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8 – Derivadas de ordem superior

8.1 – Teorema do valor intermediário e o teorema do valor médio


Vamos começar com duas observações geométricas simples sobre curvas no plano:
i) Se uma curva contínua, conforme a figura
ao lado, consistindo em um arco diretamente ligado,
tem ponto inicial num semiplano determinado por
uma reta l e termina no outro semiplano, é preciso
que ela intercepte l, pelo menos, em um ponto P.

ii) Se A e B são as extremidades de uma


curva contínua e se a curva tem uma reta tangente
para cada ponto intermediário, então existe pelo
menos um ponto intermediário P no qual a linha
tangente é paralela à reta que contém A e B,
conforme a figura ao lado.

8.1.1 – Teorema do valor intermediário


Para exemplificação da proposição “i”, vamos considerar o seguinte problema: mostre que
existe um número c estritamente entre 0 e 1 tal que c 3+ c=1 . Note que não precisamos
determinar qual o número e sim, que este número existe.

Observamos que a função polinomial


definida por f (x )=x 3 +x é contínua no intervalo
fechado [0,1] e que f(0)=0 e f(1)=2.
O gráfico entre os pontos (0,0) e (1,2) é
contínua e o ponto (0,0) está abaixo da reta y=1,
sendo que o ponto (1,2) está acima desta reta.
Pela afirmação “i” este gráfico precisa
interceptar a reta y=1 em qualquer ponto, seja em
(c,1), de tal forma que 1= f (c)=c 3 +c .

Definição 1
Seja a função f contínua no intervalo [a,b] e suponha que f (a )≠ f (b) . Então, se k é qualquer
número real estritamente entre f(a) e f(b), existe pelo menos um número c, estritamente entre a e b
tal que f(c)=k.
O teorema do valor intermediário é particularmente útil para localização de zeros (ou raízes)
de funções contínuas f. Pois se f é uma função contínua em [a,b] e se f(a) e f(b) possuem sinais
opostos, então existe uma raiz de f no intervalo aberto (a,b), tal que a <c <b e f(c)=0.

Exemplos
1º) Seja a função polinomial definida pela equação f (x )=x 5−2x3−1 . Mostre que existe uma
raiz nesta função, no intervalo [1,2]. É possível determinar a raiz exatamente?

8.1.2 – Teorema do valor médio


Para exemplificação da proposição “ii”, vamos considerar a função f definida por
3
f ( x )=√ x . Consideremos dois pontos, A(0,0) e B(8,2). A reta traçada entre os pontos A e B
2−0 1
possui ângulo dado por m= = . Pela afirmação “ii”, existe um ponto P ao longo do gráfico
8−0 4
da função, entre A e B ao qual a reta tangente é paralela à reta que contém A e B.
Seja c a abscissa de P. Então a inclinação da
1
reta tangente em P é dada por f ' (c)= 3 2 .
3 √c
Como as duas retas, neste caso, são paralelas,
possuem o mesmo coeficiente angular. Assim
3
1 1
teremos = 3 2 sendo c=
4 3 √c ( )
2
√3
=1,5396... .

Definição 2
Se a função f é definida e contínua no intervalo fechado [a,b] e diferenciável no intervalo aberto
f (b)− f (a)
(a,b), então existe pelo menos um número c com a <c <b tal que f ' (c)= .
b−a

Exemplos
x2
2º) Seja a função definida por f (x )= . Verifique a hipótese do teorema do valor médio para a
6
função no intervalo [2,6] e determine um valor de c no intervalo (2,6).

3º) Seja a função definida por f (x )=x 3 +2x 2 +1 , determine um número entre 0 e 3 tal que a
tangente ao gráfico da função no ponto (c,f(c)) seja paralela à secante entre os dois pontos (0,f(0)) e
(3,f(3)).

8.1.3 – Teorema de Rolle


Este teorema é um caso particular do teorema do valor médio e ocorre quando f(a) = f(b).
Definição 3
Seja f uma função contínua no intervalo fechado [a,b] tal que f seja diferenciável no intervalo aberto
(a,b) e f(a)=f(b). Existe pelo menos um número real c no intervalo aberto (a,b) tal que f ' (c)=0 .

Exemplos
4º) Mostre que a hipótese do teorema de Rolle é satisfeita para a função f ( x )=6x 2−x 3 no
intervalo entre 0 e 6.

8.2 – Derivadas de ordem superior


8.2.1 – A derivada segunda
A ideia de “segunda derivada” vem naturalmente em conexão com o movimento de uma
partícula P ao longo de uma reta orientada, conforme a figura abaixo:

Chama-se a reta de eixos e denota-se a coordenada variável de P por “s”, tal que S = f (t ) ,
onde f é uma função determinando a localização de P no tempo t. A equação S = f (t ) é chamada
de lei do movimento ou equação do movimento da partícula.
A velocidade v da partícula P é definida como a taxa de variação da coordenada s de P em
relação ao tempo, ou seja, a velocidade é a derivada primeira da função S = f (t ) :
dS
S '= f ' ( t)=v=
dt
A variação instantânea da velocidade em relação ao tempo é denominada de aceleração, ou
seja, a aceleração é a derivada segunda da função S = f (t ) :
dv
a= ou S ' ' = f ' ' (t)=a
dt
8.2.2 – Derivadas de ordem n
De um modo geral, se f é uma função diferenciável em algum intervalo aberto, então a
derivada f ' , derivada primeira, é novamente uma função definida neste intervalo. Se o for,
podemos derivar novamente e obter f ' ' , derivada segunda, e assim sucessivamente.
São notações possíveis:
2 3
dy d y d y
= f ' = f (1) ; = f ' ' = f (2)
; = f ' ' '= f (3 )
dx dx
2
dx
3

d4 y (4) dn y
4
= f ;............; n
= f (n)
dx dx

Exemplos
2
5º) Seja S (t)=t+ 2
para t > 0, com s em metros e t em segundos. Determine a velocidade e a
t
1
aceleração para t= segundo.
2

6º) Seja S (t)=4 √ 1+ t 2−t 2 com s em centímetros e t em minutos. Determine a velocidade e a


aceleração em função de t.

7º) Determine todas as derivadas da função polinomial f ( x )=15x 4−8x 3+3x 2−2x+ 4 .
2
2 1 d y
8º) Se y=2x + 2
determine 2
.
x dx

2x−1
9º) Se f (x )= , calcule f ' ' (0)
3x+ 2

Exercícios
Nas questões 01 e 02 use o teorema do valor intermediário para verificar que cada função dada
possui uma raiz no intervalo indicado.
1) f (x )=x 2−2 entre 1,4 e 1,5 2) f ( x )=2x 3−x 2 + x−3 entre 1 e 2
Nas questões 03 a 05 verifique as hipóteses do teorema do valor médio para cada função no
intervalo indicado. Após, determine um valor numérico explícito de c no intervalo [a,b] tal que
f (b)− f ( a)=(b−a) . f ' (c )
x−1
3) f (x )=2x 3 em [0,2] 4) f (x )= em [0,3] 5) f ( x )=√ 25− x 2 em [-3,4]
x +1
Nas questões 06 e 07 determine um valor numérico específico de c tal que a <c <b e que a reta
tangente ao gráfico de f em (c,f(c)) seja paralela à secante entre os pontos (a,f(a)) e (b,f(b)).
6) f (x )=x 2 ; a=2 e b=4 7) f ( x )=x 3 ; a=1 e b=3
Nas questões 08 a 10 verifique as hipóteses do teorema de Rolle para cada função no intervalo
fechado [a,b] indicado e então determine um número c no intervalo aberto (a,b) no qual a derivada
da função seja nula.
8) f (x )=x 2−3x em [0,3] 9) f (x )=x 3−3x 2− x +3 em [-1,3]
10) f (x )=x 3 /4 −2x 1/ 4 em [0,4]
Nas questões 11 a 13, a partícula está se movendo ao longo de um eixo, de acordo com a lei do
movimento S = f (t ) com s em metros e t em segundos. Determine a velocidade e a aceleração da
partícula.
5 5 / 2 2 3 /2
11) S (t)=t 3 + 2t 2 12) S (t)=5t 2 + √ 4t−3 13) S (t)= . t + . t
2 3
Nas questões 14 a 21, determine a derivada primeira e a derivada segunda em cada uma das
funções.
14) f (x )=5x 3+ 4x+ 2 15) f (t)=7t 5−23t 2 +t+ 9 16) G( x)=( x 2 −3 )( x 4 + 3x2 +9 )
2 1 2u
17) g (t )=t 3 √ t −5t 18) f (x )=x − 19) f (u)=
x3 2−u
2
20) f (t)= √t 2 +1 21) F (r )=( 1−√ r )
3
d y
22) Seja y=√ x 2−1 determine 3
.
dx
Nas questões 23 a 25, uma partícula está se movendo ao longo de um eixo de acordo com a equação
do movimento dada, onde S(t) é a distância em metros da origem ao fim de t segundos. Determine o
tempo em que a aceleração instantânea seja nula.
23) S (t)=t 3 −6t 2 +12t +1 ; t≥0 24) S (t)=√ 1+t ; t≥0
2 2
25) S (t)=5t + ; t≥0
t +1

Respostas
1) f (1,4)< f (c)< f (1,5) ; 1,4<c <1,5 2) f (1)< f ( c)< f ( 2) ; 1<c <2
3) c= √ 5) c=± √ 7) c= √
2 3 2 39
4) c=1 6) c=3
3 2 3
3 2 √3 4
8) c= 9) c=1± 10) c= 11) V (t )=3t 2 + 4t ; a (t)=6t+4
2 3 9
2 4
12) V (t )=10t+ ; a (t)=10−
√ 4t−3 ( 4t−3) √ 4t−3
25 3/ 2 1/ 2 75 1 /2 1 −1 /2
13) V (t )= t +t ; a (t)= t + t 14) f ' ( x)=15x 2 + 4 ; f ' ' ( x )=30x
4 8 2
15) f ' (t)=35t 4−46t +1 ; f ' ' (t)=140t 3−46 16) G ' ( x )=6x 5 ; G ' ' ( x)=30x4
7 5/ 2 35 3/ 2 3 12
17) g ' (t)= t −5 ; g ' ' (t)= t 18) f ' ( x)=2x+ 4 ; f ' ' ( x )=2− 5
2 4 x x
4 8 t 1
19) f ' ( u)= ; f ' ' (u )= 20) f ' (t)= 2 ; f ' ' (t)= 2
( 2−u )2
(2−u)3 √t +1 (t + 1) √ t 2 +1
1 1 d3 y 3x
21) F ' ( r)=1− ; F ' ' (r )= 22) 3
= 2
√r 2r √ r dx ( x 2−1 ) √ x 2−1
23) t=2 s 24) ∄ t 25) ∄ t

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