operam pro-
O crescimento do sistema financeiro internacional constitui cessos de aquisição, fusão e terceirização segundo suas estratégias
uma das principais características da globalização. Um volume cres- de controle do mercado e da produção. A maior parte desses fluxos
cente de capital acumulado é destinado à especulação propiciada de investimentos permanece concentrada nos países avançados,
pela desregulamentação dos mercados financeiros. embora venha crescendo a participação dos países em desenvolvi-
Nos últimos quinze anos o crescimento da esfera financeira foi mento nos últimos cinco anos. A China e outros países asiáticos, são
superior aos índices de crescimento dos investimentos, do PIB e do os principais receptores dos investimentos direitos.
comércio exterior dos países desenvolvidos. Isto significa que, num O Brasil ocupa o segundo lugar dessa lista, onde destacam-se
contexto de desemprego crescente, miséria e exclusão social, um os investimentos para aquisição de empresas privadas brasileiras
volume cada vez maior do capital produtivo é destinado à especu- (COFAP, Metal Leve etc.) e nos programas de privatização, em parti-
lação. cular nos setores de infraestrutura.
O setor financeiro passou a gozar de grande autonomia em re-
lação aos bancos centrais e instituições oficiais, ampliando o seu Liberalização e Regionalização do Comércio
controle sobre o setor produtivo. Fundos de pensão e de seguros O perfil altamente concentrado do comércio internacional tam-
passaram a operar nesses mercados sem a intermediação das insti- bém é indicativo do caráter excludente da globalização econômica.
tuições financeiras oficiais. Cerca de 1/3 do comércio mundial é realizado entre as matrizes e
O avanço das telecomunicações e da informática aumentou a filiais das empresas transnacionais e 1/3 entre as próprias trans-
capacidade dos investidores realizarem transações em nível global. nacionais. Os acordos concluídos na Rodada Uruguai do GATT e a
Cerca de 1,5 trilhões de dólares percorre as principais praças finan- criação da OMC mostraram que a liberação do comércio não resul-
ceiras do planeta nas 24 horas do dia. Isso corresponde ao volume tou no seu equilíbrio, estando cada vez mais concentrado entre os
do comércio internacional em um ano. países desenvolvidos.
Da noite para o dia esses capitais voláteis podem fugir de um A dinâmica do comércio no Mercosul traduz essa tendência. Na
país para outro, produzindo imensos desequilíbrios financeiros e realidade a integração do comércio nessa região, a exemplo do que
instabilidade política. A crise mexicana de 94/95 revelou as conse- ocorre com o Nafta e do que se planeja para a Alca em escala conti-
qüências da desregulamentação financeira para os chamados mer- nental, tem favorecido, sobretudo a atuação das empresas transna-
cados emergentes. Foram necessários empréstimos da ordem de cionais, que constituem o carro chefe da regionalização.
38 bilhões de dólares para que os EUA e o FMI evitassem a falência O aumento do comércio entre os países do Mercosul nos últi-
do Estado mexicano e o início de uma crise em cadeia do sistema mos cinco anos foi da ordem de mais de 10 bilhões de dólares. Isto
financeiro internacional. se deve em grande parte às facilidades que os produtos e as empre-
Ao sair em socorro dos especuladores, o governo dos Estados sas transnacionais passaram a gozar com a eliminação das barreiras
Unidos demonstrou quem são os seus verdadeiros parceiros no tarifárias no regime de união aduaneira incompleta que caracteriza
Nafta. Sob a forma da recessão, do desemprego e do arrocho dos o atual estágio do Mercosul.
salários, os trabalhadores mexicanos prosseguem pagando a conta No mesmo período, o Mercosul acumulou um déficit de mais
dessa aventura. Nos períodos “normais” a transferência de riquezas de 5 bilhões de dólares no seu comércio exterior. Este resultado re-
para o setor financeiro se dá por meio do serviço da dívida públi- flete as consequências negativas das políticas nacionais de estabili-
ca, através da qual uma parte substancial dos orçamentos públicos zação monetária ancoradas na valorização do câmbio e na abertura
são destinados para o pagamento das dívidas contraídas junto aos indiscriminada do comércio externo praticadas pelos governos FHC
especuladores. O governo FHC destinou para o pagamento de juros e Menem. O empenho das centrais sindicais para garantir os direi-
da dívida pública um pouco mais de 20 bilhões de dólares em 96. tos sociais no interior desses mercados tem encontrado enormes
resistências. As propostas do sindicalismo de adoção de uma Carta
Novo Papel das Empresas Transnacionais Social do Mercosul, de democratização dos fóruns de decisão, de
As empresas transnacionais constituem o carro chefe da glo- fundos de reconversão produtiva e de qualificação profissional têm
balização. Essas empresas possuem atualmente um grau de liber- sido rechaçadas pelos governos e empresas transnacionais.
dade inédito, que se manifesta na mobilidade do capital industrial, A liberalização do comércio e a abertura dos mercados nacio-
nos deslocamentos, na terceirização e nas operações de aquisições nais têm produzido o acirramento da concorrência. A super explo-
e fusões. A globalização remove as barreiras à livre circulação do ração do trabalho é cada vez mais um instrumento dessa disputa. O
capital, que hoje se encontra em condições de definir estratégias trabalho infantil e o trabalho escravo são utilizados como vantagens
globais para a sua acumulação. comparativas na guerra comercial.
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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
Essa prática, conhecida como dumping (rebaixamento) social, No entanto, as sucessivas crises geradas pelo capitalismo mos-
consiste precisamente na violação de direitos fundamentais, utili- traram que o papel do Estado não se apagou, como pensavam al-
zando a superexploração dos trabalhadores como vantagem com- guns, pelo contrário, em momentos de crise financeira, o Estado é
parativa na luta pela conquista de melhores posições no mercado chamado a ajudar as empresas em dificuldade econômica. Portan-
mundial. Nesse contexto, as conquistas sindicais são apresentadas to, o papel do Estado no contexto de globalização reestruturou-se,
pelas empresas como um custo adicional que precisa ser eliminado passando este a atuar como um salvador dos excessos e econômi-
(“custo Brasil”, “custo Alemanha” etc.). cos promovidos pelas empresas nacionais ou internacionais, con-
trolando taxas de juros, câmbios, manutenção de subsídios em se-
Blocos econômicos e comércio mundial. tores estratégicos, bem como fiscalizando, direta e indiretamente,
As transformações econômicas mundiais ocorridas nas últimas os recursos energéticos.
décadas, sobretudo no pós segunda guerra mundial, são funda-
mentais para entendermos as dinâmicas de poder estabelecidas A Formação dos Blocos Econômicos
pelo grande capital e, também, pelas grandes corporações trans- O surgimento dos blocos econômicos coincide com a mudança
nacionais. Além delas, não podemos deixar de mencionar a impor- exercida pelo Estado. Em um primeiro momento, a ideia dos blocos
tância crescente das instituições supranacionais, que atuam como econômicos era de diminuir a influência do Estado na economia e
verdadeiros agentes neste jogo de interesses, como por exemplo, o comércio mundiais. Mas, a formação destas organizações suprana-
Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, entre ou- cionais fez com que o estado passasse a garantir a paz e o cresci-
tros. mento em períodos de grave crise econômica. Assim, a iniciativa
de maior sucesso até hoje foi a experiência vivida pelos europeus.
A União Europeia iniciou-se como uma simples entidade eco-
nômica setorial, a chamada CECA (Comunidade Europeia do Carvão
e do Aço, surgida em 1951) e depois, expandiu-se por toda a econo-
mia como “Comunidade Econômica Europeia” até atingir a confor-
mação atual, que extrapola as questões econômicas perpassando
por aspectos políticos e culturais.
Além da União Europeia, podemos citar o NAFTA (North Ameri-
can Free Trade Agreement, surgido em 1993); o Mercosul (Mercado
Comum do Sul, surgido em 1991); o Pacto Andino; a SADC (Comu-
nidade de Desenvolvimento da África Austral, surgida em 1992),
entre outros. A busca pela ampliação destes blocos econômicos
mostra que o jogo de poder exercido pelas nações tenta garantir as
áreas de influência das mesmas, controlando mercados e estabele-
Nova York, uma das cidades mais globalizadas do mundo (Foto: cendo parcerias com nações que despertem o interesse dos blocos
Wikimedia Commons) econômicos.
Além disso, o jogo de poder também está presente interna-
O cenário que se afigura com a chegada destes novos agentes mente aos blocos, ou seja, existem países líderes dentro do bloco,
econômicos é imprescindível para compreendermos o significado que acabam submetendo os outros países do acordo aos seus inte-
da chamada globalização econômica. Esta tem como características: resses. Assim, nem sempre a constituição de um bloco econômico é
-A ruptura de fronteiras, ou seja, tal ruptura é atribuída à dinâ- benéfica a todos os membros; por exemplo, a constituição do NAF-
mica do capital, que circula livremente pelo globo, sem respeitar a TA (México, Canadá e EUA) fez com que a frágil economia mexicana
delimitação de fronteiras territoriais; aumentasse ainda mais sua dependência em relação aos EUA, o Ca-
-Perda da soberania local, ou seja, países, estados e cidades nadá, por sua vez, passou a ser considerado uma extensão dos EUA,
tem que se submeter à lógica do capital para conseguir gerar lucro dada sua subordinação à economia de seu vizinho.
em seus orçamentos;
-Expansão da dinâmica do capital, fato que se relaciona à rup- Divisão internacional de Trabalho
tura de fronteiras, ou seja, o capital se dirige agora também à pe- Recebe o nome de Divisão internacional de Trabalho (DIT), a
riferia do capitalismo, uma vez que as transnacionais compreende- prática de repartir as atividades e serviços entre os inúmeros países
ram que a exploração (no sentido de explorar a força de trabalho do mundo. Trata-se de uma divisão produtiva em âmbito interna-
diretamente) dos países subdesenvolvidos promoveria grandes cional, onde os países emergentes ou em desenvolvimento, expor-
lucros para estes. tadores de matéria-prima, com mão-de-obra barata e de industria-
Com o crescimento expressivo da atuação do capital em nível lização quase sempre tardia, oferecem aos países industrializados,
mundial, chegou-se a questionar o papel do Estado, isto é, o Esta- economicamente mais fortes, um leque de benefícios e incentivos
do seria de fato um agente importante neste processo ou atuaria para a instalação de indústrias, tais como a isenção parcial ou total
como um impeditivo para a livre circulação do capital, uma vez que de impostos, mão-de-obra abundante, leis ambientais frágeis, entre
poderia criar regras ou leis que inviabilizariam a livre circulação do outras facilidades.
capital? Segundo este raciocínio, as transnacionais estariam coman- Um dos principais conceitos da DIT é que nenhum país conse-
dando a dinâmica econômica mundial em detrimento dos Estados. gue ser competitivo em todos os setores, e de fato, acabam por se
Vale destacar que muitas empresas transnacionais passaram a de- direcionar suas economias. No fundo, o objetivo é o mesmo da divi-
sempenhar papéis que antes eram oferecidos pelo Estado, como são de tarefas numa fábrica, o de gerar um elevado grau de especia-
serviços ligados à infraestrutura básica (exemplo: transporte e sa- lização para que a produção seja mais eficiente, exatamente como
neamento básico). Adam Smith em sua Riqueza das Nações já afirmava no século XVIII.

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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
O processo de DIT se expandiu na mesma proporção do capi- Por outro lado, apesar da massificação, vemos que essas co-
talismo no mundo moderno, expressando as diferentes fases da munidades culturais locais são capazes de se apropriar de partes da
evolução histórica do capitalismo, desde a ligação entre metrópo- cultura americana, transformando-as em uma algo novo e diferente
les e colônias, chegando às relações em que países desenvolvidos do original. No Brasil, o funk e rap são um exemplo claro dessa pos-
se agregam aos subdesenvolvidos. A é geralmente dividida em três sibilidade.
fases, obedecendo à dinâmica econômica e política do período his- Outros processos importantes que influenciam no surgimento
tórico em que elas existiram. das sociedades multiculturais, são as lutas pela independência que
A primeira DIT corresponde ao final do século XV e ao longo do ocorrem nas colônias europeias da segunda metade do século XX,
século XVI, no qual o capitalismo estava em fase inicial, chamada especialmente na África e na Ásia. O cenário pós-colonizal gera um
de capitalismo comercial. Era caracterizado pela produção manual processo de resgate das culturas tradicionais locais e, ao mesmo
a partir da extração de matérias-primas e acúmulo de minérios e tempo, pela ligação histórica, desencadeia um movimento migra-
metais preciosos por parte das nações (metalismo). tório para os países colonizadores. Também os conflitos de ordem
A segunda DIT ocorre no século XVI, mas principalmente a par- étnica, religiosa e política, além das deficiências econômicas, são
tir do século XVII, com a Primeira e a Segunda Revolução Indus- fatores que aumentam o fluxo migratório. Incentivado por tudo isso
trial. As colônias e os países subdesenvolvidos passaram a fornecer
e pelo próprio cenário criado pela globalização, esse movimento
também produtos agrícolas, assim como vários tipos de minerais e
migratório transforma de modo profundo as nações que receberam
especiarias.
os imigrantes, colocando em cheque a capacidade dos estados mo-
Finalmente, a terceira DIT ou “Nova DIT” surge no século XX,
dernos de gerirem sua nova configuração multicultural.
com a revolução técnico-científica-informacional e a consolidação
do capitalismo financeiro, que permite a expansão das grandes Alguns países democráticos têm buscado promover a aceitação
multinacionais pelo mundo. Nesse período, os países subdesenvol- e incorporação de culturas diferentes em seus territórios, valorizan-
vidos iniciam seus processos tardios de industrialização, entre eles o do a possibilidade de se constituírem enquanto nações pluriétnicas.
Brasil. Tal acontecimento foi possível graças à abertura do mercado No entanto, em outros países, a negação de direitos sociais e a per-
financeiro desses países e pela instalação de empresas multinacio- seguição de minorias culturais são práticas oficiais. Muitas vezes,
nais ou globais, oriundas, quase sempre, de países desenvolvidos. ainda que exista uma política multiculturalista oficial, a perseguição
Uma das críticas à DIT é que seu processo se dá de maneira é praticada por pessoas comuns, inflamadas por um sentimento de
desigual, onde os países industrializados costumam levar vanta- nacionalismo e rejeição ao outro. Os ataques violentos organizados
gem no comércio global. Além disso, as empresas transnacionais por civis aos abrigos de refugiados de origem árabe na Alemanha
buscam seus próprios interesses, sem considerar as consequências são um exemplo disso.
sociais, econômicas e ambientais nos países onde suas filiais estão O multiculturalismo emerge a partir das reivindicações de mi-
instaladas. norias étnicas que sofrem de opressão histórica em seus territó-
rios, como os negros e as populações indígenas por todo continen-
MULTICULTURALIDADE, PLURALIDADE E DIVERSIDADE te americano, incluindo o Brasil. O debate em torno desse tema é
CULTURAL muito importante e traz à tona a forma como lidamos, enquanto
sociedade, com as diferenças étnicas, culturais e religiosas que nos
cercam.

Entende-se por multiculturalismo tanto os estudos acadêmicos Como acontece esta diversidade cultural?
quanto as políticas institucionais que se desenvolvem em torno das A diversidade cultural num certo local acontece quando pes-
questões trazidas pela emergência das sociedades multiculturais. soas de culturas distintas são obrigadas a relacionar-se e a convi-
Uma sociedade multicultural é aquela que, em um mesmo territó- verem. Este fenômeno deve-se à imigração, que leva à criação de
rio, abriga povos de origens culturais distintas entre si. As relações grupos sociais distintos nos países acolhedores. Estes grupos são
entre esses grupos podem ser aceitação e tolerância ou de conflito muitas vezes marginalizados pelos habitantes do país acolhedor, o
e rejeição. Isso vai depender da história da sociedade em questão,
que leva os imigrantes a isolarem-se, o que geralmente origina o
das políticas públicas propostas pelo Estado e, principalmente, do
racismo e outras formas de recusa.
modo específico como a cultura dominante do território é imposta
ou se impõem para todas as outras. A convivência entre culturas
Aspectos positivos e negativos da Multiculturalidade
diferentes não é uma questão nova, mas que se se intensificou nos
últimos anos devido a acontecimentos marcantes. Aspectos positivos: a Multiculturalidade leva à relação de vá-
Não é possível entender o multiculturalismo fora do contexto rias pessoas diferentes, ou seja, ao contato de várias culturas dife-
do fenômeno da globalização. O desenvolvimento acelerado dos rentes e isso pode ser tomado como um aspecto positivo na medida
meios de transporte e das tecnologias de comunicação aproxima- do enriquecimento pessoal de cada pessoa.
ram diferentes regiões do mundo, criando redes industriais e finan- Aspectos negativos: existem culturas preconceituosas relativa-
ceiras complexas e uma economia multinacional, interdependente mente a outros tipos de culturas o que pode gerar conflitos entre
e insubmissa às fronteiras nacionais. Com o fim da Guerra Fria, os os povos.
Estados Unidos passam a hegemonizar culturalmente todo o plane-
ta. Seus produtos, filmes, músicas e formas de ver as coisas se es- O que é Pluralidade:
palham globalmente gerando o que se chama de “americanização” Pluralidade é um substantivo feminino da língua portuguesa
do mundo. Frente a esse fenômeno de hegemonização dos padrões que significa algo que possui em grande quantidade, o mais amplo,
culturais globais, as culturas tradicionais se fortaleceram, reagindo geral e múltiplo.
contra a massificação dos modos de ser. A pluralidade está relacionada com a diversidade de coisas ou
pessoas reunidas em um mesmo espaço físico. Também pode signi-
ficar as diversas hipóteses disponíveis para solucionar determinada
situação (pluralidade de alternativas).
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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
O termo é usado para demonstrar algo que estar em maior regional é composta por arroz com pequi, sopa paraguaia, arroz car-
quantidade, quando são muitos ou vários. Exemplo: pluralidade de reteiro, arroz boliviano, maria-isabel, empadão goiano, pamonha,
votos, pluralidade de moedas e etc. angu, cural, os peixes do Pantanal - como o pintado, pacu, dourado,
entre outros.
Pluralidade cultural
A pluralidade cultural está relacionada com a multiculturalida- Região Sudeste
de de uma nação, ou seja, quando encontram-se reunidos em um Os principais elementos da cultura regional são: festa do divi-
mesmo espaço vários tipos de manifestações culturas e tradições no, festejos da páscoa e dos santos padroeiros, congada, cavalha-
diferentes. das, bumba meu boi, carnaval, peão de boiadeiro, dança de velhos,
No Brasil, devido a sua “multi-colonização”, formou-se uma batuque, samba de lenço, festa de Iemanjá, folia de reis, caiapó.
pluralidade de culturas vindas de praticamente todas as partes do A culinária do Sudeste é bem diversificada e apresenta forte
mundo. influência do índio, do escravo e dos diversos imigrantes europeus
A pluralidade cultural de um país é caracterizada pela aceitação e asiáticos. Entre os pratos típicos se destacam a moqueca capixaba,
da sua diversidade cultural. Em um país monocultural, por exemplo, pão de queijo, feijão-tropeiro, carne de porco, feijoada, aipim frito,
existem restrições quanto a liberdade de expressão das culturas e bolinho de bacalhau, picadinho, virado à paulista, cuscuz paulista,
tradições estrangeiras, sendo até mesmo consideradas alvos de farofa, pizza, etc.
perseguições.
Região Sul
Diversidade cultural O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses,
A diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de espanhóis e, principalmente, alemães e italianos. As festas típicas
uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culiná- são: a Festa da Uva (italiana) e a Oktoberfest (alemã). Também in-
ria, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. O tegram a cultura sulista: o fandango de influência portuguesa, a ti-
Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças climá- rana e o anuo de origem espanhola, a festa de Nossa Senhora dos
ticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões. Navegantes, a congada, o boi-de-mamão, a dança de fitas, boi na
Os principais disseminadores da cultura brasileira são os colo- vara. Na culinária estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão,
nizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos. pirão de peixe, marreco assado, barreado (cozido de carne em uma
Posteriormente, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, polo-
panela de barro), vinho.
neses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade cultu-
ral do Brasil.
Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasilei- TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: CON‐
ras serão abordados. CEITOS, EFEITOS E IMPLICAÇÕES SOCIAIS, ECONÔMICAS,
POLÍTICAS E CULTURAIS
Região Nordeste
Entre as manifestações culturais da região estão danças e fes-
tas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciran-
da, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo, cavalhada e Tecnologia da informação e comunicação (TIC) pode ser defi-
capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa de Iemanjá e nida como um conjunto de recursos tecnológicos, utilizados de for-
a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de Cordel é outro ma integrada, com um objetivo comum. As TICs são utilizadas das
elemento forte da cultura nordestina. O artesanato é representa- mais diversas formas, na indústria (no processo de automação), no
do pelos trabalhos de rendas. Os pratos típicos são: carne de sol, comércio (no gerenciamento, nas diversas formas de publicidade),
peixes, frutos do mar, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, no setor de investimentos (informação simultânea, comunicação
cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de fubá cozido, bolo imediata) e na educação (no processo de ensino aprendizagem, na
de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, ta- Educação a Distância).
pioca, pé de moleque, entre tantos outros. O desenvolvimento de hardwares e softwares garante a ope-
racionalização da comunicação e dos processos decorrentes em
Região Norte meios virtuais. No entanto, foi a popularização da internet que po-
A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa. As duas tencializou o uso das TICs em diversos campos.
maiores festas populares do Norte são o Círio de Nazaré, em Belém Através da internet, novos sistemas de comunicação e informa-
(PA); e o Festival de Parintins, a mais conhecida festa do boi-bumbá ção foram criados, formando uma verdadeira rede. Criações como
do país, que ocorre em junho, no Amazonas. Outros elementos cul- o e-mail, o chat, os fóruns, a agenda de grupo online, comunidades
turais da região Norte são: o carimbó, o congo ou congada, a folia virtuais, web cam, entre outros, revolucionaram os relacionamen-
de reis e a festa do divino. tos humanos.
A influência indígena é fortíssima na culinária do Norte, base- Através do trabalho colaborativo, profissionais distantes geo-
ada na mandioca e em peixes. Outros alimentos típicos do povo graficamente trabalham em equipe. O intercâmbio de informações
nortista são: carne de sol, tucupi (caldo da mandioca cozida), tacacá gera novos conhecimentos e competências entre os profissionais.
(espécie de sopa quente feita com tucupi), jambu (um tipo de erva), Novas formas de integração das TICs são criadas. Uma das áre-
camarão seco e pimenta-de-cheiro. as mais favorecidas com as TICs é a educacional. Na educação pre-
sencial, as TICs são vistas como potencializadoras dos processos de
Região Centro-Oeste ensino – aprendizagem. Além disso, a tecnologia traz a possibilida-
A cultura do Centro-Oeste brasileiro é bem diversificada, re- de de maior desenvolvimento – aprendizagem - comunicação entre
cebendo contribuições principalmente dos indígenas, paulistas, as pessoas com necessidades educacionais especiais.
mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios. São manifestações cul- As TICs representam ainda um avanço na educação a distância.
turais típicas da região: a cavalhada e o fogaréu, no estado de Goi- Com a criação de ambientes virtuais de aprendizagem, os alunos
ás; e o cururu, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A culinária têm a possibilidade de se relacionar, trocando informações e expe-
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ATUALIDADES
riências. Os professores e/ou tutores tem a possibilidade de realizar Além disso, softwares de auditoria e gestão telefônica são fru-
trabalhos em grupos, debates, fóruns, dentre outras formas de tor- tos de um trabalho conjunto entre a tecnologia da informação e o
nar a aprendizagem mais significativa. Nesse sentido, a gestão do setor de telecomunicações e trazem bons resultados às empresas,
próprio conhecimento depende da infraestrutura e da vontade de especialmente no que diz respeito a um controle maior do uso do
cada indivíduo. telefone em ambientes corporativos.
A democratização da informação, aliada a inclusão digital, pode Quais são os impactos econômicos e sociais dessa tendência
se tornar um marco dessa civilização. Contudo, é necessário que se de mercado?
diferencie informação de conhecimento. Sem dúvida, vivemos na Para finalizar o post de hoje, não podemos deixar de abordar
Era da Informação. os impactos positivos que a tecnologia da informação e comunica-
ção gera. É possível perceber que a sociedade de modo geral evolui
Por que ela é tão importante nos dias atuais? bastante com a utilização dessas ferramentas.
Não é novidade que a internet revolucionou a maneira como o Do ponto de vista econômico, ressalta-se que os lucros empre-
homem lida com diversos aspectos de seu cotidiano, exercendo um sariais se ampliam e o mercado como um todo tende a evoluir. Com
forte impacto sobre os meios de comunicação. Antes dela, a comu- tantos recursos sendo aplicados, é natural que as empresas cres-
nicação — seja empresarial, seja pessoal — era feita basicamente çam de maneira saudável.
pelo telefone, telegrama e cartas. Ademais, tais tecnologias contribuem para o estabelecimento
Com a popularização da internet, potencializou-se o uso das de uma concorrência mais qualificada. Os empreendimentos con-
seguem modernizar seus produtos e serviços, sendo, portanto, o
TICs em diversas áreas. Diversos recursos e ferramentas foram cria-
consumidor final um dos maiores beneficiários.
dos e isso transformou-se em uma grande rede mundial. Afinal, não
Os impactos sociais também são evidentes. Afinal, não há como
restam dúvidas de que o e-mail, chats, fóruns, redes sociais, mensa-
negar que a sociedade passa a ter acesso a ferramentas que têm a
gens instantâneas e webcam modificaram profundamente o nosso
capacidade de tornarem o seu dia a dia mais eficiente e confortável.
modo de interagir com o mundo. A TIC entrega aos indivíduos uma série de recursos que permi-
Portanto, a tecnologia da informação e comunicação é, de fato, tem uma melhor comunicação entre as pessoas, diminuindo bar-
um grande avanço. Trata-se de uma tendência que desempenha um reiras geográficas e levando mais informação e interação a diversos
papel fundamental para o desenvolvimento empresarial, permitin- cantos do planeta.
do que pessoas trabalhem remotamente e troquem informações Dessa forma, é possível concluir que a tecnologia da informa-
mesmo estando geograficamente separadas. ção e comunicação gera impactos econômicos e sociais positivos
ao transformar o modo como a comunicação é desenvolvida, com
Quais são as vantagens proporcionadas pela TIC? a utilização constante de tecnologias e recursos cada vez mais mo-
Conforme dissemos, inúmeros setores da sociedade podem dernos e eficientes.
desfrutar os avanços proporcionados pela TIC. Mas é preciso enfa- Como você pode perceber ao longo desse post, a tecnologia da
tizar o quanto ela contribui para a melhoria das empresas e da área informação e comunicação, apesar de ser um conceito ainda pou-
de educação. co difundido, já faz parte de nosso cotidiano. É possível desfrutar
de seus benefícios dentro do ambiente empresarial e também em
Proporciona mais integração no cotidiano corporativo nosso dia a dia, seja em nossas relações sociais, seja no processo de
Uma das vantagens mais expressivas da tecnologia da informa- aprendizagem.
ção e comunicação é, sem dúvidas, a maior integração que ela traz
ao ambiente corporativo. Transformações sociais na contemporaneidade
Ferramentas como a videoconferência e as mensagens instan- Cidadania como elemento de mudança social
tâneas proporcionaram mais mobilidade corporativa, transforma- A luta por direitos pode ser considerada uma das principais
ram a comunicação empresarial e permitiram que diversos funcio- engrenagens da história, no decorrer das civilizações os detentores
nários troquem ideias e informações, mesmo estando em locais e os desprovidos vivem em relações complexas geralmente ligadas
diferentes. a questões de poder. Liberdade, democracia, propriedade, muitos
são os objetivos de cada grupo, que invariavelmente se chocam,
Aprimora os processos de aprendizagem dando início a mudanças históricas profundas e alterando com
maior ou menor impacto diversos aspectos da vida humana.
No que diz respeito à educação, resta claro que a inclusão de
A cidadania pode então ser percebida como a busca do indiví-
computadores e diversos aplicativos voltados para esse segmento
duo e da sociedade pelos direitos que outros grupos já gozam ou
aprimoram o processo de aprendizagem e facilitam que a educação
por reivindicações em dissonância com a tradição vigente. De acor-
chegue a todos os indivíduos, inclusive por meio da inclusão digital.
do com a percepção mais comum ela também é vista sob o clássico
Nesse cenário, as videoaulas e os cursos a distância (EAD) aspecto de direitos e deveres do cidadão para com o Estado. Essa
foram um grande avanço para a educação, levando informação a percepção apesar de reducionista é válida, pois é justamente a polí-
qualquer lugar que tenha acesso à internet. tica o instrumento mais comum e eficaz para a mudança social. Não
atoa essas mudanças virão no bojo de grandes revoluções.
Contribui para a redução de custos empresariais O conceito moderno de cidadania foi forjado entre os séculos
A tecnologia é, sem dúvidas, uma grande aliada do empreende- XVII e XIX, no decorrer da Revolução Gloriosa (1688-1689), da Re-
dor contemporâneo. Seja qual for o seu porte e ramo de atuação, é volução Americana (1776) e da Revolução Francesa (1789-1799). Os
possível reduzir custos operacionais com o uso de recursos trazidos três acontecimentos foram movidos por uma classe em ascensão
pelas TICs. no Ocidente, a burguesia, que dentro da sociedade capitalista pos-
Podemos citar como exemplo as alternativas ao uso do telefo- suía aquilo de mais importante, a propriedade privada dos meios
ne. A tecnologia conhecida como VoIP utiliza a internet para realizar de produção. Em todos os casos o alvo fora a nobreza (interna
as chamadas e, assim, reduz consideravelmente o custo da conta de ou externa como no caso americano), a casta social mais elevada
telefone empresarial. e com maior número de privilégios, sem contar as animosidades
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ATUALIDADES
existentes também com o clero, que em determinados momentos e se associará a desvinculação do indivíduo à comunidade social tra-
lugares, como a França pré-revolucionária, mantinha grande poder dicional. Segundo Scheer, a nova democracia já não necessitará da
e influência nas decisões políticas. afirmação do voto eleitoral para exprimir a sua vontade política,
Ao alijar a classe burguesa de direitos políticos os nobres ti- mas apenas da ‘enunciação por parte de cada um das narrativas
veram decisivos reveses, amargando o início da crise política do das quais é portador, sem necessidade de canalização ou de con-
Antigo Regime. Não é coincidência que o primeiro monarca a cair formação dos sinais postos assim em circulação’. (SCHEER, 1997,
foi justamente o da Inglaterra, local onde a classe em ascensão en- p.44 apud GARCIA, 2004, p. 121)
frentara a monarquia e vencera, impondo aos nobres um papel de
menor importância frente ao parlamento, foi também o primeiro Segundo os autores, a percepção sobre democracia provavel-
país onde aconteceu a Revolução Industrial (XVIII – XIX), evento que mente estará diretamente ligada ao tipo de tecnologia em voga e
possibilitou a burguesia a se tornar a classe social dominante. as alterações que essa trará nas relações sociais. Com as novidades
A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, foi tecnológicas sendo alteradas constantemente é de se esperar que
a resposta da burguesia francesa para com a estrutura social de seu os conceitos de democracia e cidadania, além da habitual caracte-
país, sendo impregnada de ideais iluministas e influenciada pela Re- rística fluída, passem por mudanças de maneira mais constante e
volução Americana. acelerada. Os processos de virtualização da informação e da opi-
Como esperado a classe privilegiada reagiu à altura dos acon- nião afetam diretamente os alicerces das relações de poder entre
tecimentos, criando a chamada Santa Aliança durante o Congresso Estado, elite e minorias, possibilitando novas formas de romper
de Viena, um grupo internacional que reuniu monarquias europeias com a tradição e conquistar direitos há muito negados.
comprometidas na defesa do Antigo Regime, logo após a queda de A desassociação entre democracia e voto preconizada por
Napoleão. Scheer, e hoje visível, é um sintoma da crise política de represen-
A disputa entre as classes dominantes continuaria ao longo do tatividade da qual não apenas o Brasil sofre, mas também grande
XIX, porém, a ideia de igualdade e liberdade também se mostrava parte do mundo. O Parlamento brasileiro na atualidade é fortemen-
tentadora para as classes ainda desfavorecidas, camponeses e pro- te influenciado por grupos que defendem interesses privados, que
letários logo também entrariam para os livros de história, buscan- parecem não estar preocupados em legislar em prol de um coletivo.
do eles mesmos o reconhecimento e a influência que a burguesia Frentes parlamentares como a bancada evangélica, a bancada do
alcançara. agronegócio e a bancada que reúne o setor armamentista e defen-
Entender o sentido da cidadania na contemporaneidade e as sores da chamada “linha dura”, conhecidas respectivamente como
fortes implicações causadas pelas novas tecnologias de informa- bancadas da bíblia, do boi e da bala são quase dominantes e com
ção e comunicação, se apresentam como objetivos difíceis, mas grande peso para a aprovação de qualquer projeto, desse modo
importantes. Como uma condição em constante transformação, a ampliando sua influência também sobre o executivo que precisa
cidadania é apropriada por diversos atores sociais, cada qual com negociar para continuar governando.
suas próprias expectativas e modus operandi. Na atualidade são as A cidadania no mundo contemporâneo pode ser percebida en-
minorias que se apresentam como principais porta-vozes da cida- tão como uma luta por direitos frente aos interesses do Estado e
dania e de sua possibilidade de mudança, uma vez que são esses das elites econômicas, sendo que as minorias têm como principais
determinados grupos os mais atingidos pela violência, intolerância norteadores os movimentos sociais. A participação nas decisões
e falta de políticas públicas adequadas. políticas seria a característica principal, tendo grupos obtendo con-
Negros, homossexuais, mulheres, idosos, pobres e outros gru- quistas em várias áreas, como as cotas para negros nas instituições
pos sociais são minorias em direitos, muitas vezes tratados como públicas de ensino superior, que procuram corrigir erros históricos
cidadãos de segunda classe, num comportamento que se sucede como a escravidão e minimizar suas sequelas sociais.
ao longo do tempo pelo Estado e pelas elites. Uma das principais Castells (1999) falou sobre a “inércia conservadora do poder”
características em tal comportamento está na ação de calar o in- e as estruturas que sustentam o status quo. O Estado é então per-
divíduo, esvaziando seu discurso e negando-lhe a voz na busca por cebido como estrutura de manutenção do poder e propagador de
mais direitos, mas na Era da Informação as vozes descontentes se narrativas elitistas, tendo no conservadorismo, sob a bandeira da
fazem ouvir pelos diversos mecanismos possibilitados pela revolu- tradição, um guia diante das mudanças propagadas largamente
ção digital, sobretudo a internet, a principal e mais impactante das graças a revolução informacional. De tal forma, certos direitos são
ferramentas eletrônicas. A participação social na política é hoje um negados pois entram em choque direto com uma política pública
requisito das sociedades verdadeiramente democráticas, canais de baseada em moralismo religioso e fundamentalismo econômico. Às
diálogo e denúncias são criados no intuito de democratizar a cida- mulheres, é negado o direito ao aborto, tratado como uma questão
dania, num embate entre avanço social e tradicionalismo. de ética ao invés de uma questão de saúde pública, enquanto o Bol-
sa Família é discutido num sentido moralizador sobre o trabalho ao
A mudança civilizacional corresponderá também a uma muta- invés da discussão ser em torno de sua eficácia econômica e social.
ção sociológica. Na opinião de Léo Scheer, o conceito de democra- A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, é um
cia terá sentidos diferentes, de acordo com as ferramentas tecno- marco nas lutas por direitos em todo o mundo, servindo de base
lógicas que estaremos a utilizar como o televisor, o computador e para documentos posteriores e contribui para uma visão global de
o telefone. Do cruzamento desta “arquitectura” entre sociedades justiça social. Desde então diversos países e organismos internacio-
da comunicação, informação e comutação nascerá uma outra nais zelam pelo respeito à dignidade humana, tais como o Sistema
sociedade, a virtual, onde as configurações e os mecanismos polí- Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, integrado por
ticos terão necessariamente que ser diferentes. Mutatis Mutandis, órgãos especiais da Organização dos Estados Americanos, o Conse-
com as novas tecnologias passar-se-á do modelo de democracia lho da Europa e o Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
clássica onde as noções de espaço e tempo tiveram uma relevância Maria Benevides atenta para a importância da educação sobre
singular, para uma nova ordem mediática em que o “espaço públi- os direitos humanos, mostrando que esses estão intrinsecamente
co” será dominado por uma realidade simbólica e virtual, em que ligados a cidadania e a democracia e que seus valores foram mais
à desconvencionalização das fronteiras dos antigos Estados -Nação facilmente assimilados nos países desenvolvidos, sofrendo maior
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ATUALIDADES
resistência em países periféricos, possuidores de sistemas educa- É comum que em tempos de globalização os Direitos humanos
cionais deficientes e fortemente influenciados pelo sensacionalis- sejam vistos por muitos como uma moral única e universal que deve
mo midiático. Ainda para a pesquisadora, a especificidade brasileira ser protegida, também é natural que muitos os vejam com descon-
marcada pela extrema desigualdade é terreno propício para discur- fiança, já tão acostumados a diminuir a vida humana em estatísticas
sos de ódio e segregação. e narrativas incompletas. Na contemporaneidade, onde um jovem
de Islamabad pode conversar livremente com outra jovem em Tel
O tema dos DH, hoje, permanece prejudicado pela manipula- Aviv pela internet, fica muito difícil para qualquer Estado justificar
ção da opinião pública, no sentido de associar direitos humanos porque certas leis se aplicam em seu território e ao mesmo tempo
com a bandidagem, com a criminalidade. É uma deturpação. Por- são consideradas injustas em outros. As mulheres sauditas, proi-
tanto, é voluntária, ou seja, há interesses poderosos por trás dessa bidas de dirigir, sabem que em todo o Ocidente e em regiões mais
associação deturpadora. Somos uma sociedade profundamente tolerantes do mundo muçulmano outras pessoas de seu gênero
marcada pelas desigualdades sociais de toda sorte, e além disso, possuem muito mais do que o direito de dirigir e se esforçam para
somos a sociedade que tem a maior distância entre os extremos, a alcançar tais direitos em um país onde a modernização se restringe
base e o topo da pirâmide sócio-econômica. Nosso país é campeão a construção de arranha-céus e outras edificações suntuosas.
na desigualdade e distribuição de renda. As classes populares são Para entender o sentido contemporâneo de cidadania é preciso
geralmente vistas como “classes perigosas”. São ameaçadoras entender sua relação com os direitos humanos. Num mundo onde
as fronteiras são cada vez menos decisivas, o ser humano adquire
pela feiúra da miséria, são ameaçadoras pelo grande número,
a possibilidade e a capacidade de pensar sobre diversas questões
pelo medo atávico das “massas”. Assim, de certa maneira, parece
a partir de pontos de vistas de outras culturas, a globalização pos-
necessário às classes dominantes criminalizar as classes populares
sibilitou acima de tudo o enfraquecimento das linhas imaginárias
associando-as ao banditismo, à violência e à criminalidade; porque
para o Capital, sobretudo na forma de serviços e mercadoria, po-
esta é uma maneira de circunscrever a violência, que existe em rém, o ser humano não pode desfrutar dessa realidade por inteiro,
toda a sociedade, apenas aos “desclassificados”, que, portanto, as grandes forças econômicas globais não possuem interesse em
mereceriam todo o rigor da polícia, da suspeita permanente, da indivíduos que não possam gerar lucro, dessa forma a globalização
indiferença diante de seus legítimos anseios. (BENEVIDES, 2013, p. supervaloriza o Capital em detrimento do homem.
40) A Guerra Civil Síria é um conflito iniciado em 2011 e que cha-
mou a atenção de todo o mundo devido as especificidades de seu
Pode se afirmar que a deturpação das informações é um mal caso. Em uma região onde conflitos são quase constantes a mídia
que grassa na contemporaneidade, uma vez que os fatos deixam internacional tende a dar ênfase apenas as notícias que envolvem o
de ser provas e as estatísticas perdem relevância diante do senso Estado de Israel, porém, a questão síria superou a barreira comum
comum, em uma realidade onde a informação é controlada por de tolerância a violência a que o Ocidente possui, gerando reações
poucos grandes grupos midiáticos, que representam o pensamento que vão desde a crítica retórica até ações mais invasivas. A impre-
de apenas pequena parte da população, perpetuando uma narra- visibilidade da história se faz mais visível e cruel nesse caso, entre
tiva injusta sobre os negros e os pobres, segregando-os a cidadãos os antecedentes da guerra civil está a já afamada Primavera Árabe,
de segunda classe, com menos direitos e em constante estado de movimento que começou em 2010 na Tunísia e se alastrou por di-
vigilância. versas regiões das África e da Ásia, tendo como objetivo a queda
A ideia vigente e popular na sociedade brasileira atual quanto a de ditaduras em países islâmicos que cerceavam os direitos de suas
questão dos crimes vai direto para a parte punitiva, sem considerar populações, fazendo uso de técnicas tradicionais como greves e
tanto os fatos sociais que influenciam nas altas taxas de crimina- inovadoras como o engajamento online massivo.
lidade, como a má educação, o desrespeito sistemático aos direi- Conquistas duradouras como as da Tunísia e pontuais como
tos humanos e a cultura de segregação que persiste ao tempo. O as do Egito perderam seu clamor midiático diante dos novos fatos
foco na punição logo cede lugar à normalização, tal como explicou vindos da Síria por meio de grandes veículos de comunicação, an-
Foucault em “Vigiar e Punir” ao se debruçar sobre a questão da corado por Moscou, o presidente sírio Basshar al-Assad se sentiu
disciplinarização dos corpos, marcados pela arquitetura panóptica confortável para massacrar os ecos de contestação em seu país, de-
da sociedade moderna. sencadeando uma feroz resistência da população e de desertores,
que formaram o Conselho Nacional Sírio. Longe de estarem apenas
seguindo uma tendência o povo sírio tinha motivos para se revoltar,
“Então, é por isso que se dá, nos meios de comunicação de
tendo seus direitos civis sido retirados em 1962 e desde então fica-
massa, ênfase especial à violência associada à pobreza, à igno-
do sob a tutela de um tirano.
rância e à miséria. É o medo dos de baixo - que, um dia, podem se
A Guerra Civil Síria mudou drasticamente de panorama a partir
revoltar - que motiva os de cima a manterem o estigma sobre a de 2013, com o envolvimento do Estado Islâmico (EI) no conflito.
ideia de direitos humanos. ” (BENEVIDES, 2013, p. 40) Somando-se a isso estão também a crise migratória na Europa e a
expansão da extrema direita pelo velho continente, sendo impor-
A autora ao discorrer sobre as diferenças fundamentais entre tante refletir sobre estas questões sob o prisma dos direitos huma-
direitos humanos e cidadania, afirma que essa última é uma ideia nos, da globalização e das novas tecnologias.
política intimamente ligada ao Estado Nação que apresenta carac- O EI revolucionou o modo de fazer terrorismo graças ao intenso
terísticas próprias em cada lugar e cultura. Os direitos humanos por uso de ferramentas digitais para cooptar membros em todo o mun-
sua vez teriam como característica principal uma universalidade do, tática tão bem-sucedida que se tornou um assunto de extrema
que ultrapassa tempo e fronteiras, estando intimamente conecta- importância em diversos países, tendo entre as nacionalidades dos
dos à dignidade humana, uma moral universal que independe de interessados em integrar o grupo, um brasileiro. Além da propagan-
julgamento cultural e que se posta à frente de ideologias e quais- da o grupo jihadista também é notório pela extrema violência utili-
quer diferenças de hábitos ou pensamentos. Ela também os identi- zada contra seus adversários e a população civil de seus territórios
fica como “naturais”, pois se baseiam no respeito pelo ser humano, dominados, cometendo crimes de guerra sistemáticos e levando o
sem necessitar de documentos escritos para sua vigência. pânico a região.
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ATUALIDADES
A crise migratória na Europa começa antes mesmo do início representado pois ele procura uma realidade que percebe nas telas
da Primavera Árabe, porém, se tornou mais grave em 2013, com de seus dispositivos eletrônicos, que lhe parece mais humana. No
o incidente na costa da Ilha de Lampedusa que resultou em 360 turbilhão de culturas, códigos e ideologias que o mundo globalizado
mortos e uma ampla cobertura da mídia mundial, atentando para conectou, a cidadania, muitas vezes apenas teórica, de seus lares
a crise humanitária que estava em andamento. Aqui vale lembrar soa provinciana diante de inúmeras possibilidades, para as culturas
que esses seres humanos fugiam de seus países de origem devido que se chocam em seus hábitos e pensamentos só resta se guiar
as terríveis condições a que eram impostos, despojados dos direi- pelos direitos universais, aqueles ao qual o próprio inimigo possui
tos de cidadãos eles só podem contar com os direitos humanos e e devem ser respeitados por valorizarem o humano acima do inte-
a “benevolência” europeia em busca de um futuro. Se faz necessá- resse.
rio entender os direitos humanos como os direitos dos cidadãos do
mundo, que apesar das imensas diferenças possuem em comum a Democracia na contemporaneidade
humanidade, sendo essa o suficiente para que sejam tratados com A democracia goza de grande popularidade desde o fim da Se-
dignidade. Se o capital tem passe-livre pelo globo, os direitos deve- gunda Guerra Mundial em 1945, após a derrota dos regimes totali-
riam também ignorar fronteiras, sendo nonsense o fato de que um tários europeus, o modelo democrático tornou-se o regime político
container pode viajar mais livremente pelo mundo do que um ser hegemônico no Ocidente. No Oriente, porém, apenas com o fim da
humano. A globalização dos direitos, pautada no multiculturalismo, Guerra Fria os valores democráticos foram assimilados e, ainda as-
é uma exigência para que pessoas em condições desumanas como sim, em apenas uma parte da região. O desmonte da União Soviéti-
os imigrantes possam ter alguma esperança. ca seguido do sucesso dos Tigres asiáticos somaram-se ao processo
Diante de graves crises globais, a extrema direita tem avança- globalizador cada vez mais veloz e tudo indicava que a democracia
do de maneira alarmante pelo Ocidente. O discurso fascista possui seria um rumo natural para a civilização. Mas o legado ateniense
grande público nos Estados Unidos, onde o candidato pelo Partido sofreria com as desilusões de uma nova era, as críticas vieram de
Republicano pela presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, dentro para fora e o que antes se configurava como uma utópica
tem conseguido alcançar uma receptividade imensa com o eleito- escalada democrática mundial, hoje se encontra como um estado
rado conservador, dando voz à “América profunda” que se ressente de mudança permanente do sistema político, atualmente em des-
do governo do presidente Barack Obama. O discurso do ódio tam- crédito nas mais variadas regiões.
bém foi capaz de inflamar o Brasil, tão conhecido até antes de 2013 A democracia representativa ainda é o melhor modelo de go-
como um país apático politicamente, o ataque as minorias e ao Es- vernança criado pelo ser humano, mas as críticas ao modelo se
tado Laico se tornaram frequentes e o ódio irracional à esquerda é acumulam cada vez mais ao passar do tempo. Na realidade con-
financiado por partidos políticos e por uma Grande mídia altamente temporânea, os alicerces democráticos forjados no passado já não
engajada. comportam as demandas da Sociedade da Informação, o cidadão
Mas é na Europa onde o discurso fascista mais assusta, pela não se sente representado pelos políticos eleitos, configurando
uma crise maior, a do Estado Nacional, cujas consequências ainda
especificidade local, tendo grandes concentrações de muçulmanos
são imprevisíveis. Tais alicerces foram sedimentados sob a lógica do
em diversos países, como na França, e pelo risco sempre presente
capitalismo industrial, engessada sob demandas populares que já
de ataques terroristas por parte de grupos jihadistas. O desprezo
não representam os anseios de uma sociedade em constante trans-
aos direitos humanos e a xenofobia levam os líderes extremistas
formação.
a ganhar cada vez mais poder e influência, fazendo largo uso da
O avanço das novas Tecnologias de Informação e Comunica-
xenofobia e de nacionalismo, fechando o espaço para o diálogo e
ção influenciam a presente realidade política tanto quanto os mais
aumentando a tensão sobre a coesão social.
variados aspectos da vida humana, o cidadão conectado não se
Na esteira de tais acontecimentos se destacam principalmen-
satisfaz em apenas receber a informação, ele a analisa, transmite,
te, os grandes líderes internacionais que reconhecem os problemas cria e em alguns casos até a distorce. O termo massa não consegue
já discutidos e procuram soluções moderadas, tais como Barack abranger esse novo e importante ator social, pessoas conectadas
Obama e a chanceler alemã Angela Merkel e também organismos à internet que comentam nos mais variados canais disponíveis, in-
internacionais de proteção aos direitos humanos, como o Comitê fluenciando e sendo influenciados, são a Multidão. As massas se ca-
Internacional da Cruz Vermelha, a Anistia Internacional e o Human racterizam pela anulação das diferenças, abre-se mão do intrínseco
Rights Watch. em favor do coletivo, evitando-se uma aproximação profunda e real
Não é de se espantar que a inclusão digital seja hoje conside- para que o grupo tenha a coesão necessária. O termo Multidão de
rada um direito, se o corpo ainda está cercado de fronteiras que Antônio Negri e Michael Hardt é mais eficaz para se classificar essa
limitam sua vida ao determinismo de seu nascimento geográfico, parcela da população, num cenário que deixou a sociedade mais
o ser virtual pode estar em contato com as mais diversas culturas complexa e difícil de ser analisada.
e ampliar seu pensamento baseado em diferentes modos de viver, A multidão designa um sujeito social ativo, que age com base
rompendo as limitações políticas e territoriais pautadas em interes- naquilo que as singularidades têm em comum. A multidão é um
se econômico e intolerância ao “outro”. sujeito social internamente diferente e múltiplo cuja constituição
A globalização do indivíduo ainda é uma realidade distante, e ação não se baseiam na identidade ou na unidade (nem muito
mas a percepção sobre as diferentes culturas é hoje real e presente. menos na indiferença), mas naquilo que tem em comum. (NEGRI;
Governos ao redor do mundo procuram responder ou esmagar os HARDT. 2005, p. 140)
anseios sociais de várias formas, a maior parte do Ocidente aposta Diante dos atuais desafios o Estado e seu aparato institucional,
na democracia institucional, com um modelo de representatividade a sociedade, os movimentos sociais e a Multidão conectada, seu
que dá sinais de esgotamento, as ditaduras por sua vez procuram estrato que mais cresce em importância devido ao número cada
responder aos novos tempos como podem, Estados mais precários vez maior de pessoas com acesso à internet, se reconfiguram para
apostam em uma maior rigidez, outros como a China procuram atingir seus objetivos de modo mais eficaz. Nesse contexto a demo-
uma resposta mais sofisticada para o controle civil, usando da tec- cracia deve ser vista de modo fluído, em constante reconstrução,
nologia para vigiar seus cidadãos e limitar sua liberdade. Nesse con- com o intuito de se adaptar as diferentes exigências e expectativas
texto, aparecem condições para que o indivíduo não mais se veja dos atores envolvidos.
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ATUALIDADES
As transformações pelas quais as sociedades contemporâneas Tais propostas vão além de cumprir a LAI, elas procuram remo-
têm passado afetam diretamente o modelo político comum no Oci- delar o próprio modo de governar e estão diretamente ligadas a
dente, as relações entre Estado e sociedade nunca sofreram tantas ideias como o Governo eletrônico e a Democracia eletrônica.
mudanças desde a Revolução Francesa. A informação ganhou uma O Governo eletrônico é o resultado atual das discussões acerca
relevância jamais vista, agora não apenas mais um mecanismo de da governança pública, é a aplicação das NTIC, para prestar servi-
poder nas mãos de apenas alguns grandes grupos midiáticos (ape- ços ao cidadão da maneira mais eficiente possível. Sua proposta é
sar destes possuírem ainda uma enorme influência), mas um bem à importante, pois a acessibilidade a informações de gerenciamento
disposição dos indivíduos conectados. governamental sempre foi nebulosa ao longo do tempo e o simples
fato de existir tal iniciativa já demonstra que o Estado percebeu que
Sobre tais transformações, ANTOUN (2003, p. 15-16) afirma: seu funcionamento necessita estar diretamente ligado à opinião
pública.
O entendimento das redes nos permite, hoje, devolver ao pen-
samento a realidade do espaço, sua cidadania real no seio do mun- Governo Eletrônico – e-gov, sob forma abreviada – [...] É rein-
do, afirmando que o assim chamado ‘espaço real’ é apenas um terpretação e revolução da gestão do poder público, ora sustenta-
caso do ciberespaço, e que o espaço virtual é aquele que de fato do por tecnologias informacionais, cujo intuito é dar suporte para
nós sempre habitamos. Neste mundo a renovação da democracia que o Governo acompanhe a evolução dos tempos. (GARCIA et al.,
torna-se possível porque a multidão armada com as TIC e a CMC1 2004, p. 03)
faz o problema da cidadania pós-moderna e da segurança pública
A Democracia eletrônica é o produto final das medidas des-
convergirem na direção da organização das comunidades virtuais,
centralizadoras, a maior facilidade de acesso à informação somado
apontando para seus novos modos de se auto organizar e garantir
às iniciativas públicas de transparência oferecem ao indivíduo um
a ampla discussão e participação na resolução dos próprios proble-
status único na história do Estado moderno. O cidadão tem ao seu
mas. dispor a ferramenta mais poderosa da atualidade, a informação.
As NTIC surgem a partir da chamada Terceira Revolução Indus- Ainda que alguns argumentem afirmando que a informação
trial, um fenômeno que tem início da década de setenta também sempre existiu, publicada em Diário Oficial e etc, em tempo algum
conhecida como Revolução informacional, pois torna a informação se tem notícia do alcance de um meio de comunicação como a
um elemento imprescindível para as relações humanas. Novas Internet. O cidadão que tem mais informações é mais capaz de
tecnologias como a internet, a telefonia móvel e o acesso remoto emitir juízos de valor e opiniões sobre as questões da sociedade. A
tornaram o cidadão um ator social com poder além do voto, sua divulgação de informações governamentais via governo eletrônico
opinião agora se faz ouvir cotidianamente e no tempo real, mas permite a geração de conhecimento. E conhecimento é poder. Dis-
sempre que um determinado tema ganha atenção suficiente de um seminar conhecimento implica disseminar o poder político, descen-
grande número de indivíduos, dando a essa multidão uma oportu- tralizar o poder decisório. (GARCIA et al., 2004, p. 08-09)
nidade de exprimir sua vontade. “A ‘revolução eletrônica’ transfor-
mou a informação em uma arma e o Estado, global ou local, está Apesar do interesse estatal em disseminar mecanismos de im-
sempre envolto, pós-modernamente, nas guerras da informação. portância para a transparência, uma verdadeira democracia eletrô-
[...] ” (ANTOUN, 2002, p. 14). nica esbarra no problema da inclusão digital. Se o acesso ao ciberes-
paço é hoje uma forma indispensável para o exercício da cidadania
Diante de tal cenário e a baixa expectativa quanto a democracia e o fazer democrático, aqueles que estão à margem, possivelmente
representativa, o Estado tem procurado ferramentas para atender devido a questões de ordem econômica ou mesmo simples desinte-
as demandas do presente, tendo duas iniciativas principais nesse resse, ficarão ainda mais distantes da gestão pública, aumentando
contexto, tornando o acesso a informações sobre a gerência pública ainda mais a exclusão. Num país como o Brasil, onde a desigualdade
mais acessível e procurando uma maior inserção da população no possui índices elevados, torna-se uma realidade o aumento do fos-
meio eletrônico, através de programas (principalmente educacio- so entre os diferentes extratos sociais.
nais) voltados para a inclusão digital.
No Brasil a Lei de Acesso à informação (LAI)2, em vigor desde A inclusão digital se torna fator determinante rumo a uma
democracia plena e inclusiva, os mais variados países têm adotado
2012, foi um importante passo rumo aos direitos do cidadão, ga-
medidas para levar o conhecimento e a utilização das novas tec-
rantindo o direito de aquisição de informações públicas com maior
nologias para o maior número de pessoas. “A construção de uma
agilidade e menos burocracia. A participação da população na ges-
nova civilização sobre os escombros da velha envolve o projeto de
tão pública é fundamental para uma democracia saudável, o Estado
novas estruturas políticas mais apropriadas em muitas nações ao
não deve ser entendido como uma grande máquina kafkiana que mesmo tempo” (TOFFLER, 1992, p. 410).
se apresenta de forma indiferente aos anseios sociais. Tais inicia-
tivas evidenciam os esforços, sobretudo, do Poder Executivo, para No Brasil não é diferente, o Governo Federal vem implantan-
responder as demandas atuais, entendendo a coisa pública como do diversos programas com esse intuito, geralmente ligados à área
uma estrutura que precisa encaixar o cidadão para além das obri- educacional, visando as novas gerações e aumentando o número de
gações. O direito à informação passa a ser realmente sentido como nativos digitais. Como um direito humano a informação não pode
um direito humano legítimo e atua para tornar a relação Estado e mais ser encarada apenas num aspecto econômico, assim como a
sociedade mais justa. saúde ou a segurança, ela é um bem imprescindível e o Estado deve
Somam-se a Lei de acesso à Informação iniciativas como os estar preparado para assegurar esse direito das mais diversas for-
portais de transparência, que atualmente não se restringem apenas mas.
ao Poder Executivo, como por exemplo o e-Cidadania do Senado
Federal, a Câmara Aberta da Câmara dos Deputados do Brasil, além
do Portal de transparência do Poder Judiciário.
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Analisando questões relativas a Democracia digital é pertinen- Oferecendo a Internet ao mundo, a comunidade cientifica lhe
te levar em consideração o pensamento de Sabbatini. Para ele, o ofertou a infraestrutura técnica de uma inteligência coletiva que é,
fator emocional pode se tornar um grave problema, uma vez que sem dúvida, sua mais bela descoberta. Ela transmitiu assim para o
decisões individualistas atrapalham no diálogo e trazem estragos ao resto da humanidade sua melhor invenção, aquela de seu próprio
tecido social. Apenas uma parte da população teria voz no meio ele- modo de sociabilidade, de seu tipo humano e de sua comunicação.
trônico e esse grupo tenderia a relevar os assuntos de seu interesse Essa inteligência coletiva refinada há séculos é perfeitamente en-
e tratá-los com parcialidade. Tais questões não possuem respostas carnada pelo caráter livre, sem fronteiras, interconectado, coopera-
fáceis e como um processo em andamento, só resta aprender com tivo e competitivo da Web e das comunidades virtuais. (LÉVY, 2001,
os erros e procurar melhorias para um melhor desempenho na p. 79.)
construção do projeto de governança digital.
Cabe nesse ponto refletir sobre o papel do Estado no mundo É no ciberespaço que as notícias mais disseminadas serão es-
atual, em meio aos dilemas políticos, que muitas vezes são resumi- colhidas e comentadas, seu poder desafia até grandes conglomera-
dos na questão acerca de um Estado diminuto ou grande. Como em dos midiáticos, oferecendo canais com uma visão distinta das tra-
tantas outras coisas o Estado também está em constante transfor- dicionais ferramentas informacionais. O poder sobre a informação
mação, ele já se configurou na forma de grandes Impérios territo- oferece a chance dá Multidão impor pautas políticas e reverberar
riais e em monarquias absolutistas, no mundo Ocidental do século sua vontade em tempo real, impactando o centro do poder, uma
XXI essa entidade geralmente se apresenta na forma de Repúblicas vez que barreiras geográficas não são mais um empecilho e o meio
democráticas, excetuando-se algumas monarquias europeias. É virtual um espaço cada vez mais comum de se informar e ser infor-
quase impossível pensar na civilização sem a figura do Estado, em mado.
uma época de descrença na política é interessante notar que desde
sua criação o anarquismo nunca foi tão impopular, talvez fruto de A multidão, conjunto de singularidades, pela cooperação, tor-
uma noção coletiva sobre a certeza da necessidade de um poder na-se altamente produtora de subjetividade. Uma subjetividade
central que, intervencionista ou não, é ainda responsável por as- nova, livre de qualquer representação, que acaba com a relação de
pectos imprescindíveis sobre a sociedade e que uma transformação biopoder ou dominação-representação e se torna potência, potên-
e não uma ruptura completa deve ser o intuito de nações demo- cia constituinte de um novo porvir. Elimina-se, com isso, a relação
cráticas. soberana, baseada no poder e na corrupção das relações coope-
rativas. É como se fosse um êxodo da soberania. Esse conjunto de
É tendo em mente os novos avanços da emancipação humana dispositivos cooperativos de redes torna-se potência democrática e
que devemos tentar pensar, não ‘o fim do Estado’, mas ‘outro Esta- limite da soberania imperial. (SILVESTRIN, 2014, p. 50)
do’, um que admita plenamente os seus outros, um que emerja da
sociedade, embora esteja ao seu serviço, em vez de estar sobrancei- A democracia ainda é a melhor forma de acesso ao poder para
ra a ela, como se transcendência autoritária e burocrática. Podemos
a coletividade, a única forma do poder emanar do povo, além das
apostar que, no futuro, o Estado, que já assumiu tanta forma (teo-
elites. As transformações sociais são impulsionadas pelo debate e o
cracia faraônica, império do meio, democracia ateniense, república
embate entre as partes envolvidas, as novas tecnologias impulsio-
romana, monarquia europeia, califado, Estado-nação, fascismo,
nam e agilizam essas transformações, criando um ambiente propí-
sovietismo, Estado islâmico, federalismo, Estados Unidos, união Eu-
cio para a mudança, uma vez que possibilitam ao indivíduo meca-
ropeia...), continuará a metamorfosear-se. (LEVY, 2003, p. 174-175)
nismos para desafiar as estruturas de poder vigentes.
As mesmas tecnologias também podem ajudar a fomentar a
Talvez a forma mais comum de se atacar o Estado atualmen-
intolerância e a violência, seja no uso das redes sociais pelo Estado
te seja através da democracia direta, apesar de possuir elementos
pontualmente louváveis, fica claro que tal forma de governança Islâmico para cooptar membros, ou mesmo de indivíduos em so-
pode desembocar em uma ditadura da maioria. Tal instrumento é ciedades plenamente democráticas exprimirem pensamentos pre-
geralmente apresentado como uma forma de minimizar a falta de conceituosos ou mesmo fascistas. A internet potencializa tanto o
interação entre governos e população, além de paliativo para o sen- discurso de ódio quanto o progressista, sendo uma ferramenta que
timento de pouca representatividade dos políticos eleitos. insere os mais diversos pensamentos e ideologias no ciberespaço,
A democracia direta se faz impossível pelos canais políticos aumentando as chances de diálogo e de competição, seu impac-
tradicionais, mesmo com a expansão das potencialidades surgidas to mal pode ser medido no presente e seu legado é já tão vasto
com as novas tecnologias, os malefícios que ela pode causar são que conjecturas tornam-se insuficientes. A única certeza é que a
muito altos. O debate político deve ser pautado na razão e corrobo- mudança chegará, cada vez mais rápida, tornando o limiar entre
rado por fatos, a entrega das decisões a um espaço que privilegia presente e futuro cada vez mais sutil.
debates rasos e pouca reflexão pode ser catastrófico, em primeiro
lugar para as minorias e, em segundo, para a sociedade em geral, A Multidão na sociedade de controle
pois o minguar da tolerância é o primeiro sinal de que a democracia Entre as diversas mudanças causadas pelo advento das NTICs,
corre riscos. aquelas relativas as relações de poder são particularmente as mais
Seria impossível pensar em tantas questões se não fosse o impactantes, uma vez que alteram toda a estrutura de uma socie-
avanço avassalador da internet na vida humana, sem dúvida a tec- dade. Se faz importante discutir os novos mecanismos de controle,
nologia mais revolucionária da Terceira Revolução Industrial. As ao qual Deleuze já alertava, entendendo tanto o Estado quanto o
noções de tempo e espaço se tornaram fluídas e quase todos os Mercado como entidades invasivas em diversos momentos da vida.
aspectos da vida humana estão ligadas a essa tecnologia, mesmo Também entendendo o povo segundo a categoria de Multidão,
questões tão íntimas como o sexo e a morte são diretamente afeta- numa relação complexa com as forças externas que com ele atuam,
das por tal ferramenta. Não é surpresa que também a política seja onde em dado momento é manipulável e em outros se torna um
fortemente influenciada, a internet possibilita a construção de uma mecanismo de ruptura, seja com a tradição ou com os mecanismos
nova democracia, baseada na interação. do poder.

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ATUALIDADES
A literatura de ficção científica, há muito tempo vêm espe- pelo poder judiciário e pelo monopólio da força se encontra em cri-
culando sobre um “futuro” onde o Estado se torna uma entidade se e não dispõe de legitimidade suficiente para impor mecanismos
opressora de direitos, cerceando os indivíduos das mais diversas for- de controle tão vastos, como é o caso da NSA, uma iniciativa que
mas, desde o clássico 1984 de George Orwell, a obras como Fahre- seguiu adiante pelo fato de alerta constante quanto a ataques ter-
nheit 451 de Ray Bradbury e o antes cult e agora afamado V de roristas.
Vingança de Alan Moore. O ponto em comum em todos é a figura O segundo ponto é relativo ao protagonismo do indivíduo, an-
estatal no comando da vigilância permanente, a escolha pode ser tes um ser que se difere e se afasta da massa, carregando em seu
entendida devido a ação histórica de repressão ao ser humano tal pensamento uma forte carga humanista ou mesmo anárquica. Seja
como estudada por Michel Foucault em sua análise das sociedades Winston Smith, Guy Montag ou V, o indivíduo carrega em si o peso
disciplinares, tendo surgido entre os séculos XVII e XVIII e chegan- de uma luta solitária, sempre ao lado de uma figura feminina que
do ao auge no século XX, e posteriormente por Gilles Deleuze, que os inspiram a lutar. Mais uma vez é olhando para a história que se
ficaram conhecidas como sociedades de controle. “O indivíduo não compreende tais escolhas, as grandes personalidades que reuniram
cessa de passar de um espaço fechado a outro, cada um com suas em si uma grande carga de simbolismo devido ao que fizeram ou o
leis: primeiro a família, depois a escola [...], depois a fábrica [...], de que representavam foram decisivas na construção da história dos
vez em quando o hospital, eventualmente a prisão, que é o meio de ídolos individuais, tão criticada pelo movimento dos Annales e que
confinamento por excelência” (Deleuze, 1990, p. 219). deixou sequelas na mentalidade coletiva.
Além da ficção, a historiografia influenciou fortemente na visão
Nas sociedades disciplinares o poder disciplinador, simbolizado que se têm sobre a liderança, exaltando tanto uma única figura que
pela arquitetura do panóptico, presentifica-se no interior das insti- termina anulando todos os indivíduos reunidos em um determina-
tuições, como as prisões, os hospitais, as escolas, os quartéis, com o do processo histórico. Essa tendência persistiu até o aparecimento
objetivo de instaurar a disciplina e, consequentemente, um padrão
de uma nova geração de historiadores franceses que mudariam os
comportamental rotineiro. No modelo social de Deleuze, o controle
parâmetros historiográficos dominantes, eclipsados nas figuras de
passa do âmbito local – restrito à extensão dos olhos e dos ouvidos
Lucien Febvre e Marc Bloch, esse último um dos fundadores da Es-
humanos – para um âmbito supra-local, estendendo-se para todos
cola dos Annales, que influenciado por Émile Durkheim, deixou sua
os espaços da vida pública. Não há mais espaço restrito para que o
poder se faça sentir, pelo contrário, ele se faz presente em todos os marca na historiografia ao dar maior importância aos grupos em
lugares. Por conseguinte, é mais perverso, mais controlador, porque detrimento da ação individual na história. Segundo José Carlos Reis
se sustenta no aparato das novas tecnologias de informação. O sím- (2013), Bloch deu preferência ao estudo do tempo, das estruturas
bolo do controle agora não é mais o panóptico, mas a web, a rede e do coletivo.
digital de comunicação mundial, que concentra toda a informação
dos indivíduos em bancos de dados. O princípio da docilidade conti- Como Durkheim, e diferente de Febvre, o ponto de partida da
nua, no entanto, o mesmo, pois os indivíduos entregam voluntaria- história blochiana era a sociedade e não o indivíduo. Seu realismo
mente seus dados a vigilância. (AGUERO, 2008, p. 35 – 36) social, continua Rhodes, insistia em aprender o todo social antes de
querer aprender as partes. Este todo, composto de interações indi-
O “futuro” imaginado pela especulação literária se faz presente viduais, era concebido como não redutível à vontade dos indivídu-
na sociedade da informação, porém, com características diferentes os-membros. O indivíduo é que é reduzido à mera expressão da vida
da ficção. Para Foucault as sociedades disciplinares serviram para coletiva. Assim como Durkheim, Bloch considerava que a estrutura
manter o controle sobre a mente e o corpo. Posteriormente surgem social, a solidariedade, a ordem ou coesão social são as realidades
mecanismos que transformam a arquitetura de dominação discipli- básicas onde se encontram os princípios explicadores da sociedade.
nar, dando origem as sociedades de controle, um novo modelo de [...] O específico desta ‘consciência coletiva’ é a sua lentidão na mu-
exercer o poder que se aprofunda a partir do fim da 2º Guerra Mun- dança. Ela é um consenso, que envolve todos os membros da socie-
dial e se encontra em andamento. “Encontramo-nos numa crise dade, oferecendo-lhes valores e normas da vida. É uma consciência
generalizada de todos os meios de confinamento, prisão, hospital, pré-fabricada pronta para o uso individual e que aparece ao indiví-
fábrica, escola, família. ” (Deleuze, 1990, p 220). duo como algo dado e natural. Mas trata-se de uma construção de
longa duração. (RHODES, 1978 apud REIS, 2013, p. 265)
[...] a sociedade disciplinar é aquela na qual o comando social
é construído mediante uma rede difusa de dispositivos ou apare- A sociologia e a história procuraram romper com a tradição
lhos que produzem e regulam os costumes, os hábitos e as práticas do ídolo, dando voz a coletividade na história, seja na sociedade
produtivas. [Na sociedade de controle] os mecanismos de comando de corpos medieval ou na sociedade de massas do século XX, tão
[são] distribuídos por corpos e cérebros dos cidadãos. Os comporta-
influenciável ideologicamente que muitas vezes foi capaz de se ali-
mentos de integração e de exclusão próprios do mando são, assim,
nhar aos discursos totalitaristas da época. A historiografia continua-
cada vez mais interiorizados nos próprios súditos. O poder agora é
ria avançado nos estudos sobre o indivíduo e o coletivo, sendo que
exercido mediante máquinas que organizam diretamente o cérebro
se na primeira geração do movimento francês houve uma grande
(em sistemas de bem-estar, atividades monitoradas, etc.) no obje-
tivo de um estado de alienação independente do sentido da vida e recusa aos modelos biográficos que se fechavam em torno da vida
do desejo de criatividade. (NEGRI; HARDT, 2001, p. 42 – 43, apud do biografado, novos autores por sua vez foram abrindo o caminho
AGUERO, 2008, p. 36) para uma redescoberta da escrita biográfica, tendo já na terceira
geração dos Annales algumas obras importantes de Georges Duby e
O primeiro e principal ponto de ruptura entre ficção e reali- Jacques Le Goff indo nesse sentido.
dade se dá no protagonismo dos atores envolvidos na sociedade A redescoberta do indivíduo na história procurava usar da vida
de controle. Apesar de ainda possuir grande poder, o Estado perde de um personagem histórico para se contar ou descrever uma es-
seu protagonismo diante do Mercado, que no seu modo natural de trutura maior, desarticulando a visão romântica de um “herói” que
ação consegue convencer de maneira muito mais fácil os indivíduos há muito já se tornara ineficiente para a historiografia. Essa ten-
de abrirem mão de seus direitos. A coerção estatal caracterizada dência passa a ser seguida por historiadores europeus, como Chris-
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topher Hill e Carlo Ginzbourg, que têm em sua obra de micro histó- que envolvem o poder judiciário. É preciso refletir sobre a atuação
ria “O queijo e os vermes”, um exemplo perfeito do que a história do capital privado, que desestabiliza fronteiras e Estados, mudan-
biográfica é capaz de fazer quando escrita para a conscientização de do até mesmo o pensamento sobre a privacidade. A privacidade se
processos e estruturas maiores. tornou uma mercadoria e para entender o poder quase onipresente
das empresas na vida do homem é preciso atentar para a realidade
Fiel à concepção de história-problema da Escola dos Annales, tecnológica.
minha primeira dificuldade consistiu em definir uma problemática O crescimento espantoso da telefonia móvel convergiu com o
que me permitisse apreender o indivíduo São Luís em interação com aparecimento de novos aparelhos para a conexão com a internet,
a sociedade do século XIII, evitando o que o sociólogo Pierre Bour- como o tablet, essa nova realidade tecnológica permitiu um gran-
dieu chamou de a “ilusão biográfica”, que pretende que se consi- de avanço para a conexão sem fio, “Com a internet acessível pelo
dere a vida de um grande homem como alguém com um destino celular, a rede e todos seus serviços tornam-se móveis. [...], os apa-
já traçado, excluindo as eventualidades da vida. Eu, ao contrário, relhos se tornaram também possibilidades de estado de conexão
limitei-me a mostrar as hesitações, as decisões e os momentos cru- permanente [...]” (Rodrigues, 2010, p. 78). Essas mudanças inega-
ciais da vida de São Luís, a partir da sua infância de rei. Porque se velmente trouxeram grandes avanços, como canais diretos para o
o homem constrói sua vida, ele também é construí- do por ela. (LE compartilhamento de informações, geralmente pelo aplicativo de
GOFF, entrevista, 1996). mensagens instantâneas WhatsApp e a possibilidade do acesso de
inúmeras fontes de notícias. Mas também trouxeram o problema
Com a visão do herói histórico superada, a atenção acadêmica da superinformação e do controle dos indivíduos, desde a sua loca-
voltou-se para o coletivo, ganhando roupagens novas de diferentes lização espacial até as suas afinidades para entretenimento, consu-
intelectuais. Destaca-se no presente trabalho a categoria de Multi- mo e relações pessoais.
dão, que seria um “conjunto de singularidades” estando “sempre A empresa transnacional, Uber, sediada em São Francisco, é
em movimento” (Negri, 2004), como um ator social ela é politica- um notório exemplo das mudanças trazidas pelo uso das NTICs nos
mente engajada, assimilando ideias diversas que representam as mais variados campos. Oferecendo transporte privado alternativo
mais distintas camadas sociais e mantendo uma complexa relação aos táxis, através de um aplicativo chamado E-hailing, a empresa
com o Mercado e o Estado. se expande globalmente e ao mesmo tempo em que gera atritos
com os Estados Nacionais, sindicatos locais e mesmo entusiastas
A consciência da força coletiva não é uma novidade para os in-
da liberdade, que veem na iniciativa um cerceamento do direito de
divíduos, essa força é exercida historicamente desde a antiguidade,
privacidade de ir e vir.
a diferença está nos mecanismos disponíveis a população, as NTICs
As querelas entre justiça e empresas tecnológicas não se res-
possibilitam as ferramentas de alienação e dominação tanto quanto
tringiram apenas ao Uber, no Brasil o aplicativo WhatsApp, per-
as de lucidez e liberdade. “Do ponto de vista sociológico, o poder
tencente ao Facebook, dispõe de grande número de usuários que
constituinte da multidão aparece como cooperação e comunicação
fazem dele o principal canal para se comunicar e até mesmo trans-
em redes, trabalho social formado pelo comum. ” (Andreotti, 2008,
mitir e receber notícias em tempo real. O aplicativo foi suspenso por
p. 02-03).
algumas horas, através de decisão judicial em 2015 e 2016, devido
a recusa em cooperar em investigações sobre pedofilia no Brasil. A
Mercado, Estado e Multidão se configuram então como as reação dos usuários foi da indignação ao escárnio, traduzidas nos
grandes forças nas relações de poder na sociedade da informação. já comuns memes de internet, que inundaram as principais redes
Usando os mecanismos a sua disposição cada ator procura atingir sociais mostrando o descontentamento popular com as decisões.
seus objetivos, o Mercado usa o marketing para convencer, o Estado Cabe aqui discutir os principais pontos levantados em tais epi-
usa o monopólio da força e a justiça legitimada para a coerção e a sódios, a questão da privacidade, que vai desde o direito individual
Multidão usa a seu favor o número de indivíduos para transformar até o uso de dados dos clientes e também a questão judicial, que
a sua realidade, esse “monstro revolucionário chamado Multidão” envolve o poder de ação do Estado e suas limitações, que vão desde
(Negri, 2004), tem a capacidade de influir nas decisões políticas e na questões técnicas até os problemas das fronteiras nacionais.
direção econômica das empresas. A venda de dados dos usuários é uma prática comum entre
Em plena sociedade de controle se faz necessário pensar sobre as gigantes tecnológicas, o Facebook também faz uso da prática,
as relações estabelecidas por tais forças, entendendo que mesmo garantindo o lucro necessário para sustentar sua gigantesca plata-
em uma aparente situação de desvantagem a Multidão procura for- forma online. O uso recorrente dessas vendas expõe os usuários
mas de resistência diante da invasiva ação de controle imposta a a variados tipos de marketing eletrônicos invasivos, tornando-os
ela. meros consumidores que pretendesse atingir através de dados. O
WhatsApp, por sua vez, depende fortemente da confiança de seus
É verdade que os Estados mais poderosos podem agir de forma usuários no tocante as informações pessoais, criando criptografias
marginal sobre as condições, favoráveis ou desfavoráveis, do desen- avançadas para burlar não apenas pessoas com interesses ilegais
volvimento do ciberespaço. Mas são notoriamente impotentes para como também a polícia. Se por um lado a multinacional de Zucke-
orientar de forma precisa o desenvolvimento de um dispositivo de berg está pronta para oferecer dados de seus clientes, de outro
comunicação que já se encontra hoje inextricavelmente ligado ao nega o acesso da justiça a informações importantes em investiga-
funcionamento da economia e da tecnociência planetárias. (LEVY, ções. Para cada ramo do negócio existe um conjunto de regras di-
1999, p.227) ferentes, adaptando-se as necessidades e exigências de seus usu-
ários. A maleabilidade é mais um atributo do Mercado, sendo que
No Brasil a presente (e justificável) preocupação sobre o con- os mecanismos tradicionais do Estado ainda não estão adaptados o
trole do Estado evita uma maior atenção sobre as forças do Mer- suficiente para resolver tais questões.
cado, atuantes sobre a vida pessoal e transformando as ideias es- A jornalista Naomi Klein (2002), mostrou que as transnacionais
tabelecidas sobre liberdade individual. Lévy mostra a dificuldade procuram evitar o peso das justiças locais através da vantajosa es-
do poder estatal para exercer de forma direta sobre o ciberespaço, trutura que possuem no mundo pós-fordismo. Em sua obra, “Sem
como já dito falta legitimidade, que só se faz presente nos casos Logo”, a canadense disserta sobre o poder das grandes transnacio-
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ATUALIDADES
nais num mundo sem barreiras para o capital e analisa o estado Com o intuito de baratear seus produtos as grandes multina-
atual dos empregos na era de dominação do pensamento econô- cionais procuraram realocar seu setor fabril em países de terceiro
mico neoliberal. Dando atenção a toda a cadeia produtiva, desde o mundo, onde as condições sociais permitem uma exploração lucra-
trabalho manual do sistema fabril em países de terceiro mundo, até tiva do trabalhador. Diferente do ocorrido nos antigos tigres asiáti-
o setor varejista do mundo desenvolvido. cos, Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, os novos alvos
O discurso de Klein se mescla ao de Luciano Gallino ao enten- não recebem troca de tecnologia e nem aumentam os impostos
der o pensamento neoliberal como hegemônico na sociedade da cobrados, deixando de tirar seus trabalhadores da pobreza e nem
informação, o “Estado minimalista” é a consequência direta disso, dando ao Estado rendimentos suficientes para investir em infraes-
deixando sequelas graves para a sociedade (Klein, 2002). trutura. Para Kindleberger, as multinacionais não devem lealdade a
Para manter a competitividade as multinacionais procuram nenhuma nação, este pensamento indica que o mundo inteiro se
realocar a sua produção fabril para países onde a mão de obra ex- tornou seu quintal de negócios, são “Estados apátridas” como diz
cedente e barata esteja menos organizada em sindicatos e prote- Naomi Klein (2002).
gida por leis, desse modo podem tirar o maior proveito da força Para a Sociedade da informação uma marca deve representar
de trabalho local, garantindo altos lucros. A autora é perspicaz ao algo, ela deve ser atraente e ter conceito. O produto em si é joga-
analisar as multinacionais através do prisma da marca. As empresas do para segundo plano, aqueles mesmos consumidores nas filas da
entenderam que antes de vender um produto elas vendem uma APPLE não estão lá porque o novo IPHONE traz muitas novidades
ideia, basta ver as imensas filas nas lojas da APPLE ao redor do mun- e, sim, porque querem continuar se sentindo ligados aquela mar-
do sempre que alguma novidade tecnológica é lançada. A sede do ca que representa algo a eles. “Bebemos rótulos: com uma garrafa
consumidor por marcas não tem fim, pois elas não representam a de Coca-Cola, bebemos o desenho das belas jovens que a bebem
compra de um item necessário e sim um desejo de posse, desejo no anúncio [...] Com o que menos bebemos é com nosso paladar”
esse tão bem analisado por Erich Fromm em “Psicanálise da socie- (Fromm, 1970, p. 135 - 136). Nesse panorama para se manter com-
dade contemporânea”. O que os membros da Escola de Frankfurt petitivo é preciso de publicidade, a parte fabril do negócio se torna
não poderiam supor é o quão longe as engrenagens máximas do então a parte no qual os cortes devem ser realizados, é nessa etapa
capitalismo seriam capazes de ir pelo lucro, desafiando Estados e então onde ocorrem os maiores cortes de gastos.
modificando leis, passando por cima até do sentimento ideológico Para Charles Maier, a consciência de classe só faz enfraquecer
máximo do século XX, o nacionalismo. num mundo onde os sindicatos são perseguidos e o trabalhador
alvejado de seus direitos. Mas na porção desenvolvida do mundo
[...]estamos rodeados de coisas de cuja natureza e origem é necessário maquiar a exploração, pois não está se falando mais
não sabemos. O telefone, o rádio, o toca-discos e todas as outras do “outro”, do distante asiático que pode viver com tão pouco. O
máquinas complicadas são quase tão misteriosas para nós quan- trabalho temporário então aparece como uma alternativa para se
to o seriam ´para um homem de uma cultura primitiva; sabemos extrair dos jovens sua força de trabalho e não o remunerar decente-
usá-los, isto é, sabemos que botão apertar, porém não sabemos mente, nesse sentido os setores midiáticos também se despontam,
segundo que princípio funcionam, salvo nos termos vagos de algo mostrando que não é somente a lógica fabril a que é controlada
que em outro tempo aprendemos na escola. E as coisas que não se pelo pensamento neoliberal. As promessas de que o trabalho o co-
baseiam em princípios científicos difíceis nos são igualmente estra- locará na classe média e que não fará de você um simples trabalha-
nhas. Não sabemos como se faz o pão, como se tecem as fazendas, dor necessitado atrai muitos em busca de melhorar sua vida, mas a
como se constrói uma mesa, como se faz o vidro. Consumimos Starbucks e o Wal-Mart são tão comprometidas com a eficiência e o
como produzimos, sem uma relação concreta com os objetos lucro quanto a fabricante de roupas próxima a Manila.
que manejamos; vivemos em um mundo de coisas, e nossa única Naomi Klein demostra a relação dialética entre as empresas e
relação com elas consiste em saber manejá-las e consumi-las. seus empregados, o mercado consumidor é indispensável, mas os
(FROMM, 1970, p. 136)
trabalhadores não podem ser um peso nos gastos financeiros. A li-
gação com a indústria tecnológica do Vale do Silício e Seattle mostra
As marcas possuem um significado, investir no fortalecimen-
que mesmo altamente especializada a mão de obra pode e vai ser
to e difusão dessa não é barato, cabe as empresas então arrochar
submetida a lógica neoliberal do Just in time.
ainda mais os salários e tomar medidas gerenciais para que o inves-
A globalização levou a disputa comercial a um nível mundial,
timento seja direcionado ao marketing, setor no qual o nome do
não importa se esteja em Vancouver ou Jacarta, as leis do merca-
produto pode crescer, sem estar ligado ao “sujo” trabalho fabril. É
do irão influir sobre sua vida, seu nascimento apenas incidirá no
importante lembrar que a fábrica foi classificada por Foucault como
grau de exploração usado sobre você. Klein consegue demonstrar
um dos espaços fechados, um símbolo da sociedade disciplinar que
com exatidão que as multinacionais sofreram transformações im-
não se encaixa mais no mundo do capitalismo informacional. Longe
de seus países de origem, as fábricas podem se aproveitar de leis portantes ao longo do tempo, criando entidades transnacionais que
locais, como as das Filipinas e da Indonésia, pagando um rendimen- impactam a vida humana de diversas maneiras, sem se preocupar
to bem abaixo do exigido na Europa ou nos Estados Unidos. Sobra com fronteiras, direitos trabalhistas ou mesmo em muitos casos a
a esses lugares a sede empresarial, que agrega os valores da nova dignidade humana.
sociedade, tendo como características a “flexibilidade” e a “capa- A mudança no pensamento dos dirigentes empresariais alte-
cidade de adaptação” (Rodrigues, 2010). A terceirização permitiu rou fortemente a realidade dos trabalhadores fabris. As zonas de
as grandes marcas se distanciar desse modelo fabril altamente ex- exportação são os locais onde a competitividade no século XXI che-
ploratório, não importa que as condições de trabalho nas Filipinas ga ao seu máximo, lá os trabalhadores são submetidos a jornadas
sejam vergonhosas, a Nike e a Reebok não têm nada a ver com isso, intermináveis de trabalho e direitos humanos são desrespeitados
essas fábricas estão sob o comando de asiáticos, mas diferentes dos sistematicamente em prol da produção. As alegações futuristas
antigos tigres asiáticos, que em sua época puderam aproveitar do alarmantes de autores como Rifkin estavam erradas, os trabalhado-
grande número de indústrias, aumento o salário de seu povo e co- res assalariados não foram trocados por robôs, eles foram trocados
brando impostos para investir no país. por outros trabalhadores que não possuem a mínima proteção tra-
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balhista, eles são mais eficientes do que robôs, se derem “proble- magnitude em que era feita, pelos poderosos líderes internacionais
ma” podem ser despedidos, um robô precisaria de manutenção e que atingiu e por ter vindo do Estado, em um país onde grande
acima de tudo seres humanos dependendo do local do globo onde parte da população sente o poder estatal de maneira desconfiada,
nasceram, são baratos. Hobsbawn indicou que para o empresário o vendo apenas uma grande máquina que cobra impostos e controle.
ser humano é o problema na linha de produção, as tentativas cons- Na sociedade de controle atual do Ocidente, é o Mercado a
tantes e bem-sucedidas de limitar o trabalhador mostram que o força que mais invade a liberdade e a privacidade, enquanto o Es-
marxista estava correto. tado é pressionado na direção de abrir seus dados para a consulta
A terceirização permitiu as grandes marcas se distanciar desse popular e em criar uma estrutura eletrônica organizada capaz de
modelo fabril altamente exploratório, não importa que as condi- lidar com essas questões, as megaempresas convocam o indivíduo
ções de trabalho nas Filipinas sejam vergonhosas, a Nike e a Reebok a abrir sua vida e deixar suas informações no ciberespaço, para no
não têm nada a ver com isso, essas fábricas estão sob o comando de fim gerarem lucro.
asiáticos e sob a jurisdição, muitas vezes especial, desses territórios. A Multidão, porém, não se mostra completamente apática a
A autora se detém longamente sobre as condições de trabalho tais atitudes. Resistências aos novos modelos de cerceamento se
nas ZPE, sobretudo analisando o caso nas Filipinas, os testemunhos fazem presentes pelo mundo. Em 2014 a União Europeia sancionou
só comprovam a lógica do capitalismo selvagem exercido sobre os a lei do direito ao esquecimento, ampliando direitos sobre a priva-
povos subdesenvolvidos. Porém, a cadeia produtiva apenas começa cidade e atingindo diretamente gigantes da internet como Google,
na fábrica, é preciso ainda vender o produto e a marca e para isso é Microsoft e Yahoo. O uso de bancos de dados de usuários para a
necessária mão de obra local nos países com maior renda. Os encar- venda é um tema ainda pouco discutido, mas a decisão da Corte de
regados de vender o produto também são explorados, preferindo Justiça Europeia abre caminhos para a criação de eventuais meca-
os jovens em detrimento dos mais velhos e arrochando salários. nismos para a proteção de informações pessoais. Além da justiça
As zonas de processo e exportação ganharam força sobretudo os usuários procuram maneiras próprias de lidar com a superexpo-
na China, uma gigantesca fábrica mundial que vende seu povo para sição, a criação do Tor para navegação anônima e a luta pela pre-
atrair as multinacionais, o caso da China pode ser visto como em- servação da neutralidade da rede são outros exemplos do que a
blemático, sem dúvidas o tamanho da população tem um impacto articulação dos usuários é capaz de fazer.
gigantesco para que o cenário chegasse a tal ponto, porém foi um
Estado forte capaz de calar os anseios do trabalhador que gerou Informação e poder: O papel da Grande mídia na atualidade
um ambiente tão propício para as ZPE. O Estado abre uma exceção A informação no século XXI tornou-se tão fundamental que
nessas regiões, tornando-as “ilhas” onde a lei normalmente esta- ela já é percebida como um direito e também como um requisito
belecida não se aplica. Na China onde a liberdade de expressão é para a vida em sociedade, a ponto de muitas vezes ser confundida
controlada esse tipo de negócio só tende a prosperar, pelo menos equivocadamente com o conhecimento. Além da influência que as
até Pequim decidir que seu povo merece uma remuneração huma- mídias, em especial as digitais, possuem junto à sociedade e gover-
namente descente. nos, ela também tem impacto gigantesco sobre a cultura. A mídia
As forças do Mercado operam de forma internacional, driblan- tradicional ainda é o principal canal de informações para a socieda-
do barreiras impostas pelo Estado e as questões relativas a justiça. de, jornais, revistas e TV dominam a pauta de notícias, impondo os
Se a força das empresas frente aos governos é evidente, o poder de assuntos que determinam serem os mais importantes no momen-
atração sobre a Multidão muitas vezes é sutil, através do marketing to. Grandes conglomerados midiáticos pelo mundo possuem tanto
o público é rebaixado a mero consumidor, um replicador do estilo poder que uma grande parcela das mídias mainstream pertencem a
de vida do capitalismo informacional (Rodrigues, 2002), conectado algum deles. No Brasil, a chamada mídia tradicional ainda é o princi-
ao emprego em tempo integral graças aos dispositivos móveis e lu- pal canal de informações para a sociedade, jornais, revistas e TV do-
dibriado pelo excesso de informação geradas nas redes. minam a pauta de notícias, impondo muitas vezes os assuntos que
A compulsão pelo consumo é cada vez maior, pois, por um lado determinam serem os mais importantes no momento. Entretanto,
consumir se tornou um fim em si mesmo, apenas para satisfazer um a nova realidade tecnológica digital ao possibilitar que qualquer
desejo interno incutido pela propaganda, que é onipresente na vida indivíduo seja igualmente um produtor e repassador de informa-
contemporânea. Por outro lado, em países onde existem grandes ção, forneceu mecanismos acessíveis contrários a hegemonia dos
desigualdades sociais o ato de consumir é relacionado com a pró- grandes grupos midiáticos, o que tem contribuído para a grave crise
pria cidadania, como é o caso do Brasil. financeira e identitária do jornalismo tradicional, por exemplo, e a
problematização da produção cultural advinda e veiculada somente
O homem moderno, caso ousasse falar claramente de sua por estes grupos.
concepção do céu descreveria uma visão que pareceria a maior Como a informação sempre esteve intimamente ligada às rela-
loja de departamentos do mundo, apresentando coisas e engenho- ções de poder, a mídia mainstream junto a escola tem sido os dois
cas novas, e êle entre elas com dinheiro bastante para compra-las. principais difusores do pensamento dominante. Nesse sentido é
Andaria boquiaberto por esse céu de engenhocas e mercadorias, mais do que natural que a imprensa represente os anseios das elites
sendo condição apenas a de que existisse número cada vez maior nacionais. Grupos como Bertlsmann, News Corporation, The Walt
de coisas novas para êle comprar, e talvez também a de os seus Disney Company, Vivendi, CBS Corporation, Viacom, Time Warner,
vizinhos serem um pouco menos privilegiados do que êle...[...] Sony Corporation e NBCUniversal controlam um número significa-
(FROMM, 1970, p.137) tivo de alguns dos mais respeitados e famosos meios de comunica-
ção, pertencem a algum deles, por exemplo, as redes CNN, RTL, FOX
Felizes em distribuir seus dados para as grandes corporações, News e ABC além dos jornais The New York Times, New York Post,
os usuários de aplicativos e redes sociais não se sentem, em sua The Daily Telegraph, The Sun e The Times.
maioria, invadidos em sua privacidade. Falta o entendimento que No Brasil a concentração de mídia também é uma realidade,
na atualidade, dados pessoais são quase tão relevantes quanto a tendo como maiores exemplos o Grupo GLOBO, o Grupo ABRIL,
força de trabalho, eles geram altos lucros e poucos problemas com a o Grupo Folha e o Grupo RBS. Juntas elas concentram os maiores
opinião pública. A grande mobilização internacional para condenar difusores de informação e opinião do país, possuindo emissoras,
as atividades de espionagem da NSA se deu principalmente, pela rádios, jornais, revistas, gravadoras, sites de notícias e estúdios ci-
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nematográficos, como a Rede Globo, Globo News, a Rádio CBN, Jor- o Sistema Mirante de Comunicação, afiliada à Globo, no Maranhão;
nal O Globo, Extra, Valor Econômico, Zero Hora, Folha de S. Paulo, a família do senador/Pará Jader Barbalho comanda a Rede Brasil
Época, Veja, Exame, UOL, G1, além de institutos de pesquisa como Amazônia, afiliada à Bandeirantes; a família de Antonio Carlos Ma-
o Datafolha. Conforme Altamiro Borges, em seu livro A ditadura da galhães comanda a Rede Bahia de Comunicação, afiliada à Globo,
mídia (2009), para a construção do modelo midiático vigente no na Bahia; a família do deputado federal Albano Franco comanda a
Brasil, não foi privilegiado o investimento em um sistema público Rádio Televisão Sergipe e Sistema Atalaia de Comunicação, afiliadas
de radiodifusão. Ao contrário foi copiado à Globo e SBT; a família do senador Fernando Collor comanda a Or-
ganização Arnon de Mello, afiliada à Globo, nas Alagoas.
[...] o modelo privado dos EUA, mas sem as ressalvas legais
vigentes neste país de 1943, que coibiram os monopólios que só O cientista político Bernardo Kucinski crê na mídia como uma
foram atacados no reinado neoliberal de Bush. A ausência de legis- das grandes forças do tempo presente, retendo poder suficiente
lações reguladoras e a relação promíscua com o Estado permitiram para derrubar governos e alterar a opinião pública das mais diver-
um tipo sui generis de concentração com a chamada propriedade sas formas. O autor cita três exemplos históricos de tais poderes,
cruzada, na qual os “donos da mídia” garantem a posse de diferen- a campanha liderada pelo jornalista Carlos Lacerda que pôs fim a
tes meios – jornais, revistas, rádios, televisões, internet. No Brasil, Era Vargas em 1954, A renúncia de Richard Nixon em 1974 devido
o modelo privado e a propriedade cruzada resultaram numa mídia ao escândalo Watergate, denunciado pelos jornalistas Bob Woo-
extremamente concentrada e historicamente antidemocrática. dward e Carl Bernstein do Washington Post, além de em 1973 a
(BORGES, 2009, p. 56) imprensa chilena ter participado da derrubada do presidente Sal-
A concentração midiática, que está na mão de poucas famílias vador Allende e ajudado na ascensão do ditador Augusto Pinochet
brasileiras, teve seu acabamento no período da ditadura de 64. Na- (Kucinski, 2011).
quele contexto, o projeto de integração nacional visado pelos mili-
tares, conforme o Relatório do Instituto de Estudos e Pesquisas em No Brasil a imprensa foi decisiva para a estrutura de manuten-
Comunicação, ção do regime militar, além de ter participado decisivamente na
eleição do presidente Fernando Collor de Mello em 1989. Ainda
[...] adquiriu materialidade e encontrou sua melhor tradução para Kucinski a mesma imprensa, liderada pela Rede Globo e a Re-
no modelo constituído pela Rede Globo. Ao longo de quase quatro vista Veja, derrubou Collor ao promover a campanha pelo Impea-
décadas, enquanto expandiam-se país adentro [...] as redes de TV chment.
aberta forjaram um mapa do Brasil baseado nos interesses políti-
cos e comerciais privados de seus proprietários [...] Células desses O resultado duradouro e nefasto do episódio não foi a autocrí-
interesses foram disseminadas em cada recanto do País sob a tica. Ao contrário, foi a percepção pelos principais grupos de mídia
forma de grupos afiliados às redes. O resultado foi a criação de um de massa do país de seu poder de eleger ou derrubar presidentes.
Brasil refém das grandes empresas da mídia, imunes a qualquer Desde então, nossa mídia de massa não se limita a reportar a nos-
forma de controle público, comandadas de forma vertical e susten- sa história – quer determinar os rumos de nossa história. (Observa-
tadas em alianças regionais que reproduzem e amplificam ideias, tório da Imprensa, 2011).
concepções e valores para 170 milhões de habitantes. (Carta Capi-
tal, 2012, p. 1) É fácil compreender o atual desinteresse e desconfiança de
parte da sociedade pela mídia. De um lado as NTICs tornaram o
Após a falência das famílias Bloch (Manchete,) Levy (Gazeta, processo de produção e recepção de informações muito mais di-
Nascimento (Jornal do Brasil), outrora proprietárias das mídias, a nâmico e democrático, e de outro a percepção da falta de impar-
situação da concentração familiar é a seguinte: Marinho (Globo), cialidade tem contribuído para a ruína da confiança dos leitores e
Abravanel (SBT), Saad (Bandeirantes), Civita (Abril), Frias (Folha), telespectadores.
Mesquita (Estado) - que está em crise -, e também recentemen- Para Carla Rodrigues (2013) a tradicional indústria da informa-
te despontou a emissora Record, ligada à família Macedo, dona da ção não foi capaz de se adaptar as novas demandas da sociedade
Igreja Universal. Neste quadro, as Organizações Globo predomi- pós-fordismo. Os mecanismos intrínsecos de funcionamento do
nam. As seis principais redes de TV aberta (Globo, Record, SBT, Ban- jornalismo são opostos a exigências (novos valores) como “descen-
deirantes, Rede TV! e CNT) compõem o principal veículo brasileiro tralização, flexibilidade e mobilidade”. Através de um documento3
de comunicação e respondem por cerca de 56% das verbas publici- gerado pelo Centro de Jornalismo Digital da Universidade de Co-
tárias públicas; a essas redes estão associadas lúmbia, a autora reflete sobre problemas atuais do jornalismo. So-
bre o jornalismo pós-industrial, a autora afirma
140 grupos afiliados, os principais de cada região, e abrangem
um total de 667 veículos, entre emissoras de tevê, rádio e jornais. [...] um dos muitos motivos da crise do jornalismo pós-indus-
Os grupos cabeças-de-rede, que geram a programação de televi- trial é a impossibilidade da indústria de a informação tradicional
são, buscam nos afiliados sustentação nas regiões e amplitude de funcionar a partir desses novos valores, já que uma de suas princi-
presença no mercado. Em troca, dão fôlego econômico e uma face pais características é uma estrutura fortemente hierarquizada, cen-
institucional a projetos empresariais e políticos regionais. (Carta tralizada, que pretenda garantir o controle dos processos internos
Capital, 2012, p. 1) e, sobretudo, o controle daquilo que será veiculado. No vocabulá-
rio industrial, as relações funcionam no modelo fordista, reprodu-
Praticamente esses grupos afiliados pertencem, por sua vez, zindo rotinas e processos industriais necessários para a realização
às grandes famílias oligárquicas políticas regionais. Esta é uma das de produtos de informação. (Rodrigues, 2013, p. 138)
facetas da relação informação-poder na sociedade brasileira, pois
estes “667 veículos ligados às seis redes privadas nacionais são a O modelo antiquado da estrutura jornalística está levando a
base de um sistema de poder econômico e político que se ramifica mídia tradicional a perder cada vez mais espaço diante de novas ini-
por todo o Brasil e se enraíza fortemente nas regiões. ” (Carta Capi- ciativas pela internet, o que ameaça a hegemonia de grupos tradi-
tal, 2012) Por exemplo, a família do senador José Sarney comanda cionais sobre a informação. Diante desse quadro grandes jornais co-
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meçaram a investir pesadamente em versões online, que cada vez NTICs. Três eventos marcantes foram decisivos para demonstrar
mais adquirem importância e ajudam na manutenção dos lucros, esses problemas, as manifestações em junho de 2013, as eleições
mesmo as emissoras de TV também procuram uma maior dinâmica presidenciais de 2014 e o processo de impeachment em 2016.
com as redes sociais, ao perceberem que atualmente a multidão de As Jornadas de junho foram um movimento espontâneo da
conectados é capaz de indicar pautas do dia, além de possuir voz população desencadeado a partir dos aumentos das passagens de
para questionar o comportamento e as decisões da grande mídia. ônibus em vários locais do país, no qual a Multidão em toda sua plu-
Para Rodrigues (2013) outro fator fundamental é a perda por ralidade mostrou sua veia contestatória ao ir para as ruas para con-
parte dos profissionais da informação do “privilégio de produzir in- testar não apenas sobre o transporte público, mas também sobre o
formações”, uma vez que as NTICs possibilitam a qualquer um com estado da saúde, da educação, da corrupção generalizada e outros
acesso à internet a produção, disseminação e a capacidade de opi- temas. A população conectada observava de longe a Primavera Ára-
nar sobre informações, muitas vezes num ritmo mais veloz do que be, num contexto mundial de críticas sobre diversos governos.
uma redação de jornal. A informação se tornou elemento fundamental para desafiar as
A conclusão diante desses novos fatos por parte do documento relações de poder estabelecidas, as NTICs possibilitaram um novo
de Colúmbia foi “[...] uma redução da qualidade das notícias [...]” olhar sobre a cidadania e aumentaram os anseios de mudanças so-
(Rodrigues, 2013, p. 139). Analisar esse quadro é de extrema im- ciais (Silveira, 2000). As jornadas receberam críticas parecidas com
portância para a compreensão não apenas da crise jornalística, as do movimento Occupy Wall St., devido à falta de lideranças e
mas também das políticas nacionais, pois entre os muitos impac- objetivos claros. Os movimentos atuais que tem sua irrupção pela
tos dessa baixa qualidade está o posicionamento e a influência da internet contam sobretudo com a espontaneidade, a lógica do in-
grande mídia familiar brasileira em programas de cunho conserva- divíduo a frente dos outros, o líder/herói já não faz mais sentido
dor e mesmo de claro reacionarismo. Tomando o Brasil atual como para essas pessoas, numa realidade onde todos podem expor suas
exemplo é possível identificar essa baixa qualidade nas matérias opiniões e atingir um grande número de pessoas. Já a multiplicida-
jornalísticas, porém, além dos problemas já citados um outro fator de de objetivos também está associada ao próprio mecanismo da
se apresenta, a intenção deliberada de confundir o leitor e leva-lo Multidão, que abriga diferentes visões de mundo e os mais distintos
a um conhecimento truncado, que pode ser mais nefasto do que a anseios sociais.
ignorância, o que contradiz qualquer bom senso ditado pela ética
jornalística. “O poder é um fenômeno social no qual uma vontade, indivi-
No intuito de garantir uma parcela de leitores assíduos, gran- dual ou coletiva, se manifesta com capacidade de estabelecer uma
des veículos de comunicação procuram exaltar alguns posiciona- relação da qual resulta a produção de efeitos desejados, que de
mentos reacionários sobre certas parcelas da sociedade, muitas outra maneira não ocorreriam espontaneamente. ” (Moreira, 1996
vezes relacionando a pobreza com a violência e o estupro a uma apud Silveira, 2000)
suposta conduta sexual feminina que incitaria esse tipo de crime.
Também apoiam de modo nem sempre sutil, iniciativas econômicas
A visão sobre as manifestações de 2013 por parte da grande
e políticas visivelmente negativas para a maior parte da população,
mídia brasileira foi em geral negativa, o lado contestatório foi igno-
como redução dos direitos trabalhistas, redução da maioridade pe-
rado em detrimento de uma grande visibilidade das ações dos Bla-
nal e liberação do porte de armas. Num processo de fidelização das
ck Blocks, tentando associar as manifestações ao vandalismo. Não
massas, veículos da mídia familiar como O Globo, Época, Veja, Esta-
sem motivos grandes veículos de informação como a Rede Globo e
do de S. Paulo e Folha de S. Paulo, procuram dar mais espaço para
a revista Veja foram largamente hostilizados nos eventos, demons-
pautas que atendam os anseios de grupos mais conservadores, ao
trando o descontentamento na forma com a qual a mídia retrata
mesmo tempo que reafirmam uma suposta neutralidade política,
mesmo que isso implique na redução da qualidade das notícias. certos assuntos.
Um tipo de jornalismo que, para ter vendagem, não se pauta pela As eleições presidenciais de 2014 também foram polêmicas, o
ética jornalística na construção da informação: capas vergonhosas, espírito de junho ainda estava vivo, mas foi trabalhado pelas for-
manchetes que induzem uma dada interpretação do fato que não é ças do poder, tendo perdido muito de sua força diante da falta de
dito e mesmo contradito pelo texto que se segue. Por exemplo, na comprometimento do Estado em alterar a realidade nacional. Se
história recente da cobertura jornalística da política nacional apare- em muitos momentos a onda contestatória gritava contra o siste-
cem fatos noticiados em grandes manchetes que induzem o leitor a ma partidário, em 2014 esse sentimento se encaminhou para uma
certa interpretação que, por vezes, não condiz e mesmo contradiz irrefreável polarização, trazendo novamente os velhos partidos na
o dito pelo texto que segue a manchete, numa clara intenção de disputa pelo poder.
manipulação. Como ilustração basta recordar a história do cientista A mídia brasileira apoiou o candidato do PSDB Aécio Neves,
político ligados aos direitos humanos, Leonardo Sakamoto, destro- para tal iniciou uma campanha contra o PT, o ex presidente Luís
çado por leitores a parti de notícia falsa em jornal mineiro (http:// Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Roussef. A Veja foi acusada
blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2016/02/03/dez-impac- de conspirar abertamente, tendo levado as bancas uma edição que
tos-imediatos-causados-por-uma-mentira-difundida-pela-rede/) atacava ferozmente o PT pouco tempo antes da eleição que decidi-
ou inverdades publicadas pelo jornal o Globo contra Lula em 2015 ria o segundo turno, no fim Roussef saiu vencedora com o resultado
(http://www.institutolula.org/as-cinco-vezes-em-que-o-globo-ten- apertado de 51, 64%, correspondendo a 54.501.118 votos.
tou-enganar-seu-leitor-em-2015) ou sobre o prefeito de São Paulo O saldo da eleição foi de um Partido dos Trabalhadores4 enfra-
Fernando Haddad (http://jornalggn.com.br/fora-pauta/a-menti- quecido, uma direita que não aceitava a derrota nas urnas e uma
ra-pela-edicao-esperta-de-manchetes) ou a errata publicada pelo esquerda fragmentada, com alta desconfiança da mídia. A partir de
jornal o Globo, por obrigação judicial, em relação a um dos filhos de 2015 a grande imprensa passou a fomentar uma campanha contra
Lula (http://www.ocafezinho.com/2015/11/08/globo-publica-erra- os dois principais líderes do PT, apoiados pelo empresariado e por
ta-admitindo-que-mentiu-sobre-filho-de-lula/). uma classe média com tendências cada vez mais fascistas. O resul-
O processo político singular no qual o Brasil se encontra desde tado dessa campanha desembocaria no processo de impeachment,
2013 envolve as crises do Estado Nacional, das instituições, de re- com graves repercussões políticas e um grande impacto na imagem
presentatividade e do jornalismo, além da nova realidade com as do Brasil dentro e fora de suas fronteiras.
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Em 2016 o clima de polarização política era alarmante, os gritos Outro exemplo são as políticas liberais que, muitas vezes de tão
de 2013 contra os partidos se transformaram em ecos distantes, impopulares necessitam um engodo para que a população aceite
pois a partidarização (muitas vezes velada) se tornou uma espécie retrocessos, como por exemplo, os acontecimentos políticos como
de obrigatoriedade frente aos acontecimentos. As bolhas ideológi- o 11 de setembro foram usados em favor do discurso neoliberal,
cas formadas pelo Facebook agravaram ainda mais um debate que somando-se a isso o “estado de choque” que está sempre pondo a
não acontecia, pois ambos os lados não estavam mais dispostos a democracia e os direitos humanos em cheque (Klein, 2008). A crí-
argumentar com sensatez, logo as inciativas contra Roussef e seu tica de Naomi Klein é dirigida ao economista Milton Friedman, no-
partido se transformaram em uma campanha anti-esquerda fomen- tório membro da Escola de Chicago, disseminadora do pensamento
tada sobretudo pela mídia. Um levantamento5 realizado pelo Gru- neoliberal. Em contrapartida a esse modelo econômico diversos
po de Pesquisa em Políticas Públicas de Acesso à Informação da USP economistas como Joseph Stiglitz, Armatya Sem e Paul Krugman
(GPOPAI USP), mostrou que a guerra pela narrativa havia se insta- dedicaram seus estudos a um modelo keynesiano. Na situação atu-
lado, os discursos contra e pró impeachment6 dominavam as redes al do Brasil, no contexto do governo interino de Michel Temer, a
sociais e as páginas de revistas e jornais, num monitoramento que disputa entre as duas visões de gerenciamento econômico está no
havia se iniciado quatro dias antes da votação pelo impeachment centro da disputa pelo poder político, de um lado o neoliberalis-
na Câmara dos deputados. O levantamento apontou que parte das mo que prevê cortes de gastos em áreas como a seguridade social,
notícias mais compartilhadas no Facebook entre os dias terça-feira educação e saúde, além de pouca ou nenhuma regulamentação so-
(12/4) e sábado (16/4) eram falsas. Foram verificadas 6,1 milhões bre o mercado e do outro um Estado mais atuante na economia,
de compartilhamentos na rede social e segundo o grupo mais de que deseja certo grau de regulação do mercado, cria programas de
200 mil pessoas visualizaram tais conteúdos. assistência social e favorece ações afirmativas. O governo interino,
Para aqueles que se identificam pelo espectro da esquerda po- mesmo em sua interinidade, modificou profundamente a estrutura
lítica ou simplesmente enxergavam as ações pela remoção da presi- do governo da presidenta Dilma Roussef, ao mudar ministros, ex-
dente como um golpe coube apenas tentar encontrar novas fontes tinguir ministérios e secretarias, fundir ministérios e, sobretudo,
de notícias, alguns buscando a narrativa que privilegiava o seu lado,
ao propor algumas reformas da pauta política vencida nas últimas
outros buscando independência e ética jornalística. Nesse sentido a
quatro eleições presidenciais, que diminuiriam ou prejudicariam a
blogosfera foi um refúgio para os progressistas, onde espaços como
saúde, a educação os direitos humanos, por exemplo, que não se-
blog do Sakamoto e Socialista morena, jornais eletrônicos como
riam populares, mesmo em um Brasil mais conservador. Para tal,
Diário do Centro do Mundo (http://www.diariodocentrodomundo.
com.br/), Jornal GGN (http://jornalggn.com.br/), Revista Fórum está sendo preciso usar os meios à disposição para convencer a po-
(http://www.revistaforum.com.br/), jornal 24/7 (http://www.bra- pulação sobre a necessidade e legalidade do impeachment da pre-
sil247.com/) que, dentre outros, cresceram e passaram a ser locais sidenta Dilma Roussef, em 2016, fato que, para crescente parcela da
onde uma narrativa distinta pode se consolidar em detrimento das população, está tornando evidente que os interesses do Mercado e
narrativas da grande mídia familiar brasileira sobre o poder. da grande mídia prevaleceram sobre os votos da democracia.
Em consequência, para uma parte da população o jornalismo A mídia brasileira, diferente da americana, possui grande de-
tradicional da grande mídia familiar brasileira já não os representa, pendência de dinheiro público para sua sustentação. Grande parte
mas sim uma camada social ligada ao poder e aos setores populares dos políticos possui rádios, jornais e canais de TV, como a dinastia
usados como massa de manobra. Magalhães na Bahia e os Sarney no Maranhão. Além do trio religião,
As sistemáticas crises que abateram o Brasil desde 2013 já exis- TV e política, cada vez mais popular no país, numa afronta gritante
tiam há algum tempo, porém foi a partir do momento onde a Mul- a constituição.
tidão mostrou sua força que essas crises se tornaram mais agudas.
Com o status quo sendo constantemente desafiado por parcelas [...] a ligação entre mídia e poder, resultado de uma política de
não caladas da população brasileira, coube às forças reacionárias concessões oligárquica, centralizada e nem um pouco democrática.
criar um discurso que centrava os problemas do País na administra-
ção petista, que se apresentou como o partido o maior, mais forte e De fato, a indústria da informação no Brasil é tão dependente
estruturado grupo de esquerda nacional e que liderou o presiden- de verbas públicas que chega a ser difícil chama-la de indústria. Os
cialismo de coalizão nas últimas quatro eleições. Um exemplo im- dados mais recentes mostram que apenas 10 veículos de comuni-
portante do reacionarismo que marca o governo interino contrário cação concentravam 70% dos R$ 161 milhões que o atual governo
à presidente Dilma Roussef é o Projeto Escola Sem Partido8, que repassou aos veículos [...] a mídia mantém uma relação quase
supostamente visaria combater a catequização ideológica por parte incestuosa com os centros do poder, característica de um sistema
dos professores de esquerda sobre os estudantes, se a mídia já es- que nunca foi realmente questionado desde o fim da ditadura mili-
tava entregue ao poder desde seu nascimento, a escola, porém, é tar. (Rodrigues, 2013, p. 141)
um ambiente de multiplicidade e mais difícil de ser controlado, que
abarca ideologias distintas e nela existe um importante ator social,
É possível afirmar que o desencantamento do processo político
o professor, que se distingue dos demais por possuir em geral uma
e a desconfiança sobre grande parte dos veículos midiáticos estão
ampla consciência de classe.
acelerando a crise da indústria da informação no Brasil. Fontes de
informação alternativas têm adquirido cada vez mais espaço para
Para o exercício continuado do poder, faz-se fundamental
dispor dos meios de comunicação de massa comprometidos com muitos brasileiros, sendo cada vez mais compartilhadas nas redes
a manutenção do “sistema” e de um sistema educacional que per- sociais, o que ajuda na construção de um pensamento/narrativa em
petue o pensamento dominante, de forma que o condicionamento contraposição ao formulado e disseminado pelos grandes grupos
seja cada vez mais implícito que explícito. O poder da imprensa, do midiáticos brasileiros.
rádio e da televisão deriva, como o da religião, da organização; seu Mesmo com a quase hegemonia da indústria da informação
principal instrumento de imposição, como o da religião, é a crença tradicional existe certa negação ao stablishment que perpassa vi-
– o condicionamento social. (Silveira, 2000, p. 04) sões ideológicas, as organizações GLOBO, por exemplo, sofrem
grande resistência da esquerda pela defesa do Estado mínimo e por
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apoiar medidas repressivas que atinjam diretamente a população Se o modelo econômico é capaz de alterar de maneira tão
mais carente. Uma parte da direita, de cunho mais religioso, a críti- acentuada as estruturas sociais como defendem Rodrigues, Polanyi
ca por ser mais aberta em questões sociais que envolvem gênero e e Fromm, é de se esperar que seus instrumentos de ação sejam efi-
mesmo os direitos humanos. Essas questões até o presente nunca cazes em seu objetivo de moldar a mentalidade para uma adapta-
foram o suficiente para gerar algo mais concreto, mas a resistência ção no comportamento que seja mais útil para o modelo vigente e
ao maior símbolo da oligarquia midiática do país começa a alterar a prepará-las para mudanças que normalmente seriam consideradas
disputa pelo poder na mídia, tendo a audiência televisiva mudado inaceitáveis sem um completo e elaborado exercício de convenci-
muito nos últimos anos, abrindo espaço para novos concorrentes. mento e distorção da realidade.
Não é possível afirmar sobre uma futura recusa a mídia tradi- A indústria da informação então se coloca como instrumento
cional no mesmo modo como acontece hoje com os partidos, uma de manutenção das estruturas sociais vigentes, defendendo o dis-
vez que a capacidade e flexibilidade da mídia de se reinventar são curso neoliberal e influenciando as decisões políticas que poderiam
superiores à dos partidos políticos. O jornalismo profissional ainda resultar em uma mudança drástica na realidade. Como vários ou-
é e continuará sendo por muito tempo a principal fonte de infor- tros aspectos da vida humana esse ramo industrial se encontra em
mações, e a maneira pela qual a notícia é construída ganhará cada uma grave crise que já altera de maneira indubitável seu posicio-
vez mais relevância numa realidade onde a superabundância de in- namento dentro das complexas redes de relações de poder tecidas
formações já se faz presente e tem sido cada vez mais criticada e desde a crise do petróleo na década de setenta.
observada. Para Noam Chomsky os anos sessenta foram um momento sin-
A liberdade jornalística está diretamente relacionada à demo- gular nas lutas pelos direitos sociais, com forte posicionamento dos
cracia, sendo que a sua existência ou não serve de termômetro movimentos sociais nos mais diversos fronts. Sendo ainda estrutu-
para medir a qualidade democrática de vários países. Ramos como rada pelo Estado de bem-estar social, o mito do sonho americano
o jornalismo investigativo são imprescindíveis para o bom funcio- pode prosperar com força, pois existiam mecanismos capazes de
namento de uma nação, sendo visto por muitos como uma arma gerar modificações reais na vida da população. A mudança econô-
diretamente contra os abusos e ilicitudes do Estado e em alguns mica para o neoliberalismo desencadeou já citadas forças que mo-
casos do Mercado. A partir do documento da Universidade de Co- dificaram o comportamento humano, Chomsky percebe essas mu-
lumbia citado anteriormente, Rodrigues discute a importância do danças e a influência delas sobre a direção dos Estados, sua visão
jornalismo no presente. sobre o “Terrorismo de Estado” converge com a ideia de “Estado de
choque” de Klein, onde discursos que possibilitem a violência do
[...] eles querem dizer que nem todo jornalismo importa, e Estado sobre a população civil ou outras nações são construídos e
que muito do que é produzido hoje é simples entretenimento ou difundidos pela indústria da informação, sendo mais um exemplo
diversão. Por isso, para definir jornalismo adotam a famosa frase: da real ligação entre o informar e o poder estabelecido. Para Klein
‘Notícia é alguma coisa que alguém em algum lugar não quer que o modelo neoliberal abre uma exceção para o Estado mínimo na
seja impresso. O resto é publicidade’. (Rodrigues, 2013, p. 141) área da segurança, parte da imprensa parte então a construir uma
A mudança na indústria da informação já afeta de modos sin- narrativa que legitime um Estado policial, preparado para coibir as
gulares os leitores, hoje já existe uma exigência relativa a análise reivindicações da população em geral e mais fortemente aquelas
da informação, já não basta saber que algo aconteceu, é preciso parcelas ligadas aos movimentos sociais, realidade que pode ser
interpretar o fato, apresentar suas fontes e ser capaz de argumentar vista atualmente com a excessiva brutalidade das forças de segu-
com o ponto de vista diretamente contrário. Se as cidades são es- rança de São Paulo sobre estudantes que decidiram ocupar os es-
paços de separação, onde os indivíduos convivem em determinados paços escolares na cidade.
nichos caracterizados por condição econômica e outros fatores, no Ainda é impossível responder sobre o futuro da mídia tradicio-
espaço online essas divisões se tornam mais fluídas, possibilitando nal ao que já é conhecido como Quarta Revolução Industrial, uma
uma maior interação entre os indivíduos, pois mesmo nas bolhas vez que a lógica pós-fordista tende a se tornar a nova visão hege-
ideológicas das redes sociais o pluralismo de visões políticas se faz mônica no Mercado. Ao longo da história moderna, o capitalismo
presente. O confronto inevitável leva os internautas aos debates, ensinou que é mais fácil assimilar o inimigo do que derrotá-lo, desse
“armados” da melhor maneira possível para tentar convencer o modo é possível que novas estruturas de poder sejam tecidas no
“outro” com seu pensamento distinto. ciberespaço, de modo que os mesmos privilegiados continuem a
O processo de fidelização das massas como recurso para man- determinar o fazer jornalístico e informacional. Neste sentido, é im-
ter ou aumentar a audiência também tem causado impactos, cons- portante atentar para a grande consciência de classe que as elites
truindo uma sociedade anti-intelectual, mediante a superficialida- possuem, a qual permite a construção de reações eficazes a curto
de do que é veiculado. O resultado, a longo prazo, poderá ser o prazo sobre as mudanças do presente, vislumbrando possibilidades
aparecimento de uma sociedade incapaz de sustentar o debate de- na resolução da crise jornalística que privilegiam a questão dos lu-
mocrático, a negação do conhecimento acadêmico e uma rejeição cros sobre a da ética, investindo cada vez mais no setor digital e
nociva aos direitos humanos. acelerando o processo de fidelização das massas, alimentando a
As análises de Rodrigues sobre as mudanças no pensamento polarização política e aumentando o desgaste sobre a democracia.
e no comportamento humano podem ser comparadas ao pensa-
mento de Karl Polanyi, para quem uma natureza pré-moderna foi O Estado na Era da Informação: O espaço público na revolu-
modificada no decurso da construção da economia de mercado. As ção digital
relações entre economia e sociedade são mais estreitas do que se Cidades: Os desafios do espaço urbano em tempos globali-
normalmente supõe, a partir da década de setenta a Europa e os zados
Estados Unidos passaram a aplicar uma forma de economia contrá- O espaço urbano tem estado em constante transformação ao
ria aos princípios Keynesianos, que caracterizaria a sociedade pós- longo da história, adaptando-se ou moldando as relações sociais e
-industrial. As mudanças não se restringiram apenas ao Mercado, econômicas. Mesmo estando à sombra dos Estados Nacionais, as
a mentalidade coletiva foi afetada diretamente, sendo facilmente cidades sempre conseguiram influir de maneira decisiva nos acon-
observável o gerenciamento das forças econômicas sobre a política tecimentos, promovendo mudanças profundas nas sociedades e se
e a cultura, (Polanyi, 1944). tornando o centro principal da vida humana.
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Se a municipalidade é diminuta e dependente das demais re- As modificações ocorridas no Rio de Janeiro buscavam redefinir
des estadual e federal, sobre as quais não possui quase nenhum po- a cidade nos moldes das grandes metrópoles europeias, mais pró-
der de controle, as cidades também se apresentam como o cosmos ximas do ideal de civilização vigente na época. A ideia de cidades
perfeito para a interação do indivíduo com o poder público, tendo como modelo de desenvolvimento a ser seguido é recorrente na
esse espaço autonomia suficiente para planejar e direcionar o seu história, porque algumas urbes privilegiadas que influenciam na ar-
futuro. Já o poder central apresenta-se como distante e excessiva- quitetura e na gestão pública de diversas regiões.
mente burocrático, o que dificulta a aproximação do cidadão. Na atualidade grandes metrópoles como Nova York, Londres e
Entender a cidade contemporânea como um ator essencial na Tóquio são os exemplos máximos de cidades modernas e globaliza-
dinâmica entre o indivíduo e o Estado se faz cada vez mais neces- das, possuindo bolsas de valores de impacto internacional, grande
sário, tendo em vista a evolução histórica desses espaços e suas número de transações financeiras, mão de obra altamente qualifi-
estratégias atuais para promover o desenvolvimento das mais di- cada e a presença de multinacionais. Essas cidades se destacam não
versas formas. Como polo de excelência do fazer democrático e da apenas pela sua infraestrutura para os negócios, mas também pelo
cidadania a cidade pode ser problematizada em seus aspectos eco- seu caráter multicultural e por criarem políticas públicas diretamen-
nômicos, culturais e sociais, pois é nela onde o indivíduo goza de te voltadas para a realidade local da municipalidade.
seus direitos e procura mudar as estruturas de dominação erigidas A cidade de Nova York mantém há muitos anos o título de
para o conter. maior cidade do mundo, sua influência é vasta e se pode compará-
Para o arquiteto e historiador Guilherme Wisnik (2009), a cida- -la com a de Paris do século XIX. Para chegar a se tornar o modelo
de é um lugar de conflitos, pois a harmonia total no espaço público de referência de cidade global teve que através de sucessivas admi-
é uma ideia utópica. Sendo o espaço urbano o local propício para as nistrações traçar planos para driblar os desafios urbanos modernos,
tendo alguns de seus líderes políticos se destacado nesse processo.
novas disputas e táticas de resistência na era da informação.
Rudolph Giuliani foi prefeito de Nova York de 1994 a 2001,
O choque direto entre cidadãos e o Estado é classicamente re-
nesse período procurou combater a grande violência presente na
presentado pelas lutas nas ruas da cidade, a transformação de Paris
cidade desde a década de oitenta, empregando novas táticas de
realizada pelo arquiteto Georges-Eugène Haussmann no século XIX
combate à violência e procurando revitalizar a economia local. O
possuía claros fins estratégicos em limitar o sucesso de levantes po- político republicano teve sucesso em sua empreitada, modelando
pulares. a imagem da cidade como moderna e globalizada, servindo de re-
ferência para a gestão pública local. Nova York continuaria ditando
A haussmanização (...) é uma resposta: ela se enraíza nas tendências, em 2013 Michael Bloomberg iniciaria o primeiro de três
pressões múltiplas que agitam a cidade no início do século, pres- mandatos como prefeito da cidade, dando continuidade às políti-
são demográfica e pressão econômica que impulsionam o jogo cas de segurança pública de seu antecessor e aplicando medidas
dos valores urbanos, o preço do solo ou dos imóveis. A doença e o de saúde pública polêmicas, que incluíam restrições ao fumo e co-
medo social, a cólera e a revolta não são senão a parte mais visível midas transgênicas, a proibição do cigarro em estabelecimentos de
de uma cidade que crepitava por todos os lados. (RONCAYOLO, La alimentação foi amplamente imitada ao redor do mundo.
Production, p.74 apud PESAVENTO, 1999, p. 89) Em 2014 os democratas conseguiram eleger Bill de Blasio como
prefeito, trazendo críticas ao modelo de segurança das gestões an-
Para Pesavento (1999), a transformação da capital francesa teriores, prometendo aumentar os impostos dos mais ricos e com-
possui ecos das cidades barrocas, como Roma do século XVI, sendo bater a desigualdade, estando atento às demandas dos novos tem-
que ideias parecidas já tinham sido adotadas por Luís XVI no século pos e deixando Nova York à frente das grandes discussões políticas
XVIII. O modelo parisiense foi imitado e reinventado em diversas para as cidades.
partes do mundo, adaptando-se as necessidades dos governantes O sucesso de Nova York sobre a alta criminalidade e mesmo
locais. sobre as sequelas dos atentados terroristas de 11 de setembro,
Há muito tempo as cidades já possuem uma ligação direta ba- advém da capacidade de seus gestores criar mecanismos de res-
seada na influência, a Paris de Napoleão III representava um modelo posta aos problemas urbanos contemporâneos, além da força de
civilizatório a ser seguido e as demais metrópoles estavam atentas vontade política para a manutenção do status de grande metrópole
tanto as questões sobre segurança e higiene como o embelezamen- global ao qual Nova York goza. A criação de políticas próprias para
to artificial do espaço, influenciado pelo Darwinismo social9, um os problemas comuns das grandes cidades se faz extremamente
sistema de pensamento que subverteu as ideias de Charles Darwin necessária numa realidade onde as NTIC deixaram o cidadão mais
procurando justificar o controle de indivíduos por outros. preparado para exigir da gestão pública o compromisso no comba-
te as mazelas sociais. Estar atento as mudanças e ser capaz de se
Como exemplo do intercâmbio de ideias e da influência da Pa-
reinventar sem perder o lado positivo de sua tradição é o grande
ris de Hausmann sobre outras cidades pode-se destacar o Rio de Ja-
desafio das metrópoles mundiais que desejam um lugar no seleto
neiro do início de século XX. O engenheiro Pereira Passos foi o pre-
grupo de cidades influentes sobre o planeta.
feito da cidade entre 1902 e 1906, altura em que realizou mudanças
O caso de Nova York é exemplar, mas não único. Tóquio pos-
profundas no Rio, deixando um legado ambíguo para a cidade. sui um sistema administrativo singular, atento a realidade da região
A ideia de civilização presente no ideário de Pereira Passos era metropolitana mais populosa do mundo. Lideranças municipais
atinente a uma série de valores desenvolvidos pela sociedade eu- possuem certo grau de autonomia, principalmente no que se re-
ropeia ao longo da modernidade. Consistia fundamentalmente na fere aos serviços públicos, já questões legislativas ficam a cargo do
manutenção de uma civilidade urbana burguesa – na qual a ideia poder provincial. Londres por sua vez ocupa um lugar de destaque
de individualidade e de uso regulamentado do espaço público pe- nas finanças internacionais, além de possuir uma grande e eficiente
los agentes privados da cidade jogavam um papel fundamental; no infraestrutura urbana, sobretudo em relação ao sistema de metrô e
fomento à atividade estética e cultural, na reverência a um passa- aviação civil. Além de ter ao seu dispor o eficiente sistema de saúde
do e no respeito à lei e à ordem pública estabelecidas pelo Estado pública inglesa a cidade também é conhecida pelo perfil multicul-
através de uma elite política ilustrada. (AZEVEDO, 2003, p. 23) tural, tendo eleito em 2016 Sadiq Khan, um muçulmano de origem
paquistanesa, para o cargo de prefeito.
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ATUALIDADES
As características citadinas ajudam a compor os perfis particu- des asiáticas demonstraram que, no mundo da economia global, a
lares de cada região, fornecendo uma “personalidade” as cidades, velocidade da informação sobre os mercados internacionais e de
destacando-as das demais e dando a elas um status que em inúme- adaptação aos mesmos, a flexibilidade das estruturas produtivas
ros casos supera o de diversas nações. Poder-se-ia dizer que Paris é e comerciais e a capacidade de inserir-se em redes, determinam o
mais famosa do que a França, seus boulevares são mais conhecidos sucesso ou o fracasso, muito mais do que as posições adquiridas no
que as províncias francesas, seus museus e monumentos históricos passado, o capital acumulado, as riquezas naturais ou a situação
ajudam a convergir o forte movimento turístico tão característico geográfica. O segredo reside na velocidade de inovação do conjunto
da cidade. O perfil do cidadão parisiense é usado como simplifica- das pequenas e médias empresas articuladas com as grandes em
ção para se entender todos os franceses, uma vitrine nacional tão rede com o exterior e com poder político no interior. Este último as-
influente que aglutina toda a atenção para si. segura importantes funções de informação e promoção, e dá ga-
A construção da ideia do espaço urbano como um centro autô- rantias de ordenamento e prestação de serviços do sistema cidade,
nomo é antiga, o exemplo clássico é a cidade-Estado grega, um mo- visto que, logicamente, o tecido econômico e o tecido urbano se
delo administrativo da Grécia antiga em que cidades como Atenas, confundem. O poder político urbano, no caso das cidades asiáticas,
Esparta, Corinto, Tebas e etc., conviviam como autênticos microes- desenvolveu, ao contrário da Europa, um modelo com baixos custos
tados, cada qual com seu próprio governo e leis. As cidades da Liga gerais, porém com altos custos sociais, o que parece não poder ser
Hanseática também se destacaram, sendo que no período medieval suportável por muito tempo, pois sua persistência introduz fatores
controlavam uma extensa rede comercial que só entraria em declí- de dissuasão para a atratividade da cidade e não qualifica suficien-
nio com o início das Grandes Navegações. A partir do surgimento temente os recursos humanos. (CASTELLS, 1996, p. 02)
dos Estados nacionais as cidades passaram a ter um papel coadju-
vante na política, com raras exceções como as cidades da península Castells mostra que o desenvolvimento das metrópoles asiáti-
itálica e de algumas regiões do Sacro Império Romano-Germânico. cas se deu de forma diferente daquela das cidades europeias, de-
Se a realidade da Idade Moderna favoreceu os Estados centra- monstrando a existência de uma competição tão acirrada quanto a
lizados, a globalização parece favorecer as dinâmicas flexíveis das existente entre os países e que existem diversas formas para alcan-
cidades contemporâneas. Num mundo de fronteiras enfraquecidas çar um patamar mais elevado entre as cidades globais. O sucesso
a rigidez das nações se torna um empecilho para as forças do Mer- asiático também se deve ao alinhamento entre o governo central
cado, as grandes multinacionais procuram a flexibilidade necessária em determinadas regiões para impulsionar o desenvolvimento vi-
para maximizar os lucros, e entendem as cidades como plataformas sando também o favorecimento do país. Dubai é um exemplo do
perfeitas para sua instalação, garantindo competitividade e uma que o alinhamento entre tais poderes é capaz de realizar, colocando
área de negócios mais abrangente. a cidade em disputa direta com os mais influentes centros econô-
Diante do ressurgimento do protagonismo das cidades é na- micos do mundo, atraindo a atenção internacional para todos os
tural que o número de estudos sobre elas tenha aumentado e se
Emirados Árabes Unidos. A Arábia Saudita tem se esforçado para re-
desenvolvido das últimas décadas, demonstrando que esse antigo
modelar sua capital Riad, tentando atrair para si uma imagem mais
ator social e político volta ao centro das discussões de poder, servin-
moderna, em franca dissonância com a realidade do país, servindo
do muitas vezes como um termômetro da riqueza, desenvolvimen-
como um produto de marketing, de maneira artificial e exagerada-
to e cultura de um país.
mente grandiosa.
O estudo mais abrangente sobre as regiões metropolitanas e
A “personalidade” de uma cidade não pode ser erigida de ma-
a criação do termo megacidades são exemplos de um aumento na
neira artificial, ela é construída através da história pelos seus ha-
visibilidade do poder municipal. Porém foi o termo cidade global,
bitantes, fazendo da memória e da experiência do modo de vida
originado do pensamento de Patrick Geddes, já no início do século
XX, que se tornaria o mais afamado. A releitura da socióloga Saskia urbano particular seus arcabouços principais. A Revolução dos
Sassen na década de 1990 se tornou influente no cenário interna- Guarda-chuvas, como ficou conhecido uma série de protestos em
cional, definindo as características que tais cidades deveriam pos- Hong Kong no ano de 2014, foi uma tentativa por parte da popu-
suir para almejar o título de global. lação Honconguêsa de impedir reformas eleitorais por parte do
governo em Pequim, que visavam atingir as eleições locais, dimi-
“[...] um dos setores em crescimento de relevância na economia nuindo consideravelmente a liberdade da região. Hong Kong é
global, os serviços, passa a ser o ponto de concentração e compe- uma cidade singular na China, sendo uma das duas únicas regiões
tição nos termos de Sassen– firmas jurídicas, propaganda, relações administrativas especiais no país, exemplo da ideia de “um país,
públicas, imobiliárias, turismo e entretenimento, [...]. ” (SASSEN, dois sistemas”, idealizado por Den Xiaoping, naquela altura secre-
2001 apud MALTA, 2008, p. 02). No século XVIII Manchester era tário-geral do Partido Comunista Chinês. Hong Kong esteve sob o
capaz de rivalizar em importância com Londres, devido ao seu par- domínio imperial britânico desde a Guerra do Ópio, no século XIX,
que industrial em desenvolvimento durante a Revolução Industrial. tendo sido devolvida à China em 1997, sob condições especiais. A
No século XXI as grandes indústrias mudaram-se para regiões mais autonomia política da região demonstra a existência de um enclave
afastadas dos grandes centros, sendo que cidades como a capital in- democrático dentro do território chinês, muito menos tolerante a
glesa preferem atrair escritórios de grandes empresas e instituições interferência direta de Pequim, daí a reação revolucionária diante
financeiras. A nova dinâmica econômica faria vítimas como Detroit, de propostas restritivas a liberdade.
nos Estados Unidos, que perderia sua favorável posição diante da A gerência de uma cidade não raramente entra em conflito
flexibilidade de novos mercados como o japonês. com a posição do poder central, Castells (1996) observa que as ci-
dades americanas tiveram um protagonismo na área econômica a
Em outros continentes, o protagonismo econômico das cidades partir da década de setenta, com o neoliberalismo sob o coman-
é ainda mais evidente, especialmente na Ásia: Seul, Taipei, Hong- do de Ronald Reagan, indo até a era de George W. Bush. Naquele
-Kong, Cingapura, Bangcoc, Shangai, Hanói etc. Difundem-se as contexto, programas de assistência social foram sendo extintos e a
estatísticas econômicas das cidades e nelas se dá uma forte com- desindustrialização, já citada no caso de Detroit, acabou por afetar
plementaridade entre o governo da cidade e o conjunto dos agentes fortemente os empregos. O autor chama a atenção para a reação
econômicos, todos orientados para os mercados externos. As cida- de certas cidades diante desse quadro, dando destaque para as
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ATUALIDADES
cidades de Los Angeles, São Francisco, Seattle e a própria Detroit, Outros exemplos notáveis são, Los Angeles, 1984; Seul, 1988;
além de estados como a Flórida e o Wisconsin. As reações dessas Atlante, 1996; Sidney, 2000. Todas essas cidades se beneficiaram
regiões diante de políticas neoliberais iam desde ações econômicas amplamente das olimpíadas, sendo o evento um catalizador para o
até soluções para os problemas urbanos como extrema violência e desenvolvimento regional.
infraestrutura deficiente. A cidade do Rio de Janeiro também procura obter saldos po-
sitivos do evento, apesar do ceticismo quanto o legado da infraes-
Cidades como Los Angeles, São Francisco, Detroit, Seattle etc. trutura, possivelmente a cidade conseguirá elevar o seu soft power,
— assim como os estados da Flórida e Wisconsin — demonstraram, característica que faz da cidade a mais conhecida do Brasil pelo
simultaneamente, mediante planificação estratégica e cooperação mundo e um chamariz turístico para o país.
público-privada, o potencial negativo da aberrante política neolibe- Assim como na era de Pereira Passos, o Rio de Janeiro se pre-
ral e a capacidade de resposta das cidades. A grande manifestação para para mudanças estruturais importantes. É possível perceber
convocada pelos prefeitos, que reuniu em Washington meio milhão semelhanças com o passado ao notar que as áreas mais destacadas
de pessoas, anunciou, em 1992, o declínio de Bush e o início de no- para os jogos são já regiões nobres com alto índice de desenvolvi-
vas políticas para as cidades: novas infra-estruturas, “enterprises mento, além disso mais uma vez a região portuária se destaca como
zones”, relançamento de programas sociais baseados na geração o local central para a mudança estética da cidade.
de emprego, na educação, na assistência sanitária pública, na pro- Um evento internacional da magnitude dos jogos olímpicos
teção do meio ambiente urbano etc. (CASTELLS, 1996, p. 03) possibilita a continuação do projeto de construção de uma identida-
de municipal que inclui uma ideia de multiculturalismo e de brande
Somando-se aos exemplos citados é importante incluir o es- beleza local. Porém, também aumentam as chances para que o lado
tado da Califórnia como região que, diferente dos estados brasilei- negativo da cidade seja exposto de modo global, como já acontece
ros, goza de grande dose de autonomia para gerir seu território. em torno da questão do surto de Zica, a alta taxa de criminalidade e
Também afetada pela diminuição do Estado na década de seten- os problemas relativos a estrutura urbana.
ta, a Califórnia procurou se reinventar para driblar os problemas Os projetos municipais de desenvolvimento atualmente se de-
econômicos, atraindo grandes empresas de tecnologia, apostando frontam com a questão em torno da revolução informacional, com
fortemente em energia renovável e na educação, simbolizada pela novas demandas para a integração e uso das redes.
Universidade do Estado da Califórnia, uma instituição pública que é
recordista de Prêmios Nobel. A cidade é constituída por redes, sejam elas intangíveis, como
as redes sociais, econômicas ou políticas, ou físicas e materiais,
[...] a sensação de crise que provocou, em algumas cidades, como as redes viárias, ferroviárias, de água ou de luz. A sociedade
uma reação conjunta do governo local e dos principais agentes contemporânea viu o nascimento de uma nova grande rede, que
econômicos na realização de uma transformação da infraestrutura excedeu os limites urbanos e até mesmo as barreiras nacionais:
urbana para facilitar a passagem do modelo industrial tradicional a Internet. Observa-se na cidade informacional a digitalização de
para o de centro terciário qualificado. muitas dessas redes, transconfigurando-as de materiais para bits
e bytes. Em seu conjunto compõem uma grande rede virtual, po-
Este é o caso de Birmingham: mediante um Plano Estratégico
tencializando assim o fluxo do que vem sendo considerado o mais
que obteve um importante apoio da Comunidade Européia, Birmin-
importante insumo desta era: a informação. (JAMBEIRO; SOUZA,
gham renovou o seu centro urbano e converteu-se na mais dinâmica
2005, p. 12)
cidade inglesa. Outras cidades, como Amsterdã ou Lyon, se adian-
taram à crise e, mediante vastos planos estratégicos, promoveram
Os autores apontam para a realidade contemporânea, onde di-
as mudanças de infra-estrutura e imagem para se adequarem às
versas redes se entrecruzam para formar a cidade contemporânea,
novas demandas da economia global e da competitividade interna-
de fato o uso da internet já é tão disseminado que não é mais pos-
cional. Em outros casos, a impotência do governo local impediu a
sível se referir ao espaço virtual como o oposto da realidade. Para
conversão das propostas estratégicas em linhas de atuação, como o
“Projetto Milano”. (CASTELLS, 1996, p. 04) Egler as redes virtuais se compõem ao lado, não do real, mas do vi-
tal, assegurando a existência das redes como uma realidade irrever-
Momentos de crise não são os únicos a inspirar cidades rumo sível e inseparável da rede vital, complementando-se na construção
a um planejamento de longo prazo, pois eventos internacionais são do espaço urbano atual.
de grande impacto para o desenvolvimento urbano. Dois eventos
principais podem ser destacados como os mais relevantes para a A metáfora da rede é muito oportuna, porque representa uma
mudança estrutural de uma cidade ou mesmo para a tentativa de articulação de nós, conectando elementos singulares que se arti-
um país de criar em torno de si uma imagem positiva, são eles a Ex- culam para formar uma totalidade. Os fluxos de comunicação for-
posição Universal e os Jogos Olímpicos de Verão. Esse último gran- mam um tecido atemporal e aterritorial que define novas formas de
de impacto na imagem de suas anfitriãs, fortemente usado ao longo aglomeração de objetos e pessoas. Por isso o espaço na sociedade
da história por diversos líderes e países em busca de repercussão informatizada deve ser percebido como uma sobreposição de redes
internacional e símbolo de disputa durante a Guerra Fria. vitais e virtuais que tem objetos compartilhados de ação para o de-
As cidades, como verdadeiras protagonistas dos jogos olím- senvolvimento de objetivos econômicos, políticos e culturais. Pode-
picos, recebem grande destaque, esse momento foi largamente mos ver, então, que a rede virtual forma um novo tecido social que
aproveitado em algumas ocasiões, um exemplo paradigmático é se sobrepõe à rede vital, transformando-o. Está claro que existem
Barcelona, nas Olimpíadas de Verão de 1992. O forte investimento redes que se formam e funcionam dentro da Internet, mas apenas
em infra-estrutura combinado com o marketing certeiro, que focava dentro delas; para nós interessa observar as diferentes origens que
na historicidade e cultura local, deixaram legados duradouros na conformam as redes. O fato é que não é possível separar uma da
região. A cidade espanhola ganhou projeção internacional, seus outra e esse é um ponto indubitável para sustentar nossa posição
monumentos passaram a ser admirados mundialmente e alcançou no debate. (EGLER, 2009, p. 02)
uma posição de destaque capaz de rivalizar com a capital Madri.
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ATUALIDADES
A mesma autora ainda analisa a diversidade das redes, aten- [...] é a cidade da cibercultura, preenchida e complementada
tando para a conexão entre o público e o privado, formando inicia- por novas redes telemáticas — e as tecnologias daí derivadas, in-
tivas comuns para o sucesso do desenvolvimento regional, fazendo ternet fixa, wireless, celular, satélites etc. — que se somam às re-
também do capital um investidor importante para a cidade. “[...]as des de transporte, de energia, de saneamento, de iluminação e de
novas tecnologias permitem uma mediação interativa entre Esta- comunicação. Devemos compreender a cidade-ciborgue como um
do, capital e sociedade; e permite a realização de políticas urbanas, híbrido, composto de redes sociais, infra-estruturas físicas, redes
tanto para o exercício da dominação como da libertação. ” (EGLER, imaginárias (Westwood e Williams 1997), constituindo um orga-
2009, p.11) nismo complexo, cuja dinâmica está atrelada às novas tecnologias
da cibercultura, próximo da metáfora do ciborgue (Lemos 1999). A
Para Castells (1992) a cidade informacional é o espaço privile- cidade sempre foi um artifício e hoje essa artificialidade está presa
giado onde os cidadãos passam a interagir com o poder político de nas garras do digital. (LEMOS, 2007, p. 130 – 131)
modo diferenciado, graças as NTIC e os grandes avanços nos canais É impossível desassociar o espaço urbano da realidade digital,
de comunicação entre o Estado e a população. Transformações de as transformações pelas quais as cidades estão passando são o re-
cunho social, político, econômico e cultural se tornam realidade flexo de uma nova realidade, que se sedimenta de forma contrária
frente a liquidez contemporânea, que afeta hierarquias e altera a as visões sociais e econômicas do passado. Se os mais diversos as-
burocracia. pectos da vida humana sofrem influência das NTIC é natural que o
espaço onde se dá a vivência humana também seja alterado.
O cerne da questão é refletir sobre a perda de centralidade vin-
culada à emergência das tecnologias que, ao criarem formas alter- As novas tecnologias de comunicação e informação têm trans-
nativas de ação, comunicação e mobilização social, promovem um formado vários segmentos da sociedade contemporânea, fazendo
reordenamento da forma de organização hierárquica, verticalizada com que diversos analistas tenham sugerido classificar a época
e autoritária do Estado. Trata-se, pois, de conhecer o modo como como sociedade pós-industrial, sociedade pós-moderna, sociedade
se transformam as relações de interação entre Estado e socieda- da informação ou informacional, cibercultura, sociedade em rede
de pela mediação de tecnologias de comunicação e informação. etc. Embora a compreensão da condição contemporânea não seja
(EGLER, 2009, p.15) unânime, podemos dizer com alguma coerência que o que está em
As mudanças sociais hoje têm como seu epicentro as cidades, jogo são modificações espaço-temporais profundas que alteram,
essas se reconfiguram procurando adaptar-se com sucesso as exi- remodelam e inovam a dinâmica social. Trata-se do surgimento da-
gências de um mundo globalizado e de uma Multidão conectada, quilo que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chamou de “mo-
capaz de expressar por diversos canais seus desejos e frustrações dernidade líquida”. (LEMOS, 2007, p. 130)
sobre a administração pública.
As transformações se dão principalmente da mescla dos espa-
Segundo Lemos (2001) a cidade digital é um complemento a
ços vital e virtual, produzindo uma cidade atrelada a cibercultura
estrutura física urbana, garantindo redes que permitem o fluxo da
e mostrando de maneira mais incisiva as modificações nas noções
informação e da realidade sociopolítica. Vital e Virtual se confluem
de tempo e espaço geradas pelas novas tecnologias. As transfor-
garantindo espaços de ação para as pessoas, fazendo da cidade con- mações sociais em curso estão diretamente ligadas a essa nova re-
temporânea o espaço central para as mudanças sociais. alidade, “[...] questões como cidades virtuais, governo eletrônico,
cibercidadania, exclusão e inclusão digital, ciberdemocracia, ques-
Cidades: A cidade contemporânea como o território da Multidão tões essas urgentes para a compreensão da cibercultura do século
A cidade digital é mais um termo para se compreender as nu- XXI.” (LEMOS, 2007, p.132)
merosas e profundas transformações que ocorrem no espaço urba-
no, diversas questões se apresentam diante de um cenário globali- É a realidade pós-industrial que forja a nova dinâmica urbana, a
zado, que vê na tecnologia uma oportunidade para superar velhos informação se torna um elemento privilegiado, bem como as novas
problemas e encontrar soluções adequadas para uma adaptação formas de comunicação que possibilitam ao indivíduo acompanhar
inevitável acerca dos novos modos de gerenciamento do território. a liquidez contemporânea.
Mobilidade urbana, segurança pública, conectividade e reno- A conectividade é um tema recente no debate sobre o urba-
vação da cidadania são alguns pontos que fazem da cidade um qua- no, mas demais tópicos são tradicionais para o entendimento da
dro menor das questões políticas que atualmente dominam a pauta dinâmica urbana, a segurança, por exemplo, é um tema comum as
de notícias. É nessa cidade digital onde a contestação as estruturas cidades, ela também tem o seu papel na modificação do espaço e
de poder se dá de modo mais enfático, também é nesse espaço agir do indivíduo.
onde o indivíduo se articula procurando exercer seus direitos e sua
vontade. É importante então entender como a cidade digital afeta A cidade tornou-se tão violenta que as pessoas preferem perder
o cotidiano da população e qual o seu papel diante das transforma- a liberdade, em troca da pretensa garantia de segurança. A escolha
ções sociais em curso. perversa é a de que preferimos não ser cidadãos livres, mas estar-
O presente tecnológico que modifica a cidade tem sido muito mos protegidos. Os territórios-fortaleza nas cidades transformam
estudado, gerando diversas interpretações e nomes para o fenôme- espaços públicos e privados em lugares de aprisionamento. Muitas
no, cidades digitais, cidade informacional, cidade-ciborgue, ciberci- iniciativas vigilantes criam o quadro geral de aprisionamento coleti-
dade, muitos são os termos para compreendê-las. Para Lemos esse vo no qual os habitantes das cidades não só se acostumaram, como
passaram a julgar racionalmente desejável, face ao sentimento de
novo tipo de cidade se baseia no entrecruzamento de tecnologias
segurança proporcionado. Nas cidades violentamente protegidas
fundamentais.
e vigiadas, o próprio corpo tende a tornar-se também hermético
e impermeável a outros corpos. Considerando que as cidades são
feitas das relações que as constituem, torna-se coerente pensar na
metáfora da cidade como um corpo que se esquarteja, buscando
tornar-se imune a si mesmo. (CARRANO, 2002, p. 05 – 06)
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ATUALIDADES
A violência urbana é hoje um elemento fundamental para se feminina e sua relação com o estupro dividiram a opinião pública,
compreender a dinâmica da cidade contemporânea. É na metró- mostrando também que até mesmo os profissionais de segurança
pole onde os mais variados tipos de indivíduos são compelidos a baseiam seu trabalho sobre pressupostos preconceituosos como
interagir, numa convergência de comportamentos, pensamentos ficou claro na conduta do delegado Alessandro Thiers, da Delega-
políticos, ideologias e expressões culturais, que por um lado trazem cia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), que durante os
diversidade a cidade e por outro afloram a desconfiança em relação depoimentos fez perguntas relativas a vida sexual da jovem, ques-
ao “diferente”. tões que não são pertinentes ao processo de investigação, sendo
A hierarquização social inerente ao capitalismo se revela de afastado do caso.
modo brutal na cidade, os excluídos andam ao mesmo lado dos me- A violência também é apropriada pela Mídia, pelo Estado e por
nos afortunados e dos mais abastados. Espaços se tornam símbolos seguimentos do mercado que veem oportunidade de lucro em tal
do status de seus habitantes, áreas nobres e carentes vão sendo realidade. A guerra pela audiência televisiva, o uso excessivo da
constituídas e geram uma parte importante da identidade urbana. violência policial e o segmentado de vendas de artigos relativos à
O local onde se habita ou se trabalha passa então a se tornar um segurança pessoal ganham terreno fértil em tal realidade.
indício da posição social do indivíduo, em muitos casos é levado em
consideração para se estabelecer a conduta moral de alguém. Tal como o dinheiro vivo pronto para qualquer tipo de investi-
Dentro de dinâmicas tão complexas a sociedade ergue aparatos mento, o capital do medo pode ser usado para se obter qualquer es-
físicos para segregar seus habitantes, desde as tentativas de afastar pécie de lucro, comercial ou político. E é. Isso acontece também com
os mendigos até a implantação do estado de sítio permanente em a segurança pessoal que se tornou um grande, talvez o maior, ponto
comunidades carentes. A implantação de sistemas de segurança ba- de venda em toda espécie de estratégia de marketing. O lema “lei e
seados no controle por câmeras é cada vez mais comum, chegando ordem”, cada vez mais reduzido à promessa de segurança pessoal
(mais exatamente corporal), se tornou uma grande, talvez a maior,
a seu ápice na cidade de Londres, que possui a alcunha de “mais
bandeira nos manifestos políticos e nas campanhas eleitorais, en-
vigiada” do planeta.
quanto a exibição de ameaças à segurança pessoal se tornou um
A mídia tem papel fundamental para a percepção cotidiana da
grande, talvez o maior, trunfo na guerra de audiência dos meios de
violência, dedicando grande parte da programação sobre o assun-
comunicação de massa, reabastecendo constantemente o capital
to, muitas vezes de modo duvidoso, como o “programa do Datena”
do medo e ampliando ainda mais o sucesso tanto de seu marketing
e similares de menor audiência. A violência se torna espetáculo
quanto de seu uso político. (BAUMAN, 2007, p. 18 – 19)
como no 11 de setembro e nos frequentes assassinatos em massa
da sociedade americana, onde políticos oportunistas passam a ter
Diante de tais fatos fica claro que o espaço urbano é o terreno
a oportunidade de ganhar um espaço no “show”, desqualificando
onde os setores populares vivem o dilema acerca da aproximação
os debates sobre os fatos e procurando capitalizar em votos sobre do “outro”. Se o “outro” representa uma possível ameaça de violên-
tragédias. cia ou choque de visões, ele também pode representar a oportu-
nidade a fraternidade e a necessária interação entre os indivíduos.
Os medos nos estimulam a assumir uma ação defensiva. Quan-
do isso ocorre, a ação defensiva confere proximidade e tangibilida- [...]os sujeitos sociais se articulam a atores que adquirem visibi-
de ao medo. São nossas respostas que reclassificam as premonições lidade nas conjunturas políticas. Os sujeitos sociais, porém, corres-
sombrias como realidade diária, dando corpo à palavra. O medo pondem a longos e amplos processos de estruturação das relações
agora se estabeleceu, saturando nossas rotinas cotidianas; pratica- societárias. Existem laços vividos entre sujeitos e atores sociais e
mente não precisa de outros estímulos exteriores, já que as ações políticos, construídos por experiências compartilhadas que não se
que estimula, dia após dia, fornecem toda a motivação e toda a esgotam nos atos imediatos. Daí a resistência demonstrada por mo-
energia de que ele necessita para se reproduzir. Entre os mecanis- vimentos que possuem raízes profundas na experiência social e na
mos que buscam aproximar-se do modelo de sonhos do moto-per- memória de um povo. (RIBEIRO, 2012, p. 203)
pétuo, a auto-reprodução do emaranhado do medo e das ações ins-
piradas por esse sentimento está perto de reclamar uma posição de A interação surge então como o elemento principal na cons-
destaque. (BAUMAN, 2007, p. 15) tituição da Multidão na cidade contemporânea, sendo perseguida
pelos atores sociais mesmo em meio aos desafios cotidianos do
É preciso então compreender as forças que aglutinam e as que território. O desejo de mudanças reais e profundas acirram as co-
segregam os habitantes dentro da metrópole. A cidade é o nicho alizações urbanas, pressionando o poder público e impactando a o
da Multidão, como já dito é nela que se dá a convergência com o espaço público, respostas naturais para as demandas sociais da atu-
“outro”, possibilitando a união dos indivíduos em torno de diferen- alidade, que encontra no engajamento social sua expressão mais
tes causas, na cidade digital esses indivíduos têm maior acesso as emblemática.
NTIC, como a internet e a telefonia móvel, além de uma considerá- A ação gerida e administrada e, portanto, articulada à repro-
vel infraestrutura urbana em relação as regiões mais afastadas dos dução da sociedade de consumo (pós-industrial, de massa) e a ação
centros. Essas possibilidades tecnológicas auxiliam na organização espontânea ou fluidamente organizada de reivindicação e protesto
dos indivíduos, dando a Multidão os elementos necessários para constituem dois grandes cenários traçados por análises dirigidas à
cobrar do Estado suas reivindicações compreensão dos desafios representados pela grande cidade, pela
Se as NTIC são o elemento aglutinador, o medo se apresenta metrópole moderna. A partir destes dois veios, podemos reconhecer
como o elemento segregador. A violência estigmatiza o cidadão, in- a elaboração de expectativas, pelo pensamento crítico, em direção
fluindo na hierarquização social e evidenciando as dicotomias do à revitalização da esfera pública, à ampliação da democracia, ao
pensamento. Um exemplo dessa evidenciação pode ser vista na re- resgate da cidadania ou, em sentido inverso, na declaração de um
percussão sobre o caso do estupro coletivo cometido a uma jovem crescente temor de que o futuro se apresente na forma de um mer-
de uma menina de 16 anos na cidade do Rio de Janeiro em 21 de gulho irreversível no cotidiano alienado ou, na barbárie [...] (RIBEI-
maio de 2016. Nesse caso as opiniões divergentes sobre a conduta RO, 2012, p. 138)
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ATUALIDADES
Para que a cidade contemporânea possa proporcionar os me- TEXTO 2
canismos necessários para a possibilidade de mudanças sociais é A poucos dias da comemoração do centenário do final da Pri-
preciso que ela esteja inserida na nova realidade tecnológica do meira Guerra Mundial, o presidente da França, Emmanuel Macron,
presente. Nesse sentido questões como a inclusão digital se tornam alertou que a Europa vive o risco de um desmembramento devido
extremamente importantes, pois possibilitam a ação da Multidão ao nacionalismo, assim como no período entre guerras.
dentro de seu território por excelência, a cidade digital. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ ultimas-noticias/
efe/2018/11/01/macron-alertapara-risco-de-nacionalismo-similar-
-ao-do-periodoentreguerras.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em:
25/11/2018.
QUESTÕES Os textos 1 e 2 fazem referência à União Europeia, que dentre
os desafios apresentados atualmente, destaca-se
(A) a disputa diplomática com os EUA, que sob o governo de
1. Atualmente, muitos fatos têm ocorrido de maneira expres- Donald Trump, tem pressionado a Europa a se fechar para os
siva e dinâmica: pessoas migram de um país para outro em busca mercados asiáticos.
de empregos e melhores condições de vida, empresas de países de- (B) a complicada relação de dependência dos recursos ener-
senvolvidos instalam-se em países subdesenvolvidos em busca de géticos provenientes da Ucrânia, problema este que teve seu
espaços maiores e mais baratos e também de mão de obra barata, ápice na anexação da Crimeia pela Rússia.
indústrias distribuem as etapas de produção em vários países a fim (C) a eleição de governos nacionais que tem se revelado contrá-
de baratear os custos. Tudo isso acontece devido a um fenômeno rios aos ideais formulados décadas atrás, colocando em risco a
que ocorre há muitos anos e recebe o nome de: permanência do bloco.
(A) Blocos Econômicos (D) a questão da xenofobia e a crescente resistência quanto à
(B0 Regionalização livre circulação de pessoas entre os países membros, fatores
(C) Capitalização que, inclusive, motivaram a ocorrência do Brexit.
(D) Colonização
(E) Globalização 4. Começando pelos mais conservadores – e/ ou otimistas –
em relação aos processos de globalização, podemos destacar Keni-
2. Ao refletir sobre o território de um país e seu papel num chi Ohmae, verdadeiro guru dos globalistas, consultor de grandes
espaço globalizado, Santos e Silveira (2006) afirmam que há algu- empresas e governos nacionais. Para Ohmae (1996), a região vê-se
mas áreas nos territórios nacionais que possuem uma presença revigorada com a perda de poder dos Estados-nações e a consolida-
mais plena da globalização, caracterizadas pela sua inserção numa ção de um mundo global.
cadeia produtiva global, pelas relações distantes e, frequentemen- HAESBAERT, R. Regional-Global: dilemas da região e da regio-
te, estrangeiras que criam e, também, pela sua lógica extravertida. nalização na geografia contemporânea. Rio de Janeiro: Bertrand
Todavia, a base desse processo é o espaço nacional cuja regulação Brasil, 2010. (Adaptado).
continua sendo nacional, ainda que guiada em função dos interes- Assinale a alternativa que contemple corretamente a crítica
ses de empresas globais. que Haesbaert faz do debate regional-global:
SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no (A) Pensar em região e nos processos de regionalização é um
início do século XXI. 9ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2006. importante fator de análise para dinâmicas efetivamente vivi-
Levando em consideração as afirmações de Santos e Silveira das e produzidas por grupos sociais. Mas com a globalização, as
(2006), pode-se definir essas áreas mais globalizadas do território estratégias de planejamento dos territórios deveriam ter parti-
de um país como? cipação de grupos hegemônicos.
(A) A região globalizada. (B) A trajetória do conceito de “região”, além da amplitude que
(B) O espaço regional de um espaço globalizado. adquire no senso comum, é de grande polissemia e confusão.
(C) O espaço nacional da economia internacional. Entretanto, mesmo considerando a maior difusão do conceito
(D) O espaço nacional centralizado. de território, qualquer proposta de “recorte regional” deve ser
compreendida como um ato de poder.
3. TEXTO 1 (C) Para o autor, o debate contemporâneo sobre região não
A mundialização da economia capitalista gerou a segmentação deveria ignorar os clássicos da Geografia Francesa, como Paul
do espaço econômico mundial. Essa característica geográfica se ex- Vidal de La Blache, que criaram duas concepções distintas de
pressa no final do século XX na formação de blocos econômicos em região: físico-natural e região-econômica.
todo o mundo. (D) O autor reitera que os processos da globalização extingui-
A Comunidade Econômica Europeia (CEE) constitui-se no exem- ram as fronteiras nacionais, dotando os “espaços regionais”
plo mais avançado desse processo de formação e unificação eco- com papeis definitivos ante o Estado-nação.
nômica. Desde o ano de 1993 a CEE forma um espaço econômico,
financeiro e monetário único. Portanto, constitui-se em um espaço
onde as suas fronteiras nacionais não são obstáculos à livre circula-
ção das mercadorias e das pessoas.
OLIVEIRA, A. U. A mundialização do capitalismo e a geopolítica
mundial no final do século XX. In: ROSS, J. L. S. (Org.). Geografia do
Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2014.

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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
5. Leia o fragmento a seguir. 8. O agronegócio globalizado é uma variável chave para com-
“Segundo as Nações Unidas, em 2017, pelo menos 1,8 milhão preender as contradições materializadas no campo brasileiro no
de sírios foram forçados a fugir de onde viviam, muitas vezes por início do século XXI. Atente para o que se diz a seguir sobre essa
causa de conflitos. temática.
Esse processo de deslocamento pode ser explicado a partir do I. É cada vez mais presente na agricultura brasileira um sistema
conceito de __________, ou seja, um desenraizamento no sentido produtivo “empresarial”, que envolve aquisição e arrendamento de
de uma destruição tanto no sentido físico e político quanto em um terras para a produção de agrocombustíveis, grãos e florestas plan-
sentido econômico e __________. tadas.
Um dos exemplos mais contundentes é o dos __________, es- II. O arranjo territorial da reestruturação produtiva da agricul-
ses “novos nômades” cada vez mais numerosos, onde efetivamente tura no Brasil vai se organizar de maneira seletiva, privilegiando de-
só resta como alento, em meio à total insegurança e fragilidade, a terminadas “manchas” de expansão agroindustrial.
luta pela sobrevivência física cotidiana.” III. Quanto mais desenvolvida for a atividade agrícola na qual
Assinale a opção cujos termos completam corretamente as la- são implementados os pacotes tecnológicos direcionados ao au-
cunas do fragmento acima. mento da produção, maior será sua dependência das condições
(A) diáspora – geográfico – povos isolados climáticas.
(B) globalização – cultural – acampamentos de refugiados É correto o que se afirma em
(C) desterritorialização – social – povos isolados (A) I e II apenas.
(D) desterritorialização – cultural – acampamentos de refugia- (B) I, II e III.
dos (C) I e III apenas.
(E) diáspora – cultural – grupos separatistas (D) II e III apenas.

6. Leia o fragmento a seguir. 9. “O mundo estaria se ‘desterritorializando’? Sob o impacto


“Os mercados de capitais são globalmente interdependentes. dos processos de globalização que ‘comprimiram’ o espaço e o tem-
O capital é gerenciado vinte e quatro horas por dia em mercados po, (...) o que restaria de nossos ‘territórios’, de nossa ‘geografia’?
financeiros globalmente integrados, funcionando em tempo real Fonte: HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização – do
pela primeira vez na história. As novas tecnologias permitem que o fim dos territórios à multiterritorialidade. 2ª edição. Rio de Janeiro:
capital seja transportado de um lado para o outro entre economias Bertrand Brasil, 2006. pp. 19 e 20.
em curtíssimo prazo”. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Na geografia, o debate contemporâneo sobre territorialização,
São Paulo: Paz & Terra. 1999. desterritorialização e reterritorialização conclui acerca
Com relação à circulação de capitais, mercadorias e informa- (A) de uma tendência ao enfraquecimento dos controles terri-
ções, analise as afirmativas a seguir. I. O fluxo de investimento ex- toriais, em consequência de uma rearticulação das velocidades
terno direto encontra-se distribuído entre países desenvolvidos e na sociedade do movimento.
emergentes de forma equilibrada. II. O fluxo de capitais especu- (B) do predomínio da fluidez sobre a estabilidade, resultando
lativos e as principais bolsas de valores se concentram nos países numa sociedade de fluxos sem necessidade de base material.
desenvolvidos e em alguns poucos países emergentes. III. O fluxo (C) do aumento da hibridização cultural e, portanto, de uma
mundial de mercadorias se concentra nos países desenvolvidos, es- multiplicidade de identidades que esvazia o território.
pecialmente entre os países que compõem o G-8. Está correto o (D) da formação de uma multiplicidade de territorialidades,
que se afirma em que vai dos limites fixos do gueto aos mais flexíveis territórios
(A) I, apenas. rede.
(B) II, apenas.
(C) I e II, apenas. 10. No que diz respeito ao real sentido da globalização e da
(D) II e III, apenas. ordem mundial contemporânea, é correto afirmar que
(E) I, II e III. (A) o extraordinário progresso das ciências e das técnicas, que
permite tornar o mundo socialmente mais justo e igualitário, é
7. O processo da Globalização não possuí uma data exata de uma grande conquista da globalização.
início, mas, para muitos autores, a década de 90 do século XX seria (B) a globalização é o estágio supremo da internacionalização
um momento importante na sua consolidação. Entre as alternativas da economia e seu maior destaque é a garantia de que a maior
a seguir, assinale a que apresenta a melhor característica sobre a parte dos países do mundo participe dessa dinâmica de manei-
Globalização. ra proporcional.
(A) Surgimento de uma divisão bélica entre Estados Unidos e (C) a produção globalizada e a informação globalizada permi-
Rússia. tem às firmas globais obterem um lucro em escala mundial e
(B) Aumento da integração econômica entre os países. isso constitui o verdadeiro motor da atividade econômica con-
(C) Perda significativa do mercado financeiro mundial. temporânea.
(D) Fim do uso da língua inglesa como comunicação interna- (D) com a consolidação do processo de globalização, pode-se
cional. viver em um espaço sem fronteiras, isto é, uma aldeia global
(E) Diminuição das trocas comerciais internacionais onde todos podem conhecer extensivamente e profundamen-
te o planeta.

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a solução para o seu concurso!
ATUALIDADES
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GABARITO
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1 E ______________________________________________________
2 C
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3 D
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4 B
5 D ______________________________________________________
6 D ______________________________________________________
7 B
______________________________________________________
8 A
9 D ______________________________________________________
10 C ______________________________________________________

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ANOTAÇÕES
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INFORMÁTICA

computadores adotem as mesmas regras para o envio e o recebi-


CONCEITO DE INTERNET E INTRANET. CONCEITOS E MO‐ mento de informações. Este conjunto de regras é conhecido como
DOS DE UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS, FERRAMENTAS, Protocolo de Comunicação. No protocolo de comunicação estão de-
APLICATIVOS E PROCEDIMENTOS ASSOCIADOS A INTER‐ finidas todas as regras necessárias para que o computador de desti-
NET/INTRANET. FERRAMENTAS E APLICATIVOS COMER‐ no, “entenda” as informações no formato que foram enviadas pelo
CIAIS DE NAVEGAÇÃO, DE CORREIO ELETRÔNICO, DE GRU‐ computador de origem.
POS DE DISCUSSÃO, DE BUSCA, DE PESQUISA, DE REDES Existem diversos protocolos, atualmente a grande maioria das
SOCIAIS E FERRAMENTAS COLABORATIVAS. PROGRAMAS redes utiliza o protocolo TCP/IP já que este é utilizado também na
DE NAVEGAÇÃO (MICROSOFT INTERNET EXPLORER, Internet.
MOZILLA FIREFOX E GOOGLE CHROMES). SÍTIOS DE O protocolo TCP/IP acabou se tornando um padrão, inclusive
BUSCA E PESQUISA NA INTERNET para redes locais, como a maioria das redes corporativas hoje tem
acesso Internet, usar TCP/IP resolve a rede local e também o acesso
externo.
Internet
A Internet é uma rede mundial de computadores interligados TCP / IP
através de linhas de telefone, linhas de comunicação privadas, ca- Sigla de Transmission Control Protocol/Internet Protocol (Pro-
bos submarinos, canais de satélite, etc1. Ela nasceu em 1969, nos tocolo de Controle de Transmissão/Protocolo Internet).
Estados Unidos. Interligava originalmente laboratórios de pesquisa Embora sejam dois protocolos, o TCP e o IP, o TCP/IP aparece
e se chamava ARPAnet (ARPA: Advanced Research Projects Agency). nas literaturas como sendo:
Com o passar do tempo, e com o sucesso que a rede foi tendo, o nú- - O protocolo principal da Internet;
mero de adesões foi crescendo continuamente. Como nesta época, - O protocolo padrão da Internet;
o computador era extremamente difícil de lidar, somente algumas - O protocolo principal da família de protocolos que dá suporte
instituições possuíam internet. ao funcionamento da Internet e seus serviços.
No entanto, com a elaboração de softwares e interfaces cada
vez mais fáceis de manipular, as pessoas foram se encorajando a Considerando ainda o protocolo TCP/IP, pode-se dizer que:
participar da rede. O grande atrativo da internet era a possibilida- A parte TCP é responsável pelos serviços e a parte IP é respon-
de de se trocar e compartilhar ideias, estudos e informações com sável pelo roteamento (estabelece a rota ou caminho para o trans-
outras pessoas que, muitas vezes nem se conhecia pessoalmente. porte dos pacotes).

Conectando-se à Internet Domínio


Para se conectar à Internet, é necessário que se ligue a uma Se não fosse o conceito de domínio quando fossemos acessar
rede que está conectada à Internet. Essa rede é de um provedor de um determinado endereço na web teríamos que digitar o seu en-
acesso à internet. Assim, para se conectar você liga o seu computa- dereço IP. Por exemplo: para acessar o site do Google ao invés de
dor à rede do provedor de acesso à Internet; isto é feito por meio você digitar www.google.com você teria que digitar um número IP
de um conjunto como modem, roteadores e redes de acesso (linha – 74.125.234.180.
telefônica, cabo, fibra-ótica, wireless, etc.). É através do protocolo DNS (Domain Name System), que é pos-
sível associar um endereço de um site a um número IP na rede.
World Wide Web O formato mais comum de um endereço na Internet é algo como
A web nasceu em 1991, no laboratório CERN, na Suíça. Seu http://www.empresa.com.br, em que:
criador, Tim Berners-Lee, concebeu-a unicamente como uma lin- www: (World Wide Web): convenção que indica que o ende-
guagem que serviria para interligar computadores do laboratório e reço pertence à web.
outras instituições de pesquisa, e exibir documentos científicos de empresa: nome da empresa ou instituição que mantém o ser-
forma simples e fácil de acessar. viço.
Hoje é o segmento que mais cresce. A chave do sucesso da com: indica que é comercial.
World Wide Web é o hipertexto. Os textos e imagens são interli- br: indica que o endereço é no Brasil.
gados por meio de palavras-chave, tornando a navegação simples
e agradável. URL
Protocolo de comunicação Um URL (de Uniform Resource Locator), em português, Locali-
Transmissão e fundamentalmente por um conjunto de proto- zador-Padrão de Recursos, é o endereço de um recurso (um arqui-
colos encabeçados pelo TCP/IP. Para que os computadores de uma vo, uma impressora etc.), disponível em uma rede; seja a Internet,
rede possam trocar informações entre si é necessário que todos os ou uma rede corporativa, uma intranet.
Uma URL tem a seguinte estrutura: protocolo://máquina/ca-
1 https://cin.ufpe.br/~macm3/Folders/Apostila%20Internet%20-%20Avan%E-
minho/recurso.
7ado.pdf
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INFORMÁTICA
HTTP – Atualizar: botão básico que recarrega a página aberta naque-
É o protocolo responsável pelo tratamento de pedidos e res- le momento, atualizando o conteúdo nela mostrado. Serve para
postas entre clientes e servidor na World Wide Web. Os endereços mostrar possíveis edições, correções e até melhorias de estrutura
web sempre iniciam com http:// (http significa Hypertext Transfer no visual de um site. Em alguns casos, é necessário limpar o cache
Protocol, Protocolo de transferência hipertexto). para mostrar as atualizações.
– Histórico: opção que mostra o histórico de navegação do
Hipertexto usuário usando determinado navegador. É muito útil para recupe-
São textos ou figuras que possuem endereços vinculados a rar links, páginas perdidas ou revisitar domínios antigos. Pode ser
eles. Essa é a maneira mais comum de navegar pela web. apagado, caso o usuário queira.
– Gerenciador de Downloads: permite administrar os downlo-
Navegadores ads em determinado momento. É possível ativar, cancelar e pausar
Um navegador de internet é um programa que mostra informa- por tempo indeterminado. É um maior controle na usabilidade do
ções da internet na tela do computador do usuário. navegador de internet.
Além de também serem conhecidos como browser ou web – Extensões: já é padrão dos navegadores de internet terem
browser, eles funcionam em computadores, notebooks, dispositi- um mecanismo próprio de extensões com mais funcionalidades.
vos móveis, aparelhos portáteis, videogames e televisores conec- Com alguns cliques, é possível instalar temas visuais, plug-ins com
tados à internet. novos recursos (relógio, notícias, galeria de imagens, ícones, entre
Um navegador de internet condiciona a estrutura de um site outros.
e exibe qualquer tipo de conteúdo na tela da máquina usada pelo – Central de Ajuda: espaço para verificar a versão instalada do
internauta. navegador e artigos (geralmente em inglês, embora também exis-
Esse conteúdo pode ser um texto, uma imagem, um vídeo, um tam em português) de como realizar tarefas ou ações específicas
jogo eletrônico, uma animação, um aplicativo ou mesmo servidor. no navegador.
Ou seja, o navegador é o meio que permite o acesso a qualquer
página ou site na rede. Firefox, Internet Explorer, Google Chrome, Safari e Opera são
Para funcionar, um navegador de internet se comunica com alguns dos navegadores mais utilizados atualmente. Também co-
servidores hospedados na internet usando diversos tipos de pro- nhecidos como web browsers ou, simplesmente, browsers, os na-
tocolos de rede. Um dos mais conhecidos é o protocolo HTTP, que vegadores são uma espécie de ponte entre o usuário e o conteúdo
transfere dados binários na comunicação entre a máquina, o nave- virtual da Internet.
gador e os servidores.
Internet Explorer
Funcionalidades de um Navegador de Internet Lançado em 1995, vem junto com o Windows, está sendo
A principal funcionalidade dos navegadores é mostrar para o substituído pelo Microsoft Edge, mas ainda está disponível como
usuário uma tela de exibição através de uma janela do navegador. segundo navegador, pois ainda existem usuários que necessitam de
Ele decodifica informações solicitadas pelo usuário, através de algumas tecnologias que estão no Internet Explorer e não foram
códigos-fonte, e as carrega no navegador usado pelo internauta. atualizadas no Edge.
Ou seja, entender a mensagem enviada pelo usuário, solicitada Já foi o mais navegador mais utilizado do mundo, mas hoje per-
através do endereço eletrônico, e traduzir essa informação na tela deu a posição para o Google Chrome e o Mozilla Firefox.
do computador. É assim que o usuário consegue acessar qualquer
site na internet.
O recurso mais comum que o navegador traduz é o HTML, uma
linguagem de marcação para criar páginas na web e para ser inter-
pretado pelos navegadores.
Eles também podem reconhecer arquivos em formato PDF,
imagens e outros tipos de dados.
Essas ferramentas traduzem esses tipos de solicitações por
meio das URLs, ou seja, os endereços eletrônicos que digitamos na Principais recursos do Internet Explorer:
parte superior dos navegadores para entrarmos numa determinada – Transformar a página num aplicativo na área de trabalho,
página. permitindo que o usuário defina sites como se fossem aplicativos
Abaixo estão outros recursos de um navegador de internet: instalados no PC. Através dessa configuração, ao invés de apenas
– Barra de Endereço: é o espaço em branco que fica localiza- manter os sites nos favoritos, eles ficarão acessíveis mais facilmente
do no topo de qualquer navegador. É ali que o usuário deve digitar através de ícones.
a URL (ou domínio ou endereço eletrônico) para acessar qualquer – Gerenciador de downloads integrado.
página na web. – Mais estabilidade e segurança.
– Botões de Início, Voltar e Avançar: botões clicáveis básicos – Suporte aprimorado para HTML5 e CSS3, o que permite uma
que levam o usuário, respectivamente, ao começo de abertura do navegação plena para que o internauta possa usufruir dos recursos
navegador, à página visitada antes ou à página visitada seguinte. implementados nos sites mais modernos.
– Favoritos: é a aba que armazena as URLs de preferência do – Com a possibilidade de adicionar complementos, o navega-
usuário. Com um único simples, o usuário pode guardar esses en- dor já não é apenas um programa para acessar sites. Dessa forma, é
dereços nesse espaço, sendo que não existe uma quantidade limite possível instalar pequenos aplicativos que melhoram a navegação e
de links. É muito útil para quando você quer acessar as páginas mais oferecem funcionalidades adicionais.
recorrentes da sua rotina diária de tarefas. – One Box: recurso já conhecido entre os usuários do Google
Chrome, agora está na versão mais recente do Internet Explorer.
Através dele, é possível realizar buscas apenas informando a pala-
vra-chave digitando-a na barra de endereços.
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
Microsoft Edge Principais recursos do Google Chrome:
Da Microsoft, o Edge é a evolução natural do antigo Explorer2. – Desempenho ultra veloz, desde que a máquina tenha recur-
O navegador vem integrado com o Windows 10. Ele pode receber sos RAM suficientes.
aprimoramentos com novos recursos na própria loja do aplicativo. – Gigantesca quantidade de extensões para adicionar novas
Além disso, a ferramenta otimiza a experiência do usuário con- funcionalidades.
vertendo sites complexos em páginas mais amigáveis para leitura. – Estável e ocupa o mínimo espaço da tela para mostrar conte-
údos otimizados.
– Segurança avançada com encriptação por Certificado SSL (HT-
TPS).
– Disponível em desktop e mobile.

Opera
Um dos primeiros navegadores existentes, o Opera segue evo-
luindo como um dos melhores navegadores de internet.
Outras características do Edge são: Ele entrega uma interface limpa, intuitiva e agradável de usar.
– Experiência de navegação com alto desempenho. Além disso, a ferramenta também é leve e não prejudica a qualida-
– Função HUB permite organizar e gerenciar projetos de qual- de da experiência do usuário.
quer lugar conectado à internet.
– Funciona com a assistente de navegação Cortana.
– Disponível em desktops e mobile com Windows 10.
– Não é compatível com sistemas operacionais mais antigos.

Firefox
Um dos navegadores de internet mais populares, o Firefox é
conhecido por ser flexível e ter um desempenho acima da média.
Desenvolvido pela Fundação Mozilla, é distribuído gratuita- Outros pontos de destaques do Opera são:
mente para usuários dos principais sistemas operacionais. Ou seja, – Alto desempenho com baixo consumo de recursos e de ener-
mesmo que o usuário possua uma versão defasada do sistema ins- gia.
talado no PC, ele poderá ser instalado. – Recurso Turbo Opera filtra o tráfego recebido, aumentando a
velocidade de conexões de baixo desempenho.
– Poupa a quantidade de dados usados em conexões móveis
(3G ou 4G).
– Impede armazenamento de dados sigilosos, sobretudo em
páginas bancárias e de vendas on-line.
– Quantidade moderada de plug-ins para implementar novas
funções, além de um bloqueador de publicidade integrado.
– Disponível em desktop e mobile.

Algumas características de destaque do Firefox são: Safari


– Velocidade e desempenho para uma navegação eficiente. O Safari é o navegador oficial dos dispositivos da Apple. Pela
– Não exige um hardware poderoso para rodar. sua otimização focada nos aparelhos da gigante de tecnologia, ele
– Grande quantidade de extensões para adicionar novos recur- é um dos navegadores de internet mais leves, rápidos, seguros e
sos. confiáveis para usar.
– Interface simplificada facilita o entendimento do usuário.
– Atualizações frequentes para melhorias de segurança e pri-
vacidade.
– Disponível em desktop e mobile.

Google Chorme
É possível instalar o Google Chrome nas principais versões do
sistema operacional Windows e também no Linux e Mac.
O Chrome é o navegador de internet mais usado no mundo.
É, também, um dos que têm melhor suporte a extensões, maior
compatibilidade com uma diversidade de dispositivos e é bastante O Safari também se destaca em:
convidativo à navegação simplificada. – Sincronização de dados e informações em qualquer disposi-
tivo Apple (iOS).
– Tem uma tecnologia anti-rastreio capaz de impedir o direcio-
namento de anúncios com base no comportamento do usuário.
– Modo de navegação privada não guarda os dados das páginas
visitadas, inclusive histórico e preenchimento automático de cam-
pos de informação.
– Compatível também com sistemas operacionais que não seja
da Apple (Windows e Linux).
– Disponível em desktops e mobile.
2 https://bit.ly/2WITu4N
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
Intranet
A intranet é uma rede de computadores privada que assenta sobre a suíte de protocolos da Internet, porém, de uso exclusivo de
um determinado local, como, por exemplo, a rede de uma empresa, que só pode ser acessada pelos seus utilizadores ou colaboradores
internos3.
Pelo fato, a sua aplicação a todos os conceitos emprega-se à intranet, como, por exemplo, o paradigma de cliente-servidor. Para tal, a
gama de endereços IP reservada para esse tipo de aplicação situa-se entre 192.168.0.0 até 192.168.255.255.
Dentro de uma empresa, todos os departamentos possuem alguma informação que pode ser trocada com os demais setores, poden-
do cada sessão ter uma forma direta de se comunicar com as demais, o que se assemelha muito com a conexão LAN (Local Area Network),
que, porém, não emprega restrições de acesso.
A intranet é um dos principais veículos de comunicação em corporações. Por ela, o fluxo de dados (centralização de documentos,
formulários, notícias da empresa, etc.) é constante, pretendendo reduzir os custos e ganhar velocidade na divulgação e distribuição de
informações.
Apesar do seu uso interno, acessando aos dados corporativos, a intranet permite que computadores localizados numa filial, se conec-
tados à internet com uma senha, acessem conteúdos que estejam na sua matriz. Ela cria um canal de comunicação direto entre a empresa
e os seus funcionários/colaboradores, tendo um ganho significativo em termos de segurança.

NOÇÕES DE SISTEMA OPERACIONAL (AMBIENTE WINDOWS)

O Windows 7 é um dos sistemas operacionais mais populares desenvolvido pela Microsoft4.


Visualmente o Windows 7 é semelhante ao seu antecessor, o Windows Vista, porém a interface é muito mais rica e intuitiva.
É Sistema Operacional multitarefa e para múltiplos usuários. O novo sistema operacional da Microsoft trouxe, além dos recursos do
Windows 7, muitos recursos que tornam a utilização do computador mais amigável.
Algumas características não mudam, inclusive porque os elementos que constroem a interface são os mesmos.

Edições do Windows 7
– Windows 7 Starter;
– Windows 7 Home Premium;
– Windows 7 Professional;
– Windows 7 Ultimate.

Área de Trabalho

Área de Trabalho do Windows 7.5

A Área de trabalho é composta pela maior parte de sua tela, em que ficam dispostos alguns ícones. Uma das novidades do Windows
7 é a interface mais limpa, com menos ícones e maior ênfase às imagens do plano de fundo da tela. Com isso você desfruta uma área de
trabalho suave. A barra de tarefas que fica na parte inferior também sofreu mudanças significativas.
3 https://centraldefavoritos.com.br/2018/01/11/conceitos-basicos-ferramentas-aplicativos-e-procedimentos-de-internet-e-intranet-parte-2/
4 https://estudioaulas.com.br/img/ArquivosCurso/materialDemo/AulaDemo-4147.pdf
5 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2012/05/como-ocultar-lixeira-da-area-de-trabalho-do-windows.html
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
Barra de tarefas
– Avisar quais são os aplicativos em uso, pois é mostrado um retângulo pequeno com a descrição do(s) aplicativo(s) que está(ão) ati-
vo(s) no momento, mesmo que algumas estejam minimizadas ou ocultas sob outra janela, permitindo assim, alternar entre estas janelas
ou entre programas.

Alternar entre janelas.6

– A barra de tarefas também possui o menu Iniciar, barra de inicialização rápida e a área de notificação, onde você verá o relógio.
– É organizada, consolidando os botões quando há muitos acumulados, ou seja, são agrupados automaticamente em um único botão.
– Outra característica muito interessante é a pré-visualização das janelas ao passar a seta do mouse sobre os botões na barra de ta-
refas.

Pré-visualização de janela.7

Botão Iniciar

Botão Iniciar8

6 Fonte: https://pplware.sapo.pt/tutoriais/windows-7-flip-3d
7 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2010/12/como-aumentar-o-tamanho-das-miniaturas-da-taskbar-do-windows-7.html
8 Fonte: https://br.ign.com/tech/47262/news/suporte-oficial-ao-windows-vista-acaba-em-11-de-abril
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
O botão Iniciar é o principal elemento da Barra de Tarefas. Ele dá acesso ao Menu Iniciar, de onde se podem acessar outros menus que,
por sua vez, acionam programas do Windows. Ao ser acionado, o botão Iniciar mostra um menu vertical com várias opções.

Menu Iniciar.9

Desligando o computador
O novo conjunto de comandos permite Desligar o computador, Bloquear o computador, Fazer Logoff, Trocar Usuário, Reiniciar, Sus-
pender ou Hibernar.

Ícones
Representação gráfica de um arquivo, pasta ou programa. Você pode adicionar ícones na área de trabalho, assim como pode excluir.
Alguns ícones são padrões do Windows: Computador, Painel de Controle, Rede, Lixeira e a Pasta do usuário.

Windows Explorer
No computador, para que tudo fique organizado, existe o Windows Explorer. Ele é um programa que já vem instalado com o Windows
e pode ser aberto através do Botão Iniciar ou do seu ícone na barra de tarefas.
Este é um dos principais utilitários encontrados no Windows 7. Permite ao usuário enxergar de forma interessante a divisão organiza-
da do disco (em pastas e arquivos), criar outras pastas, movê-las, copiá-las e até mesmo apagá-las.
Com relação aos arquivos, permite protegê-los, copiá-los e movê-los entre pastas e/ou unidades de disco, inclusive apagá-los e tam-
bém renomeá-los. Em suma, é este o programa que disponibiliza ao usuário a possibilidade de gerenciar todos os seus dados gravados.

10

9 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/2019/04/como-deixar-a-interface-do-windows-10-parecida-com-o-windows-7.ghtml
10 Fonte: https://www.softdownload.com.br/adicione-guias-windows-explorer-clover-2.html
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INFORMÁTICA
Uma das novidades do Windows 7 são as Bibliotecas. Por padrão já consta uma na qual você pode armazenar todos os seus arquivos
e documentos pessoais/trabalho, bem como arquivos de músicas, imagens e vídeos. Também é possível criar outra biblioteca para que
você organize da forma como desejar.

Bibliotecas no Windows 7.11

Aplicativos de Windows 7
O Windows 7 inclui muitos programas e acessórios úteis. São ferramentas para edição de texto, criação de imagens, jogos, ferramen-
tas para melhorar o desempenho do computador, calculadora e etc.
A pasta Acessórios é acessível dando-se um clique no botão Iniciar na Barra de tarefas, escolhendo a opção Todos os Programas e no
submenu, que aparece, escolha Acessórios.

Bloco de Notas
Aplicativo de edição de textos (não oferece nenhum recurso de formatação) usado para criar ou modificar arquivos de texto. Utilizado
normalmente para editar arquivos que podem ser usados pelo sistema da sua máquina.
O Bloco de Notas serve para criar ou editar arquivos de texto que não exijam formatação e não ultrapassem 64KB. Ele cria arquivos
com extensões .INI, .SYS e .BAT, pois abre e salva texto somente no formato ASCII (somente texto).

Bloco de Notas.

11 Fonte: https://www.tecmundo.com.br/musica/3612-dicas-do-windows-7-aprenda-a-usar-o-recurso-bibliotecas.htm
Editora
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INFORMÁTICA
WordPad
Editor de texto com formatação do Windows. Pode conter imagens, tabelas e outros objetos. A formatação é limitada se comparado
com o Word. A extensão padrão gerada pelo WordPad é a RTF. Por meio do programa WordPad podemos salvar um arquivo com a exten-
são DOC entre outras.

WordPad.12
Paint
Editor simples de imagens do Windows. A extensão padrão é a BMP. Permite manipular arquivos de imagens com as extensões: JPG
ou JPEG, GIF, TIFF, PNG, ICO entre outras.

Paint.13

12 Fonte: https://www.nextofwindows.com/windows-7-gives-wordpad-a-new-life
13 Fonte: https://www.techtudo.com.br/listas/noticia/2017/03/microsoft-paint-todas-versoes-do-famoso-editor-de-fotos-do-windows.html
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INFORMÁTICA
• Calculadora Novidades do Windows 7
Pode ser exibida de quatro maneiras: padrão, científica, progra- Ajustar: o recurso Ajustar permite o redimensionamento rápi-
mador e estatística. do e simétrico das janelas abertas, basta arrastar a janela para as
bordas pré-definidas e o sistema a ajustará às grades.
Aero Peek: exclusivo das versões Home Premium, Professional
e Ultimate, o Aero Peek permite que o usuário visualize as janelas
que ficam ocultadas pela janela principal.
Nova Barra de Tarefas: o usuário pode ter uma prévia do que
está sendo rodado, apenas passando o mouse sobre o item mini-
mizado.
Alternância de Tarefas: a barra de alternância de tarefas do
Windows 7 foi reformulada e agora é interativa. Permite a fixação
de ícones em determinado local, a reorganização de ícones para fa-
cilitar o acesso e também a visualização de miniaturas na própria
barra.
Gadgets: diferentemente do Windows Vista, que prendia as
gadgets na barra lateral do sistema. O Windows 7 permite que o
usuário redimensione, arraste e deixe as gadgets onde quiser, não
dependendo de grades determinadas.
Windows Media Center: o novo Windows Media Center tem
compatibilidade com mais formatos de áudio e vídeo, além do su-
porte a TVs on-line de várias qualidades, incluindo HD. Também
conta com um serviço de busca mais dinâmico nas bibliotecas lo-
cais, o TurboScroll.
Windows Backup: além do já conhecido Ponto de Restauração,
o Windows 7 vem também com o Windows Backup, que permite a
restauração de documentos e arquivos pessoais, não somente os
programas e configurações.
Windows Touch: uma das inovações mais esperadas do novo
OS da Microsoft, a compatibilidade total com a tecnologia do toque
na tela, o que inclui o acesso a pastas, redimensionamento de jane-
Painel de Controle las e a interação com aplicativos.
O Painel de controle fornece um conjunto de ferramentas ad- Windows Defender: livre-se de spywares e outras pragas vir-
ministrativas com finalidades especiais que podem ser usadas para tuais com o Windows Defender do Windows 7, agora mais limpo e
configurar o Windows, aplicativos e ambiente de serviços. O Painel mais simples de ser configurado e usado.
de Controle inclui itens padrão que podem ser usados para tarefas Windows Firewall: para proteção contra crackers e programas
comuns (por exemplo, Vídeo, Sistemas, Teclado, Mouse e Adicionar mal-intencionados, o Firewall do Windows. Agora com configuração
hardware). Os aplicativos e os serviços instalados pelo usuário tam- de perfis alternáveis, muito útil para uso da rede em ambientes va-
bém podem inserir ícones no Painel de controle. riados, como shoppings com Wi-Fi pública ou conexões residências.
Flip 3D: Flip 3D é um feature padrão do Windows Vista que
ficou muito funcional também no Windows 7. No Windows 7 ele fi-
cou com realismo para cada janela e melhorou no reconhecimento
de screens atualizadas.

Novidades no Windows 8
Lançado em 2012, o Windows 8 passou por sua transformação
mais radical. Ele trouxe uma interface totalmente nova, projetada
principalmente para uso em telas sensíveis ao toque.

• Tela Inicial
A tela de início é uma das características mais marcantes do
Windows 815. Trata-se de um espaço que reúne em um único lugar
blocos retangulares ou quadrados que dão acesso a aplicativos, à
lista de contatos, a informações sobre o clima, aos próximos com-
promissos da agenda, entre outros. Na prática, este é o recurso que
substitui o tradicional menu Iniciar do Windows, que por padrão
não está disponível na versão 8. É por este motivo que é possível al-
Painel de Controle.14 ternar entre a tela inicial e a área de trabalho (bastante semelhante
ao desktop do Windows 7, por sinal) utilizando os botões Windows
do teclado.
Obs.: gerou uma certa insatisfação por parte dos usuários que
sentiram falta do botão Iniciar, na versão. No Windows 8.1 e Win-
dows 10, o botão Iniciar volta.
14 Fonte: https://www.techtudo.com.br/dicas-e-tutoriais/noticia/2016/06/co-
mo-mudar-o-idioma-do-windows-7.html 15 https://www.infowester.com/
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INFORMÁTICA
Se o espaço na tela não for suficiente para exibir todos eles, ela pode ser rolada horizontalmente. A nova interface era inicialmente
chamada de Metro, mas a Microsoft abandonou esse nome e, agora, se refere a ela como Modern (moderna).

Interface Metro do Windows 8.16


• Tempo de Inicialização
Uma das vantagens que mais marcou o Windows 8 foi o tempo de inicialização de apenas 18 segundos, mostrando uma boa diferença
se comparado com o Windows 7, que leva 10 segundos a mais para iniciar17.
O encerramento também ficou mais rápido, tudo isso por conta da otimização de recursos do sistema operacional e também do baixo
consumo que o Windows 8 utiliza do processador.

• Os botões de acesso da lateral direita (Charms Bar)


Outra característica marcante do Windows 8 é a barra com botões de acesso rápido que a Microsoft chamada de Charms Bar. Eles
ficam ocultos, na verdade, mas é possível visualizá-los facilmente. Se estiver usando um mouse, basta mover o cursor até o canto direito
superior ou inferior. Em um tablet ou outro dispositivo com tela sensível ao toque, basta mover o dedo à mesma região. Com o teclado,
pressione Windows + C simultaneamente.
Em todas as formas, você verá uma barra surgir à direita com cinco botões:
– Busca: nesta opção, você pode localizar facilmente aplicativos ou arquivos presentes em seu computador, assim como conteúdo
armazenado nas nuvens, como fotos, notícias, etc. Para isso, basta escolher uma das opções mostradas abaixo do campo de busca para
filtrar a sua pesquisa;
– Compartilhar: neste botão, é possível compartilhar informações em redes sociais, transferir arquivos para outros computadores,
entre outros;
– Iniciar: outra forma de acessar a tela inicial. Pode parecer irrelevante se você estiver usando um teclado que tenha botões Windows,
mas em tablets é uma importante forma de acesso;
– Dispositivos: com este botão, você pode configurar ou ter acesso rápido aos dispositivos conectados, como HDs externos, impres-
soras e outros;
– Configuração: é por aqui que você pode personalizar o sistema, gerenciar usuários, mudar a sua senha, verificar atualizações, ajustar
conexões Wi-Fi, entrar no Painel de Controle e até mesmo acessar opções de configuração de outros programas.

16 https://www.tecwhite.net/2015/01/tutorial-visualizador-de-fotos-do.html
17 https://www.professordeodatoneto.com.br/
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INFORMÁTICA
• Login com Microsoft Account
O Windows 8 é a versão da família Windows que mais se integra às nuvens, razão pela qual agora o usuário precisa informar sua
Microsoft Account (ou Windows Live ID) para se logar no sistema. Com isso, a pessoa conseguirá acessar facilmente seus arquivos no
SkyDrive e compartilhar dados com seus contatos, por exemplo. É claro que esta característica não é uma exigência: o usuário que preferir
poderá utilizar o esquema tradicional de login, onde seu nome e senha existem só no computador, não havendo integração com as nuvens.
Também é importante frisar que, quem preferir o login com Microsoft Account, poderá acessar o computador mesmo quando não houver
acesso à internet.

• Senha com imagem


Outra novidade do Windows 8 em relação à autenticação de usuários é a funcionalidade de senha com imagem. A ideia é simples: em
vez de digitar uma combinação de caracteres, o usuário deve escolher uma imagem – uma foto, por exemplo – e fazer um desenho com
três gestos em uma parte dela. A partir daí, toda vez que for necessário realizar login, a imagem em questão será exibida e o usuário terá
que repetir o movimento que criou.
É possível utilizar esta opção com mouse, mas ela é particularmente interessante para login rápido em tablets, por causa da ausência
de teclado para digitação de senha.

• Windows Store (Loja)


Seguindo o exemplo de plataformas como Android e iOS, o Windows 8 passou a contar com uma loja oficial de aplicativos. A maioria
dos programas existentes ali são gratuitos, mas o usuário também poderá adquirir softwares pagos também.

É válido destacar que o Windows 8 é compatível com programas feitos para os Windows XP, Vista e 7 – pelo menos a maioria deles.
Além disso, o usuário não é obrigado a utilizar a loja para obter softwares, já que o velho esquema de instalar programas distribuídos di-
retamente pelo desenvolvedor ou por sites de download, por exemplo, continua valendo.

• Notificações
A Microsoft também deu especial atenção às notificações no Windows 8. E não só notificações do sistema, que avisam, por exemplo,
quando há atualizações disponíveis: também há notificações de aplicativos, de forma que você possa saber da chegada de e-mails ou de
um compromisso em sua agenda por meio de uma pequena nota que aparece mesmo quando outro programa estiver ocupando toda a
tela.

• Gestos e atalhos
Apesar de diferente, o Windows 8 não é um sistema operacional de difícil utilização. Você pode levar algum tempo para se acostumar
a ele, mas muito provavelmente chegará lá. Um jeito de acelerar este processo e ao mesmo tempo aproveitar melhor o sistema é apren-
dendo a utilizar gestos (para telas sensíveis ao toque), movimentos para o mouse ou mesmo atalhos para teclado. Eis alguns:
– Para voltar à janela anterior: leve o cursor do mouse até o canto superior esquerdo (bem no canto mesmo). Uma miniatura da
janela será exibida. Clique nela. No caso de toques, arraste o seu dedo do canto esquerdo superior até o centro da janela;
– Para fechar um aplicativo sem o botão de encerramento: com mouse ou com toque, clique na barra superior do programa e a
arraste até a parte inferior da tela;
– Para desinstalar um aplicativo: na tela inicial, clique com o botão direito do mouse no bloco de um aplicativo. Aparecerão ali várias
opções, sendo uma delas a que permite desinstalar o software. No caso de telas sensíveis ao toque, posicione o dedo bloco e o mova para
cima;
– Para alternar entre as janelas abertas usando teclado: a velha e boa combinação – pressione as teclas Alt e Tab ao mesmo tempo;

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INFORMÁTICA

– Para ativar a pesquisa automaticamente na tela inicial: se você estiver na tela inicial e quiser iniciar um aplicativo ou abrir um
arquivo, por exemplo, basta simplesmente começar a digitar o seu nome. Ao fazer isso, o sistema operacional automaticamente iniciará a
busca para localizá-lo.

Versões do Windows 8
– Windows RT: versão para dispositivos baseados na arquitetura ARM. Pode ocorrer incompatibilidade com determinados aplicativos
criados para a plataforma x86. Somente será possível encontrar esta versão de maneira pré-instalada em tablets e afins;
– Windows 8: trata-se da versão mais comum, direcionada aos usuários domésticos, a ambientes de escritório e assim por diante.
Pode ser encontrada tanto em 32-bit quanto em 64-bit;
– Windows 8 Pro: é a versão mais completa, consistindo, essencialmente, no Windows 8 acrescido de determinados recursos, es-
pecialmente para o segmento corporativo, como virtualização e gerenciamento de domínios. Também permite a instalação gratuita do
Windows Media Center.

Área de Trabalho
A Microsoft optou por deixar a famosa área de trabalho no novo Windows, possuindo as mesmas funções das versões anteriores, mas
com uma pequena diferença, o botão iniciar não existe mais, pois, como dito anteriormente, foi substituído pela nova interface Metro.

Área de trabalho do Windows 8.18

Para acessar a área de trabalho no Windows 8, basta entrar na tela inicial e procurar pelo ícone correspondente.

Extrair arquivos mais rápidos


O Windows 8 possui uma vantagem significativa na compactação e extração de arquivos, assim como também na transferência de
dados e no tempo para abrir algum software.

Windows Store
Outra novidade do Windows 8, é a nova ferramenta de compras de aplicativos, chamada de Windows Store.
Podemos dizer de que se trata de uma loja virtual criada pela Microsoft em busca de aproximar o usuário de novas descobertas de
aplicativos criados exclusivamente para o sistema operacional.
A ferramenta pode ser acessada da mesma maneira que as outras. Ela é encontrada na tela inicial (Interface Metro) e basta dar apenas
um clique para abrir a página com os aplicativos em destaques.

Nuvem e vínculo fácil com as redes sociais


Mais uma novidade, entre diversas outras do novo sistema operacional da Microsoft, é o armazenamento na nuvem, ou seja, o Win-
dows 8 também utiliza computação em nuvem para guardar seus dados, podendo o usuário acessá-los em outros computadores.
As integrações sociais também foi outro diferencial. Todas as redes favoritas podem ser usadas, como Twitter, Facebook, Google Plus,
entre outras, sem precisar acessá-las, tudo é mostrado na tela inicial, na forma de notificações.

Tela Sensível – Touch


Por últimos, mas não menos importante, é a tecnologia touch que o Windows 8 suporta. Essa tecnologia faz com que o usuário possa
usar as ferramentas do sistema operacional apenas com as mãos, sem o uso de mouse.

18 https://www.crn.com.au/news/windows-8-show-us-your-real-face-289865
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INFORMÁTICA
Acessórios do Windows
O Windows traz consigo alguns acessórios (pequenos programas) muito úteis para executar algumas tarefas básicas do dia-a-dia,
vejamos alguns desses acessórios:

Calculadora
A calculadora do Windows vem em dois formatos distintos (a Padrão e a Científica). Ela permite colar seus resultados em outros pro-
gramas ou copiar no seu visor (display) um número copiado de outro aplicativo.

Bloco de Notas
É um pequeno editor de textos que acompanha o Windows porque permite uma forma bem simples de edição. Os tipos de formata-
ção existentes no bloco de notas são: fontes, estilo e tamanho. É muito utilizado por programadores para criar programas de computador.

WordPad
É como se fosse um Word reduzido. Pode ser classificado como um editor de textos, porque possui recursos de formatação.

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INFORMÁTICA
Paint
Programa muito utilizado por iniciantes em informática. O Paint é um pequeno programa criado para desenhar e cria arquivos no
formato bitmap que são imagens formadas para pequenos pontos. Ele não trabalha com imagens vetoriais (desenhos feitos através de
cálculos matemáticos), ele apenas permite a pintura de pequenos pontos para formar a imagem que se quer. Seus arquivos normalmente
são salvos no formato BMP, mas o programa também permite salvar os desenhos com os formatos JPG e GIF.

Lixeira
Lixeira na área de trabalho é um local de armazenamento temporário para arquivos excluídos. Quando você exclui um arquivo ou
pasta em seu computador (HD ou SSD), ele não é excluído imediatamente, mas vai para a Lixeira.

Cotas do Usuário
Recurso que foi herdado do Windows Vista é o gerenciamento de cotas de espaço em disco para usuários, algo muito interessante em
um PC usado por várias pessoas. Assim é possível delimitar quanto do disco rígido pode ser utilizado no máximo por cada um que utiliza
o computador.
Se você possui status de administrador do Windows pode realizar essa ação de modo rápido e simples seguindo as instruções.

Restauração do Sistema
É um recurso do Windows em que o computador literalmente volta para um estado (hora e data) no passado. É útil quando programas
que o usuário instalou comprometem o funcionamento do sistema e o usuário deseja que o computador volte para um estado anterior à
instalação do programa.

Windows Explorer
É o programa que acompanha o Windows e tem por função gerenciar os objetos gravados nas unidades de disco, ou seja, todo e qual-
quer arquivo que esteja gravado em seu computador e toda pasta que exista nele pode ser vista pelo Windows Explorer.,

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INFORMÁTICA

Painel de Controle

É o programa que acompanha o Windows e permite ajustar todas as configurações do sistema operacional, desde ajustar a hora do
computador, até coisas mais técnicas como ajustar o endereço virtual das interrupções utilizadas pela porta do mouse.
O painel de controle é, na verdade, uma janela que possui vários ícones, e cada um desses ícones é responsável por um ajuste dife-
rente no Windows.

Bitlocker
É um dos recursos Windows, aprimorado nas versões Ultimate e Enterprise do Windows 7, 8 e 10.
Este recurso tem como vocação a proteção de seus dados. Qualquer arquivo é protegido, salvo em uma unidade criptografada pelo
recurso. A operação se desenvolve automaticamente após a ativação.

Windows 10
Lançado em 2015, O Windows 10 chega ao mercado com a proposta ousada, juntar todos os produtos da Microsoft em uma única
plataforma. Além de desktops e notebooks, essa nova versão equipará smartphones, tablets, sistemas embarcados, o console Xbox One e
produtos exclusivos, como o Surface Hub e os óculos de realidade aumentada HoloLens19.

19 https://estudioaulas.com.br/img/ArquivosCurso/materialDemo/SlideDemo-4147.pdf
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INFORMÁTICA
Versões do Windows 10
– Windows 10 Home: edição do sistema operacional voltada para os consumidores domésticos que utilizam PCs (desktop e note-
book), tablets e os dispositivos “2 em 1”.
– Windows 10 Pro: o Windows 10 Pro também é voltado para PCs (desktop e notebook), tablets e dispositivos “2 em 1”, mas traz
algumas funcionalidades extras em relação ao Windows 10 Home, os quais fazem com que essa edição seja ideal para uso em pequenas
empresas, apresentando recursos para segurança digital, suporte remoto, produtividade e uso de sistemas baseados na nuvem.
– Windows 10 Enterprise: construído sobre o Windows 10 Pro, o Windows 10 Enterprise é voltado para o mercado corporativo. Os
alvos dessa edição são as empresas de médio e grande porte, e o Sistema apresenta capacidades que focam especialmente em tecnologias
desenvolvidas no campo da segurança digital e produtividade.
– Windows 10 Education: Construída a partir do Windows 10 Enterprise, essa edição foi desenvolvida para atender as necessidades
do meio escolar.
– Windows 10 Mobile: o Windows 10 Mobile é voltado para os dispositivos de tela pequena cujo uso é centrado no touchscreen,
como smartphones e tablets
– Windows 10 Mobile Enterprise: também voltado para smartphones e pequenos tablets, o Windows 10 Mobile Enterprise tem como
objetivo entregar a melhor experiência para os consumidores que usam esses dispositivos para trabalho.
– Windows 10 IoT: edição para dispositivos como caixas eletrônicos, terminais de autoatendimento, máquinas de atendimento para
o varejo e robôs industriais – todas baseadas no Windows 10 Enterprise e Windows 10 Mobile Enterprise.
– Windows 10 S: edição otimizada em termos de segurança e desempenho, funcionando exclusivamente com aplicações da Loja
Microsoft.
– Windows 10 Pro – Workstation: como o nome sugere, o Windows 10 Pro for Workstations é voltado principalmente para uso pro-
fissional mais avançado em máquinas poderosas com vários processadores e grande quantidade de RAM.
Área de Trabalho (pacote aero)
Aero é o nome dado a recursos e efeitos visuais introduzidos no Windows a partir da versão 7.

Área de Trabalho do Windows 10.20


Aero Glass (Efeito Vidro)
Recurso que deixa janelas, barras e menus transparentes, parecendo um vidro.

Efeito Aero Glass.21


20 https://edu.gcfglobal.org/pt/tudo-sobre-o-windows-10/sobre-a-area-de-trabalho-do-windows-10/1/
21 https://www.tecmundo.com.br/windows-10/64159-efeito-aero-glass-lancado-mod-windows-10.htm
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INFORMÁTICA
Aero Flip (Alt+Tab)
Permite a alternância das janelas na área de trabalho, organizando-as de acordo com a preferência de uso.

Efeito Aero Flip.

Aero Shake (Win+Home)


Ferramenta útil para quem usa o computador com multitarefas. Ao trabalhar com várias janelas abertas, basta “sacudir” a janela
ativa, clicando na sua barra de título, que todas as outras serão minimizadas, poupando tempo e trabalho. E, simplesmente, basta sacudir
novamente e todas as janelas serão restauradas.

Efeito Aero Shake (Win+Home)


Editora
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INFORMÁTICA
Aero Snap (Win + Setas de direção do teclado)
Recurso que permite melhor gerenciamento e organização das janelas abertas.
Basta arrastar uma janela para o topo da tela e a mesma é maximizada, ou arrastando para uma das laterais a janela é dividida de
modo a ocupar metade do monitor.

Efeito Aero Snap

Aero Peek (Win+Vírgula – Transparência / Win+D – Minimizar Tudo)


O Aero Peek (ou “Espiar área de trabalho”) permite que o usuário possa ver rapidamente o desktop. O recurso pode ser útil quando
você precisar ver algo na área de trabalho, mas a tela está cheia de janelas abertas. Ao usar o Aero Peek, o usuário consegue ver o que
precisa, sem precisar fechar ou minimizar qualquer janela. Recurso pode ser acessado por meio do botão Mostrar área de trabalho (parte
inferior direita do Desktop). Ao posicionar o mouse sobre o referido botão, as janelas ficam com um aspecto transparente. Ao clicar sobre
ele, as janelas serão minimizadas.

Efeito Aero Peek.

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INFORMÁTICA
Menu Iniciar
Algo que deixou descontente grande parte dos usuários do Windows 8 foi o sumiço do Menu Iniciar.
O novo Windows veio com a missão de retornar com o Menu Iniciar, o que aconteceu de fato. Ele é dividido em duas partes: na direita,
temos o padrão já visto nos Windows anteriores, como XP, Vista e 7, com a organização em lista dos programas. Já na direita temos uma
versão compacta da Modern UI, lembrando muito os azulejos do Windows Phone 8.

Menu Iniciar no Windows 10.22

Nova Central de Ações


A Central de Ações é a nova central de notificações do Windows 10. Ele funciona de forma similar à Central de Ações das versões an-
teriores e também oferece acesso rápido a recursos como modo Tablet, Bloqueio de Rotação, Luz noturna e VPN.

Central de ações do Windows 10.23

Paint 3D
O novo App de desenhos tem recursos mais avançados, especialmente para criar objetos em três dimensões. As ferramentas antigas
de formas, linhas e pintura ainda estão lá, mas o design mudou e há uma seleção extensa de funções que prometem deixar o programa
mais versátil.

22 https://pplware.sapo.pt/microsoft/windows/windows-10-5-dicas-usar-melhor-menu-iniciar
23 Fonte: https://support.microsoft.com/pt-br/help/4026791/windows-how-to-open-action-center
Editora
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INFORMÁTICA
Para abrir o Paint 3D clique no botão Iniciar ou procure por Paint 3D na caixa de pesquisa na barra de tarefas.

Paint 3D.

Cortana
Cortana é um/a assistente virtual inteligente do sistema operacional Windows 10.
Além de estar integrada com o próprio sistema operacional, a Cortana poderá atuar em alguns aplicativos específicos. Esse é o caso
do Microsoft Edge, o navegador padrão do Windows 10, que vai trazer a assistente pessoal como uma de suas funcionalidades nativas. O
assistente pessoal inteligente que entende quem você é, onde você está e o que está fazendo. O Cortana pode ajudar quando for solicita-
do, por meio de informações-chave, sugestões e até mesmo executá-las para você com as devidas permissões.
Para abrir a Cortana selecionando a opção na Barra de Tarefas. Podendo teclar ou falar o
tema que deseja.

Cortana no Windows 10.24

Microsot Edge
O novo navegador do Windows 10 veio para substituir o Internet Explorer como o browser-padrão do sistema operacional da Mi-
crosoft. O programa tem como características a leveza, a rapidez e o layout baseado em padrões da web, além da remoção de suporte a
tecnologias antigas, como o ActiveX e o Browser Helper Objects.
Dos destaques, podemos mencionar a integração com serviços da Microsoft, como a assistente de voz Cortana e o serviço de armaze-
namento na nuvem OneDrive, além do suporte a ferramentas de anotação e modo de leitura.
O Microsoft Edge é o primeiro navegador que permite fazer anotações, escrever, rabiscar e realçar diretamente em páginas da Web.
Use a lista de leitura para salvar seus artigos favoritos para mais tarde e lê-los no modo de leitura . Focalize guias abertas para visu-
alizá-las e leve seus favoritos e sua lista de leitura com você quando usar o Microsoft Edge em outro dispositivo.
O Internet Explorer 11, ainda vem como acessório do Windows 10. Devendo ser descontinuado nas próximas atualizações.
Para abrir o Edge clique no botão Iniciar , Microsoft Edge ou clique no ícone na barra de tarefas.
24 https://www.tecmundo.com.br/cortana/76638-cortana-ganhar-novo-visual-windows-10-rumor.htm
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INFORMÁTICA

Microsoft Edge no Windows 10.

Windows Hello
O Windows Hello funciona com uma tecnologia de credencial chamada Microsoft Passport, mais fácil, mais prática e mais segura do
que usar uma senha, porque ela usa autenticação biométrica. O usuário faz logon usando face, íris, impressão digital, PIN, bluetooth do
celular e senha com imagem.
Para acessar o Windows Hello, clique no botão , selecione Configurações > Contas > Opções de entrada. Ou procure por
Hello ou Configurações de entrada na barra de pesquisa.

Windows Hello.

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INFORMÁTICA
Bibliotecas
As Bibliotecas são um recurso do Windows 10 que permite a exibição consolidada de arquivos relacionados em um só local. Você pode
pesquisar nas Bibliotecas para localizar os arquivos certos rapidamente, até mesmo quando esses arquivos estão em pastas, unidades
ou em sistemas diferentes (quando as pastas são indexadas nos sistemas remotos ou armazenadas em cache localmente com Arquivos
Offline).

Tela Bibliotecas no Windows 10.25

One Drive
O OneDrive é serviço um de armazenamento e compartilhamento de arquivos da Microsoft. Com o Microsoft OneDrive você pode
acessar seus arquivos em qualquer lugar e em qualquer dispositivo.
O OneDrive é um armazenamento on-line gratuito que vem com a sua conta da Microsoft. É como um disco rígido extra que está
disponível para todos os dispositivos que você usar.

OneDivre.26

Manipulação de Arquivos
É um conjunto de informações nomeadas, armazenadas e organizadas em uma mídia de armazenamento de dados. O arquivo está
disponível para um ou mais programas de computador, sendo essa relação estabelecida pelo tipo de arquivo, identificado pela extensão
recebida no ato de sua criação ou alteração.
25 https://agorafunciona.wordpress.com/2017/02/12/como-remover-as-pastas-imagens-da-camera-e-imagens-salvas
26 Fonte: https://tecnoblog.net/286284/como-alterar-o-local-da-pasta-do-onedrive-no-windows-10
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INFORMÁTICA
Há arquivos de vários tipos, identificáveis por um nome, seguido de um ponto e um sufixo com três (DOC, XLS, PPT) ou quatro letras
(DOCX, XLSX), denominado extensão. Assim, cada arquivo recebe uma denominação do tipo arquivo.extensão. Os tipos mais comuns são
arquivos de programas (executavel.exe), de texto (texto.docx), de imagens (imagem.bmp, eu.jpg), planilhas eletrônicas (tabela.xlsx) e
apresentações (monografia.pptx).

Pasta
As pastas ou diretórios: não contém informação propriamente dita e sim arquivos ou mais pastas. A função de uma pasta é organizar
tudo o que está dentro das unidades.
O Windows utiliza as pastas do computador para agrupar documentos, imagens, músicas, aplicações, e todos os demais tipos de
arquivos existentes.
Para visualizar a estrutura de pastas do disco rígido, bem como os arquivos nela armazenados, utiliza-se o Explorador de Arquivos.

Manipulação de arquivos e/ou pastas (Recortar/Copiar/Colar)


Existem diversas maneiras de manipular arquivos e/ou pastas.
1. Através dos botões RECORTAR, COPIAR E COLAR. (Mostrados na imagem acima – Explorador de arquivos).
2. Botão direito do mouse.
3. Selecionando e arrastando com o uso do mouse (Atenção com a letra da unidade e origem e destino).

Central de Segurança do Windows Defender


A Central de Segurança do Windows Defender fornece a área de proteção contra vírus e ameaças.
Para acessar a Central de Segurança do Windows Defender, clique no botão , selecione Configurações > Atualização e seguran-
ça > Windows Defender. Ou procure por Windows Defender na barra de pesquisa.

Windows Defender.27

27 Fonte: https://answers.microsoft.com/pt-br/protect/forum/all/central-de-seguran%C3%A7a-do-windows-defender/9ae1b77e-de7c-4ee7-b90f-4bf76ad529b1
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INFORMÁTICA
Lixeira
A Lixeira armazena temporariamente arquivos e/ou pastas ex- NOÇÕES DE IP
cluídos das unidades internas do computador (c:\).
Para enviar arquivo para a lixeira:
- Seleciona-lo e pressionar a tecla DEL. IP é a identificação de um computador conectado a rede.
- Arrasta-lo para a lixeira. Desta forma todos os computadores conectados a internet
- Botão direito do mouse sobre o arquivo, opção excluir. recebem uma identificação única (IP).
- Seleciona-lo e pressionar CTRL+D. O IP é conhecido como o INTERNET PROTOCOL.
Vejamos a figura abaixo para ilustrar este conceito:
Arquivos apagados permanentemente:
- Arquivos de unidades de rede.
- Arquivos de unidades removíveis (pen drive, ssd card...).
- Arquivos maiores do que a lixeira. (Tamanho da lixeira é mos-
trado em MB (megabytes) e pode variar de acordo com o tamanho
do HD (disco rígido) do computador).
- Deletar pressionando a tecla SHIFT.
- Desabilitar a lixeira (Propriedades).

Para acessar a Lixeira, clique no ícone correspondente na


área de trabalho do Windows 10.

Outros Acessórios do Windows 10


Existem outros, outros poderão ser lançados e incrementados,
mas os relacionados a seguir são os mais populares: CARACTERÍSTICAS DO IP
– Alarmes e relógio. -Roteamento mais eficiente dos dados
– Assistência Rápida. -Melhoria do processamento de pacotes
– Bloco de Notas. -Melhoria do fluxo de dados diretos.
– Calculadora. -Melhoria e simplificação da configuração de rede
– Calendário. -Aumento do suporte para novos serviços
– Clima. -Melhoria da segurança da informação.
– E-mail. FATORES QUE MOTIVARAM A CRIAÇÃO DO IP
– Facilidade de acesso (ferramenta destinada a deficientes fí- -Aumento de computadores conectados exigindo a expan-
sicos). são.
– Ferramenta de Captura. -Aumento da demanda, onde muitos aparelhos estão co-
– Gravador de passos. nectados.
– Internet Explorer. -Melhoria da qualidade dos serviços.
– Mapas. -Aumento geral de serviços que exigem conexão e trafego
– Mapa de Caracteres. de dados.
– Paint.
– Windows Explorer. CONCLUSÃO
– WordPad. O endereço IP cuida da identificação dos dispositivos co-
– Xbox. nectados a uma rede, desta forma a conectividade foi amplia-
da, pois atualmente temos vários dispositívos conectados, tais
Principais teclas de atalho como, TV(s), SMARTHSFONE, câmeras IP, etc...
CTRL + F4: fechar o documento ativo. Este endereço IP pode ser um IP vinculado a uma rede local
CTRL + R ou F5: atualizar a janela. ou pode ser um IP de uma rede pública (INTERNET).
CTRL + Y: refazer.
CTRL + ESC: abrir o menu iniciar.
CTRL + SHIFT + ESC: gerenciador de tarefas. NOÇÕES DE IMEI
WIN + A: central de ações.
WIN + C: cortana.
WIN + E: explorador de arquivos. O código IMEI (International Mobile Equipment Idendity) é
WIN + H: compartilhar. a Identificação Internacional de Equipamento Móvel.
WIN + I: configurações. O IMEI é um número homologado e de acordo com a ANA-
WIN + L: bloquear/trocar conta. TEL (agencia nacional de telecomunicações), todo equipamento
WIN + M: minimizar as janelas. móvel possui este número como identificador (ID).
WIN + R: executar. Pelo número do IMEI é possível saber se há algum registro
WIN + S: pesquisar. de impedimento no aparelho que você possui ou que pretende
WIN + “,”: aero peek. comprar.
WIN + SHIFT + M: restaurar as janelas. COMO DESCOBRIR O IMEI DE UM CELULAR
WIN + TAB: task view (visão de tarefas). - Procurar na caixa do celular
WIN + HOME: aero shake. -Procurar um adesivo atrás da bateria
ALT + TAB: alternar entre janelas. -Digitar *#06# no celular e apertar a tecla ligar.
WIN + X: menu de acesso rápido.
F1: ajuda.
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INFORMÁTICA
Atenção: Celulares que utilizam mais de um SIM CARD possuem um para IMEI cada chip, neste caso é necessário verificar
cada um dos IMEI(s)
De acordo com a ANATEL (agencia nacional de telecomunicações) a situação do celular pode ser consultada pelo IMEI, de
acordo com a figura abaixo:

CONCLUSÃO
O código de identificação IMEI é importante para rastrear celular para diversos fins de acordo com a situação.

PORTA LÓGICA

INTRODUÇÃO
Portas lógicas é a fundação dos circuitos digitais. As portas lógicas recebem uma ou mais entradas e produzem uma saída.
Desta forma todos os circuitos eletrônicos funcionam através das portas lógicas.
Estes sinais são emitidos através de sinais elétricos através de ondas.

PRINCIPAIS PORTAS LÓGICAS

As portas lógicas básicas se dividem nos AND, OR, NOT, XOR, NAND, NOR e XNOR. Essas portas combinadas geram estados de
saída.
De acordo com o quadro abaixo vamos analisar esses tipos, onde “0” é “1” representam o estado possível do sinal (ligado e
desligado).

Descrição Operações: Entrada e saída


Porta

A porta AND segue o principio matemático da conjunção, desta forma a entrada de


dois sinais seguem o padrão de acordo com a próxima coluna.
A B Saída
0 0 0
AND 0 1 0
1 0 0
1 1 1
A porta OR segue o conceito de injunção da matemática. Suas operações estão de
acordo com a próxima coluna.
A B Saída
0 0 0
OR 0 1 1
1 0 1
1 1 1

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INFORMÁTICA

A porta NOT e conhecida como inversora, esta porta segue o princípio da negação
matemática, de acordo com a próxima coluna.
A Saída
NOT 0 1
1 0
A porta XOR é um OR exclusivo, isto é a saída será verdadeira (1) apenas quando uma
da entradas forem verdadeiras.
A B Saída
0 0 0
XOR 0 1 1
1 0 1
1 1 0
A operação NAND possui um valor verdadeiro se e somente se um dos seus operan-
dos for falso.
A B Saída
0 0 1
NAND 0 1 1
1 0 1
1 1 0
NOR é a negação do operador OR
A B Saída
0 0 1
NOR 0 1 0
1 0 0
1 1 0
XNOR tem a saída oposta a XOR, de acordo com a próxima coluna do quadro.
A B Saída
0 0 1
XNOR 0 1 0
1 0 0
1 1 1

CONCLUSÃO
Todos os circuitos digitais trabalham usando a logica BOOLEANA. Esta lógica trabalha de com a ausência ou a presença de
sinal. Desta forma estas portas são entradas que se abrem e sem fecham trabalhando com os respectivos sinais.
Desta forma todos os circuitos eletrônicos trabalham combinando todos estas formas para que todos os circuitos combinados
gerem o seu respectivo resultado.

IDENTIFICAÇÃO E MANIPULAÇÃO DE ARQUIVOS. CONCEITOS DE ORGANIZAÇÃO E DE GERENCIAMENTO DE INFORMAÇÕES,


ARQUIVOS, PASTAS E PROGRAMAS

Pasta
São estruturas que dividem o disco em várias partes de tamanhos variados as quais podem pode armazenar arquivos e outras
pastas (subpastas)28.

28 https://docente.ifrn.edu.br/elieziosoares/disciplinas/informatica/aula-05-manipulacao-de-arquivos-e-pastas
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Arquivo
É a representação de dados/informações no computador os quais ficam dentro das pastas e possuem uma extensão que iden-
tifica o tipo de dado que ele representa.

Extensões de arquivos

Existem vários tipos de arquivos como arquivos de textos, arquivos de som, imagem, planilhas, etc. Alguns arquivos são univer-
sais podendo ser aberto em qualquer sistema. Mas temos outros que dependem de um programa específico como os arquivos do
Corel Draw que necessita o programa para visualizar. Nós identificamos um arquivo através de sua extensão. A extensão são aquelas
letras que ficam no final do nome do arquivo.
Exemplos:
.txt: arquivo de texto sem formatação.
.html: texto da internet.
.rtf: arquivo do WordPad.
.doc e .docx: arquivo do editor de texto Word com formatação.

É possível alterar vários tipos de arquivos, como um documento do Word (.docx) para o PDF (.pdf) como para o editor de texto
do LibreOffice (.odt). Mas atenção, tem algumas extensões que não são possíveis e caso você tente poderá deixar o arquivo inuti-
lizável.
Nomenclatura dos arquivos e pastas
Os arquivos e pastas devem ter um nome o qual é dado no momento da criação. Os nomes podem conter até 255 caracteres
(letras, números, espaço em branco, símbolos), com exceção de / \ | > < * : “ que são reservados pelo sistema operacional.

Bibliotecas
Criadas para facilitar o gerenciamento de arquivos e pastas, são um local virtual que agregam conteúdo de múltiplos locais em
um só.
Estão divididas inicialmente em 4 categorias:
– Documentos;
– Imagens;
– Músicas;
– Vídeos.

Editora
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Windows Explorer
O Windows Explorer é um gerenciador de informações, arquivos, pastas e programas do sistema operacional Windows da Mi-
crosoft29.
Todo e qualquer arquivo que esteja gravado no seu computador e toda pasta que exista nele pode ser vista pelo Windows
Explorer.
Possui uma interface fácil e intuitiva.
Na versão em português ele é chamado de Gerenciador de arquivo ou Explorador de arquivos.
O seu arquivo é chamado de Explorer.exe
Normalmente você o encontra na barra de tarefas ou no botão Iniciar > Programas > Acessórios.

Na parte de cima do Windows Explorer você terá acesso a muitas funções de gerenciamento como criar pastas, excluir, reno-
mear, excluir históricos, ter acesso ao prompt de comando entre outras funcionalidades que aparecem sempre que você selecionar
algum arquivo.
A coluna do lado esquerdo te dá acesso direto para tudo que você quer encontrar no computador. As pastas mais utilizadas são
as de Download, documentos e imagens.

Operações básicas com arquivos do Windows Explorer


• Criar pasta: clicar no local que quer criar a pasta e clicar com o botão direito do mouse e ir em novo > criar pasta e nomear
ela. Você pode criar uma pasta dentro de outra pasta para organizar melhor seus arquivos. Caso você queira salvar dentro de uma
mesma pasta um arquivo com o mesmo nome, só será possível se tiver extensão diferente. Ex.: maravilha.png e maravilha.doc
Independente de uma pasta estar vazia ou não, ela permanecerá no sistema mesmo que o computador seja reiniciado
• Copiar: selecione o arquivo com o mouse e clique Ctrl + C e vá para a pasta que quer colar a cópia e clique Ctrl +V. Pode
também clicar com o botão direito do mouse selecionar copiar e ir para o local que quer copiar e clicar novamente como o botão
direito do mouse e selecionar colar.
• Excluir: pode selecionar o arquivo e apertar a tecla delete ou clicar no botão direito do mouse e selecionar excluir
• Organizar: você pode organizar do jeito que quiser como, por exemplo, ícones grandes, ícones pequenos, listas, conteúdos,
lista com detalhes. Estas funções estão na barra de cima em exibir ou na mesma barra do lado direito.
• Movimentar: você pode movimentar arquivos e pastas clicando Ctrl + X no arquivo ou pasta e ir para onde você quer colar o
arquivo e Clicar Ctrl + V ou clicar com o botão direito do mouse e selecionar recortar e ir para o local de destino e clicar novamente
no botão direito do mouse e selecionar colar.

Localizando Arquivos e Pastas


No Windows Explorer tem duas:
Tem uma barra de pesquisa acima na qual você digita o arquivo ou pasta que procura ou na mesma barra tem uma opção de
Pesquisar. Clicando nesta opção terão mais opções para você refinar a sua busca.

Arquivos ocultos
São arquivos que normalmente são relacionados ao sistema. Eles ficam ocultos (invisíveis) por que se o usuário fizer alguma
alteração, poderá danificar o Sistema Operacional.
Apesar de estarem ocultos e não serem exibido pelo Windows Explorer na sua configuração padrão, eles ocupam espaço no
disco.

29 https://centraldefavoritos.com.br/2019/06/05/conceitos-de-organizacao-e-de-gerenciamento-de-informacoes-arquivos-pastas-e-programas/
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INFORMÁTICA
mental é que cada backup diferencial mapeia as modificações em
BACKUP DE ARQUIVOS. PROCEDIMENTOS DE BACKUP relação ao último backup completo. Ele é mais seguro na manipula-
ção de dados. Ele não marca os arquivos copiados.

Backup é uma cópia de segurança que você faz em outro dis- • Arquivamento: você pode copiar ou mover dados que deseja
positivo de armazenamento como HD externo, armazenamento na ou que precisa guardar, mas que não são necessários no seu dia a
nuvem ou pen drive por exemplo, para caso você perca os dados dia e que raramente são alterados.
originais de sua máquina devido a vírus, dados corrompidos ou ou-
tros motivos e assim possa restaurá-los (recuperá-los)30.
Backups são extremamente importantes, pois permitem31: CONCEITOS BÁSICOS DE HARDWARE (PLACA MÃE, ME‐
• Proteção de dados: você pode preservar seus dados para que MÓRIAS, PROCESSADORES (CPU) E DISCO DE ARMAZENA‐
sejam recuperados em situações como falha de disco rígido, atua- MENTO HDS, CDS E DVDS). PERIFÉRICOS DE COMPUTADO‐
lização malsucedida do sistema operacional, exclusão ou substitui- RES
ção acidental de arquivos, ação de códigos maliciosos/atacantes e
furto/perda de dispositivos.
• Recuperação de versões: você pode recuperar uma versão Hardware
antiga de um arquivo alterado, como uma parte excluída de um tex- O hardware são as partes físicas de um computador. Isso inclui
to editado ou a imagem original de uma foto manipulada. a Unidade Central de Processamento (CPU), unidades de armazena-
mento, placas mãe, placas de vídeo, memória, etc.32. Outras partes
Muitos sistemas operacionais já possuem ferramentas de ba- extras chamados componentes ou dispositivos periféricos incluem
ckup e recuperação integradas e também há a opção de instalar o mouse, impressoras, modems, scanners, câmeras, etc.
programas externos. Na maioria dos casos, ao usar estas ferramen- Para que todos esses componentes sejam usados apropriada-
tas, basta que você tome algumas decisões, como: mente dentro de um computador, é necessário que a funcionalida-
• Onde gravar os backups: podem ser usadas mídias (como CD, de de cada um dos componentes seja traduzida para algo prático.
DVD, pen-drive, disco de Blu-ray e disco rígido interno ou externo) Surge então a função do sistema operacional, que faz o intermédio
ou armazená-los remotamente (on-line ou off-site). A escolha de- desses componentes até sua função final, como, por exemplo, pro-
pende do programa de backup que está sendo usado e de ques- cessar os cálculos na CPU que resultam em uma imagem no moni-
tões como capacidade de armazenamento, custo e confiabilidade. tor, processar os sons de um arquivo MP3 e mandar para a placa de
Um CD, DVD ou Blu-ray pode bastar para pequenas quantidades de som do seu computador, etc. Dentro do sistema operacional você
dados, um pen-drive pode ser indicado para dados constantemen- ainda terá os programas, que dão funcionalidades diferentes ao
te modificados, ao passo que um disco rígido pode ser usado para computador.
grandes volumes que devam perdurar.
• Quais arquivos copiar: apenas arquivos confiáveis e que Gabinete
tenham importância para você devem ser copiados. Arquivos de O gabinete abriga os componentes internos de um computa-
programas que podem ser reinstalados, geralmente, não precisam dor, incluindo a placa mãe, processador, fonte, discos de armaze-
ser copiados. Fazer cópia de arquivos desnecessários pode ocupar namento, leitores de discos, etc. Um gabinete pode ter diversos
espaço inutilmente e dificultar a localização dos demais dados. Mui- tamanhos e designs.
tos programas de backup já possuem listas de arquivos e diretórios
recomendados, podendo optar por aceitá-las ou criar suas próprias
listas.
• Com que periodicidade realizar: depende da frequência com
que os arquivos são criados ou modificados. Arquivos frequente-
mente modificados podem ser copiados diariamente ao passo que
aqueles pouco alterados podem ser copiados semanalmente ou
mensalmente.

Tipos de backup
• Backups completos (normal): cópias de todos os arquivos,
independente de backups anteriores. Conforma a quantidade de
dados ele pode ser é um backup demorado. Ele marca os arquivos
copiados.
• Backups incrementais: é uma cópia dos dados criados e al-
terados desde o último backup completo (normal) ou incremental,
ou seja, cópia dos novos arquivos criados. Por ser mais rápidos e Gabinete.33
ocupar menos espaço no disco ele tem maior frequência de backup.
Ele marca os arquivos copiados. Processador ou CPU (Unidade de Processamento Central)
• Backups diferenciais: da mesma forma que o backup incre- É o cérebro de um computador. É a base sobre a qual é cons-
mental, o backup diferencial só copia arquivos criados ou alterados truída a estrutura de um computador. Uma CPU funciona, basica-
desde o último backup completo (normal), mas isso pode variar em mente, como uma calculadora. Os programas enviam cálculos para
diferentes programas de backup. Juntos, um backup completo e
32 https://www.palpitedigital.com/principais-componentes-internos-pc-peri-
um backup diferencial incluem todos os arquivos no computador,
fericos-hardware-software/#:~:text=O%20hardware%20s%C3%A3o%20as%20
alterados e inalterados. No entanto, a diferença deste para o incre-
partes,%2C%20scanners%2C%20c%C3%A2meras%2C%20etc.
30 https://centraldefavoritos.com.br/2017/07/02/procedimentos-de-backup/ 33 https://www.chipart.com.br/gabinete/gabinete-gamer-gamemax-shine-g-
31 https://cartilha.cert.br/mecanismos/ 517-mid-tower-com-1-fan-vidro-temperado-preto/2546
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
o CPU, que tem um sistema próprio de “fila” para fazer os cálculos placa mãe pode ser on-board, ou seja, com componentes como pla-
mais importantes primeiro, e separar também os cálculos entre os cas de som e placas de vídeo fazendo parte da própria placa mãe,
núcleos de um computador. O resultado desses cálculos é traduzido ou off-board, com todos os componentes sendo conectados a ela.
em uma ação concreta, como por exemplo, aplicar uma edição em
uma imagem, escrever um texto e as letras aparecerem no monitor
do PC, etc. A velocidade de um processador está relacionada à velo-
cidade com que a CPU é capaz de fazer os cálculos.

CPU.34

Coolers
Quando cada parte de um computador realiza uma tarefa, elas
usam eletricidade. Essa eletricidade usada tem como uma consequ-
ência a geração de calor, que deve ser dissipado para que o compu-
tador continue funcionando sem problemas e sem engasgos no de-
sempenho. Os coolers e ventoinhas são responsáveis por promover Placa-mãe.36
uma circulação de ar dentro da case do CPU. Essa circulação de ar
provoca uma troca de temperatura entre o processador e o ar que Fonte
ali está passando. Essa troca de temperatura provoca o resfriamen- É responsável por fornecer energia às partes que compõe um
to dos componentes do computador, mantendo seu funcionamento computador, de forma eficiente e protegendo as peças de surtos
intacto e prolongando a vida útil das peças. de energia.

Fonte 37

Cooler.35

Placa-mãe
Se o CPU é o cérebro de um computador, a placa-mãe é o es-
queleto. A placa mãe é responsável por organizar a distribuição dos
cálculos para o CPU, conectando todos os outros componentes ex-
ternos e internos ao processador. Ela também é responsável por
enviar os resultados dos cálculos para seus devidos destinos. Uma

34 https://www.showmetech.com.br/porque-o-processador-e-uma-peca-im- 36 https://www.terabyteshop.com.br/produto/9640/placa-mae-biostar-b-
portante 360mhd-pro-ddr4-lga-1151
35 https://www.terabyteshop.com.br/produto/10546/cooler-deepcool-gamma- 37 https://www.magazineluiza.com.br/fonte-atx-alimentacao-pc-230w-
xx-c40-dp-mch4-gmx-c40p-intelam4-ryzen -01001-xway/p/dh97g572hc/in/ftpc
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130
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
Placas de vídeo – Periféricos de entrada e saída: são aqueles que enviam e re-
Permitem que os resultados numéricos dos cálculos de um pro- cebem informações para/do computador. Ex.: monitor touchscre-
cessador sejam traduzidos em imagens e gráficos para aparecer em en, drive de CD – DVD, HD externo, pen drive, impressora multifun-
um monitor. cional, etc.

Periféricos de entrada e saída.41

Placa de vídeo 38 – Periféricos de armazenamento: são aqueles que armazenam


informações. Ex.: pen drive, cartão de memória, HD externo, etc.
Periféricos de entrada, saída e armazenamento
São placas ou aparelhos que recebem ou enviam informações
para o computador. São classificados em:
– Periféricos de entrada: são aqueles que enviam informações
para o computador. Ex.: teclado, mouse, scanner, microfone, etc.

Periféricos de armazenamento.42

Software
Software é um agrupamento de comandos escritos em uma lin-
guagem de programação43. Estes comandos, ou instruções, criam as
Periféricos de entrada.39 ações dentro do programa, e permitem seu funcionamento.
Um software, ou programa, consiste em informações que po-
– Periféricos de saída: São aqueles que recebem informações dem ser lidas pelo computador, assim como seu conteúdo audiovi-
do computador. Ex.: monitor, impressora, caixas de som. sual, dados e componentes em geral. Para proteger os direitos do
criador do programa, foi criada a licença de uso. Todos estes com-
ponentes do programa fazem parte da licença.
A licença é o que garante o direito autoral do criador ou dis-
tribuidor do programa. A licença é um grupo de regras estipuladas
pelo criador/distribuidor do programa, definindo tudo que é ou não
é permitido no uso do software em questão.
Os softwares podem ser classificados em:
– Software de Sistema: o software de sistema é constituído pe-
los sistemas operacionais (S.O). Estes S.O que auxiliam o usuário,
para passar os comandos para o computador. Ele interpreta nossas
ações e transforma os dados em códigos binários, que podem ser
processados

Periféricos de saída.40
-que-servem-e-que-tipos-existem
38https://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2012/12/conheca-melhores- 41 https://almeida3.webnode.pt/trabalhos-de-tic/dispositivos-de-entrada-e-
-placas-de-video-lancadas-em-2012.html -saida
39https://mind42.com/public/970058ba-a8f4-451b-b121-3ba35c51e1e7 42 https://www.slideshare.net/contatoharpa/perifricos-4041411
40 https://aprendafazer.net/o-que-sao-os-perifericos-de-saida-para- 43 http://www.itvale.com.br
Editora
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INFORMÁTICA
– Software Aplicativo: este tipo de software é, basicamente,
os programas utilizados para aplicações dentro do S.O., que não es-
tejam ligados com o funcionamento do mesmo. Exemplos: Word,
Excel, Paint, Bloco de notas, Calculadora.
– Software de Programação: são softwares usados para criar
outros programas, a parir de uma linguagem de programação,
como Java, PHP, Pascal, C+, C++, entre outras.
– Software de Tutorial: são programas que auxiliam o usuário
de outro programa, ou ensine a fazer algo sobre determinado as-
sunto.
– Software de Jogos: são softwares usados para o lazer, com
vários tipos de recursos.
– Software Aberto: é qualquer dos softwares acima, que tenha • Iniciando um novo documento
o código fonte disponível para qualquer pessoa.

Todos estes tipos de software evoluem muito todos os dias.


Sempre estão sendo lançados novos sistemas operacionais, novos
games, e novos aplicativos para facilitar ou entreter a vida das pes-
soas que utilizam o computador.

NOÇÕES BÁSICAS DE EDITORES DE TEXTO E PLANILHAS


ELETRÔNICAS (MICROSOFT WORD, MICROSOFT EXCEL, LI‐
BREOFFICE WRITER E LIBREOFFICE CALC)

Microsoft Office

A partir deste botão retornamos para a área de trabalho do


Word, onde podemos digitar nossos textos e aplicar as formatações
desejadas.

• Alinhamentos
Ao digitar um texto, frequentemente temos que alinhá-lo para
atender às necessidades. Na tabela a seguir, verificamos os alinha-
mentos automáticos disponíveis na plataforma do Word.

GUIA PÁGINA TECLA DE


ALINHAMENTO
INICIAL ATALHO
Justificar (arruma a direito
e a esquerda de acordo Ctrl + J
com a margem

Alinhamento à direita Ctrl + G


O Microsoft Office é um conjunto de aplicativos essenciais para
uso pessoal e comercial, ele conta com diversas ferramentas, mas Centralizar o texto Ctrl + E
em geral são utilizadas e cobradas em provas o Editor de Textos –
Word, o Editor de Planilhas – Excel, e o Editor de Apresentações – Alinhamento à esquerda Ctrl + Q
PowerPoint. A seguir verificamos sua utilização mais comum:
• Formatação de letras (Tipos e Tamanho)
Word Presente em Fonte, na área de ferramentas no topo da área de
O Word é um editor de textos amplamente utilizado. Com ele trabalho, é neste menu que podemos formatar os aspectos básicos
podemos redigir cartas, comunicações, livros, apostilas, etc. Vamos de nosso texto. Bem como: tipo de fonte, tamanho (ou pontuação),
então apresentar suas principais funcionalidades. se será maiúscula ou minúscula e outros itens nos recursos auto-
máticos.
• Área de trabalho do Word
Nesta área podemos digitar nosso texto e formata-lo de acordo
com a necessidade.

Editora
132
132
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA

GUIA PÁGINA INICIAL FUNÇÃO – Planilha de custos.

Tipo de letra Desta forma ao inserirmos dados, os valores são calculados au-
tomaticamente.

Tamanho • Mas como é uma planilha de cálculo?


– Quando inseridos em alguma célula da planilha, os dados são
calculados automaticamente mediante a aplicação de fórmulas es-
Aumenta / diminui tamanho pecíficas do aplicativo.
– A unidade central do Excel nada mais é que o cruzamento
Recursos automáticos de caixa-altas entre a linha e a coluna. No exemplo coluna A, linha 2 ( A2 )
e baixas

Limpa a formatação

• Marcadores
Muitas vezes queremos organizar um texto em tópicos da se-
guinte forma:

Podemos então utilizar na página inicial os botões para operar


diferentes tipos de marcadores automáticos: – Podemos também ter o intervalo A1..B3

• Outros Recursos interessantes:

GUIA ÍCONE FUNÇÃO


- Mudar Forma
- Mudar cor de
Página inicial Fundo
- Mudar cor do
texto – Para inserirmos dados, basta posicionarmos o cursor na cé-
lula, selecionarmos e digitarmos. Assim se dá a iniciação básica de
uma planilha.
- Inserir Tabelas
Inserir
- Inserir Imagens • Formatação células

Verificação e cor-
Revisão
reção ortográfica

Arquivo Salvar

Excel
O Excel é um editor que permite a criação de tabelas para cál-
culos automáticos, análise de dados, gráficos, totais automáticos,
dentre outras funcionalidades importantes, que fazem parte do dia
a dia do uso pessoal e empresarial.
São exemplos de planilhas:
– Planilha de vendas;
Editora
133
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
• Fórmulas básicas Perceba que a formatação dos textos é padronizada. O mesmo
tipo de padrão é encontrado para utilizarmos entre o PowerPoint, o
ADIÇÃO =SOMA(célulaX;célulaY) Word e o Excel, o que faz deles programas bastante parecidos, no que
diz respeito à formatação básica de textos. Confira no tópico referen-
SUBTRAÇÃO =(célulaX-célulaY) te ao Word, itens de formatação básica de texto como: alinhamentos,
MULTIPLICAÇÃO =(célulaX*célulaY) tipos e tamanhos de letras, guias de marcadores e recursos gerais.
Especificamente sobre o PowerPoint, um recurso amplamente
DIVISÃO =(célulaX/célulaY)
utilizado a guia Design. Nela podemos escolher temas que mudam
a aparência básica de nossos slides, melhorando a experiência no
• Fórmulas de comum interesse trabalho com o programa.

MÉDIA (em um intervalo de


=MEDIA(célula X:célulaY)
células)
MÁXIMA (em um intervalo
=MAX(célula X:célulaY)
de células)
MÍNIMA (em um intervalo
=MIN(célula X:célulaY)
de células)

PowerPoint
O PowerPoint é um editor que permite a criação de apresenta-
ções personalizadas para os mais diversos fins. Existem uma série
de recursos avançados para a formatação das apresentações, aqui
veremos os princípios para a utilização do aplicativo.

• Área de Trabalho do PowerPoint

Com o primeiro slide pronto basta duplicá-lo, obtendo vários


no mesmo formato. Assim liberamos uma série de miniaturas, pe-
las quais podemos navegador, alternando entre áreas de trabalho.
A edição em cada uma delas, é feita da mesma maneira, como já
apresentado anteriormente.

Nesta tela já podemos aproveitar a área interna para escre-


ver conteúdos, redimensionar, mover as áreas delimitadas ou até
mesmo excluí-las. No exemplo a seguir, perceba que já movemos as
caixas, colocando um título na superior e um texto na caixa inferior,
também alinhamos cada caixa para ajustá-las melhor.

Percebemos agora que temos uma apresentação com quatro


slides padronizados, bastando agora editá-lo com os textos que se
fizerem necessários. Além de copiar podemos mover cada slide de
uma posição para outra utilizando o mouse.
As Transições são recursos de apresentação bastante utilizados
no PowerPoint. Servem para criar breves animações automáticas
para passagem entre elementos das apresentações.
Editora
134
134
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
– Estão disponíveis também o recurso de edição colaborativa
de apresentações.

Office 2016
O Office 2016 foi um sistema concebido para trabalhar junta-
mente com o Windows 10. A grande novidade foi o recurso que
permite que várias pessoas trabalhem simultaneamente em um
mesmo projeto. Além disso, tivemos a integração com outras fer-
ramentas, tais como Skype. O pacote Office 2016 também roda em
smartfones de forma geral.
Tendo passado pelos aspectos básicos da criação de uma apre-
sentação, e tendo a nossa pronta, podemos apresentá-la bastando • Atualizações no Word
clicar no ícone correspondente no canto inferior direito. – No Word 2016 vários usuários podem trabalhar ao mesmo
tempo, a edição colaborativa já está presente em outros produtos,
mas no Word agora é real, de modo que é possível até acompanhar
quando outro usuário está digitando;
– Integração à nuvem da Microsoft, onde se pode acessar os
documentos em tablets e smartfones;
– É possível interagir diretamente com o Bing (mecanismo de
pesquisa da Microsoft, semelhante ao Google), para utilizar a pes-
quisa inteligente;
– É possível escrever equações como o mouse, caneta de to-
que, ou com o dedo em dispositivos touchscreen, facilitando assim
Um último recurso para chamarmos atenção é a possibilidade a digitação de equações.
de acrescentar efeitos sonoros e interativos às apresentações, le- • Atualizações no Excel
vando a experiência dos usuários a outro nível. – O Excel do Office 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
riores, mas agora com uma maior integração com dispositivos mó-
Office 2013 veis, além de ter aumentado o número de gráficos e melhorado a
A grande novidade do Office 2013 foi o recurso para explorar questão do compartilhamento dos arquivos.
a navegação sensível ao toque (TouchScreen), que está disponível
nas versões 32 e 64. Em equipamentos com telas sensíveis ao toque • Atualizações no PowerPoint
(TouchScreen) pode-se explorar este recurso, mas em equipamen- – O PowerPoint 2016 manteve as funcionalidades dos ante-
tos com telas simples funciona normalmente. riores, agora com uma maior integração com dispositivos moveis,
O Office 2013 conta com uma grande integração com a nuvem, além de ter aumentado o número de templates melhorado a ques-
desta forma documentos, configurações pessoais e aplicativos po- tão do compartilhamento dos arquivos;
dem ser gravados no Skydrive, permitindo acesso através de smart- – O PowerPoint 2016 também permite a inserção de objetos
fones diversos. 3D na apresentação.

• Atualizações no Word Office 2019


– O visual foi totalmente aprimorado para permitir usuários O OFFICE 2019 manteve a mesma linha da Microsoft, não hou-
trabalhar com o toque na tela (TouchScreen); ve uma mudança tão significativa. Agora temos mais modelos em
– As imagens podem ser editadas dentro do documento; 3D, todos os aplicativos estão integrados como dispositivos sensí-
– O modo leitura foi aprimorado de modo que textos extensos veis ao toque, o que permite que se faça destaque em documentos.
agora ficam disponíveis em colunas, em caso de pausa na leitura; • Atualizações no Word
– Pode-se iniciar do mesmo ponto parado anteriormente; – Houve o acréscimo de ícones, permitindo assim um melhor
– Podemos visualizar vídeos dentro do documento, bem como desenvolvimento de documentos;
editar PDF(s).

• Atualizações no Excel
– Além de ter uma navegação simplificada, um novo conjunto
de gráficos e tabelas dinâmicas estão disponíveis, dando ao usuário
melhores formas de apresentar dados.
– Também está totalmente integrado à nuvem Microsoft.

• Atualizações no PowerPoint
– O visual teve melhorias significativas, o PowerPoint do Offi-
ce2013 tem um grande número de templates para uso de criação
de apresentações profissionais;
– O recurso de uso de múltiplos monitores foi aprimorado;
– Um recurso de zoom de slide foi incorporado, permitindo o
destaque de uma determinada área durante a apresentação;
– No modo apresentador é possível visualizar o próximo slide
antecipadamente;

Editora
135
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
– Outro recurso que foi implementado foi o “Ler em voz alta”. Ao clicar no botão o Word vai ler o texto para você.

• Atualizações no Excel
– Foram adicionadas novas fórmulas e gráficos. Tendo como destaque o gráfico de mapas que permite criar uma visualização de algum
mapa que deseja construir.

• Atualizações no PowerPoint
– Foram adicionadas a ferramenta transformar e a ferramenta de zoom facilitando assim o desenvolvimento de apresentações;
– Inclusão de imagens 3D na apresentação.

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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
Office 365
O Office 365 é uma versão que funciona como uma assinatura semelhante ao Netflix e Spotif. Desta forma não se faz necessário sua
instalação, basta ter uma conexão com a internet e utilizar o Word, Excel e PowerPoint.

Observações importantes:
– Ele é o mais atualizado dos OFFICE(s), portanto todas as melhorias citadas constam nele;
– Sua atualização é frequente, pois a própria Microsoft é responsável por isso;
– No nosso caso o Word, Excel e PowerPoint estão sempre atualizados.

LibreOffice
O LibreOffice é uma suíte de escritório livre compatível com os principais pacotes de escritório do mercado. O pacote oferece todas as
funções esperadas de uma suíte profissional: editor de textos, planilha, apresentação, editor de desenhos e banco de dados44. Ele é uma
das mais populares suítes de escritório multiplataforma e de código aberto.

O LibreOffice é um pacote de escritório assim como o MS Office45. Embora seja um software livre, pode ser instalado em vários sis-
temas operacionais, como o MS Windows, Mac OS X, Linux e Unix. Ao longo dos anos, passou por várias modificações em seu projeto,
mudando até mesmo de nome, mas mantendo os mesmos aplicativos.

Aplicativos do LibreOffice
Writer: editor de textos.
Exatensão: .odt
Calc: planilhas eletrônicas.
Extensão: .ods
Impress: apresentação de slides.
Extensão: .odp
Draw: edição gráfica de imagens e figuras.
Extensão: .odg
Base: Banco de dados.
Extensão: .odb
Math: fórmulas matemáticas.
Extensão: .odf

ODF (Open Document Format)


Os arquivos do LibreOffice são arquivos de formato aberto e, por isso, pertencem à família de documentos abertos ODF, ou seja, ODF
não é uma extensão, mas sim, uma família de documentos estruturada internamente pela linguagem XML.

LibreOffice Writer
Writer é o editor de textos do LibreOffice. Além dos recursos usuais de um processador de textos (verificação ortográfica, dicionário
de sinônimos, hifenização, autocorreção, localizar e substituir, geração automática de sumários e índices, mala direta e outros), o Writer
fornece importantes características:
- Modelos e estilos;
- Métodos de layout de página, incluindo quadros, colunas e tabelas;
- Incorporação ou vinculação de gráficos, planilhas e outros objetos;
- Ferramentas de desenho incluídas;
- Documentos mestre para agrupar uma coleção de documentos em um único documento;
- Controle de alterações durante as revisões;
- Integração de banco de dados, incluindo bancos de dados bibliográficos;
44 https://www.edivaldobrito.com.br/libreoffice-6-0/
45 FRANCESCHINI, M. LibreOffice – Parte I.
Editora
137
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
- Exportação para PDF, incluindo marcadores.
Principais Barras de Ferramentas

46

– Barra de Títulos: exibe o nome do documento. Se o usuário não fornecer nome algum, o Writer sugere o nome Sem título 1.
– Barra de Menu: dá acesso a todas as funcionalidades do Writer, categorizando por temas de funcionalidades.
– Barra de ferramentas padrão: está presente em todos os aplicativos do LibreOffice e é igual para todos eles, por isso tem esse nome
“padrão”.
– Barra de ferramentas de formatação: essa barra apresenta as principais funcionalidades de formatação de fonte e parágrafo.
– Barra de Status: oferece informações sobre o documento e atalhos convenientes para rapidamente alterar alguns recursos.

Principais Menus
Os menus organizam o acesso às funcionalidades do aplicativo. Eles são praticamente os mesmos em todos os aplicativos, mas suas
funcionalidades variam de um para outro.

Arquivo
Esse menu trabalha com as funcionalidades de arquivo, tais como:
– Novo: essa funcionalidade cria um novo arquivo do Writer ou de qualquer outro dos aplicativos do LibreOffice;
– Abrir: abre um arquivo do disco local ou removível ou da rede local existente do Writer;
– Abrir Arquivo Remoto: abre um arquivo existente da nuvem, sincronizando todas as alterações remotamente;
– Salvar: salva as alterações do arquivo local desde o último salvamento;
– Salvar Arquivo Remoto: sincroniza as últimas alterações não salvas no arquivo lá na nuvem;
– Salvar como: cria uma cópia do arquivo atual com as alterações realizadas desde o último salvamento;

Para salvar um documento como um arquivo Microsoft Word47:


1. Primeiro salve o documento no formato de arquivo usado pelo LibreOffice (.odt).
Sem isso, qualquer mudança que se tenha feito desde a última vez em que se salvou o documento, somente aparecerá na versão
Microsoft Word do documento.
2. Então escolha Arquivo → Salvar como. No menu Salvar como.
3. No menu da lista suspensa Tipo de arquivo (ou Salvar como tipo), selecione o tipo de formato Word que se precisa. Clique em Salvar.
A partir deste ponto, todas as alterações realizadas se aplicarão somente ao documento
Microsoft Word. Desde feito, a alterado o nome do documento. Se desejar voltar a trabalhar com a versão LibreOffice do documento,
deverá voltar a abri-lo.

46 https://bit.ly/3jRIUme
47 http://coral.ufsm.br/unitilince/images/Tutoriais/manual_libreoffice.pdf
Editora
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
– Navegador: permite navegar nos vários objetos existentes no
documento, como tabelas, links, notas de rodapé, imagens etc.

(F5);

– Galeria: exibe imagens e figuras que podem ser inseridas no


documento;
– Tela Inteira: suprime as barras de ferramenta e menus (CTR-
L+SHIFT+J).

Inserir
Nesse menu, é possível inserir inúmeros objetos ao texto, tais
como:
– Quebra de página: insere uma quebra de página e o cursor é
posicionado no início da próxima página a partir daquele ponto em
que a quebra foi inserida;
– Quebra manual: permite inserir uma quebra de linha, de co-
luna e de página;
Salvando um arquivo no formato Microsoft Word. – Figura: insere uma imagem de um arquivo;
– Multimídia: insere uma imagem da galeria LibreOffice, uma
– Exportar como PDF: exporta o arquivo atual no formato PDF. imagem digitalizada de um scanner ou vídeo;
Permite definir restrições de edição, inclusive com senha; – Gráfico: cria um gráfico do Calc, com planilha de dados em-
– Enviar: permite enviar o arquivo atual por e-mail no formato. butida no Writer;
odt,.docx,.pdf. Também permite compartilhar o arquivo por blue- – Objeto: insere vários tipos de arquivos, como do Impress e do
tooth; Calc dentre outros;
– Imprimir: permite imprimir o documento em uma impresso- – Forma: cria uma forma geométrica, tipo círculo, retângulo,
ra local ou da rede; losango etc.;
– Assinaturas digitais: assina digitalmente o documento, ga- – Caixa de Texto: insere uma caixa de texto ao documento;
rantindo sua integridade e autenticidade. Qualquer alteração no – Anotação: insere comentários em balões laterais;
documento assinado viola a assinatura, sendo necessário assinar – Hiperlink: insere hiperlink ou link para um endereço da in-
novamente. ternet ou um servidor FTP, para um endereço de e-mail, para um
documento existente ou para um novo documento (CTRL+K);
Editar – Indicador: insere um marcador ao documento para rápida
Esse menu possui funcionalidades de edição de conteúdo, tais localização posteriormente;
como: – Seção: insere uma quebra de seção, dividindo o documento
– Desfazer: desfaz a(s) última(s) ação(ões); em partes separadas com formatações independentes;
– Refazer: refaz a última ação desfeita; – Referências: insere referência a indicadores, capítulos, títu-
– Repetir: repete a última ação; los, parágrafos numerados do documento atual;
– Copiar: copia o item selecionado para a área de transferência; – Caractere Especial: insere aqueles caracteres que você não
– Recortar: recorta ou move o item selecionado para a área de encontra no teclado do computador, tais como ©, ≥, ∞;
transferência; – Número de Página: insere numeração nas páginas na posição
– Colar: cola o item da área de transferência; atual do cursor;
– Colar Especial: cola o item da área de transferência permitin- – Campo: insere campos de numeração de página, data, hora,
do escolher o formado de destino do conteúdo colado; título, autor, assunto;
– Selecionar Tudo: seleciona todo o documento; – Cabeçalho e Rodapé: insere cabeçalho e rodapé ao docu-
– Localizar: localiza um termo no documento; mento;
– Localizar e Substituir: localiza e substitui um termo do docu-
mento por outro fornecido; Formatar
– Ir para a página: permite navegar para uma página do docu- Esse menu trabalha com a formatação de fonte, parágrafo, pá-
mento. gina, formas e figuras;

Exibir
Esse outro menu define as várias formas que o documento é
exibido na tela do computador. Principais funcionalidades:
– Normal: modo de exibição padrão como o documento será
exibido em uma página;
– Web: exibe o documento como se fosse uma página web
num navegador;
– Marcas de Formatação: exibe os caracteres não imprimíveis,
como os de quebra de linha, de parágrafo, de seção, tabulação e es-
paço. Tais caracteres são exibidos apenas na tela, não são impressas
no papel (CTRL+F10);

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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
– Texto: formata a fonte do texto;
Pode-se aplicar vários formatos de caracteres usando os botões da barra de ferramentas Formatação.

Barra de Formatação, mostrando ícones para formatação de caracteres.

– Espaçamento: formata o espaçamento entre as linhas, entre os parágrafos e também o recuo do parágrafo. A
– Alinhar: alinha o parágrafo uniformemente em relação às margens.
Pode-se aplicar vários formatos para parágrafos usando os botões na barra de ferramentas Formatação.

Ícones para formatação de parágrafos.

– Listas: transforma os parágrafos em estrutura de tópicos com marcadores ou numeração.


– Clonar Formatação: essa ferramenta é chamada de “pincel de formatação” no MS Word e faz a mesma função, ou seja, clona a
formatação de um item selecionado e a aplica a outro ;

– Limpar Formatação Direta: limpa a formatação do texto selecionado, deixando a formatação original do modelo do documento;
Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado, su-
blinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, aplicar
realce (cor de fundo do texto) e bordas;
– Caractere...: diferentemente do MS Word, o Write chama a fonte de caractere.
Nessa janela, é possível formatar o tipo de fonte, o estilo de formatação (negrito, itálico, regular), o efeito de formatação (tachado, su-
blinhado, sombra etc.), a posição do texto (sobrescrito, subscrito, rotação, espaçamento entre as letras do texto), inserir hiperlink, aplicar
realce (cor de fundo do texto) e bordas;
– Parágrafo...: abre a caixa de diálogo de formatação de parágrafo.
– Marcadores e Numeração: abre a caixa de diálogo de formatação de marcadores e de numeração numa mesma janela. Perceba
que a mesma função de formatação já foi vista por meio dos botões de formatação. Essa mesma formatação é encontrada aqui na caixa
de diálogo de marcadores e numeração;
– Página...: abre a caixa de diálogo de formatação de páginas. Aqui, encontramos a orientação do papel, que é se o papel é horizontal
(paisagem) ou vertical (retrato);
– Figura: formata figuras inseridas ao texto;
– Caixa de Texto e Forma: formata caixas de texto e formas inseridas no documento;
– Disposição do Texto: define a disposição que os objetos como imagens, formas e figuras ficarão em relação ao texto.
– Estilos: esse menu trabalha com estilos do texto. Estilos são o conjunto de formatação de fonte, parágrafo, bordas, alinhamento,
numeração e marcadores aplicados em conjunto. Existem estilos predefinidos, mas é possível também criar estilos e nomeá-los. Também
é possível editar os estilos existentes. Os estilos são usados na criação dos sumários automáticos.

Tabelas
Esse menu trabalha com tabelas. As tabelas são inseridas por aqui, no menu Tabelas. As seguintes funcionalidades são encontradas
nesse menu:
– Inserir Tabela: insere uma tabela ao texto;
– Inserir: insere linha, coluna e célula à tabela existente;
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
– Excluir: exclui linha, coluna e tabela;
– Selecionar: seleciona célula, linha, coluna e tabela;
– Mesclar: mescla as células adjacentes de uma tabela, transformando-as em uma única tabela. Atenção! O conteúdo de todas as
células é preservado;
– Converter: converte texto em tabela ou tabela em texto;
– Fórmulas: insere fórmulas matemáticas na célula da tabela, tais como soma, multiplicação, média, contagem etc.

Ferramentas
Esse menu trabalha com diversas ferramentas, tais como:
– Ortografia e Gramática: essa ferramenta aciona o corretor ortográfico para fazer a verificação de ocorrências de erros em todo o
documento. Ela corrige por alguma sugestão do dicionário, permite inserir novos termos ao dicionário ou apenas ignora as ocorrências
daquele erro (F7);

– Verificação Ortográfica Automática: marca automaticamente com um sublinhado ondulado vermelho as palavras que possuem
erros ortográficos ou que não pertencem ao dicionário (SHIFT+F7);

– Dicionário de Sinônimos: apresenta sinônimos e antônimos da palavra selecionada;


– Idioma: define o idioma do corretor ortográfico;
– Contagem de palavras: faz uma estatística do documento, contando a quantidade de caracteres, palavras, linhas, parágrafos e pá-
ginas;
– Autocorreção: substitui automaticamente uma palavra ou termo do texto por outra. O usuário define quais termos serão substitu-
ídos;
– Autotexto: insere automaticamente um texto por meio de atalhos, por exemplo, um tipo de saudação ou finalização do documento;
– Mala Direta: cria uma mala direta, que é uma correspondência endereçada a vários destinatários. É formada por uma correspon-
dência (carta, mensagem de e-mail, envelope ou etiqueta) e por uma lista de destinatários (tabela, planilha, banco de dados ou catálogo
de endereços contendo os dados dos destinatários).

Principais teclas de atalho


CTRL+A: selecionar todo o documento (all).
CTR+B: negritar (bold).
CTRL+C: copiar.
CTRL+D: sublinhar.
CTRL+E: centralizar alinhamento.
CTRL+F: localizar texto (find).
CTRL+G: sem ação.
CTRL+H: localizar e substituir.
CTRL+I: itálico.
CTRL+J: justificar.
CTRL+K: adicionar hiperlink.
CTRL+L: alinhar à esquerda (left).
CTRL+M: limpar formatação.
CTRL+N: novo documento (new).
CTRL+ O: abrir documento existente (open).
CTRL+P: imprimir (print).
CTRL+Q: fechar o aplicativo Writer.
CTRL+R: alinhar à direita (right).
CTRL+S: salvar o documento (save).
CTRL+T: sem ação.
CTRL+U: sublinhar.
CTRL+V: colar.
CTRL+X: recortar.
CTRL+W: fechar o arquivo.
CTRL+Y: refazer última ação.
CTRL+Z: desfazer última ação.

LibreOffice Calc
O Calc é o aplicativo de planilhas eletrônicas do LibreOffice. Assim como o MS Excel, ele trabalha com células e fórmulas.
Outras funcionalidades oferecidas pelo Calc incluem48:
– Funções, que podem ser utilizadas para criar fórmulas para executar cálculos complexos;
– Funções de banco de dados, para organizar, armazenas e filtrar dados;
– Gráficos dinâmicos; um grande número de opções de gráficos em 2D e 3D;
– Macros, para a gravação e execução de tarefas repetitivas; as linguagens de script suportadas incluem LibreOffice Basic, Python,
BeanShell, e JavaScript;
48 WEBER, J. H., SCHOFIELD, P., MICHEL, D., RUSSMAN, H., JR, R. F., SAFFRON, M., SMITH, J. A. Introdução ao Calc. Planilhas de Cálculo no LibreOffice
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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
– Capacidade de abrir, editar e salvar planilhas no formato Microsoft Excel;
– Importação e exportação de planilhas em vários formatos, incluindo HTML, CSV, PDF e PostScript.

Planilhas e células
O Calc trabalha como elementos chamados de planilhas. Um arquivo de planilha consiste em várias planilhas individuais, cada uma
delas contendo células em linhas e colunas. Uma célula particular é identificada pela letra da sua coluna e pelo número da sua linha.
As células guardam elementos individuais – texto, números, fórmulas, e assim por diante – que mascaram os dados que exibem e
manipulam.
Cada arquivo de planilha pode ter muitas planilhas, e cada uma delas pode conter muitas células individuais. No Calc, cada planilha
pode conter um máximo de 1.048.576 linhas e 1024 colunas.

Janela principal
Quando o Calc é aberto, a janela principal abre. As partes dessa janela estão descritas a seguir.

Janela principal do Calc e suas partes, sem a Barra lateral.


Principais Botões de Comandos

Assistente de Função: auxilia o usuário na criação de uma função. Organiza as funções por categoria.

Autossoma: insere a função soma automaticamente na célula.

Formatação de porcentagem: multiplica o número por 100 e coloca o sinal de porcentagem ao final dele.

Formatação de número: separa os milhares e acrescenta casas decimais (CTRL+SHIFT+1).

Formatação de data: formata a célula em formato de data (CTRL+SHIFT+3).

Adiciona casas decimais.

Diminui casas decimais.

Filtro: exibe apenas as linhas que satisfazem o critério do filtro da coluna.

Insere gráfico para ilustrar o comportamento dos dados tabulados.

Ordena as linhas em ordem crescente ou decrescente. Pode ser aplicada em várias colunas.

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a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA

Mesclar e centralizar células: transforma duas ou mais células adjacentes em uma única célula.

Alinhar em cima: alinha o conteúdo da célula na parte superior dela.

Centralizar verticalmente: alinha o conteúdo da célula ao centro verticalmente.

Alinhar embaixo: alinha o conteúdo da célula na parte inferior dela.

Congelar linhas e colunas: fixa a exibição da primeira linha ou da primeira coluna ou ainda permite congelar as linhas
acima e as colunas à esquerda da célula selecionada. Não é proteção de células, pois o conteúdo das mesmas ainda pode ser
alterado.

Insere linha acima da linha atual.

Insere linha abaixo da linha atual.

Exclui linhas selecionadas.

Insere coluna à esquerda.

Insere coluna à direita.

Exclui colunas selecionadas.

Barra de título
A barra de título, localizada no alto da tela, mostra o nome da planilha atual. Quando a planilha for recém-criada, seu nome é Sem
título X, onde X é um número. Quando a planilha é salva pela primeira vez, você é solicitado a dar um nome de sua escolha.

Barra de Menu
A Barra de menu é onde você seleciona um dos menus e aparecem vários submenus com mais opções.
– Arquivo: contém os comandos que se aplicam a todo o documento, como Abrir, Salvar, Assistentes, Exportar como PDF, Imprimir,
Assinaturas Digitais e assim por diante.
– Editar: contém os comandos para a edição do documento, tais como Desfazer, Copiar, Registrar alterações, Preencher, Plug-in e
assim por diante.
– Exibir: contém comandos para modificar a aparência da interface do usuário no Calc, por exemplo Barra de ferramentas, Cabeçalhos
de linhas e colunas, Tela Inteira, Zoom e assim por diante.
– Inserir: contém comandos para inserção de elementos em uma planilha; por exemplo, Células, Linhas, Colunas, Planilha, Figuras e
assim por diante.

Inserir novas planilhas


Clique no ícone Adicionar planilha para inserir uma nova planilha após a última sem abrir a caixa de diálogo Inserir planilha. Os se-
guintes métodos abrem a caixa de diálogo Inserir planilha onde é possível posicionar a nova planilha, criar mais que uma planilha, definir
o nome da nova planilha, ou selecionar a planilha de um arquivo.
– Selecione a planilha onde deseja inserir uma nova e vá no menu Inserir > Planilha; ou
– Clique com o botão direito do mouse na aba da planilha onde você deseja inserir uma nova e selecione Inserir planilha no menu de
contexto; ou
– Clique no espaço vazio no final das abas das planilhas; ou
– Clique com o botão direito do mouse no espaço vazio no final das abas das planilhas e selecione Inserir planilha no menu de con-
texto.

Editora
143
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA

Caixa de diálogo Inserir planilha.

– Formatar: contém comandos para modificar o leiaute de uma planilha; por exemplo,
Células, Página, Estilos e formatação, Alinhamento e assim por diante.
– Ferramentas: contém várias funções que auxiliam a verificar e personalizar a planilha, por exemplo, Ortografia, Compartilhar docu-
mento, Macros e assim por diante.
– Dados: contém comandos para manipulação de dados em sua planilha; por exemplo, Definir intervalo, Selecionar intervalo, Classi-
ficar, Consolidar e assim por diante.
– Janela: contém comandos para exibição da janela; por exemplo, Nova janela, Dividir e assim por diante.
– Ajuda: contém links para o sistema de ajuda incluído com o software e outras funções; por exemplo, Ajuda do LibreOffice, Informa-
ções da licença, Verificar por atualizações e assim por diante.

Barra de ferramentas
A configuração padrão, ao abrir o Calc, exibe as barras de ferramentas Padrão e Formatação encaixadas no topo do espaço de trabalho.
Barras de ferramentas do Calc também podem ser encaixadas e fixadas no lugar, ou flutuante, permitindo que você mova para a po-
sição mais conveniente em seu espaço de trabalho.

Barra de fórmulas
A Barra de fórmulas está localizada no topo da planilha no Calc. A Barra de fórmulas está encaixada permanentemente nesta posição
e não pode ser usada como uma barra flutuante. Se a Barra de fórmulas não estiver visível, vá para Exibir no Menu e selecione Barra de
fórmulas.

Barra de fórmulas.

Indo da esquerda para a direita, a Barra de Fórmulas consiste do seguinte:


– Caixa de Nome: mostra a célula ativa através de uma referência formada pela combinação de letras e números, por exemplo, A1. A
letra indica a coluna e o número indica a linha da célula selecionada.

– Assistente de funções : abre uma caixa de diálogo, na qual você pode realizar uma busca através da lista de funções disponí-
veis. Isto pode ser muito útil porque também mostra como as funções são formadas.

– Soma : clicando no ícone Soma, totaliza os números nas células acima da célula e então coloca o total na célula selecionada. Se
não houver números acima da célula selecionada, a soma será feita pelos valores das células à esquerda.

– Função : clicar no ícone Função insere um sinal de (=) na célula selecionada, de maneira que seja inserida uma fórmula na Linha
de entrada.

– Linha de entrada: exibe o conteúdo da célula selecionada (dados, fórmula, ou função) e permite que você edite o conteúdo da célu-
la. Você pode editar o conteúdo da célula diretamente, clicando duas vezes nela. Quando você digita novos dados numa célula, os ícones
de Soma e de Função mudam para os botões Cancelar e Aceitar .

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144
a solução para o seu concurso!
INFORMÁTICA
Operadores aritméticos

Operadores aritméticos.

Operadores aritméticos.

Operadores comparativos

Operadores comparativos.

• Principais fórmulas
=HOJE(): insere a data atual do sistema operacional na célula. Essa data sempre será atualizada toda vez que o arquivo for aberto.
Existe uma tecla de atalho que também insere a data atual do sistema, mas não como função, apenas a data como se fosse digitada pelo
usuário. Essa tecla de atalho é CTRL+;.
=AGORA(): insere a data e a hora atuais do sistema operacional. Veja como é seu resultado após digitada na célula.

=SOMA(): apenas soma os argumentos que estão dentro dos parênteses.


=POTÊNCIA(): essa função é uma potência, que eleva o primeiro argumento, que é a base, ao segundo argumento, que é o expoente.
=MÁXIMO(): essa função escolhe o maior valor do argumento.
=MÍNIMO(): essa função faz exatamente o contrário da anterior, ou seja, escolhe o menor valor do argumento.
=MÉDIA(): essa função calcula a média aritmética ou média simples do argumento, que é a soma dos valores dividida pela sua quan-
tidade.
Atenção! Essa função será sempre a média aritmética. Essa função considera apenas valores numéricos e não vazios.
=CONT.SE(): essa função é formada por dois argumentos: o primeiro é o intervalo de células que serão consideradas na operação; o
segundo é o critério.
=SE(): essa função testa valores, permitindo escolher um dentre dois valores possíveis. A sua estrutura é a seguinte:

A condição é uma expressão lógica e dá como resultado VERDADEIRO ou FALSO. O resultado1 é escolhido se a condição for verdadeira;
o resultado2 é escolhido se a condição for falsa. Os resultados podem ser: “texto” (entre aspas sempre), número, célula (não pode inter-
valo, apenas uma única célula), fórmula.
A melhor forma de ler essa função é a seguinte: substitua o primeiro “;” por “Então” e o segundo “;” por “Senão”. Fica assim: se a
condição for VERDADEIRA, ENTÃO escolha resultado1; SENÃO escolha resultado2.
=PROCV(): a função PROCV serve para procurar valores em um intervalo vertical de uma matriz e devolve para o usuário um valor de
outra coluna dessa mesma matriz, mas da mesma linha do valor encontrado.

Editora
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INFORMÁTICA

Essa é a estrutura do PROCV, na qual “valor” é o valor usado na pesquisa; “matriz” é todo o conjunto de células envolvidas; “coluna_re-
sultado” é o número da coluna dessa matriz onde o resultado se encontra; “valor_aproximado” diz se a comparação do valor da pesquisa
será apenas aproximada ou terá que ser exatamente igual ao procurado. O valor usado na pesquisa tem que estar na primeira coluna da
matriz, sempre! Ou seja, ela procurará o valor pesquisado na primeira coluna da matriz.

Entendendo funções
Calc inclui mais de 350 funções para analisar e referenciar dados49. Muitas destas funções são para usar com números, mas muitos
outros são usados com datas e hora, ou até mesmo texto.
Uma função pode ser tão simples quanto adicionar dois números, ou encontrar a média de uma lista de números. Alternativamente,
pode ser tão complexo como o cálculo do desvio-padrão de uma amostra, ou a tangente hiperbólica de um número.
Algumas funções básicas são semelhantes aos operadores. Exemplos:
+ Este operador adiciona dois números juntos para um resultado. SOMA(), por outro lado adiciona grupos de intervalos contíguos de
números juntos.
* Este operador multiplica dois números juntos para um resultado. MULT() faz o mesmo para multiplicar que SOMA() faz para adicionar

Estrutura de funções
Todas as funções têm uma estrutura similar.
A estrutura de uma função para encontrar células que correspondam a entrada de critérios é:
=BDCONTAR(Base_de_dados;Campo_de_Base_de_dados;CritériosdeProcura)
Uma vez que uma função não pode existir por conta própria, deve sempre fazer parte de uma fórmula. Consequentemente, mesmo
que a função represente a fórmula inteira, deve haver um sinal = no começo da fórmula. Independentemente de onde na fórmula está a
função, a função começará com seu nome, como BDCONTAR no exemplo acima. Após o nome da função vem os seus argumentos. Todos
os argumentos são necessários, a menos que especificados como opcional. Argumentos são adicionados dentro de parênteses e são sepa-
rados por ponto e vírgula, sem espaço entre os argumentos e o ponto e vírgula.

LibreOffice Impress
O Impress é o aplicativo de apresentação de slides do LibreOffice. Com ele é possível criar slides que contenham vários elementos
diferentes, incluindo texto, listas com marcadores e numeração, tabelas, gráficos e uma vasta gama de objetos gráficos tais como clipart,
desenhos e fotografias50.
O Impress também é compatível com o MS PowerPoint, permitindo criar, abrir, editar e salvar arquivos no formato.PPTX.

Janela principal do Impress


A janela principal do Impress tem três partes: o Painel de slides, Área de trabalho, e Painel lateral. Além disso, várias barras de ferra-
mentas podem ser exibidas ou ocultas durante a criação de uma apresentação.

Área de trabalho
A Área de trabalho (normalmente no centro da janela principal) tem cinco abas: Normal, Estrutura de tópicos, Notas, Folheto e Clas-
sificador de slides. Estas cinco abas são chamadas de botões de visualização A área de trabalho abaixo da visualização de botões muda
dependendo da visualização escolhida. Os pontos de vista de espaço de trabalho são descritos em “Visualização da Área de trabalho”’.

Janela principal do Impress; ovais indicam os marcadores Ocultar/Exibir.


49 Duprey, B.; Silva, R. P.; Parker, H.; Vigliazzi, D. Douglas. Guia do Calc, Capítulo 7. Usando Formulas e Funções.
50 SCHOFIELD, P.; WEBER, J. H.; RUSSMAN, H.; O’BRIEN, K.; JR, R. F. Introdução ao Impress. Apresentação no LibreOffice
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146
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Painel de slides
O Painel de slides contém imagens em miniaturas dos slides em sua apresentação, na ordem em que serão mostradas, a menos que
você altere a ordem de apresentação de slides. Clicando em um slide neste painel, este é selecionado e colocado na Área e trabalho. Quan-
do um slide está na Área de trabalho, você pode fazer alterações nele.
Várias operações adicionais podem ser realizadas em um ou mais slides simultaneamente no Painel de slides:
– Adicionar novos slides para a apresentação.
– Marcar um slide como oculto para que ele não seja exibido como parte da apresentação.
– Excluir um slide da apresentação se ele não for mais necessário.
– Renomear um slide.
– Duplicar um slide (copiar e colar)

Também é possível realizar as seguintes operações, embora existam métodos mais eficientes do que usar o Painel de slides:
– Alterar a transição de slides seguindo o slide selecionado ou após cada slide em um grupo de slides.
– Alterar o design de slide.

Barra lateral
O Barra lateral tem cinco seções. Para expandir uma seção que você deseja usar, clique no ícone ou clique no pequeno triângulo na
parte superior dos ícones e selecione uma seção da lista suspensa. Somente uma seção de cada vez pode ser aberta.

PROPRIEDADES

Mostra os layouts incluídos no Impress. Você pode escolher o que você quer e usá-lo como ele é, ou modificá-lo para atender às
suas necessidades. No entanto, não é possível salvar layouts personalizados.

PÁGINAS MESTRE

Aqui você define o estilo de página (slide) para sua apresentação. O Impress inclui vários modelos de páginas mestras (slide mes-
tre). Um deles – Padrão – é branco, e o restante tem um plano de fundo e estilo de texto.

ANIMAÇÃO PERSONALIZADA

Uma variedade de animações podem ser usadas para realçar ou melhorar diferentes elementos de cada slide. A seção Animação
personalizada fornece uma maneira fácil para adicionar, alterar, ou remover animações.

TRANSIÇÃO DE SLIDES

Fornece acesso a um número de opções de transição de slides. O padrão é definido como Sem transição, em que o slide seguinte
substitui o existente. No entanto, muitas transições adicionais estão disponíveis. Você também pode especificar a velocidade de tran-
sição (Lenta, Média, Rápida), escolher entre uma transição automática ou manual, e escolher quanto tempo o slide selecionado será
mostrado (somente transição automática).

ESTILOS E FORMATAÇÃO

Aqui você pode editar e aplicar estilos gráficos e criar estilos novos, mas você só pode editar os estilos de apresentação existentes.
Quando você edita um estilo, as alterações são aplicadas automaticamente a todos os elementos formatados com este estilo em sua
apresentação. Se você quiser garantir que os estilos em um slide específico não sejam atualizados, crie uma nova página mestra para o
slide.

GALERIA

Abre a galeria Impress, onde você pode inserir um objeto em sua apresentação, quer seja como uma cópia ou como um link. Uma
cópia de um objeto é independente do objeto original. Alterações para o objeto original não têm efeito sobre a cópia. Uma ligação
permanece dependente do objeto original. Alterações no objeto original também são refletidas no link.

NAVEGADOR

Abre o navegador Impress, no qual você pode mover rapidamente para outro slide ou selecionar um objeto em um slide. Reco-
menda-se dar nomes significativos aos slides e objetos em sua apresentação para que você possa identificá-los facilmente quando
utilizar a navegação.

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INFORMÁTICA
• Principais Funcionalidades e Comandos

Inicia a apresentação do primeiro slide (F5).

Inicia a apresentação do slide atual (SHIFT+F5).

Insere áudio e vídeo ao slide.

Insere caixa de texto ao slide.

Insere novo slide, permitindo escolher o leiaute do slide que será inserido.

Exclui o slide selecionado.

Altera o leiaute do slide atual.

Cria um slide mestre.

Oculta o slide no modo de apresentação.

Cronometra o tempo das animações e transições dos slides no modo de apresentação para posterior exibição automática usan-
do o tempo cronometrado.

Configura as transições dos slides, ou seja, o efeito de passagem de um para o outro.

Configura a animação dos conteúdos dos slides, colocando efeitos de entrada, ênfase, saída e trajetória.

SEGURANÇA NA INTERNET: VÍRUS DE COMPUTADORES; SPYWARE; MALWARE; PHISHING

Segurança da informação é o conjunto de ações para proteção de um grupo de dados, protegendo o valor que ele possui, seja para
um indivíduo específico no âmbito pessoal, seja para uma organização51.
É essencial para a proteção do conjunto de dados de uma corporação, sendo também fundamentais para as atividades do negócio.
Quando bem aplicada, é capaz de blindar a empresa de ataques digitais, desastres tecnológicos ou falhas humanas. Porém, qualquer
tipo de falha, por menor que seja, abre brecha para problemas.
A segurança da informação se baseia nos seguintes pilares52:
– Confidencialidade: o conteúdo protegido deve estar disponível somente a pessoas autorizadas.
– Disponibilidade: é preciso garantir que os dados estejam acessíveis para uso por tais pessoas quando for necessário, ou seja, de
modo permanente a elas.
– Integridade: a informação protegida deve ser íntegra, ou seja, sem sofrer qualquer alteração indevida, não importa por quem e nem
em qual etapa, se no processamento ou no envio.
– Autenticidade: a ideia aqui é assegurar que a origem e autoria do conteúdo seja mesmo a anunciada.

Existem outros termos importantes com os quais um profissional da área trabalha no dia a dia.
Podemos citar a legalidade, que diz respeito à adequação do conteúdo protegido à legislação vigente; a privacidade, que se refere ao
controle sobre quem acessa as informações; e a auditoria, que permite examinar o histórico de um evento de segurança da informação,
rastreando as suas etapas e os responsáveis por cada uma delas.

Alguns conceitos relacionados à aplicação dos pilares


– Vulnerabilidade: pontos fracos existentes no conteúdo protegido, com potencial de prejudicar alguns dos pilares de segurança da
informação, ainda que sem intenção
– Ameaça: elemento externo que pode se aproveitar da vulnerabilidade existente para atacar a informação sensível ao negócio.
– Probabilidade: se refere à chance de uma vulnerabilidade ser explorada por uma ameaça.
– Impacto: diz respeito às consequências esperadas caso o conteúdo protegido seja exposto de forma não autorizada.

51 https://ecoit.com.br/seguranca-da-informacao/
52 https://bit.ly/2E5beRr
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– Risco: estabelece a relação entre probabilidade e impacto, ajudando a determinar onde concentrar investimentos em segurança da
informação.

Tipos de ataques
Cada tipo de ataque tem um objetivo específico, que são eles53:
– Passivo: envolve ouvir as trocas de comunicações ou gravar de forma passiva as atividades do computador. Por si só, o ataque
passivo não é prejudicial, mas a informação coletada durante a sessão pode ser extremamente prejudicial quando utilizada (adulteração,
fraude, reprodução, bloqueio).
– Ativos: neste momento, faz-se a utilização dos dados coletados no ataque passivo para, por exemplo, derrubar um sistema, infectar
o sistema com malwares, realizar novos ataques a partir da máquina-alvo ou até mesmo destruir o equipamento (Ex.: interceptação, mo-
nitoramento, análise de pacotes).
Política de Segurança da Informação
Este documento irá auxiliar no gerenciamento da segurança da organização através de regras de alto nível que representam os prin-
cípios básicos que a entidade resolveu adotar de acordo com a visão estratégica da mesma, assim como normas (no nível tático) e proce-
dimentos (nível operacional). Seu objetivo será manter a segurança da informação. Todos os detalhes definidos nelas serão para informar
sobre o que pode e o que é proibido, incluindo:
• Política de senhas: define as regras sobre o uso de senhas nos recursos computacionais, como tamanho mínimo e máximo, regra
de formação e periodicidade de troca.
• Política de backup: define as regras sobre a realização de cópias de segurança, como tipo de mídia utilizada, período de retenção e
frequência de execução.
• Política de privacidade: define como são tratadas as informações pessoais, sejam elas de clientes, usuários ou funcionários.
• Política de confidencialidade: define como são tratadas as informações institucionais, ou seja, se elas podem ser repassadas a ter-
ceiros.

Mecanismos de segurança
Um mecanismo de segurança da informação é uma ação, técnica, método ou ferramenta estabelecida com o objetivo de preservar o
conteúdo sigiloso e crítico para uma empresa.
Ele pode ser aplicado de duas formas:
– Controle físico: é a tradicional fechadura, tranca, porta e qualquer outro meio que impeça o contato ou acesso direto à informação
ou infraestrutura que dá suporte a ela
– Controle lógico: nesse caso, estamos falando de barreiras eletrônicas, nos mais variados formatos existentes, desde um antivírus,
firewall ou filtro anti-spam, o que é de grande valia para evitar infecções por e-mail ou ao navegar na internet, passa por métodos de en-
criptação, que transformam as informações em códigos que terceiros sem autorização não conseguem decifrar e, há ainda, a certificação
e assinatura digital, sobre as quais falamos rapidamente no exemplo antes apresentado da emissão da nota fiscal eletrônica.

Todos são tipos de mecanismos de segurança, escolhidos por profissional habilitado conforme o plano de segurança da informação da
empresa e de acordo com a natureza do conteúdo sigiloso.

Criptografia
É uma maneira de codificar uma informação para que somente o emissor e receptor da informação possa decifrá-la através de uma
chave que é usada tanto para criptografar e descriptografar a informação54.
Tem duas maneiras de criptografar informações:
• Criptografia simétrica (chave secreta): utiliza-se uma chave secreta, que pode ser um número, uma palavra ou apenas uma sequ-
ência de letras aleatórias, é aplicada ao texto de uma mensagem para alterar o conteúdo de uma determinada maneira. Tanto o emissor
quanto o receptor da mensagem devem saber qual é a chave secreta para poder ler a mensagem.
• Criptografia assimétrica (chave pública): tem duas chaves relacionadas. Uma chave pública é disponibilizada para qualquer pessoa
que queira enviar uma mensagem. Uma segunda chave privada é mantida em segredo, para que somente você saiba.
Qualquer mensagem que foi usada a chave púbica só poderá ser descriptografada pela chave privada.
Se a mensagem foi criptografada com a chave privada, ela só poderá ser descriptografada pela chave pública correspondente.
A criptografia assimétrica é mais lenta o processamento para criptografar e descriptografar o conteúdo da mensagem.
Um exemplo de criptografia assimétrica é a assinatura digital.
• Assinatura Digital: é muito usado com chaves públicas e permitem ao destinatário verificar a autenticidade e a integridade da infor-
mação recebida. Além disso, uma assinatura digital não permite o repúdio, isto é, o emitente não pode alegar que não realizou a ação. A
chave é integrada ao documento, com isso se houver alguma alteração de informação invalida o documento.
• Sistemas biométricos: utilizam características físicas da pessoa como os olhos, retina, dedos, digitais, palma da mão ou voz.

Firewall
Firewall ou “parede de fogo” é uma solução de segurança baseada em hardware ou software (mais comum) que, a partir de um con-
junto de regras ou instruções, analisa o tráfego de rede para determinar quais operações de transmissão ou recepção de dados podem
ser executadas. O firewall se enquadra em uma espécie de barreira de defesa. A sua missão, por assim dizer, consiste basicamente em
bloquear tráfego de dados indesejado e liberar acessos bem-vindos.

53 https://www.diegomacedo.com.br/modelos-e-mecanismos-de-seguranca-da-informacao/
54 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/19/conceitos-de-protecao-e-seguranca-da-informacao-parte-2/
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Representação de um firewall.55

Formas de segurança e proteção


– Controles de acesso através de senhas para quem acessa, com autenticação, ou seja, é a comprovação de que uma pessoa que está
acessando o sistema é quem ela diz ser56.
– Se for empresa e os dados a serem protegidos são extremamente importantes, pode-se colocar uma identificação biométrica como
os olhos ou digital.
– Evitar colocar senhas com dados conhecidos como data de nascimento ou placa do seu carro.
– As senhas ideais devem conter letras minúsculas e maiúsculas, números e caracteres especiais como @ # $ % & *.
– Instalação de antivírus com atualizações constantes.
– Todos os softwares do computador devem sempre estar atualizados, principalmente os softwares de segurança e sistema operacio-
nal. No Windows, a opção recomendada é instalar atualizações automaticamente.
– Dentre as opções disponíveis de configuração qual opção é a recomendada.
– Sempre estar com o firewall ativo.
– Anti-spam instalados.
– Manter um backup para caso de pane ou ataque.
– Evite sites duvidosos.
– Não abrir e-mails de desconhecidos e principalmente se tiver anexos (link).
– Evite ofertas tentadoras por e-mail ou em publicidades.
– Tenha cuidado quando solicitado dados pessoais. Caso seja necessário, fornecer somente em sites seguros.
– Cuidado com informações em redes sociais.
– Instalar um anti-spyware.
– Para se manter bem protegido, além dos procedimentos anteriores, deve-se ter um antivírus instalado e sempre atualizado.

Códigos maliciosos (Malware)


Códigos maliciosos (malware) são programas especificamente desenvolvidos para executar ações danosas e atividades maliciosas em
um computador57. Algumas das diversas formas como os códigos maliciosos podem infectar ou comprometer um computador são:
– Pela exploração de vulnerabilidades existentes nos programas instalados;
– Pela autoexecução de mídias removíveis infectadas, como pen-drives;
– Pelo acesso a páginas Web maliciosas, utilizando navegadores vulneráveis;
– Pela ação direta de atacantes que, após invadirem o computador, incluem arquivos contendo códigos maliciosos;
– Pela execução de arquivos previamente infectados, obtidos em anexos de mensagens eletrônicas, via mídias removíveis, em páginas
Web ou diretamente de outros computadores (através do compartilhamento de recursos).

Uma vez instalados, os códigos maliciosos passam a ter acesso aos dados armazenados no computador e podem executar ações em
nome dos usuários, de acordo com as permissões de cada usuário.
Os principais motivos que levam um atacante a desenvolver e a propagar códigos maliciosos são a obtenção de vantagens financeiras,
a coleta de informações confidenciais, o desejo de autopromoção e o vandalismo. Além disto, os códigos maliciosos são muitas vezes usa-
dos como intermediários e possibilitam a prática de golpes, a realização de ataques e a disseminação de spam (mais detalhes nos Capítulos
Golpes na Internet, Ataques na Internet e Spam, respectivamente).
A seguir, serão apresentados os principais tipos de códigos maliciosos existentes.

Vírus
Vírus é um programa ou parte de um programa de computador, normalmente malicioso, que se propaga inserindo cópias de si mesmo
e se tornando parte de outros programas e arquivos.
Para que possa se tornar ativo e dar continuidade ao processo de infecção, o vírus depende da execução do programa ou arquivo
hospedeiro, ou seja, para que o seu computador seja infectado é preciso que um programa já infectado seja executado.

55 Fonte: https://helpdigitalti.com.br/o-que-e-firewall-conceito-tipos-e-arquiteturas/#:~:text=Firewall%20%C3%A9%20uma%20solu%C3%A7%C3%A3o%20
de,de%20dados%20podem%20ser%20executadas.
56 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/19/conceitos-de-protecao-e-seguranca-da-informacao-parte-3/
57 https://cartilha.cert.br/malware/
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O principal meio de propagação de vírus costumava ser os Algumas das ações maliciosas que costumam ser executadas
disquetes. Com o tempo, porém, estas mídias caíram em desuso e por intermédio de botnets são: ataques de negação de serviço,
começaram a surgir novas maneiras, como o envio de e-mail. Atu- propagação de códigos maliciosos (inclusive do próprio bot), coleta
almente, as mídias removíveis tornaram-se novamente o principal de informações de um grande número de computadores, envio de
meio de propagação, não mais por disquetes, mas, principalmente, spam e camuflagem da identidade do atacante (com o uso de pro-
pelo uso de pen-drives. xies instalados nos zumbis).
Há diferentes tipos de vírus. Alguns procuram permanecer ocul-
tos, infectando arquivos do disco e executando uma série de ativi- Spyware
dades sem o conhecimento do usuário. Há outros que permanecem Spyware é um programa projetado para monitorar as ativida-
inativos durante certos períodos, entrando em atividade apenas em des de um sistema e enviar as informações coletadas para terceiros.
datas específicas. Alguns dos tipos de vírus mais comuns são: Pode ser usado tanto de forma legítima quanto maliciosa, de-
– Vírus propagado por e-mail: recebido como um arquivo ane- pendendo de como é instalado, das ações realizadas, do tipo de
xo a um e-mail cujo conteúdo tenta induzir o usuário a clicar sobre informação monitorada e do uso que é feito por quem recebe as
este arquivo, fazendo com que seja executado. informações coletadas. Pode ser considerado de uso:
– Vírus de script: escrito em linguagem de script, como VBS- – Legítimo: quando instalado em um computador pessoal, pelo
cript e JavaScript, e recebido ao acessar uma página Web ou por próprio dono ou com consentimento deste, com o objetivo de veri-
e-mail, como um arquivo anexo ou como parte do próprio e-mail ficar se outras pessoas o estão utilizando de modo abusivo ou não
escrito em formato HTML. autorizado.
– Vírus de macro: tipo específico de vírus de script, escrito em – Malicioso: quando executa ações que podem comprometer a
linguagem de macro, que tenta infectar arquivos manipulados por privacidade do usuário e a segurança do computador, como monitorar
aplicativos que utilizam esta linguagem como, por exemplo, os que e capturar informações referentes à navegação do usuário ou inseridas
compõe o Microsoft Office (Excel, Word e PowerPoint, entre outros). em outros programas (por exemplo, conta de usuário e senha).
– Vírus de telefone celular: vírus que se propaga de celular para Alguns tipos específicos de programas spyware são:
celular por meio da tecnologia bluetooth ou de mensagens MMS – Keylogger: capaz de capturar e armazenar as teclas digitadas
(Multimedia Message Service). A infecção ocorre quando um usu- pelo usuário no teclado do computador.
ário permite o recebimento de um arquivo infectado e o executa. – Screenlogger: similar ao keylogger, capaz de armazenar a po-
sição do cursor e a tela apresentada no monitor, nos momentos em
Worm que o mouse é clicado, ou a região que circunda a posição onde o
Worm é um programa capaz de se propagar automaticamen- mouse é clicado.
te pelas redes, enviando cópias de si mesmo de computador para – Adware: projetado especificamente para apresentar propa-
computador. gandas.
Diferente do vírus, o worm não se propaga por meio da inclu-
são de cópias de si mesmo em outros programas ou arquivos, mas Backdoor
sim pela execução direta de suas cópias ou pela exploração auto- Backdoor é um programa que permite o retorno de um invasor
mática de vulnerabilidades existentes em programas instalados em a um computador comprometido, por meio da inclusão de serviços
computadores. criados ou modificados para este fim.
Worms são notadamente responsáveis por consumir muitos Pode ser incluído pela ação de outros códigos maliciosos, que
recursos, devido à grande quantidade de cópias de si mesmo que tenham previamente infectado o computador, ou por atacantes,
costumam propagar e, como consequência, podem afetar o desem- que exploram vulnerabilidades existentes nos programas instalados
penho de redes e a utilização de computadores. no computador para invadi-lo.
Após incluído, o backdoor é usado para assegurar o acesso fu-
Bot e botnet turo ao computador comprometido, permitindo que ele seja aces-
Bot é um programa que dispõe de mecanismos de comunicação sado remotamente, sem que haja necessidade de recorrer nova-
com o invasor que permitem que ele seja controlado remotamente. mente aos métodos utilizados na realização da invasão ou infecção
Possui processo de infecção e propagação similar ao do worm, ou e, na maioria dos casos, sem que seja notado.
seja, é capaz de se propagar automaticamente, explorando vulne-
rabilidades existentes em programas instalados em computadores. Cavalo de troia (Trojan)
A comunicação entre o invasor e o computador infectado pelo Cavalo de troia, trojan ou trojan-horse, é um programa que,
bot pode ocorrer via canais de IRC, servidores Web e redes do tipo além de executar as funções para as quais foi aparentemente proje-
P2P, entre outros meios. Ao se comunicar, o invasor pode enviar tado, também executa outras funções, normalmente maliciosas, e
instruções para que ações maliciosas sejam executadas, como des- sem o conhecimento do usuário.
ferir ataques, furtar dados do computador infectado e enviar spam. Exemplos de trojans são programas que você recebe ou obtém
Um computador infectado por um bot costuma ser chamado de de sites na Internet e que parecem ser apenas cartões virtuais ani-
zumbi (zombie computer), pois pode ser controlado remotamente, mados, álbuns de fotos, jogos e protetores de tela, entre outros.
sem o conhecimento do seu dono. Também pode ser chamado de Estes programas, geralmente, consistem de um único arquivo e ne-
spam zombie quando o bot instalado o transforma em um servidor cessitam ser explicitamente executados para que sejam instalados
de e-mails e o utiliza para o envio de spam. no computador.
Botnet é uma rede formada por centenas ou milhares de com- Trojans também podem ser instalados por atacantes que, após
putadores zumbis e que permite potencializar as ações danosas invadirem um computador, alteram programas já existentes para
executadas pelos bots. que, além de continuarem a desempenhar as funções originais,
Quanto mais zumbis participarem da botnet mais potente ela também executem ações maliciosas.
será. O atacante que a controlar, além de usá-la para seus próprios
ataques, também pode alugá-la para outras pessoas ou grupos que Rootkit
desejem que uma ação maliciosa específica seja executada.
Editora
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Rootkit é um conjunto de programas e técnicas que permite Spam zombies são computadores de usuários finais que foram
esconder e assegurar a presença de um invasor ou de outro código comprometidos por códigos maliciosos em geral, como worms,
malicioso em um computador comprometido. bots, vírus e cavalos de tróia. Estes códigos maliciosos, uma vez ins-
Rootkits inicialmente eram usados por atacantes que, após in- talados, permitem que spammers utilizem a máquina para o envio
vadirem um computador, os instalavam para manter o acesso pri- de spam, sem o conhecimento do usuário. Enquanto utilizam má-
vilegiado, sem precisar recorrer novamente aos métodos utilizados quinas comprometidas para executar suas atividades, dificultam a
na invasão, e para esconder suas atividades do responsável e/ou identificação da origem do spam e dos autores também. Os spam
dos usuários do computador. Apesar de ainda serem bastante usa- zombies são muito explorados pelos spammers, por proporcionar o
dos por atacantes, os rootkits atualmente têm sido também utili- anonimato que tanto os protege.
zados e incorporados por outros códigos maliciosos para ficarem Estes filtros são responsáveis por evitar que mensagens indese-
ocultos e não serem detectados pelo usuário e nem por mecanis- jadas cheguem até a sua caixa de entrada no e-mail.
mos de proteção.
Anti-malwares
Ransomware Ferramentas anti-malware são aquelas que procuram detectar
Ransomware é um tipo de código malicioso que torna inacessí- e, então, anular ou remover os códigos maliciosos de um computa-
veis os dados armazenados em um equipamento, geralmente usan- dor. Antivírus, anti-spyware, anti-rootkit e anti-trojan são exemplos
do criptografia, e que exige pagamento de resgate (ransom) para de ferramentas deste tipo.
restabelecer o acesso ao usuário58.

O pagamento do resgate geralmente é feito via bitcoins. METADADOS DE ARQUIVOS


Pode se propagar de diversas formas, embora as mais comuns
sejam através de e-mails com o código malicioso em anexo ou que
induzam o usuário a seguir um link e explorando vulnerabilidades Metadados são um conjunto de informações relacionadas
em sistemas que não tenham recebido as devidas atualizações de a um arquivo59. Por exemplo, proprietário do arquivo, criador,
segurança. data de criação etc.
Essas informações vêm incorporadas no arquivo.
Antivírus
O antivírus é um software de proteção do computador que eli- Tipos de Metadados
mina programas maliciosos que foram desenvolvidos para prejudi- Há três tipos de metadados:
car o computador. - Metadados técnicos;
O vírus infecta o computador através da multiplicação dele (có- - Metadados descritivos;
pias) com intenção de causar danos na máquina ou roubar dados. - Metadados administrativos.
O antivírus analisa os arquivos do computador buscando pa-
drões de comportamento e códigos que não seriam comuns em Metadados técnicos
algum tipo de arquivo e compara com seu banco de dados. Com Como o nome sugere, são informações técnicas a respeito
isto ele avisa o usuário que tem algo suspeito para ele tomar pro- do arquivo, como
vidência. DPIs, tamanho do arquivo, seu formato, data de alteração
O banco de dados do antivírus é muito importante neste pro- e criação, programa usado para gerar o arquivo, etc.
cesso, por isso, ele deve ser constantemente atualizado, pois todos
os dias são criados vírus novos. Metadados descritivos
Uma grande parte das infecções de vírus tem participação do Metadados descritivos são, geralmente, informações in-
usuário. Os mais comuns são através de links recebidos por e-mail seridas manualmente no arquivo. Como o nome do arquivo, o
ou download de arquivos na internet de sites desconhecidos ou autor e comentários.
mesmo só de acessar alguns sites duvidosos pode acontecer uma Metadados descritivos são úteis já que podemos utilizá-los
contaminação. em buscas.
Outro jeito de contaminar é através de dispositivos de armaze-
namentos móveis como HD externo e pen drive. Nestes casos de- Metadados administrativos
vem acionar o antivírus para fazer uma verificação antes. Metadados administrativos são informações de identifica-
Existem diversas opções confiáveis, tanto gratuitas quanto pa- ção, contato do proprietário do arquivo, licença, direitos auto-
gas. Entre as principais estão: rais e termos de uso.
– Avast;
– AVG; Utilidade dos metadados
– Norton; Metadados são úteis não apenas para que você, ao pes-
– Avira; quisar, encontre com mais facilidade um arquivo por meio de
– Kaspersky; informações relacionadas, mas também como prova de autoria
– McAffe. e propriedade. Alguém pode, por exemplo, estar usando uma
foto sua ilegalmente e ao clicar e você tem como provar por
Filtro anti-spam meio dos metadados.
Spam é o termo usado para referir-se aos e-mails não solici- Os metadados podem ser facilmente alterados ou apaga-
tados, que geralmente são enviados para um grande número de dos. Então, não confie muito no seu uso como provas.
pessoas.

58 https://cartilha.cert.br/ransomware/ 59 https://gnulinuxbrasil.com.br/2020/05/06/metadados-de-arquivos/
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naquele servidor. Se existir, a mensagem do remetente é entregue
PROGRAMAS DE CORREIO ELETRÔNICO (OUTLOOK EX‐ ao servidor POP3 ou IMAP, que armazena a mensagem na caixa de
PRESS E MOZILLA THUNDERBIRD) e-mail do destinatário.

Ações no correio eletrônico


E-mail Independente da tecnologia e recursos empregados no correio
O e-mail revolucionou o modo como as pessoas recebem men- eletrônico, em geral, são implementadas as seguintes funções:
sagem atualmente60. Qualquer pessoa que tenha um e-mail pode – Caixa de Entrada: caixa postal onde ficam todos os e-mails
mandar uma mensagem para outra pessoa que também tenha recebidos pelo usuário, lidos e não-lidos.
e-mail, não importando a distância ou a localização. – Lixeira: caixa postal onde ficam todos os e-mails descarta-
Um endereço de correio eletrônico obedece à seguinte estru- dos pelo usuário, realizado pela função Apagar ou por um ícone de
tura: à esquerda do símbolo @ (ou arroba) fica o nome ou apelido Lixeira. Em geral, ao descartar uma mensagem ela permanece na
do usuário, à direita fica o nome do domínio que fornece o acesso. lixeira, mas não é descartada, até que o usuário decida excluir as
O resultado é algo como: mensagens definitivamente (este é um processo de segurança para
garantir que um usuário possa recuperar e-mails apagados por en-
maria@apostilassolucao.com.br gano). Para apagar definitivamente um e-mail é necessário entrar,
de tempos em tempos, na pasta de lixeira e descartar os e-mails
Atualmente, existem muitos servidores de webmail – correio existentes.
eletrônico – na Internet, como o Gmail e o Outlook. – Nova mensagem: permite ao usuário compor uma mensa-
Para possuir uma conta de e-mail nos servidores é necessário gem para envio. Os campos geralmente utilizados são:
preencher uma espécie de cadastro. Geralmente existe um conjun- – Para: designa a pessoa para quem será enviado o e-mail. Em
to de regras para o uso desses serviços. geral, pode-se colocar mais de um destinatário inserindo os e-mails
de destino separados por ponto-e-vírgula.
Correio Eletrônico – CC (cópia carbono): designa pessoas a quem também repas-
Este método utiliza, em geral, uma aplicação (programa de cor- samos o e-mail, ainda que elas não sejam os destinatários principais
reio eletrônico) que permite a manipulação destas mensagens e um da mensagem. Funciona com o mesmo princípio do Para.
protocolo (formato de comunicação) de rede que permite o envio – CCo (cópia carbono oculta): designa pessoas a quem repas-
e recebimento de mensagens61. Estas mensagens são armazenadas samos o e-mail, mas diferente da cópia carbono, quando os destina-
no que chamamos de caixa postal, as quais podem ser manipuladas tários principais abrirem o e-mail não saberão que o e-mail também
por diversas operações como ler, apagar, escrever, anexar, arquivos foi repassado para os e-mails determinados na cópia oculta.
e extração de cópias das mensagens. – Assunto: título da mensagem.
– Anexos: nome dado a qualquer arquivo que não faça parte
Funcionamento básico de correio eletrônico da mensagem principal e que seja vinculada a um e-mail para envio
Essencialmente, um correio eletrônico funciona como dois pro- ao usuário. Anexos, comumente, são o maior canal de propagação
gramas funcionando em uma máquina servidora: de vírus e malwares, pois ao abrirmos um anexo, obrigatoriamente
– Servidor SMTP (Simple Mail Transfer Protocol): protocolo de ele será “baixado” para nosso computador e executado. Por isso,
transferência de correio simples, responsável pelo envio de men- recomenda-se a abertura de anexos apenas de remetentes confiá-
sagens. veis e, em geral, é possível restringir os tipos de anexos que podem
– Servidor POP3 (Post Office Protocol – protocolo Post Office) ser recebidos através de um e-mail para evitar propagação de vírus
ou IMAP (Internet Mail Access Protocol): protocolo de acesso de e pragas. Alguns antivírus permitem analisar anexos de e-mails an-
correio internet), ambos protocolos para recebimento de mensa- tes que sejam executados: alguns serviços de webmail, como por
gens. exemplo, o Gmail, permitem analisar preliminarmente se um anexo
contém arquivos com malware.
Para enviar um e-mail, o usuário deve possuir um cliente de – Filtros: clientes de e-mail e webmails comumente fornecem
e-mail que é um programa que permite escrever, enviar e receber a função de filtro. Filtros são regras que escrevemos que permitem
e-mails conectando-se com a máquina servidora de e-mail. Inicial- que, automaticamente, uma ação seja executada quando um e-mail
mente, um usuário que deseja escrever seu e-mail, deve escrever cumpre esta regra. Filtros servem assim para realizar ações simples
sua mensagem de forma textual no editor oferecido pelo cliente e padronizadas para tornar mais rápida a manipulação de e-mails.
de e-mail e endereçar este e-mail para um destinatário que possui Por exemplo, imagine que queremos que ao receber um e-mail de
o formato “nome@dominio.com.br“. Quando clicamos em enviar, “joao@blabla.com”, este e-mail seja diretamente descartado, sem
nosso cliente de e-mail conecta-se com o servidor de e-mail, comu- aparecer para nós. Podemos escrever uma regra que toda vez que
nicando-se com o programa SMTP, entregando a mensagem a ser um e-mail com remetente “joao@blabla.com” chegar em nossa cai-
enviada. A mensagem é dividida em duas partes: o nome do desti- xa de entrada, ele seja diretamente excluído.
natário (nome antes do @) e o domínio, i.e., a máquina servidora
de e-mail do destinatário (endereço depois do @). Com o domínio,
o servidor SMTP resolve o DNS, obtendo o endereço IP do servi-
dor do e-mail do destinatário e comunicando-se com o programa
SMTP deste servidor, perguntando se o nome do destinatário existe

60 https://cin.ufpe.br/~macm3/Folders/Apostila%20Internet%20-%20Avan%E-
7ado.pdf
61 https://centraldefavoritos.com.br/2016/11/11/correio-eletronico-webmail-
-e-mozilla-thunderbird/
Editora
153
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62

Respondendo uma mensagem


Os ícones disponíveis para responder uma mensagem são:
– Responder ao remetente: responde à mensagem selecionada para o autor dela (remetente).
– Responde a todos: a mensagem é enviada tanto para o autor como para as outras pessoas que estavam na lista de cópias.
– Encaminhar: envia a mensagem selecionada para outra pessoa.

Clientes de E-mail
Um cliente de e-mail é essencialmente um programa de computador que permite compor, enviar e receber e-mails a partir de um ser-
vidor de e-mail, o que exige cadastrar uma conta de e-mail e uma senha para seu correto funcionamento. Há diversos clientes de e-mails
no mercado que, além de manipular e-mails, podem oferecer recursos diversos.
– Outlook: cliente de e-mails nativo do sistema operacional Microsoft Windows. A versão Express é uma versão mais simplificada e
que, em geral, vem por padrão no sistema operacional Windows. Já a versão Microsoft Outlook é uma versão que vem no pacote Microsoft
Office possui mais recursos, incluindo, além de funções de e-mail, recursos de calendário.
– Mozilla Thunderbird: é um cliente de e-mails e notícias Open Source e gratuito criado pela Mozilla Foundation (mesma criadora do
Mozilla Firefox).

Webmails
Webmail é o nome dado a um cliente de e-mail que não necessita de instalação no computador do usuário, já que funciona como uma
página de internet, bastando o usuário acessar a página do seu provedor de e-mail com seu login e senha. Desta forma, o usuário ganha
mobilidade já que não necessita estar na máquina em que um cliente de e-mail está instalado para acessar seu e-mail. A desvantagem da
utilização de webmails em comparação aos clientes de e-mail é o fato de necessitarem de conexão de Internet para leitura dos e-mails,
enquanto nos clientes de e-mail basta a conexão para “baixar” os e-mails, sendo que a posterior leitura pode ser realizada desconectada
da Internet.
Exemplos de servidores de webmail do mercado são:
– Gmail
– Yahoo!Mail
– Microsoft Outlook: versão on-line do Outlook. Anteriormente era conhecido como Hotmail, porém mudou de nome quando a Mi-
crosoft integrou suas diversas tecnologias.

62 https://support.microsoft.com/pt-br/office/ler-e-enviar-emails-na-vers%C3%A3o-light-do-outlook-582a8fdc-152c-4b61-85fa-ba5ddf07050b
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63

Diferença entre webmail e correio eletrônico


O webmail (Yahoo ou Gmail) você acessa através de seu navegador (Firefox ou Google Chrome) e só pode ler conectado na internet.
Já o correio eletrônico (Thunderbird ou Outlook) você acessa com uma conexão de internet e pode baixar seus e-mails, mas depois pode
ler na hora que quiser sem precisar estar conectado na internet.

GRUPOS DE DISCUSSÃO

Grupos de discussão
Grupos de discussão são ferramentas gerenciáveis pela Internet que permitem que um grupo de pessoas troque mensagens via
e-mail entre todos os membros do grupo. Essas mensagens, geralmente, são de um tema de interesse em comum, onde as pessoas
expõem suas opiniões, sugestões, críticas e tiram dúvidas. Como é um grupo onde várias pessoas podem participar sem, geralmen-
te, ter um pré- requisito, as informações nem sempre são confiáveis.
Existem sites gratuitos, como o Google Groups, o Grupos.com.br, que auxiliam na criação e uso de grupos de discussão, mas um
grupo pode ser montado independentemente, onde pessoas façam uma lista de e – mails e troquem informações.

Para conhecer um pouco mais sobre este assunto, vamos criar um grupo de discussão no Google Groups. Para isso, alguns
passos serão necessários:
1º) Temos que ter um cadastro no Google, como fizemos quando estudamos os sites de busca.
2º) Acessar o site do Google (www.google.com.br) e clicar no menu “Mais” e no item “Ainda mais”.
3º) Entre os diversos produtos que serão expostos, clicar em “Grupos”.

!
Grupos
63 https://www.dialhost.com.br/ajuda/abrir-uma-nova-janela-para-escrever-novo-email
Editora
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Na próxima tela, teremos os passos necessários para criar Após este passo, teremos que adicionar os membros do
um grupo, onde clicaremos no botão “Criar um grupo...” grupo e faremos isto através de um convite que será enviado
aos e – mails que digitaremos em um campo especial para esta
finalidade. Cada destinatário dos endereços cadastrados por nós
receberá um convite e deverá aceitá-lo para poder receber as
mensagens e participar do nosso grupo.

A mensagem do convite também será digitada por nós, mas


o nome, o endereço e a descrição do grupo, serão adicionados
automaticamente. Nesta página teremos o botão “Convidar”.
Quando clicarmos nele, receberemos a seguinte mensagem:

Passo 2 – Criando um grupo

Seguiremos alguns passos propostos pelo website.


Daremos um nome ao nosso grupo. Neste caso o nome é
Profale. Conforme digitamos o nome do grupo, o campo endere-
ço de e – mail do grupo e endereço do grupo na web vão sendo
automaticamente preenchidos. Podemos inserir uma descrição !
grupo, que servirá para ajudar as pessoas a saberem do que se Finalização do processo de criação do grupo
trata esse grupo, ou seja, qual sua finalidade e tipo de assunto
abortado. Os convidados a participarem do grupo receberão o convite
Após a inserção do comentário sobre as intenções do gru- em seus endereços eletrônicos. A etapa do convite pode ser rea-
po, podemos selecionar se este grupo pode ter conteúdo adulto, lizada depois da criação do grupo. Vale lembrar, que em muitos
nudez ou material sexualmente explícito. Antes de entrar nesse casos, as mensagens de convite são identificadas pelos servido-
grupo é necessário confirmar que você é maior de 18 anos. res de mensagens como Spams e por esse motivo são automati-
camente enviadas para a pasta Spam dos destinatários.
Escolheremos também, o nível de acesso entre: O proprietário do grupo terá acesso a uma tela onde pode-
“Público – Qualquer pessoa pode ler os arquivos. Qualquer rá: visualizar os membros do grupo, iniciar um novo tópico de
pessoa pode participar, mas somente os membros podem postar discussão, convidar ou adicionar membros, e ajustar as configu-
mensagens.” “Somente para anúncios – Qualquer pessoa pode rações do seu grupo.
ler os arquivos. Qualquer pessoa pode participar, mas somente Quando o proprietário optar por iniciar um novo tópico
os administradores podem postar mensagens.” de discussão, será aberta uma página semelhante a de criação
de um e – mail. A linha “De”, virá automaticamente preenchi-
“Restrito – Para participar, ler e postar mensagens é pre- da com o nome do proprietário e o endereço do grupo. A linha
ciso ser convidado. O seu grupo e os respectivos arquivos não “Para”, também será preenchida automaticamente com o nome
aparecem nos resultados de pesquisa públicos do Google nem do grupo. Teremos que digitar o assunto e a mensagem e clicar
no diretório.” no botão “Postar mensagem”.
A mensagem postada pode ser vista no site do grupo, onde
as pessoas podem debater sobre ela (igualando-se assim a um
fórum) ou encaminha via e-mail para outras pessoas.
O site grupos.com.br funciona de forma semelhante. O pro-
prietário também tem que se cadastrar e inserir informações
como nome do grupo, convidados, descrição e outras, mas am-
bas as ferramentas acabam tornado o grupo de discussão mui-
to semelhante ao fórum. Para criar um grupo de discussão da
maneira padrão, sem utilizar ferramentas de gerenciamento, as
pessoas podem criar um e – mail para o grupo e a partir dele
criar uma lista de endereços dos convidados, possibilitando a
troca de informações via e – mail.

!
Configurar grupo

Editora
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Para muitos brasileiros, o WhatsApp é “a internet”. Algumas
REDES SOCIAIS operadoras permitem o uso ilimitado do aplicativo, sem debitar
do consumo do pacote de dados. Por isso, muita gente se infor-
ma através dele.
Redes sociais são estruturas formadas dentro ou fora da in-
ternet, por pessoas e organizações que se conectam a partir de YouTube
interesses ou valores comuns64. Muitos confundem com mídias Rede que pertence ao Google e é especializada em vídeos.
sociais, porém as mídias são apenas mais uma forma de criar
redes sociais, inclusive na internet.

O propósito principal das redes sociais é o de conectar pes-


soas. Você preenche seu perfil em canais de mídias sociais e
interage com as pessoas com base nos detalhes que elas leem
sobre você. Pode-se dizer que redes sociais são uma categoria O YouTube é a principal rede social de vídeos on-line da
das mídias sociais. atualidade, com mais de 1 bilhão de usuários ativos e mais de 1
Mídia social, por sua vez, é um termo amplo, que abrange bilhão de horas de vídeos visualizados diariamente.
diferentes mídias, como vídeos, blogs e as já mencionadas re- Instagram
des sociais. Para entender o conceito, pode-se olhar para o que Rede para compartilhamento de fotos e vídeos.
compreendíamos como mídia antes da existência da internet:
rádio, TV, jornais, revistas. Quando a mídia se tornou disponível
na internet, ela deixou de ser estática, passando a oferecer a
possibilidade de interagir com outras pessoas.
No coração das mídias sociais estão os relacionamentos,
que são comuns nas redes sociais — talvez por isso a confusão.
Mídias sociais são lugares em que se pode transmitir informa-
ções para outras pessoas. O Instagram foi uma das primeiras redes sociais exclusivas
Estas redes podem ser de relacionamento, como o Face- para acesso por meio do celular. E, embora hoje seja possível
book, profissionais, como o Linkedin ou mesmo de assuntos es- visualizar publicações no desktop, seu formato continua sendo
pecíficos como o Youtube que compartilha vídeos. voltado para dispositivos móveis.
As principais são: Facebook, WhatsApp, Youtube, Insta- É possível postar fotos com proporções diferentes, além de
gram, Twitter, Linkedin, Pinterest, Snapchat, Skype e agora mais outros formatos, como vídeos, stories e mais.
recentemente, o Tik Tok. Os stories são os principais pontos de inovação do aplica-
tivo. Já são diversos formatos de post por ali, como perguntas,
Facebook enquetes, vídeos em sequência e o uso de GIFs.
Seu foco principal é o compartilhamento de assuntos pes- Em 2018, foi lançado o IGTV. E em 2019 o Instagram Cenas,
soais de seus membros. uma espécie de imitação do TikTok: o usuário pode produzir ví-
deos de 15 segundos, adicionando música ou áudios retirados
de outro clipezinho. Há ainda efeitos de corte, legendas e so-
breposição para transições mais limpas – lembrando que esta
é mais uma das funcionalidades que atuam dentro dos stories.

Twitter
O Facebook é uma rede social versátil e abrangente, que Rede social que funciona como um microblog onde você
reúne muitas funcionalidades no mesmo lugar. Serve tanto para pode seguir ou ser seguido, ou seja, você pode ver em tempo
gerar negócios quanto para conhecer pessoas, relacionar-se real as atualizações que seus contatos fazem e eles as suas.
com amigos e família, informar-se, dentre outros65.

WhatsApp
É uma rede para mensagens instantânea. Faz também liga-
ções telefônicas através da internet gratuitamente.

O Twitter atingiu seu auge em meados de 2009 e de lá para


cá está em declínio, mas isso não quer dizer todos os públicos
pararam de usar a rede social.
A maioria das pessoas que têm um smartphone também o A rede social é usada principalmente como segunda tela em
têm instalado. Por aqui, aliás, o aplicativo ganhou até o apelido que os usuários comentam e debatem o que estão assistindo na
de “zap zap”. TV, postando comentários sobre noticiários, reality shows, jogos
de futebol e outros programas.
64 https://resultadosdigitais.com.br/especiais/tudo-sobre-redes-sociais/
65 https://bit.ly/32MhiJ0
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Nos últimos anos, a rede social acabou voltando a ser mais A rede lançou o conceito de “stories”, despertando o inte-
utilizada por causa de seu uso por políticos, que divulgam infor- resse de Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, que diversas vezes
mações em primeira mão por ali. tentou adquirir a empresa, mas não obteve sucesso. Assim, o
CEO lançou a funcionalidade nas redes que já haviam sido ab-
LinkedIn sorvidas, criando os concorrentes WhatsApp Status, Facebook
Voltada para negócios. A pessoa que participa desta rede Stories e Instagram Stories.
quer manter contatos para ter ganhos profissionais no futuro, Apesar de não ser uma rede social de nicho, tem um público
como um emprego por exemplo. bem específico, formado por jovens hiperconectados.

Skype
O Skype é um software da Microsoft com funções de video-
conferência, chat, transferência de arquivos e ligações de voz.
O serviço também opera na modalidade de VoIP, em que é pos-
sível efetuar uma chamada para um telefone comum, fixo ou
A maior rede social voltada para profissionais tem se tor- celular, por um aparelho conectado à internet
nado cada vez mais parecida com outros sites do mesmo tipo,
como o Facebook.
A diferença é que o foco são contatos profissionais, ou seja:
no lugar de amigos, temos conexões, e em vez de páginas, te-
mos companhias. Outro grande diferencial são as comunidades,
que reúnem interessados em algum tema, profissão ou mercado
específicos. O Skype é uma versão renovada e mais tecnológica do extin-
É usado por muitas empresas para recrutamento de profis- to MSN Messenger.
sionais, para troca de experiências profissionais em comunida- Contudo, o usuário também pode contratar mais opções de
des e outras atividades relacionadas ao mundo corporativo uso – de forma pré-paga ou por meio de uma assinatura – para
realizar chamadas para telefones fixos e chamadas com vídeo
Pinterest em grupo ou até mesmo enviar SMS.
Rede social focada em compartilhamento de fotos, mas É possível, no caso, obter um número de telefone por meio
também compartilha vídeos. próprio do Skype, seja ele local ou de outra região/país, e fazer
ligações a taxas reduzidas.
Tudo isso torna o Skype uma ferramenta válida para o mun-
do corporativo, sendo muito utilizado por empresas de diversos
nichos e tamanhos.

Tik Tok
O Pinterest é uma rede social de fotos que traz o concei- O TikTok, aplicativo de vídeos e dublagens disponível para
to de “mural de referências”. Lá você cria pastas para guardar iOS e Android, possui recursos que podem tornar criações de
suas inspirações e também pode fazer upload de imagens assim seus usuários mais divertidas e, além disso, aumentar seu nú-
como colocar links para URLs externas. mero de seguidores66.
Os temas mais populares são:
– Moda;
– Maquiagem;
– Casamento;
– Gastronomia;
– Arquitetura;
– Faça você mesmo;
– Gadgets; Além de vídeos simples, é possível usar o TikTok para postar
– Viagem e design. duetos com cantores famosos, criar GIFs, slideshow animado e
Seu público é majoritariamente feminino em todo o mundo. sincronizar o áudio de suas dublagens preferidas para que pare-
ça que é você mesmo falando.
Snapchat O TikTok cresceu graças ao seu apelo para a viralização. Os
Rede para mensagens baseado em imagens. usuários fazem desafios, reproduzem coreografias, imitam pes-
soas famosas, fazem sátiras que instigam o usuário a querer par-
ticipar da brincadeira — o que atrai muito o público jovem.

O Snapchat é um aplicativo de compartilhamento de fotos,


vídeos e texto para mobile. Foi considerado o símbolo da pós-mo-
dernidade pela sua proposta de conteúdos efêmeros conhecidos
como snaps, que desaparecem algumas horas após a publicação.
66 https://canaltech.com.br/redes-sociais/tiktok-dicas-e-truques/
Editora
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Um meio recente e também uma ótima forma de exemplo
TRANSFERÊNCIA DE ARQUIVOS PELA INTERNET para explicar a transferência remota são os aplicativos e sites de
“Nuvem” isso é, Cloud. Google Drive e Dropbox são exemplos
conhecidos desses aplicativos, mas como isso funciona? A inter-
Acesso à distância (acesso remoto) net serve nesse caso como conexão entre o usuário e o servidor
Acesso à distância ou acesso remoto é uma tecnologia que onde os arquivos estão guardados, um usuário cadastrado pode
permite que um computador consiga acessar um servidor pri- acessar esses arquivos de qualquer lugar do mundo, pode baixá-
vado – normalmente de uma empresa – por meio de um outro -los (download) ou até mesmo carregá-los (upload) na internet.
computador que não está fisicamente conectado à rede67. A co- O processo não funciona diferente de movimentar pastas
nexão à distância é feita com segurança de dados em ambos os em seu computador ou smartphone, porém essas pastas estão
lados e pode trazer diversos benefícios para manutenção, por localizadas em um computador ou servidor na maioria das vezes
exemplo. muitos quilômetros longe do usuário.
Na prática, essa tecnologia é o que permite acessar e-mails
e arquivos corporativos fora do local de trabalho, assim como Upload e Download
compartilhar a tela do seu computador em aulas ou palestras São termos utilizados para definir a transmissão de dados
à distância, de modo a fazer com que o receptor visualize exa- de um dispositivo para outro através de um canal de comunica-
tamente o que é reproduzido no computador principal e, por ção previamente estabelecido68.
vezes, faça edições e alterações mediante permissão no PC.
Acesso remoto conecta servidores de empresas e permite
controlar máquinas.
O acesso remoto também pode ocorrer via Internet, e con-
trolar computadores de terceiros. Seu uso mais frequente é para
suporte técnico de softwares, já que o técnico pode ver e até pe-
dir permissões para manipular a máquina completamente sem
estar diante do computador.
Utilizando as ferramentas adequadas, é possível acessar
computadores com qualquer sistema operacional, em qualquer Fonte: https://www.cursosdeinformaticabasica.com.br/qual-a-diferen-
rede, a partir de desktop, smartphone ou tablet conectado. ca-entre-download-e-upload/
A maneira mais comum de usar o acesso remoto é por meio
de uma VPN (Rede Privada Virtual, e português), que consegue Download
estabelecer uma ligação direta entre o computador e o servidor Está relacionado com a obtenção de conteúdo da Internet, o
de destino – criando uma espécie de “túnel protegido” na In- popular “baixar”, onde um servidor remoto hospeda dados que
ternet. Isto significa que o usuário pode acessar tranquilamente são acessados pelos clientes através de aplicativos específicos
seus documentos, e-mails corporativos e sistemas na nuvem, via que se comunicam com o servidor através de protocolos, como
VPN, sem preocupação de ser interceptado por administradores é o caso do navegador web que acessa os dados de um servidor
de outras redes. web normalmente utilizando o protocolo HTTP.
Para criar uma VPN existem duas maneiras: por meio do
protocolo SSL ou softwares. Na primeira, a conexão pode ser Upload
feita usando somente um navegador e um serviço em nuvem. O termo upload faz referência a operação inversa a do
No entanto, sem o mesmo nível de segurança e velocidade dos download, isto é, ao envio de conteúdo à Internet.
programas desktop. Já na segunda e mais comum forma de aces-
so remoto, é necessário um software que utiliza protocolo IPseg
COMPUTAÇÃO NA NUVEM
para fazer a ligação direta entre dois computadores ou entre um
computador e um servidor. Nesse caso, a conexão tende a ser
mais rápida e a segurança otimizada.
Quando se fala em computação nas nuvens, fala-se na possibi-
lidade de acessar arquivos e executar diferentes tarefas pela inter-
net69. Ou seja, não é preciso instalar aplicativos no seu computador
para tudo, pois pode acessar diferentes serviços on-line para fazer o
que precisa, já que os dados não se encontram em um computador
específico, mas sim em uma rede.
Uma vez devidamente conectado ao serviço on-line, é possível
desfrutar suas ferramentas e salvar todo o trabalho que for feito
para acessá-lo depois de qualquer lugar — é justamente por isso
que o seu computador estará nas nuvens, pois você poderá acessar
os aplicativos a partir de qualquer computador que tenha acesso à
Fonte: https://www.kickidler.com/br/remote-access.html internet.

Transferência de informação e arquivos, bem como aplica-


tivos de áudio, vídeo e multimídia 68 Hunecke, M. Acesso à Distância a Computadores, Transferência de Informa-
ção e Arquivos.
69 https://www.tecmundo.com.br/computacao-em-nuvem/738-o-que-e-com-
67 https://bit.ly/3gmqZ4w putacao-em-nuvens-.htm
Editora
159
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Basta pensar que, a partir de uma conexão com a internet, você Para quem gosta de editar documentos como Word, Excel e
pode acessar um servidor capaz de executar o aplicativo desejado, PowerPoint diretamente do gerenciador de arquivos do serviço,
que pode ser desde um processador de textos até mesmo um jogo o OneDrive disponibiliza esse recurso na nuvem para que seja dis-
ou um pesado editor de vídeos. Enquanto os servidores executam pensada a necessidade de realizar o download para só então poder
um programa ou acessam uma determinada informação, o seu modificar o conteúdo do arquivo.
computador precisa apenas do monitor e dos periféricos para que
você interaja. iCloud
O iCloud, serviço de armazenamento da Apple, possuía em um
Vantagens: passado recente a ideia principal de sincronizar contatos, e-mails,
– Não necessidade de ter uma máquina potente, uma vez que dados e informações de dispositivos iOS. No entanto, recentemente
tudo é executado em servidores remotos. a empresa também adotou para o iCloud a estratégia de utilizá-lo
– Possibilidade de acessar dados, arquivos e aplicativos a partir como um serviço de armazenamento na nuvem para usuários iOS.
de qualquer lugar, bastando uma conexão com a internet para tal De início, o usuário recebe 5 GB de espaço de maneira gratuita.
— ou seja, não é necessário manter conteúdos importantes em um Existem planos pagos para maior capacidade de armazena-
único computador. mento também.

Desvantagens:
– Gera desconfiança, principalmente no que se refere à segu-
rança. Afinal, a proposta é manter informações importantes em um
ambiente virtual, e não são todas as pessoas que se sentem à von-
tade com isso.
– Como há a necessidade de acessar servidores remotos, é pri-
mordial que a conexão com a internet seja estável e rápida, princi-
palmente quando se trata de streaming e jogos.
No entanto, a grande vantagem do iCloud é que ele possui um
Exemplos de computação em nuvem sistema muito bem integrado aos seus aparelhos, como o iPhone.
Dropbox A ferramenta “buscar meu iPhone”, por exemplo, possibilita que
O Dropbox é um serviço de hospedagem de arquivos em nu- o usuário encontre e bloqueie o aparelho remotamente, além de
vem que pode ser usado de forma gratuita, desde que respeitado o poder contar com os contatos e outras informações do dispositivo
limite de 2 GB de conteúdo. Assim, o usuário poderá guardar com caso você o tenha perdido.
segurança suas fotos, documentos, vídeos, e outros formatos, libe-
rando espaço no PC ou smartphone. Google Drive
Apesar de não disponibilizar gratuitamente o aumento da ca-
pacidade de armazenamento, o Google Drive fornece para os usuá-
rios mais espaço do que os concorrentes ao lado do OneDrive. São
15 GB de espaço para fazer upload de arquivos, documentos, ima-
gens, etc.

Além de servir como ferramenta de backup, o Dropbox tam-


bém é uma forma eficiente de ter os arquivos importantes sempre
acessíveis. Deste modo, o usuário consegue abrir suas mídias e do-
cumentos onde quer que esteja, desde que tenha acesso à Internet.
Uma funcionalidade interessante do Google Drive é o seu ser-
OneDrive viço de pesquisa e busca de arquivos que promete até mesmo re-
O OneDrive, que já foi chamado de SkyDrive, é o serviço de ar- conhecer objetos dentro de imagens e textos escaneados. Mesmo
mazenamento na nuvem da Microsoft e oferece inicialmente 15 GB que o arquivo seja um bloco de notas ou um texto e você queira
de espaço para os usuários70. Mas é possível conseguir ainda mais encontrar algo que esteja dentro dele, é possível utilizar a busca
espaço gratuitamente indicando amigos e aproveitando diversas para procurar palavras e expressões.
promoções que a empresa lança regularmente. Além disso, o serviço do Google disponibiliza que sejam feitas
Para conseguir espaço ainda maior, o aplicativo oferece planos edições de documentos diretamente do browser, sem precisar fazer
pagos com capacidades variadas também. o download do documento e abri-lo em outro aplicativo.

Tipos de implantação de nuvem


Primeiramente, é preciso determinar o tipo de implantação de
nuvem, ou a arquitetura de computação em nuvem, na qual os servi-
ços cloud contratados serão implementados pela sua gestão de TI71.
Há três diferentes maneiras de implantar serviços de nuvem:

70 https://canaltech.com.br/computacao-na-nuvem/comparativo-os-principais-
-servicos-de-armazenamento-na-nuvem-22996/ 71 https://ecoit.com.br/computacao-em-nuvem/
Editora
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– Nuvem pública: pertence a um provedor de serviços cloud SaaS (software como serviço)
terceirizado pelo qual é administrada. Esse provedor fornece recur- O SaaS é um método para a distribuição de aplicativos de sof-
sos de computação em nuvem, como servidores e armazenamento tware pela Internet sob demanda e, normalmente, baseado em as-
via web, ou seja, todo o hardware, software e infraestruturas de su- sinaturas.
porte utilizados são de propriedade e gerenciamento do provedor Com o SaaS, os provedores de computação em nuvem hospe-
de nuvem contratado pela organização. dam e gerenciam o aplicativo de software e a infraestrutura subja-
– Nuvem privada: se refere aos recursos de computação em cente.
nuvem usados exclusivamente por uma única empresa, podendo Além de realizarem manutenções, como atualizações de sof-
estar localizada fisicamente no datacenter local da empresa, ou tware e aplicação de patch de segurança.
seja, uma nuvem privada é aquela em que os serviços e a infra- Com o software como serviço, os usuários da sua equipe po-
estrutura de computação em nuvem utilizados pela empresa são dem conectar o aplicativo pela Internet, normalmente com um na-
mantidos em uma rede privada. vegador da web em seu telefone, tablet ou PC.
– Nuvem híbrida: trata-se da combinação entre a nuvem públi-
ca e a privada, que estão ligadas por uma tecnologia que permite o
compartilhamento de dados e aplicativos entre elas. O uso de nu- ARMAZENAMENTO DE DADOS NA NUVEM (CLOUDSTORA‐
vens híbridas na computação em nuvem ajuda também a otimizar GE)
a infraestrutura, segurança e conformidade existentes dentro da
empresa.
O armazenamento de dados na nuvem é quando guardamos
Tipos de serviços de nuvem informações na internet através de um provedor de serviços na nu-
A maioria dos serviços de computação em nuvem se enquadra vem que gerencia o armazenamento dos dados72.
em quatro categorias amplas: Com este serviço, são eliminados custos com infraestrutura de
– IaaS (infraestrutura como serviço); armazenamento físico de dados. Além disso, pode-se acessar do-
– PaaS (plataforma como serviço); cumentos em qualquer lugar ou dispositivo (todos sincronizados).
– Sem servidor; Estes provedores de armazenamento cobram um valor propor-
– SaaS (software como serviço). cional ao tamanho da necessidade, mantendo os dados seguros.
Você pode acessar seus dados na nuvem através de protoco-
Esses serviços podem ser chamados algumas vezes de pilha los como o SOAP (Simple Object Access Protocol), protocolo desti-
da computação em nuvem por um se basear teoricamente sobre nado à circulação de informações estruturadas entre plataformas
o outro. distribuídas e descentralizadas ou usando uma API (Application
Programming Interface, traduzindo, Interface de Programação de
IaaS (infraestrutura como serviço) Aplicações) que integra os sistemas que tem linguagens diferentes
A IaaS é a categoria mais básica de computação em nuvem. de maneira rápida e segura.
Com ela, você aluga a infraestrutura de TI de um provedor de servi-
ços cloud, pagando somente pelo seu uso. Benefícios do armazenamento na nuvem
A contratação dos serviços de computação em nuvem IaaS - Diminuição do custo de hardware para armazenamento, só é
(infraestrutura como serviço) envolve a aquisição de servidores e pago o que realmente necessita e ainda é fácil e rápido aumentar o
máquinas virtuais, armazenamento (VMs), redes e sistemas opera- espaço caso necessite;
cionais. - As empresas pagam pela capacidade de armazenamento que
realmente precisam73;
PaaS (plataforma como serviço) - Implantação rápida e fácil;
PaaS refere-se aos serviços de computação em nuvem que for- - Possibilidade de expandir ou diminuir o espaço por sazonali-
necem um ambiente sob demanda para desenvolvimento, teste, dade;
fornecimento e gerenciamento de aplicativos de software. - Quem contrata gerencia a nuvem diretamente;
A plataforma como serviço foi criada para facilitar aos desen- - A empresa contratada cuida da manutenção do sistema, ba-
volvedores a criação de aplicativos móveis ou web, tornando-a mui- ckup e replicação dos dados, aquisição de dispositivos para arma-
to mais rápida. zenamentos extras;
Além de acabar com a preocupação quanto à configuração ou - É uma ferramenta de gestão de dados, pois, estes são arma-
ao gerenciamento de infraestrutura subjacente de servidores, ar- zenados de forma organizada. Com uma conexão estável, o acesso
mazenamento, rede e bancos de dados necessários para desenvol- e compartilhamento é fácil e rápido.
vimento.
Desvantagens
Computação sem servidor - O acesso depende exclusivamente da internet, portanto, a co-
A computação sem servidor, assim como a PaaS, concentra-se nexão deve ser de qualidade;
na criação de aplicativos, sem perder tempo com o gerenciamento - Companhias de grande porte precisam ter políticas de segu-
contínuo dos servidores e da infraestrutura necessários para isso. rança para preservar a integridade dos arquivos;
O provedor em nuvem cuida de toda a configuração, planeja- - Geralmente, os servidores estão no exterior, o que sujeita
mento de capacidade e gerenciamento de servidores para você e seus dados à legislação local.
sua equipe.
As arquiteturas sem servidor são altamente escalonáveis e
controladas por eventos: utilizando recursos apenas quando ocorre
uma função ou um evento que desencadeia tal necessidade.
72 https://centraldefavoritos.com.br/2018/12/31/armazenamento-de-dados-
-na-nuvem-cloud-storage/
73 http://www.infortrendbrasil.com.br/cloud-storage/
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Tipos de armazenamento em nuvem É comum o uso de navegadores como o THOR ao invés do
Primeiramente, é preciso determinar o tipo de implantação de CHROME, pois o THOR oculta sua identidade. Desta forma não
nuvem, ou a arquitetura de computação em nuvem, na qual os ser- é possível descobrir quem acessou, pois o IP fica criptografado.
viços cloud contratados serão implementados pela sua gestão de DARK WEB (Parte Escura): A DARK WEB é nível mais
TI74. abaixo, onde seu acesso se torna mais difícil e só deve ser
Há três diferentes maneiras de implantar serviços de nuvem: acessado por usuários avançados com objetivos específicos.
• Nuvem pública: pertence a um provedor de serviços cloud Neste nível é adicionado mais um grau de segurança onde os
terceirizado pelo qual é administrada. Esse provedor fornece recur- sites, remetentes, criadores, destinatários e usúarios em geral
sos de computação em nuvem, como servidores e armazenamento são mais difíceis de serem identificados.
via web, ou seja, todo o hardware, software e infraestruturas de su- Seus domínios são complexos. A DARK WEB é uma parte da
porte utilizados são de propriedade e gerenciamento do provedor WEB, onde é difícil crakear, localizar e ter acesso.
de nuvem contratado pela organização. Podemos dizer que a DARK WEB é uma parte da DEEP
• Nuvem privada: se refere aos recursos de computação em
WEB, pois os domínios não são indexados.
nuvem usados exclusivamente por uma única empresa, podendo
CONCLUSÃO
estar localizada fisicamente no datacenter local da empresa, ou
Vimos como a INTERNET é um universo gigantesco, onde
seja, uma nuvem privada é aquela em que os serviços e a infra-
podem ser realizadas coisas diversas, para fins legais e ilegais.
estrutura de computação em nuvem utilizados pela empresa são
mantidos em uma rede privada. Tanto a DEEP WEB e a DARK WEB, podem ser usadas para
• Nuvem híbrida: trata-se da combinação entre a nuvem públi- fins legais como pesquisas secretas, investigação e outros fins
ca e a privada, que estão ligadas por uma tecnologia que permite o legais. Muitas vezes se faz necessário um nível elevado de se-
compartilhamento de dados e aplicativos entre elas. O uso de nu- gurança de acordo com o contexto.
vens híbridas na computação em nuvem ajuda também a otimizar Mas este cenário favorece muito os CRIMES VIRTUAIS devi-
a infraestrutura, segurança e conformidade existentes dentro da do as suas características.
empresa. A CIBER SEGURANÇA é importantíssima dentro deste con-
texto para proteger servidores, computadores, redes, dispositi-
Software para armazenamento em nuvem vos móveis e dados em geral de ataques maliciosos.
Software de armazenamento cloud são sites, alguns deles vin-
culados a provedores de e-mail e aplicações de escritório, como
o Google Drive (Google), o One Drive (Microsoft) e o Dropbox. A
QUESTÕES
maioria dos sites disponibiliza o serviço gratuitamente e o usuário
paga apenas se contratar planos para expandir a capacidade.

1. (PREFEITURA DE SÃO FRANCISCO/MG - ASSISTENTE ADMI-


DEEPWEB E DARKWEB NISTRATIVO - COTEC/2020) Os termos internet e World Wide Web
(WWW) são frequentemente usados como sinônimos na linguagem
corrente, e não são porque
CRIMES VIRTUAIS E CIBER SEGURANÇA: DEEPWEB E (A) a internet é uma coleção de documentos interligados (pági-
DARKWEB. nas web) e outros recursos, enquanto a WWW é um serviço de
A internet é dividida em 3 partes conforme a figura abaixo: acesso a um computador.
(B) a internet é um conjunto de serviços que permitem a co-
nexão de vários computadores, enquanto WWW é um serviço
especial de acesso ao Google.
(C) a internet é uma rede mundial de computadores especial,
enquanto a WWW é apenas um dos muitos serviços que fun-
cionam dentro da internet.
(D) a internet possibilita uma comunicação entre vários compu-
tadores, enquanto a WWW, o acesso a um endereço eletrônico.
(E) a internet é uma coleção de endereços eletrônicos, enquan-
to a WWW é uma rede mundial de computadores com acesso
especial ao Google.
Vamos definir as 3 partes da INTERNET abaixo: 2. (PREFEITURA DE CANANÉIA/SP - MÉDICO 20H - VU-
SURFACE (Superfície): A SURFACE (superfície) é a parte NESP/2020) Assinale a alternativa que apresenta apenas extensões
mais comum, onde todos nós utilizamos no dia á dia tais como de arquivos reconhecidas por padrão, no MS-Windows 7, em sua
as redes sociais, navegação em geral, e-mails, buscadores tais configuração padrão, como arquivos de imagens.
como GOOGLE, etc... Esta parte é a menor de todas, ela é in- (A) bmp e pptx.
dexada, isto é visível através de buscadores tais como o GOO- (B) xlsx e docx.
GLE, BING, etc... A SURFACE WEB corresponde a apenas 4% das (C) txt e jpg.
informações disponíveis na INTERNE (D) jpg e png.
(E) png e doc.
DEEP WEB (Parte Profunda): A DEEP WEB é composta por
sites não indexados. Estes conteúdos (sites) existem, porém
não são visíveis utilizando buscadores tais como GOOGLE, etc...
74 https://ecoit.com.br/computacao-em-nuvem/
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3. (IDAF/AC - ENGENHEIRO AGRÔNOMO - IBADE/2020) No 8. (FUNDEP – UFVJM-MG) Assinale a alternativa que apresenta
Windows 8, além das diversas funções e recursos existentes para uma ação que não pode ser realizada pelas opções da aba “Página
facilitar o seu dia a dia, é possível utilizar teclas de atalhos no tecla- Inicial” do Word 2010.
do para ajudar você a fazer o que quiser mais rápido. Qual a combi- (A) Definir o tipo de fonte a ser usada no documento.
nação de teclas de atalho para minimizar todas as janelas abertas e (B) Recortar um trecho do texto para incluí-lo em outra parte
ir direto para sua área de trabalho? do documento.
(A) Tecla do logotipo do Windows + L (C) Definir o alinhamento do texto.
(B) Tecla do logotipo do Windows + F (D) Inserir uma tabela no texto
(C) Tecla do logotipo do Windows + M
(D) Tecla do logotipo do Windows + E 9. (CESPE – TRE-AL) Considerando a janela do PowerPoint 2002
(E) Tecla do logotipo do Windows + F1 ilustrada abaixo julgue os itens a seguir, relativos a esse aplicativo.
A apresentação ilustrada na janela contém 22 slides ?.
4. (PREFEITURA DE PORTÃO/RS - ASSISTENTE SOCIAL - OBJETI-
VA/2019) Em relação ao sistema operacional Windows 10, analisar
os itens abaixo:
I. Possibilita o gerenciamento do tempo de tela.
II. Disponibiliza somente uma atualização de segurança por
ano.
III. Possibilita a conexão de contas da Microsoft entre usuários.
IV. Possui recursos de segurança integrados, incluindo firewall
e proteção de internet para ajudar a proteger contra vírus, malware
e ransomware. ( ) CERTO
( ) ERRADO
Estão CORRETOS:
(A) Somente os itens I, II e III. 10. (UFPEL - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO - UFPEL-
(B) Somente os itens I, III e IV. -CES/2019) Analise as afirmações:
(C) Somente os itens II, III e IV I) O Calc do LibreOffice funciona no Linux mas não no Windows.
(D) Todos os itens. II) O LibreOffice tem Editor de Texto e Planilha Eletrônica, mas
não tem Banco de Dados.
5. (PREFEITURA DE CUNHA PORÃ/SC - ENFERMEIRO - INSTI- III) A planilha eletrônica do LibreOffice é o Writer.
TUTO UNIFIL/2020) Considerando os conceitos de segurança da IV) Arquivos gerados no Calc do LibreOffice no ambiente Linux
informação e os cuidados que as organizações e particulares devem podem ser abertos pelo Microsoft Excel no ambiente Windows.
ter para proteger as suas informações, assinale a alternativa que
não identifica corretamente um tipo de backup. Está(ão) correta(s),
(A) Backup Incremental. (A) III e IV, apenas.
(B) Backup Excepcional. (B) I e II, apenas.
(C) Backup Diferencial. (C) II e IV, apenas.
(D) Backup Completo ou Full. (D) IV, apenas.
(E) I, apenas.
6. (PREFEITURA DE SOBRAL/CE - ANALISTA DE INFRAESTRU-
TURA - UECE-CEV/2018) O componente do hardware do computa- 11. (PREFEITURA DE PORTÃO/RS - MÉDICO - OBJETIVA/2019)
dor que tem como função interligar diversos outros componentes Para que a segurança da informação seja efetiva, é necessário que
é a: os serviços disponibilizados e as comunicações realizadas garantam
(A) memória diferida. alguns requisitos básicos de segurança. Sobre esses requisitos, assi-
(B) memória intangível. nalar a alternativa CORRETA:
(C) placa de fase. (A) Repúdio de ações realizadas, integridade, monitoramento
(D) placa mãe. e irretratabilidade.
(B) Protocolos abertos, publicidade de informação, incidentes
7. (CESP -UERN) Na suíte Microsoft Office, o aplicativo e segurança física.
(A) Excel é destinado à elaboração de tabelas e planilhas eletrô- (C) Confidencialidade, integridade, disponibilidade e autentica-
nicas para cálculos numéricos, além de servir para a produção ção.
de textos organizados por linhas e colunas identificadas por nú- (D) Indisponibilidade, acessibilidade, repúdio de ações realiza-
meros e letras. das e planejamento.
(B) PowerPoint oferece uma gama de tarefas como elaboração
e gerenciamento de bancos de dados em formatos .PPT.
(C) Word, apesar de ter sido criado para a produção de texto, é
útil na elaboração de planilhas eletrônicas, com mais recursos
que o Excel.
(D) FrontPage é usado para o envio e recebimento de mensa-
gens de correio eletrônico.
(E) Outlook é utilizado, por usuários cadastrados, para o envio
e recebimento de páginas web.

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12. (PREFEITURA DE TOLEDO/PR - ASSISTENTE EM ADMINIS- 15. (PREFEITURA DE SÃO JOSÉ/SC - MÉDICO VETERINÁRIO -
TRAÇÃO - PREFEITURA DE TOLEDO/PR/2020) Programas antivírus IESES/2019) Dentre as utilidades dos serviços de cloud storage (ar-
tem uma importância um tanto quanto fundamental para os usuá- mazenagem na nuvem), assinale a alternativa INCORRETA:
rios. As principais funções dessa ferramenta são, EXCETO: (A) Acessar arquivos quando estiver sem acesso à internet.
(A) Atuar para identificação e eliminação da maior quantidade (B) Compartilhar arquivos com os pares.
de vírus possível. (C) Acessar arquivos quando não se está no local do seu com-
(B) Verificar continuamente os discos rígidos, HDs externos e putador, como por exemplo fora do escritório ou em viagens.
mídias removíveis. (D) Fazer backup de dados.
(C) Trabalhar sincronizado com outro antivírus para aumentar
o nível de segurança.
(D) Ao encontrar um problema o software em questão avisa o
usuário. GABARITO
(E) A utilização de uma versão paga oferece ao usuário mais
segurança.
1 C
13. (PREFEITURA DE SÃO FRANCISCO/MG - ASSISTENTE AD-
MINISTRATIVO - COTEC/2020) Em observação aos conceitos e com- 2 B
ponentes de e-mail, faça a relação da denominação de item, pre- 3 C
sente na 1.ª coluna, com a sua definição, na 2.ª coluna.
Item 4 B
1- Spam 5 B
2- IMAP
6 D
3- Cabeçalho
4- Gmail 7 A
8 D
Definição
( ) Protocolo de gerenciamento de correio eletrônico. 9 CERTO
( ) Um serviço gratuito de webmail. 10 D
( ) Mensagens de e-mail não desejadas e enviadas em massa
para múltiplas pessoas. 11 C
( ) Uma das duas seções principais das mensagens de e-mail. 12 C
A alternativa CORRETA para a correspondência entre colunas é:
13 D
(A) 1, 2, 3, 4.
(B) 3, 1, 2, 4. 14 C
(C) 2, 1, 4, 3. 15 A
(D) 2, 4, 1, 3.
(E) 1, 3, 4, 2.

14. (CÂMARA DE CABIXI/RO - CONTADOR - MS CONCUR-


ANOTAÇÕES
SOS/2018) São considerados modelos de implantação de compu- ______________________________________________________
tação em nuvem:
I- Nuvem privada (private clouds): compreende uma infraes- ______________________________________________________
trutura de nuvem operada publicamente por uma organização. Os
serviços são oferecidos para serem utilizados internamente pela ______________________________________________________
própria organização, não estando disponíveis publicamente para
______________________________________________________
uso geral.
II- Nuvem comunidade (community cloud): fornece uma in- ______________________________________________________
fraestrutura compartilhada por uma comunidade de organizações
com interesses em comum. ______________________________________________________
III- Nuvem pública (public cloud): a nuvem é disponibilizada
publicamente através do modelo pay-per-use. Tipicamente, são ______________________________________________________
oferecidas por companhias que possuem grandes capacidades de
armazenamento e processamento. ______________________________________________________
IV- Nuvem híbrida (hybrid cloud): a infraestrutura é uma com-
______________________________________________________
posição de duas ou mais nuvens (privada, comunidade ou pública)
que continuam a ser entidades públicas, porém, conectadas através ______________________________________________________
de tecnologia proprietária ou padronizada.
______________________________________________________
Está correto o contido:
(A) Apenas na opção I. ______________________________________________________
(B) Apenas na opção II.
(C)Apenas nas opções II e III. _____________________________________________________
(D) Nas opções I, II e III. _____________________________________________________
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

CONCEITO, IMPORTÂNCIA E DIVISÕES. CORPO DE


DELITO, PERÍCIA E PERITOS Prova: é o conjunto de meios regulares e admissíveis emprega-
dos para demonstrar a verdade ou falsidade de um fato conhecido
ou controvertido;
Prova penal: no processo penal, apura o fato delituoso e, sua
autoria, para exata aplicação da Lei (“senctiu iuris”);
É o estudo e a aplicação dos conhecimentos científicos da Me- O ônus da prova caberá a quem fizer a alegação do fato;
dicina para o esclarecimento de inúmeros fatos de interesse jurídi- Prova objetiva: (prova pericial) é aquela que advém do exame
co; é a ciência de aplicação dos conhecimentos médico-biológicos técnico-científico dos elementos materiais remanescentes da infra-
aos interesses do Direito constituído, do Direito constituendo e à ção penal;
fiscalização do exercício médico-profissional. Prova testemunhal: ou subjetiva. Trata-se da prova descrita/
narrada por outrem;
A ampla abrangência do seu campo de ação e íntimo relacio- Prova ilícita: inadmissível no processo.
namento entre o pensamento biológico e o pensamento jurídico Vestígio: é tudo aquilo que pode ser encontrado no local do
explicam por que até o momento não se definiu, comprecisão, a crime ou no cadáver;
Medicina Legal. Assim os autores têm, ao longo dos anos, intentado Indício: é todo vestígio relacionado diretamente com o evento;
inúmeras definições dentre as quais se destacam: Corpo de delito: é o conjunto de vestígios materiais deixados
“É a arte de fazer relatórios em juízo”. (Ambrósio Paré) pelo crime;
“É a aplicação de conhecimentos médicos aos problemas judi- Exame de corpo de delito: é o exame pericial, com a finalidade
ciais”. (Nério Rojas) de se materializar o crime. Encontra-se regulado pelo CPP.
“É a ciência do médico aplicada aos fins da ciência do Direito”.
(Buchner)”É a arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da admi- A Medicina Legal atua:
nistração da justiça”. (Lacassagne) - Sobre o vivo: com a finalidade de determinar a idade, diagnos-
“É o estudo do homem são ou doente, vivo ou morto, somente ticar doença ou deficiência mental, loucura, doença venérea, lesão
naquilo que possa formar assunto de questões forense”. (De Crec- corporal, personalidades psicopáticas, conjunção carnal, doenças
chio) profissionais, acidentes de trabalho...
“É a disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para - Sobre o morto: diagnostica a realidade da morte, determina a
dar respostas às questões jurídicas”. (Bonnet) causa jurídica da morte, data da morte, diferencia lesões intravitam
“É a aplicação dos conhecimentos médico - biológicos na ela- e post-mortem, examina toxicologicamente os fluídos e vísceras
boração e execução das leis que deles carecem”. (F. Favero) corporais, extração de projetis, exumação...
“É a medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais”. (Geni- - Exames sobre coisas: (objetos) roupas, panos, instrumentos,
val V. de França) manchados de substâncias (leite, sangue, urina, líquido amniótico,
“É o conjunto de conhecimentos médicos e para médicos desti- massa cerebral, saliva, pus blenorrágico, colostro...)
nados a servir ao direito, cooperando na elaboração, auxiliando na - Exame clínico médico-legal: abrange o que é praticado no vivo
interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais, e visa esclarecer os objetivos das perícias sobre pessoas;
no seu campo de ação de medicina aplicada”. (Hélio Gomes) - Exame necroscópico: exames realizados diretamente no ca-
dáver;
Trata-se de uma especialidade que, utilizando-se os conheci- - Exame de exumação: refere-se à hipótese de haver a necessi-
mentos técnico-científicos das ciências que subsidiam a medicina, dade de examinar o cadáver já enterrado;
tais como: a Biologia, Química, Física... Presta esclarecimentos à - Exames de laboratório: pesquisas técnicas diversas (toxicoló-
atuação da Justiça. gica, microscópica, bioquímica, citológica...).
“É o conjunto de conhecimentos médicos destinados a servir o
Direito, cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e Divisão da Medicina Legal
elaborando na execução dos dispositivos legais” Hélio Gomes.
Relações: Serve mais a área Jurídica, do que à própria medicina
Fundamentos. uma vez que foi criada em prol das necessidades do Direito. Desta
- No direito brasileiro: CP, artigo 1°: “Não há crime sem lei an- maneira, com as Ciências Jurídicas e Sociais relaciona-se, comple-
terior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. tando-se ambas sem nenhum embate.
Crime: Infração penal a que a lei comina com pena de reclusão
ou detenção.
O Código de Processo Penal em seu artigo 386 caput: “O juiz
absolverá o réu (...) se, parágrafo II: “não haver prova da existência
do fato” (...).

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Colabora com o Direito Penal, quando são realizados exames - Infortunística: Estuda os acidentes e doenças do trabalho, do-
periciais avaliando lesões corporais; analisando a realidade ou não enças profissionais, higiene e insalubridade laborativas. Devendo
da ocorrência do infanticídio; examinando o cadáver interna e ex- sempre lembrar-se da necessidade do exame pericial do local do
ternamente em casos de homicídio; avaliando indícios e vestígios trabalho para que se estabeleça um nexo de causalidade entre aci-
em casos de estupro; apresenta interesse na constatação da pe- dente ou doença e o trabalho.
riculosidade do sentenciado e da imputabilidade plena, parcial ou - Genética Forense ou Médico-legal: Especifica as questões liga-
nula do indiciado etc. Com o Direito Civil no que tange a problemas das à herança e ao vínculo genético da paternidade e maternidade.
de paternidade, comoriência, impedimentos matrimoniais, gravi- - Vitimologia: Analisa a vítima como elemento participativo na
dez, impotência .lato sensu., concepção de defeito físico irreme- ocorrência do delito.
diável etc. - Policiologia Científica: Considera os métodos científicos-mé-
Com o Direito do Trabalho quando cuida das doenças profissio- dico-legais usados pela polícia na investigação e elucidação dos cri-
nais, acidentes do trabalho, insalubridade e higiene. Quando trata mes.
de questões sobre a dissolubilidade do matrimônio, a proteção da
infância e à maternidade se presta ao Direito Constitucional. Importância da Medicina Legal
Com o Direito Processual Civil quando trata a concepção da in- O Direito é uma ciência humana, desta forma mister se faz que
terdição e da avaliação da capacidade civil e, Penal quando cuida da os profissionais da área tenham um bom conhecimento do que é o
insanidade mental se estuda a psicologia da testemunha, da confis- ser humano em sua totalidade. Para tanto não é preciso possuir co-
são e da acareação do acusado e da vítima. nhecimentos como um profissional de biomédica, no entanto, o mí-
O Direito Penitenciário também não permanece fora do campo
nimo para essa compreensão é necessário, sendo a Medicina Legal
de ação da Medicina Legal na medida em que trata da psicologia do
um suporte para essa finalidade. A evolução tecnológica e das áreas
detento, concessão de livramento condicional bem como da psicos-
do conhecimento humano, fizeram com que o exercício do direito
sexualidade nos presídios. É uma ciência social vez que trata ainda
moderno dependa cada vez mais da contribuição desta ciência e,
dos diagnósticos e tratamentos de embriaguez, toxicofilias. Rela-
ciona-se ainda com o Direito dos Desportos, Internacional Público, os operadores da área jurídica não têm como desprezar os conhe-
Internacional Privado, Direito Canônico e Direito Comercial. cimentos técnicos de peritos preparados para dar o respaldo cien-
Não raro uma perícia médico-legal, para a elucidação dos fatos tífico aos trabalhos forenses, pois somente assim é viável chegar-se
ocorridos, necessita ainda dos préstimos da Química, Física, Biolo- o mais próximo possível da verdade dos fatos. No entanto, ela não
gia, Toxicologia, Balística, Dactiloscopia, Economia, Sociologia, En- vem recebendo a merecida atenção por parte dos profissionais do
tomologia e Antropologia (FRANÇA, 2004, p. 02). campo para o qual é destinada. Muitas vezes é preciso distinguir o
Divisão Didática: A Medicina Legal possui uma parte geral, certo do que está duvidoso, explicar de maneira clara todos os indí-
onde se estuda a Jurisprudência Médica, ou a Deontologia Médica cios relacionados ao ocorrido, não sendo omitidas particularidades,
que ensina aos profissionais da área médica seus direitos e deveres. para que haja uma conclusão correta. Nem sempre tem valor para
Tem também uma parte especial dividida nos seguintes capítulos: a medicina convencional algo, que para a Medicina Legal apresenta
- Antropologia Forense ou Médico-legal: É o estudo da identi- extraordinária importância.
dade e identificação médico-legal e judiciária. O juiz, não pode prescindir desta ciência auxiliar do direito,
- Traumatologia Forense ou Médico-legal: Capítulo extenso e para ter condições de avaliar e sopesar a verdade, analisando os
denso que estuda as lesões corporais e os agentes lesivos. documentos resultantes das perícias, adquirindo uma consciência
- Tanatologia Forense ou Médico-legal: Estuda a morte e o técnica dos fatos que envolvem o problema jurídico. Para a maioria
morto. Conceito, momento, realidade e causa da morte. Tipos de dos autores, a mais importante missão do exame pericial é orien-
morte. Sinais de morte. Destino legal do cadáver, direito sobre o tar e iluminar a consciência do magistrado. Erros periciais podem
cadáver etc. ocorrer, mas conhecendo a Medicina Legal o aplicador da lei terá
- Asfixiologia Forense ou Médico-legal: Trata das asfixias de ori- novos elementos de convicção ao apreciar a prova, podendo anali-
gem violenta. As asfixias mecânicas como enforcamento, estrangu- sar melhor as informações técnicas, prolatando sentenças, livres de
lamento, esganadura, afogamento, soterramento, sufocação direta relatórios viciados. Para França (2004, p.04-05), a necessidade de
e indireta e as asfixias por gases irrespiráveis. dar cumprimento às exigências penais, corroboram com a necessi-
- Toxicologia Forense ou Médico-legal: Analisa os cáusticos e dade de conhecimento da Medicina Legal,
os venenos. o juiz não deve apenas examinar o criminoso. Deve também
- Sexologia Forense ou Médico-legal: É um capítulo social e cul-
verificar as condições que o motivaram e os mecanismos da exe-
tural. É informativo e analisa a sexualidade sob o ponto de vista
cução. Assim, deve ser analisada a gravidade do crime, os motivos,
normal, patológico e criminoso.
circunstâncias e a intensidade do dolo ou culpa. A qualidade e quan-
- Psicologia Forense ou Médico-legal: Estuda as causas que po-
tidade do dano.
dem deformar um psiquismo normal, bem como, a capacidade de
entendimento da testemunha, da confissão, do delinqüente e da Deve ele ter um conhecimento humanístico e jurídico, uma sen-
vítima. sibilidade na apreciação quantitativa e qualitativa da prova (Idem,
- Psiquiatria Forense ou Médico-legal: Neste capítulo a análise ibidem.).
é mais profunda, pois trata dos transtornos mentais e da conduta, O advogado, no exercício da profissão, também precisa, e
da capacidade civil e da responsabilidade penal. Criminalística: Es- muito, destes conhecimentos médico-legais, sendo um crítico da
tuda a dinâmica do crime, analisando seus indícios e vestígios ma- prova, não aceitando como absolutos certos resultados, somente
teriais. pelo simples fato de constituírem avanços recentes da ciência ou
- Criminologia: Preocupa-se com o criminoso, com a vítima e da tecnologia. Deve saber pedir aos peritos e por outro lado precisa
com o ambiente. Estuda a criminogênese. saber interpretar, e requisitar, em relação aos casos em estudo. O
pedido formulado deve estar dentro das possibilidades da ciência e
técnica médico-legal.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O promotor de justiça tendo o ônus da prova, justificando-a e Fernando da Costa Tourinho Filho, ao lado de Espínola Filho,
explicando-a, necessita mais do que ninguém dos conhecimentos entende que referido artigo não exige nenhuma formalidade para a
médico-legais, para uma correta interpretação de todos os laudos constituição do exame de corpo de delito indireto, sendo o simples
envolvidos nos casos a serem julgados. testemunho de que presenciou o crime ou viu seus vestígios sufi-
Trata-se de uma contribuição de alta valia e é a soma de to- ciente para suprir o exame direto.
das as especialidades médicas, cada uma colaborando à sua ma- Já para Guilherme de Souza Nucci e Hélio Tornaghi, uma coisa
neira para que a ordem seja restaurada. Por tudo o que vimos a não se confunde com a outra, sendo que o testemunho é a prova
Medicina Legal em seu estudo e aplicação, coopera na execução pela qual os peritos deverão realizar o exame, apresentando suas
de leis já existentes, interpretando os textos legais com significado conclusões.
médico, bem como ajuda elaborar novas normas relacionadas com Exames periciais – dispõe o artigo 159 do CPP, com a nova re-
a medicina. É uma ciência ímpar em seus aspectos usuais, pois une dação que lhe foi dada pela lei 11.690/2008, que os exames peri-
o conhecimento biológico, cuidadoso e artesanal a técnicas labo- ciais devem ser realizados por um perito oficial, o qual deve portar
ratoriais avançadas, com a finalidade de dar à Justiça elementos diploma de curso superior.
de convicção, para a solução das variadas questões dos ramos do A finalidade da perícia é auxiliar o julgador em questões situ-
conhecimento humano. A perícia hoje não é igual à de ontem, nem adas fora de sua área de conhecimento profissional, é o juízo de
será igual à de amanhã. O papel de árbitro e perito, levando à de- valorização exercido por um especialista, o perito.
cisões e sanando as dúvidas na sociedade e na justiça é que dão à Perito
Medicina Legal extensão e dela se espera pronunciamentos claros, É o auxiliar da justiça, cuja função é fornecer ao juiz dados ins-
comprovados e inegáveis.Qualquer um que opere na área do direi- trutórios, de ordem técnica, realizando a verificação e a formação
to, precisa reunir condições para ler, interpretar e saber rejeitar um do exame do corpo de delito.
documento falho, incompleto ou que não traduza, com clareza e São profissionais com conhecimentos técnico-científicos em
confiança a realidade do espetáculo. Tudo tem que estar fiel. Num áreas do saber humano, os quais fornecem informações técnicas
único processo, não raro, há mais de um laudo, em mais de uma sobre determinado assunto em um caso concreto e procedem a
área e todas as dificuldades periciais surgem no dia-a-dia, caso a exames em pessoas ou coisas.
caso exigindo do advogado das partes, promotor público, delega- Os peritos atuam na fase de inquérito policial ou processo judi-
do de polícia e da justiça atenção para que não fiquem perguntas cial, sendo considerados auxiliares da Justiça.
A Lei 12.030/2009 considera peritos de natureza criminal os
sem respostas. Considerando seu extenso campo de ação, é claro
médico-legistas, peritos odontologistas e peritos criminais, sendo
que seria pretensão tentar esgotar o estudo acerca dessa matéria
importante frisar que, embora sejam requisitados pelo Delegado
apaixonante que nos assusta inicialmente, mas que depois nos abre
de Polícia ou pelo Juiz para procederem a determinados exames,
uma longa cortina do tempo, demonstrando que está inexoravel-
as autoridades requisitantes não possuem ingerência sobre a ela-
mente ligada com a própria história da humanidade.1
boração do laudo, sendo garantida a autonomia técnica, científica
Corpo de Delito
e funcional dos peritos.
Corpo de delito são os elementos imperceptíveis da infração
Os peritos podem ser oficiais ou não oficiais, conforme exposto
penal, isto é, são os vestígios deixados pelo ilícito penal, os elemen-
abaixo:
tos através do dos quais podem ser verificados a ocorrência de um a) Perito Oficial – É o profissional concursado e de carreira que
crime. exerce função pública. É um servidor público.
Assim, o exame de corpo de delito é aquele realizado sobre tais b) Perito Não Oficial / nomeado (ad hoc) – É o profissional por-
vestígios, visando comprovar a ocorrência de um crime. tador de diploma superior, designado pelo Delegado de Polícia ou
É a maneira pela qual se comprova a materialidade do delito Juiz para realização de perícia, os quais prestam compromisso para
praticado. desempenhar o encargo.
Duas são as espécies de exame de corpo de delito: direto e
indireto. ATENÇÃO:
Para a realização da perícia por perito não oficial, será exigido
a) Exame de corpo de delito direto é aquele realizado pelo pe- legalmente a participação de 2 (dois) peritos idôneos, portadores
rito em contato direto e imediato com os vestígios do crime. de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
b) Exame de corpo de delito indireto é aquele realizado atra- os quais prestarão o compromisso com a verdade. (art. 159, §1º, do
vés da análise de outros elementos que não propriamente os vestí- Código de Processo Penal)
gios deixados pela prática criminosa. Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
Para efeitos de realização do exame de corpo de delito, as §1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
infrações penais subdividem-se em infrações penais que deixam (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
vestígios materiais ou infrações penais intranseuntes, e infrações preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-
penais que não deixam vestígios, também chamadas de infrações tação técnica relacionada com a natureza do exame.
penais transeuntes. Os peritos estão suscetíveis a responsabilização civil e admi-
Note-se que por força do artigo 158 do CPP, quando tratar-se nistrativa, quando por dolo ou culpa, cometerem um ato ilícito que
de infrações penais intranseuntes a realização de exame de corpo ocasione danos a terceiros, nos termos do artigo 158, do Código de
de delito será necessária. Processo Penal e art. 186, do Código Civil, respectivamente. Veja-
Questão controvertida surge com relação ao que vem a ser que mos:
o exame de corpo de delito indireto, tendo vista o disposto no arti-
go 167 do CPP. Com efeito, o referido dispositivo legal dispõe que
não sendo possível o exame de corpo de delito, por haver desapa-
recido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhes a falta.
1 Fonte: www.mackenzie.br – Por Irene Batista Muakad
Editora
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
CPC – Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar infor- São objetos da perícia:
mações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e a) Pessoas vivas: visa diagnosticar as lesões corporais e suas
ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) espécies, determinar idade, sexo, etc.
a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas b) Mortos: visa diagnosticar a causa morte, o tempo da morte,
em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de clas- identificar o cadáver, etc.
se para adoção das medidas que entender cabíveis. c) Esqueletos: visa à identificação da espécie, do sexo e do tem-
CC – Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, po da morte.
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, As perícias, por possuírem base científica, constituem um for-
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. te elemento de convicção judicial no processo criminal, porém o
Os peritos também estarão suscetíveis a responsabilização pe- juiz não estará vinculado aos laudos periciais, podendo rejeitá-los,
nal em virtude dos seus atos praticados, nos termos da legislação conforme inteligência do artigo 182 do Código de Processo Penal.
penal em vigor. Vejamos os principais crimes relacionados à atua-
ção dos peritos, tipificado no Código Penal: Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo
ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
Violação do segredo profissional ATENÇÃO:
CP – Art. 154 – Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de A perícia pode recair sobre fatos a serem analisados tecnica-
que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, mente pelo perito (perícia percipiendi), bem como sobre outras pe-
e cuja revelação possa produzir dano a outrem: rícias já realizadas, ou documentos (perícia deducendi).
Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. ATENÇÃO:
Violação de sigilo funcional A perícia também pode recair sobre análise de fatos anteriores
CP – Art. 325 – Revelar fato de que tem ciência em razão do (retrospectiva, como ex.: perfil psiquiátrico), bem como sobre fatos
futuros (prospectiva, como ex.: cessação da periculosidade).
cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a reve-
ATENÇÃO:
lação:
A perícia também pode consistir em exames realizados na víti-
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato
ma, no indiciado, testemunhas ou em jurados.
não constitui crime mais grave.
§1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: Realização das perícias
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e Para a realização da perícia, de acordo com o artigo 161, do
empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pesso- CPP, pode ser designado qualquer dia e horário, de acordo com a
as não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados necessidade e disponibilidade dos peritos. Ressalte-se, contudo,
da Administração Pública; que o perito não pode recusar a nomeação e tampouco deixar de
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. comparecer para a realização do exame, de acordo com o que dis-
§2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Públi- põe os artigos 277 e 278 do CPP, salvo motivo justificável.
ca ou a outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. Exame necroscópico (autópsia)
É o exame realizado por peritos das partes internas de um ca-
Falso testemunho ou falsa perícia dáver, tendo como finalidade principal constatar a morte e sua cau-
CP – Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verda- sa, servindo, contudo, para a verificação de outros aspectos, como
de como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em por exemplo, a trajetória do projétil e o número de ferimentos rea-
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo lizados, bem como os orifícios de entrada e saída dos instrumentos
arbitral: utilizados.
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Excepcionalmente, a autópsia pode ser dispensada, nos ter-
mos do parágrafo único do artigo 162 do CPP.
ATENÇÃO: O artigo 162 do CPP determina que a autópsia deverá esperar
São aplicáveis aos peritos as regras de suspeição, incompatibi- pelo menos 6 horas para que possa ser realizada, tempo este ne-
lidade e impedimento, conforme artigos 1125 e 2806 do Código de cessário para o surgimento dos sinais tanatológicos, a não ser que
Processo Penal. o perito, com base nas evidências da morte, julgue que possa ser
realizado antes daquele prazo, o que deverá constar no auto.
Perícia
É um procedimento médico, realizado através de requisição do Outras perícias
Outras perícias vêm discriminadas nos artigos 163 a 175 do
Delegado de Polícia ou do Juiz, objetivando esclarecer fatos de inte-
CPP. São elas:
resse da justiça, através da análise médica de vestígios.
- Exumação;
Genival França define a perícia médico-legal com sendo “um
- Exame de corpo de delito em caso de lesões corporais;
conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem como fina-
- Exame de local;
lidade o esclarecimento de um fato de interesse da justiça.” (FRAN- - Exame laboratorial;
ÇA, Genival Veloso de. Medicina legal. 10ª ed. Rio de Janeiro: GEN, - Perícia furto qualificado e crimes afins;
2015. p. 46.) - Laudo de avaliação;
É importante, para fins didáticos, distinguir a perícia geral da - Exame de local de incêndio;
perícia médica. A primeira é realizada por perito criminal e recai so- - Exame grafotécnico;
bre objetos ou instrumentos relacionados ao local de crime. Já a se- Exame dos instrumentos utilizados nos crimes.
gunda é realizada pelo perito médico-legal e recai sobre os vestígios
que possuem interesse médico-legal como perícia de identificação
antropológica, perícia traumatológica, tanatoscópica, etc.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Resumidamente, devemos nos lembrar que, não existe um
exame de corpo de delito padrão. Como o objetivo é detectar le- DOCUMENTOS MÉDICO‐LEGAIS. CONCEITOS DE IDEN‐
sões causadas por qualquer ato ilegal ou criminoso, ele pode ser TIDADE, DE IDENTIFICAÇÃO E DE RECONHECIMENTO.
aplicado em diversas situações, como após uma batida de carro, em PRINCIPAIS MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO
casos de agressão ou quando um detento é transferido de presídio.
O exame também é uma prova fundamental para esclarecer casos
de tentativa de suicídio, homicídio e estupro. “A vítima é analisada São as notificações compulsórias, relatórios, pareceres e os
minuciosamente e todas as lesões encontradas são descritas com atestados.
fidelidade”.
O único profissional habilitado a realizar esse exame é o mé- NOTIFICAÇÕES COMPULSÓRIAS
dico legista. O procedimento precisa ser solicitado por uma auto- Definição: São comunicações obrigatórias feitas pelo médico
ridade, como um delegado ou promotor. O médico legista procura às autoridades competentes, por razões sociais ou sanitárias.
responder a perguntas básicas, que investigam a extensão e a gra- É indispensável para o planejamento da saúde; definição de
vidade dos danos físicos e psicológicos causados à vitima. Ele deve prioridades de intervenção; avaliação do impacto das interven-
tentar descobrir também como as lesões foram provocadas e se ções.
houve requintes de crueldade, como o uso de fogo, asfixia ou enve- Relatório feito por determinados órgãos por motivo social ou
nenamento. São levadas em conta ainda as consequências dos fe- de saúde pública.
rimentos, desde a incapacidade temporária para trabalhar até uma - Ex.: HIV. Essa notificação permite planejamento em saúde.
deformidade permanente. As lesões são classificadas como leves, - Ex.: surtos de febre amarela. Permite montar um esquema
graves ou gravíssimas. para intervir.
O laudo final é encaminhado ao promotor público e ao juiz, que Essa notificação também permite avaliar se a ação realizada
usarão as informações no processo. O exame de corpo de delito ajudou no efeito ou não. Geralmente são tratadas no centro de
também pode ser feito em pessoas mortas. Nesse caso, é feita a saúde.
necropsia, que ajuda o legista a encontrar as lesões que levaram Será que está quebrando sigilo fazendo essa notificação? To-
ao óbito. “Todos os casos de morte não natural, como as causadas dos que tem contato com essa notificação tem direito de sigilo, mas
por acidentes, homicídio e suicídio, devem passar pelo exame ne- a população tem que saber o que está acontecendo para se preve-
croscópico”.2 nir. O sigilo é sobre os dados das pessoas. Não configuram quebra
de sigilo profissional, assim como os relatórios periciais, porque
Quadro resumo: prevalece o interesse público ou o dever legal.
E se deixar de notificar? Todos os médicos, enfermeiros, dire-
Perícias e peritos médico-legais tores, etc, são obrigados a notificar.
O que não pode ser passado para a população são informações
Perícias É um procedimento médico, realizado através pessoais da pessoa contaminada.
de requisição do Delegado de Polícia ou do Juiz, Quem pode notificar é o médico. A enfermeira tem o dever se
objetivando esclarecer fatos de interesse da o médico não notificar.
justiça, através da análise médica de vestígios. Falta de notificação – artigo 269 CP – onde ela é obrigatória é
A perícia pode recair sobre fatos anteriores, fa-
crime. Só vale para o médico, os outros não.
tos futuros, documentos e até mesmo perícias já
realizadas. Situações que envolvem notificação:
1.Doenças, agravos e eventos em saúde pública constantes da
Exame de É um exame feito sobre os vestígios materiais portaria n 104 de 25.01.2011 do ministério da saúde.
corpo de da infração penal. Por sua vez, o corpo de delito 2.Crime de ação penal pública incondicionada cujo conheci-
delito é o conjunto de vestígios materiais sensíveis ou mento se deu em função do exercício da medicina.
perceptíveis deixados pelo fato criminoso. O
3.Comunicação de lesão ou morte causada por atuação de não
exame pode ser direto, quando persistirem os
vestígios da infração, ou indireto, quando os médico.
vestígios materiais deixaram de existir. 4.Esterilizações cirúrgicas.
5.Diagnóstico de morte encefálica, independentemente se for
Peritos São profissionais com conhecimento técnico- autorização da família para a doação de órgãos.
-científico em áreas do saber humano, forne- Crime de ação penal pública incondicionada cujo conhecimen-
cendo informações técnicas sobre determinado to se deu em função do exercício da medicina: Ex.: aborto, estou
assunto em um caso concreto, procedendo a
em um pronto socorre chega uma mulher morrendo com infecção
exames em pessoas ou coisas. Os peritos atuam
na fase de inquérito policial ou processo judicial, generalizada, pensa na possibilidade da infecção decorrer de abor-
sendo considerados auxiliares da Justiça. to, uma forma utilizada para o aborto tem uma planta que passa
Podem ser oficiais (servidores públicos) ou não pelo colo do útero e mansa a mulher para casa aquilo vai absorvido
oficiais (nomeados pela autoridade). água e vai dilatando o colo do útero, só vai quando não consegue
mais reagir. Se percebe que foi um aborto provocado se colocar isso
no prontuário está incriminando o paciente, tem obrigação legal.
Ex.: uma moça com câncer de colo de útero pequeno a chance
de curo é altíssima, na época tinha uma vacina contra o câncer, a
mulher foi tomar as vacinas retorna duas semanas depois com in-
fecção generalizada e morre, mas não pelo câncer.
Se pega um caso de aborto provocado e fala que foi em uma
aborteira, fala que tem algumas lesões.
Esterilizações cirúrgicas. – método definitivo, ligadura de trom-
2 Fonte: www.super.abril.com.br/ Junior Campos Ozono/www.edito-
pa e etc.
rajuspodivm.com.br
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
É de notificação compulsória o diagnóstico de morte encefá- 4.Conclusão: síntese clara dos pontos relevantes para discus-
lica. O médico diz que ela está morta e pode captar os órgãos, são.
desencadeia a possibilidade da captação de órgãos desde que a Prazo: fixado em audiência.
família concorde. Assistente técnico faz parecer, peritos oficiais fazem laudos.
Diagnóstico de morte encefálica, independentemente se for Não comporta descrição das lesões.
autorização da família para a doação de órgãos. Informado a cen-
tral de notificação, capitação e distribuição de órgãos. ATESTADO MÉDICO
A central de notificação capitação e distribuição de órgãos que Definição: É a afinação pura e simples, por escrito, deforma sin-
deve ser informado. gela, resumida e objetiva de um fato médico e suas consequências,
Art. 269, CP Deixar o médico de denunciar à autoridade pública ou de um estado de sanidade.
doença cuja notificação é compulsória: Emissão: Pode ser emitido no próprio receituário ou em papel
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. timbrado
Envenenamento de água potável ou de substância alimentícia Objetivo: após exame do paciente, informar um estado de sa-
ou medicinal nidade ou de doença, anterior ou atual, para fins de licença, dispen-
Nesse caso só incide sobre o médico. O que está destacado na sa ou justificativa de faltas, ente outros, diferentemente do laudo
portaria 104 do ministério da saúde. pericial que exige detalham entorno dos achados.

RELATÓRIO MÉDICO-LEGAL É parte integrante do ato médico, sendo seu fornecimento di-
Definição: Narração detalhada da perícia, com emissão de juí- reito inalienável do paciente.
zo valorativo. Quando redigido pelo perito é chamado de laudo, e O atestado pode ser:
quando ditado ao escrivão, de auto. - Oficioso: que é aquele fornecedor gratuitamente, quando vai
Sete partes: ao médico e constata alguma patologia e atesta dizendo o tempo
1.Preambulo: Introdução, na qual consta a qualificação da au- necessário de afastamento. A falsidade está no que ele fala que a
toridade solicitante, dos peritos, do diretor que solicitou, exami- pessoa tem, omite ou emite o atestado sem examinar. Solicitado
nado, além de local, data, hora e tipo de perícia. Aqui o Art. 159, para atender a interesses particulares.
parágrafo 3º, CPP dá os quesitos das partes - Administrativo: atestado de vacinação são administrativos, se
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão viajar para algum lugar onde ocorre febre amarelo exigem atesta-
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. do de vacinação, atestados em concurso. Exigidos por autoridade
§ 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de administrativas para funcionários públicos, nos casos de concessão
acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de licença, de aposentadoria, para atestar vacinação antivariólica e
de quesitos e indicação de assistente técnico. para atestar sanidade física e menta, nas admissões em escolas e
2.Quesitos: perguntas sobre fatos relevantes que originaram repartições públicas.
o processo penal, oficiais e padronizadas em impressos utilizados - Judiciário: aquele que é solicitado pelo juiz para abono de fal-
pelas instituições médico-legais de cada Estado. Nas perícias psiqui- ta de jurado. Requisitado pelo juiz, mais comum ente, para justifi-
átricas e exumações não existe padronização. car falta de jurado.
3.Histórico ou comemorativo: breve relato dos fatos ocorridos Compromisso: Não exige compromisso legal, mas não significa
por informação da vítima ou indiciado, ou dos dados da guia de que o médico não esteja obrigado a relatar a verdade (artigo 302
remoção do cadáver. do CP).
4.Descrição: Principal parte do laudo, perito descreve, minu- Falsidade: O atestado é falso quando afirmar uma inverdade,
ciosamente, aquilo que encontrou no exame. (lesões – descrever negar ou omitir uma verdade, ou se for emitido sem exame do pa-
de uma maneira que qualquer um que ler visualize essas lesões, até ciente. A falsidade do atestado médico é ideológica, afetando seu
porque, ele é o único que vê – visam et repertum – parte principal conteúdo. O fim a que se propõe não tem imortal ia para sua anti-
do relatório) juridicidade.
5.Discussão: lesões são analisadas cientificamente e compara- Se tiver como consequência um tempo de repouso ou de afas-
das com os dados do histórico, dando origem à formulação de hipó- tamento do trabalho, deve o profissional especificar o tempo con-
t4eses a respeito da mecânica do crime. (tudo que ele quiser falar) cedido de dispensa à atividade, necessário para a recuperação do
6.Conclusão: tomada de postura quanto a ocorrência ou não paciente.
do fato (tem que ser objetivo – ex.: houve conjunção carnal.) Presunção de verdade: O atestado médico goza de presunção
7.Resposta aos quesitos: finalidade estabelecer a existência de veracidade, devendo ser acatado por quem de direito, salvo se
de um fato típico sem deixar dúvidas. Deve responder de forma houver divergência de entendimento por médico da instituição ou
sucinta e objetiva. (ex.: quesito prejudicado – falta de elementos perito.
significantes e conclusivos). Valor Probatório: Os relatórios e os atestados, como documen-
tos médico-legais, têm o mesmo valor probante, diferenciando-se
PARECER MÉDICO-LEGAL por versarem sobre assuntos diferentes.
Definição: Documento utilizado para dirimir divergências na Sigilo: O médico sofre restrições decorrentes do dever de si-
interpretação dos achados de uma perícia, sendo solicitado a uma gilo, a presença do diagnostico no corpo do atestado, seja de for-
pessoa de renome. É dado sobre o relatório médico-legal e, por ma escrita ou pela sua sigla na CID-10, pressupõe consentimento
isso, constam apenas quatro partes: expresso do paciente, justa causa ou dever legal. Essas restrições
1.Preâmbulo: qualificação do solicitant4e e do parecerista. estendem-se à revelação de informações confidenciais quando do
2.Exposição dos motivos: breve relato dos quesitos formulados exame médico de trabalhadores, inclusive por exigência dos pró-
e histórico. prios dirigentes de empresas ou de instituições, salvo se o silêncio
3.Discussão: parecerista demonstra sua competência na ma- puser em risco a saúde dos empregados ou da comunidade (art. 76
téria. do CEM).
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Dessa forma, constatada a aptidão, o diagnóstico de gravidez de uma candidata só poderá constar do atestado se houver consen-
timento da mesma. Por outro lado, se o cargo pleiteado trouxer riscos à gestação, a colocação de tal diagnóstico será por justa causa,
independendo da anuência da candidata.

ATESTADO DE ÓBITO
Definição: São os dados de ordem médica constantes do bloco IV da Declaração de Óbito (DO), que é o documento-base do Sistema
de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS).
É composta de três vias sendo fornecida pelo Ministério da Saúde e distribuída pelas Secretarias Estaduais e Municipais de saúde.
Função: Tem as funções de:
- Marcar o fim da pessoa natural (função legal)
- Conhecer a situação de saúde da população por meio dos dados de óbitos
- Gerar ações, com base nesses dados, visando à melhoria das condições de saúde
- Fornecer dados para as estatísticas de mortalidade.

É indispensável para assentamento do óbito no cartório de registros civil (art. 77, Lei 6.015/1973), que retém uma das vias.

Morte natural Morte violenta Morte suspeita


É a que ocorre por doença ou É a decorrente de energias externas: É a morte inesperada, sem sinais de
envelhecimento. crime, suicídio ou acidente, inclusive violência, mas que ocorreu em condições
acidente de trabalho. estranhas.

Perda fetal precoce Perda fetal intermediária Perda fetal tardia

Menos de 20 semanas de gestação 20 a 28 semanas de gestação Mais de 28 semanas de gestação

Feto com peso inferior a 500 gramas Feto com peso entre 500 a 1.000 gramas Feto com peso superior a 1.000 gramas;

Feto com estatura abaixo de 25 centí-


Feto com estatura entre 25 e 35 centímetros Feto com estatura acima de 35 centímetros
metros.

A família recebe a Certidão de Óbito necessária ao sepultamento ou cremação.


Quem pode atestar o óbito e assinar o DO? De acordo com o artigo 77, Lei 6015:
Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de
óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado
ou verificado a morte.
Mortes naturais: o médico assistente está obrigado a assinar o atestado de óbito, mas se na localidade inexistirem médicos, o atesta-
do pode ser assinado por qualquer pessoa qualificada (enfermeira, dentista, biólogo, médico veterinário, parteira).
Causa mal definida ou indeterminada: Se não sei do que a pessoa morreu coloca causa mal definida. Pode ser que na autópsia tam-
bém não se encontre a causa da morte e é colocada como causa indeterminada.
Muitas vezes tem material dessa pessoa que é guardo, sangue, tecido, porque pode ser que a causa da morte não consiga detectar e
aí depois de um tempo consegue dar diagnóstico daquele caso.

Dependendo das condições em que ocorre, considera-se:

Médico obrigado a atestar o óbito:

ØMorte natural
Médico impedido de atestar o óbito (= autópsia).
Morte por causa natural com assistência médica: médico que prestava assistência médica.

ØMorte natural (SVO - serviço de verificação de óbito)


- sem assistência já chega no hospital morto, sem diagnóstico ficou internado, mas não chegou no diagnóstico (menos de 24 horas
de internação)
--Como não há suspeita de violência a família pode se negar, o médico não tem diagnóstico ele coloca como mal definida, a família
se nega a permitir a autópsia e o diretor clínico vai atrás do juiz para suprir essa autorização.
---Essa autópsia é importante, pois as vezes envolve interesse público.
---Que não tenha dado assistência;
---Sem diagnóstico da causa mortis, mesmo após internação por curto período, isto é, menos de 24 horas.

- Sem diagnóstico (menos de 24 horas de internação)

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
ØMorte violenta ou suspeita (IML): morte violenta aquela que - Óbito de recém-nascido.
decorre de crime, suicido, acidente, acidente de trabalho também, -- Nasceu vivo: registra-se o nascimento e morte. Art. 53, §2º,
aquele vizinho que caiu em casa e quebrou, tem uma pneumonia e Lei 6015
morre o médico estou impedido de atestar o óbito porque a queda -- Nasce morte: registro no livro “C Auxiliar”, com elementos
é um acidente.Nestes casos, há necessidade de autópsia, sendo o que couberem. Art. 53, §1º, Lei 6015.
atestado fornecido pelo médico que a realizar. ---Médico desobrigado, quando abaixo de 20 semanas ou peso
Nas mortes violentas ou suspeitas, a autópsia é obrigatória, corporal inferior a 500g, e/ou estatura igual ou superior a 25 cen-
sendo realizada no Instituto Médico Legal (IML). tímetros.
Havendo nexo causal entre a morte e a violência, mesmo que a -- Não é obrigado a registrar se estiver em tamanha composi-
morte ocorra tardiamente em relação ao momento do fato, o corpo ção que não é possível reconhecer.
deve ser encaminhado ao IML para autópsia. -- Quando se tratar de óbito de recém-nascido, se nascido vivo,
Nos casos de morte natural de causa mal definida, a autópsia o médico está obrigado a fornecer o atestado de óbito. Registra-se
será feita pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO), pertencente o nascimento e o óbito sempre, independentemente do tempo de
ao Serviço de Anatomia Patológica do hospital. Entretanto, como a gestação e das características do feto.
família pode opor-se, já que esta autópsia não é compulsória, resta, -- O art. 53, caput, e §1º da Lei nº 6.015/1973, determina que o
nesses casos, recorrer ao suprimento judicial. registro do óbito deve ser feito mesmo que a criança nasça morta,
- Acidentes sendo esse o procedimento ideal, inclusive porque as estatísticas
- Crimes oficiais são feitas com base na via da Declaração de Óbito que é
- Suspeita: inesperada, em condições estranhas mas sem sinal encaminhada para a Secretaria Municipal de Saúde.
de violência -- Entretanto, se o tempo de gestação for pequeno e se o fato
--Cara vem se hospedar no hotel, quando entram no quarto morto ficou dias retido no útero materno, ao nascer já estará em
está caído no banheiro, tem arranhão justificado pela queda, é uma processo destrutivo e muitas vezes não individualizado.
morte inesperada em condições estranhas, mas sem sinal de vio- -- Neste caso, temos três regras.
lência. Pessoa que chega com dor no peito, e faz um eletrocardio- --- A regra antiga, preconizada pela Organização Mundial de
grama e morre, se enquadra como morte suspeita de repente en-
Saúde (OMS), considerava inicialmente o tempo gestacional, mas
contra uma ossada, um cadáver é morte suspeita, encontra morto
foi complementada com o peso e estatura do feto porque muitas
dentro de casa em avançado estado de putrefação, morte suspeita
vezes essas características fetais não condiziam com o tempo ale-
tem que saber o que aconteceu.
gado pela gestante.
- Quem atesta o óbito é o médico que faz a autópsia.
A obrigatoriedade de atestar o óbito e leva-lo a registro recai-
- Localidades sem SVO. ria apenas sobre as perdas fetais tardias.
-- D.O. emitida por médicos do serviço público de saúde mais - As perdas intermediárias e precoces seriam consideradas
próximo do local onde ocorreu o evento e, na sua ausência, por aborto, ficando o médico desobrigado a fornecer o atestado de
qualquer médico da localidade. óbito.
- Havendo obrigatoriedade, o corpo é considerado cadáver e
- Localidade sem IML tem de ser enterrado ou cremado. Nos demais casos, como não
-- D.O. emitida por qualquer médico da localidade, ou outro podem ser tratados como lixo comum, devem ser incinerados.
profissional investido pela autoridade judicial ou policial. (NOME- - A regra com base na Classificação Internacional das Doenças
ADO). (CID-10), que substituiu a anterior, considerado período perinatal:
-- A partir de 22 semanas de gestação;
- Localidade sem médico --Fato com 500 gramas ou mais de peso;
-- Emissão de 3 vias da D.O. deverá ser solicitada ao Cartório -- Feto com estatura acima de 16,5 centímetros (medida cra-
do Registro Civil de Referência, pelo responsável pelo falecido, niocaudal de feto até 20 a 22 semanas de gestação, tirada da ca-
acompanhado de duas testemunhas, em conformidade com os beça até o cóccix em virtude de os membros interiores estarem
fluxo acordados com as corregedorias de Justiça local. em flexão).

- D.O. com duas causas da morte -Abaixo disso, seria aborto, não necessitando atestado de óbi-
-- Pode ocorrer, se leva tiro em 2 locais fatais, por exemplo. to.
-- As vezes se encontra duas lesões mortais. Se pega uma per- - Em outras palavras, se o feto nascer com peso, estatura e
furação no tórax e no abdômen, o que matou foi a última, porque tempo de gestação que permitiriam sua sobrevivência se nascido
já sangrou demais na primeira. Ou coloca as duas ou coloca que a vivo, é considerado natimorto e o médico está obrigado a atestar
última lesão foi aquela. o óbito.
-- O atestado de óbito pode conter duas causas da morte
- A mudança de parâmetros se deveu à evolução tecnológica,
quando, diante de duas lesões possivelmente mortais, não se
que tornou possível a sobrevivência de fetos prematuros cada vez
consegue determinar qual delas desencadeou a morte, seja por
menores, dependendo dos recursos disponíveis na localidade.
terem a mesma intensidade, seja por ser impossível saber qual
- Nesses casos, o médico não está impedido de dar o atestado
delas ocorreu primeiro.
de óbito, mas desobrigado, podendo e devendo fornecê-lo sempre
- Identidade do cadáver desconhecida que possível.
-- Faz a ficha datiloscópica. - Aditam-se, atualmente, os parâmetros constantes da Reso-
-- Foto, digital (registro civil para comparar) lução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 306, de 07 de dezembro de
2004 (ANVISA)
- Uma coisa é a criação que nasce viva e morre.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- Nasceu viva e morreu a seguir, manifestou vida de alguma dos direitos foi assegurado como referência máxima e a inviolabi-
maneira, respirou, registra-se sempre nascimento e morte, quando lidade ao direito foi consagrado de forma expressa. Diante disto a
nasce com vida adquiriu direitos, e depois transmitiu. Não importa súmula 568 do STF esta superada com o seguinte texto:
o tamanho nem o tempo gestação nalgum. “A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NÃO CONSTITUI CONSTRANGI-
- Se nasceu morta, uma criança que já está bem formada, mes- MENTO ILEGAL, AINDA QUE O INDICIADO JÁ TENHA SIDO IDENTI-
mo que leve dias para o organismo expulsar e mesmo que esteja FICADO CIVILMENTE.”
em decomposição, o grande problema é quando é uma gravidez Obviamente, que se o agente prontamente se identificar com
de pouco tempo, uma gravidez de 4 meses por exemplo, faz o ul- um dos documentos abaixo:
trassom e está morto, pode aguardar um prazo para o organismo I – carteira de identidade;
eliminar se for expulso dali uns 3 ou 4 dias o organismo expeli, na II – carteira de trabalho;
hora que nasce não consegue identificar que era uma criança, não III – carteira profissional;
tem como dar atestado de óbito. IV – passaporte;
- Tem alguns critérios onde o médico era obrigado a dar o óbi- V – carteira de identificação funcional;
to, e outros critérios onde ele era desobrigado (não quer dizer im- VI – outro documento público que permita a identificação do
pedido) de dar o atestado de óbito. indiciado.
- Em princípio se o fato nasceu de uma gestação de 20 sema- Estará amplamente protegido pelo artigo 2º da lei 12.037/2009
nas ou mais, peso de 500g ou mais, estatura de 25cm ou mais, se o que impedirá por força legal que o agente público de segurança
não poderá submetê-lo ao processo de identificação criminal, logi-
ele tivesse nascido vivo já teria condições de sobreviver dentro da
camente, a regra disposta no artigo 2.º da referida lei não comporta
tecnologia. Se ele nascer morto o médico é obrigado a atestar o
o caráter absoluto para que não ocorra o processo de identificação
óbito mesmo que nasça morto, abaixo disso o médico está deso-
criminal, pois tais documentos elencados no rol taxativo da “lei de
brigado.
Identificação” podem apresentar dúvidas onde pelo princípio da
- Artigo 53 da lei 6.015 diz que o médico é obrigado a atestar obrigatoriedade o agente público possui o dever de sanar de forma
o óbito e levar em registro em cartório mesmo que a criança nasça legal para confirmar a validade plena ou a invalidade daquele do-
morta. cumento duvidoso.
- Quando o médico está desobrigado é encorado como produ- Na referida lei em seu artigo 3.º fica evidente que o caráter do
to de aborto e o médico pode incinerar. artigo 2.º não é absoluto, muito menos quando conjugado com o
- Se a família não pede, pode incinerar os fetos.3 artigo 5.º, inciso LVIII da CF, pois o agente público poderá identificar
o agente “identificado civilmente” quando:
IDENTIDADE PESSOAL E A IDENTIFICAÇÃO I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsifi-
Faz-se necessário diferenciar Identidade, Identificação e Reco- cação;
nhecimento. A identidade, de forma objetiva, é aquela que permite II – o documento apresentado for insuficiente para identificar
afirmar que determinada pessoa é ela mesma por meio de elemen- cabalmente o indiciado;
tos positivos e mais ou menos perenes que a distingue das demais. III – o indiciado portar documentos de identidade distintos,
A identificação é o processo pelo qual se determina a identidade de com informações conflitantes entre si;
uma pessoa, enquanto o reconhecimento significa apenas o ato de IV – a identificação criminal for essencial às investigações poli-
certificar-se, é a afirmação laica, de parente ou conhecido, sobre ciais, segundo despacho da autoridade judiciária competente, que
alguém que se diz conhecer ou de sua convivência. A identificação decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade poli-
pode ser baseada na comparação entre características conhecidas cial, do Ministério Público ou da defesa;
de um indivíduo (dados ante mortem) com características desco- V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou di-
bertas de um corpo desconhecido (dados post mortem). ferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da
Dispõem o artigo 5.º, inciso LVIII da CRBF/1988 que: localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a
“o civilmente identificado não será submetido a identificação completa identificação dos caracteres essenciais.
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.” Além de que as cópias dos documentos apresentados pelo in-
Na Constituição Federal o art. 5º, inciso LVIII é regulamentado divíduo submetido ao processo de identificação criminal deverão
ser juntadas nos autos do processo investigatório ou criminal, afim
pela lei n.º 12.037, de 1.º de outubro de 2009 que dispõe sobre a
de justificar os meios e os fins utilizados no procedimento de iden-
identificação criminal do civilmente identificado diante de tais nor-
tificação bem como as justificativas que embasaram os agentes na
mas é certo que existem regras para que haja a identificação de
desconfiança do documento inicialmente apresentado a autorida-
determinadas pessoas em sede policial, ou seja, o civilmente identi-
de. Logicamente, tais documentos na iminência de dúvida quanto
ficado aquele que possui um mero registro civil capaz de identifica- à sua validade ou formas de identificação de veracidade deverão
-lo de forma inquestionável perante ao seu registro de nascimento ser confrontados em bases de dados e apreendidos para exames
assentado junto ao sistema de identificação estatal não poderá ser periciais e até mesmo para o futuro enquadramento do indivíduo
identificado de forma criminal, pois existe uma garantia constitu- em crimes de falsificação e/ou uso de documento público.
cional fundamental que veda o abuso estatal em face da preserva- Não restam dúvidas que se o documento apresentar dúvida de
ção da dignidade humana em tela. veracidade e validade quanto a identificação do agente constitui a
Anteriormente ao advento da CRFB/88 o STF através da súmu- necessidade do exame de corpo de delito pois configura materia-
la 568 entendia que não havia constrangimento ilegal caso houve lidade – é um fato não transeunte que necessita da prova técnica
uma identificação civil previamente identificando aquele indivíduo para efetiva confirmação da falsificação, salvo se for grosseira cuja
submetido ao procedimento identificador, porém em 05.10.1988 a verificação é imediata.
com a promulgação da Constituição Federal em vigência em nosso A identidade de determinado indivíduo nada mais é do que o
ordenamento jurídico como documento máximo o asseguramento conjunto de propriedades particulares que o individualizam peran-
te a sociedade, é uma qualidade de ser sempre o mesmo, podendo
3 Fonte: www.estudandodireito123.blogspot.com
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a identidade de um indivíduo ser: (i) subjetiva: referente a consci- do interesse público sobrevém ao interesse particular e o próprio
ência individual ou (ii) objetiva: conjunto de características físicas. caput do artigo 4.º da lei 12.037/2009 permite que o agente pro-
O processo de identificação de um homem segundo a Medicina ceda aos meios necessários para prover a identificação, desde que
Legal esta elencada dentro do tem: Antropologia Forense, que é o não seja constrangedor ao averiguado.
estudo da identidade e identificação podendo ser dividida a identi- O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E A IDENTIFICAÇÃO
ficação em (i) médica-legal ou (ii) judiciária. CRIMINAL:
Esta é dada pelo conjunto fisiológico e biológico de determi- Apesar da existência da uma identidade civil, a autoridade tem
nado homem, aquela é configurada por dados, antropometria e o dever de checar a validade daquela informação, pois esta agindo
datiloscopia. sobre o manto do princípio da legalidade – tal atitude dá segurança
A identificação não se confunde com identidade, pois todos não só à sociedade, mas também à autoridade no cumprimento de
possuem uma identidade personalíssima com uma identificação suas atribuições.
comum, ou seja, enquanto a identidade é característica própria a O ato de identificar é lícito, mas a forma como se identifica as
identificação é a forma de determinação que pode ser um conjunto vezes ocorre com desvio de finalidade e abuso de poder do próprio
de técnicas, métodos e sistemas para determinar a identidade de agente identificador, sendo vedado mencionar a identificação cri-
alguém que precisa ser identificado. Toda identificação se faz por minal em eventuais certidões e/ou atestados de antecedentes ou
meios que provam quem é aquela pessoa que esta a ser identifica- em informações não judiciais, sob a ótica da violação do princípio
da, podendo ser o ser humano vivo ou morto. da presunção de inocência antes do trânsito em julgado de senten-
ças condenatórias.
A IDENTIFICAÇÃO COMO TÉCNICA: O que a CRFB/1988 veda é a identificação criminal quando há a
O ato de identificar é determinar quem é quem, porém não é identificação civil, porém, nada restringe quanto a identificação ci-
um meio engessado e único é uma ciência multidisciplinar e dinâ- vil, o que se exemplifica pela verificação do indivíduo através de sua
mica, pois pode ser: identificação para cumprir requisitos obrigatório em detrimento de
determinadas regras, não há o que se falar em constrangimento
IDENTIFICAÇÃO MÉDICA-LEGAL ou IDENTIFICAÇÃO POLICIAL/ ilegal e/ou inconstitucionalidade do artigo 5.º, LVIII – pois a medida
JUDICIAL não visa saber quem é o indivíduo tão somente visa o impedimento
A primeira é realizada através de conhecimento técnicos com de fraude quanto à pessoa.
a aplicação da medicina, a segunda é realizada através de confron- Ainda temos muito que evoluir em tema relacionados a identi-
to de dados e estatísticas. Quando realizada através da medicina ficação criminal, pois há quem defenda a violação à integridade físi-
busca-se raça, sexo, idade e estigmas, quando realizada de forma ca, à dignidade da pessoa humana entre outros direitos fundamen-
policial ou judicial não há a rigorosidade do conhecimento médico, tais, mas às vezes é um meio necessário para que não se incorra em
pode ser realizada pela impressão digital do indivíduo buscando um dúvidas ou em excessos pois a identificação criminal por sí só é uma
retrocesso pregresso daquele indivíduo frente à sua situação com intervenção corporal no indivíduo, portanto o Estado deve garantir
o Estado. que esta coação direta não se mostre abusiva e traga a certeza da
Quando se fala em identificação médica busca-se três carac- finalidade que se busca.
terísticas no avaliando: físicas, funcionais e psíquicas. Nas físicas: A simples identificação criminal justificável não viola a incolu-
preocupa-se com o caráter biológico e fisiológico, as funcionais: pe- midade física do averiguado, pois não ocorre um meio agressivo a
las características como voz, escritas, caminhar e outras e por fim dignidade ou exposição midiática daquela identificação, assim sen-
as psíquicas: busca traços interiores inerentes aquele indivíduo em do meio legal e prudente do Estado de direito quando realizada de
específico. forma justificável e legal.4
Nas identificações policiais e/ou judiciais utiliza-se a fotogra-
fia, antropometria, datiloscopia e descritivos dados informativos e Métodos de Identificação
qualitativos, hoje ainda se utilizam dois métodos o de Bertillon que A realização dos processos de Identificação Humana é impres-
consiste na medida do homem que se complementa pela fotografia cindível na Ciência Forense, por razões legais e humanitárias, sendo
e a outra de Vucetich que consiste no estudo dos desenhos indivi- com bastante frequência iniciada antes mesmo de se determinar
duais das impressões digitais. a causa da morte. Muitos indivíduos são vítimas de homicídios ou
Os meios de identificação no nosso ordenamento jurídico ti- encontram-se desaparecidos e a investigação desses casos depen-
veram grandes alterações e considerações legislativas, iniciando- de primeiramente da correta identificação. Assim, o processo de
-se pelas leis 5.553/68 alterada pela lei 9.453/97, 12.037/2009 e identificação passou a ser considerado parte essencial da autóp-
9.455/97. sia forense. Métodos rotineiros incluem reconhecimento visual de
vestimentas, de objetos pessoais e de impressões digitais, análises
A IDENTIFICAÇÃO E O CONSTRANGIMENTO: de DNA, bem como investigação médica, esquelética, sorológica,
Apesar de ser um método invasivo quando necessário é não de cabelos e dentes, peculiaridades morfológicas da dentição entre
saudável para ninguém em caso de dúvida ser conduzido muitas outros.
vezes embaixo de vara a uma delegacia de polícia para melhor A identificação forense do vivo ou falecido pode ser um traba-
identificação, o simples meio é constrangedor por sí só, porém algo lho árduo, mas é abrangente, envolvendo os esforços coordena-
necessário para que o próprio agente público não cometa o equí- dos de uma equipe multidisciplinar, empregando diversas técnicas
voco de liberar alguém que se mascara por trás de um documento e métodos acessórios. Os meios de identificação primários e mais
inválido ou duvidoso. confiáveis são a análise de impressões digitais, a análise odontoló-
Logicamente na lei 12.037/2009 não encontramos em seu tex- gica comparativa e estudo do perfil de DNA. Os meios secundários
to legal qualquer sanção administrativa, cível ou penal ao agente de identificação incluem a descrição pessoal, os dados médicos, as-
que submete o indivíduo a identificação desnecessária, mas nada sim como as evidências e roupas encontradas no corpo. Estes ser-
impede de que se processe por outras vias um eventual abuso de vem para reforçar a identificação estabelecida por outros meios, e
autoridade ou outra sanção a cargo da instituição que o agente geralmente por si só não são suficientes para certificá-la.
pertencer, porém deve-se ter em mente o princípio da supremacia
4Fonte: www.thiagochiminazzo.jusbrasil.com.br
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Quanto à escolha do método de identificação humana, deve Cada vez mais a necropapiloscopia tem ganhado importância,
sempre prevalecer o bom senso investigativo. O importante a con- pois traz resultados positivos e conclusivos de forma mais célere,
siderar nesse momento é o estado do cadáver (putrefeito? carbo- sendo, portanto, um eficiente método primário de identificação,
nizado? esqueletizado? mumificado?) e o custo, a praticidade e a inclusive nos acidentes de massa.
viabilidade do método possível. Os principais métodos de identi-
ficação humana possuem vantagens e limitações, dependendo do Análise de DNA
caso, eles podem se complementar ou reforçar um ao outro. No A revolução causada em 1953 por Watson e Crick, que des-
entanto, todos os métodos de identificação, isolados ou combina- cobriram a estrutura de dupla hélice do DNA, levou a mudanças
dos entre si, têm o objetivo de, através dos dados obtidos e devida- importantes em quase todos os campos da ciência. Esta descoberta
mente tabulados, viabilizar o processo de identificação. O objetivo foi a base para o desenvolvimento de técnicas que permitem ca-
é tão só a busca da verdade real. racterizar a individualidade de cada pessoa com base na sequência
de DNA.
Odontologia Legal A análise do DNA é única na sua habilidade de fornecer infor-
Um dentista forense carrega uma responsabilidade conside- mações de identidade a partir de qualquer tipo de tecido, como
rável, uma vez que, com frequência, sua opinião científica faz-se tecido ósseo, bulbo capilar, amostra de biópsia, saliva, sangue e ou-
necessária quando todos os outros caminhos de identificação se es- tros, podendo variar em quantidade e qualidade do DNA extraído
gotaram. Em muitos casos, os dentes são os únicos restos humanos de cada tecido.
preservados, representando o único meio de identificação, e nesse Este método requer uma amostra ou fonte, podendo utilizar-
caso, o processo final pode depender da correspondência odonto- -se perfis de familiares ou amostras extraídas da própria vítima ou
lógica específica dos dados dentários ante mortem e post mortem. de seus objetos de uso pessoal; trata-se do único método de iden-
As estruturas e traços únicos dos dentes humanos e maxilares tificação primário independente da comparação direta (impressões
prontamente se prestam para a identificação de vítimas vivas ou fa- digitais e arquivos dentais).
lecidas. Os dados odontológicos podem ser recuperados e registra- As técnicas de análise de DNA também podem ser usadas em
dos no momento do exame post mortem e comparados aos dados combinação com outros métodos utilizados na identificação de ví-
ante mortem fornecidos por dentistas generalistas e / ou especialis- timas, sendo essa associação crucial em acidentes em que a frag-
tas que trataram a vítima durante a vida. Os dentes estão bem pro- mentação corpórea é severa.5
tegidos na cavidade oral e são capazes de suportar muitas influên-
cias externas, próximas ou algum tempo após a morte, mantendo
as características dentárias acessíveis, tais como aquelas oriundas
LESÕES E MORTES POR AÇÃO CONTUNDENTE, POR AR‐
de procedimentos odontológicos, como coroas restaurativas e es-
MAS BRANCAS E POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO
téticas, tratamentos de canal radicular e próteses dentárias, todas
COMUNS E DE ALTA ENERGIA
feitas sob medida para cada indivíduo, além de traços anatômicos
e morfológicos quando não houve o tratamento, mas que também
servem para comparação com a finalidade de identificação.
Além de oferecer meios de comparação para o processo inves- Lesões e mortes por ação contundente
tigativo, a cavidade oral é uma fonte rica e não-invasiva de DNA, Instrumento contundente é todo objeto rombo, capaz de agir
podendo ser usada para identificação de indivíduos através da traumaticamente sobre o organismo.
comparação genética. A ação causadora da lesão contusa pode ser por pressão, por
deslizamento ou ambas. A regra é a causação por instrumento duro
Necropapiloscopia e rombo, como é o caso de paus, pedras, barras de ferro etc.
O termo papiloscopia é relativo à “papila” e, erroneamente, se Vale consignar que, excepcionalmente, a água e o ar podem
refere às estruturas responsáveis pela formação dos desenhos ca- causar lesões contundentes. Não é incomum pessoas terem lesões,
racterísticos nas superfícies palmares e plantares. Essas estruturas, muitas delas graves, derivadas de mergulhos, cujo choque com a
corretamente denominadas de cristas de fricção, estão presentes água vem a causar danos. A água funciona como um verdadeiro
na superfície da pele e são formadas por dobras de tecido epitelial. “muro” em que a pessoa se choca, a depender de velocidade, al-
A datiloscopia aplicada para a identificação post mortem é denomi- tura, incidência etc. O deslocamento abrupto de ar, causado por
nada no Brasil de necropapiloscopia. explosões, também pode causar lesões contundentes.
Em 1903, o sistema Vucetich, baseado na Ciência Papiloscópi- Os instrumentos contundentes têm como seus maiores exem-
ca, ou seja, a partir da coleta, classificação e confronto de impres- plos, como já dissemos, paus, pedras, martelos, bastões, bengalas,
sões digitais, é adotado no Brasil, constituindo-se no método mais barras de ferro etc.
barato, seguro e prático de identificação humana reconhecido pela Também são contundentes as ações provocadas por chutes,
legislação brasileira. socos, cabeçadas ou outras formas de ataque e defesa usadas pelo
Os bancos de dados periciais civis e criminais dispensam a homem.
apresentação de padrões de comparação por terceiros, já que o re- Sabemos que outros podem ser os geradores dessas lesões,
gistro padrão encontra-se arquivado e disponível. Assim, a partir de como, por exemplo, os atropelamentos. Por fim, note-se que tam-
algoritmos formados pela disposição dos pontos característicos de bém pode funcionar como instrumento contundente uma super-
cada impressão e da identificação das regiões do delta e do núcleo, fície resistente contra a qual o corpo se choque (uma parede, o
tornou-se possível a pesquisa de forma automatizada por padrões chão), nas lesões passivas.
papiloscópicos.
Esse método de identificação pode ser aplicado buscando a
identificação de corpos cadavéricos nas mais variadas fases dos
fenômenos transformativos, sejam destrutivos, como autólise, pu-
trefação e maceração ou conservadores, como saponificação, mu-
mificação, corificação e petrificação.
5 Fonte: www.perspectivas.med.br
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Não deve ser esquecida, em momento algum, a classificação Quando a lesão atinge só a epiderme, temos a ruptura de vasos
quanto à atuação ativa ou passiva dos instrumentos. Reprisando, linfáticos, ficando a crosta amarelada. Na lesão que atinge a derme,
nas contusões ativas o instrumento vulnerante vem de encontro à a crosta já é pardo-avermelhada, pois a lesão atinge os vasos san-
superfície corpórea (ex.: um martelo que atinja o rosto da vítima); guíneos que passam na derme.
nas contusões passivas, a superfície corpórea (a vítima) vai de en- Havendo pressão acentuada no local, a lesão ficará apergami-
contro ao instrumento vulnerante (ex.: a pessoa se lança contra um nhada, tanto no vivo quanto no morto. Não havendo infecção (que
muro, a vítima cai e sua cabeça vai de encontro ao solo, ou, ainda, gera tom amarelado e purulento), a regeneração leva de 20 a 30
o indivíduo que despenca de um precipício). Também são chama- dias.
das de diretas (ativas) ou indiretas (passivas). Há a combinação de Pouco antes da morte ou após esta, não há tempo para a for-
ambas, as lesões mistas. mação da crosta. Forma-se apenas uma placa apergaminhada. Nos
Em geral, as lesões são classificadas também em leves (super- casos de comprometimento da derme, há resolução com formação
ficiais) ou profundas. de cicatriz.
Como já foi mencionado, a localização das lesões tem grande Segundo Roberto Blanco, é importante a observação da forma,
valor médico-legal, porque ajuda na elucidação da verdade. Lesões da localização e da evolução das escoriações, pois podem determi-
na face interna das coxas, nas nádegas: dão notícia, geralmente, de nar como foram produzidas, o motivo do seu aparecimento e a data
agressões sexuais, como estupro consumado ou tentado. em que foram produzidas.
Lesões semilunares no pescoço noticiam tentativa de esga-
nadura. Lesões no antebraço e nas mãos (principalmente nas pal- 3. EQUIMOSE – O agente vulnerandi age com maior intensi-
mas) podem ser as conhecidas lesões de defesa. Lesões de defesa, dade do que na rubefação, mas ainda se preserva a integridade e
diga-se logo, são aquelas resultantes do esforço da vítima em se a elasticidade da pele. Os vasos superficiais rompem-se, causando
defender. Por exemplo, ao tentar evitar uma agressão a facadas, extravasamento de sangue internamente, o qual fica entremeado
a vítima certamente terá lesões em suas mãos e braços. Roberto nas tramas teciduais. O fenômeno dá coloração à pele, em virtude
Blanco anota ainda as lesões de hesitação que, de acordo com ele, da transparência desta. A pele não se arrebenta, mas sim os vasos
são aquelas produzidas pela hesitação, incerteza da vítima em pro- abaixo dela.
duzir uma lesão fatal; são as lesões características de suicídio. Em resumo, equimoses são derrames sanguíneos nos quais o
A depender de inúmeros fatores, principalmente a forma e sangue extravasado se infiltra e coagula nas malhas dos tecidos do
força da agressão, existirão diversas modalidades de lesões com corpo.
repercussões e consequências diferentes, que devem ser estuda- As equimoses podem ser superficiais ou profundas. Há tam-
das de acordo com suas particularidades: rubefações, escoriações, bém as equimoses causadas pela emoção (equimoses emotivas).
equimoses, bossas e hematomas, feridas contusas, fraturas, luxa- A equimose à distância ocorre quando a lesão está em um lu-
ções, subluxações, roturas viscerais e esmagamentos. gar e a equimose, em outro. Isto acontece pela ação da gravidade
sobre o sangue.
1. RUBEFAÇÃO – Congestão de pouca intensidade. Ex.: uma bo- Saiba-se também que as equimoses profundas podem levar de
fetada de mão aberta. quatro a cinco dias para aparecer sob a pele.
Por desaparecer em pouco tempo (minutos ou horas), é pre- Espectro equimótico é a mudança da coloração da equimose,
ciso rapidez na efetivação do exame pericial para configurá-la em com o passar do tempo. O estudo da variação da cor da equimose
função do seu caráter fugaz. no processo de recuperação é útil para determinar a data aproxi-
mada da lesão. Foi observado primeiramente por Legrand du Saul-
Há, em grau menor, o eritema leigamente chamado de verme-
le, que emprestou seu nome ao fenômeno.
lhidão ou eritema traumático, que é a forma mais insignificante ou
Este fenômeno só ocorre nos vivos. Toma por base lesões de
branda de lesão.
tamanho médio. A mudança é causada pela decomposição do san-
Tanto é assim que os tribunais, em geral, sequer consideram
gue. O pigmento da hemácia (glóbulo vermelho) tem ferro, que é o
o eritema como ofensa à integridade física ou à saúde. Por vezes,
elemento cuja decomposição dá a variação cromática, ao longo do
nesse caso, punem a agressão como contravenção (vias de fato).
tempo e da recuperação tecidual. O fenômeno ocorre até haver a
Em um grau um pouco maior que o eritema traumático, en-
reabsorção completa do sangue extravasado pelo organismo.
contraremos a rubefação, que desaparece com cerca de seis a 24
As equimoses nas regiões conjuntival e da bolsa escrotal, por
horas, dependendo da área ou local atingido, da sua irrigação san- serem estas regiões densamente vascularizadas, não passam pelo
guínea e da intensidade da ação contundente. espectro equimótico. Normalmente, estas regiões ficam vermelhas
até a cura. O ex-diretor do IML, Iran Barbieri, apresenta a seguinte
2. ESCORIAÇÃO – O instrumento contundente age tangen- sequência: cor avermelhada (um a dois dias), cor azulada (três a
cialmente à superfície corpórea, produzindo o arrancamento da cinco dias), cor violácea (seis a oito dias), cor esverdeada (nove a 12
epiderme, deixando a derme descoberta. Em suma, é toda perda dias), cor amarelada (13 a 20 dias) e, após este prazo, volta a pele
epidérmica traumática. A epiderme é a primeira camada do tecido à coloração normal.
humano, ao passo que a derme é a segunda. Hélio Gomes dá a seguinte sequência na coloração: vermelho-
Entre a epiderme e a derme, encontramos a crista da papila, -escuro, violeta, negro, azul, verde, amarelo. Flamínio Fávero apre-
onde ficam os vasos sanguíneos, linfáticos e os terminais nervosos. senta uma quase igual: vermelho-escuro, roxo, violáceo, azul, verde
Nas escoriações, que são feridas contusas superficiais, não e amarelo. Devergie e Tourdes, embora com datações diferentes,
ocorre cicatrização, mas sim regeneração. A pele se regenera, de consignam a seguinte ordem: vermelho, violáceo, azulado, esver-
baixo para cima. No início deste processo, é possível determinar-se deado, amarelado. Os prazos, lembre-se, variam em consequência,
a data da lesão. principalmente, da extensão da equimose.
A crosta se forma com a substância que escorre da escoriação. É importante o conhecimento sobre como diferençar uma
Ela nos fornece dois importantes elementos de informação: sua cor equimose intra vitam de uma equimose post mortem. Naquela, o
e o seu deslocamento. Com o tempo, a crosta vai escurecendo e se sangue se coagula entre as malhas dos tecidos, existe infiltração
descolando, das bordas para o centro. leucocitária na região, verifica-se o índice de Verderau, há reação
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
inflamatória etc.; já na equimose post mortem, o sangue não se co- Flamínio Fávero difere a bossa do hematoma de forma diferen-
agula, não existe infiltração leucocitária, não há alteração do índice te. Para ele, as bossas são coleções pequenas e, os hematomas, as
de Verderau, não há reação inflamatória etc. coleções maiores.
Roberto Blanco anota os tipos especiais de equimoses. No entanto, discordamos porque a presença de uma bossa
a) Petéquias – equimoses puntiformes, como cabeças de alfi- depende fundamentalmente do local onde houve extravasamento
nete, frequentes nas mortes rápidas, septicemias, asfixias, coquelu- sanguíneo, e não da quantidade do mesmo.
che. Decorrem do aumento da permeabilidade dos vasos capilares Diferença entre equimose e hematoma. Na equimose, o san-
por hipoxia (diminuição do oxigênio) e/ou aumento da pressão nes- gue se infiltra nas malhas do tecido subcutâneo; no hematoma, o
tes vasos (hipertensão capilar). sangue se coleciona (aglomera) em determinado ponto, formando
b) Manchas equimóticas lenticulares de Tardieu – têm o tama- verdadeiras bolsas. No entanto, ambos podem ocorrer simultane-
nho de uma lentilha, sendo patognomônicas de asfixias mecânicas amente e aparecer aos olhos do examinador em períodos de dias
do tipo sufocação direta (patognomônicas vem de patognomonia, que se seguem.
que é o estudo dos sinais e/ou sintomas considerados característi- Hélio Gomes ensina que “algumas das indicações citadas a pro-
cos das doenças). pósito do valor médico-legal das escoriações podem aplicar-se aos
c) Manchas subpleurais de Paltauf – ocorre nos casos de afo- hematomas.”
gamento e insuficiência respiratória aguda. São extensas e de con-
tornos irregulares. 5. FERIDA CONTUSA – Aqui, o agente agressor promove a per-
d) Cianose cérvico-facial ou máscara equimótica de Morestin da da integralidade da pele ou vence a sua elasticidade. A integri-
– ocorre nos casos de compressão do tórax (sufocação indireta). dade tecidual da pele passa a não ser suficiente para mantê-la e a
A pressão do tórax mantém os vasos cervicais e faciais cheios de pele é rompida. As feridas contusas são lesões abertas. Esta arre-
sangue, causando o fenômeno. bentação atinge a derme (camada abaixo da epiderme ou pele) e
e) Equimoses perianais ou vulvo-vaginais – ocorrem como de- possui várias graduações, desde as lesões mais leves até as lesões
corrência de parasitoses locais e das alterações dermatológicas lácerocontundentes.
provenientes da coceira ou prurido, que obrigam o seu portador A graduação varia de acordo com a profundidade atingida pela
a coçar e arranhar a região, sobretudo em infecções, comuns no lesão e, portanto, da dimensão da ação contundente aplicada. As
Brasil, pelo verme oxiúros. lesões lácerocontundentes são as mais graves, uma vez que podem
Não confundir com aquelas causadas por atos libidinosos. atingir e comprometer os músculos, os tendões e até as articula-
f ) Mobilidade equimótica – noticiam-se aqui as equimoses que ções. Além disso, podem gerar prejuízos funcionais ou estéticos, já
se deslocam do ponto de contusão para regiões mais afastadas e as que a derme é atingida e a resolução tecidual se dá por cicatrização,
equimoses profundas, que só se fazem visíveis com quatro a cinco com consequências penais (art. 129, e §§, do CP).
dias. Características das feridas contusas. As feridas contusas apre-
g) Equimose retrofaringeana de Brouardel – indica constrição sentam bordos de ângulos irregulares, com feridas escoriadas ou
do pescoço (compressão da faringe contra a coluna vertebral). equimosadas. Os tecidos apresentam traves de tecido íntegro e de
h) Equimose nos tecidos moles subjacentes à pele do pescoço – tecido ferido. O fundo da lesão é “sujo”, isto é, desigual, irregular,
indica agressão, por estrangulamento, enforcamento, esganadura com traves de tecido são e traves de tecido lesionado.
ou mera contusão local. A pele próxima ao ferimento se descola. São feridas de cicatri-
i) Equimoses de etiologia não mecânica – devem-se diferenciar zação difícil.
as equimoses decorrentes de trauma mecânico ou psíquico e as A ferida contusa é o contrário da ferida incisa, que é aquela
chamadas equimoses espontâneas. As equimoses não traumáticas feita por instrumento cortante, que fica com a cicatrização “certa”
são chamadas de púrpura e decorrem de entidades mórbidas que (ex.: feita por faca, lâmina de barbear). O corte feito com bisturi é
evoluem deixando manchas arroxeadas (equimoses) pelo corpo. denominado por alguns lesão cirúrgica
j) Equimose à distância – equimoses que surgem em pontos A diferença entre lesões/feridas contusas e incisas é constan-
completamente diferentes do local onde ocorreu a lesão. Podem temente objeto de questionamento em concursos.
decorrer dos efeitos sistêmicos que o trauma exerce no organismo
ou do escoamento de sangue, em razão da força da gravidade.
6. FRATURAS – Correspondem a uma solução de continuidade
Roberto Blanco classifica, ainda, como tipos especiais de equi-
dos ossos. Podem ser diretas ou indiretas, fechadas ou abertas, co-
mose, os hematomas e as bossas sanguíneas (o material que se
minutivas (ou fragmentadas) etc. É direta quando o trauma atinge o
acumula na cavidade neoformada é o sangue) e serosa (o material
local fraturado, e indireta em caso contrário. A fratura fechada não
que se acumula na cavidade é a linfa extravasada).
se comunica com o exterior do corpo e a aberta é aquela em que
a ferida permite ver o foco da fratura (ex.: numa ferida contusa ou
4. HEMATOMA – Aqui, a pele resiste pela sua elasticidade, mas
cortocontusa). Fratura exposta é aquela em que os fragmentos ós-
os vasos (artérias e veias) mais calibrosos, que estão em camadas
seos extrapolam os limites do corpo da vítima. Fratura cominutiva é
abaixo da mesma, podem se romper, resultando em extravasamen-
aquela em que fragmentos ósseos ficam isolados do osso fraturado.
to de sangue para o tecido subcutâneo. Como o sangue não conse-
gue se espalhar por todos os tecidos moles, permanece agrupado As fraturas podem ser classificadas, ainda, como traumáticas
(colecionado), formando o hematoma. Em suma, os hematomas ou verdadeiras. Existem fraturas causadas pelo próprio peso do
são coleções sanguíneas produzidas pelo sangue derramado. corpo da vítima, por patologias ou esforço imoderado. Aqui, temos
A bossa ocorre quando o hematoma faz protrusão na pele. Isto as fraturas espontâneas ou patológicas, que devemos exemplificar
ocorre na hipótese de a lesão estar sobre região óssea (ex.: canela, com uma situação bastante comum e litigante com os idosos. A
testa) e abaixo de pele com pouco tecido mole na circunvizinhança. fratura patológica do colo do fêmur é geralmente decorrente de
O sangue, sem poder “empurrar” a pele e os tecidos subjacentes osteoporose (porosidade óssea por desmineralização ou perda de
para os lados e para baixo, pressiona a própria pele para cima. São cálcio pelo osso, comum no envelhecimento, principalmente entre
os famosos “galos”. idosos que não ingerem cálcio suficiente e que não se exercitam

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
regularmente) e acarreta a queda aparentemente espontânea do 10. Lesões produzidas por artefatos explosivos – “Chama-se de
idoso. Tanto este como sua família frequentemente interpretam a explosão um mecanismo produzido pela transformação química de
fratura como consequência da queda, e não como deve ser encara- determinadas substâncias que, de forma violenta e brusca, produz
da, sendo a queda a consequência de uma fratura. Aqui, o simples uma quantidade excessiva de gases com capacidade de causar ma-
fato de o idoso se virar para olhar para trás ou se levantar mais lefícios à vida ou à saúde de um ou de vários indivíduos. (...) As
rapidamente pode ocasionar a fratura e a queda consequente. De lesões produzidas por esses artefatos podem ser por ação mecâni-
acordo com Roberto Blanco, as fraturas podem ocorrer pela com- ca e por ação da onda explosiva. As primeiras são provenientes do
pressão, flexão ou torção. material que compõe o artefato e dos escombros que atingem as
vítimas. As outras são decorrentes das ondas de pressão e sucção,
7. LUXAÇÃO – É a perda definitiva (mas não irreversível) de que compõem a chamada síndrome explosiva ou blast injury.
contato entre as superfícies articulares, e segue-se, via de regra, de A blast injury é um conjunto de manifestações violentas e pro-
rotura de ligamentos. Esta perda pode ser transitória, com o retor- duzida pela expansão gasosa de uma explosão potente, acompa-
no da articulação e suas superfícies ao seu sítio anatômico normal, nhada de uma onda de pressão ou de choque que se desloca brusca
mas deve ser lembrado que, apesar disto, as lesões ligamentares e rapidamente numa velocidade muito grande, a pouca distância
que permitiram a ocorrência da luxação permanecem e devem ser da vítima e, mais grave, em locais fechados.
lembradas e citadas na caracterização da gravidade da lesão para Segundo William, essa força, para produzir lesões no homem,
efeito de pena. deve ser no mínimo de 3 libras por polegada quadrada.
Como exemplos, citamos a luxação de quadril, ombro, joelho As lesões provocadas pela expansão gasosa atingem diversos
órgãos e se caracterizam de acordo com a sua forma, disposição e
e mandíbula. Nesses casos, será comum a ocorrência repetida da
consistência. A lesão mais comum é a rotura do tímpano”.
luxação até que a mesma seja corrigida cirurgicamente. As sublu-
xações também podem ocorrer e não representam perda definitiva
11. Encravamento – “É uma modalidade de ferimento produzi-
das superfícies articulares, mas sim parciais e, consequentemente,
da pela penetração de um objeto afiado e consistente, em qualquer
com menores sequelas funcionais e médico-legais. parte do corpo”. Quase sempre é acidental.
8. ROTURA VISCERAL – O traumatismo, aqui, atinge as vísceras; 12. Empalamento – Forma especial de encravamento. “Carac-
ocorre ruptura dos órgãos internos. As vísceras maciças e mais frá- teriza-se pela penetração de um objeto de grande eixo longitudinal,
geis irão se romper. Ex.: o baço, o fígado. na maioria das vezes consistente e delgado, no ânus ou na região
A ruptura visceral pode ser gerada pela ação de onda de expan- perianal. As lesões são sempre múltiplas e variadas, sua profun-
são gasosa e onda de vácuo (sucção), causadas, sequencialmente, didade varia de acordo com o impacto e as dimensões do objeto
por explosão (BLAST), ou seja, situações que provoquem grande contusivo.”
pressão no organismo. É importante notar que pode haver roturas
parciais, que aparentemente não provocam alterações na vítima 13. A tropelamento ferroviário – Ocorre a redução do corpo a
até terem decorrido várias horas, quando os sintomas decorrentes diversos e irregulares fragmentos conhecidos como espostejamen-
do extravasamento interno de sangue e/ou do conteúdo visceral to.
começam a provocar sintomas e sinais no organismo. Logo, nem “Nos casos de suicídio, em geral se observa a secção transver-
sempre uma rotura visceral, de um baço, por exemplo, após um sal do corpo ao nível do pescoço ou do abdome. Nos acidentes, é
golpe ou trauma direto causado por outro agente, pode se mani- mais comum a secção das pernas. Em ambas as situações, o que
festar durante as primeiras 12 horas do mecanismo causador da chama a atenção é a presença acentuada das reações vitais das le-
agressão. sões como manchas equimóticas, infiltrados hemorrágicos dos te-
cidos e placas de sangue coagulado.
9. ESMAGAMENTO – Se atinge a maior parte da superfície cor- Nos atropelamentos post mortem para dissimular homicídio,
poral, pode representar uma das lesões mais graves, causadas por nota-se um grande número de lesões sem reação vital e apenas se
ação contundente. Consiste na compressão completa e destrutiva veem tais reações nas lesões produzidas dolosamente. Por fim, nas
do corpo, resultando da forte pressão apenas uma massa amorfa. situações de dissimulação de morte natural, por vezes para adquirir
Deve-se ressaltar a importância médico-legal e trabalhista das le- vantagens de seguro, observam-se vestes manchadas de sangue e
sões por esmagamento parcial ou setorizado. Por vezes, o esma- todas as lesões sem qualquer manifestação de reação vital”.
gamento do dedo polegar destrói a capacidade que o homem tem
14. Lesões por precipitação – “Pele intacta ou pouco afetada,
de fazer a apreensão de objetos, o que, para alguns, pode significar
roturas internas e graves das víceras maciças e fraturas ósseas de
toda sua capacidade de trabalho ou lazer.
características variáveis”.6
Deve–se conhecer a definição de síndrome de esmagamento
ou de CRUSH. Lesões por armas brancas
É o conjunto de sinais e sintomas que caracterizam as conse- A “arma branca” mais comummente utilizada é a tradicional
quências deletérias, causadas pela compressão do corpo por lon- faca de cozinha (Daéid, Cassidy, & McHugh, 2008) (Hainsworth,
go período, liberando produtos tóxicos (mioglobina, ureia etc.), os Delaney, & Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A maioria das
quais atacarão principalmente os rins e, geralmente, são fatais. É mortes, que são atribuídas a facadas, é causada por objectos cuja
importante então que, diante de situações de esmagamento de ex- função principal não é a de uma arma ofensiva (Daéid, Cassidy, &
tremidades, como braços e pernas, aplique-se imediatamente um McHugh, 2008).
garrote ou torniquete, para impedir que a mioglobina tenha acesso
à corrente sanguínea e ocorram suas consequências. A mioglobina
é o pigmento muscular liberado quando a fibra é esmagada e ento-
pe os túbulos renais, impedindo a filtração do sangue e levando à
morte por insuficiência renal aguda.
6 Fonte: www.impetus.com.br
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Daí que para caracterizar as lesões corporais infligidas por arma branca, baseamo-nos na definição actual: “todo o objecto ou instru-
mento portátil dotado de uma lâmina ou outra superfície cortante, perfurante, ou corto-contundente…”. Portanto, não podemos assumir
que quando se fala de arma branca, se destina apenas a descrever lesões provocadas por facas.
As armas brancas, assim como outros objectos lançados manualmente, são considerados portadores de baixa energia. Causam lesões
pela sua superfície cortante, pela sua ponta ou por ambas (Calabuig, 2005). No entanto, algumas armas brancas além de causar lesões ao
longo do seu trajecto, podem originar, ocasionalmente, lesões secundárias em redor (Carvalho, 2005).
De acordo com lei e com o mecanismo de acção, as armas brancas podem causar quatro tipos distintos de lesões, que se denominam
respectivamente, feridas incisas, feridas perfurantes, feridas perfuro-incisas e por último feridas corto-contundentes.
Estas armas têm, normalmente, lâminas planas, semelhantes às facas de cozinha, canivetes ou navalhas com comprimento entre os
dez e os treze centímetros (DiMaio & DiMaio, 2001).
Uma faca é composta por duas secções fundamentais: a lâmina (ver a figura 3A) e o punho (ver a figura 3B). São diversas as partes
que as constituem (ver a figura 3).

Figura 3- Partes constituintes de uma faca A - Lâmina B – Punho Fonte: http://www.armabranca.com/2009/10/16/a-anatomia-da-


-faca/

LESÕES INCISAS
As lesões incisas, normalmente, não são fatais (DiMaio & DiMaio, 2001). A maior parte das vítimas, dão entrada habitualmente em
serviços de urgência e são tratadas com alguns pontos de sutura, não acarretando grandes cuidados de saúde. Resultam cicatrizes finas e
de aspecto linear (DiMaio & DiMaio, 2001).
Na terminologia utilizada pelos vários autores, este tipo de lesão por mecanismo de ação cortante, pode ter diferentes denomina-
ções, lesões cortantes ou lesões incisas (DiMaio & DiMaio, 2001).
A utilização do termo lesão incisa, deriva do resultado da incisão verificada numa intervenção cirúrgica (França, 2008) (Jorge & Dan-
tas, 2003). O termo lesão cortante está relacionado com a ação do instrumento utilizado (Martins, 2005). Assim, a lesão resultante de
qualquer instrumento de ação cortante, é denominada incisa (Martins, 2005)(Saukko & Knight, 2004).
A faca é um exemplo clássico de instrumento cortante, que provoca lesões incisas. Co-existem outro tipo de instrumentos que pos-
suem também uma aresta cortante (como um pedaço de vidro, papel ou metal), que são capazes de provocar o mesmo tipo de ferimento
(DiMaio & DiMaio, 2001).
As feridas incisas são, em geral, mais compridas do que profundas (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001)
(Aguiar, 1958). Este facto encontra explicação na ação deslizante do instrumento, na extensão usual do gume, no movimento “em arco”
exercido pelo braço do agressor e nas curvaturas das muitas regiões ou segmentos do corpo. No entanto, a extensão da ferida é quase
sempre menor da que realmente foi produzida, pela elasticidade da pele e pela retração dos tecidos moles lesados. Nas regiões onde es-
ses tecidos estão mais ou menos fixos, como por exemplo, nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, essas dimensões são teoricamente
iguais (França, 2008) (Aguiar, 1958).
A forma linear das feridas incisas deve-se à ação cortante por deslizamento empregue pelo instrumento. Quando o instrumento
atua perpendicularmente à pele, no sentido das fibras musculares, a ferida conserva-se linear, retilínea e com bordos aproximados. Se o
instrumento percorre os tecidos moles num sentido transversal às fibras musculares, a ferida assume uma forma ovalar ou elíptica com
considerável afastamento dos bordos. Possuem as paredes lisas e regulares (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958).

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A regularidade dos bordos das feridas, bem como a regularida-
de do fundo da lesão são devidas ao gume mais o menos afiado do
instrumento utilizado. Os bordos das feridas são, geralmente retilí-
neos, pela ação de deslizamento. As feridas podem apresentar-se
curvas ou em “zig-zag” (ver a figura 4A), ou com aspecto interrom-
pido pelo enrugamento momentâneo ou permanente da região
atingida (ver a figura 4B). No entanto, a regularidades dos bordos
das feridas é mantida (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (DiMaio &
DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958).
A ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida é outra
característica díspar. É raro observar-se escoriações, feridas contu-
sas ou equimoses nos bordos ou à volta da ferida devido à ação rá-
pida e deslizante do instrumento e ainda, pelo fio de gume afiado,
que não permite uma forma de pressão muito intensa sobre os te-
cidos lesados. Também não se observam pontes de tecido íntegro a Figura 5 - Vertente angular das feridas incisas Fonte: Payne-Ja-
unir as vertentes da ferida (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (DiMaio mes, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005). Injury assesment, docu-
& DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958). mentation, and interpretation. In M. M. Stark, Clinical Forensic Me-
dicine, Second Edition A Physician’s Guide (pp. 127-158). Totowa:
Humana Press.
Por norma, o instrumento cortante deixa no final da lesão, e
apenas na epiderme, uma pequena escoriação, chamada cauda de
escoriação. Ao determinar-se cauda de escoriação, subentende-se
que é a parte final da acção que provocou a lesão (França, 2008)
(Saukko & Knight, 2004).
Por outro lado, outros autores, consideram que cauda de es-
coriação é consequente do contato inicial do instrumento com a
epiderme e pode ocorrer na entrada, na saída ou na entrada e na
saída do instrumento (Wolfbert, 2003)(Aguiar, 1958).
Contudo, poderemos estar perante um pleonasmo, visto que
caudal é o término, sinónimo de terminal, fim ou saída, e não início
da ação ou entrada. Este elemento tem grande importância na de-
terminação da direção do ferimento, no tipo de crime e na posição
do agressor, elementos fundamentais no diagnóstico diferencial
entre homicídio, suicídio e acidente (França, 2008) (Aguiar, 1958).
A profundidade da ferida é mais superficial no início e no fim
Figura 4 - Bordos das feridas incisas sobre pregas cutâneas (Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001)(Aguiar, 1958). O centro
A - Ferida em “zig-zag” B - Ferida interrompida Fonte: Aguiar, A. da ferida é mais profunda, dado ao deslizamento do instrumento e
(1958). Medicina Legal: Traumatologia Forense. Lisboa: Empresa direção semicurva reflexa do braço do agressor ou pela curvatura
Universidade Editora. da região corporal atingida (ver a figura 6). No entanto, esta profun-
didade raramente é acentuada. O prognóstico desses ferimentos
Nas feridas incisas, normalmente, a hemorragia é abundante. é de pouca gravidade, a não ser que sejam profundos e venham a
Quanto mais reduzida for a espessura do instrumento e mais afiado atingir grandes vasos, nervos, e até mesmo órgãos (França, 2008).
o gume, maior a profundidade da lesão e a maior riqueza vascular
da região atingida, mais abundante será a hemorragia. A hemorra-
gia deve-se à maior retração dos tecidos superficiais e à fácil secção
dos vasos, que, não sofrendo hemostasia traumática, deixam os
seus orifícios naturalmente permeáveis. A distância entre os bor-
dos da ferida relaciona-se com a elasticidade e a tonicidade dos
tecidos (França, 2008) (Wolfbert, 2003).
A distância é maior onde os tecidos cutâneos são mais tensos
pela ação muscular, como no pescoço, e, ao contrário, como na pal-
ma das mãos e na planta dos pés, onde estas tensões não são tão
evidentes (França, 2008).
Como a elasticidade e a retração dos tecidos moles são dife-
rentes nos diversos planos corporais, mais acentuados à superfície
do que na fáscia subjacente, as vertentes da ferida são cortadas
obliquamente (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958).
Apresentam perfil de corte de aspecto angular, de abertura Figura 6 - Vista lateral e superior de uma lesão incisa Fonte:
para fora, ou seja, bem afastadas da superfície e o seu término em http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm
ângulo agudo, em forma de V quando o instrumento atua de forma
perpendicular (ver a figura 5). Quando o instrumento atua em sen-
tido oblíquo, ou em forma de bisel, não apresenta término em face
angular (França, 2008).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Existem algumas exceções relativas as extremidades e profun- Contudo, existe alguma relação entre a lesão e o tipo de ins-
didade das feridas cortantes, entre elas (Aguiar, 1958): trumento utilizado, estado e número de gumes e a maneira de sua
- Se um instrumento atuar em qualquer direção sobre uma re- aplicação (Aguiar, 1958).
gião corporal curva (joelhos, região glútea), a lesão resultante terá No caso de existir uma série de feridas incisas que se cruzem, é
as duas extremidades ou cauda de escoriação, ou seja, dois traços importante conhecer a ordem de entrada do instrumento na pele,
escoriados na superfície da epiderme. a fim de relacionar com a possível direção do instrumento. Como a
- Se um instrumento atuar perpendicularmente e transversal- segunda lesão foi produzida sobre a primeira, os bordos, já afasta-
mente sobre uma região corporal de forma cilíndrica ou semi-cilín- dos, cooptando-se as margens de uma das feridas, sendo ela a pri-
drica (braço, perna, dedo, dorso pé, dorso da mão, dorso do nariz), meira a ser produzida, a outra não segue um trajeto em linha reta,
a lesão resultante terá as duas extremidades com características de chamado Sinal de Chavigny (ver a figura 7) (França, 2008) (Aguiar,
cauda de escoriação. 1958).
- Se o instrumento abordar uma região corporal encurvada
na direção oblíqua ou transversa à curvatura percorrendo tecidos
moles até encontrar algo que o detenha (ossos, dentes), a lesão
resultante terá as extremidades invertidas, ou seja, a extremidade
inicial com aspecto de cauda e a extremidade final talhada a pique.
- Caso do instrumento atue com violência sobre regiões corpo-
rais convexas, percorrendo a pele sobre tecido ósseo, em direção a
um dos seus bordos, até encontrar uma camada de tecidos moles
(omoplata). A lesão resultante terá a extremidade inicial com carac-
terísticas de cauda e a extremidade final talhada a pique e profun-
da, dado a repentina falta de apoio ósseo.
- Se o instrumento atuar com obstinação nos tecidos moles
poucos consistentes até atingir uma abertura natural (boca, nari-
na), a lesão resultante terá a extremidade inicial com aspecto da
cauda, e a extremidade final espessa e profunda.
Embora os “cortes” nos tecidos, sejam a forma mais comum
deste tipo de lesões, existe um conjunto suis generis de ferimentos,
que está associado a formas mais violentas, com nomenclatura e
propriedades específicas:
- Esquartejamento, caracteriza-se pela divisão do corpo em
partes (França, 2008) (Wolfbert, 2003); Espostejamento, despede- Figura 7 – Ordem das feridas. Sinal de Chavigny Fonte: http://
çamento, seccionamento ou esquartejamento, os dois primeiros www.malthus.com.br
preferíveis a este último que, à letra significa divisão em quatro
(Pinto da Costa, 2004). Juridicamente a avaliação das feridas incisas, pode ser um
- Decapitação, quando há separação da cabeça do tronco. Em- dado de exclusão ou inclusão, num possível crime, daí a sua descri-
bora, possa também ser oriunda de outros tipos de instrumentos, ção pormenorizada ser essencial à investigação forense.
para além dos cortantes (França, 2008) (Wolfbert, 2003);
- Esgorjamento é representado pela presença de uma longa LESÕES PERFURANTES
ferida transversal na face anterior do pescoço, com significativa A força implicada na agressão, capaz de perfurar a pele, depen-
profundidade, lesando não só os tecidos subcutâneos como tam- de da configuração e a agudeza da ponta do instrumento. Quan-
bém estruturas internas (França, 2008) (Wolfbert, 2003); Quando a to mais pontiaguda for a ponta, menos força é necessária aplicar,
lesão se encontra na face posterior do pescoço denomina-se, dego- logo, mais fácil de penetrar na pele (DiMaio & DiMaio, 2001). Uma
lamento (Wolfbert, 2003). vez entrada a ponta, mais facilmente todo instrumento penetra-
- Haraquiri são feridas profundas da parede abdominal, as le- rá na pele e tecidos adjacentes com pouca força aplicada, a não
sões resultantes deste ritual são as grandes hemorragias, eviscera- ser que encontre uma estrutura sólida, como um osso ou dente
ções e eventrações (França, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001).
O diagnóstico das feridas produzidas por ação cortante é relati- Pregos, florete, estiletes e furador de gelos são exemplos de
vamente fácil. No entanto, a dificuldade encontrada prende-se com instrumentos mais comuns neste tipo de lesões. (Calabuig, 2005)
a distinção dos mais diversos instrumentos, porventura, utilizados A dimensão e tipo de instrumento são essenciais para a
(França, 2008) (Lynch, 2006) (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, compreensão das lesões, bem como para a investigação criminal
1958). Distintos instrumentos podem provocar lesões com carac- (Saukko & Knight, 2004). As características das lesões perfurantes
terísticas semelhantes. devem ser precisas no que respeita à abertura e ao trajecto. A aber-
Por exemplo, um corte na pele com sete vírgula seis centíme- tura da lesão não depende apenas da dimensão e forma do instru-
tros de comprimento pode ter sido provocado por uma lâmina de mento, mas também depende da região anatómica e propriedades
quinze vírgula seis centímetros, uma lâmina de cinco vírgula um da pele atingida (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio &
centímetros, uma lâmina de barbear, uma navalha, ou até mesmo DiMaio, 2001).
por um pedaço de vidro (DiMaio & DiMaio, 2001). O orifício de entrada da lesão pode ter várias configurações, de
É também difícil de assegurar a quantidade de força aplicada acordo com o tipo de instrumento utilizado e a região anatómica
no instrumento para produzir a lesão, visto que depende direta- atingida (Aguiar, 1958).
mente da configuração e forma afiada do instrumento, bem como A superfície de secção tem uma configuração variável consoan-
da resistência, quando existe, da roupa da vítima (Lynch, 2006). te a forma do instrumento, e por outro lado, conforme a disposição
das linhas de Langer.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A configuração do ferimento permite presumir a da secção transversal do instrumento perfurante. Devido à elasticidade da pele, os
bordos da lesão tendem a ser mais curvilíneos que os bordos da secção do instrumento (ver a figura 8) (Calabuig, 2005).

Figura 8 – Configurações de lesões por instrumentos perfurantes Adaptado: Calabuig, G. (2005). Medicina Legal e Toxicologia. Barce-
lona, 6ª Edição: Masson.

Se o instrumento perfurante é cilíndrico – cónico ou cónico, de ponta aguçada, o orifício produzido é punctiforme, circular ou linear;
se tem ponta romba, o orifício originado apresenta forma irregular (Aguiar, 1958).
O orifício de saída, quando existe, é muito parecido ao da entrada, no entanto, tem os bordos invertidos (França, 2008).
Quando o instrumento perfurante penetra a pele, a forma das lesões assume um aspecto diferente, obedecendo às Leis de Filhos e
Langer (França, 2008) (Calabuig, 2005) (Wolfbert, 2003):
- Primeira Lei de Filhos: As soluções de continuidade dessas feridas, quando é retirado o instrumento, assemelham-se às produzidas
por instrumentos de dois gumes ou tomam a aparência de “casa botão” ou botoeira;
- Segunda Lei de Filhos: Quando essas feridas se mostram numa região onde as linhas de força tenham um só sentido, o seu maior
eixo tem sempre a mesma direção;
- Lei de Langer: Quando um instrumento perfurante lesa um ponto ou uma zona de convergência de diferentes sistemas de fibras
elásticas com direção divergente, a extremidade da lesão assume o aspecto da ponta de seta, de triângulo ou mesmo de quadrilátero.
As feridas produzidas por instrumentos perfurantes, de acordo com a região atingida, tomam as seguintes direções (França, 2008):
- Pescoço: Linha média: no sentido dos músculos hióides; Face lateral: no sentido do músculo esternocleidomastoídeo; Face poste-
rior: no sentido do músculo trapézio.
-Tórax: Face antero-lateral: no sentido dos feixes do músculo peitoral maior ou no sentido do músculo serrátil maior; Face posterior:
no sentido do músculo romboíde.
- Abdómen: Linha média: no sentido dos músculos retos abdominais; Face antero-lateral: no sentido dos feixes do músculo oblíquo
maior; Face posterior: no sentido dos feixes do músculo transverso.
- Membro superior: Face anterior: Braço - no sentido dos feixes do músculo bicep braquial. Antebraço - no sentido dos feixes do
pronador redondo e do flexor radial do carpo; Face posterior: Braço - no sentido dos feixes do deltoíde; no sentido do tríceps braquial.
Antebraço - no sentido dos feixes do músculo extensor dos dedos.
- Membro inferior: Face anterior: Coxa - no sentido dos feixes do músculo costureiro; no sentido dos feixes do músculo reto da perna.
Perna - no sentido dos feixes do músculo tibial anterior; Face posterior: Coxa - no sentido dos feixes dos músculos isqui-tibiais. Perna - no
sentido dos feixes do músculo gémeo.
- Região glútea: No sentido dos feixes do músculo grande glúteo.
O trajeto dependerá, no que diz respeito à sua profundidade, do tamanho do instrumento ou da pressão exercida pelo agressor.
No entanto, não se pode estabelecer o comprimento do meio perfurante pela profundidade da penetração, uma vez quem de nem
sempre é penetrado em toda a sua extensão e pode variar, essa profundidade, com a posição da vítima. Por outro lado, a profundidade da
penetração pode ser maior que o próprio comprimento do instrumento, quando atinge uma região onde haja depressibilidade dos tecidos
superficiais, como no abdómen. Lacassagne apelidou estas lesões de “feridas em harmónio” (França, 2008).
A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina Legal centra-se no facto de serem esses instrumentos inoculares de
infecção, pois as feridas produzidas, embora aparentemente pequenas, são profundas.
A gravidade destas lesões depende do carácter vital dos órgãos e estruturas atingidas ou da eventualidade de infecções supervenien-
tes.
A sua causa jurídica é, na maioria das vezes, homicida e, mais raramente, de origem acidental ou suicida (França, 2008).

LESÕES PERFURO-INCISAS
Estas lesões resultam sempre de um objeto suficientemente afiado e estreito, capaz de rasgar os tecidos cutâneos (Lynch, 2006).
A arma mais comumente utilizada na produção deste tipo de lesão é também a faca, em virtude da sua forma cortante e ponta agu-
çada (Lynch, 2006) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
Este tipo de lesão perfuro-incisa é descrito como o mais associado a homicídios (França, 2008) (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio &
DiMaio, 2001). Considerando que a maioria apenas causa lesões superficiais, atingindo a pele e tecido adiposo, tornam-se muitas vezes
fatais quanto penetram estruturas vitais (Saukko & Knight, 2004) (Jorge & Dantas, 2003) (Aguiar, 1958).
As lesões perfuro-incisas são capazes de refletir mais informação sobre o instrumento casuístico ou arma que a causou, pois objetos
redondos, deixam marcas arredondadas, objetos quadrados produzem uma lesão quadrada, etc., algo que não se verifica numa lesão
incisa (Lynch, 2006).
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A aparência de uma lesão originada por instrumentos perfuro- Se a pele é penetrada enquanto esticada ou estirada, resulta
-cortantes depende da forma (ver a figura 9) e força aplicada, e da uma lesão comprida e fina, enquanto que, quando os tecidos estão
parte do instrumento que é penetrada e/ou que entra em contato relaxados a ferida apresenta menores dimensões.
com a pele (DiMaio & DiMaio, 2001). As linhas de Langer influenciam o aspecto da lesão, pois estas
são aproximadamente iguais de indivíduo para indivíduo, o que tor-
na mais fácil estabelecer padrões de lesões.
Se uma lesão é provocada perpendicularmente a estas fibras,
o aspecto é uma fenda mais ou menos larga, pois as fibras elásti-
cas da pele esticam os bordos da ferida, separando-os (ver a figura
10A).
Se a lâmina penetrar paralelamente às linhas de Langer, a lesão
resultante é uma fenda fina e estreita, com pouco espaço entre os
bordos (ver a figura 10B). A elasticidade dos tecidos não produz
grande deformação no orifício de entrada e, com frequência é pos-
sível presumir a configuração do instrumento.

Figura 9 - Formas de lesões associadas aos diferentes instru-


mentos A – Elíptica B – “Cauda de peixe” C – Oval com contusão
Fonte: Payne-James, J., Crane, J., & Hinchliffe, J. A. (2005). Injury Figura 10 - Características do orifício de entrada em lesões
assesment, documentation, and interpretation. In M. M. Stark, produzidas pelo mesmo instrumento Adaptado: DiMaio, V. J., &
Clinical Forensic Medicine, Second Edition A Physician’s Guide (pp. DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC
127-158). Totowa: Humana Press. Press

A descrição das características da lesão depende da relação As lesões assumem forma de botoeira ou “casa botão”, quando
existente entre o tipo de arma utilizado, e particularidades da mes- infligidas por instrumentos de um gume, com uma fenda regular, e
ma, como o gume, o tipo de ponta e as suas dimensões, parale- quase linear, com um ângulo agudo (gume) e outro arredondado
lamente, a profundidade, a direção, a inclinação, os movimentos (costas) (França, 2008) (Aguiar, 1958) (Wolfbert, 2003). É caracte-
dentro dos tecidos, a extração da arma bem como as propriedades rístico de lesões provocadas por facas, canivetes, navalhas, pedaços
da pele nos diferentes locais anatómicos (Saukko & Knight, 2004) de vidro, etc. (ver a figura 11) (Aguiar, 1958).
(DiMaio & DiMaio, 2001).
Se o instrumento possui ponta e arestas, as lesões produzidas
diferenciam-se conforme a forma arredondada ou afiada das mes-
mas. Os instrumentos com arestas afiadas originam feridas em fen-
da ou rasgo com bordos ou irradiações de acordo como o número
de gumes. São tanto mais nítidos, quanto mais afiadas forem es-
tas arestas. Se os instrumentos possuem arestas rombas, resultam
feridas irregulares, acrescidas de pequenas lacerações em redor,
compatíveis com as arestas (Aguiar, 1958).
O tipo de fio de gume determina a aparência dos bordos das fe-
ridas: linear e recta, esfolada e macerada ou irregular e contundida.
Se o fio de gume é rombo, os bordos da ferida são incertos (DiMaio
& DiMaio, 2001).
Também é possível encontrar junto dos bordos da ferida, con- Figura 11 - Configuração da lesão produzida por lâmina com
tusões ou equimoses modeladas impressas pelo impacto do cabo um gume Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinafo-
da arma na pele (Lynch, 2006) (Hammer, Moynihan, & Pagliaro, rense.htm
2006) (Wolfbert, 2003).
Se uma lesão é provocada pela superfície plana de uma lâmina As lesões causadas por instrumentos de dois gumes apresen-
obliquamente, a ferida terá uma margem biselada de um lado e tam uma fenda de bordos iguais e ângulos agudos (ver a figura 12)
arredondada do outro, indicando a direção a partir do qual o instru- (França, 2008) (Wolfbert, 2003) (Aguiar, 1958). Os instrumentos
mento entrou (DiMaio & DiMaio, 2001). correlacionados são os punhais e as facas de dois gumes (Aguiar,
O orifício de entrada e o aspecto da lesão na pele é determina- 1958).
do não só pela forma da lâmina, mas também pelas propriedades
da pele e local anatómico (DiMaio & DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Deste modo, devido ao movimento nestas lesões, o compri-
mento da ferida pode ser igual, superior ou inferior à largura da
lâmina do instrumento (DiMaio & DiMaio, 2001).
Esta movimentação do instrumento ou da vítima, produz le-
sões em forma de L ou Y, chamadas também de ferimentos em
“cauda de andorinha” (ver a figura 15). O aspecto destas lesões
deve-se ao facto do agressor cravar a lâmina numa direção e, ao
retirá-la (possivelmente para desferir outro golpe), o fazer noutra
direção ou por, entretanto, a vítima se ter movido.

Figura 12 - Configuração da lesão produzida por lâmina com


dois gumes Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicina-
forense.htm

Os instrumentos de três gumes originam feridas com forma


triangular ou estrelada (ver a figura 13) (França, 2008) (Wolfbert,
2003).

Figura 15 - Lesão característica em “cauda de andorinha”


Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology.
Nova York - 2 Edição: CRC Press

Uma primeira lesão é causada pela penetração da lâmina, e


uma segunda pelo movimento da vítima ou de retirada do instru-
mento. Uma variação desta lesão é observada na extremidade da
lesão, quando o instrumento é apenas ligeiramente rodado, ou o
movimento da vítima é discreto, ganhando a forma de um V inver-
tido ou bifurcado (ver a figura 16).

Figura 13 - Configuração da lesão produzida por lâmina com


três gumes Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicina-
forense.htm

Por vezes, há deformação do orifício de entrada, face à movi-


mentação da mão que manipula o instrumento ou movimento da
própria vítima, quer alargando a lesão quando há inclinação na sa-
ída (ver a figura 14A), quer mudando a forma, quando há rotação
depois de introduzida no corpo (ver a figura 14B) (França, 2008)
(Wolfbert, 2003) (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 16 - Lesão em forma de V invertido ou bifurcado Adap-


tado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova
York - 2 Edição: CRC Press

Outra possível configuração de uma lesão, causada por um


instrumento perfuro-cortante, que pode assemelhar-se à forma de
uma lágrima (ver a figura 17). Este formato deve-se à introdução
total da lâmina até ao ricasso, pequeno espaço entre o fim do fio de
gume e a guarda da faca, zona esta não cortante, daí o formato dos
bordos não ser angulado (DiMaio & DiMaio, 2001).

Figura 14 - Modificações da lesão pelo movimento da mão A -


alargamento por inclinação B - rotação da mão Fonte: http://www.
pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Figura 17 - Lesão em formato de lágrima A –Zona mais superficial (Ricasso) B – Zona mais profunda da lesão originada pelo gume
Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press

Se uma faca é introduzida numa região corporal com muita violência, a sua guarda pode ficar “tatuada” na pele, uma vez que não é
penetrada (DiMaio & DiMaio, 2001).
Se o instrumento é cravado num movimento descendente a marca da guarda é visível na região superior (ver a figura 18A) e viceversa
(ver a figura 18B). A marca da guarda é simétrica se o instrumento é introduzido em linha reta na pele. (ver a figura 18C). Assim sendo, por
vezes os bordos são redondos ou contundidos, pela entrada da lâmina até a guarda, eliminando angulações deixadas pelo fio de gume.

Figura 18 – Tipo de “tatuagens” da guarda da faca A- Sentido descendente B- Sentido ascendente C- Sentido recto D- Sentido esquerda
direita e obliquo Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press
Se a direção for oblíqua, a tatuagem é mais evidente na margem da lesão compatível com o sentido da penetração, (ver a figura 18D),
inclinação de baixo para cima e da esquerda para a direita.
Se o instrumento possui ponta com um ou dois gumes, o orifício de entrada vai variar nas suas dimensões de acordo com: estado do
gume, grau de inclinação do instrumento, mudança de posição do instrumento ao ser extraído do corpo, movimentos do instrumento
dentro corpo e características dos tecidos na área corporal infligida (Aguiar, 1958). Assim:
- Se o instrumento possui gumes afiados e atuar perpendicularmente à região corporal, as dimensões do orifício de entrada corres-
pondem, sensivelmente, à largura do instrumento.
- Se por outro lado, o instrumento possui gumes rombos e atuar perpendicularmente, as dimensões do orifício de entrada são meno-
res do que a sua penetração, relacionado com a elasticidade dos tecidos.
- Se o instrumento atuar em direção oblíqua à epiderme, as dimensões da ferida serão superiores às do instrumento em causa, e tanto
maiores quanto mais tangenciais for a penetração e a amplitude dos movimentos no momento da saída. Após o crivar do instrumento nos
tecidos, a ferida adquirirá maiores dimensões, se o mesmo for manipulado no interior dos tecidos, ou em movimentos de luta, defesa ou
fuga da vítima.
A determinação da largura da lâmina do instrumento perfuro-cortante, a partir da dimensão da lesão em fenda só é possível quando
se tem noção do tipo de instrumento utilizado. No caso de instrumentos perfuro-cortantes com uma lâmina de feitio triangular, as dimen-
sões do ferimento dependem da profundidade do canal de penetração (ver a figura 19B). Noutros casos, a largura da lâmina é mais ou
menos uniforme pelo que as dimensões do ferimento refletem, com aproximação, as da lâmina qualquer que seja o seu grau de penetra-
ção (ver a figura 19A) (Calabuig, 2005).

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL

Figura 19 - Diferentes tipos de lâmina A- Lâmina de forma uniforme em todo o comprimento e largura B- Lâmina de forma triangular
Adaptado: DiMaio, V. J., & DiMaio, D. (2001). Forensic Pathology. Nova York - 2 Edição: CRC Press

Com a lâmina A (figura 19A), independentemente da profundidade a largura da lesão é no mínimo do tamanho da lâmina. As dimen-
sões da lesão dependem da profundidade com que a lâmina B (figura 19B) penetra nos tecidos.
Na maioria dos casos, através da observação da lesão, o sumo de informação possível de deduzir é a largura máxima da lâmina, uma
estimativa do comprimento da lâmina e se possui apenas um único gume. Ao proceder à medição das dimensões da lesão convém apro-
ximar o mais possível os bordos da ferida, no caso de uma lesão perpendicular ou oblíqua as linhas de Langer, para se tentar corrigir as
deformações introduzidas pela tensão elástica dos tecidos (DiMaio & DiMaio, 2001).
Nunca se pode vincular um determinado instrumento a uma lesão, a menos que o instrumento tenha ficado retido no corpo ou
pequenos fragmentos soltos pertencentes ao instrumento. Por outro lado, se o instrumento é identificado, por comparação é possível
associar o instrumento à lesão causada (DiMaio & DiMaio, 2001).
Na maioria dos casos quando se questiona se determinada arma foi a que produziu um ferimento específico, pode-se apenas referir
que pode ter sido. Aferir com certeza que a lâmina do crime era de serrilha ou dentada é raro (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio,
2001).
Todos os instrumentos presumíveis de terem causado um crime, devem ser analisados quanto à presença de sangue ou tecidos.
Qualquer vestígio de sangue ou tecido, presente no instrumento, pode ser extraído o ADN, para possível identificação da vítima e/ou do
agressor (DiMaio & DiMaio, 2001).
É possível que o instrumento não tenha vestígios de sangue a nível microscópico mesmo após a sua utilização (DiMaio & DiMaio,
2001). Na perfuração de órgãos sólidos, a hemorragia ocorre apenas quando o instrumento é retirado, porque a sua pressão in situ, pre-
vine-a (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001).
Durante a retirada do instrumento as fibras elásticas e musculares dos órgãos sólidos atingidos, ou o tecido elástico da pele podem
contrair-se de encontro à lâmina e limpar os vestígios de sangue presentes na mesma. A roupa pode também eliminar vestígios de sangue
do instrumento no momento da retirada. Se a lâmina não tem sangue, é necessário verificar se existe no cabo, ou local onde o agressor
segurou a arma. Analisar o instrumento na totalidade é vital, pois pode conter algum vestígio biológico passível de ser recolhido ADN,
para análise (DiMaio & DiMaio, 2001).
São raras as situações em que a arma fica retida no corpo, para a remover o dedo polegar e o dedo indicador devem agarrar os lados
do cabo imediatamente adjacentes à pele. Isto permite evitar que o profissional de saúde toque ou manipule local que esteve em contato
com a mão do agressor, onde poderão estar as impressões digitais do mesmo (DiMaio & DiMaio, 2001).
Quanto à profundidade atingida pode ser igual, superior ou inferior ao comprimento da lâmina do instrumento (DiMaio & DiMaio,
2001).
Se a lâmina do instrumento não for introduzida na sua totalidade, a profundidade da lesão será, assim, menor que o seu comprimen-
to. Quando atinge uma região corporal em que a superfície é depressível (como a parede de abdomen) a lâmina produz uma lesão mais
profunda do que o seu próprio comprimento (ver a figura 20) (DiMaio & DiMaio, 2001).

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Figura 20 - Superfície do corpo depressível (parede de abdómen). A lâmina produz uma lesão mais profunda do que o seu próprio
comprimento. Fonte: http://www.pericias-forenses.com.br/medicinaforense.htm

Portanto, a maior ou menor penetração do instrumento, assim como a sua maior ou menor gravidade, dependem não só das carac-
terísticas dos instrumentos e da força imprimida, mas também da região corporal afetada (França, 2008) (Jorge & Dantas, 2003) (DiMaio
& DiMaio, 2001) (Aguiar, 1958).
A distância mínima entre a pele e os diferentes órgãos internos foi determinada por Connor et al. (Connor et al. citado por DiMaio &
DiMaio, 2001) (ver a tabela 1). No entanto, estas distâncias estimadas podem ser menores dependendo da força da compressão na pele
e no tecido subcutâneo pelo impulso do instrumento (DiMaio & DiMaio, 2001).

A determinação da força necessária para perfurar os tecidos é muito subjetiva e difícil de ser quantificada (Hainsworth, Delaney, &
Rutty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). A única forma de mensurar a força é baseada no conhecimento de senso comum como: “força
ligeira”, “força moderada”, “força considerável” e em alguns casos “força extrema” (Hainsworth, Delaney, & Rutty, 2008) (Payne-James,
Crane, & Hinchliffe, 2005) (Saukko & Knight, 2004).
Esta última classificação fica reservada para situações em que o instrumento colide com um osso e fica empalado, quando penetra o
crânio ou quando o instrumento deixa contusões ou equimoses modeladas impressas pelo impacto da sua extremidade na pele (Saukko
& Knight, 2004).

Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição da força máxima necessária para a penetração do instrumento na pele,
no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões generalistas (Saukko & Knight, 2004):
- À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais resistente à penetração, seguida pelos músculos.
- O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta do instrumento. O fio de gume, depois do instrumento penetrado é de,
relativamente, de menor importância.
- A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, particularmente, importante na forma da penetração. Se o instrumento é
firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a penetrar do que se pelo contrário, o instrumento tiver sido projetado.
- É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa do que quando está enrugada ou mole. Na parede torácica, onde a
pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, torna-se relativamente fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos estão
esticados sobre os espaços intercostais, como a membrana de um “tambor”.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
- Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plan- - A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma
tas dos pés do que no resto do corpo, a variação da resistência aos lâmina com cinco centímetros de comprimento cause uma lesão
instrumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando com dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de
comparado com outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso, muita força.
ou de uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do que a - A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto
dos homens ou jovens. de pele, casacos de pele grossos e duros entre outros requerem
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondula- mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa,
ções e resistências da pele ocorrem até que a penetração aconte- ou roupas finas e macias. Pode ser estimada a quantidade de força
ça. Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da aplicada pela indumentária.
pele, o instrumento penetra os tecidos subcutâneos sem qualquer Alguns Investigadores desenvolveram um projeto na medição
força adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem. da força máxima necessária para a penetração do instrumento na
Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumen- pele, no momento do impacto. Resultaram as seguintes conclusões
to até ao punho ou para que a extremidade do instrumento alcan- generalistas (Saukko & Knight, 2004):
ce regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força - À parte o osso e cartilagens calcificadas, a pele é o tecido mais
exercida. É incorreto afirmar que para causar uma lesão profun- resistente à penetração, seguida pelos músculos.
da é necessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências - O fator mais importante na penetração é a argúcia da ponta
mostram que após a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo do instrumento. O fio de gume, depois do instrumento penetrado é
impossível, impedir que haja uma penetração ainda mais profunda, de, relativamente, de menor importância.
devido a ruptura repentina dos tecidos. - A velocidade de aproximação do instrumento à pele é, parti-
- Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por cularmente, importante na forma da penetração. Se o instrumento
exemplo, quando a vítima cai ou corre em direção à lâmina, não é firmemente empurrado contra a pele, requer mais força para a
é necessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar penetrar do que se pelo contrário, o instrumento tiver sido proje-
que esta não penetre ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se tado.
a ponta é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura - É mais fácil de penetrar a pele quando está esticada ou tensa
enquanto o próprio corpo se espeta sozinho. do que quando está enrugada ou mole. Na parede torácica, onde a
- Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal, pele tende a ser intermitentemente suportada pelas costelas, tor-
é facilmente penetrável, principalmente em jovens ou adultos de na-se relativamente fácil de ser perfurada, uma vez que os tecidos
meia-idade. Contudo é necessária mais força do que se de um espa- estão esticados sobre os espaços intercostais, como a membrana
ço intercostal se trata-se. As costelas e os ossos são mais resisten- de um “tambor”.
tes, mas um violento golpe de uma rígida e afiada lâmina pode facil- - Apesar da pele ser mais espessa nas palmas das mãos e plan-
mente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos tas dos pés do que no resto do corpo, a variação da resistência aos
tensos como o miocárdio, fígado e rim são facilmente trespassados instrumentos perfuro-cortantes assume pouca importância quando
por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que
comparado com outros fatores. Da mesma forma, a pele do idoso,
a da pele e da cartilagem.
ou de uma mulher, não é sensivelmente menos resistente do que a
Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo
dos homens ou jovens.
agressor para causar uma lesão fatal (Hainsworth, Delaney, & Rut-
- Quando um instrumento é empurrado contra a pele, ondula-
ty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e
ções e resistências da pele ocorrem até que a penetração aconte-
correlação da relação de cada uma das seguintes quatro variáveis,
ça. Quando é excedido o limiar da resistência das fibras elástica da
é possível indicar em termos comparativos a força necessária para
pele, o instrumento penetra os tecidos subcutâneos sem qualquer
infligir um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001):
força adicional, exceto se interceptado por um osso ou cartilagem.
- Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte
afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o número de gumes, o Deste modo, para que ocorra a completa penetração do instrumen-
tipo e espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta to até ao punho ou para que a extremidade do instrumento alcan-
afiada, de duplo gume, com lâmina fina requer pouca força ou pou- ce regiões mais profundas, não é necessário suplementar a força
co esforço para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instru- exercida. É incorreto afirmar que para causar uma lesão profun-
mento de lâmina não afiada, romba e de um gume. da é necessário aplicar uma força extrema. Algumas experiências
- Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas mostram que após a ocorrência da penetração é difícil, ou mesmo
resistentes como a pele, as cartilagens e os ossos, necessitam de impossível, impedir que haja uma penetração ainda mais profunda,
maior força para serem penetrados do que os tecidos moles, como devido a ruptura repentina dos tecidos.
o tecido adiposo. Através dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam - Quando o instrumento penetra rapidamente nos tecidos, por
a quantificar a força que foi necessária para os lesar. Num estudo exemplo, quando a vítima cai ou corre em direção à lâmina, não
realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária é necessário segurar firmemente na mesma, com intuito de evitar
para penetrar uma lâmina de dez centímetros de profundidade, em que esta não penetre ou seja mesmo empurrada. A sua inércia, se
diferentes tecidos e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan a ponta é afiada, é mais do que suficiente para a manter segura
et al. citado por DiMaio & DiMaio, 2001). enquanto o próprio corpo se espeta sozinho.
Determinou-se que a força média necessária para penetrar na - Cartilagem não calcificada, como na região da grade costal,
pele, no músculo e no tecido subcutâneo era de cinco quilogramas é facilmente penetrável, principalmente em jovens ou adultos de
(quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três vir- meia-idade. Contudo é necessária mais força do que se de um espa-
gula cinquenta e oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito ço intercostal se trata-se. As costelas e os ossos são mais resisten-
quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula cinquen- tes, mas um violento golpe de uma rígida e afiada lâmina pode facil-
ta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo iso- mente penetrar uma costela, esterno ou mesmo o crânio. Tecidos
lado três vírgula cinquenta e oito quilogramas (trinta e sete vírgula tensos como o miocárdio, fígado e rim são facilmente trespassados
cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula por todos os instrumentos, a sua resistência é muito menor do que
vinte e dois quilogramas (dois newton). a da pele e da cartilagem.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Contudo, não é possível quantificar a força exata utilizada pelo e provocam diferenças na profundidade de penetração na pele. A
agressor para causar uma lesão fatal (Hainsworth, Delaney, & Rut- maioria das feridas fatais, provocadas por garrafas partidas tem in-
ty, 2008) (DiMaio & DiMaio, 2001). Porém, após a comparação e tenção homicida, ocasionalmente suicídio, e, raramente acidental
correlação da relação de cada uma das seguintes quatro variáveis, (DiMaio & DiMaio, 2001).
é possível indicar em termos comparativos a força necessária para Feridas provocadas com picador de gelo são pouco encontra-
infligir um golpe fatal (DiMaio & DiMaio, 2001): das atualmente, visto já não ser um objeto comum. Os picadores
- Características do instrumento utilizado. Ponta e fio de corte de gelo produzem uma lesão pequena e redonda, ou em fenda que
afiado ou rombo, lâmina espessa ou fina, o número de gumes, o pode ser facilmente confundida com estilhaços ou balas de calibre
tipo e espessura da lâmina. Um instrumento cortante com ponta vinte e dois. Uma única ferida provocada pelo picador pode ser
afiada, de duplo gume, com lâmina fina requer pouca força ou pou- perdida num exame superficial do corpo, especialmente se hou-
co esforço para penetrar os tecidos ou órgãos do que um instru- ver pouca ou ausência de hemorragia externa (DiMaio & DiMaio,
mento de lâmina não afiada, romba e de um gume. 2001).
- Resistência dos diferentes tecidos e órgãos. As estruturas Se a vítima é ferida com um garfo de churrasco, grupos de duas
resistentes como a pele, as cartilagens e os ossos, necessitam de ou três lesões, dependendo do número de dentes do mesmo, sur-
maior força para serem penetrados do que os tecidos moles, como gem na pele. Cada uma destas lesões está igualmente espaçada de
o tecido adiposo. Através dos órgãos ou tecidos lesados, ajudam acordo com o espaço existente entre os dentes do garfo (DiMaio &
a quantificar a força que foi necessária para os lesar. Num estudo DiMaio, 2001).
realizado por O´Callaghan et al. foi quantificada a força necessária A perfuração da pele com um garfo de cozinha geralmente não
para penetrar uma lâmina de dez centímetros de profundidade, em é possível. O que se constata é um padrão de três ou quatro, de-
diferentes tecidos e peças anatómicas em cadáveres (O´Callaghan pendendo do número de dentes, abrasões ou feridas penetrantes
et al. citado por DiMaio & DiMaio, 2001). superficialmente na pele (DiMaio & DiMaio, 2001).
Determinou-se que a força média necessária para penetrar na Lesões provocadas por chaves de fendas podem mostrar con-
pele, no músculo e no tecido subcutâneo era de cinco quilogramas figurações muito particulares, por exemplo se a arma é uma chave
(quarenta e nove newton) com um desvio padrão entre os três vir-
estrela. Em tais casos, a ponta em forma de X causa uma ferida
gula cinquenta e oito quilogramas aos cinco vírgula sessenta e oito
circular com quatro cortes espaçados e uma margem de abrasão. A
quilogramas. Para o tecido adiposo e músculo, três vírgula cinquen-
chave de fendas tradicional, de apenas um raio, produz uma fenda,
ta e três quilogramas (trinta e cinco newton). Para o músculo iso-
como uma arma branca, com extremidades quadradas e com mar-
lado três vírgula cinquenta e oito quilogramas (trinta e sete vírgula
gens escoriadas. Assim, não se pode ter certeza absoluta se esta
cinco newton) e para o tecido adiposo isolado apenas zero vírgula
ferida foi produzida por uma chave de fenda ou se por uma faca
vinte e dois quilogramas (dois newton).
com uma lâmina estreita e romba, introduzida até a guarda (DiMaio
- A profundidade e o comprimento da lesão. Para que uma
& DiMaio, 2001).
lâmina com cinco centímetros de comprimento cause uma lesão
As feridas causadas por espadas e lanças são praticamente
com dez centímetros de profundidade, é necessária a utilização de
muita força. desconhecidas. Existem algumas descrições apenas de lesão por
- A quantidade de roupa e a sua própria composição. O cinto espada e ocasionalmente, a referência de mortes causadas por fle-
de pele, casacos de pele grossos e duros entre outros requerem chas ou virotões. A aparência da ferida depende da ponta da flecha.
mais força para serem penetrados, do que na ausência de roupa, Flechas de tiro ao alvo, têm a ponta com terminação cónica. Eles
ou roupas finas e macias. Pode ser estimada a quantidade de força produzem feridas em que a entrada na pele tem aparência seme-
aplicada pela indumentária. lhante a ferimentos de bala. As flechas de caça têm entre dois a
cinco gumes cortantes (quatro ou cinco são os mais comuns). As
CARACTERIZAÇÃO DAS LESÕES CORPORAIS POR OUTROS OB- feridas produzidas são cruzadas ou em forma de X com os quatro
JETOS gumes. Os bordos da ferida são incisos, sem qualquer escoriação
Quando o instrumento utilizado para causar lesão não é a arma (DiMaio & DiMaio, 2001).
branca típica, uma faca, a ferida pode ter uma aparência particular Lesões por tesouras são triviais, são um objeto comum e de
devido à natureza incomum da arma. São diversos os instrumentos fácil acesso (Saukko & Knight, 2004). As características das lesões
utilizados como arma, desde picadores de gelo, garfos, chaves de realizadas com tesouras, diferem consoante a forma da tesoura e
fenda, tesouras, dardos, flechas, entre outros (DiMaio & DiMaio, dependem se a tesoura estava aberta ou fechada no momento da
2001). invasão na pele (DiMaio & DiMaio, 2001).
As características gerais das lesões originadas por facas apli- Se está fechada, a ponta da tesoura rasga a pele em vez de a
cam-se igualmente a outros objetos cortantes. Ambos atuam por cortar, produzindo uma lesão linear ou ovalar, mas com margens
corte e perfuração. escoriadas. Se estiver aberta e apenas uma lâmina espetar os te-
Lâminas de barbear e pedaços de vidro partido têm bordos cidos da vítima, então as lesões são praticamente idênticas às de
extremamente afiados de modo que, quando aplicados tangencial- uma ferida provocada por uma faca (Calabuig, 2005).
mente à pele ou num pequeno ângulo, o resultado pode ser uma le- Mais característico é a lesão produzida quando as duas lâminas
são exuberante (Saukko & Knight, 2004) (DiMaio & DiMaio, 2001). da tesoura estão fechadas e penetram a pele. Uma tesoura com
Embora estas armas casuais sejam normalmente utilizadas lâminas longas e estreitas, e que as mesmas se fecham quase com-
para cortar, longos pedaços de vidro podem ser, por vezes inad- pletamente uma na outra, o aspecto da ferida é compatível com
vertidamente, agentes de perfuração. O longo pedaço pode partir uma faca espessa (Saukko & Knight, 2004). Assumem uma forma
e permanecer numa ferida profunda, que pode ser ignorada se a oval com margens escoriadas (Calabuig, 2005) (ver a figura 9C).
entrada é pequena (Saukko & Knight, 2004). No entanto algumas tesouras, têm as lâminas de aço rebita-
As feridas infligidas por garrafas partidas tendem a ter como das a um suporte contínuo com os punhos. Isso pode produzir uma
características um aglomerado de lesões de diferentes tamanhos, marca que pode alterar o padrão normal, provocando bordos irre-
formas e profundidades. Apresentam gumes afiados, mas ásperos gulares (Saukko & Knight, 2004).
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Quando a tesoura tem os ramos abertos é comum observar-se a entrada. Além disso, ferimentos por arma de fogo envolvem um
duas pequenas feridas de forma linear e que se colocam em for- grande grau de destruição do tecido nas proximidades, devido aos
ma de V completo ou incompleto, podendo inclusive mostrar nas efeitos físicos do projétil.
extremidades proximais, que correspondem ao lado cortante da O efeito prejudicial imediato de uma bala é tipicamente uma
tesoura, uma pequena cauda de escoriação (Calabuig, 2005). hemorragia grave e com ela o risco potencial de choque hipovolê-
Algumas tesouras têm uma dupla ponta afiada, mas a maio- mico. Isso é tanto mais verdadeiro quando o projétil rompe algum
ria das tesouras domésticas, de alfaiate ou tesoura de costura são vaso sanguíneo de grande calibre. Efeitos devastadores e às vezes
bastante rombas, quando fechadas, logo, é necessário uma força letais podem ocorrer quando uma bala atinge um órgão vital, como
considerável para a fazer atravessar a pele. São prova contra o o coração, os pulmões ou o fígado, ou danifica um componente do
argumento de defesa acidental e a favor da utilização como arma sistema nervoso central, como a medula espinhal ou o cérebro.
(Saukko & Knight, 2004). Causas comuns de morte após ferimento por arma de fogo in-
Às vezes, há pequenas separações laterais, no centro da ferida cluem hemorragia, hipóxia causada por pneumotórax, lesão catas-
projetando a dobradiça ou parafuso no centro da tesoura (Saukko trófica no coração e vasos sanguíneos maiores e danos no cérebro
& Knight, 2004). Isto é, se o parafuso que une as duas lâminas é pro- ou em outras partes do sistema nervoso central. Ferimentos por
eminente, pode produzir uma laceração angular na parte média de arma de fogo, quando não são fatais, frequentemente deixam se-
uma das margens da pele. Se as duas lâminas estão separadas, duas quelas severas e duradouras e, por vezes, incapacitantes.
lesões serão produzidas, uma por cada lâmina (DiMaio & DiMaio, Como o médico trata os ferimentos por armas de fogo?
O manejo pode variar conforme o caso, desde observação e
2001).
tratamento de feridas locais até intervenção cirúrgica urgente. As
Existem também outras referências de lesões fatais, infligidas
atenções iniciais para uma ferida por arma de fogo são as mesmas
por canetas, lápis e tacos de bilhar partidos, com configurações
que para qualquer outro caso de traumatismo agudo.
pouco padronizadas (DiMaio & DiMaio, 2001). Todos estes instru-
Para assegurar que as funções vitais estejam intactas, deve-se
mentos acima descritos, com exceção das flechas e dos virotões, avaliar e proteger as vias aéreas e a coluna cervical, manter venti-
não são consideradas legalmente armas brancas. Não estão expres- lação e oxigenação adequadas, avaliar e controlar o sangramento
sos na letra da lei como tal.7 para manter a perfusão orgânica, realizar exame neurológico bá-
sico, expor todo o corpo e procurar por outras lesões, pontos de
Lesões por projéteis de fogo entrada e pontos de saída e manter a temperatura corporal.
O ferimento por arma de fogo, também conhecido como trau- O conhecimento do tipo de arma, número de disparos, direção
ma balístico, é uma forma de trauma físico ocasionado por projéteis e distância do tiro, perda de sangue e avaliação dos sinais vitais
disparados por armas de fogo. Os traumas balísticos mais comuns podem ser úteis para direcionar o gerenciamento.
derivam de armas usadas em conflitos armados, esportes civis, Os efeitos dos ferimentos por arma de fogo dependem da
atividades recreativas e atividades criminosas. Os ferimentos por região atingida. Um ferimento de bala no pescoço pode ser parti-
armas de fogo podem, pois, ser intencionais ou não intencionais. cularmente perigoso devido ao grande número de estruturas ana-
Qual é o mecanismo fisiológico dos ferimentos por armas de tômicas vitais existentes (laringe, traqueia, faringe, esôfago, vasos
fogo? sanguíneos importantes, tireoide, medula espinhal, nervos crania-
Quando a bala atravessa os tecidos, inicialmente esmagando- nos, nervos periféricos, cadeia simpática e plexo braquial).
-os e depois dilacerando-os, o espaço deixado forma uma cavidade. Tiros no tórax podem causar sangramento grave, comprome-
Balas de alta velocidade criam uma onda de pressão que força os timento respiratório, hemotórax, contusão pulmonar, lesão tra-
tecidos para longe, criando uma cavidade temporária ou cavidade queobrônquica, lesão cardíaca, lesão7 esofágica e lesão do sistema
secundária, que muitas vezes é maior que a própria bala. nervoso. Isso porque a anatomia do tórax inclui a parede torácica,
O grau de rompimento dos tecidos causado por um projétil costelas, coluna vertebral, medula espinhal, feixes nervosos inter-
está relacionado à cavitação que o projétil cria ao passar pelos te- costais, pulmões, brônquios, coração, aorta, grandes vasos, esôfa-
cidos. Uma bala com energia suficiente terá um efeito de cavitação go, ducto torácico e diafragma.
maior que a lesão penetrante. A cavidade temporária é dada pelo As atenções iniciais são particularmente importantes, devi-
alongamento radial do dano ao tecido em redor da ferida da bala, do ao alto risco de lesões diretas nos pulmões, no coração e nos
que momentaneamente deixa um espaço vazio causado por altas grandes vasos. O primeiro exame deve ser uma radiografia de tó-
rax. Adicionalmente podem ser feitas ultrassonografia, tomografia
pressões em torno do projétil.
computadorizada de tórax, ecocardiograma, angiografia, esofagos-
A velocidade da bala é o determinante mais importante da le-
copia, esofagografia e broncoscopia. Pessoas assintomáticas com
são tecidual, embora a massa do projétil também contribua para a
radiografia normal de tórax podem ser observadas com repetição
energia total que danifica os tecidos. A velocidade inicial de uma
de exames clínicos e de imagem a cada 6 horas, para garantir que
bala é amplamente dependente do tipo da arma de fogo. As balas não haja desenvolvimento de pneumotórax ou hemotórax.
geralmente viajam em uma linha relativamente reta ou fazem uma No abdômen estão o estômago, o intestino delgado, o cólon, o
volta se um osso for atingido. Mais comumente, as balas não se fígado, o baço, o pâncreas, os rins, a coluna vertebral, o diafragma,
fragmentam, mas os danos secundários causados por fragmentos a aorta descendente e outros vasos e nervos abdominais. Os tiros
de osso quebrado são uma complicação comum. no abdômen podem, pois, causar sangramento grave, liberação do
Quais são as principais características dos ferimentos por ar- conteúdo intestinal, peritonite, ruptura de órgãos, comprometi-
mas de fogo? mento respiratório e déficits neurológicos. A avaliação inicial mais
Os danos ocasionados por projéteis disparados por armas de importante de uma ferida a bala no abdômen é se há sangramento
fogo dependem da potência da arma, das características da bala, da descontrolado, inflamação do peritônio ou derrame de conteúdo
sua velocidade, do ponto de entrada no corpo e das estruturas atin- intestinal. A ultrassonografia ajuda a identificar sangramento intra-
gidas por ele. As feridas de bala podem ser devastadoras, porque a -abdominal e radiografias podem ajudar a determinar a trajetória e
trajetória e a fragmentação das balas podem ser imprevisíveis após a fragmentação da bala. No entanto, o modo preferido de geração
de imagens é a tomografia computadorizada.
7 Fonte: www.repositorio-aberto.up.pt
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Os quatro principais componentes das extremidades são os- Até recentemente aceitava-se conceituar a morte como o ces-
sos, vasos, nervos e tecidos moles. As feridas de bala podem, assim, sar total e permanente das funções vitais. Atualmente, este con-
causar sangramentos graves, fraturas, déficits nervosos e danos aos ceito foi ampliado a partir do conhecimento de que a morte não
tecidos moles. Dependendo da extensão da lesão, o tratamento é um puro e simples cessar das funções vitais, mas sim uma gama
pode variar desde o cuidado superficial da ferida até a amputação de processos que se desencadeiam durante um período de tempo,
do membro. comprometendo diferentes órgãos.
Pessoas com sinais graves de lesão vascular também requerem Atualmente prevalecem dois conceitos de morte: a morte ce-
intervenção cirúrgica imediata, no entanto, nem todas as pessoas rebral, indicada pela cessação da atividade elétrica do cérebro e a
feridas por tiros no peito exigem cirurgia. Para pessoas sem sinais morte circulatória, indicada por parada cardíaca irreversível às ma-
graves de lesão vascular, deve-se comparar a pressão arterial no nobras de ressuscitação e outras técnicas.
membro lesionado à do membro não lesionado, a fim de avaliar A Organização Mundial de Saúde (OMS) define morte como:
melhor a possível lesão vascular. Se os sinais clínicos forem sugesti- Cessação dos sinais vitais a qualquer tempo após o nascimento
vos de lesão vascular, a pessoa pode ser submetida à cirurgia. Além sem possibilidade de ressuscitamento. Como a morte se apresenta
do manejo vascular, as pessoas devem ser avaliadas quanto a le- como um processo (dinâmico) e não como um evento (estático),
sões nos ossos, tecidos moles e nervos. quando se coloca a questão: “Quando ocorreu a morte?” a respos-
As lesões por projéteis de alta energia têm se tornado mais fre- ta é dada quando se consegue definir o momento em que o proces-
quentes ultimamente, em função do aumento da violência urbana so de morte atingiu o seu ponto irreversível
associado ao contrabando de armas de guerra para traficantes e
mafiosos. Isto leva à necessidade de cirurgiões e médicos-legistas Modalidades do Evento Morte:
conhecerem os mecanismos e as lesões causadas por estes agentes - morte anatômica - É o cessamento total e permanente de
lesivos. As lesões de entrada, os trajetos e as saídas são estudados todas as grandes funções do organismo entre si e com o meio am-
com base na experiência pessoal do autor e em revisão de literatu- biente.
ra. A variação da forma das entradas de acordo com a velocidade e - morte histolôgica - Não sendo a morte um momento, com-
a forma dos projéteis é interpretada sob a luz dos princípios físicos preende-se ser a morte histológica um processo decorrente da an-
da balística terminal. As cavidades permanente e temporária são terior, em que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem
estudadas quanto ao seu mecanismo de formação, sua forma, vo- paulatinamente.
lume e posição ao longo do trajeto. - morte aparente – estados patológicos do organismo simulam
Projéteis de alta velocidade têm energia suficiente para atra- a morte, podendo durar horas, sendo possível a recuperação pelo
vessar o crânio e sair (lesão dita perfurante). O calor e a aceleração emprego imediato e adequado de socorro médico. O adjetivo “apa-
radial produzidos pela bala são maiores. O aumento instantâneo da rente” nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o indivíduo
pressão intracraniana pode ser da ordem de 40 atmosferas, o que assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil per-
chega a provocar fraturas no teto das órbitas e contusões distantes, sistência da circulação. O estado de morte aparente poderá durar
como nas amígdalas cerebelares.8 horas. É possível a recuperação de indivíduo em estado de morte
CONCEITO E DIAGNÓSTICO DA MORTE. FENÔMENOS aparente pelo emprego de socorro médico imediato e adequado.
CADAVÉRICOS. CRONOTANATOGNOSE, COMORIÊNCIA - morte relativa – estado em que ocorre parada efetiva e dura-
E PROMORIÊNCIA. EXUMAÇÃO. CAUSA JURÍDICA DA dora das funções circulatórias, respiratórias e nervosas, associada
MORTE. MORTE SÚBITA E MORTE SUSPEITA à cianose e palidez marmórea, porém acontecendo a reanimação
com manobras terapêuticas.
- morte intermédia - É admitida apenas por alguns autores.
é a que precede a absoluta e sucede a relativa, como verdadeiro
estágio inicial da morte definitiva. Experiências fora do corpo são
A TANATOLOGIA vem do grego tanathos (morte) tem como raiz relatadas neste tipo de morte.
o Indo-europeu dhwen, “dissipar-se, extinguir-se” + logia (estudo), - morte absoluta ou morte real – estado que se caracteriza pelo
MORTE: do latim “mors, mortis”, de “mori” (morrer) e CADÁVER: desaparecimento definitivo de toda atividade biológica do organis-
do latim “caro data vermis” (carne dada aos vermes). Temos então mo, podendo-se dizer que parece uma decomposição. Fim da vida
Tanatologia a área da medicina legal que se ocupa da morte e os inicio da decomposição.
fenômenos a ela relacionados.
A conceituação da morte é de extremamente dificultosa, assim Tanotognose
como, em algumas oportunidades, o diagnóstico da realidade de É a parte da Tanatologia Forense que estuda o diagnóstico da
morte. realidade da morte. Esse diagnóstico será tanto mais difícil quanto
Há 460 a .C., Hipócrates definia o quadro de morte: “Testa mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos fenô-
enrugada e árida, olhos cavos, nariz saliente cercado de coloração menos transformativos do cadáver. Então, o perito observará dois
escura, têmporas endurecidas, epiderme seca e lívida, pêlos das tipos de fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais ne-
narinas e cílios encobertos por uma espécie de poeira, córneas de gativos, imediatos e consecutivos, e os transformativos, destrutivos
um branco fosco, pálpebras semi-cerradas e fisionomia nitidamen- ou conservadores.
te irreconhecível”. Durante muitos anos definiu-se morte como a
cessação da circulação (morte circulatória) e da respiração (morte Fenômenos abióticos ou imediatos ou avitais ou vitais negati-
respiratória). vos
Logo após a parada cardíaca e o colapso e morte dos órgãos e
estruturas, como o pulmão e o encéfalo, surgem os sinais abióticos
imediatos ou precoces. Tais sinais são considerados de probabilida-
de, ou seja, indicam a possibilidade de morte e são denominados
por alguns autores como período de morte aparente, por outros
são chamados de morte intermediária.
8 Fonte: www.abc.med.br/www.anatpat.unicamp.br
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1. perda da consciência; Fenômenos destrutivos
2. abolição do tônus muscular com imobilidade; - Autólise
3. perda da sensibilidade; Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas in-
4. relaxamento dos esfíncteres; tracelulares, determinando lise dos tecidos seguida de acidificação,
5. cessação da respiração; por aumento da concentração iônica de hidrogênio e conseqüente
6. cessação dos batimentos cardíacos; diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim, por
7. ausência de pulso; diminuta que seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se os
8. fácies hipocrática; fenômenos intra e extracelulares de decomposição.
9. pálpebras parcialmente cerradas.
- Putrefação
Fenômenos consecutivos É uma forma de transformação cadavérica destrutiva, que
Algum tempo depois aparecem os sinais abióticos mediatos, se inicia, logo após a autólise, pela ação de micróbios aeróbios,
tardios ou consecutivos, indicativos de certeza da morte. Tais sinais anaeróbios e facultativos em geral, sobre o ceco, porção inicial do
constituem uma tríade – livor, rigor e algor –, ou seja, alterações grosso intestino muito próximo a parede abdominal; o sinal mais
de coloração, rigidez e de temperatura, indicativos de certeza da precoce da putrefação é a mancha verde abdominal, a qual, pos-
morte (morte real). teriormente, se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a
1. resfriamento paulatino do corpo; tonalidade verde-enegrecida conferindo ao morto aspecto bastan-
2. rigidez cadavérica; te escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem exceção;neles
3. espasmo cadavérico; a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do
4. manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
corpo, especialmente pelas vias respiratórias.
5. dessecamento: decréscimo de peso, pergarninhamento da
Na dependência de fatores intrínsecos e de fatores, a marcha
pele e das mucosas dos lábios; modificações dos globos oculares;
da putrefação, se faz em quatro períodos:
mancha da esclerótica; turvação da córnea transparente; perda da
1.º) Período de coloração - Tonalidade verde-enegrecida dos
tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.
tegumentos, originada pela combinação do hidrogênio sulfurado
nascente com a hemoglobina, formando a sulfometemoglobina,
De modo geral, admite-se em nosso meio o abaixamento da
surge, em nosso meio, entre 18 e 24 horas após a morte, durando,
temperatura em 0,5°C nas três primeiras horas, depois 1°C por
em média, 7 dias.
hora, e que o equilíbrio térmico com o meio ambiente se faz em
2.°) Período gasoso - Os gases internos da putrefação migram
torno de 20 horas nas crianças, e de 24 à 26 horas nos adultos.
Os livores, alterações de coloração, variam da palidez a man- para a periferia provocando o aparecimento na superfície corporal
chas vinhosas. São observados nas regiões de declive, devido ao de flictenas contendo líquido leucocitário hemoglobínico. Confere
acúmulo (deposição) sangüíneo por atração gravitacional. Apare- ao cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, especial-
cem ½ hora após a parada cardíaca, podendo mudar de posição mente na face, no tronco, no pênis e bolsas escrotais. A compres-
quando ocorrer mudança na posição do corpo. Após 12 horas não são do útero grávido produz o parto de putrefação. As órbitas es-
mudam mais de posição, fenômeno denominado de fixação. vaziam-se, a língua exterioriza-se, o pericrânio fica nu. O ânus se
A rigidez, contratura muscular, tem início na cabeça, uma hora entreabre evertendo a mucosa retal.
após a parada cardíaca, progredindo para o pescoço, tronco e ex- A força viva dos gases de putrefação inflando intensamente o
tremidades, ou seja, de cima para baixo (da cabeça para os pés). O cadáver pode fender a parede abdominal com estalo. O odor carac-
relaxamento se faz no mesmo sentido. Tal observação é denomina- terístico da putrefação se deve ao aparecimento do gás sulfidrico.
da Lei de Nysten. O tempo de evolução é variável. Esse período dura em média duas semanas.
3.°) Período coliquativo - A coliquação é a dissolução pútrida
Fenômenos Transformativos das partes moles do cadáver pela ação conjunta das bactérias e da
Microscopicamente, horas após a parada cardíaca, ocorre um fauna necrófaga. O odor é fétido e o corpo perde gradativamente
processo de auto-destruição celular denominado autólise, caracte- a sua forma. Pode durar um ou vários meses, terminando pela es-
rizada por auto-digestão determinada por enzimas presentes nos queletização.
lisossomos, uma das organelas citoplasmáticas. 4.º) Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e
Macroscopicamente, o primeiro sinal de putrefação é o apa- da fauna cadavérica destrói os resíduos tissulares, inclusive os liga-
recimento da mancha verde abdominal na região inguinal direita mentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamen-
(porção direita, inferior do abdome). Tal mancha é originada pela te livres de seus próprios ligamentos, os cabelos e os dentes resis-
produção bacteriana de hidreto de enxofre que, por sua vez, deter- tem muito tempo à destruição. Os ossos também resistem anos a
mina a formação de sulfohemoglobina, ou seja, na morte o enxofre fio, porém terminam por perder progressivamente a sua estrutura
“ocupa” o lugar do oxigênio ou do dióxido de carbono na hemo- habitual, tornando-se mais leves e frágeis.
globina.
A mancha aparece de 16 a 24 horas após a parada cardíaca, - Maceração
progride para as outras regiões abdominais e depois para o corpo Ocorre quando os restos mortais ficam imersos em meio líqui-
todo, caracterizando a fase cromática da putrefação. Nos afogados do, sendo caracterizada por putrefação atípica, enrugamento teci-
a mancha verde pode aparecer no tórax. dual e exsangüinação (saída do sangue pela pele desnuda).
Os fenômenos transformativos compreendem os destrutivos São conhecidas duas formas:
(autólise, putrefação e maceração) e os conservadores (mumifica- ·Séptica: mais comum, ocorre geralmente nos corpos que per-
ção e saponificação). Resultam de alterações somáticas tardias tão manecem, após a morte, em lagos, rios e mares.
intensas que a vida se torna absolutamente impossível. São, por- ·Asséptica: observada na morte e permanência do feto intra-
tanto, sinais de certeza da realidade de morte. -útero.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
É um fenômeno de transformação destrutiva em que a pele do Tipos de Morte
cadáver, que se encontra em meio contaminado, se torna enruga- Quanto ao modo, as mortes são classificadas em naturais, vio-
da e amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos, com lentas ou suspeitas. Alguns autores incluem outros tipos, como a
diminuição de consistência inicial, achatamento do ventre e libera- morte reflexa (“congestão”), determinada por mecanismo inibitó-
ção dos ossos de suas partes de sustentação, dando a impressão de rio, como nos casos de afogados brancos, estudados em Asfixiolo-
estarem soltos; ocorre quando o cadáver ficou imerso em líquido, gia. As mortes violentas são divididas em acidentais, homicidas e
como os afogados, feto retido no útero materno. suicidas.
Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está Quanto ao tempo, as mortes são classificadas em:
representada pelo surgimento lento, nos três primeiros dias, de - Súbita: aquela que não é precedida de nenhum quadro, que
flictenas contendo serosidade sanguinolenta. No segundo grau, a é inesperada.
ruptura das flictenas confere ao líquido amniótico cor vermelho- - Agônica: aquela precedida de período de sobrevida. Neste
-pardacenta, e a separação da pele de quase toda a superfície cor- item cabe lembrar das situações de sobrevivência, em que o indiví-
poral, a partir do oitavo dia, dá ao feto aspecto sanguinolento. No duo realiza atos conscientes e elaborados no período de sobrevida;
terceiro grau, destaca-se o couro cabeludo, à maneira de escalpo, por exemplo, após ter sido atingido mortalmente com um tiro no
do submerso ou do feto retido intrauterinamente, e, em torno do coração, o indivíduo tem tempo para reagir e ferir ou matar o de-
15.° dia post mortem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns safeto; ou então o suicida que, após ter dado um tiro na cabeça,
sobre os outros, os ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna escreve bilhete de despedida (situações não usuais, mas possíveis).
vertebral torna-se mais flexível e, no feto morto, a coluna adquire O diagnóstico diferencial entre as formas “súbita” e “agônica”
acentuada cifose, pela pressão uterina. é possível com provas especiais, denominadas docimásticas, que
estudam as células, tecidos e substâncias presentes no organismo,
Fenômenos conservadores como glicogênio e adrenalina.
- Mumificação Nas mortes naturais, regra geral, o médico deverá fornecer
É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápi- “Declaração de Óbito”, documento que contém o Atestado de Óbi-
da e acentuada a desidratação. to e que originará a Certidão de Óbito.
A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em regiões Nas mortes naturais, sem diagnóstico da causa básica (doença
de clima quente e seco e de arejamento intensivo suficiente para
ou evento que deu início à cadeia de eventos que culminou com a
impedir ação microbiana, provocadora dos fenômenos putrefatí-
morte), há necessidade de autópsia pelos Serviços de Verificação
vos. Assim podem ser encontradas múmias naturais, sem caixão.
de Óbitos e, nas mortes violentas, as autópsias devem ser realiza-
A mumificação por processo artificial foi praticada historicamente
das pelos Institutos Médico-Legais.
pelos egípcios e pelos incas, por embalsamamento, após intensa
dessecação corporal.
As múmias têm aspecto característico: peso corporal reduzido - Morte natural
em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-escura, coriácea, resso- É aquela que sobrevém por causas patológicas ou doenças,
ando à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e como malformação na vida uterina.
dentes conservados.
- Morte suspeita
- Saponificação É aquela que ocorre em pessoas de aparente boa saúde, de
É um processo transformativo de conservação em que o cadá- forma inesperada, sem causa evidente e com sinais de violência de-
ver adquire consistência untuosa, mole, como o sabão ou cera (adi- finidos ou indefinidos, deixando dúvida quanto à natureza jurídica,
pocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalan- daí a necessidade da perícia e investigação.
do odor de queijo rançoso; as condições exigidas para o surgimento
da saponificação cadavérica são: solo argiloso e úmido, que permi- - Morte súbita
te a embebição e dificulta, sobremaneira, a aeração, e um estágio É aquela que acontece de forma inesperada e imprevista, em
regularmente avançado de putrefação. segundos ou minutos.
A saponificação atinge comumente segmentos limitados do
cadáver; pode, entretanto, raramente, comprometê-lo em sua to- - Morte agônica
talidade. Tal processo, embora factível de individualidade, habitu- É aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais
almente se manifesta em cadáveres inumados coletivamente em ocorre em tempo longo e neste caso, os livores hipostáticos for-
valas comuns de grandes dimensões. mam-se mais lentamente.

- Outros tipos - Morte reflexa


São conhecidos outros fenômenos conservativos como: É aquela em que se faz presente a tensão emocional, ou seja,
- Refrigeração: em ambientes muito frios. uma irritação nervosa (excitação) de origem externa, exercida em
- Corificação: desidratação tegumentar com aspecto de couro certas regiões, provoca, por via reflexa, a parada definitiva das fun-
submetido a tratamento industrial.
ções circulatórias e respiratórias.
- Fossilização: fenômeno conservativo de longa duração.
- Petrificação: substituição progressiva das estruturas biológi-
Cronotanatognose
cas por minerais, dando um aspecto de pedra com manutenção da
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da
morfologia dos restos mortais.
morte. Com efeito, os fenômenos cadavéricos, não obedecendo ao
rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os dife-
rentes corpos e com a causa mortis e influência de fatores extrín-
secos, como as condições do terreno e da temperatura e umidade
ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte

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tão exatamente quanto possível, porém não com certeza absoluta. 4ª Legião: encontrada 10 meses após o óbito;
O seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade cri- 5ª Legião: é encontrada nos cadáveres dos que morreram há
minal e aos processos civis ligados à sobrevivência e de interesse mais de 10 meses;
sucessório. A cronotanatognose baseia-se num conjunto de fenô- 6ª Legião: desseca todos os humores que ainda restam no ca-
menos, a saber: dáver, 10 à 12 meses;
7ª Legião: aparece entre 1 e 2 anos e destrói os ligamentos e
Resfriamento do cadáver tendões deixando os ossos livres.
Em nosso meio é de 0,5°e nas três primeiras horas; a seguir, 8ª Legião: consome, cerca de 3 anos após a morte, todos os
o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora, até o restabeleci- resquícios orgânicos porventura deixados pelas precedentes.9
mento do equilíbrio térmico com o meio ambiente. Premoriência
Rigidez cadavérica Há situações que podem ser identificadas como a perda do
Pode manifestar-se tardia ou precocemente. Segundo Nys- direito sucessório, um delas é a chamada premoriência, ou seja,
ten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte ordem: na face, nuca a morte do herdeiro antos do falecimento do autor da herança,
e mandíbula, 1 a 2 horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2 a 4 exemplo, morrendo o filho antes do pai, não há que se falar em
horas; nos membros superiores, 4 a 6 horas; nos membros infe- direito sucessório, pois o pré-morto esta excluído da sucessão.
riores, 6 a 8 horas post mortem. A rigidez cadavérica desaparece Segundo Maria Berenice, na sucessão legítima, somente os
progressivamente seguindo a mesma ordem de seu aparecimento, descendentes do herdeiro pré-morto é que herdam, mas por direi-
cedendo lugar à flacidez muscular, após 36 a 48 horas de perma- to de representação do pré-morto.
nência do óbito. Na sucessão testamentária, o falecimento do beneficiado an-
tes do testador não gera direito de representação, o legado caduca.
Livores Havendo outros herdeiros instituídos com relação ao mesmo bem,
Podem surgir 30 minutos após a morte, mas surgem habitual- a morte de um transfere o seu quinhão aos demais, ocorrendo o
mente entre 2 a 3 horas, fixando-se definitivamente no período de direito de acrescer. Se não houver a nomeação de substitutos, o
8 a 12 horas após a morte. quinhão retorna a legítima.
Por fim, a premoriência é o evento determinante da época da
Mancha verde abdominal morte de uma pessoa, que é anterior a o autor da herança.
Influenciada pela temperatura do meio ambiente, surge entre Comoriência
18 a 24 horas, estendendo-se progressivainente por todo o corpo Quando acontece o falecimento, no mesmo evento de dois
do 3.° ao 5.° dia após a morte ou mais parentes ou de pessoas vinculadas por liame sucessório,
a falta de precisão sobre o momento da morte de cada um pode
Gases de putrefação trazer sérias complicações e dificultar a transmissão da herança aos
O gás sulfidrico, surge entre 9 a 12 horas após o óbito. Da mes- herdeiros.
ma forma que a mancha verde abdominal, significa putrefação. A comoriência é a presunção de morte simultânea entre duas
ou mais pessoas.
Decréscimo de peso De acordo com Maria Berenice, não havendo a possibilidade
Tem valor relativo por sofrer importantes variações determina- de saber quem é o herdeiro de quem, a lei presume que a mor-
das pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente. Aceita-se, no entan- te ocorreu simultaneamente, desaparecendo o vínculo sucessório
to, nos recém-natos e nas crianças uma perda em geral de 8g/kg de entre ambos, assim, um não herda do outro e os bens de cada um
peso nas primeiras 24 horas após o falecimento. passam aos seus respectivos herdeiros.
Conforme Maria Berenice cita Carvalho dos Santos, sustentado
Crioscopia do sangue que, ocorrendo o falecimentos mesmo de lugares diversos, se exis-
O ponto crioscópico ou ponto de congelação do sangue é de tir mútuo direito sucessório entre os mortos, não havendo meios
-0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para afirmar a causa ju- de se verificar quem faleceu primeiro, é possível por analogia reco-
rídica da morte na asfixia-submersão e indicar a natureza do meio nhecer a comoriência.10
líquido em que ela ocorreu.
Morte Súbita
Cristais do sangue putrefato É a morte inesperada que acontece em pessoa considerada
São os chamados cristais de Westenhöffer-Rocha-Valverde, lâ- saudável ou tida como tal, e pela forma como ocorre levanta sus-
minas cristalóides muito frágeis, entrecruzadas e agrupadas, inco- peita de poder tratar-se de uma morte violenta.
lores, que adquirem coloração azul pelo ferrocianeto de potássio, e Na maioria dos casos, no fim da autópsia chega-se à conclusão
castanha, pelo iodo, passíveis de ser encontradas a partir do 3.° dia que estas mortes súbitas são mortes de causa natural, por proces-
no sangue putrefato. sos patológicos mais ou menos insidiosos que nunca levaram a ví-
tima ao médico ou a referenciar queixas objetivas ou subjetivas a
Fauna cadavérica familiares e amigos. Estes, colhidos pelo inesperado da situação, e
O seu estudo em relação ao cadáver exposto ao ar livre tem perante a perda de um ente querido, colocam por vezes a hipótese
relativo valor conclusivo na determinação da tanatocronognose, de se tratar de uma morte violenta e daí que muitas destas mortes
embora os obreiros ou legionários da morte surjam, com certa se- acabem por ser submetidas a autópsia médico-legal.
qüência e regularidade, nas diferentes fases putrefativas adianta- Infelizmente, muitos médicos, alguns por desconhecimento do
das do cadáver, as turmas precedentes preparando terreno para as conceito médico-legal de morte súbita, outros por um medo atávi-
legiões sucessoras, representadas por um grupo de oito. co inexplicável de atribuir a causa de morte mais provável face aos
São elas: elementos clínicos e circunstânciais disponíveis, acabam por escre-
1ª Legião: aparece entre o 8.º e o 15.º dia; ver no certificado de óbito “morte súbita de causa indeterminada”.
2ª Legião: surge com o odor cadavérico, cerca de 15 à 20 dias;
9 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br
3ª Legião: aparece 3 a 6 meses após a morte;
10 Por Ricardo K. Foitzik
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Todos os dias, os serviços médico-legais são confrontados com Principais causas de morte morte súbita com origem no siste-
a “morte súbita de causa indeterminada” na sequência de mortes ma digestivo:
de indivíduos com antecedentes patológicos relevantes, de doen- - hematemeses (ruptura de varizes esofágicas, úlceras)
ças crónicas com agudizações potencialmente letais, de doenças - pancreatite aguda necro-hemorrágica
neoplásicas em fases terminais, de doenças infecto-contagiosas em - peritonite
fase terminal, no decurso de internamentos hospitalares de dias ou - enfarte intestinal
semanas por doença de causa natural. Principais causas de morte morte súbita com origem no siste-
Este tipo de prática, leva a que os serviços médico-legais aca- ma endócrino
bem por ser confrontados por uma percentagem de “morte súbita - diabetes - bioquímica do humor vítreo ( glicose > 200 mg/dl )
de causa indeterminada” que ronda os 40% do total das autópsias - insuficiência suprarrenal aguda (Sindrome de Waterhouse-
realizadas, o que como é óbvio não deveria acontecer. -Friederichesen)11
É evidente que a maior parte desta percentagem não corres-
ponde efetivamente à verdadeira situação médico-legal de morte Morte Suspeita
súbita, talvez nem 5% deste total corresponda a casos com verda- As mortes de causa suspeita compreendem parte da morte
deiro interesse médico-legal. violenta, até que se prove em contrário, trazendo para a sua com-
preensão a dúvida quanto ao nexo causal. Para que exista a suspei-
Questões médico-legais a responder pela autópsia em casos de ção deve haver uma pergunta: suspeita de quê? Ou seja, para que
morte súbita haja a suspeição, há que existir o interesse ativo de quem suspeita,
- causa da morte vinculado a uma justificativa. É o caso do familiar ou de terceiros
- morte natural ou violenta
que conhecem desvios do contexto social e comportamental do
- se morte violenta
falecido, ou mesmo suspeitam de peculiaridades durante um tra-
-- suicídio
tamento médico e até de ação de terceiros. Em qualquer destes
-- homicídio
casos, o cidadão que protagoniza a suspeição tem a obrigação de
-- acidente
Principais causas de morte súbita por aparelhos e sistemas no comunicar a uma autoridade policial ou ao Ministério Público, que
adulto solicitarão, pelos procedimentos habituais, a perícia médico-legal.
Morte súbita com origem no sistema cardio-vascular A morte de causa suspeita é bem diferente da morte por causa
É a causa de morte súbita mais frequente no mundo ocidental. desconhecida, mesmo que súbita. Esta é um tipo de morte natu-
Em cerca de 25% dos casos, a morte súbita é a primeira manifesta- ral que não compõe o rol de possibilidades com natureza jurídica
ção de doença cardio-vascular. para classificação como morte suspeita. A “causa mortis” para ser
Normalmente durante a autópsia dispensa-se uma atenção es- conhecida, merecerá avaliação necroscópica clínica e anátomo-pa-
pecial ao coração e ao estudo das artérias coronárias. Muitas des- tológica para a sua verificação e conclusão, porém nunca uma pe-
tas mortes revelam doença coronária de pelo menos dois vasos. rícia médico-legal. A perícia oficial é desnecessária e somente será
Nem sempre o diagnóstico macroscópico de enfarte agudo de solicitada pela autoridade policial, nestes casos, por intuição oca-
miocárdio é fácil (menos de 25% para alguns autores) e até o exame sional, por desconhecimento de causa em sua função ou por falta
histológico pode não dar grandes informações. de mecanismo administrativo institucional municipal de Serviço de
Dado que o tempo decorrido entre o início dos sintomas e a Verificação de Óbitos.
morte por vezes é muito curto, não permite um conjunto de altera- É importante que todo médico entenda que quando enganado
ções a nível celular que possibilite um diagnóstico histológico. em sua boa fé, tendo ele exarado a Declaração de Óbito e, após,
Algumas das alterações do ritmo cardíaco podem ser poten- surgir a descoberta de alguma causa violenta, ele, médico, não
cialmente mortais muito rapidamente se não forem prontamente terá culpa por ter sido enganado. Até dentro de hospitais isto pode
revertidas (Ex. fibrilação ventricular). Nestes casos os achados de acontecer, conforme casos recentemente estampados em notici-
autópsia são muito escassos, inespecíficos e há uma dificuldade no ário.
diagnóstico. O médico, quando responsável pelo paciente que falece, não
Principais causas de morte no adulto deverá gratuitamente alegar suspeição distância, ou criar suspeita
- doença coronária/enfarte sem fundamentação.
- cardiomiopatias
- miocardites Exemplos contumazes podem ser citados:
- aneurisma dissecante da aorta
- Médico assiste há muitos meses paciente com doença crônica
- arritmias
ou incurável, como neoplasias, vindo o doente a óbito longe das
Principais causas de morte súbita com origem no sistema ner-
vistas do médico, geralmente no domicílio. O médico assistente,
voso central :
conhecedor de todo o histórico do paciente, não poderá se furtar
- acidentes vasculares
- meningites a fornecer o atestado de óbito, pois se “suspeita” de alguma coisa
- estado de mal epiléptico tem a obrigação de pessoalmente avisar a autoridade policial do
quê suspeita.
Principais causas de morte morte súbita com origem no siste- - No mesmo caso, situam-se pacientes de consultório e ambu-
ma respiratório: latório hospitalar ou posto de saúde. Ninguém melhor do que o mé-
- tromboembolia pulmonar dico assistente para formular as hipóteses de “causa mortis”. Não
- estado de mal asmático é porque o paciente não se encontra hospitalizado que o médico
- hemoptise poderá classificar a morte como de causa suspeita.
- aspiração de corpo estranho
- pneumotórax espontâneo
11 Fonte: www.medicina.med.up.pt
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Suspeita de quê ? 8) O eritema, simples e fugaz afluxo de sangue na pele, e as
- O paciente chega a um Pronto-Socorro em tempo de serem flictenas contendo líquido límpido ou citrino, leucócitos, cloreto de
verificadas as queixas e de se fazer um diagnóstico clínico ou atra- sódio e albuminas (sinal de Chambert), e o retículo vasculocutâ-
vés de exames complementares, um infarto agudo do miocárdio, neo afirmam queimaduras intra vitam. No cadáver não se forma
por exemplo. O médico assistente é o único profissional que poderá nenhum desses sinais vitais. E as bolhas porventura existentes as-
atestar a veracidade dos fatos e é quem deverá fornecer o atestado sestam-se em áreas edemaciadas contendo gás e, às vezes, líquido
de óbito, mesmo que o paciente tenha poucos minutos ou horas desprovido de albuminas e de glóbulos brancos.
de hospital. Um infarto do miocárdio recente tem grande proba- 9) O cogumelo de espuma traduz fenômeno vital, pois só se
bilidade de não ser macroscopicamente observado e ter um fácil forma nos afogados que reagiram à proximidade da morte cedo fo-
diagnóstico clínico (gráfico mais laboratorial).12 ram retirados do meio líquido.
Diagnose Diferencial Das Lesões “Ante” E “Post Mortem” 10) A diluição do sangue e a presença de líquido nos pulmões e
O legisperito esclarecerá à Justiça se as lesões encontradas fo- no estômago, nos asfixiados por submersão, de substâncias sólidas
ram causadas: a) bem antes da morte; b) imediatamente antes da no interior da traquéia e dos brônquios, no soterramento, de fuli-
morte c) logo após a morte; d) certo tempo após a morte. gem nas vias respiratórias e monóxido de carbono no sangue dos
- Lesões Intra- Vitam- são lesões que ocorrem no corpo huma- que respiraram no foco de incêndio, de aeração pulmonar e conte-
no durante a vida, com características específicas como: infiltração údo lácteo no tubo digestivo de recém-nascido são sinais certos de
da malha tecidual, coagulação, presença abundante de leucóci- reação vital.13
tos,etc. Reação Vital. Provas microscópicas
- Lesões Post- Mortem- são lesões que ocorrem após a morte, Prova de Verderau: determinação de leucócitos/hemácias no
não possuem Reação Vital. foco da lesão e em qualquer uma outra parte do corpo afastada
dele.
As lesões adquiridas quando a pessoa estava viva (in vitam) Prova histológica: verificação microscópica da presença de um
devem ser diferenciadas daquelas que adquiridas depois da morte infiltrado ou exsudato leucocitário em volta de lesão.
(post mortem), principalmente para estimar a causa da morte.
Avaliação histopatológica:
A reação vital será o elemento diferencial entre as lesões intra
4-8 horas: infiltração de leucócitos neutrófilos polimorfonucle-
vitam e post mortem e consiste em um conjunto de sinais macros-
ares.
cópicos, microscópicos e químicos tissulares (histoquímicos, enzi-
12 horas: presença de monócitos
máticos e bioquímicos) e que ocorrem somente quando as lesões
48 horas: máximo de exsudação (em traumatismos assépticos)
forma provocadas com a vítima estando viva e não após a sua mor-
30 dia: crescimento epitelial, proliferação de fibroblastos e ne-
te (Vanrell, 2007)
oformação vascular (capilares de neoformação).
Utilizando-se como referência Vanrell (2007), resumi-se a se-
40 a 50 dia: aparecimento de fibras colágenas
guir os sinais característicos de lesões ante mortem:
70 dia: tecido fibroso cicatricial (nas lesões de pequena exten-
são).
Sinais macroscópicos
1) Hemorragia - A hemorragia interna proveniente de lesão Prova histoquímicas enzimáticas: aumento de algumas enzi-
produzida no vivo aloja-se no interior do corpo sob forma de gran- mas como a fosfatase alcalina, fosfatase ácida, aminopeptidade,
des coleções hemáticas. No morto, a coleção hemática interna é esterase e ATP-ase podem auxiliar na estimativa da idade em horas
sempre de reduzidíssima dimensão, ou não existe, e o sangue não da lesão, variando de 1 a 8 horas.
coagula.. Provas bioquímicas: análise quantitativa da presença de hista-
2) Retração dos tecidos - Os ferimentos incisos e os cortocon- mina ou serotonina presentes em traumas teciduais, no entanto,
tundentes mostram as margens afastadas, devido à retração dos só são reconhecíveis se realizadas até uma hora antes da morte e
tecidos, o que não ocorre nos feitos no cadáver, pois neste os mús- estão presentes no corpo até 5 dias após a morte.14
culos perdem a contratilidade.
3) Escoriações - A presença de crosta recobrindo as escoriações
significa lesão intra vitam. Dessarte, pergaminhamento da pele es-
EXAME DE LOCAIS DE CRIME. ASPECTOS MÉDICO‐LE‐
coriada é sinal seguro de lesão pos mortem.
GAIS DAS TOXICOMANIAS E DA EMBRIAGUEZ. LESÕES E
4) Equimoses - Sobrevêm de repente no vivo após o traumatis-
MORTE POR AÇÃO TÉRMICA, POR AÇÃO ELÉTRICA, POR
mo, e se apagam lenta e paulatinamente. No cadáver não ocorrem BAROPATIAS E POR AÇÃO QUÍMICA
essas contínuas variações de tonalidades cromáticas.
5) Reações inflamatórias - Manifestadas pelos quatro sintomas
cardinais: dor, tumor, rubor e calor. Desse modo, é a inflamação O local de crime constitui-se em uma diligência das mais im-
importante elemento afirmativo de que a lesão foi produzida bem portantes na Criminalística moderna. Preservá-lo significa garantir
antes da morte. a sua integridade para a colheita de vestígios que esclarecerão ou
6) Embolias - São acidentes cujas principais manifestações de- auxiliarão no esclarecimento da mecânica dos fatos. É, pois, a con-
pendem do órgão em que ocorrem. Chama-se embolia à oblitera- tribuição concreta e decisória no esclarecimento da causa jurídica
ção súbita de um vaso, especialmente uma artéria, por coágulo ou da morte.
por um corpo estranho líquido, sólido ou gasoso, chamado êmbolo. Assim, entende-se por local de crime a região do espaço em
7) Consolidação das fraturas - O tempo de consolidação de que o mesmo ocorreu, bem como toda uma porção do espaço com-
uma fratura varia conforme o osso. Amiúde demanda 1 ou 2 meses. preendida em um raio que, tendo por origem o ponto no qual é
constatado o fato, se estenda de modo a abranger todos os lugares
13 Fonte: www.profsilvanmedicinalegal.blogspot.com.br
12 Fonte: www.portalmedico.org.br 14 Fonte: www.portaleducacao.com.br
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em que se presume que hajam sido praticados, pelo criminoso, ou Dessa forma, percebe-se a relevância dos procedimentos de
criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores à consu- isolamento e preservação do local de crime, para a ocorrência de
mação do delito, e que com esses tenha relação direta. um trabalho pericial que proporcione a máxima exatidão no que
O local de crime pode ser subdividido entre corpo de delito e concerne a análise dos vestígios.
os vestígios. Do ponto de vista da perícia técnica atual, corpo de de- 2. Local do crime e o trabalho dos policiais e peritos
lito se trata de qualquer ente material relacionado a um crime, no Para que ocorra uma elucidação eficaz na ocorrência de um
qual se possa fazer um exame pericial. É, pois, o elemento principal crime, necessário se faz a realização da perícia no local da pratica
de um local de crime, em torno do qual estão os vestígios e para o do ato criminoso. Para tanto, a autoridade que primeiro chegar ao
qual convergem as evidências, de modo que, se retirado do local local, seja ela socorrista, segurança ou brigadista, deverá providen-
da morte, descaracterizaria por completo a ocorrência, tornando-a, ciar que o mesmo não se altere até a chegada dos peritos. Assim
via de regra, inexistente. preceitua o art. 169 do Código de Processo Penal (CPP).
Já os vestígios constituem-se em qualquer marca, objeto ou Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido pra-
sinal que possa ter relação com o fato investigado. A existência ticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para
do vestígio pressupõe a existência de um agente provocador (que que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, que
o causou ou contribuiu para tanto), bem como do local em que o poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou esque-
vestígio se materializou. Aquele vestígio que, após analisado pelo mas elucidativos. (CPP)
perito, apresenta relação direta com o fato investigado, trata-se da Não obstante cada local de crime obter suas peculiaridades,
evidência. qualquer ambiente pode ser local de ato criminoso. O local do cri-
me constitui-se frágil e delicado sendo, portanto necessário extre-
O termo “indício” está explícito no artigo 239 do Código de
mo cuidado para que provas não se percam.
Processo Penal: “Considera-se indício a circunstância conhecida e
Cada local de crime é único e exige do perito criminal uma sé-
provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, con-
rie de cuidados no planejamento e na organização de suas funções
cluir-se a existência de outra ou outras circunstância.” Embora o
visando alcançar a verdade dos fatos. Durante o transcorrer do exa-
conceito seja semelhante, não se confunde com o termo “evidên- me pericial, os requisitos podem mudar à medida que novos ele-
cias”, por ser aquele definido na fase processual, além de carregar mentos sejam reconhecidos, e o perito criminal terá que se adaptar
consigo elementos não só materiais, mas também outros de natu- ao novo cenário. (BRANDÃO, Humberto. 2012)
reza subjetiva. O exame dos objetos e das vestes do morto, bem Quatro são os critérios que classificam o local do crime. Tais
como o próprio exame do cadáver e pesquisas em laboratório, são critérios fazem referência à localização, à área, à natureza e os ves-
hoje tarefas da Perícia Criminal, uma vez que se entende não incluir tígios existentes no local do ato ilícito. O primeiro critério é de sim-
nesse tipo de atividade pericial apenas o exame do óbito externo ples identificação, a localização refere-se apenas a identificação do
do cadáver, mas tudo que é encontrado em suas imediações ou que perímetro do local do crime, ou seja, se a área é urbana ou rural.
se relacionem ao fato. Já o segundo critério diz respeito à área: se o ato criminoso
Destarte, hodiernamente, a presença do médico legista no ocorreu em local interno ou externo, ou seja, se o ato criminoso
local de crime não tem mais grande relevância, uma vez que tais ocorreu dentro de um ambiente físico fechado (residências, lojas)
atividades podem ser perfeitamente executadas pelos técnicos em ou em local aberto (rua, praça).
Criminalística. Nesses casos, a atuação indispensável do médico le- Os locais internos e externos se subdividem em ambiente me-
gista se dá no necrotério, no estudo das lesões violentas provenien- diato ou imediato. Este se compreende como o espaço ocupado
tes de diferentes formas de energias, a fim de sondar e investigar a pelo corpo de delito e o seu entorno e aquele se refere à área adja-
natureza de tais lesões. cente ao local imediato.
França (2014) menciona que, sendo a Criminalística moderna Quando se estuda o critério da natureza do local do ato cri-
uma ciência bem definida, exercida por profissionais de alto nível minoso, foca-se em duas questões que se pautam na natureza da
que contam inclusive com conhecimentos de Medicina Legal em área e na natureza do ato, sendo elas respectivamente: onde o ato
seu currículo, podem esses realizar seus trabalhos sem a interferên- ocorreu e o que ocorreu?
cia de outros profissionais. Ademais, esta interferência, quando se Por fim, o critério do local do crime onde os vestígios podem
dá, pode não ajudar. Isso por que ainda que o médico legista possa ser encontrados são classificados como idôneos, inidôneos ou re-
auxiliar na natureza jurídica da lesão ou da morte, em sua formação lacionados. Este é compreendido como qualquer lugar sem ligação
médico-científica não há nenhuma noção de criminalística e, tendo geográfica direta com o local do crime, mas que, no entanto possa
conter alguma informação que se relacione ou auxilie no exame
seus laudos conflitados com os dos peritos criminais, pode acabar
pericial.
por contribuir para o trabalho da defesa.
O local do crime idôneo são aqueles locais que não foram vio-
Quando da ocorrência de um crime, a polícia militar ou outra
lados se mantendo preservados. Ao contrário os inidôneos se refe-
autoridade competente, como primeiro a chegar, na condição de
rem aqueles que foram violados perdendo a sua integridade.
representante do Estado, tem o dever de zelar para que os proce- Conforme estabelecido no artigo 158 do Código de Processo
dimentos implementados no local obedeça aos parâmetros legais. Penal (CPP), quando a infração deixar vestígios, a perícia será ne-
A perícia no local de crime trata-se de uma diligência proces- cessária e indispensável mesmo quando houver a confissão do acu-
sual penal veiculada em um instrumento chamado laudo do local, sado. In verbis:
uma das colunas sobre as quais se apoiará no diagnóstico delimita- Art. 158 Quando a infração deixar vestígios, será indispensável
dor da causa jurídica da morte. Por isso, deve haver no local uma o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo
preservação rigorosa, a fim de resguardar todas as evidências, evi- a confissão do acusado.
tando ao máximo alterações produzidas por curiosos ou profissio- Assim, quando a análise preliminar demonstrar a existência de
nais despreparados. Ressalta-se, ainda, o cuidado e respeito à le- vestígios ou evidências que possam elucidar os eventos do crime e
galidade dos procedimentos de inquérito e processuais, posto que justifiquem a necessidade da perícia, esta deve ser acionada para
as provas devem ser obtidas de modo lícito, conforme aduz Greco que o processamento do local do crime seja feito de forma ade-
(2013). quada.
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No entendimento de como deve ser realizada a perícia, subdi- Ao fim do trabalho pericial, o perito elaborará um laudo com
vide-se o trabalho da polícia e do perito propriamente dito. Ambos todas as informações percebidas no ambiente do crime, incluindo
possuem acesso ao local a ser analisado e funções e atribuições nesse até se a movimentação policial prejudicou na análise do lo-
distintas de como proceder. cal. Através desse laudo o perito informa a autoridade policial e
A entrada da autoridade policial no local do crime deve ocorrer judiciária todas as suas percepções acerca da cena do crime e do
pela parte mais acessível, sendo feita, se possível, uma trajetória ato delituoso em si.
retilínea única entre o corpo de delito e a entrada do local. É essen- A elaboração do laudo deve atender a critérios objetivos e ser
cial que toda a movimentação do policial seja meticulosa e cautelo- didático. É composto por preâmbulo, introdução, transcrição de
sa, a fim de não comprometer o trabalho dos peritos. quesitos, conclusão, em que se é emitido o juízo de valor, e fecho,
A cautela dos policiais ao adentrarem o local só pode ser inob- onde há a autenticação do documento a fim de que o mesmo possa
servada em caso de socorro da vítima, para o real conhecimento do servir como prova judicial. A metodologia exigida é essencial, posto
fato ou para se evitar um mal maior, como no caso dos incêndios. que cabe ao laudo pericial a função de informar, esclarecer, de-
Após constatar a veracidade da denúncia, cabe ao policial, ain- monstrar e convencer, através de seu conteúdo lógico, quem tem
da, comunicar a autoridade competente do ocorrido e isolar o local o poder de julgar.
a fim de preservar todos os vestígios lá existentes. Todo o procedi- O trabalho dos peritos é fundamental e demasiadamente meti-
mento está estabelecido no Código de Processo Penal bem como culoso. Este ao chegar ao local do crime deve se atentar para qual-
na Lei 8.862/1994 que parcialmente o modificou. quer vestígio que possa elucidar como o ato delituoso aconteceu.
O perito criminal Décio de Moura Mallmith, leciona o seguinte Ao fim da análise do local, é competência do perito a elaboração de
acerca do trabalho do perito em locais de crime: um laudo, o qual constará as percepções do especialista acerca do
A presença dos peritos no local do delito, todavia, não substituí local do crime e do possível culpado pelo ato delituoso. Essencial,
as ações da autoridade policial, a qual caberá, além dos procedi- este laudo será de grande importância para a formação de um juízo
mentos para isolar a cena do crime e impedir o acesso de qualquer de valor daqueles que possuem o condão de julgamento acerca do
elemento alheio à equipe da perícia, ações que possibilitem a segu- caso em análise.
rança dos peritos e sua equipe, viabilizando deste modo a conclusão https://erikatamires.jusbrasil.com.br/
do trabalho pericial. Os trabalhos periciais no local de uma ocor-
rência findam quando o peritoesgotar todas as possibilidades de Toxicomanias e embriaguez
exames e se der por satisfeito com os mesmos, momento em que ele A toxicomania é geralmente expressão de um desajuste da
autorizará à Autoridade Policial a remover a interdição do sítio do personalidade, sendo raro os casos de pessoas emocionalmente
delito. A Autoridade Policial, entretanto, poderá optarpor manter o estáveis que se tornam viciadas. O recurso às drogas ocorre, em
local isolado, quando a interdição mostrar-se imprescindível para regra, em casos de debilidade mental e graves defeitos de caráter,
os trabalhos preliminares de investigação. constituindo processo de fuga diante de problemas e dificuldades.
A escassa margem de recuperações e curas efetivas, nos casos gra-
Com a chegada dos peritos, os policiais devem discorrer sobre
ves de toxicomania de opiáceos e drogas de efeitos semelhantes,
todo o ocorrido, narrando inclusive uma possível “contaminação”
bem demonstra que a ação repressiva em relação ao viciado cons-
do local do crime. Ou seja, deve ser passado aos peritos como foi
titui remédio inadequado, a ser empregado com cautela, dentro de
a movimentação policial no sítio e se algum vestígio foi acidental-
visão mais ampla do problema.
mente ou deliberadamente retirado do ambiente.
A Organização Mundial de Saúde, preferiu definir toxicomania:
Nos casos em que o local do crime observou um resultado mor-
estado de intoxicação crônica e periódica, produzido pelo contínuo
te, o procedimento padrão está descrito no CPP. Em geral, quando
consumo de uma droga. Suas características essenciais são: 1. A ne-
o crime resultar em uma vítima fatal, trabalha-se com cautela e
cessidade ou o desejo dominador de continuar a tomar a droga e
eficiência redobrada, posto que nestes casos é comum a aglome-
de obtê-la por qualquer meio; 2. tendência ao aumento da dose;
ração popular que pode comprometer significativamente a cena do 3. dependência psíquica, e, geralmente, física do uso da droga; 4.
crime. efeito prejudicial ao indivíduo e à sociedade.
O trabalho do perito em si, deve ser exercido com demasiada Muito difundida é a definição de Dr. MATTEI: “Venenos que
paciência, atenção e metodologia criteriosa. É a correta análise dos agem eletivamente sobre o cortex cerebral, suscetíveis de promo-
vestígios do local o ponto crucial para entender como ocorreu o ato ver agradável ebriedade, de serem ingeridos em doses crescentes,
criminoso. A título de curiosidade citam-se exemplos de como ob- sem determinar envenenamente agudo e morte, mas capazes de
jetos e vestígios do ambiente onde ocorreu o crime, podem auxiliar gerar estado de necessidade tóxica, graves e perigosos distúrbios
em sua definição e, se necessário, na identificação do criminoso. de abstinência, alterações somática e psíquicas profundas e pro-
Para o olho do perito, objetos quebrados e móveis desarru- gressivas”. Essa definição refere-se, no entanto, a um grupo peque-
mados podem significar luta, perseguição ou tentativa de fuga. Por no de entorpecentes, e mesmo assim impropriamente. Ela assinala
outro lado, cartas, bilhetes, embalagens de medicamentos e copos como características, a ação sobre o cortex cerebrasl, a euforia, a
com restos de bebida, demonstram um ato criminoso sem o uso tolerância e a dependência física. Nesse sentido são as definições
da violência, ou mesmo um suicídio. A presença de manchas de farmacológicas de um modo geral, as quais somente se aplicam aos
sangue ou produtos de limpeza distantes do cadáver revela, por opiáceos e às drogas sintéticas de efeitos análogos, bem como aos
vezes, uma mobilização do corpo, enquanto impressões digitais e/ barbitúricos, anfetaminas e possivelmente aos tranqüilizantes. Essa
ou pegadas determinam geralmente quantas pessoas participaram definição não se aplica à cocaina e seus derivados, nem à maconha,
do ato e auxiliam na identificação da vítima ou do criminoso. pois nelas a tolerância é nula ou muito reduzida, não havendo de-
Durante o processamento da cena do crime, principalmente pendência física.
nos casos de morte violenta, a arma do crime pode ser encontrada. Chama-se tolerância a alteração provocada no organismo, es-
Neste momento o perito em ação conjunta com o médico legista, tabelecendo a necessidade de doses crescentes, sem provocar en-
deve comparar as possíveis lesões que o objeto pode inferir com as venenamento agudo. A dependência física não se confunde com
reais lesões evidenciadas no corpo da vítima. o hábito, que é substancialmente um fenômeno psíquico e emo-
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cional, como o vício de fumar. A dependência física implica numa cerebral mórbido, onde originam-se tais pensamentos. De maneia
modificação da composição química do organismo, de tal sorte que similar, o bebedor não transmite a sua prole o desejo intenso pelo
deixa de existir funcionamento normal se a droga não estiver pre- álcool, mas sim o tecido corporal orgânico anormal, que dá origem
sente. Há aqui uma ação físico-química, podendo ser tornados to- a este desejo (HARLEY, 1884 apud BERRIDGE, 1994, p. 18).
xicômanos também os animais. Em conseqüência, as crises de abs- A medicina foi uma das disciplinas que se entusiasmaram, com
tinência, quando há dependência física, constituem uma realidade as possibilidades de resolução dos problemas sociais, através da
dramática, que não pode ser simulada. aplicação dos conhecimentos hereditários, que caracteriza a eu-
Assim a descreve DE ROPP: “Cerca de doze horas após a última genia, utilizando-as para fundamentar suas práticas (MOTA, 2007).
dose de morfina ou heroína, o viciado começa a tornar-se intran- Seguindo essa tendência, as associações entre a hereditarie-
qüilo. Uma sensação de fraqueza o domina; ele boceja, tem clafrios dade e a dependência continuam a ser pesquisados, com vistas a
e súa, tudo a um só tempo, enquanto uma esclarecer os enigmas da etiologia que as categorias diagnósticas
descarga d’água vem de seus olhos e dentro do nariz, a qual ele psiquiátricas, não foram capazes de solucionar. Para tal, emprega-
compara a “água quente escorrendo na boca”. Por algumas horas, -se o modelo epigenético que “compreende a herança genética das
lança-se ele em agitação anormal e sono intranqüilo, que os vicia- vulnerabilidades e sua modulação ao longo dos anos pelos efeitos
dos chamam de yen sleep. Ao despertar, dezoito ou vinte horas ambientais” (p.55) Por seu caráter complexo, a dependência quí-
após a sua última dose da droga, o viciado começa a penetrar nas mica é comparada a doenças como a diabetes e a hipertensão, em
últimas profundezas de seu inferno pessoal. Os bocejos podem ser decorrência do seu efeito genético ser proveniente de vários genes
tão violentos que causem deslocamento das mandíbulas; o muco que atuam em conjunto, gerando uma situação de vulnerabilidade,
aquoso escorre pelo nariz e lágrimas copiosas caem dos olhos, As junto à ação ambiental (MESSAS; VALLADA FILHO, 2004).
pupilas ficam largamente dilatadas; os cabelos e pelo ficam eriça- No relatório de neurociências sobre o consumo e a dependên-
dos, tornando-se a pele fria, com o aspecto típico da pele de ganso, cia de substâncias psicoativas, produzido pela OMS, a dependência
o que, na linguagem dos viciados é chamado de cold turkey, nome é vista como um transtorno cerebral, que causa alterações nas fun-
que também se aplica ao tratamento da toxicomania por meio de ções cerebrais, desde o nível molecular e celular até alterações em
abrupta retirada do tóxico. Então, acrescentando-se às misérias do processos cognitivos complexos. A possibilidade de herança genéti-
viciado, seu abdome começa a agir com violência fantástica: gran- ca, que venha a explicar as variações de consumo também é abor-
des ondas de contração passam sobre as paredes do estômago, cau- dada no documento (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).
sando vômitos explosivos, frequentemente manchados de sangue. Além da perspectiva dos determinantes hereditários, as ciên-
Tão extremas são as contrações dos intestinos, que a superfície do cias biológicas se valeram de outro modelo explicativo, baseado
abdome parece corrugada e cheia de nós, como se um emaranha- nas descrições dos quadros explicativos da abstinência, que justifi-
do de serpentes estivesse em luta sob a pele. A dor abdominal é cavam o uso contínuo de uma substância, para evitar o sofrimento
severa e aumenta rapidamente. Depois de oito a doze horas, os causado por sua falta no organismo. Mesmo não sendo corrobora-
sintomas constantes começam de novo. Se não se ministra a droga, da pela prática, a ideia da abstinência como suficiente para explicar
os sintomas começam a decrescer por si mesmo ao sexto ou séti- a causa da dependência e outras questões do uso de drogas, foram
mo dia, mas o paciente é deixado desesperadamente enfraquecido, e são até hoje, bastante difundidas (CRUZ, 2002; GARCIA-MIJARES;
nervoso, inquieto, sofrendo de renitente colite”. A crise de absti- SILVA, 2006).
nência provoca também, segundo outros observadores, fortes alu- A compreensão do fenômeno da dependência, pelo modelo
biológico de doença é criticável na medida em que: [...] baseia-se
cinações. A subministração da proga transforma imediatamente o
em modelos genéticos controversos e em generalizações questio-
quadro. HARRIS ISBELL, diretor do Centro de Pesquisas do Hospital
náveis de determinados experimentos para o fenômeno da de-
de Lexington, destinado à cura de toxicômanos, afirmou: “Constitui
pendência como um todo; não descreve uma história natural da
uma experiência dramática observar uma pessoa miseravelmente
relação do indivíduo com o produto, prescindindo, portanto, de
mal receber uma injeção endovenosa de morfina, e vê-la dentro de
uma teoria da dependência; não abrange grande contingente de
trinta minutos barbeada, limpa, rindo e dizendo pilhérias”.
casos que, embora não preencham critérios para sua inclusão nes-
ta categoria nosológica, correlacionam-se com taxas de morbidade
O consumo de substâncias psicoativas nem sempre foi enten-
e mortalidade diretamente ligadas ao consumo de álcool e drogas
dido como uma doença. Até o séc. XIX atrelava-se à uma deficiência (SILVEIRA, 1996 p.11).
de caráter, cujo indivíduo tinha o poder de escolha entre o consu- Se por um lado, a ideia de doença implica na ausência ou
mo ou não. No entanto, com a distinção entre o controle sobre o abrandamento da responsabilidade do sujeito sobre seus atos,
uso e a falta dele, a concepção de doença sobre este último (sem principalmente sobre a condição de estar doente, acompanhado
controle), passa a ser largamente adotada. Dessa maneira, por ser por concepções que perpetuam a noção de incurabilidade e impo-
considerada como doença, diversos investimentos são feitos com tência diante do mal (CRUZ, 2002). O compartilhamento massivo
o objetivo de identificar a(s) causa(s) da dependência (BERRIDGE, da perspectiva que analisa o problema através de suposições sobre
1994; GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006). distúrbios de personalidade, oriundos de causas orgânicas, endos-
Nas ciências biológicas, as hipóteses etiológicas, baseiam-se sam o imaginário de que o contexto social, pouco tem a ver com
na ideia de predisposição orgânica e hereditária de alguns sujei- o desenvolvimento e a manutenção da condição de dependente
tos, que interferem na vulnerabilidade para o desenvolvimento da (MOTA, 2007).
dependência. Essas concepções surgiram num contexto em que as
ciências positivistas, ganhavam notoriedade ao propor medidas Compreensões psicológicas
combativas para os problemas sociais, a exemplo da criminalidade, Formada por sistemas teóricos distintos, a psicologia não dis-
do alcoolismo e da prostituição (MOTA, 2007). põe de uma teoria comum sobre a (s) causa (s) da dependência
No trecho abaixo, podemos vislumbrar o entendimento do fe- de substâncias psicoativas. Como resultado, encontramos a elabo-
nômeno, no século XIX, através das ideias da predisposição fisioló- ração de diferentes hipóteses, que dão destaque a determinados
gica: [...] a insanidade hereditária deve-se à transmissão de pai para elementos, de acordo com sua leitura acerca do funcionamento
filho, não de pensamentos anormais, mas sim do próprio tecido psíquico e/ou as relações estabelecidas entre os homens e o meio.
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Contudo, as teorias da personalidade (modelo psicanalítico) e de tição do consumo ocorreria pelo papel reforçador da substancia,
aprendizagem (modelo comportamental) se destacaram na produ- ou seja, a substancia pode desempenhar um papel de reforçador
ção de possíveis explicações para uma conduta adicta. De forma positivo, onde o aumento da probabilidade de repetir o uso estaria
resumida, nos modelos psicanalíticos, a dependência é compre- relacionado às consequências recompensadoras, prazerosas, desse
endida como um sintoma e não necessariamente como causa. Na consumo. Na função de reforçador negativo, o aumento do consu-
tentativa de viver continuamente sobre o domínio do princípio do mo da substância se justificaria pela retirada de algo aversivo, de-
prazer, o sujeito incorpora a sua rotina um hábito de consumo de sagradável, à exemplo, afastar/ aliviar os sintomas da abstinência
substâncias psicoativas que vem a gerar a dependência (MOTA, (GARCIAMIJARES; SILVA, 2006).
2007). Entretanto, o modelo do reforço possui restrições para expli-
Por sua vez, no modelo inspirado nas teorias de aprendizagem, car a dependência. Se o comportamento não é controlado somente
a dependência se originaria a partir de uma estratégia habitual de pelos reforçadores, mas também pelos punidores (que diminuem a
automedicação, na tentativa de debelar sentimentos como ansie- probabilidade do comportamento), como justificar a manutenção
dade, raiva ou depressão (MOTA, 2007). do comportamento de consumir substâncias psicoativas, quando as
Na abordagem sistêmica, o foco da atenção terapêutica recai consequências aversivas (na saúde, trabalho, família) são maiores
sobre as relações interpessoais que se dão no seio familiar, enten- do que os reforços propiciados pelo consumo (GARCIA-MIJARES;
dida como um sistema de forças (SEADI, 2007). Nessa perspectiva, SILVA 2006)?
o conceito de dependência é entendido enquanto um mecanismo Frente a essas objeções, teorias atuais da dependência que en-
natural de adaptação, em que o sujeito busca uma solução para tendem o problema como resultante de um processo de aprendi-
questões que exigem uma resposta adaptada. Desta maneira, re- zagem, onde a substância e os estímulos associados a seus efeitos
corre-se a droga como algo que irá conferir ao sujeito uma com- adquirem controle potente sobre o comportamento, são propostas
petência relacional que lhe falta em determinados contextos (SU- para explicar a etiologia da dependência. Apresentaremos essas te-
DBRACK, 2000). orias, que se diferenciam quanto aos processos de aprendizagem
Outra visão, dentro da abordagem sistêmica, enxerga o sujeito envolvidos (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
dependente como portador do sintoma da disfunção familiar, que A teoria comportamental como escolha, desenvolvida por
contribui para a manutenção da mesma, na medida em que seu Heyman (1996 apud GARCIAMIJARES; SILVA, 2006), entende que a
consumo retira o foco dos problemas relacionais existentes entre dependência é um processo em que o consumo repetido da subs-
os outros membros da família (ORTH, 2005). tância, diminui progressivamente o valor reforçador de outras ati-
Na abordagem fenomenológico-existencial, a dependência
vidades, por serem as substâncias psicoativas um reforçador atípico
constitui-se como uma possibilidade de escolha dentre as possí-
(GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
veis disponíveis no mundo. Essa escolha, pelo uso de psicoativos,
A estratégia de escolha que controla o comportamento do in-
é tida como inautêntica e deliberada, ao transferir para a droga o
divíduo é base da explicação para o desenvolvimento da depen-
seu projeto de existir (OLIVEIRA, 2007). Para a Gestalt-terapia, de
dência. Nesses casos, o sujeito se vale da estratégia de melhoração
base fenomenológica- existencial, as pessoas reconhecidas como
(sic), que tem como objetivo obter o maior benefício no momento,
dependentes, estão fora de seu equilíbrio ótimo, frequentemente
ou seja, escolhem-se as alternativas, que possuam maior taxa de
incapazes de perceber quais as suas necessidades. Ocorrendo en-
reforço local. A escolha em recorrer a essa estratégia varia de acor-
tão, alterações nos processos funcionais de contato e afastando,
distorcendo a existência do sujeito enquanto ser unificado (TELLE- do com as contingências. (GARCIA-MIJARES;SILVA 2006).
GEN, 1984; PIMENTEL, 2003 Apud OLIVEIRA, 2007). Outra teoria que visa explicar a dependência é a teoria da sen-
Com o foco na reestruturação de cognições disfuncionais, a te- sibilização, que propõe que a dependência acontece porque a ad-
oria cognitiva acredita que a dependência é resultado da interação ministração repetida de uma substância psicoativa causa mudanças
entre o contato inicial com a droga e as cognições que se formarão cerebrais (sensibilização neural), que tornam os sistemas associa-
por influência das crenças básicas (SILVA; SERRA, 2004). dos à motivação, hipersensíveis aos efeitos das substâncias. Desta
A partir de crenças básicas disfuncionais, o sujeito faz suposi- forma, qualquer estímulo associado à substância psicoativa acar-
ções de como deverá agir diante de situações específicas, criando retará num comportamento de procura e consumo da substância
uma espécie de ciclo, repetindo o mesmo comportamento em oca- (GARCIAMIJARES;SILVA, 2006).
siões similares. Para aliviar o desconforto, em decorrência dos sen- Por fim, a teoria neurobiológica de Kalivas e outros (2005
timentos suscitados pela crença básica disfuncional, criam-se então apud GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006), integra as duas primeiras,
as chamadas estratégias compensatórias. Nesse caso o consumo de descrevendo as mudanças no circuito do reforço que acontecem
uma substância psicoativa, como estratégia compensatória, poderá no processo de dependência. O consumo repetido de psicoativos
desenvolver um novo grupo de crenças que manterá relação com a produziria mudanças no sistema nervoso, em vias dopaminérgicas
crença básica (SILVA, 2004). e glutamatérgicas especificas, que ocasionariam a diminuição do
Por representarem os modelos que mais contribuíram para o valor reforçador de estímulos naturais, com o aumento da resposta
entendimento da dependência, iremos discorrer sobre as hipóteses à estímulos associados com a substancia, alterando o comporta-
comportamentais mais atuais para a etiologia do problema. mento de escolha (GARCIA-MIJARES; SILVA, 2006).
Perspectiva comportamental No que concernem as técnicas, a abordagem comportamen-
Para a teoria comportamental, todo comportamento é conse- tal possui grande reconhecimento no tratamento da dependência,
quência da interação do indivíduo com seu ambiente. São os even- sendo largamente recomendados por guias terapêuticos médicos,
tos ambientais que determinam o comportamento, e não a cons- pela sua aceitabilidade na área psiquiátrica (SONENREICH; ESTE-
ciência e o autocontrole. No modelo do reforço, a manutenção e VÃO; FILHO, 2000).
a extinção de determinados comportamentos são explicadas pelos É importante ressaltar a existência de diversas terapias deno-
conceitos de reforço e punição. minadas cognitivocomportamentais, havendo em comum entre
Pensando no consumo de substâncias psicoativas, estas são elas a influência da cognição sobre o comportamento e a modifi-
entendida como um estímulo cuja função dependerá das consequ- cação do comportamento que pode ser realizado por mudanças
ências produzidas e do contexto em que é administrada. A repe- cognitivas (MARQUES; SILVA, 2000).
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Entretanto, mesmo com o reconhecimento e a recomendação posição de que os efeitos da cocaína seriam diferentes para cada
sobre a utilização das técnicas oriundas das teorias comportamen- pessoa. A semelhança entre os efeitos da cocaína e os efeitos da
tais e cognitivas, nos casos de dependência de álcool, cerca de 50 libido, que intoxicam o corpo, produzindo o efeito da economia da
a 60% dos pacientes não se beneficiam desses procedimentos (RA- energia, também é observada nas formulações pré-psicanalíticas
MOS; WOITOWITZ, 2004). Para nós, esse tipo de dado é importan- e são reconsideradas quando, uma possível relação entre as toxi-
te na medida em que aponta para a necessidade de produção de comanias e o narcisismo são propostas. Foi a partir da fundação
explicações plurais, que explorem elementos distintos do fenôme- da psicanálise, que Freud passou a enfatizar o papel desempenha-
no, e assim, contribuam na construção de propostas terapêuticas do pelas substâncias psicoativas na economia psíquica (RIBEIRO,
capazes de agregar aqueles que não se beneficiem dos métodos 2008).
padrões. Em suas teorizações e constantes mudanças, Freud situou a
dependência não na relação do humano com a substância, mas no
Perspectiva psicanalítica vinculo desenvolvido com o objeto, ou ainda, na forma como o ob-
O foco deste conteúdo na compreensão da teoria psicanalíti- jeto permite ao sujeito relacionar-se com os outros ao seu redor
ca, em relação ao fenômeno da dependência, se deu em virtude (RIBEIRO, 2008).
do reconhecimento da influência fundamental da psicanálise, para Apesar dessas investigações com a cocaína, a problemática das
a clínica psicológica. O método psicanalítico, operou uma mudan- toxicomanias se encontra escassa no percurso freudiano. Existem
ça em relação aos métodos terapêuticos da clínica médica, ao dar referências esparsas à psicose alcoólica e indagações sobre a re-
à escuta o lugar central na busca diagnóstica, em contraponto às lação da mania com a ingestão das drogas estimulantes (BIRMAN,
observações e uso de complexas tecnologias, lançados mão pela 2005).
clínica biomédica (MOREIRA et al., 2007). Foram as investigações de Radó (1926), com a elaboração do
A tarefa diagnóstica passou a objetivar o conhecimento e re- conceito de orgasmo farmacogênico (apoiado no conceito de orgas-
conhecimento das formas de aparecimento dos transtornos, indo
mo alimentar do erotismo oral), que tiveram um efeito marcante
além da identificação categórica, mas detectando e interpretando
no pensamento psicanalítico. O consumo da substância psicoativa
o funcionamento de organizações psíquicas inconscientes, próprias
é articulado no registro da oralidade, de forma que o sujeito toxi-
das alterações manifestas (SAURÍ, 2001).
cômano viveria a demanda repetida da incorporação de um objeto
Para a investigação de um consumo prejudicial de substân-
capaz de lhe restituir a completude perdida do orgasmo alimentar.
cias psicoativas (dependência), o método psicanalítico foi além das
(BUCHER, 1992; BIRMAN, 2005).
constatações biológicas e observáveis através do comportamento
A influência dessa perspectiva fez com que surgissem inter-
do sujeito. Pois, diante das particularidades que diferenciam as to-
pretações que abordam uma relação materna insatisfatória, como
xicomanias dos outros fenômenos psicopatológicos, o conhecimen-
se o toxicômano buscasse com a substância psicoativa, uma figura
to sobre este, só se dá a partir da fala do sujeito identificado como
toxicômano (BUCHER, 1992). materna preenchedora, que lhe faltou na história infantil (BUCHER,
Então, à constatação de que a dinâmica inconsciente possuía 1992; BIRMAN, 2005; MOTA, 2007).
um papel importante no desenvolvimento da dependência, abriu- As críticas direcionadas a essa interpretação da toxicomania,
-se espaço para a produção de várias teorias dinâmicas sobre a gê- se dão pela falta de relação com uma dimensão estrutural dessa
nese dos comportamentos aditivos (MOTA, 2007). modalidade de funcionamento mental (BIRMAN, 2005). A busca
A produção dessas teorias não garantiu à psicanálise um cor- por uma estrutura exclusiva da toxicomania provoca discordância
pus teórico consistente, que se atenha sobre a drogadição, em suas entre os trabalhos pósfreudianos, Zafiropoulos (1984) e Olivenstein
diversas formas de uso, incluindo a toxicomania. Essa constatação (1983) pressupõem uma estrutura, ou uma preexistência para a
é vista com surpresa, tendo em vista que o fenômeno pode suscitar toxicomania, que é de difícil definição (BUCHER, 1992). Por outro
diversos questionamentos passíveis de serem explorados pela psi- lado, Melman (1989), acredita que é a droga que cria o estado de
canálise (BUCHER, 1992). No entanto, as críticas apresentadas por adição por provocar “a suspensão da existência” (MELMAN, 1989
Bucher (1992), sobre a escassez de estudos na teoria psicanalítica apud BUCHER, 1992). Ao questionar essa ideia, Freda (1989), en-
sobre a toxicomania, não desconsidera as reflexões psicanalíticas dossa o lugar do sujeito no desenvolvimento de uma dependência,
sobre o assunto, mas a falta de articulação entre as hipóteses de- dizendo que “é o toxicômano que faz a droga”, pois conceder aos
senvolvidas pelas diversas escolas. efeitos das substâncias psicoativas a preeminência sobre o desen-
Porém, antes de expor algumas interpretações, é preciso fa- volvimento da toxicomania é concordar com um determinismo me-
zer algumas considerações sobre o termo toxicomania, que nasceu cânico que torna inviável uma concepção de sujeito (FREDA, 1989
no campo médico, no fim do século XIX, associado aos sentidos de apud BUCHER, 1992).
degenerescência, imoralidade e paixão. A psicanálise passa a utili- Sem chegar a uma resposta final, sobre a existência ou não de
zá-lo para se referir à intoxicação crônica de substâncias psicoativas uma quarta estrutura, permanece a ideia de que a manifestação to-
(BENTO, 2006; RIBEIRO, 2008). As primeiras investigações de Freud, xicomaníaca, não é exclusiva de uma das três estruturas propostas
sobre as substâncias psicoativas, em especial a cocaína, foram rea- (neurose, psicose, perversão). Sendo a importância de cada estru-
lizadas enquanto atuava como neurologista. Seu interesse era em tura, na relação estabelecida com o objeto droga (GIANESI, 2005).
relação aos possíveis benefícios da cocaína ao organismo. Desde A manutenção das hipóteses do estado-limite e a hipótese da
este momento que podemos chamar de pré psicanalíticos, a abor- problemática narcísica, por considerá-las mais cautelosas, críticas,
dagem empreendida por Freud ia de encontro com as formulações autocríticas e mais adequadas para passarem pelo “crivo da ex-
psiquiátricas da época, que creditavam à cocaína a causa por algu- periência clínica” (BUCHER, 1992 p.281), é defendida por Bucher
ma espécie de lesão funcional (RIBEIRO, 2008). (1992), tendo o estado atual da questão. A primeira, desenvolvida
Inicialmente, as hipóteses freudianas sobre o consumo de co- por Glover (1932), postula que tal estado é criado por uma rea-
caína, acreditavam que o organismo poderia ser capaz de realizar ção específica em decorrência de fantasias sexuais primitivas. Estas
uma maior quantidade de trabalho com um menor gasto de ener- operariam uma transição entre a fase psicótica precoce e a fase
gia, promovendo um efeito econômico. Em seguida, surgiu a pro- neurótica (BUCHER, 1992).
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A referência ao narcisismo, concebida por Freud, destaca as A embriaguez provocada pelo álcool ou outra substância de
substâncias psicoativas como a alternativa mais interessante na efeitos análogos, voluntária ou culposa, não exclui a imputabilidade
tentativa de amenizar o mal-estar, causado pela renúncia da satis- penal. A respeito, ver inciso II do art. 28 do Código Penal. Todavia,
fação total dos desejos. Essa característica dos psicoativos passou a os parágrafos desse artigo fazem duas exceções na apuração da
ser vista, como capaz de promover um redirecionamento da libido responsabilidade penal. O primeiro diz respeito à embriaguez com-
investida nos objetos, para o eu (ego), de tal forma que há um de- pleta decorrente de caso fortuito ou força maior, que retira total-
sinvestimento do mundo externo, que quando bem-sucedido, oca- mente, ao tempo da ação ou da omissão, a capacidade de entendi-
siona o abandono de outras atividades (RIBEIRO, 2008). mento do caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
Por fim, o recurso da droga pode ser usado para lidar com a esse entendimento – inteira incapacidade. No segundo momento,
dor de existir, o sofrimento de sua divisão subjetiva, o insuportável a Lei se manifesta sobre a embriaguez proveniente de caso fortuito
do impossível da relação sexual e o mal-estar existente na cultura ou força maior que diminui, mas não extermina, ao tempo da ação
e nos laços sociais. E é essa diversidade de objetivos, para os quais ou omissão, a capacidade de entendimento do caráter ilícito do
as substâncias psicoativas podem ser utilizadas, que denotam as fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento – não
singularidades que cada sujeito irá estabelecer com as drogas (OLI- possuir plena capacidade.
VEIRA, 2010).15 Observa-se, portanto, a necessidade premente de se definir
com a máxima exatidão possível o que se compreende tecnicamen-
A toxicomania como doença mental e seus efeitos no proces- te por embriaguez ou intoxicação aguda provocada por substâncias
so penal brasileiro químicas conhecida como drogadição. Levando em consideração as
A compreensão exata das doenças mentais incapacitantes e consequências legais, normalmente se adota o conceito do CID-10,
seus efeitos no processo penal é assunto de alta relevância jurídi- que assim é discriminado:
ca com expressivos efeitos na relação processual. Especialmente, “Estado consequente ao uso de uma substância psicoativa e
se ficar comprovado mediante exame de insanidade mental que o compreendendo perturbações da consciência, das faculdades cog-
acusado, ao momento da ação ou omissão, era incapaz de entender nitivas, da percepção, do afeto ou do comportamento, ou de outras
e querer o caráter ilícito do fato será ele absolvido com aplicação funções e respostas fisiológicas. As perturbações estão na relação
de medida de segurança com especial finalidade terapêutica. Esta é direta dos efeitos farmacológicos agudos da substância consumida
a previsão expressa do artigo 26 em combinação com o artigo 96 e e desaparecem com o tempo, com cura completa, salvo nos casos
incisos do Código Penal (Brasil, 2012) em que surgiram lesões orgânicas ou outras complicações. (on line,
O estudo das doenças mentais é assunto alta relevância e que 2017)
corriqueiramente assola os juristas do Brasil em face a sua comple- Neste contexto, podemos dizer que que a drogadição ou to-
xidade na medicina legal. Da mesma forma, os limites dos efeitos xicomania pode gerar ou a isenção de pena quando total ou a re-
da dependência química, seja ela qual for, devem ser estudados dução facultativa da pena quando parcial e ocorrida no momento
com precisão a fim de se ter a melhor resposta penal possível. conduta.
O vício ou drogadição tem sido causa de grandes estudos e a Júlio Fabrini Mirabete (1985), em abalizada doutrina leciona
medicina legal tem se dedicado ferozmente a pontuar os proble- sobre o assunto que:
mas sociais e jurídicos causados pelo uso indiscriminado de subs- “O agente que pratica a conduta quando sujeito à ação dessas
tânciaspsicoativas. Esta questão toma um contorno mais profundo substâncias tóxicas é tratado pela lei nos mesmos termos reserva-
quando avaliada para a caracterização da responsabilidade penal. dos ao ébrio etílico (excetuados os crimes relacionados ao tráfico e
A presença de tais substâncias o organismo pode ter reflexos porte de drogas, sujeitos a legislação especial.”
sobre a culpabilidade do agente, a saber: Tecnicamente falando, a luta do direito processual penal ho-
“O princípio da culpabilidade deve ser entendido, em primeiro dierno é justamente o de tentar chegar o mais próximo possível de
lugar, como repúdio a qualquer espécie de responsabilidade pelo
uma verdade real ou substancial, tornando inadmissível na esfera
resultado, ou responsabilidade objetiva. Mas deve igualmente ser
penal as constatações baseadas em ficções ou presunções.
entendido como exigência de que a pena não seja infligida senão
A Constituição Federal alerta para a necessidade da utilização
quando a conduta do sujeito, mesmo associada causalmente a um
do máximo de cautela na busca das provas quando do julgamento
resultado, lhe seja reprovável. … Para além de simples laços subjeti-
de uma determinada conduta. Assim, a prova deve gerar no ma-
vos entre o autor e o resultado objetivo de sua conduta, assinala-se
gistrado a convicção de que necessita para o seu pronunciamento,
a reprovabilidade da conduta como núcleo da ideia de culpabilida-
declarando a existência ou não da responsabilidade criminal.
de, que passa a funcionar como fundamento e limite da pena. As
Dessa feita, se o réu faz uso de substâncias químicas psicoa-
relações entre culpabilidade e pena constituem matéria polêmica,
que integra a teoria do crime, onde a estrutura e as funções dog- tivas capazes de alterar a sua conduta e compreensão dos fatos
máticas da culpabilidade, seja na economia do crime, seja na funda- sociais que o cercam, necessita-se consequentemente de peritos
mentação da pena, são minuciosamente examinadas. Em primeiro determinem qual o grau de intervenção física que estas substâncias
lugar, pois, o princípio da culpabilidade impõe a subjetividade da provocam no mesmo. Logo, a constatação de insanidade mental do
responsabilidade penal. Não cabe, em direito penal, uma responsa- acusado associada a produção de provas é assunto tecnicamente
bilidade objetiva, derivada tão-só de uma associação causal entre a interligado e que pode gerar reflexos no conteúdo do julgamento.
conduta e um resultado de lesão ou perigo para um bem jurídico. Para se delimitar melhor a extensão das toxicomanias e segun-
É indispensável a culpabilidade. No nível do processo penal, a exi- do as pesquisas de saúde pública, sociais e educacionais da Organi-
gência de provas quanto a esse aspecto conduz ao aforisma ‘a cul- zação das Nações Unidas, constantes do site do Instituto de Medi-
pabilidade não se presume’, que, no terreno dos crimes culposos cina Social e Criminologia de São Paulo, podemos distinguir quatro
(negligentes), nos quais os riscos de uma consideração puramente tipos de usuários:
causal entre a conduta e o resultado são maiores, figura como cons- “Usuário experimental ou experimentador: limita-se a experi-
tante estribilho em decisões judiciais: ‘a culpa não se presume’. A mentar uma ou várias drogas, por diversos motivos, como curio-
responsabilidade penal é sempre subjetiva’ (BATISTA,1990) sidade, desejo de novas experiências, pressão de grupo etc. Via de
regra, este contato não ultrapassará as primeiras vezes.
15 Fonte: www.psicologia.pt/www.fragoso.com.br
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Usuário ocasional: utiliza um ou vários produtos, de vez em 1ª. SÉRIE
quando, se o ambiente for favorável e a droga disponível. Nestes 1) Se é possível, através dos exames clínicos ou de laboratório,
casos, os pesquisadores não identificam o desenvolvimento de de- procedidos na pessoa do Réu, concluir ser ele dependente de subs-
pendência, nem corte das relações afetivas, sociais ou profissionais. tâncias químicas psicoativas capazes de causar distúrbios compor-
Usuário habitual ou “funcional”: faz uso frequente de drogas. tamentais de natureza violenta?
Em suas relações sociais já é possível se verificar uma certa dissolu- 2) Qual é a diagnose?
ção. Mesmo assim, ainda tem uma vida social razoável, embora de 3) Em caso positivo, que substância pode ter sido usada pelo
forma precária e correndo riscos de dependência. É aquele usuário réu, quando da prática criminosa?
vulgarmente chamado como “viciado”. 4) Em função do transtorno diagnosticado, qual é o estado da
Usuário dependente ou “disfuncional” (dependente, toxicôma- capacidade de entendimento? Normal, abolida, reduzida.
no, drogativo, farmacodependente, dependente químico): estes são 5) Em função do transtorno diagnosticado, qual é o estado da
os casos mais severos. O indivíduo que alcança esse estágio vive capacidade de determinação? normal, abolida, reduzida.
pela droga e para a droga, quase que exclusivamente. Rompe vín- 6) Se o próprio réu afirmou ao perito ser usuário de substância
culos sociais e afetivos, o que acaba por leva-lo ao isolamento e entorpecente?
à marginalização, acompanhados, eventualmente, de decadência 7) Em caso positivo, se quando fez essa afirmação informou ao
física e moral.” perito qual a substância mais consumida por ele?
Temos que aceitar, portanto, que a identificação do grau de 8) Em caso positivo de sete (7), se dentre essas substâncias pos-
envolvimento dos autores de delitos com substâncias psicoativas sivelmente usadas pelo Réu, pode-se incluir a erva cannabis cativa
depende de informação fornecida por perito da área após análise lineu, vulgarmente conhecida como maconha e∕ou cocaína e∕ou
clínica e laboratorial e deve ser devidamente considerada pelo juiz cack?
de direito de acordo com o seu livre convencimento motivado e se 9) Em caso positivo de sete (7) ou oito (8), pela gravidade e vio-
balizando em todas as características acima descritas. lência do ato criminoso praticado pelo Réu, pode-se afirmar, ou pelo
Os artigos 45 até 47 da própria Lei Federal nº 11.343, de 26 de menos supor, com razoável margem de acerto, que o réu estava sob
agosto de 2006, dizem expressamente que: o efeito de uma ou algumas das drogas mencionadas em sete (7) ou
“Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependên- oito (8), quando da prática dos atos descritos na Denúncia ?
cia, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de
droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha 2ª. SÉRIE
sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender 1) Se pelas características fisiológicas-psiquícas apresentadas
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse pelo réu é possível concluir, pelo menos aproximadamente, ser ele
entendimento. portador de distúrbio mental predisponente a atos de violência
Parágrafo único.Quando absolver o agente, reconhecendo, por 2) Se estando o réu sob o efeito de bebida alcoólica, maconha
força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste ou cocaina, perdeu a capacidade de entender o caráter criminoso
artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá deter- do fato que estava praticando?
minar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento 3) Em caso negativo de dois (2), mesmo entendendo o caráter
médico adequado. criminoso do fato que praticava, estava impossibilitado de determi-
Art. 46.As penas podem ser reduzidas de um terço a dois ter- nar-se diante deste entendimento?”
ços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, A proposta de quesitos como acima exemplificados atende a
o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena necessidade de se questionar dos peritos responsáveis a extensão
capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se dos efeitos das substâncias químicas que, se incapacitantes, podem
de acordo com esse entendimento. levar a absolvição dos réus com a aplicação de medidas de seguran-
Art. 47.Na sentença condenatória, o juiz, com base em avalia- ça com especial finalidade terapêutica.
ção que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para
tratamento, realizada por profissional de saúde com competência Posição da jurisprudência sobre o tema.
específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, obser- A questão da toxicomania ou drogadição tem sido objeto de
vado o disposto no art. 26 desta Lei.” intensos debates na jurisprudência, havendo vários precedentes
Diante das descrições legais supra ditas, podemos entender sobre o assunto que já reconheceram que a sua incidência ocasio-
que se o corpo probatório contido nos autos indicar que o réu é na importantes reflexos na decisão judicial impondo-se medida de
dependente do uso de substâncias psicoativas, será imprescindível segurança com especial finalidade terapêutica.
a realização de exame pericial para a averiguação da capacidade Em julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já se
plena de entendimento do caráter ilícito do fato e/ou de autode- entendeu que se o réu ao tempo da ação, por doença mental (in-
terminação conforme esse entendimento. Vale ressaltar que a Lei toxicação por múltiplas substâncias psicoativas, estado alterado de
Penal mantém o critério biopsicológico na apuração da responsa- consciência e distimia) é totalmente incapaz de entender o caráter
bilidade penal. ilícito de seus atos e, também, totalmente incapaz de determinar-
-se de forma diversa da que se conduziu deve-se nos termos do
Proposta de quesitos acerca da toxicomania ou drogadição. artigo 26 do Código Penal impor o reconhecimento da inimputabili-
Havendo, portanto, a possibilidade técnica de que os acusados dade penal que isenta o agente de pena (Brasil, 2014).
em processo penal sofram de transtornos de comportamento de- No mesmo sentido, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais já en-
correntes da dependência química, fato que poderá influenciar no tendeu que é necessária a internação de dependente químico para
livre convencimento motivado do julgador e nos termos do artigo tratamento psiquiátrico e de desintoxicação, atestado em relatório
149[iii] do Código de Processo Penal propõe-se a seguinte forma de médico como meio hábil a reduzir o risco de morte bem como o
quesitos a serem respondidos pelos peritos técnicos: perigo de dano irreparável à saúde do paciente interessado (Brasil,
2013).
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Não menos importante é o entendimento proferido pelo Supe- Quanto à profundidade, as queimaduras podem ser classifica-
rior Tribunal Militar que, na mesma esteira do raciocínio exarou a das como:
decisão que se o réu no incidente de insanidade mental respondeu - 1º grau: atingem as camadas superficiais da pele. Apresentam
positivamente ao quesito relativo à existência de doença mental vermelhidão, inchaço e dor local suportável, sem a formação de
sofrendo de síndrome de dependência de cocaína e transtorno de bolhas;
personalidade emocionalmente instável impõe-se medida de segu- - 2º grau: atingem as camadas mais profundas da pele. Apre-
rança na modalidade de tratamento ambulatorial (Brasil, 2004). sentam bolhas, pele avermelhada, manchada ou com coloração
Por fim, em importante e recente julgado, o Supremo Tribunal variável, dor, inchaço, despreendimento de camadas da pele e
Federal no voto proferido pela Excelentíssima Ministra Rosa Weber possível estado de choque;
entendeu que a prisão preventiva não é o instrumento processual - 3º grau: atingem todas as camadas da pele e podem chegar
penal hábil para enfrentar a situação pessoal do paciente diante aos ossos. Apresentam pouca ou nenhuma dor e a pele branca ou
dos fortes indícios de que seja portador de enfermidade mental carbonizada.
capaz de sujeitá-lo a medida de segurança futura com relatos de
internamentos e de tratamento ambulatorial anteriores, de diag- Riscos
nósticos psicóticos, de adição a drogas e de déficit de atenção. No Uma queimadura térmica é um dano à pele causado pelo calor.
caso julgado a “dúvida sobre a integridade mental do acusado” (ar- A gravidade das queimaduras é classificada por quão profunda é a
tigo 149 do Código de Processo Penal) orientou a Corte Suprema queimadura e quanto do corpo é afetado. As causas comuns são o
que a prisão fosse substituída por regime de internação provisória fogo, líquidos quentes (especialmente em crianças), radiação e luz
compulsória conforme artigo 319, VII do CPP (Brasil, 2015). ultravioleta (como a luz solar ou camas de bronzeamento). As le-
Como se pode notar pelos julgados compilados o processo pe- sões térmicas podem afetar qualquer pessoa, mas tendem a afetar
nal não pode desprezar o fato de que a drogadição ou toxicomania as crianças e as pessoas mais velhas com mais frequência do que
pode causar doenças mentais graves e, desde que provada tal situ- adolescentes e adultos. As lesões térmicas provavelmente ocorrem
ação, é juridicamente possível imposição de medidas de segurança. por acidente, mas também podem ser um sinal de abuso.
A luta do processo penal é a busca da verdade real para o al-
cance da justiça. Se ficar comprovado através de exame técnico, Sintomas
denominado incidente de insanidade mental que réu em razão de Os sintomas e a aparência de uma queimadura dependem do
dependência de drogas não poderia entender o caráter ilícito a con- grau de queimadura (profundidade da pele afetada pela queimadu-
duta ser-lhe-á aplicada medida de segurança com especial finalida- ra). Existem três graus diferentes. As queimaduras de primeiro grau
de terapêutica. ou superficiais causam pele vermelha, inchada e dolorida, e não
Embora a compreensão de limitações mentais incapacitantes causam bolha. As queimaduras de segundo grau causam a forma-
em razão de toxicomania seja tecnicamente difícil é notório que ção de bolhas e a pele sob a bolha pode estar ligeiramente entorpe-
determinadas substâncias que geram drogadição causam incapaci- cida. As queimaduras de terceiro grau fazem com que a pele fique
dade de entender o caráter ilícito de condutas criminosas e de se preta ou branca, e geralmente é indolor devido a danos nos nervos.
determinar de acordo com o livre arbítrio e entendimento pessoal.
A lei 11.343 de 2006, conhecida como lei de drogas proíbe em Diagnóstico
todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cul- O diagnóstico é feito com base nos sintomas e examinando a
tura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais pele queimada.
possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese
de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabele- Tratamento
ce a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias O tratamento depende do grau e da extensão das lesões. Em
Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente primeiro lugar, a pessoa deve ser removida da fonte do calor. Pe-
ritualístico-religioso (Brasil, 2006). quenas queimaduras de primeiro ou segundo grau podem ser res-
Delimitar o mecanismo de ação das drogas sob o organismo friadas sob água corrente durante alguns minutos. As pessoas que
humano é questão de elevada importância. Se através do incidente sofrem queimaduras maiores e mais graves devem ser tratadas por
de insanidade mental se comprovar que a droga usada foi deter- serviços de emergência e unidades de queimados especializadas.
minante ou influenciadora na compreensão e entendimento sob a O tratamento de emergência envolve dar fluidos, manter a pessoa
prática do crime impor-se-á, inevitavelmente, a medida de segu- aquecida e prevenir infecções. Uma vez que o perigo imediato te-
rança com especial finalidade terapêutica.16 nha passado, a pessoa afetada pode receber enxertos de pele para
ajudar a pele a crescer e reduzir as cicatrizes. Complicações, como
Lesões e morte por ação térmica, por ação elétrica, por baro- infecções em feridas, são tratadas com antibióticos à medida que
patias e por ação química ocorrem.
A lesão térmica, também conhecida como queimadura, é uma
das lesões domésticas mais comuns, principalmente causadas por Prevenção
líquidos quentes ou fogo. Podem ser leves ou emergências com A melhor prevenção para queimaduras é seguir as precauções
risco de vida, dependendo da porcentagem de superfície do cor- de segurança ao manusear fogo, líquidos quentes ou produtos quí-
po queimada. O tratamento depende da gravidade da lesão e das micos. Isso inclui supervisionar as crianças enquanto cozinham, en-
possíveis complicações, varia de cuidados com feridas menores ao quanto tomam banho e quando estão próximas de uma fonte de
tratamento em uma unidade especial de queimaduras, incluindo calor ou chama.
medicamentos, curativos ou cirurgia. A recuperação após pequenas
queimaduras superficiais geralmente é boa. Quanto mais profun-
da a queimadura, maior a probabilidade de ficar com cicatriz. As
queimaduras que cobrem grandes áreas do corpo têm perspectivas
piores.
16 Fonte: www.ambitojuridico.com.br
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Prognóstico dade reside na ocorrência de lesões desfigurantes. Realizou-se um
O prognóstico para pequenas queimaduras superficiais é bom estudo retrospectivo, considerando 19 casos consecutivos opera-
visto que raramente formam grandes cicatrizes ou infectam, e dos na Clínica Ivo Pitanguy. Em todos eles havia lesão em lábio por
curam dentro de alguns dias ou semanas. Queimaduras extensas queimadura elétrica e a faixa etária mais acometida foi de 0 a 8
exigem tratamento intensivo e a pele geralmente forma cicatrizes.17 anos, sendo mais freqüente no sexo masculino. Crianças maiores
são mais propensas a acidentes por alta voltagem peridomiciliar re-
Lesões elétricas lacionados a atividades lúdicas ou de caráter experimental (soltar
Poucas descobertas têm tido um impacto tão grande na cultu- pipa, subir no telhado). Em nosso meio são cada vez mais freqüen-
ra da humanidade quanto à geração e distribuição de energia elé- tes as lesões apresentadas pelos “surfistas ferroviários”.
trica produzida pelo homem, pois o desenvolvimento desta mudou Acredita-se também que o risco de choque elétrico aumente
hábitos e possibilitou o avanço tecnológico da sociedade moderna. durante os dias quentes de verão porque a resistência do corpo é
Níveis danosos de corrente elétrica passando através dos te- freqüentemente diminuída pela sudorese.
cidos corporais causam lesão por vários e distintos mecanismos
fisiopatológicos voltagem-dependente. Durante décadas a lesão Fisiopatologia das lesões produzidas pela corrente elétrica
elétrica era vista simplesmente como uma forma de queimadura Eletricidade pode ser conceituada como um fluxo de elétrons
térmica. Embora a queimadura térmica seja um componente que de átomo a átomo através de um condutor. O efeito de uma cor-
às vezes possa ser dominante, existem outros efeitos do campo rente elétrica sobre o tecido biológico depende da voltagem (for-
elétrico fisiopatologicamente significantes. Estes efeitos são de- ça que faz com que os elétrons passem de um átomo para outro),
pendentes do circuito, da voltagem e da amperagem da corrente amperagem (quantidade de corrente que passa por um condutor
que flui através dos tecidos. Forças elétricas podem alterar e des- durante um determinado período de tempo), resistência (força que
truir tecidos biológicos e seus vasos de um modo totalmente não se opões ao fluxo de elétrons) e tipo de corrente (contínua – fluxo
dependente do calor. de elétrons se dá num único sentido, ou alternada – se o fluxo de
O trauma elétrico é verdadeiramente um problema médico
elétrons se alterna em direções opostas de forma regular).
interdisciplinar: envolve cirurgia, imaginologia, anestesia, neuro-
Quando um corpo se torna condutor de corrente elétrica para
logia, psiquiatria, fisioterapia, medicina ocupacional, enfermagem,
o solo, as lesões produzidas resultam da conversão de energia elé-
dentre outros. Uma discussão das características fisiopatológicas
trica em energia térmica. A extensão da lesão tecidual e o calor
dessas lesões envolvem teorias de campo elétrico, eletroquímica,
gerados pelas correntes elétricas se dão em função da resistência
biologia celular, fisiologia, neuropsicologia e outras disciplinas.
de cada tecido e sua sensibilidade à destruição térmica, sendo ex-
Avanços recentes no diagnóstico por imagem são importantes
plicados pela fórmula de Joule, onde: a quantidade de calor (DQ) é
na compreensão de mudanças significativas nos tecidos lesados
diretamente proporcional ao quadrado da intensidade da corrente
pela ação direta da corrente elétrica quando isto não é facilmente
(I2), à resistência dos tecidos (DR)e à duração do contato (DT).
detectado pela inspeção ou exame físico.
Assim, podemos afirmar que as lesões elétricas assumem im-
portância considerável não só devido aos graus variáveis de lesão DQ = I2 x DR x DT
cutânea associada a grande destruição de tecidos profundos. Mas
também devido ao alto índice de seqüelas resultantes, na maioria A voltagem e a duração do contato são os principais fatores
dos casos em pessoas jovens, e que não raro tornam-se definitiva- que determinam a extensão e profundidade das lesões. A ampe-
mente incapacitados. ragem, estreitamente relacionada à lesão tecidual e mortalidade,
raramente pode ser determinada, uma vez que no geral a resistên-
Epidemiologia: cia nos diferentes tecidos não pode ser determinada nos acidentes
Queimaduras causadas por eletricidade representam uma pe- elétricos, sendo conhecida apenas a voltagem.
quena porção das admissões em unidades de queimados, porém A resistência varia com a limpeza, umidade e espessura da
revelam um dos mais agressivos tipos de injúria térmica. Corres- pele (estrato cutâneo), podendo ir de 10.000 ohms/cm a menos de
pondem de 5 a 15% dos casos de pacientes hospitalizados por quei- 1.000 ohms/cm, com uma média de 5.000 ohms/cm de pele seca
maduras e a superfície corporal média atingida é de 15%. normal. A elevação do gradiente de voltagem na pele produzirá
A maioria das vítimas com quadros sérios está entre 20-30 anos rupturas com voltagens relativamente baixas permitindo a passa-
de idade e geralmente se acidenta no trabalho, onde predominam gem da corrente para o interior do corpo.
as lesões com alta voltagem (aproximadamente dois terços de to- As correntes elétricas são arbitrariamente divididas em baixa
dos os acidentes fatais ocorrem no trabalho e mais de um quarto voltagem, de 500-1.000 volts, e alta voltagem, superior a 1.000
ocorrem em atividades domésticas). volts. Os acidentes domésticos comumente se enquadram no pri-
Na casuística do HU-FMUSP, dos 818 pacientes internados por meiro tipo, enquanto que os de trabalho, no segundo.
queimaduras no período de julho de 1991 a setembro de 1993, A corrente de alta tensão tende a percorrer um caminho mais
2,81% foram vítimas de queimaduras elétricas. Destes, 65,2% tive- curto entre o ponto de entrada e a terra e freqüentemente a vítima
ram acometimento dos membros superiores. Este estudo está de é atirada longe e as alterações cardíacas (fibrilação ou assistolia)
acordo com anteriores, que mostram o membro superior como o são mais raras, sendo mais comum a depressão do centro respira-
local mais freqüente atingido. Isso se deve ao fato destes acidentes tório com parada respiratória.As lesões por baixas tensões produ-
ocorrer, na maioria das vezes, o ato de segurar um objeto eletrica- zem queimaduras menos extensas, mas podem causar a morte por
mente carregado. fibrilação ventricular.
Acidentes elétricos em crianças se devem principalmente ao Se compararmos entre corrente alternada e contínua, a pri-
contato com fios e tomadas, e ao fato de puxa-los ou coloca-los meira é muito mais perigosa, pois produz contraturas musculares
na boca. Em geral, encontram-se abaixo dos 5-8 anos, com mãos que mantém a vítima presa ao condutor e pode levar a fraturas e
ou faces comprometidas. São queimaduras raras, porém sua gravi- parada cardio-respiratória. A corrente contínua, por sua vez, causa
17 Fonte: www.ada.com
uma contratura muscular que afasta a vítima do condutor interrom-
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pendo rapidamente o circuito. As correntes que mais interferem na dos a grave lesão por raio parecem suportar períodos prolongados
contratilidade miocárdica estão entre 40 e 150 ciclos por segundo. de apnéia, talvez por cessação do metabolismo, de modo que o
A corrente de uso doméstico, na maioria dos paises, encontra-se processo degenerativo é retardado.
nessa faixa (em geral 60 ciclos por segundo). Se o paciente vítima de raio sobrevive, o tratamento precoce
Embora não seja possível predizer-se o caminho exato que a deve incluir a administração de diuréticos osmóticos, grandes volu-
corrente irá seguir no organismo, se ela atravessar órgão vitais, mes de líquidos e alcalinização da urina visto que há extensos da-
como coração e cérebro, os danos serão maiores. Observa-se, con- nos musculares levando a mioglobinúria.
tudo, que qualquer órgão pode ser acometido, seja por lesão direta
ou por falência de outros órgãos afetados. Características Clínicas:
Os vários tecidos do corpo possuem resistência específicas ao A lesão local pode variar desde uma lesão puntiforme a uma
fluxo da corrente sendo em ordem decrescente, osso, gordura, ten- necrose extensa de todas as estruturas. Os pontos de entrada, em
dão, pele, músculo, vaso sanguíneo e nervo. O osso, por sua maior geral, apresentam carbonização com depressão central e os pontos
resistência, gera mais calor local, mas sua estrutura torna-o mais de saída são em geral menores e mostram a pele evertida como
resistente à lesão térmica, ao passo que vasos e nervos possuem se a corrente houvesse “empurrado” a pele para sair. As lesões
menos resistência mas são mais susceptíveis à lesão térmica. extensas se comportam como a síndrome de esmagamento e os
Quanto maior a resistência da pele, tanto mais grave a queima- músculos lesados podem liberar grande quantidade de mioglobina,
dura local, quanto menor a resistência maior os efeitos sistêmicos. que atinge o máximo em torno da primeira hora podendo levar à
Devido à grande resistência da pele, a eletricidade ao atravessa-la obstrução dos túbulos renais e necrose tubular aguda.
produz intensas alterações estruturais conhecidas como “marcas Em áreas de maior resistência (diâmetro menor), as lesões tem
de corrente”. Estas lesões têm características diferentes daquelas a característica de serem “progressivas” e de manifestação tardia.
que habitualmente se observam nas lesões térmica comuns. Após Pacientes com trauma elétrico por alta voltagem geralmen-
a penetração da corrente elétrica na pele, ela passa rapidamente te possuem uma lesão em forma de “casaco negro” na superfície
da pele que é resultante da vaporização do contato com o metal.
através do corpo ao longo das linhas de menor resistência, isto é,
Quando esta cobertura é retirada da pele, a injúria, propriamente
através dos fluidos tissulares e ao longo dos vasos sanguíneos, onde
dita, é visível.
pode causar degeneração das paredes e formação de trombos. A
As feridas da lesão elétrica são extremamente variáveis, de-
lesão vascular freqüentemente ocorre a alguma distância da lesão
pendendo do tipo e da intensidade da corrente, dos tecidos pelos
inicial e concorre para a natureza progressiva da destruição tecidu-
quais a corrente passou e o grau de contato.
al. Em certos casos, parece que todo o corpo serve como um condu-
Essas lesões podem ser divididas em 3 categorias:
tor, pois surgem sinais retardados de destruição vascular e nervosa.
a) a verdadeira lesão elétrica é causada pela passagem de uma
Nas lesões por alta voltagem, a corrente faz um percurso direto
corrente elétrica através da pele após o contato com o condutor.
entre os pontos de entrada e saída, geralmente divergindo entre 2 As feridas de entrada e saída características geralmente significam
pontos e reduzindo a lesão centralmente. Além disso, observa-se destruição local dos tecidos profundos. A ferida de entrada típica é
que o meio interno funciona como condutor de resistência unifor- irregular e deprimida. A ferida de saída tem bordos secos, deprimi-
me, sendo o calor gerado com a passagem da corrente uma conse- dos e dá a aparência que a corrente elétrica explodiu quando fez
qüência do diâmetro do condutor. Isso explica a presença de lesões sua saída. Geralmente a lesão aparece como uma área isquêmica,
mais intensas nos membros que no tronco, uma vez que quanto de um amarelo esbranquiçado ou pode apresentar-se chamuscado.
menor o diâmetro de um condutor, maior a resistência e o calor Ela é seca e indolor, com bordos geralmente bem definidos, sendo
gerado. Por isso as lesões dos membros costumam ser mais graves. a necrose o aspecto dominante da lesão. A necrose profunda no
Nos membros superiores as temperaturas mais elevadas são ob- tecido subcutâneo e músculos é comum. Partes da túnica média
servadas ao nível do punho e da musculatura flexora do antebraço podem estar enfraquecidas pela desintegração celular, e se a trom-
onde o diâmetro é menor e a concentração de estruturas é menor. bose não ocorrer, as lesões podem levar a hemorragias graves.
b) As queimaduras que se seguem ao salto de um arco elétrico
Arco Voltaico: de um condutor para a pele estão associados principalmente com
Ocorre por uma diferença de potencial elétrico entre os cor- as correntes de alta tensão.
pos, nele o circuito se completa mesmo sem que a vítima tenha c) O terceiro tipo de lesão é a queimadura por chama, quei-
tocado no condutor. A vítima torna-se parte do circuito. A corrente maduras essas que resultam da ignição das roupas por centelhas
elétrica, nesse caso, move-se externamente ao corpo, a partir do elétricas ou arcos elétricos. Essas queimaduras em características
ponto de contato para o solo. de queimadura térmica comum. Elas são freqüentemente de es-
Essas queimaduras estão associadas à corrente de alta ten- pessura total pela prolongada exposição do paciente estonteado
são e a profundidade depende de quão próxima está da pele. As à chama.
mesmas são graves já que o arco elétrico tem uma temperatura Lesões por eletricidade são descritas como feridas tipo “ice-
de 2.500oC. O problema do arco elétrico é de particular interesse berg” porque, muitas vezes, a aparência da queimadura na pele
médico legal. Acredita-se que o arco ocorra em condições atmos- não indica a quantidade de danos musculares e ósseos subjacentes.
féricas comuns, em linhas de alta tensão aproximadamente 2.5 cm Geralmente, a lesão cutânea é menor do que a destruição profunda
para cada 20.000 volts. das estruturas adjacentes.
Grande parte dos pacientes possui sítios cutâneos demons-
Lesão por raio: tráveis de entrada e saída de corrente. As regiões de entrada são
A lesão por raio é muito rara. Os efeitos da lesão por raio são comumente notadas nas extremidades superiores ou dorso, e os
extremamente varáveis. Geralmente a vítima está desacordada. Ela pontos de saída nos membros inferiores como joelhos e pés.
pode conservar a respiração espontânea ou tornar-se inconsciente, As vítimas de queimaduras por alta tensão freqüentemente,
sem pulso e com parada respiratória. Não deve necessariamente perdem momentaneamente a consciência e em alguns casos po-
ser tida como morta, devendo iniciar manobras de ressuscitação dem entrar em coma por hemorragia ou edema cerebral secundá-
oferecendo assistência respiratória e cardíaca. Pacientes submeti- rio à lesão elétrica do Sistema Nervoso Central.
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Nervos periféricos são muito sensíveis a forças elétricas e são As lesões hematológicas caracterizam-se por uma leucocitose
comumente acometidos em vítimas de choque elétrico. Os sinto- na fase aguda associada a hemoconcentração e maior liberação de
mas incluem anestesia, parestesias ou disestesias. Paralisias são granulócitos a nível medular. A trombocitopenia ocorre em uma faz
pouco comuns. Algumas vezes os sintomas são permanentes. Os mais tardia.Uma leucopenia neutropênica pode ser indício de uma
nervos mediano, ulnar e radial apresentam uma alta incidência de sepse por Gram negativo.
disfunção persistente. É muito comum haver sintomas neurológi- Como complicação rara de acidente por alta voltagem pode-
cos periféricos a despeito de estudos neurofisiológicos normais. mos citar aplasia medular aguda com depleção total da mielopoie-
Vítimas de choque elétrico freqüentemente apresentam de- se.
sordens do Sistema Nervoso Autônomo, em particular, distrofia Um achado freqüente em autópsia após lesões elétricas são as
simpática reflexa e hipertensão. hemorragias submucosas espalhadas através do trato gastrointes-
Quando a disfunção nervosa periférica é documentada, a asso- tinal. Essas sugerem que haja uma lesão intra-abdominal por efeito
ciação da desordem autonômica chamada de causalgia. direto da corrente.
Alterações da função cerebral podem ser tanto transitórias Um problema diagnóstico ocorre nas lesões elétricas do abdo-
quanto permanentes, com possíveis mudanças permanentes mes- me, pois é difícil determinar se há ou não lesão intra-abdominal
mo sem injúria tecidual. presente. A avaliação cuidadosa dos sinais e sintomas intra-abdo-
Quando a corrente elétrica passa através do cérebro ou medu- minais é importante, deve-se evitar fazer um diagnóstico de íleo
la espinhal podem ocorrer lesões permanentes. paralítico associado com lesão elétrica e esquecer-se de que a lesão
É comum também ocorrer lesões permanentes da personalida- intestinal como resultado da corrente pode estar presente.
de, confusão, problemas de aprendizagem e memória, concentra-
Em alguns casos pode haver fraturas ósseas geradas pela vio-
ção, funções intelectuais e, o que é mais raro, afasia. A mais comum
lenta contratura muscular induzida pelas lesões de corrente alter-
complicação neurofisiológica é a perda de memória. Problemas
nada.
psiquiátricos incluem fobia, ansiedade, irritabilidade, depressão e
A queimadura elétrica na cabeça ou pescoço pode resultar tar-
psicose.
As alterações cardíacas, em geral, regridem espontaneamente diamente em catarata de um ou ambos os olhos.
algumas horas após a lesão e a mais freqüente é a fibrilação ventri- Às vezes, os sintomas são permanentes impedindo o paciente
cular, mas em alguns casos, observamos alterações do segmento ST de retornar ao trabalho.
e taquicardia persistirem por algumas semanas. Decorre, em geral,
da ação direta da corrente elétrica sobre a musculatura cardíaca, Tratamento:
ou então, sobre as células ganglionares nela contidas. Em outros ca-
sos, a parada cardíaca pode resultar de uma inibição do coração por a) Princípios Gerais
estímulos dos centros vagais da medula. Os pacientes que morrem
nesta situação se apresentam pálidos e é chamada “morte branca”. · Reanimação Inicial:
A parada cardíaca mais tardia pode surgir em seguida a uma Em primeiro lugar a vítima deve ser afastada da corrente o
parada respiratória não suficientemente tratada. O fator deter- mais rapidamente possível. Aquele que presta socorro deve estar
minante neste caso é a anóxia do miocárdio. Os doentes quando certo de que a corrente está desligada antes de tocar a vítima para
morrem se apresentam cianosados, sendo este tipo de acidente evitar ser lesado também.
conhecido por “morte azul”. O acidente elétrico de alta ou baixa voltagem pode produzir
Uma queixa comum é dor precordial semelhante à angina de mortes imediatas por parada cardíaca ou cardiorrespiratória, por
peito associada à dispnéia. isto as manobras de reanimação mediante massagem cardíaca
Complicações pulmonares agudas estão limitadas a danos externa e respiração artificial são necessárias para evitar a morte
pleurais, resultando em efusões e pneumunites lobulares, direta- imediata da vítima.
mente adjacentes à área do ponto de contato. Essas complicações Se o coração não está batendo, há provavelmente fibrilação
são freqüentemente evidentes ao fim da primeira semana. As in- ventricular e a massagem cardíaca deve ser feita até que o paciente
fecções pulmonares são geralmente o resultado de infecções sistê- possa ser removido para um local onde seja possível a desfibrilação.
micas ou complicações da terapêutica inalatória prolongada. A recuperação das vítimas de energia elétrica será tanto mais
Quanto às lesões vasculares, a trombose venosa se observa problemática quanto mais tardiamente for instituída a terapêutica
mais freqüentemente em queimaduras de membros superiores e apropriada. Isto porque, a anóxia que então se estabelece, pode
membros inferiores.
lesar de modo irreversível os tecidos mais nobres tais como os do
As lesões arteriais se observam em zonas expostas como a face
sistema nervoso.
palmar das mãos e podem ocasionar quadros isquêmicos distais
Além da avaliação cardiorrespiratória é necessário verificar
por trombose aguda. A perfusão distal do membro pode também
o estado hemodinâmico e as lesões apresentadas pela vítima na
ser comprometida por edema importante. Existem também possi-
bilidades de complicações tardias como as dilatações aneurismáti- chegada ao hospital. Sabe-se que na queimadura elétrica por alta
cas com perfurações da parede arterial que provocam hemorragias voltagem não existe relação entre superfície de pele queimada e a
agudas, quadros de trombose, infecções e trombose de zonas ad- lesão tecidual profunda. É importante avaliar a situação vascular
jacentes. dos membros, possíveis lesões viscerais e traumatismos associados
A lesão renal manifestada como insuficiência caracteriza uma (fraturas, traumatismos de tórax, ferimentos em geral, etc).
complicação freqüente devido ao choque hipovolêmico, depósito É necessário monitorizar o paciente através de: registro cardí-
de mioglobina nos túbulos renais, CID por destruição de hemácias e aco e saturação de oxigênio, temperatura, diurese e monitorização
liberação de hemoglobina. hemodinâmica (cateter de Swan Ganz) em determinados casos. Se
a urina tem a cor de vinho do Porto ou um vermelho escurecido,
há indubitavelmente lesão muscular maciça, e a urina contém mio-
globina.

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Em relação à reposição hídrica nas vítimas de queimadura elé- a falência de múltiplos órgãos. Estas complicações podem ser evi-
trica não é útil a utilização de fórmulas orientativas em função da tadas pela detecção precoce dos primeiros sinais de infecção, por
superfície corporal queimada. As lesões elétricas resultam numa alteração nos parâmetros clínicos e culturas seriadas.
perda imediata de líquidos para a área dos tecidos subseqüente A infecção por Pseudomonas aeruginosa pode aparecer tar-
a liberação de mioglobina a partir das células musculares para a diamente, sendo que hemoculturas negativas não excluem essa
circulação. A administração de líquidos deve realizar-se em função possibilidade; e sempre deve ser suspeitada na vigência de sinais
da resposta hemodinâmica e renal. A excessiva eliminação de pig- de gravidade como: deterioração da função renal, instabilidade he-
mentos pela urina e seu depósito nos túbulos renais resulta num modinâmica com decréscimo da saturação de oxigênio, febre alta,
risco aumentado de insuficiência renal aguda, por isso é prioritário aparecimento brusco ou agravamento da coagulopatia de consumo
manter uma diurese horária entre 50 e 100 ml/hora em adultos e leucopenia neutropênica.
e 2ml/Kg/hora em crianças, podendo ser útil o uso de diuréticos No queimado elétrico a evolução clínica vai influenciar a preco-
osmóticos, como o manitol, sempre que o aporte de líquido for su- cidade do tratamento cirúrgico.
ficiente. A alcalinização da urina com a utilização de bicarbonato
de sódio IV (1 mEq/Kg) reduz também a precipitação de pigmentos c) Conduta em relação aos tecidos desvitalizados
nos túbulos. Na falta de resposta renal, mesmo em situações de
hiperhidratação, pode-se utilizar cloridrato de dopamina em doses Nas queimaduras por eletricidade o tempo da ressecção dos
baixas (1-2 ug/Kg/min). tecidos desvitalizados é controverso. Enquanto um grupo de auto-
Na reposição inicial deve-se utilizar líquido isotônico. Para as res preconiza ressecção imediata, outro grupo prefere faze-la mais
queimaduras menores de pequena voltagem, pouca terapêutica tardiamente.
Realmente, nem todas as queimaduras resultantes de acidente
de reposição é necessária. Já quando há um maior dano elétrico,
por eletricidade podem ser consideradas como verdadeiras quei-
grandes volumes de líquidos são necessários. Nestes casos, a lesão
maduras elétricas. Muitas dessas queimaduras comuns e o trata-
elétrica é bastante similar à lesão por esmagamento, e uma quanti-
mento em nada se diferenciam daquele empregado nas queimadu-
dade maciça de líquidos deve ser usada para reposição.
ras por outros agentes.
Está indicada a utilização de hemofiltração artério-venosa con- Na avaliação e tratamento das lesões causadas por eletricidade
tínua na IRA aguda precoce e no curso da evolução do paciente deve-se levar em conta uma série de fatores tais como: caracterís-
que não responde ao tratamento médico habitual. A hemofiltração ticas evolutivas próprias das lesões elétricas, topografia das lesões
permite o controle e ajuste constante do balanço hidroeletrolítico elétricas, extensão e localização das queimaduras associadas.
com vantagens evidentes sobre a hemodiálise intermitente. A necrobiose das lesões por eletricidade apresenta caráter
Quando a lesão é meramente uma queimadura térmica e não progressivo, sendo difícil o reconhecimento precoce da quantida-
há evidência de lesão elétrica verdadeira, a manipulação hídrica de de tecidos cuja vitalidade foi ou será comprometida de modo
deve seguir os princípios usuais de reposição em queimaduras tér- irreversível. Geralmente um segundo e algumas vezes um tercei-
micas. ro desbridamento serão necessários. A trombose após uma lesão
Os pacientes com lesões elétricas merecem controles analíti- elétrica priva as fibras musculares de seu suprimento sangüíneo,
cos sangüíneos como hemograma, provas de coagulação, bioquími- seguindo-se sua morte.
ca geral incluindo eletrólitos, gasometria, etc... .
. Queimadura elétrica por baixa voltagem
· Profilaxia antibiótica Esses pacientes requerem internação hospitalar para observa-
A antibioticoterapia sistêmica deve ser instituída mais incisi- ção. Podem ocorrer alterações eletrocardiográficas que se resol-
vamente no queimado por eletricidade do que nas queimaduras vem espontaneamente.
térmicas, por causa da grande destruição tecidual, entretanto esta O tratamento cirúrgico, que raramente tem caráter de urgên-
abordagem precoce continua sendo controversa. cia, deve considerar a localização das lesões para evitar seqüelas
A cobertura antibiótica, quando indicada, deve atuar sobre funcionais importantes.
Staphylococcus aureus. Em queimaduras com necrose tissulares Uma atitude habitual é esperar a resolução do edema em zo-
profundas importantes também pode-se realizar cobertura frente nas próximas e a demarcação das queimaduras menos profundas,
a antibióticos. periféricas e da lesão principal, em torno de até 72 horas.
Mesmo para um cirurgião experiente, é difícil estabelecer a di-
·Profilaxia antitetânica ferenciação de tecidos viáveis nas excisões imediatas. Em queima-
duras de mãos e dedos com comprometimento de tecidos profun-
A profilaxia antitetânica é obrigatória por ser o tétano uma
dos, deve-se considerar prioritária a excisão precoce com cobertura
complicação de extrema freqüência em queimados.
dos defeitos no mesmo ato cirúrgico. As queimaduras em dedos
exigem, muitas vezes, a utilização de retalhos da vizinhança ou pe-
b) Evolução das queimaduras elétricas.
diculados com bom aporte vascular.
Geralmente as queimaduras elétricas afetam uma superfície . Queimadura elétrica por alta voltagem
cutânea relativamente pequena, especialmente as produzidas por O tratamento cirúrgico tem por objetivo eliminar grandes
correntes de baixa voltagem. Estas últimas, exceto no período ini- massas de tecidos desvitalizados para favorecer a recuperação dos
cial não apresentam complicações importantes. transtornos gerais do grande queimado, controlar a infecção e di-
As queimaduras de relativa extensão por alta voltagem elevam minuir a morbidade de seqüelas.
consideravelmente o número de complicações devido à magnitude A localização mais freqüente da queimadura é nas extremida-
das lesões, aparentemente ocultas, dos tecidos profundos, sendo o des, especialmente as superiores. Na avaliação das lesões, deve-se
tratamento cirúrgico inicial mais extenso. Nestes pacientes a com- valorizar os pontos de entrada e saída, a localização da queimadu-
plicação mais grave na fase inicial é a insuficiência renal aguda, sen- ra, a evidência de dano muscular e a situação vascular do membro.
do as causas mais freqüentes de morte a sepse, o choque séptico e Deve-se considerar possíveis lesões nervosas em queimaduras lo-
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calizadas sobre o antebraço e punho, a intensidade do edema pro- isto não ocorre, eles podem, em qualquer tempo, ser substituídos
ximal e a possível instalação de uma síndrome compartimental. Em por retalhos pediculados, os quais serão executados em melhores
lesões torácicas e abdominais é importante verificar a possibilidade condições (ausência de infecção ou grave comprometimento do es-
de dano visceral. No comprometimento da cabeça, o crânio oferece tado geral do paciente).
na maioria dos casos, proteção suficiente para evitar comprometi-
mento cerebral. e) Conduta em relação às amputações
Nas queimaduras por alta voltagem, pode ser necessária algu-
mas medidas cirúrgicas urgentes, como escaratomia, fasciotomia e As amputações nas lesões por eletricidade são mais freqüentes
amputação em alguns casos. do que nas queimaduras por outros agentes.
A escaratomia está indicada em queimaduras de membros Nas lesões por eletricidade, a indicação da amputação não
circulares, semicirculares ou quando existe um edema intenso. As apresenta caráter de urgência, pois as necrobioses dos tecidos que
incisões devem evitar que fiquem expostos os troncos nervosos ou levam à amputação se apresentam secas, produzindo no organis-
as artérias principais. As queimaduras da parede torácica também mo repercussões relativamente pequena nos primeiros dias.
requerem uma atuação imediata. A espera de alguns dias fornecerá uma melhor delimitação dos
A fasciotomia está indicada quando há edema importante em tecidos a serem ressecados e evita a possibilidade de novas necro-
membros ou em tecidos profundos que elevem a pressão intracom- bioses no coto de amputação. Este fato é mais importante quando
partimental acima de 30 mmHg ou quando o critério clínico assim o
se trata de pequenos segmentos lesados, pois as necrobioses pro-
aconselhe. Ao realizar a fasciotomia gera-se uma ferida ampla, sen-
duzem pouca repercussão sobre o estado geral dos pacientes e, por
do aconselhável sua cobertura com retalhos ou enxertos de pele
menor que sejam os segmentos poupados, há um grande benefício
se os tecidos profundos que ficam expostos não estão queimados.
do ponto de vista funcional.
Se, ao contrário, os tecidos profundos apresentam-se afetados pela
queimadura, é aconselhável o tratamento com antimicrobianos tó- Quando as amputações em grandes segmentos não podem ser
picos (creme de sulfadiazina de prata). feitas com boa margem de segurança, deve ser preferido o método
Não é freqüente que se proceda como medida urgente a am- aberto. Neste caso faz-se o desbridamento de tecidos mortificados,
putação de um membro, exceto naqueles casos nos quais deve-se preservando os tecidos viáveis. Em tempo posterior, quando hou-
evitar complicações ou quando o membro ou segmento distal seja ver estabilização das condições locais e gerais dos pacientes, serão
absolutamente inviável. Nestes casos, o nível proximal de amputa- feitas as correções necessárias no coto.
ção é difícil de estabelecer, pela existência de grave deterioração As características de patogênese e fisiopatologia das lesões
muscular próximos a zonas de laceração cutânea. elétricas são muito mais complexas do que se pensava. As contri-
buições de dano térmicas e puramente elétricas dependem da du-
d) Conduta em relação ao fechamento das áreas cruentas ração da passagem da corrente elétrica, na orientação das células,
na localização, e outros fatores. Se o tempo de contato é curto,
Na cobertura de áreas cruentas onde há exposição de estru- mecanismos não-térmicos de destruição celular serão mais impor-
turas profundas como tendões, vasos, nervos e ossos, retalhos tantes e a destruição será relativamente restrita à membrana celu-
pediculados são preferidos, pois estas áreas constituem mau leito lar. Entretanto se o tempo de contato é maior, destruição por calor
nutriente aos enxertos de pele. Os transplantes pediculados garan- predomina e toda a célula é afetada diretamente. Esses parâmetros
tem sua própria nutrição assim como nutrem e protegem melhor também determinam a destruição anatômica da lesão.
as estruturas expostas. A lesão pelo mecanismo de Joule não está esclarecida como
Nos casos em que se torna difícil a utilização de retalhos devido dependente do tamanho celular, embora células maiores são mais
a localização e extensão das lesões, inicialmente são usados os en- vulneráveis à lise de sua membrana por eletroplessão. Células so-
xertos de pele. Estes devem ser colocados de preferência sobre as brevivem a uma ruptura temporária da membrana plasmática sob
áreas granulantes que circundam as estruturas que não granulam. apropriadas circunstâncias ou se a terapia for rapidamente instituí-
Em alguns casos, ocorre até a integração de enxertos coloca- da. Se a permeabilidade de membrana é a condição patológica pri-
dos sobre pequenas porções de tendões expostos. mária celular, então, a lesão tecidual pode ser evitável e o próximo
Nos casos de enxertos colocados como pontes sobre peque- passo é identificar a técnica que reverta a lesão prontamente.
nas áreas de ossos expostos, a nutrição é garantida através de sua
O padrão atual de tratamento para lesão elétrica requer uma
periferia pelas porções restantes dos enxertos que se apóiam em
equipe multidisciplinar, UTI bem equipada e avaliações periódicas
bom leito nutriente. Mesmo quando os enxertos em contato com
por médicos especialistas. Hospitais universitários com Centro de
ossos e tendões expostos não sobrevivem, a melhoria das condi-
Queimados devem ser os locais ideais de tratamento de vítimas por
ções locais resultantes do fechamento das áreas granulantes cir-
cunvizinhas favorece a cobertura de tais estruturas pelo tecido de trauma elétrico. Após ressuscitação inicial, esforços são direciona-
granulação. A posterior retração desse tecido e sua cobertura pelo dos primariamente para prevenção de perda tecidual através da
epitélio vizinho resolve o problema, se não de modo definitivo, pelo síndrome compartimental, neuropatias compressivas ou presença
menos provisoriamente. de tecido necrótico. Insuficiência cardíaca e renal causados por li-
Quando segmentos maiores de ossos são expostos, deve ser beração de mioglobina na circulação deve ser prevenida. Atenção
feito o reavivamento do osso através da ressecção de toda a tábua deve ser direcionada maximizando manutenção tecidual e preve-
externa, pondo-se a descoberto a medular de ossos chatos ou, nos nindo tardiamente complicações esqueléticas e neuromusculares.
ossos longos, a ressecção de porções variáveis da camada compac- Procedimentos reconstrutivos de transferência tecidual sadio à
ta até planos onde o sangramento seja mais fácil. A cobertura do distância são necessários para otimizar a transferência de tecidos
osso pelo tecido de granulação acontece dias depois. remanescentes. Finalmente, a menos que o paciente esteja em re-
A técnica da utilização de enxertos de pele é mais simples, de abilitação psicológica, o real benefício de outros tratamentos mais
execução mais rápida e interfere menos intensamente com o trata- sofisticados podem não ser plenamente satisfatórios. Essas ressal-
mento das demais lesões. É freqüente o enxerto intermediário de vas são importantes para que o tratamento do paciente obtenha
pele constituir boa cobertura definitiva para estas áreas. Quando êxito.
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No futuro, novos “guidelines” para o tratamento de trauma - Obesidade
elétrico serão baseados num claro entendimento das característi- - Idade avançada
cas fisiopatológicas. Essas estratégias irão permitir uma melhora do - Subida rápida
diagnóstico por imagem e a reversão da lesão da membrana celu-
lar. Além do mais, interações fisiopatológicas do sistema orgânico e Visto que o excesso de nitrogênio se mantém dissolvido nos te-
complexos bioquímicos não requerem cuidados especiais. Se alcan- cidos corporais durante, pelo menos, 12 horas depois de cada imer-
çado sucesso pesquisas devem melhorar o prognóstico de vítimas são, as pessoas que realizam várias imersões durante um dia têm
após o choque elétrico.18 mais probabilidade de sofrer da doença de descompressão do que
quem realiza uma única imersão. Uma viagem aérea 12 a 24 horas
Baropatia após o mergulho (como no final de umas férias) expõe as pessoas
a uma pressão atmosférica ainda mais baixa, fazendo com que a
Um barotrauma é uma manifestação patológica ligada a varia- doença de descompressão seja ligeiramente mais provável.
ções de pressão no interior do corpo. Pode ser causado, por exem- É possível que se formem bolhas de nitrogênio nos pequenos
plo, por um avião mal pressurizado ou por problemas durante um vasos sanguíneos ou nos próprios tecidos. Os tecidos adiposos,
mergulho. como os do cérebro e medula espinhal, são particularmente pro-
Podem ser cavitárias ou plasmáticas. pensos a sofrer da doença, porque o nitrogênio se dissolve rapida-
A doença da descompressão é um distúrbio no qual o nitrogê- mente na gordura.
nio dissolvido no sangue e nos tecidos devido a uma pressão eleva- - A doença de descompressão tipo I tende a ser leve e afeta
da forma bolhas quando a pressão diminui. principalmente as articulações, a pele e os vasos linfáticos.
- Os sintomas podem incluir fadiga e dor nos músculos e arti-
- A doença de descompressão tipo II, que pode trazer risco à
culações.
vida, muitas vezes afeta os sistemas dos órgãos vitais, incluindo o
- No tipo mais grave, os sintomas podem ser semelhantes aos
cérebro e a medula espinhal, o sistema respiratório e o sistema cir-
do acidente vascular cerebral ou podem incluir dormência, formi-
culatório.
gamento, fraqueza no braço ou perna, instabilidade, vertigem (ton-
teira), dificuldade respiratória e dor no peito.
- As pessoas são tratadas com oxigenoterapia e recompressão Sintomas
(oxigênio de alta pressão ou hiperbárico). Os sintomas da doença de descompressão geralmente mani-
- Limitar a profundidade e duração dos mergulhos e a velocida- festam-se de forma mais lenta do que os da embolia gasosa e do
de da subida pode ajudar a prevenir. barotrauma pulmonar. Apenas metade das pessoas com doença
de descompressão apresenta sintomas ao fim de 1 hora depois de
O ar é composto principalmente por nitrogênio e oxigênio. Vis- chegar à superfície, ao passo que 90% manifestam sintomas após 6
to que o ar submetido a uma pressão elevada se comprime, cada horas. É normal que os sintomas comecem aos poucos e demorem
inspiração efetuada em profundidades contém muito mais molé- algum tempo até alcançar o seu ponto máximo de efeito. Os pri-
culas do que uma inspiração feita à superfície. Como o organismo meiros sintomas podem ser
utiliza continuamente o oxigênio, de forma geral, o excesso de mo- - Fadiga
léculas de oxigênio respiradas sob uma pressão elevada não se acu- - Perda de apetite
mula. Contudo, o excesso de moléculas de nitrogênio se acumula - Dor de cabeça
no sangue e nos tecidos. - Vaga sensação de doença
À medida que a pressão externa diminui durante a subida após
o mergulho ou ao deixar um ambiente de ar comprimido, o nitro- Doença de descompressão tipo I (menos grave)
gênio acumulado, que não pode ser expirado de imediato, forma O tipo menos grave (ou forma musculoesquelética) da doen-
bolhas no sangue e nos tecidos. Essas bolhas podem se expandir e ça de descompressão, muitas vezes chamada doença dos mergu-
lesionar os tecidos ou obstruir os vasos sanguíneos de muitos ór- lhadores, normalmente provoca dor. A dor tende a se manifestar
gãos, quer seja diretamente, quer seja dando origem a pequenos geralmente nas articulações dos braços ou das pernas, costas ou
coágulos de sangue. Essa obstrução dos vasos sanguíneos causa músculos. Por vezes, é difícil localizar a região. A dor pode ser leve
dor e vários outros sintomas às vezes semelhantes, por exemplo, ou intermitente no início, mas pode se intensificar de forma cons-
aos do acidente vascular cerebral (como fraqueza súbita num lado tante e tornar-se grave. A dor pode ser aguda ou pode ser descrita
do corpo, dificuldade respiratória, tontura) ou até mesmo sintomas como profunda ou como algo que está perfurando o osso. Piora
parecidos com os da gripe. As bolhas de nitrogênio também provo-
com o movimento.
cam inflamação, causando inchaço e dor em músculos, articulações
Os sintomas menos comuns incluem coceira, pele mosqueada,
e tendões.
linfonodos inchados, erupção cutânea e fadiga aguda. Esses sinto-
mas não são potencialmente mortais, mas podem preceder proble-
O risco de desenvolver a doença de descompressão aumenta
com muitos dos seguintes fatores: mas mais perigosos.
- Certos defeitos cardíacos, como forame oval patente ou de-
feito do septo atrial Doença de descompressão tipo II (mais grave)
- Água fria O tipo mais grave de doença de descompressão tem como
- Desidratação consequência mais frequente o aparecimento de sintomas neuro-
- Viagem aérea após mergulhar lógicos, que vão desde um entorpecimento até paralisia e morte. A
- Esforço medula espinhal é particularmente vulnerável.
- Fadiga Os sintomas de envolvimento da medula espinhal podem in-
- Aumento de pressão (ou seja, a profundidade do mergulho) cluir dormência, formigamento, fraqueza ou uma combinação des-
- Tempo despendido em um ambiente pressurizado ses nos braços, pernas ou em ambos. Uma leve debilidade ou for-
migamento pode evoluir em horas para uma paralisia irreversível.
18 Fonte: www.siteantigo.portaleducacao.com.br
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A incapacidade de urinar ou incapacidade de controlar a micção ou Prevenção
a defecação também pode ocorrer. A dor no abdômen e nas costas Os mergulhadores procuram prevenir a doença de descom-
também é comum. pressão evitando a formação de bolhas gasosas. Eles fazem isso li-
mitando a profundidade e a duração dos mergulhos até o ponto em
Os sintomas de envolvimento cerebral que, em sua maioria, que não seja necessário fazer paradas de descompressão durante a
são semelhantes aos da embolia gasosa, incluem subida (aquilo que entre os mergulhadores é conhecido como limi-
- Dor de cabeça tes sem paradas) ou, então, subindo com paradas de descompres-
- Confusão são, como se especifica em diretrizes confiáveis, como na tabela de
- Dificuldade para falar descompressão em Descompressão gasosa, um capítulo do United
- nVisão dupla States Navy Diving Manual (Manual de Mergulho da Marinha dos
Estados Unidos).
A perda de consciência é rara. Nestes textos, é descrito um padrão de subida que, geralmen-
Os sintomas de envolvimento do ouvido interno, como ver- te, permite eliminar o excesso de nitrogênio sem causar lesões.
tigem grave, zumbido nos ouvidos e perda de audição, ocorrem Muitos mergulhadores levam consigo um dispositivo computado-
quando os nervos do ouvido interno são afetados. rizado portátil submersível que analisa continuamente a profundi-
Os sintomas de envolvimento dos pulmões causados por bo- dade e o tempo de permanência. O computador calcula a tabela
lhas de gases que percorrem as veias até os pulmões provocam de descompressão para um regresso seguro à superfície e indica
tosse, dor no peito e agravam progressivamente a dificuldade para quando são necessárias paradas de descompressão.
respirar (a asfixia). Os casos graves, que são raros, podem resultar Além de se guiar por um gráfico ou por tabelas computadoriza-
em choque e morte. das para a subida, muitos mergulhadores fazem uma parada de se-
gurança durante uns minutos, a cerca de 4,5 metros da superfície.
Efeitos tardios da doença de descompressão No entanto, o cumprimento desses procedimentos não elimi-
A osteonecrose disbárica (às vezes chamada necrose óssea na o risco de sofrer da doença de descompressão. Um pequeno
avascular) pode ser um efeito tardio da doença de descompres- número de casos de descompressão ocorre depois de mergulhos
são, ou pode ocorrer na ausência de doença de descompressão. sem paradas. A persistência da doença de descompressão pode se
Ela envolve a destruição de tecido ósseo, sobretudo nos ombros dever ao fato de tabelas e programas existentes não fazerem re-
e no quadril. A osteonecrose disbárica pode produzir dor persis- ferência completa à variação nos fatores de risco entre diferentes
tente e incapacidade grave. Essas lesões raramente ocorrem entre mergulhadores ou ao fato de algumas pessoas não respeitarem as
os mergulhadores recreativos, mas são mais comuns entre as pes- recomendações das tabelas ou dos computadores.
soas que trabalham num ambiente de ar comprimido e entre os Também são necessárias outras precauções:
mergulhadores que trabalham num habitat subaquático em águas - Após vários dias de imersões, recomenda-se passar um perí-
profundas. Muitas vezes, não há eventos iniciais específicos que a odo de 12 a 24 horas (por exemplo, 15 horas) na superfície, antes
pessoa possa identificar como a fonte dos sintomas, quando eles de se fazer uma viagem aérea ou de se deslocar a uma altitude su-
aparecem. perior.
Esses trabalhadores ficam expostos a uma pressão elevada du- - As pessoas que se recuperaram por completo de uma doen-
rante longos períodos e a sua doença pode não ser detectada. Os ça de descompressão leve devem evitar praticar mergulho durante
mergulhadores técnicos, que mergulham em grandes profundida- um período de, pelo menos, duas semanas. Após a doença de des-
des em comparação aos mergulhadores recreativos, podem correr compressão grave, é melhor esperar mais tempo (pelo menos um
um maior risco que os mergulhadores recreativos. A osteonecrose mês) e ser avaliado por um médico antes de mergulhar novamente.
disbárica geralmente não causa sintomas, mas se ocorrer perto de - As pessoas que sofreram uma doença de descompressão,
uma articulação pode progredir gradualmente, ao longo de meses apesar de terem seguido as recomendações da tabela de imersão
ou anos, a uma artrite grave e incapacitante. Quando ocorre um ou do computador, poderão voltar a mergulhar apenas depois de
dano articular grave, o único tratamento possível é a substituição uma meticulosa avaliação médica para detectar fatores subjacen-
da articulação. tes de risco, como uma anomalia cardíaca.
Problemas neurológicos permanentes, como uma paralisia
parcial, geralmente resultam de tratamento tardio ou inadequado Tratamento
para os sintomas da medula espinhal. No entanto, em alguns casos, - Oxigênio
o dano é tão grave que não pode ser corrigido nem mesmo com tra- - Às vezes, terapia de recompressão
tamento adequado. Os tratamentos repetidos com oxigênio numa Cerca de 80% das pessoas se recuperam completamente.
câmara de pressão elevada parecem ajudar algumas pessoas a se Os mergulhadores com apenas prurido, erupção cutânea e fa-
recuperarem de danos na medula espinhal. diga em geral não precisam ser submetidos à recompressão, mas
devem permanecer sob observação, pois podem apresentar sin-
Diagnóstico tomas mais sérios. A respiração de oxigênio puro através de uma
- Avaliação de um médico máscara bem ajustada pode proporcionar algum alívio.
A doença de descompressão é reconhecida pela natureza dos
sintomas e por seu aparecimento associado ao mergulho. Exames Terapia por recompressão
como tomografia computadorizada (TC) ou imagem por ressonân- Qualquer outro sintoma da doença de descompressão indica
cia magnética (RM), por vezes, demonstram anomalias no cérebro a necessidade de um tratamento numa câmara de pressão eleva-
ou na medula espinhal, mas não são confiáveis. No entanto, a tera- da (de recompressão ou de oxigênio hiperbárico), porque a terapia
pia de recompressão é iniciada antes de se obterem os resultados de recompressão repõe a circulação sanguínea normal e o oxigênio
de uma TC ou de uma RM, exceto quando o diagnóstico não está nos tecidos afetados. Depois da recompressão, a pressão é redu-
claro ou quando o estado do mergulhador é estável. A RM costuma zida aos poucos, com pausas preestabelecidas, para que os gases
ser o diagnóstico de osteonecrose disbárica. em excesso tenham tempo de abandonar o organismo sem causar
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lesões. Uma vez que os sintomas podem voltar a surgir ou podem Estas ciências interessam, portanto, aos profissionais de várias
piorar após as primeiras 24 horas, submete-se a tratamento mes- áreas: médicos, sanitaristas, farmacêuticos, ecologistas, veteriná-
mo as pessoas que apresentam apenas dor moderada ou transitó- rios, biólogos, psicólogos, etc., cada um visualizando o veneno por
ria ou sintomas neurológicos. uma determinada ótica.
A terapia de recompressão é benéfica até 48 horas depois do
mergulho e deve ser aplicada mesmo que chegar à câmara mais Programas de Toxicovigilancia
próxima suponha uma viagem longa. Durante o tempo de espera e Centros Antiveneno têm como missão e responsabilidade o
o de transporte, deve ser administrado oxigênio com uma máscara controle, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das intoxica-
facial muito bem ajustada e líquidos por via oral ou por via intra- ções exógenas, e para isto devem desenvolver ações de toxicovigi-
venosa. Um atraso prolongado no tratamento aumenta o risco de lância permanentes.
lesões permanentes.19
Ações de Toxicovigilância
Ação química 1. Identificação de problemas: estudos epidemiológicos, ava-
Toxicologia é a ciência que estuda a natureza e o mecanismo liação de riscos;
das lesões tóxicas nos organismos vivos expostos aos venenos. Se- 2. Medidas de controle dos produtos: proibição, restrição, uso
gundo definição deCasarett: “Toxicologia é a ciência que define os controlado;
limites de segurança dos agentes químicos, entendendo-se como 3. Desenvolvimento de ações conjuntas com órgãos de Saúde,
Vigilância e Meio Ambiente públicos e privados, Justiça, Órgãos de
segurança a probabilidade de uma substância não produzir danos
Classe, etc.;
em condições especiais”.
4. Capacitação de profissionais em Toxicologia;
Veneno é toda substância que incorporada ao organismo vivo,
5. Conscientização da população: campanhas educativas, divul-
produz por sua natureza, sem atuar mecanicamente, e em determi-
gação das medidas de prevenção e controle.
nadas concentrações, alterações da fisico-química celular, transitó- Epidemiologia das Intoxicações
rias ou definitivas, incompatíveis com a saúde ou a vida. Os produtos químicos são indispensáveis para o desenvolvi-
Paracelso, no século XVI já estabelecia o aforismo básico: “To- mento das atividades do homem, à prevenção e cura das doenças
das as coisas são venenosas, é a dose que transforma algo em ve- e ao aumento da produtividade agrícola. Entretanto, o uso inade-
neno”. quado e abusivo tem causado efeitos adversos à saúde humana e à
Intoxicação Exógena ou Envenenamento: integridade do meio ambiente, ocasionando acidentes individuais,
É o resultado da contaminação de um ser vivo por um produto coletivos e de grandes proporções: as catástrofes químicas.
químico, excluindo reações imunológicas tais como alergias e in- A ocorrência de envenenamentos é um grave problema de
fecções. saúde pública em todos os países do mundo, tendo duplicado nos
Para que haja a ocorrência do envenenamento são necessários últimos 10 anos, devido principalmente à grande quantidade de
três fatores: substância, vítima em potencial e situação desfavorá- produtos químicos lançados, anualmente, no mercado para consu-
vel. mo das populações.
Toxicidade é a capacidade de uma substância produzir efeitos Nos países desenvolvidos pode atingir a 2% da população e
prejudiciais ao organismo vivo. naqueles em desenvolvimento a 3%. Os Estados Unidos estimam
a ocorrência anual de 4 milhões de exposições tóxicas, sendo regis-
Fases da Toxicologia trados cerca de 2 milhões, 50% em menores de 5 anos. No Brasil, as
A Toxicologia tem sido caracterizada através dos séculos por estimativas são de 3 milhões de intoxicações anuais, a maioria sem
circunstâncias que podem situá-la em três fases: registro devido à subnotificação e às dificuldades de diagnóstico.
a) Descoberta dos tóxicos na natureza: alimentos, plantas e As estatísticas variam em função dos padrões culturais, sociais e
animais; econômicos. Nos países desenvolvidos há maior ocorrência de in-
b) Fins primitivos e homicidas: arsênico, cianeto, estricnina, toxicações por produtos químicos e medicamentos e nos países em
etc; desenvolvimento, além desses agentes, por animaispeçonhentos,
c) Toxicologia Moderna: Intoxicações profissionais, alimenta- plantas venenosas e pesticidas agrícolas. O Brasil, sendo um grande
res, iatrogênicas, etc. pólo industrial tem elevado percentual de intoxicações por produ-
tos químicos em todas as fases: fabricação, manipulação, transpor-
Ciências Da Toxicologia
te, e descarte. É grande consumidor de medicamentos sendo estas
A Toxicologia busca o conhecimento das manifestações pro-
intoxicações provocadas por automedicação, superdosagens, ia-
duzidas pelos venenos no organismo e tudo que se relaciona aos
trogenias, acidentes e tentativas de suicídio. Nosso país é também
mesmos. Por suas variadas áreas de interesse é uma ciência multi-
grande consumidor de pesticidas, e estas intoxicações ocorrem
disciplinar, pois é integrada por várias ciências: devido ao uso excessivo e indiscriminado destes produtos, desco-
• Química Toxicológica: Estrutura Química e Identificação dos nhecimento dos trabalhadores rurais dos perigos dos mesmos, falta
Tóxicos. de equipamento de proteção individual (EPI) e principalmente pelo
• Toxicologia Farmacológica: Efeitos Biológicos e Mecanismos uso doméstico de pesticidas de elevado potencial tóxico, fabricados
de Ação. exclusivamente para fins agrícolas.
• Toxicologia Clínica: Sintomatologia, Diagnóstico e Terapêu- Há também elevada ocorrência de acidentes por animais peço-
tica. nhentos representando para alguns estados do Brasil o maior per-
• Toxicologia Ocupacional: Prevenção, Higiene do Trabalho. centual de envenenamentos registrados.
• Toxicologia Forense: Implicações de Ordem Legal e Social.
• Epidemiologia das Intoxicações.
• Toxicologia Ambiental.
• Toxicologia dos Alimentos.
19 Fonte: www.msdmanuals.com
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Alguns grupos de agentes que causam intoxicações e suas ca- Em uma morte súbita, por exemplo, primeiramente é aciona-
racterísticas da a polícia militar que irá até o local do crime para averiguação e
Medicamentos: isolamento da área para preservação correta das evidências para
Tipo mais freqüente de intoxicação em todo o mundo, inclusi- poder determinar o que é vestígio; a autoridade policial (delegado),
ve no Brasil. Ocorre frequentemente em crianças e em tentativas chega em seguida e os últimos são os peritos criminais.
de suicídio. Os peritos criminais iniciam a cadeia de custódia, que contri-
Domissanitários: bui para manter e documentar a história cronológica da evidência,
Produtos de composição e toxicidade variada, responsável por para rastrear a posse e o manuseio da amostra a partir do preparo
muitos envenenamentos. do recipiente coletor, da coleta, do transporte, do recebimento, da
Alguns são produzidos ilegalmente por “fábricas de fundo de análise e do armazenamento.
quintal”, e comercializados de “porta em porta”. As amostras devem ser manuseadas de forma cautelosa, para
Geralmente tem maior concentração, causando envenena- tentar evitar futuras alegações de adulteração ou má conduta que
mentos com maior freqüência e de maior gravidade que os fabri- possam comprometer as decisões relacionadas ao caso em ques-
cados legalmente. tão. O detalhamento dos procedimentos deve ser minucioso, para
Inseticidas de uso Doméstico: tornar o procedimento robusto e confiável, deixando o laudo téc-
São pouco tóxicos quando usados de forma adequada. Podem nico produzido, com teor irrefutável. A sequência dos fatos é es-
causar alergias e envenenamento, principalmente em pessoas sen- sencial: quem e como manuseou, onde o vestígio foi obtido, como
síveis. A desinsetização em ambientes domiciliar, comercial, hospi- armazenou.
talar, etc., por pessoa ou “empresa” não capacitada pode provocar Nas análises toxicológicas post mortem estabelece a causa e a
envenenamento nos aplicadores, moradores, animais domésticos, forma de intoxicação ou morte por meio da análise de vários fluidos
trabalha-dores e principalmente em pessoas internadas, ao se utili-
e tecidos obtidos durante a necropsia. As amostras utilizadas neste
zarem produtos tóxicos nestes ambientes.
caso são humor vítreo, conteúdo gástrico, sangue periférico, san-
Pesticidas de Uso Agrícola:
gue cardíaco, fígado, bile, cérebro, urina, que pode determinar se
São as principais causas de registro de óbitos no Brasil, princi-
ocorreu uma overdose, suicídio, intoxicação acidental, homicídio e
palmente pelo uso inadequado e nas tentativas de suicídio.
Raticidas: qual a substância utilizada, seja fármaco ou drogas lícitas ou ilícitas.
No Brasil, só estão autorizados os raticidas à base de anticoa- Ao final das análises toxicológicas, o profissional emite um lau-
gulantes cumarínicos. São grânulos ou iscas, pouco tóxicos e mais do que deverá constar os resultados das análises e este será funda-
eficazes que os clandestinos, porque matam o rato, eliminam as mental para encerrar o caso policial.
colônias. A utilização de produtos altamente tóxicos, proibidos para Essa é uma área de atuação que está em alta, pois os concur-
o uso doméstico tem provocado envenenamentos graves e óbitos20 sos estão cada vez mais concorridos e as vagas cada vez maiores.
Para ser um toxicologista forense, necessita possuir graduação em
A toxicologia forense é uma ciência multidisciplinar que busca bacharel e realizar uma especialização em toxicologia, já para ser
mostrar a verdade de um fato perante a lei, mas também identificar perito criminal, precisa ter diploma de graduação em bacharel nas
e quantificar os efeitos prejudiciais associados a produtos tóxicos, áreas determinadas pelo edital e prestar concurso público.21
ou seja, qualquer substância que pode provocar danos ou produzir
alterações no organismo, no seguimento de solicitações processu- Caustico e Veneno
ais de investigação criminal, sendo apoiada fundamentalmente na  Energias de Ordem Química
toxicologia analítica. Segundo Flamínio Fávero, são aquelas que atuam por substân-
Em 1958, Gisbert Calabuig o definiu como um conjunto de co- cias que entram em reação com os tecidos.
nhecimentos aplicáveis na resolução dos problemas toxicológicos São as que agem através de reações químicas com os tecidos.
que levantam em sede do Direito; já Paul Matte, 1970 disse que é Modos de ação.
um estudo e aplicação da toxicologia ao direito para encontrar a Podem agir de modo localizado ou de modo sistêmico, daí a
verdade em causas civis, criminais e sociais com o objetivo de que divisão em cáusticos e venenosos.
não causem injustiças a nenhum membro da sociedade.
É uma ciência importantíssima e ligada diretamente ao Direito, Cáusticos
pois com ela e a partir dela, pode- se inocentar ou acusar um réu, Cáustico é toda substância que quando colocada em contato
no caso de suspeita de homicídio utilizando drogas ou venenos, es- com um tecido, com ele reage desorganizando-o.Podem agir exter-
tabelecendo um nexo causal entre o evento e o efeito tóxico. É essa namente ou internamente.
ciência que determina o agente químico causador da morte, e pos-
Classificação
sibilita quantificá-lo, dando a sociedade uma resposta sobre o fato.
Classificam-se em coagulantes e liquefacientes.São substâncias
Mas, para que isso ocorra de forma idônea e segura, neces-
coagulantes os ácidos fortes, como o sulfúrico, o clorídrico, nítrico,
sita de um procedimento anterior à análise que se chama cadeia
sais metálicos como nitrato de prata, permanganato de potássio,
de custódia, que é um procedimento onde se documenta toda a
ação desde o recipiente, coleta, até o descarte final da amostra. essências como terebentina, sabina.
Segundo CHASIN, ela se divide em duas fases, externa e interna: a As substâncias coagulantes desidratem os tecidos, formando
fase externa seria o transporte do local de coleta até a chegada ao escaras endurecidas, de cores diferentes, dependendo da substân-
laboratório. A interna refere-se ao procedimento interno no labo- cia.Por exemplo, o ácido sulfúrico provoca escaras esbranquiçadas.
ratório, realizado pelo toxicologista, até o descarte das amostras. As substâncias liquefacientes são os álcalis, soda cáustica, li-
Uma cadeia de custódia, realizada com seriedade faz com que quefacientes provocam escara úmida, amolecidas pela liquefação
todo o procedimento seja confiável. Com as amostras preserva- dos tecidos.
das corretamente, a análise mostra um resultado real, apontando
como ocorreu o fato.
20 Fonte: www.saude.ba.gov.br 21 Fonte: www.portaleducacao.com.br
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Sua ação depende não só da natureza química da substância Eliminação dos Venenos
como também da sua concentração e da região atingida, assim áci- Absorvida a substância cai na corrente sanguínea, em tempo
do e álcalis diluídos não danificam a pele.Uma substância que não variável, de acordo com a substância e a via de introdução (mais
produz dano à pele pode lesar irreparavelmente a córnea.Importa rápida por via sanguínea e respiratória que por via oral e cutânea),
também o tempo de contato entre a substância e o tecido atingido. distribuindo-se por todo o organismo, sendo metabolizada princi-
As lesões provocadas por cáusticos são denominadas generica- palmente no fígado, fixando-se nos órgãos, de acordo com as afini-
mente vitiolagem, qualquer que seja a substância usada, em razão dades da substância com os diversos componentes do organismo.
do nome popular do ácido sulfúrico, óleo de vitríolo, que foi muito Por exemplo: álcool com grande afinidade pela água concentra-se
usado no passado. mais no sangue e no liquor; fósforo com grande afinidade pela gor-
Causa jurídica-geralmente a intenção é provocar lesão corpo- dura é encontrado na medula óssea, embora suas ações possam se
ral, deformar a vítima daí a região mais atingida ser a face, o pes- fazer seletivamente em outros órgãos, dependendo aí das altera-
coço, tórax e escápulas. Esta eventualidade é hoje em dia rara no ções que provoquem nas funções destes.Serão então eliminados
nosso meio.São comuns os acidentes, domésticos e industriais. na forma da própria substância ou então transformados.
A morte por ação cáustica é também eventualidade rara mas
não impossível. Como principais vias de eliminação, temos:
A) Aparelho digestivo:
Veneno vômito – (mercúrio,cobre)
A legislação atual não define o que seja venenoso, deixando a diarréia – (mercúrio, cobre)
critério do perito esta conceituação. bile – (cobre, arsênico, mercúrio)
A Consolidação das Leis Penais diz em seu artigo 296 parágrafo
único: “Veneno é toda substância mineral ou orgânica que ingerida B) Urina (cobra, arsênico, antimônio, fósforo)
no organismo ou aplicada ao seu exterior, sendo absorvida, deter-
mine a morte, ponhe em perigo a vida ou altere profundamente a C) Pulmões – (arsênico, cobre, substâncias voláteis-álcool, éter,
saúde.” Esta definição satisfaz as exigências médico legais. gasolina, querosene, clorofórmio, ácido cianídrico, gás sulfídrico).
Em outras palavras – Veneno é toda substância que absorvida
e atuando química ou bioquimicamente sobre o organismo lesa a D) Suor – (chumbo, antimônio, arsênico)
integridade corporal ou a saúde do indivíduo.
Envenenamento são as lesões mortais ou não, provocadas pe- E) Saliva – (mercúrio, morfina, cocaína)
los venenos.
Da definição de veneno, podemos inferir diferença fundamen- F) Leite – (bismuto, mercúrio)
tal com os cáusticos.Para atuar como veneno, a substância precisa
ser absorvida e por reação química ou bioquímica determinar uma G) Cabelos – (arsênico)
lesão corporal ou perturbação funcional que pode chegar à morte.
Encontramos substâncias venenosas nos 3 reinos da natureza: H) Unhas – (arsênico)
mineral, vegetal e animal.Não se inclui no grupo de venenos a ação I) Placenta – (sabina)
de microorganismo e suas toxinas, incluímos poréma secreção de O tempo de eliminação do veneno varia conforme sua nature-
certos animais, cobra, insetos, aracnídeos.Em medicina legal, não za, dose, via de absorção, estado de saúde da vítima, etc.
se faz a clássica distinção da parasitologia entre peçonha e veneno. Quanto à forma de eliminação, existem também variações
conforme as substâncias.Assim, muitas substâncias são eliminadas
Vias de absorção dos venenos. in natura (éter).Outras são oxidadas ou reduzidas e eliminadas após
Os venenos podem ser introduzidos no organismo pelas mes- sua transformação (barbitúricos, cocaína); isto é muito importante
mas vias que são introduzidas os medicamentos. em uma perícia.
A ação de certas substâncias varia de acordo com a via de pe-
netração (curare veneno de cobra são inócuos por via oral, pois são Modificação da Ação dos Venenos
digeridos no estômago). A ação ou efeito das substâncias sobre os indivíduos variam
A) Pele.A pele é impermeável à maioria das substâncias, porém não só pela natureza da substância como também com outros fato-
alguns inseticidas, gases de guerra podem ser absorvidos pela pele res que podem modificar esta aça.Temos fatores que são ligados à
íntegra. própria substância, outros referentes ao individuo.

B) Mucosas.Aparelho digestivo (gástrica, intestinal, retal) Condições Modificadoras da Ação Referente ao Veneno:
Aparelho respiratório
Ocular Dose
Nasal As substâncias só agem a partir de uma determinada quanti-
Genito urinária dade que é calculada por quilo de peso.Dependendo da dose, uma
substância poderá ser alimento, medicamento ou veneno.Potássio,
C) Serosas. por exemplo, é alimento, medicamento, porém se injetado na veia
D) Tecido celular subcutâneo. rapidamente e em quantidade grande causará a morte.A própria
E) Via muscular. água quando ingerida em grande quantidade como acontece com
F) Via sanguínea. alguns doentes mentais, causará distúrbios eletrolíticos; será vene-
no.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Forma de Administração xual, conceito de virgindade, himenologia e seus desdobramentos,
Quanto mais solúvel, mais eficaz sua ação.Para ser absorvida e aspectos do casamento e da separação, da fecundação, gestação,
ser eficaz, a substância deve ser solúvel ou tornar-se solúvel. parto, aborto, infanticídio, eugenia, investigação de paternidade,
anomalias sexuais, conjunção carnal etc.
Associação com Outras Substâncias ou Veículos As implicações relativas ao sexo estão presentes tanto no Di-
Esta associação poderá diminuir ou aumentar a ação do vene- reito Penal quanto no Direito Civil, com reflexos também no Direito
no.Associação de cianeto de potássio com ácido, fósforo com gor- Processual. Tais incidências, de regra, necessitam da produção de
dura aumentam a ação dos venenos.Cianeto com açúcar tem sua prova material a ser elaborada no âmbito da Medicina Legal.
ação diminuída. No Direito Civil a Sexologia pode auxiliar na investigação de
paternidade, nas questões de impotência, nas implicações do ca-
Via de Penetração samento etc.
Tem grande importância a via de penetração do veneno.Cura- No âmbito do Direito Penal, as incidências parecem mais co-
re, veneno de cobra, por via oral são inativos. Estricnina, tártaro muns nos crimes sexuais, no estudo da Himenologia, da virgindade,
hemético têm sua ação aumentada por via oral. da conjunção carnal etc.

Com Relação ao Indivíduo EROTOLOGIA FORENSE


Idade A Erotologia Forense é a parte da Sexologia que se ocupa em
De um modo geral, as idades extremas são mais sensíveis aos estudar as perversões e crimes sexuais da exposição ao perigo de
venenos (criança e velhos).As crianças são mais sensíveis aos opiá- contágio e da prostituição.
ceos, porém são mais resistentes à atorpina. É evidente a contribuição da Erotologia Forense para o pro-
gresso não só da Sexologia Forense como também dos obtidos pela
Estado de saúde Psicologia e Psiquiatria Forense no estudo das origens sexuais da
Doenças hepáticas, renais, pulmonares que prejudicarão a me- conduta humana e dos variados desvios, tais como as neuroses e
tabolização ou a eliminação ou a eliminação do veneno aumentará as psicoses sexuais, que, como consequência, verifica-se a imensa
a ação do veneno. importância da evolução psicossexual na maturação e integração
da personalidade, no seu equilíbrio emocional, no seu ajuste voliti-
Tolerância vo em razão das solicitações biossociais e em todo o seu estado de
Algumas pessoas têm resistência a determinadas por uso repe- saúde mental.
tido da substância.Viciados em morfinas fazem uso de dose muitas Tais estudos promoveram, de modo evidente e amparado por
vezes maior que a dose letal para as pessoas não habituadas ao rica documentação de pesquisas clínicas, a influência de processos
seu uso. de anomalias e alterações de comportamento da vida sexual, uma
gênese de inúmeras situações psicopatológicas, que variavam des-
Idiossincrasia de simples manifestações neuróticas até os mais significativos qua-
Do mesmo modo que uma pessoa pode ter sua resistência au- dros de psicoses declaradas.
mentada, poderá tê-la diminuída.22 Em consequência destes importantes estudos, percebeu-se a
necessidade de uma atenção maior ao papel da vida sexual e as
suas limitadas repercussões no desenvolvimento das inter-relações
ASPECTOS MÉDICO-LEGAIS DOS CRIMES CONTRA A LI‐ humanas.
BERDADE SEXUAL, DA SEDUÇÃO, DA CORRUPÇÃO DE Percebe-se, então, que, neste contexto, é necessário ser pro-
MENORES, DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR E DO CA‐ movido um extenso trabalho de orientação sexual, com o objetivo
SAMENTO de remover de todo, ao menos diminuir os seus maus feitos de-
rivados de erros, preconceitos, frustrações, temores e dificuldade
de toda sorte, na busca e conquista da plenitude fisiopsicossexual.
A Sexologia Forense tem por objeto de estudo as incidências A psiquiatria, que tem por objetivo desvendar as mais profun-
médico-legaisrelativosao sexo. das raízes dos fatos anormais do comportamento humano, apu-
No âmbito da sexologia e toda a sua complexidade, o tema rou, através de minuciosos estudos, que uma das funções mais
subdivide-se em três vertentesde estudo: freqüentes dos violentos impactos emocionais, de angústia e dos
1) Himeneologia, que tem por objeto de estudo o casamento mais diversos sintomas psicopáticos nos adultos de ambos os sexos
e demais aspectosdecorrente da união de pessoas de sexo diferen- residem na ausência de um pleno e perfeito equilíbrio na atividade
tes, assim como questões de compatibilidades, doenças hereditá- sexual.
rias, saúde da prole etc.; Entende-se que é necessário descobrir a nova dinâmica da re-
2) Obstetrícia, cujo estudo se desenvolve no âmbito dos fenô- alidade humana, social e política da saúde, que nos permita desen-
menos da fecundação, da anticoncepção, da gestação, do aborto, volver processos de possível revolução e reforma social, em bene-
do parto, do infanticídio, do puerpério e do estado puerperal, além fício da autodeterminação humana e da compreensão daquilo que
de aspectos ligados à investigação de paternidade; é parte integrante e fator de determinação de seu próprio destino.
3) Erotologia, a parte da ciência Médico-legal que estudaos es- A sexualidade assume, num sentido amplo, um tríplice aspec-
tados intersexuais, as perversões, os crimes sexuais,a prostituição e to:
demais comportamentos de anormalidades ligados ao sexo. • Normal, ou seja, aquela que segue as injunções da Natureza
Assim dentro das suas vertentes de estudos específicos, a Se- e se norteia no sentido da procriação;
xologia também engloba as questões decorrentes de crimes sexu- • Anômala, ou seja, a que sofre desvio no seu curso, quer sob a
ais como: estupro, sedução, atentado violento ao pudor, posse se- forma de estados fisiológicos interssexuais que consiste em desvios
do comportamento;
22 Fonte: www.juridicohightech.com.br
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Criminosa, a que se apresenta com fator criminógeno, ou • a fecundação pode ser a consequência de :
seja, tudo aquilo que pelas características ou condições, contribui - conjunção carnal;
ou concorre para um resultado de natureza delituosa com sexuali- - ato libidinoso diverso de conjunção carnal;
dade criminosa propriamente dita. - fecundação artificial: em união dos gameta fora do organismo
materno ( proveta);
Anomalias Sexuais: - inseminação artificial: processo para a introdução do artificial
São comportamentos não convencionais ou pelo menos não ou do gameta masculino no sistema e genital feminina, podendo
comuns, buscados por algumas pesas, em virtudes de problemas ser:
mentais, psíquicos, emocionaisou sociais, para a satisfação dos a) o homóloga: feita com sêmen do próprio marido. é plena-
seus desejos sexuais. mente aceita pelo código de ética médica e pelo direito;
No aspecto jurídico, principalmente no tocante à anulação do b) heteróloga: feita com o sêmen de um doador, fora do matri-
casamento, a prática sexual anômala impede a sexualidade normal, mônio; punida pelo código penal quando realizada sem o consen-
tornando-se forma exclusiva da manifestação sexual. timento do marido.

Anomalias sexuais mais comuns: Anticoncepção


• Pedofilia: épreferência sexual por crianças. Para evitar a concepção e permitir a conjunção carnal, com
• Sadismo: satisfação sexual pelo sofrimento causado ao menores riscos de gravidez, podem ser utilizados os seguintes mé-
parceiro ou à parceira. todos:
• Fetichismo: é um desvio sexual através do qual a pessoa a) cirúrgicos: laqueadura o ligadura de trompas, nas mulher, ou
sente prazer por meio de objetos pessoais de outra pessoa (roupas, dos ductos deferentes, no homem;
calçados etc.). b) mecânicos: preservativo, diafragma, dispositivo intrauterino
• Auto-erotismo: é o erotismo estimulado sem parceiro, (DIU);
substituído por objetos como fotografia, esculturas etc. c) químicos: espermaticidas, anticoncepcionais orais;
• Anafrodisia: é a diminuição do instinto sexual do homem. d) fisiológicos: coito interrompido, tabelinha.
• Frigidez: é a diminuição do apetite sexual da mulher, ou
também a falta de capacidade para o orgasmo. Fisiologia:
• Narcisismo: é o prazer pela auto admiração, ou seja, o A) Ciclo Menstrual
prazer em admirar o seu próprio corpo. a) Menarca: Primeira menstruação.
• Mixoscopia: é a fantasia sexual de sentir prazer em visua- b) Início do Ciclo: É aquele que inicia o fluxo menstrual.
lizar a relação de seu parceiro com terceiro. c) Último dia do Ciclo: Se dá coincidentemente com o início do
• Gerontofilia: é a atração sexual de pessoas jovens porpes- ciclo seguinte. Em média dura quatro semanas ou 28 dias.
soas com idade avançada. B) Ciclo Gravídico
• Masoquismo: é a satisfação do prazer sexual por meio de O óvulo é fecundado na trompa - ovo - processo de nidação
humilhação, agressão do próprio parceiro. implanta-se na parede uterina -
• Sodomia: Prática de coito anal entre parceiros do mesmo embriogênese - desenvolvimento fetal - parto - termina com a
sexo ou de sexo diferentes. expulsão do feto e dos anexos
• Tribadismo: é a satisfação sexual entre mais de um par- (dequitação).
ceiro.
• Necrofilia ou Vampirismo: práticas sexuais com pessoas Importância do diagnóstico:
mortas. a) Prova de violência sexual
• Lubricidade senil: é a manifestação sexual exacerbada e b) Investigação da paternidade
incompatível com a idade. c) Prova de adultério
• Riparofilia: é sentir a atração sexual por pessoas sujas ou d) Impossibilidade de anulação do casamento (Art. 285 do C.C.)
mal tratadas. e) Dissimulação do próprio parto
• Urolagnia: é oprazer sexual pela excitação de ver alguém f) Prazo para nova núpcias.
no atode urinar ou apenas de ouvir o ruído da urina. g) Licença para gestação
• Coprolalia: é a satisfação sexual por meio de falar ou de h) Perturbações mentais que podem ocorrer na gravidez
escutar palavrões e obscenidades. i) Resguardo dos direitos do nascituro.
• Edipismo: é propensão ao incesto, o impulso do ato sexual
por parentes próximos. Diagnóstico:
• Bestialismo ou Zoofilia: é a satisfação sexual por atos com Sinais de presunção e probabilidade:
animais domésticos23 • Amenorréia
• Aumento do ventre
OBSTETRÍCIA FORENSE • Náuseas
Estuda os aspectos médico-legais relacionados com fecunda- • Dificuldades mecânicas
ção, gestação, parto, puerpério, além dos crimes de aborto e in- • Hiperenese
fanticídio. • Sinal de Kluge (coloração arroxeada da vulva)
• Sialorréia
Fecundação • Lordose acentuada
É o união do óvulo, macrogameta produzido no ovário, com • Galactorréia
o espermatozóide, microgameta produzido nas glândulas testicula- • Sinal de Oseander (pulsação vaginal)
res do homem, formando a célula ovo ou zigoto. • Modificação das mamas
• Sinal de Jacquemier (Cianose da vagina)
• Línea negra
23 Fonte: www.educacaosexualonline.blogspot.com
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
• Sinal de Puzos (rechaço fetal uterino) Diagnóstico de Aborto Provocado
• Cloasma gravídico a) realidade do abortamento
• Sinal de Reil-Hegar (amolecimento do colo uterino) * sinais recentes
- sinais de gravidez pré existente;
Sinais de certeza: - sinais de parto recente;
• Movimentos fetais (ativos e passivos) - sinais de puerpério imediato (primeira semana);
• Batimentos cárdio-fetais - sinais de puerpério mediato (três semanas seguintes).
• Sopro dos vasos uterinos
* sinais antigos:
Exames complementares: - sinais duradouros de gravidez preexistente;
• Exame físico • Testes Biológicos - sinais de parto antigo;
• Ultra-sonografia • Testes químicos b) manobras abortivas
• Raio X • Testes imunológicos * no colo do útero, identificando presença de corpo estranho
ou sinais de pinçamento, no caso de curetagem;
Abortamento * na superfície corporal, demonstrando a presença de contu-
Abortamento, sob o ponto de vista jurídico, é interrupção da sões, queimadura ou eventuais lesões corporais;
gravidez em qualquer fase da gestação, com morte do concepto e * no sangue, pesquisando substâncias químicas.
sua consequente expulsão ou retenção.
Do ponto de vista obstétrico, é a interrupção da gravidez com A natureza do aborto é de fundamental importância, já que
feto ainda não viável, isto é, até vinte semanas de gestação, pe- uma parcela significativa dos abortamentos não apresenta qual-
sando até 500 g e com altura calcâneo-occipital máxima de 16,5
quer interesse jurídico, representando apenas uma complicação
sentimentos.
clinica da gestação.
O aborto pode ser classificado:
Anomalias:
a) Espontâneo ou acidental
O espontâneo ocorrem quando condições materno-fetais A) Superfecundação - Consiste na fecundação de dois ou mais
endógenas impedem o procedimento da gestação, e o acidental óvulos na mesma ovulação, num único coito ou em diversos.
quando fatores traumáticos, tóxicos o infecciosos, em circunstân- Superfetação - Consiste na fecundação de dois ou mais óvulos
cias eventuais, provocam a morte do feto. de ciclos diferentes.
b) Provocado C) Gravidez ectópica - A nidação ocorre fora do útero.
Ocorre quando agentes externos, com intuito de interromper D) Gravidez molar - Produto degenerado da gravidez. Massa
a gestação de, são intencionalmente aplicados sobre a mulher grá- pastosa (Mola). O seu aspecto se assemelha a sagu.24
vida.
HIMENOLOGIA FORENSE
• Podem ser divididos em: É a parte da Medicina Legal que estuda os hímens, suas es-
- Não-Puníveis: pécieseclassificação anatômica. Importante é não confundir Hime-
- necessário ou terapêutico: aborto realizado pelo médico para nologia com Himeneologia, esta é a parte da Medicina Legal que
salvar a vida da gestante; estuda as questões referentes ao casamento.
- sentimental, piedoso ou moral: em caso de gravidez resultan- O estudo do himem é de relevante importância para se verifi-
te de estupro; car com mais segurança quando da incidência de violências sexuais,
- Puníveis: pois o formato anatômico de alguns tipos de hímens pode gerar
- procurado: resulta da própria ação da gestante; confusões para o perito, que poderá confundir suas características
- sofrido: provocado sem consentimento da gestante; naturais com vestígios de violência.
- consentido: praticado por terceiro, com permissão da gestan- A Medicina Legal classifica os hímens em: Acomissurados e Co-
te. misssurados. Os primeiros, são denominados: semilunal, helicoidal,
septado, imperfurado (sem óstio) e cribriforme; os Comissurados
O aborto eugênico, visando evitar o nascimento de criança de- são: bilabiado, trilabiado, multilabiado(poliforme). Também pode
feituosa, é considerado crime pela legislação brasileira, apesar de ser encontrada ausência de himem, o que se denomina de Agenesia
algumas associações médicas considerarem que o defeito genético himenal.
e a malformação do feto justificam o aborto.
Himem e suas espécies: Hélio Gomes define hímem como sen-
O aborto social, praticada por motivos econômicos, morais ou
do uma formação anatômica situada na parte anterior da vagina.
até estéticos, não apresenta qualquer justificativa legal, apesar de
Na verdade, trata-se de uma membrana situada no intróito
sua alta incidência.
vaginal, apresentando duas faces: anterior (posicionada do lado
Quando se pretende interromper uma gravidez, como nos ca-
sos previstos em lei, a evacuação uterina por curetagem ou sucção, de fora) e posterior (do lado de dentro). Possui duas bordas com
nas primeiras doze semanas ou menos de gestação, tende a ser um funções anatômicas diferentes: uma ligando o himem ao corpo e a
método de escolha. A curetagem por sucção é associada a menos segunda, formando o óstio, circulando o orifício do próprio himem.
complicações do que é curetagem crua cruenta. “Na maioria das vezes a borda tem certas ondulações, de tal
Nas gestações mais avançadas, procura-se promover previa- modo que o diâmetro do óstio, em repouso, sem ser tracionado,
mente a expulsão fetal, utilizando para isso o misoprostol. é um; uma vez tracionado, ele se apresenta maior. O diâmetro do
orifício, devido a sua ondulação, apresenta-se de uma maneira; se
Retenção fetal: forem esticadas todas as ondulações, esse diâmetro se apresentará
É a morte do feto e sua consequente retenção no útero ma- de maneira diferente”(H. Gomes).
terno.
24 Fonte: www.grupocienciascriminais.blogspot.com
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
O diâmetro, pela ruptura, torna-se suficientemente largo, per- Características do himem roto: A ruptura himenal é uma lesão
mitindo o acesso do pênis no interior da vagina. Face às caracterís- provocada. Diante de uma história de violência sexual, a constata-
ticas da irrigação sanguínea do hímen, ele se rompe e permanece ção da ruptura himenal gera presunção de conjunção carnal. É im-
roto, cicatrizando-se a borda da ruptura, mas não se refazendo. Até portante verificar que a lesão em comento pode ser provocada por
o 15.º dia da conjunção, as bordas sangram; após esse tempo, as intermédio de outras manipulações, e somente a sua presença, en-
bordas se cicatrizam. O tecido vai se atrofiando até que, após algum fraquece a presunção. Entretanto, é considerado doutrinariamente
tempo, os fragmentos são reduzidos a meros nódulos na parede como um elemento significativamente importante, que associado a
vaginal, que recebem o nome de carúnculas mirtiformes. As ruptu- outras evidências, reforçam a hipótese de conjunção carnal.
ras estendem-se da borda ostial até a borda vaginal. Em alguns li-
vros podemos encontrar a terminologia “ruptura incompleta”, que Exceções à ruptura do hímem: algumas situações existemque
significa que o hímen rompeu, mas a ruptura não foi até a borda podem admitir uma conjunção carnal sem o rompimento do hí-
vaginal. mem. É o que ocorre em cerca de 20%, das relações sexuais com
Em algumas mulheres pode haver uma configuração do hímen mulheres virgens, segundo estatísticas dos Institutos e Medicina
que se apresenta com o óstio bastante irregular, cujas ondulações Legal. Os especialistas apontam várias causas para esses resultados,
se aproximam bastante da borda vaginal. Quando essas ondulações como por Exemplo:
são mais acentuadas, recebem o nome de “entalhes”. a) Nas hipóteses de ausência do hímem (anomalias relativa-
Na medida em que os entalhes se estendem até muito próximo mente raras);
da borda vaginal, quando nos deparamos com rupturas himenais b) Nas hipótesespênis muito pequenos;
já totalmente cicatrizadas, poderá surgir a necessidade de se fazer c) Em alguns casos em que o hímem possui o óstio himenal
um diagnóstico diferencial entre o que é ruptura e o que é entalhe. com diâmetros bastante grandes;
Existem vários tipos de hímens, cada um com características e d) Hímem complacente;
tamanho diferentes, merecendo minucioso estudo de cada espé- e) Nas situações em queo excesso de lubrificação durante o
cie, para melhor conhecimento e diagnóstico das situações a serem ato sexual permita a penetração sem rompimento do hímem, den-
verificadas. tre outras hipóteses.
A Medicina Legal possui estatísticas comprovando que em 80% Os especialistas recomendam que se observe com muito cuida-
das incidências investigadas, a penetração do pênis provoca o rom- do todas essas hipóteses, para impedir uma incidência de simula-
pimento da membrana himenal. ção ou dissimulação de um crime sexual.
Himem complacente: é uma espécie de hímem cuja estrutu-
ra muscular pode resistir à conjunção carnal. Significa dizer que Outros elementos de Investigação: Outros vestígios deixados
mesmo havendo a conjunção carnal, o hímem complacente não se por um ato de conjunção carnal podem ser verificados pelo perito,
rompe, pois sua elasticidade permite expandir sua orla sem romper dentre eles:
a membrana, impossibilitando, apenas pelo estudo da ruptura, a a) a presença de espermatozóide na parte mais profunda da
constatação da conjunção carnal. É um tipo de himem que, resis- vagina (saco vaginal), o que pode ser examinado pelo perito, com
tindo à cópula sem se romper, pode esconder, aparentemente, a uso de uma espátula ou outro objeto similar, colhendo-se substân-
ocorrência de conjunção carnal. cias para exames laboratoriais. A presença de espermatozóide na
O himem com ruptura leva cerca de até 21 dias para a cicatri- vagina é presunção de conjunção carnal, vez que é um tipo de subs-
zação completa, entretanto, os peritos legistas não possuem segu- tância que independe do tipo de hímem;
rança para afirma a conjunção recente, se esta for anterior a sete b) Outro fator importante de afirmação é a presença de do-
dias. Assim recomendamos especialista que o exame de conjunção enças venéreas, especialmente aquelas cujo contágio se dá geral-
carnal seja realizado o mais rápido possível, ou no prazo máximo de mente pelo contato sexual (sífilis, cancro, condilomas e ouras).
7 dias, pra que sejam verificados os vestígios com maior precisão, c) A fosfatase ácida:presente cm mais de 5 unidades na va-
inclusive para responder sobre os dois primeiros quesito comuns: gina;
sobre a virgindade da paciente e sobre a recenticidade do ato se-
xual Nota: O Líquido da Ejaculação é formado por: Espermatozóide,
Líquido Seminal (oriundo da vesícula seminal), Líquido Prostático
Tempo da ruptura: quanto ao tempo da conjunção carnal, o (oriundo da próstata, mais a Fosfatase Ácida (presente no líquido
diagnóstico do perito poderá constatar as seguintes situações: seminal e no líquido prostático. Nos homem, há cerca de 300 a
1) Recentíssimatendo ocorrido no período de poucas horas, 3000 unidades. Na mulher, até 5 unidades.), formando o ESPERMA.
quando o legista anda poderá encontrar vestígios de sangramento
nas bordas do hímem; A gravidezéum sinal de certeza de uma relação sexual. É claro
2) Recente: quando existem lesões em processo de cicatriza- que a gravidez também pode, em situações especiais, decorrer de
ção, indicando lapso temporal em torno de 10 a 15 dias; . ato libidinoso diverso da conjunção carnal, entretanto, não haven-
3) Não recente ou antiga: quando não aparecem os sinais que do outro histórico do fato, servirá tal elemento para a afirmação da
encontramos nas duas hipóteses anteriores, demonstrando assim conjunção carnal.
que o fato já ocorreu há mais de 15 dias, não sendo possível deter- Gonodatrofina Corionica: É um hormônio que é produzido com
minar o seu tempo. o início da gravidez, permitindo por meio deste, constatar-se o es-
tado gravídico.
Himem roto -é o himem deflorado, seja por conjunção carnal
ou por outro ato libidinoso ou de violência. O himem roto apresenta as seguintes características:
O himem roto não se confunde com himem com entalhe, este
decorrente de causas naturais. a) suas formas são assimétricas;
b) a ruptura é completa;
c) é adquirida e cicatriza com o tempo.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Características do Entalhe: O entalhe é uma espécie de anoma- 1. Anoxia de ventilação ou anoxica:
lia anatômica do himem. Ele apresenta um formato parecido com Pode ocorrer nas seguintes hipóteses:
fragmentos da membrana himenal e, à primeira vista, pode con- a) quando há diminuição da concentração de ar no ambiente,
fundir o perito menos avisado, a pensar que se trata de uma lesão de forma que a hemoglobina do sangue arterial atinge nível de con-
decorrente de conjunção carnal.Entretanto, melhor observados, centração baixo;
vão indicar que se trata de um sinal congênito. Suas características b) quando é verificada compressão mecânica das vias aéreas;
principais são: c) quando há alterações na dinâmica respiratória (compressão
do tórax, pneumotórax, derrames pleurais, paralisias diafragmáti-
a) tem forma congênita, ou seja, é de nascença; cas); e
b) suas alterações são de forma incompleta; d) quando há dificuldade nas trocas gasosas alveolares (EAP,
c) sãosimétricas e não cicatrizam com o tempo.25 silicoses e esclerose pulmonar).
Em tais situações, é verificada oxigenação insuficiente do san-
gue nos pulmões.

ASFIXIAS POR CONSTRIÇÃO CERVICAL, POR SUFOCA‐ 2. Anoxia anêmica: é verificada quando há diminuição qualita-
ÇÃO, POR RESTRIÇÃO AOS MOVIMENTOS DO TÓRAX E tiva e/ou quantitativa de hemoglobina (e. G. intoxicação pelo CO2
POR MODIFICAÇÕES DO MEIO AMBIENTE ou venenos meta-hemoglobinizantes, nas anemias crônicas ou nas
grandes hemorragias). Nesses casos, há diminuição da capacidade
de oxigenação do sangue.
A palavra “asfixia” é derivada da palavra grega asphyxia, que
significa “sem pulso” (a + sphyxia), pois anteriormente acreditava- 3. Anoxia de circulação e de estase: derivada de alterações
-se que nas artérias circulava o pneuma. No entanto, atualmente a que afetam a pequena e grande circulação (e. G. Insuficiência circu-
asfixia é entendida como a supressão ou retardamento da circula- latória periférica, embolia das artérias pulmonares e coarctação da
ção do sangue. aorta). Desta forma, ocorrem transtornos circulatórios que dificul-
O termo acima mencionado refere-se à situação na qual o ho- tam ou inviabilizam a chegada de sangue oxigenado aos capilares.
mem é sujeito a energias físico-químicas que impedem a passagem
de ar nas vias aéreas, causando alteração na função respiratória, de 4. Anoxia tissular ou histotóxica: surge quando da queda da
forma a inibir a hematose, podendo levar à óbito o indivíduo. tensão diferencial arteriovenosa de oxigênio ou quando ocorre a
O oxigênio chega aos tecidos por meio dos mecanismos, de inibição de enzimas oxidantes celulares, como nos casos de intoxi-
acordo com a sequência abaixo: cações pelo ácido cianídrico e/ou pelo hidrogênio sulfurado. Ocor-
1) Ventilação pulmonar; rem em tais situações mecanismos tóxicos que impedem o aprovei-
2) Hemoglobina; tamento de oxigênio pelos tecidos.
3) Circulação; e
3) Trocas gasosas. Evolução das asfixias:
Na evolução das asfixias podem ocorrer 2 tipos de anoxias: (i)
Asfixiologia: com acapnéia (sem acúmulo de gás carbônico); ou com hipercap-
Entende-se por Asfixologia, de acordo com entendimento mé- neia (com a presença de gás carbônico). Na primeira hipótese são
dico-legal, como a síndrome causada pela ausência de oxigênio no englobadas as asfixias mecânicas e no segundo o mal das monta-
ar, em diversas circunstâncias, derivado de impedimento por causa nhas.
fortuita, violenta e externa. Na anoxia com acapneia, há a perda de CO2 derivado do au-
Desta forma, quando a asfixia é verificada, o oxigênio contido mento da frequência respiratória, o que torna o sangue mais alca-
nos pulmões é consumido, de forma que o gás carbônico é acumu- lino. Pode-se verificar transtornos psíquicos, sensoriais, motores e
lado. com frequência hiper-reflexia. É produzido poliglobulia e irritabili-
dade dos centros nervosos, ainda com a consciência mantida. Pos-
Fisiopatologia e Sintomatologia: teriormente, a respiração é diminuída até que em um momento há
As síndromes hipoxêmicas ou anoxêmicas podem ter causas o aumento da pressão arterial e a diminuição dos batimentos, sur-
externas ou internas. gindo os espasmos musculares, convulsões e inconsciência. Depois
Verifica-se que as asfixias mecânicas ocorrem mais frequente- disso, há depressão dos centros nervosos, parada da respiração, co-
mente por causas externas. Entretanto, é válido mencionar que por lapso vascular, vasodilatação profunda, relaxamento vascular, arre-
diversas situações as trocas gasosas são obstadas em virtude de di- flexia e morte aparente de 3 (três) minutos, até sobrevir a morte.
ficuldade de oxigenação em órgãos distintos dos respiratórios, tais Na anoxia com hipercapnéia, os efeitos iniciais diferem-se da
como o tecido, sangue ou nervos, o que gera uma asfixia derivada anoxia com acapnéia, mas os momentos finais são semelhantes.
de causa interna. Isto se explica em razão da hipercapnéia atuar sobre os centros ner-
vosos, o que aumenta as reações próprias da anoxia, principalmen-
Conforme verificado acima, o oxigênio chega aos tecidos por te no que se refere à taquicardia e a pressão arterial, bem como
meio da ventilação pulmonar, hemoglobina, circulação e trocas ga- as convulsões tônico-clônicas oriundas da ação excitadora do gás
sosas. Cada mecanismo poderá ocasionar anoxia diferente, confor- carbônico. Nesta forma de asfixia, consome-se o oxigênio existente
me abaixo: nos pulmões e no sangue, ao mesmo tempo em que o CO2 progres-
sivamente se acumula.
Com todas essas alterações fisiológicas, é possível se estabele-
cer um cronograma, estabelecendo-se suas diversas fases da asfixia
com o aparecimento das manifestações clínicas:

25 Fonte: www.infoescola.com - Por Archimedes Jose Melo Marques


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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
1ª fase Sinais externos:
Fase cerebral
Surgimento de enjoos, vertigens, sensação de angústia e lipo- Manchas de hipóstase:
timias. Em cerca de um minuto e meio, ocorre a perda do conheci- Precoces, abundantes e de tonalidade escura, variando essa
mento de forma brusca e rápida, surgindo bradipnéia taquisfigmia. tonalidade, nas asfixias por monóxido de carbono.

2ª fase Congestão da face:


Fase de excitação cortical e medular Sinal constante e frequente em tipos especiais de asfixia, espe-
Caracterizada convulsões generalizadas e contração dos mús- cialmente na compressão torácica, ocasionando a máscara equimó-
culos respiratórios e faciais, além de relaxamento dos esfíncteres tica da face, por estase mecânica da veia cava superior.
com emissão de matéria fecal e urina devido aos movimentos pe- Equimoses da pelé e das mucosas:
ristálticos do intestino e da bexiga. Há também a presença de bra- Arredondadas e de pequenas dimensões, formando agrupa-
dicardia e aumento da pressão arterial. mentos em determinadas regiões, principalmente na face, no tórax
e pescoço, tomando tonalidade mais escura nas áreas de declive.
3ª fase As equimoses das mucosas são encontradas mais frequentemente
Fase respiratória na conjuntiva palpebral e ocular, nos lábios e, mais raramente, na
Verifica-se lentidão e superficialidade dos movimentos respira- mucosa nasal.
tórios e insuficiência ventricular direita, o que contribui para acele-
rar o processo de morte. Fenômenos cadavéricos:
Livores de decúbito mais extensos, escuros e precoces. O es-
4ª fase friamento do cadáver se verifica em proporção mais lenta; a rigidez
Fase cardíaca cadavérica, ainda que mais lenta, mostra-se intensa e prolongada e
sofrimento do miocárdio, quando os batimentos do coração a putrefação é muito mais precoce mais acelerada que nas demais
são lentos, arrítmicos e quase imperceptíveis ao pulso, embora causas de morte.
possam persistir por algum tempo até a parada dos ventrículos em
diástole e somente as aurículas continuam com alguma contração, Cogumelo de espuma:
mas incapazes de impulsionar o sangue. Formado por uma bola de finas bolhas de espuma que cobre a
boca e as narinas que continua pelas vias aéreas inferiores.
Características Gerais das Asfixias Mecânicas:
Características que podem originar um diagnóstico se verifica- Projeção da língua e exoftalmia:
das em conjunto. No entanto, os sinais verificados não são constan- Verificados comumente nas asfixias mecânicas. No entanto,
tes, tampouco patognomônico. Em outras palavras, as caracterís- podem ser verificados os sinais em cadáveres por causa diversa.
ticas são abundantes e variáveis, sendo divididas de acordo com a
situação, em internas e externas. Afogamento:
Modalidade de asfixia mecânica, originada pela entrada de um
Sinais internos: meio líquido ou semi-líquido nas vias respiratórias, impedindo a
Equimoses viscerais (ou Manchas de Tardieu): passagem do ar até os pulmões.
Equimoses puntiformes dos pulmões e do coração. São peque-
nas e localizam-se geralmente sobre a pleura visceral, no pericár- Fisiopatologia e sintomas:
dio, no pericrânio e, em crianças, no timo. São manchas de tonali- A morte por afogamento geralmente passa por 3 fases:
dade violácea, de número variável, esparsas ou em aglomerações. (I) fase de defesa (dividida em dois períodos: o de surpresa e
São mais comuns na infância e na adolescência. o de dispneia);
(II) fase de resistência (caracterizada pela parada dos movi-
Aspectos do sangue: mentos respiratórios como mecanismo de defesa); e
Tonalidade do sangue negra, exceto quando a morte se deu (III) fase de exaustão (término da resistência pela exaustão e
por monóxido de carbono, na qual a tonalidade será acarminado. início de inspiração profunda e do processo de asfixia, com perda
Não é encontrado no coração coágulos cruóricos (negros) ou fibri- de consciência, insensibilidade e morte). Tourdes descreve 3 perío-
nosos (brancos) e a fluidez, embora de alto valor do diagnóstico, dos no afogamento experimental em animais:
não constitui sinal patognomônico. 1) Período de resistência ou de dispnéia:
Após uma inspiração de surpresa, retém, energicamente a
Congestão polivisceral: respiração, procurando ao mesmo tempo defender-se, enquanto
Os órgãos que se apresentam mais congestos são o fígado e o a consciência permanece lúcida, conservando os movimentos re-
mesentério, sendo que o baço, na maioria das vezes, se mostra com flexos.
pouco sangue devido as suas contrações durante a asfixia (Sinal de 2) Período de grandes inspirações e convulsões:
Étienne Martin). É caracterizado por uma série de inspirações profundas com
penetração violenta de líquidos nos pulmões e perda da consciên-
Distensão e edema dos pulmões: cia.
Presença de quantidade relativa de sangue líquido espumoso 3) Período de morte aparente:
nos pulmões. Ausência da respiração e dos reflexos, perda da sensibilidade;
o coração permanece batendo até surgir à morte real.

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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Sinais cadavéricos do afogado: volta a prevalecer sobre a da água e ocorre a segunda imersão. Fi-
nalmente numa quarta fase, com a diminuição do peso específico
A) Sinais externos: do corpo, o cadáver voltará a superfície, ocorrendo a segunda flu-
1.Pelé anserina: ocorre com a contração dos músculos eretores tuação.
dos pêlos, tornando os folículos salientes, devido à rigidez cadavé- Causas jurídicas de morte no afogamento: Em muitas oportu-
rica; nidades, a tarefa de determinar se o afogamento foi causado por
2.Retração do mamilo, do pênis e do saco escrotal; homicídio, suicídio ou acidente passa a ser o mais importante. Essa
3.Temperatura baixa da pelé: os corpos dos afogados têm a é uma questão que nem sempre pode ser respondida pelos legistas,
temperatura diminuída rapidamente, devido ao equilíbrio térmico mas sim pela perícia criminal, junto das provas obtidas durante a
no meio líquido; investigação.
4.Maceração da epiderme: localizam-se principalmente nas
mãos e nos pés, destacando-se como se fossem verdadeiros dedos Diagnóstico do afogamento: há três ocasiões no afogamento
de luva, inclusive desprendendo-se das unhas; que se tornam importantes num estudo médico-legal. Primeira-
5.Tonalidade mais clara dos livores cadavéricos: atingem tona- mente, se a morte ocorreu por afogamento típico, se foi de modo
lidade rósea; natural ou violenta. Depois, se o indivíduo morreu dentro da água
6.Erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as ou se o cadáver foi colocado no meio líquido para simular um afo-
unhas: ocorre pela resistência do indivíduo ao se debater no plano gamento.
mais profundo da água;
7.Mancha verde de putrefação: localiza-se na parte inferior do Local do afogamento: Nem sempre o local de onde é retirado
pescoço; o cadáver corresponde ao local onde se verificou o afogamento.
8.Equimose da face das conjuntivas: a região ocular recebe to- Isso dependerá de um estudo maior, que dependerá, principalmen-
nalidade avermelhada; te, das correntes aquáticas.
9.Lesões post mortem produzidas por animais aquáticos:
ocorre devido ao tempo que o cadáver permanece em ambiente Cronologia do afogamento: É muito importante saber o tem-
aquático; po de permanência do cadáver dentro da água e sua transforma-
10.Embebição cadavérica: os tecidos ficam mergulhados, difi- ção após a morte. Isso é feito analisando o estado de maceração e
cultando a desidratação. do estágio de putrefação cadavérica, levando-se em conta que nos
afogados esses processos são sempre mais rápidos.
B) Sinais internos:
1.Presença de líquido nas vias respiratórias; Enforcamento:
2.Presença de corpos estranhos no líquido das vias respirató- O enforcamento é uma modalidade de asfixia mecânica que se
rias dos afogados macro e microscópicos; caracteriza pela interrupção do ar atmosférico até as vias respira-
3.Diluição do sangue: esse fenômeno é devido à entrada de tórias, em decorrência da constrição do pescoço por um laço fixo,
água no sistema circulatório; agindo o peso do próprio corpo da vitima como força ativa. É mais
4.Lesões dos pulmões: os pulmões podem encontrar-se au- comum em suicídios, entretanto nada impede ocorrer acidentes,
mentados, crepitantes e distendidos, e com enfisema aquoso e ou até mesmo homicídio. A morte pode ocorrer por oclusão da tra-
equimoses subpleurais; quéia, por compressão dos vasos do pescoço, por estimulação do
5.Presença de líquidos no ouvido médio; pneumogástrico, por inibição nervosa ou por herniação bulba.
6.Presença de líquidos no sistema digestivo: encontra-se no es-
tômago e nas primeiras alças do intestino delgado, sob a forma de Modo de Execução:
conteúdo espumoso; Deve-se considerar: a natureza e disposição do laço, o ponto
7.Hemorragia etmoidal: zona azulada no compartimento ante- de inserção superior e o ponto de suspensão do corpo.
rior da base do crânio de cada lado; O laço que aperta do pescoço pode ser de várias naturezas; e
8.Hemorragia temporal: zona azulada na face ântero-superior podemos classificá-los de acordo com sua consistência: os chama-
da parte petrosa do osso temporal; dos laços moles, constituídos por lençóis, cortinas e gravatas; os
9.Exame radiológico: mostra a opacidade dos seios maxilares, chamados laços duros, constituídos por cordões, cordas, e fios de
como prova de reação vital. arame; e os chamados semirrígidos, como os cintos de couro. Sua
10.Exame histológico: do pulmão do afogado. disposição é sempre em torno do pescoço, sendo mais frequente
11.Sinais gerais de asfixia: congestão polivisceral, equimoses a presença de uma única volta, porém existem casos onde são en-
nos músculos do pescoço e do tórax. contradas várias voltas. A posição é sempre na parte posterior ou
12.Laboratório: existem exames laboratoriais considerados in- lateral e, muito raramente o nó pode assumir uma posição anterior
dispensáveis no estudo do afogado. A princípio no caso de cadáver do pescoço.
putrefeito ou desconhecido, no sentido de descobrir uma identifi- São múltiplos os locais que servem como ponto de apoio para
cação. Depois, os chamados exames específicos, com o propósito prender o laço, desde telhados, ramos de árvores, trinco de portas,
de diagnosticar o próprio afogamento, do tipo de líquido e, quando entre outros.
possível, também, o local onde se verificou o afogamento; Chama-se de suspensão típica ou completa aquela em que o
corpo fica totalmente sem tocar em qualquer ponto de apoio; e
Putrefação e flutuação dos afogados: o cadáver que é retirado suspensão atípica ou incompleta, quando se apoia parcialmente os
da água sofre com o ar, uma aceleração do processo putrefativo. pés, joelhos, ou qualquer outra parte do corpo.
Numa primeira fase, em virtude da densidade do corpo ser maior
que a do líquido de imersão, a tendência do cadáver é ir para o Evolução:
fundo. Numa segunda fase, com o aparecimento dos gases da pu- As lesões por enforcamento dependerão da gravidade, que po-
trefação, o cadáver flutuará. Numa terceira fase, com a rotura dos dem ser classificadas como lesão local ou à distância, que determi-
tecidos moles e o esvaziamento dos gases, a densidade do corpo nará a velocidade da morte por enforcamento.
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De acordo a evolução da lesão surgem fenômenos apresenta- O sulco situa-se na posição superior do pescoço, mais alta do
dos durante o enforcamento: que o ponto onde fixou primeiro laço, para depois deslizar até o
- Período Inicial – Começa com o corpo, abandonado e sob ponto de apoio da cabeça, dirigindo em sentido do nó, obliquamen-
ação de seu próprio peso, levando a constrição do pescoço, zum- te, de baixo para cima e de diante para trás (sulco típico). Quanto
bidos, sensações luminosas na vista, sensação de calor e perda da mais delgado o laço mais profundo o sulco, levando-se em conside-
consciência produzida pela interrupção da circulação cerebral. ração, ainda, o tempo de permanência do corpo sob a ação do laço.

- Período intermediário – Caracteriza-se por convulsões e ex- Sinais encontrados nos sulcos dos enforcados:
citação do corpo proveniente dos fenômenos respiratórios, pela ·Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco.
impossibilidade de entrada e saída de ar, diminuindo o oxigênio (hi- ·Sinal de Ponsold: livores cadavéricos em placas, por cima e por
poxemia) e aumentando o gás carbônico (hipercapnéia). Associa-se baixo das bordas do sulco.
a esses fenômenos a pressão do feixe vásculo-nervoso do pescoço, ·Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas punctiformes ao
comprimindo o nervo vago. fundo do sulco.
·Sinal de Azevedo-Neves: livores punctiformes por cima e por
- Período final: Surgem sinais de morte aparente ate o apare- baixo das bordas do sulco.
cimento da morte real, com cessação da respiração da circulação. ·Sinal de Bonnet: marca de trama no laço
·Sinal de Ambroise Paré: pele enrugada e escoriada no fundo
Fenômenos da sobrevivência: Existem casos de pessoas que do sulco.
ao serem retiradas ainda com vida, morrem depois sem voltar à ·Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco.
consciência devido ao grande sofrimento cerebral. Ou ainda que, ·Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea.
mesmo recobrando a consciência, tornam-se fatais algum tempo
depois. Por fim existem os que sobrevivem acompanhados de uma Não confundir o sulco dos enforcados com o sulco natural do
ou outra desordem. Tais manifestações podem ser locais ou gerais: pescoço das crianças, com sulcos produzidos pela gravata, com os
sulcos patológicos, com o sulco dos adultos obesos e com os sulcos
Locais: O sulco, tumefeito e violáceo, escoriando ou lesando
artificiais causados pelo laço das gravatas apertadas.
profundamente a pelé. Dor, afasia e disfagia relativas à compressão
dos órgãos cervicais e congestão dos pulmões.
Sinais Internos:
Gerais: São referentes aos fenômenos asfíxicos e circulatórios,
Os sinais internos existem em grande número, e podem ser di-
levando, às vezes, ao coma, amnésia, perturbações psíquicas, liga- vididos em:
das a confusão mental e à depressão; paralisia da bexiga, do reto
e da uretra. 1) Sinais Locais
·Lesões dos vasos: incidem sobre as artérias. Excepcionalmente
Tempo necessário para morte no enforcamento: Será variável podem incidir sobre as veias. O Sinal de Amussat, constituído da
de indivíduo para indivíduo. A morte pode ser rápida, por inibição, secção transversal da túnica íntima da artéria carótida, é comum
ou demorar cerca de 5 a 10 minutos. nas proximidades de sua bifurcação. Essas roturas podem ser úni-
cas ou múltiplas, superficiais ou profundas, visíveis a olho nu ou
Aspecto do cadáver: A posição da cabeça se mostra voltada não. São mais encontradas nos laços finos e duros. O referido sinal
para o lado contrário do nó, tocando o tórax. A face pode apre- é mais encontrado na artéria do lado oposto do nó.
sentar-se branca ou arroxeada (variando de acordo com o grau de ·Lesões na parte profundada pelé e da tela subcutânea do pes-
compressão vascular), e equimoses palpebrais. Pode se verificar a coço: caracterizada por sufusões hemorrágicas da parte profunda
presença de líquido ou sangue pela boca e narinas. A língua é cia- da pelé e da tela subcutânea. Essas alterações são mais frequentes
nótica e sempre projetada além das arcadas dentárias e os olhos e intensas no lado contrário ao nó.
protusos. No enforcamento completo, os membros inferiores estão ·Lesões da coluna vertebral: nos casos de queda brusca do cor-
suspensos e os superiores, colados ao corpo, com os punhos cerra- po, podem surgir fraturas ou luxações de vértebras cervicais.
dos mais ou menos fortemente. Na forma incompleta os membros ·Lesões do aparelho laríngeo: fratura das cartilagens tireóide e
assumem as mais variadas posições. cricóide, e fratura do osso hióide.
A rigidez cadavérica é mais tardia no enforcamento. As man-
chas de hipóstase se apresentam na metade inferior do corpo com 2) Sinais a Distância
maior intensidade nas extremidades dos membros, surgindo tam- São encontrados das asfixias em geral, como congestão poli-
bém equimoses post mortem. Devido ao tempo de suspensão e a visceral, sangue fluido e escuro, pulmões distendidos, equimoses
fluidez do sangue, podem-se observar as áreas manchas de hipós- viscerais e espuma sanguinolenta na traquéia e nos brônquios.
tases as chamadas púrpurashipostásticas, as quais podem ser con-
Mecanismos da morte por enforcamento:
fundidas com petéquias hemorrágicas.
Morte por asfixia mecânica: naturalmente, é levado a pensar
que a ação do laço no pescoço interrompe a passagem de ar res-
Sinais Externos: A maior evidência está no sulco do pescoço,
pirável aos pulmões. Porém existem argumentos que fogem a esse
de suma importância no diagnóstico do enforcamento. Estão pre-
princípio:
sentes em todos os casos, exceto nas suspensões de curta duração, 1) Nos cadáveres enforcados, nem sempre se encontram as le-
nos laços excessivamente moles ou quando é introduzido, entre o sões típicas de asfixia;
laço e o pescoço, um corpo mole. Na maioria das vezes, sulco é úni- 2) A constrição do laço não se manifesta exatamente sobre a
co, podendo, no entanto, apresentar-se duplo, triplo ou múltiplo traquéia e a laringe, e sim muito mais acima.
quando esse laço envolve várias vezes o pescoço.

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3) Certas observações experimentais demonstram que mesmo B) Sinais internos:
os animais traqueostomizados e, por conseguinte, com passagem
de ar livre, morrem invariavelmente por enforcamento. Então pen- Lesões nos planos profundos do pescoço:
samos que se o indivíduo morre por asfixia mecânica no enforca-
mento, não é precisamente por constrição da laringe e da traquéia, a) Infiltração hemorrágica dos tecidos moles do pescoço: A tela
e sim por outro mecanismo de asfixia, como obstrução das vias res- subcutânea e a musculatura subjacente ao sulco apresentam-se in-
piratórias pelo rechaçamento da base da língua para cima e para filtradas por sangue. Essas lesões, quando se trata de estrangula-
trás, por ação do próprio laço sobre a parede posterior da laringe. mento, pelo fato de o laço imprimir força de mesma intensidade
em torno do pescoço e agir em sentido horizontal, apresentam a
Morte por obstrução da circulação: Interrupção da circulação mesma distribuição e altura em todo o perímetro nos planos inter-
venosa pela constrição do laço no pescoço contribui apenas no fe- nos do pescoço.
nômeno da constrição da face. Sem dúvidas o mais importante é a
obstrução da passagem de sangue arterial pelas carótidas, acarre- b) Lesões da laringe: Podem acarretar lesões nas cartilagens
tando em perturbações cerebrais pela anóxia. tireóide e cricóide e no osso hióide.

Morte por inibição devido à compressão dos elementos nervo- c) Lesões à distância: Estão representadas pelos sinais clássicos
sos do pescoço: O laço exerce pressão sobre o feixe vásculo-ner- de asfixia vistos no estudo geral sobre o tema.
voso do pescoço. Principalmente o nervo vago. Isso de demonstra
basicamente nos casos de sobrevivência nos quais se manifestam d) Lesões das artérias carótidas: Manifestadas macroscopica-
sinais laríngeos ou manifestações cardíacas e respiratórias observa- mente quase sempre em ambos os lados, na túnica íntima, pelos
das pela compressão daquele nervo ou dos seios carotídeos. sinais de Amussat e Lesser (roturas transversais) e, na túnica adven-
tícia, pelos sinais de Friedberg (infiltração hemorrágica) e de Étien-
Estrangulamento ne Martin (rotura transversal). Pelas mesmas razoes alegadas para
No estrangulamento, a morte se dá pela constrição do pescoço os tecidos moles do pescoço, essas lesões arteriais têm, em quase
por um laço acionado por uma força estranha, obstruindo a pas- todas às vezes, a mesma intensidade e se colocam numa mesma
sagem de ar aos pulmões, interrompendo a circulação do sangue altura.
ao encéfalo e comprimindo os nervos do pescoço. Nesse tipo de
morte, ao contrario do enforcamento, o corpo da vitima atua passi- Fisiopatologia: Na morte por estrangulamento, três são os fa-
vamente e a força constritiva do laço age de forma ativa. tores que interferem:
O acidente e o suicídio nesta modalidade são raríssimos. Mais
comum é o estrangulamento-homicidio, principalmente quando a 1.Compressão dos vasos do pescoço: Compromete mais inten-
vítima é inferior em forças ou é tomada de surpresa. Constitui uma samente as veias jugulares que as artérias carótidas, e estas menos
forma não muito rara de infanticídio. que as artérias vertebrais, fazendo com que o sangue do segmento
cefálico fique bloqueado.
Sintomatologia: No estrangulamento, os sintomas são varia-
dos conforme a sua maneira: lenta, violenta ou contínua. Normal- 2.Compressão dos nervos do pescoço: tem influência mais de-
cisiva na morte por estrangulamento, cujo mecanismo mais bem
mente, o estrangulamento passa por três períodos: resistência,
explicado é a inibição.
perda da consciência e convulsões, asfixia e morte aparente. De-
pois, surge a morte real.
3.Asfixia: Resulta da interrupção da passagem do ar atmosfé-
rico ate os pulmões pela constrição do pescoço comprimindo a la-
Sinais:
ringe. Na morte por estrangulamento, a asfixia é mais decisiva que
no enforcamento, principalmente devido à posição do laço. Expe-
A) Sinais externos:
riências demonstram que a traquéia se oblitera com uma pressão
1) Aspecto da face e do pescoço: A face no estrangulamento
de 25kg.
geralmente se mostra tumefeita e violácea devido à obstrução qua-
se sempre completa da circulação venosa e arterial; os lábios e as Enforcamento / Estrangulamento
orelhas arroxeados, podendo surgir espuma rósea ou sanguinolen- Força
ta das narinas e boca. A língua se projeta alem das arcadas den- - para cima
tarias e é extremamente escura. Dos meatos acústicos externos, - variável
poderá fluir sangue. Equimoses de pequenas dimensões na face,
nas conjuntivas, pescoço e face anterior do tórax. Sulco
2) Sulco: Quanto mais consistente e duro for o laço, mais cons- - acima da laringe
tante é o sulco. Pode ser único, duplo ou múltiplo. A direção é di- - alto
ferente do enforcamento, pois se apresenta no sentido horizontal, - interrompido no nó
podendo, no entanto, ser ascendente ou descendente, como nos - pergaminhado
casos de homicídio, em que o agente puxa o laço para trás e para - profundidade variável
cima. Sua profundidade é uniforme e não há descontinuidade, po- - direção oblíqua ascendente
dendo verificar-se a superposição do sulco onde a parte do laço se - sobre o laringe
cruza. As bordas são cianóticas e elevadas, e o leito é deprimido e - baixo
apergaminhado. Geralmente o sulco está situado por baixo da car- - contínuo
tilagem tireóide. Não é raro se encontrarem nas proximidades do - não pergaminhado - escoriado
sulco do estrangulamento rastros ou estrias ungueais. - profundidade uniforme
-direção horizontal
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Violência
- sem outros sinais ASPECTOS MÉDICO‐LEGAIS DO ABORTO, INFANTICÍDIO
- sinais de violência E ABANDONO DE RECÉM‐NASCIDO

Fraturas
- laringe Sobre o aborto já analisamos anteriormente, então aqui, fare-
- hióide mos uma analise sobre o infanticídio e o abandono de recém-nas-
- lig. Intervertebrais cido.
- raras
O infanticídio, atualmente descrito como crime cometido pela
Cianose mãe, sob a influência do estado puerperal contra a vida de infante
- bloqueio carotídeo nascente ou recémnascido, durante ou logo após o parto, vem a
- menos comum ser uma conduta que, devido à necessidade de comprovação de
- sem bloqueio carotídeo determinados caracteres para a sua configuração, bem como dos
- cianose cérvico-facial diferentes tratamentos normativos que já recebera ao longo do
- congestão meníngica tempo, torna-se bastante peculiar.
- congestão cerebral O presente estudo abordará a evolução dos dispositivos nor-
- equimose palpebral mativos que tratam do infanticídio, tanto no que se refere à sua ca-
- equimose conjuntival racterização, quanto à severidade das penas cominadas. Também
terá por alvo a conceituação e as premissas para a configuração do
Esganadura infanticídio conforme a atual legislação penal, bem como a análise
É um tipo de asfixia mecânica que se verifica pela constrição dos caracteres atribuídos à sua tipificação.
do pescoço pelas mãos, ao obstruir a passagem do ar atmosférico Adiante, analisará os parâmetros médico-legais para configu-
pelas vias respiratórias até os pulmões. É sempre homicida, sendo ração do estado puerperal e, assim, afastar a conduta de outros
impossível a forma suicida ou acidental. tipos legais que com ela não se confundem, adequando-a à tipifica-
ção penal do infanticídio. Prestará ainda o devido enfoque aos exa-
Sintomatologia: Pela própria dinâmica da esganadura, é difícil mes periciais, que vislumbram comprovar a ocorrência de um parto
precisar exatamente os períodos e o tempo decorrido nestes tipos recente, atestar o nascimento com vida do infante vítima do crime
de morte, que tanto pode ser por asfixia, como por inibição, devido e demonstrar a influência do estado puerperal sobre a capacidade
à compressão dos elementos nervosos do pescoço. A esganadura de discernimento da parturiente.
vem sempre acompanhada de outras lesões, principalmente as
traumáticas, provenientes de outras agressões como ferimentos na Iniciando uma abordagem histórica sobre os tratamentos des-
região posterior da cabeça, equimoses em redor da boca, escoria- tinados à conduta de ceifar a vida de recém-nascido ou nascente,
ções nas mãos e nos antebraços, todas elas decorrentes da luta e, tem-se que vigoraram na Grécia antiga, além de outras civilizações
por isso, chamadas de lesões de defesa. próximas que lhe eram contemporâneas, leis positivas que autori-
zavam o infanticídio. Normas emanadas tanto das ideias de alguns
Fisiopatologia: Na esganadura, interferem, principalmente filósofos que não consideravam o infante ser humano, quanto da
no mecanismo de morte, a asfixia e os fenômenos decorrentes da crença, então comum, de que a criança viria a adquirir tal qualidade
compressão nervosa do pescoço. A obliteração vascular é interesse tãosomente após beber o leite da mãe ou da ama (FERRAO, 1857,
insignificante. Aqui, tudo faz crer que a asfixia é o principal elemen- p. 72).
to responsável pelo êxito letal. Ao tratar da infância na cidade-estado de Esparta, tem-se que
Entender a profundidade e complexidade por trás de cada de- os infantes que não se encaixavam nos padrões daquela sociedade
talhe que passaria despercebido pela maioria das pessoas torna a eram arremessados ou abandonados para a morte no monte Tai-
figura do médico-legista ainda mais essencial na sociedade. geto. Se a prática de tirar a vida do recém-nascido era comum na
No presente trabalho, inegável alegar que a asfixia pode ser Grécia antiga, em Esparta o ato ganha caractere especial por caber
considerada um dos processos mais importantes do ponto de vista não aos pais e sim ao Estado, através do parecer do conselho dos
da medicina legal. Desta forma, foi possível compreender cada fase anciãos, a decisão sobre se a criança estava apta a continuar viva ou
que o organismo passa nos diferentes tipos de anóxia e, desta for- teria de ser morta (CHEROBINO, 2012, p. 39).
ma, encaixá-la em um dos processos mecânicos de asfixia, sejam No que tange ao ordenamento jurídico da Roma antiga, não
as produzidas por confinamento, monóxido de carbono, sufoca- havia em sua legislação alguma descrição incriminadora para a con-
ção, soterramento, afogamento, enforcamento, estrangulamento duta do infanticídio. O homicídio do filho, sem distinção quanto à
e esganadura. Assim, as diversas interpretações são absolutamente idade deste, praticado pela mãe era tipificado como parricídio. Em
fundamentais para esclarecer duvidas e chegar a diversas conclu- se tratando de o ato ser cometido pelo pai, tem-se que não havia
sões essenciais não só legalmente, mas também socialmente, tra- em tal ação qualquer incriminação penal, visto o patriarca deter o
zendo inclusive esclarecimentos e conforto à família das vítimas, jus vita et necis, o chamado direito de vida e morte (FERRAO, 1857,
bem como possibilitando traçar o caminho para se chegar até o p. 72).
suspeito do crime.26 Verifica-se que em tal período os filhos, sejam recém-nascidos
ou até mesmo crianças maiores, encontravam-se desprovidas de
qualquer proteção por parte do Estado. Contudo, pela ascensão das
concepções ideológicas emanadas do Cristianismo, esta tolerância
ao infanticídio tem fim, sendo inclusive empregado um tratamento
mais severo para com a conduta. Traz-se que os juristas passaram
a entender que a ninguém competia o direito de tirar a vida de seu
semelhante. A prática do infanticídio torna-se ainda revestida de
26 Fonte: www.marianareina.jusbrasil.com.br
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
aspectos mais repulsivos, visto a vítima trata-se de criança indefesa Ainda quanto aos critérios de conceituação legal do infanticí-
que não cometera mal algum para que merecesse tal violência. De dio, há de se dizer que, além do critério psicológico do Código Penal
tal maneira, deixa o crime de ser tratado com indiferença, para ser anterior e do critério fisiopsicológico do atual Código, existe o cha-
alvo de condenação mais violenta, inclusive sendo aplicada a pena mado critério misto, pelo qual se leva em conta tanto a honra quan-
de morte (SILVA, 2001, p.8-9). to o estado puerperal, havendo necessidade do concurso dos dois
Posteriormente à fase de severa punição, o infanticídio passou requisitos para que se configure infanticídio e não homicídio. Tal
a ser tratado de forma privilegiada, com atribuição de pena inferior critério estava presente no Anteprojeto de Código Penal de 1963,
à do cometimento do homicídio comum. Tal mudança se dera por elaborado por Nelson Hungria (CABETTE, 2012).
uma nova concepção, apoiada por Beccaria e Feuerbach, pela qual Destaca-se, em comparação ao homicídio, a particularidade re-
se vislumbrava a chamada honoris causa. A redução se dava pela ferente aos sujeitos do crime e quanto ao tempo. Pela primeira par-
ponderação, com as devidas ressalvas quanto ao horror da condu- ticularidade mencionada, só poderá figurar no polo passivo o filho e
ta, entre os efeitos da infâmia e da miséria a serem vividos pela no polo ativo, caracterizando crime próprio, somente poderá estar
mãe e os da morte daquele que era considerado ser incapaz de sen- a mãe, em sua fragilidade sob a influência do estado puerperal. Em
tir a perda da vida (SILVA, 2001, p. 9-10). relação ao segundo aspecto destacado, o temporal, só é possível a
O critério psicológico honoris causa decorria do desespero da caracterização enquanto infanticídio se o ato for cometido durante
parturiente, frente à gravidez concebida fora do matrimônio, à o parto ou logo após a consumação deste (BITENCOURT, 2012).
época tida como ilegítima. Traz-se que a angústia vivida pela mu- O crime de infanticídio classifica-se doutrinariamente como
material, que se configura com a morte do filho, resultado descrito
lher, em tal situação, leva um estado de angústia pelo qual se assola
no tipo. Em mesma linha, trata-se de crime de dano, caractere pelo
os sentimentos da mãe, fragilizando o senso de piedade para com
qual se exige que o bem jurídico seja efetivamente lesado. Pelo fato
seu próprio filho. Diante de tal conflito, prefere a mulher matar o
de o tipo não realizar a descrição da conduta, não sendo assim o
próprio filho a suportar a reprovação social (SILVA, 2001, p. 27).
meio um elemento caracterizador, o infanticídio trata-se de crime
Para aplicação da pena mais branda, eram requisitos a boa de forma livre.
fama e respeito público quanto à decência e bons costumes. As Nucci, ao elencar as classificações em que o crime de infanticí-
mulheres as quais não se enquadravam no conceito de mulher ho- dio se enquadra, o trata puramente enquanto crime comissivo, em
nesta, não se aplicava o privilégio, por considerar que não lhe era que se exige ação (NUCCI, 2012, p. 666). Por outro lado, Bitencourt
cabível a alegação da defesa da honra. o descreve como comissivo e omissivo impróprio (BITENCOURT,
Tal instituto decai, tanto pelo fato de, ao não ser possível es- 2012a), segundo o qual, além de o crime configurar-se pela ação
conder a gravidez durante os nove meses de gestação, o resgate da positiva que visa um resultado tipicamente ilícito, há também a si-
honra da parturiente ser impossibilitada, agravado pelo ato odioso tuação na qual a omissão trata-se de meio através do qual o agente
do infanticídio, quanto que, nas atuais concepções das garantias produz um resultado o qual estava juridicamente obrigado a impe-
individuais, a vida sobrepõe-se ao estado subjetivo da honra. dir (BITENCOURT, 2012).
Destaca-se ainda o fato de o crime já ser reconhecido pela ju- Outras classificações às quais se enquadra são: instantâneo, ao
risprudência enquanto delito social, praticado na quase totalidade passo de não se prolongar no tempo; unissubjetivo, por admitir ser
por mães solteiras ou abandonadas pelo marido ou amásio. De tal cometido por uma única pessoa; plurissubsistente, por vários atos
forma, o conceito psicológico da causa da honra vai perdendo seu integrarem a conduta; progressivo, por passar necessariamente
significado (MIRABETE, 2011, p. 52). por uma lesão corporal; doloso, pelo qual a agente visa o resultado;
Atualmente, o critério fisiopsicológico da influência do estado e admite tentativa.
puerperal é utilizado enquanto elemento caracterizador do infan- Tratando-se o infanticídio de crime de forma livre, conforme já
ticídio, sendo que tal perturbação psíquica vem a ser a razão do mencionado, cabe tratar dos meios geralmente empregados para o
abrandamento da pena. A configuração do estado puerperal será cometimento do ato. Mirabete traz que o crime, em sua forma co-
tratada em capítulo adiante, cabendo, no próximo, a análise quan- missiva, na maioria das vezes ocorre por meio de sufocação ou fra-
to aos atuais caracteres do crime. tura de crânio decorrente de golpes com objetos contundentes. Em
se tratando de conduta omissiva imprópria, a prática se dá, dentre
DEFINIÇÃO JURÍDICA DO CRIME outras, pela ausência de alimentação ou pela falta de ligadura do
O assassinato cometido pela mãe contra filho, recém-nascido cordão umbilical (MIRABETE, 2011, p. 55). Ressalta-se, para fins de
estudo da possibilidade de configuração da tentativa de infanticí-
ou que está nascendo, em condições especiais legalmente previstas
dio, o fato de que vários casos de agressões contra recém-nascidos
trata-se de conduta que, devido ao entendimento do legislador de
acabam por não consumar a ceifa da vida devido à menor necessi-
o ato ser menos grave que os previstos enquanto causas de dimi-
dade de oxigênio pelo neonato, fato que o torna mais resistente à
nuição de pena, recebe tipificação própria com denominação jurí-
asfixia (NUCCI, 2012, p. 666).
dica de infanticídio (MIRABETE, 2011, p. 52). Ainda que o infanticídio seja crime próprio, admite-se a presen-
A tipificação do crime de infanticídio é prevista no art. 123 do ça de terceiros no polo ativo da conduta, na condição de coautor
Código Penal, inserida no Título I da Parte Especial, este que trata ou partícipe. Fato no qual reside divergência doutrinária. Parte da
dos crimes contra a pessoa, mais precisamente dentro do capítulo doutrina defende que a influência do estado puerperal, tida como
de crimes contra a vida. Estabelece a lei: circunstância personalíssima, não se comunicará entre os agentes,
Infanticídio. Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puer- razão pela qual a parturiente deve responder por infanticídio en-
peral, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - deten- quanto o terceiro participante responde pelo crime de homicídio
ção, de dois a seis anos. (BITENCOURT, 2012a).
Ao momento da concepção da atual legislação penal brasileira, Contudo, o estado puerperal trata-se de circunstância elemen-
em detrimento ao sistema psicológico fundado no motivo da honra tar do tipo, devendo a comunicação ser aplicada em decorrência do
aplicado pela legislação anterior, optou-se pelo sistema fisiopsico- imperativo normativo constante no art. 30 do Código Penal. De tal
lógico ou fisiopsíquico, que leva em conta as perturbações do esta- feita, o terceiro que contribui com a parturiente para cometimento
do puerperal (MIRABETE, 2011, p. 52). do crime de infanticídio.
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Há de se ressaltar que, para terceiro figurar na condição de co- CONFIGURAÇÃO DO ESTADO PUERPERAL
autor, exige-se que a atividade desempenhada seja secundária no A definição jurídica do delito de infanticídio passa, indubitavel-
ato, visto que se vier a executar a ação de matar o nascente ou ne- mente, pela compreensão do termo “estado puerperal”, eis que,
onato o crime cometido não é infanticídio, mas sim homicídio, pelo como visto anteriormente, trata-se de um elemento do crime. Im-
fato de a ação principal não ter sido realizado por mãe puérpera prescindível, portanto, saber o que vem a ser, de fato, o estado
(BITENCOURT, 2012a). puerperal, com vistas a analisar corretamente situações fáticas,
Bitencourt destaca que a atual legislação abrange enquanto adequando-as ao crime do artigo 123 do Código Penal apenas nas
sujeito passivo não só o recém-nascido, mas também o nascente. situações em que as condutas se subsumirem ao tipo legal. Isso
Desta feita, expande a concepção de infanticídio em relação ao des- porque, em muitas ocasiões, o que parece ser infanticídio, sob uma
crito na legislação anterior, pela qual se admitia enquanto vítima perspectiva leiga ou sem fundamentação médico-legal, trata-se,
tãosomente o recém-nascido em seus primeiros sete dias de vida em verdade, de outro crime contra a vida, como o homicídio ou o
(BITENCOURT, 2102a). aborto.
Na situação de o crime ser cometido contra aquele que está É neste ponto que se vê com clareza a importância dos concei-
nascendo, há de se dizer que não se configura aborto. Iniciado o tos e dos exames médico-legais para auxiliarem os profissionais do
parto, momento que se dá pela ruptura da bolsa, a criança deixa de
direito. Atente-se ao fato de que a configuração do estado puerpe-
ser considerada feto, sujeita ao crime de aborto, e passa a ser tra-
ral leva ao delito de infanticídio, afastando a tipificação do homicí-
tada como nascente, sujeita ao crime de infanticídio (NUCCI, 2013,
dio. Vale dizer, se atestada a prática do crime sob a influência do
p. 664-665).
estado puerperal, por via de consequência, a pena será reduzida
Mirabete ensina que, em se tratando de situação em que a
conduta da agente seja praticada contra um natimorto, verifica-se de forma considerável, porquanto o infanticídio é visto como uma
a situação de crime impossível pela absoluta impropriedade do ob- espécie de homicídio privilegiado, ante a situação sui generis do
jeto. Na situação em que há o aborto de feto absolutamente in- sujeito ativo do delito. Em outras palavras, a pena (consequência
viável por imaturidade não se verifica a ocorrência de infanticídio natural do ilícito) passará de seis a vinte anos (no caso de homicídio
pelo fato de, conforme já mencionado, ser exigido que a vítima seja simples) ou de doze a trinta anos (no caso de homicídio qualificado)
nascente ou recém-nascida. Contudo, em se tratando de parto pre- de reclusão para a detenção de dois a seis anos (no caso de infan-
maturo, seja ele provocado ou não, a morte, causada pela mãe, ticídio).
do produto que alcançara vida extrauterina configurará infanticídio A gravidez é um momento de intensas transformações na vida
(MIRABETE, 2011, p. 55). da gestante, com alterações psíquicas, comportamentais, físicas
A capacidade de manter vida extrauterina autônoma não se e biológicas. Como se não bastassem os transtornos da gestação,
trata mais condição indispensável para a caracterização do nascen- a gestante deverá ainda passar pelo doloroso instante do parto,
te enquanto ser humano vivo dotado de personalidade, bastando- quando ficará extenuada, lesionada e até mesmo abalada por toda
-lhe a chamada vida biológica, comprovada pelos batimentos car- a situação vivida. Por esse motivo, torna-se justo e adequado con-
díacos, circulação sanguínea ou outro critério admitido pela ciência siderar o crime de uma mãe, desde que esteja sob a influência do
médica. Sob a ótica jurídico-penal, o início da personalidade é re- estado puerperal, menos grave do que aqueles delitos praticados
montado ao início do parto (BITENCOURT, 2012a). pelo agente sem alterações biopsicológicas, que atua com liberda-
Há de se dizer que não serão aplicadas ao crime de infanticídio de, consciência e vontade.
as agravantes genéricas que versam sobre o fato de a vítima ser O ponto central, portanto, é compreender o significado da
descendente e criança, visto serem características que, conforme elementar “estado puerperal”, mormente tendo em vista que tal
demonstrado acima, fazem parte da descrição típica do crime (CA- terminologia é muitas vezes mal empregada, até mesmo por pro-
BETTE, 2012). fissionais da área do direito. Isso porque nem toda mãe que matar
Traz-se que a possibilidade de aplicar a diminuição de pena em seu filho “durante o parto ou logo após” cometerá infanticídio, vez
face perturbação da saúde mental não é excluída no infanticídio. que é imprescindível a configuração do estado puerperal anterior
Havendo de se destacar, por exemplo, a compatibilidade entre o ou concomitante à conduta criminosa. Se não fosse assim, seria ir-
estado puerperal e o desenvolvimento mental incompleto. Já no
relevante constar no preceito primário do tipo legal de infanticídio
que se refere à redução de pena sob a alegação de diminuição da
a expressão “sob a influência do estado puerperal”, bastando que
imputabilidade advinda da influência do estado puerperal, não se
o legislador dissesse “matar o próprio filho durante o parto ou logo
fará aplicável por já estar compreendida no tipo penal (MIRABETE,
após”.
2011, p. 54).
Bitencourt destaca a necessidade do nexo de causalidade en- Forçoso destacar: “o puerpério não quer significar que sempre
tre a conduta delituosa praticada pela agente e o estado puerperal seja acarretado por uma perturbação psíquica, sendo necessário
sobre ela havendo influência. Postula-se que a caracterização do que fique averiguado se esta perturbação tem realmente sobre-
crime de infanticídio, desta feita a cominação de pena mais branda, vindo da capacidade de entendimento ou autodeterminação da
só caberá quando a ação delituosa decorrer das perturbações psí- parturiente” (RUDÁ, 2010, p. 01). Entretanto, merece destaque a
quicas ocasionadas pelo supramencionado estado. A inobservância existência de posicionamento doutrinário diverso, segundo o qual
em relação à ocorrência ou não das perturbações no cometimento “como toda mãe passa pelo estado puerperal – algumas com gra-
do crime poderia representar a manutenção de privilégio à conduta ves perturbações e outras com menos –, é desnecessária a perícia”
mais odiosa, havendo assim inversão da ordem dos valores protegi- (NUCCI, 2013, p. 665).
dos pela ordem jurídica (BITENCOURT, 2012a). Nesse sentido, imprescindível diferenciar puerpério de estado
No tocante ao objetivo da conduta, Nucci informa que, dife- puerperal. O primeiro, também chamado de pós-parto ou sobre-
rentemente da caracterização do ato cometido com vistas a ocultar parto, “é o período que se segue ao parto até que os órgãos geni-
“desonra própria”, como previsto no Código Penal de 1890, o atual tais e o estado geral da mulher retornem à normalidade” (RUDÁ,
Código Penal brasileiro não exige nenhuma finalidade especial, bas- 2010, p. 1); podendo ainda ser definido como “o espaço de tempo
tando que a mãe esteja envolvida pelo estado puerperal para haver variável que vai do desprendimento da placenta até a involução
o enquadramento no delito privilegiado (NUCCI, 2013, p. 664). total do organismo materno às condições anteriores ao processo
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
gestacional” (FRANÇA, 2008, p. 225). Já o estado puerperal é o pe- ao poder judiciário se a parturiente estava sofrendo transtornos
ríodo em que a gestante é atingida pela psicose puerperal, que por psicóticos puérperos” (RUDÁ, 2010, p. 02). Noutras palavras, diz-
sua vez é “uma espécie de transtorno psicológico independente, -se que “a perícia médico-legal no infanticídio é de fundamental
pois é restrito às mulheres e ocorre durante ou logo após o parto e interesse pelo seu caráter esclarecedor, chegando-se à conclusão
recebe tal nomenclatura devido ao fato de ocorrer dentro período de que, sem sua contribuição, a Justiça jamais terá condições de
do puerpério” (RUDÁ, 2010, p. 1). fundamentar uma sentença dentro de um critério justo” (FRANÇA,
Vê-se que enquanto o puerpério é inerente à gravidez, ou seja, 2008, p. 272).
toda gestante passa pelo período de puerpério, o estado puerpe-
ral, ao contrário, é um momento específico para algumas mulhe- EXAMES E OBJETIVOS PERICIAIS
res, cujos transtornos da gestação e do parto acarretam a psicose Em se tratando de infanticídio, os exames periciais são im-
puerperal. Significa dizer que o primeiro é um fenômeno biológico, portantes em três aspectos preponderantes, a saber, comprovar
natural, próprio da gravidez, ao passo que o segundo é um fenôme- a ocorrência de um parto recente (caracterizando o puerpério),
no biopsíquico, próprio de um número determinado de mulheres. atestar o nascimento com vida da vítima imediata do crime, e de-
O estado puerperal gera “uma súbita queda nos níveis hormonais monstrar a influência do estado puerperal na conduta da genitora,
e alterações bioquímicas no sistema nervoso central. A disfunção através da influência de uma psicose puerperal sobre sua capacida-
ocorreria no eixo Hipotálamo-Hipófise-Ovariano, e promoveria es- de de autodeterminação.
tímulos psíquicos com subsequente alteração emocional” (RUDÁ,
O diagnóstico do puerpério, com vistas a provar a ocorrência
2010, p. 01). Logo, apenas as gestantes que sofrerem da psicose
do parto recente¸ é feito mediante a análise pericial do útero, do
puerperal poderão ser agentes do delito de infanticídio, eis que
colo, da vagina, do ovário e da ovulação. Consoante Genival Ve-
poderão ser enquadradas na elementar “estado puerperal”. Com
loso de França (2008, p. 225), depois da saída da placenta e das
o intuito de esclarecer e sedimentar a diferença entre ambos, im-
portar acrescentar: membranas o útero começará a diminuir de volume, contraindo-
O puerpério inicia no momento em que cessa a interação hor- -se e causando as chamadas ‘dores do puerpério’, podendo ocor-
monal entre o ovo e o organismo materno. Fala-se ainda que tal rer corrimento vaginal com sangue e decídua necrótica. O colo, no
fenômeno dá-se quando termina o descolamento da placenta, logo instante do parto, fica mole e frouxo, com algumas lacerações e
depois do nascimento do bebê, embora possa também ocorrer com sangramentos. A vagina apresenta-se como uma “cavidade ampla,
a placenta ainda inserida, se houver morte do ovo e cessar a síntese espaçosa, flácida e de tonalidade pálida. Suas rugas só vão reapa-
de hormônios. O momento do término do puerpério é impreciso, recer por volta das quatro semanas” e o epitélio vaginal “somente
aceitando-se, em geral, que ele termina quando do retorno da ovu- assumirá seu aspecto habitual em 8 a 10 semanas”. Ademais, no
lação e da função reprodutiva da mulher (RUDÁ, 2010, p. 01). período do puerpério praticamente não há fertilidade, ocorrendo a
Ademais, “o parto em si mesmo não leva a mulher a transtor- primeira ovulação, em geral, apenas em torno da décima semana.
nos psíquicos graves, mas a pequenas alterações emotivas, levadas A eficácia da perícia dependerá do período de tempo transcor-
pelas dores e pela emoção que normalmente se apoderam da par- rido entre o parto e a realização dos exames médicos, pois quanto
turiente” (FRANÇA, 2008, p. 272). Nem toda mulher que passa pela mais tempo decorrer, menor será a precisão pericial. Ainda segun-
gravidez é atingida pela psicose puerperal e, por via de consequên- do Genival Veloso de França (2008, p. 225), no pós-parto imediato
cia, nem toda gestante passa pelo estado puerperal. Todavia, toda (de 1 a 10 dias do parto), o colo apresenta-se flácido, com bordas
gestante passa pelo puerpério, que é uma fase natural da gravidez. distensíveis, “o fundo uterino acha-se um pouco acima da cicatriz
Os transtornos biopsicológicos da gravidez não geram, como regra, umbilical e cuja medição do rebordo do púbis ao fundo do útero é
a psicose capaz de caracterizar o estado puerperal e ocasionar a de 12 cm”. No pós-parto tardio (de 10 a 45 dias), o útero continua
prática de infanticídio. diminuindo de tamanho, porém mais lentamente, verifica-se “gran-
Interessante destacar ainda o posicionamento de Genival Velo- de influência da lactação no processo fisiológico”, mencionando-se
so de França (2008, p. 261), segundo o qual sempre no infanticídio a também que o colo fica em forma de fundo transverso e o útero
gravidez será ilegítima, mantida escondida ou com muitas reservas, encontra-se no interior da pélvis. Por fim, tem-se o pós-parto remo-
tendo em vista que o filho que está sendo gerado foi um acidente to (depois de 45 dias), cuja imprecisão é marca mais característica,
ou fruto de uma tragédia, motivo pelo qual a genitora não deseja especialmente para determinar-se a quantidade de tempo decorri-
concluir o processo gestacional, almejando desfazer-se do filho.
da do parto. Destaca o doutrinador que “as mulheres não-lactan-
Sempre é uma gravidez ilegítima, mantida em sobressaltos e
tes em média menstruam em torno da décima segunda semana
cuidadosa reserva, a fim de manter uma dignidade ante a família,
do pós-parto”, enquanto que nas mulheres que amamentam esse
os parentes e a sociedade. Pensa a mulher dia e noite em como se
período é mais longo e impreciso.
livrar do fruto de suas relações clandestinas. São parturientes sem
precedentes psicopáticos. E como maneira de solucionarem seu Quanto aos exames periciais que objetivam embasar a ocor-
problema praticam o crime devidamente premeditado em todas as rência do infanticídio, deve-se destacar a dificuldade técnica e prá-
suas linhas, tendo o cuidado, entre outras coisas, de esconder o tica de tais perícias. A uma, porquanto a caracterização do estado
filho morto, dissimular o parto e assumir uma atitude incapaz de puerperal é assaz complexa, mormente quando se passa muito
provocar suspeitas. (FRANÇA, 2008, p. 261). tempo da ocorrência do crime. A duas, por causa das peculiarida-
É justamente por causa de todas essas peculiares dificuldades des do delito, no qual é comum que as mães escondam os filhos
relacionadas ao delito de infanticídio que o trabalho pericial assu- mortos e ajam naturalmente, com dissimulação. “A caracterização
me importância inquestionável. Não se pode olvidar de que “ante do infanticídio constitui o maior de todos os desafios da prática mé-
a grande dificuldade de se aferir se no momento em que ocorreu a dico-legal pela sua complexidade e pelas inúmeras dificuldades de
morte do infante estava a mãe ou não sob o efeito de uma psicose tipificar o crime” (FRANÇA, 2008, p. 263).
puerperal, os magistrados orientam-se tão-somente pelos laudos Os objetivos do exame pericial destinado à caracterização do
dos peritos-médicos-legistas” (RUDÁ, 2010, p. 02), sendo estes infanticídio são constatar a presença do feto nascente, do infante
aqueles que exercem o ofício competente e adequado para, após nascido, do recém nascido ou do natimorto, bem como determinar
“minuciosos estudos com a parturiente, emitir parecer indicando a natureza jurídica da morte (se natural ou acidental).
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Feto nascente é aquele que apresenta todas as características Após analisar a evolução história do infanticídio, não apenas
do infante nascido, exceto ter respirado, ou seja, é o fato de ter no Brasil, mas também nas legislações mundiais, verifica-se que o
respirado que diferencia o infante nascido do feto nascente (en- tratamento atual dispensado pelo ordenamento jurídico, a saber,
quanto aquele já respirou, este, ainda não). É esta hipótese que vai entender o crime como uma espécie de homicídio privilegiado, é
caracterizar o infanticídio praticado “durante o parto”. adequado.
O infante nascido é o que “acabou de nascer, respirou, mas Os transtornos biopsíquicos vividos pela gestante tornam pos-
não recebeu nenhum cuidado especial. Apresenta proporcionalida- sível a redução da pena do crime contra a vida praticado por ela em
de de suas partes, peso e estatura habitual, desenvolvimento dos face do seu filho, a despeito dos sentimentos de revolta e tristeza
órgãos genitais [...]” (FRANÇA, 2008, p. 263). Vê-se, portanto, que que surgem na sociedade, ante a conduta que ceifa a vida de um
a única diferença entre o infante nascido e o recém nascido é que ser indefeso e ainda inocente, praticada pela própria mãe.
este recebeu cuidados especiais após o tratamento. Justamente A configuração do delito de infanticídio, contudo, deve passar,
por isso, conforme Genival Veloso de França (2008, p. 263-264), invariavelmente, pela confirmação do estado puerperal da gestan-
o infante nascido possui estado sanguinolento, induto sebáceo, te. Vale ressaltar: nem toda mãe que assassinar o filho durante ou
tumor do parto (em alguns casos), cordão umbilical, presença de
logo após o parto será beneficiada pela subsunção de sua conduta
mecônio e respiração autônoma.
ao crime do art. 123 do Código Penal. É imprescindível a influência
Já o recém-nascido, apresentou vida intrauterina, nasceu com
de uma psicose puerperal, alterando seus sentidos normais e con-
vida (respirou), e recebeu os primeiros cuidados. Seguindo Genival
figurando o estado específico previsto na descrição do infanticídio.
Veloso de França (2008, p. 263-264), o conceito médico-legal diz
que o período de recém nascimento vai aproximadamente até o Dessa forma, a atuação das perícias médico-legais como auxi-
7º dia, enquanto a pediatria considera que o período estende-se liares do Juízo é fundamental para a escorreita aplicação do Direito,
até o 30º dia. As características, exceto o estado sanguinolento e a afinal, sem a influência da medicina legal, os juízes decidirão sem-
ausência de tratamento do cordão umbilical, podem aproximar-se pre com dúvidas, incertos da configuração do estado puerperal e,
daquelas vistas para o infante nascido, todavia, menos expressivas. por via de consequência, do próprio infanticídio. Tal situação não é
Natimorto é “o feto morto durante o período perinatal que, de desejável em um Estado que prima pela verdade na solução dos li-
acordo com a CID10, inicia-se a partir da 22ª semana de gestação, tígios que são colocados em julgamento. Portanto, conclui-se que a
quando o peso fetal é de 500g” (FRANÇA, 2008, p. 263). Se a mor- interdisciplinaridade entre o Direito e as ciências médicas contribui
te do feto for provocada por causas naturais, afasta-se, em regra, sobremaneira para a consecução de justiça e segurança jurídica nas
a ocorrência tanto do infanticídio quanto de outro crime, salvo se causas penais relacionadas ao infanticídio.27
a causa for provocada pela omissão de cuidados dos responsáveis Abandono de recém-nascido
legais, que podiam e deviam agir para evitar o resultado (artigo 13, EXPOSIÇAO OU ABANDONO DE RECEM NASCIDO
§ 2º do Código Penal). Por outro lado, se a morte foi causada por ARTIGO 134 CÓDIGO PENAL:
circunstâncias violentas, logo, criminosas, a responsabilização pe- Art. 134 - Exporou abandonar recém-nascido, para ocultar de-
nal ficará a cargo das penas do delito de aborto (artigos 124 a 127 sonra própria:
do Código Penal). Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Cumpre mencionar que a prova da vida extrauterina – compro- § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
vação de que o nascido respirou – é feita através das docimásias Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
(pulmonares ou extrapulmonares), dentre as quais a mais famosa § 2º - Se resulta a morte:
é a docimásia hidrostática pulmonar de Galeno, ou das provas oca- Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
sionais, como presença de corpos estranhos nas vias respiratórias e
presença de substâncias alimentares no tubo digestivo. DOUTRINA
Para finalizar, importante tecer comentários sobre a causa jurí-
dica da morte. Como dito anteriormente, se a causa é natural, afas- Elementos objetivos do tipo
ta-se a ocorrência do crime. Assim, cumpre ao exame pericial dizer
É importante distinguir os verbos “expor” e “abandonar” refe-
se a morte não natural foi acidental ou criminosa.
ridos no artigo 134 do Código Penal: “Abandonar” tem sentido de
As causas acidentais podem ser anteriores, concomitantes ou
largar ou deixar de dar assistência pessoal devida ao recém-nas-
posteriores ao parto. “Antes do parto, a morte do feto pode sobre-
cido, exprimindo desamparo e desprezo, já “expor”, conceitua-se
vir por traumatismo direto sobre a parede abdominal” (FRANÇA,
2008, p. 270), o que pode ser diagnosticado pela perícia. Durante como colocar em perigo, retirando a pessoa do seu lugar habitual
o parto, o diagnóstico da morte acidental é imprescindível para a para leva-la a ambiente hostil, desgrudando-se dela. (Nucci, p.615).
descaracterização do infanticídio, segundo Genival Veloso de Fran- Ambas a situações, podem se dá por omissão da mãe ou do pai.
ça (2008, p. 270), pode ocorrer asfixia por deslocamento prematuro
da placenta, por enrolamento do cordão no pescoço, penetração Exposição ou abandono de recém-nascido é posto no código
de líquidos nas vias respiratórias e a compressão da cabeça em pel- penal brasileiro no capítulo da periclitação da vida e da saúde, no
ves maternas estreitas. art.134 Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra
As causas criminosas “são produzidas pelas mais diversas mo- própria. é punível com detenção de 6 meses a 2 anos. E se do fato
dalidades de energia” (FRANÇA, 2008, p. 270), tais quais a mecânica resulta lesão corporal de natureza grave a pena aumenta para de-
(contusão, compressão, ação de objetos perfurantes, pérfuro-cor- tenção, de 1 a 3 anos. Se resulta a morte a pena é de detenção, de
tantes e corto-contundentes), a física (combustão e queimaduras), 2 a 6 anos.
bem como energias físico-químicas (esganadura, estrangulamento, Conceito de recém-nascido - entende-se por recém-nascida a
afogamento, sufocação etc.). criança desde o seu nascimento até o 28º dia de vida, de maneira
Diante do exposto, tornam-se indubitáveis a necessidade e a que a partir do 29º dia de existência, a criança passa a ser chamada
importância dos exames médicos-periciais para a configuração do de lactente até que complete dois anos de idade.
infanticídio. Afinal, sem eles haverá sempre dúvidas nas decisões
judiciais sobre casos concretos.
27 Fonte: www.jurisway.org.br
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Observa-se que para a configuração do crime de exposição ou É forma privilegiada do crime anterior (art. 133) Ocultar deson-
abandono de recém-nascido, é imprescindível que a conduta do ra própria - a honra que o agente deve visar preservar é a de natu-
agente seja a de ocultar desonra própria, com o intuito de escon- reza sexual, a boa fama, a reputação etc.; se a causa do abandono
der a prática de ato sexual que poderá ser repudiada pela família da for miséria, excesso de filhos ou outros ou se o agente não é pai ou
mulher ou do homem ou pela comunidade em que vivem, pelo fato mãe da vítima, o crime será o de “abandono de incapaz”.
de ter ocorrido em uma relação extraconjugal, por violar os cos- A diferença para o Art. 133 está no motivo. No art. 134 o mo-
tumes familiares ou até mesmo por desrespeitar crença religiosa. tivo é ocultar a desonra própria. Sujeito ativo – a mãe (ou even-
tualmente o pai).Sujeito passivo – criança que acabou de nascer,
Bem Jurídico tutelado: A vida e a saúde do recém-nascido. (Bi- que começou a respirar pelo pulmão, filha do sujeito ativo. Objeto
tencourt, p.299). material – o recém-nascido. Objeto jurídico – a saúde e a vida.

SUJEITO: Classificação:
ATIVO, somente pode ser a mãe (crime próprio), que concebe - forma qualificada: -preterdoloso - É crime próprio nos polos
extra matrimônio, visto que objetiva desonra própria, indeferi ser ativo e passivo;- É de perigo concreto (o perigo deve ser investigado
viúva ou adultera, ou mesmo em caso de solteiras, especialmente e provado);- É comissivo ou omissivo, conforme o caso;- É de forma
em casos de gravidez cada vez mais precoce, que vem acontecen- livre (qualquer meio);- É instantâneo; quer dizer que é para sem-
do com pré-adolescente. É indispensável que se trate de mulher pre.- É unissubjetivo;- É plurissubsistente =- admite tentativa, pois
honrada, cujo conceito social possa ser abalado pela prova de uma a conduta é fracionável em vários atos.
concepção aviltante, caso contrário não haveria honra alguma para Figuras preter dolosas: Parágrafo 1º - resultando lesão corporal
ocultar (Meretriz). Também poderá ser sujeito ativo o pai (geral- grave; Parágrafo 2º - resultando morte. Mas só podem advir a título
mente vítima de adultério) (Bitencourt, p. 300). de CULPA, pois dolo de perigo é incompatível com dolo.
PASSIVO, é o recém-nascido, com vida, fruto de relações extra-
matrimoniais. (Bitencourt, p.302). Jurisprudência:
Alguns doutrinadores entendem que trata-se de crime próprio,
- Tipo Objetivo: A conduta típica consiste em expor ou aban- sendo que o sujeito ativo apenas poderia ser a mãe, dado o ter-
donar recém-nascido para ocultar desonra própria. Os verbos nu- mo “desonra própria” utilizado pelo legislador que tem aplicação
limitada à mulher, bem como pelo fato de ser ilícita a concepção.
cleares indicam que o agente através de uma deixa ao desamparo
No entanto, outros doutrinadores entendem que o pai também
o recém-nascido ou sob o poder de quem não possa dispensar as-
poderá figurar como sujeito ativo deste crime com o propósito de
sistência adequada, de modo a dar lugar a uma situação de perigo
encobrir uma possível infidelidade conjugal. O sujeito passivo será
para a vida ou a saúde do recém-nascido. Esse perigo deverá ser
o recém-nascido.
concreto, efetivamente demonstrado, pois se tomar qualquer me-
Quanto ao tipo objetivo, tem-se que as condutas descritas pela
dida acautelatória não haverá perigo ou não haverá crime. Poderá
Lei são expor ou abandonar recém-nascido, devendo-se considerar
ser praticado também por omissão nos termos do art. 13, §2º CP.
que, neste sentido, a ação ou omissão deve caracterizar perigo con-
creto, de forma que a vítima seja comprovadamente submetida a
- Tipo Subjetivo: É o dolo direto de expor ou abandonar com risco de saúde ou de morte.
um elemento subjetivo especial do tipo que é o de ocultar deson- O tipo subjetivo prevê a vontade consciente do agente em ex-
ra própria. Não havendo esse elemento subjetivo especial, restará por ou abandonar o recém-nascido, surgindo, neste momento, o
caracterizado o delito do art. 133 CP. Obs.: Devemos observar que dolo direto. É fundamental que a exposição ou o abandono se dê
na hipótese de concurso de pessoas, comunicam-se aos eventuais para ocultar a desonra própria, sob pena de caracterizar-se crime
co-autores ou participes a circunstância ou o motivo de honra, pois diverso do que estamos tratando.
conforme o art. 30 CP, em sendo circunstância elementar haverá O crime admite tentativa na forma comissiva, ou seja, no caso
essa comunicação. A honra referida neste tipo é de cunho sexual, de ser o agente surpreendido no momento de execução do ato.
devendo o sujeito ativo estar em um estado de tortura íntima ante A consumação só se configurará se ocorrer a efetiva exposição
a possibilidade da perda de sua reputação que até então desfruta. ou abandono que ofereça risco concreto para a saúde ou vida do
Daí a menor culpabilidade do agente. recém-nascido.
Tal tipo penal acolhe a forma qualificada se do crime resultar
- Consumação/Tentativa: A consumação se dá com o efetivo lesão corporal de natureza grave ou morte do recém-nascido.
abandono ou exposição que resulte perigo concreto para a vida ou De outra volta, vale mencionar que o crime de exposição ou
a saúde do recém-nascido. A tentativa é admissível, quando inter- abandono de recém-nascido não se configurará caso seja conhe-
rompido por circunstâncias alheias a vontade. cida a desonestidade ou desonra do agente, sendo que ambos de-
- Forma Preter Dolosa: Previstos nos §§ 1º e 2º se resultar lesão vem estar ligados a sua situação sexual. Patente, nessas condições,
corporal de forma grave ou morte. a impossibilidade de se alegar preservação da honra, requisito in-
- Classificação: Própria, omissivo ou comissivo, unisubjetivo, dispensável do artigo 134 do Código Penal, assim, a prostituta, por
plurisubsistente, concreto, instantâneo, doloso com elemento sub- exemplo, não incorrerá neste tipo penal e responderá por outro
jetivo especial, formal. crime.
- Pena/Ação Penal: Na forma simples, detenção de 6 meses a 2 Outrossim, conveniente assinalar que caso ocorra à repetição
anos. Preter dolosa que resulte lesão grave de 1 a 3 anos se resultar do delito, o sujeito não poderá alegar a ocultação de sua honra, já
morte de 2 a 6 anos. Ação penal pública incondicionada. Se o sujei- que pressuposto a publicidade da desonra.
to expõe a criança, mas a vigia de longe: não há o crime.

É crime próprio porque somente pode ser cometido pela mãe


para esconder a gravidez fora do casamento, ou pelo pai, na mesma
hipótese, ou em razão de filho adulterino ou incestuoso.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Cumpre-se consignar que, embora haja previsão legal ao refe- 1. Doença mental - CAUSAS QUE EXCLUEM A IMPUTABILIDADE
rido crime, a imputação de pena não é fator suficiente para coibir É a perturbação mental ou psíquica de qualquer ordem, capaz
sua prática pois, os genitores, não desejando manter consigo o re- de eliminar ou afetar a capacidade de entender o caráter criminoso
cém-nascido e objetivando preservarem sua honra acabam buscan- do fato ou a de comandar a vontade de acordo com esse enten-
do e encontrando outras maneiras de “abandonar” a criança. dimento. Exemplos: epilepsia, psicose, neurose, esquizofrenia, pa-
Há exemplo de alguns países, uma das formas de coibir a prá- ranóia, psicopatia, epilepsia etc. A dependência patológica, como
tica da exposição ou abandono de recém-nascido é o chamado drogas configura doença mental quando retirar a capacidade de
“parto anônimo” que prevê o nascimento da criança sem que haja entender ou querer.
qualquer responsabilidade por parte da genitora, que dará à luz e
simplesmente “sairá de cena”, deixado o bebê aos cuidados de um 2. DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO - CAUSAS QUE
hospital, maternidade ou posto de saúde que encontrarão meios EXCLUEM A IMPUTABILIDADE
de disponibilizar o recém-nascido para adoção. É o desenvolvimento que ainda não se concluiu, devido à re-
Destarte lembrar que o direito à vida é assegurado pela Consti- cente idade cronológica do agente ou a sua falta de convivência na
tuição Federal, portanto a sociedade num todo, precisa estar aten- sociedade, ocasionando imaturidade mental e emocional. Exem-
ta para inibir, esse tipo de pratica, tal como assegurar mecanismos plos: menores de 18 anos e dos indígenas inadaptados a sociedade,
e praticas concretas para que o recém nascido não seja vitima des- os quais têm capacidade de chegar a sua plena potencialidade, com
se tipo de conduta antes, seja assegurado ao mesmo o pleno de- o acumulo de experiência.
senvolvimento a vida e a saúde.28 STF e indígenas: “é desnecessário o exame antropológico des-
tinado a aferir o grau de integração do paciente na sociedade se o
juiz afirma sua imputabilidade plena com fundamento na avaliação
do grau de escolaridade, influencia portuguesa e do nível de lide-
MODIFICADORES E AVALIAÇÃO PERICIAL DA IMPU‐
rança exercida na quadrilha, ou comunidade”.
TABILIDADE PENAL E DA CAPACIDADE CIVIL. DOENÇA
Menores de 18 anos: como não sofrem sanção penal pela pra-
MENTAL, DESENVOLVIMENTO MENTAL INCOMPLETO
tica de ilícito penal, em decorrência da ausência de culpabilidade,
OU RETARDADO, PERTURBAÇÃO MENTAL
estão sujeitos ao procedimento medidas sócio educativos prevista
no ECA – CREAS.

CULPABILIDADE E CAPACIDADE: 3. DESENVOLVIMENTO MENTAL RETARDADO: CAUSAS QUE


Capacidade é a possibilidade de entendimento e vontade, sen- EXCLUEM A IMPUTABILIDADE
do também a aptidão para praticar atos na orbita processual, tais É o incompatível com o estágio de vida em que se encontra
como oferecer queixa e representação. a pessoa, estando, portanto, abaixo do desenvolvimento normal
para aquela idade cronológica. Sua capacidade não corresponde às
DOLO E IMPUTABILIDADE experiências para aquele momento de vida, o que significa que a
Dolo significa fraude, má fé, maquinação. Agir com dolo signi- plena potencialidade jamais será atingida. Exemplo: os oligofrêni-
fica que alguém tem a intenção de atingir um fim exclusivamente cos, pessoas com reduzidíssimo coeficiente intelectual. Classifica-
criminoso para causar dano a outras pessoas. Em Direito Penal dolo dos numa escala de inteligência: débeis mentais, imbecis e idiotas.
caracteriza-se pela vontade livre e consciente de querer praticar Compreendem-se também os surdos-muros que devidos sua ano-
uma conduta descrita em uma norma penal incriminadora. malia, não tem capacidade de entendimento e de autodetermina-
Dolo é à vontade, imputabilidade, é a capacidade de compre- ção. Assim, estes, não teriam condições de entender o crime que
ender essa vontade, assim, por exemplo, se um louco que pega cometeram.
uma faca e esquarteja a vitima age com dolo, pois desfere os golpes
com consciência e vontade. O que lhe falta é discernimento sobre CRITÉRIOS DE AFERIÇÃO DA INIMPUTABILIDADE – pessoas
essa vontade. Ele sabe que esta esfaqueando a vítima, mas não tem inimputáveis
condições de avaliar a gravidade do que esta fazendo. Um usuário a. Sistema Biológico: (Usado pela doutrina: Código Penal sobre
que esta portando cocaína para uso próprio, mas não tem comando menoridade penal) neste interessa saber se o agente é portador
sobre essa vontade. Tem dolo, mas não tem imputabilidade. de alguma doença mental ou desenvolvimento mental incomple-
to ou retardo, caso positivo é considerado inimputável. Exemplo:
IMPUTABILIDADE E RESPONSABILIDADE Os menores de 18 anos, nos quais o desenvolvimento incompleto
Responsabilidade é a aptidão do agente para ser punido por presume e incapacidade de entendimento e vontade, estes, podem
seus atos e exige três requisitos: imputabilidade, consciência da ili- até entender o ato que praticou (homicídio, roubo, estupro, por
citude e exigibilidade de conduta. exemplo), mas a lei presume, ante sua menoridade, que ele não
sabe o que faz, assim sendo inimputável.
CAUSAS QUE EXCLUEM A IMPUTABILIDADE: Pessoas Inimpu- b. Sistema psicológico: neste o que interessa é o somente o
táveis momento da ação ou omissão delituosa, se ele tinha ou não con-
dições de avaliar o caráter criminoso do fato e de orientar-se de
1. Doença Mental, acordo com esse entendimento, ou seja, o momento da pratica do
2. Desenvolvimento mental incompleto, crime. A emoção não excluir a imputabilidade. E pessoa que co-
3. Desenvolvimento mental retardado e mete crime, com integral alternação de seu estado físico-psíquico
4. Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou for- responde pelos seus atos. Ex: mulher traída que mata o marido =
ça maior. responde pela ação.

28Fonte: www.juridicocerto.com/www.ebah.com.br/content/www.
pt.wikipedia.org
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c. Sistema biopsicológico: exige-se que a causa geradora esteja b. Culposa: o agente não tem intenção de embriagar-se, porém
prevista em lei e que, além disso, atue efetivamente no momento isso corre devido sua imprudência e excessivo consumo. Neste caso
da ação delituosa, retirando do agente a capacidade de entendi- ocorre devido ao descuido, conduta culposa, e imprudência.
mento e vontade. Desta forma, será inimputável aquele que, em
razão de uma causa prevista em lei (doença mental, incompleto ou Completa: a embriaguez voluntária ou culposa tem como con-
retardado), atue no momento da pratica da infração penal sem ca- sequência à perda total e completa do entendimento e vontade do
pacidade de entender o caráter criminoso do fato. agente.

Requisitos da inimputabilidade segundo o sistema biopsico- Incompleta: tem como consequência a perda parcial de sua au-
lógico todeterminação, que ainda consegue manter um resíduo de com-
(a) Causal: existencial de doença mental ou de desenvolvimen- preensão e vontade.
to incompleto ou retardado, causas prevista em lei.
(b) Cronológico: atuação ao tempo da ação ou omissão deli- Consequência: a embriaguez não acidental jamais excluir a
tuosa. imputabilidade do agente, seja voluntária, culposa, completa ou
(c) Consequencial: perda total da capacidade de entender ou incompleta, ou seja, no momento em que ingeria a substância, o
da capacidade de querer. agente tinha plena capacidade de sua conduta ilícita. A embriaguez
Somente há inimputabilidade se os três requisitos estiverem surge de um to de livre-arbítrio do sujeito. Considera-se então, o
presentes, sendo exceção aos menos de 18 anos, regidos pelo sis- momento da ingestão da substância e não o da prática delituosa.
tema biológico.
Questões processuais sobre inimputabilidade EMBRIAGUEZ COMPLETA PROVENIENTE DE CASO FORTUITO
A prova da inimputabilidade do acusado é fornecida pelo exa- OU FORÇA MAIOR
me pericial, através do médico legal, exame chamado: incidente
de insanidade mental, onde suspende-se o processo ate o resulto Agora o caso de embriaguez que EXCLUI a imputabilidade, tor-
final. Com prazo de 10 dias para provar a existência da causa exclu- nando a pessoa inimputável. Ficando isento da culpa.
dente da culpabilidade (Lei nº 11.719, de junho de 2008). 2. Embriaguez acidental: pode decorrer de caso fortuito ou
EMBRIAGUEZ força maior. (neste caso de embriaguez há exclusão da imputabi-
A embriaguez seria a causa capaz de levar à exclusão da capaci- lidade, ou seja, a pessoa NÃO tem capacidade de entender o ca-
dade de entendimento e vontade do agente, em virtude de uma in- ráter ilícito que esta praticando, assim, portanto, sendo uma pes-
toxicação aguda e transitória causada por álcool ou qual substancia soa inimputável-irresponsável pelos seus atos ilícitos praticados).
de efeitos psicotrópicos como morfina, ópio, cocaína entre outros. Ficando isento da culpa.
As drogas psicotrópicas, ou seja, substâncias que provocam al-
terações psíquicas podem ser subdivididas em três espécies:
Caso fortuito: é toda ocorrência episódica, ocasional, rara, de
difícil verificação. Exemplo: se alguém tropeça a cai de cabeça em
Espécies Definição Exemplo um tonel de vinho, embriagando-se, ou ainda, quando ingere be-
bida na ignorância de que tem conteúdo alcoólico ou dos efeitos
São os tranquili- Morfina, ópio, cal- psicotrópicos que provoca. Nessas hipóteses, o sujeito não se em-
1. Psicolépticos
zantes mante briagou porque quis, nem porque agiu com culpa.
São os estimu-
2. Psicoanalépticos Cocaína Força maior: deriva de uma força externa ao agente, que o
lantes
obriga a consumir a droga. É o caso do sujeito obrigado a ingerir
Substâncias que álcool por coação física ou moral irresistível, perdendo em segui-
Ácido lisérgico,
3. Psicodislépticos causam alucina- da, o controle sobre suas ações. Segundo Frederico Marques “na
heroína e álcool
ção embriaguez fortuita, a alcoolização decorre de fatores imprevistos,
enquanto na derivada de força maior a intoxicação provém de força
Fases da embriaguez externa que opera contra a vontade de uma pessoa, compelindo-a
1. Excitação: estado inicial provocado pela inibição a ingerir a bebida”.
dos mecanismos de autocensura. O agente torna-se inconveniente,
perde a intensidade visual e tem seu equilíbrio afetado. Completa ou incompleta: tanto uma como outra podem retirar
2. Depressão: passada a excitação inicial, estabele- total ou parcialmente a capacidade de entender e querer.
ce-se uma confusão mental e há irritabilidade, tornando o sujeito
mais agressivo. Consequências da embriaguez acidental
3. Sono: quando grandes doses são ingeridas, o Regras:
agente fica em estado de dormência profunda, com perda do con- - Quando completa: exclui a imputabilidade, e o agente fica
trole sobre as funções fisiológicas. isento de pena;
- Quando incompleta: não exclui, mas permite a diminuição da
Espécies da embriaguez pena de 1/3 a 2/3, conforme o grau de perturbação.
1. Embriaguez não acidental: pode ser voluntaria (dolosa ou Lembrando que neste caso, o agente não teve livre-arbítrio
intencional) e culposa. para decidir se consumira ou não a substância.
a. Voluntária, dolosa ou intencional: o agente ingere substân-
cias alcoólicas com intenção de embriagar-se. Há, portanto, um 3. Embriaguez Patológica: é o caso dos alcoólatras e dos de-
desejo de ingressar em um estado de alternação psíquica, daí em- pendentes, que se colocam em estado de embriaguez em virtude
briaguez dolosa. de uma vontade invencível de continuar a consumir a droga.

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4. Embriaguez Preordenada: Ocorre quando o sujeito se em- B. Existe suspeita: Susta-se o andamento do processo e ins-
briaga propositalmente para cometer um crime, incidindo sobre a taura-se o Incidente de Insanidade Mental requerendo-se a perícia
pena uma circunstancia agravante. Exemplo são os assaltantes que psiquiátrica.
consomem substâncias estimulantes para prática de assalto.
Perícia Psiquiátrica que pode concluir pela:
EMOÇÃO E PAIXÃO A) Plena imputabilidade do agente - Processo continua.
Emoção é um sentimento abrupto, súbito, repentino, arrebata- B) Semi-imputabilidade do agente - Processo continua poden-
dor. A paixão sendo um sentimento lento. Como o ciúme excessivo, do, em caso de condenação, o Juiz optar pela redução da pena de
deformado pelo egoísmo sentimento de posse, é a paixão em sua um a dois terços ou, absolvição do réu com aplicação de Medida de
forma mais perversa. Segurança.
Consequência: nenhum desses casos exclui a imputabilidade, C) Inimputabilidade do agente - O réu é absolvido e aplica-se a
ou seja, uma pessoa que age com emoção de seus atos age com Medida de Segurança29
repleta capacidade de entendimento do ato ilícito que praticou.
Portanto, a pessoa não se isenta de culpa.
Emoção como causa minorante ASPECTOS MÉDICO LEGAIS DO TESTEMUNHO,
Pode funcionar como causa específica de diminuição de pena DA CONFISSÃO E DA ACAREAÇÃO
(privilégio) no homicídio doloso e nas lesões corporais, porém exi-
gem-se quatro requisitos:
1. Deve ser violenta, A prova testemunhal será admitida para comprovar fatos con-
2. O agente deve estar sob o domínio dessa emoção, e não trovertidos é relatar a respeito do fatos relevantes para solução do
mera influencia, conflito.
3. A emoção deve ter sido provocada por um ato injusto da Testemunha é uma pessoa estranha ao feito, pessoa física do-
vitima, e tada de capacidade que pode depor desde que não seja: incapaz,
4. A reação do agente deve ser logo em seguida a essa pro- impedida ou suspeita, pois é uma pessoa distinta dos sujeitos pro-
vocação. cessuais que, convidada na forma da lei, por partes, depõe sobre
Nesses casos a pena pode ser reduzida de 1/6 a 1/3. Já a paixão este em juízo, para atestar sua existência.
não funciona sequer como causa de diminuição de pena. A testemunha, ou quer dizer a verdade e acerta, ou quer dizê-
Transtorno mental transitório e estados de inconsciência -la e se engana; ou é indiferente não faz tensão de mentir, mas tam-
como causas excludentes da imputabilidade bém não se importa que acerte ou erre; ou enfim, quer enganar.
Seria possível, como enfatiza Nélson Hungria, equiparar-se à E quando se diz em capacidade para ser testemunha não se
doença mental ao delírio febril, o sonambulismo e as perturbações pode confundir com a capacidade civil. Eis que o cego, o mudo, o
de atividade mental que se liga a certos estados somatórios ou fi- surdo bem como o enfermo, são incapazes civilmente, mas o se-
siológicos de caráter transitório. Seria, portanto, isento de pena, a rão certamente para testemunhar caso tais deficiência resultem
pessoa que cometesse ato ilícito durante o sonambulismo. na impossibilidade de percepção sensorial adequada do fato a ser
narrado. Para observar a confissão de tais atos é extremamente
Semi-imputabilidade ou responsabilidade diminuída importante: a sinceridade, o medo, a insegurança, a confusão ou
É a perda de parte da capacidade de entendimento e autode- o arrependimento, sendo feito um adequado interrogatório como
terminação, em razão de doença mental ou de desenvolvimento meio essencial como prova testemunhal no processo judicial, en-
incompleto ou retardado. O agente é imputável e responsável por quanto a testemunha é a fonte.
ter alguma noção do que faz, mas sua responsabilidade é reduzida Há bastante importância de se conhecer a veracidade de uma
confissão com os mínimos detalhes, seja ela testemunhal ou do
em virtude de ter agido com culpabilidade diminuída em consequ-
próprio acusado, estando em poder o juiz fundamentar a decisão
ência das suas condições pessoais.
judicial baseada nesse depoimento sem que haja dúvidas sobre sua
licitude e garantia, tida desse momento como plenamente válida.
Requisitos:
A confissão segundo o CPC:
1. Causal: é provocada por perturbação de saúde mental ou A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação, pode ser
de desenvolvimento mental incompleto ou retardado.
revogada: I – por ação anulatória, se pendente o processo em que
2. Cronológico: deve estar presente ao tempo da ação ou foi feita; II – por ação rescisória, depois de transitada em julgado a
omissão.
sentença, da qual constituir o único fundamento. (CPC, Art. 352)
3. Consequencial: há apenas perda de parte da capacidade Dentre os principais tipos de confissões podemos destacar
de entender e querer. duas: A confissão patológica ou testemunhal ou do próprio acusado
e a confissão clássica testemunhal ou do próprio acusado.
Consequência
Não exclui a imputabilidade, de modo que o agente será con- CONFISSÃO PATOLÓGICA TESTEMUNHAL OU DO PRÓPRIO
denado pelo fato típico e ilícito que cometeu. Provada a redução na ACUSADO: A falsa confissão, ou confissão patológica, dá-se geral-
capacidade de compreensão ou vontade, o juiz terá duas opções: mente por motivos particulares extraordinários, que atuam com
reduzir a pena de 1/3 a 2/3 (conforme grau de perturbação) ou im- maior força que a repugnância pela pena. Não é assim considerada
por medida de segurança. a confissão de pessoa que se engana a si própria, achando que co-
meteu um crime que não ocorreu, e sim aquele que quer enganar
Portanto, quando existe suspeita sobre a sanidade mental do efetivamente. São considerados motivos pessoais extraordinários:
agente, temos: São alguns motivos extraordinários: o fato de se apresentar em
A. Não existe suspeita: O processo continua até a condenação juízo confessando um delito menos grave, que tenha ocorrido no
e cumprimento da pena ou absolvição.
29 Fonte: www.jus.com.br
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mesmo local do crime que cometeu e à mesma hora; ou ainda acu- No desenvolvimento de uma percepção há influência da afe-
sar-se de algo, que o puna de forma leve, para passar alguns dias na tividade
cadeia, diante de sua condição de miserável, sem comida nem teto, As relações de afetividade muitas das vezes influenciam as
entre outras inúmeras situações. percepções dos indivíduos, ou seja, não só é certo que se vêem as
coisas como que elas fossem. Mas sim que em determinadas cir-
CONFISSÃO CLÁSSICA TESTEMUNHAL OU DO PRÓPRIO ACUSA- cunstâncias vêem-se como que pensassem que elas fossem. Isso
DO: é aquela confissão verdadeira. São alguns motivos ordinários acontece porque produz uma pseudo-percepção, se for forte ela
que possibilitam a confissão verdadeira: I - No espírito humano há cede lugar a uma alucinação e ao contrário sendo propícias, de-
sempre um instinto de veracidade que se opõe à mentira, que co- formando a percepção externa cede lugar a ilusão. Por isso: “[...]
adjuvado pelo remorso, ao recordar o próprio crime, torna-se ir- tanto o desejo positivo como o desejo negativo (medo) de que algo
resistível. Segundo esse doutrinador, a mentira é filha da reflexão, ocorra podem dar lugar a fazer o indivíduo acreditar que esse algo
que só funciona bem no estado de calma! II - No espírito do acusa- já ocorreu”. (MYRA Y LOPEZ, 2007, p. 111).
do há sempre o receio de ser atingido por outras provas, futuras,
mas se já se sente perseguido pelas provas presentes, ele confessa. O hábito também é um forte influenciador na percepção
(MALATESTA, 1927). Tanto é que se completa de tal modo as percepções da realida-
Diante disso percebe-se que têm testemunhas de todo o tipo, de exterior, com os pré-julgamentos já existentes achando-se por
ou seja, aquelas que poderão confessar a verdade ou confissão clás- satisfeito o próprio juízo da realidade, sendo assim não se percebe
sica e aquelas que poderão falsearem a confissão que são as confis- a realidade, mas sim a caricatura subjetiva.
sões patológicas. As testemunhas subdividem em: instrumentárias E em relação ao tempo, o passado intervém mais do que o pre-
e judiciais. As primeiras são aquelas que participam da formação sente em nossas percepções, isso porque: “[...] [a] mente efetua
dos atos jurídicos, colaborando para formação do instrumento do- sua percepção mais de acordo com a lembrança de como era do
cumental o que constitui prova documental préconstituída. que como conhecimento de como é”. (MIRA Y LOPEZ, 2007, p. 112).
Como exemplo tem-se: testemunhas de um contrato, de um
testamento, de uma escritura. Alguns fatores que influenciam o ato de expressão do teste-
Já as testemunhas judiciais são as que depõem em juízo acerca munho:
de fatos controvertidos da causa.
- Uma psique (mente) ideal pode ter realmente lembranças
completas em seu subjetivo, reproduzindo assim com devida fideli-
Um determinado acontecimento segundo a percepção pode-
dade sob o esforço da evocação voluntária;
rá ser influenciado de diversas formas:
- Deixar o indivíduo livre para as descrições dos fatos e situa-
A percepção é algo máximo ligado ao conjunto de sensações
ções, não intervir nas respostas querendo ajudar. No entanto essa
elementares. Para que se possa perceber realmente algum fato:
liberdade pode desviar o foco e não revelar o que assistiu, mas falar
“[...] supõe uma “vivência”, isto é uma experiência psíquica com-
o que geralmente o juiz pensa em que o indivíduo presenciou.
plexa na qual não se misturam, e sim se fundam, elementos inte-
lectuais, afetivos e conativos, para constituir um ato psíquico, dinâ-
mico, global e como tal irredutível”. (MYRA Y LOPEZ, 2007, p. 110). Algumas das diferenças entre o testemunho por relato espon-
Sendo assim os esquemas perceptivos são subjetivos e como tâneo e o obtido por interrogatório
tais pessoais, excluindo a hipótese de uma percepção neutra, ou O espontâneo partindo de um propósito de sinceridade, e um
seja, o ato fato foi ou não visto, não existe um meiotermo. Além pouco mais vivo e mais puro, melhor falando menos deformado, do
disso, um fator bastante intenso de uma percepção é o grau de fa- que o obtido por interrogatório. Na maioria das vezes os relatos es-
diga psíquica, em que esteja o perceptor. Tendo uma melhor com- pontâneos são mais complexos e não dizem tudo sobre o fato e não
preensão pela manhã do que à noite e diminuindo também sob a fala nada mais do que interessa. Enquanto o resultado obtido por
influência da alimentação. interrogatório, porém é menos exato, mas representa o resultado
Alguns resultados concretos são expostos a partir de experiên- entre o conflito entre o que o indivíduo sabe, de um lado, e o que as
cias realizadas sobre a fidelidade das percepções para uma melhor perguntas que lhes são feitas tendem a fazê-los saber. Naturalmen-
compreensão: te poderá acontecer surgir uma resposta falsa por alguns motivos:
1º Para a percepção geral de uma situação estão mais capaci- a) porque a idéia implicitamente contida na pergunta evoque
tados os homens que as mulheres, mas estas, em troca, percebem por associação outra, não concordante com a realidade a testemu-
com mais exatidão os detalhes que aqueles. nhar; b) porque a pergunta faça sentir ao indivíduo a existência de
2º Os termos inicial e final de uma série de acontecimentos cos- uma lacuna em sua memória que tentará encher aventurando uma
tumam ser percebidos melhor que os intermediários. resposta ao acaso ou baseada em uma dedução lógica (muita vez
3º As impressões ópticas podem ser testemunhadas em igual- feita à base do que é mais comum ou freqüente, por cálculo de pro-
dade de condições, com maior facilidade que as acústicas; com babilidades que pode ser inexato); c) porque a pergunta determine
respeito às impressões procedentes dos restantes territórios senso- uma sugestão direta ou coloque o indivíduo em condições de infe-
riais, são reproduzidas muito vagamente e, por conseguinte, é pre- rioridade (medo) que o impeçam de dar a devida resposta. (MYRA
ferível recorrer sempre que se possa ao seu reconhecimento e não Y LOPEZ, 2007, p. 115).
à sua evocação.
4º Os testemunhos referentes a dados quantitativos são, geral- Perguntas mais importante em um interrogatório judicial
mente, mais imprecisos que os qualitativos. Existe uma tendência São inúmeras as maneiras de se fazer uma pergunta a uma tes-
normal a superestimar os números inferiores a dez e os períodos de temunha, de acordo ao psicológico e gramaticalmente algumas de-
tempo menores de um minuto. Em troca, as pausas superiores a dez las são: perguntas determinantes, perguntas disjuntivas completas
minutos e os números ou espaços grandes tendem a ser infra-esti- e parciais, perguntas diferenciais, perguntas afirmativas e negativas
madas. É curioso verificar que nos testemunhos a fatos sucedidos condicionais, além de uma das mais importantes que é a afirmativa
mais de seis anos antes há também uma tendência a encurtar o por presunção que leva o indivíduo a confirmar as suas ideias levan-
tempo de seu acontecimento. (MYRA Y LOPEZ, 2007, p. 110-111). do-a indução por erros.
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As perguntas determinantes são aquelas diretas, por exemplo: intensiva sobre os depoimentos destas pessoas, tentando discernir
Qual a relação de amizade que você tinha com a vítima? Quantos à busca somente do que é mais perto da verdade, senão a própria,
dias você não a via? Por que você não compareceu ao trabalho no isso porque na maioria das vezes os testemunhos tentam complicar
dia do e após o crime? a investigação afirmando ou contrariando os fatos.
Para as perguntas disjuntivas completas e parciais, esta últi- Dentre a declaração testemunhal em diferentes extremos para
ma o interrogado tem duas possibilidades de respostas e poderá a maior verdade possível dos fatos divergirá muitas das vezes a so-
excluir as demais respostas, sendo que a resposta correta poderia lução teórica da prática. A solução teórica é aquela oficial em que
ser uma dessas. Enquanto as completas envolvem vários questio- se baseia nas destituir as declarações judiciais em caráter oficial fa-
namentos com a alternativa correta, ou seja, era assim? Ou não era zendo que os testemunhos fossem espontâneas com ênfase jurídi-
assim? Dentre as supostas corretas. ca, recolhidas respostas por pessoas moralmente puras. Enquanto
Já as perguntas diferenciais são aquelas que visam à confirma- a solução prática é aquela que podem ser aplicadas sem compro-
ção ou apenas a negação de um fato, ou seja, perguntas diretas e meter a rotina das atividades jurídicas, isso porque a verdade está
indiretas com soluções de sim ou não. exposta para todos, sem que levem o comprometimento do direito
Negativas e afirmativas condicionais devem ser feitas dentro forense.
de um interrogatório imparcial, por que: Como por exemplo, várias testemunhas depõem-se parcial-
[...] acarreta uma sugestão de obrigar o indivíduo a decidir- mente em favor de um determinado acusado, dentre os depoi-
-se entre um sim e um não, mas condicionando-lhe previamente a mentos percebe-se que algo é confirmado entre as testemunhas,
resposta de acordo com o que o interrogador espera. Felizmente a mas existe uma incerteza perante o juiz de que em quem acreditar
por isso ele pode desconsiderar todas as testemunhas por causa
coação que acarreta a forma gramatical destas perguntas se mos-
da parcialidade e não dizer por completo todo o fato ali visto pelas
tra mais visível que nas anteriores e por isto tornam-se um ponto
testemunhas, ou melhor, possa ser que não viram todo o ocorrido
menos perigosas, já que a testemunha sabe reagir a ela com maior
e disseram que estavam presente. Agora existem vários meios de
facilidade. Vejamos um exemplo desta forma: a) (condicionada afir-
fazer essas devidas perguntas sobre determinado acontecimento
mativa): não era preta a gravata que trazia o acusado?; b) (condi- não perguntando somente diretamente sobre o ocorrido, mas che-
cionada negativa); por acaso era branca a gravata? Pela forma de gando aos objetos e detalhes existentes ou não do local do ocor-
formular ambas as perguntas a testemunha depreende implicita- rido, sendo assim descobrirá se a testemunha estará contando a
mente que se espera dele uma afirmação no primeiro caso e uma verdade ou a mentira.
negação no segundo, e se não está muito seguro de si mesmo, pre- Portanto essa é uma maneira de fazer uma declaração centrí-
ferirá sempre responder de acordo com o que o interrogador parece peta (na qual não se fala nada do acusado e sim dos detalhes –
esperar dele. (MYRA Y LOPEZ, 2007, p. 116-7). coisas secundárias ao fato), desviando o foco que é a defesa do
Para tanto as perguntas afirmativas por presunção tem um pa- acusado, mas sim investigando a testemunha desconcentrando-a
pel fundamental no interrogatório judicial isso porque esta leva o de forma que decifra a realidade nos acontecimentos. A intenção
indivíduo ao erro mais evidente pois: [...] [ela] supõe a existência de da pergunta na declaração centrípeta, como é natural, mostra-se
uma lembrança na mente da testemunha sem haver-se certificado tanto mais difícil de ser percebido quanto mais distante é sua re-
antes, é a que deve ser evitada com mais cuidado nos interrogató- lação com o fato que a testemunha tem interesse em deformar o
rios, pois é a que acarreta uma maior capacidade sugestiva para o caso ocorrido.
erro. Assim, por exemplo, se se pergunta a uma testemunha de que
cor era a gravata que o acusado levava, no dia em que foi autuado, Causas de inexatidão testemunhal
sem antes lhe perguntar se levava ou não gravata e se a vira formu- O hábito;
la-se uma pergunta de presunção que tem muitas probabilidades A sugestão;
de ser respondida vagamente, mas admitindo, não obstante, de um A confusão no tempo;
modo implícito por parte da testemunha, a certeza de que o acu- A tendência afetiva.
sado levava gravata, o que não teria acontecido se antes lhe fosse O hábito é influenciado pelo que acontece corriqueiramente
feita à pergunta pertinente (lembra-se se o acusado levava ou não diariamente na vida das pessoas, por isso não se ignoram com o
gravata?) ( MYRA Y LOPEZ, 2007, p. 116) acontecido.
E a sugestão acontece porque é algo automático de origem em
Meios para obter a máxima de sinceridade das respostas: perguntas que determinam as respostas num condicionamento de-
terminado.
São técnicas consideradas absurdas e contraproducentes até
Enquanto a confusão no tempo, ou melhor, a transposição cro-
que prove ao contrário, porque se baseia em assustar o indivíduo,
nológica, isso porque a testemunha não sabe o exato momento do
com castigos humanos e divinos em caso de omissão ou negação
ocorrido com incertezas, não sabe se foi antes ou depois do ocor-
da verdade.
rido os detalhes e algo que leva a obter maior veracidade possível.
Por isso algo que é de relíquia confirmação de dados é ten- E por último e de extrema importância a tendência afetiva que
do uma verdadeira consciência moral do declarante, em que este faz sentir antipatia ou simpatia não somente pelas pessoas, mas
poderá objetivar como fruto simplesmente a verdade e a justiça a por tudo aquilo que existe para a conferência.
quem cometeu infrações perante a sociedade. Influência do tipo de personalidade na classe do testemunho
E além do mais, essas pessoas morais tendem a contar o fato Pode-se afirmar que a influência da personalidade acontece-
numa intensa certeza, para que não surja dúvidas para que conti- rá conforme a identificação do indivíduo que declara fato ou algo
nuem com sua moralidade em alta, enquanto os imorais já pensam que testemunhou, sendo assim indispensável o exame psicológi-
que não tem nada a perder continua respondendo a inverdade, co, dentre assim cabe a quem interroga analisar como procedera
isso porque imagina ele se contasse a verdade o que estaria ga- a avaliação psicológica da testemunha, dentro do permitido, pois
nhando com isso, a não ser que tenha que livrar dessa situação com comparada às pessoas mais tímidas, o grau de introversão torna-se
a verdade aí sim contaria ele apenas o que lhe interessar, sem se mais fácil à utilização das técnicas do reconhecimento, para pesso-
comprometer. Por isso deve haver uma breve reflexão psicológica as extrovertida saberá como procederá à execução do interrogató-
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rio avaliando se a mesma tem confiança no que entanto declarou. INFLUÊNCIA DO TEMPO TRANSCORRIDO ENTRA A OBSERVA-
Sendo assim quem interroga deve agir de forma que possibilite a ÇÃO E O TESTEMUNHO – a utilização do tempo em um testemunho
testemunha não se sentir intimidado e acaba dando declarações vai se avaliar conforme as expectativas das informações. Quanto
que a qual não presenciou. mais tempo transcorrido pode obter perda de detalhes;
Nem sempre é coincidente a concepção que os membros do INFLUENCIA DA FORMA DE OBTENÇÃO DO TESTEMUNHO –
sistema judicial e os psicólogos experimentais possuem sobre a prova que a narração espontânea é menos extensa isso quer dizer
capacidade de uma testemunha para prestar declarações precisas quanto mais à testemunha tiver a certeza do que a presenciou vai
sobre os pormenores de um crime ou para identificar o criminoso afirmar com certeza o que testemunhou;
de entre vários suspeitos. ANALISE QUALITATIVA DOS ERROS DO TESTEMUNHO – para
não fugir dos padrões das declarações bastará distinguir as classes
Técnicas do reconhecimento prévio das testemunhas de erros; 1º erro de observação, 2º erro de lembrança, 3º erro de
As técnicas variam conforme os casos, podendo analisar a ca- imaginação, 4º erro de julgamento;
pacidade visual, capacidade auditiva, mas sendo sem dúvida ne- DEDUÇÃO DA PRÁTICA DO EXAME PSICOTÉCNICO – que rever
cessário o exame psicotécnico para definir a capacidade da teste- alguns domínios da psicologia do testemunho que poderão ter im-
munha, por exemplo, estudos sobre o formato do interrogatório: plicações diretas na atividade da capacidade de testemunhar, des-
vários estudos experimentais mostraram que o tipo de perguntas crevendo os fatos, verificando a sinceridade nos testemunhos reais.
efetuadas pelo instrutor do processo pode aumentar ou diminuir a Alguns dos estudos de psicologia experimental descritos atestam
veracidade e a extensão dos fatos ocorridos. Num estudo efetuado indubitavelmente a grande complexidade dos processos cognitivos
por Lipton em 1977, foi apresentada a quatro grupos de sujeitos e especificamente a falibilidade dos processos e percepção e de
uma curta seqüência filmada sobre um assassinato e em seguida memória, mesmo em circunstâncias em que teria de esperar resul-
examinou-se o grau de precisão e extensão dos fatos descritos, de tados mais satisfatórios.
acordo com quatro tipos de questões: Aqui compreende-se a informação em que a psicologia busca
- Declarações livres, por exemplo, o que aconteceu? investigar, indagar e ajudar a questionar o comportamento e os
- Perguntas com respostas abertas, por exemplo, Qual a cor da processos mentais, buscando entender melhor o indivíduo em sua
roupa do assassino? totalidade, observando o modo de pensar de sentir e agir em suas
- Perguntas capciosas, por exemplo, O assassino vestia casaco atitudes comportamentais e mentais dentro de uma sociedade. Por
de couro? outro lado nos deparamos com o direito que tenta desvendar a ver-
- Perguntas de escolha múltipla, por exemplo, A cor do cabelo dade. A partir dessas definições é que surgiu a junção da psicologia
do assassino era preto, castanho ou louro? ao direito unindo-se como uma psicologia jurídica, fazendo essa
junção mente essência da verdade, por isso este ramo da psicolo-
Os resultados obtidos revelaram por um Aldo que o grau de
gia é de extrema importância para a justiça brasileira, pois envolve
precisão das declarações efetuadas é tanto maior quanto mais livre
o contexto das leis nos tribunais, tentando desenvolver todo o per-
forem as respostas, mas, por outro lado, a extensão dos fatos apu-
curso do crime.
rados aumenta com a delimitação das perguntas.
E fazendo uma extensão da psicologia jurídica está a psicologia
Vários estudos experimentais efetuados sobre o formato de in-
judiciária ou testemunhal, visto que ela busca identificar com maior
terrogatório indicam que o processo interrogatório poderá revelar-
clareza, eficiência e eficácia o pensar das testemunhas. Esta teste-
-se útil se for precedido por um processo descritivo e tiver por obje-
munha é identificada por uma pessoa física absolutamente capaz
tivo o preenchimento de lacunas surgidas nas declarações prévias.
e relativamente dotada de capacidade, não sendo assim impedida
por algum fator que é impedido pelo uso da deficiência. Sendo esta
Exame psico experimental da capacidade do testemunho testemunha, capaz relativamente ao testemunho do fato.
No exame psico experimental são utilizadas gravuras ou obje- Dentro de um acontecimento ou fato é imprescindível o valor
tos na reprodução e análise, esses materiais serão submetidos jun- para elucidação do acontecimento, são esses valores: a sinceridade
to a um interrogatório judicial, assim a testemunha descreve o tes- no testemunho, o medo, a insegurança e a confusão ou arrependi-
temunho e as gravuras são calculadas para obtenção do resultado mento.
nos interrogatórios judiciais, método utilizado muito pelos peritos. Visto que serão feitos um adequado interrogatório como meio
Dentre a bateria de provas temos resultados obtidos como: essencial de prova testemunhal. Aonde através deste procedimen-
PRECISÃO – um dos mais importantes, normalmente o tribunal to poderá consequentemente chegar a dois tipos de confissões:
está interessado em saber em que medida a testemunha está mais A confissão patológica e a confissão clássica; a primeira é uma
ou menos segura sobre a identificação do suspeito, tem sido objeto falsa confissão, ou seja, uma verdade irreal, fora do fato, isso por-
de vários estudos de psicologia experimental, pois pode se dizer que pretende obter vantagens, como exemplo a confissão de um
que ninguém chega a um testemunho perfeito; certo crime que não cometeu. Por outro lado esta se trata de uma
EXTENSÃO E PRECISÃO – não existem uma relação entre eles, confissão verdadeira, pois ela surge mediante o fato da testemu-
são dois fatores que variam em razão inversa; nha perceber que já não poderá sustentar a tese, e aí a verdade
EXTENSÃO DO TESTEMUNHO E OUTRAS CONSTANTES – não vem a tona. Visto que segundo MALATESTA, no ser humano há um
estabelece nenhuma relação entre a extensão de um testemunho e instinto de veracidade que se opõe a mentira, que coadjuvado pelo
o valor dos coeficientes que indicamos; remorso, ao recordar do próprio crime, torna-se irresistível, ressal-
PRECISÃO E CONVICÇÃO – o grau de convicção de um teste- tando ainda por ele que a mentira é oriunda do reflexo.
munho não é o suficiente, sendo analisados os erros pelos jurados; Existe ainda influência de várias formas, sobre um determina-
INFLUÊNCIA DO SEXO – é muito importante analisar, pois de- do acontecimento, segundo a percepção. Como é o caso da efetivi-
penderá de quem esteja dando o testemunho, querendo assim de- dade e do hábito.
fender seus interesses, homens ou mulheres;
INFLUÊNCIA DA IDADE – para os psicólogos não é muito con-
fiável crianças e velhos serem testemunhos, pois elas podem ser
influenciadas pela situação de estar em um interrogatório;
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Salientando ainda que é perceptível que a principal distinção língua brasileira de sinais (LIBRAS) ou equivalente, para intermediar
entre o testemunho por relato espontâneo e o obtido por interro- a comunicação, e ainda, se a testemunha for cega poderá testemu-
gatório. Tendo em vista que aquela é apresentada por livre e es- nhar sobre fatos que ouviu.
pontânea vontade, terá a consequência de não obter todas as res- Segundo o Art. 192 do CPP, o interrogatório do mudo, do surdo
postas adequadas ao interrogatório; já nesta é vislumbrando que as ou do surdo-mudo será feito pela forma seguinte:
respostas se encaixam no duelo de perguntas, porém nãos sendo I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que
exata. Diante disso é apresentado um questionário que contém: ele responderá oralmente;
perguntas determinantes feitas de forma direta; perguntas disjunti- II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, responden-
vas completas ou parciais, este sendo que apresenta logo resposta do-as por escrito;
correta, assim inibindo as outras; já as perguntas diferenciais visam III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito
a confirmação ou negação, através de sim ou não e por fim o mais e do mesmo modo dará as respostas.
importante que é a afirmativa por presunção que leva o indivíduo a Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever,
se contradizer com as suas próprias palavras. intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habi-
E os meios para se obter o máximo de sinceridade nas respostas litada a entendê-lo.
perguntadas é analisada como absurda na afirmativa por presun- Art. 223.Quando a testemunha não conhecer a língua nacional,
ção, pois propõe caso de inveracidades nas respostas, acarretando será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e respostas.
punições e podendo ser divina ou humana. Logo ao ser constatado Parágrafo único.Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo,
que a elucidação do fato está complexa, é feita consequentemente proceder-se-á na conformidade do art. 192.
uma declaração centrípeta, a qual não observa o fato em si, e sim Desde o nascimento do processo, as partes tem a obrigação
os acontecimentos que o cercam. de produzir as provas necessárias para provar os fatos alegados na
Acreditando ainda que surjam algumas causas de inexatidão inicial, bem como os fatos contraditados na defesa do réu, pois o
testemunhal como é o caso do hábito, sugestão, confusão do tem- magistrado irá julgar com observação as provas produzidas.
po e tendência afetiva. Por fim dentro da psicologia do testemunho Dentre vários meios de provas, a prova testemunhal é conside-
existe o exame psico-experimental, sendo feito com gravuras, obje- rada a mais antiga de todas, embora muitos a considere pejorativa-
tivo de calcular o resultado no interrogatório, assim obtendo resul- mente “a prostituta das provas”, exatamente por ser suscetível de
mentiras, pela memória humana ser falha.
tados como precisão, extensão e pree]cisão convicção; influência
A produção da prova testemunhal, geralmente é realizada na
do sexo e influência da idade.
audiência de instrução julgamento, exceto nos casos que pode
Portanto é necessário saber utilizar com melhor eficiência o
ocorrer a oitiva da testemunha de forma antecipada.
uso da psicologia aplicada ao direito, especialmente na psicologia
A prova testemunhal tem como objetivo nortear o juiz na for-
testemunhal, formando novos profissionais e aplicadores do direito
mação de seu convencimento, demonstrando desta forma os ver-
convicto de seu papel em meio a sociedade, não separando a psi-
dadeiros fatos, para que no final o magistrado com base nas provas,
cologia do direito, mas sim aproveitando a oportunidade de novas
julgue a demanda.
pesquisas e métodos para melhor facilitar as investigações e conhe-
Em se tratando da prova testemunhal, deve se ater aos minu-
cimentos sobre determinado fato. ciosos detalhes, pois não basta arrolar a testemunha e aguardar o
seu depoimento em audiência de instrução, deve ser observado; o
RESTRIÇÃO EM SER TESTEMUNHA momento correto para arrolar a testemunhas; a quantidade permi-
“Em regra, qualquer terceiro pode testemunhar” (NEVES, tida; verificar se há possíveis motivos de contradita e deverá estar
2017, p. 791), não existe previsão legal ou requisitos específicos atento para o comparecimento da testemunha na audiência.
para ser testemunha, no entanto, nos termos do art. 447, do Códi- No que diz aos direitos e deveres das testemunhas, entre os
go de Processo Civil, há previsões das hipóteses que impossibilitam quais está a importância de dizer a verdade, o de serem reembol-
a oitiva de testemunhas. Nos casos de incapacidade, suspeição e sadas dos valores gastos com sua locomoção, e o direito de ser tra-
impedimento. tada com respeito.
No presente artigo ficou demonstrado que a prova testemu-
Os incapazes nhal e de extrema importância para o processo de conhecimento, e
Nos termos do art. 447, § 1º: de grande valia para a formação do convencimento do juiz.30
São incapazes:
I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental; DA CONFISSÃO
II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento men- Historicamente nosso sistema de provas admitia legitimamen-
tal, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, te os mais variados métodos para a obtenção da confissão de um
ou, ao tempo em que deve depor, não está habilitado a transmitir acusado. Formas insidiosas que iam desde perguntas feitas duran-
as percepções; te altas horas da madrugada através de coações morais, a outros
III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos; meios mais absurdos em sua maioria cruéis, desumanos e degra-
IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos dantes.
sentidos que lhes faltam. Torna-se evidente o quanto tais provas eram passíveis de irre-
GONÇALVES (2015, p. 540) explica que as testemunhas previs- gularidades materiais. Nessa perspectiva, a Carta Magna de 1988
tas nos incs. I e II são incapazes pela faltado discernimento para veio prevê em seu artigo 5.º uma série de direitos e garantias aos
discorrer sobre os fatos; no inc. III pela falta de maturidade neces- brasileiros e estrangeiros residentes no País. Dentre esses, destaca-
sária;e no inc. IV, pela falta de aptidão para ter informações a res- -se sobre o tema em discussão, o fato de que ninguém deverá ser
peito dos fatos. considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
Cabe observar, que na hipótese inc. IV, a proibição está rela- condenatória, além do direito de o preso permanecer calado, sen-
cionada ao fator perceptivo, nada impede que o surdo testemunhe do-lhe assegurado o contraditório e a ampla defesa, com os meios
sobre fatos que viu, nos termos do art. 162,inc. II, do Código de e recursos a ela inerentes. Além disso, o Brasil é signatário da Con-
Processo Civil, desde que com o auxílio de profissional habilitado na 30 Fonte: www.lex.com.br/www.conteudojuridico.com.br
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venção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da chamada confissão delatória ou delação. Esse tipo qualificado de
Costa Rica), a qual dispõe em seu artigo 8.º como garantias judiciais testemunho poderá proporcionar ao indiciado ou acusado o bene-
o direito de o acusado não ser obrigado a depor contra si mesmo, fício da delação premiada, matéria de inovação legislativa prevista
nem se declarar culpado, e que o processo penal deve ser público, em várias passagens do ordenamento jurídico brasileiro, mas que
salvo no que for necessário à preservação dos interesses da justi- pode ser exemplificada a partir do exposto no artigo 159, § 4º do
ça. Trata-se de uma tendência de ordem internacional que apenas Código Penal (inserido a partir da Lei nº. 9.269/1996), in verbis: “Se
reafirma o propósito dos países adeptos dessa Convenção em con- o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à
solidar no continente Americano dentro do quadro das instituições autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena
democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, reduzida de um a dois terços.”
fundado no respeito dos direitos inerentes ao ser humano. A discussão sobre a delação é consideravelmente extensa,
Na sistemática probatória do Código de Processo Penal atual principalmente no tocante à delação premiada, pois além de ser
são elencadas várias espécies de provas, as quais se encontram dis- um assunto recente na seara processual pátria, é também alvo de
ciplinadas entre os artigos 155 a 250, são elas: a) o exame de corpo duras críticas da doutrina, em vista de ter o legislador brasileiro su-
de delito e as perícias em geral; b) o interrogatório do acusado; c) postamente deixado lacunas em algumas passagens pertinentes ao
a confissão; d) o ofendido; e) as testemunhas; f) o reconhecimento tema na legislação extravagante.
de pessoas e coisas; g) a acareação; h) documentos; i) indícios; j) e
a busca e apreensão. DA VALORAÇÃO DA CONFISSÃO NO PROCESSO PENAL
A confissão está prevista entre os artigos 197 a 200 do CPP. A análise sobre a prova de confissão no processo penal bra-
Constitui um grandioso instrumento para que o juiz alcance a ver- sileiro já fora realizada seguindo ditames diferentes do que se vê.
dade dos fatos no decorrer do processo. Esse importante meio de
Épocas em que a examinavam isoladamente, não se exigindo o seu
prova é muito bem conceituado por Guilherme de Souza Nucci, ten-
confronto com os demais meios probatórios.
do em vista a amplitude de elementos que lhe fora auferida:
Atualmente, para que a confissão seja aceita recomenda-se
Confessar, no âmbito do processo penal, é admitir contra si, por
a sua confrontação com outros elementos de prova existentes no
quem seja suspeito ou acusado de um crime, tendo pleno discerni-
mento, voluntária, expressa e pessoalmente, diante da autoridade processo. A auto-incriminação deve ser avaliada com certa cautela
competente, em ato solene e público, reduzido a termo, a prática de pelo magistrado, não mais a aceitando como a regina probationum,
algum fato criminoso (Manual de execução penal e execução penal, devido a sua incoerência e ilegitimidade em muitos casos. Em feliz
p. 437). análise sobre o valor da confissão em matéria penal Michel Fou-
Percebe-se que não basta a mera confissão do acusado para cault assevera:
que esta seja aceita. Ela deve inicialmente ser sobre fato criminoso, A confissão, ato do sujeito criminoso, responsável e que fala, é
realizada por pessoa possuidora de discernimento suficiente para a peça complementar de uma informação escrita e secreta. Daí a
julgar os fatos com clareza e equilíbrio, prestada espontaneamente importância dada à confissão por todo esse processo de tipo inqui-
e livre de qualquer espécie de coação. Trata-se de ato de nature- sitorial. Daí também as ambiguidades de seu papel. Por um lado,
za personalíssima, devendo ser feito expressamente pelo próprio tenta-se fazê-lo entrar no cálculo geral das provas; ressalta-se que
acusado sem deixar qualquer dúvida quanto sua autenticidade. Tal ela não passa de uma delas; ela não é a evidentia rei; assim como
ato deve cumprir com as formalidades legais de ser solene, público, a mais forte das provas, ela sozinha não pode levar à condenação,
posto a termo e realizado perante autoridade competente, evitan- deve ser acompanhada de indícios anexos, e de presunções; pois
do que se torne um mero testemunho. já houve acusados que se declararam culpados de crimes que não
O descumprimento de qualquer desses requisitos poderá tinham cometido; o juiz deverá então fazer pesquisas complemen-
acarretar no ferimento ao devido processo legal e na consequente tares, se só estiver de posse da confissão regular do culpado (Vigiar
invalidação da confissão do acusado. Assim, proíbe-se terminan- e punir, p. 35).
temente qualquer meio que venha a ferir os direitos e garantias É evidente a importância da confissão na resolução de inves-
fundamentais estabelecidos no Texto Constitucional, sob pena de tigações delitivas. Mas, para se evitar injustiças é necessário que o
ir contra ao próprio Estado Democrático de Direito. magistrado tente descobrir o motivo que impulsionou o depoente a
A prova de confissão, em regra, é prestada na fase de inter- prestar tal colaboração, já que várias circunstâncias podem levar o
rogatório. Contudo, é passível de retratabilidade e divisibilidade, acusado a se auto-imputar da prática de um ato delituoso.
podendo o confitente desdizer-se a qualquer momento, bem como Na doutrina, apesar das possíveis divergências, podemos en-
confessar somente parte da conduta praticada, desde que tudo contrar algumas de tais situações, como por exemplo, as enumera-
seja colocado a termo nos autos do processo. Detalhes que não
das por Tourinho Filho: 1) desejo de morrer; 2) debilidade mental;
impedem o magistrado de desconsiderar sua nova versão sobre os
3) vantagem pecuniária; 4) relevante valor moral ou social; 5) fana-
fatos antes ditos ou de considerar somente parte destes, já que
tismo religioso; 6) ocultação de delitos mais graves, dentre outras.
está atinente ao seu livre convencimento “preservado e fundado
Logo, visa-se na análise valorativa da confissão a sua confron-
no exame global das provas colhidas durante a instrução”. [1]
Quanto às espécies de confissão a doutrina é divergente, no tação com todos os elementos existentes nos autos, que vão desde
entanto, é praticamente unânime no que se refere a judicial e a outros tipos de provas até os fundamentos que levaram o acusado
extrajudicial. A primeira, naturalmente, é a realizada diante da au- a se auto-incriminar. Com isso, evita-se que a confissão, isolada-
toridade judicial competente para o julgamento do caso. Já a se- mente, possa levar a sua condenação. Repudia-se assim, a análise
gunda poderá ser feita perante autoridades do âmbito policial ou de tal prova de forma absoluta, jamais aceitando que ela, por si só,
parlamentar, munidos de atribuição para ouvir o acusado através possa levar o réu a condenação.
de declarações, as quais só terão valor se confirmadas pelo juiz. A confissão em matéria penal é assunto bastante controver-
Posto isso, e realizada a confissão, o réu deverá ser perguntado tido tanto na doutrina como jurisprudência, principalmente no
sobre os motivos e circunstâncias do fato ocorrido, bem como se tocante a sua valoração quando inexistente outra espécie de pro-
outros sujeitos concorreram para a prática delituosa. Caso admita va. Pois, percebeu-se em pesquisas para reunião de material que
a autoria, revelando também a participação de terceiro, haverá a existem decisões divergentes do ora defendido (o que chega a ser
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normal conhecendo a farta jurisprudência deste país). Visões que toridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcreven-
ao contrário do que se perquiriu ao longo deste trabalho admitem do-se as declarações desta e as da testemunha presente, nos pon-
a confissão judicial com valor absoluto, ainda que seja o único ele- tos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim
mento de prova. A partir disso, a confissão serviria de base à conde- de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente,
nação, só podendo ser recusada em circunstâncias especialíssimas, pela mesma forma estabelecida para a testemunha presente. Esta
mais precisamente nas que sejam evidenciadas a insinceridade, ou diligência só se realizará quando não importe demora prejudicial ao
quando tiver prova veemente em contrário. Trata-se do acórdão processo e o juiz a entenda conveniente.
n°. 70023593569 de apelação julgada em 2008 pela Sétima Câmara
Criminal do sempre colendo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Pressupostos
Grande do Sul. A doutrina enumera os seguintes pressupostos como condi-
Destarte, independente das divergências supracitadas deve a ções para que a acareação seja realizada. São eles: a) que ocorra
prova de confissão está em conformidade com os preceitos da sua entre depoimentos; b) que as pessoas já tenham prestado suas
relativização no processo penal. declarações; c) que haja divergência; d) que essa divergência seja
Fonte: www.conteudojuridico.com.br sobre fato ou circunstâncias relevantes; e) que seja a divergência
manifesta e irreconciliável; f) não puder chegar à verdade pelas de-
DA ACAREAÇÃO mais provas produzidas nos autos; g) que os depoimentos tenham
Segundo o dicionário Aurélio, “acarear” é um verbo transitivo sido prestados no mesmo processo/procedimento.
direto que significa “1. Pôr cara a cara, ou frente a frente; afrontar, Assim, somente poderá ser realizada a acareação quando ocor-
enfrentar, acarar. 2. Pôr (testemunhas cujos depoimentos ou decla- ra divergência entre depoimentos, isto é, entre pessoas físicas e
rações não são concordes) em presença uma das outras” (FERREI- não entre pessoa e documento ou pessoa e laudo pericial.
RA, p. 08). É necessário, também, que haja divergência (vexata quaestio),
O significado da palavra “acareação”, também chamada de ou seja, as declarações dos depoentes devem ser contraditórias,
acareamento, careação ou confrontação, consiste, pois, no ato de discordantes, discrepantes. Essa divergência deve ser manifesta,
colocar frente a frente (vis-à-vis) pessoas que prestaram seus de- irreconciliável e sobre fato ou circunstâncias relevantes, que re-
poimentos de forma divergente. almente interessam ao processo, sem a qual, não se pode chegar
Nestor TÁVORA e Rosmar ANTONINNI lecionam que “Acarear à verdade. Assim, fatos ou circunstâncias secundárias (como, por
ou acaroar é pôr em presença, uma da outra, face a face, pessoas exemplo, a cor da roupa que usava, se chovia ou se estava frio no
cujas declarações são divergentes”. (p. 385). Fernando CAPEZ, por dia) não são suficientes, por si só, à permitir a acareação.
sua vez, conceitua a acareação como sendo “Ato processual consis- Sobre esse assunto, Renato BRASILEIRO de Lima adverte que
tente na colocação face a face de duas pessoas que declaram dife- “Deve haver divergência sobre ponto relevante no relato dessas
rentemente sobre um mesmo fato (...) destinando-se a ofertar ao pessoas, ou seja, é necessário que existam contradições ou versões
juiz o convencimento sobre a verdade fática, reduzindo-se a atermo discrepantes sobre os fatos que realmente interessa ao deslinde do
o ato de acareação” (p. 158). processo” (p. 1023).
Não é outro o entendimento de Julio Fabbrini MIRABETE (p. E também é o ensinamento de Gilson de SOUZA e Marcos TI-
311): CIANELLI (p. 203):
Acarear (ou acoroar) é pôr em presença uma da outra, face Tanto os fatos como as circunstâncias divergentes devem ser
a face, pessoas cujas declarações são divergentes. A acareação é, relevantes para autorizar o ato de acareação. Relevante é aquilo
portanto o ato processual consistente na confrontação das decla- que tem importância, que é necessário esclarecer para a busca da
rações de dois ou mais acusados, testemunhas ou ofendidos, já verdade real. Sem a realização do ato não se pode chegar à verdade
ouvidos, e destinado a obter o convencimento do juiz sobre a ver- por outros meios de prova. Desta forma, meras divergências perifé-
dade de algum fato em que as declarações dessas pessoas forem ricas, que não guardam relação direta e fundamenta com o mérito
divergentes. e a adequada convicção judicial, devem ser desconsideradas para
Portanto, sem mais delongas, pode-se conceituar a acareação fins de acareação.
como sendo um ato processual, meio de prova, em que há uma O pressuposto seguinte é não existir outras provas nos autos
confrontação entre duas ou mais pessoas (chamadas acareadas), que possam suprir a acareação. A confrontação deve ser o único
cujos depoimentos foram conflitantes, a fim de que, frente à Au- meio para se obter a verdade. Existindo outro meio, desnecessária
toridade competente, esclareçam as divergências apresentadas é a realização desse meio de prova.
anteriormente, em busca da apuração da verdade real e harmonia Por fim, os depoimentos devem ter sido colhidos no mesmo
probatória. processo/procedimento. No caso de divergência pessoal ocorridos
em processos diversos não será procedida a acareação (como, por
Natureza Jurídica exemplo, em um crime de roubo majorado pelo concurso de pes-
A acareação está prevista no Código de Processo Penal, no Tí- soas e corrupção de menores, que tramitou, para o maior, no Juízo
tulo VII (Da Prova) no Capítulo VIII (Da Acareação). Destarte, o insti- Criminal e, para o adolescente, no Juízo da Infância e da Juventude.
tuto da acareação é um meio de prova, de índole intimidatória. Eis Assim, mesmo existindo divergência nos depoimentos colhidos nos
os artigos correspondentes sobre o assunto: processos diversos, não é possível a realização da acareação). Em
Art. 229 - A acareação será admitida entre acusados, entre suma, os depoimentos devem ter sido prestados no mesmo proces-
acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou tes- so ou procedimento administrativo (inquérito policial).
temunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sem-
pre que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circuns- Sujeitos
tâncias relevantes. A lei processual penal estabelece que a acareação poderá ocor-
Art. 230 - Se ausente alguma testemunha, cujas declarações di- rer entre acusados, entre acusado e testemunha, entre testemu-
virjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer nhas, entre acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as
os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar ou pessoas ofendidas. Os informantes também podem ser sujeitos da
observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à au- acareação, vez que esse rol é exemplificativo.
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Norberto AVENA leciona que, além das pessoas citadas no ar- Ainda, sobre o momento da realização da acareação, o Pleno
tigo 229 do Código de Processo Penal, poderão, também, serem do Supremo Tribunal Federal já decidiu que “O momento oportuno
incluídos neste rol os peritos. Eis seu magistério (p. 537): para a acareação se dá depois da colheita de toda a prova oral”
E quanto aos peritos? Não havendo previsão do procedimento (STF, AP. 470 Q.05/MG. Rel. Joaquim Barbosa. Julg. 08.04.2010).
no referido art. 229 do CPP, entendemos que, nessa hipótese, ape- No inquérito policial (art. 6º do CPP), a presidência é do Dele-
nas excepcionalmente poderá ser determinada a acareação. (...) gado de Polícia e pode ser realizada por iniciativa própria, ou por
Havendo, porém, fundados elementos que permitam à autorida- requisição do Magistrado ou do membro do Ministério Público. Os
de convencer-se de que um dos peritos realizou, deliberadamente, interessados (investigado, advogado ou ofendido) também podem
falsa perícia, prestando informações evidentemente inverídicas, requerer a realização da diligência.
entendemos viável, embora por exceção, possível, nesse caso, que Já em juízo, ou seja, no curso do processo penal, a medida po-
seja determinada a acareação. derá ser realizada de ofício, pelo Magistrado que preside a ação pe-
Contudo, em se tratando de divergência entre os advogados nal, ou a requerimento das partes (Ministério Público ou Defensor)
dos réus, do querelante, assistente de acusação ou do membro do ou do assistente de acusação.
Ministério Público, o mesmo autor entende que “é absolutamente Norberto AVENA cita ainda a possibilidade do representante
despropositado pretender-se a acareação, salvo, é claro, se, afas- do Ministério Público presidir acareações, quando “estiver ele ins-
tados do processo, estiverem na condição de testemunhas, obser- truindo expediente de investigação criminal formalmente instaura-
vada, sempre, a regra do art. 207 do CPP, que proíbe de prestarem do no âmbito da Promotoria de Justiça” (p. 537). Salvo essa hipó-
depoimento quem saiba do fato em razão de função, profissão, ofí- tese, não poderá presidir a acareação, devendo requisitar o ato à
cio ou ministério” (AVENA, p. 538). autoridade competente.
Deste modo, a acareação poderá ocorrer entre os depoentes
da persecução criminal e, em casos excepcionais, entre os peritos. Procedimento
O procedimento da acareação é simples: as pessoas envolvidas
Da obrigatoriedade dos sujeitos na divergência serão notificadas a comparecer perante a autori-
Conforme Edilson MOUGENOT Bonfim, “Não é o indiciado dade presidente, para que prestem seus esclarecimentos. A aca-
ou o réu obrigado a participar da acareação, porquanto ninguém reação pode ser efetuada tão logo (rectius, imediatamente) sejam
está obrigado a fazer prova contra si mesmo, conforme o princípio prestados os depoimentos, na mesma audiência da inquirição, dis-
nemo tenetur se detegere (privilegie against self-incrimination), pensando-se assim a notificação prévia.
decorrente da combinação dos princípios da presunção do estado Comparecendo no local determinado, serão colocadas uma em
de inocência (art. 5º, LVII), ampla defesa (art. 5º, LV), com o direito frente à outra, “dir-lhes-á que em seus depoimentos há divergência
ao silêncio do acusado (art. 5º, LXIII). Nada, porém, impede a con- e, depois de salientar onde repousa a colidência (lendo os trechos
dução coercitiva do indiciado ou do acusado ao ato da acareação”. colidentes dos depoimentos), pedirá aos acareados que expliquem
(p. 362). a divergência” (TOURINHO FILHO, p. 346). Em regra, tem caráter
Fernando TOURINHO Filho entende, nesse mesmo sentido, predominantemente oral.
que “o indiciado ou réu não é obrigado a participar da acareação. Após, “os acareados poderão confirmar as declarações ante-
Se ele tem até o direito ao silêncio, com muito mais razão o de opor- riormente prestadas, o que geralmente acontece, ou modifica-las.
-se a uma acareação que lhe poderá ser prejudicial” (p. 346). Então, o ato de acareação é reproduzido em um tempo onde ficam
Contudo, em relação à obrigatoriedade das testemunhas e do consignadas as perguntas feitas a cada um dos acareados e suas
ofendido, a doutrina não é unânime sobre o assunto. Por um lado, respectivas respostas, auto este a ser subscrito pelo escrevente, e
Norberto AVENA ensina que “Não há, efetivamente, como cons- assinado por todos” (LIMA, p. 1024).
tranger alguém a submeter-se ao procedimento da acareação, se-
jam acusados, testemunhas ou ofendidos. (...) embora não se possa Por precatória (ou indireta)
obrigar alguém a participar do ato, isto não significa que inexista No caso de alguma testemunha estiver ausente, e suas decla-
obrigação de a ele fazer-se presente” (p. 538). rações sejam divergentes, primeiramente, será notificada a pessoa
Com posicionamento diverso, Eugênio PACELLI de Oliveira ad- acareada para que preste suas declarações. Na hipótese de mantê-
verte que as testemunhas e o ofendido têm o dever de depor “e po- -la, persistindo a divergência, será expedida carta precatória a fim
derão ser responsabilizados criminalmente por eventual falsidade de que a pessoa residente em outra comarca preste suas declara-
nos seus depoimentos. As testemunhas, pelo crime e falso testemu- ções. Nesta carta precatória constarão as declarações de ambas as
nho (art. 342, CP), e o ofendido, pelo crime de denunciação calunio- pessoas acareadas e os pontos divergentes.
sa (art. 339, CP), sem prejuízo do crime de desobediência (art. 330, Sobre o assunto, veja-se, a propósito, a lição de Edilson MOU-
CP), cabível em relação a ambos”.(p. 428). GENOT Bonfim (p. 362):
Portanto, embora tenha o réu ou indiciado que comparecer ao Quando ausente um dos acareados, pode-se proceder à “aca-
ato da acareação, não é obrigado a participar efetivamente da aca- reação indireta”, que a rigor não constitui acareação, já que não
reação, e, sobre as testemunhas e os ofendidos, a doutrina diverge haverá confrontação entre os acareados. Nessa modalidade, ao
sobre o assunto. acareado presente será relatado o que houver de divergente entre
seu relato e o do acareado ausente, consignando-se nos autos a sua
Momento, iniciativa e presidência explicação ou observação. Subsistindo a discordância, expedir-se-á
A acareação pode ser feita nas duas fases da persecução crimi- precatória à autoridade do lugar em que resida o acareado ausen-
nal, seja na fase extrajudicial (em qualquer momento da colheita te, se se situar este em local conhecido, a fim de que seja ouvido,
dos elementos informativos, desde que após os depoimentos con- pela mesma forma estabelecida para o que se fazia presente. Na
traditórios) ou em Juízo (na audiência uma de instrução e julga- precatória deverão ser transcritas as declarações de ambos os aca-
mento), podendo ser realizado logo após (imediatamente) as suas reados, nos pontos em que divergirem, bem como a resposta do
oitivas. acareado presente.
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Com o advento da Lei nº 11.900/2009, tornou-se possível ao Comportamento dos acareados
magistrado determinar a oitiva do acareado ausente por meio de Norberto AVENA entende que se deve verificar o comporta-
videoconferência, conforme aplicação análoga do artigo 222, § 3º mento dos acareados, no momento da nova oitiva, como, por
do Código de Processo Penal. exemplo, “nervosismo repentino e excessivo, relutância em respon-
Essa modalidade de acareação (indireta) descaracteriza com- der as perguntas olhando para a outro acareado, rubor ou sudorese
pletamente o instituto, vez que as pessoas não são colocadas frente momentânea, etc. Isso porque tais sinais físicos, visíveis, embora
a frente, afastando-se, assim, seu caráter intimidativo. não possam ser conclusivos, podem constituir, muitas vezes, fator
a ser levado em conta para a maior ou menor valoração dos depoi-
Poder discricionário do juiz mentos cujas contradições buscou-se esclarecer” (p. 536).
Como meio de prova, a acareação pode ser indeferida (cf. STJ. Todavia, diferentemente desse posicionamento, TOURINHO FI-
HC 144.847/SP. Rel. Jorge Mussi. T5. Julg. 20.10.2011), desde que LHO leciona que tais sinais corporais são insuficientes para valorar
fundamentadamente pela Autoridade. Embora conste na parte fi- os depoimentos. Diz que “Muitas vezes quem se comporta assim é
nal do art. 230 do Código de Processo Penal, a advertência é aplicá- o homem de bem que ficou indignado e irritado com a desconfiança
vel para qualquer momento da acareação: somente será realizado da autoridade. Já o outro (o verdadeiro mentiroso), pelo fato de já
se não importar em demora prejudicial ao processo/procedimento estar acostumado às velhacarias, às safadezas, permanece impassí-
e caso a autoridade presidente entenda relevante, pautando-se vel, disfarçando com serenidade o seu despudorado cinismo, alheio
sempre pelos critérios da razoabilidade e necessidade. a tudo que se passa em seu derredor, como se nada o atingisse” (p.
Sobre o assunto, novamente a lição de Renato BRASILEIRO de 348/349).
Lima (p. 1023/1024): Assim, o simples fato de um dos acareados demonstrar com-
Como raramente a acareação leva à solução das divergências portamento estranho, não pode ser deduzido a favor ou contra si.
entre os relatos, nada impede que o magistrado, fundamentada- Outras críticas doutrinárias
mente, e dentro de um juízo de conveniência que é próprio do seu Por fim, com a acareação, embora meio de prova legalmente
regular poder discricionário, indefira sua realização, caso entenda previsto na legislação processual penal, dificilmente se soluciona
que se trata de diligência protelatória ou desnecessária, o que não as divergências entre os depoentes, mostrando-se, na maioria das
caracteriza cerceamento de defesa. vezes, não só impertinente como sem sentido.
Neste sentido, eis o seguinte precedente do Supremo Tribunal Eugênio PACELLI de Oliveira doutrina que se o réu/investigado
Federal: não tem compromisso com a verdade e possui o direito ao silên-
(...) ACAREAÇÃO ENTRE TESTEMUNHAS. ATO INDEFERIDO cio, é ilógico que se proceda a acareação consigo. Assim, para esse
PELO MAGISTRADO. FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA. OFENSA AOS autor, “a acareação somente poderá ocorrer entre testemunhas, e
PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO, BEM COMO entre testemunhas e o ofendido, ou entre os ofendidos, já que estes
ÀS REGRAS DO SISTEMA ACUSATÓRIO. INOCORRÊNCIA. DEFERI- têm o dever de depor e poderão ser responsabilizados criminalmen-
MENTO DE PROVAS. DECISÃO DISCRICIONÁRIA DO MAGISTRADO. te por eventual falsidade nos seus depoimentos” (p. 428).31
I - O deferimento de provas submete-se ao prudente arbítrio do
magistrado, cuja decisão, sempre fundamentada, há de levar em
conta o conjunto probatório. II – É lícito ao juiz indeferir diligências ASPECTO S MÉDICO‐LEGAIS DAS LESÕES CORPORAIS E
que reputar impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. III – DOS MAUS-TRATOS A MENORES E IDOSOS
Indeferimento de pedido de acareação de testemunhas, no caso,
devidamente fundamentado. IV – Inocorrência de afronta aos prin-
cípios da ampla defesa e do contraditório ou às regras do sistema O artigo 186, do código civil brasileiro, declara como lesão
acusatório (...) (STF. RHC 90.399/RJ. Rel. Ricardo Lewandowski. T1. corporal “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
Julg. 27.03.2007). ouimprudência, violar direito ou causar dano a outrem, ainda que
Importante esclarecer que o indeferimento da produção da exclusivamente moral, comete ato ilícito”. O dano deve resultar em
prova é realizado pelo Juiz da causa. Não se fala aqui em indeferi- alteração objetiva, mensurável, observável, mesmo que fugaz na
mento motivado pelo Delegado de Polícia, vez que, como sabido, o estrutura orgânica ou psíquica da pessoa, relacionada à ação cau-
inquérito policial tem como características a ausência de contradi- sadora.
tório e ampla defesa, sendo seu caráter eminentemente inquisito- As lesões corporais podem ser leves (sem consequência para
rial. Porém, no caso de requisição (do Juiz ou Ministério Público), a vítima, são as mais comuns na perícia e as mais frequentes são
deve a autoridade policial realizar a produção da prova. as causadas por ação contundente como edema traumático, es-
Portanto, desde que fundamentado, o magistrado possui po- coriações, equimoses), graves (lesões que ofendem a integridade
der discricionário para deferir ou indeferir a acareação, sem acarre- corporal, incapacitam por mais de um mês ou debilitam permanen-
tar nulidade do processo. Entendendo relevante e que não se trata temente quaisquer de seus membros, sentidos, funções, acelera o
de procedimento manifestamente protelatório, poderá determinar parto, se mulher grávida, ou põe em perigo a vida do indivíduo)
a acareação. Caso contrário, indeferir-se-á, por decisão, expondo e gravíssimas (resulta em incapacidade permanente, enfermidade
os motivos que entenda necessário a não produção da prova. incurável, perda, inutilização de membro, sentido, função, defor-
midade permanente e aborto, em caso de grávidas), segundo a lei
Valor probatório penal, sendo classificadas pelo resultado (consequências) sob o cri-
O valor probatório da acareação é relativo e assemelha-se à tério anatômico e funcional, no organismo da vítima.
prova testemunhal, ou, dependendo do caso, aos depoimentos do Outros tipos de lesão:
ofendido e do interrogatório do acusado/indiciado. a) Lesões corporais seguida de morte: ofende a integridade
corporal ou a saúde do paciente, provoca-lhe a morte sem querer
esse resultado, nem assumir o risco de produzi-lo.

31 Fonte: www.direitonet.com.br
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
b) Lesão corporal qualificadora agravante: produzida por meio Lesões em diferentes estágios de evolução (coloração e aspec-
de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio to) ou presentes concomitantemente em diversas partes do corpo
insidioso ou cruel. são sugestivas de lesões provocadas por violência em diferentes
Os agentes lesivos – forma ou instrumento que resulta em le- momentos. Quando algum instrumento é utilizado para a agressão
são no organismo – podem ser classificados em natureza física (me- pode-se reconhecer sua forma “impressa” na pele das vítimas (cin-
cânica, térmica, elétrica), química (tóxicos, venenos e cáusticos), tos, fios, garfos, cigarros, dentes) podendo até chegar a identifica-
biológicas (agentes infecciosos) ou mistos (naturezas diversas). ção do agressor no caso de mordidas . É importante que a avaliação
das lesões encontradas seja feita com detalhe, considerando tama-
Lesão corporal. nho, bordas, localização e cor das mesmas (CAVALCANTI, 2000)
Definição: qualquer simples alteração causada à integridade
corporal de maneira culposa ou dolosa, na estrutura anatômica ou As lesões são geralmente praticadas pelos pais, responsáveis
mesmo histológica de uma pessoa. ou adultos de confiança da vítima.
Um beliscão ou um tapa é o bastante para caracterizar uma
ofensa à integridade corporal de outrem. Principais fatores de risco de ocorrência:
Lesão corporal leve: lesões resultantes da ofensa a integridade - Situação de stress
corporal ou à saúde de outrem, excetuando-se as lesões graves e - Pobreza
gravíssimas. - Ignorância
Lesão corporal grave: quando resultam em incapacidade para - Deficiência mental ou física da criança
as ocupações habituais por mais de trinta dias, perigo de vida, de- - Alterações psicológicas, dependência química e baixa idade
bilidade de membro, sentido ou função, deformidade permanente, dos pais
aceleração de parto. - Alteração psicoemocional grave dos pais ou responsáveis pela
Lesão corporal gravíssima: incapacidade permanente para o criança
trabalho, perda ou inutilização de membro, sentido ou função, de-
formidade permanente, aborto. Principais formas de maus-tratos:
Lesão corporal seguida de morte: resulta quando, o agente - Abuso físico (normalmente mal explicados pelosresponsá-
alheio ao dolo, lesa a vítima produzindo-lhe a morte. O agente não veis) – equimoses, escoriações, fraturas, queimaduras, traumatis-
assumiu quis o desfecho. A ação é dolosa, mas o resultado é cul- mos recentes associados a outros mais antigos (espectro equimóti-
poso.32 co é importante para o diagnóstico), lesões com assinaturas (cintos,
chicotes, fios, varas, palmatória etc)
Lesões e mortes por arma branca - Privação de alimentos - Subnutrição decorrente de má admi-
As armas podem ser manuais (instrumentos perfurantes, cor- nistração dos alimentos por falta de recurso para compra do ali-
tantes, perfuro-cortantes e corto-contundentes, embora possam mento, dolo, negligência
ser arremessados) ou de arremesso, que podem ser simples (são - Privação de cuidados de higiene - surgimento de doenças der-
totalmente jogadas contra o oponente) ou complexas (dispararam matológicas ou infestações, muitas delas associadas ao quadro de
projéteis contra o oponente). desnutrição – Impetigo Pediculose Escabiose
- Negligência de assistência médica - O adulto deixa, por dolo
Lesões corporais decorrentes de violência física ou negligência, de seguir tratamento médico recomendado para a
A localização da lesão pode ser um importante indício de ocor- criança. Não administra remédios prescrito ou se recusa a fazer tra-
rência de violência física. O segmento corporal mais atingido em ca- tamentos ou internações
sos de violência é a face, justamente por ser a face, a parte do corpo - Negligência de segurança- Crianças pequenas são deixadas
mais exposta e menos protegida. Na maioria das vezes, o trauma sozinhas, sem supervisão. Está presente em qualquer nível social
facial está associado a fraturas dentárias, contusões, equimoses, - Abuso emocional - ameaças, ofensas, broncas, ralhos, fortes
abrasões e lacerações, acometendo principalmente as pessoas jo- repreensões - a criança maltratada, no futuro, como adulta, tende-
vens, pelo fato de serem mais ativas (GODOI et al., 2013; FRANÇA, rá a causar sofrimento a outra criança
2008). - Administração Intencional de DROGAS e VENENOS - Adminis-
O tecido mole é o mais atingido pela violência física, oriundos tração de calmantes, soníferos e outras drogas psicotrópicas lícitas
de golpes, lançamento contra objetos duros, queimaduras, “ar- ou ilícitas. Administração de veneno (para agredir ou atrair a aten-
rancamentos” (cabelos) e ferimentos por arma branca ou arma de ção do outro cônjuge = Medéia)
fogo. As lesões incluem desde hiperemia, escoriações, equimoses - Abuso sexual - Na maioria das vezes ocorre na intimidade dos
e hematomas. (CAVALCANTI, 2000). Lesões como edema orbitário lares, praticado por pessoas próximas à criança. Vítimas de ambos
(palpebral) unilateral, equimoses de bossas frontais, equimoses de os sexos, com predominância do abuso de meninas.
bochecha, labiais e subnasais, equimoses e escoriações periorais,
equimoses mentonianas, mordidas humanas em bochechas, lace- Diagnóstico médico-legal:
rações e deformidades de pavilhão auricular também são lesões Lesões de idades diversas em diversos segmentos do corpo –
comumente encontradas em casos de violência em crianças e ado- lesões com assinatura (marca característica deixada pelo objeto
lescentes (VANRELL, 2009). As queimaduras de 2° e 3° graus são usado na agressão)Lesões de localização delimitada (dorso, glúte-
bastante frequentes, podendo ser observados em mãos, nádegas, os)O estudo radiológico pode apurar fraturas múltiplas, calcifica-
pés e costas, muitas vezes essas queimaduras podem ser geradas ções ósseas em diversas fases e alargamentos episfisários provoca-
por instrumentos esquentados em chamas ou pelo arremesso de dos por agressões repetidas (síndrome de Sylverman)hemorragias
líquidos quentes (COSTA et al., 2007). retinianas e subdurais decorrentes de sacudidelas ou puxões vio-
lentos (síndrome do bebê sacudido)
32 Fonte: www.aulademedicinalegal.blogspot.com.br
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Traumatologia forense de linha mais massa e tem como mecanismo de ação pressão e es-
A traumatologia forense pesquisa as lesões e os estados pa- magamento. Exemplos: machado, dente, foice, unha e facão (VAN-
tológicos, imediatos ou tardios, produzido por violência sobre o RELL, 2009).
corpo humano, nos seus múltiplos aspectos, tratando ainda das
diversas modalidades causadoras desse dano (FRANÇA, 2004). É Tipos e características das lesões
também conceituada por Couto (2011) como o estudo dos aspec- As lesões são produzidas por energias de ordem mecânica, por
tos médicos-jurídicos das lesões, incluindo a extensão do dano, seu serem estas capazes de alterar o estado de repouso ou de movi-
prognóstico, suas repercussões socioeconômicas, bem como suas mento de um corpo, podendo ter suas repercussões internas ou
limitações profissionais. externas (FRANÇA, 2004). São oriundas de um rompimento ou da
Uma força ao entrar em contato com um corpo ou do contrario modificação de um estado inercial. Essas modificações podem pro-
um corpo entrar em contato com uma forma, no ponto onde ocorre duzir lesões em todo ou em parte do corpo, além de provocar da-
essa transferência de energia, produzem-se alterações das estrutu- nos ativos (quando um instrumento em movimento atinge um cor-
ras corporais. As alterações morfológicas ou funcionais do corpo, po parado), passivos (quando o instrumento encontra-se parado e
no local que ocorreu a transferência de energia denominam-se le- o corpo em movimento) ou mistos (quando tanto o corpo como o
sões (VANRELL, 2009). instrumento estão em movimento) (COUTO, 2011). Classificam-se
A Traumatologia Forense ainda é dividida em instrumentos e em punctória, incisa, contusa, perfuroincisa, perfurocontusa e cor-
meios. Os meios são qualquer situação que tenha capacidade de tocontusa (FRANÇA, 2004; COUTO, 2011).
causar um dano mediante a transferência de energia não mecânica Designam-se lesões contusas aquelas provocadas por instru-
e pode ainda ser subdividido em meio físico, químico, físico-quími- mento contundente. Estes instrumentos animados de energia são
co, mecânico, bioquímico e misto (SILVA, 1997; COUTO, 2011). Os capazes de provocar soluções de continuidade e lacerações, mais
instrumentos serão conceituados e classificados abaixo. ou menos extensas, dos tecidos moles, dos vasos, vísceras e das
estruturas osteoarticulares (VANRELL, 2009). Constituem os danos
mais comumente encontrados em laudos médico e odontolegais.
Instrumentos utilizados nos casos de violencia
Em geral, são provocadas por pressão, compressão, descompres-
Conceituados como objeto ou estruturas que transferem
são, distensão, torção, arrasto ou de maneira mista e sofrem uma
energia mecânica os instrumentos, classificam-se em perfurante,
incrível variação (FRANÇA, 2009; COUTO, 2011).
cortante, contudente, perfurocortante, perfurocontudente, corto-
As lesões contusas são classificadas por Vanrell (2009) como
contudente e lacerante. Nos instrumentos perfurantes, a energia
tendo localizações superficiais (rubefações, edema traumático,
é aplicada sobre “um ponto” com mecanismo de pressão/pene-
bossas linfáticas e sanguíneas, hematoma e equimose) e profundas
tração, provocando uma lesão punctória. Exemplos desses tipos
(entorses e luxações, fratura, rotura visceral e esmagamento).
de instrumentos são: alfinete; agulha; sovela; prego e estilete. A
As rubefações não chegam a ser lesões do ponto de vista ana-
aplicação da energia sobre forma de linha com o mecanismo de
tomopatológico, talvez por não apresentarem significativas e du-
deslizamento são características dos instrumentos cortantes. A le- radouras ou permanentes modificações de ordem estrutural, no
são que esse tipo de instrumento provoca é chamada lesão incisa entanto são consideradas sob a visão da Medicina Legal. A rube-
e não incisão, como muitos costumam verbalizar, pois a incisão é fação caracteriza-se pela congestão repentina e momentânea de
entendida como um ato cirúrgico. Navalhas e giletes são exemplos uma região do corpo atingida pelo trauma, evidenciada por uma
desse tipo de instrumento Um mesmo instrumento pode provocar mancha avermelhada, efêmera e fugaz, necessitando averiguação
diferentes tipos de lesões (COUTO, 2011). rápida, pois tem durabilidade pouca. Os tapas na face ou em qual-
Esse talvez seja o tipo de instrumento mais utilizado no mo- quer outro local do corpo que normalmente deixam as impressões
mento das agressões. O instrumento contudente tem aplicação da os dedos do agressor, configuram-se exemplo de tipificação lesio-
energia sobre a forma de área mais massa, atua em um mecanismo nal (FRANÇA, 2004).
de pressão/esmagamento e/ou pressão/esgarçamento, causando O aumento do líquido extracelular e extravascular, provocan-
ferimentos contuso ou lacerocontuso. Temos como exemplos os do distensão com limites nítidos, por vezes com a forma do ins-
cassetetes, chão, muro, pára-choque, pau, braço, perna, dentre ou- trumento é característico do edema traumático (VANRELL, 2009).
tros. A superfície desse tipo de instrumento é em sua grande maio- Neste caso as alterações circulatórias são mais extensas do que nas
ria, plana, podendo variar entre lisa, irregular e áspera (VANRELL, rubefações. Contrariamente ao edema provocado por doenças, o
2009). traumático apresenta bordas bem-definidas ou um pouco maiores
Um estudo realizado por Pimenta e colaboradores, em 2013, do que o instrumento que o causou (COUTO, 2011). O estudo reali-
sobre lesões na região bucomaxilofacial em vítimas de violência zado por Pimenta e colabores em 2013 observou o edema como o
periciadas no Instituto Médico Legal de Feira de Santana-BA, en- tipo de lesão mais prevalente em vítimas de violência periciadas no
tre 2007 e 2009, observou que em 96,5% dos casos, o instrumento IML de Feira de Santana-Bahia (PIMENTA et al., 2013).
contundente foi o mais utilizado nas agressões, sendo a maior par- As bossas linfáticas e sanguínea são produzidas pelo acúmu-
te das lesões resultantes de socos, tapas e empurrões (PIMENTA et lo de linfa ou sangue, quando há um plano subjacente resistente
al., 2013). e impermeável (VANRELL, 2009). Diferencia-se do hematoma por
O perfurocortante tem mecanismo de ação de pressão e desli- apresentar-se sempre sob um plano ósseo e pela sua saliência bem
zamento, a aplicação da energia se da sobre a forma de ponto mais pronunciada na superfície cutânea. É muito comum nos traumatis-
linha e causam ferimentos perfuroincisos. Exemplos: peixeira, faca mos que atingem o couro cabeludo e é conhecido popularmente
e bisturi. Produzindo lesões perfurocontusas o instrumento perfu- como “galo” (FRANCA, 2004).
rocontundente, tem como mecanismo pressão mais penetração e O hematoma distingue-se da bossa sanguínea por apresentar
aplica energia sobre a forma de ponto mais massa. Exemplos de rotura dos vasos sanguíneos com extravasamento de sangue (COU-
instrumentos perfurocontudente são os projétil de arma de fogo TO, 2011). É caracterizado por um lago sanguíneo localizado, po-
e a chave de fenda. Causador das lesões cortocontusas, o instru- dendo apresentar-se de forma superficial ou profunda (VANRREL,
mento cortocontunente tem aplicação da energia sobre a forma 2009).
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
A Sufusão hemorrágica difusa (equimoses) se infiltra na espes- tica e ausencia de retração tecidual (SILVA, 1997). Podem ser clas-
sura dos tecidos, ocasionado pelo rompimento dos vasos em face sificadas como penetrantes (perfurando cavidades), transfixantes
da ação do instrumento contudente. As equimoses tem coloração (atravessando total ou parcial órgãos e estruturas) ou em fundo de
variada, de acordo com sua evolução, sendo que, para a mudança saco (limitam-se ao comprimento ou encontram alguma resistência
de cor é dado o nome de aspectro equimótico, o qual acontece res- (COUTO, 2011)
pectivamente nas cores avermelhada (1⁰ dia), violácea-azulada (2⁰ As lesões cortocontusas são consequência da ação do instru-
ao 6⁰ dia), esverdeada (7⁰ ao 10⁰dia) e amarelada (13⁰ ao 17⁰ dia) mento cortocontudente onde o peso do instrumento e a força de
(VANRELL, 2009; COUTO, 2011). quem o maneja, sobrepõe a ação cortante ou seja esses instrumen-
As escoriações são resultantes da ação tangencial dos instru- tos agem mais por pressão do que por deslizamento (SILVA, 1997).
mentos contundentes que retiram a epiderme deixando a derme As feridas podem apresentar bordas nítidas e regulares quando os
descoberta, podendo ser encontradas isoladas ou associadas a ou- instrumentos estão bem afiados, no entanto, quando isso não ocor-
tros tipos de lesões contusas mais graves (FRANÇA, 2004). Apre- re podemos observar nesse tipo de lesão bordas irregulares com
senta um extravasamento seroprotéico (exsudato) que, depois de equimoses e trabéculas (COUTO, 2011).
ressecado, forma uma crosta brancaamarelada ou, algumas vezes, Apresentando extremidades mais ou menos romba ou que
também sanguinolenta, determinando desse modo uma crosta he- logo assume esse caráter as lesões perfurocontusas tem como ins-
mática. Não geram cicatriz, por não atingirem a camada profunda trumento típico os projétil de arma de fogo, que perfura pela força
da derme, as vezes geram apenas uma mancha hipocrômica por com que atinge a superfície cutânea e contunde pela sua confor-
período limitado de tempo (COUTO, 2011). mação (SILVA, 1997). O ferimento provocado por esse tipo de ins-
O rompimento ligamentar, total ou parcial, consequente ao trumento pode variar de acordo com a distância do disparo e con-
afastamento ósseo da articulação além dos limites fisiológicos, po- forme o projétil seja único ou múltiplo. Podemos encontrar ainda
rém sem luxação, é chamada de entorse (COUTO, 2011). Quando elementos que são único independente da distância entre a arma e
as superfícies articulares perdem o contato, mesmo que tempora- a vítima chamados de efeitos primários do tiro e elementos que só
riamente, falase em luxação. A fratura é a solução de continuidade observamos em tiros a curta distância ou a queima-roupa denomi-
do osso, podendo ser classificada de diversas maneiras, dentre as nado efeitos secundários do tiro (VANRELL, 2009).33
quais, fechada ou exposta, completa ou incompleta, única, múltipla
ou cominutiva, em “galho verde”, transversa, oblíqua, longitudinal, Violencia contra idoso
espiral ou em mapa-múndi (VANRELL, 2009). Resultante de um im- O Instituto Médico Legal (IML) é uma entidade pública vincula-
pacto violento sobre o corpo humano a ruptura visceral em geral é da à Secretaria de Segurança Pública do Estado que presta serviços
consequência de um aumento de pressão, mais ou menos localiza- à comunidade em vítimas de causas externas. A instituição realiza
do, que faz explodir vísceras ocas com conteúdo líquido ou dilacera exames de lesão corporal, ou seja, examina a vítimas de violência
vísceras maciças por tracionamento ou por penetração (FRANÇA, produzidas contra o corpo humano que necessitam do laudo de
2004). Outro tipo de lesão contusa é o esmagamento que segundo “corpo de delito” para materialização dos fatos, conforme a legis-
Vanrell (2009) é provocado por compressões violentas de grandes lação do artigo 158 do CPP: “Quando a infração deixar vestígios,
massas ou por ondas de pressão/descompressão alternadas. será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
As lesões punctórias também chamadas de punctifomes, pela não podendo supri-lo a confissão do acusado”. Dessa forma é um
sua exteriorização em forma de ponto, tem aspecto pontiagudo, grande aliado na repressão ao crime e defesa dos idosos, buscando
alongado e fino, e o diâmetro transverso reduzido, apresentam-se marcas externas dos vestígios deixados pelo agressor na vítima com
com graves repercussões na profundidade do corpo da vítima. Tra- intuito de punir e retirar da sociedade esses criminosos.
zem como características aberturas estreitas, raro sangramento, Estima-se que a população de idosos duplicará até meados do
de pouca nocividade na superfície e, como foi falado a cima tem ano de 2025, ou seja, crescerá cada vez mais e, portanto, deve-
grande gravidade por conta da sua profundidade, em face desse -se ter uma atenção especial a este setor da sociedade. Por conta
ou daquele órgão atingido e é sempre de menor diâmetro que o do disso, no Brasil existe um regimento que defende veementemente
instrumento causador, graças a elasticidade dos tecidos cultâneos essas pessoas, que é o Estatuto do Idoso, cujo artigo 1º relata ser a
(FRANÇA, 2004). Embora circulares, podem ser deformadas pelas lei destinada a regular os direitos assegurados às pessoas com ida-
linhas de forças das fibras elásticas e musculares subcutânea, se- de igual ou superior a 60 (sessenta) anos e aumenta penalmente as
guindo as leis de filhos e langer, que só acontece no vivo (VANRELL, punições contra indivíduos que comentam crime contra os idosos.
2009). Lesões cortantes são aquelas provocadas pelo deslizamento Alguns estudos trazem que a Organização Mundial da Saúde
do instrumento cortante e por leve pressão. Na maioria das vezes definiu maus-tratos à terceira idade como atos ou ausência de ação
apresentam-se com vertentes regulares que se coaptam quando que causem dano, sofrimento e tristeza à pessoa idosa. Apesar de
aproximadas, tem profundidade maior na porção central, grande ser um assunto grave, dados epidemiológicos no Brasil com este
sangramento e presença de cauda de escoriação, fundo limpo sem tema ainda são escassos, como alguns autores demonstram, sendo
trabéculas e margens sem escoriações ou outras lesões contusas. assim necessário que existam publicações que abordem isto, a fim
São encontradas com mais freqüência em casos de acidentes e ho- de sustentar novas políticas públicas que protejam esses cidadãos,
micídios, podendo também ser observada no suicídio. Entre elas pois apesar da existência de um Estatuto do Idoso, na prática, a
destacam-se o esquartejamento, o esgorjamento, degolamento e a violência contra os idosos ainda é crescente e está longe de acabar.
decapitação, nos quais, além da ação por deslizamento, poderemos Do ponto de vista biológico, os idosos apresentam mais comor-
observar a presença de outras formas de energia concomitantes bidades do que a população jovem, o que os torna incapazes de se
(COUTO, 2011).Provocadas por instrumentos de mecanismo mis- defender. Muitas vezes, as reações destes frente à violência são
to as lesões perfuroincisas são normalmente mais profundas do sentimentos de medo, vergonha e culpa, causando um retraimento
que largas ou compridas e apresentam margens, bordas, verten- pessoal, insegurança e fazendo com que as agressões não sejam
tes e hemorragia semelhantes às feridas incisas simples (COUTO, denunciadas às autoridades. Essas violências são de várias esferas,
2011). Se a lesão ocorrer em vida deve-se encontrar impregnação não sendo somente a física, como também a psicológica, sexual e
hemática, formação de coágulos e retração de tecidos, quando negligência, comum aos idosos mais debilitados.
pós-mortem é caracterizada pela ausência de impregnação hemá-
33 Fonte: www.tede2.uefs.br/Norma Bonaccorso
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243
a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Estima-se que o principal agressor de violência e maus tratos Gerais
aos idosos são os próprios filhos, conforme denúncias registradas •abandono ou ausência de cuidador durante longos períodos
por serviços especializados. Estudos descrevem que mais da metade •atividades de risco (cozinhar, mexer com produtos químicos,
das agressões sofridas pelos idosos ocorrem no ambiente domés- etc) realizadas pelo idoso sem supervisão de cuidadores
tico, ou seja, as pessoas mais próximas são as que mais agridem, o •conflitos ou crises recentes na família
que pode ser justificado pelos conflitos familiares. Estudos relatam •problemas com administração de medicamentos
que cerca de 1/5 das pessoas com mais de 60 anos sofreram algum •demanda elevada aos serviços de saúde, especialmente de
tipo de violência doméstica, sendo que grande parte desses idosos urgência, ou ao contrario, retardo na busca de atendimento médi-
apresentam comorbidades, tornando-os mais vulneráveis às com- co, quando necessário
plicações consequentes destas agressões, o que pode implicar em •ansiedade dos familiares ou cuidadores durante as visitas do-
um tempo de maior de internação. miciliares ou hospitalizações
Dessa maneira, a violência contra pessoas acima de 60 anos é •não trazer os registros médicos anteriores para a consulta
algo que não acomete somente a vítima, como também a família, •presença de lesões sem explicações compatíveis
os profissionais de saúde e o sistema de saúde, pois os custos são •divergência entre a história contada pelo paciente e relato
aumentados, os cuidados têm que ser remanejados e os familiares dos responsáveis ou cuidadores
sofrem financeiramente e emocionalmente. Há ainda uma diminui- •achados radiológicos e laboratoriais incompatíveis com a his-
ção da taxa de população que trabalha, afetando desse modo, o tória do paciente ou relato dos cuidadores
mercado de trabalho. • ocultar fraturas prévias

Manifestações clínicas Situações e Fatores de Risco


Como nos outros tipos de violência intrafamiliar, a causa da Entre as diversas circunstâncias que podem favorecer a VCPI
lesão que leva o paciente à unidade de saúde para atendimento podemos destacar:
médico nem sempre é relatada ou fica evidente. – A dependência em todas as suas formas (física, mental, afe-
A equipe de saúde deve suspeitar de maus-tratos ao idoso, tiva, socioeconômica);
na presença das manifestações listadas abaixo. Vale destacar que – Desestruturação das relações familiares;
nem sempre os maus-tratos são praticados de forma intencional, – Existência de antecedentes de violência familiar;
podendo ser resultado do despreparo para lidar com a situação ou – Isolamento social;
das condições socioeconômicas da família ou comunidade. – Psicopatologia ou uso de dependências químicas (drogas e
A abordagem deve ser respeitosa, buscando-se em primeiro álcool);
lugar orientar os familiares ou cuidadores. – Relação desigual de poder entre a vítima e o agressor.

Abuso físico Além das situações anteriores, podemos destacar ainda:


• contusões, queimaduras ou ferimentos inexplicáveis, de vá- – Comportamento difícil da pessoa idosa;
rios formatos, de diferentes estágios e de formatos bem definidos, – Alteração de sono ou incontinência fecal ou urinária que po-
como marcas de corda, ataduras ou contenção nos punhos e tor- dem causar um estresse muito grande no cuidador. A enumeração
nozelos de uma série de características pode nos ajudar a ter uma idéia do
•alopécia traumática ou edema de couro cabeludo perfil das pessoas idosas e dos cuidadores com maior risco de situ-
ações de violência, tendo-se o cuidado de que eles não sejam fato-
Abuso psicológico res de acusações. Precisamos usar com muita cautela e cuidado. O
•comportamentos bizarros: chupar dedo, embalar-se propósito é para servir de alerta sobre a necessidade de prestar um
•transtornos neuróticos apoio aos profissionais que lidam com a questão e não promover
•transtornos de conduta Abuso sexual uma “caça às bruxas”.
•lesão, prurido, sangramento, dor anal ou genital
•doenças sexualmente transmissíveis INDICADORES DE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA
•corrimentos, manchas ou sangramento nas roupas íntimas Há múltiplas situações, condutas, sintomas e sinais que podem
levar a suspeitas da existência de violência. A própria queixa por
Negligência parte da pessoa idosa é um dos indicadores mais sensível e especi-
•desidratação ou desnutrição fico, comum a todos os tipos de violências.
•higiene precária Mas, um indicador de suspeita não pode converter-se num de-
•vestuário inapropriado ao clima/ambiente finidor de violência. A suspeita não confirma por si só a existência
•escaras, assaduras ou escoriações da violência. Ela se caracteriza como um aviso e é recomendando
•impactação fecal ir em busca de mais informação para a definição do diagnóstico.
Damos a seguir os principais indicadores existentes.
Abuso financeiro O que observar?
•necessidades e direitos não atendidos (compra de medica- Determinados comportamentos ou condutas de uma pessoa
mentos, alimentação especial, contratação de ajudantes, livre uti- idosa ou de seus cuidadores podem indicar a possibilidade de que
lização dos proventos) em conseqüência do uso de recursos finan- esteja vivenciando uma situação de violência.
ceiros (aposentadoria, pensão, herança) pela família.
Além destas possíveis evidências, outras observações feitas • Na pessoa idosa
durante o atendimento ao idoso podem levar a equipe a suspeitar – Parece ter medo de um familiar ou de um cuidador profis-
de maus-tratos. Estas observações podem estar relacionadas tanto sional
ao paciente e seu estado geral, quanto ao seus responsáveis e fa- – Não querer responder quando se pergunta, ou olha para o
miliares, ou a ambos. cuidador antes de responder – Se comportamento muda quando o
cuidador entra ou sai do espaço físico onde se encontra
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244
a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
– Manifesta sentimento de solidão, diz que precisa de amigos, •Você participa da vida em família, recebendo informações e
família, dinheiro, etc notícias?
– Expressa frases que indicam baixo autoestima: “não sirvo pra •Você tem sofrido algum tipo de punição ou privações?
nada”, “só estou incomodando” •Você tem sido obrigado a comer?
– Se refere ao cuidador como uma pessoa com “gênio forte” ou •O que acontece quando a pessoa que lhe cuida discorda de
que está freqüentemente “cansada” você?
– Mostra exagerado respeito ao cuidador • Você já foi internado em instituição para idosos sem estar de
acordo? Violência sexual
• No cuidador, possível agressor • Você se sente respeitado em sua intimidade e privacidade?
– Sofre um importante nível de estresse ou sobrecarga nos cui- •Você já se sentiu constrangido pela forma como alguém tocou
dados com a pessoa idosa o seu corpo ou lhe acariciou? Você quer falar sobre esse assunto?
– Dificulta ou evita que o profissional e a pessoa idosa conver-
sem em particular Negligência
– Insiste em contestar as perguntas dirigidas a pessoa idosa •Você está precisando de óculos, aparelho auditivo ou denta-
– Põe obstáculos para que se proporcione no domicilio a assis- dura?
tência necessária a pessoa idosa – Não está satisfeito com o fato de •Você tem ficado sozinho por longo período? Você se sente em
ter de cuidar da pessoa idosa segurança na sua casa?
– Mostra descontrole emocional, fica sempre na defensiva •Você recebe ajuda sempre que necessita? Violência financeira
– Mostra-se excessivamente “controlador” nas atividades que •Você recebe e administra seu dinheiro conforme sua vonta-
a pessoa idosa realiza na vida cotidiana. de?
– Tenta convencer aos profissionais de que a pessoa idosa é •Seu dinheiro já foi usado para atender necessidades de seus
“louca” ou “demenciada” familiares sem o seu consentimento?
– Culpabiliza o idoso por tudo que acontece, inclusive nas suas •Você foi forçado a assinar procuração ou outro documento
condições de saúde. repassando bens ou direitos para outra pessoa?
•Você foi forçado a realizar compras contra a sua vontade?
• Na interação da pessoa idosa e o cuidador •As pessoas que tomam conta de você dependem de seu su-
– Observar as histórias divergentes, contraditórias ou estra- porte financeiro?
nhas acerca de como um determinado fato ocorreu
– Observar se há relação conflitiva entre o cuidador e a pessoa Abordagem terapêutica
idosa, com freqüentes discussões, insultos, etc Idosos e responsáveis pelo seu cuidado devem ser entrevista-
dos juntos e em separado. O levantamento da história do paciente
– Se houve conflitos ou crises familiares recentes
e da família, do papel do idoso na formação e no seu status econô-
– O cuidador mostra-se hostil, cansado ou impaciente durante
mico familiar auxilia no diagnóstico.
a entrevista e a pessoa idosa está demasiadamente agitada ou indi-
Entrevistar o cuidador suspeito de prática de violência exige
ferente na sua presença
uma postura firme, porém delicada: é essencial evitar confrontos
– A relação entre os dois é de indiferença mútua.
para que a conversa seja produtiva.
Demonstrar empatia e entendimento das dificuldades do cui-
Diagnóstico
dador pode facilitar a abordagem, pois freqüentemente eles de-
O isolamento a que são submetidos os idosos, por proble-
sejam ser ouvidos e demonstram alívio quando são ouvidos sem
mas de saúde ou pela falta de autonomia, dificulta o diagnóstico críticas ou julgamentos.
de maus-tratos por vizinhos ou outras pessoas de sua relação. Os O principal objetivo da intervenção e proporcionar ou facilitar
próprios idosos contribuem para que a violência não venha à tona, as condições necessárias para que o idoso tenha a melhor qualida-
pois em geral sentem-se culpados em denunciar o agressor, que de de vida possível. A abordagem do idoso que sofre violência inclui
pode ser um parente próximo. Identificam sua dependência e as providências imediatas, avaliação e cuidados por longos períodos,
dificuldades do cuidado e acham natural que o cuidador não seja reconhecimento dos obstáculos e prevenção. Um esforço deve ser
paciente. feito para a preservação do espaço e vínculos familiares, sempre
A abordagem deve facilitar o diálogo e a observação cuidadosa que possível. Devemos lembrar ainda, que uma percentagem dessa
de sinais e sintomas, sempre levando em conta as dificuldades por população vive em instituições especiais para idosos, encontrando-
que passam tanto o idoso quanto seu cuidador, principalmente no -se vulnerável aos mesmos tipos de violência já mencionados.
contexto de famílias em situação de risco para violência. Se houver suspeita de maus-tratos, a segurança da pessoa
O julgamento de culpabilidade ou apuração de responsabilida- idosa passa a ser prioridade; ao mesmo tempo deve-se respeitar
de não compete a equipe de saúde. Seu papel é facilitar o diálogo, sua autonomia, sempre que a situação permitir. A hospitalização,
agindo com tato e diplomacia na busca da orientação ou encami- algumas vezes, e justificada se a pessoa esta em perigo iminente,
nhamento mais adequados a cada caso. particularmente aquelas que necessitam de cuidados especiais ou
use de medicação. Durante um período de crise, até que a situa-
Perguntas úteis para serem feitas pela equipe quando há sus- ção seja avaliada e controlada, o idoso pode ficar temporariamente
peita de violência contra o idoso: num abrigo caso seja possível. Acompanhamento rigoroso deve ser
Violência física estabelecido.
•Você tem medo de alguém em casa?
•Você tem sido agredido fisicamente?
•Você tem sido amarrado ou trancado no quarto?

Violência psicológica
•Sua família conversa com você com freqüência?
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245
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NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
Outra medida importante é o contato com órgãos estaduais, Exame pericial
municipais e comunitários para os encaminhamentos sociais e ju- O exame de corpo e delito, visa analisar as lesões corporais,
rídicos de proteção à vitima. Instâncias como a Delegacia do Idoso, descrevendo seus aspectos médicos-jurídicos, quanto a extensão,
serviços especializados no trabalho de promoção da cidadania de gravidade e perenidade. Para isso, todo medico legista no Brasil,
pessoas idosas, justiça, ações comunitárias e outros, podem con- após a examinar o paciente, responde os quesitos oficiais específi-
tribuir significativamente para uma avaliação mais ampla e para a cos para a perícia solicitada. De acordo com a Lei 13.721/2018
continuidade do atendimento. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito
Durante a avaliação do caso, deve-se investigar se a pessoa quando se tratar de crime que envolva:
idosa tem condições de executar as atividades de vida diária, como I - violência doméstica e familiar contra mulher;
caminhar, banhar-se, comer, pentear-se, escovar os dentes, barbe- II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com
ar-se, etc. Da mesma forma devem ser verificadas suas condições deficiência.”34
de realizar atividades mais complexas, como a preparação de ali-
mentos e uso de medicação, devem ser verificadas. É útil ajudar o
idoso e seus cuidadores na definição das rotinas diárias. QUESTÕES
A visita domiciliar realizada pela equipe (médico, enfermeira,
assistente social, agente de saúde) possibilita uma melhor avalia-
ção das condições do idoso. Além disso, durante estas visitas é pos- 1. (VUNESP/2018 – TJ/SP) Em relação à prova testemunhal, é
sível obter informações difíceis de serem levantadas em consultó- correto afirmar:
rio, como o meio ambiente em que o idoso vive, a qualidade real de Parte superior do formulário
sua autonomia e as condições do cuidador. Portanto, as visitas do- (A) a testemunha não é obrigada a comparecer para depor so-
miciliares podem otimizar os cuidados a pessoa idosa em sua casa, bre fatos que lhe acarretem grave dano.
minimizando situações de risco que podem levar à sua internação (B) ela não comporta a qualificação jurídica de prova nova para
em abrigos ou instituições similares. efeito de ação rescisória.
O desenvolvimento de atividades comunitárias enfocando (C) reputa-se impedido de depor sob compromisso legal aque-
orientações gerais e específicas sobre o cuidado dos idosos pode le que tiver interesse no litígio.
reforçar o vínculo entre cuidadores, idosos e equipe de saúde ao (D) como regra, ela será indeferida quando o fato só puder ser
mesmo tempo, prevenir situações de violência. As orientações, in- comprovado por documento ou prova pericial.
dividuais ou em grupo, devem incluir:
•cuidados e higiene do idoso 2. (VUNESP/2017 – DPE/RO) É correto afirmar sobre o exame
•necessidades dietéticas, inclusive receitas especiais para pa- de corpo de delito e das perícias em geral:
cientes alimentados através de sondas
•necessidades psicológicas e emocionais dos idosos Parte superior do formulário
•orientações e treinamento para realização de procedimentos (A) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza-
domiciliares: curativos, injeções, manuseio de sondas etc. dos por dois peritos oficiais, portadores de diploma de curso
•técnicas de relaxamento para cuidadores e técnica para ma- superior.
nejo de idosos acamados (B) não há previsão legal no Código de Processo Penal acerca
•orientações sobre direitos previdenciários e demais benefí- da formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
cios para idosos (C) quando a infração deixar vestígios, é possível dispensar o
•cuidados específicos para portadores de hipertensão arterial exame de corpo de delito.
sistêmica e diabetes mellitus (D) em caso de lesões corporais, a falta de exame complemen-
•como organizar esquemas para administração simultânea de tar não pode ser suprida pela prova testemunhal.
vários medicamentos (E) se desaparecerem os vestígios, é possível que a prova teste-
•telefones úteis para orientações em caso de emergências. munhal supra a ausência de exame de corpo de delito.
Os cuidadores devem receber atenção apropriada: é significa- 3. (CESPE/2018 - PC-SE) A respeito de identificação médico-le-
tiva a carga representada pelo cuidado ao idoso, quando este recai gal, de aspectos médico-legais das toxicomanias e lesões por ação
sobre apenas um membro da família. Deve-se conversar com todos elétrica, de modificadores da capacidade civil e de imputabilidade
os membros da família sobre a importância da divisão de tarefas. penal, julgue o item que se segue.
Se a violência for resultante de problemas psiquiátricos impor- O termo eletroplessão é utilizado para se referir a lesões pro-
tantes ou da personalidade do cuidador, a separação pode ser a duzidas por eletricidade industrial, enquanto o termo fulguração
única solução. é empregado para se referir a lesões produzidas por eletricidade
Preservar a autonomia ou a independência funcional da pessoa natural.
idosa é importante, pois a incapacidade para desempenhar as ativi-
dades de vida diária esta relacionada ao aumento das situações de ( ) CERTO
violência. Assim, os idosos e seus cuidadores precisam ser informa- ( ) ERRADO
dos e orientados sobre opções de apoio psicológico. Aqueles que se
sentem culpados ou relutantes em relatar os maus-tratos sofridos
ou praticados devem receber atenção voltada a elevação de sua
autoestima e fortalecimento psicossocial.

34 Fonte: www.perspectivas.med.br/www.midia.pgr.mpf.gov.br/
www.bvsms.saude.gov.br
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
4. (CESPE/2016 – PC-PE) Sexologia forense é o ramo da medici- do-se do geral, chega-se ao particular, ao indivíduo.
na legal que trata dos exames referentes aos crimes contra a liber- (D) Características ocasionais, tais como a presença de tatua-
dade sexual, além de tratar de aspectos relacionados à reprodução. gens, calos de fraturas ósseas e próteses dentárias, ósseas ou
Acerca do exame médico-legal e dos crimes nessa área, assinale a de outros tipos, não possuem valor para a antropologia foren-
opção correta. se.
(A) Para a configuração do infanticídio, são necessários dois as- (E) Medidas de dimensões de ossos longos e comparações com
pectos: o estado puerperal e a mãe matar o próprio filho. tabelas podem dar ideia da estatura de indivíduos quando vi-
(B) O crime de aborto configura-se com a expulsão prematura vos.
do feto, independentemente de sua viabilidade e das causas
da eliminação. 7. (FUNCAB/2015 - PC-AC) Acerca dos tipos de morte, assinale
(C) O crime de abandono de recém-nascidos, que consiste na a assertiva correta.
ausência de cuidados mínimos necessários à manutenção das (A) A morte natural é a que resulta da alteração orgânica ou
condições de sobrevivência ou exposição à vulnerabilidade, só perturbação funcional provocada por agentes naturais, de cau-
estará caracterizado se for cometido pela mãe. sa externa.
(D) Para se determinar um estupro, é necessário que respostas (B) A causa médica da morte se divide em natural ou violenta.
aos quesitos sobre a ocorrência de conjunção carnal ou ato li- (C) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instan-
bidinoso sejam afirmativas: essas ocorrências sempre deixam taneamente e sem causa manifesta, atingindo pessoas com es-
vestígios. tado de saúde delicado.
(E) Para a resposta ao quesito sobre virgindade da paciente, (D) A morte violenta é aquela que tem como causa determi-
a integridade do hímen pode não ser necessária, desde que nante a ação abrupta e intensa, física ou química, sobre o orga-
outros elementos indiquem que a periciada nunca manteve nismo, de causa interna.
relação sexual. (E) A morte súbita é aquela imprevista, que sobrevêm instanta-
neamente e sem causa manifesta, atingindo pessoas em apa-
5. (CESPE/2016 - PC-PE) Psiquiatria forense é o ramo da medi- rente estado de boa saúde.
cina legal que trata de questões relacionadas ao funcionamento da
mente e sua interface com a área jurídica. O estabelecimento do 8. (FUNDATEC/2018 - PC-RS) Em relação às asfixias por constri-
estado psíquico no momento do cometimento do delito e a capa- ção cervical, analise as afirmações abaixo, assinalando V, se verda-
cidade de entendimento desse ato são dependentes das condições deiras, ou F, se falsas.
de sanidade psíquica e desenvolvimento mental, que também in-
fluenciam na forma de percepção e no relato do evento, com im- ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
portância direta para o operador do direito, na tomada a termo quando diagnosticado indica a ocorrência de suicídio.
e na análise dos depoimentos. A respeito de psiquiatria forense e ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
dos múltiplos aspectos ligados a essa área, assinale a opção correta. necessita que o peso do corpo da vítima acione o laço. Desta forma,
(A) A surdo-mudez é motivo de desqualificação do testemu- os casos descritos como enforcamento, mas nos quais a vítima não
nho, da confissão e da acareação, pois, sendo causa de desen- estava completamente suspensa (pés não tocando o solo) devem
volvimento mental incompleto, impede a comunicação. ser classificados como “montagem” (tentativa de ocultação de ho-
(B) Nos atos cometidos, pode haver variação na capacidade de micídio).
entendimento, por doente mental ou por indivíduo sob efeito ( ) O enforcamento, de acordo com sua definição médico-legal,
de substâncias psicotrópicas ou entorpecentes, do caráter ilíci- não necessita do peso do corpo da vítima para ocorrer.
to do ato por ele cometido; cabe ao perito buscar determinar, ( ) A esganadura pode ser consequência de suicídio ou de ho-
e assinalar no laudo pericial, o estado mental no momento do micídio.
delito.
(C) A perturbação mental, por ser de grau leve quando compa- A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de cima
rada a doença mental, não reflete na capacidade cível nem na para baixo, é:
imputabilidade penal. (A) V – V – F – F.
(D) Em indivíduos com intoxicação aguda pelo álcool, obser- (B) V – F – V – V.
vam-se estados de automatismos e estados crepusculares. (C) F – V – F – F.
(E) O desenvolvimento mental incompleto ou retardado, tecni- (D) F – F – V – V.
camente denominado oligofrenia, está diretamente relaciona- (E) F – F – F – F.
do à ocorrência de epilepsia.
9. (CESPE/2016 - PC-GO) No que diz respeito às provas no pro-
6. (FUNCAB/PC-RO)Identidade médico-legal é o conjunto de cesso penal, assinale a opção correta.
características apresentadas por um indivíduo que o torna único. (A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova
Assinale a opção INCORRETA acerca da identificação médico-legal. pericial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
(A) O sistema de identificação dactiloscópica de Vucetich é um (B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
processo de grande valia e de extraordinário efeito, porque ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
apresenta os requisitos essenciais para um bom método: unici- desnecessária a produção de outras provas.
dade, praticabilidade, imutabilidade e classificabilidade; só não (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão
apresenta o requisito de perenidade. ser avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar
(B) Identificação médico-legal pode ser realizada em um indi- o livre convencimento do magistrado, quando amparadas em
víduo vivo ou em cadáver, inteiro, espostejado ou reduzido a outros elementos de prova.
ossos. (D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos
(C) Na identificação médico-legal, são considerados os seguin- relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
tes parâmetros: idade, sexo, raça, estatura e peso, pois, partin- to, menoridade, filiação e cidadania.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE MEDICINA LEGAL
(E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha ______________________________________________________
é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi-
dido pelo delegado de polícia. ______________________________________________________

10. (FUNDEP (Gestão de Concursos)/2019 - MPE-MG) Marque ______________________________________________________


a alternativa incorreta:
______________________________________________________
(A) Em relação ao crime de infanticídio, a lei brasileira não ado-
tou o critério psicológico, mas sim o critério fisiopsicológico, le- ______________________________________________________
vando em conta o desequilíbrio oriundo do processo do parto.
(B) A incidência da qualificadora do feminicídio, prevista no ______________________________________________________
artigo 121, § 2°, VI, do Código Penal, reclama situação de vio-
lência praticada por homem ou por mulher contra a mulher ______________________________________________________
em situação de vulnerabilidade, num contexto caracterizado
por relação de poder e submissão. Pode-se ainda afirmar que, ______________________________________________________
segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a qua-
______________________________________________________
lificadora em análise é de natureza subjetiva.
(C) O perdão judicial constitui causa extintiva de punibilidade ______________________________________________________
que afasta os efeitos da sentença condenatória e, diferente-
mente do perdão do ofendido, não precisa ser aceito para ge- ______________________________________________________
rar efeitos.
(D) No que concerne ao crime de homicídio, é possível a coexis- ______________________________________________________
tência das circunstâncias privilegiadoras com as qualificadoras
de natureza objetiva. ______________________________________________________

GAB A RITO ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
1 D
______________________________________________________
2 E
3 CERTO ______________________________________________________

4 A ______________________________________________________
5 B ______________________________________________________
6 D
______________________________________________________
7 E
8 E ______________________________________________________
9 C ______________________________________________________
10 B
______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES
______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
______________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________ ______________________________________________________
_____________________________________________________
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de su-


NOÇÕES DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. CENTRA‐ bordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração admi-
LIZAÇÃO, DESCENTRALIZAÇÃO, CONCENTRAÇÃO E DES‐ nistrativa está diretamente relacionada ao princípio da hierarquia.
CONCENTRAÇÃO. ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA. Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés
AUTARQUIAS, FUNDAÇÕES, EMPRESAS PÚBLICAS E SO‐ de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado
CIEDADES DE ECONOMIA MISTA transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a
outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado.
Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuin-
Administração direta e indireta do suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou ser-
A princípio, infere-se que Administração Direta é correspon- viços transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa
dente aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas que transfere e a que acolhe as atribuições.
que executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O
vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos
compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação
os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei
Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de
administrativa de maneira centralizada. forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização
Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar au-
criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as Admi- mento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos
nistrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa de (art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e ex-
maneira descentralizada. tinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para dis-
Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser exer- por sobre a organização e o funcionamento, denota-se que poderá
cidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com persona- ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do decreto.
lidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a particu- Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério a mais,
lares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito público o presidente da República deverá encaminhar projeto de lei ao Con-
ou de direito privado para esta finalidade. Optando pela segunda gresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua estrutu-
opção, as novas entidades passarão a compor a Administração Indi- ração interna deverá ser feita por decreto. Na realidade, todos os
reta do ente que as criou e, por possuírem como destino a execução regimentos internos dos ministérios são realizados por intermédio
especializado de certas atividades, são consideradas como sendo de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização interna do
manifestação da descentralização por serviço, funcional ou técnica, órgão. Vejamos:
de modo geral.
ÓRGÃO — é criado por meio de lei.
Desconcentração e Descentralização ORGANIZAÇÃO INTERNA — pode ser feita por DECRETO, des-
Consiste a desconcentração administrativa na distribuição in- de que não provoque aumento de despesas, bem como a criação
terna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim ou a extinção de outros órgãos.
sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído ÓRGÃOS DE CONTROLE — Trata-se dos prepostos a fiscalizar e
entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribu-
de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe nal de Contas da União.
a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica.
Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administra- Pessoas administrativas
ção direta como na administração indireta de todos os entes fede- Explicita-se que as entidades administrativas são a própria Ad-
rativos do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcen- ministração Indireta, composta de forma taxativa pelas autarquias,
tração administrativa no âmbito da Administração Direta da União, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia
os vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em mista.
âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais, De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao são
dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder político
as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou. Não
agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista, existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública in-
ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação. direta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido,
Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os
órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as
jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as
funções para as quais foram criadas de forma correta.
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Pessoas políticas pelo direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais
As pessoas políticas são os entes federativos previstos na Cons- prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma
tituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal e os legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma
Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos pelo exclusiva e prioritária pelo direito público.
Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder político.
Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos, vindo a Observação importante: todas as empresas estatais, sejam
se organizar de forma particular para alcançar as finalidades aven- prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade eco-
çadas na Constituição Federal. nômica, possuem personalidade jurídica de direito privado.
Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois,
ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um dos O que diferencia as empresas estatais exploradoras de ativida-
entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando suas de econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público
leis e exercendo as competências que a eles são determinadas pela é a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço
Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma caracte- público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público,
rística que se encontra presente somente no âmbito da República nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina
Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes federati- que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou
vos. sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora de atividade
Autarquias econômica, como maneira de evitar que o princípio da livre con-
As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno, corrência reste-se prejudicado, as referidas atividades deverão ser
criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo 173 da Consti-
típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias, tuição Federal, que assim determina:
a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a
determinadas atividades para entidades eivadas de maior especia- exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será per-
lização. mitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional
As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dan- ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A
do a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da socieda-
mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a de de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo. econômica de produção ou comercialização de bens ou de presta-
Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público ção de serviços, dispondo sobre:
descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar em sociedade;
tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem ser- II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas priva-
vindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao mesmo das, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, tra-
regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, balhistas e tributários;
as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou seja, são exe- III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alie-
cutoras de ordens determinadas pelo respectivo ente da Federação nações, observados os princípios da Administração Pública;
a que estão vinculadas. IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de Admi-
As autarquias são criadas por lei específica, que de forma obri- nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
gacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo do V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili-
ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também que dade dos administradores
a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida tipica-
mente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, em re- Vejamos em síntese, algumas características em comum das
gime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Em tais empresas públicas e das sociedades de economia mista:
situações, infere-se que é possível que sejam criadas autarquias no • Devem realizar concurso público para admissão de seus em-
âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, oportunidade na pregados;
qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, deverá, obriga- • Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto
toriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita pelo respectivo constitucional;
Poder. • Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas,
bem como ao controle do Poder Legislativo;
Empresas Públicas • Não estão sujeitas à falência;
• Devem obedecer às normas de licitação e contrato adminis-
Sociedades de Economia Mista trativo no que se refere às suas atividades-meio;
São a parte da Administração Indireta mais voltada para o di- • Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista
reito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária de constitucionalmente;
empresas estatais. • Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder Legis-
Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia lativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores.
mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas
entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente atuan- Fundações e outras entidades privadas delegatárias
tes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, obtemos Identifica-se no processo de criação das fundações privadas,
dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades de eco- duas características que se encontram presentes de forma contun-
nomia mista. dente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um instituidor
Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais explorado- e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa.
ras de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitu-
cional, pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida
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O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de 1988 Organizações da sociedade civil de interesse público
conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito pre- São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado,
dominantemente de direito privado, sendo que a Constituição Fe- sem fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatu-
deral dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades tárias devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da
de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autoriza- Lei n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência
ção da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso do Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com
das autarquias. o da OS, entretanto, é mais amplo. Vejamos:
Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que a Fun- Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em
dação Pública poderá ser criada de forma direta por meio de lei qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res-
específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica de direi- pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi-
to público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou Fundação da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
Autárquica. objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades:
I – promoção da assistência social;
Observação importante: a autarquia é definida como serviço II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio
personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é concei- histórico e artístico;
tuada como sendo um patrimônio de forma personificada destina- III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma
do a uma finalidade específica de interesse social. complementar de participação das organizações de que trata esta
Lei;
Vejamos como o Código Civil determina: IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com-
Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...) plementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; V – promoção da segurança alimentar e nutricional;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz dis- promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do vo-
tinção entre as Fundações de direito público ou de direito privado. luntariado;
O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as fundações VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de ligação com a bate à pobreza;
Administração Pública. IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro-
No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego
por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada so- e crédito;
mente às entidades de direito público como um todo. Registra-se X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
que o foro de ambas é na Justiça Federal. direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
Delegação Social manos, da democracia e de outros valores universais;
XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
Organizações sociais ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
As organizações sociais são entidades privadas que recebem técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas neste artigo.
por particulares sob a forma de associação ou fundação que de- A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem
sempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao receber a qualificação. Vejamos:
passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações
ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de
Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei:
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos I – as sociedades comerciais;
parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação
constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito de categoria profissional;
privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tec- de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
nológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que as entidades fundações;
privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão receber a quali- V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
ficação de OSs. bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;
Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os VI – as entidades e empresas que comercializam planos de saú-
serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por de e assemelhados;
intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas
por entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publiciza- mantenedoras;
ção. Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo, VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra-
outra entidade de direito privado o substitui no serviço anterior- tuito e suas mantenedoras;
mente prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para IX – as Organizações Sociais;
que seja feita a qualificação da entidade como organização social é X – as cooperativas;
estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, as
Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, utili- Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade
zação de bens públicos e servidores públicos. e o Estado é denominado termo de parceria e que para a qualifi-
cação de uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido
constituída e se encontre em funcionamento regular há, pelo me-
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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
nos, três anos nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n. Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor
13.019/2014. O Tribunal de Contas da União tem entendido que são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado,
o vínculo firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito pri-
da Administração Pública com Organizações da Sociedade Civil de vado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente de
Interesse Público não é demandante de processo de licitação. De algum incentivo do setor público, também podem lhes ser aplicá-
acordo com o que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999, veis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo qual a
deverá haver a realização de concurso de projetos pelo órgão es- conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado às en-
tatal interessado em construir parceria com Oscips para que venha tidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado, podendo
a obter bens e serviços para a realização de atividades, eventos, ser modificado de maneira parcial por normas de direito público.
consultorias, cooperação técnica e assessoria.

Entidades de utilidade pública ATO ADMINISTRATIVO. CONCEITO, REQUISITOS, ATRIBU‐


O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe em TOS, CLASSIFICAÇÃO E ESPÉCIES
seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços esta-
tais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para o
setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor. Conceito
Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo
Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública, “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública
os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exem- que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, res-
plo, as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil guardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
de interesse público (OSCIP). obrigações aos administrados ou a si própria”.
É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiarieda- declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
de na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de
subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às orga- direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
nizações civis o atendimento dos interesses individuais e coletivos. O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez,
Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária nas de- explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas:
mandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, não A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de
puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. Dessa atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os
maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na autossufi- regulamentos.
ciência da sociedade. No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato
Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do
Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um
estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas
a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor públicas, manifestada mediante providências jurídicas complemen-
público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos tares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de
do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Es- legitimidade por órgão jurisdicional”.
tado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição
todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta for-
instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade ma, no entendimento estrito de ato administrativo por ele expos-
civil de interesse público. ta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos, por
O termo publicização também é atribuído a um segundo sen- exemplo, bem como os atos abstratos.
tido adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir da
à transformação de entidades públicas em entidades privadas sem análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos concei-
fins lucrativos. tos retro apresentados, é possível extrair alguns elementos funda-
mentais para a definição dos conceitos do ato administrativo.
No que condizente às características das entidades que com- De antemão, é importante observar que, embora o exercício
põem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro enten- da função administrativa consista na atividade típica do Poder Exe-
de que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles: cutivo, os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função
1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas te- de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos.
nham sido autorizadas por lei; Exemplo: ao realizar concursos públicos, os três Poderes devem no-
2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse pú- mear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo benefícios
blico (serviços sociais não exclusivos do Estado); legais aos servidores, dentre outras atividades. Acontece que em
3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público; todas essas atividades, a função administrativa estará sendo exerci-
4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, por da que, mesmo sendo função típica, mas, recordemos, não é função
isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à Admi- exclusiva do Poder Executivo.
nistração Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício
5. Pública e ao Tribunal de Contas; da função administrativa é ato administrativo, isso por que em inú-
6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derroga- meras situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado,
do parcialmente por normas direito público; desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico
Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato de de direito público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo: a
não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e tam- emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida provi-
bém porque não integram a Administração Pública Direta ou Indi- dência deve ser disciplinada exclusivamente por normas de direito
reta. privado e não público.
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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser Relativo à competência com aplicação de multa por infração à
praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas, a União
o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o imposto e tam-
como, os entes da Administração Indireta e particulares, como bém para estabelecer as respectivas infrações e penalidades. Já em
acontece com as permissionárias e com as concessionárias de ser- relação à instituição do tributo e cominação de penalidades, que
viços públicos. é de competência do legislativo, dentre os Órgãos Constitucionais
Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não apre- da União, o Órgão que possui tal competência, é o Congresso Na-
sentar caráter de definitividade, está sujeito a controle por órgão cional no que condizente à fiscalização e aplicação das respectivas
jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes, compreendemos penalidades.
que ato administrativo é a manifestação unilateral de vontade pro-
veniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais ampara- Em relação às fontes, temos as competências primária e secun-
das pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito públi- dária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos abaixo:
co, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a controle a) Competência primária: quando a competência é estabeleci-
judicial específico. da pela lei ou pela Constituição Federal.
b) Competência Secundária: a competência vem expressa em
Em suma, temos: normas de organização, editadas pelos órgãos de competência pri-
ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade mária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão ou
proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais am- agente que possui competência primária.
paradas pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito
público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a con- Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de forma
trole judicial específico. aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico informan-
do a distribuição de competências, como a matéria, o território, a
ATOS ADMINISTRATIVOS EM SENTIDO AMPLO hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao critério da
matéria, é a criação do Ministério da Saúde.
Atos de Direito Privado Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendên-
Atos materiais cias Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia,
a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF),
Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor
órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da Re-
Atos políticos ceita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da Ver-
Contratos dade que trabalham na investigação de violações graves de Direitos
Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que resulta
Atos normativos na combinação dos critérios da matéria e do tempo.
Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos
A competência possui como características:
Requisitos a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma
A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência vez que se trata de um poder-dever de ambos.
de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência, b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vonta-
finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a de da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez
falta ou o defeito desses elementos pode resultar. que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo:
De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e
simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidan- da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá
do o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente. jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos
No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra a crimes considerados menos graves.
designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou acordo
legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra pessoa.
pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para Frise-se que a delegação de competência não provoca a transfe-
fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada in- rência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de deter-
competente em termos jurídicos para executar tal tarefa. minadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante, que
Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades pú- poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo, revogar a
blicas, de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação delegação.
Civil (ANAC) não possui competência para conferir o passaporte e d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente,
liberar a entrada de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente
controle de imigração brasileiro é atividade exclusiva e privativa da estas normas poderão alterá-la.
Polícia Federal. e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que
Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo não tenha sido utilizada por muito tempo.
o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista
pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo
o desempenho de suas atividades. mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a
A competência possui como fundamento do seu instituto a di- tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua
visão do trabalho com ampla necessidade de distribuição do con- prática.
junto das tarefas entre os agentes públicos. Desta forma, a distri-
buição de competências possibilita a organização administrativa
do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis a cada pessoa
política, órgão ou agente.
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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a Importante ressaltar:
avocação, que podem ser definidas da seguinte forma: Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercí-
a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por in- cio de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segu-
termédio do qual um órgão administrativo ou um agente público rança ou a medida judicial.
delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de executar Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamen-
parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a delegação to do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não
é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico inferior. poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada.
No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando justifi- Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada,
cadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha hie- todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato deve-
rárquica. rão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada.
Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a atri-
buição da autoridade delegante, que continua competente para o Seguindo temos:
exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que foi a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação e
delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer para si
atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre de forma temporária o devido exercício de competências legalmen-
em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos. te estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente inferio-
Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando res. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da linha
cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também pode- de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente de
rá revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormen- poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.
te. Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de
competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de dele-
impedimentos legais vigentes. gação:
• Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e
É importante conhecer a respeito da delegação de competên- temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competên-
cia o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo cia é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado,
Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal, sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou
incorporou grande parte da orientação doutrinária existente, dis- autoridade avocante.
pondo em seus arts. 11 a 14: • Já na revogação de delegação, anteriormente, a competên-
cia já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delega-
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de ção, voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por
delegação e avocação legalmente admitidos. cunho de mão própria.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou- Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever ser exer-
tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica- cido com autocontrole, o poder originário de avocar competência
mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns- também se constitui em regra na Administração Pública, uma vez
tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. que é inerente à organização hierárquica como um todo. Entretan-
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à to, conforme a doutrina de forma geral, o órgão superior não pode
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos avocar a competência do órgão subordinado em se tratando de
presidentes. competências exclusivas do órgão ou de agentes inferiores atribuí-
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: das por lei. Exemplo: Secretário de Segurança Pública, mesmo es-
I - a edição de atos de caráter normativo; tando alguns degraus hierárquicos acima de todos os Delegados da
II - a decisão de recursos administrativos; Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si a competência para
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori- presidir determinado inquérito policial, tendo em vista que esta
dade. competência é exclusiva dos titulares desses cargos.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
cados no meio oficial. Não convém encerrar esse tópico acerca da competência sem
§ 1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes mencionarmos a respeito dos vícios de competência que é concei-
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob- tuado como o sofrimento de algum defeito em razão de problemas
jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva com a competência do agente que o pratica que se subdivide em:
de exercício da atribuição delegada. a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica o
§ 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo além
autoridade delegante. das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo a pra-
§ 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar ticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre po-
explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo de- derá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista
legado. que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso.
Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce
leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica, so- atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse
cial, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra casa-
a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de mentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz.
delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato
publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias e está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública
poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do delega- ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo
do, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação. de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem Em resumo, temos:
toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da
teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta Específica ou Imediata e
deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados FINALIDADE PÚBLICA
Geral ou Mediata
válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato.
Em suma, temos: Ato praticado com finalidade diver-
sa da prevista em Lei.
e
VÍCIOS DE COMPETÊNCIA DESVIO DE FINALIDADE
Ato praticado formalmente com
OU DESVIO DE PODER
EXCESSO DE PODER Em determinadas situações é finalidade prevista em Lei, porém,
possível a convalidação visando a atender a fins pessoais
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO Ato inexistente de autoridade.

FUNÇÃO DE FATO Ato válido, se houver boa-fé do Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas dis-
administrado tintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas:
ABUSO DE AUTORIDADE A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o
modo de exteriorização do ato administrativo.
EXCESSO DE PODER Vício de competência
B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no
DESVIO DE PODER Desvio de finalidade conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem
como todas as formalidades que devem ser destacadas e observa-
Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é uma das no seu curso de formação.
das características do princípio da impessoalidade. Nesse diapasão, Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se
a Administração não pode atuar com o objetivo de beneficiar ou simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo
prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que seu compor- que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto
tamento deverá sempre ser norteado pela busca do interesse públi- exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da for-
co. Além disso, existe determinada finalidade típica para cada tipo mação do ato administrativo.
de ato administrativo.
Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade
de finalidade pública. São elas: de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra é
a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse públi- o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser reves-
co considerado de forma geral. tido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que ele seja
b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico pre- escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo em vista
visto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado que em alguns casos, via de regra, o agente público tem a possibi-
ato. lidade de se manifestar de outra forma, como acontece nas ordens
Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a verbais transmitidas de forma emergencial aos subordinados, ou,
lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato. ainda, por exemplo, quando um agente de trânsito transmite orien-
tações para os condutores de veículos através de silvos e gestos.
Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas finali- Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado vício
dades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado desvio de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à forma e
de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é vício que não sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via de regra,
pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser convalidado. considera-se plenamente possível a convalidação do ato adminis-
A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágra- trativo que contenha vício de forma. No entanto, tal convalidação
fo único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se veri- não será possível nos casos em que a lei estabelecer que a forma é
fica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele requisito primordial à validade do ato.
previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”. Devemos explanar também que a motivação declarada e escri-
Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência ta dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando for de
estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta maneira,
seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja vício de for-
praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício ma, mas não vício de motivo.
de finalidade. Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela au-
O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se ve- toridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no
rifica em duas hipóteses. São elas: elemento motivo.
a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da
prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo Motivo
de punição. O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que
b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com a estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo.
finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de inte- Quando a autoridade administrativa não tem margem para de-
resse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de perse- cidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato
guir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando interesse administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao
público. ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade
administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a prá-
tica do ato.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualida-
trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser de habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá
verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já se o
do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua pontua-
empírico da situação prevista em lei. lidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial, deverá
Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato adminis- ser anulada.
trativo depende da presença adjunta dos motivos de fato e de direi- É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes
to, posto que para isso, são imprescindíveis à existência abstrata de pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto
previsão normativa bem como a ocorrência, de fato concreto que aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado.
se integre à tal previsão. Em suma, temos:
De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de ocor-
rer nas seguintes situações: • Motivo do ato administrativo
a) quando o motivo é inexistente. — Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a
b) quando o motivo é falso. edição do ato administrativo.
c) quando o motivo é inadequado. — Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma abs-
trata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo.
É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e — Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real
motivação. Vejamos: que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei, ca-
• Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do racterizando o motivo de direito.
ato administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrati-
vo, sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legíti- VÍCIOS DE MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO
mo ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo.
• Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo, sen- Inexistente
do a declaração das razões que motivaram à edição do ato. Já a mo- Falso
tivação declarada e expressa dos motivos dos atos administrativos,
Inadequado
via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se for obrigatória pela
lei, sua ausência causará invalidade do ato administrativo por vício
de forma, e não de motivo. • Teoria dos motivos determinantes
Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o — O ato administrativo possui sua validade vinculada aos moti-
processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o se- vos expostos mesmo que não seja exigida a motivação.
guinte: — Só é aplicada apenas se o ato conter motivação.
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com — STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; está adequado à realidade fática”.
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção Objeto
pública; O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici- sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras pala-
tatório; vras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo cuida-se
V - decidam recursos administrativos; da alteração da situação jurídica que o ato administrativo se propõe
VI - decorram de reexame de ofício; a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por exemplo, o
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão objeto é a punição do transgressor.
ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida- ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os pa-
ção de ato administrativo. drões aceitos como éticos e justos.
Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir
ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse sen-
de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, infor- tido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam os
mações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte inte- seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos:
grante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de “motiva- a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspen-
ção aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas que está são por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica.
sendo admitida no direito brasileiro. b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para
evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo.
A motivação dos atos administrativos c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de
É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a res- dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas
peito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos motivos nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por au-
determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei não exi- toridade pública ou flagradas no teste do bafômetro.
gindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele só terá d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de pes-
validade se os motivos declarados forem verdadeiros. soas específicas para a ocupação noturna de determinado trecho
de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, o objeto
Exemplo é tido como imoral.
A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de ser-
vidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de
ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Atributos do Ato Administrativo plo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda, quan-
Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito do possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão, atestado
público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade.
são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos pri-
vados. • Autoexecutoriedade
Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem exe-
ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento, cutados diretamente pela Administração Pública, por intermédio de
bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos meios coercitivos próprios, sem que seja necessário a intervenção
públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado prévia do Poder Judiciário.
pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro. Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do inte-
Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos resse público, típico do regime de direito administrativo, fato que
atos administrativos são: acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente à
rapidez e eficiência.
• Presunção de legitimidade No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a autoexecuto-
Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos riedade somente é possível quando estiver expressamente previs-
atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos ta em lei, ou, quando se tratar de medida urgente, que não sendo
administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente adotada de imediato, ocasionará, por sua vez, prejuízo maior ao
quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a interesse público.
administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros
legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade, EXEMPLOS DE ATOS ADMINISTRATIVOS AUTOEXECUTÓRIOS
os atos administrativos presumem-se editados em conformidade
com a lei, até que se prove o contrário. Apreensão de mercadorias impróprias para o consumo humano
De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e Demolição de edifício em situação de risco
da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
Internação de pessoa com doença contagiosa
suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como
presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da Dissolução de reunião que ameace a segurança
presunção de que o ato administrativo foi editado em conformida-
de com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzi- Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da pres-
das pela administração são verdadeiras. tação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular que
As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, possa
e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da defesa
entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo dos seus direitos.
ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido
contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado por Tipicidade
algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá sub- De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita
metê-lo ao controle pela própria administração pública, bem como a tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo
pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática não fato de tal característica não estabelecer um privilégio da adminis-
está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações falsas, tração, mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de
poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus efeitos. que a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos
Denota-se que a principal consequência da presunção de vera- atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos, de-
cidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido, relembremos veremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos
que em regra, segundo os parâmetros jurídicos, o dever de provar que apenas são considerados atributos as prerrogativas que aca-
é de quem alega o fato a ser provado. Desta maneira, se o particu- bam por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administra-
lar “X” alega que o particular “Y” cometeu ato ilícito em prejuízo ção toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada.
do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que está alegando, de Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria Syl-
maneira que, em nada conseguir provar os fatos, “Y” não poderá via Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato admi-
ser punido. nistrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela
lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim sendo,
• Imperatividade em consonância com esse atributo, para cada finalidade que a Ad-
Em decorrência desse do atributo, os atos administrativos são ministração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato pre-
impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da viamente definido na lei.
concordância destes. Infere-se que a imperatividade é provenien- Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio
te do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar
editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o
para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da
em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberda-
possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua de para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos
expressa concordância. inominados.
Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperativida- Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se
de, característica presente exclusivamente nos atos que impõem que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontran-
obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o ato do presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer
administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por exem- impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha a

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
firmar com o particular um contrato inominado desprovido de regu- • Já os atos de expediente são tidos como aqueles que im-
lamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de atender pulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante e
tanto ao interesse público como ao interesse particular. sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos e
papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos.
Classificação dos Atos Administrativos
A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada Exemplo:
à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as
motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classifica- devidas análises”.
ções mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade
prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos
abordagem nas provas de concursos públicos. simples, complexos e compostos.
a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. Os • O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas
atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários deter- um órgão da administração pública, pouco importando se esse ór-
minados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que de gão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um
uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas que servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada
correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o Regula- como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo
mento do Imposto de Renda. administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples cole-
giado.
• Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários • O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou
individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os
será singular quando alcançar um único sujeito determinado e será sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo
plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos deter- Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado.
minados em si. É importante não confundir ato complexo com procedimento
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato com-
Exemplo: plexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção de
O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel. Por um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo pra-
outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita-se: o ato ticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a obtenção
de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto aos desti- de um ato final e principal”.
natários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES PLÚRIMOS
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que
b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem este também decorre do resultado da manifestação de vontade de
ser atos vinculados e discricionários. dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de
• Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem
Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que com- para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos,
provados os requisitos legais, a edição do ato se torna obrigatória, um principal e outro acessório.
nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para a construção
de imóvel. Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes Mei-
• Já os discricionários são aqueles em que a Administração relles, para quem o ato administrativo composto “é o que resulta da
Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância vontade única de um órgão, mas depende da verificação por parte
com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar de- de outro, para se tornar exequível”. A mencionada definição, em-
cisões quando e como o ato será praticado, com a definição de seu bora seja discutível, vem sendo muito utilizada pelas bancas exa-
conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática. minadoras na elaboração de questões de provas de concurso pú-
blico. Isso ocorreu na aplicação da prova para Assistente Jurídico
c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos admi- do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi considerado correto
nistrativos podem ser atos de império, de gestão e de expediente. o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja prática dependa de
• Atos de império são atos por meio dos quais a Administração vontade única de um órgão da administração, mas cuja exequibili-
Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais usan- dade dependa da verificação de outro órgão, dá-se o nome de ato
do o poder de império para impô-los de modo unilateral e coerciti- administrativo composto”.
vo aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabelecimen-
tos comerciais. Espécies
O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos
d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos quais administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos
a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas prove- normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e
nientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de admi- atos punitivos.
nistração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais com os
particulares. • Atos normativos
Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é es-
a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos. miuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução
da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais,
Exemplo: não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas,
Uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de for- versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos.
ma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do
contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos po- Ofícios: são especificamente, atos administrativos que se res-
dem ser: ponsabilizam pela formalização da comunicação de forma escrita
a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos e oficial existente entre os diversos órgãos públicos, bem como de
chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação entidades administrativas como um todo. Exemplo: requisição de
geral ou individual prevista na legislação, englobando também de informações necessárias para a defesa do Estado em juízo por meio
forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das de ofício enviado pela Procuradoria do Estado à Secretaria de Saú-
Casas Legislativas. de.
O decreto é de suma importância no direito brasileiro, moti- Despachos: são atos administrativos eivados de poder decisó-
vo pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser rio ou apenas de mero expediente praticados em processos admi-
classificados em decreto geral e individual. Vejamos: nistrativos. Exemplo: quando da ocorrência de processo disciplinar,
b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras é emitido despacho especifico determinando a oitiva de testemu-
gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta apli- nhas.
cação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento do
Imposto de Renda”. • Atos negociais
c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação específi- Também chamados de atos receptícios, são atos administrati-
ca de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua publicação vos de caráter administrativo editados a pedido do particular, com
produz de imediato, efeitos concretos. o fulcro de viabilizar o exercício de atividade específica, bem como a
utilização de bens públicos. Nesse ato, a vontade da Administração
Exemplo: Pública é pertinente com a pretensão do particular. Fazem parte
Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem desta categoria, a licença, a permissão, a autorização e a admissão.
para fim de desapropriação. Vejamos:
Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto re- a) Licença: possui algumas características. São elas:
gulamentar, também designado de decreto de execução. A doutrina — Ato vinculado: desde que sejam preenchidos os requisitos
o conceitua como sendo aquele que introduz um regulamento, não legais por parte do particular, o Poder Público deverá editar a li-
permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance possam ir além da- cença;
queles do que é permitido por Lei. — Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Admi-
Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre nistração se torna conivente com o exercício da atividade privada
matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito. Pon- como um todo;
dera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto autônomo — Ato declaratório: ato que reconhece o direito subjetivo do
admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84, VI, “a”, da particular, vindo a autorizar a habilitação do seu exercício.
Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional 32/2001,
que predispõe a competência privativa do Presidente da República b) Permissão: trata-se de ato administrativo discricionário do-
para dispor, mediante decreto, sobre a organização e funcionamen- tado da permissão do exercício de atividades específicas realizadas
to da administração federal, quando não incorrer em aumento de pelo particular ou, ainda, o uso privativo de determinado bem pú-
despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos. blico. Exemplo: a permissão para uso de bem público específico.
A permissão é dotada de características essenciais. São elas:
• Atos ordinatórios — Ato de consentimento estatal: ato por meio do qual a Ad-
Os atos administrativos ordinatórios são aqueles que podem ministração Pública concorda com o exercício da atividade privada,
ser editados no exercício do poder hierárquico, com o fulcro de dis- bem como da utilização de bem público por particulares;
ciplinar as relações internas da Administração Pública. Detalhare- — Ato discricionário: ato por intermédio do qual a autoridade
mos aqui os principais atos ordinatórios. São eles: as instruções, as administrativa é dotada de liberdade de análise referente à conve-
circulares, os avisos, as portarias, as ordens de serviço, os ofícios e niência e à oportunidade do ato administrativo;
os despachos. — Ato constitutivo: ato por meio do qual, o particular possui
Instruções: tratam-se de atos administrativos editados pela somente expectativa de direito antes da edição do ato, e não ape-
autoridade hierarquicamente superior, com o fulcro de ordenar a nas de direito subjetivo ao ato.
atuação dos agentes que lhes são subordinados. Exemplo: as instru-
ções que ordenam os atos que devem ser usados de forma interna c) Autorização: é detentora de características iguais às da per-
na análise do pedido de utilização de bem público formalizado uni- missão, vindo a constituir ato administrativo discricionário permis-
camente por particular. sionário do exercício de atividade específica pelo particular ou,
Circulares: são consideradas idênticas às instruções, entretan- ainda, o uso particular de bem público. Da mesma forma que a per-
to, de modo geral se encontram dotadas de menor abrangência. missão, a autorização possui como características: o ato de consen-
Avisos: tratam-se de atos administrativos que são editados por timento estatal, o ato discricionário e o ato constitutivo.
Ministros de Estados com o objetivo de tratarem de assuntos corre-
latos aos respectivos Ministérios. d) Admissão: trata-se de ato administrativo vinculado portador
Portarias: são atos administrativos respectivamente editados do reconhecimento do direito ao recebimento de serviço público
por autoridades administrativas, porém, diferentes das do chefe do específico pelo particular, que deve ser editado na hipótese na qual
Poder Executivo. Exemplo: determinação por meio de portaria de- o particular preencha devidamente os requisitos legais
terminando a instauração de processo disciplinar específico.
Ordens de serviço: tratam-se de atos administrativos ordena- • Atos enunciativos
dores da adoção de conduta específica em circunstâncias especiais. São atos administrativos que expressam opiniões ou, ain-
Exemplo: ordem de serviço determinadora de início de obra públi- da, que certificam fatos no campo da Administração Pública. A dou-
ca. trina reconhece como espécies de atos enunciativos: os pareceres,
as certidões, os atestados e o apostilamento. Vejamos:

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
a) Pareceres: são atos administrativos que buscam expressar 2) Sanções funcionais ou disciplinares: são aplicadas com em-
a opinião do agente público a respeito de determinada questão de basamento no poder disciplinar aos servidores públicos e às demais
ordem fática, técnica ou jurídica. Exemplo: no curso de processo de pessoas que se encontram especialmente vinculadas à Administra-
licenciamento ambiental é apresentado parecer técnico. ção Pública. Exemplo: reprimenda imposta à determinada empresa
De forma geral, a doutrina pondera a existência de três espé- contratada pela Administração.
cies de pareceres. São eles:
1) Parecer facultativo: esta espécie não é exigida pela legislação Em relação aos atos punitivos, pode-se citar como exemplos, as
para formulação da decisão administrativa. Ao ser elaborado, não multas, as interdições de atividades, as apreensões ou destruições
vincula a autoridade competente; de coisas e as sanções disciplinares. Vejamos resumidamente cada
2) Parecer obrigatório: é o parecer que deve ser necessaria- espécie:
mente elaborado nas hipóteses mencionadas na legislação, mas a Multas: tratam-se de sanções pecuniárias que são impostas
opinião nele contida não vincula de forma definitiva a autoridade aos administrados.
responsável pela decisão administrativa, que pode contrariar o pa- Interdições de atividades: são atos que proibitivos ou suspen-
recer de forma motivada; sivos do exercício de atividades diversas.
3) Parecer vinculante: é o parecer que deve ser elaborado de Apreensão ou destruição de coisas: cuidam-se de sanções
forma obrigatória contendo teor que vincule a autoridade adminis- aplicadas pela Administração relacionadas às coisas que colocam a
trativa com o dever de acatá-lo. população em risco.
Ressalta-se que em se tratando de perigo público iminente, a
b) Certidões: tratam-se de atos administrativos que possuem autoridade pública deterá o poder de destruir as coisas nocivas à
o condão de declarar a existência ou inexistência de atos ou fatos coletividade, havendo ou não, processo administrativo prévio, si-
administrativos. As certidões são atos que retratam a realidade, po- tuação hipotética na qual a ampla defesa será delongada para mo-
rém, não são capazes de criar ou extinguir relações jurídicas. mento posterior. Entretanto, estando ausente a urgência da medi-
*Nota importante: o art. 5, XXXIV, “b”, da Constituição Federal da, denota-se que a sua aplicação dependerá da formalização feita
consagra o direito de certidão no âmbito de direitos fundamentais, de forma prévia no processo administrativo, situação por intermé-
no qual assegura a todo e qualquer cidadão interessado, indepen- dio da qual, a ampla defesa será postergada para momento ulterior.
dentemente do pagamento de taxas, “a obtenção de certidões em Sanções disciplinares: também chamadas de sanções funcio-
repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de nais, as sanções disciplinares são aplicadas aos servidores públicos
situações de interesse pessoal”. e aos administrados possuidores de relação jurídica especial com a
Administração Pública, desde que tenha sido constatada a violação
c) Atestados: tratam-se de atos administrativos similares às ao ordenamento jurídico, bem como aos termos do negócio jurídi-
certidões, posto que também declaram a existência ou inexistência co. Um exemplo disso, é a demissão de servidor público que tenha
de fatos. Entretanto, os atestados não se confundem com as cer- cometido falta grave.
tidões, uma vez que nas certidões, o agente público utiliza-se do *Nota importante: Diferentemente das sanções aplicadas aos
ato de emitir declaração sobre ato ou fato constante dos arquivos particulares, de modo geral, no exercício do poder de polícia, as
públicos, ao passo que os atestados se incumbem da tarefa de re- sanções disciplinares são aplicadas no campo das relações de sujei-
tratar fatos que não constam de forma antecipada dos arquivos da ção especial de administrados específicos do poder disciplinar da
Administração Pública. Administração Pública, como é o caso dos servidores e contratados.
Ao passo que as sanções de polícia são aplicadas para o exterior
d) Apostilamento: tratam-se atos administrativos que possuem da Administração - as chamadas sanções externas - as sanções dis-
o objetivo de averbar determinados fatos ou direitos reconhecidos ciplinares são aplicadas no interior da Administração Pública, - as
pela norma jurídica como um todo. Como exemplo, podemos citar denominadas sanções internas.
o apostilamento, via de regra, feito no verso da última página dos
contratos administrativos, da variação do valor contratual advinda Extinção do ato administrativo
de reajuste previsto no contrato, nos parâmetros do art. 65, § 8.°, Diversas são as causas que causam e determinam a extinção
da Lei 8.666/1993, Lei de Licitações. dos atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá
• Atos punitivos ser extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos,
Também chamados de atos sancionatórios, os atos punitivos vindo a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito,
são aqueles que atuam na restrição de direitos, bem como de in- vindo a causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção
teresses dos administrados que vierem a atuar em desalento com objetiva; retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do be-
a ordem jurídica de modo geral. Entretanto, exige-se, de qualquer neficiário.
forma, o devido respeito à ampla defesa e ao contraditório na edi-
ção de atos punitivos, nos trâmites do art. 5.°, LV, da Constituição Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por
Federal Brasileira, bem como que as sanções administrativas te- meio das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos
nham previsão legal expressa cumprindo os ditames do princípio ocorre pelo fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu
da legalidade. efeito extintivo sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes
Podemos dividir as sanções em dois grupos: situações:
1) Sanções de polícia: de modo geral são aplicadas com supe-
dâneo no poder de polícia, bem como são relacionadas aos particu- Cassação
lares em geral. Exemplo: multa de trânsito. É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido
condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar
continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção
do ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo
sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode ser in-
de hotel que passou a funcionar ilegalmente como casa de prosti- vocado para anular o ato administrativo por motivo de ilegalidade,
tuição. bem como para revogá-lo por razões de conveniência e oportuni-
dade.
Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação de A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por
um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua vincu- provocação do interessado.
lação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma similar. Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no exer-
Desta forma, a Administração Pública não detém o poder de de- cício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato admi-
monstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para justificar nistrativo havendo pedido do interessado.
a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que houver sido Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria
fixado nas referidas leis ou normas similares. Esse entendimento, Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo legal-
em geral, evita que os particulares sejam coagidos a conviver com mente estabelecido. À vista da autonomia administrativa atribuída
extravagante insegurança jurídica, posto que, a qualquer momento de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada
a administração estaria apta a propor a cassação do ato adminis- uma dessas esferas tem a possibilidade de, observado o princípio
trativo. da razoabilidade e mediante legislação própria, fixar os prazos para
Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada o exercício da autotutela.
como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia ser
proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos agen- Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no
tes de fiscalização em descumprimento às condições de subsistên- âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os
cia do ato, bem como por ato revisional que implicasse auditoria, atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
acoplando até mesmo questões relativas à intercepção de bases de destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos,
dados públicas. contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal
Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos pa- norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a
recidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação ad- estipulação de prazos diferentes em outras esferas.
vém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários
para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo Revogação
que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela pró-
ocorreu na formação do ato. pria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade,
sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de
Anulação conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento
É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e per-
de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei feito se torna inconveniente ao interesse público, a administração
e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle pública poderá suprimi-lo por meio da revogação.
de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou A revogação resulta de um controle de conveniência e oportu-
legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito do nidade do ato administrativo promovido pela própria Administra-
ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar o ção que o editou.
ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por conse- É fundamental compreender que a revogação somente pode
guinte, revogá-lo, e não o anular. atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que
Diferentemente da revogação, que mantém incidência somen- quando a administração está à frente do motivo que ordena a prá-
te sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto os atos tica do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória, não
discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado pelo fato lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de analisar a
de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de legalida- conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. Desta ma-
de. neira, não havendo possibilidade de análise de mérito para a edição
Em relação à competência, a anulação do ato administrativo do ato, essa abertura passará a não existir para que o ato seja des-
viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo feito pela revogação.
Poder Judiciário.
Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a prin-
isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de au- cípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a qual-
totutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do STF: quer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de certos
limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia Zanella Di
PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos:
a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a aná-
A Administração Pública pode decla- lise de conveniência e oportunidade;
SÚMULA 346
rar a nulidade dos seus próprios atos. b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não
A Administração pode anular seus retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam
próprios atos, quando eivados de próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando
vícios que os tornam ilegais, porque transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público,
deles não se originam direitos; ou após o gozo do direito, não há como revogar o ato;
SÚMULA 473 revogá-los, por motivo de conveniên- c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem o
cia ou oportunidade, respeitados os praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de autori-
direitos adquiridos, e ressalvada, em dade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o praticou
todos os casos, a apreciação judicial. deixou de ser competente para revogá-lo;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados, O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai
votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi prati-
lei; cado. Isso significa que durante esse decurso, o administrado per-
e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada manecerá submetido a revisões ou anulações do ato administrativo
novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior; que o beneficia.
f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, o ad-
adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF. ministrado poderá ter suas relações com a administração consolida-
das contando com a proteção da segurança jurídica.
Convalidação Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento
por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos, inclu- sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu:
sive aqueles que foram gerados antes da providência saneadora. “No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante
Em sentido técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc, uma vez dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente
que retroage à data da edição do ato original, mantendo-lhe todos essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração
os efeitos. tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não
Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem que
razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em deca-
efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez, dência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina do
passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos. Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da
Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático
sanáveis e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético,
anuláveis. social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive,
À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável
incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão, o o fato de que o Poder Público não se submente também a essa
art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a possibi- consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo de-
lidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos sanáveis, curso do tempo.”
levando em conta que tal providência não acarrete lesão ao interes- Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe
se público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja destinada de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux
à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento tem sido promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e
aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da existência de Administração Pública, suprimindo da administração o poder de
dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante analogia com a usar abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato adminis-
esfera federal e também com fundamento na prevalência doutriná- trativo, o que proporciona maior equilíbrio entre as partes interes-
ria vigente. sadas.
Assim, é de suma importância esclarecermos que a jurispru- Em resumo, é de grande importância o posicionamento adota-
dência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em determina- do pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só tempo,
das lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em decorrência do propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de conta-
princípio da segurança jurídica. gem do prazo decadencial.

Decadência Administrativa
O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um direi- AGENTES PÚBLICOS. LEGISLAÇÃO PERTINENTE. DISPOSI‐
to existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo deter- ÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS. DISPOSIÇÕES DOU‐
minado em lei e também pela vontade das próprias partes e, ainda TRINÁRIAS. CONCEITO. ESPÉCIES. CARGO, EMPREGO E
no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu titular, que FUNÇÃO PÚBLICA
não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido pela lei.
Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como
sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo Conceito
previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe em seu bojo,
única forma de expressão do direito coincide conaturalmente com várias regras de organização do Estado brasileiro, dentre elas, as
o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se con- concernentes à Administração Pública e seus agentes como um
funde com o exercício da ação para manifestá-lo”. todo.
Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o dis- A designação “agente público” tem sentido amplo e serve para
posto legal sobre a decadência do direito de a administração pú- conceituar qualquer pessoa física exercente de função pública, de
blica anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses forma remunerada ou gratuita, de natureza política ou administra-
vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos: tiva, com investidura definitiva ou transitória.
Artigo 54. O direito da administração de anular os atos admi-
nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários Espécies (classificação)
decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, entende que quatro são as ca-
salvo comprovada má-fé. tegorias de agentes públicos: agentes políticos, servidores públicos
§ 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de civis, militares e particulares em colaboração com o serviço público.
decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
§ 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer me-
dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali-
dade do ato.”

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Vejamos cada classificação detalhadamente: à gestante com a duração de 120 dias; licença paternidade e assis-
tência gratuita aos filhos e demais dependentes desde o nascimen-
Agentes políticos to até cinco anos de idade em creches e pré-escolas.
Exercem atividades típicas de governo e possuem a incumbên- Ademais, os servidores militares estão submetidos por força da
cia de propor ou decidir as diretrizes políticas dos entes públicos. Constituição Federal a determinadas regras próprias dos servidores
Nesse patamar estão inclusos os chefes do Poder Executivo federal, públicos civis, como por exemplo: teto remuneratório, irredutibili-
estadual e municipal e de seus auxiliares diretos, quais sejam, os dade de vencimentos, dentre outras peculiaridades.
Ministros e Secretários de Governo e os membros do Poder Legisla- Embora haja tais assimilações, aos militares são aplicadas algu-
tivo como Senadores, Deputados e Vereadores. mas vedações que constituem direito dos demais agentes públicos,
De forma geral, os agentes políticos exercem mandato eletivo, como por exemplo, os casos da sindicalização, bem como da greve
com exceção dos Ministros e Secretários que são ocupantes de car- e, quando estiverem em serviço ativo, da filiação a partidos políti-
gos comissionados, de livre nomeação e exoneração. cos.
Autores como Hely Lopes Meirelles, acabaram por enfatizar de
forma ampla a categoria de agentes políticos, de forma a transpare- Cargo, Emprego e Função Pública
cer que os demais agentes que exercem, com alto grau de autono- Para que haja melhor organização na Administração Pública, os
mia, categorias da soberania do Estado em decorrência de previsão servidores públicos são amparados e organizados a partir de qua-
constitucional, como é o caso dos membros do Ministério Público, dros funcionais. Quadro funcional é o acoplado de cargos, empre-
da Magistratura e dos Tribunais de Contas. gos e funções públicas de um mesmo ente federado, de uma pessoa
jurídica da Administração Indireta de ou de seus órgãos internos.
Servidores Públicos Civis
De forma geral, servidor público são todas as pessoas físicas Cargo
que prestadoras de serviços às entidades federativas ou as pessoas O art. 3º do Estatuto dos Servidores Civis da União da Lei
jurídicas da Administração Indireta em função da relação de traba- 8.112/1990 conceitua cargo público como “o conjunto de atribui-
lho que ocupam e com remuneração ou subsídio pagos pelos co- ções e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que
fres públicos, vindo a compor o quadro funcional dessas pessoas devem ser cometidas a um servidor”. Via de regra, podemos consi-
jurídicas. derar o cargo como sendo uma posição na estrutura organizacional
Depreende-se que alguns autores dividem os servidores públi- da Administração Pública a ser preenchido por um servidor público.
cos em civis e militares. Pelo fato de termos adotado a classificação Em geral, os cargos públicos somente podem ser criados, trans-
aludida por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, trataremos os servidores formados e extinguidos por força de lei.
militares como sendo uma categoria à parte, designando-os apenas Ao Poder Legislativo, caberá, mediante sanção do chefe do Po-
de militares, e, por conseguinte, usando a expressão servidores pú- der Executivo, dispor sobre a criação, transformação e extinção de
blicos para se referir somente aos servidores públicos civis. cargos, empregos e funções públicas.
De acordo com as regras e normas pelas quais são regidos, os Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, a criação não
servidores públicos civis podem ser subdivididos da seguinte ma- depende de temos exatos de lei, mas, sim de uma norma que mes-
neira: mo possuindo hierarquia de lei, não depende de sanção ou veto do
chefe do Executivo. É o que chamamos de Resoluções, que são leis
Servidores estatutários: ocupam cargo público e são regidos sem sanção.
pelo regime estatutário.
Servidores ou empregados públicos: são os servidores contra- A despeito da criação de cargos, vejamos:
tados sob o regime da CLT e ocupantes de empregos públicos. a) Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
Servidores temporários: são os contratados por determinado desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
período de tempo com o objetivo de atender à necessidade tempo- b) Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do
rária de excepcional interesse público. Exercem funções públicas, Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respec-
mas não ocupam cargo ou emprego público. São regidos por regime tivos Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação
jurídico especial e disciplinado em lei de cada unidade federativa. de cargos para o Ministério Público.
c) Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
Servidores militares: antes do advento da EC 19/1998, os mi- transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
litares eram tratados como “servidores militares”. Militares são (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
aqueles que prestam serviços às Forças Armadas como a Marinha,
o Exército e a Aeronáutica, às Polícias Militares ou aos Corpos de Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos territórios, estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
que estão sob vínculo jurídico estatutário e são remunerados pe- decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
los cofres públicos. Por estarem submetidos a um regime jurídico ocupado, só poderá ser extinto por lei.
estatutário disciplinado em lei por lei, os militares estão submeti-
dos à regras jurídicas diferentes das aplicadas aos servidores civis Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve-
estatutários, justificando, desta forma, o enquadramento em uma jamos:
categoria propícia de agentes públicos. Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes
podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
Destaca-se que a Constituição Federal assegurou aos militares razão do regime de progressão do servidor na carreira.
alguns direitos sociais conferidos aos trabalhadores de forma geral, Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus
são eles: o 13º salário; o salário-família, férias anuais remuneradas titulares.
com acréscimo ao menos um terço da remuneração normal; licença

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em relação às garantias e características especiais que lhe são Regimente Jurídico
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos;
e comissionados. Vejamos: Provimento
Provimento é a forma de ocupação do cargo público pelo ser-
Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per- vidor. Além disso, é um ato administrativo por intermédio do qual
manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es- ocorre o preenchimento de cargo, por conseguinte, atribuindo as
ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público. funções a ele específicas e inerentes a uma determinada pessoa.
Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art. Tanto a doutrina quanto a lei dividem as espécies de provimento de
37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atri- cargos públicos em dois grupos. São eles:
buições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados de ma-
neira temporária, em função da confiança depositada pela autori- Provimento originário: é ato administrativo que designa um
dade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não depende cargo a servidor que antes não integrava o quadro de servidores
de aprovação em concurso público, podendo a exoneração do seu daquele órgão, ou seja, o agente está iniciando a carreira pública.
ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da autoridade O provimento originário é a única forma de nomeação reco-
nomeante. nhecida pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, isso, é claro, ressal-
te-se, dependendo de prévia habilitação em concurso público de
Emprego provas ou de provas e títulos, obedecidos, nos termos da lei, a or-
Os empregos públicos são entidades de atribuições com o fito dem de classificação e o prazo de sua validade. Destaque-se que o
de serem ocupadas por servidores regidos sob o regime da CLT, que momento da nomeação configura discricionariedade do adminis-
também chamados de celetistas ou empregados públicos. trador, na qual devem ser respeitados os prazos do concurso públi-
A diferença entre cargo e emprego público consiste no vínculo co, nos moldes do art. 9° e seguintes da Lei 8112/90, devendo, por
que liga o servidor ao Estado. Ressalta-se que o vínculo jurídico do conseguinte, ainda ser feita uma análise a respeito dos requisitos
empregado público é de natureza contratual, ao passo que o do ser- para a ocupação do cargo.
vidor titular de cargo público é de natureza estatutária. Entretanto, uma vez realizada a nomeação do candidato, este
No âmbito das pessoas de Direito Público como a União, os ato não lhe atribui a qualidade de servidor público, mas apenas a
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem como em suas au- garantia de ocupação do referido cargo. Para que se torne servidor
tarquias e fundações públicas de direito público, levando em conta público, o particular deverá assinar o termo de posse, se submeten-
a restauração da redação originária do caput do art. 39 da CF/1988 do a todas as normas estatuárias da instituição.
(ADIn 2135 MC/DF), afirma-se que o regime a ser adotado é o esta- O provimento do cargo ocorre com a nomeação, mas a inves-
tutário. Entretanto, é plenamente possível a convivência entre o re- tidura no cargo acontece com a posse nos termos do art. 7°da Lei
gime estatutário e o celetista relativo aos entes que, anteriormente 8.112/90.
à concessão da medida cautelar mencionada, tenham realizado De acordo com a Lei Federal, o prazo máximo para a posse é
contratações e admissões no regime de emprego público. No to- de 30 (trinta) dias, contados a partir da publicação do ato de pro-
cante às pessoas de Direito Privado da Administração Indireta como vimento, nos termos do art. 13, §1°, sendo que, desde haja a devi-
as empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações da comprovação, a legislação admite que a posse ocorra por meio
públicas de direito privado, infere-se que somente é possível a exis- de procuração específica, conforme disposto no art. 13, §3° da lei
tência de empregados públicos, nos termos legais. 8.112/90.
Havendo a efetivação da posse dentro do prazo legal, o ser-
Função Pública vidor público federal terá o prazo máximo de 15 (dias) dias para
Função pública também é uma espécie de ocupação de agen- iniciar a exercer as funções do cargo, nos trâmites do art. 15, §1°
te público. Denota-se que ao lado dos cargos e empregos públicos do Estatuto dos Servidores Públicos da União, das Autarquias e das
existem determinadas atribuições que também são exercidas por Fundações Públicas Federais, Lei 8112/90, sendo que não sendo
servidores públicos, mas no entanto, essas funções não compõem respeitado este prazo, o agente poderá ser exonerado. Vejamos:
a lista de atribuições de determinado cargo ou emprego público,
como por exemplo, das funções exercidas por servidores contrata- Art. 15. § 2º - O servidor será exonerado do cargo ou será tor-
dos temporariamente, em razão de excepcional interesse público, nado sem efeito o ato de sua designação para função de confiança,
com base no art. 37, IX, da CFB/88. se não entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, ob-
Esse tipo de servidor ocupa funções temporárias, desempe- servado o disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei n. 9.527, de
nhando suas funções sem titularizar cargo ou emprego público. 10.12.97).
Além disso, existem funções de chefia, direção e assessoramento
para as quais o legislador não cria o cargo respectivo, já que serão Ademais, se o candidato for nomeado e não se apresentar para
exercidas com exclusividade por ocupantes de cargos efetivos, nos posse, no prazo de determinado por lei, não ocorrerá exoneração,
termos do art. 37, V, da CFB/88. tendo em vista ainda não havia sido investido na qualidade de ser-
vidor. Assim sendo, o ato de nomeação se torna sem efeito, vindo
Observação importante: nos parâmetros do art. 37, V da a ficar vago o cargo que havia sido ocupado pelo ato de nomeação.
CFB/88, da mesma forma que previsto para os cargos em comissão,
as funções de confiança destinam-se apenas às atribuições de dire- Provimento Derivado: o cargo público deverá ser entregue a
ção, chefia e assessoramento. um servidor que já tenha uma relação anterior com a Administra-
ção Pública e que se encontra exercendo funções na carreira em
que pretende assumir o novo cargo. Denota-se que provimento de-
rivado somente será possível de ser concretizado, se o agente pro-
vier de outros cargos na mesma carreira em que houve provimento
originário anterior. Não pode haver provimento derivado em outra
carreira.
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Nesses casos, deverá haver a realização de concurso público a) Reversão: nos termos do art. 25 da Lei 8.112/90, é o retor-
de provas ou de provas e títulos, para que se faça novo provimento no do servidor público aposentado ao exercício do cargo público.
originário. A permissão para que o agente ingresse em nova carreira A reversão pode ocorrer por meio da aposentadoria por invalidez,
por meio de provimento derivado violaria os princípios da isonomia quando cessarem os motivos da invalidez. Neste caso, por meio de
e da impessoalidade, mediante os benefícios oferecidos de forma laudo médico oficial, o poder público toma conhecimento de que
defesa. Nesse diapasão, vejamos o que estabelece a súmula vincu- os motivos que ensejaram a aposentadoria do servidor se tornaram
lante nº 43 do Supremo Tribunal Federal insubsistentes, do que resulta a obrigatoriedade de retorno do ser-
vidor ao cargo.
Súmula 43 do STF: É inconstitucional toda modalidade de pro-
vimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação Também pode ocorrer a reversão do servidor aposentado de
em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que forma voluntária. Dessa maneira, atendidos os requisitos dispostos
não integra a carreira na qual anteriormente investido. em lei, a legislação ordena que havendo interesse da Administração
Pública, que o servidor tenha requerido a reversão, que a aposenta-
Assim sendo, analisaremos as espécies de provimento derivado doria tenha sido de forma voluntária, que o agente público já tives-
permitidas no ordenamento Jurídico Brasileiro e suas característi- se, antes, adquirido estabilidade quando no exercício da atividade,
cas específicas. Vejamos: que a aposentadoria tenha se dado nos cinco anos anteriores à so-
licitação e também que haja cargo vago, no momento da petição
Provimento derivado vertical: é a promoção na carreira ense- de reversão.
jando a garantia de o servidor público ocupar cargos mais altos, na
carreira de ingresso, de forma alternada por antiguidade e mereci- b) Reintegração: trata-se de provimento derivado que requer o
mento. Para que isso ocorra, é necessário que ele tenha ingressado, retorno do servidor público estável ao cargo que ocupava anterior-
mediante aprovação em concurso público no serviço público, bem mente, em decorrência da anulação do ato de demissão.
como mediante assunção de cargo escalonado em carreira. Ocorre a reintegração quando tornada sem validade a demis-
Denota-se que a escolha do servidor a progredir na carreira são do servidor estável por decisão judicial ou administrativa, pon-
deve ser realiza por critérios de antiguidade e merecimento e de derando que o reintegrado terá o direito de ser indenizado por tudo
forma alternada por critérios de antiguidade e merecimento. que deixou de ganhar em consequência da demissão ilegal.
Destaque-se que, intermédio de promoção, não será possível
assumir um cargo em outra carreira mais elevada. Como por exem- c) Recondução: conforme dispõe o art. 29, da lei 8.112/90, tra-
plo, ao ser promovido do cargo de técnico do Tribunal para o cargo ta-se a recondução do retorno do servidor ao cargo anteriormente
de analista do mesmo órgão. Isso não é possível, uma vez que tal ocupado por ele, podendo ocorrer em duas hipóteses:
situação significaria a possibilidade de mudança de carreira sem a • Inabilitação em estágio probatório relacionado a outro car-
realização de concurso público, o que ensejaria a ascensão que foi go: quando o servidor público retorna à carreira anterior na qual
abolida pela Constituição Federal de 1988. já havia adquirido estabilidade, evitando assim, sua exoneração do
serviço público.
Provimento derivado horizontal: trata-se da readaptação dis- • Reintegração do anterior ocupante: cuida-se de situação ex-
posta no art. 24 da Lei 8112/90. É o aproveitamento do servidor posta, na situação prática apresentada anteriormente, através da
em um novo cargo, em decorrência de uma limitação sofrida por qual, o servidor público ocupa cargo de outro servidor que é poste-
este na capacidade física ou mental. Em ocorrendo esta hipótese, riormente reintegrado.
o agente deverá ser readaptado vindo a assumir um novo cargo,
no qual as funções sejam compatíveis com as limitações que sofreu Observação importante: A recondução não gera direito à per-
em sua capacidade laboral, dependendo a verificação desta limita- cepção de indenização, em nenhuma das duas hipóteses. Assim, o
ção mediante a apresentação de laudo laboral expedido por junta servidor público retornará ao cargo de origem, percebendo a remu-
médica oficial, que ateste demonstrando detalhadamente a impos- neração deste cargo.
sibilidade de o agente se manter no exercício de suas atividades de
trabalho. d) Aproveitamento: é retorno do servidor público que se en-
Na fase de readaptação ficará garantida o recebimento de ven- contra em disponibilidade, para assumir cargo com funções com-
cimentos, não podendo haver alteração do subsídio recebido pelo patíveis com as que anteriormente exercia, antes de ter extinto o
servidor em virtude da readaptação. cargo que antes ocupava.
Isso ocorre, por que a Carta Magna prevê que havendo a ex-
Observação importante: esta modalidade de provimento deri- tinção ou declaração de desnecessidade de determinado cargo pú-
vado independe da existência de cargo vago na carreira, porque ain- blico, o servidor público estável ocupante do cargo não deverá ser
da que este não exista, o servidor sempre terá direito de ser readap- demitido ou exonerado, mas sim ser removido para a disponibilida-
tado e poderá exercer suas funções no novo cargo como excedente. de. Nesses casos, o servidor deixará de exercer as funções de forma
Caso não haja nenhum cargo na carreira, com funções compatíveis, temporária, mantendo o vínculo com a administração pública.
o servidor poderá ser aposentado por invalidez. Para que haja rea-
daptação, não há necessidade de a limitação ter ocorrido por causa Destaque-se que não há prazo para o término da disponibilida-
do exercício do labor ou da função. A princípio, independentemen- de, porém, por lei, o servidor tem a garantia de que, surgindo novo
te de culpa, o servidor tem direito a ser readaptado. cargo vago compatível com o que ocupava, seu aproveitamento
será obrigatório.
Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o servi-
dor de alguma forma, deixou de atuar no labor das funções de cargo Observação importante: o aproveitamento é obrigatório tan-
específico e retorna às suas atividades. Esse provimento pode ocor- to para o poder público quanto para o agente. Isso ocorre porque
rer de quatro formas. São elas: a Administração Pública não pode deixar de executar o aproveita-

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mento para nomear novos candidatos, da mesma forma que o ser- e) Posse em cargo inacumulável: todas as vezes que o servi-
vidor não poderá optar por ficar em disponibilidade, vindo a recu- dor tomar posse em cargo ou emprego público de carreira nova,
sar o aproveitamento. mediante aprovação em concurso público de provas ou de provas
e títulos, de forma que o novo cargo não seja acumulável com o
Vacância primeiro.
As situações de vacância são as hipóteses de desocupação do Ocorrendo isso, em decorrência da vedação estabelecida pela
cargo público. Vacância é o termo utilizado para designar cargo pú- Carta Magna de acumulação de cargos e empregos públicos, será
blico vago. É um fato administrativo que informa que o cargo públi- necessária a vacância do cargo anteriormente ocupado. Não fazen-
co não está provido e poderá preenchido por novo agente. do o servidor a opção, após a concessão de prazo de dez dias, por
conseguinte, o poder público poderá instaurar, nos termos da lei,
A lei dispõe sete hipóteses de vacância. São elas: processo administrativo sumário, pugnando na aplicação da penali-
a) Aposentadoria: acontece quando mediante ato praticado dade de demissão do servidor.
pela Administração Pública, o servidor público passa para a inati-
vidade. No Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, a Efetividade
aposentadoria pode-se dar voluntariamente, compulsoriamente ou A efetividade não se confunde com a estabilidade. Ao passo
por invalidez, devendo ser aprovada pelo Tribunal de Contas para que a estabilidade é a garantia constitucional disposta no art.14,
que tenha validade. A aposentadoria pode ocorrer pelas seguintes que garante a permanência no serviço público outorgada ao servi-
maneiras: dor que, no ato de nomeação por concurso público para cargo de
provimento efetivo, tenha transposto o período de estágio proba-
• Falecimento tório e aprovado numa avaliação específica e especial de desempe-
Quando se tratar de fato administrativo alheio ao interesse do nho, a efetividade é a situação jurídica daquele servidor que ocupa
servidor ou da Administração Pública, torna inevitavelmente inviá- cargo de provimento efetivo.
vel a ocupação do cargo. Os cargos de provimento efetivo são aqueles que só podem ser
titularizados por servidores estatutários. Sua nomeação depende
• Exoneração explicitamente da aprovação em concurso público.
Acontece sempre que o desfazimento do vínculo com o poder Ao ingressar no serviço público, o servidor ao ocupar cargo de
público ocorre por situação prevista em lei, sem penalidades, dan- provimento efetivo, já é considerado um servidor efetivo. Entretan-
do fim à relação jurídica funcional que havia tido início com a posse. to, o mencionado servidor efetivo só terá garantida sua permanên-
cia no serviço público, a estabilidade, depois de três anos de exercí-
Ressalte-se que a exoneração pode ocorrer a pedido do servi- cio, desde que seja aprovado no estágio probatório.
dor, situação na qual, por vontade do agente público, o vínculo se
restará desfeito e o cargo vago. Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e fun-
ções
b) Demissão: será cabível todas as vezes em que o servidor co- Via de regra, os cargos públicos apenas podem ser criados,
meter infração funcional, prevista em lei e será punível com a perda transformados ou extintos por determinação de lei. Cabe ao Poder
do cargo público. A demissão está disposta na lei 8.112/90 em for- Legislativo, com o sancionamento do chefe do Poder Executivo, dis-
ma de sanção aplicada ao servidor que cometer. por sobre a criação, transformação e extinção de cargos, empregos
Quaisquer das infrações dispostas no art. 132 que são configu- e funções públicas.
radas como condutas consideradas graves. Em determinados casos, Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, o processo de
definidos pelo legislador, a demissão proporá de forma automática criação não depende apenas de lei, mas sim de uma norma que
a indisponibilidade dos bens do servidor até que esse faça os de- mesmo apesar de possuir a mesma hierarquia de lei, não está na
vidos ressarcimentos ao erário. Em se tratando de situações mais dependência de deliberação executiva com sanção ou veto do chefe
extremas, o legislador vedará por completo a o retorno do servidor do Executivo. Referidas normas, em geral, são chamadas de Reso-
ao serviço público. luções.
Denota-se que é a norma criadora do cargo a responsável pela
A penalidade deverá ser por meio de processo administrativo denominação, as atribuições e a remuneração correspondentes aos
disciplinar no qual se observe o direito ao contraditório e a ampla cargos públicos, nos termos da lei.
defesa.
c) Readaptação: é a de investidura do servidor em cargo de Uma questão de suma relevância, é a iniciativa da lei que cria,
atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que extingue ou transforma cargos. A despeito da criação de cargos, ve-
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, comprovada em jamos:
inspeção minuciosamente realizada por junta médica oficial do ór- Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe
gão competente. desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”).
O servidor que for readaptado, assumindo o novo cargo desde Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do Minis-
que seja com funções compatíveis com sua nova situação, deverá tério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respectivos
retornar ao cargo anteriormente ocupado. Assim, a readaptação Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação de
ensejará o provimento de um cargo e, por conseguinte, a vacância cargos para o Ministério Público.
de outro, acopladas num só ato. Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou
transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder
d) Promoção: ocorre no momento em que o servidor público, (Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora.
por antiguidade e merecimento, alternadamente, passa a assumir Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se
cargo mais elevado na carreira de ingresso. estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por
decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver
ocupado, só poderá ser extinto por lei.
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Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve- representação ou outra espécie remuneratória”. No estudo desse
jamos: paramento legal, depreende-se que o subsídio é uma espécie remu-
Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes neração em sentido amplo.
podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em Não obstante, a redação do inciso X do art. 3 7 não tenha usa-
razão do regime de progressão do servidor na carreira. do o termo “vencimento”, convém anotar que este é usado com
Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus frequência para indicar a remuneração dos servidores estatutários
titulares. que não percebem subsídio.
Nesse conceito, os “vencimentos”, também são considerados
Em relação às garantias e características especiais que lhe são um tipo de remuneração em sentido amplo. São compostos pelo
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos; vencimento normal do cargo com o acréscimo das vantagens pe-
e comissionados. Vejamos: cuniárias estabelecidas em lei.
Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per- Portanto, o disposto no inciso X do art. 37 da CFB/88, ao deter-
manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es- minar “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio”, está,
ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público. em síntese, acoplando as duas espécies remuneratórias, vencimen-
Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art. tos e subsídios que os servidores públicos estatutários podem re-
37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atri- ceber.
buições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados de ma- Pondera-se que o termo “salário” não é alcançado pelo cita-
neira temporária, em função da confiança depositada pela autori- do dispositivo, posto que este trata-se do nome usado para o pa-
dade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não depende gamento ou quitação de serviços profissionais prestados em uma
de aprovação em concurso público, podendo a exoneração do seu relação de emprego quando a mesma é sujeita ao regime traba-
ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da autoridade lhista, que é controlado e direcionado pela Consolidação das Leis
nomeante. do Trabalho. Assim sendo, entende-se que os empregados públicos
recebem salário.
Ressalte-se que antes da EC 32/2001, os cargos e as funções Dependerá do cargo conforme o dispositivo de lei que o rege,
públicas só podiam ser extintos por determinação de lei. Entretan- para que a iniciativa privativa das leis que fixem ou alterem as re-
to, a mencionada emenda constitucional alterou a redação do art. munerações e subsídios dos servidores públicos. De acordo com a
84, VI, “b”, da CF, passando a legislar admitindo que o Presidente da Constituição, atinente às principais hipóteses de iniciativa de leis
República possa extinguir funções ou cargos públicos por meio de que tratem a respeito da remuneração de cargos públicos, pode-
decreto, quando estes se encontrarem vagos. mos resumir das seguintes formas:
O resultado disso, é que, ao aplicar o princípio da simetria, a
consequência é que os Governadores e Prefeitos, se houver seme- A iniciativa é privativa do
lhante previsão nas respectivas Constituições Estaduais ou Leis Or- CARGO DO PODER
Presidente da República
gânicas, também podem extinguir por decreto funções ou cargos EXECUTIVO FEDERAL
(CFB, art. 61, § 1.º, II, “a”);
públicos vagos nos Estados, Distrito Federal e Municípios.
Assim sendo, em se restando vagos, os cargos ou funções pú- CARGOS DA CÂMARA a iniciativa é privativa dessa Casa
blicas, embora sejam criados por lei, poderão ser extintos por lei DOS DEPUTADOS (CFB, art. 51, IV);
ou por decreto do chefe do Poder Executivo. Entretanto, se o cargo CARGOS DO SENADO a iniciativa é privativa dessa Casa (CF,
estiver ocupado, só poderá ser extinto através de lei, uma vez que FEDERAL art. 52, XIII);
não se admite a edição de decreto com essa finalidade.
Compete de forma privativa ao Supremo Tribunal Federal, aos
Remuneração Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Le-
A Constituição Federal Brasileira aduz no art. 37, inciso X do art. gislativo a respectiva remuneração dos seus serviços auxiliares e
37, a seguinte redação: dos juízos que lhes forem vinculados, e, ainda a fixação do subsídio
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que de seus membros e dos Juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
trata o § 4.º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados onde houver (CF, art. 48, XV, e art. 96, II, ‘b ).
por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, as- Observe-se que a fixação do subsídio dos deputados federais,
segurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distin- dos senadores, do Presidente e do Vice-Presidente da República e
ção de índices; dos Ministros de Estado é da competência exclusiva do Congresso
Nacional e não se encontra sujeita à sanção ou veto do Presiden-
Infere-se que a alteração mais importante trazida a esse dispo- te da República. Nesse sentido específico, em virtude de previsão
sitivo por meio da EC 19/1998, foi a exigência de lei específica para constitucional, a determinação dos aludidos subsídios não é reali-
que seja fixada ou que haja alteração na remuneração em sentido zada por meio de lei, mas sim por intermédio de Decreto Legislativo
amplo de todos os servidores públicos. Isso significa que cada alte- do Congresso Nacional.
ração de remuneração de cargo público deverá ser feita através da Nesse sentido, em relação entendimento do Supremo Tribu-
edição de lei ordinária específica para tratar desse assunto. nal Federal, esse órgão entende que a concessão da revisão geral
anual” a que se refere o inciso X do art. 37 da Constituição deve
O termo “subsídio”, o qual o texto do inciso X do art. 3 7 men- ser efetivada por intermédio de lei de iniciativa privativa do Poder
ciona, é um tipo de remuneração inserida em nosso ordenamento Executivo de cada Federação.
jurídico através da EC 19/1998, que é de medida obrigatória para O inciso X do art. 37 da Constituição Federal em sua parte final,
alguns cargos e facultativa para outros. garante a” revisão geral anual” da remuneração e do subsídio dos
Nos parâmetros do § 4.º do art. 39 da Constituição Federal, “servidores públicos” sempre na mesma data e sem distinção de
o subsídio deverá ser “fixado em parcela única, vedado o acrésci- índices.
mo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
A Constituição da República em seu texto original, usava os ter- XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
mos “servidor público civil” e “servidor público militar”. No entanto, ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
a partir da aprovação da EC 1811998, estas expressões deixaram fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
de existir e o texto constitucional passou a se referir aos servidores Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
civis, apenas como “servidores públicos” e aos servidores militares, mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,
apenas como “militares. pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa-
Também em seu texto original e primitivo, a Constituição Fe- mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou-
deral de 1988 determinava a obrigatoriedade do uso de índices de tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie,
revisão de remuneração idênticos para servidores públicos civis e dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li-
para servidores públicos militares (expressões usadas antes da EC mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no
18/1998). Acontece que no atual inciso X do art. 37, que resultou Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
da EC 1911998, existe referência apenas a “servidores públicos”, o Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no
que leva a entender que o preceito nele contido não pode ser apli- âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do
cado aos militares, uma vez que estes não se englobam mais como Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen-
espécie do gênero “servidores públicos”. tésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
A remuneração dos servidores públicos passa anualmente por Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável
período revisional. Esse ato também faz parte do contido na EC este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
19/1998. aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
O objetivo da revisão geral anual, ao menos, em tese, possui o nal nº 41, 19.12.2003).
fulcro de recompor o poder de compra da remuneração do servidor, O art. 37, § 11, da CFB/88 também regulamenta o assunto ao
devido a inflação que normalmente está em alta. Por não se tratar afirmar que estão submetidos ao teto a remuneração e o subsídio
de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas somente de dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da admi-
um aumento nominal, por esse motivo, é denominado, às vezes, de nistração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qual-
“aumento impróprio”. quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agen-
Esclarece-se que a revisão geral de remuneração e subsídio que tes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remunera-
o dispositivo constitucional em exame menciona, não é implanta- tória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens
da mediante a reestruturação de algumas carreiras, posto que as pessoais ou de qualquer outra natureza. Referente às parcelas de
reestruturações de carreiras não são anuais, nem, tampouco gerais, caráter indenizatório, estas não serão computadas para efeito de
pois se limitam a cargos específicos, além de não manterem ligação cálculo do teto remuneratório.
com a perda de valor relativo da moeda nacional. Já a revisão geral,
de forma adversa das reestruturações de carreiras, tem o condão Perceba que a regra do teto remuneratório também e plena-
de alcançar todos os servidores públicos estatutários de todos os mente aplicável às empresas públicas e às sociedades de economia
Poderes da Federação em que esteja efetuando e deve ocorrer a mista, e suas subsidiárias, que percebem recursos da União, dos
cada ano. Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de
despesas de pessoal ou de custeio em geral (art. 37, § 9º, da CF).No
Registre-se que a remuneração do servidor público é submeti- entanto, se essas entidades não vierem a receber recursos públicos
da aos valores mínimo e máximo. para a quitação de despesas de custeio e de pessoal, seus empre-
Em relação ao valor mínimo, a Carta Magna predispõe aos ser- gados não estarão submetidos ao teto remuneratório previsto no
vidores públicos a mesma garantia que é dada aos trabalhadores art. 37, XI, da CF.
em geral, qual seja, a de que a remuneração recebida não pode ser Nos trâmites desse dispositivo constitucional, resta-se existen-
inferior ao salário mínimo. No entanto, tal garantia se refere ao total te um teto geral remuneratório que deve ser aplicado a todos os Po-
da remuneração recebida, e não em relação ao vencimento-base. deres da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, sendo este,
Sobre o assunto, o STF deixou regulamentado na Súmula Vinculante o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Além disso,
16. referente a esse teto geral, existem tetos específicos aplicáveis aos
Ressalta-se que a garantia da percepção do salário mínimo não Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
foi assegurada pela Constituição Federal aos militares. Para o STF,
a obrigação do Estado quanto aos militares está limitada ao forne- Em se tratando da esfera estadual e distrital, denota-se que a
cimento das condições materiais para a correta prestação do ser- remuneração dos servidores públicos não podem exceder o subsí-
viço militar obrigatório nas Forças Armadas. Para tanto, denota-se dio mensal dos Ministros do STF, bem como, ainda, não pode ultra-
que os militares são enquadrados em um sistema que não se con- passar os limites a seguir:
funde com o que se aplica aos servidores civis, uma vez que estes Na alçada do Poder Executivo: o subsídio do Governador;
têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos próprios (RE Na alçada do Poder Legislativo: o subsídio dos Deputados Es-
570177/MG). taduais e Distritais;
Consolidando o entendimento, enfatiza-se que a Suprema Cor- Na alçada do Poder Judiciário: o subsídio dos Desembargado-
te editou a Súmula Vinculante 6, por meio da qual afirma que “não res do Tribunal de Justiça, limitado este a 90,25% do subsídio dos
viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao Ministros do STF. Infere-se que esse limite também é nos termos da
salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial”. Lei, aplicável aos membros do Ministério Público, aos Procuradores
e aos Defensores Públicos, mesmo que estes não integrem o Poder
Referente ao limite máximo, foi estabelecido o teto remune- Judiciário.
ratório pelo art. 37, XI, da CF, com redação dada pela EC 41/2003. Em relação aos Estados e ao Distrito Federal, a Carta Magna, no
Vejamos: art. 37, § 12 com redação incluída pela EC 47/2005, facultou a cada
um desses entes fixar, em sua alçada, um limite remuneratório local
único, sendo ele o subsídio mensal dos Desembargadores do res-
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
pectivo Tribunal de Justiça que é limitado a 90,25% do subsídio dos Observação importante: O STJ entende que a ajuda de custo
Ministros do STF. Se os Estados ou Distrito Federal desejarem ado- somente é devida aos servidores que, no interesse da Administra-
tar o subteto único, deverão realizar tal tarefa por meio de emenda ção, forem removidos ex officio, com fundamento no art. 36, pará-
às respectivas Constituições estaduais ou, ainda, à Lei Orgânica do grafo único, I, da Lei 8.112/1990. No entanto, quando a remoção
Distrito Federal. Entretanto, em consonância com a Constituição Fe- ocorrer em decorrência de interesse particular do servidor, a ajuda
deral, o limite local único não deve ser aplicado aos subsídios dos de custo não é devida. Assim, por exemplo, se o servidor público
Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. passar a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em
Finalizando, em relação à esfera municipal, a remuneração dos caráter permanente, por meio de processo seletivo de remoção,
agentes públicos não poder exceder o teto geral e também não não terá direito à percepção da verba de ajuda de custo (AgRg no
pode exceder o subsídio do Prefeito que cuida-se do subteto mu- REsp 1.531.494/SC).
nicipal.
Registre-se ainda, que a Constituição Federal carrega em seu Diárias
bojo a regra de que “os vencimentos dos cargos do Poder Legislati- São devidas ao servidor que a serviço, se afastar da sede em
vo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo caráter eventual ou transitório para outro ponto do território nacio-
Poder Executivo” (art. 37, XII, da CF). No entanto, esta norma tem nal ou para o Exterior, que também fará jus a passagens destinadas
sido de pouca aplicação, pelo fato de possuir conteúdo genérico, ao a indenizar as despesas extraordinárias com pousada, alimentação
contrário da previsão inserida no art. 37, XI, da CFB/88, que explici- e locomoção urbana.
tamente estabelece limites precisos para os tetos remuneratórios. As diárias são devidas apenas nas hipóteses de deslocamentos
eventuais ou transitórios. Assim, o servidor não fará jus a diárias se
Direitos e deveres o deslocamento da sede constituir exigência permanente do cargo
Adentrando ao tópico dos direitos e deveres dos agentes pú- (art. 58, § 2º).
blicos, com o amparo da Lei 8112/90, que dispõe sobre o regime Não terá direito a diárias o servidor que se deslocar dentro da
jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião,
e das fundações públicas federais, é importante explanar que além constituídas por municípios limítrofes e regularmente instituídas,
do vencimento - base, a lei prevê que o servidor federal poderá re- ou em áreas de controle integrado mantidas com países limítrofes,
ceber vantagens pecuniárias, sendo elas: cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores
brasileiros consideram-se estendidas, salvo se houver pernoite fora
Indenizações da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre as fixadas
Têm como objetivo ressarcir aos servidores em razão de despe- para os afastamentos dentro do território nacional (art. 58, § 3º).
sas que tenham tido por motivo do exercício de suas funções. São A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida
previstos por determinação legal, os seguintes tipos de indeniza- pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora da
ções a serem pagas ao servidor federal: sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despesas
a) Ajuda de custo: é destinada a compensar as despesas de extraordinárias cobertas por diárias (art. 58, § 1º).
instalação do servidor que, a trabalho em prol do interesse do ser- Além disso, o servidor que receber diárias e porventura, não
viço público, passar a laborar em nova sede, isso com mudança de se afastar da sede, será obrigado a restituí-las em valor integral no
domicílio em caráter permanente. prazo de cinco dias.
A ajuda de custo também será devida àquele agente que, não
sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, Da mesma forma, retornando o servidor à sede antes do pre-
com mudança de domicílio. Por outro ângulo, não será concedida visto, também ficará obrigado a devolver as diárias percebidas em
ajuda de custo ao servidor que em virtude de mandato eletivo se excesso no prazo de cinco dias.
afastar do cargo, ou vier a reassumi-lo. a) Indenização de transporte: é devida ao servidor que no
O cálculo pecuniário da ajuda de custo é feito sobre a remune- exercício de serviço de interesse público realizar despesas com a
ração do servidor, e não pode exceder a importância corresponden- utilização de meio próprio de locomoção para a execução de servi-
te a três meses de remuneração. ços externos, por força das atribuições próprias do cargo (art. 60 da
Referente a cônjuge ou companheiro do servidor beneficiado Lei 8.112/90).
pela ajuda de custo que também seja servidor e, a qualquer tempo, b) Auxílio - moradia: é o ressarcimento das despesas devida-
passe a ter exercício na mesma sede do seu cônjuge ou companhei- mente comprovadas e realizadas pelo servidor público com aluguel
ro, não é permitido pela legislação que ocorra o pagamento de uma de moradia ou, ainda com outro meio de hospedagem devidamen-
segunda ajuda de custo. te administrado por empresa hoteleira, no decurso do prazo de um
Além de receber o valor pago pela ajuda de custo, todas as mês após a comprovação da despesa pelo servidor.
despesas de transporte do servidor e de sua família, deverão ser
arcadas pela Administração Pública, compreendendo passagem, Para fazer jus ao recebimento do auxílio - moradia, o servidor
bagagem e bens pessoais. deverá atender a alguns requisitos cumulativos previstos na lei (art.
Falecendo o servidor estando lotado na nova sede, sua família, 60-B). Vejamos:
por conseguinte, fará jus à ajuda de custo bem como de transporte Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio - moradia ao servidor se aten-
para retornar à localidade de origem, no prazo de um ano, contado didos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
do óbito. I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor;
Com o fito de evitar enriquecimento sem causa, a lei determina (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
que o servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando, II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel
sem se justificar, não se apresentar na nova sede no prazo de 30 funcional; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
dias. III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou te-
nha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promi-
tente cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo,

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incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção, e) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en-
nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que
Lei nº 11.355, de 2006). exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno,
IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra-
auxílio - moradia; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma
V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocu- hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e
par cargo em comissão ou função de confiança do Grupo - Direção trinta segundos (art. 75).
e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza Es- f) Adicional de férias: é garantido pela Constituição Federal e
pecial, de Ministro de Estado ou equivalentes; (Incluído pela Lei nº disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente
11.355, de 2006). de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias,
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das
de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o, em re- férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou
lação ao local de residência ou domicílio do servidor; (Incluído pela assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta-
Lei nº 11.355, de 2006). gem será considerada no cálculo do adicional de férias.
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido h) Gratificação por encargo de curso ou concurso: é direito
no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo assegurado ao servidor que, em caráter eventual, se encaixar nas
em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo in- hipóteses do art.76-A, tais como: atuar como instrutor em curso
ferior a sessenta dias dentro desse período; e (Incluído pela Lei nº de formação, de desenvolvimento ou de treinamento regularmente
11.355, de 2006). instituído no âmbito da administração pública federal; participar de
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise
de lotação ou nomeação para cargo efetivo. (Incluído pela Lei nº curricular, para correção de provas discursivas, para elaboração de
11.355, de 2006). questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por
IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006. candidatos; participar da logística de preparação e de realização de
(Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007). concurso público envolvendo atividades de planejamento, coorde-
Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o nação, supervisão, incluídas entre as suas atribuições permanentes
prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão e participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exame ves-
relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). tibular ou de concurso público ou supervisionar essas atividades.
Vale a pena registrar que, em tempos remotos, a lei contem-
Gratificações plava o pagamento do adicional por tempo de serviço. Entretanto,
São vantagens pecuniárias que constituem acréscimos de esti- o dispositivo legal que previa o mencionado adicional foi revogado.
pêndio, que acopladas ao vencimento constituem a remuneração Contemporaneamente, esta vantagem é paga somente aos servido-
do servidor público. res que à época da revogação restavam munidos de direito adquiri-
Em consonância com o art. 61 da Lei 8.112/1990 depreende-se do à sua percepção.
que, além do vencimento e das indenizações, poderão ser deferidas
aos servidores as seguintes retribuições em forma de gratificações Adicionais
e adicionais: Adicionais são formas de remuneração do risco à vida e à saúde
a) Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as- dos trabalhadores com caráter transitório, enquanto durar a exposi-
sessoramento: “Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em ção aos riscos de trabalho do servidor. No serviço público, podemos
função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento resumi-los da seguinte forma:
em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu a) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas
exercício” (art. 62). O valor dessa retribuição será fixado por lei es- ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores
pecífica. que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo-
b) Gratificação natalina: equivale ao 13º salário do trabalhador cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe-
da iniciativa privada, ou pública sendo calculada à razão de 1/12 da riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha
remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezembro, por habitualmente colocam em risco a sua vida.
mês de exercício no respectivo ano. Para efeito de pagamento da b) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele
gratificação natalina, a fração igual ou superior a 15 dias de exercí- exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor.
cio será considerada como mês integral. Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será
c) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de
ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores trabalho.
que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo- No entanto, somente será permitido serviço extraordinário
cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe- para atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o
riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha limite máximo de duas horas por jornada, nos ditames do art.74.
habitualmente colocam em risco a sua vida. c) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en-
d) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que
exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor. exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno,
Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra-
remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma
trabalho. hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e
(art. 73). No entanto, somente será permitido serviço extraor- trinta segundos (art. 75).
dinário para atender a situações excepcionais e temporárias, res- d) Adicional de férias: é disposto na Constituição Federal e dis-
peitado o limite máximo de duas horas por jornada (art. 74). ciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente de
solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias, um
adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das
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férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou Via de regra, as férias dos servidores públicos devem ser goza-
assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta- das sem quaisquer tipos de interrupção. Entretanto, como exceção,
gem será considerada no cálculo do adicional de férias. a lei estabelece dispositivo que determina que as férias somente
e) Adicional de atividade penosa: será devido aos servidores poderão ser interrompidas nas seguintes hipóteses art. 80 da Lei
que estejam em exercício de suas funções em zonas de fronteira ou 8112/90:
em localidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, a) calamidade pública;
condições e limites fixados em regulamento (art. 71). b) comoção interna;
c) convocação para júri, serviço militar ou eleitoral; ou
Observação importante: O direito ao adicional de insalubrida- d) por necessidade do serviço declarada pela autoridade máxi-
de ou periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos ma do órgão ou entidade.
riscos que deram causa a sua concessão (art. 68, § 2º).
O servidor que pelas circunstâncias fizer jus aos adicionais de Licenças
insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles, não São períodos por meio dos quais o servidor tem direito de se
podendo perceber ditas vantagens cumulativamente (art. 68, § 1º). afastar das suas atividades, com ou sem remuneração, de acordo
com o tipo de licença.
Férias A Lei 8112/90 prevê várias espécies de licenças, são elas:
De modo geral, podemos afirmar que as férias correspondem Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença:
ao direito do servidor a um período de descanso anual remunerado, I - por motivo de doença em pessoa da família;
por meio do qual, para a maioria dos servidores é de trinta dias. II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro;
Esse direito do servidor está garantido pela Constituição Federal, III - para o serviço militar;
porém, a disciplina do seu exercício pelos servidores estatutários IV - para atividade política;
federais está inserida nos arts. 77 a 80 da Lei 8.112/1990. V - para capacitação;
Normalmente, o servidor fará jus a trinta dias de férias a cada VI - para tratar de interesses particulares;
ano, que por sua vez, podem ser acumuladas até o máximo de dois VII - para desempenho de mandato classista;
períodos, em se tratando de caso de necessidade do serviço, com VIII - para tratamento de saúde;
exceção das hipóteses em que haja legislação específica (art. 77). IX - Licença por acidente em serviço (art. 211);
Entretanto, o servidor que opera direta em permanência constante X - Licença à Gestante (art. 207);
com equipamentos de raios X ou substâncias radioativas, terá direi- XI - Licença à Adotante (art. 210);
to ao gozo de 20 dias consecutivos de férias semestrais de atividade XII – Licença Paternidade (art. 208).
profissional, sendo proibida em qualquer hipótese a acumulação Nos parâmetros do referido Estatuto, temos a seguinte expla-
desses períodos (art. 79). nação:
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de
Observação importante: A lei proíbe que seja levada à conta doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padras-
de férias qualquer falta ao serviço (art. 77, § 2º). to ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas
e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação
É interessante salientar que no primeiro período aquisitivo de por perícia médica oficial.
férias serão exigidos 12 meses de exercício (art. 77, § 1º); a partir § 1º A licença somente será deferida se a assistência direta do
daí os períodos aquisitivos de férias são contados por exercício. servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamen-
Infere-se que o gozo do período de férias é decisão exclusiva- te com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário,
mente discricionária da administração, que só o fará se compreen- na forma do disposto no inciso II do art. 44.
der que o pedido atende ao interesse público. § 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
No condizente à remuneração das férias, depreende-se que poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
esta será acrescida do adicional que corresponda a 1/3 incidente condições:
sobre a remuneração original. Já o pagamento da remuneração de I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
férias, com o acréscimo do adicional, poderá ser efetuado até dois remuneração do servidor;
dias antes do início do respectivo período do gozo (art. 78). II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu-
Havendo parcelamento de gozo do período de férias, o servidor neração.
receberá o adicional de férias somente após utilizado o primeiro § 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a
período (art. 78, § 5º). partir da data do deferimento da primeira licença concedida.
Caso o servidor seja exonerado do cargo efetivo, ou em comis- § 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re-
são, terá o direito de receber indenização relativa ao período das muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em
férias a que tiver direito, bem como ao incompleto, na exata pro- um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no §
porção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou, ainda de 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e
fração superior a quatorze dias (art. 78, § 3º). Ocorrendo isso, a II do § 2º.
indenização poderá ser calculada com base na remuneração do mês § 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
em que for publicado o ato exoneratório (art. 78, § 4º). poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
condições:
Observação importante: o STJ vem aplicando de forma pacífica I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
o entendimento de que, ocorrendo vacância, por posse em outro remuneração do servidor;
cargo inacumulável, sem solução de continuidade no tempo de II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu-
serviço, o direito à fruição das férias não gozadas nem indenizadas neração.
transfere-se para o novo cargo, ainda que este último tenha remu- § 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a
neração maior (STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 1008567/DF, Rel. Min. partir da data do deferimento da primeira licença concedida.
Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18.09.2008, DJe 20.10.2008).
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§ 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re- § 1º . A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de
muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em gestação, salvo antecipação por prescrição médica.
um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § § 2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a
3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e partir do parto.
II do § 2º. § 3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do even-
§ 2º No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro to, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta,
também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos Po- reassumirá o exercício.
deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, § 4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora
poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da Adminis- terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado.
tração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que para o Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá
exercício de atividade compatível com o seu cargo. direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos.
Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar será con- Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis
cedida licença, na forma e condições previstas na legislação espe- meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de tra-
cífica. balho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois
Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor terá até períodos de meia hora.
30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do car- Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de
go. criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias
Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração, de licença remunerada.
durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de
partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este
de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral. artigo será de 30 (trinta) dias.
§ 1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor
desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia, acidentado em serviço.
assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a
partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a Observação importante: a licença-prêmio não faz mais parte
Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito. do rol dos direitos dos servidores federais e foi suprimida pela Lei
§ 2º A partir do registro da candidatura e até o décimo dia se- 9.527/1997. A licença-prêmio permitia que o servidor, encerrado
guinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os cada quinquênio ininterrupto de serviço, pudesse gozar, como prê-
vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses. mio pela assiduidade de três meses de licença, com a remuneração
Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor do cargo efetivo. A legislação vigente à época facultava ao servidor
poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do gozar a licença ou contar em dobro o período da licença para efeito
cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses, de aposentadoria (o que atualmente não é mais possível, já que
para participar de curso de capacitação profissional. a EC 20/1998 proibiu a contagem de tempo de contribuição fictí-
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao cio para aposentadoria). Entretanto, em análise ao caso específico
servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está- daqueles que adquiriram legitimamente o direito antes da supres-
gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo são legal, o STJ entende pacificamente que “o servidor aposentado
prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. tem direito à conversão em pecúnia da licença-prêmio não gozada
Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a qualquer e contada em dobro, sob pena de enriquecimento sem causa da
tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço. Administração Pública” (AgRg no AREsp 270.708/RN).
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem re-
muneração para o desempenho de mandato em confederação, fe- Concessões
deração, associação de classe de âmbito nacional, sindicato repre- Três são as espécies de concessão:
sentativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou, a) Primeira espécie de concessão: permite ao servidor se au-
ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade sentar do serviço, sem qualquer prejuízo a sua remuneração, nas
cooperativa constituída por servidores públicos para prestar servi- seguintes condições (art. 97): por um dia, para doação de sangue;
ços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII por dois dias, para se alistar como eleitor; por oito dias consecuti-
do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e obser- vos em razão de: casamento; falecimento do cônjuge, companhei-
vados os seguintes limites: ro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda
I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois) ou tutela e irmãos.
servidores; b) Segunda espécie de concessão: relacionada à concessão de
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta horário especial, nas seguintes situações (art. 98): ao servidor estu-
mil) associados, 4 (quatro) servidores; dante, quando comprovada a incompatibilidade entre o horário es-
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, colar e o da repartição, sendo exigida a compensação de horário; ao
8 (oito) servidores. servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessida-
§ 1o Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para de por junta médica oficial, independentemente de compensação
cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, des- de horário;ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com
de que cadastradas no órgão competente. deficiência, quando comprovada a necessidade por junta médica
§ 2º. A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser oficial, independentemente da compensação de horário; ao servi-
renovada, no caso de reeleição. dor que atue como instrutor em curso instituído no âmbito da ad-
Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento ministração pública federal ou que participe de banca examinadora
de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem de concursos, vinculado à compensação de horário a ser efetivada
prejuízo da remuneração a que fizer jus. no prazo de até um ano.
Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120
(cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
c) Terceira espécie de concessão: cuida dos casos relacionados
à matrícula em instituições de ensino. Por amparo legal, “ao servi- PODERES ADMINISTRATIVOS. HIERÁRQUICO, DISCIPLI‐
dor estudante que mudar de sede no interesse da administração é NAR, REGULAMENTAR E DE POLÍCIA. USO E ABUSO DO
assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima, PODER
matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer época,
independentemente de vaga” (art. 99). Denota-se que esse benefí-
cio se estende também “ao cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou Poder Hierárquico
enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem como aos Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
menores sob sua guarda, com autorização judicial” (art. 99, pará- administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de seus
grafo único). órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação e subordi-
nação entre os servidores que estiverem sob a sua hierarquia.
Direito de petição A estrutura de organização da Administração Pública é baseada
De acordo com o art. 104 da Lei 8.112/1990, é direito do servi- em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de com-
dor público, requerer junto aos Poderes Públicos, a defesa de direi- petências e a hierarquia.
to ou interesse legítimo. Em decorrência da amplitude das competências e das res-
O direito de petição pode ser manifestado por intermédio de ponsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda a
requerimento, pedido de reconsideração ou de recurso. função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou
Nos termos da Lei, o requerimento deverá ser dirigido à auto- agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição
ridade competente para decidi-lo e encaminhado por intermédio dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e agen-
daquela a que estiver imediatamente subordinado o requerente tes integrantes da Administração Pública.
(art. 105). Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de ma-
Além disso, nos trâmites do art. 106, caberá pedido de reconsi- neira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados
deração dirigido à autoridade que houver expedido o ato ou profe- em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que se
rido a primeira decisão, não podendo ser renovado. encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir ordens
De acordo com o art. 107 do Estatuto em estudo, caberá re- e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação de subor-
curso nas seguintes hipóteses: do indeferimento do pedido de re- dinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas, como o
consideração e das decisões sobre os recursos sucessivamente in- dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de o imedia-
terpostos. to superior avocar atribuições, bem como a atribuição de rever os
Nos termos do art. 109, o recurso será dirigido à autoridade atos dos agentes subordinados.
imediatamente superior à que tiver expedido o ato ou proferido a Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado
decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais auto- não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas
ridades, sendo encaminhado por intermédio da autoridade a que de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116, XII,
estiver imediatamente subordinado o requerente. Dando continui- da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional de re-
dade, o recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo, a juízo presentar contra o seu superior caso este venha a agir com ilegali-
da autoridade competente e em caso de provimento do pedido de dade, omissão ou abuso de poder.
reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à Registra-se que a delegação de atribuições é uma das mani-
data do ato impugnado, nos parâmetros do art. 109, parágrafo úni- festações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir a
co da Lei 8112/90. outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte dos
O prazo para interposição de recurso ou de pedido de recon- atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely Lopes
sideração é de 30 dias, a contar da publicação ou da ciência, pelo Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a algu-
interessado, da decisão recorrida (art. 108). mas regras, sendo elas:
Já o direito de requerer prescreve, nos termos do art. 110, em A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um Po-
cinco anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de aposen- der a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto da
tadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse patrimonial e Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada, que
créditos resultantes das relações de trabalho; em 120 dias, nos de- ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a dele-
mais casos, exceto quando outro prazo for fixado em lei. gar ao Chefe do Executivo a edição de lei.
B) É impossível a delegação de atos de natureza política. Exem-
Em relação à prescrição, merece também destaque: plos: o veto e a sanção de lei;
Art. 112: a prescrição é de ordem pública, não podendo ser re- C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determina-
levada pela administração; o pedido de reconsideração e o recurso, da autoridade, não podem ser delegadas;
quando cabíveis, interrompem a prescrição (art. 111); o prazo de D) O subordinado não pode recusar a delegação;
prescrição será contado da data da publicação do ato impugnado E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida
ou da data da ciência pelo interessado, quando o ato não for publi- autorização do delegante.
cado (art. 110, parágrafo único da Lei 8112/90).
Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da dele-
gação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece os
ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as seguin-
tes regras relacionadas a esse assunto:
• A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser
delegada se não houver impedimento legal;
• A delegação de competência é sempre exercida de forma par-
cial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular não
detém o poder de delegar todas as suas atribuições;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente
ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e, à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes do
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de suas fun-
e agentes não subordinados à hierarquia. ções típicas constitucionais. No entanto, os membros dos Poderes
Judiciário e Legislativo também estão submetidos à relação de hie-
Não podem ser objeto de delegação: rarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas ou adminis-
• A edição de atos de caráter normativo; trativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é legalmente
• A decisão de recursos administrativos; obrigado a adotar o posicionamento do Presidente do Tribunal no
• As matérias de competência exclusiva do órgão ou autorida- julgamento de um processo de sua competência, porém, encontra-
de; -se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens daquela autorida-
de quando versarem a respeito do horário de funcionamento dos
Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua revo- serviços administrativos da sua Vara.
gação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da lei. Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação
Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os po- não se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordi-
deres transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e nação decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da
os objetivos da delegação e também o recurso devidamente cabível mesma pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de super-
à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da atribuição visão ou do poder de tutela que a Administração Direta detém so-
delegada. bre as entidades da Administração Indireta.
O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo pela Esquematizando, temos:
autoridade delegante como forma de transferência não definitiva
de atribuições, devendo as decisões adotadas por delegação, men-
cionar de forma clara esta qualidade, que deverá ser considerada
como editada pelo delegado.
No condizente à avocação, afirma-se que se trata de procedi-
mento contrário ao da delegação de competência, vindo a ocor-
rer quando o superior assume ou passa a desenvolver as funções
que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina, a norma
geral, é a possibilidade de avocação pelo superior hierárquico de
qualquer competência do subordinado, ressaltando-se que nesses
casos, a competência a ser avocada não poderá ser privativa do ór-
gão subordinado.
Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências do
órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e tem-
porário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e im- Poder conferido à autoridade admi-
preterivelmente justificados. nistrativa para distribuir e dirimir funções
O superior também pode rever os atos dos seus subordinados, PODER em escala de seus órgãos, que estabelece
como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los, HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordina-
convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação do ção entre os servidores que estiverem sob
interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato adminis- a sua hierarquia.
trativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido o ato vi-
ciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo, infere-se A edição de atos de caráter normativo
que pode ocorrer de duas formas: NÃO PODEM SER
a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato A decisão de recursos administrativos
OBJETO
válido se tornar inconveniente ou inoportuna; DE DELEGAÇÃO As matérias de competência exclusiva
b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios. do órgão ou autoridade
No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre po- Por revogação: quando a manutenção
derá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos do ato válido se tornar inconveniente ou
DESFAZIMENTO
atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a inoportuna
DO ATO
revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se
ADMINISTRATIVO Por anulação: quando o ator apresen-
tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver
sido criado o direito subjetivo para o particular. tar vícios

Observação importante: “revisão” do ato administrativo não Poder Disciplinar


se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A revisão de O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder de
ato é condizente à avaliação por parte da autoridade superior em autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades aos
relação à manutenção ou não de ato que foi praticado por seu su- servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à discipli-
bordinado, no qual o fundamento é o exercício do poder hierárqui- na administrativa em decorrência de determinado vínculo específi-
co. Já na reconsideração, a apreciação relativa à manutenção do co. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o agente que
ato administrativo é realizada pela própria autoridade que confec- possuir vínculo certo e preciso com a Administração, não importan-
cionou o ato, não existindo, desta forma, manifestação do poder do que esse vínculo seja de natureza funcional ou contratual.
hierárquico. Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar é
decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de distri-
buição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a uma mes-
ma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico determinar o

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for subordinado, Poder regulamentar
o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado às determi- Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste
nações do seu superior ou descumprindo o dever funcional, o seu o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do Po-
chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas no estatuto fun- der Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas
cional. destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder de e eficaz execução.
alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com o Po- A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão po-
der Público, a exemplo daqueles contratados para prestar serviços der regulamentar. Isso acontece, por que há autores que, asseme-
à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe relação de lhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam esta expres-
hierarquia entre o particular e a Administração, o pressuposto para são somente para se referirem à faculdade de editar regulamentos
a aplicação de sanções de forma direta não é o poder hierárqui- conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores, a usam com
co, mas sim o princípio da supremacia do interesse público sobre conceito mais amplo, acoplando também os atos gerais e abstra-
o particular. tos que são emitidos por outras autoridades, tais como: resoluções,
Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e portarias, regimentos, deliberações e instruções normativas. Há
punir crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo ainda uma corrente que entende essas providências gerais e abs-
instituto e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado tratas editadas sob os parâmetros e exigências da lei, com o fulcro
somente àqueles que possuem vínculo específico com a Adminis- de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de manifestações do
tração de forma funcional ou contratual, o segundo é exercido so- poder normativo.
mente sobre qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes. No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar, utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente à
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deve- competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para editar
rão ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtor- regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder normati-
nos ou pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, vo” para os demais atos normativos emitidos por outras espécies de
denota-se que o vínculo entre a Administração Pública e o adminis- autoridades da Administração Direta e Indireta, como por exemplo,
trado é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros.
do poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação Registra-se que os regulamentos são publicados através de
funcional ou contratual com a Administração. decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados
Em suma, temos: pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser
1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda,
do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem vín- a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta
culo específico com a Administração Pública. última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de
2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém determinado nome a um prédio público.
do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam Em razão de os regulamentos serem editados sob forma con-
às regulamentações de polícia administrativa. dizente de decreto, é comum serem chamados de decretos regu-
3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder ge- lamentares, decretos de execução ou regulamentos de execução.
ral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem Podemos classificar os regulamentos em três espécies diferen-
crimes ou contravenções penais. tes:
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o A) Regulamento executivo;
poder disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação B) Regulamento independente ou autônomo;
deve ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance c) Regulamento autorizado.
como um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina adminis- Vejamos a composição de cada em deles:
trativa cometer infração, a única opção que restará ao gestor será
aplicar á situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a Regulamento Executivo
aplicação da pena é ato vinculado. Quando existente, a discriciona- Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições
riedade refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por um re-
sanções legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito adminis- gulamento para serem executadas. Entretanto, em tese, qualquer
trativo não é predominável o princípio da pena específica que se re- lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem, até mes-
fere à necessidade de prévia definição em lei da infração funcional mo aquelas cuja execução não dependa de regulamento. Para isso,
e da exata sanção cabível. suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda conveniente
Em resumo, temos: detalhar a sua execução.
O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata. Sen-
Poder Disciplinar do geral pelo fato de não possuir destinatários determinados ou
• Apura infrações e aplica penalidades; determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam nas
• Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre hipóteses
preciso que possua vínculo funcional com a administração; que, se e no momento em que forem verificadas no mundo con-
• A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de creto, passarão a gerar as consequências abstratamente previstas.
processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui conteúdo
contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que material de lei, porém, com ela não se confunde sob o aspecto for-
seja aplicada a penalidade disciplinar cabível; mal.
• Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre O ato de regulamento executivo é constituído por importantes
sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação. funções. São elas:

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa atos normativos considerados secundários que são editados pelo
Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade quan- Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a execução dos atos
do a lei confere ao agente público determinada quantidade de li- normativos primários elaborados pelas leis.
berdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade e Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos à
margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso Na-
de um regulamento executivo que estipula regras de observância cional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos parâme-
obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem tros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama de “veto
proceder no fiel cumprimento da lei. legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o Chefe do Exe-
Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento o exer- cutivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo Parlamento.
cício da discricionariedade administrativa, o Chefe do Poder Exe- Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações,
cutivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a estabelecer uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer
autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o espaço para em função de o Presidente da República entender que o projeto
a discussão de casos e fatos sem importância para a administração de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria
pública. o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria
o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer por
2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre jurídico.
É interpretada no contexto da primeira, posto que o regula- Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento venha a
mento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente cum- sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário ao inte-
prida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade, fato resse público, uma vez que tal norma somente deve detalhar como
que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei aplicada. a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será indubitavelmen-
Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores na car- te cumprida. Destarte, se o Parlamento entende que o decreto edi-
reira de Policial Rodoviário Federal. tado dentro do poder regulamentar é contrário ao interesse públi-
Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei co, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que lhe dá o sustento.
9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidu- Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao
ra no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º. Executivo no exercício da autotutela.
A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos
para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto, Regulamento independente ou autônomo
o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, tam-
abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos bém adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento exe-
servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base cutivo, esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo
em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições e o poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma
privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de regula- lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado
mentação dos requisitos de promoção, como demonstra o próprio ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e
estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art. 10, pará- diretamente da Constituição.
grafo único da Lei 8.112/1990. A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a fi-
Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto gura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com
8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos e es- a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente
tabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais Rodoviá- inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88.
rios Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de “resultado Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutri-
satisfatório na avaliação de desempenho no interstício considerado na é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo
para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da mesma forma, que o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispo-
a expressão “resultado satisfatório” também é eivada de subjetivi- sitivo constitucional, que estabelece a competência do Presidente
dade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo dispositivo regulamentar da República para dispor, mediante decreto, sobre organização e
designou que para o efeito de promoção, seria considerado satisfa- funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar
tório o alcance de oitenta por cento das metas estipuladas em ato em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos
do dirigente máximo do órgão. públicos.
Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do dirigente Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista
máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é o estabe- na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o Presi-
lecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no condizente dente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos públi-
à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores para o cos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo. Cuida-se
efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que, diante da de uma xucra hipótese de abandono do princípio do paralelismo
regulamentação, erigiu a existência de vinculação da autoridade ad- das formas. Isso por que em decorrência do princípio da hierarquia
ministrativa referente ao percentual considerado satisfatório para das normas, se um instituto jurídico for criado por intermédio de
o efeito de promoção dos servidores, critério que inclusive já foi determinada espécie normativa, sua extinção apenas poderá ser
uniformizado. veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de superior
Embora exista uma enorme importância em termos de pratici- hierarquia.
dade, denota-se que os regulamentos de execução gozam de hie- Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos
rarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem jurídica, parâmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia ex-
criando direitos ou obrigações, nem contrariando, ampliando ou tingui-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto, dei-
restringindo as disposições da lei regulamentada. São, em resumo, xando de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado
permitiu que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça
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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
por decreto. Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limita-
autônomo, mas nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo do somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade,
fato de tal decreto não gozar de generalidade e abstração, não re- ele busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas téc-
gulamentando determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de nicas não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expres-
um ato de efeitos concretos, amplamente desprovido de natureza sa determinação legal.
regulamentar. Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser
De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque,
executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei, desta- ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição,
ca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente, en- aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida
contra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que justifica na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução por-
a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um decreto que, embora seja um ato normativo secundário que retira sua força
regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a configurar jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao contrá-
ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto é inconsti- rio do que ocorre com este último no qual sua destinação é apenas
tucional porque exorbitou do poder regulamentar. Assim, havendo a de detalhar a lei para que seja fielmente executada.
agressão direta à Constituição, a lei, com certeza pode ser conside- Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de regu-
rada inconstitucional, mas não o decreto que a regulamenta. Agora, lamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo disso
em se tratando do decreto autônomo, infere-se que este é norma é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo em vista
primária, vindo a fundamentar-se no próprio texto constitucional, que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo fato de
de forma a ser possível uma agressão direta à Constituição Federal estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo.
de 1988, legitimando desta maneira, a instauração de processo de Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa de-
controle de constitucionalidade. Assim sendo, podemos citar a lição terminação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido
do Supremo Tribunal Federal: admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei
Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limi-
Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição, tes da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm
ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso sido adotados com frequência para a fixação de normas técnicas,
o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, como por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agên-
por conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tri- cias reguladoras.
bunal Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucio-
nalidade reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos
em ADI porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível
opção. Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e
isso claro. E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle os regulamentos administrativos ou de organização.
difuso, quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucio- Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam
nalidade indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que
reflexa. É uma opção da Corte para que não se realize o velho adá- passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece
gio: ‘muita jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387- com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos
0/DF, Rel. Min. Marco Aurélio). regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que es-
Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar tes estabelecem normas sobre a organização administrativa ou que
que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a de- se relacionam aos particulares que possuem um vínculo específico
legação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção a com o Estado, como por exemplo, os concessionários de serviços
essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece públicos ou que possuem um contrato com a Administração.
com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser ob- De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece
jeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos,
República e ao Advogado é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à
Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação especí-
do art. 84 da Constituição Federal. fica com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor
grau de discricionariedade em relação aos regulamentos adminis-
Regulamento autorizado ou delegado trativos.
Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento Esquematicamente, temos:
apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também men-
ciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou dele- ESPÉCIES DE Regulamentos jurídicos ou normativos
gado. REGULAMENTO
De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário QUANTO AOS Regulamentos administrativos ou de
não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de DESTINATÁRIOS organização
forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo,
aos órgãos administrativos.
Poder de Polícia
Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades
O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado
técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja
para estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício
controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a dou-
de direitos e garantias individuais, tendo sempre em vista o inte-
trina maior tem aceitado que as competências para regular deter-
resse público.
minadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio legislador
para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do fenômeno da
deslegalização, por meio do qual a normatização sai da esfera da lei
para a esfera do regulamento autorizado.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Limites Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei
No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim 9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos
como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do
eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos art. 5.º.
fins, aos motivos ou ao objeto.
Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de po- Atributos
lícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação de pro- Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder de
porcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim sendo, a polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilida-
medida de polícia não poderá ir além do necessário com o fito de de. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas características
atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos por exem- estão presentes de forma simultânea em todos os atos de polícia.
plo, a hipótese de um estabelecimento comercial que somente pos- Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada atri-
suía licença do poder público para atuar como revenda de roupas, buto:
mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier de costura.
Caso os fiscais competentes, na constatação do fato, viessem a in- Discricionariedade
terditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal medida seria Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em re-
desproporcional, tendo em vista que, para por fim à irregularidade, lação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de polí-
seria suficiente somente interditar a parte da revenda de roupas. cia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de polícia
Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que este- seja a regra, em determinadas situações o exercício do poder de
jam eivados de vícios de legalidade ou que se demostrem despro- polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que a autori-
porcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo Poder Judi- dade responsável possa executar qualquer tipo de opção.
ciário por meio do controle judicial, ou, pela própria administração Como exemplo do mencionado no retro parágrafo, compare-
no exercício da autotutela. mos os atos de concessão de alvará de licença e de autorização,
respectivamente. Em se tratando do caso do alvará de licença, de-
Prescrição preende-se que o ato é vinculado, significando que a licença não
Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública Fe- poderá ser negada quando o requerente estiver preenchendo os
deral, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação pu- requisitos legais para sua obtenção. Diga-se de passagem, que isso
nitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de polícia, ocorre com a licença para dirigir, para construir bem como para
desde que contados da data da prática do ato ou, em se tratando de exercer certas profissões, como a de enfermagem, por exemplo. Re-
infração de forma permanente ou continuada, do dia em que tiver ferente à hipótese de alvará de autorização, mesmo o requerente
cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da ação punitiva da atendendo aos requisitos da lei, a Administração Pública poderá ou
Administração também for considerado crime, a prescrição deverá não conceder a autorização, posto que esse ato é de natureza dis-
se reger pelo prazo previsto na lei penal em seu art. 1.º, § 2.º. cricionária e está sujeito ao juízo de conveniência e oportunidade
Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação da autoridade administrativa. É o que ocorre, por exemplo, coma
de execução da administração pública federal relativa a crédito não autorização para porte de arma, bem como para a produção de ma-
tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação terial bélico.
em vigor, desde que devidamente contados da constituição defini-
tiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com sua Autoexecutoriedade
redação incluída pela Lei 11.941/2009. Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da au-
Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibi- toexecutoriedade consiste na “faculdade de a Administração decidir
lidade de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no e executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem
curso do processo, quando o procedimento administrativo vir a fi- intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento comer-
car paralisado por mais de três anos, desde que pendente de des- cial estiver comercializando bebidas deteriorados, o Poder Público
pacho ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados poderá usar do seu poder para apreendê-los e incinerá-los, sendo
de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que desnecessário haver qualquer ordem judicial. Ocorre, também, que
haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorren- tal fato não impede ao particular, que se sentir prejudicado pelo
te da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º. excesso ou desvio de poder, de buscar o amparo do Poder Judiciário
Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação para fazer cessar o ato de polícia abusivo.
punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia
das seguintes hipóteses: são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma
A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por que a autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sen-
meio de edital; do elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo
B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do não estando prevista expressamente em lei, se houver situação de
fato; pela decisão condenatória recorrível; urgência que demande a execução direta da medida. O que infere
C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação que, não sendo cumprido nenhum desses requisitos, o ato de po-
expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da lícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como exem-
Administração Pública Federal. plo, o de ato de polícia que não contém autoexecutoriedade, como
Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de em o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias. Nesse
determinadas situações específicas, quando o interessado inter- caso específico, se o poder público tiver a pretensão de cobrar o
romper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a suspensão mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta, sendo ne-
do prazo prescricional para aplicação das sanções de polícia, nos cessário que promova a execução judicial da dívida.
parâmetros do art. 3.º. A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma
que alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade em
dois, sendo eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a execu-
toriedade (privilège d’action d’office). Nesse diapasão, a exigibili-
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
dade ensejaria a possibilidade de a Administração tomar decisões Esquematizando, temos:
executórias, impondo obrigações aos administrados mesmo sem a
concordância destes, e a executoriedade, que consiste na faculdade ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA
de se executar de forma direta todas essas decisões sem que haja a
necessidade de intervenção do Poder Judiciário, usando-se, quando DISCRICIONARIE‐ AUTOEXECUTORIE‐
COERCIBILIDADE
for preciso, do emprego direto da força pública. Imaginemos como DADE DADE
exemplo, um depósito antigo de carros que esteja ameaçado de Liberdade
desabar. Nessa situação específica, a Administração pode ordenar Faculdade de a
de escolha da
que o proprietário promova a sua demolição (exigibilidade). E não Administração deci- Faz com que
autoridade pública
sendo a ordem cumprida, a própria Administração possui o poder dir e executar dire- o ato seja impos-
em relação à
de mandar seus servidores demolirem o imóvel (executoriedade). tamente sua decisão to ao particular,
conveniência e
Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que por seus próprios concordando este,
oportunidade do
a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios meios, sem interven- ou não.
exercício do poder
indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilida- ção do Judiciário.
de polícia.
de de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as mul-
tas de trânsito, a executoriedade irá se consubstanciar no uso de Uso e abuso de poder
meios diretos de coação, como por exemplo dissolução de reunião, De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece
da apreensão de mercadorias, da interdição de estabelecimento e de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente,
da demolição de prédio. desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em
Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente atendimento à consecução dos fins públicos.
em todas as medidas de polícia, ao contrário da executoriedade, No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder,
que apenas se apresenta nas hipóteses previstas por meio de lei ou venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para
em situações de urgência. fins diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se
que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocor-
Coercibilidade re tanto por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa
É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato seja que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por
imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras termos, meio do qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito.
o ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal, não está Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas:
consignado à dependência da concordância do particular para que
tenha validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é indisso- • Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a au-
ciável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser autoe- toridade atua extrapolando os limites da sua competência.
xecutável pelo fato de ser dotado de força coercitiva. • Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a
Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, po-
como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se rém, o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária
confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do ao interesse público como um todo.
desdobramento do atributo da autoexecutoriedade. Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder
pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por
Poder de polícia originário e poder de polícia delegado intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle ju-
Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é dicial.
aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo
como fundamento a própria repartição de competências materiais LICITAÇÃO. PRINCÍPIOS. CONTRATAÇÃO DIRETA: DISPEN‐
e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988. SA E INEXIGIBILIDADE. MODALIDADES. TIPOS. PROCEDI‐
Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este faz MENTO
referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito pú-
blico da Administração Indireta, posto que esta delegação deve ser
feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o poder
de polícia originário. Princípios
Como uma das mais claras manifestações do princípio segun- Diante do cenário atual, pondera-se que ocorreram diversas
do o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no mudanças na Lei de Licitações. Porém, como estamos em fase
exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares ações de transição em relação às duas leis, posto que nos dois primei-
e omissões independentemente das suas vontades. Tal possibilida- ros anos, as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na
de envolve exercício de atividade típica de Estado, com clara ma- aplicação para processos que começaram na Lei anterior, deverão
nifestação de potestade (poder de autoridade). Assim, estão pre- continuar a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que
sentes características ínsitas ao regime jurídico de direito público, começarem após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos
o que tem levado o STF a genericamente negar a possibilidade de com a aplicação da nova Lei.
delegação do poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado, Aprovada recentemente, a Nova Lei de Licitações sob o nº.
ainda que integrantes da administração indireta (ADI 1717/DF). 14.133/2.021, passou por significativas mudanças, entretanto, no
que tange aos princípios, manteve o mesmo rol do art. 3º da Lei nº.
8.666/1.993, porém, dispondo sobre o assunto, no Capítulo II, art.
5º, da seguinte forma:
Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade,
da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa,
da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do Princípios da moralidade e da probidade administrativa
julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da A Lei 8.666/1993, Lei de Licitações, considera que os princípios
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economi- da moralidade e da probidade administrativa possuem realidades
cidade e do desenvolvimento nacional sustentável, assim como as distintas. Na realidade, os dois princípios passam a informação de
disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1.942, (Lei que a licitação deve ser pautada pela honestidade, boa-fé e ética,
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). isso, tanto por parte da Administração como por parte dos entes
O objetivo da Lei de Licitações é regular a seleção da proposta licitantes. Sendo assim, para que um comportamento seja conside-
que for mais vantajosa para a Administração Pública. No condizente rado válido, é imprescindível que, além de ser legalizado, esteja nos
à promoção do desenvolvimento nacional sustentável, entende-se ditames da lei e de acordo com a ética e os bons costumes. Exis-
que este possui como foco, determinar que a licitação seja destina- tem desentendimentos doutrinários acerca da distinção entre esses
da com o objetivo de garantir a observância do princípio constitu- dois princípios. Alguns autores empregam as duas expressões com
cional da isonomia. o mesmo significado, ao passo que outros procuram diferenciar
Denota-se que a quantidade de princípios previstos na lei não os conceitos. O que perdura, é que, ao passo que a moralidade é
é exaustiva, aceitando-se quando for necessário, a aplicação de ou- constituída em um conceito vago e sem definição legal, a probidade
tros princípios que tenham relação com aqueles dispostos de forma administrativa, ou melhor dizendo, a improbidade administrativa
expressa no texto legal. possui contornos paramentados na Lei 8.429/1992.
Verificamos, por oportuno, que a redação original do caput do
art. 3º da Lei 8.666/1993 não continha o princípio da promoção do Princípio da Publicidade
desenvolvimento nacional sustentável e que tal menção expressa, Possui a Administração Pública o dever de realizar seus atos pu-
apenas foi inserida com a edição da Lei 12.349/2010, contexto no blicamente de forma a garantir aos administrados o conhecimento
qual foi criada a “margem de preferência”, facilitando a concessão do que os administradores estão realizando, e também de manei-
de vantagens competitivas para empresas produtoras de bens e ra a possibilitar o controle social da conduta administrativa. Em se
serviços nacionais. tratando especificamente de licitação, determina o art. 3º, § 3º, da
Lei 8.666/1993 que “a licitação não será sigilosa, sendo públicos e
Princípio da legalidade acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao
A legalidade, que na sua visão moderna é chamado também de conteúdo das propostas, até a respectiva abertura”.
juridicidade, é um princípio que pode ser aplicado à toda atividade Advindo do mesmo princípio, qualquer cidadão tem o direito
de ordem administrativa, vindo a incluir o procedimento licitatório. de acompanhar o desenvolvimento da licitação, desde que não in-
A lei serve para ser usada como limite de base à atuação do gestor terfira de modo a atrapalhar ou impedir a realização dos trabalhos
público, representando, desta forma, uma garantia aos administra- (Lei 8.666/1993, art. 4º, in fine).
dos contra as condutas abusivas do Estado. A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece que “a publici-
No âmbito das licitações, pondera-se que o princípio da lega- dade é tanto maior, quanto maior for a competição propiciada pela
lidade é fundamental, posto que todas as fases do procedimento modalidade de licitação; ela é a mais ampla possível na concorrên-
licitatório se encontram estabelecidas na legislação. Considera-se cia, em que o interesse maior da Administração é o de atrair maior
que todos os entes que participarem do certame, têm direito pú- número de licitantes, e se reduz ao mínimo no convite, em que o
blico subjetivo de fiel observância do procedimento paramentado valor do contrato dispensa maior divulgação. “
na legislação por meio do art. 4° da Lei 8.666/1993, podendo, caso Todo ato da Administração deve ser publicado de forma a for-
venham a se sentir prejudicados pela ausência de observância de necer ao cidadão, informações acerca do que se passa com as ver-
alguma regra, impugnar a ação ou omissão na esfera administrativa bas públicas e sua aplicação em prol do bem comum e também por
ou judicial. obediência ao princípio da publicidade.
Diga-se de passagem, não apenas os participantes, mas qual-
quer cidadão, pode por direito, impugnar edital de licitação em de- Princípio da eficiência do interesse público
corrência de irregularidade na aplicação da lei, vir a representar ao Trata-se de um dos princípios norteadores da administração
Ministério Público, aos Tribunais de Contas ou aos órgãos de con- pública acoplado aos da legalidade, finalidade, motivação, razoabili-
trole interno em face de irregularidades em licitações públicas, nos dade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
termos dos arts. 41, § 1º, 101 e 113, § 1º da Lei 8666/1993. da segurança jurídica e do interesse público.
Assim sendo, não basta que o Estado atue sobre o manto da
Princípio da impessoalidade legalidade, posto que quando se refere serviço público, é essencial
Com ligação umbilical ao princípio da isonomia, o princípio da que o agente público atue de forma mais eficaz, bem como que
impessoalidade demonstra, em primeiro lugar, que a Administra- haja melhor organização e estruturação advinda da administração
ção deve adotar o mesmo tratamento a todos os administrados que pública.
estejam em uma mesma situação jurídica, sem a prerrogativa de Vale ressaltar que o princípio da eficiência deve estar subme-
quaisquer privilégios ou perseguições. Por outro ângulo, ligado ao tido ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a
princípio do julgamento objetivo, registra-se que todas as decisões atuação administrativa agindo de forma contrária ao ordenamento
administrativas tomadas no contexto de uma licitação, deverão ob- jurídico, posto que por mais eficiente que seja, ambos os princípios
servar os critérios objetivos estabelecidos de forma prévia no edital devem atuar de forma acoplada e não sobreposta.
do certame. Desta forma, ainda que determinado licitante venha a Por ser o objeto da licitação a escolha da proposta mais vanta-
apresentar uma vantagem relevante para a consecução do objeto josa, o administrador deverá se encontrar eivado de honestidade ao
do contrato, afirma-se que esta não poderá ser levada em consi- cuidar da Administração Pública.
deração, caso não haja regra editalícia ou legal que a preveja como
passível de fazer interferências no julgamento das propostas. Princípio da Probidade Administrativa
A Lei de Licitações trata dos princípios da moralidade e da pro-
bidade administrativa como formas distintas uma da outra. Os dois
princípios passam a noção de que a licitação deve ser configurada
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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
pela honestidade, boa-fé e ética, tanto por parte da Administração de pelo fato de que por intermédio da publicidade, existe o dever
Pública, como por parte dos licitantes. Desta forma, para que um das entidades públicas consistente na obrigação de divulgar os seus
comportamento tenha validade, é necessário que seja legal e esteja atos, uma vez que nem sempre a divulgação de informações é feita
em conformidade com a ética e os bons costumes. de forma transparente.
Existe divergência quanto à distinção entre esses dois princí- O Superior Tribunal de Justiça entende que o “direito à infor-
pios. Alguns doutrinadores usam as duas expressões com o mesmo mação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição
significado, ao passo que outros procuram diferenciar os conceitos. Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da
O correto é que, enquanto a moralidade se constitui num conceito Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Ob-
vago, a probidade administrativa, ou melhor dizendo, a improbida- jetiva e do Princípio da Confiança […].” (STJ. RESP 200301612085,
de administrativa se encontra eivada de contornos definidos na Lei Herman Benjamin – Segunda Turma, DJE DATA:19/03/2009).
8.429/1992.
Princípio da eficácia
Princípio da igualdade Por meio desse princípio, deverá o agente público agir de for-
Conhecido como princípio da isonomia, decorre do fato de que ma eficaz e organizada promovendo uma melhor estruturação por
a Administração Pública deve tratar, de forma igual, todos os licitan- parte da Administração Pública, mantendo a atuação do Estado
tes que estiverem na mesma situação jurídica. O princípio da igual- dentro da legalidade.
dade garante a oportunidade de participar do certame de licitação, Vale ressaltar que o princípio da eficácia deve estar submetido
todos os que tem condições de adimplir o futuro contrato e proíbe, ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a atuação
ainda a feitura de discriminações injustificadas no julgamento das administrativa contrária ao ordenamento jurídico, por mais eficien-
propostas. te que seja, na medida em que ambos os princípios devem atuar de
Aplicando o princípio da igualdade, o art. 3º, I, da Lei maneira conjunta e não sobrepostas.
8.666/1993, veda de forma expressa aos agentes públicos admitir,
prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação por meio de edital Princípio da segregação de funções
ou convite, as cláusulas que comprometam, restrinjam ou frustrem Trata-se de uma norma de controle interno com o fito de evitar
o seu caráter de competição, inclusive nos casos de sociedades coo- falhas ou fraudes no processo de licitação, vindo a descentralizar o
perativas, e estabeleçam preferências ou diferenças em decorrên- poder e criando independência para as funções de execução opera-
cia da naturalidade, da sede ou do domicílio dos licitantes ou de cional, custódia física, bem como de contabilização
“qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o Assim sendo, cada setor ou servidor incumbido de determina-
específico objeto do contrato”, com ressalva ao disposto nos §§ 5º a da tarefa, fará a sua parte no condizente ao desempenho de fun-
12 do mesmo artigo, e no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991. ções, evitando que nenhum empregado ou seção administrativa
Ante o exposto, conclui-se que, mesmo que a circunstância venha a participar ou controlar todas as fases relativas à execução e
restrinja o caráter de competição do certame, se for pertinente ou controle da despesa pública, vindo assim, a possibilitar a realização
relevante para o objeto do contrato, poderá ser incluída no instru- de uma verificação cruzada.
mento de convocação do certame. O princípio da segregação de funções, advém do Princípio da
O princípio da isonomia não impõe somente tratamento igua- moralidade administrativa e se encontra previsto no art. 37, caput,
litário aos assemelhados, mas também a diferenciação dos desi- da CFB/1.988 e o da moralidade, no Capítulo VII, seção VIII, item
guais, na medida de suas desigualdades. 3, inciso IV, da IN nº 001/2001 da Secretaria Federal de Controle
Interno do Ministério da Fazenda.
Princípio do Planejamento
A princípio, infere-se que o princípio do planejamento se en- Princípio da motivação
contra dotado de conteúdo jurídico, sendo que é seu dever fixar o O princípio da motivação predispõe que a administração no
dever legal do planejamento como um todo. processo licitatório possui o dever de justificar os seus atos, vindo
Registra-se que a partir deste princípio, é possível compreen- a apresentar os motivos que a levou a decidir sobre os fatos, com
der que a Administração Pública tem o dever de planejar toda a a observância da legalidade estatal. Desta forma, é necessário que
licitação e também toda a contratação pública de forma adequada haja motivo para que os atos administrativos licitatórios tenham
e satisfatória. Assim, o planejamento exigido, é o que se mostre de sido realizados, sempre levando em conta as razões de direito que
forma eficaz e eficiente, bem como que se encaixe a todos os outros levaram o agente público a proceder daquele modo.
princípios previstos na CFB/1.988 e na jurisdição pátria como um
todo. Princípio da vinculação ao edital
Desta forma, na ausência de justificativa para realizar o pla- Trata-se do corolário do princípio da legalidade e da objetivi-
nejamento adequado da licitação e do contrato, ressalta-se que a dade das determinações de habilidades, que possui o condão de
ausência, bem como a insuficiência dele poderá vir a motivar a res- impor tanto à Administração, quanto ao licitante, a imposição de
ponsabilidade do agente público. que este venha a cumprir as normas contidas no edital de maneira
objetiva, porém, sempre zelando pelo princípio da competitividade.
Princípio da transparência Denota-se que todos os requisitos do ato convocatório devem
O princípio da transparência pode ser encontrado dentro da estar em conformidade com as leis e a Constituição, tendo em vista
aplicação de outros princípios, como os princípios da publicidade, que se trata de ato concretizador e de hierarquia inferior a essas
imparcialidade, eficiência, dentre outros. entidades.
Boa parte da doutrina afirma o princípio da transparência não é Nos ditames do art. 3º da Lei nº 8.666/93, a licitação destina-se
um princípio independente, o incorporando ao princípio da publici- a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a
dade, posto ser o seu entendimento que uma das inúmeras funções seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a pro-
do princípio da publicidade é o dever de manter intacta a trans- moção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada
parência dos atos das entidades públicas. Entretanto, o princípio e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da le-
da transparência pode ser diferenciado do princípio da publicida-
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
galidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publi- Princípio da celeridade
cidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento Devidamente consagrado pela Lei nº 10.520/2.002 e conside-
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. rado um dos direcionadores de licitações na modalidade pregão, o
O princípio da vinculação ao instrumento convocatório princí- princípio da celeridade trabalha na busca da simplificação de pro-
pio se destaca por impor à Administração a não acatar qualquer cedimentos, formalidades desnecessárias, bem como de intransi-
proposta que não se encaixe nas exigências do ato convocatório, gências excessivas, tendo em vista que as decisões, sempre que for
sendo que tais exigências deverão possuir total relação com o obje- possível, deverão ser aplicadas no momento da sessão.
to da licitação, com a lei e com a Constituição Federal.
Princípio da economicidade
Princípio do julgamento objetivo Sendo o fim da licitação a escolha da proposta que seja mais
O objetivo desse princípio é a lisura do processo licitatório. De vantajosa para a Administração Pública, pondera-se que é neces-
acordo com o princípio do julgamento objetivo, o processo licitató- sário que o administrador esteja dotado de honestidade ao cuidar
rio deve observar critérios objetivos definidos no ato convocatório, coisa pública. O princípio da economicidade encontra-se relaciona-
para o julgamento das propostas apresentadas, devendo seguir de do ao princípio da moralidade e da eficiência.
forma fiel ao disposto no edital quando for julgar as propostas. Sobre o assunto, no que condiz ao princípio da economicidade,
Esse princípio possui o condão de impedir quaisquer interpre- entende o jurista Marçal Justen Filho, que “… Não basta honestida-
tações subjetivas do edital que possam favorecer um concorrente e, de e boas intenções para validação de atos administrativos. A eco-
por consequência, vir a prejudicar de forma desleal a outros. nomicidade impõe adoção da solução mais conveniente e eficiente
sob o ponto de vista da gestão dos recursos públicos”. (Justen Filho,
Princípio da razoabilidade 1998, p.66).
Trata-se de um princípio de grande importância para o contro-
le da atividade administrativa dentro do processo licitatório, posto Princípio da licitação sustentável
que se incumbe de impor ao administrador, a atuação dentro dos Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “o princípio da susten-
requisitos aceitáveis sob o ponto de vista racional, uma vez que ao tabilidade da licitação ou da licitação sustentável liga-se à ideia de
trabalhar na interdição de decisões ou práticas discrepantes do mí- que é possível, por meio do procedimento licitatório, incentivar a
nimo plausível, prova mais uma vez ser um veículo de suma im- preservação do meio ambiente”.
portância do respeito à legalidade, na medida em que é a lei que Esse princípio passou a constar de maneira expressa do contido
determina os parâmetros por intermédio dos quais é construída a na Lei 8.666/1993 depois que o seu art. 3º sofreu alteração pela Lei
razão administrativa como um todo. 12.349/2010, que incluiu entre os objetivos da licitação a promoção
Pondera-se que o princípio da razoabilidade se encontra aco- do desenvolvimento nacional sustentável.
plado ao princípio da proporcionalidade, além de manter relação Da mesma maneira, a Lei 12.462/2011, que institui o Regime
com o princípio da finalidade, uma vez que, caso não seja atendida Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), dispõe o desenvolvi-
a razoabilidade, a finalidade também irá ficar ferida. mento nacional sustentável como forma de princípio a ser obser-
vado nas licitações e contratações regidas por seu diploma legal.
Princípio da competitividade Assim, prevê a mencionada Lei que as contratações realizadas com
O princípio da competição se encontra relacionado à competiti- fito no Regime Jurídico Diferenciado de Contratações Públicas de-
vidade e às cláusulas que são responsáveis por garantir a igualdade vem respeitar, em especial, as normas relativas ao art. 4º, § 1º:
de condições para todos os concorrentes licitatórios. Esse princípio A) disposição final ambientalmente adequada dos resíduos só-
se encontra ligado ao princípio da livre concorrência nos termos do lidos gerados pelas obras contratadas;
inciso IV do art. 170 da Constituição Federal Brasileira. Desta manei- B) mitigação por condicionantes e compensação ambiental,
ra, devido ao fato da lei recalcar o abuso do poder econômico que que serão definidas no procedimento de licenciamento ambiental;
pretenda eliminar a concorrência, a lei e os demais atos normativos c) utilização de produtos, equipamentos e serviços que, comprova-
pertinentes não poderão agir com o fulcro de limitar a competitivi- damente, reduzam o consumo de energia e recursos naturais;
dade na licitação. D) avaliação de impactos de vizinhança, na forma da legislação
Assim, havendo cláusula que possa favorecer, excluir ou infrin- urbanística;
gir a impessoalidade exigida do gestor público, denota-se que esta E) proteção do patrimônio cultural, histórico, arqueológico e
poderá recair sobre a questão da restrição de competição no pro- imaterial, inclusive por meio da avaliação do impacto direto ou indi-
cesso licitatório. reto causado pelas obras contratadas;
Obs. importante: De acordo com o Tribunal de Contas, não é F) acessibilidade para o uso por pessoas com deficiência ou com
aceitável a discriminação arbitrária no processo de seleção do con- mobilidade reduzida.
tratante, posto que é indispensável o tratamento uniforme para si-
tuações uniformes, uma vez que a licitação se encontra destinada Princípios correlatos
a garantir não apenas a seleção da proposta mais vantajosa para a Além dos princípios anteriores determinados pela Lei
Administração Pública, como também a observância do princípio 8.666/1993, a doutrina revela a existência de outros princípios que
constitucional da isonomia. Acórdão 1631/2007 Plenário (Sumá- também são atinentes aos procedimentos licitatórios, dentre os
rio). quais se destacamos:

Princípio da proporcionalidade Princípio da obrigatoriedade


O princípio da proporcionalidade, conhecido como princípio Consagrado no art. 37, XXI, da CF, esse princípio está disposto
da razoabilidade, possui como objetivo evitar que as peculiaridades no art. 2º do Estatuto das Licitações. A determinação geral é que
determinadas pela Constituição Federal Brasileira sejam feridas ou as obras, serviços, compras, alienações, concessões, permissões e
suprimidas por ato legislativo, administrativo ou judicial que possa locações da Administração Pública, quando forem contratadas por
exceder os limites por ela determinados e avance, sem permissão terceiros, sejam precedidas da realização de certame licitatório,
no âmbito dos direitos fundamentais. com exceção somente dos casos previstos pela legislação vigente.
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Princípio do formalismo Competência Legislativa
Por meio desse princípio, a licitação se desenvolve de acordo A União é munida de competência privativa para legislar sobre
com o procedimento formal previsto na legislação. Assim sendo, o normas gerais de licitações, em todas as modalidades, para a admi-
art. 4º, parágrafo único, da Lei 8.666/1993 determina que “o pro- nistração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
cedimento licitatório previsto nesta lei caracteriza ato administrati- Federal e dos Municípios, conforme determinação do art. 22, XXVII,
vo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da Administração da CFB/1988.
Pública”. Desse modo, denota-se que de modo geral, as normas edita-
das pela União são de observância obrigatória por todos os entes
Princípio do sigilo das propostas federados, competindo a estes, editar normas específicas que são
Até a abertura dos envelopes licitatórios em ato público ante- aplicáveis somente às suas próprias licitações, de modo a comple-
cipadamente designado, o conteúdo das propostas apresentadas mentar a disciplina prevista na norma geral sem contrariá-la.
pelos licitantes deve ser mantido em sigilo nos termos do art. 43, Nessa linha, a título de exemplo, a competência para legislar
§ 1º, da Lei 8.666/1993. Deixando claro que violar o sigilo de pro- supletivamente não permite: a) a criação de novas modalidades li-
postas apresentadas em procedimento licitatório, ou oportunizar citatórias ou de novas hipóteses de dispensa de licitação; b) o esta-
a terceiro a oportunidade de devassá-lo, além de prejudicar os de- belecimento de novos tipos de licitação (critérios de julgamento das
mais licitantes, constitui crime tipificado no art. 94 do Estatuto das propostas); c) a redução dos prazos de publicidade ou de recursos.
Licitações, vindo a sujeitar os infratores à pena de detenção, de 2 É importante registrar que a EC 19/1998, em alteração ao art.
(dois) a 3 (três) anos, e multa; 173, § 1º, da Constituição Federal, anteviu que deverá ser editada
lei com o fulcro de disciplinar o estatuto jurídico da empresa pú-
Princípio da adjudicação compulsória ao vencedor blica, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
Significa que a Administração não pode, ao concluir o procedi- explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
mento, atribuir o objeto da licitação a outro agente ou ente que não bens ou de prestação de serviços, sendo que esse estatuto deverá
seja o vencedor. Esse princípio, também impede que seja aberta dispor a respeito de licitação e contratação de obras, serviços, com-
nova licitação enquanto for válida a adjudicação anterior. pras e alienações, desde que observados os princípios da adminis-
Registra-se que a adjudicação é um ato declaratório que ga- tração pública.
rante ao vencedor que, vindo a Administração a celebrar um con- A mencionada modificação constitucional, teve como objeti-
trato, o fará com o agente ou ente a quem foi adjudicado o objeto. vo possibilitar a criação de normas mais flexíveis sobre licitação e
Entretanto, mesmo que o objeto licitado tenha sido adjudicado, é contratos e com maior adequação condizente à natureza jurídica
possível que não aconteça a celebração do contrato, posto que a das entidades exploradoras de atividades econômicas, que traba-
licitação pode vir a ser revogada de forma lícita por motivos de in- lham sob sistema jurídico predominantemente de direito privado.
teresse público, ou anulada, caso seja constatada alguma irregula- O Maior obstáculo, é o fato de que essas instituições na maioria das
ridade Insanável. vezes entram em concorrência com a iniciativa privada e precisam
ter uma agilidade que pode, na maioria das situações, ser prejudi-
Princípio da competitividade cada pela necessidade de submissão aos procedimentos burocráti-
É advindo do princípio da isonomia. Em outras palavras, ha- cos da administração direta, autárquica e fundacional.
vendo restrição à competição, de maneira a privilegiar determi- Em observância e cumprimento à determinação da Constitui-
nado licitante, consequentemente ocorrerá violação ao princípio ção Federal, foi promulgada a Lei 13.303/2016, Lei das Estatais, que
da isonomia. Por esse motivo, como manifestação do princípio da criou regras e normas específicas paras as licitações que são dirigi-
competitividade, tem-se a regra de que é proibido aos agentes pú- das por qualquer empresa pública e sociedade de economia mista
blicos “admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ponde-
cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem ra-se que tais regras forma mantidas pela nova Lei de Licitações, Lei
o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades coope- nº: 14.133/2.021 em seu art. 1º, inciso I.
rativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da natu- De acordo com as regras e normas da Lei 13.303/2016, tais em-
ralidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra presas públicas e sociedades de economia mista não estão dispen-
circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto sadas do dever de licitar. Mas estão somente adimplindo tal obriga-
do contrato”, com exceção do disposto nos §§ 5º a 12 deste art. e ção com seguimento em procedimentos mais flexíveis e adequados
no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991” . a sua natureza jurídica. Assim sendo, a Lei 8.666/1993 acabou por
Convém mencionar que José dos Santos Carvalho Filho, enten- não mais ser aplicada às estatais e às suas subsidiárias.
de que o dispositivo legal mencionado anteriormente é tido como Entretanto, com a entrada em vigor da nova Lei de Licitações de
manifestação do princípio da indistinção. nº. 14.133/2.021, advinda do Projeto de Lei nº 4.253/2020, obser-
va-se que ocorreu um impacto bastante concreto para as estatais
Princípio da vedação à oferta de vantagens imprevistas naquilo que se refere ao que a Lei nº 13.303/16 expressa ao reme-
É um corolário do princípio do julgamento objetivo. No referen- ter à aplicação das Leis nº 8.666/93 e Lei nº 10.520/02.
te ao julgamento das propostas, a comissão de licitação não poderá,
por exemplo, considerar qualquer oferta de vantagem que não es- Nesse sentido, denota-se em relação ao assunto acima que são
teja prevista no edital ou no convite, inclusive financiamentos sub- pontos de destaque com a aprovação da Nova Lei de Licitações de
sidiados ou a fundo perdido, nem preço ou vantagem baseada nas nº. 14.133/2.021:
ofertas dos demais licitantes, nos ditames do art. 44, parag. 2°da 1) O pregão, sendo que esta modalidade não será mais regula-
Lei 8.666/1993. da pela Lei nº 10.520/02, que consta de forma expressa no art. 32,
IV, da Lei nº 13.303/16;
2) As normas de direito penal que deverão ser aplicadas na
seara dos processos de contratação, que, por sua vez, deixarão de
ser regulados pelos arts. 89 a 99 da Lei nº 8.666/93; e

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3) Os critérios de desempate de propostas, sendo que a Lei Vale destacar com grande importância, ainda, em relação ao
nº 13.303/16 dispõe de forma expressa, dentre os critérios de de- inc. III da Nova Lei de Licitações, que nem todo serviço técnico espe-
sempate contidos no art. 55, inc. III, a adoção da previsão que se cializado está apto a ensejar a inexigibilidade de licitação, fato que
encontra inserida no § 2º do art. 3º da Lei nº 8.666/93, que por sua se verificará apenas se ao mesmo tempo, tal serviço for de natureza
vez, passará a ter outro tratamento pela Nova Lei de Licitações. singular e o seu prestador for dotado de notória especialização. O
serviço de natureza singular é reconhecido pela sua complexidade,
Dispensa e inexigibilidade relevância ou pelos interesses públicos que estiverem em jogo, vin-
Verificar-se-á a inexigibilidade de licitação sempre que houver do demandar a contratação de prestador com a devida e notória
inviabilidade de competição. Com a entrada em vigor da Nova Lei especialização.
de Licitações, Lei nº. 14.133/2.021 no art. 74, I, II e III, foi disposto Por sua vez, a legislação considera como sendo de notória
as hipóteses por meio das quais a competição é inviável e que, por- especialização, aquele profissional ou empresa que o conceito no
tanto, nesses casos, a licitação é inexigível. Vejamos: âmbito de sua especialidade, advindo de desempenho feito ante-
riormente como estudos, experiências, publicações, organização,
Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, equipe técnica, ou de outros atributos e requisitos pertinentes com
em especial nos casos de: suas atividades, que permitam demonstrar e comprovar que o seu
I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou trabalho é essencial e o mais adequado à plena satisfação do objeto
contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor, do contrato.
empresa ou representante comercial exclusivos; Vale mencionar que em situações práticas, a contratação de
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente serviços especializados por inexigibilidade de licitação tem criado
ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela várias controvérsias, principalmente quando se refere à contrata-
crítica especializada ou pela opinião pública; ção de serviços de advocacia e também de contabilidade.
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados Conforme já estudado, a licitação é tida como dispensada
de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou quando, mesmo a competição sendo viável, o certame deixou de
empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para ser realizado pelo fato da própria lei o dispensar. Tem natureza dife-
serviços de publicidade e divulgação: rente da ausência de exigibilidade da licitação dispensável porque
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou proje- nesta, o gestor tem a possibilidade de decidir por realizar ou não o
tos executivos; procedimento.
b) pareceres, perícias e avaliações em geral; A licitação dispensada está acoplada às hipóteses de alienação
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras de bens móveis ou imóveis da Administração Pública. Em grande
ou tributárias; parte das vezes, quando, ao pretender a Administração alienar bens
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou ser- de sua propriedade, sejam estes móveis ou imóveis, deverá proce-
viços; der à realização de licitação. No entanto, em algumas situações, em
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas; razão das peculiaridades do caso especifico, a lei acaba por dispen-
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; sar o procedimento, o que é verificado, por exemplo, na hipótese da
g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico; doação de um bem para outro órgão ou entidade da Administração
h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e en- Pública de qualquer esfera de governo. Ocorre que nesse caso, a
saios de campo e laboratoriais, instrumentação e monitoramento Administração já determinou previamente para qual órgão ou en-
de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais tidade irá doar o bem. Assim sendo, não existe a necessidade de
serviços de engenharia que se enquadrem no disposto neste inciso; realização do certame licitatório.
IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de
credenciamento; Critérios de Julgamento
V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de ins- Os novos critérios de julgamento tratam-se das referências
talações e de localização tornem necessária sua escolha. que são utilizadas para a avaliação das propostas de licitação. Regis-
Em entendimento ao inc. I, afirma-se que o fornecedor exclu- tra-se que as espécies de licitação encontram-se dotadas de carac-
sivo, vedada a preferência de marca, deverá a comprovar a exclu- terísticas e exigências diversas, sendo que as espécies de licitação
sividade por meio de atestado fornecido pelo órgão de registro do tendem sempre a variam de acordo com seus prazos e ritos espe-
comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o cíficos como um todo. Com a aprovação da Lei 14.133/2.021 em
serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, seu art. 33, foram criados novos tipos de licitação designados para
ainda, pelas entidades equivalentes. a compra de bens e serviços. Sendo eles: menor preço, maior des-
Em relação ao inc. II do referido diploma legal, verifica-se a dis- conto, melhor técnica ou conteúdo artístico, técnica e preço, maior
pensabilidade da exigência de licitação para a contratação de profis- lance (leilão), maior retorno econômico.
sionais da seara artística de forma direta ou através de empresário, Vejamos:
levando em conta que este deverá ser reconhecido publicamente.
Por fim, o inc. III, aduz sobre a contratação de serviços técnicos Menor preço
especializados, de natureza singular, com profissionais ou empresas Trata-se do principal objetivo da Administração Pública que é
de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de o de comprar pelo menor preço possível. É o critério padrão bási-
publicidade e divulgação. co e o mais utilizado em qualquer espécie de licitação, inclusive o
pregão. Desta forma, vence, aquele que apresentar o preço menor
Ressalta-se que além das mencionadas hipóteses previstas de entre os participantes do certame, desde que a empresa licitante
forma exemplificativa na legislação, sempre que for impossível a atenda a todos os requisitos estipulados no edital.
competição, o procedimento de inexigibilidade de licitação deverá Nesta espécie de licitação, vencerá a proposta que oferecer e
ser adotado. comprovar maiores vantagens para a Administração Pública, ape-
nas em questões de valores, o que, na maioria das vezes, termina

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por prejudicar a população, tendo em vista que ao analisar apenas advindas dessas prestações, razão pela qual, a melhor proposta de
a questão de menor preço, nem sempre irá conseguir contratar um ajuste trata-se daquela que oferece maior retorno econômico à ma-
trabalho de qualidade. quina pública.

Maior desconto Modalidades


Pondera-se que caso a licitação seja julgada pelo critério de De antemão, infere-se que com o advento da nova Lei de Lici-
maior desconto, o preço com o valor estimado ou o máximo aceitá- tações de nº. 14.133/2.021, foram excluídas do diploma legal da
vel, deverá constar expressamente do edital. Isso acontece, por que Lei 8.666/1.993 as seguintes modalidades de licitação: tomada de
nessas situações específicas, a publicação do valor de referência da preços, convite e RDC – Lei 12.462/2.011. Desta forma, de acordo
Administração Pública é extremamente essencial para que os pro- com a Nova Lei de Licitações, são modalidades de licitação: con-
ponentes venham a oferecer seus descontos. corrência, concurso, leilão, pregão e diálogo competitivo.
Denota-se que o texto de lei determina que a administração li- Lembrando que conforme afirmado no início desse estudo,
citante forneça o orçamento original da contratação, mesmo que tal pelo fato do ordenamento jurídico administrativo estar em fase de
orçamento tenha sido declarado sigiloso, a qualquer instante tanto transição em relação às duas leis, posto que nos dois primeiros anos
para os órgãos de controle interno quanto externo. Esse fato é de as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na aplicação
grande importância para a administração Pública, tendo em vista para processos que começaram na Lei anterior, deverão continuar
que a depender do mercado, a divulgação do orçamento original no a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que começarem
instante de ocorrência da licitação acarretará o efeito âncora, fazen- após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos com a aplica-
do com que os valores das propostas sejam elevados ao patamar ção da nova Lei.
mais aproximado possível no que diz respeito ao valor máximo que
a Administração admite. Concorrência
Com fundamento no art. 29 da Lei 14.133/2.021, concorrência
Melhor técnica ou conteúdo artístico é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na
Nesse tipo de licitação, a escolha da empresa vencedora leva fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requi-
em consideração a proposta que oferecer mais vantagem em ques- sitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de
tão de fatores de ordem técnica e artística. Denota-se que esta es- seu objeto.
pécie de licitação deve ser aplicada com exclusividade para serviços Em termos práticos, trata-se a concorrência de modalidade
de cunho intelectual, como ocorre na elaboração de projetos, por licitatória conveniente para contratações de grande aspecto. Isso
exemplo incluindo-se nesse rol, tanto os básicos como os executi- ocorre, por que a Lei de Licitações e Contratos dispôs uma espécie
vos como: cálculos, gerenciamento, supervisão, fiscalização e ou- de hierarquia quando a definição da modalidade de licitação acon-
tros pertinentes à matéria. tece em razão do valor do contrato. Ocorre que quanto maiores
forem os valores envolvidos, mais altos e maiores serão o nível de
Técnica e preço publicidade bem como os prazos estipulados para a realização do
Depreende-se que esta espécie de licitação é de cunho obriga- procedimento. Em alguns casos, não obstante, é permitido uso da
tório quando da contratação de bens e serviços na área tecnológica modalidade de maior publicidade no lugar das de menor publicida-
como de informática e áreas afins, e também nas modalidade de de, jamais o contrário.
concorrência, segundo a nova lei de Licitações. Nesse caso espe- Nesta linha de pensamento, a regra passa a exigir o uso da con-
cífico, o licitante demonstra e apresenta a sua proposta e a docu- corrência para valores elevados, vindo a permitir que seja realizada
mentação usando três envelopes distintos, sendo eles: o primeiro a tomada de preços ou concorrência para montantes de cunho in-
para a habilitação, o segundo para o deslinde da proposta técnica e termediário e convite (ou tomada de preços ou concorrência), para
o terceiro, com o preço, que deverão ser avaliados nessa respectiva contratos de valores mais reduzidos. Os gestores, na prática, ge-
ordem. ralmente optam por utilizar a modalidade licitatória que seja mais
simplificada dentro do possível, de maneira a evitar a submissão a
Maior lance (leilão) prazos mais extensos de publicidade do certame.
Nos ditames da nova Lei de Licitações, esse critério se encon-
tra restrito à modalidade de leilão, disciplina que estudaremos nos Concurso
próximos tópicos. Disposto no art. 30 da Nova Lei de Licitações, esta modalidade
de licitação pode ser utilizada para a escolha de trabalho técnico,
Maior retorno econômico científico ou artístico. Vejamos o que dispõe a Nova Lei de Licita-
Registra-se que esse tema se trata de uma das maiores novida- ções:
des advindas da Nova Lei de Licitações, pelo fato desse requisito ser Art. 30. O concurso observará as regras e condições previstas
um tipo de licitação de uso para licitações cujo objeto e fulcro sejam em edital, que indicará:
uma espécie de contrato de eficiência. I - a qualificação exigida dos participantes;
II - as diretrizes e formas de apresentação do trabalho;
Assim dispõe o inc. LIII do Art. 6º da Nova Lei de Licitações: III - as condições de realização e o prêmio ou remuneração a ser
LIII - contrato de eficiência: contrato cujo objeto é a prestação concedida ao vencedor.
de serviços, que pode incluir a realização de obras e o fornecimento Parágrafo único. Nos concursos destinados à elaboração de
de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante, projeto, o vencedor deverá ceder à Administração Pública, nos ter-
na forma de redução de despesas correntes, remunerado o contra- mos do art. 93 desta Lei, todos os direitos patrimoniais relativos ao
tado com base em percentual da economia gerada; projeto e autorizar sua execução conforme juízo de conveniência e
Desta forma, depreende-se que a pretensão da Administração oportunidade das autoridades competentes.
não se trata somente da obra, do serviço ou do bem propriamente
dito, mas sim do resultado econômico que tenha mais vantagens

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Leilão Diversamente do que ocorre no pregão eletrônico, levando em
Disposto no art. 31 da Nova Lei de Licitações, o leilão poderá conta que todos os participantes são classificados e tem o direito de
ser cometido a leiloeiro oficial ou a servidor designado pela auto- participar da fase na qual ocorrem os lances por meio do sistema,
ridade competente da Administração, sendo que seu regulamento dentro dos parâmetros pertinentes ao horário indicado no edital ou
deverá dispor sobre seus procedimentos operacionais. carta convite.
Se optar pela realização de leilão por intermédio de leiloeiro Inicia-se a fase de lances do pregão presencial com o lance da
oficial, a Administração deverá selecioná-lo mediante credencia- licitação que possui a maior proposta, vindo a seguir, por conse-
mento ou licitação na modalidade pregão e adotar o critério de jul- guinte, a lista decrescente até alcançar ao menor valor.
gamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas, É importante destacar que no pregão eletrônico, os lances são
utilizados como parâmetro máximo, os percentuais definidos na lei lançados no sistema na medida em que os participantes vão ofer-
que regula a referida profissão e observados os valores dos bens a tando, devendo ser sempre de menor valor ao último lance que por
serem leiloados este foi ofertado. Assim, lances são lançados e registrados no siste-
O leilão não exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de ma, até que esta fase venha a se encerrar.
habilitação e deverá ser homologado assim que concluída a fase Desde o início da Sessão, no pregão presencial o pregoeiro de-
de lances, superada a fase recursal e efetivado o pagamento pelo verá se informar de antemão, quem são os participantes, tendo em
licitante vencedor, na forma definida no edital. vista que estes se identificam no momento do em que fazem o cre-
denciamento.
Quaisquer interessados podem participar do leilão. Denota-se No pregão eletrônico, até que chegue a fase de habilitação,
que o bem será vendido para o licitante que fizer a oferta de maior o pregoeiro não possui a informação sobre quem são os licitantes
lance, o qual deverá obrigatoriamente ser igual ou superior ao valor participantes, para evitar conluio.
de avaliação do bem. A intenção de recorrer no pregão presencial, deverá por parâ-
A realização do leilão poderá ser por meio de leiloeiro oficial ou metros legais, ser manifestada e eivada com as motivações ao final
por servidor indicado pela Administração, procedendo-se conforme da Sessão.
os ditames da legislação pertinente. No pregão eletrônico, havendo a intenção de recorrer, deverá
de imediato a parte interessada se manifestar, devendo ser regis-
Destaca-se ainda, que algumas entidades financeiras da Admi- trado no campo do sistema de compras pertinente, no qual deverá
nistração indireta executam contratos de mútuo que são garantidos conter as exposições com a motivação da interposição.
por penhor e que, restando-se vencido o contrato, se a dívida não
for liquidada, promover-se-á o leilão do bem empenhado que deve- Diálogo competitivo
rá seguir as regras pertinentes à Lei de licitações. Com supedâneo no art. 32 da Nova Lei de Licitações, modali-
dade diálogo competitivo é restrita a contratações em que a Admi-
Pregão nistração:
Com fundamento no art. 29 da Nova Lei de Licitações, trata- Art. 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita a contrata-
-se o pregão de uma modalidade de licitação do tipo menor preço, ções em que a Administração:
designada ao aferimento de aquisição de bens e serviços comuns. I - vise a contratar objeto que envolva as seguintes condições:
Existem duas maneiras de ocorrência dos pregões, sendo estas nas a) inovação tecnológica ou técnica;
formas eletrônica e presencial. b) impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua necessidade
Pondera-se que a Lei geral que rege os pregões é a Lei satisfeita sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado; e
10.520/02. No entanto, em âmbito federal, o pregão presencial é c) impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas
fundamentado e regulamentado pelo Decreto3.555/00, já o pregão com precisão suficiente pela Administração;
eletrônico, por meio do Decreto 5.450/05. II - verifique a necessidade de definir e identificar os meios e as
Os referidos decretos, em razão da natureza institucional de alternativas que possam satisfazer suas necessidades, com desta-
processamento dos pregões, são estabelecidos por meio de regras que para os seguintes aspectos:
diferentes que serão adotadas pelo Poder Público. a) a solução técnica mais adequada;
Em âmbito federal, a modalidade pregão é obrigatória para b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a solução já defi-
contratação de serviços e bens comuns. No entanto, o Decreto nida;
5.459/05 determina que a forma eletrônica é, via de regra, prefe- c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato.
rencial.
Ressalta-se que aqueles que estiverem interessados em partici- Obs. Importante: § 1º, inc. VIII , Lei 14.133/2021- a Adminis-
par do pregão presencial, deverão comparecer em hora e local nos tração deverá, ao declarar que o diálogo foi concluído, juntar aos
quais deverá ocorrer a Sessão Pública, onde será feito o credencia- autos do processo licitatório os registros e as gravações da fase de
mento, devendo ainda, apresentar os envelopes de proposta, bem diálogo, iniciar a fase competitiva com a divulgação de edital con-
como os documentos pertinentes. tendo a especificação da solução que atenda às suas necessidades
Referente ao pregão eletrônico, deverão os interessados fazer e os critérios objetivos a serem utilizados para seleção da proposta
cadastro no sistema de compras a ser usado pelo ente licitante, vin- mais vantajosa e abrir prazo, não inferior a 60 (sessenta) dias úteis,
do, por conseguinte, cadastrar a sua proposta. para todos os licitantes pré-selecionados na forma do inciso II deste
A classificação a respeito das formas de pregão está também parágrafo apresentarem suas propostas, que deverão conter os ele-
eivada de diferenças. Infere-se que no pregão presencial, o pregoei- mentos necessários para a realização do projeto.
ro deverá fazer a seleção de todas as propostas de até 10% acima
da melhor proposta e as classificar para a fase de lances. Havendo
ausência de propostas que venham a atingir esses 10%, restarão
selecionadas, por conseguinte, as três melhores propostas.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Habilitação, Julgamento e recursos 4. Técnica e preço;
5. Maior lance, no caso de leilão;
Habilitação 6. Maior retorno econômico.
Com determinação expressa no Capítulo VI da Nova Lei de Lici- Observa-se que os títulos por si só já dão a noção a respeito do
tações, art. 62, denota-se que a habilitação se mostra como a fase seu funcionamento, bem como já foram estudados anteriormente
da licitação por meio da qual se verifica o conjunto de informações nesta obra. Entretanto, é possível afirmar que a maior novidade,
e documentos necessários e suficientes para demonstrar a capaci- trata-se do critério de maior retorno econômico, que é uma espécie
dade do licitante de realizar o objeto da licitação. de licitação usada somente para certames cujo objeto seja contrato
Registra-se no dispositivo legal, que os critérios inseridos foram de eficiência de forma geral.
renovados pela Nova Lei, como por exemplo, a previsão em lei de Nesta espécie de contrato, busca-se o resultado econômico
aceitação de balanço de abertura. que proporcione a maior vantagem advinda de uma obra, serviço
No que condiz à habilitação econômico-financeira, com supe- ou bem, motivo pelo qual, a melhor proposta deverá ser aquela que
dâneo legal no art. 68 da Nova Lei, observa-se que possui utilidade trouxer um maior retorno econômico.
para demonstrar que o licitante se encontra dotado de capacidade
para sintetizar com suas possíveis obrigações futuras, devendo a Recursos
mesma ser comprovada de forma objetiva, por intermédio de coefi- Com base legal no art. 71 da nova Lei de Licitações, não ocor-
cientes e índices econômicos que deverão estar previstos no edital rendo inversão de fases na licitação, pondera-se que os recursos em
e devidamente justificados no processo de licitação. face dos atos de julgamento ou habilitação, deverão ser apresenta-
De acordo com a Nova lei, os documentos exigidos para a ha- dos no término da fase de habilitação, tendo em vista que tal ato
bilitação são: a certidão negativa de feitos a respeito de falência ex- deverá acontecer em apenas uma etapa.
pedida pelo distribuidor da sede do licitante, e, por último, exige-se Caso os licitantes desejem recorrer a despeito dos atos do jul-
o balanço patrimonial dos últimos dois exercícios sociais, salvo das gamento da proposta e da habilitação, denota-se que deverão se
empresas que foram constituídas no lapso de menos de dois anos. manifestar de imediato o seu desejo de recorrer, logo após o térmi-
Registra-se que base legal no art. 66 da referida Lei, habilita- no de cada sessão, sob pena de preclusão
ção jurídica visa a demonstrar a capacidade de o licitante exercer Havendo a inversão das fases com a habilitação de forma pre-
direitos e assumir obrigações, e a documentação a ser apresentada cedente à apresentação das propostas, bem como o julgamento,
por ele limita-se à comprovação de existência jurídica da pessoa e, afirma-se que os recursos terão que ser apresentados em dois in-
quando cabível, de autorização para o exercício da atividade a ser tervalos de tempo, após a fase de habilitação e após o julgamento
contratada. das propostas.
Já o art. 67, dispõe de forma clara a respeito da documentação
exigida para a qualificação técnico-profissional e técnico-operacio- Adjudicação e homologação
nal. Vejamos: O Direito Civil Brasileiro conceitua a adjudicação como sendo
Art. 67. A documentação relativa à qualificação técnico-profis- o ato por meio do qual se declara, cede ou transfere a propriedade
sional e técnico-operacional será restrita a: de uma pessoa para outra. Já o Direito Processual Civil a conceitua
I - apresentação de profissional, devidamente registrado no como uma forma de pagamento feito ao exequente ou a terceira
conselho profissional competente, quando for o caso, detentor de pessoa, por meio da transferência dos bens sobre os quais incide
atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou ser- a execução.
viço de características semelhantes, para fins de contratação; Ressalta-se que os procedimentos legais de adjudicação têm
II - certidões ou atestados, regularmente emitidos pelo conse- início com o fim da fase de classificação das propostas. Adilson
lho profissional competente, quando for o caso, que demonstrem Dallari (1992:106), doutrinariamente separando as fases de classi-
capacidade operacional na execução de serviços similares de com- ficação e adjudicação, ensina que esta não é de cunho obrigatório,
plexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior, bem embora não seja livre.
como documentos comprobatórios emitidos na forma do § 3º do Podemos conceituar a homologação como o ato que perfaz o
art. 88 desta Lei; encerramento da licitação, abrindo espaço para a contratação. Ho-
III - indicação do pessoal técnico, das instalações e do apare- mologação é a aprovação determinada por autoridade judicial ou
lhamento adequados e disponíveis para a realização do objeto da administrativa a determinados atos particulares com o fulcro de
licitação, bem como da qualificação de cada membro da equipe téc- produzir os efeitos jurídicos que lhes são pertinentes.
nica que se responsabilizará pelos trabalhos; Considera-se que a homologação do processo de licitação re-
IV - prova do atendimento de requisitos previstos em lei espe- presenta a aceitação da proposta. De acordo com Sílvio Rodrigues
cial, quando for o caso; (1979:69), a aceitação consiste na “formulação da vontade concor-
V - registro ou inscrição na entidade profissional competente, dante e envolve adesão integral à proposta recebida.”
quando for o caso; Registre-se por fim, que a homologação vincula tanto a Admi-
VI - declaração de que o licitante tomou conhecimento de todas nistração como o licitante, para buscar o aperfeiçoamento do con-
as informações e das condições locais para o cumprimento das obri- trato.
gações objeto da licitação.
Registro de preços
Julgamento Registro de preços é a modalidade de licitação que se encontra
Sob a vigência do nº. 14.133/2.021, a Nova Lei de Licitações apropriada para possibilitar diversas contratações que sejam conco-
trouxe em seu art. 33, a nova forma de julgamento, sendo que de mitantes ou sucessivas, sem que haja a realização de procedimento
agora em diante, as propostas deverão ser julgadas de acordo sob de licitação de forma específica para cada uma destas contratações.
os seguintes critérios: Registra-se que o referido sistema é útil tanto a um, quanto a
1. Menor preço; mais órgãos pertencentes à Administração.
2. Maior desconto;
3. Melhor técnica ou conteúdo artístico;
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De modo geral, o registro de preços é usado para compras cor- I - realização prévia de ampla pesquisa de mercado;
riqueiras de bens ou serviços específicos, em se tratando daqueles II - seleção de acordo com os procedimentos previstos em re-
que não se sabe a quantidade que será preciso adquirir, bem como gulamento;
quando tais compras estiverem sob a condição de entregas parcela- III - desenvolvimento obrigatório de rotina de controle;
das. O objetivo destas ações é evitar que se formem estoques, uma IV - atualização periódica dos preços registrados;
vez que estes geram alto custo de manutenção, além do risco de V - definição do período de validade do registro de preços;
tais bens vir a perecer ou deteriorar. VI - inclusão, em ata de registro de preços, do licitante que acei-
Por fim, vejamos os dispositivos legais contidos na Nova lei de tar cotar os bens ou serviços em preços iguais aos do licitante vence-
Lictações que regem o sistema de registro de preços: dor na sequência de classificação da licitação e inclusão do licitante
Art. 82. O edital de licitação para registro de preços observará que mantiver sua proposta original.
as regras gerais desta Lei e deverá dispor sobre: § 6º O sistema de registro de preços poderá, na forma de regu-
I - as especificidades da licitação e de seu objeto, inclusive a lamento, ser utilizado nas hipóteses de inexigibilidade e de dispen-
quantidade máxima de cada item que poderá ser adquirida; sa de licitação para a aquisição de bens ou para a contratação de
II - a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou, serviços por mais de um órgão ou entidade.
no caso de serviços, de unidades de medida; Art. 83. A existência de preços registrados implicará compro-
III - a possibilidade de prever preços diferentes: misso de fornecimento nas condições estabelecidas, mas não obri-
a) quando o objeto for realizado ou entregue em locais dife- gará a Administração a contratar, facultada a realização de licita-
rentes; ção específica para a aquisição pretendida, desde que devidamente
b) em razão da forma e do local de acondicionamento; motivada.
c) quando admitida cotação variável em razão do tamanho do Art. 84. O prazo de vigência da ata de registro de preços será de
lote; 1 (um) ano e poderá ser prorrogado, por igual período, desde que
d) por outros motivos justificados no processo; comprovado o preço vantajoso.
IV - a possibilidade de o licitante oferecer ou não proposta em Parágrafo único. O contrato decorrente da ata de registro de
quantitativo inferior ao máximo previsto no edital, obrigando-se preços terá sua vigência estabelecida em conformidade com as dis-
nos limites dela; posições nela contidas.
V - o critério de julgamento da licitação, que será o de menor
preço ou o de maior desconto sobre tabela de preços praticada no Revogação e anulação da licitação
mercado; De antemão, em relação à revogação e a anulação do proce-
VI - as condições para alteração de preços registrados; dimento licitatório, aplica-se o mesmo raciocínio, posto que caso
VII - o registro de mais de um fornecedor ou prestador de servi- tenha havido vício no procedimento, busca-se por vias legais o a
ço, desde que aceitem cotar o objeto em preço igual ao do licitante possibilidade de corrigi-lo. Em se tratando de caso de vício que não
vencedor, assegurada a preferência de contratação de acordo com se possa sanar, ou haja a impossibilidade de saná-lo, a anulação se
a ordem de classificação; impõe. Entretanto, caso não exista qualquer espécie de vício no cer-
VIII - a vedação à participação do órgão ou entidade em mais tame, mas, a contratação tenha sido deixada de ser considerada de
de uma ata de registro de preços com o mesmo objeto no prazo de interesse público, impõe-se a aplicação da revogação.
validade daquela de que já tiver participado, salvo na ocorrência de Nos ditames do art. 62 da Lei nº 13.303/2016, após o início da
ata que tenha registrado quantitativo inferior ao máximo previsto fase de apresentação de lances ou propostas, “a revogação ou a
no edital; anulação da licitação somente será efetivada depois de se conceder
IX - as hipóteses de cancelamento da ata de registro de preços aos licitantes que manifestem interesse em contestar o respectivo
e suas consequências ato prazo apto a lhes assegurar o exercício do direito ao contraditó-
§ 1º O critério de julgamento de menor preço por grupo de rio e à ampla defesa”.
itens somente poderá ser adotado quando for demonstrada a invia- Já na seara da lei nº 8.666/93, ressalta-se que a norma tratou
bilidade de se promover a adjudicação por item e for evidenciada a de limitar a indicar, por meio do art. 49, §3º, que em caso de des-
sua vantagem técnica e econômica, e o critério de aceitabilidade de fazimento do processo licitatório, ficará assegurado o contraditório
preços unitários máximos deverá ser indicado no edital. e a ampla defesa.
§ 2º Na hipótese de que trata o § 1º deste artigo, observados Por fim, registra-se que em se tratando da obrigatoriedade da
os parâmetros estabelecidos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 23 desta Lei, aprovação de espaço aos licitantes interessados no exercício do di-
a contratação posterior de item específico constante de grupo de reito ao contraditório e à ampla defesa, de forma anterior ao ato
itens exigirá prévia pesquisa de mercado e demonstração de sua de decisório de revogação e anulação, criou-se de forma tradicio-
vantagem para o órgão ou entidade. nal diversos debates tanto na doutrina quanto na jurisprudência
§ 3º É permitido registro de preços com indicação limitada a nacional. Um exemplo da informação acima, trata-se dos diversos
unidades de contratação, sem indicação do total a ser adquirido, julgados que ressalvam a aplicação contida no art. 49, §3º da Lei
apenas nas seguintes situações: 8.666/1.993 nas situações de revogação de licitação antes de sua
I - quando for a primeira licitação para o objeto e o órgão ou homologação. Pondera-se que esse entendimento afirma que o
entidade não tiver registro de demandas anteriores; contraditório e a ampla defesa apenas seriam exigíveis quando o
II - no caso de alimento perecível; procedimento de licitação tiver sido concluído.
III - no caso em que o serviço estiver integrado ao fornecimento Obs. Importante: Ainda que em situações por meio das quais é
de bens. considerado dispensável dar a oportunidade aos licitantes do con-
§ 4º Nas situações referidas no § 3º deste artigo, é obrigatória traditório e a ampla defesa, a obrigação da administração em mo-
a indicação do valor máximo da despesa e é vedada a participação tivar o ato revogatório não será afastada, uma vez que devendo se
de outro órgão ou entidade na ata. ater aos princípios da transparência e da motivação, o gestor por
§ 5º O sistema de registro de preços poderá ser usado para força de lei, deverá sempre evidenciar as razões pelas quais foram
a contratação de bens e serviços, inclusive de obras e serviços de fundamentadas a conclusão pela revogação do certame, bem como
engenharia, observadas as seguintes condições: os motivos de não prosseguir com o processo licitatório.
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Breves considerações adicionais acerca das mudanças no pro- tenha autonomia, possua liberdade, porém, uma liberdade sob vi-
cesso de licitação após a aprovação da Lei 14.133/2.021 gilância. Nesse sentido, o Poder Legislativo edita leis que podem ser
• Com a aprovação da Nova Lei, nos ditames do §2º do art. 17, vetadas ou freadas pelo Poder Executivo, que poderá ter seu veto
será utilizada como regra geral, a forma eletrônica de contratação derrubado ou freado pelo Poder Legislativo. Ou seja, não concor-
para todos os procedimentos licitatórios. dando o Executivo com a derrubada de um veto vindo a entender
• Como exceção, caso seja preciso que a forma de contratação que a lei aprovada seja inconstitucional, deterá o poder de incumbir
seja feita presencialmente, o órgão deverá expor os motivos de fato a matéria à análise do Poder Judiciário que irá dirimir o conflito,
e de direito no processo administrativo, porém, ficará incumbido da como por exemplo, uma ADI ajuizada pelo Presidente da Repúbli-
obrigação de gravar a sessão em áudio e também em vídeo. ca. O Judiciário contém os membros de sua cúpula (STF), que são
• O foco da Nova Lei, é buscar o incentivo para o uso do siste- indicados pelo chefe de outro Poder, no caso, o Presidente da Repú-
ma virtual nos certames, vindo, assim, a dar mais competitividade, blica, sendo a indicação restrita à aprovação de uma das Casas do
segurança e isonomia para as licitações de forma geral. Parlamento (Senado Federal), o que acaba por ser uma espécie de
• A Nova Lei de Licitações criou o PNCP (Portal Nacional de controle prévio.
Contratações Públicas), que irá servir como um portal obrigatório. Desta maneira, percebe-se que no Estado Democrático de Di-
• Todos os órgãos terão obrigação de divulgar suas licitações, reito, o próprio ordenamento jurídico dispõe de mecanismos que
sejam eles federais, estaduais ou municipais. possibilitam o controle de toda a atuação do Estado. Tais instru-
• Art. 20. Os itens de consumo adquiridos para suprir as de- mentos tem como objetivo, garantir que tal atuação se mantenha
mandas das estruturas da Administração Pública deverão ser de sempre consolidada com o direito, visando ao interesse público e
qualidade comum, não superior à necessária para cumprir as finali- mantendo o respeito aos direitos dos administrados.
dades às quais se destinam, vedada a aquisição de artigos de luxo. Em relação à localização do órgão de controle, infere-se que
• Art. 95, § 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com pode ser interno ou externo. Vejamos:
a Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação • Controle interno: é realizado por órgãos de um Poder sobre-
de serviços de pronto pagamento, assim entendidos aqueles de va- pondo condutas que são praticadas na direção desse mesmo Poder,
lor não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). ou, ainda, por um órgão de uma pessoa jurídica da Administração
• São atos da Administração Pública antes de formalizar ou indireta sobre atos que foram praticados pela própria pessoa jurídi-
prorrogar contratos administrativos: verificar a regularidade fiscal ca da qual faz parte. No controle interno o órgão controlador encon-
do contratado; consultar o Cadastro Nacional de Empresas idôneas tra-se inserido na estrutura administrativa que deve ser controlada.
e suspensas (CEIS) e punidas (CNEP). Em alguns casos, o controle interno decorre da hierarquia, pois
• A Nova Lei de Licitações inseriu vários crimes do Código Pe- esta possibilita aos órgãos hierarquicamente superiores controlar
nal, no que se refere às licitações, dentre eles, o art. 337-H do Có- os atos praticados pelos que lhe são subordinados. Em resumo, o
digo Penal de 1.940: controle interno que venha a depender da existência de hierarquia
Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer mo- entre controlador e controlado, é aquele exercido pelas chefias so-
dificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor bre seus subordinados, sendo o tradicional “sistema de controle in-
do contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a terno” é organizado por lei incumbida de lhe definir as atribuições,
Administração Pública sem autorização em lei, no edital da licitação não dependendo de hierarquia para o exercício de suas prerroga-
ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatu- tivas.
ra com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade: • Controle externo: é realizado por órgão estranho à estrutu-
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa. ra do Poder controlado. Verificamos tal fato, em termos práticos,
quando por exemplo, um Tribunal de Contas Estadual passa a julgar
Perturbação de processo licitatório as contas no âmbito dos poderes legislativo ou judiciário.
• Os valores fixados na Lei, serão anualmente corrigidos pelo
IPCA-E, nos termos do art. 182: O Poder Executivo federal atua- Controle Judicial
lizará, a cada dia 1º de janeiro, pelo Índice Nacional de Preços ao Registremos, a princípio, que o controle judicial da Administra-
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) ou por índice que venha a subs- ção Pública, trata-se daquele exercido pelo Poder Judiciário, quan-
tituí-lo, os valores fixados por esta Lei, os quais serão divulgados no do em exercício de função jurisdicional, sobre os atos administra-
PNCP. tivos do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do próprio Poder
Judiciário. O controle judicial é aquele por meio do qual, o Poder
Judiciário, ao exercer de a função jurisdicional, aprecia a juridicida-
CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONTROLE de que engloba a regularidade, a legalidade e a constitucionalidade
EXERCIDO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONTROLE da conduta administrativa.
JUDICIAL. CONTROLE LEGISLATIVO Denota-se que o controle externo da Administração por meio
do Poder Judiciário foi majorado e fortalecido pela Constituição
Federal de 1988, tendo previsto novos instrumentos de controle,
Controle exercido pela Administração Pública (controle interno) como por exemplo, o mandado de segurança coletivo, o mandado
A princípio, infere-se que a teoria da separação dos poderes de injunção e o habeas data.
possui em sua essência, de acordo com Montesquieu, o objetivo O Brasil, contemporaneamente adota o sistema de unidade de
certo de limitar arbítrios de maneira que venha a proteger os direi- jurisdição, também conhecido por sistema de monopólio de juris-
tos individuais. Isso por que, grande parte dos detentores do Poder dição ou sistema inglês, por intermédio do qual o Poder Judiciário
tende a adquirir mais poder, situação tal, que, caso não esteja sujei- possui a exclusividade da função jurisdicional, vindo a inferir que
ta a controle, culminará no abuso, ou até no absolutismo. somente as decisões judiciais fazem coisa julgada em sentido pró-
Para evitar esse tipo de distorção, Montesquieu propôs a teoria prio, vindo a tornar-se juridicamente insuscetíveis de serem modi-
dos freios e contrapesos, por meio da qual os poderes constituídos ficadas.
possuem a incumbência de controlar, freando e contrabalanceando
as atuações dos demais poderes, de maneira que cada um deles
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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Desta maneira, percebe-se que a decisão que é proferida pela Controle Legislativo
Administração Pública ou, ainda, qualquer ato administrativo en- O controle legislativo é aquele executado pelo Poder Legisla-
contram-se passíveis de revisão pelo Poder Judiciário. tivo sobre as autoridades e os órgãos dos outros poderes, como
É importante registrar que o fundamento da adoção do siste- ocorre por exemplo, nos casos de convocação de autoridades com o
ma de unidade jurisdicional no Brasil é a previsão que se encontra objetivo de prestar esclarecimentos ou, ainda, do controle externo
inserida no art. 5º, XXXV, da CFB/1988, por meio da qual ficou es- exercido pelo Poder Legislativo auxiliado pelo Tribunal de Contas.
tabelecido que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário O controle legislativo, também denominado de controle parla-
lesão ou ameaça a direito”. mentar, se refere àquele no qual o Poder Legislativo exerce poder
Há países, que de forma diferente do Brasil, adotam o sistema sobre os atos do Poder Executivo e sobre os atos do Poder Judi-
de dualidade de jurisdição ou sistema do contencioso administrati- ciário, sendo este último somente no que condiz ao desempenho
vo ou sistema francês. Denota-se que nesses países, a função juris- da função administrativa. Trata-se assim, o controle parlamentar de
dicional é exercida por duas estruturas orgânicas que são regidas um controle externo sobre os demais Poderes.
de forma independente, sendo elas a Justiça Judiciária e a Justiça Infere-se que a estrutura do Poder Legislativo Brasileira deve
Administrativa, posto que cada uma profere decisão com força de ser verificada com atenção às peculiaridades de cada ente federa-
coisa julgada no âmbito de suas competências. do, posto que não somente o princípio da simetria, como também
Referente à Justiça Administrativa, explica-se que no sistema as regras específicas que a Constituição Federal predispõe para os
de dualidade de jurisdição, esta é composta por juízes e tribunais âmbitos federal, estadual, municipal e distrital.
administrativos cuja competência cuida-se em geral, de resolver Em análise ao plano federal, verifica-se que vigora o bicamera-
litígios nos quais o Poder Público seja parte. Pareando a Justiça Ad- lismo federativo, sendo o Poder Legislativo Federal composto por
ministrativa, está a Justiça Judiciária, composta por órgãos do Poder duas Casas: a Câmara dos Deputados que é composta por represen-
Judiciário, tendo competência para julgar com definitividade confli- tantes do povo e o Senado Federal que é composto por represen-
tos que envolvam somente particulares. tantes dos Estados-membros e do Distrito Federal.
Pondera-se que o controle exercido pelo Poder Judiciário, via De acordo com o sistema constitucional, o controle parlamen-
de regra, será sempre um controle de legalidade ou legitimidade do tar pode ser exercido: a) por uma das Casas isoladamente; b) pelas
ato administrativo. No exercício da função jurisdicional, os Magis- duas Casas reunidas em sessão conjunta; c) pela mesa diretora do
trados não apreciam o mérito do ato administrativo, não analisando Congresso Nacional ou de cada Casa; d) pelas comissões do Con-
a conveniência e a oportunidade da prática do ato. gresso Nacional ou de cada Casa.
Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou Levando em conta o princípio da simetria de organização, as
de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício, a regras mencionadas também devem ser aplicadas, no que lhes cou-
decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato admi- ber, ao Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal e distrital,
nistrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que não é cabível desde que realizadas as devidas adaptações, principalmente aque-
no exercício da função jurisdicional a revogação do ato administra- las que advém do fato de nos planos estadual, municipal e distrital a
tivo, tendo em vista que esta pressupõe a análise do mérito do ato. organização do Poder Legislativo serem do tipo unicameral.
É de suma importância destacar que o controle judicial possui Com fundamento no princípio da autotutela, o Poder Legislati-
abrangência tanto em relação aos atos vinculados quanto aos dis- vo também possui o poder de exercer o controle interno sobre os
cricionários, posto que ambos devem obedecer aos requisitos de seus próprios atos. Nessa situação, aduz-se que o Poder Legislativo
validade como a competência, a forma e a finalidade. Desta forma, estará realizando um controle administrativo interno. Esse é o mo-
é possível que tanto os atos administrativos vinculados quanto os tivo pelo qual quando falamos no controle parlamentar, estamos
discricionários venham a apresentar vícios de legalidade ou ilegiti- abordando somente o controle externo exercido pelo Poder Legis-
midade, em decorrência dos quais poderão vir a ser anulados pelo lativo.
Poder Judiciário quando estiver no exercício do controle jurisdicio- Destaca-se que o controle que o Poder Legislativo detém sobre
nal. a Administração Pública, encontra-se limitado às hipóteses previs-
Explicita-se que o controle judicial da Administração, de modo tas na Constituição Federal. Isso ocorre, por que porque caso con-
geral, é sempre provocado, isso por que ele depende da iniciativa trário, haveria inferiorização do princípio da separação dos poderes.
de alguma pessoa, que poderá ser física ou jurídica. Qualquer pes- Acontece que em razão disso, não podem leis ordinárias, comple-
soa que tenha a pretensão de provocar o controle da administração mentares ou Constituições Estaduais predispor outras modalidades
pelo Poder Judiciário, deverá, de antemão, propor judicialmente a de controle diversas das que são previstas na Constituição Federal,
ação cabível para o alcance desse objetivo. sob risco de ferir o mesmo princípio.
Por fim, diga-se de passagem, que existem várias espécies de De modo geral, a doutrina diferencia dois tipos de controle le-
ações judiciais que permitem ao Judiciário apreciar lesão ou amea- gislativo: o político e o financeiro.
ça a direito decorrente de ato administrativo. Exemplos: o habeas O controle financeiro é exercido com o auxílio dos tribunais de
corpus, o habeas data, o mandado de injunção, etc. A relação das contas. Já o controle político, alcança aspectos de legalidade e de
ações que dão possibilidade ao controle judicial da Administração mérito, vindo a ser preventivo, concomitante ou repressivo, con-
será sempre a título de exemplificação, tendo em vista que o con- forme o caso.
trole pode ser exercido, inclusive, por intermédio de ação judicial
ordinária sem denominação especial ou específica. Formas de controle político:
1. Da competência exclusiva do Congresso Nacional (CF, art.
Nota: a Emenda Constitucional 45/2004 ao introduzir no di- 49): resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos inter-
reito brasileiro o instituto das súmulas vinculantes, inaugurou um nacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
novo mecanismo de controle judicial da Administração Pública, ato patrimônio nacional; autorizar o Presidente da República a declarar
por meio do qual passou-se a admitir o cabimento de reclamação guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transi-
ao STF contra ato administrativo que contrarie súmulas vinculantes tem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamen-
editadas pela Corte Suprema. te, ressalvados os casos previstos em lei complementar; autorizar
o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do
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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
País, quando a ausência exceder a quinze dias; aprovar o estado de cação adequada; as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado
defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou sus- Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Mi-
pender qualquer uma dessas medidas; sustar os atos normativos nistros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos diretamente
do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos subordinados à Presidência da República, importando em crime de
limites de delegação legislativa; julgar anualmente as contas pres- responsabilidade a recusa, ou o não atendimento, no prazo de trin-
tadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a ta dias, bem como a prestação de informações falsas.
execução dos planos de governo; fiscalizar e controlar, diretamente, Por fim, em relação ao controle político legislativo, cabe espe-
ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluí- cial destaque referente ao controle exercido pelas comissões parla-
dos os da administração indireta; apreciar os atos de concessão e mentares de inquérito (CPIs).
renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão; aprovar As CPIs são comissões temporárias designadas a investigar fato
iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; au- certo e determinado e fazem parte do contexto de uma das funções
torizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de típicas do Parlamento que é a função de fiscalização.
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; aprovar, De acordo com a Constituição Federal, as comissões parlamen-
previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área tares de inquérito possuem poderes de investigação que são pró-
superior a dois mil e quinhentos hectares. prios das autoridades judiciais, além de outros poderes que estão
previstos nos regimentos das Casas Legislativa. As CPIs são criadas
2. Da competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52): pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, seja em conjun-
processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República to ou de forma separada mediante pugnação de um terço de seus
nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Esta- membros, com o objetivo de apurar fato determinado e por prazo
do e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica certo, sendo que as suas conclusões, quando for preciso, serão en-
nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; processar e caminhadas ao Ministério Público, para que este órgão promova a
julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do responsabilidade civil ou criminal dos infratores, nos termos dispos-
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério tos no art. 58, § 3º da CFB/1988.
Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da
União nos crimes de responsabilidade; autorizar operações exter- Em decorrência do exercício dos seus poderes de investigação,
nas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do a CPI é dotada de ato próprio, sem a necessidade de autorização
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; fixar, por propos- judicial para:
ta do Presidente da República, limites globais para o montante da • realizar as diligências que entender necessárias;
dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos • convocar e tomar o depoimento de autoridades, inquirir tes-
Municípios; dispor sobre limites globais e condições para as opera- temunhas sob compromisso e ouvir indiciados;
ções de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito • requisitar de órgãos públicos informações e documentos de
Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades qualquer natureza;
controladas pelo Poder Público federal; dispor sobre limites e con- • requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de ins-
dições para a concessão de garantia da União em operações de cré- peções e auditorias que entender necessárias.
dito externo e interno; estabelecer limites globais e condições para Ademais, conforme decisão do STF, por autoridade própria, a
o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e CPI pode sem necessidade de intervenção judicial, porém, sempre
dos Municípios; aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a por meio de decisão fundamentada e motivada, observadas todas
exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do as formalidades da legislação, determinar a quebra de sigilo fiscal,
término de seu mandato; aprovar previamente, por voto secreto, bancário e de dados do investigado. (MS 23.452/RJ).
após arguição pública, a escolha de: Em esquema básico, temos:
• Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
• Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre- Financeiro: é exercido com o auxílio dos
sidente da República; tribunais de contas.
• Governador de Território; CONTROLE
• Presidente e diretores do Banco Central; LEGISLATIVO Político: alcança aspectos de legalidade
• Procurador-Geral da República; ESPÉCIES e de mérito, vindo a ser preventivo, concomi-
• Titulares de outros cargos que a lei determinar. tante ou repressivo.
• Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca- Controle pelos Tribunais de Contas
ráter permanente; Previstos na Constituição Federal, os Tribunais de Contas são
órgãos com a finalidade de auxiliar o Poder Legislativo na execução
3. Da competência privativa da Câmara dos Deputados (CF, do exercício do controle externo da Administração Pública. São ór-
art. 51): autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração gãos especializados e não integram a estrutura administrativa do
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e Parlamento e também não mantém com ele mantém qualquer es-
os Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do Presiden- pécie de relação hierárquica.
te da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional Denota-se que a Carta Magna de 1988 preservou a estrutura
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa. de organização dos Tribunais de Contas vigente nos diversos entes
da federação à época de sua promulgação. Com isso, nos termos
4. Outros controles políticos (CF, art. 50): a Câmara dos Depu- do art. 31, § 4º da CFB/1988, tornou-se proibida a criação de novos
tados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais.
convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos dire- Em seguimento a essa diretriz, em âmbito federal, temos o TCU
tamente subordinados à Presidência da República para prestarem, (Tribunal de Contas da União); no plano estadual, os Tribunais de
pessoalmente, informações sobre assunto previamente determina- Contas dos Estados; no Distrito Federal, o TCDF (Tribunal de Con-
do, importando crime de responsabilidade a ausência sem justifi- tas do Distrito Federal), sendo que na esfera municipal, percebe-se
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a organização dos tribunais de contas não ocorre de maneira uni- são, são passíveis de averiguação aspectos como a finalidade do ato
forme. Devido ao fato da maioria dos municípios ter criado até a e a obediência aos princípios constitucionais como a moralidade
CF/1988 o seu próprio Tribunal de Contas, a função de prestar auxí- administrativa, por exemplo.
lio ao Poder Legislativo municipal no exercício do controle externo é Em continuidade, o controle de economicidade é relativo à uti-
normalmente repassada ao Tribunal de Contas do respectivo Estado lização dos recursos de forma racional, uma vez que com ele, pre-
que é dotado de atribuições de controle ao das administrações es- tende-se averiguar se a despesa realizada atende aos aspectos da
tadual e municipal. melhor relação custo-benefício.
Em relação à sua composição, verificamos com afinco que os Destaca-se que o controle externo também investiga se hou-
Tribunais de Contas são órgãos colegiados, com quadro de pessoal ve a aplicação de forma correta das subvenções, que se tratam de
próprio (inspetores, procuradores, analistas, técnicos etc.), sendo transferências de recursos feitas pelo governo com o fito de cobrir
o TCU composto por nove ministros, ao passo que os demais Tri- despesas de custeio das entidades beneficiadas.
bunais de contas são compostos, em regra, por sete conselheiros, As subvenções podem ser de duas espécies. São elas: subven-
número sempre observado nos Estados, com exceção do Tribunal ções sociais e subvenções econômicas.
de Contas do Município de São Paulo que conta com apenas cinco A) Subvenções sociais: são destinadas ao custeio de institui-
conselheiros, nos parâmetros do art. 49 da Lei Orgânica daquele ções públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, que
Município. não possuem finalidade lucrativa, nos ditames da Lei 4.320/1964,
Embora, não obstante a existência dos chamados “tribunais” art. 12, § 3º, I.
de contas, as cortes de contas também não exercem jurisdição em B) Subvenções econômicas: são as destinadas ao custeio de
sentido próprio, isso por que suas decisões não possuem o caráter empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrí-
de definitividade, vindo a sofrer a possibilidade de serem anuladas cola ou pastoril, nos termos da Lei 4.320/1964, art. 12, § 3º, II.
pelo Poder Judiciário. Entretanto, o processo ajuizado com o fito Registra-se, que o controle externo também se incumbe de
de anular a decisão da corte de contas é distinto do processo de apreciar a regularidade da renúncia de receita. Há vários mecanis-
natureza administrativa em que foi proferida tal decisão. Desta for- mos que tornam possível a renúncia de receita, como por exemplo:
ma, o interessado não poderá interpor um recurso para o Judiciário a remissão, o subsídio, a isenção e a modificação da alíquota ou da
em desfavor da decisão final do Tribunal de Contas com o fulcro base de cálculo de tributo que implique sua redução.
de reformá-la, mas sim ajuizar processo autônomo perante o órgão Nos ditames constitucionais, a cargo de Congresso Nacional, o
jurisdicional competente com o objetivo de anular o mencionado controle externo, será exercido com a ajuda do Tribunal de Contas
julgado. da União, ao qual compete, nos parâmetros do art. 71 da CFB/1988:
Registra-se que em relação ao controle externo financeiro e A) Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da
as atribuições dos tribunais de contas, a Constituição Federal criou República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em
um sistema harmonizado de controle, que prevê a existência de um sessenta dias a contar de seu recebimento;
controle externo associada a um controle interno executado por B) Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis
cada órgão sobre seus agentes e seus atos. por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in-
O controle exercido pelo Poder Legislativo é uma forma de con- direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas
trolar de maneira externa os atos dos órgãos dos outros Poderes pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa
e das entidades da administração indireta. Esse controle, além de a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao
controlar a parte financeira dos outros órgãos, também abrange de erário público; apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos
forma ampla o controle contábil, financeiro, orçamentário, opera- de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta
cional e patrimonial, levando em conta os aspectos da legalidade, e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em
de receitas. comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas
No campo contábil a análise abrange o registro dos fatos contá- e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o
beis e a elaboração de demonstrativos. Em âmbito financeiro, é veri- fundamento legal do ato concessório;
ficado o verdadeiro ingresso das receitas, através de comprovantes C) Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do
de depósito ou transferência de recursos, bem como a realização de Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e
forma efetiva de despesas, vindo a comprovar os seus tradicionais auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacio-
estágios de licitação, empenho, liquidação e pagamento. Por sua nal e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legis-
vez, o controle orçamentário é aquele que acompanha a execução lativo, Executivo e
do orçamento, que é a legislação em que se encontram as receitas Judiciário, e demais entidades referidas na letra b;
previstas e também as despesas fixadas. Em referência ao controle D) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais
operacional, ressaltamos que o mesmo trata de diversos aspectos de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
do desempenho da atividade administrativa, como por exemplo, nos termos do tratado constitutivo;
numa auditoria operacional, pode ser computado o tempo médio E) Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
que o usuário usa esperando por atendimento médico em uma uni- União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
dade do sistema público de saúde. Finalmente, temos o controle congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
patrimonial, que cuida da fiscalização do patrimônio público. F) Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional,
Analisando a legalidade do controle externo, observamos que por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comis-
este investiga se a conduta administrativa está de acordo com as sões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, opera-
diversas normas jurídicas. cional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
O controle de legitimidade atua complementando o controle realizadas;
de legalidade, permitindo a apreciação de outros aspectos além da G) Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
adequação formal da conduta à legislação pertinente. Nesse diapa- ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que es-
tabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
causado ao erário;
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H) Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro- Poder Público, e ainda, as contas dos entes que ensejarem e de-
vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada rem causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte
ilegalidade; prejuízo ao erário público, nos termos do disposto no art. 71, III da
I) sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comu- CFB/1988.
nicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal; Outro ponto importante a ser destacado, é o fato de que ao
J) Representar ao Poder competente sobre irregularidades ou julgar as contas dos gestores públicos e demais agentes que cau-
abusos apurados. sarem danos ao erário, em diversos casos, os tribunais de contas
imputam débito com o objetivo de ressarcir o dano, ou multa com
Observação: As normas retro mencionadas acima relativas ao caráter de punição. Denota-se que decisões das Cortes de Contas
Tribunal de Contas da União aplicam-se, no que couber, à organi- que imputam débito ou multa terão validade de título executivo
zação, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Es- nos termos do art. 71, § 3º da CFB/198. Ou seja, caso a pessoa a
tados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos quem foi imputada a multa ou o débito não vier a adimplir a refe-
de Contas dos Municípios, onde houver, nos termos do art.75 da rida importância dentro do prazo estipulado por lei, poderá sofrer
CFB/1988. a cobrança judicial da importância diretamente por intermédio de
uma ação de execução, sendo desnecessário o ajuizamento de uma
Aspectos importantes sobre as atribuições dos Tribunais de ação de conhecimento para rediscutir a matéria que já foi objeto de
Contas decisão da corte de contas.
Vejamos a diferença entre os atributos de “apreciar contas” e Pelo fato das decisões definitivas dos tribunais de contas que
“julgar contas”. imputam débito ou aplicam multa terem, por si só, força de títu-
Em relação às contas do chefe do Poder Executivo, os Tribu- lo executivo, sua execução independe da inscrição em dívida ati-
nais de Contas têm atribuição para “apreciá-las”, desde que haja a va. Entretanto, os entes federados têm o costume de inscrever to-
emissão de parecer conclusivo, que deverá ser elaborado no prazo dos os seus créditos passíveis de execução em dívida ativa, o que
de 60 dias a contar de seu recebimento (art. 71, I), sendo que é ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, por que a inscrição dá
competência do Poder possibilidade para que a execução siga o rito estabelecido na Lei
Legislativo julgar as contas de cada ente federado. Desta ma- 6.830/1980, Lei das Execuções Fiscais, trazendo uma série de van-
neira, as contas anuais do Presidente da República são julgadas pelo tagens para o exequente. Em segundo lugar, a inscrição acaba por
Congresso Nacional nos ditames do art. 49, IX, CF/1988; as dos Go- submeter o crédito a um controle mais amplo, na medida em que
vernadores, pela Assembleia Legislativa do respectivo Estado; a do ele fica registrado em sistemas informatizados criados para a admi-
Governador do Distrito Federal, pela Câmara Legislativa do Distrito nistração, controle de prazos e cobrança dos valores inscritos.
Federal; e as contas dos Prefeitos, pelas respectivas câmaras muni-
cipais.
Existe uma particularidade em relação ao parecer que o tri- RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. RESPONSABILIDA‐
bunal de contas do Estado ou do município emite a respeito das DE CIVIL DO ESTADO NO DIREITO BRASILEIRO. RESPON‐
contas anuais do chefe do Poder Executivo municipal. Nos termos SABILIDADE POR ATO COMISSIVO DO ESTADO. RESPONSA‐
do previsto no art. 31, § 2º, da CF/1988, o parecer prévio, emitido BILIDADE POR OMISSÃO DO ESTADO. REQUISITOS PARA
pelo tribunal de contas sobre as contas que o Prefeito deve anual- A DEMONSTRAÇÃO DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO.
mente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços CAUSAS EXCLUDENTES E ATENUANTES DA RESPONSA‐
dos membros da Câmara Municipal. Assim sendo, é por essa razão BILIDADE DO ESTADO
que grande parte da doutrina afirma que nessa hipótese, o parecer
prévio é relativamente vinculante, não sendo absolutamente vin-
culante pelo fato de poder ser superado, porém, como a superação Evolução histórica
depende de quórum qualificado, tem-se uma vinculação relativa. De início, adentraremos esse módulo respaldando sobre o con-
Em relação a esse assunto, o STF explicou que a expressão “só ceito de responsabilidade civil do Estado. Consiste esse instituto
deixará de prevalecer”, contida no mencionado § 2º, não quer di- na obrigação estatal de indenizar os danos patrimoniais, morais ou
zer que o parecer conclusivo do tribunal de contas poderia produ- estéticos que os seus agentes, agindo nessa qualidade, causarem a
zir efeitos imediatos, que se poderiam se tornar permanentes em terceiros. A responsabilidade civil do Estado pode ser dividida em
caso do silêncio da casa legislativa. Para a Suprema Corte, o parecer dois grupos: a contratual, que advém da ausência de cumprimento
do Tribunal de Contas que rejeita as contas do chefe do executivo de cláusulas inclusas em contratos administrativos, e a extracontra-
possui natureza opinativa, só podendo produzir o efeito de inelegi- tual ou aquiliana, que alcança as demais situações.
bilidade do prefeito (LC 64/1990, art. 1º, I, alínea “g”) após transcor- Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor Cel-
rido o julgamento das contas pela respectiva Câmara de Vereadores so Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil do
(RE 729.744/MG e RE 848.826/DF). Estado sempre foi aceita em forma de princípio amplo. Isso ocorreu
De outro ângulo, o parecer antecedente emitido pela Corte de mesmo no período em que não existia dispositivo de norma espe-
Contas é indispensável ao julgamento das contas anuais dos Prefei- cífica. Para o mencionado autor, desde os primórdios, predominou
tos. Foi justamente por esse motivo que o STF julgou inconstitucio- no Brasil a tese da responsabilidade do Estado com base na teo-
nal dispositivo de constituição estadual que permitia às Câmaras ria da culpa civil. Logo após, houve o avanço para que houvesse a
Legislativas apreciarem as contas anuais prestadas pelos prefeitos, admissão da culpa pela ausência de serviço. Por fim, chegou-se à
independentemente do parecer do Tribunal de Contas do Estado, aprovação da responsabilidade objetiva do Estado.
quando este não fosse oferecido no prazo de 180 dias. (ADI 3.077/ Nos tempos imperiais, a Constituição de 1824 vigente à épo-
SE). ca, previa somente a responsabilidade pessoal do agente público,
Os Tribunais de Contas possuem competência distinta para jul- conforme disposto no art. 179, XXIX: “Os empregados públicos são
gar as contas dos administradores e demais responsáveis por verba estritamente responsáveis pelos abusos e omissões praticados no
pública, bens e valores públicos da administração direta e indireta, exercício de suas funções e por não fazerem efetivamente respon-
inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo sáveis aos seus subalternos”.
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Ressalta-se, que nesse período, mesmo não existindo previsão Aduz-se que a aglutinação do art. 37, § 6º, com o art. 5º, X, am-
constitucional a respeito da responsabilidade do Estado, a doutrina bos da CF/1988, leva à conclusão de que a responsabilização estatal
e a jurisprudência compreendiam que existia solidariedade do Esta- tem ampla abrangência tanto no condizente ao dano material como
do em alusão aos atos de seus agentes. o dano moral. Entretanto, a jurisprudência achou por bem ampliar
No art. 82 da Constituição Federal de 1891, no seu art. 82, car- as espécies de danos indenizáveis, passando a determinar que o
regou e trouxe em seu bojo, dispositivo semelhante ao da Consti- dano estético se constituiria em uma espécie de dano autônomo
tuição de 1824. no qual a indenização poderia ser expressamente cumulada com a
Em âmbito civilista, o Código Civil de 1916, em seu art. 15, dis- reparação pelos danos materiais e morais.
pôs: “As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente respon- Ressalta-se que a responsabilidade objetiva do Estado deve se-
sáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade causem guir a teoria do risco administrativo, conforme previsto na CF/1988
danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direito ou fal- e a teoria do risco integral jamais recebeu acolhimento como nor-
tando a dever prescrito em lei, salvo o direito regressivo contra os ma ou regra em nenhuma das constituições brasileiras.
causadores do dano”. Para a doutrina, o entendimento é de que o No entanto, no ordenamento jurídico brasileiro algumas hipó-
referido dispositivo legal consagrava a responsabilidade subjetiva teses em que se aplica a teoria do risco integral foram inseridas.
do Estado tanto no sentido de culpa civil, quanto por ausência de A título de exemplo disso, temos os casos de danos causados por
serviço. acidentes nucleares (CF, art. 21, XXIII, “d”, disciplinado pela Lei
Referente à Constituição de 1934, depreende-se que esta man- 6.453/1977), e, ainda, de danos decorrentes de atentados terroris-
teve a responsabilidade civil subjetiva do Estado, determinando no tas ou atos de guerra contra aeronaves de empresas aéreas brasilei-
art. 171, o seguinte: “Os funcionários públicos são responsáveis so- ras (Leis 10.309/2001 e 10.744/2003).
lidariamente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por Finalmente, após inúmeras delongas ao longo da história, che-
quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso ga-se ao Código Civil de 2002 que, em seu art. 43, reitera a mesma
no exercício dos seus cargos”. orientação inserida na Constituição Federal de 1988, suprimindo,
A Carta Magna de 1937, por sua vez, reiterou no art. 158 o mes- no entanto, a alusão à responsabilidade das pessoas jurídicas de
mo dispositivo da Constituição de 1934. direito privado prestadoras de serviço público. Entretanto, ressal-
No condizente à Constituição de 1946, aduz-se que esta repre- ta-se que a omissão, nesse caso, não impede a responsabilização
sentou uma importante e grande inovação no assunto ao introduzir, objetiva dessas pessoas jurídicas, posto que está prevista no texto
por sua vez, a teoria da responsabilidade objetiva do Estado, con- constitucional.
forme ditado no dispositivo a seguir:
Ante o exposto, aduz-se que as conclusões a respeito da maté-
Art. 194. As pessoas jurídicas de Direito Público Interno são ci- ria podem ser resumidas da seguinte maneira:
vilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa • A teoria da irresponsabilidade civil do Estado nunca foi aceita
qualidade, causem a terceiros. no direito brasileiro.
Parágrafo único. Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcio- • A evolução legislativa mostra que o ordenamento jurídico pá-
nários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes. trio previu de início a responsabilidade civil do Estado com base na
culpa civil, vindo a evoluir para a responsabilidade pela ausência de
A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi trabalho até chegar à responsabilidade objetiva.
audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o • A responsabilidade objetiva do Estado foi inserida no ordena-
acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário mento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1946.
ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de • A Constituição Federal de 1988, veio a ampliar a responsabi-
culpa, como era disposto na Constituição de 1946. lidade objetiva do Estado, vindo a responsabilizar objetivamente as
Em âmbito contemporâneo, a Constituição Federal de 1988, no pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público.
art. 37, § 6º, determina: “As pessoas jurídicas de Direito Público e • A Constituição Federal de 1988 consagrou a responsabilidade
as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão por danos morais ou extrapatrimoniais.
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a tercei- • A responsabilidade objetiva do Estado adotada pela Carta
ros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos ca- Magna de 1988, segue a teoria do risco administrativo, sendo que a
sos de dolo ou culpa”. teoria do risco integral foi acolhida apenas em situações e hipóteses
O referido dispositivo constitucional em alusão, trouxe infor- excepcionais.
mação inovadora ao ampliar a responsabilidade civil objetiva do • Divergindo da Constituição Federal de 1988, pelo fato de não
Estado, que por sua vez, passou também a alcançar as pessoas jurí- haver feito referência à responsabilidade objetiva das pessoas jurí-
dicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, como por dicas que prestam serviços ao poder público, o Código Civil de 2002,
exemplo: as fundações governamentais de direito privado, as em- prevê também a responsabilidade objetiva do Estado.
presas públicas, sociedades de economia mista, e, ainda qualquer
pessoa jurídica de direito privado, desde que estejam devidamente Responsabilidade por ato comissivo do Estado
paramentadas sob delegação do Poder Público e a qualquer título De antemão, convém respaldar que responsabilidade civil do
para a prestação de serviços públicos. Estado é passível de advir de atos comissivos ou omissivos pratica-
Esclarece-se, nesse sentido, que a regra da responsabilidade dos por seus agentes.
civil objetiva não pode ser aplicada aos atos das empresas públicas Em consonância com o estudo em questão, aduz-se que atos
e das sociedades de economia mista exploradoras de atividade eco- comissivos são aqueles por meio dos quais o agente público atua de
nômica, tendo em vista que o art. 173, § 1º, da CF/1988, determina forma positiva causando danos a um terceiro. Exemplo: um condu-
de forma expressa que elas sejam regidas pelas mesmas normas tor de veículo automotor e servidor do Estado, embriagado e sob o
aplicáveis às empresas privadas. Por consequência, tais entidades efeito de drogas, dirigindo a serviço, atropela um pedestre.
estão sujeitas à responsabilidade subjetiva, sendo controladas pe- Cumpre ressaltar que a teoria adotada em relação à responsa-
las normas comuns pertinentes ao Direito Civil. bilidade civil do Estado por prática de conduta omissa, não é a mes-
ma a ser aplicada à responsabilização por atos comissivos. Infere-se
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que o artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988 é de aplicação de agir, ao menos tentando salvar a vida do banhista e não o fez.
restrita em relação aos atos comissivos, sendo, assim, incorreta a Em outro ângulo, aproveitando o mesmo exemplo, se, ao invés do
sua invocação nos casos específicos de responsabilidade por omis- guarda salva-vidas, a mencionada omissão fosse praticada por um
são estatal. Analista Judiciário do Tribunal de Justiça de algum Estado da Fede-
ração, o Estado não poderia ser responsabilizado, tendo em vista
Para melhor entendimento do raciocínio, o artigo 37, § 6º, da que ao Analista, não era incumbido o dever legal de tentar salvar
Constituição Federal, em relação à responsabilidade civil do Estado, o banhista.
dispõe: Não obstante, afirma-se que é inaplicável o uso do artigo 37,
§ 6º da Constituição Federal de 1988, bem como da teoria do ris-
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- co administrativo às lides de responsabilidade civil por omissão do
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que Estado.
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o Registre-se ainda, que a responsabilidade civil por omissão
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. estatal é subjetiva. Isso ocorre, também, devido à inaplicabilidade
do artigo 37, § 6º da Constituição Federal, que é a instituidora da
O mencionado dispositivo, sob plena concordância unânime da responsabilidade objetiva aos casos de omissão estatal, o que ense-
doutrina e jurisprudência, consagra de forma expressa a responsa- ja ao entendimento de que a responsabilização do mesmo apenas
bilidade civil objetiva do Estado. No entendimento desse parâmetro poderá ser invocada se sua ausência de ação houver sido culposa.
Constitucional, a vítima se encontra de forma ampla, dispensada do Em outras palavras, aduz-se que a responsabilidade civil do
ônus da prova da culpa da Administração, tendo a incumbindo-lhe estatal por conduta omissa é subjetiva. Ressalte-se que tal posicio-
somente comprovar o nexo causal entre o ato desta e o prejuízo namento já foi referendado por muitos de nossos mais renomados
sofrido. e importantes administrativistas. Ótimos exemplos disso, são Hely
Contudo, ressalta-se que o dispositivo se reporta apenas aos Lopes Meirelles e Celso Antônio Bandeira de Mello, sendo desse úl-
danos causados pelos agentes das pessoas jurídicas de direito pú- timo, o esclarecedor ensinamento de que a partir do momento em
blico ou, ainda, das pessoas jurídicas de direito privado que pres- que o dano foi constatado em decorrência de uma omissão do Esta-
tam serviço público, não tendo qualquer espécie de alcance às si- do, sendo pelo serviço que não funcionou, ou, funcionou de forma
tuações nas quais o dano tenha decorrido de ato de terceiro ou de ineficientemente ou tardia, aduz-se que caberá a aplicabilidade da
fatos advindos de caso fortuito ou força maior. teoria da responsabilidade subjetiva. Entretanto, se o Estado não
Assim sendo, afirma-se que o artigo 37, § 6º, Constituição Fe- agiu, não será, por conseguinte, ser ele o autor do dano. E, não sen-
deral de 1988, não enseja ao alcance das hipóteses de omissão es- do ele o autor, só será responsabilizado se caso estivesse obrigado
tatal, posto que, nestas situações, o dano não decorre, exatamente a impedir o dano.
da ação de um agente do Estado, mas sim da atitude de um terceiro, Em alusão ao retro ensinamento, afirma-se que a teoria apli-
denotando que a omissão do Estado apenas contribui para o resul- cada não poderia ser a objetiva, isso porque tal teoria admite a co-
tado. brança de responsabilização até mesmo quando o dano é advindo
Adverte-se que a conduta omissa do Estado não é o que causa de atuação lícita do Estado.
diretamente o dano, uma vez que este é proveniente de ato de ter- Nos casos relacionados à omissão estatal, o Estado não é o ver-
ceiro, razão pela qual pode-se afirmar que o dano à vítima não foi dadeiro autor do dano, uma vez este o advém de atividade de ter-
consequência de forma direta da conduta omissa do agente do Es- ceiro. Assim sendo, sua responsabilidade somente poderá ser invo-
tado, o que faz inaplicável o artigo 37, § 6º, da CFB/88 às hipóteses cada caso esteja obrigado a agir com o fulcro de impedir que o dano
de omissão do Estado, restando incabível a teoria da responsabili- ocorra, isso, em havendo ilegalidade na sua omissão. Resta registrar
dade objetiva com base no risco administrativo. também, inclusive, que a responsabilidade estatal não poderá ser
invocada quando existir a impossibilidade real de impedimento do
Responsabilidade por omissão do Estado dano mediante atuação aplicadora do Estado.
Atos omissivos são aqueles por meio dos quais o agente pú- Por fim, devido ao fato de a responsabilização estatal ocorrer
blico deixa de agir e sua omissão, ainda que não venha a causar apenas quando sua omissão for caracterizada por uma atitude ilíci-
diretamente o dano, possibilita sua ocorrência. ta, a Administração não será responsabilizada se houver utilizado e
Quando o Estado é omisso no seu dever de agir de acordo com esgotado suas possibilidades e formas de amparo no limite máximo
os parâmetros legais, terá o dever de reparar o prejuízo causado. e, mesmo desta forma, não tiver conseguido impedir o dano, posto
No entanto, a responsabilidade será aplicada na forma subjetiva, que a Administração Pública somente poderá ser responsabilizada
posto que deverá ser demonstrada a culpa do Estado, ou seja, a por danos que estava obrigada a impedir.
omissão estatal.
Prevalece entre os doutrinadores, apesar de não haver pacifi- Requisitos para a demonstração da responsabilidade do es-
cidade doutrinária e nem tampouco nos tribunais, o entendimento tado
de que a redação do art. 37, § 6º, da CFB/88, só consagra a respon- Os requisitos que compõem a estrutura e demarcam o perfil da
sabilidade objetiva nos atos comissivos. responsabilidade civil objetiva do Poder Público, são: a alteridade
Destaque-se que não é qualquer ato omissivo praticado por do dano; a causalidade material entre o eventus damni e o com-
agente público que intitula a responsabilidade civil do Estado. A portamento positivo por ação, ou negativo por omissão do agen-
responsabilização estatal em função de omissivos, ocorre somente te público; a oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável a
quando o agente público omisso possui o dever legal de praticar um agente público que tenha, nessa condição de servidor, incidido em
determinado ato, e deixa de fazê-lo. Exemplo: em situação hipoté- conduta comissiva ou omissiva, isso, independentemente da licitu-
tica, um agente salva-vidas que ao se deparar diante de situação na de, ou não, do comportamento funcional e a inexistência de causa
qual um banhista está se afogando, permanece inerte, permitindo excludente da responsabilidade do Estado.
que o banhista venha a falecer sem ser socorrido. Nesta situação, Em suma, os requisitos para a demonstração da responsabi-
o Estado explicitamente será responsabilizado pelo ato de omis- lidade do Estado são necessariamente a conduta a ser praticada
são do agente público, tendo em vista que este tinha o dever legal pelo agente que poderá ser lícita ou ilícita. Veja-se por exemplo,
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
no caso de odontologista que realiza cirurgia pertinente à sua área a integridade física e moral, buscando sua total proteção, inclusive
de atuação em hospital público e venha a cometer algum erro, ca- do suicídio. Nesse sentido, o STF entende que o suicídio de detento
racterizado como ato ilícito, ou em campanha de aplicação de flúor é motivo de omissão ilegítima, que por sua vez, gera responsabili-
contra cáries, quando a substância vem a causar situação adversa dade civil objetiva do Estado, que passará a ter o dever de indenizar
irreversível caracterizada como ato lícito, são atos que acabam por por meio de danos morais os familiares do falecido.
gerar danos passíveis de reparação, na forma objetiva. Em algumas situações ocorrem no mundo dos fatos eventos
Para que a responsabilidade objetiva estatal seja configurada, imprevisíveis, extraordinários e de força irresistível, externos à ad-
deve haver um dano, tendo em vista que indenizar é “suprimir o ministração pública e que causam danos aos administrados. Ten-
dano” por meio do adimplemento de uma contraprestação de na- do em vista a inexistência de qualquer nexo de causalidade entre
tureza pecuniária. Isso pode ser tanto dano de efeito moral como a a atuação administrativa e o prejuízo sofrido pelo terceiro, ter-se-á
violação à dignidade e à honra, por exemplo, quanto dano material por excluída a responsabilidade civil do Estado, não lhe sendo impu-
que cause prejuízo financeiro a outrem. tado qualquer dever de indenizar.
Assegura-se ainda, que quando houver mera possibilidade de
dano, esta não será passível de indenização. Exemplo: a constru- Caso fortuito e força maior
ção de um presídio perto de pré-escola. Isso é fato que pode vir a Boa parte dos doutrinadores denominam consideram esta ex-
causar danos irreparáveis tanto aos alunos, como às suas famílias. cludente como sendo os eventos naturais, a exemplo das tempes-
Pondera-se também que deve haver o nexo causal, que se trata da tades, dos furacões, dos raios, dentre outros, vindo a reservar a ex-
necessária e importante relação de causa e efeito entre a conduta pressão “caso fortuito” para os acontecimentos humanos, como os
praticada pelo agente e o dano causado. Não existindo o nexo cau- arrastões, as guerras, as greves, etc., ao passo que outros possuem
sal, ou for disseminado por algum fator, estará afastada a responsa- conceitos opostos, designando a “força maior” para os eventos que
bilidade do Estado. podem ser imputados aos homens e o “caso fortuito” para os even-
No contexto acima, compreende-se que é insuficiente a de- tos naturais.
monstração somente do dano e da conduta do Estado. É necessário Pondera-se que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tri-
e devido também que se prove o nexo causal. bunal de Justiça tem atribuído aos eventos extraordinários, im-
previsíveis e de força irresistível, ocorridos de forma externa à
Observação importante: O STF tem entendido que, havendo administração pública com causídico de danos aos administrados,
fuga de preso na qual o detento se encontre há muito tempo fo- a especificidade de excludentes do nexo causal ocorridas entre a
ragido e venha a cometer algum crime, com a geração de dano a atuação administrativa e o evento danoso, de modo a impedir a
particular, não existe a responsabilidade do Estado, pelo fato de não responsabilização estatal pelos prejuízos causados.
haver mais nexo causal, interrompido pelo prolongado período de Desta maneira, nos julgados de ambos os Tribunais, não exis-
fuga. Entende o STF que o longo período do tempo entre a fuga e te a preocupação em diferenciar caso fortuito de força maior, mas
o crime faz com que o nexo causal deixe de existir, não sendo mais somente a tentativa de averiguar a presença deles em cada caso
possível imputar ao Estado o dano causado. O tempo que o STF en- específico do objeto de exame.
tende como longo, pondera-se que não existe uma tabela de prazos Nesse entendimento, o STJ já validou que “somente se afas-
que regule tal entendimento. O que a Suprema Corte faz é a análise ta a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortui-
de casos concretos e específicos. to ou força maior, ou decorrer de culpa da vítima” (REsp 721.439/
RJ), enquanto o STF asseverou que “o princípio da responsabilidade
Causas Excludentes e Atenuantes da Responsabilidade do Es- objetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite o abran-
tado damento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil
Dentro do instituto da responsabilidade civil do Estado existem do Estado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de situações li-
algumas causas que excluem ou atenuam a sua obrigação de acatar beratórias – como o caso fortuito e a força maior – ou evidenciadoras
ou não com tais prerrogativas. Pondera-se que a única circunstân- de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima” (RE109.615/RJ).
cia que explicitamente atenua ou diminui a responsabilidade civil
estatal é a existência de culpa concorrente da vítima, comprovan- Esquematizando, temos:
do assim a inexistência de culpa exclusiva do Estado. Desta forma,
na situação hipotética de colisão entre veículo que pertence a ente CULPA OU DOLO
público e a um particular, na qual tenha ocorrido imprudência de CASO FORTUITO
EXCLUSIVO DA VÍTIMA
ambos os condutores, o Estado não responde pela integralidade do E FORÇA MAIOR
OU DE TERCEIROS
dano, o que faz por força de lei, com que os prejuízos deverão ser
rateados na proporção da culpa de cada responsável pelo ato. O STF e o STJ tem atribuído
Em relação às circunstâncias excludentes da responsabilidade aos eventos extraordinários,
do Estado, a doutrina e a jurisprudência consideram as seguintes: imprevisíveis e de força irresistí-
culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito e É excludente da res- vel, ocorridos de forma externa à
força maior. ponsabilidade do Estado, administração pública com causí-
uma vez que afastam o nexo dico de danos aos administrados,
Vejamos: causal entre a conduta do a especificidade de excludentes
agente público e o dano do nexo causal ocorridas entre a
Culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros existente atuação administrativa e o evento
É excludente da responsabilidade do Estado, uma vez que afas- danoso, de modo a impedir a
ta o nexo causal entre a conduta do agente público e o dano exis- responsabilização estatal pelos
tente. A esse respeito, é de suma importância ressaltarmos que não prejuízos causados.
é cabível a invocação de culpa ou de dolo exclusiva da vítima na
hipótese de suicídio de detento. Isso ocorre pelo fato do preso se
encontrar sob a custódia do Estado que tem o dever de manter-lhe
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Infere-se que o Código Civil brasileiro, no parágrafo único do Direito de regresso
art. 393, determina que “O caso fortuito ou de força maior verifica- O parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal Brasileira pre-
-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impe- nuncia a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de di-
dir.” Percebe-se que, à semelhança das decisões do STF e do STJ, a reito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
referência é a “caso fortuito ou de força maior”, com as expressões de serviços públicos pelos danos que seus agentes, nessa qualida-
objeto de tanta discussão acadêmica citadas em conjunto, separa- de, causarem a terceiros. Assegura ainda ao Estado ou a seus pres-
das apenas pela partícula “ou”, como que querendo demonstrar tadores de serviços públicos, o direito de regresso contra o agente
que, se as consequências são semelhantes, estando regidas pelo responsável, nos casos em que este aja com dolo ou culpa.
mesmo regime jurídico, não há relevância na tentativa de diferen- Levando em conta os princípios constitucionais da ampla defe-
ciação. sa e do contraditório, o direito de regresso deve ser desempenhado
e exercido sob o manuseio de ação própria e regressiva, não admi-
Reparação do dano tindo ao Estado efetuar de forma direta o desconto nos subsídios do
Em sentido geral, a reparação do dano pode ser viabilizada na servidor, sem o consentimento deste.
esfera administrativa por meio de acordo administrativo, ou na via Existe ainda, a possível hipótese de o servidor reconhecer a
judicial. sua responsabilidade vindo a optar por recolher espontaneamente
O agente estatal, na qualidade de agente público, em se tra- a quantia devida aos cofres públicos e até mesmo autorizar que o
tando de caso de dolo ou culpa, pode causar danos ao Estado ou valor venha a ser descontado de seus vencimentos, desde que res-
a terceiros. peitados os percentuais máximos previstos em lei para essa espécie
Na primeira situação, a responsabilidade deverá ser apurada de desconto.
por intermédio de processo administrativo, garantidos a ampla de- Sobre o assunto, é importante destacar alguns pontos:
fesa e o contraditório. Comprovada a responsabilidade subjetiva do A) A ação de responsabilização do agente público deduz que o
agente, o adimplemento poderá ser feito de forma espontânea ou, Poder Público tenha indenizado o particular, tanto em virtude de
caso contrário, por medida judicial. acordo com o reconhecimento da responsabilidade civil estatal,
No entanto, ressalte-se, que é ilegal usar com imposição o des- como em decorrência de condenação em ação ajuizada pelo lesado.
conto em folha de pagamento dos agentes públicos de valores re- B) Em ação regressiva, a responsabilidade do agente público é
ferentes ao ressarcimento ao erário, exceto se houver autorização de natureza subjetiva, às expensas da comprovação de que ele agiu
prévia do agente ou procedimento administrativo com a aplicação com culpa ou dolo. Desta forma, é possível que o Estado venha a
da ampla defesa e do contraditório. indenizar o particular e não reconheça o direito de ser ressarcido
Na segunda situação, o terceiro, como vítima do dano, pode- pelo servidor responsável. Para isso, basta que não seja comprova-
rá ajuizar ação em face do Estado, aplicando a responsabilidade do dolo ou culpa advinda desse agente público.
objetiva, ou do próprio agente público, se valendo nesse caso da C) A parte final do § 5º do art. 37 da CFB/88, pode levar ao
responsabilidade subjetiva, exceto nos casos em que houver a ado- entendimento precípuo de que quaisquer e todos as espécies de
ção da teoria da dupla garantia, por meio da qual, a única medida ações de ressarcimento movidas pelo Poder Público são imprescri-
cabível seria o direcionamento da pugnação de reparação em face tíveis. Entretanto, o STF, no julgamento do RE 669.069/MG, decidiu,
do Estado. com repercussão geral, que “é prescritível a ação de reparação de
De qualquer maneira, o Estado, ao indenizar a vítima, deterá o danos à fazenda pública decorrentes de ilícito civil.
dever de cobrar, de forma regressiva, o valor desembolsado perante D)É transmitida aos herdeiros a qualquer tempo, a obrigação
o agente público que causou o dano efetivo e que agiu com dolo ou de ressarcir o Estado, respeitada, sem dúvidas, a possibilidade de
culpa. prescrição na hipótese de danos decorrentes de ilícito civil, ten-
Entende-se que o direito de regresso do Estado em face do do como limite o valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV, da
agente público nasce com o pagamento da indenização à vítima. CF/1988). Entretanto, ocorrendo a prescrição da ação regressiva,
Assim sendo, não basta o que ocorra o trânsito em julgado da sen- beneficiará também aos herdeiros, que não poderão mais ser de-
tença que condena o Estado na ação indenizatória, posto que o in- mandados pelos danos advindos pelo falecido.
teresse jurídico para propor a ação regressiva depende em grande E) O servidor responde pelos seus atos, inclusive após a extin-
parte do efetivo desfalque nos cofres públicos. Denota-se que caso ção de seu vínculo com a Administração Pública, desde a ação re-
ocorra a propositura da ação regressiva antes do pagamento, pode- gressiva não esteja prescrita. Desta forma, o agente que foi exone-
ria denotar e ensejar o enriquecimento sem causa do Estado. rado ou demitido, pode, nos trâmites legais, ser obrigado a ressarcir
Pondera-se que em fase inicial, a cobrança regressiva em face os prejuízos causados ao ente público.
do agente público deve ocorrer na esfera administrativa. Em se
tratando de caso de acordo administrativo, o agente deverá, nos Nota – Sobre Súmulas Vinculantes
trâmites legais, providenciar o ressarcimento aos cofres públicos. Súmula 187, STF: A responsabilidade contratual do transpor-
Restando ausente o acordo, o Poder Público terá o dever de propor tador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de
a ação regressiva contra o agente público culpado. terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
Apesar de grande parte da doutrina e jurisprudência compre- Súmula 188, STF: O segurador tem ação regressiva contra o
ender que a ação de ressarcimento proposta pelo Poder Público causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite pre-
em face de seus agentes é definitivamente imprescritível, à vista do visto no contrato de seguro.
disposto na parte final do § 5.° do art. 37 da Constituição Federal,
o Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, acabou
por decidir que é prescritível nos trâmites do art. 206, § 3.°, V, do
Código Civil, no prazo de três anos, a ação de reparação de danos à
Fazenda Pública advinda de ilícito civil e de origem de acidente de
trânsito, o que não alcança à primeira vista, os ilícitos relacionados
às infrações ao direito público, como por exemplo, os de natureza
penal e os atos de improbidade.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
O princípio da supremacia da lei, ou legalidade em sentido ne-
REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO. CONCEITO. PRINCÍ‐ gativo, representa uma limitação à atuação da Administração, na
PIOS EXPRESSOS E IMPLÍCITOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚ‐ medida em que ela não pode contrariar o disposto na lei. Trata- se
BLICA de uma consequência natural da posição de superioridade que a lei
ocupa no ordenamento jurídico em relação ao ato administrativo.
(2.017, ALEXANDRE e DEUS, p. 103).
Conceito Entende-se, desta forma, que o princípio da supremacia da lei,
O vocábulo “regime jurídico administrativo” se refere às inú- ou legalidade em sentido negativo, impõe limitações ao poder de
meras particularidades que tornam a atuação da administração atuação da Administração, tendo em vista que esta não pode agir
pública individualizada nos momentos em que é comparada com a em desconformidade com a lei, uma vez que a lei se encontra em
atuação dos particulares de forma generalizada. Possui sentido res- posição de superioridade no ordenamento jurídico em relação ao
trito, restando-se com a serventia única de designar o conjunto de ato administrativo como um todo. Exemplo: no ato de desapropria-
normas de direito público que caracterizam o Direito Administrativo ção por utilidade pública, caso exista atuação que não atenda ao
de modo geral, estabelecendo, via de regra, prerrogativas que colo- interesse público, estará presente o vício de desvio de poder ou de
cam a Administração Pública em posição privilegiada no que condiz finalidade, que torna o ato plenamente nulo.
às suas relações com os particulares, bem como restrições, que tem
o fulcro de evitar que ela se distancie da perseguição que não deve Em relação ao princípio da reserva legal, ou da legalidade em
cessar no sentido da consecução do bem comum. sentido positivo, infere-se que não basta que o ato administrativo
Desta forma, de maneira presumida, o Regime Jurídico Admi- simplesmente não contrarie a lei, não sendo contra legem, e nem
nistrativo passa a atuar na busca da consecução de interesses cole- mesmo de ele pode ir além da lei praeter legem, ou seja, o ato ad-
tivos por meio dos quais a Administração usufrui de vantagens não ministrativo só pode ser praticado segundo a lei secundum legem.
extensivas aos particulares de modo geral, como é o caso do poder Por esta razão, denota-se que o princípio da reserva legal ou da le-
de desapropriar um imóvel, por exemplo. Assim sendo, a Adminis- galidade em sentido positivo, se encontra dotado do poder de con-
tração Pública não pode abrir mão desses fins públicos, ou seja, ao dicionar a validade do ato administrativo à prévia autorização legal
agente público não é lícito, sem a autorização da lei, transigir, ne- de forma geral, uma vez que no entendimento do ilustre Hely Lopes
gociar, renunciar, ou seja, dispor de qualquer forma de interesses Meirelles, na administração pública não há liberdade nem vontade
públicos, ainda que sejam aqueles cujos equivalentes no âmbito pessoal, pois, ao passo que na seara particular é lícito fazer tudo o
privado, seriam considerados via de regra disponíveis, como o direi- que a lei não proíbe, na Administração Pública, apenas é permitido
to de cobrar uma pensão alimentícia, por exemplo. fazer o que a lei disponibiliza e autoriza.
Nesse sentido, pode-se se afirmar que a supremacia do inte- Pondera-se que em decorrência do princípio da legalidade, não
resse público se encontra eivada de justificativas para a concessão pode a Administração Pública, por mero ato administrativo, permi-
de prerrogativas, ao passo que a indisponibilidade de tal interesse, tir a concessão por meio de seus agentes, de direitos de quaisquer
por sua vez, passa a impor a estipulação de restrições e sujeições à espécies e nem mesmo criar obrigações ou impor vedações aos ad-
atuação administrativa, sendo estes os princípios da Administração ministrados, uma vez que para executar tais medidas, ela depende
Pública, que nesse estudo, trataremos especificamente dos Princí- de lei. No entanto, de acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello,
pios Expressos e Implícitos de modo geral. existem algumas restrições excepcionais ao princípio da legalidade
no ordenamento jurídico brasileiro, sendo elas: as medidas provisó-
Princípios Expressos da Administração Pública rias, o estado de defesa e o estado de sítio.

Princípio da Legalidade Em resumo, temos:


Surgido na era do Estado de Direito, o Princípio da Legalidade • Origem: Surgiu com o Estado de Direito e possui como obje-
possui o condão de vincular toda a atuação do Poder Público, seja tivo, proteger os direitos individuais em face da atuação do Estado;
de forma administrativa, jurisdicional, ou legislativa. É considerado • A atividade administrativa deve exercida dentro dos limites
uma das principais garantias protetivas dos direitos individuais no que a lei estabelecer e seguindo o procedimento que a lei exigir,
sistema democrático, na medida em que a lei é confeccionada por devendo ser autorizada por lei para que tenha eficácia;
intermédio dos representantes do povo e seu conteúdo passa a li- • Dimensões: Princípio da supremacia da lei (primazia da lei ou
mitar toda a atuação estatal de forma geral. legalidade em sentido negativo); e Princípio da reserva legal (legali-
Na seara do direito administrativo, a principal determinação dade em sentido positivo);
advinda do Princípio da Legalidade é a de que a atividade adminis- • Aplicação na esfera prática (exemplos): Necessidade de pre-
trativa seja exercida com observância exata dos parâmetros da lei, visão legal para exigência de exame psicotécnico ou imposição de
ou seja, a administração somente poderá agir quando estiver devi- limite de Idade em concurso público, ausência da possibilidade de
damente autorizada por lei, dentro dos limites estabelecidos por decreto autônomo na concessão de direitos e imposição de obriga-
lei, vindo, por conseguinte, a seguir o procedimento que a lei exigir. ções a terceiros, subordinação de atos administrativos vinculados e
O Princípio da Legalidade, segundo a doutrina clássica, se des- atos administrativos discricionários;
dobra em duas dimensões fundamentais ou subprincípios, sendo • Aplicação na esfera teórica: Ao passo que no âmbito parti-
eles: o Princípio da supremacia da lei (primazia da lei ou da lega- cular é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe, na administração
lidade em sentido negativo); e o Princípio da reserva legal (ou da pública só é permitido fazer o que a lei devidamente autorizar;
legalidade em sentido positivo). Vejamos: • Legalidade: o ato administrativo deve estar em total confor-
De acordo com os contemporâneos juristas Ricardo Alexandre midade com a lei e com o Direito, fato que amplia a seara do con-
e João de Deus, o princípio da supremacia da lei, pode ser concei- trole de legalidade;
tuado da seguinte forma: • Exceções existentes: medida provisória, estado de defesa e
estado de sítio.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Princípio da Impessoalidade § 1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
É o princípio por meio do qual todos os agentes públicos devem campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor-
cumprir a lei de ofício de maneira impessoal, ainda que, em decor- mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
rência de suas convicções pessoais, políticas e ideológicas, conside- símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto-
rem a norma injusta. ridades ou servidores públicos.
Esse princípio possui quatro significados diferentes. São eles: a Desta maneira, em respeito ao mencionado texto constitucio-
finalidade pública, a isonomia, a imputação ao órgão ou entidade nal, ressalta-se que a propaganda anunciando a disponibilização de
administrativa dos atos praticados pelos seus servidores e a proibi- um recente serviço ou o primórdio de funcionamento de uma nova
ção de utilização de propaganda oficial para promoção pessoal de escola, por exemplo, é legítima, possuindo importante caráter in-
agentes públicos. formativo.
Pondera-se que a Administração Pública não pode deixar de
buscar a consecução do interesse público e nem tampouco, a con- Em resumo, temos:
servação do patrimônio público, uma vez que tal busca possui cará- • Finalidade: Todos os agentes públicos devem cumprir a lei
ter institucional, devendo ser independente dos interesses pessoais de ofício de maneira impessoal, ainda que, em decorrência de suas
dos ocupantes dos cargos que são exercidos em conluio as ativida- convicções pessoais, políticas e ideológicas, considerem a norma
des administrativas, ou seja, nesta acepção da impessoalidade, os injusta.
fins públicos, na forma determinada em lei, seja de forma expressa • Significados: A finalidade pública, a isonomia, a imputação
ou implícita, devem ser perseguidos independentemente da pessoa ao órgão ou entidade administrativa dos atos praticados pelos seus
que exerce a função pública. servidores e a proibição de utilização de propaganda oficial para
Pelo motivo retro mencionado, boa parte da doutrina conside- promoção pessoal de agentes públicos.
ra implicitamente inserido no princípio da impessoalidade, o prin- • Princípio implícito: O princípio da finalidade, posto que se
cípio da finalidade, posto que se por ventura, o agente público vier por ventura o agente público vier a praticar o ato administrativo
a praticar o ato administrativo sem interesse público, visando tão sem interesse público, visando tão somente satisfazer interesse pri-
somente satisfazer interesse privado, tal ato sofrerá desvio de fina- vado, tal ato sofrerá desvio de finalidade, vindo, por esse motivo a
lidade, vindo, por esse motivo a ser invalidado. ser invalidado.
É importante ressaltar também que o princípio da impessoa- • Aspecto importante: A imputação da atuação administrativa
lidade traz o foco da análise para o administrado. Assim sendo, in- ao Estado, e não aos agentes públicos que a colocam em prática.
dependente da pessoa que esteja se relacionando com a adminis- • Nota importante: proibição da utilização de propaganda ofi-
tração, o tratamento deverá ser sempre de forma igual para todos. cial com o fito de promoção pessoal de agentes públicos.
Desta maneira, a exigência de impessoalidade advém do princípio • Dispositivo de Lei combatente à violação do princípio da im-
da isonomia, vindo a repercutir na exigência de licitação prévia às pessoalidade e a promoção pessoal de agentes públicos, por meio
contratações a ser realizadas pela Administração; na vedação ao de propaganda financiada exclusivamente com os cofres públicos:
nepotismo, de acordo com o disposto na Súmula Vinculante 13 do Art. 37, § 1.º, da CFB/88:
Supremo Tribunal Federal; no respeito à ordem cronológica para § 1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
pagamento dos precatórios, dentre outros fatores. campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor-
Outro ponto importante que merece destaque acerca da acep- mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
ção do princípio da impessoalidade, diz respeito à imputação da símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto-
atuação administrativa ao Estado, e não aos agentes públicos que ridades ou servidores públicos.
a colocam em prática. Assim sendo, as realizações estatais não são
imputadas ao agente público que as praticou, mas sim ao ente ou Princípio da Moralidade
entidade em nome de quem foram produzidas tais realizações. A princípio ressalta-se que não existe um conceito legal ou
Por fim, merece destaque um outro ponto importante do prin- constitucional de moralidade administrativa, o que ocorre na ver-
cípio da impessoalidade que se encontra relacionado à proibição dade, são proclamas de conceitos jurídicos indeterminados que são
da utilização de propaganda oficial com o fito de promoção pes- formatados pelo entendimento da doutrina majoritária e da juris-
soal de agentes públicos. Sendo a publicidade oficial, custeada com prudência.
recursos públicos, deverá possuir como único propósito o caráter Nesse diapasão, ressalta-se que o princípio da moralidade é
educativo e informativo da população como um todo, o que, assim condizente à convicção de obediência aos valores morais, aos prin-
sendo, não se permitirá que paralelamente a estes objetivos o ges- cípios da justiça e da equidade, aos bons costumes, às normas da
tor utilize a publicidade oficial de forma direta, com o objetivo de boa administração, à ideia de honestidade, à boa-fé, à ética e por
promover a sua figura pública. último, à lealdade.
Lamentavelmente, agindo em contramão ao princípio da im- A doutrina denota que a moral administrativa, trata-se daquela
pessoalidade, nota-se com frequência a utilização da propaganda que determina e comanda a observância a princípios éticos retira-
oficial como meio de promoção pessoal de agentes públicos, agin- dos da disciplina interna da Administração Pública.
do como se a satisfação do interesse público não lhes fosse uma Dentre os vários atos praticados pelos agentes públicos viola-
obrigação. Entretanto, em combate a tais atos, com o fulcro de dores do princípio da moralidade administrativa, é coerente citar:
restringir a promoção pessoal de agentes públicos, por intermédio a prática de nepotismo; as “colas” em concursos públicos; a práti-
de propaganda financiada exclusivamente com os cofres públicos, ca de atos de favorecimento próprio, dentre outros. Ocorre que os
o art. 37, § 1.º, da Constituição Federal, em socorro à população, particulares também acabam por violar a moralidade administrati-
determina: va quando, por exemplo: ajustam artimanhas em licitações; fazem
Art. 37. [...] “colas” em concursos públicos, dentre outros atos pertinentes.
É importante destacar que o princípio da moralidade é possui-
dor de existência autônoma, portanto, não se confunde com o prin-
cípio da legalidade, tendo em vista que a lei pode ser vista como
imoral e a seara da moral é mais ampla do que a da lei. Assim sendo,
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
ocorrerá ofensa ao princípio da moralidade administrativa todas as • Alguns atos que violam o princípio da moralidade adminis-
vezes que o comportamento da administração, embora esteja em trativa a prática de nepotismo; as “colas” em concursos públicos; a
concordância com a lei, vier a ofender a moral, os princípios de jus- prática de atos de favorecimento próprio, dentre outros.
tiça, os bons costumes, as normas de boa administração bem como • Possuidor de existência autônoma: O princípio da moralida-
a ideia comum de honestidade. de não se confunde com o princípio da legalidade;
Registra-se em poucas palavras, que a moralidade pode ser • É requisito de validade do ato administrativo: Assim quando
definida como requisito de validade do ato administrativo. Desta a moralidade não for observada, poderá ocorrer a invalidação do
forma, a conduta imoral, à semelhança da conduta ilegal, também ato;
se encontra passível de trazer como consequência a invalidade do • Autotutela: Ocorre quando a invalidação do ato administra-
respectivo ato, que poderá vir a ser decretada pela própria adminis- tivo imoral pode ser decretada pela própria Administração Pública
tração por meio da autotutela, ou pelo Poder Judiciário. ou pelo Poder Judiciário;
Denota-se que o controle judicial da moralidade administrativa • Ações judiciais para controle da moralidade administrativa
se encontra afixado no art. 5.º, LXXIII, da Constituição Federal, que que merecem destaque: ação popular e ação de improbidade ad-
dispõe sobre a ação popular nos seguintes termos: ministrativa.
Art. 5.º [...]
LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação Princípio da Publicidade
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de Advindo da democracia, o princípio da publicidade é carac-
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, terizado pelo fato de todo poder emanar do povo, uma vez que
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o sem isso, não teria como a atuação da administração ocorrer sem
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus o conhecimento deste, fato que acarretaria como consequência a
da sucumbência. impossibilidade de o titular do poder vir a controlar de forma con-
Pontua-se na verdade, que ao atribuir competência para que tundente, o respectivo exercício por parte das autoridades consti-
agentes públicos possam praticar atos administrativos, de forma tuídas.
implícita, a lei exige que o uso da prerrogativa legal ocorra em con-
sonância com a moralidade administrativa, posto que caso esse re- Pondera-se que a administração é pública e os seus atos devem
quisito não seja cumprido, virá a ensejar a nulidade do ato, sendo ocorrer em público, sendo desta forma, em regra, a contundente e
passível de proclamação por decisão judicial, bem como pela pró- ampla publicidade dos atos administrativos, ressalvados os casos de
pria administração que editou a ato ao utilizar-se da autotutela. sigilo determinados por lei.
Registra-se ainda que a improbidade administrativa constitui- Assim sendo, denota-se que a publicidade não existe como um
-se num tipo de imoralidade administrativa qualificada, cuja gra- fim em si mesmo, ou apenas como uma providência de ordem me-
vidade é preponderantemente enorme, tanto que veio a merecer ramente formal. O principal foco da publicidade é assegurar trans-
especial tratamento constitucional e legal, que lhes estabeleceram parência ou visibilidade da atuação administrativa, vindo a possibi-
consequências exorbitantes ante a mera pronúncia de nulidade do litar o exercício do controle da Administração Pública por meio dos
ato e, ainda, impondo ao agente responsável sanções de caráter administrados, bem como dos órgãos determinados por lei que se
pessoal de peso considerável. Uma vez reconhecida, a improbidade encontram incumbidos de tal objetivo.
administrativa resultará na supressão do ato do ordenamento jurí- Nesse diapasão, o art. 5º, inciso XXXIII da CFB/88, garante a to-
dico e na imposição ao sujeito que a praticou grandes consequên- dos os cidadãos o direito a receber dos órgãos públicos informações
cias, como a perda da função pública, indisponibilidade dos bens, de seu interesse particular, ou de interesse coletivo, que deverão
ressarcimento ao erário e suspensão dos direitos políticos, nos ter- serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, com
mos do art. 37, § 4.º da Constituição Federal. exceção daquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da so-
Por fim, de maneira ainda mais severa, o art. 85, V, da Consti- ciedade como um todo e do Estado de forma geral, uma vez que
tuição Federal Brasileira, determina e qualifica como crime de res- esse dispositivo constitucional, ao garantir o recebimento de infor-
ponsabilidade os atos do Presidente da República que venham a mações não somente de interesse individual, garante ainda que tal
atentar contra a probidade administrativa, uma vez que a prática de recebimento seja de interesse coletivo ou geral, fato possibilita o
crime de responsabilidade possui como uma de suas consequências exercício de controle de toda a atuação administrativa advinda por
determinadas por lei, a perda do cargo, fato que demonstra de for- parte dos administrados.
ma contundente a importância dada pelo legislador constituinte ao É importante ressaltar que o princípio da publicidade não pode
princípio da moralidade, posto que, na ocorrência de improbidade ser interpretado como detentor permissivo à violação da intimida-
administrativa por agressão qualificada, pode a maior autoridade de, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, conforme
da República ser levada ao impeachment. explicita o art. 5.º, X da Constituição Federal, ou do sigilo da fonte
quando necessário ao exercício profissional, nos termos do art. 5.º,
Em resumo, temos: XIV da CFB/88.
• Conceito doutrinário: Moral administrativa é aquela deter- Destaca-se que com base no princípio da publicidade, com
minante da observância aos princípios éticos retirados da disciplina vistas a garantir a total transparência na atuação da administração
interna da administração; pública, a CFB/1988 prevê: o direito à obtenção de certidões em
• Conteúdo do princípio: Total observância aos princípios da repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de si-
justiça e da equidade, à boa-fé, às regras da boa administração, aos tuações de interesse pessoal, independentemente do pagamento de
valores morais, aos bons costumes, à ideia comum de honestidade, taxas (art. 5.º, XXXIV, “b”); o direito de petição aos Poderes Públicos
à ética e por último à lealdade; em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder, in-
• Observância: Deve ser observado pelos agentes públicos e dependentemente do pagamento de taxas (art. 5.º, XXXIV, “a”); e o
também pelos particulares que se relacionam com a Administração direito de acesso dos usuários a registros administrativos e atos de
Pública; governo (art. 37, § 3.º, II).

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Pondera-se que havendo violação a tais regras, o interessado • Possui como foco assegurar a transparência da atuação admi-
possui à sua disposição algumas ações constitucionais para a tutela nistrativa, vindo a possibilitar o exercício do controle da Administra-
do seu direito, sendo elas: o habeas data (CF, art. 5.º, LXXII) e o ção Pública de modo geral;
mandado de segurança (CF, art. 5.º, LXIX), ou ainda, as vias judiciais • Em relação à sua manifestação, concede ao cidadão: direito
ordinárias. à obtenção de certidões em repartições públicas; direito de petição;
No que concerne aos mecanismos adotados para a concretiza- direito de acesso dos usuários a registros administrativos e atos de
ção do princípio, a publicidade poderá ocorrer por intermédio da governo; direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
publicação do ato ou, dependendo da situação, por meio de sua interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, com exceção
simples comunicação aos destinatários interessados. daquelas informações, cujo sigilo seja indispensável à segurança da
Registra-se, que caso não haja norma determinando a publi- sociedade e do Estado.
cação, os atos administrativos não geradores de efeitos externos • Não se trata de um princípio absoluto, necessitando que seja
à Administração, como por exemplo, uma portaria que cria deter- harmonizado com os demais princípios constitucionais;
minado evento, não precisam ser publicados, bastando que seja • A publicação é exigida desde que exista previsão legal ou de
atendido o princípio da publicidade por meio da comunicação aos atos que sejam produtores de efeitos externos;
interessados. Entendido esse raciocínio, pode-se afirmar que o de- • Não havendo exigência legal, a publicidade dos atos internos
ver de publicação recai apenas sobre os atos geradores de efeitos poderá ser feita por intermédio de comunicação direta ao interes-
externos à Administração. É o que ocorre, por exemplo, num edital sado;
de abertura de um concurso público, ou quando exista norma legal • A Lei 12.527/2011 foi aprovada como um mecanismo amplo
determinando a publicação. e eficaz de concretização do acesso à informação, vindo a se tornar
Determinado a lei a publicação do ato, ressalta-se que esta de- um genuíno corolário do princípio da publicidade.
verá ser feita na Imprensa Oficial, e, caso a divulgação ocorra ape- • A publicação deverá ser feita pela Imprensa Oficial, ou, onde
nas pela televisão ou pelo rádio, ainda que em horário oficial, não não houver órgão oficial, em consonância com a Lei Orgânica do
se considerará atendida essa exigência. No entanto, conforme o en- Município, a publicação oficial poderá ser feita pela afixação dos
sinamento do ilustre Hely Lopes Meirelles, onde não houver órgão atos e leis municipais na sede da Prefeitura ou da Câmara Munici-
oficial, em consonância com a Lei Orgânica do Município, a publica- pal.
ção oficial poderá ser feita pela afixação dos atos e leis municipais
na sede da Prefeitura ou da Câmara Municipal. Princípio da Eficiência
Dotada de importantes mecanismos para a concretização do A princípio, registra-se que apenas com o advento da Emenda
princípio da publicidade, ganha destaque a Lei 12.527/2011, tam- Constitucional nº 19/1998, também conhecida como “Emenda da
bém conhecida como de Lei de Acesso à Informação ou Lei da Reforma Administrativa”, o princípio da eficiência veio a ser previs-
Transparência Pública. A mencionada Lei estabelece regras gerais, to no caput do art. 37 da Constituição Federal Brasileira de 1988.
de caráter nacional, vindo a disciplinar o acesso às informações Acrescido a tais informações, o princípio da eficiência também se
contidas no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 encontra previsto no caput do art. 2.º da Lei 9.784/1999, lei que
e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal Brasileira de 1.988. regula o processo administrativo na seara da Administração Pública
Encontram-se subordinados ao regime da lei 12.527/2011, tanto Federal.
a Administração Direta, quanto as entidades da Administração In- Desta forma, elevado à categoria de princípio constitucional ex-
direta e demais entidades controladas de forma direta ou indireta presso pela Emenda Constitucional 19/1998, o dever de eficiência
pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios. corresponde ao dever de bem administrar a Máquina Pública.
Também estão submetidas à ordenança da Lei da Transparência Pú- No entendimento de Hely Lopes Meirelles, “o princípio da efi-
blica as entidades privadas sem fins lucrativos, desde que recebam ciência exige que a atividade administrativa seja exercida com pres-
recursos públicos para a realização de ações de interesse público, teza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio
especialmente as relativas à publicidade da destinação desses re- da função administrativa, que já não se contenta em ser desem-
cursos, sem prejuízo de efetuarem as prestações de contas a que penhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para
estejam obrigadas por lei. o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da
Por fim, pontua-se que embora a regra ser a publicidade, a Lei comunidade e de seus membros”.
12.527/2011 excetua com ressalvas, o sigilo de informações que Pondera-se que princípio da eficiência deverá estar eivado de
sejam imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado de valores e uma boa administração pública que dê preferência por
forma geral. Ocorre que ainda nesses casos, o sigilo não será eter- produtividade elevada, economicidade, excelente qualidade e ce-
no, estando previstos prazos máximos de restrição de acesso às leridade dos serviços prestados, vindo a reduzir os desperdícios e,
informações, conforme suas classificações da seguinte forma, nos ainda, que trabalhe pela desburocratização e pelo elevado rendi-
ditames do art. 24, § 1º: mento funcional como um todo.
a) Informação ultrassecreta (25 anos de prazo máximo de res- De acordo com a Constituição Federal Brasileira, existem nor-
trição ao acesso); mas inseridas no ordenamento jurídico pátrio que possuem o con-
b) Informação secreta (15 anos de prazo máximo de restrição dão de tornar mais eficiente a prestação de serviços públicos. Pas-
ao acesso); semos a analisar almas destas regras:
c) Informação reservada (cinco anos de prazo máximo de res- 1. Nos termos do art. art. 41, § 4.º da CFB/88, com o fito de
trição ao acesso). adquirir estabilidade, o servidor público, após ser aprovado em con-
curso, terá que passar por uma avaliação especial de desempenho
Em síntese, temos: por comissão instituída para essa finalidade;
• É advindo da democracia e se encontra ligado ao exercício da 2. Segundo o art. 41, §1º da CFB/88, após ter adquirido estabi-
cidadania; lidade, o servidor não pode relaxar, uma vez que se encontra sujeito
• Exige divulgação ampla dos atos da Administração Pública, a passar por periódicas avaliações de desempenho, podendo correr
com exceção das hipóteses excepcionais de sigilo; o risco de perder o cargo, caso seja declarado insuficiente, assegu-
• Se encontra ligado à eficácia do ato administrativo; rada ampla defesa;
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Apelidada de “Lei de Responsabilidade das Estatais”, a Lei Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade
13.303/2016, dentre as diversas novidades estatuídas em seu di- Sendo princípios gerais de direito, a razoabilidade e a propor-
ploma, destacamos com ênfase no art. 17, a estipulação de notório cionalidade, embora não estejam previstos expressamente no texto
conhecimento, bem como tempo de experiência profissional e for- da CFB/88, transpassam vários dispositivos da CF/1988, vindo a se
mação acadêmica como pré-requisitos legais para que alguém pos- constituir em princípios constitucionais implícitos.
sa ser nomeado para o Conselho de Administração ou Diretoria de Assim sendo, pondera-se que não existe nenhuma uniformida-
uma Empresa Pública ou sociedade de economia mista. Pondera-se de na doutrina em relação ao conteúdo dos princípios da razoabi-
que tais exigências são uma autêntica homenagem ao princípio da lidade e da proporcionalidade, tendo em vista que há autores que
eficiência, bem como aos princípios da moralidade e da isonomia. entendem os dois princípios como sendo sinônimos, ao passo que
Por fim, denota-se que o princípio da eficiência não se sobrepõe consideram que a proporcionalidade se trata apenas uma das ca-
aos demais princípios, aliás, acrescente-se, que ela se soma aos racterísticas do princípio da razoabilidade, havendo ainda, uma cor-
demais princípios administrativos, fatos que demonstram que a rente que considera os dois como princípios distintos um do outro.
função administrativa executada de forma eficiente, deverá sempre Embora haja doutrinárias divergentes em relação ao assunto,
ser exercida nos parâmetros de conformidade com o princípio da entende-se de modo geral, que o princípio da razoabilidade está re-
legalidade. lacionado ao aceitamento explícito da conduta em face de padrões
racionais de comportamento, que buscam levar em conta tanto o
Em suma, temos: bom senso do homem médio, quanto a finalidade para a qual foi
• Se encontra expresso na Constituição Federal e foi inserido outorgada a competência legítima ao agente público. Assim sen-
pela EC 19/1998; do, o princípio da razoabilidade exige de maneira contundente do
• Princípio da eficiência ou dever de eficiência é o dever bem administrador, atuação com bom senso, coerência e racionalidade.
administrar; Em relação ao princípio da proporcionalidade, entende-se que
• É o mais moderno princípio da função administrativa, que este se refere à postura de conduta equilibrada, sendo proporcional
já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, à finalidade que se destina e também sem excessos em si mesmo.
exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório Ponto importante que merece registro, é que o que considera uma
atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros; conduta como proporcional em um caso concreto, uma vez que de-
• Exigências legais: as atividades administrativas devem ser vem estar presentes três elementos, sendo eles:
exercidas com presteza, perfeição e rendimento funcional; deverão 1. A adequação: Trata-se da compatibilidade entre o meio em-
surtir resultados positivos para o serviço público, bem como um pregado e o fim almejado;
atendimento que possa satisfazer as necessidades da população e 2. A exigibilidade: Por meio da qual, a conduta praticada deve
de seus membros; prima-se por economicidade, produtividade ele- ser necessária, não existindo meio menos gravoso para alcançar o
vada, qualidade e celeridade na prestação dos serviços bem como fim público;
pela redução dos desperdícios e desburocratização; 3. A proporcionalidade em sentido estrito: Por meio da qual,
• Aspectos importantes: o modo como o agente público atua; as vantagens obtidas com conduta acabam por superar as desvan-
a forma de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Públi- tagens.
ca como um todo; Na seara de controle de constitucionalidade, denota-se que o
• Trata-se de um princípio que se encontra relacionado à admi- Supremo Tribunal Federal tem adotado com enorme frequência os
nistração pública gerencial; princípios da razoabilidade e proporcionalidade, de forma especial
• É um princípio de se soma-se aos demais princípios da Ad- nas situações em que o legislador ordinário edita lei que, embo-
ministração Pública, não se sobrepõe a nenhum deles e deve ser ra aparentemente não contrarie qualquer dispositivo disposto na
exercido nos conformes ditados pelo princípio da legalidade. CFB/88, definha de ausência plena de razoabilidade.
Explicita-se ainda, que a jurisprudência do Supremo Tribunal
Princípios Implícitos da Administração Pública Federal tem usado de maneira contundente o princípio da razoa-
No estudo anterior, foi exposto com ênfase os princípios apli- bilidade como forma de examinar se discriminações usadas pelo
cáveis à administração pública expressos na Constituição Federal legislador ordinário ou pela Administração Pública, são ou não de
de 1988. Entretanto, a doutrina também reconhece outros princí- fato agressivas ao princípio da isonomia que se encontra inserido
pios que, embora não estejam contidos de forma expressa no texto na Constituição Federal.
constitucional, são retirados da Carta Magna e são igualmente aco- Ressalte-se, por fim, que o princípio da isonomia, além de auto-
lhidos pelo sistema constitucional e importantes no estudo do direi- rizar, exige também tratamentos de forma diferente entre pessoas
to administrativo. Trata-se dos princípios administrativos implícitos, que se encontram em situações distintas. Desta maneira, o proble-
os quais iremos abordar em estudo neste tópico. ma não é diferenciar, mas sim saber aplicar a razoabilidade do cri-
Afirma-se que diversos desses princípios constitucionais implí- tério utilizado para a diferenciação. Um exemplo clássico disso, é a
citos são encontrados contemporaneamente em diversas leis. A Lei exigência de altura mínima para cargos de carreiras policiais, uma
9.784/1999, por exemplo se encontra eivada de normas e regras vez que esta é considerada razoável e válida, levando em conta que
básicas sobre o processo administrativo na seara da Administração o porte físico é característica importante e relevante para o exercí-
Federal, vindo a citar diversos princípios que não se encontram cio de tais cargos.
dispostos na Constituição Federal de 1.988, embora sejam desta Em resumo, temos:
advindos, como o interesse público, a segurança jurídica, a finalida-
de, a motivação, dentre outros. Desta maneira, depreende-se que
quando um princípio administrativo é qualificado como implícito,
significa que ele não se encontra nominalmente expresso no texto
constitucional, fato que não importa para efeito tal classificação, se
ele se encontra ou não previsto de modo explícito em alguma forma
de norma respectivamente infraconstitucional.

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Razoabilidade g) Sempre que deixarem de aplicar jurisprudência firmada so-
• Exige do administrador atuação coerente, racional e com bre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e re-
bom senso; latórios oficiais;
• Diz respeito à aceitabilidade de uma conduta, dentro de pa- h) Importarem sobre anulação, suspensão, revogação ou con-
drões e ditames normais de comportamento; validação de ato administrativo.
• Permite o controle de legalidade das leis e atos administra-
tivos, vindo a se constituir em limitação ao poder discricionário da De acordo com o art. 50, § 1º da Lei 9.784/1999, a motivação
Administração Pública como um todo. deve ser explícita, clara, harmônica ou congruente, ainda que, via
de regra, que não exija uma forma específica. Por esse motivo, são
Proporcionalidade considerados nulos os atos que dependem de motivação. Porém,
• Exige do administrador conduta equilibrada, balanceada, sem a autoridade competente, de modo geral, compreende que ela se
excessos, proporcional ao fim ao qual se destina; encontra implícita nas circunstâncias causadoras da edição do ato,
• É uma das características do princípio da razoabilidade; ou que aponta motivos complexos, ou que não possuem nada a ver
• Elementos: com a medida tomada, ou, ainda, que estejam eivados da necessi-
1) adequação; dade de providência colocada de forma oposta à que foi adotada.
2) exigibilidade; Por fim, é importante registrar que o momento da motivação
3) proporcionalidade em sentido estrito; pode ocorrer de forma prévia ou simultaneamente ao ato, caso não
• É permissionário do controle de legalidade das leis e atos ad- se tenha atendido ao requisito com uma posterior declinação de
ministrativos, vindo a se constituir em limitação ao poder discricio- motivos. Isso ocorre por que a doutrina e a jurisprudência afugen-
nário da Administração Pública. tam o uso de fórmulas prontas e vazias como forma de motivação
para a prática de atos administrativos. Desta maneira, não se aceita
Princípio da motivação por exemplo, como sendo suficiente a afirmação de que o ato ad-
Trata-se de um princípio implícito que determina à Adminis- ministrativo foi praticado por causa de interesse público, ou, ainda
tração Púbica a indicação dos fundamentos de fato e de direito porque os argumentos que foram demonstrados pelo administrado
referentes às suas decisões. Por permitir o controle por meio dos não são suficientes, sendo necessário que seja indicado, no primei-
administrados, tendo em vista a licitude, a existência e a ampla sufi- ro caso, a correlação existente entre o ato e o interesse público vi-
ciência dos motivos indicados pela Administração na prática de seus sado e, no segundo, o porquê da falta de suficiência dos argumento
atos, o princípio da motivação é considerado como um princípio apresentados.
moralizador.
Depreende-se que motivo é a circunstância de fato ou de di- Em síntese, temos:
reito determinadora ou autorizadora da prática de ato específico. • É um princípio implícito que determina à Administração Pú-
Referindo-se a atos vinculados, o motivo passa a determinar que o bica a indicação dos fundamentos de fato e de direito referentes às
ato seja praticado. Porém, quando o ato é discricionário, havendo suas decisões;
a presença do motivo, ela apenas irá validar a consumação do ato. • É considerado como um princípio moralizador;
Exemplo: contemplando uma manobra proibida no trânsito, sendo • Motivo é a circunstância de fato ou de direito determinadora
esta o “motivo”, o agente deverá aplicar a multa correspondente, ou autorizadora da prática de ato específico;
não sendo permitido e nem lícito à autoridade de trânsito analisar • Na Legislação Pátria, a regra geral é a necessidade de moti-
a conveniência e nem tampouco a oportunidade em relação à puni- vação de todos os atos ou decisões administrativas, fato que indica
ção da infração cometida, tendo em vista que o ato é vinculado e a que a Administração Pública deve, por força de lei, deixar sempre
presença do motivo acabam por determinar sua prática. expressos os motivos que a levaram a praticar um ato ou a tomar
Na Legislação Pátria, a regra geral é a necessidade de motiva- certa decisão, seja esta de ato vinculado ou de ato discricionário;
ção de todos os atos ou decisões administrativas, fato que indica • De acordo com o art. 50, § 1º da Lei 9.784/1999, a motivação
que a Administração Pública deve, por força de lei, deixar sempre deve ser explícita, clara, harmônica ou congruente, ainda que, via
expressos os motivos que a levaram a praticar um ato ou a tomar de regra, esta não exija uma forma específica.
certa decisão, seja esta de ato vinculado ou de ato discricionário. • O momento da motivação pode ocorrer de forma prévia ou
Bastante reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência, o simultaneamente ao ato, caso não se tenha atendido o requisito
princípio da motivação encontra-se previsto em diversos diplomas com uma posterior declinação de motivos.
normativos. Um exemplo disso, é o art. 50 da Lei 9.784/1999 que
ordena que os atos administrativos deverão ocorrer sempre de for- Princípio da autotutela
ma motivada eivados da indicação dos fatos e dos fundamentos ju- O princípio da autotutela consiste na possibilidade de a Ad-
rídicos, quando: ministração rever seus próprios atos. É o poder acompanhado do
a) Negarem, limitarem ou vierem a afetar direitos ou interes- dever concedido à administração para zelar pela legalidade, pela
ses; conveniência e pela oportunidade dos atos que pratica.
b) Agravarem ou imporem deveres, encargos ou sanções; Levando em conta que a Administração Pública poderá agir
c) Decidirem a respeito de processos administrativos de con- apenas quando autorizada por lei e nos termos legalmente esta-
curso ou seleção pública; belecidos, dessa enunciação, decorre a presunção de que os atos
d) Dispensarem ou declararem a inexigibilidade de processo administrativos são dotados de presunção de legalidade, ou seja,
licitatório; são legais e se encontram fundamentados em presunção de veraci-
e) Decidirem a respeito de recursos administrativos; dade, sendo por isso, considerados verdadeiros.
f) Decorrerem de reexame de ofício; Tendo a Administração a prerrogativa de agir de ofício, pode-
-se afirmar que esta possui o deve anular seus atos ilegais, e pode,
também revogar os atos que considerar inoportunos ou inconve-
nientes, independentemente de houver ou não a intervenção de
terceiros.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Pondera-se que a autotutela possui dois aspectos do controle • A Administração pode de agir de ofício, deve anular seus atos
interno dos atos administrativos, sendo eles: ilegais, e pode, também, revogar os atos que considerar inoportu-
1) O controle de legalidade: Por meio do qual a Administração nos ou inconvenientes, independentemente de haver ou não a in-
Pública anula os atos ilegais; tervenção de terceiros.
2) O controle de mérito: Por meio do qual a Administração
pode revogar os atos inoportunos ou inconvenientes. Aspectos do controle interno dos atos administrativos:
Registra-se com grande ênfase, o fato de o princípio autotutela 1) O controle de legalidade: Por meio do qual a Administração
se achar consagrado em duas súmulas do Supremo Tribunal Fede- Pública anula os atos ilegais;
ral, sendo elas: 2) O controle de mérito: Por meio do qual a Administração
STF – Súmula 346: “A administração pública pode declarar a pode revogar os atos inoportunos ou inconvenientes.
nulidade dos seus próprios atos.”
STF – Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios Súmulas:
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles STF – Súmula 346: “A administração pública pode declarar a
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência nulidade dos seus próprios atos.”
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, STF – Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios
em todos os casos, a apreciação judicial”. atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
Denota-se que embora as Súmulas mencionadas acima afir- não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
mem que a administração “pode anular seus próprios atos”, ela ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
na verdade, “deve anular seus atos”, tendo em vista que anular a em todos os casos, a apreciação judicial”.
revogação é um poder-dever, e não uma somente uma simples pos- • Para Maria Sylvia Zanella não podem ser revogados os se-
sibilidade. guintes atos:
Destaca-se com grande importância, o fato da autotutela, se a) Os atos vinculados;
diferenciar do controle judicial no sentido de que ela depende de b) Os atos que extenuaram seus efeitos;
provocação externa para poder se manifestar, bem como pode ser c) Os atos que estiverem sendo apreciados por autoridade de
exercida de ofício, ou, ainda por meio de provocação de terceiros instância superior;
estranhos à Administração. Colocando em prática, quando uma d) Os meros atos administrativos como certidões, atestados,
autoridade pública recebe uma comunicação de irregularidade na votos, dentre outros, porque os efeitos deles advindos são estabe-
Administração Pública, ela obtém a obrigação de dar ciência do lecidos pela lei;
ocorrido ao seu chefe imediato ou, sendo esta competente, poderá e) Os atos que integram um procedimento, tendo em vista que
a adotar as providências cabíveis para a apuração dos fatos, bem a cada novo ato praticado ocorre a preclusão quanto ao ato ante-
como dos demais procedimentos necessários para a correção da ili- rior;
citude ocorrida e, caso seja necessário, punir os culpados, sob pena f) Os atos geradores de direitos adquiridos, posto que violam a
de ser responsabilizada por omissão. Assim sendo, é plenamente Constituição Federal Brasileira de 1.988.
possível afirmar que a provocação do exercício da autotutela pode
vir de fora da Administração Pública. Princípios da segurança jurídica, da proteção à confiança e da
A respeito da revogação de atos da Administração Pública, Ma- boa-fé
ria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que não podem ser revogados os De antemão, salienta-se que a segurança jurídica é um dos
seguintes atos: princípios fundamentais do direito e possui como atributos garan-
a) Os atos vinculados, tendo em vista que não há nestes os tir a estabilidade das relações jurídicas consolidadas, bem como a
aspectos da oportunidade e conveniência de sua prática como um certeza das consequências jurídicas dos atos praticados pelos indi-
todo; víduos em suas diversas relações sociais.
b) Os atos que extenuaram seus efeitos. Isso ocorre pelo fato Tendo em vista garantir os retro mencionados atributos, em re-
da revogação não retroagir, mas apenas impedir que o ato continue lação à estabilidade das relações jurídicas, o ordenamento jurídico
a produzir seus efeitos, uma vez que não haveria proveito em revo- pugna pela exigência do respeito ao direito adquirido e também ao
gar um ato que já produziu todos os seus efeitos; ato jurídico perfeito e à coisa julgada. Já em relação à certeza das
c) Os atos que estiverem sendo apreciados por autoridade de consequências jurídicas dos atos praticados, é possível se prever a
instância superior. Isso acontece, porque a competência da autori- regra geral da irretroatividade da lei acompanhada de sua interpre-
dade que o praticou para revogá-lo se esgotou; tação de modo geral.
d) Os meros atos administrativos como certidões, atestados, No âmbito do Direito Administrativo, são plenamente aplicá-
votos, dentre outros, porque os efeitos deles advindos são estabe- veis todas as regras mencionadas, porém, ganha destaque a impor-
lecidos pela lei; tância da vedação em relação à interpretação retroativa da norma
e) Os atos que integram um procedimento, tendo em vista que jurídica. Ocorre que ao expressar seu entendimento a respeito de
a cada novo ato praticado ocorre a preclusão quanto ao ato ante- determinada matéria, a Administração Pública acaba por subme-
rior; ter o administrado à orientação administrativa e passa por boa-fé a
f) Os atos geradores de direitos adquiridos, posto que violam a guiar o seu comportamento. Entretanto, não pode a Administração,
Constituição Federal Brasileira. sob pena de ferir o princípio da segurança jurídica, prejudicar o par-
ticular, aplicando a este, nova interpretação a casos retrógrados já
Em resumo, temos: interpretados em concordância com as concepções anteriormente
• Consiste na possibilidade de a Administração rever seus pró- vigentes. Por esse motivo, em âmbito federal, a Lei 9.784/1999 em
prios atos. É o poder acompanhado do dever concedido à adminis- seu art. 2.º, parágrafo único, XIII, veda de forma expressa a aplica-
tração para zelar pela legalidade, pela conveniência e pela oportu- ção retroativa de nova interpretação de matéria administrativa que
nidade dos atos que pratica. já fora anteriormente avaliada.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em suma, como consequências do princípio da segurança jurí- Princípio da segurança jurídica
dica, podemos citar: a vedação da interpretação retroativa da nor- • Objetivo: Busca a garantia da estabilidade das relações jurídi-
ma jurídica; a limitação temporal ao exercício da autotutela; o res- cas consolidadas, bem como a certeza das consequências jurídicas
peito ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito. dos atos que são praticados pelos indivíduos em suas distintas re-
Em relação ao princípio da proteção à confiança ou proteção lações sociais;
à confiança legítima, denota-se que se trata esse princípio de as- • Consequências: Busca vedar a interpretação retroativa da
pecto subjetivo da segurança jurídica, de forma que é considerado norma jurídica; a limitação temporal ao exercício da autotutela; o
como um desdobramento deste. respeito ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico per-
A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, leciona que o “princípio feito.
da proteção à confiança leva em conta a boa-fé do cidadão, que
acredita e espera que os atos praticados pelo Poder Público sejam Princípio da proteção à confiança
lícitos e, nessa qualidade, serão mantidos e respeitados pela pró- • Foco: A proteção da confiança dos administrados nos atos da
pria Administração e por terceiros”. Administração Pública;
Ressalte-se que o princípio da proteção à confiança possui o • Aspecto ou dimensão subjetiva do princípio da segurança ju-
condão de fundamentar a manutenção de atos ilegais e inconstitu- rídica;
cionais, condições nas quais, o juízo que os pondera tem tido como • Consequências legais: A manutenção de atos ilegais ou in-
consequência, uma graduação redutiva do alcance do princípio da constitucionais, a manutenção de atos praticados por funcionários
legalidade como um todo. Um exemplo disso é o que ocorre nos ca- de fato, dentre outros.
sos em que a Administração, em decorrência de interpretação errô-
nea da lei, adimple com o pagamento de valores que não são devi- Princípio da boa-fé
dos a servidores que, de boa-fé, entendem ter direito a tais verbas. • Aspecto objetivo: Ter conduta leal e honesta;
Ocorrendo esse tipo de erro, o Judiciário, para proteger a confiança • Aspecto subjetivo: A crença do agente de que está agindo de
que os servidores possuem na Administração, tem se manifestado forma correta;
de maneira constante pela desnecessidade de reposição ao erário • A boa-fé deve ser exigida da Administração e do Administra-
público de forma geral. do;
Por fim, vale a pena mencionar outro efeito concreto do prin- • Consequências: manutenção de atos ilegais ou inconstitucio-
cípio da proteção à confiança, que trata-se da manutenção de atos nais, dentre outros.
praticados por funcionário de fato, posto que, de forma teórica,
caso o servidor tenha sido investido de forma irregular no cargo, Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos
via de regra, não teria este a competência para praticar atos admi- O foco fundamental do Estado é a consecução do bem comum
nistrativos, uma vez que tais atos seriam considerados nulos. No do seu povo como um todo. Pondera-se que para atingir tal objeti-
entanto, os atos praticados, por terem aparência de legalidade e vo, é necessário que a Administração disponibilize para os adminis-
que vierem a gerar a crença nos destinatários de que realmente são trados utilidades específicas, atenda necessidades determinadas, e,
válidos, deverão ser mantidos. ainda que possa oferecer comodidades a depender de cada caso
Passemos à análise do princípio da boa-fé, que mesmo se en- específico. Ressalta-se que estas atividades podem ser encaixadas
contrando implícito no texto da Carta Magna, depreende-se que ele no sentido amplo do vocábulo da prestação de serviços públicos,
pode ser extraído do princípio da moralidade. Ademais, esse prin- tendo em vista que a interrupção da prestação de serviços públicos
cípio se encontra previsto nos artigos 2º, parágrafo único, IV, e 4.º, não pode ser vedada.
II, da Lei 9.784/1999. Sem sombra de dúvidas, a busca do bem comum deverá sem-
Registra-se que a boa-fé está subdividida em dois aspectos, pre acontecer de maneira incessante e sem vedação de continui-
sendo eles: dade. Desse cenário, podemos extrair o conteúdo do princípio da
1) Aspecto objetivo: Esta relacionado à conduta leal e honesta, continuidade do serviço público, cuja materialização é assegurada
considerada de forma objetiva; por inúmeros ordenamentos. Como exemplo, podemos citar o di-
2) Aspecto subjetivo: Refere-se à crença do agente de que está reito de greve no serviço público de modo geral, que, embora seja
agindo de forma correta. Pois, caso contrário, se o agente tiver ciên- reconhecido, se encontra eivado de sujeições e restrições, tendo
cia de que o seu comportamento não se encontra em consonância em vista que uma vez que o disposto no art. 37, VII da Constituição
com as normas jurídicas, estará agindo de má-fé. Federal que o explicita, prevê a edição de uma lei específica que
Alguns doutrinadores identificam o princípio da boa-fé como limita os seus termos e limites.
sendo o princípio da proteção à confiança. Entretanto, entende-se Assim sendo, com vistas ao mesmo objetivo e reconhecendo
que ao passo que a proteção à confiança visa proteger somente a que alguns serviços públicos são delegados a particulares, a Cons-
boa-fé dos administrados, é necessário que o princípio da boa-fé tituição Federal no art. 9º, § 1º, ao disciplinar o direito de greve
se encontre presente do lado da Administração Pública em geral e assegurado aos trabalhadores em geral, estipula que a lei deverá
também do lado dos administrados. elencar com ênfase os serviços ou atividades essenciais, vindo a dis-
Por fim, vale a pena registrar que o princípio da boa-fé, seme- por sobre o atendimento das necessidades da comunidade que são
lhantemente ao princípio da proteção à confiança, também tem consideradas inadiáveis.
sido invocado como forma de justificativa da manutenção de atos Outro ponto importante que merece ser explanado é o fato da
administrativos sem validade, bem como de atos praticados por existência da inoponibilidade da exceção de contrato não cumpri-
funcionário de fato. do, exceptio non adimpleti contractus, nos contratos de concessão
Em síntese: de serviços públicos, fato que nos parâmetros legais, ainda que o
poder concedente se exima de cumprir as normas contratuais, os
serviços prestados pela concessionária correspondente não pode-
rão jamais ser interrompidos, nem tampouco paralisados sem que
haja decisão judicial transitada em julgado, nos parâmetros do art.
39, parágrafo único da Lei 8.987/1995.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Ressalta-se que relacionado ao princípio da continuidade dos Refere-se à presunção relativa ou juris tantum, vindo a acolher
serviços públicos, nos ditames do art. 80, II da Lei 8.666/1993, caso a produção de prova em contrário com o fito de afastá-la, sendo
a administração venha a rescindir unilateralmente um contrato ad- que o efeito primordial e principal da referida presunção trata-se de
ministrativo, ela passará a obter o direito à ocupação e utilização inverter o ônus da prova. Desta maneira, caso um agente de trânsi-
do local, bem como das instalações, dos equipamentos ali utiliza- to aplique uma autuação a um condutor de veículo automotor em
dos, do material e pessoal empregados na execução do contrato e decorrência de avanço de sinal, para que o motorista afaste a multa,
tudo o mais que for necessário à continuidade do serviço público terá que provar que não cometeu a infração.
essencial. Denota-se que como consequência da presunção de legitimi-
Nos parâmetros do art. 36 da Lei 8.897/1995, depreende-se dade, em regra, as decisões administrativas que podem ser feitas de
que ao término da concessão, existe previsão de lei para reverter forma imediata, vindo a gerar obrigações para os particulares, fato
ao poder público os bens do concessionário necessários à continui- que independe de sua concordância. Ademais, em determinadas
dade e atualização dos serviços públicos que haviam sido concedi- situações, poderá a própria Administração Pública vir a executar as
dos. É importante registrar também a existência dos institutos da suas próprias decisões, utilizando-se de meios diretos bem como
suplência, da substituição de servidores públicos, bem como da de- indiretos de coação que lhes forem disponíveis e permitidos.
legação, para se possa evitar que diante da ausência de um servidor
público ao trabalho, possa a Administração Pública e aqueles que Em resumo:
dela dependem, vir a sofrer com a paralisação do serviço público • Conteúdo: A presunção de que os atos praticados pela Admi-
prestado. nistração são verdadeiros, bem como são praticados de acordo com
Entretanto, ante o mencionado acima, ressalta-se que nos as normas legais”;
parâmetros do art. 6.º, § 3.º, da Lei 8.987/1995, é caracterizada • Aspectos: A presunção da verdade no que diz respeito à ve-
como descontinuidade do serviço público a sua interrupção em si- racidade das alegações da Administração Pública; e a presunção de
tuação de casos excepcionais de emergência, ou, após aviso previa- legalidade;
mente dado, quando estiver motivada por razões de ordem técnica • Presunção relativa juris tantum: Possuindo o efeito de inver-
ou de segurança das instalações presentes, ou em decorrência de ter o ônus da prova;
falta de adimplemento do usuário, considerando, por conseguinte • Consequências da presunção de legitimidade: decisões
o interesse da coletividade de modo geral. administrativas possuem execução imediatas; decisões adminis-
trativas podem criar obrigações particulares, ainda que estes não
Em suma, temos: concordem; em algumas situações, a própria Administração pode
• Conteúdo: Vedação da interrupção da prestação de serviços executar suas próprias decisões
públicos;
• Regras para garantir a continuidade do serviço público: restri- Princípio da Especialidade
ção ao direito de greve no serviço público; inoponibilidade ou res- O princípio da especialidade consiste na criação de entidades
trição a exceção do contrato não cumprido, exceptio non adimpleti da Administração Pública Indireta, fazendo alusão à ideia de des-
contractus; encampação de serviços públicos delegados; centralização administrativa. Pondera-se que tais entidades, ao se-
rem criadas, terão como missão a prestação de serviços públicos,
Objeto: A busca do bem comum deverá sempre acontecer de de forma descentralizada acrescida da especialização da função.
maneira incessante e sem cessação de continuidade. Além disso, podemos afirmar com concomitante certeza, que
o princípio da especialidade se encontra diretamente ligado aos
• Inoponibilidade da exceção de contrato não cumprido, ex- princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse público.
ceptio non adimpleti contractus: nos contratos de concessão de Denota-se que esta ligação com a legalidade, decorre do fato
serviços públicos, ainda que o poder concedente se exima de cum- da criação de entidades da Administração Indireta da Administra-
prir as normas contratuais, os serviços prestados pela concessio- ção, que só pode ser executada diretamente por lei ou, dependen-
nária correspondente não poderão jamais ser interrompidos, nem do do caso, por autorização legal. E, ainda, da indisponibilidade do
tampouco paralisados sem que haja decisão judicial transitada em interesse público, pelo motivo segundo o qual, a lei criadora ou au-
julgado. torizadora da criação de entidades da Administração Indireta, de-
• Hipóteses legais de interrupção dos serviços públicos: talha com exatidão as finalidades que deverão ser executadas por
Em situação de emergência e sem aviso prévio; razões de or- essas entidades, de forma que não cabe ao administrador da enti-
dem técnica ou de segurança das instalações, após prévio aviso; dade criada, dispor com precisão a respeito dos objetivos definidos
inadimplemento do usuário, após prévio aviso. pela legislação equivalente.
Registra-se, por fim, que o princípio da especialidade possui
Princípio da Presunção de Legitimidade ou de Veracidade abrangência somente para a criação de entidades da administra-
Trata-se de um importante princípio que diz respeito a duas ção indireta. Isso significa que sua abrangência não diz respeito, por
características dos atos praticados pela Administração Pública, sen- exemplo, a parcerias feitas pelo poder público com as entidades do
do elas: terceiro setor e suas funções gerenciais como um todo.
1) A presunção de verdade: Que se encontra relacionada aos
fatos; Em breve síntese:
2) A presunção de legalidade: Que se encontra relacionada ao • O princípio da especialidade consiste na criação de entidades
direito. da Administração Pública Indireta, fazendo alusão à ideia de des-
Infere-se que em decorrência da presunção de legitimidade ou centralização administrativa.
de veracidade dos atos administrativos, todos os fatos argumenta- • É composto por meio da criação de entidades da Adminis-
dos pela Administração são verdadeiros e os seus atos são prati- tração Indireta, que se tornarão prestadoras de serviços públicos
cados de acordo com as normas determinadas por lei, até que se de forma descentralizada acrescida com especialização de função;
prove o contrário, assegurada a ampla defesa. • Relaciona-se com princípios da legalidade e da indisponibili-
dade do interesse público;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• O princípio da especialidade não é adaptável às parcerias fir- – Dever de Prestar Contas: Todo administrador deve prestar
madas pelo Poder Público com as organizações do terceiro setor. contas do dinheiro público.
– Dever de Eficiência: Deve elaborar suas funções perfeição e
Princípio da Hierarquia rendimento funcional.
De antemão, afirma-se que existe em decorrência princípio da – Dever de Urbanidade: Deve o servidor ser cordial com os de-
hierarquia, uma ligação correlata de coordenação e subordinação mais colegas de trabalho e com o público em geral.
entre os órgãos da Administração Pública. Depreende-se que desta – Dever de Assiduidade: O servidor deve comparecer em seu
ligação advém um rol de funções laborativas para o superior hie- serviço, a fim de cumprir seu horário conforme determinado.
rárquico. As que mais se destacam, são: fazer a revisão dos atos
dos subordinados, fazer a delegação de competências e punir os Das Proibições
agentes subordinados. Em relação ao agente público subordinado à De acordo com o estatuto federal, aplicável aos Servidores Pú-
relação hierárquica, por sua vez, é imposto o dever de prestar obe- blicos Civis da União, das autarquias e fundações públicas federais,
diência às ordens imediatamente superiores, ressalvadas aquelas ocupantes de cargos público, seu artigo 117 traz um rol de proibi-
manifestamente ilegais. ções sendo elas:
Ressalta-se que a relação de hierarquia é condizente aos órgãos – Ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au-
de uma mesma pessoa jurídica. Isso significa dizer que o princípio torização do chefe imediato;
da hierarquia se encontra diretamente relacionado à ideia de des- – Retirar, sem prévia anuência da autoridade competente,
concentração administrativa, fato que não diz respeito, por exem- qualquer documento ou objeto da repartição;
plo, ao processo de descentralização administrativa ou de criação – Recusar fé a documentos públicos;
de entidades da Administração Pública Indireta como um todo. – Opor resistência injustificada ao andamento de documento e
Em breve síntese: processo ou execução de serviço;
• É composto por meio de uma relação de coordenação e su- – Promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto
bordinação entre os órgãos da Administração Pública de modo am- da repartição;
plo e total; – Cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos pre-
• Consequências do princípio da hierarquia: Existe a possibili- vistos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua respon-
dade de o superior fazer revisão junto aos atos dos subordinados; sabilidade ou de seu subordinado;
há a possibilidade de o superior vir a delegar ou a avocar competên- – Coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a as-
cias; existe a possibilidade de punir na forma da lei ao subordina- sociação profissional ou sindical, ou a partido político;
do; dever do subordinador de obedecer as ordens do seu superior – Manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de con-
imediato, ressalvadas as manifestamente ilegais; o princípio da hie- fiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil;
rarquia se encontra relacionado à ideia de desconcentração admi- – Valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem,
nistrativa; o princípio da hierarquia não se encontra relacionado ao em detrimento da dignidade da função pública;
processo de descentralização administrativa. – Participar de gerência ou administração de sociedade priva-
da, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto
na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
A essa vedação existe duas exceções, já que o servidor poderá:
I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em-
Processo administrativo disciplinar presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta-
O Regime Disciplinar é o conjunto de deveres, proibições, que mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa
geram responsabilidades aos agentes públicos. Descumprido este constituída para prestar serviços a seus membros;
rol, se apura os ilícitos administrativos, onde gera as sanções dis- II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na
ciplinares. forma do art. 91 (8.112), observada a legislação sobre conflito de
Com o intuito de responsabilizar quem comete faltas adminis- interesses.
trativas, atribui-se à Administração o Poder Disciplinar do Estado, - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições
que assegura a responsabilização dos agentes públicos quando co- públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou
mentem ações que contrariam seus deveres e proibições relacio- assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou com-
nados às atribuições do cargo, função ou emprego de que estão panheiro;
investidos. Por consequência dos descumprimentos legais, há a – receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual-
aplicação de sanções disciplinares, conforme dispõe a legislação. quer espécie, em razão de suas atribuições;
– aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro;
Dos Deveres – praticar usura sob qualquer de suas formas;
Via de regra, os estatutos listam condutas e proibições a serem – proceder de forma desidiosa;
observadas pelos servidores, configurando, umas e outras, os seus – utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em servi-
deveres como dois lados da mesma moeda. Por exemplo: a proibi- ços ou atividades particulares;
ção de proceder de forma desidiosa equivale ao dever de exercer – cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que
com zelo as atribuições do cargo. Por isso, podem ser englobados ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;
sob a rubrica “deveres” os que os estatutos assim intitulam e os que – exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o
os estatutos arrolam como proibições. exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho;
– Dever de Agir: Devem os administradores agirem em benefí- – recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicita-
cio da coletividade. do.
– Dever de Probidade: O agente público deve agir de forma
honesta e em conformidade com os princípios da legalidade e da
moralidade.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Infrações e Sanções Administrativas/Penalidades 4. (CESPE- 2013-TJMA- JUIZ) Acerca dos atos administrativos,
Os servidores públicos de cada âmbito - União, Estados, Distrito assinale a opção correta.
Federal e Municípios - têm um Estatuto próprio. Quanto aos agen- (A) A administração pública pode revogar os atos por ela prati-
tes públicos Federais rege a Lei nº 8.112/1990, já o regimento dos cados por motivo de conveniência e oportunidade. ·
demais depende de cada Estado/Município. (B) Os atos praticados por concessionários de serviço público,
Devido ao princípio da Legalidade, todos os agentes devem fa- no exercício da concessão, não podem ser considerados atos
zer aquilo que está restrito em lei, e caso algum deles descumpram administrativos, dado que foram produzidos por entes que não
a legislação, ocorre uma infração administrativa, pelo poder discipli- integram a estrutura da administração pública.
nar, os agentes infratores estão sujeitos a penalidades, que podem (C) O silêncio da administração pública importa consentimento
ser: advertência, suspensão, demissão, cassação de aposentadoria tácito.
ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão e destituição (D) É vedado o controle da legalidade dos atos administrativos
de função comissionada. pelo Poder Judiciário.
Para uma aplicação de penalidade justa deve ser considerada
a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela 5. (ESAF- 2012-CGU -ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE-
provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou PROVA 3 -ADMINISTRATIVA)
atenuantes e os antecedentes funcionais. Quanto ao regime jurídico dos servidores públicos da União, é
É necessário que cada penalidade imposta mencione o funda- correto afirmar que:
mento legal e a causa da sanção disciplinar. (A) consumado o suporte fático previsto na lei e preenchidos
os requisitos para o seu exercício, o servidor passa a ter direito
adquirido ao benefício ou à vantagem que o favorece.
QUESTÕES (B) além do estatuto legal específico, no tocante aos direitos e
deveres dos servidores, deve ser observado também o dispos-
to na Consolidação das Leis do Trabalho CLT.
1. A Administração Direta é correspondente aos órgãos que (C) os benefícios e as vantagens previstos na legislação no mo-
compõem a estrutura das pessoas federativas que executam a ati- mento da posse do servidor público passam a ser direitos ad-
vidade administrativa de maneira centralizada. O vocábulo “Admi- quiridos.
nistração Direta” possui sentido abrangente vindo a compreender (D) o cargo público é o conjunto de atribuições e responsabi-
todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto os que fazem lidades previstas na estrutura organizacional que devem ser
parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciá- acometidas a um servidor e podem ser criados por lei ou por
rio, que são os responsáveis por praticar a atividade administrativa decreto do Presidente da República.
de maneira centralizada. (E) a investidura em cargo público pode ocorrer com a posse ou
( ) CERTO com a reintegração.
( ) ERRADO
6. (CESPE- 2012-TJ-RR- TÉCNICO JUDICIÁRIO) No que se refe-
2. Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser re à classificação e às espécies de agentes públicos, julgue os itens
exercidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com per- seguintes.
sonalidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a Os empregados públicos, embora sujeitos à legislação traba-
particulares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito lhista, submetem-se às normas constitucionais referentes a concur-
público ou de direito privado para esta finalidade. so público e à acumulação remunerada de cargos públicos.
( ) CERTO ( ) CERTO
( ) ERRADO ( ) ERRADO

3. (CESPE- 2013-SEGER/ES -ANALISTA DO EXECUTIVO-TODAS 7. A prescrição da ação punitiva, no caso das sanções de polícia,
AS ÁREAS) No que concerne a atos administrativos, assinale a op- se interrompe no decurso das seguintes hipóteses:
ção correta. A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por
(A) Atos declaratórios são aqueles que criam, modificam ou ex- meio de edital;
tinguem direitos. B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do
(B) Um ato administrativo com vício de finalidade poderá ser fato; pela decisão condenatória recorrível;
convalidado pela mesma autoridade de que emanou ou pelo C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação
seu superior hierárquico. expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito inter-
(C) Mesmo em casos de ilegalidade, os atos administrativos no da Administração Pública Federal.
não podem ser invalidados pelo Poder judiciário, como postu- D) Todas as alternativas estão corretas.
lado no princípio da separação dos poderes.
(D) São requisitos do ato administrativo: competência, objeto, 8. Ocorre o desvio de poder ou desvio de finalidade quando a
forma, validade e finalidade. · autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, po-
(E) Um ato emanado do administrador goza d presunção de le- rém, o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária
gitimidade, independentemente de lei que expresse atributo. ao interesse público como um todo.
( ) CERTO
( ) ERRADO

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
9. Com fundamento no art. 29 da Nova Lei de Licitações, trata-
-se o pregão de uma modalidade de licitação do tipo menor preço, GABARITO
designada ao aferimento de aquisição de bens e serviços comuns. O
pregão pode ocorrer somente de forma presencial.
A assertiva se encontra:
( ) CERTO 1 CERTO
( ) ERRADO 2 CERTO
3 E
10. De acordo com a Nova lei de Licitações, os documentos exi-
gidos para a habilitação são: a certidão negativa de feitos a respeito 4 A
de falência expedida pelo distribuidor da sede do licitante, e, por 5 C
último, exige-se o balanço patrimonial dos últimos dois exercícios
sociais, salvo das empresas que foram constituídas no lapso de me- 6 CERTO
nos de três anos. 7 D
A assertiva se encontra:
( ) CERTO 8 CERTO
( ) ERRADO 9 ERRADO
10 ERRADO
11. Controle interno é aquele realizado por órgãos de um Poder
sobrepondo condutas que são praticadas na direção desse mesmo 11 CERTO
Poder, ou, ainda, por um órgão de uma pessoa jurídica da Adminis- 12 CERTO
tração indireta sobre atos que foram praticados pela própria pessoa
jurídica da qual faz parte. No controle interno o órgão controlador 13 CERTO
encontra-se inserido na estrutura administrativa que deve ser con- 14 ERRADO
trolada.
15 CERTO
( ) CERTO
( ) ERRADO

12. Controle externo é aquele realizado por órgão estranho à ANOTAÇÕES


estrutura do Poder controlado. Verificamos tal fato, em termos prá-
ticos, quando por exemplo, um Tribunal de Contas Estadual passa
______________________________________________________
a julgar as contas no âmbito dos poderes legislativo ou judiciário.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________
13. Responsabilidade civil do Estado é a obrigação estatal de
indenizar os danos patrimoniais, morais ou estéticos que os seus ______________________________________________________
agentes, agindo nessa qualidade, causarem a terceiros. A responsa-
bilidade civil do Estado pode ser dividida em dois grupos: a contra- ______________________________________________________
tual, que advém da ausência de cumprimento de cláusulas inclusas
______________________________________________________
em contratos administrativos, e a extracontratual ou aquiliana, que
alcança as demais situações. ______________________________________________________
( ) CERTO
( ) ERRADO ______________________________________________________

14. Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor ______________________________________________________


Celso Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil do
Estado sempre foi aceita em forma de princípio estrito. Isso ocorreu ______________________________________________________
mesmo no período em que existia dispositivo de norma específica.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________
15. Pode-se se afirmar que a supremacia do interesse público ______________________________________________________
se encontra eivada de justificativas para a concessão de prerrogati-
vas, ao passo que a indisponibilidade de tal interesse, por sua vez, ______________________________________________________
passa a impor a estipulação de restrições e sujeições à atuação ad-
ministrativa, sendo estes os princípios da Administração Pública. ______________________________________________________
A assertiva se encontra:
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
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______________________________________________________

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
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NOÇÕES DE DIREITO
CONSTITUCIONAL

Liberdade de manifestação do pensamento e vedação do


DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIREITOS E anonimato, visando coibir abusos e não responsabilização pela
DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS; DIREITO À VIDA, À veiculação de ideias e práticas prejudiciais:
LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À PROPRIE‐ IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
DADE; DIREITOS SOCIAIS; NACIONALIDADE; CIDADANIA E anonimato;
DIREITOS POLÍTICOS; PARTIDOS POLÍTICOS; GARANTIAS A Constituição Federal pôs fim à censura, tornando livre a
CONSTITUCIONAIS INDIVIDUAIS; GARANTIAS DOS DI‐ manifestação do pensamento. Esta liberdade, entretanto, não é
REITOS COLETIVOS, SOCIAIS E POLÍTICOS absoluta não podendo ser abusiva ou prejudicial aos direitos de
outrem. Daí, a vedação do anonimato, de forma a coibir práticas
prejudiciais sem identificação de autoria, o que não impede, con-
— Gerações de Direitos Fundamentais (Teoria de Vasak): tudo, a apuração de crimes de denúncia anônima.
• Direitos Fundamentais de 1ª Geração: liberdade in-
dividual – direitos civis e políticos; Direito de resposta e indenização:
• Direitos Fundamentais de 2ª Geração: igualdade – V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agra-
direitos sociais e econômicos; vo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
• Direitos Fundamentais de 3ª Geração: fraternidade O direito de resposta é um meio de defesa assegurado à pes-
ou solidariedade – direitos transindividuais, difusos e coletivos. soa física ou jurídica ofendida em sua honra, e reputação, concei-
to, nome, marca ou imagem, sem prejuízo do direito de indeniza-
— Direitos e deveres individuais e coletivos ção por dano moral ou material.
Os direitos e deveres individuais e coletivos são todos aqueles
previstos nos incisos do art. 5º da Constituição Federal, que trazem Liberdade religiosa e de consciência:
alguns dos direitos e garantias fundamentais. VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistên-
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à cia religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença
religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar
Princípio da igualdade entre homens e mulheres: para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
termos desta Constituição; O Brasil é um Estado laico, que não possui uma religião oficial,
Como o próprio nome diz, o princípio prega a igualdade de mas que adota a liberdade de crença e de pensamento, assegura-
direitos e deveres entre homens e mulheres. da a variedade de cultos, a proteção dos locais religiosos e a não
privação de direitos em razão da crença pessoal.
Princípio da legalidade e liberdade de ação: A escusa de consciência é o direito que toda pessoa possui de
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma se recusar a cumprir determinada obrigação ou a praticar determi-
coisa senão em virtude de lei; nado ato comum, por ser ele contrário às suas crenças religiosas
Como ser livre, todo ser humano só está obrigado a fazer ou ou à sua convicção filosófica ou política, devendo então cumprir
não fazer algo que esteja previsto em lei. uma prestação alternativa, fixada em lei.

Vedação de práticas de tortura física e moral, tratamento Liberdade de expressão e proibição de censura:
desumano e degradante: IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento de- científica e de comunicação, independentemente de censura ou
sumano ou degradante; licença;
É vedada a prática de tortura física e moral, e qualquer tipo Aqui, temos uma vez mais consubstanciada a liberdade de
de tratamento desumano, degradante ou contrário à dignidade expressão e a vedação da censura.
humana, por qualquer autoridade e também entre os próprios
cidadãos. A vedação à tortura é uma cláusula pétrea de nossa Proteção à imagem, honra e intimidade da pessoa humana:
Constituição e ainda crime inafiançável na legislação penal X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
brasileira. imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação;

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Com intuito da proteção, a Constituição Federal tornou invio- XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto-
lável a imagem, a honra e a intimidade pessoa humana, asseguran- rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou
do o direito à reparação material ou moral em caso de violação. extrajudicialmente;
No Brasil, é plena a liberdade de associação e a criação de
Proteção do domicílio do indivíduo: associações e cooperativas para fins lícitos, não podendo sofrer
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela po- intervenção do Estado. Nossa Segurança Nacional e Defesa Social
dendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de é atribuição exclusiva do Estado, por isso, as associações para-
flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante militares (milícias, grupos ou associações civis armadas, normal-
o dia, por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vi- mente com fins político-partidários, religiosos ou ideológicos) são
gência). vedadas.

Proteção do sigilo das comunicações: Direito de propriedade e sua função social:


XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunica- XXII - é garantido o direito de propriedade;
ções telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a Além da ideia de pertencimento, toda propriedade ainda que
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução pro- privada deve atender a interesses coletivos, não sendo nociva ou
cessual penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996). causando prejuízo aos demais.
A Constituição Federal protege o domicílio e o sigilo das co-
municações, por isso, a invasão de domicílio e a quebra de sigilo Intervenção do Estado na propriedade:
telefônico só pode se dar por ordem judicial. XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
Liberdade de profissão: diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profis- previstos nesta Constituição;
são, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com-
É livre o exercício de qualquer trabalho ou profissão. petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao
Essa liberdade, entretanto, não é absoluta, pois se limita às proprietário indenização ulterior, se houver dano;
qualificações profissionais que a lei estabelece.
O direito de propriedade não é absoluto. Dada a supremacia
Acesso à informação: do interesse público sobre o particular, nas hipóteses legais é per-
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguarda- mitida a intervenção do Estado na propriedade.
do o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
O direito à informação é assegurado constitucionalmente, Pequena propriedade rural:
garantido o sigilo da fonte. XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des-
de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
Liberdade de locomoção, direito de ir e vir: pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva,
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, per- A pequena propriedade rural é impenhorável e não responde
manecer ou dele sair com seus bens; por dívidas decorrentes de sua atividade produtiva.
Todos são livres para entrar, circular, permanecer ou sair do
território nacional em tempos de paz. Direitos autorais:
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
Direito de reunião: publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em ros pelo tempo que a lei fixar;
locais abertos ao público, independentemente de autorização, XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autorida- à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
de competente; desportivas;
Os cidadãos podem se reunir livremente em praças e locais de b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
uso comum do povo, desde que não venham a interferir ou atrapa- obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
lhar outra reunião designada anteriormente para o mesmo local. pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais
Liberdade de associação: privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, veda- às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de
da a de caráter paramilitar; empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coope- social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência Além da Lei de Direitos Autorais, a Constituição prevê uma
estatal em seu funcionamento; ampla proteção às obras intelectuais: criação artística, científica,
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi- musical, literária etc. O Direito Autoral protege obras literárias
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo- (escritas ou orais), musicais, artísticas, científicas, obras de escultu-
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; ra, pintura e fotografia, bem como o direito das empresas de rádio
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma- fusão e cinematográficas. A Constituição Federal protege ainda a
necer associado; propriedade industrial, esta difere da propriedade intelectual e
não é objeto de proteção da Lei de Direitos Autorais, mas sim da

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Lei da Propriedade Industrial. Enquanto a proteção ao direito au- Tribunal de exceção:
toral busca reprimir o plágio, a proteção à propriedade industrial XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
busca conter a concorrência desleal. O juízo ou tribunal de exceção seria aquele criado exclusi-
vamente para o julgamento de um fato específico já acontecido,
Direito de herança: onde os julgadores são escolhidos arbitrariamente. A Constituição
XXX - é garantido o direito de herança; veda tal prática, pois todos os casos devem se submeter a julga-
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País mento dos juízos e tribunais já existentes, conforme suas compe-
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos tências pré-fixadas.
filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei
pessoal do “de cujus”; Tribunal do Júri:
O direito de herança ou direito sucessório é ramo específico XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização
do Direito Civil que visa regular as relações jurídicas decorrentes que lhe der a lei, assegurados:
do falecimento do indivíduo, o de cujus, e a transferência de seus a) a plenitude de defesa;
bens e direitos aos seus sucessores. b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
Direito do consumidor: d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con- a vida;
sumidor;
O Direito do Consumidor é o ramo do direito que disciplina O Tribunal do Júri é o instituto jurisdicional destinado exclusi-
as relações entre fornecedores e prestadores de bens e serviços vamente para o julgamento da prática de crimes dolosos contra a
e o consumidor final, parte hipossuficiente econômica da relação vida.
jurídica. As relações de consumo, além do amparo constitucional,
encontram proteção no Código de Defesa do Consumidor e na Princípio da legalidade, da anterioridade e da retroatividade
legislação civil e no Procon, órgão do Ministério Público de cada da lei penal:
estado, responsável por coordenar a política dos órgãos e entida- XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena
des que atuam na proteção do consumidor. sem prévia cominação legal;
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
Direito de informação, petição e obtenção de certidão junto Para ser crime, tem que estar expressamente previsto na lei
aos órgãos públicos: penal. Se a conduta não está prescrita no Código Penal, não é cri-
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos in- me e não há pena. Uma nova lei penal não retroage, não se aplica
formações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou a condutas praticadas antes de sua entrada em vigor, mas se a lei
geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de respon- nova for mais benéfica, esta sim poderá ser aplicada para benefi-
sabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à ciar o réu.
segurança da sociedade e do Estado; (Regulamento) (Vide Lei nº
12.527, de 2011). Princípio da não discriminação:
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pa- XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direi-
gamento de taxas: tos e liberdades fundamentais;
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de di- Decorre do princípio da igualdade.
reitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defe- Crimes inafiançáveis, imprescritíveis e insuscetíveis de graça
sa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal; e anistia:
Todo cidadão, independentemente de pagamento de taxa, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e im-
tem direito à obtenção de informações, protocolo de petição e prescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
obtenção de certidões junto aos órgãos públicos, de acordo com XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis
suas necessidades, salvo necessidade de sigilo. de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entor-
pecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
Princípio da proteção judiciária ou da inafastabilidade do hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os
controle jurisdicional: que, podendo evitá-los, se omitirem; (Regulamento).
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de
lesão ou ameaça a direito; grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e
Por este princípio o, Poder Judiciário não pode deixar de apre- o Estado Democrático.
ciar as causas de lesão ou ameaça a direito que chegam até ele.
• Crimes inafiançáveis e imprescritíveis: Racismo e ação de
Segurança jurídica: grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Demo-
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico crático;
perfeito e a coisa julgada; • Crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça e anistia: Prá-
Direito adquirido é aquele incorporado ao patrimônio jurídico tica de Tortura, Tráfico de drogas e entorpecentes, terrorismo e
de seu titular e cujo exercício não pode mais ser retirado ou tolhi- crimes hediondos.
do.
Ato jurídico perfeito é a situação ou direito consumado e defi- Os crimes inafiançáveis são aqueles que não admitem fiança,
nitivamente exercido, sem nulidades perante a lei vigente. ou seja, que não dão ao acusado o direito de responder seu
Coisa julgada é a matéria submetida a julgamento, cuja sen- processo em liberdade até a sentença condenatória, mediante
tença transitou em julgado e não cabe mais recurso, não podendo, pagamento de determinada quantia pecuniária ou cumprimento
portanto, ser modificada. de determinadas obrigações;
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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Crimes imprescritíveis são aqueles que não prescrevem e Extradição:
podem ser julgados e punidos em qualquer tempo, independente- LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
mente da data em que foram cometidos; em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou
Crimes insuscetíveis de graça e anistia são aqueles que não de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
permitem a exclusão do crime com a rescisão da condenação e drogas afins, na forma da lei;
extinção total da punibilidade (anistia), nem a extinção da punibili- LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime
dade, ainda que parcial (graça). político ou de opinião;
A extradição é um ato oficial de cooperação internacional que
Princípio da intranscendência da pena: consiste na entrega de uma pessoa – o extraditando, acusado ou
XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, condenada pela prática de um ou mais crimes em território estran-
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdi- geiro, ao país que o reclama. A Constituição determina que não
mento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e haverá extradição de brasileiro nato em nenhuma hipótese, e o
contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio trans- naturalizado somente nas exceções previstas.
ferido;
A aplicação da pena deve ser sempre pessoal e não pode ser Direito ao julgamento pela autoridade competente
cumprida por pessoa diversa da pessoa do condenado. LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente;
Individualização da pena:
XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, Devido Processo Legal:
entre outras, as seguintes: LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem
a) privação ou restrição da liberdade; o devido processo legal;
b) perda de bens;
c) multa; Contraditório e a ampla defesa:
d) prestação social alternativa; LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
e) suspensão ou interdição de direitos; aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
Pela individualização da pena, é garantida a fixação das penas, defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
observado o histórico pessoal a atuação individual, de modo que Ninguém poderá ser punido ou condenado sem o devido
cada indivíduo possa receber apenas a punição que lhe é devida. processo legal, onde deverá ser assegurado, sob pena de nulidade
absoluta, o direito de resposta e ampla defesa, com sentença tran-
Proibição de penas: sitada em julgado (que não cabe mais recurso) prolatada pelo juízo
XLVII – não haverá penas: ou autoridade judiciária competente.
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos
do art. 84, XIX; Provas ilícitas:
b) de caráter perpétuo; LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
c) de trabalhos forçados; meios ilícitos;
d) de banimento; Provas ilícitas são aquelas obtidas por meio ilegal ou fraudu-
e) cruéis. lento, ou que infrinja as normas e princípios básicos de direito,
Como afirmativa dos direitos humanos e da dignidade da pes- motivo pelo qual não são aceitas no processo judicial.
soa humana, a Constituição Federal de 1988 veda a pena de mor-
te, pena perpétua, de banimento e de trabalhos forçados e cruéis. Presunção de inocência:
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em
Estabelecimentos para cumprimento de pena: julgado de sentença penal condenatória;
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, Todo cidadão é considerado inocente até que se prove o con-
de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado; trário, com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Respeito à Integridade Física e Moral dos Presos: Identificação criminal:


XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identifi-
e moral; cação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; (Regulamen-
to).
Direito de permanência e amamentação dos filhos pela pre- A identificação criminal será feita diante de fundada suspeita
sidiária mulher: da validade e veracidade dos documentos cíveis apresentados ou
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que pos- quando já se tem notícias reputadas a pessoa civilmente identifica-
sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta- da sobre uso de diversos nomes e fraude em registros policiais.
ção;
Também em atenção à dignidade da pessoa humana, a Cons- Ação Privada Subsidiária da Pública:
tituição Federal de 1988 determina que as penas sejam cumpridas LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública,
em diferentes tipos de estabelecimento de acordo com a gravida- se esta não for intentada no prazo legal;
de e natureza do delito, a idade e o sexo do apenado, respeitan- A ação penal privada subsidiária da pública é admitida nos
do-se sua integridade física e moral, garantindo ainda à apenada casos em que a lei não prevê a ação como privada, mas sim como
mulher, o direito de permanecer com os filhos e ter condições pública (condicionada ou incondicionada). Entretanto, o Ministério
dignas de amamenta-los. Público, titular da ação penal, permanece inerte e não apresenta
a denúncia no prazo legal, abrindo-se a possibilidade para que o
ofendido, seu representante legal ou seus sucessores ingressem
com a ação penal privada subsidiária da pública.
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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
A publicidade dos atos processuais e o segredo de Justiça: São remédios constitucionais em casos de violação de:
LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos proces- - Liberdade: Habeas Corpus
suais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigi- - Direito Líquido e certo: Mandado de Segurança
rem; - Informações: Habeas data
Em regra, todos os atos processuais são públicos, salvo o se- - Preceito constitucional que necessite de norma regulamen-
gredo de justiça, que pode ser determinado de ofício pelo juiz da tadora: Mandado de Injunção
causa, para segurança jurídica das partes, proteção dos interesses
de menor, interesse social ou demanda de grande repercussão Habeas corpus:
etc., ou a requerimento justificado das partes do processo. LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém so-
frer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua
Legalidade da prisão: liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competen- Mandado de Segurança:
te, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger
militar, definidos em lei; direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
Salvo flagrante delito, o cidadão só pode ser levado preso por data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
autoridade policial, mediante ordem judicial escrita e devidamente for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
fundamentada. atribuições do Poder Público;
LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado
Comunicabilidade da prisão: por:
LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre a) partido político com representação no Congresso Nacional;
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família b) organização sindical, entidade de classe ou associação le-
do preso ou à pessoa por ele indicada; galmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
Informação ao preso:
LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais Mandado de Injunção:
o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta
família e de advogado; de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona-
Identificação dos responsáveis pela prisão: lidade, à soberania e à cidadania;
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por
sua prisão ou por seu interrogatório policial; Habeas data:
Na ocasião de prisão, são direitos do preso a comunicação de LXXII – conceder-se-á habeas data:
sua prisão e o local onde se encontra à sua família e ao juízo com- a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
petente, bem como conhecer as autoridades policiais responsáveis pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
por sua prisão e interrogatório. de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
Relaxamento da prisão ilegal: por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autori-
dade judiciária; Ação Popular:
O relaxamento da prisão consiste em que o acusado seja pos- LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
to em liberdade, pela incidência de alguma ilegalidade no ato de popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
sua prisão. entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
Garantia da liberdade provisória: autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando da sucumbência;
a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; A Ação Popular é o instrumento constitucional adequado, por
A liberdade provisória é o instituto processual que garante meio do qual qualquer cidadão pode vir a questionar a validade
ao acusado o direito de aguardar em liberdade o transcorrer do de atos que considera lesivos ao patrimônio público, à moralidade
processo criminal até o trânsito em julgado de sua sentença penal administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cul-
condenatória, mediante o estabelecimento ou não de determina- tural.
das condições e a colaboração com as investigações.
Assistência Judiciária:
Prisão civil: LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratui-
LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do ta aos que comprovarem insuficiência de recursos;
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de Todos aqueles que não podem arcar com as custas judiciárias
obrigação alimentícia e a do depositário infiel; sem prejuízo de seu sustento pessoal e de sua família, para se ter o
A Constituição Federal de 1988 extinguiu, em regra, a prisão acesso à justiça, têm direito à assistência judiciária gratuita.
civil por dívidas, salvo a do alimentante inadimplente (pensão
alimentícia). E, a Súmula Vinculante 25, STF tornou ilícita a prisão Indenização por erro judiciário:
civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depó- LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário,
sito. assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Gratuidade de serviços públicos: de 2002 pelo Brasil. A Emenda Constitucional n° 45/2004, deu a
LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na esta adesão força constitucional. O objetivo do TPI é identificar e
forma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989) punir autores de crimes contra a humanidade.
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito; — Direitos sociais
LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas Os chamados Direitos Sociais são aqueles que visam garantir
data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da qualidade de vida, a melhoria de suas condições e o desenvolvi-
cidadania (Regulamento). mento da personalidade. São meios de se atender ao princípio
A Constituição Federal traz como direito fundamental a gratui- basilar da dignidade humana e estão previstos no art. 6º, CF.
dade de serviços públicos – registro civil, a obtenção de certidão Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimenta-
de óbito, as ações de Habeas corpus e Habeas data aos economi- ção, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
camente hipossuficientes. previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assis-
tência aos desamparados, na forma desta Constituição (Redação
Princípio da Celeridade Processual: dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015).
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garan- Do direito ao trabalho
tam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Consti- Os direitos relativos aos trabalhadores podem ser de duas
tucional nº 45, de 2004). ordens:
É fundamental a garantia da razoável duração do processo, de - Direitos individuais, previstos no art. 7º, CF;
forma a evitar que direitos se percam no transcorrer processual - Direitos coletivos dos trabalhadores, previstos nos arts. 9º a
pela demora do Judiciário. 11, CF.
Os direitos individuais dos trabalhadores são aqueles
Aplicabilidade das normas de direitos e garantias fundamen- destinados a proteger a relação de trabalho contra uma profunda
tais: desigualdade, de modo a compatibilizar a função laboral
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias com a dignidade e o bem-estar do trabalhador que é a parte
fundamentais têm aplicação imediata. hipossuficiente da relação trabalhista.
Assim, todas as normas relativas aos direitos e garantias fun- Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além
damentais são autoaplicáveis. de outros que visem à melhoria de sua condição social:

Rol é exemplificativo: Proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa:


§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República indenização compensatória, dentre outros direitos;
Federativa do Brasil seja parte. Os contratos de trabalho são, em regra, por prazo indetermi-
O rol dos direitos elencados no art. 5º da CF/88 não é taxativo, nado e a legislação protege a continuidade das relações laborais
mas sim exemplificativo. Os direitos e garantias ali expressos não contra dispensa imotivada.
excluem outros de caráter constitucional, decorrentes de princí-
pios constitucionais, do regime democrático, ou de tratados inter- Seguro-Desemprego:
nacionais. Assim, os direitos fundamentais podem ser esparsos, II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
consubstanciados em toda legislação nacional, inclusive infracons- O seguro desemprego é o direito de todo trabalhador à assis-
titucional. tência financeira temporária, que tenha prestado serviços laborais
a empregador e sido dispensado sem justa causa, por mais de seis
Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos meses. Nos termos do art. 4º da Lei do seguro desemprego, o be-
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre nefício será concedido ao trabalhador desempregado, por período
direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do máximo variável de 3 (três) a 5 (cinco) meses, de forma contínua
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos ou alternada, a cada período aquisitivo, contados da data de dis-
dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas pensa que deu origem à última habilitação, nos seguintes critérios:
constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004) (Atos aprovados na forma deste parágrafo: DLG nº 186, de SEGURO DESEMPREGO
2008, DEC 6.949, de 2009, DLG 261, de 2015, DEC 9.522, de 2018).
Com a Emenda Constitucional n° 45 de 2004, as normas de 1ª Solicitação:
tratados internacionais sobre direitos humanos passaram a ser Parcelas Tempo de trabalho
reconhecidas como normas de hierarquia constitucional, porém,
somente se aprovadas pelas duas casas do Congresso por 3/5 de 4 (quatro) 12 a 23 meses
seus membros em dois turnos de votação. 5 (cinco) 24 meses ou mais

Submissão à Jurisdição do Tribunal Penal Internacional: 2ª Solicitação:


§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Parcelas Tempo de trabalho
Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). 3 (três) 9 a 11 meses
O Brasil se submeteu expressamente à jurisdição do Tribunal 4 (quatro) 12 a 23 meses
Penal Internacional, também conhecido por Corte ou Tribunal de
Haia, instituído pelo Estatuto de Roma e ratificado em 20 de junho 5 (cinco) 24 meses ou mais

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Remuneração superior por trabalho noturno:
3ª Solicitação:
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
Parcelas Tempo de trabalho Uma vez que a a redução do sono regular pode comprometer
a saúde, o trabalho noturno tem remuneração superior em 20%
3 (três) 6 a 11 meses
a mais sobre a hora diurna trabalhada para os trabalhadores urba-
4 (quatro) 12 a 23 meses nos e 25%, para os trabalhadores rurais.
5 (cinco) 24 meses ou mais Considera-se trabalho noturno:
– entre às 22h de um dia até às 5h do dia seguinte para traba-
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS): lhadores urbanos;
III – fundo de garantia do tempo de serviço; – entre às 21h de um dia e às 5h do dia seguinte, para os tra-
Pode-se dizer que o FGTS é uma espécie de conta poupança balhadores rurais da agricultura; e
compulsória do trabalhador, gerida pela Caixa Econômica Federal e – entre às 20h de um dia e às 4h do dia seguinte, para os tra-
regida pela Lei 8.036/1990. Mensalmente, o os empregador deve balhadores rurais pecuária.
depositar nas contas vinculadas de seus funcionários o valor cor-
respondente a 8% (oito por cento) do salário de cada trabalhador. Proteção do salário contra retenção dolosa:
X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
Salário mínimo: retenção dolosa;
IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, É vedada a retenção salarial dolosa, sendo permitidos apenas
capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa- os descontos salariais autorizados em Lei.
mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos Participação nos lucros:
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da
para qualquer fim; remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da
O salário mínimo é o estabelecido para jornada padrão de 44 empresa, conforme definido em lei;
horas semanais, podendo ser proporcional, em caso de jornada A Participação nos Lucros e Resultados da empresa correspon-
inferior. de a uma recompensa pelo reconhecimento do bom desempenho
e produtividade, pago a todos os funcionários de determinada
Piso salarial: empresa sobre o lucro excedente de determinado período de suas
V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do atividades.
trabalho;
O piso salarial corresponde ao menor salário que determinada Salário-família:
categoria profissional pode receber pela sua jornada de trabalho, XII – salário-família pago em razão do dependente do tra-
considerando a extensão e complexidade do trabalho desenvolvi- balhador de baixa renda nos termos da lei; (Redação dada pela
do e devendo ser sempre superior ao salário-mínimo nacional. Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
O salário-família é um benefício da previdência social corres-
Irredutibilidadade do salário: pondente ao valor pago ao empregado de baixa renda, que receba
VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção salário no valor de até R$ 1.655,98, inclusive ao doméstico e ao
ou acordo coletivo; trabalhador avulso, e possua filhos menores de 14 anos de idade
A irredutibilidade salarial garante que o empregado não ve- ou portadores de deficiência, sem limite de idade.
nha a ter o seu salário reduzido arbitrariamente pelo empregador,
durante todo o período do contrato de trabalho. É uma garantia à Jornada de Trabalho:
estabilidade econômica do trabalhador. XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas
diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
Proteção aos que percebem remuneração variável: horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os coletiva de trabalho; (Vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943).
que percebem remuneração variável; A Constituição Federal garante ao trabalhador jornada de tra-
Os empregados que recebem salários com valores variáveis, balho não superior a oito horas diárias ou quarenta e quatro horas
como comissões sobre vendas etc, nunca devem receber salário semanais, facultada a compensação e a redução.
inferior ao mínimo. Como o salário mínimo mensal estipulado em lei
corresponde a uma jornada laboral mensal de 220 horas, a garantia Jornada especial para turnos ininterruptos de revezamento:
mínima aqui estipulada terá como parâmetro o salário mínimo-hora. XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em tur-
Décimo Terceiro Salário ou Gratificação Natalina: nos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração O trabalho em turno ininterrupto de revezamento é aquele
integral ou no valor da aposentadoria; prestado por trabalhadores que se revezam nos postos de trabalho
O 13º salário é a garantia do recebimento de um salário in- nos horários diurno e noturno. É bastante comum em empresas
tegral (ou proporcional ao período trabalhado, se for o caso) por que funcionam em tempo integral, sem pausas. A jornada do tra-
ocasião das comemorações de final de ano a todos os trabalhado- balhador de turnos ininterruptos deve ser de seis horas diárias.
res, aposentados e pensionistas do INSS.
Repouso (ou descanso) semanal remunerado (DSR):
XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos
domingos;
O Descanso ou Repouso Semanal Remunerado corresponde a
um dia de folga semanal remunerado ao trabalhador a ser conce-
dido preferencialmente aos domingos.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Pagamentos de horas extras: Aviso Prévio:
XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mí- XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no
nimo, em cinqüenta por cento à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59 mínimo de trinta dias, nos termos da lei;
§ 1º). Nas relações de emprego, o aviso prévio consiste na comu-
O pagamento de horas extras caracteriza-se pela remunera- nicação da rescisão do contrato de trabalho por uma das partes,
ção superior em, no mínimo, 50% das horas trabalhadas, além da empregador ou empregado, que decide extingui-lo, com a antece-
jornada diária, lembrando que a legislação trabalhista permite o dência mínima de 30 dias. O aviso prévio pode ser trabalhado ou
excedente em apenas 2 horas extraordinárias diárias, totalizando indenizado, quando concedido por qualquer uma das partes.
10 horas diárias trabalhadas, salvo condições excepcionais. É licita
também a compensação de jornada (banco de horas), quando Redução dos riscos do trabalho:
ao invés de receber o acréscimo salarial que lhe é devido, o tra- XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de
balhador passa a ter direito a usufruir a compensação das horas normas de saúde, higiene e segurança;
excedentes em períodos de folga para descanso e lazer, mediante É dever da empregadora a redução dos riscos inerentes
o cumprimento de alguns requisitos legais pela empregadora. às atividades desempenhadas por seus colaboradores, através
do cumprimento de todas as normas regulamentadoras de
Férias remuneradas: saúde, higiene e segurança, bem como do fornecimento de
XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, equipamentos de proteção individual e da exigência da execução
um terço a mais do que o salário normal; de todas as normas da empresa por seus funcionários, sob pena
Após um ano de trabalho efetivo (período aquisitivo), todo de justa causa.
trabalhador passa a ter direito a um período de até 30 dias para
descanso e lazer, com percebimento de salário integral, acrescido Adicional por atividades penosas, insalubres ou perigosas:
de 1/3 constitucional. As férias são concedidas a critério do empre- XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas,
gador, que após o término do período aquisitivo, tem até um ano insalubres ou perigosas, na forma da lei;
para concedê-las (período concessivo). O trabalho penoso é aquele considerado extremamente des-
gastante para a pessoa humana, em que o trabalhador depreende
Licença à gestante: um esforço além do normal para o desempenho de suas ativida-
XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salá- des. Não há regulamentação de um adicional.
rio, com a duração de cento e vinte dias; O trabalho insalubre é aquele em que o empregado, no exer-
Também chamada de Licença maternidade, corresponde ao cício de suas atividades, expõe-se a qualquer agente físico, quí-
período em que a mulher está prestes a ter um filho, acabou de mico ou biológico, nocivo à saúde, e que com o passar do tempo
ganhar um bebê ou adotou uma criança. Nesses contextos, a mu- podem ocasionar uma doença ocupacional. O adicional de insalu-
lher tem direito a permanecer afastada do seu trabalho e receber bridade pode variar entre:
o salário maternidade, benefício previdenciário pago à pessoa - 10% (dez por cento) em grau mínimo;
nessas condições. Em regra, a licença maternidade é de 120 dias, - 20% (vinte por cento) em grau médio;
podendo ser ampliado para 180 dias, nos casos em que a empre- - 40% (quarenta por cento) em grau máximo de exposição,
gadora for aderente ao Programa Empresa Cidadã. calculado sob o salário mínimo, nos termos da lei.

Licença-paternidade: São exemplos de atividades insalubres as exercidas por profis-


XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei; sionais da saúde, radiologistas, mineradores, entre outros.
A Licença-paternidade é período de 5 dias, que se inicia no E, por fim, o trabalho perigoso é aquele que envolve constan-
primeiro dia útil após o nascimento da criança em que o pai tem te risco à integridade física do trabalhador. Como exemplos, temos
direito a afastar-se de suas atividades laborais, sem prejuízo de seu as atividades profissionais com inflamáveis, explosivos, energia
salário. Nos casos em que a empresa esteja cadastrada no pro- elétrica, segurança pessoal ou patrimonial, com o uso de motoci-
grama Empresa Cidadã, o prazo poderá ser estendido por mais 15 cleta, entre outros. O adicional de periculosidade é corresponden-
dias, totalizando 20 dias. te a 30% (trinta por cento) sobre o salário-base.
A insalubridade é diferente da periculosidade e os adicionais
Proteção da mulher no mercado de trabalho: não são cumulativos!
XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante
incentivos específicos, nos termos da lei; Aposentadoria:
A proteção ao trabalho da mulher é questão de ordem públi- XXIV – aposentadoria;
ca, com vias a garantir a isonomia de condições laborais. Assim, A aposentadoria é o benefício concedido pela Previdência
são vedadas diferenciações arbitrárias, salvo quando a natureza Social ao trabalhador segurado da previdência que preencher os
da atividade, pública ou notoriamente o exigir. São vedadas as requisitos legais para sua concessão, consistente na prestação
diferenciações em razão do gênero para fins de remuneração, pecuniária recebida mensalmente pelo aposentado, calculada
formação profissional e possibilidades de ascensão. A proteção à conforme suas contribuições à previdência ao longo de toda a sua
gravidez, proibição de revistas íntimas ou práticas que venham a vida laboral.
ferir a dignidade feminina são alguns dos exemplos de medidas de
proteção do mercado de trabalho da mulher. Assistência aos filhos pequenos:
XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o
nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
A Constituição Federal, com vistas a proteção do trabalho dos Trabalho do menor:
genitores de filhos e dependentes pequenos, garante assistência XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a
gratuita a seus filhos e dependentes, entretanto, tal dispositivo, menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis
ainda depende de regulamentação para o seu pleno exercício. anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).
Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de tra- - De 14 a 16 anos: Só pode trabalhar na condição de aprendiz.
balho: - De 16 a 18 anos: É vedado o exercício de trabalho noturno,
XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de perigoso ou insalubre.
trabalho; - A partir de 18 anos: Trabalho normal.
Por este inciso, a Constituição Federal reconheceu as conven-
ções e acordos coletivos como instrumentos com força de lei entre Igualdade ao trabalhador avulso:
as partes, desde que conformes com o texto constitucional. XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo
empregatício permanente e o trabalhador avulso.
Proteção em face da automação: O trabalhador avulso é aquele que presta serviços a uma
XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei; empresa de maneira eventual e que, apesar de não possuir vínculo
A proteção em face da automação consiste em proteger a empregatício, possui os mesmos direitos que os trabalhadores
classe trabalhadora do desemprego pela automação abusiva, bem com vínculo e a sua prestação de serviços deve obrigatoriamente
como em garantir de forma efetiva a saúde e a segurança no meio ser intermediada por um sindicato de sua categoria.
ambiente de trabalho automatizado.
Empregados domésticos:
Seguro contra acidentes de trabalho: Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalha-
XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do dores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X,
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII
quando incorrer em dolo ou culpa; e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a sim-
O seguro contra acidentes de trabalho é uma garantia ao plificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e
empregado, às expensas do empregador, que assume os riscos da acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiarida-
atividade laboral, mediante pagamento de um adicional sobre fo- des, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como
lha de salários de seus empregados, com administração atribuída a sua integração à previdência social (Redação dada pela Emenda
à Previdência Social. Tal seguro tem função de seguridade por ser Constitucional nº 72, de 2013).
destinado a beneficiários atingidos por doença ou acidente, que
estejam associados ao sistema previdenciário. O Seguro contra Os Direitos Coletivos dos Trabalhadores “são aqueles exer-
acidentes de trabalho está regulamentado pela Lei 8.212/91. cidos pelos trabalhadores, coletivamente ou no interesse de uma
coletividade” (LENZA, 2019, p. 2038) e compreendem:
Ação trabalhista nos prazos prescricionais:
XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações Liberdade de Associação Profissional Sindical: prerrogativa
de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os dos trabalhadores para defesa de seus interesses profissionais e
trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a econômicos.
extinção do contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 28, de 2000). Direito de Greve: direito de abstenção coletiva e simultânea
A todo trabalhador é garantido o direito de propor Reclama- do trabalho, de modo organizado para defesa de interesses dos
tória (ou Reclamação) Trabalhista, dentro dos prazos processuais trabalhadores. Importante mencionar que serviços considerados
legais. O prazo prescricional de uma reclamação trabalhista é de essenciais e inadiáveis à sociedade não podem ser paralisados
02 anos, a partir da rescisão do contrato de trabalho! Esse é o pra- totalmente para o exercício do direito de greve. Ademais, o STF
zo para que o trabalhador possa ingressar com a Ação Trabalhista. (2017) entende que servidores que atuam diretamente na área
O prazo prescricional de 05 anos, previsto no mesmo inciso da de segurança pública não podem entrar em greve em nenhuma
Constituição, refere-se ao período cujos direitos podem ser ques- hipótese.
tionados, ou seja, o funcionário pode reclamar apenas dos direitos
correspondentes aos últimos 05 (cinco) anos trabalhados. Direito de Participação Laboral: assegura a participação dos
trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos
Não discriminação: em que interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de fun- discussão.
ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou
estado civil; Direito de Representação na Empresa: Nos termos do art. 11,
XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salá- CF: nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada
rio e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva
de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.
Proibição de distinção do trabalho:
XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e — Direitos de nacionalidade
intelectual ou entre os profissionais respectivos; A nacionalidade é a condição de sujeito natural do Estado, que
pode participar dos atos pertinentes à nação. A atribuição da na-
cionalidade se dá por dois critérios:
Jus solis: será brasileiro todo aquele nascido em território
nacional;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Jus sanguinis: será brasileiro todo filho de nacional, mesmo Art. 12
nascido no exterior. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se
O Brasil adota, em regra, o critério do jus solis, mitigado por houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os
critérios do jus sanguinis. O art. 12 da Constituição Federal elenca direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Cons-
os direitos da nacionalidade, dividindo os brasileiros em dois gran- tituição (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº
des grupos: os brasileiros natos e os naturalizados. 3, de 1994).

Art. 12 São brasileiros: Perda da Nacionalidade:


I - natos: § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que que:
de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
país; virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasi- II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:(Redação
leira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Fede- dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994).
rativa do Brasil; a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra- estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3,
sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com- de 1994).
petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para
nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucio- permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis;
nal nº 54, de 2007). (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994).
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasilei- Extradição, repatriação, deportação e expulsão
ra, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas A extradição, repatriação, deportação e expulsão são medidas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; do Estado soberano para enviar uma pessoa que se encontra refu-
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na giada em seu território a outro Estado estrangeiro.
República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterrup- Segundo o Ministério da Justiça (2021), a extradição é um ato
tos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade de cooperação internacional que consiste na entrega de uma pes-
brasileira (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão soa, acusada ou condenada por um ou mais crimes, ao país que a
nº 3, de 1994). reclama. Não haverá extradição de brasileiro nato. Também não
será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
Cargos privativos do brasileiro nato: (art. 12, § 3º, CF) opinião.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: Repatriação é medida administrativa consistente no processo
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; de devolução voluntária de uma pessoa ao seu local de origem
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; ou de cidadania, por estar impedida de permanecer em território
III - de Presidente do Senado Federal; brasileiro após determinado período.
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; A deportação será aplicada nas hipóteses de entrada ou esta-
V - da carreira diplomática; da irregular de estrangeiros no território nacional e a repatriação
VI - de oficial das Forças Armadas. ocorre quando o clandestino é impedido de ingressar em território
VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela Emenda nacional pela fiscalização fronteiriça e aeroportuária brasileira.
Constitucional nº 23, de 1999). A expulsão consiste em medida administrativa de retirada
compulsória de migrante ou visitante do território nacional, con-
Naturalização jugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado,
A naturalização é um meio derivado, de aquisição secundária configurado pela prática de crimes em território brasileiro.
da nacionalidade brasileira, permitida ao estrangeiro ou apátrida O banimento, que é a entrega de um brasileiro para julgamen-
que preencher determinados requisitos. to no exterior, prática comum na época da ditadura militar, é veda-
Também chamado de heimatlos, o apátrida é aquele que não do pela Constituição.
possui nenhuma nacionalidade, já o polipátrida é aquele que tem
mais de uma nacionalidade. — Direitos políticos
A Lei nº 13.445/2017, que institui a Lei de Migração trata de Os Direitos Políticos visam assegurar a participação do cidadão
diversas questões acerca da nacionalidade e do processo de natu- na vida política e estrutural de seu Estado, garantindo-lhe o aces-
ralização, sendo vedada a diferenciação arbitrária entre brasileiros so à condução da coisa pública. Abrangem o poder que qualquer
natos e naturalizados. cidadão tem na condução dos destinos de sua coletividade, de
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros uma forma direta ou indireta, ou seja, sendo eleito ou elegendo
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. representantes junto aos poderes públicos.
Cidadania e nacionalidade são conceitos distintos, logo nacio-
Portugueses: nal é diferente de cidadão. A condição de nacional é um pressu-
Aos portugueses com residência permanente no país serão posto para a de cidadão. A cidadania em sentido estrito é o status
atribuídos os mesmos direitos dos brasileiros, desde que haja reci- de nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, o poder partici-
procidade. par do processo governamental, sobretudo pelo voto.
Nos termos do art. 14 da Constituição Federal a soberania
popular é exercida pelo sufrágio (voto) universal, direto e secreto,
com valor igual para todos. Ademais, estabelece também os ins-
trumentos de participação semidireta pelo povo.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Plebiscito: manifestação popular do eleitorado que decide trário do sistema americano de reeleição, que permite apenas a re-
acerca de uma determinada questão. Assim, em termos práticos, é condução por um período somente, no Brasil, após o período de um
feita uma pergunta à qual responde o eleitor. É uma consulta pré- mandato, o governante pode voltar a se candidatar para o posto.
via à elaboração da lei. § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do
Referendo: manifestação popular, em que o eleitor aprova ou Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substi-
rejeita uma atitude governamental, normalmente uma lei ou pro- tuído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único
jeto de lei já existente. período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional
Iniciativa Popular: é o direito de uma parcela da população nº 16, de 1997).
(1% do eleitorado) apresentar ao Poder Legislativo um projeto de § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Repú-
lei que deverá ser examinado e votado. Os eleitores também po- blica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos
dem usar deste instrumento em nível estadual e municipal. devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do
pleito.
Alistamento eleitoral (direitos políticos ativos):
Consiste na capacidade de votar, participar de plebiscito e re- Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos alguns requisitos:
ferendo, subscrever projeto de lei de iniciativa popular e de propor § 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con-
ação popular e se dá através do alistamento eleitoral, obrigatório dições:
para os maiores de dezoito anos e facultativo para os maiores de I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
dezesseis e menores de dezoito, para os analfabetos e para os da atividade;
maiores de setenta anos. II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
São inalistáveis os estrangeiros e os conscritos durante serviço autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
militar obrigatório, ou seja, aqueles que se alistaram no exército e da diplomação, para a inatividade.
foram convocados a prestar serviço militar.
O Mandato Eletivo pode ser impugnado:
Elegibilidade eleitoral (direitos políticos passivos): § 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
Os direitos políticos passivos consistem na possibilidade de Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruí-
ser votado, ou seja, na elegibilidade que é a capacidade eleitoral da a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
passiva consistente na possibilidade de o cidadão pleitear deter- fraude;
minados mandatos políticos, mediante eleição popular, desde que § 11 A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo
preenchidos os devidos requisitos. de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: manifesta má-fé.
I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos; Suspensão e Perda dos Direitos Políticos
III - o alistamento eleitoral; A perda e a suspensão dos direitos políticos podem-se dar,
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; respectivamente, de forma definitiva ou temporária. Ocorrerá a
V - a filiação partidária; Regulamento. perda quando houver cancelamento da naturalização por sentença
VI - a idade mínima de: transitada em julgado, no caso de recusa em cumprir obrigação a
a) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e todos imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço militar
Senador; obrigatório). Por sua vez, a suspensão dos direitos políticos se dá
b) 30 para Governador e Vice-Governador de Estado e do Dis- enquanto persistirem os motivos desta, ou seja, enquanto não re-
trito Federal; toma a capacidade civil, o indivíduo terá seus direitos políticos sus-
c) 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distri- pensos; readquirindo-a, alcançará, novamente o status de cidadão.
tal, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; Também são passíveis de suspensão os condenados criminalmente
d) 18 anos para Vereador. (com sentença transitado em julgado). Cumprida a pena, readqui-
rem os direitos políticos; no caso de improbidade administrativa, a
Inelegibilidades: suspensão será, da mesma forma, temporária.
A Constituição não menciona exaustivamente todas hipóteses Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda
de inelegibilidade, apenas fixa algumas. Em regra: ou suspensão só se dará nos casos de:
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
julgado;
Há também a inelegibilidade derivada do casamento ou do pa- II - incapacidade civil absoluta;
rentesco com o Presidente da República, com os Governadores de III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto
Estado e do Distrito Federal e com os Prefeitos, ou com quem os durarem seus efeitos;
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito. IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
§7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o alternativa, nos termos do art. 5º, VIII
cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de
Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os — Partidos Políticos
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se Partidos políticos são associações de pessoas de ideologia e
já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. interesses comuns, com a finalidade de exercer o poder a partir da
vontade popular, determinando o governo e a orientação política
Quanto à reeleição e desincompatibilização, a Emenda Consti- nacional. Juridicamente, são verdadeiras instituições, pessoas jurí-
tucional nº 16 trouxe a possibilidade de reeleição para o chefe dos dicas de direito privado, constituídas na forma da lei civil, perante
Poderes Executivos federal, estadual, distrital e municipal. Ao con- o Registro Civil de Pessoas Jurídicas e que gozam de imunidade e
autonomia para gerir sua organização interna.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
No Brasil, o pluralismo político é um dos fundamentos da Fundamentos da República Federativa do Brasil
República, e diferente de outras nações aqui não foi instituído o O art. 1.º enumera, como fundamentos da República Federa-
dualismo. (direita e esquerda ou democratas e republicanos). Os tiva do Brasil:
partidos políticos têm liberdade de organização partidária, sendo - soberania;
livres a criação, fusão, incorporação e a sua extinção, observados - cidadania;
o caráter nacional, a proibição de subordinação e recebimento - dignidade da pessoa humana;
de recursos financeiros de entidades ou governo estrangeiros, a - valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa;
vedação da utilização de organização paramilitar, além do dever de - pluralismo político.
prestar contas à Justiça Eleitoral e do funcionamento parlamentar
de acordo com a lei. Objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
De acordo com a Lei das Eleições, coligações partidárias são Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
permitidas. não se confundem com os fundamentos e estão previstos no art.
Os partidos políticos, uma vez devidamente constituídos e re- 3.º da CF/88:
gistrados no TSE, têm direito a recursos do fundo partidário e aces- - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
so gratuito ao rádio e à televisão para fins de propaganda eleitoral. - garantir o desenvolvimento nacional;
- erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigual-
dades sociais e regionais;
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO. - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
ESTADO FEDERAL BRASILEIRO, UNIÃO, ESTADOS, DISTRI‐ raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
TO FEDERAL, MUNICÍPIOS E TERRITÓRIOS
Princípios que regem a República Federativa do Brasil nas
relações internacionais
— Estado federal brasileiro, União, Estados, Distrito Federal, O art. 4.º, CF/88 dispõe que a República Federativa do Brasil é
municípios e territórios regida nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
- independência nacional;
Estado Federal Brasileiro - prevalência dos direitos humanos;
São elementos do Estado a soberania, a finalidade, o povo e - autodeterminação dos povos;
o território. Assim, Dalmo de Abreu Dallari (apud Lenza, 2019, p. - não intervenção;
719) define Estado como “a ordem jurídica soberana que tem por - igualdade entre os Estados;
fim o bem comum de um povo situado em determinado territó- - defesa da paz;
rio”. - solução pacífica dos conflitos;
Soberania é o poder político supremo e independente que o - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
Estado detém consistente na capacidade para editar e reger suas - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
próprias normas e seu ordenamento jurídico. - concessão de asilo político.
A finalidade consiste no objetivo maior do Estado que é o
bem comum, conjunto de condições para o desenvolvimento inte- Competências
gral da pessoa humana. Competência é o poder, normalmente legal, de uma autorida-
Povo é o conjunto de indivíduos, em regra, com um objetivo de pública para a prática de atos administrativos e tomada de deci-
comum, ligados a um determinado território pelo vínculo da nacio- sões. As competências dos entes federativos podem ser:
nalidade. Materiais ou administrativas, que se dividem em: exclusivas e
Território é o espaço físico dentro do qual o Estado exerce seu comuns;
poder e sua soberania. Onde o povo se estabelece e se organiza Legislativas, que compreendem as privativas e as concorren-
com ânimo de permanência. tes, complementares e suplementares;
A Constituição de 1988 adotou a forma republicana de gover- Exclusiva, que é aquela conferida exclusivamente a um dos
no, o sistema presidencialista de governo e a forma federativa de entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios),
Estado. Note tratar-se de três definições distintas. com exclusão dos demais.
Privativa, que é aquela enumerada como própria de um ente,
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: com possibilidade, entretanto, de delegação para outro.
• Forma de Estado: Federação Concorrente, que é a competência legislativa conferida em
• Forma de Governo: República comum a mais de um ente federativo.
• Regime de Governo: Democrático Na complementar, o ente federativo tem competência naqui-
• Sistema de Governo: Presidencialismo lo que a norma federal (superior) lhe dê condição de atuar e na
suplementar, por sua vez, o ente federativo supre a competência
O federalismo é a forma de Estado marcado essencialmen- federal não exercida, porém, se esta o exercer, o ato aditado com
te pela união indissolúvel dos entes federativos, ou seja, pela base na competência suplementar perde a eficácia, naquilo que
impossibilidade de secessão, separação. São entes da federação lhe for contrário.
brasileira: a União; os Estados-Membros; o Distrito Federal e os Sempre que falarmos em competência comum ou exclusiva,
Municípios. Brasília é a capital federal e o Estado brasileiro é consi- devemos excluir a ideia de “legislar”. Sempre que falarmos em
derado laico, mantendo uma posição de neutralidade em matéria legislar, estaremos tratando necessariamente de uma competência
religiosa, admitindo o culto de todas as religiões, sem qualquer privativa ou concorrente.
intervenção.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Entes Federativos VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as
operações de natureza financeira, especialmente as de crédito,
União câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência
A União é o ente federativo com dupla personalidade. Inter- privada;
namente, é uma pessoa jurídica de direito público interno, com IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de orde-
autonomia financeira, administrativa e política e capacidade de au- nação do território e de desenvolvimento econômico e social;
to-organização, autogoverno, autolegislação e autoadministração. X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
Internacionalmente, a União é soberana e representa a República XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão
Federativa do Brasil a quem cabe exercer as prerrogativas da so- ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei,
berania do Estado brasileiro. Os bens da União são todos aqueles que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um
elencados, no art. 20, CF. órgão regulador e outros aspectos institucionais; (Redação dada
São bens da União: pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95)
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, conces-
atribuídos; são ou permissão:
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
das fortificações e construções militares, das vias federais de comu- (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95)
nicação e à preservação ambiental, definidas em lei; b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveita-
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de mento energético dos cursos de água, em articulação com os Esta-
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites dos onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aero-
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; portuária;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre
países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluí- portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os
das, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas limites de Estado ou Território;
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e interna-
as referidas no art. 26, II; Redação dada pela Emenda Constitucional cional de passageiros;
nº 46, de 2005). f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Públi-
econômica exclusiva; co do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos
VI - o mar territorial; Territórios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; 2012) (Produção de efeito)
VIII - os potenciais de energia hidráulica; XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polí-
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; cia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a exe-
e pré-históricos; cução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geo-
Como ente federativo, a União possui competências adminis- grafia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
trativas que lhe são exclusivas (art. 21, CF), competências legislati- XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diver-
vas privativas (art. 22, CF), competências administrativas comuns sões públicas e de programas de rádio e televisão;
com Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23, CF) e compe- XVII - conceder anistia;
tências legislativas concorrentes com Estados, Distrito Federal e XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as
Municípios (art. 24, CF). calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos
Competências hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; (Regu-
Comuns e Exclusivas Arts. 21 e 23, CF lamento)
Administrativas
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusi-
Competências Privativas e ve habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
Arts. 22 e 24, CF
Legislativas Concorrentes XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional
de viação;
Competência administrativa exclusiva da União: art. 21, CF XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária
Art. 21. Compete à União: e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de de 1998)
organizações internacionais; XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer
II - declarar a guerra e celebrar a paz; natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o
III - assegurar a defesa nacional; enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele per- princípios e condições:
maneçam temporariamente; a) toda atividade nuclear em território nacional somente será
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a interven- admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso
ção federal; Nacional;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material
bélico;
VII - emitir moeda;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercializa- VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos
ção e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso agrícolas e metais;
industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de va-
2022) lores;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a VIII - comércio exterior e interestadual;
comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa e uso IX - diretrizes da política nacional de transportes;
médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima,
2022) aérea e aeroespacial;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da XI - trânsito e transporte;
existência de culpa; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 49, de XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
2006) XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; XIV - populações indígenas;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de
atividade de garimpagem, em forma associativa. estrangeiros;
XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de da- XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições
dos pessoais, nos termos da lei. para o exercício de profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito
Competências administrativas comuns da União, Estados, Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios,
Distrito Federal e Municípios: art. 23, CF: bem como organização administrativa destes; (Redação dada pela
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Dis- Emenda Constitucional nº 69, de 2012)
trito Federal e dos Municípios: XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições nacionais;
democráticas e conservar o patrimônio público; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança
II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garan- popular;
tia das pessoas portadoras de deficiência; (Vide ADPF 672) XX - sistemas de consórcios e sorteios;
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens natu- garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das po-
rais notáveis e os sítios arqueológicos; lícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada
IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ferroviária federais;
ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela XXIII - seguridade social;
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qual- XXV - registros públicos;
quer de suas formas; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abaste- modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas
cimento alimentar; e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
IX - promover programas de construção de moradias e a me- obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e
lhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; (Vide sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; (Re-
ADPF 672) dação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginali- XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa maríti-
zação, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; ma, defesa civil e mobilização nacional;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos XXIX - propaganda comercial.
de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela
territórios; Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
XII - estabelecer e implantar política de educação para a segu- Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Esta-
rança do trânsito. dos a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a coo- neste artigo.
peração entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em Competência Legislativa concorrente da União, Estados e
âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de Distrito Federal: art. 24, CF:
2006) Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal
legislar concorrentemente sobre:
Competências Legislativas privativas da União: art. 22, CF: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: urbanístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, II - orçamento;
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; III - juntas comerciais;
II - desapropriação; IV - custas dos serviços forenses;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e V - produção e consumo;
em tempo de guerra; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodi- defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente
fusão; e controle da poluição;
V - serviço postal;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turís- II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no
tico e paisagístico; seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu- ou terceiros;
midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turísti- III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
co e paisagístico; IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia,
pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emen- Municípios
da Constitucional nº 85, de 2015) O Município, que também é um ente federado que possui
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas autonomia administrativa (autoadministração) e política (auto-
causas; -organização, autogoverno e capacidade normativa própria). E,
XI - procedimentos em matéria processual; vinculado ao Estado onde se localiza, depende na sua criação,
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (Vide incorporação, fusão ou desmembramento, de lei estadual dentro
ADPF 672) do período determinado por lei complementar federal, além da
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública; realização de plebiscito.
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de Sua capacidade de auto-organização consiste na possibilidade
deficiência; da elaboração da lei orgânica própria. O município possui o Poder
XV - proteção à infância e à juventude; Executivo, exercido pelo Prefeito e o Poder Legislativo, exercido
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias pela Câmara Municipal. Entretanto, não há Poder Judiciário na
civis. esfera municipal. É regido por lei orgânica, nos termos do art. 29,
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência CF. A Constituição prevê ainda a composição das Câmaras Munici-
da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº pais e o subsídio dos vereadores, de acordo com a quantidade de
13.874, de 2019) habitantes do município.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas A competência dos municípios está elencada no art. 30, CF.
gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Art. 30. Compete aos Municípios:
Lei nº 13.874, de 2019) I - legislar sobre assuntos de interesse local;
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem
peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019) como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de pres-
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais tar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação
Lei nº 13.874, de 2019). estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de conces-
Estados são ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o
O Brasil é composto de estados federados que gozam de uma de transporte coletivo, que tem caráter essencial;
autonomia, consubstanciada na capacidade de auto-organização, VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e
auto legislação, autogoverno e autoadministração. do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen-
Os Estados podem se formar a partir de incorporação, subdi- tal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
visão ou desmembramento, que por sua vez, pode se dar por ane- VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e
xação ou formação. A incorporação ou fusão é a junção de dois ou do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
mais Estados para formação de um único Estado novo. A cisão ou VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territo-
subdivisão é a separação de um Estado em dois ou mais Estados rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e
autônomos e independentes. E, o desmembramento consiste na da ocupação do solo urbano;
separação de parte de um Estado para formação de um novo Esta- IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local,
do (formação) ou anexação a outro Estado já existente. observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
As competências estaduais estão previstas no art. 25, CF e os
bens dos Estados estão elencados no art. 26, CF: A fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios se dá
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui- sob duas modalidades: controle externo, exercido pela Câmara
ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui- Municipal e o controle interno, exercido pelo próprio executivo
ção. municipal, nos termos do art. 31, CF.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes
sejam vedadas por esta Constituição. Distrito Federal e Territórios
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante O Distrito Federal é reconhecido como ente integrante da
concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, Federação e goza de autonomia política, embora não se enquadre
vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. nem como estado-membro ou município. Sua principal função é
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995). servir como sede do Governo Federal e não pode haver divisões
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir em municípios. O Distrito Federal não possui constituição, mas lei
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, orgânica própria, que define os princípios básicos de sua organiza-
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para ção, suas competências e a organização de seus poderes governa-
integrar a organização, o planejamento e a execução de funções mentais, nos termos do art. 32, CF.
públicas de interesse comum. Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios,
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício
I - As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legisla-
e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decor- tiva, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta
rentes de obras da União; Constituição.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências Publicidade: todos os atos administrativos devem ser públi-
legislativas reservadas aos Estados e Municípios. cos, vedado o sigilo e o segredo, salvo em hipóteses restritas que
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, envolvam a segurança nacional.
observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais Eficiência: trazido pela Emenda Constitucional nº 19, este prin-
coincidirá com a dos Governadores e Deputados Estaduais, para cípio estabelece que os atos administrativos devem cumprir os seus
mandato de igual duração. propósitos de forma eficaz.
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se
o disposto no art. 27. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-
Distrito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar nicípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
e do corpo de bombeiros militar (Redação dada pela Emenda moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte (Reda-
Constitucional nº 104, de 2019). ção dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998):
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos
Atualmente, não existe no Brasil nenhum Território. Com a brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim
CF/88, os territórios de Roraima e Amapá foram transformados como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emen-
em Estados e Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de da Constitucional nº 19, de 1998);
Pernambuco.
— Servidores públicos

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DISPOSIÇÕES GERAIS, SERVI‐ Concurso Público:


DORES PÚBLICOS A investidura em cargo ou emprego público só se pode dar por
meio de concurso público. Enquanto não há a posse, os aprovados
têm apenas uma expectativa de direito. Não há direito adquirido
— Disposições gerais em relação ao cargo pela simples aprovação em concurso público.
A administração pública consiste no conjunto de meios institu-
cionais, materiais, financeiros e humanos do Estado, preordenado Art. 37.
à realização de seus serviços, visando a satisfação das necessida- II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
des coletivas. aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
A função administrativa é institucionalmente imputada a di- títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
versas entidades governamentais autônomas, expressas no art. 37 emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para
da Constituição Federal. cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exonera-
ção (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
Administração Pública Direta e Indireta III - o prazo de validade do concurso público será de até dois
A administração direta é a administração centralizada, defini- anos, prorrogável uma vez, por igual período;
da como o conjunto de órgãos administrativos subordinados dire- IV - durante o prazo improrrogável previsto no edital de con-
tamente ao Poder Executivo de cada entidade. Ex.: Ministérios, as vocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de
Forças Armadas, a Receita Federal, os próprios Poderes Executivo, provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos con-
Legislativo, Judiciário etc. cursados para assumir cargo ou emprego, na carreira;
Por sua vez, a administração indireta é a descentralizada, V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por
composta por entidades personalizadas de prestação de serviço ou servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a
exploração de atividades econômicas, mas vinculadas aos Poderes serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições
Executivos da entidade pública. Ex.: Autarquias: Agência Nacional e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às
de Aviação Civil – ANAC, Instituto Nacional de Colonização e Refor- atribuições de direção, chefia e assessoramento (Redação dada
ma Agrária – INCRA e outras agências reguladoras, Universidade pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
Federal de Alfenas – UNIFAL-MG e outras universidades federais, VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre asso-
Centros e Institutos Federais de Educação Tecnológica, Banco ciação sindical;
Central do Brasil – BACEN; Conselho Federal de Medicina e outros VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites
Conselhos Profissionais etc; Empresas Públicas: BNDES, Caixa Eco- definidos em lei específica (Redação dada pela Emenda Constitu-
nômica Federal, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos etc; cional nº 19, de 1998);
Sociedades de economia mista: Petrobrás, Banco do Brasil etc; VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públi-
Fundações públicas: Funai, Funasa, IBGE etc. cos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios
de sua admissão;
Princípios Específicos da Administração Pública IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo de-
Legalidade: todo o ato administrativo deve ser antecedido de terminado para atender a necessidade temporária de excepcional
lei; interesse público;
Impessoalidade: todos atos e provimentos administrativos
não são imputáveis ao agente político que o realiza, mas sim ao O art. 37 da Constituição Federal estabelece ainda as regras
órgão ou entidade pública em nome da qual atuou. quanto a valores, limitações e formas de recebimento de remu-
Moralidade: impõe a obediência à lei, não só no que ela tem neração e subsídios dos servidores públicos, bem como condições
de formal, mas como na sua teleologia. Não bastará ao administra- sobre acúmulo de cargos e funções:
dor o estrito cumprimento da legalidade, devendo ele, no exercício
de sua função pública, respeitar os princípios éticos de razoabilida-
de e justiça.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 37. Art. 37.
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia
trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de
por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem último caso, definir as áreas de sua atuação (Redação dada pela
distinção de índices (Redação dada pela Emenda Constitucional nº Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
19, de 1998) (Regulamento); XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a cria-
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, ção de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior,
funções e empregos públicos da administração direta, autárquica assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;
e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores Todas as obras, serviços e compras da Administração, nos
de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, termos do que preceitua o art. 37 da Constituição, deverão ser
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulati- contratadas por meio de licitação pública.
vamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer
outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espé- Art. 37.
cie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as
limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante
Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obriga-
no âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores ções de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta,
do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qua-
centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Minis- lificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumpri-
tros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, mento das obrigações (Regulamento).
aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Pro-
curadores e aos Defensores Públicos (Redação dada pela Emenda O referido art. 37, CF dispõe ainda sobre as informações na
Constitucional nº 41, 19.12.2003); Administração Pública:
XII - os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Po- XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do
der Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcio-
Executivo; namento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específi-
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer es- cas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades
pécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do e atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento
serviço público (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio
de 1998); (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003);
XIV - os acréscimos pecuniários percebidos por servidor públi- § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e cam-
co não serão computados nem acumulados para fins de concessão panhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor-
de acréscimos ulteriores; (Redação dada pela Emenda Constitucio- mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
nal nº 19, de 1998); símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto-
XV - o subsídio e os vencimentos dos ocupantes de cargos e ridades ou servidores públicos.
empregos públicos são irredutíveis, ressalvado o disposto nos inci- § 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará
sos XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, a nulidade do ato e a punição da autoridade responsável, nos ter-
§ 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998); mos da lei.
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, § 3º A lei disciplinará as formas de participação do usuário na
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em administração pública direta e indireta, regulando especialmente
qualquer caso o disposto no inciso XI (Redação dada pela Emenda (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998):
Constitucional nº 19, de 1998): I - as reclamações relativas à prestação dos serviços públicos
a) a de dois cargos de professor; (Redação dada pela Emenda em geral, asseguradas a manutenção de serviços de atendimento
Constitucional nº 19, de 1998); ao usuário e a avaliação periódica, externa e interna, da qualidade
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico dos serviços (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998); II - o acesso dos usuários a registros administrativos e a infor-
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de mações sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5º, X e
saúde, com profissões regulamentadas; (Redação dada pela Emen- XXXIII; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Vide
da Constitucional nº 34, de 2001); Lei nº 12.527, de 2011);
XVII - a proibição de acumular estende-se a empregos e fun- III - a disciplina da representação contra o exercício negligente
ções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, socie- ou abusivo de cargo, emprego ou função na administração pública.
dades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades contro- (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
ladas, direta ou indiretamente, pelo poder público (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998); XVIII - a administra- Improbidade Administrativa
ção fazendária e seus servidores fiscais terão, dentro de suas áreas A improbidade administrativa é espécie de ilegalidade pratica-
de competência e jurisdição, precedência sobre os demais setores da pelo servidor, qualificada pela finalidade de atribuir situação de
administrativos, na forma da lei; vantagem a si ou a outrem. A Lei nº 8.429/92, chamada de Lei de
Improbidade Administrativa, disciplina este dispositivo constitucio-
E também a criação de autarquias e instituição de empresas nal, previsto no art. 37, §4º.
públicas, fundações e sociedades de economia mista:

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Art. 37. § 14. A aposentadoria concedida com a utilização de tempo
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a de contribuição decorrente de cargo, emprego ou função pública,
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a in- inclusive do Regime Geral de Previdência Social, acarretará o rom-
disponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e pimento do vínculo que gerou o referido tempo de contribuição.
gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos § 15. É vedada a complementação de aposentadorias de ser-
praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem pre- vidores públicos e de pensões por morte a seus dependentes que
juízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. não seja decorrente do disposto nos §§ 14 a 16 do art. 40 ou que
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- não seja prevista em lei que extinga regime próprio de previdência
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos social (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019).
que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegu-
rado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo Regime Jurídico dos Servidores Públicos
ou culpa. O regime jurídico dos servidores públicos é o conjunto de princí-
§ 7º A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao ocu- pios e regras destinadas à regulação das relações funcionais da adminis-
pante de cargo ou emprego da administração direta e indireta tração pública e seus agentes. Pode ser geral, aplicável a todos os ser-
que possibilite o acesso a informações privilegiadas (Incluído pela vidores de uma determinada pessoa política (da Administração Pública
Emenda Constitucional nº 19, de 1998). Federal, Estadual, Municipal, por exemplo) ou específico, como é o caso
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos de algumas carreiras, como a Magistratura, Ministério Público etc.
órgãos e entidades da administração direta e indireta poderá ser O Regime Jurídico dos Servidores Públicos da União é esta-
ampliada mediante contrato, a ser firmado entre seus administra- tutário e regido pela Lei nº 8.112 de 1990. Nas esferas distrital,
dores e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas estaduais e municipais podem ser adotados estatutos próprios,
de desempenho para o órgão ou entidade, cabendo à lei dispor desde compatíveis com os preceitos da Constituição Federal e da
sobre (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (Regu- Lei 8.112/90.
lamento) (Vigência) : No regime estatutário não há relação contratual empregatícia.
I - o prazo de duração do contrato (Incluído pela Emenda Cons- A Constituição Federal prevê todo o regime jurídico dos Servi-
titucional nº 19, de 1998) dores Públicos, com sistema remuneratório, regime previdenciário
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, di- e regra geral de aposentadoria, nos termos do art. 40, CF.
reitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes (Incluído pela A estabilidade é uma das garantias do serviço público, previs-
Emenda Constitucional nº 19, de 1998); ta constitucionalmente. É adquirida pelo funcionário concursado
III - a remuneração do pessoal (Incluído pela Emenda Constitu- após três anos de efetivo exercício da função pública e impede que
cional nº 19, de 1998); ele seja desvinculado do serviço público arbitrariamente, a não ser
§ 9º O disposto no inciso XI aplica-se às empresas públicas e às por sentença transitada em julgado ou decisão administrativa em
sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem que lhe foi dado amplo direito de defesa, aposentadoria compul-
recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Muni- sória, exoneração a pedido ou morte:
cípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
geral (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de apo- servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude
sentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a de concurso público (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os 19, de 1998).
cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos § 1º O servidor público estável só perderá o cargo (Redação
e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998):
exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de I - em virtude de sentença judicial transitada em julgado (In-
1998) (Vide Emenda Constitucional nº 20, de 1998); cluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
§ 11. Não serão computadas, para efeito dos limites remune- II - mediante processo administrativo em que lhe seja assegu-
ratórios de que trata o inciso XI do caput deste artigo, as parcelas rada ampla defesa (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de
de caráter indenizatório previstas em lei (Incluído pela Emenda 1998);
Constitucional nº 47, de 2005). III - mediante procedimento de avaliação periódica de desem-
§ 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste ar- penho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa
tigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgâ- § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do servidor
nica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se
do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vin- estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indeniza-
te e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros ção, aproveitado em outro cargo ou posto em disponibilidade com
do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste remuneração proporcional ao tempo de serviço (Redação dada
parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);
Vereadores (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005). § 3º Extinto o cargo ou declarada a sua desnecessidade, o
§ 13. O servidor público titular de cargo efetivo poderá ser servidor estável ficará em disponibilidade, com remuneração pro-
readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsa- porcional ao tempo de serviço, até seu adequado aproveitamento
bilidades sejam compatíveis com a limitação que tenha sofrido em outro cargo (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
em sua capacidade física ou mental, enquanto permanecer nesta de 1998);
condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade § 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obri-
exigidos para o cargo de destino, mantida a remuneração do cargo gatória a avaliação especial de desempenho por comissão instituí-
de origem (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019). da para essa finalidade (Incluído pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998).
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
São militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previs-
os membros das polícias militares e corpos de bombeiros militares, tos nesta Constituição;
instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, nos IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como
termos do art. 42, CF. Aos militares são proibidas a sindicalização e expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução;
a greve, em face das funções por eles desempenhadas. V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente;
VI - dispor, mediante decreto, sobre: (Redação dada pela
Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bom- Emenda Constitucional nº 32, de 2001).
beiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e a) organização e funcionamento da administração federal,
disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Terri- quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
tórios (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998). de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e 2001).
dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; (In-
do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo cluída pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001).
a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar
inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos seus representantes diplomáticos;
governadores (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, su-
de 15/12/98). jeitos a referendo do Congresso Nacional;
§ 2º Aos pensionistas dos militares dos Estados, do Distrito IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio;
Federal e dos Territórios aplica-se o que for fixado em lei específica X - decretar e executar a intervenção federal;
do respectivo ente estatal (Redação dada pela Emenda Constitucio- XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Na-
nal nº 41, 19.12.2003). cional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a si-
§ 3º Aplica-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e tuação do País e solicitando as providências que julgar necessárias;
dos Territórios o disposto no art. 37, inciso XVI, com prevalência da XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se ne-
atividade militar (Incluído pela Emenda Constitucional nº 101, de cessário, dos órgãos instituídos em lei;
2019). XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, no-
mear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que
PODER EXECUTIVO. FORMA E SISTEMA DE GOVERNO; lhes são privativos; (Redação dada pela Emenda Constitu-
CHEFIA DE ESTADO E CHEFIA DE GOVERNO cional nº 23, de 02/09/99)
XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Mi-
nistros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores,
O Poder Executivo é o órgão constitucional cuja função princi- os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República,
pal é a prática dos atos de chefia de estado, de governo e de admi- o presidente e os diretores do banco central e outros servidores,
nistração, mas de forma atípica, também legisla através da edição quando determinado em lei;
de Medidas Provisórias e julga contenciosos administrativos. XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do
Art. 76. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da Repú- Tribunal de Contas da União;
blica, auxiliado pelos Ministros de Estado. XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Consti-
tuição, e o Advogado-Geral da União;
Chefe de Estado e Chefe de Governo XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos
O Brasil adota o presidencialismo, que tem unificadas na do art. 89, VII;
figura do Presidente da República as funções do Chefe de Estado XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conse-
e Chefe de Governo. Portanto, o Poder Executivo brasileiro é mo- lho de Defesa Nacional;
nocrático. Como chefe de Estado, o presidente representa o país XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, auto-
nas suas relações internacionais e como chefe de governo exerce a rizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando
liderança nacional, gerindo o país política e administrativamente. ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas con-
O presidente será eleito por maioria absoluta de votos, não dições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional;
computados os em branco e os nulos. Entende-se por maioria XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Con-
absoluta, mais que a metade, o número subsequente à metade, gresso Nacional;
ou a metade +1 do número total de votantes. Quando o candidato XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas;
mais votado não alcança a maioria absoluta, realiza-se segundo XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que
turno entre os dois mais votados. A maioria absoluta é diferente forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele per-
da maioria simples, que consiste no maior resultado da votação, maneçam temporariamente;
independentemente de exigência de quórum percentual relaciona- XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o pro-
do à quantidade total de votantes jeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento
previstos nesta Constituição;
— Atribuições e responsabilidades do presidente da Repú- XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de
blica sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas refe-
Como chefe de Governo e Estado, compete ao Presidente da rentes ao exercício anterior;
República as atribuições e responsabilidades trazidas nos artigos XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma
84, CF. da lei;
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; do art. 62;
II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição.
superior da administração federal;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou interna-
respectivas delegações. cional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
Requisitos de elegibilidade do Presidente e Vice-Presidente gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
— Ser brasileiro nato; fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
— Estar no gozo dos direitos políticos; competência;
— Ter mais de trinta e cinco anos; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
— Não ser inelegível; fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
— Possuir filiação partidária. 1998)
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária
Ordem de sucessão presidencial no caso de impedimento ou da União.
vacância:
Em caso de impedimento ou vacância do cargo de Presidente, São cargos de Carreira da Polícia Federal o Delegado de Polícia
este será substituído pelo: Vice-presidente, Presidente da Câmara Federal, o Perito Criminal Federal, o Escrivão de Polícia Federal, o
dos Deputados, Presidente do Senado Federal e Presidente do Su- Papiloscopista Policial Federal e o Agente de Polícia Federal.
premo Tribunal Federal, nesta ordem.
Polícia Rodoviária Federal
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organi-
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS: zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
SEGURANÇA PÚBLICA; ORGANIZAÇÃO DA SEGURANÇA na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
PÚBLICA (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Compete à Polícia Rodoviária Federal realizar atividades de


— Segurança pública natureza policial envolvendo fiscalização, patrulhamento e policia-
A segurança pública é o poder-dever do Estado na sua auto- mento ostensivo, atendimento e socorro às vítimas de acidentes
defesa e das instituições democráticas que visa garantir a ordem e rodoviários e demais atribuições relacionadas com a área opera-
a proteção de todos os cidadãos, com a prevalência do interesse cional do Departamento de Polícia Rodoviária Federal.
público.
A segurança pública busca a defesa do Estado e das Institui- Polícia Ferroviária Federal
ções Democráticas para preservar a ordem constitucional em mo- § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organi-
mentos de crise, internamente, contra lesões ou ameaças de direi- zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
tos de seus cidadãos e arbitrariedades do próprio poder público, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.
inclusive, e externamente contra atentados à soberania nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

— Organização da segurança pública Polícias Civis


Nos termos do art. 144, CF a Segurança Pública está organiza- § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
da nos seguintes órgãos: carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as fun-
— Polícia Federal; ções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
— Polícia Rodoviária Federal; as militares.
— Polícia Ferroviária Federal;
— Polícias Civis; Polícias militares e corpos de bombeiros militares
— Polícias militares e corpos de bombeiros militares; § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preser-
— Polícias penais federal, estaduais e distrital. vação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além
das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades
O rol dos órgãos de Segurança Pública é taxativo e os entes de defesa civil.
federativos não podem criar novos órgãos, além dos elencados na § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares,
Constituição. forças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, juntamente
Embora não esteja previsto no rol do art. 144, as Guardas Mu- com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
nicipais visam a proteção do patrimônio público e sua criação nos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
municípios está autorizada no § 8º do referido dispositivo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019).
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais des-
tinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme Polícias penais federal, estaduais e distrital
dispuser a lei. § 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador
do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe
Polícia Federal a segurança dos estabelecimentos penais. (Redação dada pela
A polícia federal faz parte da estrutura básica do Ministério da Emenda Constitucional nº 104, de 2019).
Justiça e é órgão permanente, organizado e mantido pela União.
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanen-
te, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
destina-se a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Os serviços relacionados à segurança pública devem ser pres- CAPÍTULO II
tados com eficiência. DA SEGURIDADE SOCIAL
§7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos
órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir SEÇÃO I
a eficiência de suas atividades. DISPOSIÇÕES GERAIS
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos
órgãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto inte-
art. 39. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) grado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da or- destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência
dem pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio e à assistência social.
nas vias públicas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
2014). organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trân- I - universalidade da cobertura e do atendimento;
sito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e (Incluído pela populações urbanas e rurais;
Emenda Constitucional nº 82, de 2014) III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos e serviços;
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. V - equidade na forma de participação no custeio;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014). VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se,
em rubricas contábeis específicas para cada área, as receitas e as
despesas vinculadas a ações de saúde, previdência e assistência
ORDEM SOCIAL: BASE E OBJETIVOS DA ORDEM SOCIAL; social, preservado o caráter contributivo da previdência social;
SEGURIDADE SOCIAL; MEIO AMBIENTE; FAMÍLIA, CRIAN‐ (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
ÇA, ADOLESCENTE, IDOSO, ÍNDIO VII - caráter democrático e descentralizado da administração,
mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhado-
res, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos
O Título VIII da Constituição cuida da Ordem Social, elencada colegiados.
em seus artigos 193 a 232. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a socie-
dade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recur-
→ Chamamos a atenção para o fato de que referente ao as- sos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
sunto supracitado, os concursos públicos cobram do candidato a Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
literalidade do texto legal, portanto, é importante conhecer bem I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada
todos os artigos deste capítulo em sua integralidade! na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos
CF, TÍTULO VIII ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste ser-
DA ORDEM SOCIAL viço, mesmo sem vínculo empregatício;
b) a receita ou o faturamento;
CAPÍTULO I c) o lucro;
DISPOSIÇÃO GERAL II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência
social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do traba- com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição
lho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de
Parágrafo único. O Estado exercerá a função de planejamento Previdência Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
das políticas sociais, assegurada, na forma da lei, a participação da 103, de 2019)
sociedade nos processos de formulação, de monitoramento, de con- III - sobre a receita de concursos de prognósticos.
trole e de avaliação dessas políticas. (Incluído pela Emenda Consti- IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem
tucional nº 108, de 2020) a lei a ele equiparar.
§ 1º - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos
No tocante à Seguridade Social, segue um processo mne- Municípios destinadas à seguridade social constarão dos
mônico para ser utilizado como técnica de auxílio no processo de respectivos orçamentos, não integrando o orçamento da União.
memorização: § 2º A proposta de orçamento da seguridade social será
elaborada de forma integrada pelos órgãos responsáveis
Seguridade Social pela saúde, previdência social e assistência social, tendo em
vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes
P Previdência Social orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos.
A Assistência Social § 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade
social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o
S Saúde Poder Público nem dele receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios.
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir
a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o
disposto no art. 154, I.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 5º Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá • A Saúde e a Iniciativa Privada
ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de Referente ao Artigo 199, da CF, a assistência à saúde é livre
custeio total. à iniciativa privada e instituições privadas poderão participar de
§ 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só forma complementar do SUS, segundo diretrizes deste, mediante
poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as enti-
publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se dades filantrópicas e as sem fins lucrativos.
lhes aplicando o disposto no art. 150, III, «b».
§ 7º São isentas de contribuição para a seguridade social • Atribuições Constitucionais do SUS
as entidades beneficentes de assistência social que atendam às Por fim, o Artigo 200 da CF, elenca quais atribuições são de
exigências estabelecidas em lei. competência do SUS.
§ 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais
e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que SEÇÃO II
exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem DA SAÚDE
empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social
mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garan-
comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos tido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
da lei. do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
§ 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recu-
deste artigo poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da peração.
atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saú-
do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de de, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
trabalho, sendo também autorizada a adoção de bases de cálculo regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser
diferenciadas apenas no caso das alíneas «b» e «c» do inciso I feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa
do caput. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de física ou jurídica de direito privado.
2019) Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma
§ 10. A lei definirá os critérios de transferência de recursos rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único,
para o sistema único de saúde e ações de assistência social da organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
União para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e dos I - descentralização, com direção única em cada esfera de
Estados para os Municípios, observada a respectiva contrapartida governo;
de recursos. II - atendimento integral, com prioridade para as atividades
§ 11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, III - participação da comunidade.
a remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a § 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos
alínea «a» do inciso I e o inciso II do caput. (Redação dada pela do art. 195, com recursos do orçamento da seguridade social, da
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os outras fontes.
quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do § 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
caput, serão não-cumulativas. aplicarão, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde
§ 13. (Revogado pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais
§ 14. O segurado somente terá reconhecida como tempo de calculados sobre:
contribuição ao Regime Geral de Previdência Social a competência I - no caso da União, a receita corrente líquida do respectivo
cuja contribuição seja igual ou superior à contribuição mínima exercício financeiro, não podendo ser inferior a 15% (quinze por
mensal exigida para sua categoria, assegurado o agrupamento cento); (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
de contribuições. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da
2019) arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recur-
sos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II,
Saúde deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Mu-
A saúde é direito de todos e dever do Estado. Segundo o arti- nicípios;
go 197, da Constituição, as ações e os serviços de saúde devem ser III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, o produto da
executados diretamente pelo poder público ou por meio de tercei- arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos
ros, tanto por pessoas físicas quanto jurídicas. de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.
A responsabilidade em matéria de saúde é solidária entre os § 3º Lei complementar, que será reavaliada pelo menos a
entes federados. cada cinco anos, estabelecerá:
I - os percentuais de que tratam os incisos II e III do § 2º; (Re-
• Diretrizes da Saúde dação dada pela Emenda Constitucional nº 86, de 2015)
De acordo com o Art. 198, da CF, as ações e os serviços públi- II – os critérios de rateio dos recursos da União vinculados à
cos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e saúde destinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios,
constituem um sistema único – o SUS –, organizado de acordo com e dos Estados destinados a seus respectivos Municípios, objetivan-
as seguintes diretrizes: do a progressiva redução das disparidades regionais;
I – descentralização, com direção única em cada esfera de III – as normas de fiscalização, avaliação e controle das despe-
governo; sas com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal;
II – atendimento integral, com prioridade para as atividades IV - (revogado).
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III – participação da comunidade.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 4º Os gestores locais do sistema único de saúde poderão I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias
admitir agentes comunitários de saúde e agentes de combate de interesse para a saúde e participar da produção de medica-
às endemias por meio de processo seletivo público, de acordo mentos, equipamentos, imunobiológicos, hemoderivados e outros
com a natureza e complexidade de suas atribuições e requisitos insumos;
específicos para sua atuação. II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica,
§ 5º Lei federal disporá sobre o regime jurídico, o piso salarial bem como as de saúde do trabalhador;
profissional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saú-
regulamentação das atividades de agente comunitário de saúde e de;
agente de combate às endemias, competindo à União, nos termos IV - participar da formulação da política e da execução das
da lei, prestar assistência financeira complementar aos Estados, ao ações de saneamento básico;
Distrito Federal e aos Municípios, para o cumprimento do referido V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento
piso salarial. científico e tecnológico e a inovação; (Redação dada pela Emenda
§ 6º Além das hipóteses previstas no § 1º do art. 41 e no Constitucional nº 85, de 2015)
§ 4º do art. 169 da Constituição Federal, o servidor que exerça VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o contro-
funções equivalentes às de agente comunitário de saúde ou de le de seu teor nutricional, bem como bebidas e águas para consu-
agente de combate às endemias poderá perder o cargo em caso de mo humano;
descumprimento dos requisitos específicos, fixados em lei, para o VII - participar do controle e fiscalização da produção, trans-
seu exercício. porte, guarda e utilização de substâncias e produtos psicoativos,
§ 7º O vencimento dos agentes comunitários de saúde e dos tóxicos e radioativos;
agentes de combate às endemias fica sob responsabilidade da VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreen-
União, e cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios dido o do trabalho.
estabelecer, além de outros consectários e vantagens, incentivos,
auxílios, gratificações e indenizações, a fim de valorizar o trabalho Previdência Social
desses profissionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, A previdência social será organizada sob a forma de regime
de 2022) geral (RGPS). Ele terá caráter contributivo e será de filiação obriga-
§ 8º Os recursos destinados ao pagamento do vencimento tória.
dos agentes comunitários de saúde e dos agentes de combate às O leque de proteções da Previdência Social vai muito além da
endemias serão consignados no orçamento geral da União com aposentadoria, conforme elenca o Artigo 201 da CF.
dotação própria e exclusiva. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 120, de 2022) • Regras para Aposentadoria no RGPS
§ 9º O vencimento dos agentes comunitários de saúde Atenção: Em regra, no RGPS não há aposentadoria compulsó-
e dos agentes de combate às endemias não será inferior a 2 ria.
(dois) salários mínimos, repassados pela União aos Municípios,
aos Estados e ao Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Regras para aposentadoria no RGPS antes da EC n. 103/2019
Constitucional nº 120, de 2022)
§ 10. Os agentes comunitários de saúde e os agentes de Homens Mulheres
combate às endemias terão também, em razão dos riscos Por tempo de 35 anos 30 anos
inerentes às funções desempenhadas, aposentadoria especial e, contribuição
somado aos seus vencimentos, adicional de insalubridade. (Incluí-
do pela Emenda Constitucional nº 120, de 2022) Por idade* 65 anos 60 anos
§ 11. Os recursos financeiros repassados pela União aos *é reduzido em cinco anos o limite de idade para os
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para pagamento trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam
do vencimento ou de qualquer outra vantagem dos agentes suas atividades em regime de economia familiar, nestes
comunitários de saúde e dos agentes de combate às endemias não incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
serão objeto de inclusão no cálculo para fins do limite de despe-
sa com pessoal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 120, de
2022) Regras para aposentadoria no RGPS pós EC n. 103/2019
Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. Homens Mulheres
§ 1º As instituições privadas poderão participar de forma Trabalhadores 65 anos 62 anos
complementar do sistema único de saúde, segundo diretrizes urbanos
deste, mediante contrato de direito público ou convênio, tendo
preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos. Trabalhadores 60 anos 55 anos
§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios rurais*
ou subvenções às instituições privadas com fins lucrativos. *para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas
§ 3º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas atividades em regime de economia familiar, nestes incluídos o
ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no País, salvo nos produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.
casos previstos em lei.
§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Zf8RGtlp-
facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas QiwJ:https://www.grancursosonline.com.br/download-demonstrativo/
para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a download-aula-pdf-demo/codigo/47mLWGgdrdc%253D+&cd=3&hl=p-
coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, t-BR&ct=clnk&gl=br
sendo vedado todo tipo de comercialização.
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras
atribuições, nos termos da lei:
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
SEÇÃO III § 8º O requisito de idade a que se refere o inciso I do § 7º será
DA PREVIDÊNCIA SOCIAL reduzido em 5 (cinco) anos, para o professor que comprove tempo
de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do e no ensino fundamental e médio fixado em lei complementar.
Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilí- § 9º Para fins de aposentadoria, será assegurada a contagem
brio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a: (Redação recíproca do tempo de contribuição entre o Regime Geral de
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Previdência Social e os regimes próprios de previdência social, e
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou per- destes entre si, observada a compensação financeira, de acordo
manente para o trabalho e idade avançada; (Redação dada pela com os critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda
Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Constitucional nº 103, de 2019)
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante; § 9º-A. O tempo de serviço militar exercido nas atividades de
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego invo- que tratam os arts. 42, 142 e 143 e o tempo de contribuição ao Re-
luntário; gime Geral de Previdência Social ou a regime próprio de previdên-
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos cia social terão contagem recíproca para fins de inativação militar
segurados de baixa renda; ou aposentadoria, e a compensação financeira será devida entre
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao côn- as receitas de contribuição referentes aos militares e as receitas de
juge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. contribuição aos demais regimes. (Incluído pela Emenda Constitu-
§ 1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados cional nº 103, de 2019)
para concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei § 10. Lei complementar poderá disciplinar a cobertura de
complementar, a possibilidade de previsão de idade e tempo benefícios não programados, inclusive os decorrentes de acidente
de contribuição distintos da regra geral para concessão de do trabalho, a ser atendida concorrentemente pelo Regime Geral
aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados: (Redação de Previdência Social e pelo setor privado. (Redação dada pela
dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
I - com deficiência, previamente submetidos a avaliação biop- § 11. Os ganhos habituais do empregado, a qualquer
sicossocial realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar; título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos
II - cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição e na forma da lei.
a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou § 12. Lei instituirá sistema especial de inclusão previdenciária,
associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria com alíquotas diferenciadas, para atender aos trabalhadores
profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº de baixa renda, inclusive os que se encontram em situação de
103, de 2019) informalidade, e àqueles sem renda própria que se dediquem
§ 2º Nenhum benefício que substitua o salário de contribuição exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua
ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda.
inferior ao salário mínimo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 3º Todos os salários de contribuição considerados para o § 13. A aposentadoria concedida ao segurado de que trata
cálculo de benefício serão devidamente atualizados, na forma da o § 12 terá valor de 1 (um) salário-mínimo. (Redação dada pela
lei. Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
§ 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para § 14. É vedada a contagem de tempo de contribuição fictício
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme para efeito de concessão dos benefícios previdenciários e de
critérios definidos em lei. contagem recíproca. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103,
§ 5º É vedada a filiação ao regime geral de previdência social, de 2019)
na qualidade de segurado facultativo, de pessoa participante de § 15. Lei complementar estabelecerá vedações, regras e
regime próprio de previdência. condições para a acumulação de benefícios previdenciários.
§ 6º A gratificação natalina dos aposentados e pensionistas (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
terá por base o valor dos proventos do mês de dezembro de cada § 16. Os empregados dos consórcios públicos, das empresas
ano. públicas, das sociedades de economia mista e das suas subsidiárias
§ 7º É assegurada aposentadoria no regime geral de serão aposentados compulsoriamente, observado o cumprimento
previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes do tempo mínimo de contribuição, ao atingir a idade máxima de
condições: que trata o inciso II do § 1º do art. 40, na forma estabelecida em
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 62 (ses- lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
senta e dois) anos de idade, se mulher, observado tempo mínimo Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter comple-
de contribuição; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº mentar e organizado de forma autônoma em relação ao regime
103, de 2019) geral de previdência social, será facultativo, baseado na constitui-
II - 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta ção de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado
e cinco) anos de idade, se mulher, para os trabalhadores rurais e por lei complementar.
para os que exerçam suas atividades em regime de economia fa- § 1° A lei complementar de que trata este artigo assegurará
miliar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador ao participante de planos de benefícios de entidades de
artesanal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de previdência privada o pleno acesso às informações relativas à
2019) gestão de seus respectivos planos.
§ 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as
condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos e
planos de benefícios das entidades de previdência privada não

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à I - descentralização político-administrativa, cabendo a coor-
exceção dos benefícios concedidos, não integram a remuneração denação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a
dos participantes, nos termos da lei. execução dos respectivos programas às esferas estadual e munici-
§ 3º É vedado o aporte de recursos a entidade de previdência pal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social;
privada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas II - participação da população, por meio de organizações re-
autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de econo- presentativas, na formulação das políticas e no controle das ações
mia mista e outras entidades públicas, salvo na qualidade de pa- em todos os níveis.
trocinador, situação na qual, em hipótese alguma, sua contribuição Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal
normal poderá exceder a do segurado. vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até
§ 4º Lei complementar disciplinará a relação entre a cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a
União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, inclusive suas aplicação desses recursos no pagamento de:
autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas I - despesas com pessoal e encargos sociais;
controladas direta ou indiretamente, enquanto patrocinadores de II - serviço da dívida;
planos de benefícios previdenciários, e as entidades de previdência III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamen-
complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de te aos investimentos ou ações apoiados.
2019)
§ 5º A lei complementar de que trata o § 4º aplicar-se-á, Educação, Cultura e Desporto
no que couber, às empresas privadas permissionárias ou
concessionárias de prestação de serviços públicos, quando • Educação
patrocinadoras de planos de benefícios em entidades de A educação é tratada nos artigos 205 a 214, da Constituição.
previdência complementar. (Redação dada pela Emenda Constituindo-se em um direito de todos e um dever do Estado e da
Constitucional nº 103, de 2019) família, a educação visa ao desenvolvimento da pessoa, seu prepa-
§ 6º Lei complementar estabelecerá os requisitos para a ro para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
designação dos membros das diretorias das entidades fechadas
de previdência complementar instituídas pelos patrocinadores Organização dos Sistemas de Ensino
de que trata o § 4º e disciplinará a inserção dos participantes nos Prevê o Art. 211, da CF, que: A União, os Estados, o Distrito
colegiados e instâncias de decisão em que seus interesses sejam Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração
objeto de discussão e deliberação. (Redação dada pela Emenda seus sistemas de ensino.
Constitucional nº 103, de 2019)
ENTE FEDERADO ÂMBITO DE ATUAÇÃO
Assistência Social (PRIORITÁRIA)
Quanto à Assistência Social, destacam-se dois aspectos impor-
tantes: União Ensino superior e técnico
→ A assistência social será prestada a quem dela necessitar, Estados e DF Ensino fundamental e médio
independentemente de contribuição à seguridade social;
→ Benefício de Prestação Continuada (BPC): consiste em um Municípios Educação infantil e ensino
benefício, no valor de um salário mínimo, pago mensalmente às fundamental
pessoas com deficiência e aos idosos com mais de 65 anos.
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Zf8RGtlp-
SEÇÃO IV QiwJ:https://www.grancursosonline.com.br/download-demonstrativo/
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL download-aula-pdf-demo/codigo/47mLWGgdrdc%253D+&cd=3&hl=p-
t-BR&ct=clnk&gl=br
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela ne-
cessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e CAPÍTULO III
tem por objetivos: DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adoles-
cência e à velhice; SEÇÃO I
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; DA EDUCAÇÃO
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; família, será promovida e incentivada com a colaboração da socie-
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à dade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes
por sua família, conforme dispuser a lei. princípios:
VI - a redução da vulnerabilidade socioeconômica de famílias I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
em situação de pobreza ou de extrema pobreza. (Incluído pela escola;
Emenda Constitucional nº 114, de 2021) II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pen-
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência samento, a arte e o saber;
social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coe-
social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas xistência de instituições públicas e privadas de ensino;
com base nas seguintes diretrizes: IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garan- Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Muni-
tidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusi- cípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de
vamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes ensino.
públicas; § 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais
VII - garantia de padrão de qualidade. e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades
educação escolar pública, nos termos de lei federal. educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
IX - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e
da vida. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) aos Municípios;
Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de traba- § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino
lhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fundamental e na educação infantil.
fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos § 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente
de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e no ensino fundamental e médio.
dos Municípios. § 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-cien- Estados, o Distrito Federal e os Municípios definirão formas de
tífica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obe- colaboração, de forma a assegurar a universalização, a qualidade
decerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e e a equidade do ensino obrigatório. (Redação dada pela Emenda
extensão. Constitucional nº 108, de 2020)
§ 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos § 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao
e cientistas estrangeiros, na forma da lei. ensino regular.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de § 6º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
pesquisa científica e tecnológica. exercerão ação redistributiva em relação a suas escolas. (Incluído
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
mediante a garantia de: § 7º O padrão mínimo de qualidade de que trata o § 1º deste
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos artigo considerará as condições adequadas de oferta e terá como
17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta referência o Custo Aluno Qualidade (CAQ), pactuados em regime
gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade de colaboração na forma disposta em lei complementar, confor-
própria; me o parágrafo único do art. 23 desta Constituição. (Incluído pela
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
III - atendimento educacional especializado aos portadores de Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos,
5 (cinco) anos de idade; compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e desenvolvimento do ensino.
da criação artística, segundo a capacidade de cada um; § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou pelos
do educando; Estados aos respectivos Municípios, não é considerada, para
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da edu- efeito do cálculo previsto neste artigo, receita do governo que a
cação básica, por meio de programas suplementares de material transferir.
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 2º Para efeito do cumprimento do disposto no «caput» deste
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público artigo, serão considerados os sistemas de ensino federal, estadual
subjetivo. e municipal e os recursos aplicados na forma do art. 213.
§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder § 3º A distribuição dos recursos públicos assegurará prioridade
Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da ao atendimento das necessidades do ensino obrigatório, no que
autoridade competente. se refere a universalização, garantia de padrão de qualidade e
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no equidade, nos termos do plano nacional de educação.
ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais § 4º Os programas suplementares de alimentação e
ou responsáveis, pela frequência à escola. assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados
Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as com recursos provenientes de contribuições sociais e outros
seguintes condições: recursos orçamentários.
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional; § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de
II - autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fun- pelas empresas na forma da lei.
damental, de maneira a assegurar formação básica comum e res- § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da
peito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais. contribuição social do salário-educação serão distribuídas
§ 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá proporcionalmente ao número de alunos matriculados na
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino educação básica nas respectivas redes públicas de ensino.
fundamental. § 7º É vedado o uso dos recursos referidos no caput e nos §§
§ 2º O ensino fundamental regular será ministrado em língua 5º e 6º deste artigo para pagamento de aposentadorias e de pen-
portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também sões. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de § 8º Na hipótese de extinção ou de substituição de impostos,
aprendizagem. serão redefinidos os percentuais referidos no caput deste artigo e
no inciso II do caput do art. 212-A, de modo que resultem recursos
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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
vinculados à manutenção e ao desenvolvimento do ensino, bem to no § 1º e consideradas as matrículas nos termos do inciso III
como os recursos subvinculados aos fundos de que trata o art. 212- do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº
A desta Constituição, em aplicações equivalentes às anteriormente 108, de 2020)
praticadas. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) VII - os recursos de que tratam os incisos II e IV do caput des-
§ 9º A lei disporá sobre normas de fiscalização, de avaliação te artigo serão aplicados pelos Estados e pelos Municípios ex-
e de controle das despesas com educação nas esferas estadual, clusivamente nos respectivos âmbitos de atuação prioritária,
distrital e municipal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, conforme estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 desta Constitui-
de 2020) ção; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
Art. 212-A. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios desti- VIII - a vinculação de recursos à manutenção e ao desenvol-
narão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 desta vimento do ensino estabelecida no art. 212 desta Constituição
Constituição à manutenção e ao desenvolvimento do ensino na suportará, no máximo, 30% (trinta por cento) da complementação
educação básica e à remuneração condigna de seus profissionais, da União, considerados para os fins deste inciso os valores pre-
respeitadas as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Consti- vistos no inciso V do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda
tucional nº 108, de 2020) Constitucional nº 108, de 2020)
I - a distribuição dos recursos e de responsabilidades entre o IX - o disposto no caput do art. 160 desta Constituição aplica-
Distrito Federal, os Estados e seus Municípios é assegurada me- -se aos recursos referidos nos incisos II e IV do caput deste artigo,
diante a instituição, no âmbito de cada Estado e do Distrito Fede- e seu descumprimento pela autoridade competente importará em
ral, de um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação crime de responsabilidade; (Incluído pela Emenda Constitucional
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), de nº 108, de 2020)
natureza contábil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de X - a lei disporá, observadas as garantias estabelecidas nos
2020) incisos I, II, III e IV do caput e no § 1º do art. 208 e as metas perti-
II - os fundos referidos no inciso I do caput deste artigo serão nentes do plano nacional de educação, nos termos previstos no art.
constituídos por 20% (vinte por cento) dos recursos a que se refe- 214 desta Constituição, sobre: (Incluído pela Emenda Constitucio-
rem os incisos I, II e III do caput do art. 155, o inciso II do caput do nal nº 108, de 2020)
art. 157, os incisos II, III e IV do caput do art. 158 e as alíneas “a” a) a organização dos fundos referidos no inciso I do caput
e “b” do inciso I e o inciso II do caput do art. 159 desta Constitui- deste artigo e a distribuição proporcional de seus recursos, as di-
ção; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) ferenças e as ponderações quanto ao valor anual por aluno entre
III - os recursos referidos no inciso II do caput deste artigo etapas, modalidades, duração da jornada e tipos de estabeleci-
serão distribuídos entre cada Estado e seus Municípios, proporcio- mento de ensino, observados as respectivas especificidades e os
nalmente ao número de alunos das diversas etapas e modalidades insumos necessários para a garantia de sua qualidade; (Incluído
da educação básica presencial matriculados nas respectivas redes, pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
nos âmbitos de atuação prioritária, conforme estabelecido nos §§ b) a forma de cálculo do VAAF decorrente do inciso III
2º e 3º do art. 211 desta Constituição, observadas as ponderações do caput deste artigo e do VAAT referido no inciso VI do caput des-
referidas na alínea “a” do inciso X do caput e no § 2º deste arti- te artigo; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
go; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) c) a forma de cálculo para distribuição prevista na alínea “c”
IV - a União complementará os recursos dos fundos a que se do inciso V do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Constitu-
refere o inciso II do caput deste artigo; (Incluído pela Emenda Cons- cional nº 108, de 2020)
titucional nº 108, de 2020) d) a transparência, o monitoramento, a fiscalização e o
V - a complementação da União será equivalente a, no mí- controle interno, externo e social dos fundos referidos no inciso
nimo, 23% (vinte e três por cento) do total de recursos a que se I do caput deste artigo, assegurada a criação, a autonomia, a
refere o inciso II do caput deste artigo, distribuída da seguinte for- manutenção e a consolidação de conselhos de acompanhamento
ma: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) e controle social, admitida sua integração aos conselhos de educa-
a) 10 (dez) pontos percentuais no âmbito de cada Estado e do ção; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
Distrito Federal, sempre que o valor anual por aluno (VAAF), nos e) o conteúdo e a periodicidade da avaliação, por parte do
termos do inciso III do caput deste artigo, não alcançar o mínimo órgão responsável, dos efeitos redistributivos, da melhoria dos in-
definido nacionalmente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº dicadores educacionais e da ampliação do atendimento; (Incluído
108, de 2020) pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
b) no mínimo, 10,5 (dez inteiros e cinco décimos) pontos per- XI - proporção não inferior a 70% (setenta por cento) de cada
centuais em cada rede pública de ensino municipal, estadual ou fundo referido no inciso I do caput deste artigo, excluídos os recur-
distrital, sempre que o valor anual total por aluno (VAAT), referido sos de que trata a alínea “c” do inciso V do caput deste artigo, será
no inciso VI do caput deste artigo, não alcançar o mínimo definido destinada ao pagamento dos profissionais da educação básica em
nacionalmente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de efetivo exercício, observado, em relação aos recursos previstos na
2020) alínea “b” do inciso V do caput deste artigo, o percentual mínimo
c) 2,5 (dois inteiros e cinco décimos) pontos percentuais nas de 15% (quinze por cento) para despesas de capital; (Incluído pela
redes públicas que, cumpridas condicionalidades de melhoria de Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
gestão previstas em lei, alcançarem evolução de indicadores a XII - lei específica disporá sobre o piso salarial profissional
serem definidos, de atendimento e melhoria da aprendizagem com nacional para os profissionais do magistério da educação básica
redução das desigualdades, nos termos do sistema nacional de pública; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
avaliação da educação básica; (Incluído pela Emenda Constitucio- XIII - a utilização dos recursos a que se refere o § 5º do art. 212
nal nº 108, de 2020) desta Constituição para a complementação da União ao Fundeb,
VI - o VAAT será calculado, na forma da lei de que trata o inci- referida no inciso V do caput deste artigo, é vedada. (Incluído pela
so X do caput deste artigo, com base nos recursos a que se refere Emenda Constitucional nº 108, de 2020)
o inciso II do caput deste artigo, acrescidos de outras receitas e
de transferências vinculadas à educação, observado o dispos-
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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 1º O cálculo do VAAT, referido no inciso VI do caput deste • Cultura
artigo, deverá considerar, além dos recursos previstos no Dentro do item cultura, deve-se atentar para o Plano Nacional
inciso II do caput deste artigo, pelo menos, as seguintes da Cultura (EC n. 48/2005) e para o Sistema Nacional da Cultura
disponibilidades: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de (EC n. 71/2012).
2020)
I - receitas de Estados, do Distrito Federal e de Municípios SEÇÃO II
vinculadas à manutenção e ao desenvolvimento do ensino não DA CULTURA
integrantes dos fundos referidos no inciso I do caput deste arti-
go; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos
II - cotas estaduais e municipais da arrecadação do salário-e- direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará
ducação de que trata o § 6º do art. 212 desta Constituição; (Incluí- e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
do pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) § 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas
III - complementação da União transferida a Estados, ao Dis- populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos
trito Federal e a Municípios nos termos da alínea “a” do inciso V participantes do processo civilizatório nacional.
do caput deste artigo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº § 2º A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de
108, de 2020) alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
§ 2º Além das ponderações previstas na alínea «a» do § 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de
inciso X do caput deste artigo, a lei definirá outras relativas duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e
ao nível socioeconômico dos educandos e aos indicadores de à integração das ações do poder público que conduzem à:
disponibilidade de recursos vinculados à educação e de potencial I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;
de arrecadação tributária de cada ente federado, bem como seus II produção, promoção e difusão de bens culturais;
prazos de implementação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura
108, de 2020) em suas múltiplas dimensões;
§ 3º Será destinada à educação infantil a proporção de 50% IV democratização do acesso aos bens de cultura;
(cinquenta por cento) dos recursos globais a que se refere a alínea V valorização da diversidade étnica e regional.
«b» do inciso V do caput deste artigo, nos termos da lei.” (Incluído Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens
pela Emenda Constitucional nº 108, de 2020) de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em
Art. 213. Os recursos públicos serão destinados às escolas pú- conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memó-
blicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos
ou filantrópicas, definidas em lei, que: quais se incluem:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e apliquem seus exce- I - as formas de expressão;
dentes financeiros em educação; II - os modos de criar, fazer e viver;
II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espa-
caso de encerramento de suas atividades. ços destinados às manifestações artístico-culturais;
§ 1º - Os recursos de que trata este artigo poderão ser V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagísti-
destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, co, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de § 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade,
recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro,
pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento
Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sua e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
rede na localidade. preservação.
§ 2º As atividades de pesquisa, de extensão e de estímulo § 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a
e fomento à inovação realizadas por universidades e/ou por gestão da documentação governamental e as providências para
instituições de educação profissional e tecnológica poderão franquear sua consulta a quantos dela necessitem.
receber apoio financeiro do Poder Público. (Redação dada pela § 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) conhecimento de bens e valores culturais.
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de § 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão
duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de punidos, na forma da lei.
educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, § 5º Ficam tombados todos os documentos e os sítios
metas e estratégias de implementação para assegurar a manuten- detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
ção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas § 6º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular
e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por
das diferentes esferas federativas que conduzam a: cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de
I - erradicação do analfabetismo; programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos
II - universalização do atendimento escolar; no pagamento de:
III - melhoria da qualidade do ensino; I - despesas com pessoal e encargos sociais;
IV - formação para o trabalho; II - serviço da dívida;
V - promoção humanística, científica e tecnológica do País. III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamen-
VI - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públi- te aos investimentos ou ações apoiados.
cos em educação como proporção do produto interno bruto. Art. 216-A. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em
regime de colaboração, de forma descentralizada e participativa,
institui um processo de gestão e promoção conjunta de políticas
públicas de cultura, democráticas e permanentes, pactuadas entre
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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
os entes da Federação e a sociedade, tendo por objetivo promover § 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina
o desenvolvimento humano, social e econômico com pleno exercí- e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da
cio dos direitos culturais. justiça desportiva, regulada em lei.
§ 1º O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na política § 2º A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta
nacional de cultura e nas suas diretrizes, estabelecidas no Plano dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão
Nacional de Cultura, e rege-se pelos seguintes princípios: final.
I - diversidade das expressões culturais; § 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma de
II - universalização do acesso aos bens e serviços culturais; promoção social.
III - fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento
e bens culturais; Ciência, Tecnologia e Comunicação Social
IV - cooperação entre os entes federados, os agentes públicos Atentamos ao fato de que, até 2015, a denominação deste
e privados atuantes na área cultural; capítulo era “da ciência e tecnologia”, sendo que a “inovação” foi
V - integração e interação na execução das políticas, progra- incorporada pela EC n. 85/2015.
mas, projetos e ações desenvolvidas; Um ponto importante a ser destacado, exatamente por tratar-
VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais; -se de uma exceção, é a faculdade aos Estados e ao Distrito Federal
VII - transversalidade das políticas culturais; de vincular parcela de sua receita orçamentária a entidades públi-
VIII - autonomia dos entes federados e das instituições da cas de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
sociedade civil; A grande importância desse dispositivo decorre de dois mo-
IX - transparência e compartilhamento das informações; tivos: primeiro, por ser uma exceção à proibição de vinculação de
X - democratização dos processos decisórios com participação receita orçamentária; segundo, por não estender a possibilidade
e controle social; de vinculação à União e aos Municípios.
XI - descentralização articulada e pactuada da gestão, dos A EC n. 85/2015 introduziu o artigo 219-B da Constituição, que
recursos e das ações; trata do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, orga-
XII - ampliação progressiva dos recursos contidos nos orça- nizado em regime de colaboração, tanto público quanto privado.
mentos públicos para a cultura. O objetivo da criação do sistema é promover o desenvolvi-
§ 2º Constitui a estrutura do Sistema Nacional de Cultura, nas mento científico e tecnológico e a inovação. Quanto aos pormeno-
respectivas esferas da Federação: res, a Constituição delega essa tarefa à lei federal, mas logo depois
I - órgãos gestores da cultura; prevê que os Estados, o DF e os Municípios também legislarão con-
II - conselhos de política cultural; correntemente sobre o tema, para atender suas peculiaridades.
III - conferências de cultura;
IV - comissões intergestores; CAPÍTULO IV
V - planos de cultura; DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
VI - sistemas de financiamento à cultura; (REDAÇÃO DADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 85,
VII - sistemas de informações e indicadores culturais; DE 2015)
VIII - programas de formação na área da cultura;
IX - sistemas setoriais de cultura. Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento
§ 3º Lei federal disporá sobre a regulamentação do Sistema científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a ino-
Nacional de Cultura, bem como de sua articulação com os demais vação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
sistemas nacionais ou políticas setoriais de governo. § 1º A pesquisa científica básica e tecnológica receberá
§ 4º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e
seus respectivos sistemas de cultura em leis próprias. o progresso da ciência, tecnologia e inovação. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
• Desporto § 2º A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente
Sobre o desporto, ressaltam-se dois pontos: o primeiro, sobre para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento
o fato de a Justiça Desportiva não integrar o Poder Judiciário; o do sistema produtivo nacional e regional.
segundo, sobre a chamada instância administrativa de cunho for- § 3º O Estado apoiará a formação de recursos humanos nas
çado. áreas de ciência, pesquisa, tecnologia e inovação, inclusive por
meio do apoio às atividades de extensão tecnológica, e concederá
SEÇÃO III aos que delas se ocupem meios e condições especiais de trabalho.
DO DESPORTO (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
§ 4º A lei apoiará e estimulará as empresas que invistam
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas em pesquisa, criação de tecnologia adequada ao País, formação
formais e não-formais, como direito de cada um, observados: e aperfeiçoamento de seus recursos humanos e que pratiquem
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associa- sistemas de remuneração que assegurem ao empregado,
ções, quanto a sua organização e funcionamento; desvinculada do salário, participação nos ganhos econômicos
II - a destinação de recursos públicos para a promoção priori- resultantes da produtividade de seu trabalho.
tária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do § 5º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular
desporto de alto rendimento; parcela de sua receita orçamentária a entidades públicas de
III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
não- profissional; § 6º O Estado, na execução das atividades previstas no caput,
IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de estimulará a articulação entre entes, tanto públicos quanto
criação nacional. privados, nas diversas esferas de governo. Incluído pela Emenda
Constitucional nº 85, de 2015)

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 7º O Estado promoverá e incentivará a atuação no exterior § 4º A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas,
das instituições públicas de ciência, tecnologia e inovação, com agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a restrições
vistas à execução das atividades previstas no caput. (Incluído pela legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e conterá,
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) sempre que necessário, advertência sobre os malefícios
Art. 219. O mercado interno integra o patrimônio nacional e decorrentes de seu uso.
será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e § 5º Os meios de comunicação social não podem, direta ou
socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnoló- indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
gica do País, nos termos de lei federal. § 6º A publicação de veículo impresso de comunicação
Parágrafo único. O Estado estimulará a formação e o fortale- independe de licença de autoridade.
cimento da inovação nas empresas, bem como nos demais entes, Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio
públicos ou privados, a constituição e a manutenção de parques e e televisão atenderão aos seguintes princípios:
polos tecnológicos e de demais ambientes promotores da inova- I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e
ção, a atuação dos inventores independentes e a criação, absor- informativas;
ção, difusão e transferência de tecnologia. (Incluído pela Emenda II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à pro-
Constitucional nº 85, de 2015) dução independente que objetive sua divulgação;
Art. 219-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu- III - regionalização da produção cultural, artística e jornalísti-
nicípios poderão firmar instrumentos de cooperação com órgãos ca, conforme percentuais estabelecidos em lei;
e entidades públicos e com entidades privadas, inclusive para o IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
compartilhamento de recursos humanos especializados e capa- Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifu-
cidade instalada, para a execução de projetos de pesquisa, de são sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou
desenvolvimento científico e tecnológico e de inovação, mediante naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas consti-
contrapartida financeira ou não financeira assumida pelo ente tuídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.
beneficiário, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional § 1º Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do
nº 85, de 2015) capital total e do capital votante das empresas jornalísticas e de
Art. 219-B. O Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Ino- radiodifusão sonora e de sons e imagens deverá pertencer, direta
vação (SNCTI) será organizado em regime de colaboração entre ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de
entes, tanto públicos quanto privados, com vistas a promover o dez anos, que exercerão obrigatoriamente a gestão das atividades
desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação. (Incluído e estabelecerão o conteúdo da programação.
pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) § 2º A responsabilidade editorial e as atividades de seleção
§ 1º Lei federal disporá sobre as normas gerais do SNCTI. e direção da programação veiculada são privativas de brasileiros
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015) natos ou naturalizados há mais de dez anos, em qualquer meio de
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios legislarão comunicação social.
concorrentemente sobre suas peculiaridades. (Incluído pela § 3º Os meios de comunicação social eletrônica,
Emenda Constitucional nº 85, de 2015) independentemente da tecnologia utilizada para a prestação do
serviço, deverão observar os princípios enunciados no art. 221,
• Comunicação Social na forma de lei específica, que também garantirá a prioridade de
Dentro da comunicação social, atenta-se a uma das hipóteses profissionais brasileiros na execução de produções nacionais.
de distinção entre natos e naturalizados (propriedade de empresa § 4º Lei disciplinará a participação de capital estrangeiro nas
jornalística), à vedação a censura e também à inexigência de diplo- empresas de que trata o § 1º.
ma de jornalismo para o exercício da profissão de jornalista. § 5º As alterações de controle societário das empresas de que
trata o § 1º serão comunicadas ao Congresso Nacional.
CAPÍTULO V Art. 223. Compete ao Poder Executivo outorgar e renovar
DA COMUNICAÇÃO SOCIAL concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão
sonora e de sons e imagens, observado o princípio da complemen-
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expres- taridade dos sistemas privado, público e estatal.
são e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não § 1º O Congresso Nacional apreciará o ato no prazo do art. 64,
sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constitui- § 2º e § 4º, a contar do recebimento da mensagem.
ção. § 2º A não renovação da concessão ou permissão dependerá
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir de aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso Nacional,
embaraço à plena liberdade de informação jornalística em em votação nominal.
qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no § 3º O ato de outorga ou renovação somente produzirá efeitos
art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. legais após deliberação do Congresso Nacional, na forma dos
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, parágrafos anteriores.
ideológica e artística. § 4º O cancelamento da concessão ou permissão, antes de
§ 3º Compete à lei federal: vencido o prazo, depende de decisão judicial.
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Po- § 5º O prazo da concessão ou permissão será de dez anos para
der Público informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que as emissoras de rádio e de quinze para as de televisão.
não se recomendem, locais e horários em que sua apresentação se Art. 224. Para os efeitos do disposto neste capítulo, o Con-
mostre inadequada; gresso Nacional instituirá, como seu órgão auxiliar, o Conselho de
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à Comunicação Social, na forma da lei.
família a possibilidade de se defenderem de programas ou progra-
mações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221,
bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que
possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Meio Ambiente § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
O direito ao meio ambiente equilibrado está entre os chama- ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
dos direitos de terceira geração/dimensão, ou seja, aqueles conhe- a sanções penais e administrativas, independentemente da
cidos como direitos de fraternidade/solidariedade. Eles abrangem obrigação de reparar os danos causados.
os direitos difusos, coletivos, meta ou transindividuais, como é o § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a
caso do meio ambiente, da proteção aos consumidores, a aposen- Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira
tadoria etc. são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da
lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
Segundo a norma constitucional, todos têm direito ao meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
ambiente ecologicamente equilibrado, bem como de uso comum § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao po- pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção
der público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo dos ecossistemas naturais.
para as presentes e futuras gerações. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter
Há dois princípios muito aplicados no direito ambiental: o da sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser
prevenção e o da precaução. O objetivo de ambos é o mesmo, ou instaladas.
seja, impedir danos ao meio ambiente, por meio de cautelas dire- § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º
cionadas a atividades potencialmente poluidoras ou que utilizem deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas
recursos naturais. que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais,
conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas
• Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio am- cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica
biente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a san- que assegure o bem-estar dos animais envolvidos. (Incluído pela
ções penais e administrativas, independentemente da obrigação Emenda Constitucional nº 96, de 2017)
de reparar os danos causados.
As pessoas físicas e jurídicas estão sujeitas à responsabilização Família, Criança, Adolescente e Idoso
penal, civil e administrativa quando praticarem atos lesivos ao
meio ambiente. • Família
É importante nos atentarmos, qual abrangente o conceito do
CAPÍTULO VI termo “família”, já que engloba combinações mais amplas (uniões
DO MEIO AMBIENTE plúrimas, homoafetivas etc.), não previstas no texto constitucional.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente • Criança e Adolescente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali- Quanto à criança e ao adolescente, deve-se dar atenção espe-
dade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever cial para a responsabilização por atos infracionais.
de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações. Além disso, o tema relativo ao jovem, apesar de não ser muito
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao cobrado, chama-se a atenção apenas ao plano nacional da juven-
Poder Público: tude e sua duração.
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; • Idoso
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio Por fim, o idoso tem repercussões relevantes na jurisprudên-
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e cia e na interpretação de algumas leis, como é o caso do Estatuto
manipulação de material genético; do Idoso.
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços ter-
ritoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, CAPÍTULO VII
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE, DO JOVEM
lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos E DO IDOSO
atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou ativi- Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção
dade potencialmente causadora de significativa degradação do do Estado.
meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
publicidade; § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar,
a qualidade de vida e o meio ambiente; devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a
ensino e a conscientização pública para a preservação do meio comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
ambiente; § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem § 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.
a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre
recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visan-
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou do à articulação das várias esferas do poder público para a execu-
privadas. ção de políticas públicas.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a anos, sujeitos às normas da legislação especial.
violência no âmbito de suas relações. Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os fi-
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegu- lhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar
rar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, os pais na velhice, carência ou enfermidade.
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de am-
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade parar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comuni-
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo dade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, direito à vida.
crueldade e opressão. § 1º Os programas de amparo aos idosos serão executados
§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral preferencialmente em seus lares.
à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a § 2º Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a
participação de entidades não governamentais, mediante políticas gratuidade dos transportes coletivos urbanos.
específicas e obedecendo aos seguintes preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à Índios
saúde na assistência materno-infantil; De acordo com o art. 231, da CF, são reconhecidos aos índios
II - criação de programas de prevenção e atendimento espe- sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
cializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
ou mental, bem como de integração social do adolescente e do competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos
jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o os seus bens.
trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e ser- Entende-se por terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
viços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de aquelas por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas
todas as formas de discriminação. para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação
§ 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as neces-
e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de sárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costu-
transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas mes e tradições.
portadoras de deficiência. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se
§ 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das
aspectos: riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, São inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, im-
observado o disposto no art. 7º, XXXIII; prescritíveis. Em outras palavras, elas não podem ser vendidas e
II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; não podem ser objeto de usucapião (prescrição aquisitiva).
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da
escola; União. Eles possuem apenas o direito à posse e ao usufruto (artigo
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de 20, inciso XI, Constituição).
ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica
por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar CAPÍTULO VIII
específica; DOS ÍNDIOS
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quan- Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social,
do da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou aban- § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as
donado; por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos
criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias
drogas afins. a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e
§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a tradições.
exploração sexual da criança e do adolescente. § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios
§ 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto
lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas
de estrangeiros. existentes.
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou § 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os
por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do
§ 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes
levar-se- á em consideração o disposto no art. 204. assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
§ 8º A lei estabelecerá: § 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e
I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
jovens;
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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas 3. (FGV – 2021) Conforme disposto na Constituição Federal é
terras, salvo, «ad referendum» do Congresso Nacional, em caso direito dos trabalhadores urbanos e rurais o décimo terceiro salário,
de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou que será baseado:
no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso (A) na remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato (B) no valor suplementar do bônus de participação do lucro.
logo que cesse o risco. (C) na alíquota de encargos previdenciários do período vigente.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os (D) no maior salário mínimo do país ou conforme for estipulado
atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das no estatuto da empresa.
terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas (E) no salário completo ou no valor pago de imposto sobre a
naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado renda retido na fonte.
relevante interesse público da União, segundo o que dispuser
lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito 4. (VUNESP – 2021) É um cargo público privativo de brasileiro
a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, nato:
quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé. (A) de Procurador Geral da República.
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § (B) de Ministro do Tribunal de Contas da União.
3º e § 4º. (C) de Presidente da Câmara dos Deputados.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são (D) de Presidente do Superior Tribunal de Justiça.
partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos (E) de Senador da República.
e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do
processo. 5. (CESPE / CEBRASPE – 2021) Com base no disposto na Cons-
tituição Federal, julgue os seguintes itens, relativos a direitos políti-
cos e partidos políticos.
QUESTÕES I Direito político passivo corresponde ao direito do eleitor de
votar.
II O cancelamento da naturalização por sentença transitada em
1. (OBJETIVA – 2021) De acordo com a Constituição Federal, julgado implica perda dos direitos políticos.
todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, III Em se tratando de eleições proporcionais, o mandato per-
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a tence ao candidato eleito, e não ao partido político sob cuja legen-
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à seguran- da o candidato disputou o processo eleitoral.
ça e à propriedade, nos seguintes termos, entre outros:
I. É vedada a expressão da atividade intelectual, artística, cien- Assinale a opção correta.
tífica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. (A) Apenas o item I está certo.
II. É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o (B) Apenas o item II está certo.
sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional. (C) Apenas os itens I e III estão certos.
III. É relativo o caráter de inviolabilidade do sigilo da corres- (D) Apenas os itens II e III estão certos.
pondência e das comunicações telefônicas, uma vez que, poderá (E) Todos os itens estão certos.
ser mitigado por ordem judicial para fins de instrução processual
penal e, nos casos de investigação criminal, por determinação do 6. (UFPE-CES – 2021) O artigo 18 da Constituição da Repúbli-
delegado responsável pela investigação. ca Federativa do Brasil é um dos mais importantes delineadores da
organização do Estado Brasileiro. De acordo com o texto do artigo,
Está(ão) CORRETO(S): a organização político-administrativa da República Federativa do
(A) Somente o item I. Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
(B) Somente o item II. nicípios todos
(C) Somente os itens I e III. (A) autônomos, nos termos da Constituição.
(D) Somente os itens II e III. (B) centralizados, com organização das regras gerais pela União
(E) Todos os itens. e das regras particulares por estados e municípios.
(C) descentralizados, com foco na autonomia municipal.
2. (FUNDATEC – 2021) Conforme o Art. 5º da Constituição da (D) politicamente independentes, com a soberania reconheci-
República Federativa do Brasil de 1988, assinale a alternativa IN- da ao Estado brasileiro e dividida entre os entes.
CORRETA. (E) vinculados politicamente sob os fundamentos da soberania,
(A) É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano- cidadania e dos Direitos Humanos.
nimato.
(B) É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, 7. (FCC – 2021) Compete à União legislar privativamente sobre
além da indenização por dano material, moral ou à imagem. (A) educação e cultura.
(C) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, (B) proteção à infância e juventude.
independentemente das qualificações profissionais que a lei (C) assistência jurídica e Defensoria Pública.
estabelecer. (D) direito econômico e urbanístico.
(D) É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência (E) trânsito e transporte.
religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
(E) É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a
de caráter paramilitar.

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
8. (FUNDEP – 2021) Sobre os municípios na Constituição da Re- 11. (SSP/AM - Técnico de Nível Superior – FGV/2022) O Presi-
pública de 1988, assinale a alternativa correta. dente e o Vice-Presidente da República se encontravam em missão
(A) Compete aos municípios legislar tanto sobre matérias de oficial no exterior, daí decorrendo a necessidade de que outra auto-
interesse local quanto de interesse regional. ridade assumisse o exercício da Presidência.
(B) Os municípios são regidos por lei orgânica, votada em dois À luz da sistemática constitucional, a autoridade referida na
turnos e aprovada por dois terços dos membros da Câmara narrativa será
Municipal. (A) aquela que venha a ser livremente escolhida pelo Presiden-
(C) A composição da Câmara Municipal será sempre de nove te da República.
vereadores, independentemente do número de habitantes do (B) aquela escolhida pelo Presidente da República entre os Pre-
município. sidentes do Supremo Tribunal Federal, da Câmara dos Deputa-
(D) Os municípios são fiscalizados pela Câmara Municipal, pelo dos e do Senado Federal.
Tribunal de Contas Municipal e pela Assembleia Legislativa Es- (C) o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Fede-
tadual. ral ou o do Supremo Tribunal Federal, nessa ordem, que serão
chamados ao exercício da Presidência.
9. (FUNDATEC – 2021) Em relação aos princípios constitucionais (D) aquela que venha a ser livremente escolhida pelo Presiden-
que regem a administração pública(conforme artigo 37 da Consti- te da República, entre os Presidentes do Supremo Tribunal Fe-
tuição Federal vigente), analise as assertivas a seguir: deral, da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
• O Princípio da __________ exige que a atividade administra- (E) o Presidente do Congresso Nacional, o da Câmara dos Depu-
tiva seja desenvolvida de modo leal e que assegure a toda a comu- tados, o do Senado Federal ou o do Supremo Tribunal Federal,
nidade a obtenção de vantagens justas. nessa ordem, que serão chamados ao exercício da Presidência.
• As ações do administrador público são plenamente vincula-
das ao que estabelecem as normas vigentes, ou seja, ele somente 12. (Prefeitura de São Gonçalo/RJ - Analista de Contabilidade –
pode fazer o que a lei autoriza ou determina. Diferente do gestor SELECON/2022) Ubon Pakpao é jornalista e faz pesquisa documen-
privado, que pode fazer tudo o que a lei não proíbe. Esse é o Prin- tal sobre a atividade do Poder Executivo nacional. Verifica, através
cípio da __________. dos estudos de especialistas em Direito Constitucional, que a ativi-
• O Princípio da __________ exige que os atos estatais sejam dade do Presidente da República representando o Brasil no exterior
levados ao conhecimento de todos, ressalvadas hipóteses em que é típica de:
se justificar o sigilo. (A) Representante da União.
(B) Chefe de Estado.
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamen- (C) Comandante Supremo.
te, as lacunas dos trechos acima. (D) Líder da Federação.
(A) Eficiência – Impessoalidade – Transparência
(B) Eficiência – Legalidade – Transparência 13. (FCC – 2021) A ruptura da segurança pública, conforme pre-
(C) Moralidade – Impessoalidade – Publicidade visão constitucional,
(D) Moralidade – Impessoalidade – Transparência (A) não autoriza a decretação do Estado de Defesa, mas permi-
(E) Moralidade – Legalidade – Publicidade te a restrição de alguns direitos fundamentais.
(B) autoriza a decretação do Estado de Defesa.
10. (UFPel-CES – 2021) De acordo com o art. 41 da Constituição (C) autoriza a decretação do Estado de Defesa, com tão-somen-
Federal, são estáveis após três anos de exercício, os servidores no- te a restrição da mobilidade urbana, se necessário.
meados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso (D) não autoriza a decretação do Estado de Defesa.
público, sendo (E) autoriza o Estado de Defesa, desde que não haja qualquer
(A) condição para a aquisição da estabilidade a avaliação es- restrição a direitos fundamentais.
pecial de desempenho por comissão instituída para essa fina-
lidade. 14. (PM-MT – 2021) A respeito dos órgãos responsáveis pela
(B) vedada a invalidação da demissão de servidor estável por segurança pública previstos na Constituição Federal de 1988, mar-
sentença judicial, pois não pode o Poder Judiciário intervir em que V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
ato da administração pública. ( ) As polícias federal e rodoviária federal exercem, com exclusi-
(C) que em caso de extinção do cargo, o servidor estável será vidade, as funções de polícia judiciária da União.
demitido. ( ) A polícia rodoviária dos Estados e os agentes de trânsito dos
(D) inadmissível que o servidor conteste o resultado da avalia- Municípios, desde que estruturados em carreiras, na forma da lei,
ção periódica de desempenho. integram os órgãos de segurança pública.
(E) o processo administrativo meio inviável para proceder a de- ( ) As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, for-
missão de servidor público estável. ças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se aos Governado-
res dos Estados e do Distrito Federal.
( ) Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sis-
tema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a segu-
rança dos estabelecimentos penais. Assinale a sequência correta.

(A) F, F, V, V
(B) V, V, F, V
(C) F, V, V, F
(D) V, F, F, V
(E) F, F, V, F

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
15. (INSTITUTO AOCP – 2021) A segurança pública, dever do (D) a referida iniciativa está condicionada à prévia autorização
Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a pre- das três esferas de governo, considerando o caráter multifede-
servação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do pa- rativo do Sistema Único de Saúde.
trimônio. Sobre o tema, assinale a alternativa correta. (E) as instituições privadas de saúde, como a idealizada por Cé-
(A) A polícia federal, instituída por lei como órgão permanen- lia, somente podem atuar em projetos direcionados à obtenção
te, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, de lucro, não podendo participar do Sistema Único de Saúde.
destina-se a exercer as funções de polícia judiciária da União,
mas sem exclusividade. 18. (PC/AM - Delegado de Polícia – FGV/2022) A Lei XX, do
(B) A segurança viária compete, no âmbito dos Estados, do Dis- Município Alfa, dispôs sobre os requisitos a serem atendidos pelos
trito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos ou enti- meios impressos de comunicação social para que possam ser publi-
dades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em cados no território do Município Alfa.
Carreira, na forma da lei. Entre esses requisitos estão:
(C) A lei não disciplinará a organização e o funcionamento dos I. a necessidade de que obtenham licença da autoridade muni-
órgãos responsáveis pela segurança pública, cabendo a cada cipal competente;
órgão determinar suas diretrizes a fim de garantir a eficiência II. cada exemplar se ajuste aos padrões de moralidade sedi-
de suas atividades. mentados na sociedade, a ser objeto de verificação prévia à sua
(D) As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, for- circulação.
ças auxiliares e reserva do Exército subordinam-se, ao contrário
das polícias civis e das polícias penais estaduais e distrital, aos À luz da sistemática constitucional, é correto afirmar que
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (A) o requisito I somente será constitucional se a licença for
(E) A polícia ferroviária federal, órgão transitório, organizado e concedida de forma vinculada, enquanto o requisito II é incons-
mantido pelos Estados e estruturado em carreira, destina-se, titucional por importar em censura prévia.
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias fe- (B) o requisito I é inconstitucional porque a publicação de ve-
derais. ículo impresso independe de licença de autoridade, o mesmo
ocorrendo com o requisito II, por importar em censura prévia.
16. (SSP/AM - Técnico de Nível Superior – FGV/2022) Com o (C) o requisito I somente será constitucional se a licença for
objetivo de combater o desenvolvimento de uma base de valores concedida de forma vinculada, mas o requisito II somente não
patriarcal, na qual a mulher ocupe uma posição de inferioridade, caracterizará censura prévia se for assegurado o contraditório
sofrendo constantes violências no ambiente familiar, um grupo de e a ampla defesa.
Deputados Federais apresentou projeto de lei ordinária dispondo (D) o requisito I é constitucional, porque toda atividade econô-
que as decisões da mulher, na educação dos filhos, teriam preemi- mica depende de autorização do Poder Público, mas o requisi-
nência, devendo ser sempre acatadas pelo homem. to II somente será constitucional se a possível negativa estiver
À luz da sistemática constitucional, é correto afirmar que o re- embasada em dados colhidos em audiência pública.
ferido projeto é (E) o requisito I é constitucional, porque toda atividade eco-
(A) constitucional, considerando que a própria Constituição da nômica depende de autorização do Poder Público, o mesmo
República autoriza o tratamento diferenciado, em prol da mu- ocorrendo com o requisito II, que é uma forma de proteger o
lher, para se construir a igualdade material com o homem. interesse coletivo contra os excessos individuais.
(B) constitucional, considerando que a educação de crianças e
adolescentes deve estar lastreada em uma base de valores hu- 19. (DPE/TO - Defensor Público Substituto – CESPE/CEBRAS-
manitária, com preeminência da igualdade de gênero. PE/2022) No que tange ao regime jurídico de proteção das comuni-
(C) constitucional, considerando a preeminência da posição dades quilombolas, assinale a opção correta.
materna, no ambiente familiar, nas relações com crianças e (A) O Supremo Tribunal Federal admite a existência da denomi-
adolescentes. nada tese do marco temporal em relação ao reconhecimento
(D) inconstitucional, pois a temática deve ser disciplinada ex- da propriedade dos remanescentes de comunidades de qui-
clusivamente em lei complementar, não em lei ordinária. lombos.
(E) inconstitucional, pois os direitos e deveres afetos à socie- (B) A Constituição Federal de 1988, em atenção ao valor histó-
dade conjugal devem ser exercidos igualmente pelo homem e rico-cultural dos extintos quilombos, consagrou diretamente,
pela mulher. independentemente de lei, o tombamento de todos os docu-
mentos e sítios detentores de reminiscências históricas que
17. (MPE/BA - Estagiário de Direito – FGV/2022) Célia pretendia lhes fazem referência.
montar um hospital privado no Município Delta, iniciativa que, a (C) A Constituição Federal de 1988, ao reconhecer o direito de
seu ver, teria plena aceitação junto à população local, sendo grande propriedade aos remanescentes das comunidades dos quilom-
a expectativa de lucro. bos, faz referência exclusiva às comunidades compostas por
Ao buscar informações a respeito dos balizamentos constitu- ex-escravizados, sem levar em conta outros processos de an-
cionais a serem observados em iniciativas dessa natureza, foi infor- cestralidade negra relacionados com a resistência histórica à
mada, corretamente, de que: opressão perpetrada contra o povo negro.
(A) a assistência à saúde é necessariamente pública, pressu-
pondo autorização do Município para a sua exploração privada.
(B) a assistência à saúde é livre à iniciativa privada, o que sig-
nifica dizer que não exige autorização do poder público para
esse fim.
(C) mesmo os hospitais privados devem ser objeto de autoriza-
ção e supervisão do poder público, estando conceitualmente
integrados à rede pública.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
(D) Segundo o Decreto nº 4.887/2003, competem à Fundação
Cultural Palmares a identificação, o reconhecimento, a delimi-
ANOTAÇÕES
tação, a demarcação e a titulação das terras ocupadas pelos
remanescentes das comunidades dos quilombos, sem prejuízo ______________________________________________________
da competência concorrente dos estados, do Distrito Federal e
dos municípios. ______________________________________________________
(E) O Decreto nº 4.887/2003 reconhece o critério da auto iden-
tificação das comunidades quilombolas e determina que ele, ______________________________________________________
assim como o instrumento de vínculo associativo, seja inscrito
no cadastro geral junto ao Instituto Nacional de Colonização e ______________________________________________________
Reforma Agrária (INCRA).
______________________________________________________
20. (FUNPRESP/EXE - Analista de Previdência Complementar - ______________________________________________________
CESPE/CEBRASPE/2022) Com base no texto da Constituição Federal
de 1988, julgue o item seguinte. ______________________________________________________
O participante de regime próprio de previdência social somen-
te poderá se filiar ao regime geral de previdência social na qualida- ______________________________________________________
de de segurado facultativo.
( ) Certo ______________________________________________________
( ) Errado
______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

_____________________________________________________
1 B
2 C _____________________________________________________
3 A ______________________________________________________
4 C
______________________________________________________
5 B
6 A ______________________________________________________
7 E ______________________________________________________
8 B
______________________________________________________
9 E
______________________________________________________
10 A
11 C ______________________________________________________
12 B ______________________________________________________
13 B
______________________________________________________
14 A
15 B ______________________________________________________

16 E ______________________________________________________
17 B
______________________________________________________
18 B
______________________________________________________
19 B
20 ERRADO ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO
PENAL

tratividade da lei. A lei não está mais vigente, porque só abrangia


PRINCÍPIOS BÁSICOS um período determinado, mas para os fatos praticados no período
que estava vigente há punição.

Princípio da Legalidade Princípio da individualização da pena


Nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena As pessoas são diferentes, os crimes por mais que se enqua-
criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência deste fato drem em um tipo penal, ocorrem de maneira distinta. Assim, a
exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção individualização da pena busca se adequar à individualidade de
correspondente (nullum crimen sine praevia lege). Ou seja, a lei cada um, em 3 fases:
precisa existir antes da conduta, para que seja atendido o princípio • Legislativa: o legislador ao pensar no crime e nas penas em
da legalidade. abstrato precisa ter proporcionalidade para adequar a cominação
de punições à gravidade dos crimes;
Princípio da Reserva Legal • Judicial: o juiz ao realizar a dosimetria da pena precisa ade-
Somente a lei em sentido estrito, emanada do Poder Legisla- quar o tipo penal abstrato ao caso concreto;
tivo, pode definir condutas criminosas e estabelecer sanções pe- • Administrativa: na execução da pena as decisões do juiz da
nais. Todavia, de acordo com posicionamento do STF, norma não execução precisam ser pautadas na individualidade de cada um.
incriminadora (mais benéfica ao réu) pode ser editada por medida
provisória. Outro entendimento interessante do STF é no sentido Princípio da intranscendência da pena
de que no Direito Penal cabe interpretação extensiva, uma vez Este princípio impede que a pena ultrapasse a pessoa do in-
que, nesse caso a previsão legal encontra-se implícita. frator, ex. não se estende aos familiares. Todavia, a obrigação de
reparar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser
Princípio da Taxatividade atribuídas aos sucessores, mas somente até o limite do valor da
Significa a proibição de editar leis vagas, com conteúdo impre- herança. Isso ocorre porque tecnicamente o bem é do infrator,
ciso. Ou seja, ao dizer que a lei penal precisa respeitar a taxativida- os sucessores vão utilizar o dinheiro do infrator para realizarem o
de enseja-se a ideia de que a lei tem que estabelecer precisamen- pagamento.
te a conduta que está sendo criminalizada. No Direito Penal não Multa é espécie de pena, portanto, não pode ser executada
resta espaço para palavras não ditas. em face dos herdeiros. Com a morte do infrator extingue-se a
punibilidade, não podendo ser executada a pena de multa.
Princípio da anterioridade da lei penal
Em uma linguagem simples, a lei que tipifica uma conduta Princípio da limitação das penas ou da humanidade
precisa ser anterior à conduta. De acordo com a Constituição Federal, são proibidas as se-
Na data do fato a conduta já precisa ser considerada crime, guintes penas:
mesmo porque como veremos adiante, no Direito Penal a lei não • Morte (salvo em caso de guerra declarada);
retroage para prejudicar o réu, só para beneficiá-lo. • Perpétua;
Ou seja, a anterioridade culmina no princípio da irretroati- • Trabalho forçado;
vidade da lei penal. Somente quando a lei penal beneficia o réu, • Banimento;
estabelecendo uma sanção menos grave para o crime ou quando • Cruéis.
deixa de considerar a conduta como criminosa, haverá a retroa-
tividade da lei penal, alcançando fatos ocorridos antes da sua Esse ditame consiste em cláusula pétrea, não podendo ser
vigência. suprimido por emenda constitucional. Ademais, em razões dessas
proibições, outras normas desdobram-se – ex. o limite de cum-
• 1º fato; primento de pena é de 40 anos, para que o condenado não fique
• Depois lei; para sempre preso; o trabalho do preso sempre é remunerado.
• A lei volta para ser aplicada aos fatos anteriores a ela.
Por outro lado, o princípio da irretroatividade determina que Princípio da Presunção de Inocência ou presunção de não
se a lei penal não beneficia o réu, não retroagirá. E você pode culpabilidade
estar se perguntando, caso uma nova lei deixar de considerar uma Arrisco dizer que é um dos princípios mais controversos no
conduta como crime o que acontece? Abolitio criminis. Nesse STF. Em linhas gerais, significa que nenhuma pessoa pode ser con-
caso, a lei penal, por ser mais benéfica ao réu, retroagirá. siderada culpada antes do trânsito em julgado da sentença penal
No caso das leis temporárias, a lei continua a produzir efeitos condenatória.
mesmo após o fim da sua vigência, caso contrário, causaria impu-
nidade. Não gera abolitio criminis, mas sim uma situação de ul-

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Tal princípio está relacionado ao in dubio pro reo, pois en-
quanto existir dúvidas, o juiz deve decidir a favor do réu. Outra APLICAÇÃO DA LEI PENAL. A LEI PENAL NO TEMPO E NO
implicação relacionada é o fato de que o acusador possui a obriga- ESPAÇO. TEMPO E LUGAR DO CRIME. TERRITORIALIDADE
ção de provar a culpa do réu. Ou seja, o réu é inocente até que o E EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL
acusador prove sua culpa e a decisão se torne definitiva.
Exceções: utiliza-se o princípio in dubio pro societate no caso
de recebimento de denúncia ou queixa; na decisão de pronúncia. Lei Penal em Branco
Não é uma exceção, faz parte da regra: prisões cautelares não ▪ Interpretação e Analogia
ofendem a presunção de inocência, pois servem para garantir que As normas penais em branco são normas que dependem do
o processo penal tenha seu regular trâmite. complemento de outra norma.
Obs.: Prisão como cumprimento de pena não se confunde
com prisão cautelar! Norma Penal em branco Norma Penal em branco
• Processos criminais em curso e IP não podem ser considera- Homogênea Heterogênea
dos maus antecedentes;
• Não há necessidade de condenação penal transitada em A norma complementar
julgado para que o preso sofra regressão de regime; possui o mesmo nível
• A descoberta da prática de crime pelo acusado beneficiado hierárquico da norma penal. A norma complementar
com a suspensão condicional do processo enseja revogação do Quando homovitelina, não possui o mesmo nível
benefício, sem a necessidade do trânsito em julgado da sentença corresponde ao mesmo hierárquico da norma penal. Ex.
condenatória do crime novo. ramo do Direito, ex. o complemento da lei de drogas
Penal e Penal. Quando está em decreto que define
▪ Vedações constitucionais aplicáveis a crimes graves heterovitenila, abrange substâncias consideradas drogas.
ramos diferentes do Direito,
ex. Penal e Civil.
Não recebem
Imprescritível Inafiançável anistia, graça,
Outro ponto fundamental é a diferenciação entre analogia e
indulto
interpretação analógica:
Racismo e Racismo; Ação de
Ação de grupos grupos armados
A lei penal admite interpretação Já a analogia só pode
armados civis civis ou militares Hediondos e
ou militares contra a ordem equiparados analógica para incluir hipóteses ser utilizada em normas
contra a ordem constitucional e o (terrorismo, tráfico análogas às elencadas pelo legislador, não incriminadoras, para
constitucional Estado Democrático; e tortura). ainda que prejudiciais ao agente. beneficiar o réu.
e o Estado Hediondos e
Democrático. equiparados (TTT). Lei Penal no Tempo
▪ Conflito Aparente de Leis Penais e Tempo do Crime
▪ Menoridade Penal Sobre o tempo do crime, é importante saber que: A teoria da
A menoridade penal até os 18 anos consta expressamente na atividade é adotada pelo Código Penal, de maneira que, conside-
CF. Alguns consideram cláusula pétrea, outros entendem que uma ra-se praticado o crime no momento da ação ou omissão (data da
emenda constitucional poderia diminuir a idade. De toda forma, conduta).
atualmente, os menores de 18 anos não respondem penalmente, Nos crimes permanentes e continuados aplica-se a lei em
estando sujeitos ao ECA. vigor ao final da prática criminosa, ainda que mais gravosa. Não é
caso de retroatividade, pois na verdade, a lei mais grave está sen-
do aplicada a um crime que ainda está sendo praticado.
Sobre o conflito aparente de leis penais, a doutrina resolve
essa aparente antinomia através dos seguintes princípios:
• Princípio da especialidade = norma especial prevalece sobre
a geral, ex. infanticídio.
• Princípio da subsidiariedade = primeiro tentar aplicar o
crime mais grave, se não for o caso, aplicar a norma subsidiária,
menos grave.
• Consunção = ao punir o todo pune a parte. Ex. crime pro-
gressivo (o agente necessariamente precisa passar pelo crime
menos grave), progressão criminosa (o agente queria praticar um
crime menos grave, mas em seguida pratica crime mais grave),
atos impuníveis (prévios, simultâneos ou subsequentes).
Lei Penal no Espaço

▪ Lugar do Crime, Territorialidade e Extraterritorialidade


Quanto à aplicação da lei penal no espaço, a regra adotada no
Brasil é a utilização do princípio da territorialidade, ou seja, aplica-
-se a lei penal aos crimes cometidos no território nacional.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no ter- INFRAÇÃO PENAL: ELEMENTOS, ESPÉCIES, SUJEITO ATIVO
ritório nacional. E SUJEITO PASSIVO
Como o CP admite algumas exceções, podemos dizer que foi
adotado o princípio da territorialidade mitigada/temperada.
Fique atento, pois são considerados como território brasileiro A infração penal pode ser conceituada como toda conduta pre-
por extensão: viamente prevista em lei como ilícita, para qual se estabelece uma
• Navios e aeronaves públicos; pena.
• Navios e aeronaves particulares, desde que se encontrem As infrações penais se subdividem em duas espécies: CRIMES e
em alto mar ou no espaço aéreo. Ou seja, não estando no territó- CONTRAVENÇÕES PENAIS.
rio de nenhum outro país.
1) Crime:
Por outro lado, a extraterritorialidade é a aplicação da lei A Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº 3.914, de 9
penal brasileira a um fato criminoso que não ocorreu no território de dezembro de 1941), em seu artigo 1º, conceituou o crime da se-
nacional. guinte forma:“Considera-se crime a infração penal que a lei comina
Extraterritorialidade pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alterna-
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no tiva ou cumulativamente com a pena de multa; (...)
estrangeiro: Já a doutrina majoritária, que adota o conceito analítico de cri-
I - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA): me, defende que crime étodo fato típico, antijurídico e culpável.
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; Nota-se que o conceito analítico é majoritariamente tripartite, visto
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito que considera que o crime possui 3 elementos ou requisitos: o fato
Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa públi- típico, a ilicitude e a culpabilidade.
ca, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público; Elementos do Crime
c) contra a administração pública, por quem está a seu servi- Sobre os elementos do crime, a doutrina destaca duas teorias:
ço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado a) Teoria Bipartida:para esta teoria crime é todo fato típico e
no Brasil; antijurídico (ilícito). Considera, portanto, como elementos do crime
II - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA): apenas o fato típico e a antijuridicidade/ilicitude. A culpabilidade
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a repri- para esta teoria é mero pressuposto para aplicação da pena e não
mir; elemento do crime.
b) praticados por brasileiro; b) Teoria Tripartida (Corrente Majoritária):considera crime
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mer- todo fato típico, antijurídico e culpável (conceito analítico). Aqui,
cantes ou de propriedade privada, quando em território estrangei- a culpabilidade também é considerada elemento do crime, junta-
ro e aí não sejam julgados. mente como fato típico e a antijuridicidade. Na falta de algum des-
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei ses elementos o fato não será considerado crime.
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira de- Análise dos Elementos do Crime: (Conceito Analítico)
pende do concurso das seguintes condições: - Fato Típico: toda conduta que se enquadra em um tipo penal,
a) entrar o agente no território nacional; ou seja, é o fato descrito pela lei penal como crime. Quando alguém
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; pratica um fato que não está descrito em nenhum tipo penal, ele
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasi- será atípico e, portanto, não será crime. O fato típico é composto
leira autoriza a extradição; dos seguintes elementos:Conduta; Nexo Causal;Resultado e Tipici-
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí dade
cumprido a pena; - Antijuridicidade (Ilicitude):o fato para ser antijurídico deve
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por ou- ser contrário às normas do direito penal. Existem situações, no en-
tro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais tanto, que alguns fatos são amparados por causas excludentes de
favorável. ilicitude, como por exemplo na legítima defesa, no estado de ne-
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por cessidade, no estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condi- regular de direito. Nestes casos, o fato será típico, mas não será
ções previstas no parágrafo anterior: antijurídico, logo não haverá crime.
Quanto ao lugar do crime, a teoria adotada é a da ubiquidade: - Culpabilidade: diz respeito a possibilidade ou não de aplica-
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocor- ção de uma pena ao autor de um crime. Para que a pena possa
reu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se ser aplicada, alguns requisitos/elementos são essenciais: imputa-
produziu ou deveria produzir-se o resultado. bilidade penal, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
Portanto, o lugar do crime é tanto o local da ação/omissão, conduta diversa. Ausente quaisquer destes requisitos, não haverá
quanto o local da ocorrência do resultado, ex. o local do disparo da culpabilidade, logo não haverá crime.
arma e o local da morte.
2) Contravenção Penal:
A Lei de Introdução ao Código Penal, em seu artigo 1º, além de
apresentar a conceituação de crime, trouxe também a definição de
contravenção penal da seguinte forma:

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Decreto-Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941 A conduta humana pode ser uma ação ou omissão. Há tam-
Art. 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina bém o crime omissivo impróprio, no qual a ele é imputado o
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alter- resultado, em razão do descumprimento do dever de vigilância,
nativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a de acordo com a TEORIA NATURALÍSTICO-NORMATIVA.
infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão Perceba a diferença:
simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. • Crime comissivo = relação de causalidade física ou natu-
(Grifo nosso) ral que enseja resultado naturalístico, ex. eu mato alguém.
• Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio) = rela-
Nota-se que o legislador diferenciou o crime e a contravenção ção de causalidade normativa, o descumprimento de um dever
penal basicamente com relação a pena aplicada, sendo considerado leva ao resultado naturalístico, ex. uma babá fica no Instagram
crime as infrações mais graves (punidas com reclusão ou detenção) e não vê a criança engolir produtos de limpeza – se tivesse agi-
e contravenção as infrações mais leves (punidas com prisão simples do teria evitado o resultado.
e multa).
Outra diferença entre os dois institutos é que no crime pune-se O dever de agir incumbe a quem?
a tentativa, já na contravenção a tentativa não é punível.
Por fim, nos crimes o tempo de cumprimento das penas priva- A quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilân-
tivas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos, já na cia, ex. os pais.
contravenção penal a pena de prisão simples pode chegar no máxi- A quem tenha assumido a responsabilidade de impedir o resul-
mo a 05 (cinco) anos e é cumprida sem rigor penitenciário. tado, ex. por contrato.
A quem com o seu comportamento anterior, criou o risco da
O FATO TÍPICO E SEUS ELEMENTOS. CRIME CONSUMADO E ocorrência do resultado (norma de ingerência), ex. trote de fa-
TENTADO. ILICITUDE E CAUSAS DE SUA EXCLUSÃO. EXCES‐ culdade.
SO PUNÍVEL. PUNIBILIDADE. EXCESSO PUNÍVEL. CULPABI‐
LIDADE (ELEMENTOS E CAUSAS DE EXCLUSÃO). IMPUTA‐ Quanto ao resultado naturalístico, é considerado como
BILIDADE PENAL. CONCURSO DE PESSOAS mudança do mundo real provocado pela conduta do agente.
Nos crimes materiais exige-se um resultado naturalístico para a
consumação, ex. o homicídio tem como resultado naturalístico
Conceito um corpo sem vida.
O crime, para a teoria tripartida, é fato típico, ilícito e cul- Nos crimes formais, o resultado naturalístico pode ocorrer,
pável. Alguns, entendem que a culpabilidade não é elemento do mas a sua ocorrência é irrelevante para o Direito Penal, ex.
crime (teoria bipartida). auferir de fato vantagem no crime de corrupção passiva é mero
exaurimento.
Classificações Já os crimes de mera conduta são crimes em que não há
• Crime comum: qualquer pessoa pode cometê-lo. um resultado naturalístico, ex. invasão de domicílio – nada
• Crime próprio: exige determinadas qualidades do sujeito. muda no mundo exterior.
• Crime de mão própria: só pode ser praticado pela pessoa. Mas não confunda! O resultado normativo/jurídico ocorre
Não cabe coautoria. em todo e qualquer crime, isto é, lesão ao bem jurídico tutela-
• Crime material: se consuma com o resultado. do pela norma penal.
• Crime formal: se consuma independente da ocorrência do O nexo de causalidade consiste no vínculo que une a con-
resultado. duta do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo
• Crime de mera conduta: não há previsão de resultado na- exterior. No Brasil adotamos a Teoria da Equivalência dos
turalístico. Antecedentes (conditio sine qua non), que considera causa do
crime toda conduta sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Fato Típico e Teoria do Tipo Por algum tempo a teoria da equivalência dos anteceden-
O fato típico divide-se em elementos: tes foi criticada, no sentido de até onde vai a sua extensão?!
• Conduta humana; Em resposta a isso, ficou definido que como filtro o dolo. Ou
• Resultado naturalístico; seja, só será considerada causa a conduta que é indispensável
• Nexo de causalidade; ao resultado e que foi querida pelo agente. Assim, toda condu-
• Tipicidade. ta que leva ao resultado do crime deve ser punida, desde que
haja dolo ou culpa.
▪ Teorias que explicam a conduta Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime,
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa
Teoria Causal- Teoria Finalista a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Teoria Social Em contraposição a essa teoria, existe a Teoria da Causali-
Naturalística (Hans Welzel)
dade Adequada, adotada parcialmente pelo sistema brasileiro.
Conduta é ação
Conduta como Ação humana Trata-se de hipótese de concausa superveniente relativamente
voluntária (dolosa ou
movimento voluntária com independente que, por si só, produz o resultado.
culposa) destinada a
corporal. relevância social. Mas pera... O que é uma concausa? Circunstância que atua
uma finalidade.
paralelamente à conduta do agente em relação ao resultado.
As concausas absolutamente independentes são aquelas que
A teoria finalista da conduta foi adotada pelo Código Penal, não se juntam à conduta do agente para produzir o resultado, e
pois como veremos adiante o erro constitutivo do tipo penal exclui podem ser:
o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em
lei. Isso demonstra que o dolo e a culpa se inserem na conduta.
Editora
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350
a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Preexistentes: Já tinham colocado veneno no chá do meu • Dolo eventual = assunção do risco produzido pela condu-
desafeto quando eu vou matá-lo. ta.
• Concomitantes: Atiro no meu desafeto, mas o teto cai e
mata ele. Perceba que no dolo eventual existe consciência de que a
• Supervenientes: Dou veneno ao meu desafeto, mas antes conduta pode gerar um resultado criminoso, e mesmo diante
de fazer efeito alguém o mata. da probabilidade de dar algo errado, o agente assume esse
risco.
Consequência em todas as hipóteses de concausa absolu-
tamente independente: O AGENTE SÓ RESPONDE POR TENTA-
Vontade de praticar a conduta
TIVA, PORQUE O RESULTADO SE DEU POR CAUSA ABSOLUTA-
MENTE INDEPENDENTE. SE SUBTRAIR A CONDUTA DO AGENTE, Dolo genérico descrita no tipo penal sem
O RESULTADO TERIA OCORRIDO DE QUALQUER JEITO (TEORIA nenhuma outra finalidade
DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES).
Até aí fácil né? Mas agora vem o pulo do gato! Existem as Dolo específico O agente pratica a conduta típica
concausas relativamente independentes, que se unem a outras (especial fim de agir) por alguma razão especial.
circunstâncias para produzir o resultado.
Dolo direto de primeiro A vontade é direcionada para a
• Preexistente: O agente provoca hemofilia no seu desa-
feto, já sabendo de sua doença, que vem a óbito por perda grau produção do resultado.
excessiva de sangue. Sem sua conduta o resultado não teria O agente possui uma vontade, mas
ocorrido e ele teve dolo, logo, o agente responde pelo resulta-
do (homicídio consumado), conforme a teoria da equivalência sabe que para atingir sua finalidade
dos antecedentes. existem efeitos colaterais que irão
• Concomitante: Doses de veneno se unem e levam a óbito necessariamente lesar outros bens
a vítima. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e exis- Dolo direto de
te dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio con- segundo grau (dolo jurídicos.
sumado), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
de consequências Ex. dolo direto de primeiro grau é
• Superveniente: Aqui tudo muda, pois é utilizada a teoria
da causalidade adequada. Se a concausa não é um desdobra- necessárias) atingir o Presidente, dolo direto de
mento natural da conduta, o agente só responde por tentativa,
ex. eu dou um tiro no agente, mas ele morre em um acidente
segundo grau é atingir o motorista
fatal dentro da ambulância. Todavia, se a concausa é um des- do Presidente, ao colocar uma
dobramento da conduta do agente, ele responde pelo resul- bomba no carro.
tado, ex. infecção generalizada gerada pelo ferimento do tiro
(homicídio consumado). Ocorre quando o agente,
acreditando ter alcançado seu
Agora vem a cereja do bolo, com a Teoria da Imputação
Dolo geral, por erro objetivo, pratica nova conduta, com
Objetiva (Roxin). Em linhas gerais, nessa visão, só ocorre impu-
tação ao agente que criou ou aumentou um risco proibido pelo sucessivo, aberratio finalidade diversa, mas depois se
Direito, desde que esse risco tenha ligação com o resultado. Ex. causae (erro de relação constata que esta última foi a que
Eu causo um incêndio na casa do meu desafeto, serei imputada
pelo incêndio, não pela morte de alguém que entrou na casa
de causalidade) efetivamente causou o resultado.
para salvar bens. Ex. enforco e depois atiro no lago, e
Explicando melhor, para a teoria da imputação objetiva, a a vítima morre de afogamento.
imputação só pode ocorrer quando o agente tiver dado causa
ao fato (causalidade física), mas, ao mesmo tempo, haja uma O dolo antecedente é o que se dá
relação de causalidade normativa, isto é, criação de um risco antes do início da execução. O dolo
não permitido para o bem jurídico que se pretende tutelar.
atual é o que está presente durante
Criar ou aumentar um risco + O risco deve ser proibido Dolo antecedente, atual a execução. O dolo subsequente
pelo Direito + O risco deve ser criado no resultado e subsequente ocorre quando o agente inicia a
Por fim, a tipicidade consiste na subsunção – adequação
conduta com finalidade lícita, mas
da conduta do agente a uma previsão típica. Algumas vezes é altera o seu ânimo e passa a agir de
necessário usar mais de um tipo penal para fazer a subsunção forma ilícita.
(conjugação de artigos).
Ainda dentro do fato típico, vamos analisar dolo e culpa. Crime Culposo
Com o finalismo (Hans Welzel), o dolo e a culpa, que são ele- No crime culposo, a conduta do agente viola um dever de
mentos subjetivos, foram transportados da culpabilidade para cuidado:
o fato típico (conduta). Assim, a conduta passou a ser definida • Negligência: o agente deixa de fazer algo que deveria.
como ação humana dirigida a um fim. • Imprudência: o agente se excede no que faz.
Crime Doloso • Imperícia: O agente desconhece uma regra técnica profis-
• Dolo direto = vontade livre e consciente de praticar o sional, ex. o médico dá um diagnóstico errado ao paciente que
crime. vem a receber alta e falecer.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Requisitos do crime culposo O agente desconhece algum dos elementos do tipo penal.
a) Conduta Voluntária: o fim da conduta pode ser lícito ou Ou seja, há uma representação errônea da realidade, na qual o
ilícito, mas quando ilícito não é o mesmo que se produziu (a agente acredita não se verificar a presença de um dos elemen-
finalidade não é do resultado). tos essenciais que compõe o tipo penal. Quem nunca pegou a
b) Violação de um dever objetivo de cuidado: negligência, coisa de alguém pensando que era sua?! Cometeu furto? Não,
imprudência, imperícia. pois faltou você saber que a coisa era alheia. O erro de tipo
c) Resultado naturalístico involuntário (não querido). exclui o dolo e a culpa (se foi um erro perdoável/escusável) ou
d) Nexo causal. exclui o dolo e o agente só responde por culpa, se prevista (no
e) Tipicidade: o fato deve estar previsto como crime culpo- caso de erro inescusável).
so expressamente. Outros exemplos: não sabe que o agente é funcionário
f) Previsibilidade objetiva: o homem médio seria capaz de público, em desacato; não sabe que é garantidor em crime
prever o resultado. comissivo por omissão; erro sobre o elemento normativo, ex.
justa causa.
Não restam mais dúvidas, certo? Erro de tipo é erro sobre
Culpa Consciente Culpa Inconsciente a existência fática de um dos elementos que compõe o tipo
O agente prevê o penal.
O agente não prevê que o
resultado como ▪ Erro de tipo acidental
resultado possa ocorrer.
possível, mas acredita Aqui o erro ocorre na execução ou há um desvio no nexo
Só tem a previsibilidade causal da conduta com o resultado.
sinceramente que este • Erro sobre a pessoa: O agente pratica o ato contra pes-
objetiva, mas não subjetiva.
não irá ocorrer. soa diversa da pessoa visada, por confundi-la com o seu alvo,
que nem está no local dos fatos. Consequência: o agente res-
Culpa Própria Culpa Imprópria ponde como se tivesse praticado o crime contra a pessoa visa-
da (teoria da equivalência).
O agente quer o resultado, • Erro sobre o nexo causal: o resultado é alcançado me-
mas acha que está amparado diante um nexo causal diferente daquele que planejou.
O agente não quer o por uma excludente de a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: com um ato
resultado criminoso. ilicitude ou culpabilidade. o agente produz o resultado, apesar do nexo causal ser diferen-
Consequência: exclui o dolo, te, ex. eu disparo contra o meu desafeto, mas ele morre afoga-
mas imputa culpa. do ao cair na piscina. Consequência: o agente responde pelo o
que efetivamente ocorreu (morte por afogamento).
Não existe no Direito Penal brasileiro compensação de b) Dolo geral/aberratio causae/dolo geral ou sucessivo: O
culpas, de maneira que cada um deve responder pelo o que fez. agente acredita que já ocorreu o resultado pretendido, então,
Outro ponto interessante é que o crime preterdoloso é uma pratica outro ato (+ de 1 ato). Ao final verifica-se que o último
espécie de crime qualificado pelo resultado. No delito preter- ato foi o que provocou o resultado. Consequência: o agente
doloso, o resultado que qualifica o crime é culposo: Dolo na responde pelo nexo causal efetivamente ocorrido, não pelo
conduta inicial e culpa no resultado que ocorreu. pretendido.
O crime material consumado exige conduta + resultado
naturalístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes • Erro na execução (aberratio ictus): é o famoso erro de
tentados, por não haver consumação (resultado naturalístico), pontaria, no qual a pessoa visada e a de fato acertada estão no
não estarão presentes resultado e nexo de causalidade. Even- mesmo local.
tualmente, a tentativa pode provocar resultado naturalístico a) Erro sobre a execução com unidade simples (aberratio
e nexo causal, mas diverso do pretendido pelo agente no mo- ictus de resultado único): O agente somente atinge a pessoa
mento da prática criminosa. diversa da pretendida. Consequência: responde como se tives-
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exata- se atingido a pessoa visada.
mente a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma
outra norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance b) Erro sobre a execução com unidade complexa (aberratio
do tipo penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente ini- ictus de resultado duplo): O agente atinge a vítima pretendida,
cia a execução penal, mas em razão a circunstâncias alheias à e, também, a vítima não pretendida. Consequência: responde
vontade do agente o resultado pretendido (consumação) não pelos dois crimes em concurso formal.
ocorre – o agente é punido pelo crime, mas de forma tentada.
• Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido
Crime Preterdoloso (aberratio delicti ou aberratio criminis): o agente pretendia co-
O crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado meter um crime, mas por acidente ou erro na execução acaba
pelo resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifi- cometendo outro (relação pessoa x coisa ou coisa x pessoa).
ca o crime é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resulta- a) Com unidade simples: O agente atinge apenas o resul-
do que ocorreu. Como consequência, o crime preterdoloso não tado não pretendido. Ex. uma pessoa é visada, mas uma coisa
admite tentativa, já que o resultado é involuntário. é atingida – responde pelo dolo em relação a pessoa, na forma
tentada (tentativa de homicídio, tentativa de lesão corporal).
Ex. Uma coisa é visada, mas a pessoa é atingida – responde
Erro de Tipo apenas pelo resultado ocorrido em relação à pessoa, de forma
culposa (homicídio culposo, lesão corporal culposa).
▪ Erro de tipo essencial
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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
b) Com unidade complexa: O agente atinge tanto a pessoa • De atentado/empreendimento (a tentativa já gera consu-
quanto a coisa. Consequência: responde pelos dois crimes em mação);
concurso formal. • Habitual (atos isolados são indiferentes penais).

• Erro sobre o objeto (Error in objecto): imagine que o Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz
agente deseja furtar uma valiosa obra de arte, mas acaba sub- Ambas afastam a tipicidade do dolo inicial e o agente só
traindo um quadro de pequeno valor, por confundir-se. Conse- responde pelo o que fez (danos que efetivamente causou).
quência: o agente responde pelo o que efetivamente fez. • Na desistência voluntária, o agente voluntariamente de-
siste de dar sequência aos atos executórios iniciados, mesmo
▪ Erro determinado por terceiro podendo fazê-lo (fórmula de Frank). O resultado não se consu-
O agente erra porque alguém o induz a isso, de maneira ma por desistência do agente.
que o autor mediato (quem provocou o erro) será punido. O • No arrependimento eficaz, o agente pratica todos os atos
autor imediato (quem realiza) é mero instrumento, e só res- de execução, mas após isto se arrepende e adota medidas que
ponderá caso ficar demonstrada alguma forma de culpa. impedem a consumação.

Iter Criminis Atenção: se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o


Iter Criminis significa caminho percorrido pelo crime. A co- agente responde pelo crime com uma atenuante genérica.
gitação (fase interna) não é punida – ninguém pode ser punido Atenção: se o crime for cometido em concurso de pessoas
pelos seus pensamentos. Os atos preparatórios, em regra, tam- e somente um deles realiza a conduta de desistência voluntária
bém, não são punidos. ou arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos
demais. Motivo: Trata-se de exclusão da tipicidade, o crime não
A partir do início da execução do crime, o agente sofre puni- foi cometido, respondendo todos apenas pelos atos praticados
ção. Caso complete o que é dito pelo tipo penal, o crime estará até então.
consumado; caso não se consume por circunstâncias alheias à
vontade do agente, pune-se a tentativa. Arrependimento Posterior
É uma causa de diminuição de pena para o crime já consu-
Tentativa mado, desde que:
O crime material consumado exige conduta + resultado 1. Crime praticado sem violência ou grave ameaça à pes-
naturalístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes soa, ou culposo;
tentados, por não haver consumação (resultado naturalístico), 2. O juiz ainda não recebeu a denúncia ou queixa;
não estarão presentes resultado e nexo de causalidade. Even- 3. O agente reparou o dano ou restituiu a coisa voluntaria-
tualmente, a tentativa pode provocar resultado naturalístico mente.
e nexo causal, mas diverso do pretendido pelo agente no mo- — A diminuição é de 1/3 a 2/3, a depender da celeridade e
mento da prática criminosa. voluntariedade do ato.
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exata- — O arrependimento posterior se comunica aos demais
mente a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma agentes.
outra norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance — Se a vítima se recusar a receber a reparação mesmo
do tipo penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente ini- assim o agente terá a diminuição de pena.
cia a execução penal, mas em razão a circunstâncias alheias à
vontade do agente o resultado pretendido (consumação) não Crime Impossível (tentativa inidônea)
ocorre – o agente é punido pelo crime, mas de forma tentada. Embora o agente inicie a execução do delito, jamais o cri-
O CP adotou a teoria dualística/realista/objetiva da puni- me se consumará.
bilidade da tentativa. Assim, a pena do crime tentado é a pena Por quê? O meio utilizado é completamente ineficaz ou o
do crime consumado com diminuição de 1/3 a 2/3 (varia de objeto material do crime é impróprio para aquele crime.
acordo o quanto chegou perto do resultado). Isso ocorre por- Ex. Ineficácia absoluta do meio = arma que não dispara.
que o desvalor do resultado para a sociedade é menor. Ex. Absoluta impropriedade do objeto = atirar em corpo
— Tentativa branca ou incruenta = o agente não atinge o sem vida.
bem que pretendia lesar; O CP adotou a teoria objetiva da punibilidade do crime
— Tentativa vermelha ou cruenta = o agente atinge o bem impossível, ou seja, não é punido (atipicidade).
que pretendia lesar; Câmeras e dispositivos de segurança em estabelecimentos
— Tentativa perfeita = o agente completa os atos de exe- comerciais não tornam o crime impossível.
cução;
— Tentativa imperfeita = o agente não esgota os meios de Ilicitude
execução. Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumpri-
mento de Dever Legal, Exercício Regular de Direito.
▪ Crimes que não admitem tentativa
• Culposo (é involuntário); A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade, nos
• Preterdoloso (o resultado é involuntário); traz a ideia de que a conduta está em desacordo com o Direito.
• Unissubsistente (um ato só); Presente o fato típico, presume-se que o fato é ilícito. As-
• Omissivo puro (não dá para tentar se omitir); sim, o ônus da prova passa a ser do acusado, ou seja, o acusado
• Perigo abstrato (só de gerar o perigo o crime se consu- é quem vai precisar comprovar a existência de uma excludente
ma); de ilicitude.
• Contravenção (a lei quis assim); As excludentes da ilicitude podem ser genéricas (incidem
em todos os crimes) ou específicas (próprias de alguns crimes).
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Causas genéricas = estado de necessidade; legítima defe- b) Legítima Defesa:
sa; exercício regular de direito; estrito cumprimento do dever Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mo-
legal. deradamente dos meios necessários, repele injusta agressão,
Causa supralegal de exclusão da ilicitude = consentimento atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.        
do ofendido nos crimes contra bens disponíveis. Parágrafo único. Observados os requisitos previstos
no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa
a) Estado de Necessidade: o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de
Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pra- agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.   
tica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por
sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio O agente pratica um fato para repelir uma agressão injusta,
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável atual ou iminente (prestes a ocorrer), contra direito próprio ou
exigir-se.          alheio. Ex. o dono de um animal bravo utiliza o animal como
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o instrumento de agressão contra outrem – o agente poderá se
dever legal de enfrentar o perigo.          defender.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito • Cabe LD contra agressão de inimputável;
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.     • Ainda que possa fugir, o agente pode escolher ficar e
repelir a agressão (no estado de necessidade não);
De acordo com a TEORIA UNITÁRIA, o bem jurídico prote- • Os meios utilizados devem ser suficientes e necessários
gido deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado. Ex. vida para repelir a injusta agressão (proporcionalidade);
x vida. Se compromete um bem de maior valor para salvar um • Na LD putativa, o agente pensa que está sendo agredido.
bem de menor valor incide uma causa de diminuição de pena Consequência: se o erro é escusável, exclui dolo e culpa; se o
(-1/3 a 2/3). erro é inescusável, exclui o dolo, mas responde por culpa, se
Requisitos: prevista.
— Perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro; • É possível que ocorra LD sucessiva, ex. A agride B, B repe-
— Conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio le a agressão de forma excessiva, A passa ter o direito de agir
para salvar o próprio ou do terceiro; em LD em razão do excesso (agressão injusta).
— A situação de perigo não pode ter sido criada voluntaria- • Se o bem é indisponível, a vontade do dono (consenti-
mente pelo agente; mento) é indiferente para a atuação da LD de terceiro.
— O perigo tem que estar ocorrendo (atual); • Não cabe LD real em face de LD real, porque falta injusta
— O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o agressão. Por outro lado, pode ter LD putativa (agressão injus-
resultado, ex. bombeiro; ta) sucedida por LD real (repelir agressão injusta).
— A conduta do agente precisa ser inevitável (o bem jurídi-
co só pode ser salvo se ele agir); c) Estrito Cumprimento do Dever Legal:
— A conduta do agente precisa ser proporcional (salvar O agente comete um fato típico, em razão de um dever le-
bem de valor igual ou maior). gal. Mas não confunda! Quando um policial numa troca de tiros
Estado de Estado de Estado de Estado de mata um bandido não age em estrito cumprimento de dever
necessidade necessidade necessidade necessidade legal, mas em LD, pois não existe o dever legal de matar, mas
agressivo defensivo real putativo sim injusta agressão.
• O estrito cumprimento do dever legal se comunica aos
Quando a demais agentes.
situação de • Particular também pode estar amparado pelo estrito
perigo não existe cumprimento do dever legal.
O agente de fato, apenas
prejudica o na imaginação d) Exercício Regular de Direito:
O agente
bem jurídico do agente. O agente age no legítimo exercício de um direito seu (pre-
sacrifica o
de terceiro visto em lei). Ex. lutas desportivas.
bem jurídico Consequência:
que não O perigo
de quem se o erro é
produziu o existe. EXCESSO PÚNIVEL: EM TODAS AS EXCLUDENTES DE ILICU-
provocou o escusável,
perigo. TDE, EVENTUAL EXCESSO SERÁ PUNIDO, SEJA ELE DOLOSO OU
perigo. exclui dolo e CULPOSO!
Obs. o agente culpa; se o erro
precisa é inescusável, Culpabilidade: Imputabilidade Penal, Potencial Consciên-
indenizar. exclui o dolo, cia da Ilicitude, Exigibilidade de Conduta Diversa
mas responde O último elemento da análise analítica do crime é a cul-
por culpa, se pabilidade. Lembre-se, para a teoria tripartida o crime é fato
prevista. típico, antijurídico e culpável. Para a teoria bipartida a culpabi-
lidade é pressuposto para a aplicação da pena.
• Estado de necessidade recíproco é possível, se nenhum A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade, e divide-se
deles provocou o perigo. nas seguintes teorias:
• O estado de necessidade se comunica a todos os agentes. • Teoria Psicológica: Os causalistas acreditavam que o
agente era culpável se imputável no momento do crime e se
havia agido com dolo ou culpa.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Teoria normativa (psicológico-normativa): Além de im- — A embriaguez acidental gera inimputabilidade (isenção
putável e com dolo ou culpa o agente tinha que estar conscien- de pena), desde que decorrente de caso fortuito ou força maior
te da ilicitude e ser exigível conduta diversa. + completa + retirar totalmente a capacidade de discernimento
• Teoria extremada da culpabilidade (normativa pura): do agente. Obs. se for parcial (retirar parcialmente a capacida-
Se coaduna com a teoria finalista, pois dolo e culpa transpor- de de discernimento do agente) a pena será reduzida.
taram-se para a tipicidade (dolo subjetivo). Para essa teoria, • Nos casos de embriaguez não se aplica medida de segu-
os elementos da culpabilidade são: imputabilidade + potencial rança, pois o agente não é doente mental.
consciência da ilicitude (dolo normativo) + exigibilidade de con- • A embriaguez voluntária e culposa não exclui a imputabi-
duta diversa. lidade!
• Teoria limitada da culpabilidade: A teoria normativa • A lei de drogas exclui a imputabilidade do inebriado pa-
pura se divide em teoria extremada e teoria limitada. O que as tológico.
diferencia é o tratamento dado ao erro sobre as causas de justi- — A embriaguez preordenada (se embriaga para cometer
ficação (exclusão da ilicitude), isto é, descriminantes putativas. crime) não retira a imputabilidade do agente, pelo contrário,
A teoria extremada defende que todo erro que recaia sobre trata-se de circunstância agravante da pena.
uma causa de justificação seja equiparado ao ERRO DE PROIBI-
ÇÃO. A teoria limitada divide o erro sobre pressuposto fático da 2. Potencial consciência da ilicitude: neste elemento da
causa de justificação e o erro sobre a existência ou limites jurí- imputabilidade, é verificado se a pessoa tinha a possibilidade
dicos de uma causa de justificação. No primeiro caso (erro de de conhecer o caráter ilícito do fato, de acordo com as suas
fato) aplicam-se as regras do erro de tipo, que aqui passa a se características (não como parâmetro o homem médio).
chamar erro de tipo permissivo. No segundo caso (erro sobre a Quando o agente age acreditando que sua conduta não é
ilicitude da conduta) aplicam-se as regras do erro de proibição. penalmente ilícita comete erro de proibição.

Obs.: O CP adota a teoria normativa pura limitada, ou seja, 3. Exigibilidade de conduta diversa: É verificado se o agen-
separa o erro de tipo do erro de proibição. te podia agir de outro modo. Caso comprovado que não dava
para agir de outra maneira, no caso concreto, a culpabilidade é
▪ Elementos da culpabilidade: excluída (isenção de pena). Ex. coação moral irresistível – uma
1. Imputabilidade Penal: Capacidade de entender o caráter pessoa coage outra a praticar determinado crime, sob ameaça
ilícito da conduta e autodeterminar-se conforme o Direito. Na de lhe fazer algum mal grave. Obs. se a coação é física exclui a
ausência de qualquer desses elementos será inimputável, de tipicidade pela falta de conduta. Obs. se podia resistir a coação,
acordo com o critério biopsicológico. recebe apenas uma atenuante genérica. Ex. obediência hierár-
O CP também adota o critério biológico, pois os menores de quica – funcionário público cumpre ordem não manifestamente
18 anos são inimputáveis. ilegal emanada pelo seu superior (isenção de pena). Obs. se a
Lembre-se que a imputabilidade penal deve ser aferida no ordem é manifestamente ilegal comete crime.
momento que ocorreu o fato criminoso.
Lembre-se, também, que em crime permanente só cessa a Concurso de Pessoas
conduta quando a vítima é liberada (ex. sequestro), logo, a idade O concurso de pessoas consiste na colaboração de dois
do agente vai ser analisada até que realmente cesse a conduta, ou mais agentes para a prática de um delito ou contravenção
com a libertação da vítima/apreensão do agente. penal. De acordo com a teoria monista (unitária), todos respon-
O ordenamento jurídico prevê a completa inimputabilidade, dem pelo mesmo crime, na medida de sua culpabilidade. Ex. 3
que exclui a culpabilidade e impõe medida de segurança (sen- amigos furtam uma casa, todos respondem pelo crime de furto,
tença absolutória imprópria); bem como, prevê a semi-imputa- mas o juiz vai valorar a conduta de cada um de acordo com a
bilidade, que enseja medida de segurança (sentença absolutória individualidade dos agentes.
imprópria) ou sentença condenatória com causa de diminuição
de pena (-1/3 a 2/3).
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental
Concurso de pessoas Concurso de pessoas
ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao eventual necessário
tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse O tipo penal não exige a O tipo penal exige que a
entendimento. presença de mais de uma conduta seja praticada por
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois ter- pessoa. mais de uma pessoa.
ços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou
por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era ▪ Requisitos do concurso de pessoas:
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de — Pluralidade de agentes: Se um imputável determina que
determinar-se de acordo com esse entendimento.  um inimputável realize um crime não existe concurso de pes-
soas, mas sim autoria mediata (o mandante é o autor do crime
Atenção e o inimputável instrumento).
— Os índios podem ser imputáveis (integrados à socieda- Nos crimes plurissubjetivos (concurso de pessoas neces-
de), semi-imputáveis (parcialmente integrados à sociedade) ou sário), se um dos colaboradores não é culpável, mesmo assim
inimputáveis (não integrados). haverá crime.
— A conduta do sonâmbulo é atípica, pois falta conduta Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (concurso de
(dolo/culpa). pessoas eventual) não é necessário que todos os agentes se-
jam culpáveis, basta um deles para qualificar o crime, ex. o

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
concurso de pessoas qualifica o furto, logo, se um é imputável, • Cabe coautoria em crimes próprios (todos reúnem as
não importa se os demais são inimputáveis, pois o furto estará condições ou pelo menos tem ciência que um deles as possui),
qualificado. mas não cabe coautoria em crime de mão própria (só participa-
Nesses casos que tem inimputáveis, mas eu considero o ção).
concurso para tipificar ou qualificar o crime a doutrina os deno- • Nos crimes omissivos não cabe coautoria, só participa-
mina de concurso impróprio/aparente. ção.
— Relevância da colaboração: A participação do agente • Nos crimes culposos cabe coautoria, mas não participa-
deve ser relevante para a produção do resultado. Ou seja, a ção.
colaboração que em nada contribui para o resultado é um in- • Na autoria mediata não há concurso entre autor mediato
diferente penal. Além disso, a colaboração deve ser prévia ou e autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se
concomitante à execução. A colaboração posterior à execução valeu de alguém sem culpabilidade para a execução do delito.
enseja crime autônomo, salvo o ajuste tenha ocorrido previa- Entretanto, é possível coautoria e participação na autoria me-
mente. diata (vários mandantes).
— Vínculo subjetivo (concurso de vontades): Ajuste ou ade- • Na coação física irresistível, o coator é autor direto.
são de um à conduta do outro. Caso não haja vínculo subjetivo • Existe autoria mediata de crime próprio, mas não de cri-
entre os agentes haverá autoria colateral, e não coautoria. me de mão própria.
— Unidade de crime (identidade de infração): todos res-
pondem pelo mesmo crime. Participação é modalidade de concurso de pessoas, na qual
— Existência de fato punível: a colaboração só é punível se o agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a
o crime for, pelo menos, tentado (princípio da exterioridade – conduta descrita no núcleo do tipo penal.
exige o início da execução).
• Na autoria mediata por inimputabilidade do agente não
basta que o executor seja inimputável, ele deve ser um instru-
Participação Moral Participação Material
mento do mandante (não ter o mínimo discernimento). Instiga (reafirma a ideia) Presta auxílio fornecendo
• Na autoria mediata por erro do executor, quem pratica a
conduta é induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro ou induz (cria a ideia) em objeto ou condições para
de proibição), ex. médico determina que enfermeira aplique outrem. a fuga (cumplicidade).
uma injeção tóxica no paciente alegando que é um medicamen-
to normal. Pela teoria da adequação típica mediata, o partícipe mes-
• Na autoria mediata por coação do executor existe coação mo sem praticar a conduta descrita no núcleo do tipo pode ser
moral irresistível, a culpabilidade é apenas do coator, não do punido, uma vez que, as normas de extensão da adequação
coagido (inexigibilidade de conduta diversa). típica possibilitam o raio de aplicação do tipo penal. Ou seja,
• Para ter autoria mediata em crime próprio, o autor me- soma o art. do crime + o art. 29 do CP = o resultado é conseguir
diato (mandante) precisa reunir as condições especiais exigidas punir o partícipe.
pelo tipo penal. Se o mandante não reúne as condições do cri- Conforme a teoria da acessoriedade, o partícipe é punido
me próprio há autoria por determinação, punindo quem exerce mesmo que sua conduta seja considerada acessória em relação
sobre a conduta domínio equiparado à figura da autoria (autor ao autor. Vejamos:
da determinação da conduta/responsável pela sua ocorrência).
Teoria da aces- Teoria da
• Nos crimes de mão própria não se admite autoria me- Teoria da Teoria da
soriedade limi- acesso-
diata, porque o crime não pode ser realizado por interposta acessoriedade hiperacesso-
tada riedade
pessoa. Todavia, pode ter a figura do autor por determinação mínima riedade
(pune quem determinou o crime). (adotada) máxima
Autor é quem pratica a conduta descrita no núcleo do tipo
penal, todos os demais que de alguma forma prestarem cola- Exige que O
boração serão partícipes. Essa teoria foi adotada pelo Código a conduta partícipe Exige que o
Penal e é denominada de teoria objetivo-formal. A conduta principal seja só é fato principal
No entanto, atente-se para a teoria do domínio do fato principal só típica e ilícita. punido seja típico,
(nos crimes dolosos), criada por Hans Welzel e desenvolvida precisa ser
Recorda que se o fato ilícito,
por Claus Roxin: o autor é todo aquele que possui domínio da típica para a
as excludentes principal culpável e
conduta criminosa, seja ele executor ou não. O importante, punição do
de ilicitude se for típico, o autor seja
para essa teoria, é que tenha o poder de decidir sobre o rumo partícipe.
comunicam?! ilícito e punido.
da prática delituosa, o cabeça do crime. O partícipe, por sua culpável.
Ahá!
vez, é quem contribui, mas sem poder de direção. Ou seja, o
controle da situação (quem pode intervir a qualquer momento
— A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a partici-
para fazer cessar a conduta) é o critério utilizado para definir o
pação é de menor importância.
autor.
— A doutrina admite participação nos crimes comissivos
A coautoria é espécie de concurso de pessoas na qual duas
por omissão, quando o partícipe devia e podia evitar o resulta-
ou mais pessoas praticam a conduta descrita no núcleo do tipo
do.
penal. Na coautoria funcional, os agentes realizam condutas
— Participação inócua não se pune, ex. eu emprestei a
diversas que se somam para produzir o resultado. Na coautoria
arma para o agente, mas ele matou com o uso de veneno.
material (direta) todos realizam a mesma conduta.
— Participação em cadeia é possível, ex. eu empresto a
arma para A, para este emprestar para B e matar a vítima. Eu e
A somos partícipes de B.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL

Comunicam-se: Não se comunicam: Regime Fechado Regime Semiaberto Regime Aberto


Elementares do crime Circunstâncias subjetivas A execução da pena
A execução acontece em casa
(caracteriza o crime) e (influencia a pena de da pena de albergado ou
circunstâncias objetivas acordo com a pessoa do acontece em estabelecimento
estabelecimento adequado.
(influencia a pena de agente) e condições de de segurança
Baseia-se na
acordo com o fato). caráter pessoal (relativas à máxima ou
média. autodisciplina
pessoa do agente). A execução da pena e sendo de
Exige exame acontece em colônia responsabilidade do
Preste atenção, circunstâncias e condições de caráter pes- criminológico. agrícola, industrial condenado, quem
soal não se comunicam. Por outro lado, as circunstâncias de ca- ou estabelecimento deverá trabalhar,
ráter real ou objetivas (se referem ao fato), se comunicam, sob Há trabalho no similar. frequentar curso
uma condição: é necessário que a circunstância tenha entrado período diurno ou exercer outra
na esfera de conhecimento dos demais agentes. Ex. A informa o (em comum Trabalho comum atividade autorizada
seu partícipe que usará emboscada para matar, ambos respon- dentro do durante o dia, sendo (fora e sem
dem por essa qualificadora. estabelecimento) possível, também, o vigilância), devendo
Outro ponto interessante é que elementares sempre se e isolamento trabalho externo e a permanecer
comunicam, sejam objetivas ou subjetivas, desde que tenham durante o frequência a cursos. recolhido durante o
entrado na esfera de conhecimento do partícipe. repouso noturno. período noturno e
Para fechar com chave de ouro vale abordar a autoria co- nos dias de folga.
Obs.: trabalho
lateral. O que é isso? Não se confunde com o concurso de pes-
externo é Regredirá de regime,
soas, pois não existe acordo de vontades. Imagine que 2 pes-
admissível em se praticar crime
soas atiram na mesma vítima, mas os peritos não conseguem
serviços/obras doloso, frustrar os
identificar quem efetuou o disparo fatal. O resultado desta
públicas. fins da execução ou
autoria incerta é que ambos respondem de forma tentada.
Outra figura curiosa é a cooperação dolosamente distinta, não pagar a multa.
que consiste em participação em crime menos grave (desvio
subjetivo de conduta). Ambos os agentes decidem praticar • Condenado a pena superior a 8 anos começa em regime
determinado crime, mas durante a execução um deles decide fechado.
praticar outro crime, mais grave. Aquele que escolheu praticar • Condenado, não reincidente, a pena superior a 4 anos e
somente o crime inicial só responderá por este, salvo ficar com- não exceda a 8 anos, poderá cumpri-la em regime semiaberto.
provado que podia prever a ocorrência do crime mais grave. • Condenado, não reincidente, a pena igual ou inferior a
Neste último caso, a pena do crime inicial é aumentada até a 4 anos pode cumpri-la em regime aberto. O reincidente, neste
metade. caso, pode iniciar o cumprimento no regime semiaberto.
Obs.: No concurso de multidão criminosa, quem lidera o • O art. 59 do CP é usado para definir o início do cumpri-
crime terá pena agravada e quem adere a conduta tem a pena mento da pena.
atenuada. Há concurso de pessoas, pois existe vínculo subje- • O condenado por crime contra a Administração Pública
tivo, no sentido de que um adere a conduta do outro, mesmo terá a progressão condicionada à reparação do dano.
que de forma tácita.
A pena no Brasil tem uma finalidade mista, isto é, retributi- Regime Especial = Prisão da mulher
va e preventiva. A finalidade retributiva (teoria absoluta) coloca Em caso de superveniência de doença mental, o condenado
a pena como um castigo. Já a teoria relativa tem como objetivo a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital
evitar novas infrações penais. Dentro da teoria relativa existe a de custódia e tratamento psiquiátrico.
prevenção geral e a prevenção especial. O tempo de prisão provisória, prisão administrativa e inter-
• Prevenção geral (direcionada à sociedade): negativa = nação computam-se na pena privativa de liberdade e na medi-
intimidação pela pena; positiva = demonstra a vigência da lei da de segurança, de acordo com o instituto da detração.
penal. As penas restritivas de direitos dividem-se em:
• Prevenção especial (direcionada ao condenado): negativa • Prestação pecuniária: pagamento em dinheiro à vítima
= evita a reincidência; positiva = busca a ressocialização. ou entidade (pública ou privada social) de 1 a 360 salários-mí-
nimos. O valor pago será deduzido de eventual indenização, se
Espécies de penas: privativa de liberdade; restritiva de coincidentes os beneficiários. A prestação não precisa ser em
direitos; multa. dinheiro.
Dentro da pena privativa de liberdade, existe a possibilida- • Perda de bens e valores: pagamento ao Fundo Peniten-
de da reclusão ou detenção. A reclusão pode ser cumprida no ciário Nacional, tendo como teto o montante do prejuízo causa-
regime fechado, semiaberto ou aberto. Já a detenção só pode do ou do provento obtido (o que for maior).
iniciar-se nos regimes semiaberto ou aberto, podendo regredir • Prestação de serviços à comunidade: aplica-se a con-
para regime fechado. denações superiores a 6 meses de privação de liberdade. As
tarefas devem ser cumpridas em 1h por dia de condenação. Se
a pena for superior a 1 ano, o condenado pode cumprir a pena
substitutiva em menor tempo, nunca inferior à metade da pena
fixada.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Interdição temporária de direitos: proibição de exercer ▪ Agravantes e Atenuantes
atividade pública ou profissão que dependa de autorização do Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena,
poder público, suspensão para dirigir, proibição de frequentar quando não constituem ou qualificam o crime:
determinados lugares, proibição de inscrever-se em exame I - a reincidência; 
público. II - ter o agente cometido o crime: 
• Limitação de fim de semana: permanecer aos sábados a) por motivo fútil ou torpe;
domingos por 5h em casa de albergado. b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a
impunidade ou vantagem de outro crime;
As penas restritivas de direito são autônomas e substitu- c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou
tivas. Para conseguir substituir a pena privativa de liberdade outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do
imposta por uma pena restritiva de direitos, o condenado pre- ofendido;
cisa reunir os seguintes requisitos: d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou
— A pena não pode ser superior a 4 anos; outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo
— Sem violência ou grave ameaça; comum;
— Não reincidência em crime doloso específico; e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
— O art. 59 do CP ser favorável a essa conversão. f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violên-
Obs.: o crime culposo pode ser substituído independente- cia contra a mulher na forma da lei específica; 
mente da quantidade de pena. g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a
cargo, ofício, ministério ou profissão;
Condenação igual ou inferior a 1 ano recebe em substitui- h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou
ção 1 multa ou 1 restritiva de direitos. Condenação superior a 1 mulher grávida; 
ano recebe em substituição 1 multa + 1 restritiva de direitos ou i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da
2 restritivas de direitos. autoridade;
Em caso de descumprimento injustificado da restrição im- j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qual-
posta, a pena restritiva de direitos é reconvertida em privativa quer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendi-
de liberdade. Será deduzido o tempo cumprido, mas ficará em do;
privação de liberdade por pelo menos 30 dias. l) em estado de embriaguez preordenada.
A pena de multa dirige-se ao Fundo Penitenciário, tem
como valor de 1/30 de salário-mínimo a 5 salários-mínimos, Agravantes no caso de concurso de pessoas
durante de 10 a 360 dias. Após o trânsito em julgado, a pena de Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente
multa deve ser paga em 10 dias. Todavia, o juiz pode considerar que: I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige
o parcelamento. A execução da multa ocorre perante o juiz da a atividade dos demais agentes; II - coage ou induz outrem à
execução penal e é considerada dívida de valor (aplicadas nor- execução material do crime; III - instiga ou determina a come-
mas da dívida ativa). Como a multa é uma pena, se sobrevém ter o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em
ao condenado doença mental, será suspensa a execução. virtude de condição ou qualidade pessoal; IV - executa o crime,
A multa pode ser aumentada até o TRIPLO, se o juiz consi- ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.
derar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz,
mesmo que aplicada no patamar máximo. Reincidência
Na fixação da pena privativa de liberdade utilizamos o mé- Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete
todo trifásico, no qual, primeiro o juiz avalia as circunstâncias novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no
judiciais (art. 59), depois agravantes e atenuantes (art. 61 a País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. 
67) e no fim causas de aumento e diminuição de pena (frações Art. 64 - Para efeito de reincidência: I - não prevalece a con-
legais). Obs.: em concurso de causas de aumento e diminuição denação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção
de pena previstas na parte especial do código, pode o juiz li- da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo
mitar-se a um aumento ou a uma diminuição, prevalecendo a superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da
causa que mais aumente ou mais diminua. suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revoga-
ção; II - não se consideram os crimes militares próprios e políti-
▪ Circunstâncias Judiciais cos.
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos anteceden- Circunstâncias atenuantes
tes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I
às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao com- - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou
portamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; II - o desco-
suficiente para reprovação e prevenção do crime:  nhecimento da lei; III - ter o agente: 
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites pre- moral;
vistos; b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência,
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências,
liberdade; ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou
por outra espécie de pena, se cabível.  em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a
influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da
vítima;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a no seu bom comportamento (não ter cometido falta grave nos
autoria do crime; últimos 12 meses, bom desempenho no trabalho) e aptidão para
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumul- prover a própria subsistência pelo trabalho honesto.
to, se não o provocou. A revogação é obrigatória em caso de condenação irrecor-
rível à pena privativa de liberdade. E, facultativa, em caso de
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de condenação irrecorrível por crime ou contravenção, à pena não
circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora privativa de liberdade, bem como o descumprimento das condi-
não prevista expressamente em lei.  ções impostas.
Atente-se que o Pacote Anticrime alterou o instituto do Li-
Concurso de circunstâncias agravantes e atenuantes vramento Condicional, de maneira que agora exige-se o NÃO
Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena COMETIMENTO DE FALTA GRAVE NOS ÚLTIMOS 12 MESES PARA
deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias pre- A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO.
ponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos
motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e Efeitos da Condenação
da reincidência. Quanto aos efeitos da condenação genéricos, exige-se:
• Indenização de danos;
Com o Pacote Anticrime, o tempo de cumprimento da • Perda em favor da União dos instrumentos ilícitos utiliza-
pena privativa de liberdade não pode ser superior a 40 anos. dos no crime e o produto do crime (ou equivalente).
Inclusive, quando o agente for condenado a penas privativas de • Se a pena máxima for superior a 6 anos de reclusão,
liberdade cuja soma ultrapasse 40 anos, devem elas serem uni- pode ser decretada a perda dos bens correspondentes à dife-
ficadas para atender este limite. E, sobrevindo condenação por rença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que
fato posterior ao início do cumprimento, deve ser feita nova seja compatível com o seu rendimento lícito.
unificação, desprezado o período de pena já cumprido.
Quanto aos efeitos específicos (dependem de motivação),
Suspensão Condicional da Pena pode ocorrer:
Sursis é a suspensão condicional da pena privativa de li- • Perda do cargo se a pena é igual ou superior a 1 ano, nos
berdade, na qual o réu se submete durante o período de prova crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever
(lapso temporal) à fiscalização e ao cumprimento de condições para com a Administração, ou, a pena é superior a 4 anos, nos
judicialmente estabelecidas. Cuida-se de execução mitigada da demais casos.
pena privativa de liberdade, uma vez que, o condenado cumpre • A incapacidade para o exercício do poder familiar, da
a pena que lhe foi imposta, mas de forma menos gravosa. tutela ou da curatela nos crimes dolosos sujeitos à pena de
Os requisitos objetivos são: pena privativa de liberdade reclusão cometidos contra outrem igualmente titular do mes-
aplicada na sentença não superior a 2 anos. Os requisitos sub- mo poder familiar, contra filho, filha ou outro descendente ou
jetivos são: não seja caso de pena substituída por restritiva de contra tutelado ou curatelado.
direitos, o réu não seja reincidente em doloso, a culpabilidade, • A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como
os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, meio para a prática de crime doloso.   
bem como os motivos e as circunstâncias do crime autorizem a
concessão do benefício. Reabilitação
O período de prova dura de 2 a 4 anos, salvo se tratar de A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois)
sursis etário ou humanitário, pois neste caso, o prazo dura de anos do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou
4 a 6 anos. terminar sua execução, computando-se o período de prova da
A revogação é obrigatória (art. 81 do Código Penal) em caso suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier re-
de superveniência de condenação irrecorrível pela prática de vogação, desde que o condenado:  
crime doloso, não reparação do dano e descumprimento das I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido (2
condições do sursis (condições do primeiro ano). A revogação anos);  
é facultativa (art. 81,  § 1º, CP) em caso de superveniência de II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e
condenação irrecorrível pela prática de contravenção penal ou constante de bom comportamento público e privado;  
crime culposo, bem como o cumprimento de qualquer condição III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demons-
judicial. tre a absoluta impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou
exiba documento que comprove a renúncia da vítima ou nova-
Livramento Condicional ção da dívida.  
É o benefício que permite ao condenado à pena privativa de
liberdade superior a 2 anos a liberdade antecipada, condicional Medidas de Segurança
e precária, desde que cumprida parte da reprimenda imposta O inimputável recebe medida de segurança. Se for extinta
e sejam observados os demais requisitos legais. Considera-se a a sua punibilidade, ex. prescreveu, não será imposta medida de
última etapa da execução, com liberdade responsável e reinser- segurança, pois não deixa de ser uma restrição na liberdade do
ção social. indivíduo.
Os requisitos objetivos são: condenado a pena privativa de A medida de segurança tem como prazo máximo 40 anos,
liberdade igual ou superior a 2 anos, reparação do dano, cumpri- assim como já dito para os crimes em geral. O que determina o
mento de 1/3 da pena ou ½ da pena em caso de reincidente em período de internação ou tratamento ambulatorial é a periculo-
crime doloso ou 2/3 da pena em caso de condenado não reinci- sidade do agente. O prazo mínimo varia de 1 a 3 anos. A perícia
dente em crime hediondo. Os requisitos subjetivos se baseiam deve ser realizada nesse lapso e repetida de ano a ano, bem
como sempre que o juiz da execução entender necessário.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional ▪ Causas de suspensão do prazo
devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, an- Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a
tes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persis- prescrição não corre: 
tência de sua periculosidade. I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de
O Código Penal divide a medida de segurança em duas es- que dependa o reconhecimento da existência do crime; 
pécies: II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;
III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos
Tratamento ambulatorial aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e
Internação em hospital IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de
de custódia e tratamento (se há previsão de detenção no não persecução penal
psiquiátrico crime) Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o
condenado está preso por outro motivo.
Por fim, o Código traz as hipóteses de EXTINÇÃO DA PUNI- ▪ Causas de interrupção do prazo (zera e volta a contar)
BILIDADE: Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
• Morte do agente; I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
• Anistia, graça e indulto; II - pela pronúncia; 
• Abolitio criminis; III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
• Prescrição, decadência, perempção; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios
• Renúncia do direito de queixa ou perdão aceito, nos cri- recorríveis.
mes de ação privada;
• Retratação do agente, nos casos em que a lei permite; Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa
• Perdão judicial, nos casos previstos em lei. Nessa PPP, usa a pena aplicada (não mais em abstrato),
quando transitar em julgado para a acusação, ou seja, a pena
O mais importante é conhecer sobre a prescrição penal. não pode mais ser aumentada. Entre uma causa de interrupção
O que é? Consiste na perda, em face do decurso do tempo, do e outra, analisa-se se ocorreu a prescrição, partindo do recebi-
direito de o Estado punir (PPP) ou executar a punição já impos- mento da denúncia. Ex. você vai pegar a pena aplicada e jogar
ta (PPE). na tabelinha do art. 109, então, vai retroativamente verificar
PPP = prescrição da pretensão punitiva – ocorre antes se entre os marcos interruptivos já passou o lapso temporal da
do trânsito em julgado e impede efeito penal e extrapenal de prescrição.
eventual condenação.
PPE = prescrição da pretensão executória – ocorre após o Prescrição da Pretensão Punitiva Superveniente
trânsito em julgado e impede somente a execução da pena. Essa PPP também usa a pena aplicada em concreto (joga na
tabelinha do art. 109), mas diferente da modalidade anterior
Prescrição da Pretensão Punitiva em Abstrato ela não retroage, mas sim é contada para frente. Você precisa
Nesta modalidade de PPP, combina-se a pena máxima com verificar se o lapso da prescrição ocorreu entre o trânsito em
a tabela do art. 109, para saber quando ocorrerá a prescrição: julgado para a acusação e o trânsito em julgado definitivo.
Art. 109.  A prescrição, antes de transitar em julgado a sen-
tença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, Obs.: O STJ não permite a prescrição da pretensão punitiva
regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade comina- virtual, pois não admite pena hipotética. Não dá para prever se
da ao crime, verificando-se:  vai prescrever, precisa aplicar as regras do CP e ver se de fato
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; prescreveu ou não.
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a
oito anos e não excede a doze; Prescrição da Pretensão Executória
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro Trata-se da prescrição da pena efetivamente imposta,
anos e não excede a oito; tendo como pressuposto sentença condenatória transitada em
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois julgado, em definitivo.
anos e não excede a quatro; Atente-se para o fato que, o prazo prescricional é aumen-
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano tado em 1/3, caso o agente seja reincidente.
ou, sendo superior, não excede a dois; O termo inicial aqui é diferente: o trânsito em julgado para
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 a acusação; dia em que é revogada a suspensão condicional da
(um) ano.   pena ou o livramento condicional; dia em que a execução da
Mas você deve estar pensando, quando o prazo começa a pena foi interrompida.
correr? Os marcos interruptivos também: início ou continuação do
• Do dia em que o crime se consumou; cumprimento da pena e a reincidência.
• Do último ato de execução; No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o li-
• Do dia em que cessou a permanência; vramento condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que
• Nos crimes de falsificação de registro civil e bigamia, do resta da pena.
dia em que se tornou conhecido;
• Nos crimes contra a dignidade sexual de criança e adoles- Obs.: Em todas as modalidades de prescrição existe a redu-
cente, ao completar 18 anos, salvo se já iniciada a ação penal. ção do prazo pela metade em duas situações:
• O agente é menor de 21 anos na data do fato;
• O agente é maior de 70 anos na data da sentença.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Concurso de crimes • Crime continuado específico: Nos crimes dolosos cometidos
com violência ou grave ameaça à pessoa, sendo vítimas diferentes,
Sistema do cúmulo As penas são somadas relativas a poderá o juiz aplicar a pena de um deles (a mais grave), aumentada
até o TRIPLO. Obs. A jurisprudência estabelece o patamar mínima
material cada um dos crimes cometidos. de 1/6 aqui também.
Aplica-se ao agente somente a pena
Sistema da exaspe-
da infração penal mais grave, acres-
ração CRIMES CONTRA A PESSOA
cida de determinado percentual.
Aplica-se somente a pena da infra-
Sistema da absorção ção penal mais grave dentre todas Os crimes contra a pessoa protegem os bens jurídicos vida
e integridade física da pessoa, encontram-se entre os artigos
as praticadas. 121 ao 154 do Código Penal. A jurisprudência é vasta sobre tais
tipos penais e muitas vezes repleta de polêmicas, como, por
Concurso material (real) de crimes exemplo, no caso do aborto.
O agente pratica duas ou mais condutas e produz dois ou mais
resultados. Pode ser homogêneo, quando todos os crimes pratica- Homicídio
dos são iguais, ou heterogêneo, quando os crimes são diferentes. • O homicídio simples consiste em matar alguém.
• O homicídio privilegiado recebe causa de diminuição de
Concurso formal (ideal) de crimes pena de 1/6 a 1/3, desde que o motivo seja de relevante valor
O agente mediante uma única conduta pratica dois ou mais cri- moral ou social (ex. matou o estuprador da filha); sob domínio
mes, idênticos ou não. Ou seja, há unidade de conduta e pluralida- de violenta emoção logo após injusta provocação da vítima (ex.
de de resultados. No concurso formal perfeito (próprio), o agente matou o amante da esposa ao pegá-los no flagra).
pratica uma conduta e produz mais de um resultado, embora não • O homicídio é qualificado e recebe pena-base maior nos
pretendesse realizar ambos. Ou seja, ocorre entre crimes culposos casos de paga ou promessa de recompensa ou outro motivo
ou um doloso e os demais culposos (não pretendidos). O resultado torpe (ex. matar por dinheiro); emprego de veneno, fogo, ex-
é que aplica a pena do crime mais grave e aumenta-se de 1/6 até plosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (ex.
a metade (depende da quantidade de crimes). No concurso formal queimar a pessoa viva), ou de que possa resultar perigo comum
imperfeito (impróprio), o agente se vale de uma única conduta (ex. incendiar um prédio para matar seu desafeto); traição, em-
para dolosamente produzir mais de um crime. O resultado é que se- boscada, dissimulação ou outro recurso que dificulte a defesa
rão aplicadas as penas de todos os crimes cumulativamente (soma), do ofendido (ex. mata-lo em rua sem saída); para assegurar a
pois os desígnios foram autônomos. execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime
Obs.: O concurso material benéfico ocorre quando o sistema (ex. matar a testemunha de um crime).
da exasperação se mostra prejudicial ao réu em relação ao sistema
da cumulação. Nesse caso é dispensada a exasperação e utiliza-se a Obs.: O feminicídio é uma espécie de homicídio qualificado,
soma (cúmulo material). no qual o agente mata a mulher por razões da condição de sexo
feminino, isto é, no contexto de violência doméstica ou fami-
Crime continuado (continuidade delitiva) liar, ou, menosprezo/discriminação à condição de mulher.
O agente pratica diversas condutas com o resultado de dois
ou mais crimes, que por uma ficção jurídica a lei o classifica como
crime único na hora de aplicar a pena (Francesco Carrara). No que Causas de Causas de
Causas de aumento
tange à prescrição, os crimes são considerados autônomos. aumento do aumento do
do feminicídio
Requisitos = pluralidade de condutas + crimes da mesma espé- homicídio culposo homicídio doloso
cie + tempo/lugar/modo de execução e outras semelhanças. Ocorrer durante a
Uma curiosidade quanto aos crimes da mesma espécie é que gestação ou nos 3
precisam estar no mesmo artigo e tutelar o mesmo bem jurídico. Vítima menor de
meses posteriores
O tempo não pode passar de 30 dias entre as condutas. Quanto 14 anos ou maior
ao parto; contra
a conexão espacial, os crimes devem ser cometidos no mesmo lo- de 60 anos; crime
menor de 14 anos
cal, ex. cidade/região metropolitana. Se ocorrer a praticado por
ou maior de 60 anos
Uma parte da doutrina acredita ser necessário, também, uma inobservância milícia privada,
ou pessoa portadora
conexão ocasional – os primeiros crimes proporcionem os subse- de regra técnica sob o pretexto
de deficiência/
quentes (eu cometo uma série de crimes para se chegar ao todo). profissional; deixar de prestação
doença degenerativa;
Essa unidade de desígnios é denominada teoria objetiva-subjetiva. de prestar socorro. de serviço
na presença de
No crime continuado é utilizado o sistema da exasperação: de segurança
ascendente ou
• Crime continuado simples: as penas dos delitos são as mes- ou grupo de
descendente;
mas, assim, aplica-se a pena de um deles acrescida de 1/6 a 2/3 extermínio.
descumprindo
(depende da quantidade de crimes). medida protetiva.
• Crime continuado qualificado: as penas dos delitos pratica-
dos são diferentes, de maneira que a pena mais grave é aplicada, Obs.: O homicídio contra autoridade da Segurança Pública,
aumentada de 1/6 a 2/3. no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente até 3º grau qualifica o homi-
cídio.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
É interessante que recentemente o STJ entendeu que o VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e
simples fato do condutor do automóvel estar embriagado não 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e
gera a presunção de que tenha havido dolo eventual, no caso da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
de acidente de trânsito com o resultado morte. O STF, no mes- ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
mo sentido, considerou que não havia homicídio doloso na parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condi-
conduta de um homem que entregou o seu carro a uma mulher ção:
embriagada para que esta dirigisse o veículo, mesmo tendo VIII - (VETADO):
havido acidente por causa da embriaguez, resultando a morte Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
da mulher condutora. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo femi-
Por outro lado, já foi reconhecido o dolo eventual por estar nino quando o crime envolve:
dirigindo na contramão embriagado, uma vez que, o condutor I - violência doméstica e familiar;
assumiu o risco de causar lesões/morte de outrem. Inclusive, a II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
tentativa é compatível com o dolo eventual.
Quanto a qualificadora do motivo fútil, o STJ não a enqua- ▪ Homicídio culposo
dra nos casos de racha. Todavia, aplica-se a qualificadora do § 3º Se o homicídio é culposo:
meio cruel no caso de reiteração de golpes na vítima. Ademais, Pena - detenção, de um a três anos.
a qualificadora do motivo fútil é compatível com o homicídio
praticado com dolo eventual. Mas a qualificadora da traição/ ▪ Aumento de pena
emboscada/dissimulação não é compatível com dolo eventual, § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um
pois exige-se um planejamento do crime que o dolo eventual terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
não proporciona. profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imedia-
A qualificadora do feminicídio é compatível com o motivo to socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do
torpe, pois está solidificado nos tribunais superiores o entendi- seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso
mento que o feminicídio é uma qualificadora objetiva que com- o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
bina com as qualificadoras subjetivas (motivo do crime), bem praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
como com o homicídio privilegiado. (sessenta) anos.
Por fim, lembre-se que a jurisprudência considera que § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar
algumas situações merecem a extinção da punibilidade pelo de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o
perdão judicial, quando o homicídio é culposo e o agente já próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne
sofreu suficientemente as consequências do crime. Exemplo: desnecessária.
pai atropela o filho. § 6oA pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade
Ainda sobre o homicídio culposo, a causa de aumento não se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de
é afastada se o agente deixa de prestar socorro em caso de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
morte instantânea da vítima, salvo se o óbito realmente for § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço)
evidente. até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao
▪ Homicídio simples parto;
Art. 121. Matar alguém: II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças dege-
nerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilida-
• Caso de diminuição de pena de física ou mental;
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de re- III - na presença física ou virtual de descendente ou de as-
levante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emo- cendente da vítima;
ção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência
reduzir a pena de um sexto a um terço. previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340,
de 7 de agosto de 2006.
▪ Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido: Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automu-
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro tilação
motivo torpe; Este crime sofreu alteração com o Pacote Anticrime, em
II - por motivo fútil; razão do episódio da “Baleia Azul”, jogo desenvolvido entre
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura jovens, no qual incitava-se a automutilação e o suicídio.
ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum; ▪ Antes do Pacote Anticrime
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofen- -lhe auxílio para que o faça:
dido; Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta
vantagem de outro crime: lesão corporal de natureza grave.
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Parágrafo único - A pena é duplicada:

▪ Feminicídio Aumento de pena


VI - contra a mulher por razões da condição de sexo femi- I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
nino:
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer cau- discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer ou-
sa, a capacidade de resistência. tra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente
pelo crime de Lesão Corporal qualificada como gravíssima.
Após o Pacote Anticrime Se o resultado é a morte e o crime é cometido contra me-
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a pra- nor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessá-
ticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o rio discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação pelo crime de homicídio.
dada pela Lei nº 13.968, de 2019)
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta Infanticídio
lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos Consiste em matar o filho sob influência dos hormônios
§§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, (estado puerperal), durante o parto ou logo após.
de 2019) Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o pró-
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei prio filho, durante o parto ou logo após:
nº 13.968, de 2019) Pena - detenção, de dois a seis anos.
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta
morte:(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) Aborto
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei O Código Penal divide o aborto em:
nº 13.968, de 2019) ▪ Aborto provocado pela gestante ou com o seu consenti-
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de mento: Consiste em provocar o aborto em si mesma, ex. me-
2019) diante chás. Ou, consentir que alguém o provoque, ex. ir em
I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; uma clínica abortiva.
(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer cau- ▪ Aborto provocado por terceiro: No aborto provocado por
sa, a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de terceiro, pode existir ou não o consentimento da gestante. No
2019) primeiro caso perceba que cada um vai responder por um cri-
§ 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é re- me, a gestante por consentir, o terceiro por abortar.
alizada por meio da rede de computadores, de rede social ou
transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) É considerado aborto sem o consentimento da gestante se
§ 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou ela é menor de 14 anos, sofre de problemas mentais, se o con-
coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº sentimento é obtido mediante fraude/grave ameaça/violência.
13.968, de 2019) Tanto no aborto com ou sem o consentimento da gestante
§ 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em existe causa de aumento de pena se ela morre ou sofre lesão
lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra me- corporal grave.
nor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou ▪ Aborto necessário: Não se pune o aborto praticado por
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a médico caso não haja outro meio se salvar a vida da gestante.
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode ofe-
recer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º ▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: Não
do art. 129 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) se pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de
§ 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante
contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem ou seu representante legal, no caso de incapacidade.
o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por
qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde A grande polêmica do aborto circunda na questão da inter-
o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste rupção da gravidez no primeiro trimestre. O STF já decidiu que
Código. não há crime se existe o consentimento da gestante ou trata-se
de autoaborto. A Suprema Corte fundamentou que a criminali-
O crime consiste em colocar a ideia ou incentivar a ideia do zação, nessa hipótese, viola os direitos fundamentais da mulher
suicídio ou automutilação, bem como prestar auxílio material e o princípio da proporcionalidade.
(ex. emprestar a faca). As penas são diferentes, a depender do
resultado do crime. ▪ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimen-
• Lesão corporal de natureza grave ou gravíssima: Reclusão to
de 1 a 3 anos; Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que
• Resultado morte: Reclusão de 2 a 6 anos. outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.
Ademais, as penas são duplicadas se o crime é praticado
por motivo egoístico, torpe ou fútil (motivo banal), bem como ▪ Aborto provocado por terceiro
se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestan-
capacidade de resistência. No mesmo sentido, a pena é aumen- te:
tada até o dobro se a conduta é realizada por meio da internet Pena - reclusão, de três a dez anos.
(ex. jogo baleia azul). Ademais, aumenta-se a pena em metade Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestan-
se o agente é o líder (quem manda). te:
Se o resultado é lesão corporal de natureza gravíssima e é Pena - reclusão, de um a quatro anos.
cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem,
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
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Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a Obs.: Causar lesão contra autoridade de segurança públi-
gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil ca no exercício de função ou em decorrência dela, bem como
mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave contra parente até 3º grau dessas pessoas enseja causa de au-
ameaça ou violência mento.

▪ Forma qualificada Bem como no homicídio culposo, a lesão corporal culposa


Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores possibilita a aplicação do perdão judicial e a isenção da pena.
são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou Ex. machucou o filho sem querer.
dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão A lesão corporal praticada contra o cônjuge, ascendente,
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer descendente e irmão, com quem conviva ou tenha convivido,
dessas causas, lhe sobrevém a morte. ou, prevalecendo-se das relações domésticas enseja aumento
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: na pena do crime qualificado por lesão grave ou gravíssima.
Ademais, aumenta a pena o crime de lesão corporal em âmbito
▪ Aborto necessário doméstico se a vítima é portadora de deficiência.
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; A jurisprudência caminha no sentido que a qualificadora da
deformidade permanente não é afastada em razão de posterior
▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro cirurgia plástica reparadora. Ademais, perda de dois dentes
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido configura lesão grave, uma vez que, ocasiona debilidade per-
de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu repre- manente (dificuldade para mastigar).
sentante legal.
Lesão corporal
Lesão Corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
Consiste em ofender a integridade corporal ou saúde de outrem:
outrem. A pena é aumentada em caso de violência doméstica, Pena - detenção, de três meses a um ano.
como forma de prestígio à Lei Maria da Penha. Ademais, quali-
fica o crime a depender do resultado das lesões: Lesão corporal de natureza grave
Qualificadora de natureza § 1º Se resulta:
Qualificadora de natureza grave I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de
gravíssima
trinta dias;
Incapacidade para as ocupações II - perigo de vida;
Incapacidade permanente
habituais por mais de 30 dias, III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
para o trabalho, ex. não
ex. passar roupa. IV - aceleração de parto:
consegue mais trabalhar.
Perigo de vida, ex. correu risco Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Enfermidade incurável, ex.
na cirurgia. § 2° Se resulta:
adquire deficiência mental.
Debilidade permanente de I - Incapacidade permanente para o trabalho;
Deformidade permanente,
membro, sentido ou função, ex. II - enfermidade incurável;
ex. rosto queimado.
não consegue escrever como III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
Aborto.
antes. IV - deformidade permanente;
Perda de membro, sentido
Aceleração do parto, ex. nasce V - aborto:
ou função, ex. fica cego.
prematuro. Pena - reclusão, de dois a oito anos.

No caso de lesão corporal seguida de morte, a morte é Lesão corporal seguida de morte
culposa e a lesão corporal dolosa. A morte qualifica a lesão § 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
corporal. Ex. João tem a intenção de espancar seu desafeto, agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
que acaba falecendo. Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
A lesão corporal é privilegiada se o agente comete o crime
impelido por motivo de relevante valor moral ou social (ex. Diminuição de pena
espanca o estuprador de sua filha); sob o domínio de violenta § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de
emoção logo após injusta provocação da vítima (ex. espanca relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
o amante da esposa ao pegá-los no flagra). Resultado: O juiz emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz
pode diminuir a pena, ou, não sendo grave a lesão, o juiz pode pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
substituir a pena de detenção por multa. No mesmo sentido, se
a lesão não é grave e as lesões são recíprocas, o juiz pode subs- Substituição da pena
tituir a pena de detenção por multa. § 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substi-
São causas de aumento: tuir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a
• Na lesão corporal culposa – inobservância de regra técni- dois contos de réis:
ca profissional, deixar de prestar socorro. I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
• Na lesão corporal dolosa – vítima menor de 14 anos ou II - se as lesões são recíprocas.
maior de 60 anos, praticado por milícia privada ou grupo de
extermínio. Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

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Aumento de pena Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não cons-
§ 7oAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qual- titui crime mais grave.
quer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo
121. decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços
em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com
Violência Doméstica as normas legais.
§ 9oSe a lesão for praticada contra ascendente, descenden-
te, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou • Abandono de incapaz: Abandonar a pessoa que está sob o
tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das rela- seu cuidado/guarda/vigilância/autoridade incapaz de se defen-
ções domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: der dos riscos do abandono. Ex. deixo meu sobrinho menor de
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. idade em uma viela perigosa. Eventual lesão corporal ou morte
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as qualificam o crime. Aumenta a pena se o abandono ocorrer em
circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta- local ermo, entre parentes próximos/tutor/curador, se a vítima
-se a pena em 1/3 (um terço). é maior de 60 anos.
§ 11.Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumen- Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guar-
tada de um terço se o crime for cometido contra pessoa porta- da, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de
dora de deficiência. defender-se dos riscos resultantes do abandono:
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente Pena - detenção, de seis meses a três anos.
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integran- § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza
tes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pú- grave:
blica, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra Pena - reclusão, de um a cinco anos.
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até tercei- § 2º - Se resulta a morte:
ro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
dois terços.
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões Aumento de pena
da condição do sexo feminino, nos termos do § 2º-A do art. 121 § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
deste Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) terço:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
Lei nº 14.188, de 2021) II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, ir-
mão, tutor ou curador da vítima.
Periclitação da vida e da saúde III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
• Perigo de contágio venéreo: Consiste em expor outrem
por meio de relações sexuais a contágio de moléstia venérea, • Exposição de abandono de recém nascido: consiste em
quando sabe ou deve saber que está contaminado. Ex. João expor/abandonar o recém nascido para ocultar desonra própria.
sabe que tem AIDS, mas insiste em ter relações sexuais com a Ex. tenho um filho fora do casamento e o abandono para o meu
sua esposa de maneira desprotegida. esposo não saber. Eventual lesão corporal ou morte do recém-
Se a intenção do agente é transmitir a moléstia venérea o -nascido qualificam o crime.
crime qualifica-se, isto é, possui uma pena mais severa. Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou desonra própria:
qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
sabe ou deve saber que está contaminado: § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Pena - detenção, de um a três anos.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: § 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Pena - detenção, de dois a seis anos.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
• Omissão de socorro: crime omissivo, no sentido de dei-
• Perigo de contágio de moléstia grave: consiste em prati- xar de prestar assistência quando possível fazê-lo a criança
car ato capaz de produzir contágio, tendo o dolo se transmitir a abandonado, pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, em
outrem a moléstia (doença) de que está contaminado. Ex. saben- grave ou iminente perigo. Se não for possível o socorro direto,
do que estou com coronavírus espirro na face do meu desafeto. o agente deve, pelo menos, pedir socorro à autoridade pública,
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem mo- para não cometer o crime de omissão de socorro. A lesão cor-
léstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o poral grave e a morte aumentam a pena.
contágio: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fa-
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. zê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou
à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminen-
• Perigo para a vida ou saúde de outrem: consiste em expor te perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade
a vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente. A pena pública:
é aumentada se o perigo ocorre em transporte de pessoas. Ex. Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
transportar crianças de uma creche sem que o automóvel res- Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da
peite as normas de segurança. omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada,
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto se resulta a morte.
e iminente:

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• Condicionamento de atendimento médico-hospitalar II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas
emergencial: exigir garantia, bem como preenchimento de no nº I do art. 141 (contra o Presidente da República, ou contra
formulários administrativos, como condição para o atendimen- chefe de governo estrangeiro);
to médico hospitalar emergencial. Ex. chego no PS infartando III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofen-
e me mandam dar uma garantia financeira para que ocorra o dido foi absolvido por sentença irrecorrível.
meu atendimento. Aumentam a pena eventual morte ou lesão
corporal grave. • Difamação: Atribuir a outrem um fato desabonador. Ex.
Art. 135-A.Exigir cheque-caução, nota promissória ou qual- Eu digo que Joana se prostitui nas horas vagas.
quer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à
administrativos, como condição para o atendimento médico- sua reputação:
-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Exceção da verdade
Parágrafo único.A pena é aumentada até o dobro se da ne- Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite
gativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao
e até o triplo se resulta a morte. exercício de suas funções.
Motivo: é do interesse da Administração Pública saber so-
• Maus tratos: Expor a perigo de vida/saúde uma pessoa bre a conduta dos seus funcionários.
que está sob sua autoridade/guarda/vigilância, tendo como
finalidade educação, ensino, tratamento, custódia, privando- • Injúria: É o famoso xingar outrem. Ex. palavrões.
-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
a trabalho excessivo ou inadequado, abusando dos meios de decoro:
correção e disciplina. Ex. pai espanca o filho com a intenção de Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
educá-lo. Caso ocorra lesão corporal grave ou morte da vítima Não cabe exceção da verdade. Mas o juiz pode deixar de
a pena é aumentada, bem como se ela possui menos de 14 aplicar a pena se o ofendido provocou a injúria ou no caso de
anos de idade. retorsão imediata que consista em outra injúria (um injuria o
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua outro).
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino,
tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cui- Obs.: A injúria possui duas qualificadoras: 1) se há violên-
dados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou cia/vias de fato, ex. puxão de orelha para dizer que Juquinha é
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: burro; 2) Injúria racial, ex. dizer que Juquinha é um macaco em
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. razão da sua cor.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos. Em qualquer dos 3 crimes a pena é aumentada quando
§ 2º - Se resulta a morte: praticado contra o Presidente da República, ou contra chefe
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. de governo estrangeiro; contra funcionário público, em razão
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado de suas funções; na presença de várias pessoas, ou por meio
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria;
▪ Rixa: Consiste em participar da rixa, salvo se a intenção contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de de-
do agente é separar a briga. Qualifica o crime eventual lesão ficiência, exceto no caso de injúria (neste caso qualifica). Se o
corporal grave ou morte. crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa,
aplica-se a pena em dobro.
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os conten- Existe a exclusão do crime de injúria ou difamação se:
dores: I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. parte ou por seu procurador (ex. discussões nas sessões de
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de na- julgamento);
tureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou
de detenção, de seis meses a dois anos. científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou
difamar (ex. crítica de um especialista no assunto);
▪ Crimes contra a honra III - o conceito desfavorável emitido por funcionário públi-
• Calúnia: Atribuir a outrem um fato criminoso que o sabe co, em apreciação ou informação que preste no cumprimento
falso. Ex. Eu digo que Juquinha subtraiu o relógio de Joana en- de dever do ofício (ex. avaliação de funcionário).
quanto ela dormia, mesmo sabendo que isso não é verdade.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato Todavia, nos casos dos nº I e III, responde pela injúria ou
definido como crime: pela difamação quem lhe dá publicidade.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a impu- Por fim, cabe retratação, isto é, o agente antes da sentença
tação, a propala ou divulga. se retrata cabalmente da calúnia ou difamação. A consequência
§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos. é que ficará isento de pena. Outra opção para evitar a respon-
Para se livrar do crime de calúnia o agente pode provar que sabilização criminal é se, de referências, alusões ou frases, se
realmente está certo no fato criminal que contou. Esse é o ins- infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido
tituto da exceção da verdade, mas que não pode ser usado em pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las
alguns casos: ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, ofensa.
o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Quanto ao entendimento dos tribunais, algumas decisões § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:
merecem destaque: (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
• Em uma única carta pode estar configurado o crime de I – contra criança, adolescente ou idoso; (Incluído pela Lei
calúnia, difamação e injúria. nº 14.132, de 2021)
• Configura difamação edição e publicação de vídeo que II – contra mulher por razões da condição de sexo feminino,
faz parecer que a vítima está falando mal de negros e pobres. nos termos do § 2º-A do art. 121 deste Código; (Incluído pela
• A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime Lei nº 14.132, de 2021)
contra autor de postagem que sugere relação extraconjugal do III – mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com
marido com outro homem. o emprego de arma. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)
• Deputado que em entrevista afirma que determinada § 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
deputada não merece ser estuprada pratica, em tese, crime de correspondentes à violência. (Incluído pela Lei nº 14.132, de
injúria. 2021)
• Não deve ser punido deputado federal que profere pala- § 3º Somente se procede mediante representação. (Incluí-
vras injuriosas contra adversário político que também o ofen- do pela Lei nº 14.132, de 2021)
deu imediatamente antes. Violência psicológica contra a mulher (Incluído pela Lei nº
• O advogado não comete calúnia se não ficar provada a 14.188, de 2021)
sua intenção de ofender a honra, ainda que contra magistrado.
Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a pre-
Crimes contra a liberdade pessoal judique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a
• Constrangimento ilegal: Consiste em constranger alguém degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças
mediante violência ou grave ameaça, ou depois de reduzir a e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
sua capacidade de resistência, para não fazer o que a lei permi- manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação
te ou a fazer o que ela não mandar. Além da pena do constran- do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo
gimento, é aplicada a pena da violência. Exceções: intervenção à sua saúde psicológica e autodeterminação: (Incluído pela Lei
médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou seu nº 14.188, de 2021)
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida, Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa,
e no caso de impedimento de suicídio. Aumento de pena: reu- se a conduta não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei
nião de mais de 3 pessoas ou emprego de arma. nº 14.188, de 2021)
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou gra-
ve ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro • Sequestro e cárcere privado: Consiste em privar alguém
meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permi- da sua liberdade. Ex. Juquinha prende Maria no quarto por
te, ou a fazer o que ela não manda: dias. Qualifica o crime se a vítima é maior de 60 anos ou menor
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. de 18 anos, parente, o modus operandi é a internação da víti-
ma, se dura mais de 15 dias, se há fins libidinosos, resulta grave
Aumento de pena sofrimento físico ou moral.
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante seques-
quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pes- tro ou cárcere privado:
soas, ou há emprego de armas. Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspon- § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
dentes à violência. I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou com-
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: panheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em
do paciente ou de seu representante legal, se justificada por imi- casa de saúde ou hospital;
nente perigo de vida; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
II - a coação exercida para impedir suicídio. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito)
anos;
• Ameaça: Ameaçar alguém de lhe causar mal injusto e V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
grave. Ex. vou te matar. § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e Pena - reclusão, de dois a oito anos.
grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. • Redução à condição análoga a de escravo: consiste em
Parágrafo único - Somente se procede mediante represen- submeter alguém a trabalhos forçados ou jornada exaustiva,
tação. condições degradantes de trabalho, restringindo a sua locomo-
ção em razão de dívida contraída. Responde pela mesma pena
• Perseguição quem cerceia o meio de transporte para reter a vítima no local
Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qual- de trabalho, mantém vigilância ou se apodera de documentos
quer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, da vítima com o fim retê-la. Aumenta a pena se existe motivo de
restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer preconceito ou se é contra criança/adolescente.
forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade. (Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021) Obs.: Não é requisito para a configuração do crime a restri-
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. ção da liberdade de locomoção dos trabalhadores.
(Incluído pela Lei nº 14.132, de 2021)

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, É casa Não é casa
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exausti-
va, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer I - qualquer compartimento
restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dí- habitado; I - hospedaria, estalagem ou
vida contraída com o empregador ou preposto: II - aposento ocupado de habita- qualquer outra habitação
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena
correspondente à violência. ção coletiva; coletiva, enquanto aberta;
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: III - compartimento não aberto II - taverna, casa de jogo e ou-
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do ao público, onde alguém exerce tras do mesmo gênero.
trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se profissão ou atividade.
apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador,
com o fim de retê-lo no local de trabalho. Em recente decisão, o STJ entendeu que configura o crime
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: de violação de domicílio o ingresso e permanência, sem autori-
I – contra criança ou adolescente; zação, em gabinete de delegado de polícia, embora faça parte
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião de um prédio/repartição pública.
ou origem.
Crimes contra a inviolabilidade de correspondências
•Tráfico de Pessoas: Consiste em agenciar/ aliciar/recrutar/ • Violação de correspondência: Devassar indevidamente o
transportar/transferir/comprar/alojar/acolher, mediante vio- conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem.
lência, grave ameaça, coação, fraude ou abuso uma pessoa ten- • Sonegação ou destruição de correspondência: Se apossa
do a finalidade de remover partes do corpo, submetê-la a traba- indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada
lho em condições análogas a de escravo, submetê-la a servidão, e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói.
adoção ilegal ou exploração sexual. Aumenta a pena se o crime é • Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou te-
cometido por funcionário público; contra criança/adolescente/ lefônica: Quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou
idoso/deficiente; se há retirada do território nacional; se preva- utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica
lece da relação que tem com a vítima. A pena é diminuída caso o dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pes-
agente seja primário e não integre organização criminosa. soas;

Art. 149-A.Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, Quem impede a comunicação ou a conversação referidas no
comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, vio- número anterior;
lência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de: Quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico.
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo; • Correspondência comercial:Abusar da condição de sócio
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de es- ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para,
cravo; no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir cor-
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão; respondência, ou revelar a estranho seu conteúdo.
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual. Obs.:As penas aumentam-se de metade, se há dano para
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. outrem. Se o agente comete o crime, com abuso de função em
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se: serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico o crime
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício qualifica-se.
de suas funções ou a pretexto de exercê-las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pes- Crimes contra a inviolabilidade dos segredos
soa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, do- Violação do segredo
mésticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência eco- Divulgação de segredo
profissional
nômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente
ao exercício de emprego, cargo ou função; ou Divulgar alguém, sem justa
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território causa, conteúdo de documento
nacional. particular ou de correspondência
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for
primário e não integrar organização criminosa. confidencial, de que é Revelar alguém, sem justa
destinatário ou detentor, e cuja causa, segredo, de que
Crimes contra a inviolabilidade do domicílio - Violação de divulgação possa produzir dano tem ciência em razão de
domicílio
a outrem. função, ministério, ofício ou
Entrar ou permanecer em casa alheia, de maneira clandesti-
na/astuciosa, contra a vontade de quem de direito (ex. proprie- Qualifica divulgar, sem justa profissão, e cuja revelação
tário). Qualifica quando o crime é cometido no período da noite, causa, informações sigilosas ou possa produzir dano a
lugar ermo, mediante violência ou arma, 2 ou mais pessoas. Au- reservadas, assim definidas em outrem.
menta se o agente é funcionário público. Não configura o crime
se é caso de prisão em flagrante ou efetuar prisão/diligências lei, contidas ou não nos sistemas
durante o dia. de informações ou banco de
dados da Administração Pública.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Por fim, configura o crime de invasão de dispositivo infor- — Qualificadoras
mático o indivíduo que invade dispositivo informático alheio, A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é
conectado ou não à rede de computadores, mediante violação cometido:
indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração
adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização ex- da coisa;
pressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabili- II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou
dades para obter vantagem ilícita. Ex. Hacker. destreza;
Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, III - com emprego de chave falsa;
vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
o intuito de permitir a prática da conduta. Aumenta-se a pena de
um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,
Qualifica o crime se da invasão resultar a obtenção de conteúdo se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou perigo comum.
industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o
controle remoto não autorizado do dispositivo invadido. Nesse furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico
último caso, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com
divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qual- ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização
quer título, dos dados ou informações obtidas. de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento
análogo.
Obs.: Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância
for praticado contra: Presidente da República, governadores e do resultado gravoso:
prefeitos; Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime
da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do
Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal território nacional
ou de Câmara Municipal; ou dirigente máximo da administração II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é
direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Fe- praticado contra idoso ou vulnerável.
deral. A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado
ou para o exterior.
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração
for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes no local da subtração.
Em primeiro lugar, é importante conhecer as alterações que o A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa,
Pacote Anticrime fez nos crimes contra o patrimônio: se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que,
• No crime de roubo, a pena passou a ser aumentada de 1/3 conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem
até 1/2 se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de ou emprego.
ARMA BRANCA. Ademais, a pena aumenta-se de 2/3 se a violência
ou ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO. Por fim, ▪ Furto privilegiado
aplica-se a pena em DOBRO se a violência ou grave ameaça é Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada,
exercida com emprego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-
PROIBIDO. la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Obs.
• O crime de estelionato passou a ter como regra de Ação Penal outros crimes patrimoniais sem violência/grave ameaça, também,
Pública Condicionada a Representação. Exceção: Será de Ação penal recebem o benefício.
pública INCONDICIONADA quando a vítima for: I - a Administração
Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III - pessoa ▪ Furto de Coisa Comum
com deficiência mental; ou IV - maior de 70 anos de idade ou Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si
incapaz. ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
• A pena do crime de concussão também mudou: De Reclusão, Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
de 2 a 8 anos, e multa, passou para Reclusão, de 2 a 12 anos, e § 1º - Somente se procede mediante representação.
multa. Essa é uma novatio legis in pejus, logo, não retroage. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo
valor não excede a quota a que tem direito o agente.
Furto
Consiste na subtração de bem alheio, sem violência nem grave Atente-se para a novidade legislativa de 2021:
ameaça. § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos,
e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança
ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
— Causa de aumento fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021)
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante Ex. quando o furto mediante fraude ocorre em ambiente
o repouso noturno. Ex. enquanto os moradores da casa estavam virtual.
dormindo o agente furta o lar.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos,
relevância do resultado gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de e multa.
2021)
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime Extorsão e Extorsão mediante sequestro
é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do Os dois tipos penais não se confundem. Na extorsão,
território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) constrange-se alguém, de forma violenta ou com grave ameaça,
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é para obter vantagem econômica. Na extorsão, mediante sequestro,
praticado contra idoso ou vulnerável.   (Incluído pela Lei nº 14.155, sequestra-se a pessoa para obter qualquer vantagem, como
de 2021) condição ou preço do resgate.

Atente-se que são causas de aumento: servidor mantido fora ▪ Extorsão


do país; praticado contra idoso ou vulnerável. Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
A mudança legislativa teve como escopo reprimir os crimes ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
de alta tecnologia, pois atualmente é muito comum que o furto vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
(subtração de dinheiro) ocorra por meio de dispositivo eletrônico alguma coisa:
ou informático. Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
As causas de aumento se justificam por dois motivos: § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
• É mais difícil de investigar e punir servidor mantido fora do emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
país; § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o
• É mais repugnante quando cometido contra idoso ou disposto no § 3º do artigo anterior.
vulnerável. § 3ºSe o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem
Roubo econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
É a subtração de bens alheios violenta, com grave ameaça ou da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
reduzindo a possibilidade de resistência da vítima (ex. boa noite penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
cinderela).
▪ Extorsão mediante sequestro
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê- outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
ou para terceiro. § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
— Causa de aumento § 3º - Se resulta a morte:
§ 2ºA pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado,
agente conhece tal circunstância. terá sua pena reduzida de um a dois terços.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior; ▪ Extorsão indireta
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando
sua liberdade. da situação de alguém, documento que pode dar causa a
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
fabricação, montagem ou emprego.
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego Usurpação
de arma branca; Dentro do capítulo usurpação estão inseridos os seguintes
§ 2º-AA pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): crimes:
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma • Alteração de limites: suprimir ou deslocar tapume, marco, ou
de fogo; qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se,
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia.
o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo • Usurpação de águas: desviar ou represar, em proveito próprio
comum. ou de outrem, águas alheias.
• Esbulho possessório: invadir, com violência a pessoa ou grave
— Qualificadora ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno
§ 2º-B.Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Obs. Se a
de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente
pena prevista no caput deste artigo. se procede mediante queixa.
§ 3º Se da violência resulta: • Supressão ou alteração de marca em animais: Suprimir ou
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal
(dezoito) anos, e multa; indicativo de propriedade.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Dano § 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente,
No crime de dano, os verbos núcleos do tipo são 3 - Destruir, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições,
inutilizar ou deteriorar (coisa alheia). Ademais, em 4 situações o importâncias ou valores e presta as informações devidas à
crime é qualificado: previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes
• com violência à pessoa ou grave ameaça; do início da ação fiscal.
• com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar
não constitui crime mais grave; somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes,
• contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, desde que:
de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social
serviços públicos; previdenciária, inclusive acessórios; ou
• por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios,
vítima (somente se procede mediante queixa). seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de
No mesmo capítulo, o Código Penal traz mais algumas figuras suas execuções fiscais.
típicas: § 4oA faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos
casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente,
(somente se procede mediante queixa) como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia,
sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte Apropriação de coisa
prejuízo: havida por erro, caso Apropriação Apropriação
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. fortuito ou força de tesouro de coisa achada
da natureza
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela II - quem acha coi-
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico sa alheia perdida
ou histórico: I - quem acha e dela se apropria,
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Art. 169 - Apropriar- tesouro em pré- total ou parcial-
-se alguém de coisa dio alheio e se mente, deixando
Alteração de local especialmente protegido alheia vinda ao seu apropria, no todo de restituí-la ao
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o poder por erro, caso ou em parte, da dono ou legítimo
aspecto de local especialmente protegido por lei: fortuito ou força da quota a que tem possuidor ou de
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. natureza. direito o proprie- entregá-la à autori-
tário do prédio. dade competente,
Apropriação indébita dentro no prazo de
O agente apropria-se de coisa alheia, valendo-se da posse ou quinze dias.
detenção que tem dela. Ex. o motoboy que ia levar a sua pizza por
delivery, aproveita para apropriar-se dela. A pena é aumentada de Estelionato e outras fraudes
um terço, quando o agente recebeu a coisa: em depósito necessário; O estelionato caracteriza-se por obter, para si ou para outrem,
na qualidade de tutor, curador, síndico (atual administrador judicial), vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
em razão de ofício, emprego ou profissão. fraudulento.
Atenção: O STF, já decidiu que ressarcimento em acordo Após o Pacote Anticrime a ação passou a ser pública
homologado no juízo cível é fundamento válido para trancar a ação condicionada à representação, salvo: se a vítima for a Administração
penal. Pública, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental,
Obs. a apropriação indébita previdenciária (forma qualificada) maior de 70 anos de idade ou incapaz.
caracteriza-se por deixar de repassar à previdência social as O Código Penal determina que deve incorrer na mesma pena
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal do estelionato quem comete:
ou convencional, independente de dolo específico. • Disposição de coisa alheia como própria;
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: • Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria;
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância • Defraudação do penhor;
destinada à previdência social que tenha sido descontada de • Fraude na entrega de coisa;
pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do • Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro;
público; • Fraude no pagamento por meio de cheque.
II – recolher contribuições devidas à previdência social que
tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda
de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas
cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela
previdência social.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Duplicata simulada
Estelionato contra idoso
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não
§ 4ºAplica-se a pena em dobro se o crime for cometido corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade,
contra idoso. ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a 27.12.1990)
vítima for: Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.(Redação
I - a Administração Pública, direta ou indireta; dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
II - criança ou adolescente; Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que
III - pessoa com deficiência mental; ou falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968)

A Lei nº 14.155/2021 introduziu os seguintes crimes no Código Abuso de incapazes


Penal (art. 171): Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de
Fraude eletrônica necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de
multa, se a fraude é cometida com a utilização de informações ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de
fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de terceiro:
redes sociais, contatos telefônicos ou envio de correio eletrônico Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.
(Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) Induzimento à especulação
§ 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência
relevância do resultado gravoso, aumenta-se de 1/3 (um terço) a ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o
2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou
servidor mantido fora do território nacional.     (Incluído pela Lei nº mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
14.155, de 2021) Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
 § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido
em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de Fraude no comércio
economia popular, assistência social ou beneficência. Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o
A Fraude eletrônica consiste em crime digital, que ocorre com adquirente ou consumidor:
a utilização de informações fornecidas pela vítima ou por terceiro, I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria
induzido a erro, por meio de redes sociais, contatos telefônicos ou falsificada ou deteriorada;
envio de correio eletrônico fraudulento etc. II - entregando uma mercadoria por outra:
Essa novidade legislativa visa acompanhar a realidade virtual Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
que vivemos atualmente, pois os crimes cibernéticos estão cada dia § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou
mais comuns no Brasil. Todos os dias acompanhamos nos jornais o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira
uma nova fraude (do WhatsApp, do e-mail, do aplicativo tal etc.). por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por
Em razão da dificuldade causada na investigação, a pena sofre verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
aumento se o crime é praticado com o uso de servidor mantido fora Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
do Brasil. Outra causa de aumento é o crime ser cometido contra as § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
seguintes pessoas:
 Entidade de direito público Outras fraudes
 Instituto de economia popular Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel
 Instituto de assistência social ou beneficiária ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para
efetuar o pagamento:
Estelionato contra idoso ou vulnerável   (Redação dada pela Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Lei nº 14.155, de 2021) Parágrafo único - Somente se procede mediante representação,
§ 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
é cometido contra idoso ou vulnerável, considerada a relevância do
resultado gravoso.   (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021) Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade
O crime de estelionato contra idoso ou vulnerável, consiste, na por ações
verdade, em uma derivação da fraude eletrônica. No entanto, neste Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações,
caso, considerada a relevância do resultado gravoso a pena sofre fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à
aumento. assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou
Ex. um idoso ou pessoa com deficiência mental é induzido ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
em erro, por outrem, na rede social, a transferir montante em Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não
dinheiro. constitui crime contra a economia popular.
A pena será aumentada de 1/3 até o dobro, a depender das § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
peculiaridades do caso concreto. contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951)
O Código Penal, inclusive, se preocupa em tipificar algumas I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações,
outras fraudes, menos incidentes em prova: que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao
público ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições
econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou
em parte, fato a elas relativo;

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as
artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade; penas.
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou § 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento
usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, de pena o autor do crime de que proveio a coisa.
sem prévia autorização da assembleia geral; § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a
sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite; pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, § 6oTratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do
aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade; Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública,
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa
desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou concessionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena
dividendos fictícios; prevista no caput deste artigo. Ex. receptação de bens do correio.
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa,
ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou ▪ Receptação de Animal
parecer; Art. 180-A.Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar,
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII; ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que
autorizada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime:
nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo. Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos,
e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para Nos crimes patrimoniais existem causas de isenção de pena,
outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral. e causas que a ação deixa de ser pública incondicionada, para ser
tratada como ação penal pública condicionada à representação:
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou «warrant» Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em previstos neste título, em prejuízo:
desacordo com disposição legal: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo
ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Fraude à execução Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
ou danificando bens, ou simulando dívidas: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa. III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:
Alguns pontos merecem atenção: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando
• Adulterar o sistema de medição de energia elétrica para pagar haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
menos que o devido é estelionato (e não furto mediante fraude); II - ao estranho que participa do crime.
• Uso de processo judicial para obter lucro é figura atípica; III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
• É justificável a exasperação da pena-base em caso de superior a 60 (sessenta) anos.
confiança da vítima no autor do crime de estelionato;
• O delito de estelionato não é absorvido pelo roubo de talão
de cheque. CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

Receptação
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito Todos os crimes contra a dignidade sexual passaram a ser de
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir Ação Penal Pública Incondicionada, ou seja, a denúncia é feita pelo
para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Perceba Ministério Público, independente de interesse da vítima.
que no crime de receptação, o agente tem contato com um bem • Estupro: Constranger alguém, mediante violência ou grave
obtido por meio de crime anterior, ex. objeto furtado. ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com
ele se pratique outro ato libidinoso.
▪ Receptação Qualificada • Violação sexual mediante fraude: Ter conjunção carnal ou
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou ou-
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, tro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade
ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no da vítima.
exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber • Importunação sexual: Praticar contra alguém e sem a sua
ser produto de crime: anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascí-
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. via ou a de terceiro.
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do • Assédio sexual: Constranger alguém com o intuito de obter
parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da
clandestino, inclusive o exercício em residência. sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela exercício de emprego, cargo ou função. 
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso:

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Registro não autorizado da intimidade sexual: Produzir, sual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e priva- da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
do sem autorização dos participantes. Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não cons-
titui crime mais grave.
Merece atenção os crimes sexuais praticados contra os vulne- Aumento de pena
ráveis: § 1º  A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços)
se o crime é praticado por agente que mantém ou tenha mantido
▪ Estupro de vulnerável  relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou
Art. 217-A.  Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidino- humilhação.   
so com menor de 14 (catorze) anos: Exclusão de ilicitude
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 2º  Não há crime quando o agente pratica as condutas
§ 1o  Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas descritas no  caput  deste artigo em publicação de natureza
no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de re-
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, curso que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos. 
§ 2o  (VETADO) Quanto às causas de aumento de pena é importante conhecer
§ 3o  Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:         a literalidade da letra da lei:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. Art. 226. A pena é aumentada:
§ 4o  Se da conduta resulta morte: I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos. (duas) ou mais pessoas;
§ 5º   As penas previstas no  caput  e nos §§ 1º, 3º e 4º deste II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta,
artigo aplicam-se independentemente do consentimento da vítima tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou
ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao empregador da vítima ou por qualquer outro título tiver autoridade
crime.   sobre ela;
III  (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
▪   Corrupção de menores  IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado:   
Art. 218.  Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfa-
zer a lascívia de outrem: ▪ Estupro coletivo   
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.   a) mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes;   

▪ Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou ado- ▪ Estupro corretivo   


lescente  b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima. 
Art. 218-A.  Praticar, na presença de alguém menor de 14 (ca- O Lenocínio, o tráfico de pessoas para fim de prostituição e
torze) anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato outras formas de exploração sexual englobam os seguintes crimes:
libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: • Mediação para servir a lascívia de outrem;
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.  • Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração
sexual;
▪ Favorecimento da prostituição ou de outra forma de explora- • Casa de prostituição;
ção sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável • Rufianismo;
Art. 218-B.  Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra • Promoção de migração ilegal
forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário É importante conhecer o que vem entendendo a jurisprudência:
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar • Passar as mãos no corpo da vítima configura estupro de vul-
que a abandone: nerável consumado;
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. • Beijar criança na boca configura estupro de vulnerável (beijo
§ 1o  Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem lascivo);
econômica, aplica-se também multa. • Contemplar lascivamente menor de 14 anos nua configura
§ 2o  Incorre nas mesmas penas: estupro de vulnerável;
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com • Cabe absolvição do crime de estupro de vulnerável se prova-
alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na si- do o desconhecimento da idade da vítima (erro de tipo);
tuação descrita no caput deste artigo; • Beijo roubado em contexto de violência física pode configu-
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que rar estupro.
se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3o  Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório Por fim, há um capítulo de ultraje público, que engloba 2 cri-
da condenação a cassação da licença de localização e de funciona- mes:
mento do estabelecimento.  
Ato obsceno
▪ Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vul- Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou
nerável, de cena de sexo ou de pornografia   exposto ao público:
Art. 218-C.  Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio
- inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de infor-
mática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovi-
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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Escrito ou objeto obsceno tituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à
Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhi-
guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição dos para o fim de inutilização:
pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
obsceno: Parágrafo único - O máximo da reclusão é elevado a doze anos
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. e multa, se o crime é cometido por funcionário que trabalha na re-
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem: partição onde o dinheiro se achava recolhido, ou nela tem fácil in-
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos gresso, em razão do cargo.
objetos referidos neste artigo;
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, Petrechos para falsificação de moeda
representação teatral, ou exibição cinematográfica de caráter Atenção: basta que o agente detenha a posse dos petrechos
obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter; destinados à falsificação da moeda, sendo dispensável que o ma-
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo quinário seja de uso exclusivo para esse fim.
rádio, audição ou recitação de caráter obsceno. Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gra-
tuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou
A pena é aumentada: qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
• de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez; 
• de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite Emissão de título ao portador sem permissão legal
à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale
saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência. ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao
portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva
É importante saber que, O STJ, em recente julgado, conside- ser pago:
rou que o crime de estupro de vulnerável NÃO pressupõe o sexo Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
vaginal, anal ou oral para a sua configuração. Ademais, “O crime de Parágrafo único - Quem recebe ou utiliza como dinheiro qual-
estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prá- quer dos documentos referidos neste artigo incorre na pena de de-
tica de ato libidinoso com menor de 14 anos, sendo IRRELEVANTE tenção, de quinze dias a três meses, ou multa.
eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua expe-
riência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso No capítulo sobre a falsidade de títulos e outros papeis públi-
com o agente” (Súmula 593, STJ). cos há o crime de falsificação de papeis públicos e o crime de petre-
chos de falsificação. Já no capítulo de falsidade documental, há os
seguintes crimes:
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA • Falsificação do selo ou sinal público;
• Falsificação de documento público;
• Falsificação de documento particular;
Os crimes contra a fé pública atingem a confiança que as pes- • Falsificação de cartão;
soas depositam no país. Ex. moeda falsa. • Falsidade ideológica;
• Falso reconhecimento de firma ou letra;
Moeda Falsa • Certidão ou atestado ideologicamente falso;
Atenção: inaplicável arrependimento posterior, em razão da • Falsidade material de atestado ou certidão;
impossibilidade material de ocorrer a reparação do dano (a vítima • Falsidade de atestado médico;
é a coletividade). • Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica;
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metá- • Uso de documento falso;
lica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: • Supressão de documento.
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou É importante diferenciar os documentos públicos dos particu-
alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, lares: Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o
guarda ou introduz na circulação moeda falsa. emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmis-
§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moe- sível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mer-
da falsa ou alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a cantis e o testamento particular.
falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e mul- Para o STJ, na falsificação de papeis públicos é desnecessária
ta. a constituição definitiva do crédito tributário, porque é um crime
§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o formal.
funcionário público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emis- Para o STF, o prefeito que, no momento de sancionar lei, acres-
são que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: ce artigo pratica o crime de falsificação de documento público.
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; Os tribunais sempre entenderam que a conduta de clonar car-
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada. tão amolda-se no crime de falsificação de documento particular.
§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular Por fim, o CP, ainda, traz outras falsidades, como, por exemplo,
moeda, cuja circulação não estava ainda autorizada. Falsificação do sinal empregado no contraste de metal precioso ou
na fiscalização alfandegária, ou para outros fins; Falsa identidade;
Crimes assimilados ao de moeda falsa Fraude de lei sobre estrangeiro; Adulteração de sinal identificador
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de de veículo automotor.
moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros;
suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de res-
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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Fraude em certames de interesse público Peculato-Apropriação e Peculato-Desvio
A fraude em certames de interesse público precisa ser com- Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qual-
preendida com cuidado, pois a lei de licitações trata sobre crimes quer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse
correlatos. em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.
Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de Obs. É peculato-furto, se o funcionário público, embora não
beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre
certame, conteúdo sigiloso de: para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
I - concurso público; de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou Peculato Culposo
IV - exame ou processo seletivo previstos em lei: § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. outrem:
Aqui o exemplo clássico é a fraude no ENEM, e nos demais cer- Pena - detenção, de três meses a um ano.
tames para seleção de candidatos por meio de provas. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem permite ou facilita, por precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
qualquer meio, o acesso de pessoas não autorizadas às informações posterior, reduz de metade a pena imposta.
mencionadas no caput.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à administração pú- Peculato mediante erro de outrem
blica: Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que,
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o fato é cometido Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
por funcionário público.
Modificação ou alteração
Para encerrar vale deixar claro alguns pontos: Inserção de dados falsos em
não autorizada de sistema de
• Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade sistema de informações
informações
ideológica (atípico);
• Inserir informação falsa em currículo lattes é atípico; Art. 313-B. Modificar ou alte-
• Comete falsidade ideológica o candidato que deixa de conta- Art. 313-A. Inserir ou facilitar, rar, o funcionário, sistema de
bilizar despesas em sua prestação de contas à Justiça Eleitoral; o funcionário autorizado, a informações ou programa de
• Consiste em falsificação de documento particular a falsidade inserção de dados falsos, alte- informática sem autorização
em contrato social para ocultar verdadeiro sócio; rar ou excluir indevidamente ou solicitação de autoridade
• Desnecessária prova pericial para condenar por uso de docu- dados corretos nos sistemas competente:
mento falso. informatizados ou bancos de Pena – detenção, de 3 (três)
dados da Administração Públi- meses a 2 (dois) anos, e multa.
ca com o fim de obter vanta- Parágrafo único. As penas são
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA gem indevida para si ou para aumentadas de um terço até a
outrem ou para causar dano: metade se da modificação ou
Pena – reclusão, de 2 (dois) a alteração resulta dano para a
Neste ponto algumas informações são essenciais: 12 (doze) anos, e multa. Administração Pública ou para
• A elementar do crime de peculato se comunica aos coautores o administrado.
e partícipes estranhos ao serviço público;
• Consuma-se o crime de PECULATO-DESVIO no momento em
que o funcionário efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro • Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento:
bem móvel, em proveito próprio ou de terceiro, ainda que NÃO ob- Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda
tenha a vantagem indevida; em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente.
• Configura o crime de CONCUSSÃO a conduta do funcionário • Emprego irregular de verbas ou rendas pública: Dar às ver-
público que, fora do exercício de sua função, mas em razão dela, bas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.
exige o pagamento de uma verba indevida (“taxa de urgência), para • Concussão: Exigir, para si ou para outrem, direta ou indire-
a aprovação de uma obra que sabe irregular; tamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
• O EXCESSO DE EXAÇÃO – funcionário exige tributo ou con- razão dela, vantagem indevida. Obs. é crime formal, se consuma
tribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando com a exigência da vantagem indevida.
devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei • Excesso de exação: Se o funcionário exige tributo ou contri-
NÃO autoriza; buição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devi-
• O crime de CORRUPÇÃO PASSIVA possui natureza FORMAL e do, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não
independe de resultado, NÃO se exigindo a prática de ato de ofício; autoriza.
• Para o STJ, ao contrário do que ocorre no peculato culposo, a • Corrupção passiva: Solicitar ou receber, para si ou para ou-
reparação do dano antes do recebimento da denúncia NÃO exclui trem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
o crime de peculato doloso, diante da ausência de previsão legal, assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar pro-
mas pode configurar arrependimento posterior (v. HC 239127/RS); messa de tal vantagem. Obs. configura corrupção passiva receber
• Nos crimes contra a Administração Pública não incide o prin- propina sob o disfarce de doações eleitorais.
cípio da insignificância. • Facilitação de contrabando ou descaminho: Facilitar, com in-
fração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Prevaricação: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Obs. Deixar o Diretor de Desacato
Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função
ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que ou em razão dela:
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente ex- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
terno. O tráfico de influência consiste em: Solicitar, exigir, cobrar ou
• Condescendência criminosa: Deixar o funcionário, por indul- obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
gência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o exercício da função (qualquer funcionário público). A pena é au-
fato ao conhecimento da autoridade competente. mentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é
• Advocacia administrativa: Patrocinar, direta ou indiretamen- também destinada ao funcionário.
te, interesse privado perante a administração pública, valendo-se É importante conhecer a literalidade do crime de corrupção
da qualidade de funcionário. ativa:
• Violência arbitrária: Praticar violência, no exercício de função
ou a pretexto de exercê-la. Corrupção ativa
• Abandono de função: Abandonar cargo público, fora dos ca- Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio-
sos permitidos em lei. nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato
• Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado: de ofício:
Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exi- Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
gências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em ra-
de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou zão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato
suspenso. de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
• Violação de sigilo funcional: Revelar fato de que tem ciência De acordo com o STJ, a inépcia da denúncia de corrupção ativa
em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- não induz, por si só, o trancamento da ação penal de corrupção
-lhe a revelação. passiva. Os dois crimes estão em tipos penais autônomos, e um não
Por fim, é importante conhecer a descrição de quem é funcio- pressupõe o outro.
nário público, para as leis penais: Ademais, o CP elenca os crimes praticados por particular contra
a Administração Pública Estrangeira:Corrupção ativa em transação
Funcionário público comercial internacional; Tráfico de influência em transação comer-
Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe- cial internacional. E, também, estabelece os crimes contra a Admi-
nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce nistração da Justiça:
cargo, emprego ou função pública. • Reingresso de estrangeiro expulso;
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em- • Denunciação caluniosa;
prego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para • Comunicação falsa de crime ou contravenção;
empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a • Auto-acusação falsa;
execução de atividade típica da Administração Pública.(Incluído • Falso Testemunho ou falsa perícia;
pela Lei nº 9.983, de 2000) • Coação no Curso do Processo;
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores • Exercício arbitrário das próprias razões;
dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em • Fraude processual;
comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da • Favorecimento pessoal;
administração direta, sociedade de economia mista, empresa públi- • Favorecimento real;
ca ou fundação instituída pelo poder público. • Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança;
Quanto aos crimes praticados por particular contra a Adminis- • Evasão mediante violência contra a pessoa;
tração temos: usurpação de função pública; resistência; desobedi- • Arrebatamento de preso;
ência; desacato; tráfico de influência; corrupção ativa; descaminho; • Motim de presos;
contrabando; impedimento, perturbação ou fraude de concorrên- • Patrocínio infiel;
cia; inutilização de edital ou sinal; subtração de inutilização de livro • Patrocínio simultâneo ou tergiversação;
ou documento; sonegação de contribuição previdenciária. • Sonegação de papel ou objeto de valor probatório;
Aqui é importante memorizar que resistência, desobediência e • Exploração de prestígio;
desacato não se confundem: • Violência ou fraude em arrematação judicial;
• Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão
Resistência de direitos.
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência
ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe Aqui, o mais importante é ter em mente que denunciação ca-
esteja prestando auxílio: luniosa exige dolo direto do agente. Ou seja, o agente saiba que a
Pena - detenção, de dois meses a dois anos. pessoa é inocente:
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos. Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de pro-
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das cor- cedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo
respondentes à violência. administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi-
dade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração
Desobediência ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente:
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
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377
a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve 3. (EBSERH - ADVOGADO - VUNESP/2020) Ficam sujeitos à
de anonimato ou de nome suposto. lei brasileira, sem a necessidade do concurso de nenhuma condi-
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prá- ção, os seguintes crimes cometidos no estrangeiro:
tica de contravenção. (A) praticados por brasileiro.
Ademais, tanto no falso testemunho como na falsa perícia: O (B)aqueles que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que a reprimir.
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. (C) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado
É importante saber diferenciar o favorecimento real do favo- no Brasil.
recimento pessoal: (D) praticados em aeronaves brasileiras, mercantes ou de pro-
• Exemplo de favorecimento real: um amigo do criminoso guar- priedade privada, quando em território estrangeiro e aí não
da em sua casa o proveito do crime (um objeto furtado). sejam julgados.
• Exemplo de favorecimento pessoal: um amigo do criminoso (E) praticados em embarcações brasileiras, mercantes ou de
esconde o foragido em sua casa. Se quem presta o auxílio é ascen- propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não
dente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de sejam julgados.
pena.
4. (CREA/TO - ADVOGADO - QUADRIX/2019) Acerca das
Por fim, vale diferenciar patrocínio infiel de patrocínio simultâ- noções gerais de direito, julgue o item.
neo ou tergiversação: No âmbito do direito penal, aplica‐se, em regra, o princípio
do tempus regit actum, por meio do qual se deve aplicar a lei pe-
Patrocínio infiel Patrocínio simultâneo ou ter- nal em vigor na data da prática do ato delituoso. No entanto, se a
Art. 355 - Trair, na qualidade giversação nova lei, mesmo não estando em vigor na data do crime, for mais
de advogado ou procurador, Parágrafo único - Incorre na benéfica ao acusado, deverá retroagir para ser aplicada no caso
o dever profissional, prejudi- pena deste artigo o advogado concreto.
cando interesse, cujo patrocí- ou procurador judicial que ( ) CERTO
nio, em juízo, lhe é confiado: defende na mesma causa, ( ) ERRADO
Pena - detenção, de seis me- simultânea ou sucessivamente,
ses a três anos, e multa. partes contrárias. 5. (PREF. DE PETROLINA - GUARDA CIVIL - IDIB/2019) De
acordo com o Código Penal, assinale a alternativa correta acerca
do tempo e lugar do crime:
(A) Considera-se praticado o crime no momento em que ocor-
QUESTÕES reu a ação ou omissão, bem como quando se produziu ou de-
veria produzir-se o resultado.
(B) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
a ação ou omissão, ainda que outro seja o local do resultado.
1. (PREFEITURA DE BOA VISTA/RR - GUARDA CIVIL MUNI-
(C) Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu
CIPAL - SELECON/2020) Pégaso é condenado pela prática de crime
a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
previsto em lei a quinze anos de reclusão, tendo a decisão judicial
produziu ou deveria produzir-se o resultado.
transitada em julgado. Após dois anos de cumprimento da pena,
(D) Considera-se praticado o crime no lugar da ação ou, em
surge lei nova que deixa de considerar como crime os fatos que
caso de omissão, apenas no local do resultado.
levaram à condenação de Pégaso. Nesse caso, segundo os coman-
(E) Para fins penais, o tempo e o lugar do crime são idênticos.
dos normativos do Código Penal, a lei:
(A) não retroagirá pelo efeito permanente da decisão judicial
6. (PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA – VUNESP/2018) Pres-
(B) retroagirá para beneficiar o réu
creve o art. 327 do CP: “considera-se funcionário público, para os
(C) retroagirá se houve concordância do Ministério Público
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remunera-
(D) não retroagirá por ser regra de exceção
ção, exerce cargo, emprego ou função pública. ”
Tal norma traduz exemplo de interpretação
2. (TJ/PA - OFICIAL DE JUSTIÇA AVALIADOR - CESPE/2020)
(A) científica.
Com relação ao tempo e ao lugar do crime, o Código Penal brasilei-
(B) autêntica.
ro adotou, respectivamente, as teorias do (a)
(C) extensiva.
(A) resultado e da ação.
(D) doutrinária.
(B) consumação e do resultado.
(E) analógica
(C) atividade e da ubiquidade.
(D) ubiquidade e da atividade.
7.(EMAP – ANALISTA PORTUÁRIO – CESPE/2018) A respeito
(E) ação e da consumação.
da aplicação da lei penal, julgue o item a seguir.
A analogia constitui meio para suprir lacuna do direito posi-
tivado, mas, em direito penal, só é possível a aplicação analógica
da lei penal in bonam partem, em atenção ao princípio da reserva
legal, expresso no artigo primeiro do Código Penal.
( ) CERTO
( ) ERRADO

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
8. (PC/BA – ESCRIVÃO DE POLÍCIA – CESPE/2018) O Código 12. (SEFAZ/RS - TÉCNICO TRIBUTÁRIO DA RECEITA ESTA-
Penal estabelece como hipótese de qualificação do homicídio o DUAL - CESPE/2018)O único tipo de crime que se consuma com a
cometimento do ato com emprego de veneno, fogo, explosivo, ocorrência do resultado naturalístico é o crime
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa (A) material.
resultar perigo comum. Esse dispositivo legal é exemplo de inter- (B) de mera conduta.
pretação (C) formal.
(A) analógica. (D) omissivo próprio.
(B) teleológica. (E) habitual.
(C) restritiva.
(D) progressiva. 13. (DPE/PE - DEFENSOR PÚBLICO - CESPE/2018) Com rela-
(E) autêntica. ção à classificação dos crimes, julgue os itens a seguir.
I - Denomina-se crime plurissubsistente o crime cometido por
9. (PC/MS – DELEGADO DE POLÍCIA – FAPEMS/2017) Com vários agentes.
relação aos princípios de Direito Penal e à interpretação da lei II - Se o sujeito fizer tudo o que está ao seu alcance para a con-
penal, assinale a alternativa correta. sumação do crime, mas o resultado não ocorrer por circunstâncias
(A) A interpretação autêntica contextual visa a dirimir a incerte- alheias à sua vontade, configura-se crime falho.
za ou obscuridade da lei anterior. III - Havendo, em razão do tipo, dois sujeitos passivos, o crime
(B) Não se aplica o princípio da individualização da pena na fase é denominado vago.
da execução penal. IV - Crime habitual cometido com ânimo de lucro é denomina-
(C) A interpretação quanto ao resultado busca o significado le- do crime a prazo.
gal de acordo com o progresso da ciência. V - Crime praticado por intermédio de automóvel é denomina-
(D) O princípio da proporcionalidade tem apenas o judiciário do delito de circulação.
como destinatário cujas penas impostas ao autor do delito de-
vem ser proporcionais à concreta gravidade. Estão certos apenas os itens
(E) A interpretação teleológica busca alcançar a finalidade da (A) I e II.
lei, aquilo que ela se destina a regular. (B) I e IV.
(C) II e V.
10. (TJ/AL - JUIZ SUBSTITUTO - FCC/2019) (D) III e IV.
No que toca à classificação doutrinária dos crimes, (E) III e V.
(A) é imprescindível a ocorrência de resultado naturalístico
para a consumação dos delitos materiais e formais. 14. (PC/ES - ASSISTENTE SOCIAL - INSTITUTO AOCP/2019) O
(B) é normativa a relação de causalidade nos crimes omissivos crime de homicídio, art. 121 do Código Penal, é classificado doutri-
impróprios ou comissivos por omissão, prescindindo de resul- nariamente como um crime
tado naturalístico para a sua consumação. (A) de dano, material e instantâneo de efeitos permanentes.
(C) os crimes unissubsistentes são aqueles em que há iter crimi- (B) vago, permanente e multitudinário.
nis e o comportamento criminoso pode ser cindido. (C) próprio, de perigo e exaurido.
(D) os crimes omissivos próprios dependem de resultado natu- (D) comum, forma livre e concurso necessário de agentes.
ralístico para a sua consumação. (E) de mão própria, habitual e de forma vinculada.
(E) os crimes comissivos são aqueles que requerem comporta-
mento positivo, independendo de resultado naturalístico para 15. (VUNESP - 2020 - EBSERH – ADVOGADO) O crime de roubo
a sua consumação, se formais. tem pena aumentada (CP, art. 157, § 2° e 2° A) se
(A) o bem subtraído é de propriedade de ente público Munici-
11. (PC/ES - ASSISTENTE SOCIAL - INSTITUTO AOCP/2019) pal, Estadual ou Federal.
Em alguns casos, o crime exige uma condição especial do sujeito (B) a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
ativo, podendo ser classificado em crimes comuns, próprios, de conhece tal circunstância.
mão própria, bi próprios, etc. Referente ao tema, assinale a alter- (C) praticado em transporte público ou coletivo.
nativa correta. (D) cometido por quem, embora transitoriamente ou sem re-
(A) Crime próprio pode ser praticado por qualquer pessoa, não muneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
sendo exigida uma condição ou qualidade especial do sujeito (E) cometido por quem for ocupante de cargos em comissão ou
ativo. de função de direção ou assessoramento de órgão de empresa
(B) Crimes funcionais são crimes praticados por funcionários pública.
públicos contra a administração. Esses crimes admitem a coau-
toria e a participação de terceiros, podendo esse terceiro ser
funcionário público ou não.
(C) O crime de falso testemunho é considerado um crime pró-
prio, podendo ser praticado por qualquer pessoa, portanto a lei
não exige uma qualidade especial do sujeito ativo.
(D) O sujeito ativo pode ser tanto quem realiza o verbo típico
ou possui o domínio finalista do fato como quem, de qualquer
outra forma, concorre para o crime, sendo representado ape-
nas pelo autor e coautor.
(E) O sujeito ativo, para poder ser responsabilizado, será pessoa
física, não podendo ser pessoa jurídica conforme determina a
Constituição Federal.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
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GABARITO
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1 B
2 C ______________________________________________________

3 C ______________________________________________________
4 CERTO ______________________________________________________
5 C
______________________________________________________
6 B
7 CERTO ______________________________________________________
8 A ______________________________________________________
9 E
______________________________________________________
10 E
______________________________________________________
11 B
12 A ______________________________________________________
13 C ______________________________________________________
14 A
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ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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NOÇÕES DE DIREITO
PROCESSUAL PENAL

Os sistemas processuais variam de país para país e normalmen-


DIRETO PROCESSUAL PENAL. PRINCÍPIOS GERAIS, CON‐ te, não necessariamente, são reflexo da conjuntura político-social
CEITO, FINALIDADE, CARACTERÍSTICAS. FONTES. SISTE‐ de cada um deles. No Brasil, tendo em vista as incongruências per-
MAS DE PROCESSO PENAL. PROCESSO CRIMINAL: FINALI‐ sistentes entre o Código de Processo Penal e a Constituição Fede-
DADE, PRESSUPOSTOS E SISTEMAS ral de 1988, muito se discute, ainda, acerca do sistema processual
penal vigente.

O SISTEMA PROCESSUAL PENAL ACUSATÓRIO


Podemos dizer que a palavra sistema, dentre suas inúmeras O sistema processual penal acusatório tem origem no segundo
definições, significa um “conjunto de elementos, concretos ou abs- período evolutivo do processo penal romano, quando a expansão
tratos, intelectualmente organizado”, ou melhor, uma do Império, no final do período republicano, fez necessária a cria-
Estrutura que se organiza com base em conjuntos de unida- ção de mecanismos mais eficientes de investigação de determina-
des interrelacionáveis por dois eixos básicos: o eixo das que podem
dos crimes.
ser agrupadas e classificadas pelas características semelhantes que
O aumento do número de causas e a dificuldade de processá-
possuem, e o eixo das que se distribuem em dependência hierár-
-las nas grandes assembleias acarretaram a necessidade de se de-
quica ou arranjo funcional.
legar as funções jurisdicionais do Senado ou do povo para tribunais
Assim, os sistemas surgem de elementos comuns, que, juntos,
formam uma unidade maior característica, podendo estar todos os ou juízes em comissão, órgãos jurisdicionais inicialmente tempo-
elementos presentes, um ou outro ausente, ou, ainda, misturados, rários, que levavam o nome de quaestiones, constituídos por cida-
o que definirá tais sistemas, respectivamente, como puros, impró- dãos representantes do povo romano (iudices iurati) e presidido
prios ou impuros. pelo pretor (quaesitor).
Nesse sentido, Paulo Rangel define o sistema processual penal A importância histórica das quaestiones “se deve ao fato de
como sendo “o conjunto de princípios e regras constitucionais, de que elas substituíram as assembleias populares no julgamento dos
acordo com o momento político de cada Estado, que estabelece as casos penais, por conseguinte evitando influências políticas e dan-
diretrizes a serem seguidas à aplicação do direito penal a cada caso do à jurisdição um caráter mais técnico e autônomo”.
concreto.” O sistema processual penal acusatório ganhou seus contornos
Observa-se, dessa forma, que o sistema processual de cada clássicos no Direito Inglês, no reinado de Henrique II, quando foi
Estado varia com o contexto político-social em que se encontra. instituído, em 1166, o chamado trial by jury, no qual o julgamen-
De modo que, nos Estados totalitários, a moldura da legalidade se to popular se dividia em duas etapas: a da admissão da acusação
estende, aumentando o espaço para a discricionariedade e para o e a da aplicação do direito material ao caso. O representante do
campo de atuação do Estado-juiz. Já nos Estados democráticos, a rei, equivalente ao juiz-presidente, “não intervinha, a não ser para
atuação do juiz é mais restrita, encontrando seu limite nos direitos manter a ordem e, assim, o julgamento se transformava num gran-
individuais, como ensina Rangel: de debate, numa grande disputa entre acusador e acusado, acusa-
Em um Estado Democrático de Direito, o sistema acusatório é a ção e defesa.”
garantia do cidadão contra qualquer arbítrio do Estado. A contrario O Estado, então, para garantir a necessária separação de fun-
sensu, no Estado totalitário, em que a repressão é a mola mestra e ções, cria um órgão próprio: o Ministério Público, com origem nos
há supressão dos direitos e garantias individuais, o sistema inquisi- procuradores do rei da França do final do século XIV. Será o órgão
tivo encontra sua guarida. ministerial, assim, o responsável pela propositura da ação penal
A doutrina tende a definir o sistema processual penal de cada quando pública. Mantendo-se a iniciativa da ação penal privada, ou
Estado tomando por base uma característica considerada principal a dependente de representação, nas mãos do particular.
ou considerando, necessariamente, a presença de todos os princí- Cria-se, assim, o ato de três personagens: o juiz, órgão impar-
pios de forma integral para definir um ou outro sistema, classifican-
cial de aplicação da lei a ser provocado; o autor, responsável pela
do como misto o sistema que apresente características tanto de um
acusação; e o réu, que não é visto como um mero objeto do proces-
regime totalitário, quanto de um regime democrático.
so, exercendo seus direitos e garantias.
Contudo, na prática, não é possível dizer que um Estado que
Com base nos ensinamentos de Goldschmidt, Aury Lopes Jr.
adote o sistema inquisitivo é ditatorial ou que um Estado que ado-
te o sistema acusatório é necessariamente democrático. O Brasil, explica que “no modelo acusatório, o juiz se limita a decidir, dei-
por exemplo, é indiscutivelmente um Estado democrático que, para xando a interposição de solicitações e o recolhimento do material
muitos doutrinadores, como veremos, adotaria o sistema processu- àqueles que perseguem interesses opostos, isto é, às partes.”.
al penal inquisitivo. Dessa forma, no sistema acusatório, o magistrado deixa de
reunir em suas mãos as três funções, manifestando-se, apenas,
quando devidamente provocado, garantindo-se, desse modo, a im-
parcialidade do julgador, última razão do processo acusatório.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Também conduz a uma maior tranquilidade social, pois evi- O SISTEMA PROCESSUAL PENAL INQUISITIVO
ta-se eventuais abusos da prepotência estatal que se pode mani- O termo “inquisitivo”, nos dicionários, refere-se à inquisição,
festar na figura do “juiz apaixonado” pelo resultado de sua labor que designava, no início, o processo adotado desde o século XII pe-
investigadora e que, ao sentenciar, olvida-se dos princípios básicos los tribunais eclesiásticos para investigação criminal, tendo sido o
de justiça, pois tratou o suspeito como condenado desde o início papa Gregório IX quem, no século XIII, instituiu a Inquisição como
da investigação. justiça e tribunal eclesiásticos da Idade Média que julgava os delitos
Pode-se dizer, resumidamente, que o sistema processual pe- contra a fé, em sua forma definitiva e persecutória, com o objetivo
nal acusatório apresenta como características[10]: as funções de de exterminar aqueles considerados hereges.
acusar, julgar e defender em mãos distintas; a publicidade dos atos O sistema processual penal inquisitivo, por sua vez, como en-
processuais como regra; a presença do contraditório e da ampla sina Rangel,
defesa durante todo o processo; o réu como sujeito de direitos; a Surgiu nos regimes monárquicos e se aperfeiçoou durante o
iniciativa probatória nas mãos das partes; a possibilidade de impug- direito canônico, passando a ser adotado em quase todas as legisla-
nar decisões com o duplo grau de jurisdição; e o sistema de provas ções europeias dos séculos XVI, XVII e XVIII. Surgiu com sustento na
de livre convencimento motivado. afirmativa de que não se poderia deixar que a defesa social depen-
A principal crítica a este sistema sempre foi, e segue sendo, em desse da boa vontade dos particulares, já que eram estes que inicia-
relação à inércia do juiz, que, ao deixar exclusivamente nas mãos vam a persecução penal no acusatório privado anterior. O cerne de
dos litigantes a produção probatória, terá que se conformar com tal sistema era a reivindicação que o Estado fazia para si do poder
“as consequências de uma atividade incompleta das partes, tendo de reprimir a prática dos delitos, não sendo mais admissível que tal
que decidir com base em um material defeituoso que lhe foi pro- repressão fosse encomendada ou delegada aos particulares.
porcionado.” Não se admitia mais a delegação do poder de repressão por se
Quanto à essência do sistema acusatório, para autores como considerar que tamanha discricionariedade nas mãos de um parti-
Eugênio Pacelli, Paulo Rangel e Hélio Tornaghi, ela está na separa- cular acabava por tornar a realização da justiça muito dispendiosa,
ção das funções de acusar, defender e julgar. Contudo, esta não é quando não acarretava na, tão indesejada, impunidade do autor
uma posição pacífica na doutrina. Para Joaquim Canuto, por exem- do delito.
plo, a decisão fundamentada com o que consta nos autos, em con- A concentração das funções de acusar e julgar nas mãos do
junto com outras características típicas, é o que define o sistema Estado-juiz foi, então, a solução encontrada e a característica prin-
acusatório puro e o que afasta por completo o poder inquisitório cipal do sistema inquisitivo, o que, claramente, comprometia a im-
do juiz. parcialidade do julgador, que passou a tomar a iniciativa da própria
O poder inquisitório do juiz é amplo ainda quando às partes é acusação a ser julgada por ele mesmo.
dado requerer a instauração do procedimento, definitivo ou preli- O sistema inquisitório muda a fisionomia do processo de forma
radical. O que era um duelo leal e franco entre acusador e acusado,
minar. Permanece quando lhes é possível instruir o juízo por meio
com igualdade de poderes e oportunidades, se transforma em uma
de alegações e produção de meios de prova. Restringe-se, quando
disputa desigual entre o juiz-inquisidor e o acusado. O primeiro
o juiz é obrigado a atender a tais pedidos de produção de provas
abandona sua posição de árbitro imparcial e assume a atividade de
por outro motivo que não seja a demonstração da existência do
inquisidor, atuando desde o início também como acusador. Con-
crime e da autoria; ou quando o juiz é obrigado a instaurar pro-
fundem-se as atividades do juiz e acusador, e o acusado perde a
cedimento sempre que requerido pelo autor. Diminui, ainda mais,
condição de sujeito processual e se converte em mero objeto da
quando o juiz não pode ter a iniciativa para proceder; e anula-se,
investigação.
definitivamente, se o juiz não pode senão julgar segundo o alegado
Ademais, a publicidade dos atos processuais, que predominava
e provado pelas partes. Este é o tipo processual acusatório puro. no começo, foi, aos poucos, substituída pelos processos sigilosos.
Já Jacinto Coutinho e Aury Lopes Jr. consideram que é a ges- “As sentenças, que na época Republicana eram lidas oralmente
tão da prova exclusivamente nas mãos das partes, figurando o juiz desde o alto do Tribunal, no Império assumem a forma escrita e
como mero espectador, que constitui o princípio dispositivo, o qual passam a ser lidas na audiência.”
fundamenta o sistema acusatório. Mais uma vez, a não pacificação doutrinária quanto à caracte-
No sistema acusatório, o processo continua sendo um instru- rística fundante dos sistemas se reflete, também, no modelo inqui-
mento de descoberta de uma verdade histórica. Entretanto, con- sitivo. Apesar de grande parte dos autores enxergar a concentração
siderando que a gestão da prova está nas mãos das partes, o juiz das funções em uma só mão seu caráter principal, Jacinto Coutinho
dirá, com base exclusivamente nessas provas, o direito a ser apli- defende a posição de que a gestão da prova é a responsável por
cado no caso concreto (o que os ingleses chamam de judge made estruturar o sistema através do princípio inquisitivo, cabendo ao
law). Aliás, O processo penal inglês, assim, dentro do common law, julgador, como juiz inquisidor, gerir a prova, o que fundamentaria
nasce como um autêntico processo de partes, diverso daquele an- o sistema inquisitório.
tes existente. Na essência, o contraditório é pleno; e o juiz estatal Com efeito, pode-se dizer que o sistema inquisitório, regido
está em posição passiva, sempre longe da colheita da prova. (...) É pelo princípio inquisitivo, tem como principal característica a ex-
elementar que um processo calcado em tal base estruturasse uma trema concentração de poder nas mãos do órgão julgador, o qual
cultura processual mais arredia a manipulações, mormente porque detém a gestão da prova. Aqui, o acusado é mero objeto de inves-
o réu, antes de ser um acusado, é um cidadão e, portanto, senhor tigação e tido como o detentor da verdade de um crime, da qual
de direitos inafastáveis e respeitados. deverá dar contas ao inquisidor.
Independente de sua característica fundante, fato é que, dian- Nos moldes do sistema inquisitivo, portanto, o juiz acaba não
te da atual estrutura democrática estatal, diferentemente do que formando seu convencimento diante das provas dos autos que, an-
ocorre na maioria dos ordenamentos que adotam o sistema misto, teriormente, teriam sido trazidas pelas partes, “mas visa convencer
“o sistema acusatório é um imperativo do moderno processo pe- as partes de sua íntima convicção, pois já emitiu, previamente, um
nal” e deve ser aplicado de forma efetiva e não como meras pro- juízo de valor ao iniciar a ação”.
messas. Juan Montero Aroca critica a expressão “Processo Inquisitivo”
afirmando que
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
[...] o denominado processo inquisitivo não foi e, obviamente, O sistema processual penal misto tem como característica
não pode ser, um verdadeiro processo. Se este se identifica como básica, portanto, ser bifásico, com “uma fase inicial inquisitiva, na
actum trium personarum, em que ante um terceiro imparcial com- qual se procede a uma investigação preliminar e a uma instrução
parecem duas partes parciais, situadas em pé de igualdade e com preparatória, e uma fase final, em que se procede ao julgamento
plena contradição, e apresentam um conflito para que aquele o com todas as garantias do processo acusatório”[32]. Sendo o pro-
solucione aturando o direito objetivo, algumas das características cedimento preliminar secreto, escrito, sem contraditório e ampla
que temos indicado próprias do sistema inquisitivo levam inevita- defesa; e a fase judicial, oral, pública, com todos os atos praticados
velmente à conclusão de que esse sistema não pode permitir a exis- em audiência, garantidos ao acusado os direitos de contraditório e
tência de um verdadeiro processo. Processo inquisitivo se resolve ampla defesa.
assim em uma contradição entre termo. Aury Lopes Junior, no entanto, critica a classificação do sistema
Paulo Rangel, no entanto, discorda da posição de Aroca, consi- como misto, considerando ela insuficiente e redundante, uma vez
derando o processo inquisitivo sim um processo, que apenas teria que “não existem mais sistemas puros (são tipos históricos), todos
certas marcas que o identificam com a inquisição, como o papel do são mistos.”. Para o autor, é preciso localizar “o princípio informa-
autor e do julgador na mesma pessoa, que acaba por retirar algu- dor de cada sistema”, seu núcleo, que, então, fará um sistema ser
mas garantias constitucionais do acusado. ou inquisitivo ou acusatório.
Adequada ou não a expressão, podemos apontar como carac- Como não pode haver um princípio misto, consequentemente,
terísticas do sistema processual penal inquisitivo[25]: concentração também não poderia ser o sistema assim classificado. O sistema
das três funções (acusar, defender e julgar) nas mãos de uma só seria informado por um princípio unificador, de modo que, em sua
pessoa; início da acusação pelo juiz ex officio; processo sigiloso e essência, seria sempre puramente inquisitivo ou acusatório; misto,
sempre escrito; a ausência do contraditório e da ampla defesa, uma apenas em relação a elementos secundários emprestados de um
vez que o acusado é visto como mero objeto do processo, e não
para outro sistema.
como sujeito de direitos, sem lhe conferir qualquer garantia; e o
[...] não é preciso grande esforço para entender que não há - e
sistema da prova tarifada, sendo a confissão a “rainha das provas”
nem pode haver - um princípio misto, o que, por evidente, desfigu-
ra o dito sistema. Assim, para entendê-lo, faz-se mister observar o
O SISTEMA PROCESSUAL PENAL MISTO
Com a Revolução Francesa, os movimentos filosóficos da épo- fato de que, ser misto significa ser, na essência, inquisitório ou acu-
ca acabaram por repercutir, também, na esfera do processo penal, satório, recebendo a referida adjetivação por conta dos elementos
retirando, aos poucos, características do modelo inquisitivo, em (todos secundários), que de um sistema são emprestados ao outro.
prol da valorização que passou a ser dada ao homem. Esse momen-
to coincidiu com a adoção dos Júris Populares, dando início à pas- O SISTEMA PROCESSUAL PENAL BRASILEIRO
sagem para o sistema processual penal misto, predominante até Antes de discorrer sobre os variados posicionamentos doutri-
hoje. nários acerca da classificação do sistema processual brasileiro, é
Com fortes influências do sistema acusatório privado de Roma importante lembrar que o “atual” Código de Processo Penal Bra-
e do posterior sistema inquisitivo, desenvolvido a partir do Direi- sileiro data de 1941, influenciado pelo Código de Rocco, código
to canônico e da formação dos Estados nacionais sob o regime da processual penal italiano de 1930. Como explica Espínola Filho, o
monarquia absolutista, no sistema processual penal misto, a per- código italiano, reflexo da época de Mussolini, tinha uma forte ma-
secução penal seguiu nas mãos do Estado-juiz em fase preliminar, triz autoritária. Para se ter uma ideia, participou da redação deste
passando o início da persecução penal para as mãos do Ministério último Vincenzo Manzini, representante da escola técnico-jurídica,
Público, responsável pela acusação. que via o processo penal como instrumento de combate ao crime e
O sistema misto, assim, é dividido em duas fases: a primeira, não de garantia de direitos do indivíduo frente ao Estado (VILELA,
consistente na instrução preliminar, tocada pelo juiz e nitidamente 2005, p. 49). Para Manzini, por exemplo, segundo Espínola Filho
inquisitiva; e a segunda, judicial, sendo a acusação feita por órgão (1954), a presunção de inocência era um absurdo ilógico, pois que,
distinto do que irá realizar o julgamento. se havia uma acusação contra uma pessoa, era porque existiam for-
Visto por Jacinto Coutinho como um “monstro de duas cabe- tes indícios de autoria, não podendo esta pessoa ser tratada como
ças”, Aury Lopes Jr. aponta como principal defeito do modelo o fato inocente.
de que Diante dessa influência autoritária e da “lógica” da presunção
[...] a prova é colhida na inquisição do inquérito, sendo trazi- de culpa, até hoje, muitos artigos do Código Processual Penal Bra-
da integralmente para dentro do processo e, ao final, basta o belo sileiro vão de encontro com princípios e direitos dados ao longo
discurso do julgador para imunizar a decisão. Esse discurso vem dos anos e garantidos pela Constituição Federal de 1988, fazendo
mascarado com as mais variadas fórmulas, do estilo: a prova do
com que não haja uma classificação doutrinária unânime quanto ao
inquérito é corroborada pela prova judicializada; cotejando a prova
sistema processual penal do país.
policial com a judicializada; e assim todo um exercício imunizatório
Para autores como Hélio Tornaghi e Edilson Bonfim, por exem-
(ou melhor, uma fraude de etiquetas) para justificar uma condena-
plo, nosso sistema seria bifásico, e, por conseguinte, misto, con-
ção, que na verdade está calcada nos elementos colhidos no segre-
do da inquisição. O processo acaba por converter-se em uma mera siderando o Inquérito Policial, nitidamente inquisitivo, como fase
repetição ou encenação da primeira fase. preliminar do processo, seguida pela fase judicial, de caráter acu-
Percebe-se que, nesse sistema, a imparcialidade do magistrado satório.
continuou comprometida, mantendo-se o juiz na colheita das pro- Mirabette, Tourinho e Scarance, no entanto, refutam o enten-
vas antes mesmo da acusação, quando deveria este ser retirado da dimento que se baseia na teoria do processo bifásico para classifi-
fase persecutória, “entregando-se a mesma ao Ministério Público, car o sistema processual penal como misto, por considerarem que a
que é quem deve controlar as diligências investigatórias realizadas fase investigatória não é propriamente processual e sim de caráter
pela polícia de atividade judiciária, ou, se necessário for, realizá- eminentemente administrativo.
-las pessoalmente, formando sua opinio delicti e iniciando a ação
penal”.
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De fato, a participação de um órgão jurisdicional é pressupos- Ainda, para alguns, as possibilidades de produção supletiva de
to de existência do processo, e, sendo o Inquérito presidido por provas ex officio pelo magistrado seriam outros exemplos da “im-
uma autoridade policial, não passaria este de um procedimento pureza” do sistema pátrio. Rangel, entretanto, refuta esse papel
administrativo, só havendo que se falar em processo a partir da de- atribuído aos poderes instrutórios do juiz, considerando que tais
manda apresentada ao órgão jurisdicional competente, quando, ao possibilidades estão ligadas ao princípio da verdade real, e não ao
menos em teoria, as garantias constitucionais do sistema acusató- sistema acusatório.
rio passam a vigorar. Ademais, diferentemente do que ocorre, por Para Aury Lopes Jr. e Jacinto Coutinho, como visto anterior-
exemplo, na França, que adota o modelo misto, o juiz, no Brasil, em mente, o núcleo do processo penal está na gestão da prova, já que
nenhum momento realiza a investigação diretamente. a finalidade deste seria reconstituir o crime como um fato histórico
Nucci também considera o sistema brasileiro misto (inquisiti- que é, o que só é possível com as provas trazidas aos autos, que
vo-acusatório, inquisitivo garantista ou acusatório mitigado), fun- levam à verdade processual, corroborando ou não com os fatos
damentando seu entendimento não no processo bifásico, mas em narrados.
um “senso de realidade”. Destarte, a diferenciação destes dois sistemas processuais
Os princípios norteadores do sistema, advindos da Constitui- [Acusatório e Inquisitório] faz-se através de tais princípios unifica-
ção Federal, possuem inspiração acusatória (ampla defesa, contra- dores [dispositivo e inquisitivo], determinados pelo critério de ges-
ditório, publicidade, separação entre acusação e julgador, impar- tão da prova. Ora, se o processo tem por finalidade, entre outras,
cialidade do juiz, presunção de inocência etc.). Porém, é patente a reconstituição de um fato pretérito, o crime, mormente através
que o corpo legislativo processual penal, estruturado pelo Código da instrução probatória, a gestão da prova, na forma pela qual ela é
Processual Penal e leis especiais, utilizado no dia a dia forense, ins- realizada, identifica o princípio unificador.
truindo feitos e produzindo soluções às causas, possui institutos ad-
Aury Lopes Jr. não nega a importância da separação das fun-
vindos tanto do sistema acusatório quanto do sistema inquisitivo.
ções de julgar, defender e acusar, mas a considera um elemento
Os doutrinadores, por sua vez, que consideram o sistema pro-
secundário (assim como a oralidade, a publicidade, o livre conven-
cessual penal brasileiro acusatório se baseiam na posição adotada
cimento motivado etc.), não sendo por si só suficiente para a ade-
pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 129, inciso I, que
dispõe ser atividade privativa do Ministério Público promover a quação do modelo acusatório.
ação penal pública, o que afastaria qualquer possibilidade de per- Apontada pela doutrina como fator crucial na distinção dos sis-
secução pelo órgão julgador. temas, a divisão entre as funções de investigar-acusar-julgar é uma
Nesse sentido, posiciona-se Paulo Rangel, afirmando que “ho- importante característica do sistema acusatório, mas não é a única
diernamente, no direito pátrio, vige o sistema acusatório, pois a e tampouco pode, por si só, ser um critério determinante, quando
função de acusar foi entregue, privativamente, a um órgão distinto: não vier aliada a outras (como iniciativa probatória, publicidade,
o Ministério Público, e, em casos excepcionais, ao particular.” contraditório, oralidade, igualdade de oportunidades etc.).
Capez, ao tratar do sistema acusatório, aponta suas caracte- Assim, para Aury Lopes Jr. e Jacinto Coutinho, diante dos dis-
rísticas relacionando-as com nossas garantias constitucionais, con- positivos que atribuem poderes instrutórios ao juiz, o sistema pro-
cluindo, também, ser o sistema acusatório o adotado pelo Brasil: cessual penal brasileiro não seria misto e muito menos acusatório,
A Consituição Federal de 1988 vedou ao juiz a prática de atos mas sim essencialmente inquisitivo.
típicos de parte, procurando preservar a sua imparcialidade e ne- [...] pode-se concluir que o sistema processual penal brasileiro
cessária equidistância, prevendo distintamente as figuras do inves- é, na essência, inquisitório, porque regido pelo princípio inquisitivo,
tigador, acusador e julgador. O princípio do ne procedat iudez ex já que a gestão da prova está, primordialmente, nas mãos do juiz,
officio (inércia jurisdicional) preserva o juiz e, ao mesmo tempo, o que é imprescindível para a compreensão do Direito Processual
constitui garantia fundamental do acusado, em perfeita sintonia Penal vigente no Brasil.
com o processo acusatório. No entanto, Pacelli, que vê como elemento essencial a sepa-
[...] ração das funções nas mãos de personagens distintos, refuta esse
O sistema acusatório pressupõe as seguintes garantias consti- posicionamento, alegando que:
tucionais: da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV), do devido processo Não será o fato de se atribuir uma reduzida margem de inicia-
legal (art. 5º, LIV), da garantia do acesso à justiça (art. 5º, LXXIV), da tiva probatória ao juiz na fase processual, isto é, no curso da ação,
garantia do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII), do tratamento pari- que apontará o modelo processual penal adotado.
tário das partes (art. 5º, caput e I), da ampla defesa (art. 5º, LV, LVI O juiz inerte, como é a regra no denominado sistema de partes
e LXII), da publicidade dos atos processuais e motivação dos atos do direito norte-americano, normalmente classificado pela dou-
decisórios (art. 93, IX) e da presunção da inocência (art. 5º, LVII).
trina como modelo acusatório puro, encontra fundamentação em
(Gianpaolo Poggio Smanio. Criminologia e juiza especial criminal.
premissas e postulados valorativos absolutamente incompatíveis,
São Paulo, Atlas, 1997, p. 31-8). É o sistema vigente entre nós.
não só com nossa realidade atual, mas com a essência do processo
Não se nega, no entanto, a “impureza” do sistema brasilei-
penal.
ro, considerando que resquícios do sistema inquisitivo ainda per-
meiam a lei processual penal do país. Como dispõe Rangel. E isso porque a base ou estrutura sobre a qual repousa o alu-
O Brasil adota um sistema acusatório que, no nosso modo de dido sistema é, e como não poderia deixar de ser, a igualdade en-
ver, não é puro em sua essência, pois o Inquérito Policial regido tre as partes. Mas não a igualdade material, na qual se examina as
pelo sigilo, pela inquisitoriedade, tratando o indiciado como obje- concretas possibilidades de exercício de direitos e faculdades, mas
to de investigação, integra os autos do processo, dando acesso ao unicamente a igualdade formal, isto é, aquela segundo o qual todos
juiz a informações que deveriam ser desconsideradas em juízo, mas são iguais perante a lei, ainda que, na realidade histórica, jamais se
que a prática tem demonstrado que são comumente levadas em comprove semelhante situação (de igualdade). Em sistemas como
consideração pelo magistrado. Assim, não podemos dizer, pelo me- este, do juiz inerte, há se conviver, em maior ou menor grau, com a
nos assim pensamos, que o sistema acusatório adotado entre nós possibilidade de condenação de alguém pela insuficiência defensi-
é puro. Há resquícios do sistema inquisitivo, porém já avançamos va, reputada, a priori, igual à atividade acusatória.
muito.
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O supracitado autor, assim como Rangel, entende que, diante a) Não identificação criminal de quem é civilmente identificado
das distinções entre o sistema inquisitivo e o sistema acusatório, o (inciso LVIII, da Magna Carta de 1988, regulamentada pela Lei nº
adotado pelo Brasil seria mesmo o segundo, contudo, reconhece 10.054/00);
que a questão não é simples: b) Prisão só será realizada em flagrante ou por ordem judicial
Há realmente algumas dificuldades na estruturação de um (inciso LVI, CF/88), que importou em não recepção da prisão admi-
modelo efetivamente acusatório, diante do caráter evidentemente nistrativa prevista nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal;
inquisitivo do nosso Código Processual Penal e seu texto originário. c) Relaxamento da prisão ilegal (inciso LXV, CF/88);
Nada obstante, pequenos, mas importantes, reparos foram fei- d) Comunicação imediata da prisão ao juiz competente e à fa-
tos ao longo desses anos, em relação à construção de um modelo mília do preso (inciso LXII, Carta Magna de 1988);
prioritariamente acusatório de processo penal. e) Direito ao silêncio, bem como, a assistência jurídica e fami-
Geraldo Prado, por sua vez, considera que o que prevalece no liar ao acusado (inciso LXIII, CF/88);
Brasil é a teoria da aparência acusatória, uma vez que a Constitui- f) Identificação dos responsáveis pela prisão e/ou pelo interro-
ção Federal, com todas as garantias e a privatividade da ação penal gatório policial (inciso LXIV, Magna Carta de 1988);
pública dada ao Ministério Público, de fato se filiou ao sistema acu- g) Direito de não ser levado à prisão quando admitida liberdade
satório. Mas, levando em consideração o concreto estatuto jurídico provisória, com ou sem o pagamento de fiança (inciso LXVI, CF/88);
dos sujeitos processuais e a dinâmica dos tribunais, diz que se deve h) Impossibilidade de prisão civil, observadas as exceções dis-
admitir que o princípio e o sistema acusatórios ainda são meras postas no texto constitucional (LXVII, CF/88).
promessas.
Princípios são os bases que alicerçam determinada legislação, Princípio da inocência
podendo estarem expressos na ordem jurídica positiva ou implíci- O Princípio da inocência dispõe que ninguém pode ser consi-
tos segundo uma dedução lógica, importando em diretrizes para o
derado culpado senão após o trânsito em julgado de uma sentença
elaborador, aplicador e intérprete das normas.
condenatória (vide art. 5º, inciso LVII, CF/88).
Dita Celso Antônio Bandeira de Melo acerca dos princípios que
O princípio é também denominado de princípio do estado de
“o princípio exprime a noção de mandamento nuclear de um sis-
inocência ou da não culpabilidade. Apesar de responder a inquérito
tema”.
O direito processual penal por se tratar de uma ciência, têm policial ou processo judicial, ainda que neste seja condenado, o ci-
princípios que lhe dão suporte, sejam de ordem constitucional ou dadão não pode ser considerado culpado, antes do trânsito em jul-
infraconstitucional, que informam todos os ramos do processo, ou gado da sentença penal condenatória. O tratamento dispensado ao
sejam, específicos do direito processual penal. acusado deve ser digno e respeitoso, evitando-se estigmatizações.
A acusação por sua vez é incumbida do ônus da prova de cul-
Princípios do direito processual penal brasileiro pabilidade, ou seja, a prova com relação a existência do fato e a sua
autoria, ao passo que à defesa incumbe a prova das excludentes de
Princípio do Devido Processo Legal ilicitude e de culpabilidade, acaso alegadas. Em caso de dúvida, de-
O Princípio do devido processo legal está consagrado, na legis- cide-se pela não culpabilidade do acusado, com a fundamentação
lação brasileira, no art. 5º, inciso LIV, da CF/88, e visa assegurar a legal no princípio do in dubio pro reo.
qualquer litigante a garantia de que o processo em que for parte,
necessariamente, se desenvolverá na forma que estiver estabele- Ratificando a excepcionalidade das medidas cautelares, deven-
cido a lei. do, por conseguinte, toda prisão processual estar fundada em dois
Este princípio divide-se em: devido processo legal material, ou requisitos gerais, o periculum libertatis e o fumus comissi delicti.
seja trata acerca da regularidade do próprio processo legislativo, e Restou ainda consagrado no art. 5º, LXIII, da CF/88 que nin-
ainda o devido processo legal processual, que se refere a reg ulari- guém é obrigado a fazer prova contra si, consagrando, assim, o di-
dade dos atos processuais. reito ao silêncio e a não auto incriminação. O silêncio não poderá
O devido processo legal engloba todas as garantias do direito acarretar repercussão positiva na apuração da responsabilidade
de ação, do contraditório, da ampla defesa, da prova lícita, da re- penal, nem poderá acautelar presunção de veracidade dos fatos
cursividade, da imparcialidade do juiz, do juiz natural, etc. O pro- sobre os quais o acusado calou-se, bem como o imputado não pode
cesso deve ser devido, ou seja, o apropriado a tutelar o interesse ser obrigado a produzir prova contra si mesmo.
discutido em juízo e resolver com justiça o conflito. Tendo ele que
obedecer a prescrição legal, e principalmente necessitando aten- Princípio do juiz natural
der a Constituição. O princípio do juiz natural está previsto no art. 5º, LIII da Cons-
tituição Federal de 1.988, e é a garantia de um julgamento por um
Conforme aduz o inciso LIV, do art. 5º, da Magna Carta, “nin-
juiz competente, segundo regras objetivas (de competência) pre-
guém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido pro-
viamente estabelecidas no ordenamento jurídico, bem como, a
cesso legal”.
proibição de criação de tribunais de exceção, constituídos à poste-
A palavra bens, utilizado pelo inciso, está empregado em sen-
tido amplo, a alcançar tanto bens materiais como os imateriais. Na riori a infração penal, ou seja, após da prática da violação, e especi-
ação muitas vezes a discussão versa sobre interesses de natureza ficamente para julgá-la.
não material, como a honra, a dignidade, etc, e as consequências
de uma sentença judicial não consistem apenas em privar alguém O Juiz natural, é aquele dotado de jurisdição constitucional,
de sua liberdade ou de seus bens, mas, podem também represen- com competência conferida pela Constituição Federativa do Brasil
tar um mandamento, uma ordem, um ato constitutivo ou descons- ou pelas leis anteriores ao fato. Pois, somente o órgão pré-constitu-
titutivo, uma declaração ou determinação de fazer ou não fazer. ído pode exercer a jurisdição, no âmbito predefinido pelas normas
Em razão do devido processo legal, é possível a alegação de de competência assim, o referido princípio é uma garantia do juris-
algumas garantias constitucionais imprescindíveis ao acusado, que dicionado, da jurisdição e do próprio magistrado, porque confere
constituem consequência da regularidade processual: ao primeiro direito de julgamento por autoridade judicante pre-
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viamente constituída, garante a imparcialidade do sistema jurisdi- A publicidade traz maior regularidade processual e ajustiça da
cional e cerca o magistrado de instrumentos assecuratórios de sua decisão do povo.
competência, regular e anteriormente fixada.
Princípio da verdade real
Princípio da legalidade da prisão A função punitiva do Estado só pode fazer valer-se em face
A Magna Carta prevê um sistema de proteção às liberdades, daquele que realmente, tenha cometido uma infração, portanto, o
colecionando várias medidas judiciais e garantias processuais no processo penal deve tender à averiguação e a descobrir a verdade
intuito de assegurá-las. real.
Existem assim as medidas específicas e medidas gerais. Entre No processo penal o juiz tem o dever de investigar a verdade
as específicas, são consideradas aquelas voltadas à defesa de liber- real, procurar saber como realmente os fatos se passaram, quem
dades predefinidas, como por exemplo: o Habeas Corpus, para a realmente praticou-os e em que condições se perpetuou, para dar
liberdade de locomoção. A CF/88 demonstra grande preocupação base certa à justiça. Salienta-se que aqui deferentemente da área
com as prisões, tutelando a liberdade contra elas em várias opor- civil, o valor da confissão não é extraordinário porque muitas vezes
tunidades, direta e indiretamente, impondo limitações e procedi- o confidente afirma ter cometido um ato criminoso, sem que o te-
mentos a serem observados para firmar a regularidade da prisão, nha de fato realizado.
meios e casos de soltura do preso, alguns direitos do detento, e Se o juiz penal absolver o Réu, e após transitar em julgado a
medidas para sanar e questionar a prisão. sentença absolutória, provas concludentes sobre o mesmo Réu sur-
Por outro lado, os incisos do art. 5º da Constituição Federal girem, não poderá se instaurado novo processo em decorrência do
asseguram a liberdade de locomoção dentro do território nacio- mesmo fato. Entretanto, na hipótese de condenação será possível
nal (inciso XV), dispõe a cerca da personalização da pena (inciso que ocorra uma revisão. Pois, o juiz tem poder autônomo de inves-
XLV), cuidam do princípio do contraditório e da ampla defesa, assim tigação, apesar da inatividade do promotor de justiça e da parte
como da presunção da inocência (inciso LV e LVII, respectivamen- contrária.
te), e, de modo mais taxativa, o inciso LXI - da nossa Lei Maior - que A busca pela verdade real se faz com as naturais reservas
constitui que oriundas da limitação e falibilidade humanas, sendo melhor dizer
“Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem verdade processual, porque, por mais que o juiz procure fazer uma
escrita e fundamentada da autoridade competente...”; reconstrução histórica e verossímil do fato objeto do processo,
muitas vezes o material de que ele se vale poderá conduzi-lo ao
O inciso LXV, por sua vez traz que “a prisão ilegal será imediata- erro, isto é, a uma falsa verdade real.
mente relaxada pela autoridade judiciária; o inciso LXVI, estabelece
que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei Princípio do livre convencimento
admitir a liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança; O presente princípio, consagrado no art. 157 do Código de Pro-
o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão civil por dívida, exceto cesso Penal, impede que o juiz possa julgar com o conhecimento
a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de que eventualmente tenha além das provas constantes nos autos,
obrigação alimentícia e a do depositário infiel; o inciso LXVIII, pres- pois, o que não estiver dentro do processo equipara-se a inexistên-
creve que conceder-se-habeas corpus sempre que alguém sofrer cia. E, nesse caso o processo é o universo em que deverá se ater o
ou julgar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liber- juiz. Tratando-se este princípio de excelente garantia par impedir
dade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; e também julgamentos parciais. A sentença não é um ato de fé, mas a exte-
prescreve o inciso LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa con- riorização da livre convicção formada pelo juiz em face de provas
denada por erro judiciário, bem como aquela que ficar presa além apresentadas nos autos.
do tempo fixado na sentença.
Princípio da oficialidade
Princípio da publicidade Este princípio esta inicialmente relacionado com os princípios
Todo processo é público, isto, é um requisito de democracia e da legalidade e da obrigatoriedade. A diretriz da oficialidade funda-
de segurança das partes (exceto aqueles que tramitarem em segre- -se no interesse público de defesa social.
do de justiça). É estipulado com o escopo de garantir a transparên- Pela leitura do caput do art. 5º da Lei Maior (CF/88), compre-
cia da justiça, a imparcialidade e a responsabilidade do juiz. A possi- ende-se que a segurança também é um direito individual, sendo
bilidade de qualquer indivíduo verificar os autos de um processo e competência do estado provê-la e assegurá-la por meio de seus
de estar presente em audiência, revela-se como um instrumento de órgãos.
fiscalização dos trabalhos dos operadores do Direito. O art. 144 da Constituição Federal, trata da organização da se-
A regra é que a publicidade seja irrestrita (também denomi- gurança pública do País, ao passo que o art. 4º do Código de Pro-
nada de popular). Porém, poder-se-á limitá-la quando o interesse cesso Penal estabelece atribuições de Polícia Judiciária e o art. 129,
social ou a intimidade o exigirem (nos casos elencados nos arts. 5º, inciso I, da Constituição Federal especifica o munus do Ministério
LX c/c o art 93, IX, CF/88; arts. 483; 20 e 792, §2º, CPP). Giza-se que Público no tocante à ação penal pública.
quando verificada a necessidade de restringir a incidência do prin- O artigo art. 30 do Código Processual Penal estabelece as exce-
cípio em questão, esta limitação não poderá dirigir-se ao advogado ções ao princípio da oficialidade em relação a ação penal privada; e
do Réu ou ao órgão de acusação. Contudo, quanto a esse aspecto, ainda no art. 29 deste Código, para a ação penal privada subsidiária
o Superior Tribunal de Justiça, em algumas decisões, tem permitido da pública.
que seja restringido, em casos excepcionais, o acesso do advogado Existe ainda outra aparente exceção à oficialidade da ação pe-
aos autos do inquérito policial. Sendo assim, a regra geral a publi- nal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14, da
cidade, e o segredo de justiça a exceção, urge que a interpretação Lei nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados “cri-
do preceito constitucional se dê de maneira restritiva, de modo a só mes” de responsabilidade do Presidente da República.
se admitir o segredo de justiça nas hipóteses previstas pela norma.
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Esta lei especial esta relacionada ao que alude o art. 85, pará- Partindo-se de que a atuação do MP no processo penal é du-
grafo único, da Constituição Federal de 1988. Perceba-se que os pla, com dominus litis e, simultaneamente, com custos legis. E,
delitos previstos na legislação de 1950, que foi recepcionada pela por estas razões, o representante do Ministério Público além de
Carta de 1988, não atribuem sanção privativa de liberdade. A puni- ser acusador, tem legitimidade e, em determinados casos, o dever
ção esta restrita à perda do cargo com a inabilitação para a função de recorrer em favor do Réu, requerendo-lhe benefícios, etc. Por
pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da Constituição Fede- isso, o Ministério Público não se enquadra como “parte” na relação
ral, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50. formada no processo penal, estabelecendo-se meramente como
Ficando claro, portanto, que, embora chamadas de “crimes” órgão encarregado de expor os fatos delituosos e representar o in-
de responsabilidade, as infrações previstas pela Lei nº. 1079/50 e teresse social na sua apuração.
pelo art. 85, da CF/88 não são de fato delitos criminais, mas sim in-
frações político-administrativas, que acarretam o “impeachment” O código processual penal, dispõe em seu art 42, que o Minis-
do Presidente da República. tério Público não poderá desistir da ação penal, entretanto na mes-
Os doutrinadores LUIZ FLÁVIO GOMES e ALICE BIANCHINI, co- ma norma jurídica, estabelece que o MP promoverá e fiscalizará a
erentemente afirmaram que “se for entendido que as condutas execução da lei, forte no art 257, da referida lei. Necessário se faz
previstas no art. 10 da Lei 1.079/50 são de caráter penal, torna-se enxergar, que não se tratam de desistências, visto que receberá a
absurdo permitir a todo cidadão o oferecimento da denúncia, pois
denúncia, quanto ao mérito da causa criminal, o que lhe é termi-
amplia o rol dos legitimados para propositura de ação penal, em
nantemente proibido, mas quando à viabilidade acusatória, e ainda
total afronta ao art. 129, I, da Constituição, que estabelece a com-
assim, o não recebimento da denúncia deverá ser justificado, como
petência privativa do Ministério Público”.
diz o dispositivo. Tratando-se, na realidade, de um verdadeiro juízo
Princípio da disponibilidade de admissibilidade da denúncia, onde são verificadas as condições
É um princípio cujo o titular da ação penal pode utilizar-se dos da ação e a definição do quadro probatório.
institutos da renúncia, da desistência, etc. É um princípio exclusivo
das ações privadas. Assim sendo, uma vez constatado materialmente o fato, há
que se justificar o abordamento da ação penal que o motivou, aqui
O princípio da disponibilidade significa que o Estado, sem abrir não poderá, o Ministério Público ficar inerte. Se a lei lhe conferiu
mão do seu direito punitivo, outorga ao particular o direito de acu- a incumbência de custos legis, com certeza, deve também ter atri-
sar, podendo exerce-lo se assim desejar. Caso contrário, poderá o buído a estes instrumentos para o seu exercício. Porém, se verificar
prazo correr até que se opere a decadência, ou ainda, o renunciará que não há causa que embase o prosseguimento do feito ou da
de maneira expressa ou tácita, causas extas que o isenta de sanção. ação penal, o promotor ou procurador deve agir da seguinte forma:
afirmando que em face de aparente contradição, entre a conduta
Esclareça-se que ainda que venha a promover a ação penal do representante do Ministério Público que, como autor, não pode
, poderá a todo instante dispor do conteúdo material dos autos, desistir da ação penal, e ao mesmo tempo, contudo, agira na qua-
quer perdoando o ofensor, quer abandonando a causa, dando as- lidade de fiscal da lei, não pode concordar com o prosseguimento
sim lugar à perempção, ou seja, prescrição do processo. Atente-se de uma ação juridicamente inviável, sendo a única intelecção que
que mesmo após proferida a sentença condenatória, o titular da entende-se ser cabível quanto ao princípio da obrigatoriedade da
ação pode perdoar o réu, desde que a sentença não tenha transi- ação penal é de que o MP não poderá desistir da ação penal se re-
tado em julgado. conhecer que ela possa ser viável, isto é, se houver justa causa para
a sua promoção. Ocorrendo o contrário, ou seja, reconhecendo o
Princípio da oportunidade Parquet que a ação é injusta, tem o dever de requerer a não instau-
Baseado no princípio da Oportunidade, o ofendido ou seu re- ração do processo, com a aplicação subsidiária do art. 267, incisos
presentante legal pode analisar e decidir se irá impetrar ou não a VI e VIII, do Código Processual Civil, sob pena de estar impetrando
ação. Salienta-se, que o princípio da oportunidade somente será uma ação penal injusta, desperdiçando os esforços e serviços da
valido ante ação penal privada. Máquina Judiciária.
O Estado, diante destes crimes concede ao ofendido ou ao seu
representante legal, o direito de invocar a prestação jurisdicional.
O art 28 do Código Penal, explana que se o Promotor ao invés
Contudo não havendo interesse do ofendido em processar o seu
de apresentar a denúncia, pugnar pelo arquivamento do inquéri-
injuriador, ninguém poderá obrigá-lo a fazer. Ainda que a autorida-
to, o juiz caso considere improcedente as alegações invocadas pelo
de policial surpreenda um indivíduo praticando um delito de alçada
privada, não poderá prendê-lo em flagrante se o ofendido ou quem MP, fará a remessa do referido inquérito ao Procurador-Geral, e,
o represente legalmente não o permitir. Poderá apenas intervir este por sua vez, oferecerá a denúncia ou manterá o pedido de ar-
para que não ocorra outras conseqüência. A autoridade policial não quivamento do referido inquérito.
pode, por exemplo, dar-lhe voz de prisão e leva-lo à delegacia para
lavratura de auto de prisão em flagrante, sem o consentimento do Lei nº 10.409/00, traz em seu texto que o Promotor de Justiça
ofendido. não poderá deixar de propor a ação penal, a não ser que haja uma
Princípio da indisponibilidade justificada recusa.
Este princípio da ação penal refere-se não só ao agente, mas
também aos partícipes. Todavia, apresenta entendimentos diver- Outrossim, m relação ao inquérito, se ainda houver algum o
gentes, até porque, em estudo nenhum a doutrina consagra um ou juiz o remeterá ao Procurador-Geral, para que este por sua vez,
outro posicionamento, entendendo-se que embora possa ensejar o ofereça a denúncia, ou reitere o pedido de arquivamento, e assim
entendimento de que tal dispositivo, de fato fere o princípio de in- sendo, ao juiz caberá apenas acatá-lo. Logo, se MP possuir o intuito
disponibilidade e indivisibilidade da ação penal pública, analisando- de barganhar, poderá fazê-lo, independente da nova lei. É certo e
-se de maneira ampla e moderna o princípio da indisponibilidade, não se pode negar que com a mobilidade que a lei proporciona ao
no intuito de demonstrar que tal ataque não é uno. Ministério Público, à primeira vista pode se sentir que a barganha
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
está sendo facilitada, mas fica a certeza de que não é este advento II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República,
que se vê aventar esta possibilidade, pois, como já sustentou-se a dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presiden-
recusa do MP não será um ato discricionário, tampouco livre do te da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos
dever de motivação. crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
Princípio da legalidade IV - os processos da competência do tribunal especial (Consti-
O Princípio da Legalidade impõe ao Ministério Público o dever tuição, art. 122, no 17);
de promover a ação penal. V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130)
Parágrafo único.Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos pro-
O princípio da legalidade atende aos interesses do Estado. Ba- cessos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os
seado no princípio, o Ministério Público dispõe dos elementos mí- regulam não dispuserem de modo diverso.
nimos para impetrar a ação penal. Art. 2oA lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem pre-
O delito necessariamente para os órgãos da persecução, surge juízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
conjuntamente com o dever de atuar de forma a reprimir a conduta Art. 3oA lei processual penal admitirá interpretação extensiva
delituoso. Cabendo assim, ao Ministério Publico o exercício da ação e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios ge-
penal pública sem se inspirar em motivos políticos ou de utilidade rais de direito.
social. A necessidade do Ministério Público invocar razões que o
dispensem do dever de propor a ação falam bem alto em favor da LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO, NO ESPAÇO EEM RELA-
tese oposta. ÇÃO ÀS PESSOAS
Para o exercício da ação são indispensáveis determinados re-
quisitos previstos em lei, tais como: autoria conhecida, fato típico Lei Processual Penal no tempo
não atingido por uma causa extintiva da punibilidade e um mínimo Ao contrário da lei penal, a lei processual penal no tempo, uma
de suporte probatório. Porém, se não oferecer denúncia, o Minis- vez em vigência, tem aplicação imediata, ou seja, passa a atingir
tério Público deve dar as razões do não oferecimento da denúncia. todos os processos que ainda se encontram em curso, não impor-
Pedindo o arquivamento em vez de denunciar, poderá ele respon- tando situações gravosas que possam ser originadas ao acusado.
der pelo crime de prevaricação Tal afirmação ocorre em virtude do princípio do efeito imediato ou
da aplicação imediata.
Nos dias atuais a política criminal está voltada para soluções Importante esclarecer que os atos praticados anteriormen-
distintas, como a descriminalização pura e simples de certas con- te da nova lei não serão invalidados, em decorrência do princípio
tempus regit actum.
dutas, convocação de determinados crimes em contravenções,
Como exemplo: O Código de Processo Penal atualmente é de
dispensa de pena, etc. Também, em infrações penais de menor
1941. Caso tenhamos um novo Código de Processo Penal em 2019,
potencial ofensivo, o órgão ministerial pode celebrar um acordo
todos os atos praticados na vigência da lei de 1941 continuam vali-
com o autor do fato, proponde-lhe uma pena restritiva de direito
dos, sendo que somente a partir da vigência do Código de 2019 (e
ou multa. Se houver a concordância do acusado o juiz homologará
consequente revogação do Código de 1941) que passarão a serem
a transação penal.
validos os atos com base no novo Código.
Por fim, na Carta Magna, além dos princípios estritamente
Lei Processual Penal no espaço
processuais, existem outros, igualmente importantes, que devem A lei processual penal no espaço aplica-se em com base no
servir de orientação ao jurista e a todo operador do Direito. Afinal, princípio da territorialidade absoluta, ou seja, o processo penal é
como afirmam inúmeros estudiosos, “mais grave do que ofender aplicado em todo território brasileiro.
uma norma, é violar um princípio, pois aquela é o corpo material,
ao passo que este é o espírito, que o anima”. Como exceção, os tratados, as convenções e as regras de di-
reito internacional podem ser aplicadas, excluindo-se a jurisdição
pátria. Tal fato acontece por conta da imunidade diplomática, po-
LEI PROCESSUAL PENAL: FONTES, EFICÁCIA, INTERPRETA‐ sitivada na Convenção de Viena, aprovado pelo Decreto Legislativo
ÇÃO, ANALOGIA, IMUNIDADES nº 103/1964.
Exemplo: A regra é a aplicação do processo penal para todos
os crimes praticados em território brasileiro. Porém, uma pessoa
DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 com imunidade diplomática, como embaixadores, secretários de
embaixada, familiares, além de funcionários de organizações inter-
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL nacionais, como a ONU, serão submetidos à lei material (Código
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que Ihe Penal) de seu país, consequentemente a lei processual penal de seu
confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte Lei: país também.

LIVRO I
DO PROCESSO EM GERAL JURISDIÇÃO; COMPETÊNCIA; CONEXÃO E CONTINÊNCIA;
PREVENÇÃO
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Competência
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasi- A competência é o critério de distribuição entre os vários ór-
leiro, por este Código, ressalvados: gãos do Poder Judiciário das atividades relativos ao desempenho
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; da jurisdição.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Todo juiz é dotado do poder de solucionar litígios. Em nome A Justiça Militar Estadual tem competência para processar e
do próprio Estado, está dotado de poderes para fazer a entrega da julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes milita-
prestação jurisdicional. Exatamente esse poder de dizer o direito, res definidos em lei. Os crimes militares estão definidos no Código
esse poder de solucionar conflitos é a jurisdição. Penal Militar, CPM, e nas Leis Militares Especiais. Deve-se observar,
É importante salientar que o poder jurisdicional é privativo do que por força de disposição constitucional a Justiça Militar Estadu-
estado-juiz. Entretanto, em face de uma expansão territorial, de al tem competência apenas e tão somente para julgar os militares
determinadas pessoas (ratione personae) e de determinas matérias estaduais, que são os integrantes das Forças Auxiliares (Polícias Mi-
(ratione materiae), o exercício desse poder de aplicar o direito (abs- litares e Corpos de Bombeiros Militares).
trato) ao caso concreto sofre limitações, nascendo daí a noção de Se um civil praticar um crime de furto em um quartel da Polí-
competência jurisdicional. Pode-se, pois, conceituar a competência cia Militar do Estado de São Paulo ou qualquer outro Estado mem-
como sendo “o âmbito, legislativamente delimitado, dentro no qual bro da Federação, este será processado e julgado perante a Justiça
o órgão exerce seu Poder Jurisdicional. Comum do Estado, com fundamento no Código Penal e Código de
1. Competência Material Processo Penal.
A distribuição da competência é feita, no Brasil, a partir da pró- Competência da Justiça Eleitoral. A Justiça Eleitoral julga os cri-
pria Constituição Federal, que a atribui: mes previstos no Código Eleitoral.
a) ao Supremo Tribunal Federal (art. 102); Não temos juízes eleitorais em primeira instância, geralmente
b) ao Superior Tribunal de Justiça (art. 105); os juízes estaduais cumulam tal função e, por tal motivo, caso exista
c) à Justiça Federal (arts. 108 e 109) a interposição de recurso contra decisão praticada por este Juiz no
d) às justiças especiais: exercício da competência eleitoral este deverá ser direcionado aos
- Eleitoral; Tribunais Regionais Eleitorais, e não aos Tribunais de Justiça que
- Militar; estes normalmente estão subordinados.
- Trabalhista;
e) à justiça estadual. 2 Competência pelo lugar da infração
A competência pelo lugar da infração (competência ratione
Competência da Justiça Federal. É definida pela própria Cons- loci), via de regra, é determinada pelo lugar em que se consumar o
tituição da República. Pode ser competência ratione personae (art. delito, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o
109, incisos I, II e VIII) e competência ratione materiae (art. 109, último ato de execução.
incisos III, X e XI). Como se vê, Justiça Federal não é justiça especial, Convém ressaltar que: “a competência pelo lugar da infração,
é também justiça comum, é justiça ordinária, assim como a justiça também chamada de competência de foro ou territorial, determi-
estadual. na qual será a comarca competente para o julgamento do fato cri-
Competência da Justiça Estadual. A ela pertence tudo o que minoso. Esse critério é o mais utilizado porque inibe a conduta de
não estiver afeto às outras “justiças”. Por exceção, o que não for todas as pessoas que vivem no local e tomaram conhecimento do
da justiça especial nem da federal, a competência será da justiça fato e, além disso, possibilita maior agilidade à colheita de provas
estadual. Mesmo algumas causas, que, por sua natureza, seriam sem que seja necessária a expedição de cartas precatórias para oi-
da justiça federal, são cometidas pela Constituição da República à tiva de testemunha, realização de perícias, etc..”
justiça estadual.
Competência da Justiça Militar. A justiça militar julga exclusiva- 3 Competência pelo domicílio ou residência do réu
mente crimes militares. A competência pelo domicílio ou residência do réu, também
Existem crimes militares próprios e impróprios. O crime mili- chamada de foro subsidiário, está disposta no artigo 72 do CPP, o
tar próprio é aquele que só está previsto no Código Penal Militar, qual determina que; “não sendo conhecido o lugar da infração, a
e que só poderá ser cometido por militar, como aqueles contra a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu”.
autoridade ou disciplina militar ou contra o serviço militar e o de-
É válido frisar um exemplo, bem ilustrativo, abordado por Tou-
ver militar. Já o crime militar impróprio está previsto ao mesmo
rinho Filho, que diz: “suponha-se que um cadáver apareça boiando
tempo, tanto no Código Penal Militar como na legislação penal
nas águas do Tietê, na comarca de Bariri. Foi ele arrastado pela cor-
comum, ainda que de forma um pouco diversa (roubo, homicídio,
renteza.
estelionato, estupro, etc.) e via de regra, poderá ser cometido por
Constatou-se ter havido homicídio. Das investigações levadas
civil. A competência da Justiça Militar foi estabelecida pelo texto
a cabo, descobriu-se quem foi o criminoso. Este não soube explicar
constitucional de 1988.
o local do crime. Disse apenas que ocorrera bem distante. Nessa
A Justiça Militar Federal tem competência para processar e
hipótese, o processo deve tramitar pelo foro do domicílio ou resi-
julgar os militares integrantes das Forças Armadas, Marinha de
dência do réu”.
Guerra, Exército, Força Aérea Brasileira, civis e assemelhados. No
Estado democrático de Direito, que tem como fundamento a obser- Excepcionalmente, nos casos de ação penal privada exclusiva,
vância de uma Constituição estabelecida pela vontade popular por o autor poderá escolher o foro de domicílio ou da residência do
meio de uma Assembleia Nacional Constituinte, no caso do Brasil réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. É o chamado foro
um Congresso Constituinte, não existe nenhum impedimento para alternativo, que não se aplica ao caso de ação penal privada subsi-
a realização de um julgamento militar que tenha como acusado um diária.
civil. 4 Competência pela natureza da infração
As leis militares, Código Penal Militar, Código de Processo Pe- Uma vez fixada a competência pelo lugar da infração ou pelo
nal Militar, Leis Especiais Militares, definem as situações em que domicílio ou residência do réu (art. 69, I eII, do CPP), será neces-
um civil poderá ser julgado por um juiz ou Tribunal Militar. Se um sário fixar a justiça competente em razão da natureza da infração
civil praticar um crime de furto em local sujeito a administração (ratione materiae), melhor ainda, em razão da matéria.
militar, como por exemplo um quartel, poderá responder a uma
ação penal militar perante a justiça militar federal de 1ª instância.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Oportuno se torna dizer que: “a jurisdição (justiça) pode ser Es- 8 Modificações de competência
pecial, que se divide em Justiça Militar e Justiça Eleitoral; e Comum, Pela modificação de competência podemos entender que há
que se divide em Justiça Federal e Justiça Estadual. A competência regras sobre competência material e funcional, que por sua vez po-
pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização derão ser modificadas nas hipóteses de prorrogação de foro, dele-
judiciária (federal ou estadual), salvo a competência privativa do gação (interna ou externa) e desaforamento.
Tribunal do Júri, cuja competência é atribuída pela Constituição Fe- A prorrogação da competência é: “a possibilidade de substitui-
deral. ção da competência de um juízo por outro, podendo ser necessária
O Tribunal do Júri tem a competência para julgar os crimes do- ou voluntária; a necessária decorre das hipóteses de conexão (é o
losos contra a vida. nexo, a dependência recíproca que as coisas e os fatos guardam
Em relação à jurisdição especial, a Constituição Federal deter- entre si) e continência (como o próprio nome já diz é quando uma
mina que compete à Justiça Eleitoral (art. 121 da CF), julgar os cri- causa está contida na outra, não sendo possível a cisão); e a vo-
mes eleitorais e os seus conexos. A Constituição Federal também luntária ocorre nos casos de incompetência territorial quando não
prevê a competência da Justiça Militar (art. 124 da CF), qual seja, oposta à exceção no momento oportuno (caso em que ocorre a
processar e julgar os crimes militares previstos em lei. preclusão), ou nos casos de foro alternativo”.
A delegação é o ato pelo qual um juiz transfere para o outro a
Além do mais, a Constituição Federal também prevê a com- atribuição jurisdicional que é sua. Essa delegação pode ocorrer de
petência da jurisdição comum (federal ou estadual), por exemplo, duas formas, interna ou externa. A delegação interna ocorre nos
compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cometidos a casos de juízes substitutos e juízes auxiliares do titular do Juízo,
bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça melhor ainda, é quando um juiz cede a outro a competência para
Militar (art. 109, IX, da CF). praticar atos no processo, inclusive decisórios, cabe entendermos
Finalmente, a Justiça Comum Estadual tem a competência re- que neste caso não há uma modificação de competência, mas sim
sidual. Em outras palavras, é competência da Justiça Estadual tudo de atribuições. Já a delegação externa é utilizada nos casos em que
o que não for de competência das jurisdições federal e especial. os atos são praticados em juízos diferentes, isto é, quando há o uso
das cartas precatórias, rogatórias e de ordem.
5 Competência por prevenção e distribuição
Através da distribuição (art. 69, IV, do CPP), haverá a fixação da O desaforamento nada mais é do que o instituto privativo dos
competência do juízo quando, houver mais de um juiz igualmente crimes de competência do Tribunal do Júri. Nos casos em que hou-
competente em uma mesma circunscrição judiciária. Outrossim, ver necessidade desse instituto, o pedido poderá ser proposto pela
“se na mesma comarca existirem vários juízes igualmente com- acusação (MP ou querelante, em casos de ação privada subsidiá-
petentes para o julgamento do caso, considerar-se-á competente ria), por representação do juiz, pelo assistente de acusação ou a
pelo critério da prevenção aquele que se adiantar aos demais quan- requerimento do acusado e será endereçado ao Tribunal de Justiça.
to à prática de alguma providência processual ou extraprocessual
Neste sentido, a Súmula 712 do STF diz que “é nula a decisão que
(exemplo: a decretação da prisão preventiva, a concessão de fian-
determina o desaforamento de processo da competência do júri
ça, o reconhecimento de pessoas ou coisas)”.
sem audiência da defesa”.
6 Competência por conexão ou continência
9 Competência absoluta e relativa
Há conexão (art. 69, V, do CPP) quando duas ou mais infrações
Chama-se competência absoluta, visto que as competências
estão ligadas por um liame, sendo que estes crimes devem ser jul-
em razão da matéria e a por prerrogativa de função, tem conteú-
gados em um só processo em virtude da existência desse nexo.
do de interesse público e, por isso, não podem ser prorrogadas e
Além disso, “há continência quando uma coisa está contida em
nem modificadas pelas partes e o seu reconhecimento, que pode
outra, não sendo possível a separação. No processo penal a con-
tinência é também uma forma de modificação da competência e ocorrer em qualquer tempo ou grau de jurisdição, gera nulidade
não de fixação dela”. Ademais, ocorrerá a continência (art. 69, V, absoluta do processo.
do CPP) quando duas ou mais pessoas são acusadas pelo mesmo Para entendermos competência relativa, é indispensável uma
crime, ou se o comportamento do indivíduo configurar concurso breve análise da Súmula 706 do STF que diz; “é relativa a nulidade
formal, aberratio criminis (resultado diverso daquele pretendido) decorrente da inobservância da competência penal por preven-
com duplo resultado e aberratio ictus (erro na execução). ção”.
Diante do exposto, nota-se que a continência e a conexão são Outrossim, na competência territorial, na qual o que prevalece
critérios de prorrogação de competência e não de fixação. Outros- é o interesse privado de uma das partes, é prorrogável se não for
sim, a existência de continência e conexão ocasionará a reunião de alegada no tempo oportuno e é capaz de gerar, se comprovado o
processos e prorrogação da competência. Todavia, segundo a Sú- prejuízo pela parte interessada, apenas a nulidade relativa do ato
mula 235 do STJ “a conexão não determina a reunião dos processos, ou de uma fase do processo.
se um deles já foi julgado”.
10 Competência por compensação
7 Competência por prerrogativa de função Quando há mais de um juiz na Comarca, que são igualmente
Cumpre-nos assinalar que a competência por prerrogativa de capazes de julgar a matéria criminal, há a distribuição alternativa
função (art.69, VII, do CPP) ou competência ratione personae (em entre eles. Porém, excepcionalmente, os tribunais e juízos de 1°
razão da pessoa) é determinada pela função da pessoa, ou melhor, grau alteram o critério de distribuição, deixando de sortear em de-
é garantia inerente ao cargo ou função. Ademais, a prerrogativa terminados casos, havendo necessidade de uma compensação pos-
surge da relevância do desempenho do cargo pela pessoa e devido terior. Ou então, quando um magistrado receber mais processos
a isso, não pode ser confundida com o privilégio, uma vez que este que deveria, será realizada uma compensação pelo outro.
constitui um benefício concedido à pessoa.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
11. Competência por suspeição Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente,
Nas situações previstas no art. 254 do CPP, em um rol não ta- praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência
xativo, há um vício externo que igualmente veda a atuação do juiz firmar-se-á pela prevenção.
naquele determinado processo. Nessas situações, há presunção
relativa de parcialidade do juiz (juris tantum), motivo pelo qual ele CAPÍTULO II
deve se declarar suspeito e, se não o fizer, as partes poderão recu- DA COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU
sá-lo, oferecendo a exceção de suspeição (artigos 95 e seguintes
do CPP). Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competên-
Funda-se na falta de imparcialidade do julgador e tem por ob- cia regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu.
jetivo afastar o juiz suspeito, não gerando o deslocamento do juízo, § 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência fir-
mas tão somente o afastamento do julgador. mar-se-á pela prevenção.
Portanto, o juiz suspeito não é competente a julgar tal proces- § 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu
so. paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimen-
to do fato.
Com o objetivo de complementar seus estudos, seguem os ar- Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante
tigos legais referentes a jurisdição e competência previstos no Có- poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda
digo de Processo Penal: quando conhecido o lugar da infração.
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasi-
leiro, por este Código, ressalvados: CAPÍTULO III
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; DA COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República,
dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presiden- Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada
te da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa
crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); do Tribunal do Júri.
III - os processos da competência da Justiça Militar; § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes pre-
IV - os processos da competência do tribunal especial (Consti- vistos nos arts. 121, §§ 1o e 2o, 122, parágrafo único, 123, 124, 125,
tuição, art. 122, no 17); 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados.
V - os processos por crimes de imprensa. § 2º Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassi-
ficação para infração da competência de outro, a este será remeti-
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos pro-
do o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro,
cessos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os re-
que, em tal caso, terá sua competência prorrogada.
gulam não dispuserem de modo diverso.
§ 3º Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra
atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto
(...)
no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal
TÍTULO V
do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2o).
DA COMPETÊNCIA
CAPÍTULO IV
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:
DA COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO
I - o lugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu; Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência
III - a natureza da infração; quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz
IV - a distribuição; igualmente competente.
V - a conexão ou continência; Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da con-
VI - a prevenção; cessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qual-
VII - a prerrogativa de função. quer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação
penal.
CAPÍTULO I
DA COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA INFRAÇÃO CAPÍTULO V
DA COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar
em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar Art. 76. A competência será determinada pela conexão:
em que for praticado o último ato de execução. I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido prati-
§ 1º Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se cadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias
consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por
que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. várias pessoas, umas contra as outras;
§ 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para
território nacional, será competente o juiz do lugar em que o cri- facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou van-
me, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu tagem em relação a qualquer delas;
resultado. III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
§ 3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.
jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração Art. 77. A competência será determinada pela continência
consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a quando:
competência firmar-se-á pela prevenção. I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos CAPÍTULO VII
arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal. DA COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou con-
tinência, serão observadas as seguintes regras: Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supre-
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão mo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais
da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a eles por crimes comuns e de responsabilidade.
pena mais grave; Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior nú- querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do
mero de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravida- Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou
de; a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida a exceção
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; da verdade.
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predomi- Art. 86. Ao Supremo Tribunal Federal competirá, privativamen-
nará a de maior graduação; te, processar e julgar:
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, preva- I - os seus ministros, nos crimes comuns;
lecerá esta. II - os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de pro- Presidente da República;
cesso e julgamento, salvo: III - o procurador-geral da República, os desembargadores dos
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; Tribunais de Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os em-
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de me- baixadores e ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de res-
nores. ponsabilidade.
§ 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em Art. 87. Competirá, originariamente, aos Tribunais de Apela-
relação a algum corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152. ção o julgamento dos governadores ou interventores nos Estados
§ 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, ou Territórios, e prefeito do Distrito Federal, seus respectivos se-
se houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou cretários e chefes de Polícia, juízes de instância inferior e órgãos do
ocorrer a hipótese do art. 461. Ministério Público.
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as
infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou CAPÍTULO VIII
de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados DISPOSIÇÕES ESPECIAIS
e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação. Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território
Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou con- brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado onde hou-
tinência, ainda que no processo da sua competência própria venha ver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no
o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassi- Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
fique a infração para outra que não se inclua na sua competência, Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas
continuará competente em relação aos demais processos. águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem
Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competên- como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão pro-
cia por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infra- cessados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que
ção ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País,
a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente. pela do último em que houver tocado.
Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem ins- Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional,
taurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalen- dentro do espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, ou
te deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço
salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e
dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou julgados pela justiça da comarca em cujo território se verificar o
de unificação das penas. pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a
aeronave.
CAPÍTULO VI Art. 91. Quando incerta e não se determinar de acordo com as
DA COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO normas estabelecidas nos arts. 89 e 90, a competência se firmará
pela prevenção.
Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez
que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou
com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na
prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ain-
da que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70,
§ 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Características do inquérito policial
INQUÉRITO POLICIAL. HISTÓRICO, NATUREZA, CONCEI‐ - Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Penal,
TO, FINALIDADE, CARACTERÍSTICAS, FUNDAMENTO, TI‐ todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzi-
TULARIDADE, GRAU DE COGNIÇÃO, VALOR PROBATÓRIO, das a escrito (ou a termo) ou datilografadas e, neste caso, rubrica-
FORMAS DE INSTAURAÇÃO, NOTITIA CRIMINIS, DELATIO das pela autoridade policial. Vale lembrar, contudo, que o fato de
CRIMINIS, PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS, INDICIA‐ ser peça escrita não obsta que sejam os atos produzidos durante
MENTO, GARANTIAS DO INVESTIGADO, CONCLUSÃO E tal fase sejam gravados por meio de recurso de áudio e/ou vídeo;
PRAZOS Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a autorida-
de assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato
ou exigido pelo interesse da sociedade.
Inquérito Policial Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso
aos autos do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade
O inquérito policial é um procedimento administrativo investi- policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º,
gatório, de caráter inquisitório e preparatório, consistente em um XIV, da Lei nº 8.906/94 - Estatuto da Ordem dos Advogados do Bra-
conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para sil - e com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso aos
apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela auto- atos já documentados nos autos, independentemente de procura-
ridade policial, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar ção, para assegurar direito de assistência do preso e investigado.
em juízo. Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e ir-
A mesma definição pode ser dada para o termo circunstancia- restrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos
do (ou “TC”, como é usualmente conhecido), que são instaurados autos, mas não em relação às diligências em andamento.
em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo, a saber, Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos
as contravenções penais e os crimes com pena máxima não supe- já documentados, é cabível Reclamação ao STF para ter acesso às
rior a dois anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habeas
procedimento especial. corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o
A natureza jurídica do inquérito policial, como já dito no item mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a
anterior, é de “procedimento administrativo investigatório”. E, se é prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele.
administrativo o procedimento, significa que não incidem sobre ele Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há
as nulidades previstas no Código de Processo Penal para o proces- se chamar atenção para o parágrafo único, do art. 20, CPP, com
so, nem os princípios do contraditório e da ampla defesa. nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos
Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito policial atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
não afetam a ação penal a que der origem, salvo na hipótese de policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à
provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas que, instauração de inquérito contra os requerentes.
excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzidas com Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da
observância do contraditório e da ampla defesa, como uma produ- doutrina, no sentido de que o inquérito, justamente por sua ca-
ção antecipada de provas, por exemplo. racterística da pré-judicialidade, não deve ser sequer mencionado
A finalidade do inquérito policial é justamente a apuração do nos atestados de antecedentes. Já para outro entendimento, agora
crime e sua autoria, e à colheita de elementos de informação do contra a lei, tal medida representa criticável óbice a que se descu-
delito no que tange a sua materialidade e seu autor. bra mais sobre um cidadão em situações como a investigação de
vida pregressa anterior a um contrato de trabalho.
“Notitia criminis”
É o conhecimento, pela autoridade policial, acerca de um fato - Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem am-
delituoso que tenha sido praticado. São as seguintes suas espécies: pla defesa. Por tal motivo não é autorizado ao juiz, quando da sen-
A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autoridade tença, a se fundar exclusivamente nos elementos de informação
policial toma conhecimento do fato por meio de suas atividades colhidos durante tal fase administrativa para embasar seu decreto
corriqueiras (exemplo: durante uma investigação qualquer desco- (art. 155, caput, CPP). Ademais, graças a esta característica, não há
bre uma ossada humana enterrada no quintal de uma casa); uma sequência pré-ordenada obrigatória de atos a ocorrer na fase
B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autoridade do inquérito, tal como ocorre no momento processual, devendo
policial toma conhecimento do fato por meio de um expediente estes ser realizados de acordo com as necessidades que forem sur-
escrito (exemplo: requisição do Ministério Público; requerimento gindo.
da vítima); - Peça Discricionária. A autoridade policial possui liberdade
C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autorida- para realizar aquelas diligências investigativas que ela julga mais
de policial toma conhecimento do fato delituoso por intermédio do adequadas para aquele caso.
auto de prisão em flagrante. - Peça oficiosa/oficial. Pode ser instaurada de oficio.
- Peça indisponível. Uma vez instaurado o inquérito policial ele
“Delatio criminis” se torna indisponível. O delegado não pode arquivar o inquérito
Nada mais é que uma espécie de notitia criminis, consiste na policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade judicial,
comunicação de uma infração penal à autoridade policial, feita por mediante requerimento do promotor de justiça.
qualquer pessoa do povo.
Valor probatório
Fernando Capez ensina que, “o inquérito tem valor probatório
meramente relativo, pois serve de base para a denúncia e para as
medidas cautelares, mas não serve sozinho para sustentar sentença
condenatória, pois os elementos colhidos no inquérito o foram de
modo inquisitivo, sem contraditório e ampla defesa.”
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Grau de Cognição Aplicação do Princípio da Insignificância no Inquérito Policial
Consiste no valor probatório a criar um juízo de verossimilhan- O princípio da insignificância tem origem no Direito Romano.
ça, assim, não é um juízo de certeza da autoria delitiva a fase de E refere-se, então, à relevância ou à insignificância dos objetos das
inquérito policial. Compete à fase processual a análise probatória lides. Vale analise sobre a relevância jurídica do ato praticado pelo
de autoria. autor do delito e sua significância para o bem jurídico tutelado.
No caso do Direito Penal, não se trata de um princípio previsto
Identificação criminal na legislação. É, por outro lado, uma construção doutrinária. E foi
Envolve a identificação fotográfica e a identificação datiloscó- assimilado, então, pela jurisprudência.
pica. Antes da atual Constituição Federal, a identificação criminal A depender da natureza do fato, os prejuízos ocasionados po-
era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, anterior a 1988, inclusive, dem ser considerados ínfimos ou insignificante. E, desse modo, in-
dizia isso), o que foi modificado na atual Lei Fundamental pelo art. cidir o princípio da bagatela para absolvição do réu.
5º, LVIII, segundo o qual o civilmente identificado não será subme- Nessa perspectiva, dispõe, então, o art. 59 do Código Penal:
tido à identificação criminal, “salvo nas hipóteses previstas em lei”. Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à
A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Es- conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circuns-
tatuto da Criança e do Adolescente”), em seu art. 109, segundo o tâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento
qual a identificação criminal somente será cabível quando houver da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
fundada dúvida quanto à identidade do menor. reprovação e prevenção do crime...
Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Crimi-
nosas”) dispôs em seu art. 5º que a identificação criminal de pes- Como o Princípio da Insignificância decorre de uma construção
soas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas histórica, doutrinária e jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal
será realizada independentemente de identificação civil. houve por bem fixar critérios que direcionem a aplicabilidade ou
Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para não da ‘insignificância’ aos casos concretos. Para tanto, estabele-
tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe um rol taxativo de delitos ceu os seguintes critérios, de observação cumulativa:
em que a identificação criminal deveria ser feita obrigatoriamente, - a mínima ofensividade da conduta do agente;
sem mencionar, contudo, os crimes praticados por organizações - a ausência de periculosidade social da ação;
criminosas, o que levou parcela da doutrina e da jurisprudência a - o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcialmente revogado. - a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei nº
12.037/09, que também trata especificamente apenas sobre o Não há qualquer dúvida de que o princípio da insignificância
tema “identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol taxativo pode ser aplicado pelo magistrado ou tribunal quando verificada a
de delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas sim um presença dos mencionados requisitos autorizadores e se tratar de
art. 3º com situações em que ela será possível: crimes que admitam a sua aplicação.
A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios de No entanto, apesar de ainda controverso, a jurisprudência atu-
falsificação (inciso I); al vem sendo direcionada no sentido de que não é possível a ana-
B) Quando o documento apresentado for insuficiente para lise jurídica da conduta do acusado, em sede de inquérito policial,
identificar o indivíduo de maneira cabal (inciso II); para então aplicar desde logo o princípio da insignificância diante
C) Quando o indiciado portar documentos de identidade distin- de eventual atipicidade da conduta imputada ao autor do ilícito.
tos, com informações conflitantes entre si (inciso III); Para o STJ, a resposta é negativa. A análise quanto à insignifi-
D) Quando a identificação criminal for essencial para as inves- cância ou não do fato seria restrita ao Poder Judiciário, em juízo, a
tigações policiais conforme decidido por despacho da autoridade posteriori. Cabe à autoridade policial o dever legal de agir em fren-
judiciária competente, de ofício ou mediante representação da te ao suposto fato criminoso. Este entendimento consta do Infor-
autoridade policial/promotor de justiça/defesa (inciso IV). Nesta mativo 441 do STJ:
hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art. 5º da atual lei A Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus a
(acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação criminal pode- paciente condenado pelos delitos de furto e de resistência, reconhe-
rá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil cendo a aplicabilidade do princípio da insignificância somente em
genético; relação à conduta enquadrada no art. 155, caput, do CP (subtração
E) Quando constar de registros policiais o uso de outros nomes de dois sacos de cimento de 50 kg, avaliados em R$ 45). Asseverou-
ou diferentes qualificações (inciso V); -se, no entanto, ser impossível acolher o argumento de que a refe-
F) Quando o estado de conservação ou a distância temporal ou rida declaração de atipicidade teria o condão de descaracterizar a
da localidade da expedição do documento apresentado impossibi- legalidade da ordem de prisão em flagrante, ato a cuja execução o
litar a completa identificação dos caracteres essenciais (inciso VI). apenado se opôs de forma violenta.
Segundo o Min. Relator, no momento em que toma conheci-
Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do perfil mento de um delito, surge para a autoridade policial o dever legal
genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis de agir e efetuar o ato prisional. O juízo acerca da incidência do
genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal (art. princípio da insignificância é realizado apenas em momento pos-
5º-A, acrescido pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos de dados de- terior pelo Poder Judiciário, de acordo com as circunstâncias ati-
vem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrati- nentes ao caso concreto. Logo, configurada a conduta típica descri-
vamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins ta no art. 329 do CP, não há de se falar em consequente absolvição
diversos do previsto na lei ou em decisão judicial. nesse ponto, mormente pelo fato de que ambos os delitos imputa-
dos ao paciente são autônomos e tutelam bens jurídicos diversos.
HC 154.949-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/8/2010.

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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Indiciamento A) Oferecimento de denúncia. Ora, se o promotor de justiça é
O ato de “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma infra- o titular da ação penal, a ele compete se utilizar dos elementos co-
ção penal. Trata-se de ato privativo do delegado policial. lhidos durante a fase persecutória para dar o disparo inicial desta
ação por intermédio da denúncia;
Condução Coercitiva no Inquérito Policial B) Requerimento de diligências. Somente quando forem indis-
A condução coercitiva é o meio pelo qual determinada pessoa pensáveis;
é levada à presença de autoridade policial ou judiciária. É comando C) Promoção de arquivamento. Se entender que o investigado
impositivo, que independente da voluntariedade da pessoa, admi- não constitui qualquer infração penal, ou, ainda que constitua, en-
tindo-se o uso de algemas nos limites da Súmula 11 do Supremo contra óbice nas máximas sociais que impedem que o processo se
Tribunal Federal. desenvolva por atenção ao “Princípio da Insignificância”, por exem-
plo, o agente ministerial pode solicitar o arquivamento do inquérito
Incomunicabilidade do indiciado preso à autoridade judicial;
De acordo com o art. 21, do Código de Processo Penal, seria D) Oferecer arguição de incompetência. Se não for de sua com-
possível manter o indiciado preso pelo prazo de três dias, quando petência, o membro do MP suscita a questão, para que a autorida-
conveniente à investigação ou quando houvesse interesse da so- de judicial remeta os autos à justiça competente;
ciedade E) Suscitar conflito de competência ou de atribuições. Confor-
O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o me o art. 114, do Código de Processo Penal, o “conflito de compe-
Código de Processo Penal da década de 1940, não foi o mesmo re- tência” é aquele que se estabelece entre dois ou mais órgãos juris-
cepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, prevalece de dicionais. Já o “conflito de atribuições” é aquele que se estabelece
forma maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está tacitamente entre órgãos do Ministério Público.
revogado.
Arquivamento do inquérito policial
Prazo para conclusão do inquérito policial No arquivamento, uma vez esgotadas todas as diligências cabí-
De acordo com o Código de Processo Penal, em se tratando de veis, percebendo o órgão do Ministério Público que não há indícios
indiciado preso, o prazo é de dez dias improrrogáveis para conclu- suficientes de autoria e/ou prova da materialidade delitiva, ou, em
são. Já em se tratando de indiciado solto, tem-se trinta dias para outras palavras, em sendo caso de futura rejeição da denúncia (art.
conclusão, admitida prorrogações a fim de se realizar ulteriores e 395 do CPP) ou de absolvição sumária (397 do CPP), deverá ser for-
necessárias diligências. mulado ao juiz pedido de arquivamento do inquérito policial. Quem
Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze determina o arquivamento é o juiz por meio de despacho. O arqui-
dias para acusado preso, admitida duplicação deste prazo (art. 66, vamento transmite uma ideia de “encerramento” do IP.
da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de trinta Assim, quem determina o arquivamento do inquérito é a auto-
dias admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral. ridade judicial, após solicitação efetuada pelo membro do Ministé-
Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é de rio Público. Disso infere-se que, nem a autoridade policial, nem o
trinta dias para acusado preso, e de noventa dias para acusado sol- membro do Ministério Público, nem a autoridade judicial, podem
to. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo. promover o arquivamento de ofício. Ademais, em caso de ação
Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Economia penal privada, o juiz pode promover o arquivamento caso assim
Popular”), o prazo, esteja o acusado solto ou preso, será sempre de requeira o ofendido.
dez dias.
Desarquivamento
E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo pro- Quem pode desarquivar o Inquérito Policial é do Ministério Pú-
cessual, isto é, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do venci- blico, quando surgem fatos novos. Assim, deve a autoridade policial
mento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de Processo representar neste sentido, mostrando-lhe que existem fatos novos
Penal. que podem dar ensejo a nova investigação. Vejamos o mencionada
na Súmula 524do STF:
Conclusão do inquérito policial “Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requeri-
De acordo com o art. 10, §1º, CPP, o inquérito policial é con- mento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada,
cluído com a confecção de um relatório pela autoridade policial, no sem novas provas”.
qual se deve relatar, minuciosamente, e em caráter essencialmente
descritivo, o resultado das investigações. Em seguida, deve o mes- Trancamento do inquérito policial
mo ser enviado à autoridade judicial. Trata-se de medida de natureza excepcional, somente sendo
Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no relatório, possível nas hipóteses de atipicidade da conduta, de causa extintiva
em regra, com exceção da Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), em da punibilidade, e de ausência de elementos indiciários relativos à
cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de valor quanto à autoria e materialidade. Ou seja, é cabível quando a investigação é
tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de drogas. absolutamente infundada, abusiva, não indica o menor indício de
Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável, prova da autoria ou da materialidade. Aqui a situação é de paralisa-
logo, a sua falta não tornará inquérito inválido. ção do inquérito policial, determinada através de acórdão proferi-
do no julgamento de habeas corpus que impede o prosseguimento
Recebimento do inquérito policial pelo órgão do Ministério do IP.
Público
Recebido o inquérito policial, tem o agente do Ministério Públi-
co as seguintes opções:

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Investigação pelo Ministério Público a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
Apesar do atual grau de pacificação acerca do tema, no sen- b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos
tido de que o Ministério Público pode, sim, investigar - o que se e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da in-
confirmou com a rejeição da Proposta de Emenda à Constituição fração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
nº 37/2011, que acrescia um décimo parágrafo ao art. 144 da Cons- c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profis-
tituição Federal no sentido de que a apuração de infrações penais são e residência.
caberia apenas aos órgãos policiais -, há se disponibilizar argumen- § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
tos favoráveis e contrários a tal prática: inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possi- § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da exis-
bilidade de investigar atribuída ao Ministério Público é a chamada tência de infração penal em que caiba ação pública poderá, ver-
“Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte Norte- balmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta,
-americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”, verificada a procedência das informações, mandará instaurar in-
isto é, se ao Ministério Público compete o oferecimento da ação quérito.
penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os indícios § 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
de autoria e materialidade para essa oferta de denúncia pela via representação, não poderá sem ela ser iniciado.
do inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o procedimento § 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente
investigatório utilizado pela autoridade policial seria o mesmo, ape- poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha quali-
nas tendo uma autoridade presidente diferente, no caso, o agente dade para intentá-la.
ministerial. Por fim, como último argumento, tem-se que a bem do Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração pe-
nal, a autoridade policial deverá:
direito estatal de perseguir o crime, atribuir funções investigatórias
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem
ao Ministério Público é mais uma arma na busca deste intento;
o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos cri-
B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento des-
minais;
favorável à possibilidade investigatória do Ministério Público, tem-
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
-se que tal função atenta contra o sistema acusatório. Ademais, liberados pelos peritos criminais;
fala-se em desequilíbrio entre acusação e defesa, já que terá o III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
membro do MP todo o aparato estatal para conseguir a condena- do fato e suas circunstâncias;
ção de um acusado, restando a este, em contrapartida, apenas a IV - ouvir o ofendido;
defesa por seu advogado caso não tenha condições financeiras de V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do
conduzir uma investigação particular. Também, fala-se que o Minis- disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respec-
tério Público já tem poder de requisitar diligências e instauração de tivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ou-
inquérito policial, de maneira que a atribuição para presidi-lo seria vido a leitura;
“querer demais”. Por fim, alega-se que as funções investigativas VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acare-
são uma exclusividade da polícia judiciária, e que não há previsão ações;
legal nem instrumentos para realização da investigação Ministério VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo
Público. de delito e a quaisquer outras perícias;
Controle externo da atividade policial VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo dati-
O controle externo da atividade policial é aquele realizado pelo loscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de ante-
Ministério Público no exercício de sua atividade fiscalizatória em cedentes;
prol da sociedade (art. 127 e 129, II, da Constituição Federal de IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vis-
1988) e em virtude de mandamento constitucional expresso (art. ta individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude
129, VII, da Constituição Federal de 1988). e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quais-
quer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
Vejamos o que estabelece a norma processual em relação ao temperamento e caráter.
Inquérito Policial nos termos do Código de Processo Penal. X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de
TÍTULO II eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pes-
DO INQUÉRITO POLICIAL soa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá pro-
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades poli-
ceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contra-
ciais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a
rie a moralidade ou a ordem pública.
apuração das infrações penais e da sua autoria.
Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não ex- no Capítulo II do Título IX deste Livro.
cluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometi- Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só pro-
da a mesma função. cessado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubri-
Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será ini- cadas pela autoridade.
ciado: Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o
I - de ofício; indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventiva-
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministé- mente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
rio Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver quali- executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver
dade para representá-lo. solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que § 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido
possível: apurado e enviará autos ao juiz competente.
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a solução para o seu concurso!
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a
encontradas. juízo da autoridade.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às institui-
solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, ções dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
pelo juiz. demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situa-
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou quei- ções dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
xa, sempre que servir de base a uma ou outra. de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. (In-
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessá- § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investi-
rias à instrução e julgamento dos processos; gado deverá ser citado da instauração do procedimento investiga-
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Minis- tório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e
tério Público; oito) horas a contar do recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº
III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autorida- 13.964, de 2019)
des judiciárias; § 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com au-
IV - representar acerca da prisão preventiva. sência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade
Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que es-
§ 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de- tava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para
zembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069, de 13 que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor
de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro para a representação do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964,
do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de 2019)
de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa § 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos. § 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
(Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016) § 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de § 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos ser-
24 (vinte e quatro) horas, conterá: vidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da
I - o nome da autoridade requisitante; Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respei-
II - o número do inquérito policial; e to a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável nº 13.964, de 2019)
pela investigação. Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador
Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes pela autoridade policial.
relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução
ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, im-
judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ prescindíveis ao oferecimento da denúncia.
ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar au-
adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a tos de inquérito.
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.(Incluído Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela
pela Lei nº 13.344, de 2016) autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autorida-
§ 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento de policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas
da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofrequ- tiver notícia.
ência. Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos
§ 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal: do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguarda-
I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qual- rão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão
quer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.
disposto em lei; Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces-
II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel ce- sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
lular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem
única vez, por igual período; solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer
III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será anotações referentes a instauração de inquérito contra os reque-
necessária a apresentação de ordem judicial. rentes.
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial de- Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre
verá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, de despacho nos autos e somente será permitida quando o interes-
contado do registro da respectiva ocorrência policial. se da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de
horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestado- três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a re-
ras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibi- querimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Públi-
lizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, co, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso
informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de
suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz. 27 de abril de 1963)
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver Cabe destacar que há diferença entre objeto da prova e objeto
mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em de prova. O objeto de prova significa todos os fatos ou coisas que
uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar necessitam da comprovação de sua veridicidade.
diligências em circunscrição de outra, independentemente de pre- Durante um processo, tanto o autor quanto o réu irão apresen-
catórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compa- tar argumentos favoráveis à eles, assim como acontecimentos que
reça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em demonstrem a veracidade de suas alegações. Ocorrendo isso, os
sua presença, noutra circunscrição. mesmos acabam por delimitar o objeto da prova, devendo o julga-
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz com- dor ater-se à somente estes fatos, visando a economia processual.
petente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação Neste contexto, podemos concluir que são as partes que defi-
e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que nem essencialmente os fatos que deverão ser objeto de prova, res-
tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à tando ao juiz, eventualmente, apenas completar o rol de provas a
pessoa do indiciado. produzir, utilizando-se de seu poder instrutório, o que determinará
somente com a finalidade de fazer respeitar o princípio da verdade
real.
TEORIA DA PROVA: CONCEITO, DESTINATÁRIOS, MEIOS, Classificação Da Prova
FONTES E OBJETO DE PROVA. PRESERVAÇÃO DE LOCAL Existem alguns critérios que classificam a prova, a saber:
DE CRIME. REQUISITOS E ÔNUS DA PROVA. NULIDADE DA
PROVA. DOCUMENTOS DE PROVA. RECONHECIMENTO DE a) Quanto ao objeto:
PESSOAS E COISAS. ACAREAÇÃO. INDÍCIOS. BUSCA E - direta: apresenta o fato de forma instantânea, não necessi-
APREENSÃO tando de nenhuma construção lógica.
- indireta: afirma uma fato do qual se infira, por dedução ou
indução, a existência do fato que se busque provar. Neste caso, há
Prova consiste num conjunto de provas que podem ser produ- a necessidade de um processo de construção lógica com o intuito
zidas pelas partes, pelo juiz ou por terceiros (peritos, por exemplo), de chegar a um determinado fato que se quer provar.
os quais destinam à convicção do magistrado acerca da existência b) Quanto ao sujeito ou causa:
ou não de um fato. - real: é uma prova encontrada em objeto ou coisa que possua
Assim, trata-se da convicção do juiz sobre os elementos essen- vestígios de um crime como, por exemplo, uma camisa ensanguen-
tada da vítima, etc.
ciais para o decorrer da causa.
- pessoal: é uma prova surgida da vontade consciente humana
Enquanto os elementos informativos são aqueles produzidos
e que tem como objetivo mostrar a veracidade dos fatos asseve-
durante a fase do inquérito policial (em regra, já que o inquérito,
rados como, por exemplo, o testemunho de quem presenciou um
é dispensável, podendo os elementos informativos ser produzidos
crime, um laudo pericial assinado por dois peritos, etc.
em qualquer outro meio de investigação suficiente a embasar uma
acusação), a prova deve ser produzida à luz do contraditório e da
c) Quanto à forma:
ampla defesa, almejando a consolidação do que antes eram meros
- testemunhal: é a prova produzida através de declaração sub-
indícios de autoria e materialidade delitiva, e ainda, com a finalida-
jetiva oral e algumas vezes por escrito (art.221, §1º, CPP). Essas
de imediata de auxiliar o juiz a formar sua livre convicção. provas podem ser produzidas por testemunhas, pelo próprio acu-
Vale informar, que não poderá o juiz, nessa sua livre convicção, sado (confissão) ou pelo ofendido.
se fundar exclusivamente nos elementos informativos colhidos du- - documental: é a prova originada através de documento escri-
rante a fase investigatória. Estes terão apenas função complemen- to ou gravação como, por exemplo cartas, fotografias autenticadas
tar na formação do processo de convencimento do magistrado. etc.
Isso significa dizer que a prova é, sim, essencial, para se condenar - material: é a que consiste em qualquer materialidade que sir-
alguém. Justamente porque, a ausência de prova é um dos motivos va de elemento para o convencimento do juiz sobre o fato que se
que pode levar à absolvição. está provando.
A prova está intimamente ligada à demonstração da verdade
dos fatos, sendo inerente ao desempenho do direito de ação e de d) Quanto ao valor ou efeito:
defesa. É verdadeiro direito subjetivo com vertente constitucional - plena (perfeita ou completa): é a prova que é capaz de con-
para demonstração da realidade dos fatos. Já as normas atinentes duzir o julgador à uma absoluta certeza da existência de um fato.
às provas são de natureza processual, tendo aplicação imediata. Se - não plena (imperfeita ou incompleta): é a prova que apenas
o legislador disciplina um novo meio de prova, ou altera as normas conduz à uma probabilidade da ocorrência de um evento, não sen-
já existentes, tais alterações terão incidência instantânea, abarcan- do suficiente para a comprovação.
do os processos já em curso. Os crimes ocorridos antes da vigência
da lei poderão ser demonstrados pelos novos meios de prova. Meios de Prova
De acordo com os ensinamentos de Paulo Rangel: “O objeto Meio de prova é todo fato, documento ou alegação que possa
da prova é a coisa, o fato, o acontecimento que deve ser conhecido servir, direta ou indiretamente, à busca da verdade real dentro do
pelo juiz, a fim de que possa emitir um juízo de valor. São os fatos processo. É o instrumento utilizado pelo juiz para formar a sua con-
sobre os quais versa o caso penal. Ou seja, é o ‘thema probandum’ vicção acerca dos fatos alegados pelas partes.
que serve de base à imputação penal feita pelo Ministério Público. Em outras palavras, meio de prova é tudo aquilo que possibilita
É a verdade dos fatos imputados ao réu com todas as suas circuns- o convencimento do julgador quanto a veracidade dos fatos expos-
tâncias”. tos, estando ou não estes meios inseridos em lei.
Na hipótese do Ministério Público imputar à determinada pes-
soa a prática do crime de homicídio, este crime caracterizar-se-á
como o objeto da prova.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Os meios de prova podem ser tanto nominados quanto inomi- A “prova inominada” é aquela cujo “nomen juris” não consta
nados. Os primeiros são estabelecidos através da lei e os últimos da lei, mas que é admitida por força do “Princípio da Liberdade Pro-
são moralmente legítimos. Como exemplo de meios de prova, exis- batória”.
te a perícia no local em que ocorreu o delito (art.169, CPP), a con- A “prova típica” é aquela cujo procedimento probatório está
fissão do réu (art.197, CPP) e o depoimento do ofendido (art.201, previsto na lei.
CPP). A “prova atípica” é aquela cujo procedimento não está previs-
Sob o Princípio da Verdade Real, as investigações devem ser to em lei.
feitas de forma ampla, ou seja, não havendo restrições quanto aos A “prova irritual” é aquela colhida sem a observância de mode-
meios de provas, salvo nos casos previstos no parágrafo único do lo previsto em lei. Trata-se de prova ilegítima.
art.155, CPP: “Somente quanto ao estado das pessoas serão obser- Princípios relacionados à prova penal.
vadas as restrições estabelecidas na lei civil”. São eles, além do Princípio da Liberdade Probatória, já mencio-
“Prova cautelar”, “prova não repetível”, e “prova antecipa- nado anteriormente, em um rol exemplificativo:
da”. A) Princípio da presunção de inocência (ou princípio da presun-
A parte final, do caput do art. 155, CPP, se refere a estas três ção de não-culpabilidade). Todos são considerados inocentes, até
que se prove o contrário por sentença condenatória transitada em
provas, produzidas em regra ainda durante a fase inquisitória, as
julgado;
quais poderia o juiz se utilizar para formar sua convicção. Embora
B) Princípio da não autoincriminação. Ninguém é obrigado a
exista posicionamento que clama pela sinonímia das expressões,
produzir prova contra si mesmo. É por isso que o acusado pode
há se distingui-las.
mentir, pode distorcer os fatos, pode ser manter em silêncio, e
tem direito à consulta prévia e reservada com seu advogado, como
A “prova cautelar” é aquela em que existe risco de desapareci- exemplos;
mento do objeto da prova, em razão do decurso do tempo, motivo C) Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios
pelo qual o que se pretende provar deve ser perpetuado. O contra- ilícitos. São inadmissíveis no processo as provas obtidas de modo
ditório, aqui, é diferido, postergado. ilícito, assim entendidas aquelas obtidas em violação às normas
A “prova não repetível” é aquela que não tem como ser produ- constitucionais. Ou seja, o direito à prova não pode se sobrepor aos
zida novamente, em virtude do desaparecimento da fonte proba- direitos fundamentalmente consagrados na Constituição Federal.
tória, como o caso de um exame pericial por lesão corporal, cujos
sinais de violência podem desaparecer com o tempo. O contraditó- “Prova ilícita” é o mesmo que “prova ilegítima”? Há quem
rio, aqui, é diferido, postergado. diga que se tratam de expressões sinônimas. Contudo, o entendi-
A “prova antecipada”, por fim, é aquela produzida com obser- mento prevalente é o de que, apesar de espécies do gênero “pro-
vância do contraditório real (ou seja, o contraditório não é diferido vas ilegais”, “prova ilícita” é aquela violadora de alguma norma
como nas duas hipóteses anteriores), perante a autoridade judicial, constitucional (ex.: a prova obtida não respeitou a inviolabilidade
mas em momento processual distinto daquele previamente previs- de domicílio assegurada pela Constituição), enquanto a “prova ile-
to pela lei (podendo sê-lo até mesmo antes do processo). O melhor gítima” é aquela violadora dos procedimentos previstos para sua
exemplo é a oitiva da testemunha para perpetuar a memória da realização (tais procedimentos são aqueles regularmente previstos
prova, disposta no art. 225, da Lei Processual Penal. no Código de Processo Penal e legislação especial).
Qual será a consequência da prova ilícita/ilegítima? Sua conse-
Fatos que não precisam ser provados. quência primeira é o desentranhamento dos autos, devendo esta
São eles: ser inutilizada por decisão judicial (devendo as partes acompanhar
A) Fatos notórios. É o caso da chamada “verdade sabida” (ex.: o incidente). Agora, uma consequência reflexa é que as provas deri-
não se precisa provar que dia vinte e cinco de dezembro é Natal, vadas das ilícitas, pela “Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada”,
conforme o calendário cristão ocidental); importada do direito norte-americano, também serão inadmissí-
B) Fatos axiomáticos, intuitivos. São aqueles evidentes (ex.: “X” veis, salvo se existirem como fonte independente, graças à “Teoria
da Fonte Independente” (considera-se fonte independente aquela
é atingido e despedaçado por um trem. Não será preciso um exame
prova que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, pró-
para se apurar que a causa da morte foi o choque com o trem);
prios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir
C) Presunções legais. São aquelas decorrentes da lei, valendo
ao fato objeto da prova).
lembrar que, em se tratando de presunção relativa, contudo, admi-
tir-se-á prova em contrário; Ônus da prova.
D) Fatos desnecessários ao deslindes da lide. São os “fatos inú- De acordo com o art. 156, caput, do Código de Processo Penal,
teis” (ex.: “X” morreu de envenenamento por comida. Pouco im- a prova da alegação incumbirá a quem o fizer, embora isso não
porta saber se a carne estava bem ou mal passada); obste que o juiz, de ofício, ordene, mesmo antes de iniciada a ação
E) O direito, como regra. O direito não precisa ser provado, sal- penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e
vo em se tratando de direito estadual, municipal, costumeiro, ou relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionali-
estrangeiro, se assim o requerer o juiz. dade da medida (inciso I), ou determine, no curso da instrução ou
Posto isto, fazendo uma análise em sentido contrário, fatos antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir
que não sejam notórios, que não sejam axiomáticos, que não sejam dúvida sobre ponto relevante (inciso II). Esse poder de atuação do
desnecessários, que não sejam presunções legais, e que não digam juiz é também conhecido por “gestão da prova” (por ser o juiz, na-
respeito, como regra, necessitam ser provados. turalmente, um “gestor da prova”).
Prova emprestada. É aquela produzida em um processo e
“Prova nominada”, “prova inominada”, “prova típica”, “pro- transportada documentalmente para outro. Apesar da valia positi-
va atípica”, e “prova irritual”. va acentuada que lhe deve ser atribuída, a prova emprestada não
A “prova nominada” é aquela cujo “nomen juris” consta da lei pode virar mera medida de comodidade às partes, afinal, como re-
(ex.: prova pericial). gra, cada fato apurado numa lide depende de sua própria prova.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Contudo, podem acontecer casos em que um determinado Quando a infração deixar vestígios (o chamado “delito não
fato já não possa mais ser apurado nos autos, embora o tenha sido transeunte”), o exame de corpo de delito se torna indispensável,
devidamente em outros autos, caso em que a prova emprestada não podendo supri-lo a confissão do acusado. Vale lembrar, contu-
pode se revelar um eficaz aliado na busca pela verdade real. do, que não sendo possível o exame de corpo de delito, por have-
Vale lembrar, contudo, que a prova emprestada não vem aos rem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-
autos com o “contraditório montado” do outro processo, isto é, no -lhe a falta (art. 167, CPP).
processo recebedor terão as partes a oportunidade de questionar a Muitos confundem o “corpo de delito” com o “exame de cor-
própria validade desta bem como de tentar desqualificá-la. po de delito”. Explico. Dá-se o nome de “corpo de delito” ao local
Não se pode, ainda, dizer que a prova emprestada, por ser em- do crime com todos os vestígios materiais deixados pela infração
prestada, valha “mais” ou “menos” que outra prova. Não há mais, penal. Trata-se dos elementos corpóreos sensíveis aos sentidos hu-
como já dito, “tarifação de provas”. A importância de uma prova manos, ou seja, aquilo que se pode ver, tocar, etc. Contudo, “cor-
será aferida casuisticamente. Assim, em que pese o respeito a en- po”, não diz respeito apenas a um ser humano sem vida, mas a tudo
tendimento minoritário neste sentido, não parece ser o melhor ar- que possa estar envolvido com o delito, como um fio de cabelo,
gumento defender que a prova emprestada, por si só, não pode ser uma mancha, uma planta, uma janela quebrada, uma porta arrom-
suficiente para condenar alguém. bada etc. Em outras palavras, “corpo de delito” é o local do crime
com todos os seus vestígios; “exame de corpo de delito” é o laudo
TÍTULO VII técnico que os peritos fazem nesse determinado local, analisando-
DA PROVA -se todos os referidos vestígios.
Em segundo lugar, logo ao tratar deste meio de prova espécie,
CAPÍTULO I fica claro que a confissão do acusado, antes considerada a “rainha
DISPOSIÇÕES GERAIS das provas”, hoje não mais possui esse “status”, haja vista uma am-
pla gama de vícios que podem maculá-la, como a coação e a assun-
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da ção de culpa meramente para livrar alguém de um processo-crime.
prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhi- Corpo de delito direto e indireto.
dos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetí- a) Corpo de delito direto: Conjunto de vestígios deixados pelo
veis e antecipadas. fato criminoso. São os elementos materiais, perceptíveis pelos nos-
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão sos sentidos, resultante da infração penal. Esses elementos sensí-
observadas as restrições estabelecidas na lei civil. veis, objetivos, devem ser objetos de prova, obtida pelos meios que
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, o direito fornece. Os técnicos dirão da sua natureza, estabelecerão
porém, facultado ao juiz de ofício: o nexo entre eles e o ato ou omissão, pelo qual se incrimina o acu-
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção sado. O corpo de delito deve realizar-se o mais rapidamente possí-
antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, obser- vel, logo que se tenha conhecimento da existência do fato.
vando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; O perito dará atenção a todos os elementos, que se vinculem
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sen- ao fato principal, sobretudo o que possa influir na aplicação da
tença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto pena.
relevante. b) Corpo de delito indireto: Quando o corpo de delito se torna
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do impossível, admite-se a prova testemunhal, por haverem desapa-
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola- recido os elementos materiais. Essa substituição do exame objetivo
ção a normas constitucionais ou legais. pela prova testemunhal, subjetiva, é indevida, pois não há corpo,
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, embora haja o delito. Cabe ressaltar que o exame indireto somen-
salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e te deve ser realizado caso não seja possível à realização do exame
outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte direto.
independente das primeiras.
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, se- Segundo legislação específica, o exame de corpo de delito po-
guindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou derá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declara- Perícia Criminal
da inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado A perícia criminal é uma atividade técnico-científica prevista no
às partes acompanhar o incidente. Código de Processo Penal, indispensável para elucidação de crimes
§ 4° (VETADO) quando houver vestígios. A atividade é realizada por meio da ciên-
§ 5º O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inad- cia forense, responsável por auxiliar na produção do exame pericial
missível não poderá proferir a sentença ou acórdão. (Incluído pela e na interpretação correta de vestígios. Os peritos desenvolvem
Lei nº 13.964, de 2019) suas atribuições no atendimento das requisições de perícias prove-
nientes de delegados, procuradores e juízes inerentes a inquéritos
Exame de Corpo de Delito e Perícias em Geral. policiais e a processos penais. A perícia criminal, ou criminalística,
O corpo de delito é, em essência, o próprio fato criminal, so- é baseada nas seguintes ciências forenses: química, biologia, geo-
bre cuja análise é realizada a perícia criminal a fim de determinar logia, engenharia, física, medicina, toxicologia, odontologia, docu-
fatores como autoria, temporalidade, extensão de danos, etc., atra- mentoscopia, entre outras, as quais estão em constante evolução.
vés do exame de corpo de delito. A perícia requisitada pela Autoridade Policial, Ministério Pú-
blico e Judiciário, é a base decisória que direciona a investigação
policial e o processo criminal. Como já mencionado, a prova pericial
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
é indispensável nos crimes que deixam vestígio, não podendo ser Atividades Desenvolvidas
dispensada sequer quando o criminoso confessa a prática do delito. As atividades desenvolvidas pelos peritos são de grande com-
A perícia é uma modalidade de prova que requer conhecimentos plexidade e de natureza especializada, tendo por objeto executar
especializados para a sua produção, relativamente à pessoa física, com exclusividade os exames de corpo de delito e todas as perí-
viva ou morta, implicando na apreciação, interpretação e descrição cias criminais necessárias à instrução processual penal, nos termos
escrita de fatos ou de circunstâncias, de presumível ou de evidente das normas constitucionais e legais em vigor, exercendo suas atri-
interesse judiciário. buições nos setores periciais de: Acidentes de Trânsito, Auditoria
O conjunto dos elementos materiais relacionados com a infra- Forense, Balística Forense, Documentoscopia, Engenharia Legal,
ção penal, devidamente estudados por profissionais especializados, Perícias Especiais, Fonética Forense, Identificação Veicular, Infor-
permite provar a ocorrência de um crime, determinando de que mática, Local de Crime Contra a Pessoa, Local de Crime Contra o Pa-
forma este ocorreu e, quando possível e necessário, identificando trimônio, Meio Ambiente, Multimídia, Papiloscopia, dentre outros.
todas as partes envolvidas, tais como a vítima, o criminoso e outras A função mais relevante do Perito Criminal é a busca da verdade
pessoas que possam de alguma forma ter relação com o crime, as- material com base exclusivamente na técnica. Não cabe ao Peri-
sim como o meio pelo qual se perpetrou o crime, com a determi- to Criminal acusar ou suspeitar, mas apenas examinar os fatos e
nação do tipo de ferramenta ou arma utilizada no delito. Apesar de elucidá-los. Desventrar todos os aspectos inerentes aos elementos
o laudo pericial não ser a única prova, e entre as provas não haver investigados, do ponto exclusivamente técnico.
hierarquia, ocorre que, na prática, a prova pericial acaba tendo pre-
valência sobre as demais. Isto se dá pela imparcialidade e objetivi- Responsabilidades Civil e Penal do Perito
dade da prova técnico-científica enquanto que as chamadas provas Aos peritos oficiais ou inoficiais são exigidas obrigações de or-
subjetivas dependam do testemunho ou interpretação de pessoas, dem legal e a ilicitude de suas atividades caracteriza-se como viola-
podendo ocorrer uma série de erros, desde a simples falta de capa- ção a um dever jurídico, algumas delas com possíveis repercussões
cidade da pessoa em relatar determinado fato, até o emprego de a danos causados a terceiros. Em tese, pode-se dizer que os peritos
má-fé, onde exista a intenção de distorcer os fatos. na área civil são considerados auxiliares da justiça, enquanto na pe-
rícia criminal são os servidores públicos. Quanto ao fiel cumprimen-
Perito to do dever de ofício, os primeiros prestam compromissos a cada
Com relação aos peritos importante trazer ao estudo o que vez que são designados pelo juiz e, os segundos, o compromisso
prevê o Código de Processo Penal em seu artigo 159, vejamos: “O está implícito com a posse no cargo público, a não ser nos casos dos
exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por pe- chamados peritos nomeados ad hoc.
rito oficial, portador de diploma de curso superior”. Na falta de pe-
rito oficial, o exame será realizado por duas pessoas idôneas, por- Laudo pericial.
tadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez dias,
especifica, dentre as que tiveram habilitação técnica relacionada podendo este prazo ser prorrogado em casos excepcionais a reque-
com a natureza do exame. Estes prestarão o compromisso de e fi- rimento dos peritos. No laudo pericial, os peritos descreverão minu-
nalmente desempenhar o cargo. ciosamente o que examinarem, e responderão aos eventuais que-
Durante o curso de processo judicial, é permitido às partes, sitos formulados. Tratando-se de perícia complexa, isto é, aquela
quanto à perícia: requer a oitiva dos peritos para esclarecerem a que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, será
prova ou responder a quesitos, desde que o mandado de intimação possível designar a atuação de mais de um perito oficial, bem como
e os quesitos ou questões a serem esclarecidos sejam encaminha- à parte será facultada a indicação de mais de um assistente técnico;
dos com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresen-
tar as respostas em laudo complementar. Autópsia.
A autópsia será feita no cadáver pelo menos seis horas após
A atuação do perito far-se-á em qualquer fase do processo ou o óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
mesmo após a sentença, em situações especiais. Sua função não julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que deverão
termina com a reprodução de sua análise, mas se continua além declarar no auto (art. 162, caput, CPP). No caso de morte violenta,
dessa apreciação, por meio do juízo de valor sobre os fatos, o que bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver
se torna o diferencial da função de testemunha. Ou seja, a diferen- infração penal que apurar ou quando as lesões externas permiti-
ça entre testemunha e perito é que a primeira é solicitada porque rem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame
já tem conhecimento do fato e o segundo para que conheça e expli- interno para a verificação de alguma circunstância relevante (art.
que os fundamentos da questão discutida, por meio de uma análise 162, parágrafo único, CPP);
técnica científica.
A autoridade que preside o inquérito poderá nomear, nas cau- Exumação de cadáver.
sas criminais, dois peritos. Em se tratando de peritos não oficiais, Em caso de exumação de cadáver, a autoridade providenciará
assinarão estes um termo de compromisso cuja aceitação é obriga- que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência,
tória com um “compromisso formal de bem e fielmente desempe- da qual se lavrará auto circunstanciado (art. 163, caput, CPP). Nes-
nharem a sua missão, declarando como verdadeiro o que encon- te caso, o administrador do cemitério público/particular indicará
trarem e descobrirem e o que em suas consciências entenderam”. o lugar da sepultura, sob pena de desobediência. Agora, havendo
Os peritos terão um prazo máximo de 10 (dez) dias para ela- dúvida sobre a identidade do cadáver exumado, se procederá ao
boração do laudo pericial, podendo este prazo ser prorrogado, em reconhecimento pelo Instituto de Identificação e Estatística ou re-
casos excepcionais, a requerimento dos peritos, conforme dispõe o partição congênere ou pela inquirição de testemunhas, lavrando-se
parágrafo único do artigo 160 do Código de Processo Penal. Apenas auto de reconhecimento e de identidade, no qual se descreverá o
em casos de suspeição comprovada ou de impedimento previsto cadáver, com todos os sinais e indicações (art. 166, CPP);
em lei é que se eximem os peritos da aceitação.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Fotografia dos cadáveres. Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos
Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que os procedimentos utilizados para manter e documentar a história
forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as le- cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes,
sões externas e vestígios deixados no local do crime (art. 164, CPP). para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento
Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, até o descarte. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, § 1º O início da cadeia de custódia dá-se com a preservação
esquemas ou desenhos, todos devidamente rubricados (art. 165, do local de crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos
CPP); quais seja detectada a existência de vestígio. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Crimes cometidos com destruição/rompimento de obstáculo § 2º O agente público que reconhecer um elemento como de
à subtração da coisa. potencial interesse para a produção da prova pericial fica responsá-
Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obs- vel por sua preservação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
táculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, § 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente,
além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, constatado ou recolhido, que se relaciona à infração penal. (Incluí-
por quais meios e em que época presumem ter sido o fato pratica- do pela Lei nº 13.964, de 2019)
do (art. 171, CPP); Art. 158-B. A cadeia de custódia compreende o rastreamento
do vestígio nas seguintes etapas: (Incluído pela Lei nº 13.964, de
Material guardado em laboratório para nova perícia. 2019)
Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material sufi- I - reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de po-
ciente para a eventualidade de nova perícia. Ademais, sempre que tencial interesse para a produção da prova pericial; (Incluído pela
conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, Lei nº 13.964, de 2019)
provas microfotográficas, desenhos ou esquemas (art. 170, CPP); II - isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas,
devendo isolar e preservar o ambiente imediato, mediato e relacio-
Incêndio. nado aos vestígios e local de crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar 2019)
em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a III - fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se en-
vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor contra no local de crime ou no corpo de delito, e a sua posição na
e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens
(art. 173, CPP); ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial pro-
duzido pelo perito responsável pelo atendimento; (Incluído pela Lei
Exame para reconhecimento de escritos. nº 13.964, de 2019)
Deve-se observar, de acordo com o art. 174, da Lei Adjetiva, o IV - coleta: ato de recolher o vestígio que será submetido à aná-
seguinte: a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito lise pericial, respeitando suas características e natureza; (Incluído
será intimada para o ato (se for encontrada) (inciso I); para a com- pela Lei nº 13.964, de 2019)
paração, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa V - acondicionamento: procedimento por meio do qual cada
reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo
seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida (inciso com suas características físicas, químicas e biológicas, para poste-
II); a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os rior análise, com anotação da data, hora e nome de quem realizou a
documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públi- coleta e o acondicionamento; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
cos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retira- VI - transporte: ato de transferir o vestígio de um local para
dos (inciso III); quando não houver escritos para a comparação ou o outro, utilizando as condições adequadas (embalagens, veículos,
forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pes- temperatura, entre outras), de modo a garantir a manutenção de
soa escreva o que lhe for ditado, valendo lembrar que, se estiver suas características originais, bem como o controle de sua posse;
ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a VII - recebimento: ato formal de transferência da posse do ves-
pessoa será intimada a escrever (inciso IV); tígio, que deve ser documentado com, no mínimo, informações re-
Importante, ressaltar, que o juiz não fica adstrito ao laudo, po- ferentes ao número de procedimento e unidade de polícia judiciária
dendo rejeitá-lo no todo ou em parte (art. 182, CPP). relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio,
código de rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, pro-
CAPÍTULO II tocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu; (Incluído pela
DO EXAME DE CORPO DE DELITO, DA CADEIA DE Lei nº 13.964, de 2019)
CUSTÓDIA E DAS PERÍCIAS EM GERAL VIII - processamento: exame pericial em si, manipulação do
(REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 13.964, DE 2019) vestígio de acordo com a metodologia adequada às suas caracte-
rísticas biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por peri-
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo to; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
a confissão do acusado. IX - armazenamento: procedimento referente à guarda, em
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de condições adequadas, do material a ser processado, guardado para
corpo de delito quando se tratar de crime que envolva: (Incluído realização de contraperícia, descartado ou transportado, com vin-
pela Lei nº 13.721, de 2018) culação ao número do laudo correspondente; (Incluído pela Lei nº
I - violência doméstica e familiar contra mulher; (Incluído pela 13.964, de 2019)
Lei nº 13.721, de 2018) X - descarte: procedimento referente à liberação do vestígio,
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com respeitando a legislação vigente e, quando pertinente, mediante
deficiência. (Incluído pela Lei nº 13.721, de 2018) autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
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Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada prefe- Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço
rencialmente por perito oficial, que dará o encaminhamento neces- ou condições de armazenar determinado material, deverá a autori-
sário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a dade policial ou judiciária determinar as condições de depósito do
realização de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, referido material em local diverso, mediante requerimento do dire-
de 2019) tor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído
§ 1º Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou pro- pela Lei nº 13.964, de 2019)
cesso devem ser tratados como descrito nesta Lei, ficando órgão Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão
central de perícia oficial de natureza criminal responsável por de- realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
talhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, § 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
de 2019) (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remo- preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-
ção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por tação técnica relacionada com a natureza do exame.
parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processu- § 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e
al a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) fielmente desempenhar o encargo.
Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio § 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de
será determinado pela natureza do material. (Incluído pela Lei nº acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação
13.964, de 2019) de quesitos e indicação de assistente técnico.
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com § 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo
juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos
numeração individualizada, de forma a garantir a inviolabilidade e
peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.
a idoneidade do vestígio durante o transporte. (Incluído pela Lei nº
§ 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes,
13.964, de 2019)
quanto à perícia:
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou
suas características, impedir contaminação e vazamento, ter grau para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e
de resistência adequado e espaço para registro de informações so- os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados
bre seu conteúdo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai pro- respostas em laudo complementar;
ceder à análise e, motivadamente, por pessoa autorizada. (Incluído II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pare-
pela Lei nº 13.964, de 2019) ceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência.
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na § 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório
ficha de acompanhamento de vestígio o nome e a matrícula do res- que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do
ponsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de
referentes ao novo lacre utilizado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível
2019) a sua conservação.
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do § 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma
novo recipiente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atua-
Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter ção de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assis-
uma central de custódia destinada à guarda e controle dos vestí- tente técnico.
gios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão central Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descre-
de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, verão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos que-
de 2019) sitos formulados.
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de proto- Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo má-
colo, com local para conferência, recepção, devolução de materiais ximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos ex-
e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a distri- cepcionais, a requerimento dos peritos.
buição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qual-
condições ambientais que não interfiram nas características do ves- quer dia e a qualquer hora.
tígio. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois
do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio de-
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão
verão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a ocor-
no auto.
rência no inquérito que a eles se relacionam. (Incluído pela Lei nº
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o sim-
13.964, de 2019)
ples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armaze- que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a
nado deverão ser identificadas e deverão ser registradas a data e a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a
hora do acesso. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) verificação de alguma circunstância relevante.
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas Art. 163. Em caso de exumação para exame cadavérico, a auto-
as ações deverão ser registradas, consignando-se a identificação ridade providenciará para que, em dia e hora previamente marca-
do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da dos, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.
ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. O administrador de cemitério público ou par-
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser ticular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência.
devolvido à central de custódia, devendo nela permanecer. (Incluído No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou de
pela Lei nº 13.964, de 2019) encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a au-
toridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo constará
do auto.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exa-
em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, to- me, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos
das as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser
Art. 165. Para representar as lesões encontradas no cadáver, os retirados;
peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas foto- IV - quando não houver escritos para a comparação ou forem
gráficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados. insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escre-
Art. 166. Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu- va o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em lugar
mado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identifi- certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que
cação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.
testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade, Art. 175. Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados
no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações. para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e a
Parágrafo único. Em qualquer caso, serão arrecadados e au- eficiência.
tenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis para Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos
a identificação do cadáver. até o ato da diligência.
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos
haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação pri-
suprir-lhe a falta. vada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo juiz
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pe- deprecante.
ricial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complementar Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão trans-
por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou critos na precatória.
a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do acusado,
Art. 178. No caso do art. 159, o exame será requisitado pela au-
ou de seu defensor.
toridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o laudo
§ 1o No exame complementar, os peritos terão presente o auto
assinado pelos peritos.
de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.
Art. 179. No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o auto
§ 2o Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decor- respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente ao exame,
ra o prazo de 30 dias, contado da data do crime. também pela autoridade.
§ 3o A falta de exame complementar poderá ser suprida pela Parágrafo único. No caso do art. 160, parágrafo único, o laudo,
prova testemunhal. que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado em suas
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido pra- folhas por todos os peritos.
ticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente para Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consig-
que não se altere o estado das coisas até a chegada dos peritos, nadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de
que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou es- outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autori-
quemas elucidativos. dade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade
Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos.
do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso
dessas alterações na dinâmica dos fatos. de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciá-
Art. 170. Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão ma- ria mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o
terial suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que laudo.
conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se
microfotográficas, desenhos ou esquemas. proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente.
Art. 171. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimen- Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo
to de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instru- Art. 183. Nos crimes em que não couber ação pública, observar-
mentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato -se-á o disposto no art. 19.
praticado. Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a
Art. 172. Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de coi- autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando
sas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do crime. não for necessária ao esclarecimento da verdade.
Parágrafo único. Se impossível a avaliação direta, os peritos Do Interrogatório do Acusado e da Confissão
procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos au-
Interrogatório do acusado. Consiste o interrogatório em meio
tos e dos que resultarem de diligências.
de defesa do acusado (em outros tempos, já houve divergência se
Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e
consistiria o interrogatório em meio de defesa ou mero meio de
o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado
prova). Disso infere-se que é facultado ao acusado ficar em silêncio,
para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o
seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação mentir, ser acompanhado por seu advogado, deixar de responder
do fato. às perguntas que lhe forem feitas etc.
Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por A) Características. Trata-se de ato personalíssimo (não pode
comparação de letra, observar-se-á o seguinte: ser realizado por interposta pessoa); de ato público (em regra);
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será assistido tecnicamente por advogado (lembrando que é meio de
intimada para o ato, se for encontrada; defesa); e bifásico (sobre as duas fases melhor se falará a seguir);
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documentos B) “Interrogatório por videoconferência”. Esta é inovação pre-
que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente re- vista pela Lei nº 11.900/2009, apesar de parte minoritária da dou-
conhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não trina ainda sustentar a inconstitucionalidade desta forma de inter-
houver dúvida; rogatório.
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Sua realização é excepcional. Ele somente será utilizado se A) Confissão e seu valor relativo. Não se pode dizer que a confis-
para prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada sus- são seja algo absoluto. O valor da confissão se aferirá pelos critérios
peita de que o preso integra organização criminosa ou de que, por adotados para outros elementos de prova, e para sua apreciação o
outra razão, possa fugir durante o deslocamento; se para viabilizar juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verifi-
a participação do réu neste ato processual, quando haja relevante cando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.
dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade Pode ser, por exemplo, que a confissão esteja ocorrendo sob coa-
ou outra circunstância pessoal; ou se para impedir a influência do ção, ou mesmo para acobertar a real autoria do delito. Logo, hoje
réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde que não seja pos- não há mais se falar na confissão como “rainha das provas”, como
sível colher o depoimento destas por videoconferência; se for ne- era no sistema inquisitorial;
cessário por questão de gravíssima utilidade pública. B) Silêncio do acusado. O silêncio do acusado não importará
Ademais, sua determinação é feita pelo juiz, por decisão fun- confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do con-
damentada, tomada de ofício ou a requerimento das partes. Ainda, vencimento do juiz, conforme consta do art. 198, da Lei Adjetiva
da decisão que determinar a realização do interrogatório por vide- Penal. Desta maneira, se o acusado se manter em silêncio, não se
oconferência, as partes deverão ser intimadas com, no mínimo, dez presumirão verdadeiros os fato alegados contra ele como é possí-
dias de antecedência. vel de acontecer no processo civil. Entretanto, quando da formação
Também, antes do interrogatório por videoconferência, o pre- de seu convencimento, autoriza-se que a autoridade judicial utilize
tal silêncio como mais um (e não como item exclusivo) dos elemen-
so poderá acompanhar, pelo mesmo sistema, a realização de todos
tos em prol da sua convicção;
os atos da audiência única de instrução e julgamento.
C) Formas de confissão. A confissão pode ser tanto judicial
Por fim, o juiz garantirá o direito de entrevista prévia e reserva-
como extrajudicial. Se feita extrajudicialmente, deverá ser tomada
da do réu com seu defensor (como ocorre em qualquer modalidade
por termo nos autos;
de interrogatório judicial); D) Espécies de confissão. A confissão pode ser simples (quan-
C) Fases do interrogatório. São duas fases (procedimento bi- do o confidente simplesmente confessa, sem agregar ou modifi-
fásico, como dito alhures), a saber, sobre a pessoa do acusado (o car informações constantes dos autos); complexa (quando o réu
interrogando será perguntado sobre a residência, meios de vida ou reconhece vários fatos criminosos); ou qualificada (quando o réu
profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua atividade, confessa agregando fatos novos e modificativos que até então não
vida pregressa, se foi preso ou processado alguma vez, se houver eram sabidos, ou, ainda que sabidos, não eram comprovados por
suspensão condicional ou condenação e qual foi a pena imposta outros meios);
caso o indivíduo tenha sido processado, obviamente); e sobre os E) Características da confissão. A confissão é: divisível (pode
fatos (será perguntado ao interrogando se é verdadeira a acusação ser que o indivíduo confesse apenas uma parte dos crimes. Nada
que lhe é feita, onde estava ao tempo em que foi cometida a infra- obsta que a parte não confessada também tenha sido praticada
ção e se teve notícia desta, sobre as provas já apuradas, se conhece por este acusado. Neste caso, os outros elementos de prova serão
as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por inquirir, se conhece fundamentais para a descoberta da autoria (ou não) da parte não
o instrumento com que foi praticada a infração ou qualquer objeto confessada); e retratável (admite-se “voltar atrás” na confissão.
que com esta se relacione e tenha sido apreendido, e, se não sendo Isso não representa empecilho a que o indivíduo seja condenado
verdadeira a acusação, se tem algum motivo particular a que atri- mesmo tendo se retratado da confissão, caso o conjunto probató-
buí-la e se conhece, então, quem teria sido o autor da infração, se rio aponte que foi o acusado, de fato, quem praticou a infração).
tem algo mais a alegar em sua defesa etc.);
D) Pluralidade de acusados. Havendo mais de um acusado, se- CAPÍTULO III
rão interrogados separadamente (art. 191, CPP); DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
E) Interrogatório do surdo-mudo. Ao surdo serão apresentadas
por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao mudo, Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade judi-
as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por escrito; ciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado na
ao surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por escrito e do presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
mesmo modo dará a resposta (art. 192, CPP); § 1o O interrogatório do réu preso será realizado, em sala pró-
pria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que es-
F) Interrogando analfabeto (total ou parcialmente). Caso o
tejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério
interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como in-
Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a pu-
térprete e sob compromisso, a pessoa habilitada a entendê-lo (art.
blicidade do ato.
192, parágrafo único, CPP);
§ 2o Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de
ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogató-
G) Interrogando que não fala a língua nacional. Se o interro- rio do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso
gando não falar a língua nacional, sua oitiva será feita por meio de tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, des-
intérprete (art. 193, CPP); de que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes
H) Reinterrogatório. A todo tempo, o juiz poderá proceder a finalidades:
novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qual- I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada
quer das partes (art. 196, CPP). suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que,
por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;
Confissão. II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual,
A confissão, como qualquer outro meio de prova, destina-se à quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em ju-
apuração da verdade dos fatos. ízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;
Se o interrogando confessar a autoria, será perguntado sobre III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da
os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorre- vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por
ram para a infração. videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública. VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa.
§ 3o Da decisão que determinar a realização de interrogatório Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das
por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as
de antecedência. perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.
§ 4o Antes do interrogatório por videoconferência, o preso po- Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em
derá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de parte, poderá prestar esclarecimentos e indicar provas.
todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado sobre os mo-
tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código. tivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para
§ 5o Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garanti- a infração, e quais sejam.
rá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu de- Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados se-
fensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido o paradamente.
acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mudo
defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de será feito pela forma seguinte:
audiência do Fórum, e entre este e o preso. I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que
§ 6o A sala reservada no estabelecimento prisional para a re- ele responderá oralmente;
alização de atos processuais por sistema de videoconferência será II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, responden-
fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como tam- do-as por escrito;
bém pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil. III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito e
§ 7o Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas do mesmo modo dará as respostas.
hipóteses em que o interrogatório não se realizar na forma prevista Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escrever,
nos §§ 1o e 2o deste artigo. intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa habi-
§ 8o Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no litada a entendê-lo.
que couber, à realização de outros atos processuais que dependam Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o
da participação de pessoa que esteja presa, como acareação, re- interrogatório será feito por meio de intérprete.
conhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou
tomada de declarações do ofendido. não quiser assinar, tal fato será consignado no termo.
§ 9o Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompa- Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interro-
nhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor. gatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes.
§ 10. Do interrogatório deverá constar a informação sobre a
existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma defici- CAPÍTULO IV
ência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados DA CONFISSÃO
dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257,
Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adota-
de 2016)
dos para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do
juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verifi-
inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes
cando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.
de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de
Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas
não responder perguntas que lhe forem formuladas.
poderá constituir elemento para a formação do convencimento do
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão,
juiz.
não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.
Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será
Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: so- tomada por termo nos autos, observado o disposto no art. 195.
bre a pessoa do acusado e sobre os fatos. Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo
§ 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre a do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar conjunto.
onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se foi
preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo Qualificação e Oitiva do Ofendido
do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual O “ofendido” é o titular do direito lesado ou posto em perigo.
a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais. É a vítima, e, como tal, suas declarações correspondem à versão
§ 2o Na segunda parte será perguntado sobre: que lhe cabe dos fatos, tendo, consequencialmente, natureza pro-
I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita; batória.
II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo Conforme o art. 201, caput, do Código de Processo Penal, sem-
particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem pre que possível o ofendido será qualificado e perguntado sobre as
deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor,
esteve antes da prática da infração ou depois dela; as provas que possa indicar, tomando-se por termo suas declara-
III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se ções.
teve notícia desta; A) Ofendido que, intimado, deixa de comparecer sem justo mo-
IV - as provas já apuradas; tivo. Se, intimado, deixa o ofendido de comparecer sem justo moti-
V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por vo, poderá ele ser conduzido à autoridade judicial mediante auxílio
inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas; das autoridades policiais;
VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração,
ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreen-
dido;
VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à eluci-
dação dos antecedentes e circunstâncias da infração;
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) Dever de comunicação ao ofendido. O ofendido será co- As numerárias são aquelas arroladas pelas partes de acordo
municado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do com o número máximo previsto em lei.
acusado da prisão, à designação de data para audiência e à senten- As extranumerárias são as ouvidas por iniciativa do juiz após
ça e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art. serem compromissadas.
201, §2º, CPP). As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no Os informantes são aquelas pessoas que não prestam compro-
endereço por ele indicado, admitindo-se, por sua opção, o uso de misso e têm o valor de seu depoimento, exatamente por isso, bas-
meio eletrônico (art. 201, §3º, CPP); tante reduzido.
C) Direitos do ofendido. Antes do início da audiência, bem As referidas são ouvidas por juiz após outros que depuseram
como durante sua realização, será reservado espaço separado para antes delas a elas fazerem menção.
o ofendido (art. 201, §4º, CPP). Ademais, se entender necessário, As próprias são as que depõem sobre o fato objeto do litígio.
poderá o juiz encaminhar o ofendido para atendimento multidis- As impróprias são a que prestam depoimento sobre um ato do
ciplinar, a expensas do ofensor ou do Estado (art. 201, §5º, CPP). processo, como o interrogatório, por exemplo.
Por fim, o juiz deverá tomar as providências necessárias à preser- As diretas são as que prestam depoimento sobre um fato que
vação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, presenciaram
podendo, inclusive, determinar segredo de justiça em relação aos As indiretas são as que prestam o depoimento de fatos que
dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a ouviram dizer por palavras de outros.
seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação
(art. 201, §6º, CPP). As “de antecedentes” são aquelas que prestam informações re-
levantes quanto à dosagem e aplicação da pena, por se referirem,
CAPÍTULO V primordialmente, a condições pessoais do acusado;
DO OFENDIDO B) Pessoas que podem ser testemunha. Qualquer pessoa pode
ser testemunha, como regra. O depoimento será prestado oral-
Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e mente, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por escrito. Não
perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou pre- se vedará a testemunha, contudo, acesso a meros breves aponta-
suma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por mentos para que não se esqueça de nada;
termo as suas declarações. C) Pessoas que podem se recusar a depor. O ascendente, o des-
§ 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem mo- cendente, o afim em linha reta, o cônjuge e o convivente, o irmão
tivo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autori- e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado não estão obrigados a
dade. depor, salvo se não for possível, por outro modo, obter-se a prova
§ 2o O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos do fato e de suas circunstâncias (art. 206, CPP);
ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data D) Pessoas que estão proibidas de depor. As pessoas que, em
para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mante- razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar se-
nham ou modifiquem. gredo, estão proibidas de depor, salvo se, desobrigadas pela parte
§ 3o As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no ende- interessada, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP);
reço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso E) Pessoas que não serão compromissadas ao prestar testemu-
de meio eletrônico. nho. É o caso dos doentes e deficientes mentais; dos menores de
§ 4o Antes do início da audiência e durante a sua realização, quatorze anos; e do ascendente, descendente, afim em linha reta,
será reservado espaço separado para o ofendido. cônjuge e convivente, irmão e pai, mãe, ou filho adotivo do acusado
§ 5o Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendi- (art. 208, CPP);
do para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psi- F) Modo de inquirição das testemunhas. As testemunhas se-
cossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor rão ouvidas individualmente, de modo que uma não saiba do que
ou do Estado. foi falado pela outra (art. 210, caput, primeira parte, CPP). O juiz
§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à preservação deve advertir sobre a possibilidade de incurso no crime de falso
da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, testemunho (art. 210, caput, parte final, CPP). As perguntas serão
inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo
depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu res- o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação
peito para evitar sua exposição aos meios de comunicação. com a causa ou importarem na repetição de outra já repetida.
G) Inquirição de pessoas impossibilitadas por enfermidade ou
Testemunhas velhice. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por ve-
É a pessoa sem qualquer interesse no deslinde da lide proces- lhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem
sual penal, que apenas relata à autoridade judicial sua percepção (art. 220, CPP);
sobre os fatos, em face do que viu, ouviu ou sentiu (ela utiliza-se, H) Testemunha que não conhecer a língua nacional. Quando a
veja, de sua percepção sensorial). testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intér-
Consoante o disposto no art. 203, do Código de Processo Pe- prete para traduzir as perguntas e respostas (art. 223, caput, CPP);
nal, a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a I) Testemunha surda-muda. Tratando-se de surdo, mudo, ou
verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu surdo-mudo, proceder-se-á tal como no interrogatório do acusado
nome, sua idade, seu estado, sua residência, sua profissão, lugar para estas situações (art. 223, parágrafo único, CPP);
onde exerce a atividade, se é parente de alguma das partes e em J) Testemunha que deixa de comparecer sem justo motivo. Se,
que grau, bem como relatar o que souber. regularmente intimada, a testemunha deixa de comparecer sem
A) Espécies de testemunhas. Há se distinguir as testemunhas motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial
numerárias, das extranumerárias, dos informantes, das referidas, a sua apresentação ou determinar que seja conduzida por oficial
das próprias, das impróprias, das diretas, das indiretas, e das “de de justiça, que poderá solicitar o auxílio de força pública (art. 218,
antecedentes”. CPP);
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
K) Presença do réu na produção da prova testemunhal. Se o Art. 203. A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa
juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação, te- de dizer a verdade do que souber e Ihe for perguntado, devendo
mor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua pro-
modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição fissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau,
por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma, de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e
determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou
presença do seu defensor (art. 217, caput, CPP); as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade.
L) Oitiva do Presidente da República, do Vice-Presidente da Re- Art. 204. O depoimento será prestado oralmente, não sendo
pública, dos Senadores, dos Deputados Federais, dos Ministros de permitido à testemunha trazê-lo por escrito.
Estado, dos Governadores de Estados e Territórios, dos Secretários Parágrafo único. Não será vedada à testemunha, entretanto,
de Estado, dos Prefeitos Municipais, dos Deputados Estaduais, dos breve consulta a apontamentos.
membros do Poder Judiciário, dos membros do Ministério Público, Art. 205. Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha,
dos Ministros dos Tribunais de Contas da União, dos Estados e do o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu alcance, podendo,
Distrito Federal. Estes serão inquiridos em local, dia e hora previa- entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo.
mente designados pelo juiz (art. 221, caput, CPP). Ademais, o Pre- Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de
sidente da República, o Vice-Presidente da República, o Presidente depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou
do Senado, o Presidente da Câmara dos Deputados, e o Ministro descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desqui-
Presidente do Supremo Tribunal Federal poderão optar pela pres- tado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo
tação de depoimento por escrito, caso em que as perguntas formu- quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a
ladas pelas partes e deferidas pelo juiz lhe serão transmitidas por prova do fato e de suas circunstâncias.
ofício (art. 221, §1º, CPP); Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de
M) Oitiva dos militares. Os militares serão requisitados junto à função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo,
sua autoridade superior (art. 221, §2º, CPP); salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
N) Oitiva dos funcionários públicos. A expedição do mandado testemunho.
deve ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição em Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203
que servirem, com indicação do dia e da hora marcados (art. 221, aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze)
§3º, CPP); anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.
O) Oitiva por carta precatória. A testemunha que morar fora da Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras
jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, testemunhas, além das indicadas pelas partes.
mediante carta precatória (que não suspenderá a instrução crimi- § 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a
nal), intimadas as partes (art. 222, caput, CPP). Vale lembrar que, que as testemunhas se referirem.
aqui, também é prevista a possibilidade de oitiva da testemunha § 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada
por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão souber que interesse à decisão da causa.
de sons e imagens em tempo real, permitida a presença do defen- Art. 210. As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si,
sor e podendo ser realizada, inclusive, durante a realização da audi- de modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das
ência de instrução e julgamento (art. 222, §3º, CPP); outras, devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso tes-
P) Oitiva por carta rogatória. Aplica-se à carta rogatória o que temunho.
se acabou de falar da carta precatória, respeitando-se a particu- Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua
laridade de que as cartas rogatórias somente serão expedidas se realização, serão reservados espaços separados para a garantia da
demonstrada previamente sua imprescindibilidade, arcando a parte incomunicabilidade das testemunhas.
requerente com os cursos do envio (art. 222-A, CPP); Art. 211. Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que
Q) Prova testemunhal “para perpetuar a memória da prova”. alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a verdade,
É aquela prevista no art. 225, do Código de Processo Penal, segun- remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a instau-
do o qual, se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por ração de inquérito.
enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo da Parágrafo único. Tendo o depoimento sido prestado em plená-
instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a re- rio de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na audiência
querimento de qualquer das partes, tomar-lhes antecipadamente (art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença,
o depoimento. após a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediata-
R) Número de testemunhas. No procedimento comum ordiná- mente a testemunha à autoridade policial.
rio, este número é de oito no máximo para cada parte (art. 401, Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes direta-
CPP); no procedimento comum sumário, esse número é de no má- mente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem
ximo cinco para cada parte (art. 532, CPP); no procedimento suma- induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem
ríssimo, três é o número máximo de testemunhas de cada parte; e na repetição de outra já respondida.
no plenário do júri o número máximo é de cinco testemunhas para Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz pode-
cada parte (art. 422, CPP). Vale lembrar, ainda, que de acordo com rá complementar a inquirição.
o segundo parágrafo, do art. 209, CPP, não será computada como Art. 213. O juiz não permitirá que a testemunha manifeste
testemunha a pessoa que nada souber que interesse à decisão da suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa
causa. Também não entrarão nessa contagem o mero informante e do fato.
a mera testemunha referida (art. 401, §1º, CPP). Art. 214. Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão
contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que
CAPÍTULO VI a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará con-
DAS TESTEMUNHAS signar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só
excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos
Art. 202. Toda pessoa poderá ser testemunha. previstos nos arts. 207 e 208.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 215. Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, Parágrafo único. Aplica-se às cartas rogatórias o disposto nos
tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, re- §§ 1o e 2o do art. 222 deste Código.
produzindo fielmente as suas frases. Art. 223. Quando a testemunha não conhecer a língua nacio-
Art. 216. O depoimento da testemunha será reduzido a termo, nal, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e respos-
assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha não sou- tas.
ber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por Parágrafo único. Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mudo,
ela, depois de lido na presença de ambos. proceder-se-á na conformidade do art. 192.
Art. 217. Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar Art. 224. As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um
humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples
ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a omissão, às penas do não-comparecimento.
inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade des- Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou,
sa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquiri- por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo
ção, com a presença do seu defensor. da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a re-
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas querimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o
no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os mo- depoimento.
tivos que a determinaram.
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de Do Reconhecimento
comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à au- O reconhecimento de pessoas/coisas é o ato pelo qual alguém
toridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida verifica e confirma (ou nega) a identidade de pessoa ou coisa que
por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública. lhe é mostrada.
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa De acordo com o art. 226, CPP, o itinerário do “reconhecimen-
prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de to” é o seguinte: a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será
desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligên- convidada a descrever a pessoa/coisa que deva ser reconhecida
cia. (inciso I); a pessoa/coisa cujo reconhecimento se pretender será
Art. 220. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por colocada, se possível, ao lado de outras pessoas/coisas que com
velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem. ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fa-
Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os se- zer o reconhecimento a apontá-la (inciso II); se houver razão para
nadores e deputados federais, os ministros de Estado, os governa- recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito
dores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da
do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para
Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os ministros que esta não veja aquela (inciso III) (de acordo com o parágrafo
e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito único, do art. 226, CPP, o disposto neste inciso não terá aplicação
Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos em lo- na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento); do ato
cal, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz. de reconhecimento se lavrará auto pormenorizado, subscrito pela
§ 1o O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presi- autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimen-
dentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo to e por duas testemunhas presenciais (inciso IV).
Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por Vale lembrar, por fim, que se várias forem as pessoas chama-
escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e defe- das a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma
ridas pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício. fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação en-
§ 2o Os militares deverão ser requisitados à autoridade supe- tre elas (art. 228, CPP).
rior.
§ 3o Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. CAPÍTULO VII
218, devendo, porém, a expedição do mandado ser imediatamente DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS
comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indicação
do dia e da hora marcados. Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconheci-
Art. 222. A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz mento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada
para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
partes. Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será coloca-
§ 1o A expedição da precatória não suspenderá a instrução cri- da, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer se-
minal. melhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a
§ 2o Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, apontá-la;
mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
autos. reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não
§ 3o Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a au-
testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou toridade providenciará para que esta não veja aquela;
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado,
tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser rea- subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao
lizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
julgamento. Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá apli-
Art. 222-A. As cartas rogatórias só serão expedidas se demons- cação na fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento.
trada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte re- Art. 227. No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com as
querente com os custos de envio. cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável.
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Art. 228. Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o re- D) Documento em língua estrangeira. Os documentos em lín-
conhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em gua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas. necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa
idônea nomeada pela autoridade (art. 236, CPP);
Da Acareação E) Devolução do documento às partes. Os documentos origi-
Sempre que houver divergência de declarações sobre fatos nais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante
ou circunstâncias relevantes, a acareação será admitida, com su- que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante re-
pedâneo no art. 229, caput, do Código de Processo Penal, entre querimento e ouvido o Ministério Público, ser entregues à parte
acusados, entre acusados e testemunha, entre testemunhas, entre que os produziu, ficando o traslado nos autos (art. 238 CPP);
acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, entre ofendidos etc. F) Documento particular e sua autenticidade. A letra e firma
(as combinações são múltiplas, veja-se). dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial,
Com efeito, os acareados serão reperguntados, para que ex- quando contestada a sua autenticidade (art. 235, CPP);
pliquem os pontos de divergências (ou seja, os acareados já devem G) Documento no júri. De acordo com o art. 479, do Código de
ter sido ouvidos uma vez, fora da acareação), reduzindo-se a termo Processo Penal, durante o julgamento não será permitida a leitura
o ato de acareação. de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado
aos autos com a antecedência mínima de três dias úteis, dando-se
CAPÍTULO VIII ciência à outra parte (compreende-se nessa proibição a leitura de
DA ACAREAÇÃO jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos,
gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro
Art. 229. A acareação será admitida entre acusados, entre meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato
acusado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou teste- submetida à apreciação e julgamento dos jurados).
munha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre
CAPÍTULO IX
que divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias
DOS DOCUMENTOS
relevantes.
Parágrafo único. Os acareados serão reperguntados, para que
Art. 231. Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão
expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato
apresentar documentos em qualquer fase do processo.
de acareação.
Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instru-
Art. 230. Se ausente alguma testemunha, cujas declarações di-
mentos ou papéis, públicos ou particulares.
virjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer
Parágrafo único. À fotografia do documento, devidamente au-
os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar
tenticada, se dará o mesmo valor do original.
ou observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à Art. 233. As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
autoridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcre- meios criminosos, não serão admitidas em juízo.
vendo-se as declarações desta e as da testemunha presente, nos Parágrafo único. As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo
pontos em que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não
de que se complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente, haja consentimento do signatário.
pela mesma forma estabelecida para a testemunha presente. Esta Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de documento re-
diligência só se realizará quando não importe demora prejudicial ao lativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, providenciará,
processo e o juiz a entenda conveniente. independentemente de requerimento de qualquer das partes, para
sua juntada aos autos, se possível.
Dos Documentos Art. 235. A letra e firma dos documentos particulares serão sub-
Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar metidas a exame pericial, quando contestada a sua autenticidade.
documentos em qualquer fase do processo. Art. 236. Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo
A) Conceito de “documento”, para efeito de prova. Quaisquer de sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por tra-
escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, serão dutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela auto-
considerados documentos, com fulcro na cabeça do art. 232, CPP. ridade.
Inclusive, à fotografia do documento, devidamente autenticada, se Art. 237. As públicas-formas só terão valor quando conferidas
dará o mesmo valor do original (art. 232, parágrafo único, CPP). com o original, em presença da autoridade.
O que são “instrumentos”? São documentos confeccionados Art. 238. Os documentos originais, juntos a processo findo,
com o estrito objetivo de fazer prova, como os contratos, por exem- quando não exista motivo relevante que justifique a sua conserva-
plo. O conceito de documento é muito mais amplo que o de “ins- ção nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Minis-
trumento”, portanto; tério Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando trasla-
B) Restrição a documento. De acordo com o art. 233, da Lei do nos autos.
Adjetiva, as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios
criminosos, não serão admitidas em juízo, salvo se exibidas pelo Dos Indícios
respectivo destinatário para defesa de seu direito (ainda que não É todo e qualquer fato sinal, marca ou vestígio, conhecido e
haja consentimento do remetente); provado, que, possua relação necessária ou possível com outro
C) Determinação judicial de juntada de documento. Se o juiz fato, que se desconhece, prova ou leva a presumir a existência des-
tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante te último.
da acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de O Art 239 do CPP define indício como: “a circunstância conheci-
requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, da e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução,
se possível (art. 234, CPP); concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.

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Quando falamos em “indícios” temos que ter cuidado para soa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem (inciso I);
não confundir estes com os “vestígios”, posto que para os leigos em mencionar os motivos e o fim da diligência (inciso II); ser subscrito
criminalística e na linguagem destituída de características jurídicas, pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir (inciso
depreende-se que vestígios e indícios praticamente se constituem III); se houver ordem de prisão, esta constará do próprio texto do
em sinônimos. mandado de busca (§1º);
Para Aurélio Buarque de Holanda Pereira, em seu novo Dicio- E) Documento em poder do defensor do acusado. Não será per-
nário da Língua Portuguesa, vestígio é: “Sinal que homem ou ani- mitida a apreensão de documento em poder do defensor do acusa-
mal deixa com os pés no lugar por onde passa; rastro, rasto, pe- do, salvo quando constituir elemento do corpo de delito (art. 243,
gada, pista; no sentido figurado, indício, sinal, pista, rastro, rasto”. §2º, CPP);
Entretanto, sob o enfoque criminalístico e também processu- F) Busca independente de mandado. A busca pessoal indepen-
alístico, há que se ter em mente a perfeita delimitação e diferen- derá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada
ciação entre cada um dos vocábulos. Assim, qualquer marca, fato, suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de
sinal, que seja detectado em local onde haja sido praticado um fato objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a me-
delituoso é, em princípio, um vestígio. dida for determinada no curso de busca domiciliar (art. 244, CPP);
Se tal vestígio, após devidamente analisado, interpretado e as- G) Modo de execução da busca domiciliar. As buscas domicilia-
sociado com os minuciosos exames laboratoriais e dados da inves- res serão executadas durante o dia, salvo se o morador consentir
tigação policial do fato, enquadrando-se em toda a sua moldura, que se realizem a noite, e, antes de penetrarem na casa, os execu-
tiver estabelecida a sua inequívoca relação com o fato delituoso e tores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem os re-
com as pessoas com este relacionadas, aí ele terá se transformado presente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta (art. 245, caput,
em indício. CPP).
Atesta-se, dessa forma, o que, com muita precisão, proprie-
H) Cláusula de reserva de jurisdição. A busca domiciliar somen-
dade e singeleza distingue o eminente mestre Professor Gilberto
te pode ser determinada pela autoridade judiciária. Uma Comissão
Porto, em seu já referido Manual de Criminalística: “o vestígio en-
Parlamentar de Inquérito, por exemplo, não tem competência para
caminha; o indício aponta”.
determinar busca domiciliar.
CAPÍTULO X
DOS INDÍCIOS Ainda, convém lembrar que essa busca somente poderá ser
feita durante o dia (a noite será possível desde que haja anuência
Art. 239. Considera-se indício a circunstância conhecida e pro- do morador). “Dia”, conforme entendimento prevalente do critério
vada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, con- misto, vai das seis horas da manhã (desde que já tenha nascido o
cluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias. sol) até dezoito horas (desde que o sol ainda não tenha se posto).
I) Busca em mulher. A busca em mulher será feita por outra
Da Busca e Apreensão mulher em regra, se isso não importar retardamento ou prejuízo
Trata-se de medida cuja essência visa evitar o desapareci- da diligência;
mento de provas, podendo ser realizada tanto na fase inquisito- J) Busca em território de jurisdição alheia. A autoridade ou seus
rial como durante a ação penal. A apreensão, neste diapasão, nada agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia, ainda
mais é que o resultado da busca, isto é, se a busca resulta frutífera, que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, forem no
procede-se à apreensão da coisa buscada. encalço de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à competente
A) Espécies de busca. A busca pode ser domiciliar (art. 240, §1º, autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a urgência
CPP) ou pessoal (art. 240, §2º, CPP); desta (art. 250, caput, CPP).
B) Hipóteses em que se utiliza a busca e apreensão. De acordo
com o primeiro parágrafo, do art. 240, CPP, a busca domiciliar é co- CAPÍTULO XI
mumente utilizada para prender criminosos (alínea “a”); para apre- DA BUSCA E DA APREENSÃO
ender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos (alínea “b”);
para apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.
objetos falsificados ou contrafeitos (alínea “c”); para apreender § 1o Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões
armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou a autorizarem, para:
destinados a fim delituoso (alínea “d”); para descobrir objetos ne- a) prender criminosos;
cessários à prova de infração ou à defesa do réu (alínea “e”); para b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
poder, quando haja suspeita de que o conhecimento de seu conte-
objetos falsificados ou contrafeitos;
údo possa ser útil à elucidação do fato (alínea “f”); para apreender
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na
pessoas vítimas de crimes (alínea “g”); e para colher qualquer ele-
prática de crime ou destinados a fim delituoso;
mento de convicção (alínea “h”).
Já consoante o segundo parágrafo, do mesmo art. 240, a bus- e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defe-
ca pessoal será utilizada quando houver fundada suspeita de que sa do réu;
alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou
letras “b”, “c”, “d”, “e”, e “f” do primeiro parágrafo visto acima; em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
C) Requerimento da busca. A busca poderá ser determinada conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes (art. 242, CPP); g) apreender pessoas vítimas de crimes;
D) Conteúdo do mandado de busca. Deverá o mandado, con- h) colher qualquer elemento de convicção.
forme o art. 243, CPP, indicar, o mais precisamente possível, a casa § 2o Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada sus-
em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprie- peita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos men-
tário ou morador, ou, no caso de busca pessoal, o nome da pes- cionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.
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Art. 241. Quando a própria autoridade policial ou judiciária § 1o Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão em
não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedi- seguimento da pessoa ou coisa, quando:
da da expedição de mandado. a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a
Art. 242. A busca poderá ser determinada de ofício ou a reque- seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista;
rimento de qualquer das partes. b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por infor-
Art. 243. O mandado de busca deverá: mações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo
I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será removida ou transportada em determinada direção, forem ao seu
realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou mo- encalço.
rador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de § 2o Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para
sofrê-la ou os sinais que a identifiquem; duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências,
II - mencionar o motivo e os fins da diligência; entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que
III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de
o fizer expedir. modo que não se frustre a diligência.
§ 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do
mandado de busca.
§ 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder RESTRIÇÃO DE LIBERDADE. PRISÃO EM FLAGRANTE
do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo
de delito.
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de
prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja Prisões
na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza hu-
corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de mana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estuda-
busca domiciliar. das pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” (em
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, sal- caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitucional,
vo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de pe- pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se estudará
netrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decretadas du-
morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir rante a fase investigatória ou judicial.
a porta. De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as
§ 1o Se a própria autoridade der a busca, declarará previamen- medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo
te sua qualidade e o objeto da diligência. Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberda-
§ 2o Em caso de desobediência, será arrombada a porta e for- de Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessidade
çada a entrada. para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução cri-
§ 3o Recalcitrando o morador, será permitido o emprego de for- minal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática
ça contra coisas existentes no interior da casa, para o descobrimen- de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à
to do que se procura. gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
§ 4o Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausentes indiciado ou acusado (inciso II).
os moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à diligên- Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação
cia qualquer vizinho, se houver e estiver presente. quando da análise de imposição de prisão processual/medida cau-
§ 5o Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar, o telar diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais gravoso,
morador será intimado a mostrá-la. a prisão preventiva seja a mais adequada. Já noutro extremo, mais
§ 6o Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imedia- brando, pode ser que a liberdade provisória seja palavra de ordem.
tamente apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus Qualquer coisa que ficar entre estes dois extremos pode importar
agentes. a imposição de medida cautelar de natureza diversa da prisão pro-
§ 7o Finda a diligência, os executores lavrarão auto circunstan- cessual.
ciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, sem prejuízo Espécies
do disposto no § 4o. São três espécies de prisão cautelar:
Art. 246. Aplicar-se-á também o disposto no artigo anterior, a) Prisão em Flagrante;
quando se tiver de proceder a busca em compartimento habitado b) Prisão Temporária;
ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em comparti- c) Prisão Preventiva.
mento não aberto ao público, onde alguém exercer profissão ou
atividade. Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre as
Art. 247. Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procurada, prisões, medidas cautelares e liberdade provisória:
os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a
busca, se o requerer. TÍTULO IX
Art. 248. Em casa habitada, a busca será feita de modo que DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE
não moleste os moradores mais do que o indispensável para o êxito PROVISÓRIA
da diligência.
Art. 249. A busca em mulher será feita por outra mulher, se não Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão
importar retardamento ou prejuízo da diligência. ser aplicadas observando-se a:
Art. 250. A autoridade ou seus agentes poderão penetrar no I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, quando, ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
para o fim de apreensão, forem no seguimento de pessoa ou coisa, evitar a prática de infrações penais;
devendo apresentar-se à competente autoridade local, antes da di- II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
ligência ou após, conforme a urgência desta. do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
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§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
cumulativamente. mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imedia-
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requeri- tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para
mento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela Lei nº
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do 13.964, de 2019)
Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi- o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entre-
cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, gue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entre-
prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e ga do preso, com declaração de dia e hora.
das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exem-
de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados plar do mandado, se este for o documento exibido.
em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifi- Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora
quem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964, da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de-
de 2019) vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado.
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações § 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da
seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada.
outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preven- § 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre-
tiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Re- cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica-
dação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) ção.
§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a § 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre-
medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da
para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem ra- medida.
zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis-
§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse-
não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, obser- lho Nacional de Justiça para essa finalidade.
vado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por § 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter-
outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamenta- minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional
da nos elementos presentes do caso concreto, de forma individuali- de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o
zada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). expediu.
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli- § 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta-
to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado-
competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do
condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este pro-
nº 13.964, de 2019) videnciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- deste artigo.
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa- § 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
mente cominada pena privativa de liberdade. de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí-
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual- da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo
quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do que a decretou.
domicílio. § 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indis- inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado não
pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso. informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria
Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res- Pública.
pectivo mandado. § 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimida-
Parágrafo único. O mandado de prisão: de da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica-se
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade; o disposto no § 2o do art. 290 deste Código.
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, § 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro
alcunha ou sinais característicos; do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo.
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão; Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão
infração; no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autori-
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução. dade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagran-
Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor te, providenciará para a remoção do preso.
entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com § 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu,
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o quando:
preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embo-
não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina- ra depois o tenha perdido de vista;
da por duas testemunhas. b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu
tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar
em que o procure, for no seu encalço.
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§ 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões § 4o O preso especial não será transportado juntamente com o
para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida- preso comum.
de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até § 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os
que fique esclarecida a dúvida. mesmos do preso comum.
Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão
desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo com
mandado e o intime a acompanhá-lo. os respectivos regulamentos.
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên- Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela auto-
cia à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade compe- ridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos outros
tente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente re-
meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do produzido o teor do mandado original.
que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. Art. 298 - (Revogado).
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grá- Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado
vidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori-
realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para
mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada averiguar a autenticidade desta.
pela Lei nº 13.434, de 2017) Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei
que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será de execução penal.
intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe- Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a
decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins-
sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre- tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori-
ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se dades competentes.
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efe- Prisão em flagrante
tuará a prisão. A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de locomoção
oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que daquele que é surpreendido em situação de flagrância, indepen-
se proceda contra ele como for de direito. dentemente de prévia autorização judicial. A própria Constituição
Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis- Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual
posto no artigo anterior, no que for aplicável. afirma que “ninguém será preso senão em flagrante delito...”
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis- A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que signifi-
posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes ca “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em
de condenação definitiva: flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que acaba
I - os ministros de Estado; de acontecer”.
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e
o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefei- seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
tos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; flagrante delito.
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Eco-
nomia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados; Funções da prisão em flagrante
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”; São elas:
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, A) Evitar a fuga do infrator;
do Distrito Federal e dos Territórios; B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios;
VI - os magistrados; C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito.
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
República; Procedimento do flagrante
VIII - os ministros de confissão religiosa; O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente
IX - os ministros do Tribunal de Contas; descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal:
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta
de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci- o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
dade para o exercício daquela função; cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri-
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e meira parte, CPP);
Territórios, ativos e inativos. B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis, testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado
consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão
sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas
comum.
respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto (art.
§ 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso es-
304, caput, parte final, CPP);
pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci-
C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem se-
mento.
rão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo,
Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306,
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor-
caput, CPP);
rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi-
co adequados à existência humana.
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D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase
fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco- flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo
lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian- após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua pre-
competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja) visão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Processual
(art. 304, §1º, CPP); Penal.
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta
prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão as- perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
siná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre- um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática
sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu- delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante;
sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocor-
de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te- re se o agente é encontrado, logo depois do crime, com instrumen-
nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na tos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da
falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP;
pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito puta-
legal (art. 305, CPP); tivo por obra do agente provocador). A autoridade policial instiga o
F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em flagrante.
encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta
caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca- espécie de flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível.
minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art. Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribu-
306, §1º, CPP); nal Federal, segundo a qual não há crime quando a preparação do
E) No mesmo flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação;
prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao preso, median- G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que
te recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não,
da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas (art. 306, §2º, e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para
CPP); efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagrante
F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o
o próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015, considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado;
CNJ) e, posteriormente, o juiz deverá fundamentadamente poderá H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante ma-
relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em pre- quiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a au-
ventiva (quando presentes os requisitos do art. 312, do Código de toridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do investigado
Processo Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas somente para prendê-lo em flagrante).
cautelares diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante
com ou sem fiança (art. 310, CPP); protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para que
G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita
em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. Atualmente,
do dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Organizações Crimi-
no art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conce- nosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”).
der ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compare- Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é per-
cimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art. mitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrário
310, parágrafo único, CPP). do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observados
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar sigilo-
prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próximo samente a ação ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá
(art. 308, CPP). os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até o encer-
Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, ramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao
depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309, Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir
CPP). o êxito das investigações e ao término da diligência, elaborar-se-á
auto circunstanciado acerca da ação controlada. Outrossim, na Lei
Espécies/modalidades de flagrante. nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é possível, desde
Vejamos a classificação feita pela doutrina: que haja autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades
policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em Apresentação espontânea do acusado
flagrante; Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que a
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes- apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria
soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante
flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade; não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se
C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante ver- apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi
dadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está co- no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação
metendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos de prisão preventiva.
incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal; Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, causando
alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se pren-
der em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do
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acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/ Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver
jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais
que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em próximo.
flagrante. Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
CAPÍTULO II depois de lavrado o auto de prisão em flagrante.
DA PRISÃO EM FLAGRANTE Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença
seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria
flagrante delito. Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
I - está cometendo a infração penal; 2019)
II - acaba de cometê-la; I - relaxar a prisão ilegal; ou
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre-
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve-
infração; larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje- da prisão; ou
tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
flagrante delito enquanto não cessar a permanência. agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou- incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre- de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen-
gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se- te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena
e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964,
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, de 2019)
a autoridade, afinal, o auto. § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
§ 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con- organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
enviará os autos à autoridade que o seja. realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela
prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão as- omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
siná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre- § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso
sentação do preso à autoridade. do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre-
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons- ventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual Prisão preventiva
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo pe-
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) nal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento
Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por re-
pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta- presentação da autoridade policial. (art. 311, CPP).
do o compromisso legal. De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in-
serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé- quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta
rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão pre-
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- ventiva de ofício também durante as investigações, o que era bas-
são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla- tante criticado pela doutrina garantista, uma vez que agindo assim
grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a ação).
cópia integral para a Defensoria Pública. Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga.
a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão,
o nome do condutor e os das testemunhas. Pressupostos da prisão preventiva
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto- Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores”
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do da prisão. São pressupostos:
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado delicti”;
pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido imedia- B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum li-
tamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato delitu- bertatis”.
oso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto.
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Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa
penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclare-
“indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um cê-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liber-
contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a certeza dade após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a
acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique manutenção da medida) (parágrafo único).
realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando de
um eventual decreto condenatório definitivo. Revogação da prisão preventiva
No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au-
preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre-
preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se
previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigatoria- sobrevierem razões que a justifiquem.
mente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de auto- De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a
ria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da ordem prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos ter-
pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento mos dos parágrafos dos artigos 315, CPP..
da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal,
ou o descumprimento de qualquer das medidas cautelares diversas Recurso de decisão acerca da prisão preventiva
da prisão). Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir
requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando
Motivos da prisão preventiva o agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito.
Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga-
ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício sufi- ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa
ciente de autoria. A saber: da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses acima
A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem
reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal
agente. Necessidade de afastamento do convívio social. instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja
O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação de irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual-
prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece que quer entendimento consolidado sobre o tema.
sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es-
caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre-
a sociedade; ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur-
B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de rei- sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não
teração delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem há previsão recursal).
econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da
garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94 Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar
(“Lei Antitruste”); O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11)
C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do
o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au-
proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor ainda não torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada
em situações especiais, desde que se comprove a real existência
teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que podem
da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de
auxiliar no deslinde da lide;
Processo Penal).
D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
CAPÍTULO III
bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
DA PRISÃO PREVENTIVA
preventiva por este motivo;
E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cau-
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-
telares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da pri-
cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí-
são” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei nº cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
12.403/2011. Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do im- autoridade policial.
putado, veio com a Lei 13.964/2019. Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
Hipóteses em que se admite prisão preventiva da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
São elas, de acordo com o art. 312, CPP: quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (inciso de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela
II); Lei nº 13.964, de 2019)
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici- tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
(inciso III); medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
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Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o ór-
decretação da prisão preventiva: gão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício,
máxima superior a 4 (quatro) anos; sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença 2019)
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Medidas cautelares diversas da prisão
Penal; Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabí-
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a veis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acu-
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici- sado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extremos
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses em que
IV - (Revogado). nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram as medidas
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver mais adequadas. Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for- Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo deixado entre o
necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por “medidas cau-
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo telares diversas da prisão”.
se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs-
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) tas no art. 282 do CPP, sendo estes:
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de- ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
evitar a prática de infrações penais;
corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou
- Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente
Medidas cautelares diversas da prisão em espécie
praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei
do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có- nº 12.403/2011 São elas:
digo Penal. A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi-
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I);
preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
pela Lei nº 13.964, de 2019) quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis- novas infrações (inciso II);
tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica- C) Proibição de manter contato com pessoa determinada
ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, ou acusado deva permanecer distante (inciso III);
seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên-
nº 13.964, de 2019) cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato (inciso IV);
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão de- E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
cidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar fixos (inciso V);
o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
13.964, de 2019) natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou- sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI);
tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ração (inciso VII);
H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula,
o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu
sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí-
(inciso VIII);
do pela Lei nº 13.964, de 2019)
I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de agora, também o foi para o prisma processual.
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me-
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, re- didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
vogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do pro- o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
cesso, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) da prisão.

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Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
liberdade somente quando estritamente necessário, também as- ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de
sim passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da pri- novas infrações;
são preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em III - proibição de manter contato com pessoa determinada
último caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade ou acusado dela permanecer distante;
provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên-
de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di- cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
processual. folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi- fixos;
cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada. VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade
Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente; de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen- sua utilização para a prática de infrações penais;
te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute- praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal)
fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar e houver risco de reiteração;
diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente. VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an-
respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di- damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
versas da prisão. IX - monitoração eletrônica.
Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas § 1º ao §3º (Revogados).
uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do
caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas
perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar cautelares.
diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada
lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi- pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter-
co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer- ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar
cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora-
ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último Liberdade provisória, com ou sem fiança
exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
devida fundamentação feita pela autoridade policial. preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz
deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga-
CAPÍTULO IV rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons-
DA PRISÃO DOMICILIAR tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou
nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
sem fiança.
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi-
São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória,
ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se
a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada:
com autorização judicial.
A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva-
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi-
lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória
ciliar quando o agente for:
concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº
I - maior de 80 (oitenta) anos;
12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber-
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave;
dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri-
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6
são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber-
(seis) anos de idade ou com deficiência; dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple- em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido subs-
tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) tituído por redação absolutamente diferente da anterior. Assim,
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade pro-
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei visória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11;
nº 13.257, de 2016) B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver-
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idô- são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
nea dos requisitos estabelecidos neste artigo. os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
CAPÍTULO V por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati-
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará-
grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão de
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- diversas da prisão;
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;
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C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual
doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder
de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não nos seguintes limites:
o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração
legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”, cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior
de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com a quatro anos (inciso I);
fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da
cumulação de medida cautelar, liberdade provisória sem a cumu- pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos
lação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumpri- (inciso II).
mento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento de
obrigações. Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro-
Recurso em sede de liberdade provisória cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi-
Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a deci- to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida
são que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em
estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais
ser combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a
meio autônomo de impugnação. fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será
determinado pela sua cotação em Bolsa.
Fiança
A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado Dispensa/redução/aumento da fiança
e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança
para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua exis- poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP):
tência como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicio- A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I).
nante ou não da concessão de liberdade provisória. Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e,
Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci- verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o
dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa
de Processo Penal). “prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma-
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca- neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio-
sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do
superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP). beneficiário;
De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Pe- B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II);
nal, não será concedida fiança: C) Aumentada em até mil vezes (inciso III).
A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o
art. 5º, XLII, da Constituição Federal; Destinação da Fiança
B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art. seguintes providências:
323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede- A) Pagamento de custas;
ral; B) Indenização do dano;
C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- C) Pagamento de prestação pecuniária;
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323, D) Pagamento de multa;
inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal; E) Remanescente será devolvido.
D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an-
teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer Objeto da Fiança
das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de A) Depósito em dinheiro;
B) Pedras, objetos ou metais preciosos;
Processo Penal (art. 324, inciso I);
C) Títulos da dívida pública;
E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II);
D) Hipoteca de imóvel.
F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação
da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III);
Perda da fiança
G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”).
Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava-
cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im-
gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança;
posta, independentemente do regime, a fiança será dada por per-
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema
dida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu va-
Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta
lor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver
lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre- obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido
estrito (art. 581, VII, CPP).
Valor da fiança
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con- Cassação da fiança
sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo-
e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati-
periculosidade, bem como a importância provável das custas do cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar
processo, até final julgamento (art. 326, CPP). a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.
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Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a
tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa- comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado
ção. para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento.
Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebra-
Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido da.
estrito (art. 581, V, CPP). Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra-
mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da
Reforço da fiança autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias
Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde
porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova ti- será encontrado.
pificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um
porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque livro especial, com termos de abertura e de encerramento, numera-
ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal do e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destinado
reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo es-
inidônea). crivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e
Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen- dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos.
tido estrito (art. 581, V, CPP). Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri-
vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327
CAPÍTULO VI e 328, o que constará dos autos.
DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca
da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, inscrita em primeiro lugar.
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 § 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais
deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au-
Código. toridade.
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança § 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida
nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sen-
seja superior a 4 (quatro) anos. do nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re-
juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi-
Art. 323. Não será concedida fiança: tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos.
I - nos crimes de racismo; Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder
fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona-
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;
o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita-
de fiança.
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança:
conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e,
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante-
em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou
riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das
a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
prisão.
II - em caso de prisão civil ou militar; Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde-
III - (Revogado). pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação do processo a fim de requerer o que julgar conveniente.
da prisão preventiva (art. 312). Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a em julgado a sentença condenatória.
conceder nos seguintes limites: Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con-
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me-
infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em
superior a 4 (quatro) anos; 48 (quarenta e oito) horas.
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
(quatro) anos. niária e da multa, se o réu for condenado.
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
fiança poderá ser: da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; Penal).
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas Código.
de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
do processo, até final julgamento. será cassada em qualquer fase do processo.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da
existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica- Lei nº 7.960/89:
ção do delito. A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in-
Art. 340. Será exigido o reforço da fiança: quérito policial (inciso I);
I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente;
II - quando houver depreciação material ou perecimento dos B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer
bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso
pedras preciosas; II);
III - quando for inovada a classificação do delito. C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será reco- prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
lhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for re- indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º,
forçada. CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º,
Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art.
I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com- 158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art.
parecer, sem motivo justo; 159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte
do processo; (art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância
III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c.
com a fiança; art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual-
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56),
V - praticar nova infração penal dolosa. tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste-
Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de- ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III).
clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos
Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na
Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte:
perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo-
quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decre-
sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação
tar a prisão temporária? Há várias posições na doutrina.
da prisão preventiva.
Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian- Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve
ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado
cumprimento da pena definitivamente imposta. do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois re-
Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas quisitos ao menos.
as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a
recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. presença de apenas um requisito.
Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen-
previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido ça dos três requisitos conjuntamente.
ao fundo penitenciário, na forma da lei. Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos
Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código de
entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva.
encargos a que o réu estiver obrigado. Não há um entendimento prevalente, todavia.
Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por
meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo Prazo da prisão temporária
órgão do Ministério Público. De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da prisão
Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre- temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor. caso de comprovada e extrema necessidade.
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a
situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo
visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por
deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. “Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão tempo-
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus- rária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso
to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o de comprovada e extrema necessidade.
disposto no § 4o do art. 282 deste Código.
Procedimento da prisão temporária
Prisão temporária
O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar,
7.960/89:
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo
A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re-
Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. querimento do Ministério Público (na hipótese de representação
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Mi-
qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- nistério Público);
nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro ho-
mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é ras, contados a partir do recebimento da representação ou do re-
plenamente constitucional. querimento;
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C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú- Assinale a alternativa correta.
blico e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado, (A) Apenas I e II estão corretos
solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e (B) Apenas I e IV estão incorretos
submetê-lo a exame de corpo de delito; (C) Apenas II e III estão incorretos
D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de pri- (D) Apenas III e IV estão corretos
são (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado e ser- (E) I, II, III e IV estão incorretos
virá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente poderá
ser executada depois de expedido o mandado judicial (aqui reside a 3. Com relação às regras da lei processual no espaço e no tem-
principal diferença em relação à “prisão para averiguações”, extinta po, o Código de Processo Penal vigente adota, respectivamente, os
pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade policial meramente re- princípios da lex fori e da aplicação imediata. Com base nessa infor-
colhia o indivíduo ao claustro e se limitava a notificar a autoridade mação, é correto afirmar que
judicial disso); (A) as normas do Código de Processo Penal vigente são inapli-
E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso cáveis, ainda que subsidiariamente, no âmbito da Justiça Mili-
dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem- tar e aos processos da competência do tribunal especial.
brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria- (B) delegado de polícia estadual, que é informado , sobre a prá-
mente, separados dos demais detentos); tica de crime cometido por promotor de justiça estadual, está
F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá autorizado expressamente por lei, a instaurar inquérito policial
ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con- para a apuração dos fatos.
versão da medida em prisão preventiva. (C) é possível a prisão em flagrante de magistrado estadual por
delegado de polícia estadual, quando se tratar de crime ina-
Mandado de prisão fiançável, sendo obrigatória apenas a comunicação ao presi-
É o instrumento emanado da autoridade competente para a dente do tribunal de justiça a que estiver vinculado para evitar
execução da prisão, prevista no artigo 285. vício do ato.
(D) a lei processual penal tem aplicação aos processos em trâ-
mite no território brasileiro, contudo, uma hipótese de exclu-
QUESTÕES são da jurisdição pátria é a imunidade dos agentes diplomáti-
cos e seus familiares que com eles vivam.
(E) a lei processual penal atende a regra do tempus reígit ac-
tum, porém a repetição de atos processuais anteriores é exi-
1. Acerca da aplicação da lei processual no tempo e no espaço gida por lei em observância da interpretação constitucional,
e em relação às pessoas, julgue os itens a seguir. além disso, não é possível alcançar os processos que apuram
I O Brasil adota, no tocante à aplicação da lei processual penal condutas delitivas consumadas antes da sua vigência.
no tempo, o sistema da unidade processual.
II Em caso de normas processuais materiais — mistas ou híbri- 04. Em relação ao direito processual penal, assinale a opção
das —, aplica-se a retroatividade da lei mais benéfica. correta.
III Para o regular processamento judicial de governador de es- (A) De acordo com o procedimento especial de apuração dos
tado ou do Distrito Federal, é necessária a autorização da respectiva crimes de responsabilidade dos funcionários públicos contra a
casa legislativa — assembleia legislativa ou câmara distrital. administração pública, previsto no CPP, recebida a denúncia e
cumprida a citação, o juiz notificará o acusado para responder
Assinale a opção correta. a acusação por escrito, dentro do prazo legal.
(A) Apenas o item I está certo. (B) A interceptação telefônica será determinada pelo juiz na hi-
(B) Apenas o item II está certo. pótese de o fato investigado constituir infração penal punida
(C) Apenas os itens I e III estão certos. com pena de detenção.
(D) Apenas os itens II e III estão certos. (C) A decisão que autoriza a interceptação telefônica deve ser
(E) Todos os itens estão certos. fundamentada, indicando a forma de execução da diligência,
que não poderá exceder o prazo legal nem ser prorrogada, sob
2. Sobre a aplicação da lei processual penal no tempo e no es- pena de nulidade.
paço, analise os itens a seguir. (D) A lei processual penal brasileira adota o princípio da abso-
I. A lei processual penal entra em vigor e passa a ser aplicada luta territorialidade em relação a sua aplicação no espaço: não
imediatamente, mesmo nas hipóteses em que o delito já tenha sido cabe adotar lei processual de país estrangeiro no cumprimento
cometido, o acusado já esteja sendo processado e extinga modali- de atos processuais no território nacional.
dade de defesa. (E) A lei processual penal não admite o uso da analogia ou da
II. Aplica-se a lei processual penal brasileira quando o crime é interpretação extensiva, em estrita observância ao princípio da
cometido por cidadão brasileiro no exterior e ali o autor passa a ser legalidade.
processado.
III. Nos crimes cometidos em embarcações estrangeiras priva- 5. Acerca dos princípios aplicáveis ao direito processual penal
das estacionadas em portos brasileiros, aplica-se a lei processual e da aplicação da lei processual no tempo, no espaço, analise as
penal de seu país de origem. assertivas e indique a alternativa correta:
IV. O cumprimento de sentença penal condenatória emitida I - A lei processual penal tem aplicação imediata, nos termos
por autoridade estrangeira não se submete a exame de legalidade do art. 2º do Código de Processo Penal. O legislador pátrio adotou
e correspondência de crimes, cabendo ao juiz criminal aplica-la de o princípio do tempus reget actum, não existindo efeito retroativo.
imediato.

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II - A lei processual penal se submete ao princípio da retroati- (C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de-
vidade in mellius, devendo ter incidência imediata sobre todos os pois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais. 
processos em andamento, independentemente de o crime haver (D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para seus
sido cometido antes ou depois de sua vigência, desde que seja mais respectivas familiares. 
benéfica. (E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três teste-
III - A busca pela verdade real constitui princípio que rege o munhas que presenciaram o fato. 
Direito Processual Penal. A produção das provas, porque constitui
garantia constitucional, pode ser determinada, inclusive pelo Juiz, 9. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Acerca
de ofício, quando julgar necessário. de aspectos diversos pertinentes ao IP, assinale a opção correta.
IV - O princípio da verdade real comporta algumas exceções, (A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ser
como o descabimento de revisão criminal contra sentença absolu- apurado, poderá ser presidido por representante do MP, me-
tória. diante prévia determinação judicial nesse sentido.
V - A lei processual penal não admitirá interpretação extensi- (B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria
va e aplicação analógica, mas admitirá o suplemento dos princípios vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunicando a
gerais do direito. ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial.
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser
(A) Apenas as assertivas II, III e IV são verdadeiras. adotado na fase inquisitorial.
(B) Apenas as assertivas I, II e IV são verdadeiras. (D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante inde-
(C) Apenas as assertivas I, III e IV são verdadeiras. pendentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto que a
(D) Apenas as assertivas III, IV e V são verdadeiras. superação dos prazos de investigação tem o efeito de encerrar
(E) Apenas as alternativas I, III, e V são verdadeiras. a persecução penal na esfera policial.
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir requeri-
6. (PC-MA - Perito Criminal – CESPE/2018) A respeito do inqué- mento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu represen-
rito policial, assinale a opção correta. tante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso ao
(A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu o fato delitu-
em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato crimi- oso.
noso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação pré-
via da procedência das informações. 10. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) O inquérito po-
(B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a licial
instauração do inquérito policial a requerimento do ofendido (A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido ofe-
caberá reclamação ao Ministério Público.  recida e a ação penal dela depender.
(C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministé- (B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o
rio Público não poderá alterar a classificação do crime definida contraditório ao indiciado.
pela autoridade policial. (C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de
(D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi- ação penal pública incondicionada.
mento administrativo pré-processual destinado à apuração das (D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público
infrações penais e da sua autoria. se tratar-se de crime de ação penal privada.
(E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o inqué- (E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação
rito policial é imprescindível ao oferecimento da denúncia. penal pública incondicionada.

7. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) É correto 11. (TJ-MS - Analista Judiciário - Área Fim - PUC-PR/2017) Sobre
afirmar sobre o inquérito policial.  a prova no direito processual penal, marque a alternativa CORRETA. 
(A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamente, (A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas,
quando apresentada por qualquer pessoa do povo inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade entre
(B) A representação do ofendido é condição indispensável para umas e outras, bem como aquelas que puderem ser obtidas
a abertura de inquérito policial para apurar a prática de crime por uma fonte independente das primeiras. 
de ação penal pública condicionada. (B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo do
(C) O Ministério Público é parte legítima e universal para reque- livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
rer a abertura de inquérito policial afim de investigar a prática conjunto. 
de crime de ação penal pública ou privada.  (C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada,
(D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-
a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal -se a existência de outra ou outras circunstâncias; entretanto,
privada. tal espécie de prova não é aceita nos tribunais superiores por
(E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício violar o princípio constitucional da ampla defesa.
pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido. (D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos le-
gais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no pro-
8. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Pode-se cesso penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor probatório
afirmar que a autoridade policial, assim que tiver conhecimento da da prova originalmente produzida. 
prática da infração penal deverá:  (E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligên- produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
cias periciais pretendem fazer.  tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alte- colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
rem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada.  repetíveis e antecipadas.
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12. (PC/GO - Agente de Polícia Substituto - CESPE/2016) No que 15. (AL/MS - Agente de Polícia Legislativo - FCC/2016) Sobre o
diz respeito às provas no processo penal, assinale a opção correta. exame de corpo de delito e as perícias em geral, nos termos preco-
(A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pe- nizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar: 
ricial médica, que não pode ser suprida por testemunho. (A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessa-
(B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria, riamente por três pessoas idôneas, portadoras de diploma de
ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se curso superior preferencialmente na área específica, dentre as
desnecessária a produção de outras provas. que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do
(C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser exame. 
avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar o li- (B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de
vre convencimento do magistrado, quando amparadas em ou- obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os
tros elementos de prova. peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que ins-
(D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos trumentos, por que meios e em que época presumem ter sido
relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen- o fato praticado. 
to, menoridade, filiação e cidadania. (C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou
(E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha rejeitá-lo, no todo ou em parte. 
é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi- (D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
dido pelo delegado de polícia. exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo su-
pri-lo a confissão do acusado. 
13. (PC/DF - Perito Criminal - IADES/2016) O Código de Proces- (E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a auto-
so Penal elenca um conjunto de regras que regulamentam a pro- ridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando
dução das provas no âmbito do processo criminal. No tocante às não for necessária ao esclarecimento da verdade.
perícias em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a 184
da lei em comento. Quanto ao exame de corpo de delito, nos crimes 16. (PC/PA - Escrivão de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A prova
(A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a pro- em matéria processual penal tem por finalidade formar a convicção
va testemunhal não poderá suprir-lhe a falta. do magistrado sobre a materialidade e a autoria de um fato tido
(B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado du- como criminoso. No que tange aos meios de prova, o Código de
rante o dia. Processo Penal dispõe:
(C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido (A) o exame de corpo de delito não poderá ser feito em qual-
incompleto, proceder-se-á a exame complementar apenas por quer dia e a qualquer hora.
determinação da autoridade judicial. (B) quando a infração não deixar vestígios, será indispensável
(D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão supri-lo a confissão do acusado.
do acusado. (C) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza-
(E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias se- dos por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
jam realizadas por dois peritos oficiais. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por uma pes-
soa idônea, portadora de diploma de curso superior preferen-
14. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Quan- cialmente na área específica.
to à prova pericial, assinale a opção correta. (D) no caso de autópsia, esta será feita pelo menos seis horas
(A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais
para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de furto me- de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o
diante arrombamento, prevalecendo em tais situações a quali- que declararão no auto.
ficadora do delito. (E) não sendo possível o exame de corpo delito, por haverem
(B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se du- desaparecido os vestígios, a prova testemunhal não poderá su-
rante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvida, prir-lhe a falta.
sendo vedada a sua realização durante a noite.
(C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participa- 17. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) Com relação ao
ção da defesa na produção da prova pericial na fase investiga- exame de corpo de delito, assinale a opção correta.
tória, antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo (A) O exame de corpo de delito poderá ser suprido indireta-
pericial. mente pela confissão do acusado se os vestígios já tiverem de-
(D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um saparecido.
perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas (B) Não tendo a infração deixado vestígios, será realizado o exa-
idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas me de corpo de delito de modo indireto.
de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame, (C) Tratando-se de lesões corporais, a falta de exame comple-
sejam nomeadas para tal atividade. mentar poderá ser suprida pela prova testemunhal.
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu resulta- (D) Depende de mandado judicial a realização de exame de cor-
do vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser contrária po de delito durante o período noturno.
à conclusão do laudo pericial. (E) Requerido, pelas partes, o exame de corpo de delito, o juiz
poderá negar a sua realização, se entender que é desnecessário
ao esclarecimento da verdade.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
18. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto – VUNESP/2018) A respei- 22. Em relação à prova obtida por meio de interceptação tele-
to das provas, assinale a alternativa correta. fônica e ao sigilo telefônico, assinale a opção correta, tendo como
(A) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do proces- referência a Lei n.º 9.296/1996 e o entendimento doutrinário e ju-
so, as provas ilegítimas, assim entendidas as obtidas em viola- risprudencial dos tribunais superiores.
ção a normas constitucionais ou legais. (A) A prova obtida por força de interceptação telefônica judi-
(B) A pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa cialmente autorizada poderá, a título de prova emprestada,
será computada como testemunha. subsidiar denúncia em outro feito que investigue crime apena-
(C) O exame para o reconhecimento de escritos, tal como o re- do com detenção.
conhecimento fotográfico, não tem previsão legal.  (B) A quebra do sigilo de dados telefônicos pertinentes aos da-
(D) O juiz não tem iniciativa probatória. dos cadastrais de assinante e aos números das linhas chamadas
(E) A falta de exame complementar, em caso de lesões corpo- e recebidas submete-se à disciplina da referida legislação.
rais, poderá ser suprida pela prova testemunhal. (C) A referida lei de regência condiciona a possibilidade de
imposição da medida de interceptação telefônica na fase de
19. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) De acordo investigação criminal à instauração do inquérito policial com-
com a norma processual penal, a busca e apreensão: petente.
(A) será apenas domiciliar, não podendo ter como objeto pes- (D) Para a determinação da interceptação telefônica, é neces-
soa. sário juízo de certeza a respeito do envolvimento da pessoa a
(B) deverá sempre ser precedida de mandado judicial.  ser investigada na prática do delito em apuração.
(C) quando feita em mulher, somente poderá ser realizada por (E) Gravação telefônica realizada por um dos interlocutores
outra mulher. sem o conhecimento do outro e sem autorização judicial ca-
(D) poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de racteriza meio ilícito de prova por violar o direito à intimidade
qualquer das partes. constitucionalmente protegido.
(E) deverá ocorrer na presença, indispensável, do Ministério
Público. 23. No que tange a interceptação das comunicações telefôni-
cas e a disposições relativas a esse meio de prova, previstas na Lei
20. (PC/SP - Investigador de Polícia – VUNESP/2018) No que n.º 9.296/1996, assinale a opção correta.
concerne ao regramento específico das provas no CPP, (A) A referida medida poderá ser determinada no curso da
(A) o “reconhecimento de pessoas” em sede policial é diligên- investigação criminal ou da instrução processual destinada à
cia que não requer qualquer formalidade, sendo facultado ao apuração de infração penal punida, ao menos, com pena de
Delegado, caso deseje, alinhar várias pessoas para que o reco- detenção.
nhecedor aponte o autor do crime. (B) A existência de outros meios para obtenção da prova não
(B) a “acareação” é meio de prova expressamente previsto em impedirá o deferimento da referida medida.
lei, mas não se a admite entre acusados, sendo possível, ape- (C)O deferimento da referida medida exige a clara descrição do
nas, entre testemunhas.  objeto da investigação, com indicação e qualificação dos inves-
(C) o ascendente pode se recusar a ser “testemunha”, mas, caso tigados, salvo impossibilidade manifesta justificada.
não o faça, deverá prestar compromisso de dizer a verdade.  (D) A utilização de prova obtida a partir da referida medida para
(D) consideram-se “documentos” para fins de prova quaisquer fins de investigação de fato delituoso diverso imputado a ter-
escritos, instrumentos ou papéis públicos, excluídos, expressa- ceiro não é admitida.
mente, os particulares. (E) A decisão judicial autorizadora da referida medida não po-
(E) a pessoa vítima de crime pode ser objeto de “busca e apre- derá exceder o prazo máximo de quinze dias, prorrogável uma
ensão”. única vez pelo mesmo período.

21. De acordo com a Lei n.º 9.296/1996, a interceptação de 24. Nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
comunicações telefônicas investigação criminal ou instrução processual penal, a quebra do
(A) poderá ser determinada de ofício por delegado. sigilo de comunicações telefônicas pode ser determinada
(B) não será admitida se a prova puder ser obtida por outros (A) pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público.
meios disponíveis. (B) pelo Poder Judiciário, somente.
(C) será admitida somente nos casos de crimes em que a pena (C) por autoridade policial e pelo Ministério Público.
mínima for igual ou superior a dois anos de detenção. (D) pela fiscalização tributária, somente.
(D) será conduzida por membro do Ministério Público, com vis- (E) pelo Ministério Público, somente.
tas ao delegado, que poderá acompanhar os procedimentos.
(E) poderá ser prorrogada a cada trinta dias, desde que respei- 25. Assinale a alternativa correta com relação às disposições
tado o prazo máximo legal de trezentos e sessenta dias. processuais penais especiais.
(A) A transação penal prevista na Lei dos Juizados Especiais
Criminais é aplicável aos crimes praticados contra a violência
doméstica.
(B) Na colaboração premiada em crimes de organização crimi-
nosa, o juiz poderá reduzir a pena privativa de liberdade em até
1/3, desde que a personalidade do colaborador, a natureza, as
circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato crimi-
noso sejam adequadas à benesse.
(C) O juiz está adstrito às condições previstas na Lei na hipóte-
se de oferecimento de proposta de suspensão condicional do
processo.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
(D) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e va- ( )CERTO
lores deve ser observado o procedimento processual especial ( ) ERRADO
previsto na legislação em vigor.
(E) Não será deferida a interceptação de comunicações telefô- 30. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Samuel
nicas quando o fato criminoso investigado for punido, no máxi- teve voz de prisão dada por Agostinho, seu vizinho que é alfaiate,
mo, com pena de detenção. quando tentava esfaquear sua madrasta. Neste caso é possível di-
zer:
26. (Câmara de Campo Limpo Paulista/SP - Procurador Jurídico (A) Agostinho jamais poderia prender Samuel, pois não é po-
– VUNESP/2018) Nos expressos e literais termos do artigo 295 do licial.
CPP, têm direito à prisão especial – que nada mais é do que o reco- (B) Agostinho poderia prender Samuel em 48 (quarenta e oito)
lhimento em local distinto da prisão comum – entre outros, horas depois, se a polícia não tivesse chegado ao local.
(A) o Vereador, o Magistrado e o Ministro de Confissão Reli- (C) Em face do flagrante delito, Agostinho poderia sim ter dado
giosa. voz de prisão a Samuel.
(B) o Ministro de Estado, o Governador e o Agente Municipal (D) Agostinho somente poderia dar voz de prisão a Samuel, se
de Trânsito. este tivesse cometido o crime contra sua genitora.
(C) o Prefeito Municipal, o Praça das Forças Armadas e o Minis- (E) Samuel somente poderia ser preso em flagrante, se ele ti-
tro do Tribunal de Contas. vesse levado para a Delegacia de Polícia a faca com a qual ten-
(D) o Agente Fiscal de Posturas Públicas, o membro da Assem- tara esfaquear sua madrasta.
bleia Legislativa dos Estados e os Delegados de Polícia.
(E) o Oficial das Forças Armadas, o diplomado por qualquer das 31. (PC/AC - Delegado de Polícia Civil - IBADE/2017) Tendo em
faculdades superiores da República e o Agente Fiscal de Ren- vista a correta classificação, considera-se em flagrante delito quem:
das. (A) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração, ou
27. (PC/AC - Agente de Polícia Civil - IBADE/2017) Sobre o tema seja, flagrante impróprio.
prisão preventiva assinale a alternativa correta. (B) acaba de cometer a infração penal, ou seja, flagrante pró-
(A) Não será permitido o emprego de força, salvo a indispen- prio.
sável no caso de resistência, de tentativa de fuga do preso, dos (C) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou
reincidentes e dos presos de alta periculosidade por terem pas- por qualquer pessoa em situação que faça presumir ser autor
sado pelo regime disciplinar diferenciado. da infração, ou seja, flagrante presumido.
(B) O mandado de prisão, na ausência do juiz, poderá ser lavra- (D) é preso por flagrante provocado.
do e assinado pelo escrivão, ad referendum do juiz. (E) está cometendo a infração penal, ou seja, crime imperfeito.
(C) O mandado de prisão mencionará a infração penal e neces-
sariamente a quantidade da pena privativa e de multa, bem 32. (PC/PA - Investigador de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A pri-
como eventual pena pecuniária. são em flagrante consiste em medida restritiva de liberdade de na-
(D) A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer tureza cautelar e processual. Em relação às espécies de flagrante,
hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do do- assinale a alternativa correta.
micílio. (A) Flagrante próprio constitui-se na situação do agente que,
(E) A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo logo depois, da prática do crime, embora não tenha sido per-
mandado, salvo quando, por questão de urgência, nos crimes seguido, é encontrado portando instrumentos, armas, objetos
inafiançáveis, poderá a prisão ocorrer por ordem verbal do juiz. ou papéis que demonstrem, por presunção, ser ele o autor da
infração.
28. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/2019) Em decor- (B) Flagrante preparado é a possibilidade que a polícia possui
rência de um homicídio doloso praticado com o uso de arma de de retardar a realização da prisão em flagrante, para obter
fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados de que o maiores dados e informações a respeito do funcionamento,
autor do delito se evadira por rodovia federal em um veículo cuja componentes e atuação de uma organização criminosa.
placa e características foram informadas. O veículo foi abordado (C) Flagrante presumido consiste na hipótese em que o agente
por policiais rodoviários federais em um ponto de bloqueio monta- concluiu a infração penal, ou é interrompido pela chegada de
do cerca de 200 km do local do delito e que os policiais acreditavam terceiros, mas sem ser preso no local do delito, pois consegue
estar na rota de fuga do homicida. Dada voz de prisão ao condutor fugir, fazendo com que haja perseguição por parte da polícia,
do veículo, foi apreendida arma de fogo que estava em sua posse e da vítima ou de qualquer pessoa do povo.
que, supostamente, tinha sido utilizada no crime. (D) Flagrante esperado é a hipótese viável de autorizar a prisão
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item. em flagrante e a constituição válida do crime. Não há agente
De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situa- provocador, mas simplesmente chega à polícia a notícia de
ção configura hipótese de flagrante presumido ou ficto. que um crime será cometido, deslocando agentes para o local,
( )CERTO aguardando-se a ocorrência do delito, para realizara prisão.
( )ERRADO (E) Flagrante impróprio refere-se ao caso em que a polícia se
utiliza de um agente provocador, induzindo ou instigando o
29. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/2019) Com rela- autor a praticar um determinado delito, para descobrir a real
ção aos meios de prova e os procedimentos inerentes a sua colhei- autoridade e materialidade de outro.
ta, no âmbito da investigação criminal, julgue o próximo item.
A entrada forçada em determinado domicílio é lícita, mesmo
sem mandado judicial e ainda que durante a noite, caso esteja
ocorrendo, dentro da casa, situação de flagrante delito nas modali-
dades próprio, impróprio ou ficto.
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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

ANOTAÇÕES
GABARITO

______________________________________________________
1 B
______________________________________________________
2 E
______________________________________________________
3 D
4 D ______________________________________________________
5 C ______________________________________________________
6 D
______________________________________________________
7 B
8 C ______________________________________________________
9 C ______________________________________________________
10 A
______________________________________________________
11 E
______________________________________________________
12 C
13 D ______________________________________________________
14 D ______________________________________________________
15 A
_____________________________________________________
16 D
17 C _____________________________________________________

18 E ______________________________________________________
19 D
______________________________________________________
20 E
______________________________________________________
21 B
22 A ______________________________________________________
23 C ______________________________________________________
24 B
______________________________________________________
25 E
26 A ______________________________________________________

27 D ______________________________________________________
28 CERTO ______________________________________________________
29 CERTO
______________________________________________________
31 C
31 B ______________________________________________________
32 D ______________________________________________________

______________________________________________________

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