obra teatral Hamlet, do dramaturgo inglês William Shakespeare, que acaba supostamente louca e afogada em um rio. Em uma leitura da peça, Ana Mazzei e Regina Parra decidiram isolar as falas da personagem e constataram uma postura constante de submissão, de alguém que aguarda comandos de terceiros, sempre do sexo masculino, e que talvez por isso enlouquece ou é tida como louca. Em parte, a atitude e o destino de Ofélia são transpostos e questionados na performance. Algumas de suas falas foram pintadas em placas carregadas por nove mulheres. São falas ambíguas, de resistência, protesto, alienação e submissão. O gesto de levantar uma placa ou uma bandeira evoca contextos de manifestações e o desenho de seus suportes reforça essa postura de luta e resistência feminina. São formas sintéticas, construídas por linhas de madeira, que lembram corpos de mulher ou ainda armas de ataque ou defesa, como flechas e escudos. Para a ação, as artistas optaram por espalhar as performers por todo espaço expositivo, com movimentos ora definidos e limitados pela arquitetura, ora delimitados por barreiras meramente psicológicas, quando caminham em linha reta de um lado para o outro. São movimentos mecânicos e repetitivos, que falam da fragilidade de alguém que busca,
Ofélia talvez desesperadamente, sair do lugar sem conseguir.
Mazzei e Parra desejam criar uma relação de corpo a corpo com o espectador. Relação esta por vezes de enfrentamento, Regina Parra + Ana Mazzei em outras, de submissão.