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Tudo que precisa é verniz. Tudo que você precisa é de um pouco de verniz.

Uma ou
duas camadas e pronto. Com verniz você pode acreditar ser feliz, inteligente, amoroso,
bondoso, altruísta. Com verniz você acredita no que quiser acreditar.

Com verniz você acredita no mundo cor de rosa, você compra o novo presidente, você
segue o novo profeta, louva o novo guru da moda enquanto eles te sugam. Com verniz e mais
duas ou três palavras difíceis, quatro ou cinco palavras amorosas, mais uns três sorrisos
ensaiados e umas poucas lágrimas prontas, você e sua carência de si, você e sua necessidade
de seguir, acreditar, colorir o mundo, compram o que eles quiserem que você compre.

“Verniz, compre verniz e seja feliz”. Se não fosse não tão tosco e mesmo assim sincero,
poderia ser o novo slogan do novo mundo. Mas quem quer um mundo tosco, as vezes brutal,
as vezes belo, mas absolutamente real, imprevisível? Quem admite, diante do mundo e da
vida, que não tem controle de nada, nem de si? Você não controla quem ou quando amar,
você não controla quando vai sentir fome. Se assim fosse ninguém teria diarreia, ninguém
seria brocha ou frigida. Talvez você nem comesse tanto, e nem sofresse tanto por alguém.

Vivemos a era do photoshop, maquiagem definitiva, filtros e mais filtros para a sua
foto sair perfeita. Era da Imagem, ao contrário da propaganda da Sprite, “Imagem não é nada,
sede é tudo”, Hoje, “Sede não é nada, Imagem é tudo”. Antigamente se buscava a felicidade,
hoje só precisa parecer feliz.

Nelson Rodrigues disse que as pessoas soubessem da intimidade sexual, ninguém se


cumprimentava. Hoje tem se duas intimidades, a que exponho nas redes sociais e a real,
encarnada. Quase todas as pessoas na sua vida privada, são desesperadas, solitárias,
superficiais, tristes, mas estão sempre sorrindo em selfies, sempre fotografando, sempre
tentando reter o que não pode ser retido, o que mais se aperta e mais escapa pelos dedos, a
experiência da felicidade, que só é real por que fugaz.

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