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JAIME C.

DINIZ, sacerdo-
te pernambucano, estudou
Filosofia no Seminário de
Olinda, e Teologia no Seminá-
rio Central do Ipiranga, S.
Paulo.

Por duas vézes, empreen-


deu viagens de estudo a Eu-
ropa, a fim de aprofundar os
seus conhecimentos de Músi-
ca Sagrada (Roma 'e Paris)
e seguir os cursos de Musico-
logia com Higinio Anglés, no
Instituto Pontifício de Música
Sacra, em Roma. Hoje, ocu-
pa as cadeiras de História da
Música e Canto Coral, no CÚr-
so de Música da Universidade
Federal de Pernambuco. Em
dezembro de 1961 foi eleito
membro efetivo da Academia
Brasileira de Música, por ex-
pressiva votacáo .

MÚSICOS PERNAMBUCA-
NOS DO P ASSADO é o título
de urna série de ensaios cujo
primeiro volume agora apare-
ce. Através dessa série, o
musicólogo padre Jaime Diniz
irá divulgando os resultados
de su¡ts pesquisas nesse "cam-
po virgern" que é a história
musical de Pernambuco. Nao
MúSICOS PERNAMBUCANOS DO PASSADO
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Exemplos musicais desenhados por Benny Wolkoff


Capa de Wilton de Souza
PADRE JAIME C. DINIZ
Da Academia Brasíleíra de Música

MÚSICOS PERNAMBUCANOS
DO PASSADO
1 Tomo

RECIFE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
1969
"Pernambuco sempre teve mestres de mú-
sica seus filhos, insignes em seus instrumentos
e compositores de maior ou menor vulto desde
a.maís remota data, e hoje em maior e mais
preciosa extensáo os tem" (1854) Antonio J.
de Mello
"O ambiente pernambucano sempre foi [ ... ]
favorável a música. Nossa história musical
comecou mais cedo que a das outras artes
[ ... ] Creio, aliás, que dois elementos se encon-
traram na base dessa transformacáo que levou
a música [ ... ] do plano da aventura individual
para o da realidade coletiva: cantores e instru-
mentistas foram estimulados e, mesmo, solicita-
dos pelo clero e pelas irmandades [ ... ] O bri-
lho ruidoso do palco intensificou a irradiacáo
e deu-lhe outros nortes". (1947) Luiz Delgado
íNDICE

Uma Palavra inicial 13


1 PADRE INÁCIO RIBEIRO NóIA 17
- Cronologia 37
- Bibliografia 39
II LUIZ ÁLVARES PINTO 41
Alvares Pinto em S. Pedro dos Clérigos 49
A obra de Alvares Pinto. . . . . . . . . . . . . . . . 60
O Te Deum 72
Luiz Alvares Pinto e o seu tempo - sín-
tese cronológica .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Alguns documentos 87
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
III - AGOSTINHO RODRIGUES LEITE 101
órgíio em Boa Viagem 110
órgíio da Igreja de S. Pedro Apóstolo 116
órgíio da Igreja do Carmo do Recife 118
órgíios de Agostinho Rodrigues Leite, na
Bahia 120
órgíio da Ordem Terceira do Carmo, na
Bahia 122
órgíio do Mosteiro de S. Bento, no Rio .. 126
Novos órgíios para Olinda 128
Alguns documentos 133
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 137
IV - PADRE VICENTE FERRER DOS SANTOS.. 141
Padre Vicente Ferrer e as Irmandades
do Recife . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 145
Padre Vicente Ferrer, Mestre de Capela 156
Alguns documentos 173
V JOAQUIM BERNARDO MENDON<;A RIBEI-
RO PINTO .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 179
Alguns documentos 205
- Bibliografia .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 219
UMA PALAVRA INICIAL
Urna simples contríbuícáo sobre o nosso pas-
sado musical é o que pretendo com esta obra, cujo
primeiro volume vem, agora, publicado pela Impren-
sa Universitária de Pernambuco, gracas ao apoio
generoso do escritor Luiz Delgado. Contríbuícáo que
continua os esforcos dos amorosos pioneiros no que
se refere aos estudos da história musical de Per-
nambuco: Antonio Joaquim de Mello, Pereira da
Costa e Euclides Fonseca.
Levado pela necessidade de conhecer alguma
coisa sobre o nosso passado musical, venho estudan-
do, há sete anos, todas as fontes que possam trazer
alguma ínformacáo relacionada com a vida musical
do Recife e de Pernambuco em geral. Comecei pelo
que Está impresso. Estudei Pereira da Costa que
é ínegávelmente a fonte mais importante, apesar
de alguns desliz es e imprecisóes que irei apontando
a seu tempo. Estudei Euclides Fonseca, cujo ensaio
se ressente de muitas falhas. Estudei o pouco, mas
valioso, que representam algumas páginas de Antó-
nio Joaquim de Mello. Prátícamente nada foi acres-
centado a eontríbuícáo désses pioneiros. Passei aos
[ornaís do século passado, na Biblioteca do Estado
ou no arquivo do Diário de Pernambuco: novos da-
dos, inúmeras ínformacóes. Fui aos cronistas de
várias épocas - de Loreto Couto a Mário Sette.
Andei pelos arquivos das Irmandades do Recife e de
Olinda. Nao esqueci alguns arquivos particulares,
como o de Waldemar de Oliveira, de Judith de AI-
meida Santos e de Lindolfo Mascarenhas. Busquei
14

dados e manuscritos em Alagoas, na Bahia, no Ma-


ranháo e na Guanabara. As fontes se alargaram.
As anotacóes se avolumaram, indo assustadoramen-
te muito além do que qualquer prevísáo imaginosa
pudesse alcancar ,
Para quem nada conhecia a respeito da histó-
ria da música em Pernambuco, ficaria satisfeito em
apenas conhecer algumas dezenas de músicos per-
nambucanos que atuaram no passado. Tudo foi
além, gracas a Deus. Revelaría, hoje, que andei
anotando a existencia de algumas centenas, ou mais
precisamente, um pouco mais de 600 (seíscentos)
compositores, díretores de coro, organistas, orga-
neiros, cantores, teóricos, cravistas, pianistas, trom-
pistas, violinistas, flautistas, charameleiros, etc.
Músicos Pernambucanos do Passado, mesmo que
chegasse a ultrapassar os tres tomos programados,
nao poderá esgotar o elenco de nossos artistas le-
vantado em minhas pesquisas. Urna mínima parte
será estudada, justamente a favorecida por urna
maior documentacáo . Nos estudos déste volume,
coloco outras figuras, aparentemente numa posícáo
de "decor", com a finalidade dé fixar outros nomes
do nosso cenário artístico-musical do passado. AI-
guns désses seráo objetos, também, de pequenos es-
tu dos em volumes posteriores. Outros só poderáo
ser contemplados, com alguns tragos de sua biogra-
fía ou de sua atividade, se algum dia eu vier a escre-
ver os desejados "Dicionário dos Músicos Pernam-
bucanos" e a "História da Música em Pernambuco".
Vultos mais antigos - e até contemporáneos
de alguns - dos que os fixados nas páginas déste
primeiro volume, ñcaram, intencionalmente, a mar-
gem, como Gomes Correía, pai de sete filhos, que
[á exercia as Iuncóes de Mestre de Capela na Ma-
triz de Olinda desde 1564; Como Paulo Serráo que
naseeu cerca de 1565, tóra "condiscípulo de Bento
Teixeira, que estudavam artes nas escolas dos Pa-
dres da Companhia" da Bahia e que, nos ñns do
15

século XVI, provávelmente como sucessor direto de


Gomes Correia, trabalha como Mestre de Capela na
mesma Matriz de Olinda; como Francisco Rodrigues
Penteado trabalhando no século XVII; como Simáo
Furtado de Mendonca, responsável pela música da
Vila de Igaracu em 1629; como Antonio Correía,
Mestre de Capela de Olinda em 1653, tendo anterior-
mente exercido a mesma funcáo na Freguesia de
Santo Antonio do Cabo; como o Padre Inácio Terra,
Mestre de Capela em Olinda, talvez já na primeira
metade do século XVIII; como o Licenciado Manoel
da Cunha - muito provávelmente o Padre Manoel
da Cunha Carvalho que ainda vivia em 1709 - que
fóra Mestre de Capela da Irmandade de N. Senhora
do Rosário dos Pretos do Recife, na segunda me-
tade do século XVII; como Mestre Pedro Lobato,
atuando no Recife nos fins do século XVII; como o
célebre Padre Joáo de Lima, pernambucano que
exerceu as íuncóes de Mestre de Capela na Sé da
Bahia e na Sé de Olinda, provávelmente nos fins
do século XVII e inícios do XVIII; como Mestre
Man~l Borges, atuando na Igreja de N. Senhora
do Rosário dos Pretos, nos ínícíos do século XVIII
(1711 a 1715); como os sacerdotes Manoel de AI-
meida Botelho, Antonio da Silva Alcántara ...
Já nao citaria o Frei Manoel de Sant'Ana Cata-
rina, um dos poucos músicos... do século XVIII,
qUE:se tornou figura obrigatória em quase todas as
páginas dedicadas a música em Pernambuco. De
um equívoco de Guilherme de Melo em A Música
do Brasil, cuja primeira ediC;aoé de 190B, Frei Ma-
noel passou a ser músico reverenciado pelos nossos
historiadores. Cernicchiaro, por exemplo, escreve a
respeito do pretendido músico pernambucano: "no-
me degno di nota come compositore é il frate
Manuel de S. Anna Catarina, nato a Pernambuco,
che compone le "Cinque parole della Madonna"
(Storia della Musica nel Brasile, p. 95). Padre José
Geraldo de Souza, em SE:U estudo "História da Com-
16

posi~o Sacro-Musical no Brasil", coloca, entre "Al-


guns nomes dignos de lembrados" o "Frei Manuel
de Santa Catarina (Pernambuco) pelas suas "Cinco
palavras de Nossa Senhora". Ora, por ésses dois au-
tores, ve-se que até o título da obra do músico per-
nambucano (!) vem mal citado. Guilherme de
Melo assim grafou o título da obra: "Suave harmo-
nia sobre cinco vozes que sao as cinco palavras que
falou Nossa Senhora". O equívoco do Guilherme de
Melo comeeou, ao que me parece, pelas duas prí-
meiras palavras do título citado: "Suave harmonia".
Logo, obra musical, teria concluido o nosso estudio-
so. Sebastiao V. Galváo dirá por sua vez, falando
do Frei Manoel: "De seus sermóes e de outros escri-
tos apenas podemos citar: "Suave harmonia sóbre
as cinco vozes ou palavras de N. Senhora". Con-
fesso que nada encontrei a favor do músico ... Frei
Manoel. Nem em Loreto Couto, nem no cronista
autor "Das Memórias históricas dos ilustres arce-
bispos e bispos ... " (1724), que nos assegura que
Frei Manoel "compuzera um livro em quarto, que
conservava manuscrito Bernardo Cantanheda Ra-
poso, o título do qual é: Suave Armonia sóbre cinco
vozes, ou palavras que falou Maria Santíssima Nos-
sa Senhora", nem Pereira da Costa, nem Frei André
Prat, nem Sacramento Blake. A obra tida como mu-
sical, deve ser - ou devia ser - urna colecáo de
sermñes, com toda a probabilidade, pois grande pre-
gador ele foi. Aliás, bastaria atentar o título todo,
e nao apenas as duas primeiras palavras, para ao
menos se colocar em dúvída a natureza da obra.
Conclusáo: rísque-se o nome do músico pernambu-
cano (!) Frei Manoel de Sant'Ana Catarina de nos-
sos estudos sobre a música do Brasil.

Recife, julho de 1968


I - PADRE INACIO RIBEIRO NólA
PADRE INACIO RIBEIRO NOIA

Grande figura de sacerdote e de músico. Segun-


do Loreto Couto, que é seu contemporáneo, Inácio
Ribeiro Nóia nasceu no Recife em 5 de outubro de
1688, sendo filho de Martinho Ribeiro e Joana da
Silva (1).
Estudou no Recife, concluindo depois o seu cur-
so em Olinda. Mostrou sempre, no tempo de estu-
dante, grande modéstia, apesar da "viveza do seu
engenho". Atingido o sacerdócio - presbítero do
hábito de S. Pedro - viveu-o exemplarmente, du-

1) - Cf. D. Domingos do Loreto Couto - "Desagravos


do Brasil e Glórias de Pernambuco", ed. Bibl.
Nacional, p. 371.
Pereira da Costa - "Anais Pernambucanos",
vol. VI, p. 166 - nao duvidou do lugar de
nascimento do Nóia: o Recife. Descobri, en-
tretanto, urna voz discordante, embora nao
possivelmente a verdadeira. Vem da segun-
da metade do século XVIII: afirma José
Mazza que Ribeiro Nóia é "natural do Cabo",
em sua obra "Dicionário Biogr. de Músicos
Portugueses" (ed. do Padre Alegria, p. 27).
No momento nao disponho de subsídios para
a solucáo do problema que aqui se levanta.
Contudo, diante dos doís informes setecen-
tistas, inclino-me a pensar que Loreto Couto
é quem tem a melhor parte, por ser seu
contemporáneo, residindo ambos no Recife.
20

rante sua larga existencia, vindo a falecer com quase


oitenta e cinco anos, em 20 de abril de 1773 (2).
Ordenou-se padre possívelmente entre 1712 e
1714. Já em janeiro de 1715 ele é, documentada-
mente, sacerdote, pois o ano em que ingressa na
é

Irmandade de S. Pedro, cujo termo de entrada aqui


se revela:

"Aos 20 do mes de [aneíro de 715 se


assentou por Irmáo nesta santa Irman-
dade do Senhor S. Pedro o Pe. Inácio
Ribeiro Nóia o qual se sujeitou a guar-
dar as obrígacñes do Compromisso, que
nele há. Recife 20 do mes de Janeiro de
1715 e deu de entrada quatro mil reis e
seiscentos e quarenta reis pagando a li-
bra de Cera a dínheíro e eu o Padre José

2) - Pereira da Costa desconhecia a data do faleci-


mento do Padre Ribeiro Nóia. Nada acres-
centou aos dados fornecidos por Loreto
Couto, até portanto 1757. Ao que sei, foi
Fernando Pio quem deu, em primeira máo,
a referida data, sem revelar a fonte, em sua
monografía "Notícia Hist. e Sentimental da
Igrejinha de N. S. da Boa Viagern", p. 65.
Antes porém de conhecer a obra do F. Pío,
eu já havia encontrado em duas fontes a
data de morte do nosso Ribeiro Nóia: a)
Livro de R. e Despesa da Matriz da Boa
Viagem (1806-1840),fl. 97: "faleceu aos vinte
de Abril de 1773o Rdo. Inácio Ribeiro Nóia";
b) Livro de Assentamentos de Irmáos Pro-
fessos (N° 154), da Ordem Terceira do Car-
mo, Recife, fl, 171.
3) - Cf. Livro de Assentos dos Irmáos do Senhor S.
Pedro da Irmandade Nova, instituída na ma-
21

Gomes de ( ... ) " . Ao lado: "Faleceu, e


se lhe fizeram os sufrágios" (3).
Em 29 de junho de 1738, o Padre Nóia eleito é

zelador da Irmandade de S. Pedro, a cuja reuníác


ele estéve presente porquanto a sua assinatura
acompanha o próprio "Termo de Eleic;ao de Escri-
váo e mais Irmños da Mesa e oficiais" (4.) No
"Termo de Aceítacáo", datado de 12 de julho de
1738, assina-se do seguinte modo: "O pe. Inácío
Ribeiro Nóia, Zelador" (5). Já no fim do seu man-
dato, como zelador, recebe a incumbencia de redígír
o termo da eleícáo do "novo Provedor", o que se
deu no dia 26 de junho de 1739. No final do mes-
mo termo le-se: "e eu o Padre Inácio Ribeiro Nóia
zelador maís velho o fiz e escrevi" (6). O mesmo
acontece quando da eleícáo dos mais mesários da
Irmandade de S. Pedro, isto no dia 28 de junho
é

de 1739 (7).
Em 26 de junho de 1740, o Padre Nóia foi um
dos cinco Irmáos escolhidos como "Eleitores", "os
quais tomaram a juramento dos Santos Evangelhos
em um livro da máo do Rdo. Provedor debaixo do
qual se obrigaram a fazer a eleícáo do nosso Preve-
dor da nossa Venerável Irmandade para maior au-
mento e conservacáo dela" (8).
Em 28 de junho de 1743, Padre Inácio Ribeiro
Nóía - citado como Padre Mestre - foi escolhído

triz do Corpo Santo (s. XVIII-XIX). Náo


cito a fólha porque o"livro náo oferece con-
dicóes ,
4) - . Cf. Livro de Eleieées e Gastos (1735-71) da Irm.
de S. Pedro dos Clérigos, Recife, fls. 12 e
12 v.
5) - Idem, idem, fl. 13.
6) - Idem, idem, fls. 13 e 13v.
7) - Idem, idem, fl, 14.
8) - Idem, idem, fl. 15v.
22

para ser um dos "írmáos da mesa" da mesma ir-


mandad e (9).
No ano compromissal de 1743-44,ele deve ter
tomado parte na admínístracáo da Irmandade de
S. PEdro, pois segundo o "Termo da esmola que se
tirou pelos Irmáos da Mesa... " em 1743, consta o
nome dele:
"O Rdo. Pe. Mestre Inácio Ribeiro
Nóia p. 8$000" (10).
Ainda é mesárío eleito para o ano de 1745-46
(11) .
Finalmente atingiu o pósto máximo da Irman-
dade de S. Pedro: foí Provedor de 1754a 1755 (12).
Na segunda metade do século XVIII, José Mazza
esbocou o retrato do Padre Mestre Ríbeíro Nóia em
dizendo que ele era "homem douto em Filosofía,
Teología, e outras admiráveis faculdades sendo taro-
bém multo douto em Música [ .... ] tocou muito
bem Arpa e Viola, e fez discretamente bem versos,
Latinos e Portugueses" (13). O cronista pernam-
bucano, Loreto Couto, aviva os traeos do retrato
do Mazza, embora seja, com certeza, anterior ao
escritor de Portugal. Escreve Loreto Couto: "É
multo douto na teología moral, na qual consul- é

tado frequentemente, sendo sempre o seu voto fun-


dado na mais sólida doutrina. É excelente músico,
e tangedor de todo genero de instrumentos, de tal

9) - Idem, idem, fl. 25.


10) - Idem, idem, fl. 27.
11) - Idem, idem: A eleicáo se deu no dia 28 de junho de
1745, segundo o "Termo de Eleic;áo de Escriváo e
mais Irmáos da Mesa", fr. 32.
12) - Cf. Fernando Pio - "Resumo hist. da Igr. de S.
Pedro dos Clérigos do Recife", Rev. Arquivos, 1942,
Recife, p. 141.
13) - José Mazza - "Dic. Biogr. de Músicos Portugueses",
p. 27.
23

sorte que compñe a letra, e posta por ele em solfa


a canta com boa voz, suma graea, e destreza. Na
metríñcacáo por versos latinos, e vulgares é exce-
lente. Tem composto muitas obras musicais e
poéticas das quais tem saido a luz:
Glosa ao mote em louvor a S. Gon-
calo Garcia. Soneto a assunto particu-
lar, ao mesmo intento. Epigrama verti-
do em um soneto, que vem impresso na
suma triunfal de Sotério da Silva Ri-
beíro ... " (14).
Jaboatáo, segundo Pereíra da Costa, diz que o
Padre Inácio Ribeiro Nóia era notoriamente conhe-
cido pelo melhor e mais perito mestre da arte do
Contraponto, e em tudo mestre na arte da música.
E acrescenta o mestre Pereira da Costa: "No seu
tempo foi o diretor de orquestra de mais momeada,
e o mais afamado compositor; mas do grande nú-
mero de suas composíeñes, de todo genero, nada
absolutamente resta" (15). Nada nos resta, nem
mesmo a notícia de alguma obra escrita por ele -
uma ladainha, urna missa, um moteto, que certa-
mente compós como grande compositor e acatado
Mestre de Capela.
Mazza nos informa que o padre-músico "foi

14) - Loreto Couto - Op , cít., pp. 371-72.


Pereira da Costa cita parte do texto acima trans-
crito que nao concorda com o texto da ed.
por mim compulsada, que é a da Bibl. Na-
cional. Cf. "Anais Pernambucanos", VI,
p. 167.
Fr. Ant. da Santa Maria Jaboatáo, em seu "Novo
Orbe Seráfico", informa que o autor da
Suma Triunfal nao é Sotério da Silva (pseu-
dónimo), mas Fr. Manoel da Madre de Deus.
15) - Cf. Pereira da Costa - "Anais Pernambucanos",
VI, 1. cit.
24

Mestre da Capela em S. Antonio do Recife de Per-


nambuco". Valiosa contríbuícáo, apesar de bastan-
te vaga. Teria sido o Mestre da música da Matriz
de S. Antonio? Nao consta. E se tomarmos ero
consíderacáo a data em que a referida Matriz se
inaugurou, levando em conta a idade que o Nóia
teria na ocasíáo, a probalidade é mínima a respeí-
too Mínima, sim, mas nao desprezível de todo. O
Padre Nóia víverá depois de inaugurada a Igreja
de S. Antonio ainda uns vinte anos. Acrescente-se
que ele residiu no bairro de S. Antonio, durante boa
parte de sua vida. Mas, José Mazza pensa, certa-
mente, no bairro de S. AntOnio. Assim sendo, pos-
so contribuir com alguns informes corroborativos:
a) No mais antigo manuscrito da Irmandade
de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos,
no baírro de S. Antonio do Recife, encontro alguma
índícacáo sobre a atividade musical do Padre Mes-
tre Inácio Ríbeíro Nóia. O manuscrito abranje o
período de 1674 a 1726. A primeira anotacáo refe-
rente ao nosso músico, demonstra que o Nóia [á era
Mestre de Capela em 1718:
"Por dinheiro que dei ao Padre Mestre
Inácio Ribeiro da Musiqua (sic) do Natal
1$920".
A parte musical da festa da Coroacáo, em outu-
bro de 1723, da mesma irmandade, estéve sob a res-
ponsabilidade do Padre Nóia:
"Pela música ao Rdo. Padre Inácio Ribei-
ro 14$000".
Em 1725, pela música da festa de N. Senhora
do Rosário, ele recebeu a significativa quantia de
16$000 (dezesseís mil réis) (16) .
b) O Padre Inácio Ríbeíro Nóia trabalhou co-
mo Mestre de Capela para a Ordem Terceira de S.

16) - Robert C. Smith - "Décadas do Rosário dos Pre-


tos", rey. Arquivos (1945-51), Recife, p. 154.
25

Francisco do Recife, durante alguns anos. O Livro


20 de Receita e Despesa (1730-1742) do Arquivo da
mesma Ordem dá-nos íntormacóes preciosas, que
aqui váo reveladas em primeira máo , A primeira
anotacáo assegura a presenca do Padre Nóia na
famosa procíssáo de cínza, que a Ordem Terceira
de S. Francisco realizava anualmente com um apa-
rato fora do comum. A música ocupava um lugar
de extraordinário destaque na referida procíssáo.
Basta dizer que chegou a ostentar 9 (nove) coros
na primeira metade do século XVIII. Em 1733, o
Padre Nóia organizou, provávelmente ensaiou e di-
rigiu os vários coros da procíssáo de cinza: "pelo
que se pagou ao R. Pe. Inácio Ribeiro da Música
40$000" (fl, 23). Logo depois, no mesmo ano, dirige
a música da procíssáo de entérro, na semana san-
ta: "pelo que se deu ao R. Pe. Inácio Ribeiro, da
música da procíssáo do enterró 8$000" (fl. 23 v.) .
Nos dois anos seguíntes, pelo menos, o Padre-
mestre estará servindo a Ordem Terceira de S. Fran-
cisco. Revelo, sem qualquer comentário, a docu-
mentacáo existente a respeito:
1734 - Procíssáo de cinza:
"Pelo que se deu ao Reveren-
do Padre Inácio Ribeiro de 9 co-
ros de Música 40$000" (fI. 31.)
- Procíssáo de entérro:
"Pelo que se deu ao R. P. Iná-
cio Ribeiro da Música 8$000"
(fl.31) .
1735 - Procíssáo de cinza:
"Pelo que se pagou ao R. P .
Ináeío Ribeiro por nove coros de
Música 40$000" (fI. 39).
- Procíssáo de entérro:
"Pelo que se pagou ao Padre
Inácio Ribeiro pela música
8$000" (fl. 39v.) .
c) O Padre-mestre andou também pela Igre-
26

ja de S. José do Ribamar. Em 1736, foi ele o Mes-


tre de Capela contratado para a testa do padroei-
ro, a fim de dirigir a parte musical da missa
cantada:
"Pela música ao Reverendo Padre
Mestre Inácio Ribeiro 4$000" (17).
d) É porém na Igreja de S. Pedro dos Cléri-
gos do Recife que se pode buscar urna melhor vísáo
da atividade do nosso Mestre de Capela. Durante
vários anos - e possívelmente muito mais do que
se pode documentar - Ribeiro Nóia estéve dirigin-
do a parte musical das festas de S. Pedro Apóstolo
do Recife. Revelemos as fontes documentais a res-
peito:
Em 1741, entre os "Gastos feitos com a festa
(- de S. Pedro) e ofícios pelos Procu-
radores", há o seguinte lancamento:
"Pela Música ao Mestre Inácio 8$000".
Em 1745:
"Por dinheiro que deu ao Reve-
rendo Padre Mestre Inácio Ribeiro
pela Música: 12$000".
Em 1747:
"Por dinheiro que deu ao Reve-
rendo Padre Mestre Inácio Ribeiro
Nóia pela música da festa: 12$000".
Por dinheiro que deu ao dito pela
Música do Ofício Geral: 12$000".
Em 1748:
"Por dinheiro ao Padre Mestre
Inácio da música no día do Santo:
6$000".
Em 1750:
"Por dinheiro ao Padre mestre
Inácio Ribeiro Nóia da música: 12$000".
Em 1751:

17) - Cf. Livro de Receita e Despesa (c. 1733-84), fl. 4.


Arquivo da Irm. de S. José de Ribamar).
27

"Por dínheíro ao Padre Inácio Ri-


beiro da Música: 12$000".
Em 1752:
"Por dinheiro ao Padre Mestre Iná-
cio Ribeiro Nóia da música: 12$000".
Em 1753:
" ... ao Padre Mestre da Capela:
12$960" (18).

No ano de 1730, vamos encontrar o Padre Nóia


em atividades na Capelínha da Boa Viagem, inclu-
sive já a essa altura gozando do título de Mestre
de Capela. É o que revela o título de um sermáo
impresso que foi recitado pelo franciscano Frei An-
tonio de Santa Maria Jaboatáo, na festa de S. José
que alí se realizou:

"Bermáo na Igreja da Boa Viagem,


na praia da Candelária, fazendo a festa
anual o Reverendíssimo Inácio Ribeiro
Nóía, mestre da Capela, no ano de
1730" (19).

Da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem,


segundo Fernando Pio, Ribeiro Nóia foi o segundo
administrador, e diga-se em acréscímo, zeloso e
apostólico administrador, sendo depois considerado
bemfeítor da dita capela. O seu grande empenho
mereceu louvor do Visitador, padre dr. Félix Ma-
chado Freire, no termo lavrado ao tempo de sua

18) - Cf. Livro de Elei~áo e Gastos (1735-71) da Irm. de


S. Pedro dos Clérigos, Recife, fls. 20, 30, 39, 44, 47,
53 v., 57 e 62 v .
19) - Apud Fernando Pio - "Noticia Hist. e Sentimen-
tal da Igrejinha de N.S. da Boa Viagem", Recife,
Imprensa Universitária, p. 17.
28

visita a mesma igrejinha, sendo datado de 3 de no-


vembro de 1745 (20).
Vale a pena transcrever um documento que me
parece inédito, porque de seu conteúdo se apreende
o modelar espíríto sacerdotal do grande Padre Mes-
tre Ribeiro Nóia. Espírito sacerdotal que animava
tóda a sua atividade apostólica e social. O docu-
mento, que aqui se publica, a cópia manuscrita
é

da "Verba testamentária", feita "fielmente" por


Lopes Rosa em [aneíro de 1826, que a retirou do
Livro 41 do Cartório da Provedoria. A cópía per-
tence ao Livro de' Receita e Despesa de 1806 a 1840,
da Matriz da Boa Viagem (fls. 97 e 97 v.) .
"Cópia da yerba Testamentária com
que íaleceu aos 20 de Abril de 1773 o Rdo.
Inácio Ribeiro Nóia, a qual se acha re...
gistrada a folhas 14 verso do Livro 41 de
semelhantes no Cartório da Provedoria
cujo teor é o seguínte: Declaro que sen-
do administrador da Capela de Nossa Se-
nhora da Boa-Viagem da Barreta, achan-
do a dita Igreja sem paramentos senáo
também prata da lampada, e Cálice, vá-
rías obras de pedras, e Cal, entalha, e
várias perfeíeóes miudas de tóda a obra,
e fiz juntamente 11 moradas de Casas de
pedra, e barro para o cómodo dos Romei-

20) - Livro de Receita e Despesa da Matriz da Boa Via-


gem (1743-805), fls. 45-45v.: O Visitador "achou
tudo com muito aceio e com grande aumento, de
que louvou muito ao Rvdo, administrador e ao Ben-
feitor Licenciado Inácio Ribeiro Nóia, aos quais es-
pera continuem com o mesmo zélo, do qual rece-
beram a atribuicáo de Deus por intercessáo da mes-
ma Senhora ... " O Administrador, desde novembro
de 1743, era o Padre Luiz Marques Teixeira, subs-
tituto imediato do Padre Hibeiro Nóia.
29

ros, e devotos da Senhora, que a sua de-


vocacáo levava áquele lugar, e sem outro
intento mais, que o aumento da dita
Capela, frequéneía de Povo, e fervor dos
devotos, satisfazendo-me sómente com o
domínio, e admínístracáo das ditas Ca-
sas, e mais obras, para as aplicar a meu
arbítrio a quem me parecer, ainda que
eu lograsse por vontade a admínístracño
da Capela; porém como veio julgado da
Relaeáo da Bahia pertencerem as ditas
Casas a Capela por serem fabricadas em
terras suas; ficando o direito reservado
para cobrar da dita Capela os gastos que
fiz com as ditas Casas; de todo ésse, 9U
outro qualquer direito, que para isso ti-
ver cedo, e desisto, e de mim desmito to-
do ésse direito, e aparto voluntariamen-
te porque désse me nao quero valer em
tempo algum, por mim nem meus [her-
deiros], poís nada fiz eom animo de me
utilizar de ínterésse algum temporal, só
sim espiritual, que de Deus, e de sua San-
tíssima Mae espero, porém no dito lugar
fiz outra morada de Casa além das 11,
sobre a qual nunca houve contenda a
qual fiz no tempo do primeiro adminis-
trador o Padre Leandro Camello, na qual
costumava eu assistir, e hoje sao da mi-
nha Sobrinha D. Francisca de Azevedo,
a cuja minha Sobrinha fiz doacáo da dita
morada de Casa para ela, e seus herdeí-
ros, e se necessário é gratifico a dita doa-
<;ao para que a dita, e seus herdeíros a
logrem como suas que sao, e ficam sendo.
O narrado foi por mím administrador da
Capela de Nossa Senhora da Boa-Viagem
bem, e fielmente copiado daquele referi-
do Livro 41. Recife 11 de Janeiro de 1826.
José Lopes Rosa, Administrador".
30

Em 19 de setembro de 1745 - um domingo


feito de poesías e sons musicais espalhados no cen-
tro do Recife - o nosso padre-músico toma parte
numa sessáo académica, desta feita como padre-
poeta, que se celebrou no Recife, em honra de S.
Goncalo, cuja írmandade se instalava solenemente
na Igreja do Livramento. Ignoro a razáo por que
Pereira da Costa data a festa como sendo realizada
em 15 de setembro. Credo tratar-se de um equívoco
do mestre pernambucano.
A Academia realízou-se no saláo de um prédio,
na rua do Livramento, "com toda a grandeza e tao
científica; como engenhosa", onde "alternativamen-
te vários coros de Música" louvavam o Santo. Na
porta do mesmo prédio "tocavam com a melhor har-
monia charamelas, trompas, atabales e trombetas".
No saláo, sedas e demascos.
o padre Dr. José Correia de Melo abriu a ses-
sao com uma oracáo em versos. O Padre Doutor
Inácio Ribeiro Nóia foi o primeiro a recitar os seus
versos, que glosavam um dado Mote Geral e que era
o seguínte:
Foi Goncalo de Jesus
Tao perfeito imitador
Que acabou por seu amor
Também com morte de Cruz.
Eis a Glosa que Ribeiro Nóia declamou:

Com vínculo tao estreito


Une o amor aos amantes
Que ainda em extremos distantes
De dois forma um só sujeito.
Em Gon~alo tao perfeito
31

Amor com Deus se introduz


Que ambos este a um s6 reduz
De tal sorte, que em amá-lo
Sendo Jesus de Gonealo
Foi Goncalo de Jesus.
II

Foi de Jesus em tomar


Sobre si da Cruz o peso,
E no constante despreso,
Com que ao mundo quiz deixar.
Foi de Jesus em abracar
Dos tormentos o rigor,
Os quais com tanto valor
Quiz por Jesus padecer,
Para dele vir a ser
Tao perfeito imitador.
III

A fineza mais sabida,


Que obra o amor mais requintado,
É que o amante pelo amado
Chegue a dar a pr6pria vida.
Desta fineza a medida
Tomou com todo o primor
Goncalo, querendo expor
Por Jesus o peito a morte;
Porque o amava de tal sorte,
Que acabou por seu amor.

IV
A impulsos da tirania
Acabou da Cruz nos bracos,
Com quem com breves passos
O curso ao Céu dirigia.
Quiz também por esta via
32

Em que o seu amor mais luz


Imitar ao seu Jesus,
Para nos dar a entender
Que por ele quiz morrer
Também com morte de Cruz.
Após a primeira parte da Academia, seguiu-se
um momento chamado "Assunto particular" em
que se recitaram Oitavas, Décimas e Sonetos. O
Padre Nóia inicia o assunto particular com um
Soneto de sua lavra:

Como lente de Prima jubilado


Para ensinar, da Cruz sobe a Cadeira
Gonealo; e sendo que era a vez primeira
Ficou logo por Mestre laureado.
Da Matéria de Fide era o Tratado
E aos Japóes a explanou de tal maneira,
Que ensinando até a hora derradeíra;
Quiz fazer para os Céus exame ad grado.
Que morressem por quem ele morria
Era o que Goncalo postilava.
E o mesmo que ditava, isso seguia
E quem duvida que a ligao, que dava
A Crístáos mais rebeldes moveria,
Se a doutrina c'o exemplo confirmava?
Na parte final - Louvores ao Presidente -
ainda é o Padre Mestre Rlbeíro Nóia quem apre-
senta, em primeiro lugar, antes de outros ilustres
artistas da época, um Epigrama em latim que as-
sim se abre:
Non pauci arrecti mentes Josephe
[stupebunt,
Cum Gundisalvi carmine facta canas;
33

Ardua quippe nimis si res est sermo


[solutus,
Quid, bene perspectis, sumo ligatus erit!
............... °.° .

Em seguida apresentou a versáo do epigrama


em forma de Soneto. EHo:
A muitos com razáo nao mal fundada
Vossa oracáo José, grata, e jucunda
suspensáo causará, nao só por funda
Senáo por ser em verso decantada;
Porqué se a oracáo solta regulada,
Pelos preceitos da Arte, que se funda,
Se-faz dificultosa, por facunda,
Quanto mais se rará, sendo ligada?
Mas a mím nao me causa admíracáo,
Que muito pronto sejais na Poesia;
Pois com ela tem tanta conexáo
o vosso nome, e é tal sua energía,
Que se estás por Correa a oracáo,
Como Mello lhe dás: a melodia. (21).
A devocáo do Padre Ribeiro N óía por Nossa
Senhora levou-o a entrar na Ordem Terceira do
Carmo do Recite, ainda muito [ovem, possívelmen-
te antes de 1717, ano em que ele [á é írmáo profes-
so, segundo esta notícia inédita:

21) - As ínformacóes sobre a Academia, e as poesias trans-


critas foram retiradas da obra: Summa Triunfal da
nova e grande celebridade do glorioso e invicto
martyr Sáo Gon~alo Garcia, Rev. do Inst. Hist. e
Georgr. Brasileiro, Tomo 99, vol. 153, Rio, Imp.
Nacional, 1928. A Suma Triunfal foi escrita no
Recife em 1745, e impressa ero Lisboa ero 1753.
34

"O Irmáo o Padre Inácio Ribeiro Nóia


professou em 1717 tem pago até o ano
1771" (22).

Em 1761, por proposta do Procurador da refe-


rida Ordem, Irmáo Manoel de Lima MEIlo e Albu-
querque, a Mesa reunida concedeu através do voto
unánime "duas capelas de missas", por alma de
D. Maria da Fonseca, ao Padre Inácio Ribeiro Nóia.
No Testamento de D. Maria havia a exígéncía de
que, com a morte do Padre Domingos de Oliveira
Monteiro, que tinha a obrígacáo de rezar as ditas
missas, o sacerdote substituto devia ser "de vida
exemplar, e. bons costumes e que assim, dizia o Pro-
curador, podia esta Venerável Mesa dar atencáo
declarada das referidas duas capelas de Missas ao
Irmáo Sacerdote que entre todos melhor se. distin-
guisse". E foi assim que o Irmáo Prior e demais
Irmáos de Mesa "votaram todos se desse as duas
capelas de Missas ao R. Ir. Inácio Ribeiro Nóia ... "
(23) .
Corno[á disse, Ribeíro Nóia muito provávelmen-
te residiu no bairro de S. Antonio durante grande
parte de sua vida. Verdadeiramente aí morava,
quando de sua entrada na Irmandade de N. Se-
nhora da Conceícáo dos Mílítares, no Recife, o que
ocorreu aos 3 de abril de 1758 (24).
Em 10 de outubro de 1751, no consistório da
Ordem Terceira do Carmo, presentes o Irmáo Prior
Henrique Alvares e outros írmáos da Mesa, o Padre
Ribeiro Nóia fez a entrega de "trinta e dois mil réís

22) - Livro de Assentos de Irmáos Professos (N° 154) da


Ordem 3a. do Carmo do Recife, fI. 171.
23) - Cf. Livro de Termos n? 2 da Ordem 3a. do Carmo,
fl . 108.
24) - Cf. Livro de Entrada de Irmáos (desde 1725), da
referida Irmandade, fl , 64v.
35

em dínheíro de contado" para que a Venerável Or-


dem mandasse celebrar "missas de corpo presente
quando falecesse". Acontece que 20 anos depois,
aos 16 de setembro de 1771, a grande figura de pa-
dre, de músico; de teólogo e de poeta que foi o Pa-
dre Nóía, nessa ocasíáo com mais de 80 anos, pas-
saya por tamanhas díñculdades que se viu obrigado
- e ésse epísódío tem muito de comovente - a re-
correr a referida corporacáo, encamínhando "urna
petíeéo [ ... ] em a qual pedia que por se achar sem
dínheíro para se poder alimentar quería esta Vene-
rável ordem lhe entregasse os trinta e dois mil reis
que o mesmo tinha dado para se lhe dizerem em
missas de corpo presente quando falecesse [ .... ] e
com efeito se entregou a quantia de trinta e dois
mil réís ao nosso Irmáo Procurador", a fimode que
fósse restituido ao pobre do Padre Mestre Inácio
Ribeiro Nóia, o qual "passou recibo ao pé da mes-
ma petícño" (25).

25) - Cf. Livro de Termos nO 2, Ordem 3a. do Carmo,


fls. 72 (82) e 145 (155).
CRONOLOGIA DO PADRE INACIO RIBEIRO NOIA

1688 - 5-X Nasceno Recife,segundoLoreto Couto.


c. 1712-14 Recebe a ordenacáo sacerdotal.
1715 - 20-1 Ingressa na Irmandade de S. Pedro,
Recife.
c. 1716 Entra na Ordem Terceira do Carmo,
Recife.
1717 Professa na mesma Ordem.
1718 Bege a música da missa do Natal, na
Igreía da Irmandade do Rosário dos
Pretos, Recife.
1724 Dirige a parte musical da missa da
coroacáo dos reis e rainhas da Irman-
dade do Rosário dos Pretos.
1725 lf: responsável pela Música da Festa
da Irm , de N.S. do Rosário dos Ho-
mens Pretos.
1730 Faz a festa de S. José na Capela da
Boa Viagem.
1733 a 1735 Mestre de Capela da Ordem Terceira
de S. Francisco do Recife.
1736 - 19-III Dirige a parte musical da Festa de S.
José do Ribamar.
1738 - 29-V1 Eleito Zelador da 1rmandade de S.
Pedro.
- 12-VII- Aceita oficialmente o mesmo cargo.
1739 1: escriváo ad hoc de duas eleíeñes rea-
lizadas pela Irm , de S. Pedro, a 26 e
28 de junho.
1740 - 26-V1 - 1: escolhido como um dos "eleitores"
para fazer o Provedor da Irm. de S.
Pedro.
1740-43 Durante este período é Administrador
da Capela da Boa Viagem.
38

1741 A música da Festa de S. Pedro foí-lhe


confiada.
1743 - 28-VI - Eleito mesário da Irm. de S. Pedro
para o ano de 1743-44.
1745 Recebe doze mil réis pela música da
Festa de S. Pedro dos Clérigos do Re-
cife.
1745-46 Foi mesário da Irm. de S. Pedro.
1747-48 Dirige a música das Festas da Irm. de
S. Pedro.
1747-49 Neste período, doou a Capela da Boa
Viagem "a conta dos 100 mil réis" ,
urna Custódia, um Relicário e Sacras
douradas . Deu ainda 3 toalhas de
renda.
1750-53 Durante 4 anos, é o diretor da música
das Festas de S. Pedro, no Recife.
1751 - 10-X Faz entrega no Consistório da Ordem
Terceira do Carmo de 32$000para que
se celebrem missas de corpo presente
quando ele falecer.
1753 Sao publicados em Lisboa, através da
Suma Triunfal, 2 Sonetos, urna Glosa
a S. Goncalo e um Epigrama em la-
tim, únicas obras de sua autoría que
se conservam.
1754-55 É Provedor da Irm. de S. Pedro.
1758 - 13-IV Entra na Irm. de N. S. da Conceicáo
dos Militares, Recife. Nesse tempo,
residia no bairro de S. Antonio.
1761 A Mesa da Ordem 3a. do Carmo, por
votacáo, escolheu o Padre Nóia para
celebrar 2 capelas de missas .
1771 - 16-IX - Está necessitado de dinheiro para se
alimentar. Pede - e consegue - que
a Ordem 3a. do Carmo lhe restitua a
quantia que ele havia entregue em 751.
1772 É eleito mordomo da Irm. de N. S.
do Livramento.
1773 - 20-IV Falece no Recife.
BmLIOGRAFIA

a) Impressos

ALMEIDA, Renato - História da Música Brasileira, 2a. ed.,


Rio, F. Briguiet & Cia., 1942.

CERNICCHIARO,Vicenzo - Storia della Musica nel Brasi-


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CORB1:AAZEVEDO,Luiz Heitor - 150 Anos de Música no
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SOUZA, Pe. J. Geraldo de - "História da ComposiQáo Sacro-


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so e invicto martyr Sáo GonQalo Garcla, Rev. do Inst.
Hist. e Geogr. Bras., Tomo 99, vol. 153, Rio, Impr. Na-
cional, 1928.

VIEIRA, Ernesto - Dicionário dos Músicos Portulfueses, 2


vols., Lisboa, Tip. Mattos Moreira & Pinheiro, 1900.

b) Inéditos

Livro de Receita e Despesa da Irmandade de S. José do Ri-


bamar (c. 1733-84).

Livro de Assentos dos Irmáos do Senhor S. Pedro da Irman-


dade Nova, instituida na matriz do Corpo Santo (s,
XVIII-XIX).
Llvro de ElelQóes e Gastos 0735-71) da Irmandade de S. Pe-
dro dos Clérigos do Recife.

Livro de Entrada de Irmáos (desde 1725) da Irmandade de N.


Senhora da Conceícáo dos Militares do Recife.

Livro de Receita e Despesa da Matriz da Boa Vlagem (1806-


1840).

Livro de Receita e Despesa da Matriz da Boa Vlagem (1743-


1805).

Livro de Assentamentos de Irmios Professos (n? 154) da Or-


dem Terceira do Carmo do Recife.

Livro de Termos nO 2 da Ordem Tercelra do Carmo.

Livro 2° de Receita e Despesa (1730-1742) da Ordem 3a. de S.


Francisco do Recife.

Livro de Receita e Despesa 0674-1726) da Irmandade de N.


Senhora do Rosário dos Pretos de Recife.
11 - LUIZ ALVARES PINTO
LUIZ ALVARES PINTO

Luiz Alvares Pinto, filho de Basilio Alvares Pin-


to e Euzébia Maria de Oliveira, nascido em 1719, é
"natural da Villa de Santo Antonio €:m o Recife de
Paranambuco". (1)

Homem pardo, como seus pais, desde cedo de-


monstrou pendores para a música. Ao tempo em
que comeca a estudar o Latim, a Retórica e a Filo-
sofia, ele também se inicia no reino da Música, "em
cuja arte se lhe admiravam os prenúncios de um
genio luminoso".

Quando concluídos os estudos preparatórios, os


seus amigos e protetores empenharam-se em mandá-
lo a Portugal a fim de estudar "príncípalmente mú-

1) - Antonio Joaquim de Mello - "Biographias ...


"Recife, Tip. de Manoel Figueiroa de Faria & Fi-
lho, 1895. Foi anteriormente publicada a biogra-
fia de L. A. Pinto, no Diário de Pernambuco, ed.
de 7 de margo de 1854. A. J. de Mello, como Pe-
reira da Costa, ambos afirmam que o compositor
pernambucano nasceu no bairro da Boa Vista. É
possível. No entanto a inforrnacáo por mim ado-
tada psrtence ao próprio Luiz Pinto, em sua inc
dita obra: "Arte de Solfejar". A forma usada por
ele - nao muito comum nos cronistas da época
- pode levar a outra interpretacáo: "em o Recife
de Pernambuco".
44

sica" (2). Em Lisboa, o seu professor de compo-


si~áo foi o grande contrapontista portugués, Hen-
ríque da Silva Esteves Negráo, cognominado o
"Sábio Compositor" por Francisco Inácio Solano
(c. 1720-1800). Henrique da Silva foi organista de
Loureto e na Catedral de Lisboa, conhecido como
excelente professor de órgáo e de contraponto, além
de compositor de numerosa obra. Faleceu por volta
de 1787. Náo poderia ser professor do Luiz Pinto
o famoso Marcos Portugal (1762-1830),mas o com-
positor conterráneo Euclides Fonseca o apontou
como mestre do nosso pernambucano (3).
Segundo Antonio Joaquim de Mello, o nosso
músico fez, em Lisboa, "solene exame" de contra-
ponto "com aprovacáo e louvores lisonjeiros". Em
virtude das dificuldades financeiras por que veio a
passar, o jovem mulato torna-se, na capital portu-
guesa, professor de "algumas casas nobres", além
de tocar violoncelo,compor e até virar copista, com
o fim de poder "pErmanecer naquela grande cida-
de (gracas a regularidade de sua vidal) sem ser

2) - Deve ter partido por volta de 1740, hipótese que


me parece muito possível. Nao vejo no momen-
to qualquer possibilidade de se poder precisar a
data em que L. A. Pinto deixou Pernambuco, ou
quando chegou a Lisboa.
3) Cf. José Mazza - "Dicionário Biográfico de Mú-
sicos Portugueses", ed. do Padre J. Augusto Ale-
gria, Lisboa, Separata da Rev. "Ocidente", 1944-45,
p. 33. A respeito de Henrique da Silva, Mazza
informa o seguinte: "soube Contraponto com mui:
ta propriedade, era bem digno de ocupar huma
cadeira )desta faculdade, [ ... ] deixou grandes
Descipolos". Euclides Fonseca - "Um Século de
Vida Musical em Pernambuco", no "Livro do Nor-
deste", Recife, Of. do Diário de Pernambuco, 1925,
p. 102.
45

pesado a ninguém, e de suas economías tirou ainda


os meios para poder regressar, quando quis, a Per-
nambuco. Diz-se que "foi um dos violoncelos da
Capela Real, ou que nela tocou algumas vézes" (4).
Se essa notícia verdade.ira, entáo é lícito pensar
é

que Luiz Alvares Pinto teria ingressado na Irman-


dade de S. Cecília dos Músicos de Lisboa, a fim. de
se capacitar ao exercício da arte. Também pos- é

sível pensar que o aludido exame tenha sido reali-


zado quando de seu ingresso na referida corpora-
~ao.
Em 1906, Sílio Boccanera Júnior dizia que o
baiano José Pereira Reboueas (1789-1843), "foi o
primeiro brasileiro, dentre todos, que, por amor a
Música, se transportou a Europa para estudar e
aperteícoar-se", añrmacáo esta (apoiada posterior-
mente por Renato Almeida) que, díante do que
atrás ficou dito, deve ser desprezada como falsa (5).
Nao se conclua com isto, que Luiz Alvares Pinto
é o "primeiro" músico brasileiro de rormacáo euro-
péia. Tenho notícia de que antes do autor da Arte
de Solfejar, um outro pernambucano - e este do
século XVII - de nome Francisco ROd;'!'igues· Pen-
teado havia estudado em Portugal, a mandado de
seu paí. Voltando ao Brasil, trabalhou no Rio de
Janeiro e, finalmente radicou-se em S. Paulo aonde
veio a fale.cer em 1673.
Nada se pode precisar a resneíto do ano em Que
voltou o nosso músico a Pernambuco. Com certeza,
casado já com Ana Maria da Costa, está em sua
cídade natal em 1761- o que me parece demasia-
do tarde - porque é nesta data, precisamente, que

4) Cf. A. Joaquim de Meno - Op. cit., pp. 2 e 3.


5) Cf. Silio Boccanera Junior - "O Teatro Brasilei-
ro - Letras e Artes na Bahia", Bahia, Imprensa
Económica, 1906, p. 15. Renato Almeida - "His-
tória da Música Brasileira", Rio, 1942, p. 314.
46

ele data, do Recife de Pernambuco, o seu tratado


inédito: a "Arte de Solfejar". Em documentacáo
inédita, encontro AlvaresPinto na condícáo de um
dos MordomO$da Irmandade de N. Senhora do
Livramento do Recife,em '1762,"anno de 1762para
o anno de 1763"'(6). Admito a possibilidadede já
antes desta época, o nosso músico ter sido Mestre
de Capela na igreja da mencionada irmandade, ir-
mandade a que pertencia há [á vários anos o seu
par, Basilio Alvares Pinto; e a que pertencerá de-
pois urna das filhas do Luiz.
É sabido que, após o seu regresso de Lisboa,
L. AlvaresPinto se volta logo para o ensino da Mú-
sica, assim comopara o das primeiras letras - "pro-
fessor régío de ínstrucáo primária" - ministrando
aulas em sua residencia, a rua Estreita do Rosário.
E foi désse curso instalado em pleno centro de sua
cidade natal que saíram váríos compositorese mes-
tres de capela, que atuavam ainda nas primeiras
décadas do século XIX (7).

6) - Livro de Registro de elei~óes desde 1714 a 1796,


da Confraria de Nossa Senhora do Livramento,
Recife, fl. 63.
7) - Euclides Fonseca assevera que Alvares Pinto
abriu um curso regular de música, solfejo, canto
e alguns instrumentos, curso que manteve durante
muitos anos [ ... ] tendo grande frequéncia de
alunos. Déstes os que mais se distinguiram na
proñssáo musical foram: Marcelino Costa, Januá-
rio Tenório, Joaquim Bernardo de Mendonca, José
de Lima. Obra cit., p. 102. Por sua vez, A. l.
de Mello (Op . cit. p. 3) informa que Luiz Pinto
"viveu de ensinar primeiras letras e música, em-
pregando-se também neste ensino a meninas suaS
duas filhas maiores; ele no primeiro andar e elas
no segundo da casa de sobrados última na rua do
Rosário estreita, lado do Norte, caminhando do
47

No ano administrativo de 1766-67 da Irman-


dade de N. Senhora do Livramento, o nosso gran-
de compositor passa a ser Esertvño, e aparece no
"registro" como "Ir. Cap. am Luis Alz pinto" (sic).
Sabe-se que, quando retornou ao Recife, ele entrou
para o batalháo dos homens pardos, provávelmente
levado pelo exemplo de seu pai, que de há muito
ao referido batalháo pertencia. A notícia inédita.
revela-nos qU6, em 1766, Alvares Pinto [á era Capi-
tao do Regimento .de Milícias do Recife.
No ano seguinte (1767-68), o Capltáo Alvares
Pinto volta a ser um dos Mordomos da mesma ir-
mandade.
A 15 de novembro de 1778, dá-se a confirma-
<;ao, por patente régía, pelo Governador Conde de
Pavolíde, do alto pósto de Sargento Mor de Milícias
para o nosso Luiz Pinto, nesse pósto tendo sido re-
formado, com direito ao respectivo soldo ..
No termo das el6i<;óesda Irmandade do Livra-
mento, datado de 5 de setembro de 1779, o nosso
músico e poeta é mais urna vez Mordomo eleito,
para o ano compromissal de "1779 que acaba no
de 1780" (8).
Muito provávelmente [á em 1780 élé pertence
a Irmandade de N. Senhora de Guadelupe de OUn-

nascente a poente na <jPade do Recife. Os faleci-


dos Bispos do Maranhao, D. Frei Carlos e D. Freí
Pedro Chrysopoles, e os outros seus írmáos Padre
Felix e Frei Joaquim, o Senador D. Nuno Eugenio
de Locio e alguns de seus irmáos e em geral os
filhos das pessoas mais gradas da cidade foram
seus discípulos de primeiras letras e de música,
mencáo que fazemos nao tanto por honra como
por comprovar o tempo em que o distinto Luiz
Alves Pinto floresceu".
8) - Livro de Registro de elleillóes... já cit., fl, 84,
também 68 v e 69 v.
48

da. Levanto a hipótese em face de uma noticia des-


conhecida a respeíto de uma sua filha, Escrivá elei-
ta da Irmandade de Guadelupe em 1781-82:
"Escriva
D. Heduviges Alz' Pinto fa. do Ir.
Luiz Alvares Pinto pg." (9).
Por um documento avulso, em cujo verso o
escríváo Antonio V. do Bomfim anotou "N° 14 -
1781", ñcamos sabendo que Luiz Alvares Pinto .an-
dou dirigindo a música qUE;se fez na Festa de N.
Senhora de Guadelupe, em -Olinda, naquéle ano.
Trata-se de um recibo autógrafo do compositor per-
nambucano que eu encontrei este ano de 1968. É
de enorme importancia nao só por SE;tratar de um
autógrafo, referente a uma sua atividade - e ati-
vidade fora do Recife - como também por ser o
único até agora encontrado. Neste volume repro-
duzo o documento, E;aqui revelo o seu texto:
"Recebi do Sr. Alferes Francisco Xa-
:vier da Silva como tesoureiro da Irman-
dade de N. Senhora de Gadalupe (sic)
oito mil réis em dinheiro procedidos da
festa, que cantei na celebridade da mes-
ma Senhora. E por se me pedir este o
passei de minha letra, e sinal.
Recife, 18 de Agosto de 1781
Luiz Alz' Pinto
Sao 8$000"

9) -'- Cf. no Arquívo da Irmandade de N. Senhora de


Guadelupe de Olinda, atualmente no Mosteiro de
S. Bento: Doc. n? 3° - "Elei!)áo do Juiz, Escriváo
e mais Oficiais que háo de servir a Nossa Senhora
de Guadelupe ésse ano de 1781 que acaba no de
1782". No aludido Doc. o escrívño anotou por ex-
tenso o nome de Luiz Alvares Pinto.
49

Também em 1781, Alvares Pinto é o Juiz eleito


para a festa de Nossa Senhora do Livramento, pa-
gando 16$000 (dezesseis mil réis) de jóias. E é in-
teressante notar - e aqui anotar - que na "Elei-
c;ao de Juiz, Escríváo, e mais Oficiais que hao de
servir a N. Senhora do Livramento este presente
ano de 1781 para o de 1782", entre as Mordomas
da Irmandade, figura a filha do compositor, cujo
nome parece vir completar o que já conhecemos
pelo que foi revelado acima, com relacáo a irman-
dade de Olinda. Transcrevo o informe contido no
"Livro de Registro de elei~óes desde 1714 a 1796",
a fl. 87:
"Heduviges Fortunata de Oliveira, fi-
lha do Irmáo Luiz Alz' Pinto .... pg. 1$600".
Num Documento avulso n? 10 do Arquivo da
Irmandade de N. Senhora de Guadélupe, em Olinda,
cujo título é "Eleícáo do Juiz, Escríváo, e mais Vo-
gaes que hao de servir a Nossa Senhora de Guada-
lupe de 1782 que acaba no de 1783", o Irmáo Luíz
Alvares Pinto figura como 5° Mordomo, e sua filha
"a Ir. Eduvirgens Alz' Pinto" - como antepenúlti-
ma Mordoma.
NumIongo termo de eleícáo da Irmandade do
Livramento, quase totalmente ilegível, Luiz Pinto
vem citado como "Juiz novamente eleíto desta Ir-
mandade", termo datado de 3 de setembro de 1786.
De fato, ele é Juiz da Irmandade de N. Senhora do
Livramento no ano compromissal de 1786-87 (10).

Alvares Pinto em S. Pedro dos Clérigos


Inaugurada a Igreja de Sao Pedro dos Clérigos

10) - Livro de Registro de ellei!;oes... , fls. 92v e 94; e


ainda 97.
50

do Recife - urna das mais felízes concepcóes arquí-


tetónícas do período colonial brasileiro - cuja bén-
~ao salme se deu a 30 de janeiro de 1782, foi cria-
do o lugar de Mestre de Capela, a fim de atender
melhor as necessidades do culto divino, que come-
cava a ser celebrado de maneira regular. Para o
novo cargo foi nomeado Luíz Alvares Pinto, "artista
competente", tornando-se assim, o primeiro Mestre
de Capela do belo templo (11). Esta íntormaeáo
calcada em Pereíra da Costa, eu a adotei num tra-
balho escrito para urna revista norte-americana de
Musícología, sem que nenhuma dúvida me pertur ..
basse. Hoje, porém, já nao o faria com inteira tran-
quilidade. Que documentacáo existe em abono da
críacáo em 1782 de um lugar de Mestre de Capela
em S. Pedro? Se há, desconheco. Nao é pelo fato
de eu desconhecer a fonte informativa que teria
servido a Pereira da Costa, que eu declare falsa ou
inaceitável a ínrormaeáo do mestre pernambucano.
É porque essa críacáo de um pósto de Mestre de
Capela quase nada acrescentaria ao que já acontecia
com o "Mestre Régio" Luiz Alvares Pinto. Em verda-
de, ele já vinha exercendo a sua arte, na principal
festa da referida igreja, alguns anos antes da ínau-
guracáo do templo. Quando muito, parece, o que se
teria dado era urna conñrmacáo no nóvo cargo
criado, possívelmente pela própria Irmandade de
Sao Pedro dos Clérigos do Recife, hípótese aliás que
-eu nao vejo com muito entusiasmo.
Gracas a generosidade. do Mestre José António
Gonsalves de Mello e a colaboracáo da jovem pes-
quisadora Ivete Sultanum, consegui entrar em con-
tato com urna docurnentacáo inédita de primeira
ordem, da Irmandade de S.' Pedro dos Clérigos. Tra-
ta-se de um Livro de Termos do século XVIII, exís-

11) - Pereira da Costa - "Anais Pernambucanos", vol.


VI, pp. 163, 168, 391 e 544.
51

tente em fólhas separadas, e de difícilleitura. Trans-


creverei os termos que atestam a atividade do Mes-
tre de Capela Alvares Pinto antes e depois de 1782.
a) Termo de 1778
"Aos 7 de Maio de 1778 estando pre-
sente neste Consistório o Rdo. Provedor e
mais Irmáos da Mesa foi proposto pelo R
Provedor que se devia fazer a testa do nos-
so Santo Patriarca Sr. S.· Pedro, na forma
do Compromisso e corren do votos se assen-
tou fazer-se a festa com vésperas, no dia
antecedente, Missa Cantada com Senhor
exposto e sermáo, o qual faria o nosso Ir.
Padre Antonio Machado Portela, e também
se assentou que como a festa era feita a cus-
ta da Mesa, queria que a noite se fizesse
Matinas com música a qual faria Luís Alva-
res Pinto, e que o ... Procurador com ele
se ajustasse do melhor modo, que podesse ....
cantar a dita festa e de como assim se as-
sentou, e de (presente) mandou o Rdo. Pro-
vedor e Mesa fazer este termo, em que assi-
naram. E eu Nicolau Vaz Salgado escríváo
da Irmandade o fiz, subscrevi e assinei".
(12) .

b) Termo de 1779
"Aos 10 do mes de junho de 1779 estan-
do presente neste Consistório o R. Provedor,
e mais Irmáos da Mesa foi proposto pelo R.
Provedor que se devía fazer a festa do nos-
so Santo Padre Sr. S. Pedro na forma do
compromísso, e correndo votos se assentou

12) - Lívro de Termos da Irm. de S. Pedro dos Clérí-


gos do Recife (1717-1843), fI. 100v ,
52

fazer a festa com vésperas no dia antece-


dente, Missa Cantada com Senhor exposto
e sermáo o qual faria o R. Sr. Alexandre
Bernardino nosso Irmáo e também se as-
sentou que como a festa era a custa da Mesa
queriam que a noite se fizesse com Matinas
com música, a qual faria Luis Alz' Pinto, e
que o R. Procurador com o dito se ajustasse
do melhor modo que pudesse para cantar a
dita testa, e de como assim se assentou,
mandou o R. Provedor fazer este termo ... "
(13) .

e) Termo de 1780

"Aos 20 de abril de 1780, estando pre-


sentes neste Consistório o R. Provedor e mais
Irmáos da Mesa foi proposto pelo dito R.
Provedor que se devia fazer a festa do nos-
so Padre o Sr. S. Pedro na forma do com-
promisso, e correndo votos, se assentou fa-
zer a dita Festa com vésperas no dia ante-
cedente, Missa Cantada com Senhor expos-
to, e Bermáo, o qual faria o R. nosso Ir. Ale-
xandre Bernardino; e também se assentou,
que como a Festa era a custa da Mesa, que-
riam que se fizessem Matinas com Música,
a qual faria Luis Alz' Pinto, e se lhe devia
quarenta mil réís e como assim se assentou,
mandou o R. Provedor fazer este termo em
que se assinaram e eu Pe. Manoel Lourenco
dos Santos escríváo da Irmandade o escrevi
e assinei". (14).

13) Idem, idem, fl . 102v.


14) Idem, idem, fl , 106v.
53

d) Termo de 1783

"Aos 22 do mes de maio do ano de 1783


estando congregados em mesa o R. Escriváo
Presidente [ .... ] e sendo aí se assentou por
votos que se fizesse a festa do nosso Santo
Padre com vésperas, e matinas, e festa com
o .Senhor exposto, de Luis Alvares
Pinto, ajustando-se com o R. Procurador ...."
(15) .

e) Termo de 1786
"Aos 22 dias do mes de maio de 1786
estando congregados em Mesa o R. Prove-
dor, oficiais, e Irmáos da Mesa, que servem
neste presente ano, e sendo aí se assentou
por votos conformes, que se fizesse a festa
do nosso S. Padre com toda a grandeza pos-
sível havendo Vésperas, Matinas, e festa
com o Santíssimo exposto, e com sermáo,
sendo quem o recitasse o nosso Ir. o R. Es-
críváo Antonio Machado Portella, e sendo o
Mestre da Música o Mestre Régio Luis Alz'
Pinto; e de como assim se assentou por este
termo em que se assinaram e eu o Padre
Antonio Machado Portella escríváo da Ir-
mandade o escrevi" (16).
f) Termo de 1787
"Aos 20 do mes de maio de 1787 estan-
do congregados em Mesa o R. Dr. Provedor,
oficiais, e mais Irmáos da Mesa se assentou
por votos de se festejar o nosso S. Padre
com toda a grandeza, que se pudesse fazer;

15) Idem, idem, f1. 113.


16) Idem, idem, f1. 130v.
54

fazendo-se novena, vésperas, Matinas e fes-


ta e elegendo para pregar a festívídade o
nosso Irmáo o R. Dr. Ir. Provedor Antonio
Machado Portella sendo mestre da Capella
para fazer a música o professor Régio Luis
Alz Pinto, e dé como assim se determinou
fiz este termo em que: todos assinaram e eu
o Padre Antonio Gurjáo escrrváo da Irman-
dade o escrevi". (17).
g) Termo de 1788

"Aos 23 dias do mes de Maio de 1788


neste nosso consístórío do Príncipe dos Após-
tolos o Sr. S. Pedro estando presente o R.
Provedor e mais oficiais se assentou por
votos fazer-se a resta do N. S. Padre com
todo o aplauso, e solenidade que pudesse
ser quando pregasse o nosso R. Dr. Prove-
dor Antonio Machado Portella, e cantasse
a festa com nosso protessor da capela Luis
Alz' Pinto, e de como se assentou fiz este
termo em que assinalaram; e eu o P. An-
tonio Gurjáo escríváo da: Irmandade o es-
crevi". (18).
Diante da documentacáo que acabo de revelar
com relacáo ao chamado cargo de Mestre de Capela,
que teria sido criado logo após a ínauguracáo da
Igreja de S. Pedro dos Clérigos, creio que nada seria
necessário acrescentar. A ímpressáo que me fica é

17) - Idem, idem, fl . 135. Neste mesmo ano, Luiz


Alvares Pinto dirige a música da festa do Senhor
Bom Jesus das Portas, no Recife, recebendo a·
quantia de 12$800. Cf. Livro de Receita e Despesa
da Irm. do Sr. B. J esus das Portas (1787-1846),
fI. 12 v.
18) - Livro de Termos cit. Il , 136.
55

a de que Luiz Alvares Pinto trabalhou nessas fes-


tas, sempre a base de contrato, antes e depoís de
1782. Uma análise dos textos acima expostos, mes-
mo um tanto superficial, parece conduzir a uma
conclusáo favorável ao meu ponto de vista. Assim,
em 1778 o texto reza que o "Procurador com ele se
ajustasse do melhor modo ... " Mas em 1783, há
semelhante cláusula: "ajustando-se com o Reveren-
do Procurador ... " Sómente em 1788 é que o texto
poderla levar a outra conclusáo: "e cantasse a festa
com nosso protessor da capela Luis Alz' Pinto".
Mais: a análise dos textos aqui revelados ofereceria
mais urri dado, aparentemente importante, á saber:
é semente depois de 1782 que aparecem as signifi-
cativas expressóes, todas elas equivalentes: "profes-
sor da Capela", "Mestre da Capela" e "Mestre da
Música". Seria temerário concluir que houve a cría-
c;ao do cargo de Mestre de Capela, na Igreja de Sao
Pedro dos Clérigos, logo após a sua ínauguracáo,
únicamente a base das referidas expressóes. Que
ínterpretacáo se daria a mesma expressáo "Mestre
da Capela", que se le em 1753, no Livro de Eleicóes
e Gastos da mesma Irmandade de S. Pedro, quan-
do registra o pagamento ao Padre (Inácio Ríbeíro
Nóia) pela música da resta de S. Pedro? ..

Luíz Alvares Pinto Mestre de Capela de S.


é

Pedro dos Clérigos do Recife desde 1778 até 1789,


provávelmente . Antes de 1778 nao encontrei docu-
mentacáo alusiva. Em 1776, no termo que se lavrou
a respeito da festa de S. Pedro, nao há mencáo de
Mestre de Capela, diz apenas o seguinte: " ... para
maior solenídade, e esplendor se fizesse com Mati-
nas cantadas, na Véspera a noite canto de órgáo,
ou seja a canto chao, e que no dia haja o Senhor
exposto, ... " (19). Em 1785, porém, quem dírígru

19) - Idem, idem, fl , 95v.


56

a parte musical da festa de S. Pedro, nao foi o Mes-


tre Régio, mas sim o Padre Joaquim Rodrigues (20).
Foi também na igreja de S. Pedro dos Clérigos
do Recife, que' se erigiu a Irmandade de S. Ceeília
dos Músicos, em 1788 segundo Pereira da Costa, ou
em 1789, segundo Francisco Curt Lange. A data
de 1789 seria, para o mencionado mestre pernam-
bucano, a data da "primeira eleícáo" da irmandade
que se achava "incorporada" desde o ano anterior.
Curt Lange afirma, ao que me parece, baseado em
documentacáo tardia, que a "erecáo certa" da mes-
ma irmandade "se realizou no ano de 1789" (21).
No momento, nao direi que seja fácil dizer eom
quem está a verdade, mas direi com quem certa-
mente está o erro: Curt Lange. No momento
em que escrevo este trabalho, sou possuidor de vas-
ta documentacáo sobre a Irmandade de S. Cecília
do Recife, que me servirá para um estudo sobre o
assunto que um dia espero escrever. Pois bem, é
baseado nessa documentacáo que posso adiantar
que a mencionada confraria pode ter sido fundada
em 1788, ou mais provávelmente antes de 1788. An-
tes da eleícáo aludida por Pereira da Costa - a
"primeira eleícáo", eujo termo se conserva - em
que é Juiz eleito o Padre Vicente Ferrer dos Santos,
aos 15 de novembro de 1789, encontró em outras
fontes doeumentais, inéditas, alusáo a dois Juízes
anteriores, sendo um deles o nosso Luiz Alvares
Pinto. O termo da "primeira eleícáo" fala em "de-
termínacáo do nosso Compromisso", o que supñe
anterioridade. Nem se improvisa urna irmandade,
nem se improvisa um eompromisso. Pereira da
Costa que se utilizou de um "primeiro livro de

21U Idem, idem, n. 124.


21) Cf. Pereira da Costa - "Anais Pernambucanos",
VI, 1954, pp. 543-44. F. Curt Lange - "A Orga-
nízacáo musical durante o período colonial brasi-
leiro", Coimbra, 1966, pp. 55-56.
57

anuais" da irmandade, que nao me foi ainda possí-


vel localizar, informa no vol. VI de seus "Anais
Pernambucanos", que "a irmandade foi instalada
com trinta e sete membros, que ficaram gozando do
título de Irmáos fundadores". Trinta e sete mem-
bros fundadores, número altamente significativo!
Posso também afirmar, como resultado de minhas
pesquisas sóbre este apaixonante assunto, que te-
nho, por enquanto, 40 - quarenta - írmáos de S.
Cecília anteriores a "primeira eleícáo" de 1789, e
que posso lhes citar os nomes.
Gostaria de dar por terminada esta notícia só-
bre a Irmandade de S. Cecílía, fundada muito pro-
vávelmente por Luiz Alvares Pinto, mas sou tenta-
do a transcrever um texto de Pereira da Costa.
Ei-lo:
"Novembro 15 (de 1789) - Elei¡;a.o
inaugural da Irmandade de Santa Cecílía,
composta de protessóres de música, incor-
porada em 1788, e ereta na igreja de S. Pe-
dro dos Clérigos da cidade do Recife, sendo
eleito SEU primeiro Juiz o sargento-mor Luis
Alves Pinto, professor régio de ínstrucáo pri-
mária, poeta e compositor distintíssimo; o
qual, a exemplo de iguais corporaeóes exis-
tentes em Portugal, onde fóra educado, pro-
curou também fundar em Pernambuco, com
os mesmos fins, para o que conseguiu dos
padres da igreja de S. Pedro, da qual era
mestre-de-capela, um altar para a colocacáo
da sua padroeira e um consistório particu-
lar para as reuníñes da mesa regedora da
irmandade". (22)
No mínimo, o texto acima pode levar o leítor-
a urna ínterpretacáo errónea a respeito da "primei-

22) - Pereira da Costa - "Anais ... " VI, pp. 543-44.


58

ra eleíeáo" que, agora, se diz "eleícáo inaugural",


de onde sairia eleito "prímeíro Juiz" o nosso com-
positor e Mestre de Capela, Luiz Alvares Pinto. Abso-
lutamente, isto nao é verdad e . Afirmei [á neste
trabalho, que o Juiz eleito na "primeira eleíeáo"
foi o Padre Vicente, grande músico pernambuca-
no em sua época. Revelo a documentacáo certa
a respeíto:

"Termo da Elei~ao

Aos 15 do mes de Novembro de 1789


estando congregados em Mesa todos os Pro-
Iessóres de Música desta Praga de Pernam-
buco se procedeu a Eleícáo do Juiz, Escri-
váo, e mais Mensários que hao de servir a
nossa Padroeira Santa Cecília este ano de
89 que há de acabar no de 1790, e segundo
a determínacáo do nosso Compromisso, fo-
ram eleitos para Juiz o Irmáo o R. Vicente
Ferrer, para Escriváo o Irrnáo Angelo Cus-
tódíó de Olíveíra, para Tesoureíro o Irmáo
Manoel de Souza Pereira, para Procurador
o Ir. Dionizio Antonio Gomes, e seis vogaes
o Ir. Antonio Joáo de Lira Flores, o Ir. Ma-
noel Felipe, o Ir. Máximo Pereira Garros, o
Ir. Manoel Pereíra de Paíva, o Ir. Inácio
Pereira Lopes, o Ir. Bazílio Alz' Pinto, e para
Juiza a Ir. Ana Joaquina Teodora, e sendo
assim eleitos se fez este termo em que se
assinaram todos os Professóres que presen-
tes se achavam. E eu ex Escríváo Manoel
Inácio Vidal o fiz escrever por impedimento
do atual.
Vicente Ferrer dos Santos
Juiz
Antonio Joáo de Lira Flores
59

Manoel Filipe de Santiago da Cruz


Basílio Alvares Pinto

Máximo Pereira Garros


Manoel Inácio Vidal
Dionizio Antonio Gomes de Sá
Procurador" (23).
Chamo a atencáo do leitor apenas para a últi-
ma frase do termo que nos permite concluir pela
Existencia, anterior a 15 de novembro de 1789, de
doís írmáos que ocuparam o cargo de Escrivño: o
"ex Eseríváo Manoel Inácio Vidal" e um outro,
nao identificado, que se menciona na ·cláusula
"por impedimento do atual" escriváo , Note-se
também a ausencia total de Luiz Alvares Pinto,
no importante documento que acabo de revelar.
Luiz Alvares Pinto falece no Recife, cerca de
1789, e é sepultado, segundo Antonio Joaquim de
Mello, na Igreja de Nossa Senhora do Livramento
(24). É bem possível que o historiador pernam-

23) - Livro de Termos de Assentos dos Irmáos, das Elei-


~óes, Posses ... (1789-1840) da Irm. de S. Cecília,
fI. 1.
24) - Confesso que desconfio do ano de 1789, como da-
ta de falecimento, aceita por muitos autores, inclu-
sive por mim, quando da edicáo do Te Deum de
Alvares Pinto. A data referida é contribuicáo de
Pereira da Costa, em seu "Dicionário Biográfico de
Pernambucanos Célebres". Antonio J. de Mello
limitou-se a dizer: "Faleceu há perto de 80 anos,
e aos setenta anos de idade, mais ou menos". Com
base nesta notícia, publicada em 1854, chegaríamos
a urna espantosa conclusáo . Já nos "Anais Pernam-
60.

bucano tenha conhecido o túmulo do nosso com-


positor, naquela igreja. Hoje, porém, nao mais
existe o túmulo, e nem mesmo se pode dizer em
que parte tería sido sepultado. Inútil o meu es-
rórco despendido em tal sentido.
A obra de Alvares Pinto

Homem de boa cultura, nao apenas musical,


mas humanística também, era Luiz Pinto, segundo
José Mazza, um "excelente POEtaPortugués e La-
tino, muito inteligente na língua francesa, e ita-
liana" (25). E Mazza foi músico e poeta, além de
violinista da Capela Real em Lisboa. Já para A.
Joaquim de Mello, o nosso Mestre Régio nao Ha
certamente um grande literato, mas "muito estu-
dioso e apaixonado da poesia, mormente dramá-
tica" ... "nao era um nome só na história da mú-
sica da província de Pernambuco e do Brasil. tam-
bém o é da nossa literatura".
Teria sido também pintor?
Nao conheco documentacáo convincente, nem
impressa, nem inédita, pelo que nao sou pela afir-

canos", sem nenhuma hesitacáo, nem qualquer alu-


sao ao trabalho anterior - o Dicionário cit. - Pe-
reira da Costa propóe outra data: 1792 (Cf. Vol.
VI, p. 620). Euclides Fonseca deixa escapar mais
urna falha nas suas informacóes . Afirma que L. A.
Pinto faleceu em 1780 (no que foi seguido por Re-
nato Almeida). E acrescenta que o compositor ti-
nha na ocasiáo 71 anos de idade, quando antes ha-
via dado a data de nascimento: 1719... Cf. "Um
Séc. de Vida Musical" p. 102.
25) - José Mazza - Op. cit., p. 33. Renato Almeida -
"A Mús. Bras. no Período Colonial" (Separata dos
"Anais" do 3° Congr. de Hist. Nacional, 1942): L.
A. Pinto "Era um espírito brilhante e culto com
boas humanidades".
61

mativa. No entanto, segundo alguns estudiosos do


nosso passado, havería no Recife da segunda me-
tade do século XVIII, um Luiz Alves Pinto, pintor,
ajudante do famoso Sepúlveda, em S. Pedro dos
Clérigos do Recife. É o que nos informa Flávio
Guerra: "O seu ajudante Luis Alvares Pinto rece-
beu duzentos mil réís, e fez a tela: "O primado de
S. Pedro", no forro do coro", na segunda metade
do século XVIII (26).
Além de ter escrito urna comédia com o título
de "Amor mal correspondido", outras páginas saí-
ram de seu talento de poeta e de pedagogo devo-
tado. "Eram de um método seu as cartas de abe,
e de sílabas com que ensinavam e tinham no fim
urna breve setenca ou oracáo análoga a leitura
da carta e a capacidade de cOlnpreensao do me-
nino. oompós um pequeno Dicionário pueril para
uso dos alunos da sua aula, alguns dísticos e epi-
gramas latinos, algumas glosas de quadras suas e
alheías, e urna meía dúzía de sonetos, tudo per-
deu-se" (27). Talvez um dia se possa encontrar
um exemplar do "Dicionário pueril para uso dos
meninos ou dos que principiam o abc e a soletrar
dic~oes", que foi impresso em Lisboa, na Oficina
de Francisco Luís Ameno, com 74 páginas, em
1784 (28).

26) - Flávio Guerra - Velhas Igrejas e Subúrbios Histó-


ricos, D.D.C., Prefeitura Municipal do Recife, Impr,
Oficial do Estado, 1960, p. 138. Cf. também Fer-
nando Pio - "Resumo histórico da Igreja de S.
Pedro dos Clérigos do Recife" Rev. Arquivos, Re-
cife, 194.2.
27) Antonio Joaquim de Mello - Op , cit., p. 7.
28) Cf. Inocéncío F. da Silva - "Dicionário Biblio-
gráfico Portugués", Tomo V., p. 209. Manoel P.
Chagas - "Dicionário Popular", 9° Vol. p. 386.
"Enciclopédia Portuguesa Ilustrada", Vol. VIII,
Porto, s/d p. 653, coluna 3.
62

A comédia em 3 atos, intitulada "Amor mal


correspondido", foi concebida "toda em versos, e
nao irregular, mormente medida pelo gósto entáo
dominante nos teatros portugueses". Nela apenas
existe um trecho cantado, que é "urna espécie de
coro figurado pela música", informa-nos Antonio
Joaquim de Mello. Portanto, nao a comédía urna
é

obra "armada de música", ou simplesmente do


"genero lírico" (29). É possível que Luiz Alvares
Pinto tenha cogitado numa ópera sua para o Re-
cife, quando escrevia a aludida comédía, ou, ao
menos, numa peca teatral ornada de música, ma- á

neíra da "ópera" de Antonio José da Silva, o Judeu.


O fato é que nada disso fez. o único trecho cantado
em "Amor mal correspondido" o seguinte:
é

Tristes lágrimas cansadas,


De amor mal correspondidas,
Se amor promete acabar-me,
Privai, privai os meus dias .

Os personagens da comedía de Alvares Pinto


sao:
Clorinda - princeza de Albania
Florisbelo - príncipe de Epiro
Celauro - príncipe de Atenas
Lanceta - criada
Estojo - criado de Celauro.
A peca foi a cena em 1780, na entáo Casa da
ópera do Recife. Em face do sucesso obtido, a
obra andou sendo representada até pelo menos
1783. Afirma A. Joaquim de Mello que "Amor mal

29) - Antonio Joaquim de Mello - Op , cit., pp. 8 e 12.


Renato Almeida - "História da Mús. Brasileira",
p. 315. - Euclides Fonseca - Op , cit., p. 102.
63

correspondido" é a primeira comédia composta por


brasíleíro, que se representou em teatro público
do Brasil. Afirma, e reafirma páginas depois:
"Dizemos que Amor mal correspondido foi a pri-
meira comédia composta por Brasileiro represen-
tada em teatro público do Brasil, porque nao ternos
notícía de nenhuma outra, nem de que algumas
das óperas do infeliz Antonio José o haja sido es-
pecialmente antes de ... 1783, e, quando alguma
das déste o fósse antes désse ano [ ... ] ainda res-
taria para glória de Luís Alves Pinto o ter ele com-
posto sua comédia residindo em Pernambuco, sua
terra natal, e o ve-la aqui representada e sobres-
saír muitas vézes no público teatro ... " (30).
De "Amor mal correspondido", apenas alguns
excertos se conservam os quais foram publicados
por Antonio Joaquím de Mello, no Diário de Per-
nambuco, edícáo de 7 de marco de 1854, e reedita-
dos em 1895. Eis o texto que Clorinda recita no
início da comédia (Ato 1, Cena 1):
Fiéis vassalos, tenha hoje Albania
A-maior glóría, que lograra nunca;
A nossa pátría hoje se renova
Com o domínio que se lhe divulga.
Florisbelo e Celáuro generosos
Príncipe este de Atenas sempre augusta,
Aquel€;dessa Epiro vencedora,
Meus fortes aliados, o promulgam.
Breve no ar flutuantes e galhardos,

30) - Cf. A. Joaquim de Mello - Op , cit., pp. 12 e 13.


J. Galante de Souza - "O Teatro no Brasil", To-
mo I, pp. 124 e 125. Galante esboca urna refuta-
~áo a A. J. de Mello: "é preciso fazer vista gros-
sa ao teatro do carioca Antonio José da Silva, re-
presentado no Brasil, antes de Luís Alves Pinto.
Na verdade, de ambos, por muitos motivos, o mais
brasileiro é o pernambucano".
64

Tantos pendóes vereis quantas as turmas,


Que em rápidos ginetes alentados
Acompanharam as guerreiras turbas.
Ver hoje espero os dois triunfadores
Do inimigo soberbo, que subjuga
AS margens do Pactolo, e a quem a Grécia
Obsequiosa adoracóes faculta.
Dos domínios opimos de Troante
Já sois dominadores. Com inj úria
Das coortes Ilíricas, indigno
:mleos nossos limites descompunha.
Mas já frio receío a nossos peitos
Deíxará de assaltar, que com astúcia
Nos infundia o indómito contrário,
De perfídia e ambícáo nao vista fúria.
Por toda a Grécia as novas se espalharam
Que impelidas a vergonhosa fuga,
Do rei Troante as tropas mais soberbas
Corriam derrotadas e confusas.
Soube que o valoroso Florisbelo
O escudo embraca, a grande espada empunha
Vence e despoja dos vitais alentos
Dessa Grécia a fortíssima coluna
Ceíáuro rompe com a cavalaria
Todo o exército: mas com mais fortuna.
:mIesrepetiram as tristes ansias
Em que o império désse Rei flutua.
Excelsa glória os c'roa, e de mim longe
O apoucá-la em vozes diminutas;
Apenas em períodos mui breves
Minha idéia a catástrofe debuxa;
E havendo original, é desacérto
Fiar-se nas ídéias da pintura.
Um outro aspecto importante a considerar é o
fato de Luíz Alvares Pinto ser apontado como
inventor de um método de solfejo, pelo qual várias
geracñes de músicos pernambucanos aprenderam
"com muita facilidad e e muita vantagem". Tomás
Cantuária (1800-1878), vulto de grande projecáo
65

na história musical de Pernambuco, em sua "Pe-


quena Arte de Música", faz referencia a ésse "sis-
tema, ou ínvencáo'' no fim da Artinha. No início,
porém, manifestando a sua íntencáo, escreve: "O
meu desejo é dado a sustentar o sistema de solfejo
por mudanea o mais moderno, segundo o muito
hábil professor Luiz Alves Pinto, oriundo de Per-
nambuco" (31).
Os nossos historiadores reconhecem-lhe a au-
toría de duas obras didáticas sobre música: "Arte
pequena para se aprender a música" e! a "Arte
grande de solfejar" [ ... ] nao menos apreciada
pelos entendedores" (32). Sobre essas obras nao
disponho de qualquer outra ínrormacáo, além da
notícia que nos dá Pereira da Costa de que a pe-
quena arte de música tería sido "traduzida em
Fran~a" (33). Entre nós, parece nao mais existir
nem urna, nem outra das obras aludidas. Mas, se
nao houver equívoco no informe de Antonio Joa-
quím de Mello, ternos de admitir urna terceíra obra
escrita por Alvares Pinto, cujo manuscrito se en-
contra na Biblioteca Nacional de Lisboa e' que, a
meu pedido, foi localizada em marco déste ano de
1968, pela protessóra Cléofe Person de Matos. O
manuscrito conservado tem o seguínte título: "Arte
de Solfejar - Método muito breve, e fácil, para
se saber solfejar em .menos de um mes; e saber-se
cantar em menos de seis. Segundo os Gregos, e
prímeíros Latinos. Seu Autor - Luis Alvares
Pinto - Natural da Vila de Santo Antonio em o
Recife de Paranambuco - Ano de 1761". Pos-
suidor de urna cópia microfilmada, posso adian-

31) - Thomaz da Cunha Lima Cantuária - "Pequena


Arte de Música", Recife, Tip. de M.F. de Faria,
1857, pp. 2 e 20.
32) A. Joaquim de Mello - Op. cit., p. 4.
33) Pereira da Costa - "Dic. Biogr. de Pernambuca-
nos Célebres", Tip. Universal, Recife, 1882, p. 620.
66

tar alguma coisa a respeito do conteúdo da


mesma obra. A "Arte de Solfejar" sé abre
com um "Proemio" que ocupa 7 fólhas. Num de
seu s parágrafos, escreve o compositor e teórico per-
nambucano - teórico dos mais antigos do Brasil,
senño o mais antigo que agora se conhece: "Eu
poís compadecido da Pátria, zeloso do crédito des-
ta ciencia exponho aos doutos o método mais bre-
ve, fácil, e menos laborioso, que se pode excogitar
no tempo presente para adiantamento dos seu s
principiantes. Nao obrigo, que me sigam: porém
nao deixarei de entender, que está mui longe de
ser douto, e sábío aquéle, que deixar de abraear a
verdade; por nao querer ver a sua presuncáo con-
vencida". Depois vem o corpo da obra, a Arte de
Solfejar propriamente dita. Na primeira parte -
contida em 6 fólhas - o autor propóe 17 preceitos,
os quais devem ser decorados pelo principiante.
Os preceitos sao deñnícóes magras e secas, mas
claras no geral. O "Preceito 5°", por exemplo,
tem esta redacáo diretíssima, e sem problema de
qualquer ordem (a nao ser o de decorar ... ): Das
Figuras - As figuras sao oito, a saber: Breve, Se-
mibreve, .Mínima, Semínima, Colcheia, Semícol-
cheia, Fusa, Semifusa. Suas formas sao as seguin-
tes: "(-vem o exemplo em pauta musical).
A parte dos preceitos se preocupa com as Li-
nhas e espacos; Vozes e signos; Claves e suas for-
mas; Compasso; Figuras; Valor das Figuras; Pau-
sas; Intervalos naturais, etc.
Na segunda parte da obra, Alvares Pinto tra-:
ta das Observaeóes, que sao explícacñes fornecidas
pelo autor para cada um dos preceitos. Ocupa 0_
restante da "Arte de Solfejar" (fls. 7 a 34). A Arti-
nha se termina com urna nota de fé: "Eu também
dou fim a este trabalho, que se for útil, é glória,
que se deve dar a Deus, e a Maria Santíssima sua
Mae como Intercessora, e Protetora Nossa".
No tocante a producáo musical de nosso com-
67

positor, além de alguma notícia de ordem históri-


ca, nada absolutamente se conhecía até maio de
1967, quando me foi dada a alegria de localizar
urna obra sua - o Te Deum Laudamus, para 4
vozes mistas, (orquestracáo perdida) e baixo con-
tínuo.
A íntormacáo mais antiga, de que disponho
no momento, sobre a atividade criadora do músico
pernambucano, é a que nos fornece José Mazza, na
segunda metade do século XVIII:

"tem composto infinitas obras com muito


acérto principalmente eclesiásticas; com-
pos últimamente urnas exéquias a morte
do Senhor D. José 1 a quatro coros, e ainda
em composícóes profanas tem escrito com
muito acérto" (34). Essas "exéquias a 4
coros" foram escritas em Pernambuco, dada a cir-
cunstancia mencionada, numa fase de plena ma-
dureza do nosso compositor.
Antonio Joaquim de Mello cita mais algumas
obras, entre as "muitas músicas e excelentes" que
o nosso Sargento Mor andou escrevendo:
3 Hinos a N. Senhora da Penha
1 Hino a N. Senhora do Carmo
1 Hino a N. Senhora Máe do Povo
1 Oficio da Paixáo
Matinas de S. Pedro - com urna famosa
"fuga imitativa do mar tempestuoso e re-
volto" .
Matinas de S. Antonio
Novenas, Miasas, Ladainhas e Sonatas.
E conclui o historiador que "quase tudo enfim
déste genero que se cantava entáo na província

~4) - José Mazza - Op. cit., loe. cit.


68

eram obras do seu engenho" (35) Pereira da Cos-


o

ta agregou Te Deums ao elenco evidentemente in-


completo das composícñes de Luiz Alvares Pinto o

Euclides Fonseca deixou, infelizmente, de registrar


as" diversas partituras" que ele chegou a conhecer.
Mas, foi baseado nesse contato com as obras do com-
positor que ele emítíu o seguinte juízo, um tanto
desconcertante para quem conhece o Te Deum de
Alvares Pinto, restaurado e editado pelo autor des-
tas linhas: "julgo-me habilitado a afirmar que,
embora fósse um adepto do estilo italiano, florido,
sensualista e muito seguido por outros composito-
res da época, Luiz Alves Pinto, em suas músicas,
revelou ínspíracáo fértil e por vézes original, além
de perfeito conhecimento dos recursos vocais e ins-
trumentais da sua arte" (36) Com essa alusáo
o

ao "estilo italiano, florido, sensualista" nao seria


possível identificar o Te Deum, se o manuscrito
nao trouxesse o nome completo do autor Na ver- o

dade o Te Deum é de uma outra massa , Apesar de


ser uma obra de cerca de 550compassos, em nenhu-
ma página há o que se pode chamar "estilo ita-
liano" O grande crítico brasileiro, Caldeira Filho,
o

manifestou de imediato a sua estranheza ao ler a


partitura: "Apesar de haver residido em Lisboa do
séc, XVIII, mostra-se vacinado, em técnica e em
qualidade temática, contra o virus do "bel canto"
napolitano" (37) A qualidade dessa obra, contu-
o

do, assím isolada, nao deve invalidar o depoimen-


to do compositor e crítico pernambucano, Euclides
Fonseca, homem de cultura e sensíbílldade, Pode-

35) - Anto Jo de Mello - Opo, cito, po 4 e "Biografías


de Alguns Poetas", Tomo 1 (1856), ppo 28, 32, 50
e 53; Tomo II (1858), po 2710
36) Euclides Fonseca - Op o cit., p o 102 o
87) Caldeira Filho - "Música Colonial em Pernam-
buco", em O Estado de So Paulo, ed , de
23-VIII-1967 o
69

se apenas deduzir que, estilístícamente, Alvares


Pinto nao deve ter sido muito igual.
Com excecáo do Te Deum, todas as obras enu-
meradas estáo desaparecidas. De algumas, apenas
o texto poético se conserva. O Hino a Nossa Se-
nhora do Carmo que era cantado todas as "quartas
feiras, e sábados a noite a Nossa Senhora do Car-
mo do Frontespícío na sua Igreja da Cidade do
Recife" tinha "maviosa música do insigne Luiz
Alves Pinto" (38), cujo texto, escrito pelo Padre
Manoel de Souza Magalháes, falecido em 1800, as-
sim se inicia:
Ó Virgem Mae do Carmelo
Maria imaculada,
Ouvi como Advogada
Nossos clamores.

Um dos Hinos a Nossa Senhora da Penha, com


letra do Padre Magalháes possui oito estrofes, das
quais transcrevo a primeira:
Ó Penha bela, e pura!
Ó Penha sublimada!
Ó Penha imaculada,
Que Deus gosta habitar!
Ó Monte da Pureza!
Ó Penha de Maria!
Tu és nossa alegria,
O nosso abrigo és tu.

"~ste canto, - diz Antonio Joaquim de Meno


- com os outros dois a Gloriosa Senhora da Penha
foram sempre cantados até hoje na novena, e festa

38) - A. J. de Mello - "Biografías de Alguns Poetas".


T. n, p. 271.

. 70
• •

da mesma Senhora na Igreja de sua ínvocacáo na


Cidade do Recife, sendo as bellas músicas de todas
tres composícáo de Luíz Alves Pinto," (39).
A composícáo que' encontrei posteriormente
foi urna Salve Regína, para 3 vozes místas, 2 violi-
nos e basso. A obra existe em partes cavadas, so-

bre papel comum de formato reduzido e sem pau-
tas impressas. O Te Deum e a Salve Regina per-
tenceram ao arquivo particular do artista, pernam- •

bucano Carlos Diniz.


A escritura polítóníco-vocal da antifona ma-
riana Salve' Regina é bastante simples, ape-
sar de algumas incursóes na técnica da tmítacáo
e de possuir urna certa dose de sugestividade no
revestimento melódico, do texto.

Ex. da Salve Regina, ainda inédita:

s
e

Sa.\ -- ve Re - ~,,-~. 5iLI


"~a.- te! t%.


• \

, '?la

39) A. J. de Mello - "Biografías de Alguns Poetas",


T. 1., p. 53.


• •


71 .

Outras obras há que venho descobrindo em


Pernambuco, sem autoria declarada, que por ques-
toes de crítica interna podem ser atríbuídas a Luiz
iAlvares Pinto:
, I
11.
I

_.- - .. - "Mandatum a 4 vozes", com violino abrigado


e basso, em Dó menor. Partes cavadas, sem
partitura, que pertenceram a Eusébio José .


bVO
S •

• e -
Se.. tis qw.d - •
- "&.In
..Lv.d. J._J. .J
T
B

(Ex. do Mandatum em Dó menor, compassos


81 a 86)

"Mandatum para se cantar Quinta-feira


• Santa tarde na cccasíáo dO lava-pés". Para
I

4 vozes, sem acompanhamento. As partes


manuscritas com mais de cem anos de ida-
de faziam parte do arquivo particular de
Joviniano de Maura Pessoa, que foi Mestre
,

. de Capela da Matriz de S. Antonio, no Re-
cíte .
• •

• •

••
72


t
S •

•I
e
I
Se~ - tt.s
1 1.J_
T
B

vo -
Q.

..

(Compassos 19 a 24 do terceiro número) •


I
• •


o Te Deum
A primeiraexecucáo moderna do Te Deum
Laudamus de 'Luiz Alvares Pinto, dada no IV Fes-
tival de Música de Curitiba (1968), revelou de ma-
neíra impressionante a exísténcía de um composi-
tor brasileiro, anterior ao chamado "barroco mi-
neíro". A obra foi julgada de surpreendente qua-
lidade, e de "milagrosa beleza" (40).
O Te Deum, que é de forma "alternada" com
o Canto Gregoriano, comp6e-se de 16 versículos
concebidos para coro a 4 vozes. Creio que a data
de sua composícáo se situa ao redor de 1760. A tal
conjectura, leva-me o nível artístico, o qual nao

40) Renzo Massarani "A Música em Festa no Pa-


raná", Jornal do Brasil, 2° caderno, 7-11-1968.
Eduardo Rocha Virmond "Do querer ao poder",
no Diário do Paraná, 7-11-1968.


.. - . '
·73
<ti

pode ser fruto de pouca experíéncía, além de alguns


dados de ordem paleográfica. .
Como relíquia de um provável contexto or-
questral, só a primeira trompa restou. A "inven-
tar" uma orquestracáo com o fim de incluir a re-
ferida parte instrumental, preferi publicá-Ia en¡
fac-símile, na minha edícáo (41).
. O início da obra que, sob o' aspecto tonal, 'é
intencionalmente oscilante, em virtude da entoa-
~ao gregoriana, apresentou o problema mais sério
de' tóda a "restauracáo". Problema para o qual só
fui encontrar a solucáo, quando o Te Deum já es-
tava na última fase das provas tipográficas, e o pre-

fácio já estava impresso. Valho-me, pois, déste
trabalho, para levar ao conhecimento público a
solucáo a que cheguei. O· problema consistia em
como interpretar a frase inicial ·do Tenor.' Disse
"interpretar" e é esta a palavra. Transcrever fiel-
mente pareceu-me, nO caso do Tenor, uma ... Inñ-
I

delidade a arte do autor, e um atestado de igno-


,

rancia para o modesto redator destas linhas. Es-


clarecerei a questáo com os seguintes exemplos
musíeaís , Ei.s a frase inicial do Tenor, conforme o
man uscri to existen te: .


Te ])0 -

rru. - nurn c..on - - fi- - - rnu,.
,
Atríbuindo ao copista e nao ao autor, eví-
dentemente o engano de um mi ligado a um ré,
o resultado seria este, no qual assinalo os pontos •

discutíveis ainda, sob o aspecto harmónico:


• ,

41) Luiz Alvares Pinto "Te Deum Laudamus", res-


tauracáo e revisáo do Padre J. C. Diniz. Edi~ao
do Departamento de Cultura da Secretaria de Ed.
e Cultura de Pernambuco, 1968.
,


-'. . •

- -... .
,

Te bo - mi. -num •••

..

'-
..
(:. ... . . [?] "

"t • •• •
.. .. .. t.. .... • • ,
,, '.
\:... ... ._
( . , -Fínalmente a solucáo proposta por mim, sem
.a pausa inicial e dando nova ínterpretacáo a ter-
~e~~a~'lígadura do, Te'n,or:
• .-
-.


,
., . .- , ,' , . !

. s-
,

Le
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••
._. __

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1"
• -

Luiz Alvares Pinto nao só demonstra possuir


um notável sentimento da forma musical, como
também possui uma extraordinária sensibilidade
para sentir e resolver os problemas del a . Para
atender á urna predílecáo pela forma bipartída, que
aplica a vários "números" de sua obra, vale-se da
repetícáo integral do texto' de cada versículo do
~'TeDeum", a fim de obter um vigor novo e, as
vézes .surpreendente, através do abandono do "te-
. ma", ou pela mudanca de tonalídade, ou por urna
cór harmónica de mais intensidade e eficácia, etc.
Em geral, o melhor do compositor no tocante a
Harmonía (modulacóes, díssonáncías, retardos, ero-
matísmos, etc.) está na verdade nas segundas par-
tos dos seus versículos corais. E isto forma. É é

sábio domínío da arquitetura musical.


..

• 75

No Sanctus, o contraste tonal se efetua entre


tonalidades relativas coisa dos usos de Bach, de
Domenico Scarlatti, de Chambonníéres, de Purcell,
etc. e a repetícáo do texto ,se renova em fór~a
e expressáo através da roupagem ritmico-melódica
ornada de cromatismo:
'".. .

s
<:.7-9
- c.20-22

e
c.tv~, ,


J --

I


•,

No Te Martirum a arquitetura se faz pelo con-


traste entre Tónica e Dominante, mas nao numa
'línha simplista de escola, ou del manuaís-que-ensí-
nam-forma-musical. Note-se o quanto ganhou ti
"tema", nao própríamente por estar na Dominan-
te, mas pelo processo usado para "repetir" as vo-
zes, processo que é de natureza contrapontística e
nao simplesmente harmónica, além de reduzir o
tempo da consonancia que precede a expressiva
díssonáncía , Díssonáncía expressíva e até dra-
mátíca por conter íntencáo "descritiva" (Mar-
tirum) , como teria feito um Monteverdi, antes
dele, ou um Haydn da "A Críacáo", depois dele.
Veja-se o exemplo: •


, •• • •

~'o.

Largo c. J6-19 •

s

e
I
I

I•

IT

I

lB
,

•I

A variedade del timbres vocais é também um


dos recursos expressivos de Luiz Alvares Pinto, e
sempre com a mesma íntencáo de criar novo inte-
résse, fugindo da simples. .. repetícáo, mesmo que
seja em outra tonalidade. É o caso do Sanctum
quoque, entre outros: .

s
~c
J
.5a.rt ...tum.
• li -JJ 1-
que ~ P.a.-

T
B

c:r-»-qúe Pa. ra - eL¡ - tum, ~ - -


,.. - ,
}+------.__-__, ....__,
I
~¡......, .__ -
--+-

I
\
-


77

A extrema beleza de que se reveste o Te ergo


quaesumus se expressa inicialmente por um pro-
cesso de nítida técnica contrapontística, encontra-
díca nos melhores contrapontístas do século XV e
XVI. Num Josquin des Prés (início do Glória da
.Míssa de Beata Virgine), num Heinrich Isaac (iní-
cio do Kyrie da Missa de Contessoríbus), num Vic-
toria (Kyrie da Missa "Quarti toní") ou num Pa-
• lestrina (Sanctus da Missa: Gabriel Anchangelus) .
Eis os primeiros compassos:

Lal"go

s
~ -
e
~
ee .. -~~-
T
I •

T •

B
Te u- ~

,
o Te Deum termina com uma Fuga dupla, que •

apesar de lograr satisfatório efeito na execucáo, nao


é técnícamente uma página que se imponha. Nela, •

porém, reside um valioso aspecto de ordem históri-


ca: é a "Fuga" mais antiga que se conhece, até o
presente, escrita e assim intitulada, por compositor
brasileiro.

• •

\ •
• • I


LUlZ ALVARES PINTO E O SEU TEMPO

1685 - Nascimento de Haendel, em Halle, no dia


23 de fevereiro; de J. S. Bach, em Eise-
nach, 21-III; e de D. Scarlatti, ero Nápo-
les aos 26 de outubro.
- Na Igreja do Rosário dos Pretos do Reci-
fe, é Mestre de Capela o Licenciado Ma-
noel da Cunha.

1688 - 5-X - Nasce no Recife o padre Inácio


Ribeiro Nóia.

1692 - 8-IV - Em Pírano, nasce G. Tartini.

1700 - Sonatas op. V de Corelli.

1706 - 24-IV - Giambattista Martini nasce em


Bolonha.

1710 - 3-1 - Nasce Pergolese.

1711 - 17-IV - Nasce em Miláo Giov. Sammar-


tini.

- Em Nápoles, nasce David Perez.

1712 - 28 - VI - Jean-Jacques Rousseau nasce


em Genebra.

- 19 - X - No Recife, nasce o compositor


Padre Antonio da Silva Alcantara.
80

1714 - 20 - VI - Nasce no Recife o Padre Feli-


pe Neri da Trindade.
- 2 - VII - Nasce Christoph Willibald
Cluck.

1715 - Nasce Condillac.

1718 - 12 - VI - Nasce no Recife Francisco de


Souza Magalháes.
- 10 - IX - Nasce Jommelli.

1718 - 21 - Govérno do Cap. General Manoel de


Souza Tavares.

1719 - Nasce Luiz Alvares Pinto no Recife.


- Nasce Tomaz Reld.
- Já é vigário da vara de S. Joáo del-Rei o
Pe. Dr. Manoel Cabral Camelo, composi-
tor (portugués) .

1721 - Nasce no Recife o Pe. Manoel de Almeida


Botelho, aos 5 de junho.

1722 - 22-VIII - Nasce o organeíro Agostinho


Rodrigues Leite, no Recife.

1723 - Bazilio Alvares Pinto, pai do Luiz, é me-


sário da Irm. de N. S. do Livramento do
Recife.

1724 - Nasce Kant em Koenigsberg.


- Reina Bento XIII.
- No Recife nasce Felipe Benício.
- 29-VII - Na Igreja de N. S. do Pilar,
de S. Joáo del-Rei, Antonio do Carmo di-
rige a parte musical da Míssa cantada.

1725 - Morre Ales. Scarlatti .


81

c. 1732 - Aos 13 anos, L. A. Pinto inicia seus estu-


dos musicais, conforme se depreende do
"Proemio" de sua "Arte de Solfejar".

1732 - 1-IV - Nasce Joseph Ha;ydn.

1733 - Morre Francois Couperin.


- Na Ordem 3a. do Carmo do Recife: "Ter-
mo de oferta que fez o Ir. Manoel Joáo
dos Santos de dourar o Altar do Senhor
dos Passos a sua custa o que foi aceito
pela Mesa em julho de 1733".

1734 - Nasce em Lisboa, Luciano Xavier dos


Santos, organista e compositor.

1737 - Em Paris, la. representacáo de "Castor et


Pollux" de Rameau.
- 12-IX - A Cámara da Vila de S. Joao
del-Rei resolve adquirir por 50 oitavas de
ouro um Sino para a cadeia da mesma
vila.
- Na Ordem 3a. do Recife: "Termo pelo qual
a Mesa ajustou a douracáo do Altar Mor
com José Cardoso da Silva em setembro".

1739 - Morre Antonio José da Silva, o Judeu,


em Lisboa, aos 19 de outubro.
- Haendel: "Israel no Egito"

1740 - Morre Clemente XII.


- Corneca o pontificado de Bento XIV.

c. 1740 - Luiz A. Pinto estuda (provávelmente) em


Lisboa.

1740 - 50 - Nasce (provávelmente) o composi-


tor mineiro Lobo de Mesquita.
82

1741 - 26-XIl - la. representaeáo da prímeira


ópera de Gluck: "Artaserse"
- Vivaldi morre em Viena.

1743 - 19-Il - Em Lucca, nasce Luigi Boccherini.

1745 - Em setembro, realiza-se no Recife urna


grande Academia em honra de S. Goncalo,
onde tomam parte músicos e poetas per-
nambucanos.

c. 1746 - Agostinho Rodrigues Leite constroi o seu


primeiro órgáo, no Recife.

1746 - 12-IX - Recebe o batismo o Alferes Joa-


quim da Silva Xavier, na Cap. de S. Se-
bastiáo do Rio Abaixo, da paróquia de S.
Joáo del-Rei.

1750 - 28-VII _. Morre J. S. Bach, em Leipzig.

1756 - 27-1 - Nasce Mozart em Salzburgo

1757 - 27-X - Representa-se no Recife a comé-


dia de Splanger Aranha: "Guerra entre
amor, e desden ... "
- Morre D. Scarlatti em Madri, aos 23 de
julho.

1758 - 17-XIl - A O.3a. do Carmo do Recife


ajusta a douracáo de 2 Altares com os
Mestres Jnáo de Barros e José Monteiro
Saldanha.

1759 - Morre Haendel.


la. Sinfonia de Haydn.

1760 - 15-IX - Cherubini nasce em F'lorenca.


"Ajuste que se fez com o Mestre pintor
Joño de Deus, para pintar e dourar 5 pai-
83

néis, a coberta do Púlpito e Sanefas pela


quantia de 345$000em 20 de abril de 1760",
na Ord. 3a. do Carmo do Recife.

1761 - Termina o manuscrito de sua Arte de


Solfejar, no Recife.

1762 - L. A. Pinto é mordomo da Irm. de N. S.


do Livramento, eleito para o ano de
1762-63.
- Nasce Marcos Portugal.

1764 - 7-1 - Em Viena, la. representaeáo de


"L'incontro improviso" de Gluck.

1766 - L. A. Pinto já é Capitáo do Regimento


de Milícias dos Homens Pardos do Recife.
- É escriváo da Irm. de N. S. do Livra-
mento, eleito para 1766-67.

1767 - 22-IX - Nasce no Rio de Janeiro o Padre


José Maurício Nunes Garcia.
- 25-VI - Morre G. Ph. Telemann, em
Hamburgo.

1767-68 - L. A. Pinto é novamente mordomo da


Irm. do Livramento.

1770 - Nasce Hegel.


- 26-1 Inauguracáo em Paris da nova sala
da ópera (Palais-Royal).
- 16-XII - Em Bonn, nasce L. van Beetbo-
ven.

1772 - Funda-se a Casa da ópera no Recife.

1773 - 20-IV - Falece no Recife o Padre Ribeiro


Nóia.
- Reina Pio VI (1775-99).
84

1776 - 4-VII - Em Filadélfia, declaracáo da in-


dependencia dos Estados Unidos.
- 3-XII - Chega Piccini a Paris.

1777 - Alvares Pinto escreve urnas Exequias a 4


coros.
- Morre D. José I e ascende ao trono D.
Maria l.

1778 - É Sargento Mor, confirmado por patente


régia de 15-XI.
- Dirige a "orchestra" da festa de S. Pedro
dos Clérigos do Recife.
- Falece Voltaire.

1779 - Éo Mestre de Capela escolhido para a


festa de S. Pedro dos Clérigos.
- 5-IX - Eleito mordomo para o ano de
1779-80 da Irm. do Livramento.
- Tomaz Ant. Gonzaga vive obscuramente
em Beja.
- Goethe publica "Efigénia" .
._ No Santuário do Senhor Bom Jesus de
Matozinhos, em Congonhas do Campo,
Joáo Nepomuceno Correia e Castro tra-
balha na pintura da nave até 1780.

c. 1780 _ Pertence a Irm. de N. S. de Guadelupe de


Olinda.

1780 _ Em junho, dirige a parte musical da festa


da Irm. de S. Pedro dos Clérigos.
_ Primeiras representacóes de Amor mal
correspondido na Casa da Ópera do Recife.
_ Nasce na Bahia o Visconde de Pedra
Branca.

1781 _ É Juiz da Festa de N. S. do Livramento.


_ É o "mestre da música" da Festa de N. S.
85

de Guadelupe, em Olinda, recebendo oito


mil réis.
- Os Músicos que cantaram no ofício da noi-
te de Natal, no Mosteiro de S. Bento, em
Olinda, receberam oito mil réis.

1782-83- É mordomo, por eleicáo, da Irm. de N. S.


de Guadelupe em Olinda.

1783 - Dirige a música das V ésperas, Matinas e


Missa da Festa de S. Pedro, no Recife.
- Padre José Maurício escreve a sua antí-
fona "Tota Pulchra es Maria".

1784 - Publica-se em Lisboa o Dicionário pueril ...


de L. A. Pinto.
- No Rio de Janeiro, funda-se.a Irm. de
Santa Cecília.
- Nasce Mont' Alverne.

1786 - Dirige a parte musical da Festa de S. Pe-


dro dos Clérigos.
- 2-IV - la. representacáo em Viena da
ópera de Mozart: "Nozze di Figaro".

c. 1787 - Funda a Irm. de S. Cecília do Recife.

1787 - Rege a "orchestra" da Festa do Sr. Bom


J esus das Portas, no Recife.
- 15-IX - Gluck morre em Viena.

1788 - O pintor José Elói trabalha a sacristia do


Mosteiro de S. Bento de Olinda.

1789(?) - Falece L. A. Pinto no Recife, sendo


sepultado na Igr. do Livramento.

1789 - Morre Cláudio Manoel da Costa em Vila


Rica.
86

- Baydn: Sinfonia Oxford.


- Inconfidencia mine ira .
- Revolucáo francesa.

1790 - Padre José Maurício abre um curso gra-


tuito de música, no Rio de Janeiro.
- Nasce Lamartini.

1791 - Declaracáo dos direitos do homem.


- 8-IX - Estréia em Viena da "Flauta Má-
gica" de Mozart.

1792 - 29-11 - Nasce Rossini.

1798 - Padre José Mauneio é nomeado Mestre de


Capela da Sé do Rio de Janeiro.

1799 - 29-VIII - Pio VI morre no cativeiro de


Valenca ,

1800 - Nasce no Recife José da Natividade SaI-


danha.
_:_ la. Sinfonia de Beethoven.
- Nasce Tomaz Cantuária, compositor per-
nambucano .

1854 - Ant. Joaquim de Mello publica a primeira


biografía de Luiz A. Pinto.

1968 - Primeira obra musical publicada de L. A.


Pinto: Te Deum Laudamus (4 v. e órgao).
ALGUNS DOCUMENTOS
ALGUNS DOCUMENTOS

Do Livro de certidóes de Missas que se fizeram


pelas Almas dos Irmáos de Santa 'Cecilia
(1790-1846)

1) - Fl. 3v. - "Certifico, que disse dez missas pelas al-


mas dos Irmáos de Santa Cecília, a saber: cinco pela
alma do Irmáo Luiz Alvares Pinto, e cinco pela alma
do Irmáo AntOnio Clemente, com a esmola de 240
réis _a qual recebi da máo do Tesoureiro Manoel
Inácio e por ser assim verdade juro "in verbo sa-
cerdotis". Recife, 18 de outubro de 1791.

o Padre J oaquim Rodrigues dos Santos".

2) ~ FI. 4 - "Certifico, que disse oito missas pelas al-


mas dos Irmáos de Santa Cecília a saber quatro
pela alma do Ir. Luis Alvares Pinto, e quatro pela
alma de Antonio Clemente com a esmola de 240 a
qual recebi da máo do Tesoureiro Manoel In4cio
Vidal, e por ser assim verdade o juro in verbo sa-
cerdotis. Carmo do Recife, 19 de outubro de 91.

Fr. José de S. Loureneo",

3) - Fl. 4 - "Certifico que disse oito missas pelas almas


de dois irmáos de S. Cecília, a saber quatro pela
alma do Irmáo Luiz Alz' Pinto, e quatro pela alma
do Ir. Antonio Clemente com a esmola de 240 réis
cada urna, cuja esmola recebi da máo do Irmáo Te-
90

soureiro Manuel Inácio Vidal, e por verdade passei


esta, e o afirmo in verbo sacerdotis. Recife, 19 de
Outubro de 1791.

o Pe. Vicente Ferrer dos Santos".

4) - Fl. 4 - "Certifico que disse quatro missas pela al-


ma do Nosso Irmáo Antonio Clemente com a esmola
costumada, e disse maís outras pela alma do Irmáo
Ex Juiz Luiz Alvares Pinto com a mesma esmola;
a qual recebi do Irrnáo Tesoureiro Manuel Inácio
Vidal, e por ser verdade passo esta de minha letra
e sinal. Recife, 3 de Outubro de 1791.

[Padre] Joao Rodrigues das Vlrgens".

5) - Fl. 4 - "Certifico que disso oito Missas, quatro pela


alma do Ir. Luis A]z' Pinto, e quatro pela alma do
Irmáo Antonio Clemente com a esmola de duzentos
e quarenta cada urna [ ... ] verdade passei esta de
minha letra, e juro in' verbo Sacerdotis. Recife, 27
de Outubro de 1791.

Fr. Antonio de S. Anna".

6) - Fl. 4 - "Certifico, que disse tres Missas pela alma


do defunto Luiz Alz' Pinto com a esmola de duzen-
tos e quarenta réis cada -míssa , Por verdade passo
[esta} de minha letra, e sinal, juro in verbo sacer-
dotis. Boa Vista [ ... ] de 1791.

[Padre] José Bezerra Cortes.

Trecho de um "Discurso" de Patrício José de


Souza, publicado no "Diário de Pernambuco" em
4 de novembro de 1841.

"Meu respeitável avó, recebe lá no asilo da paz, onde


descansam as tuas cinzas, sernpre respeitadas e amadas
91

sempre de teus patrícios, e em toda a parte, onde tem


chegado a fama de teu nome, os mais sinceros votos da-
queles, que amam a música! Tu fostes o nosso Orfeo! O
nome de Luiz Alvares Pinto, Senhores, tem zombado do
poder do tempo, e ainda hoje é ouvido com entusiasmo
pelos filhos de Apelo, e pelos amadores das belas artes,
tle foi o nosso Amfiáo! e se náo construiu, ao som da
lira os muros de Tebas, como fingidamente nos diz a his-
tória antíga, fez cousas verdadeiras, fez cousas úteis a sua
pátria e aos homens, deu subsistencia a sua família, e a
seus patrícios, fez os nossos dias mais alegres, nossa vida
mais feliz, nossos trabalhos menos pesados. Brasileiro
honrado, recebe os votos de tua pátria!'"
.. ..
,

T -1
"PACSIMILE" DA CAPA
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PINTO, Luiz Alvares - Arte de Solfejar, rnanuscríto datado
de 1761,conservado na Biblioteca Nacional de Lisboa.
DINIZ,Jaime' C. - RevelaQáode um compositor brasi'eiro do
século XVIJI, trabalho escrito ero mareo de 1968para
o "Anuárío" (4° vol.) do Centro Interamericano de
Pesquisas Musicais da Universidade de Tulane.

Livro de Registro de eleíeées desde 1714a 1796,da Confraria


de Nossa Senhora do Livramento, Recife.
Livro de Termos da lrmandade de S. Pedro dos Clérigos do
Recite, 1717-1843.

Documento nO 3: Eleic;áodo Juiz, Escriváo e mais Oficiais


(1781-1782)do Arquivo da Irm. de N. Senhora de
Guadalupe de Olinda.
Livro de Receita e Despesa,1787a 1846,da Irmandade do Sr.
Boro .Jesus das Portas, Recife (Arquívo do Patrimo-
nio Histórico).
Livro de certidóes das Missas que se fizeram pelas Almas dos
Irmáos de Sta. Cecília (1790-1846),do Arquivo da
Irmandade de S. Cecilia, Recife.
III - AGOSTINHO RODRIGUES LEITE
AGOSTINHO RODRIGUES LEITE

Organeíre pernambucano do século XVIII

Do casal Joño Rodrigues Leite e< Ana Teixeira


Leíte, nasceu Agostinho no Recife, em 22 de agos-
to de 1722.
Por ser "dotado de um peregrino engenho, sem
mestre que a própria penetracáo", conseguiu trans-
formar-se num grande construtor de órgáos, fazen-
do-os "excelentes" E: vendendo "por preco inferior
ao seu subido valor", segundo o testemunho de Lo-
reto Couto (1).
Alguns musicólogos brasileiros - e isso é curio-
so - informam que Agostinho Rodrigues Leite es-
tabeleceu em Olinda "urna oficina de fabrícacáo de
órgáos", ínrormacáo esta acolhida também pelo mu-
sicólogo portugués, Freitas Branco (2). Com rela-
gao a essa "oficina" em Olinda, nao creio que haja
qualquer fonte comprobatória. Mais: tenho a ím-

1) - D. Domingos do Loreto Couto - "Desagravos do


Brasil e Glórias de Pernambuco", ed. da Biblio-
teca Nacional, p. 389. Há citaeóes da referida
obra, anteriores a edicáo mencionada, que em lu-
gar de "excellentes", dizern "primorosíssimos".
2) - Cf. Renato Almeida - "História da Música Bra-
sileira", p. 293.
Luiz Heitor Correa de Azevedo - "150 Anos de
Mús. no Brasil", p. 17.
Joao de Freitas Branco - "História da Mús. Por-
tuguesa", Lisboa, Colecáo Saber, 1959, p. 133.
104

pressáo de que a añrmacáo é resultado de um equí-


voco, proveniente de urna leitura apressada de um
texto de Pereira da Costa. Renato Almeida, que é
possivelmente o autor da enganosa Informacáo, cita
como fonte de seu trabalho o "Estudo Histórico-
retrospectivo sobre as Artes em Pernambuco", do
mestre pernambucano, acima citado. Ora, a fonte
em questáo nada diz - salvo engano meu - a res-
peito de urna oficina de Agostinho Rodrigues Leite
em Olinda. O texto de Pereíra da Costa, que pode-
ria talvez ter melhor redacáo, nao serve' díretamen-
te de sustento a urna añrmacáo de que exístía, em
Olinda, urna fábrica de órgáos. Eis o texto que te-
ria sido lido por Renato Almeída:

"O órgáo [á se conhecía desde meados


do séc, XVI (sic), nos Conventos de Olinda,
e foi muito vulgarizado no século XVIII pela
montagem de urna oficina para a sua fabri-
cacáo, dirigida por Agostinho Rodrigues
Leite, que nasceu no Recife em 1722" (3).

Antes de qualquer outra aprecíacáo, ou con-


clusáo, consultemos mais um texto de Pereira da
Costa, buscado desta feita nos Anais Pernambuea-
nos, obra cuja publícacáo é posterior a da História
da Música Brasileira de Renato Almeida:
"Nessa época (- seco XVIII). era [á
multo vulgar o uso do órgáo nas principais
igrejas da colónía, cuja íntroducáo vinha
dos meados do século XVII, nos Conventos
de Olinda, mas agora facilitado pela mon-

3) - Francisco Augusto Pereira da Costa - "Estudo


Histórico-retrospectivo sobre as Artes em Pernam-
. buco", 1900, Rev. do Inst. Arch. Geogr. Pernam-
bucano, n. 54, p. 20.
105

tagem de urna oficina para a sua rabrlcacáo,


dirigida por Agostinho Rodrigues Leite, ho-
mem empreendedor, inteligente e muito há-
bil, pernambucano, nascido no Recife em
1722" (4).
As duas cítaeóes sao bastante elucidativas: o
autor fala sobre o órgáo em Pernambuco, de um
modo geral. A referencia a Olinda quer ser apenas
urna prova de que o mesmo instrumento já era
cultivado, entre nós, anteriormente ao aparecimen-
to do nosso famoso organeiro. Nao sou eu apenas
quem entende (ou interpreta) diferentemente o
mesmo texto, o mesmo acontece com Femando
Pio, quando seguindo de perto o trabalho de Pereí-
ra da Costa, sem que o confesse, assím escreve:

"O órgáo já se conhecia, desde meados


do século XVII, nos Conventos de Olinda e
foi muito vulgarizado no século XVIII gra-
cas a mon tagem de urna oficina para sua
fabrícaeáo no Recife, sob a dírecáo déste fa-
lado Agostinho Rodrigues Leite, natural de
nosso Estado, onde nasceu em 22 de Agos-
to de 1722,..." (5).

No Recife, sim, devía estar a dita oficina; mas


aqui se trata de urna conclusáo que se pode ter
como verdadeira, pois a seu favor há alguns dados
plausíveís: a) Nao consta que Agostinho tenha
residido €;m Olinda; b) A documentacáo inédita
que possuo, dá o organeiro pernambucano como

4) - Pereira da Costa - "Anais Pernambucanos", vol.


VI, Recife, Arquivo Público Estadual, 1954, p. 161.
5) Fernando Pio - "Notícia Histórica e Sentimental
da Igrejinha de N. Senhora da Boa Viagem", Re-
cife, Imprensa Universitária, 1961, p. 58.
106

"morador no Forte de Mattos" em 1750 (seria um


tanto heróico residir aí dentro do Recife e traba-
lhar em Olinda ... ). Neste mesmo ano de 1750,
em 17 de Setembro, ele faz a sua preñssáo na Or-
dem 3a. do Carmo, do Recife (6); e) Quando ingres-
sou na Irmandade de N. Senhora da Conceícáo dos
Militares, em 27 de novembro de 1761, era Agos-
tinho "morador no Recife" (7); d) Em anotaeóes
de 1760 e 1769, encontro referencias que, expllcita-
mente, falam do Recife, como lugar de procedencia
de órgáos consertados, ou fabricados, por Agostinho
R. Leite, cujos textos transcreverei mais adiante
(8); e) Finalmente, o fato de o nosso organeiro per-
tencer a tantas irmandades do Recife, é mais um
dado que se deve ter presente.

Em 1749, Agostinho era Mordomo da Confraria


de S. Ana, ereta na Igreja da Madre de Deus. Ine-
xiste a documentacáo, ao que parece, em que seria
possível encontrar a data do seu íngresso na mes-
ma confraria e, talvez, o lugar de sua residencia (9).

Pertenceu o organeíro a Confraria de Nossa Se-


nhora do Livramento. A única notícia existente,
evidentemente tardia, mostra o nosso artista já na
condícáo de Escriváo:

6) Cf. Livro de Assentamentos de Jrmáos Professos,


Ordem Terceira do Carmo, Recife, fl. 582 .
7) Cf. Livro de Entrada de Irmáos (desde 1725), nO
23 do Arquivo da referida Irmandade, fl. 99 v.
8) Cf. Livro de Receita e Despesa (1743-1805), Reci-
fe, Arquivo da Matriz da Boa Viagem, fl, 51 v.
Livro de Receita e Despesa (1758-1770), Ordem
Terceira do Carmo, Bahia, fI. 84 v .
9) - Cf. "Abecedário dos Irmaos na Confraria de S.
Ana da Madre de Deos" (instituicáo desaparecida).
107

"Escrivam

Agostinho Roiz' Leite pg. 40" (10)

Também fez parte da Irmandade de S. Pedro


dos Clérigos do Recife. O Livro de Eleif,(oes e Gas-
tos (1735-71) da referida irmandade, na fólha re-
ferente ao "Ano de 1759 para 1760" (f1. 93), cita
o organeiro pernambucano entre os que ocupavam
cargos administrativos da mesma corporacáo:

"Ao Sargento-Mor Agostinho Roiz' Leite


pg 5$524"

No mesmo Livro de Eleif,(oes se encontra tam-


bém o "Termo da Eleic;ao de Escríváo, e maís ir-
máos da Mesa" de 28 de junho de 1760, eleícáo
realizada "no Consistório da Igreja de Nosso Padre,
Sao Pedro desta Vila do Recife", onde Agostinho
aparece como Mordome (,:eito para o ano de 1760
que acaba em 1761. No termo de aceitacáo do
cargo, termo datado de 17 de julho de 1760, assim
se assina: Augustinho Roiz' Leite.

Até 1757, consta apenas que Agostinho con s-


truira órgáos para Pernambuco e para a Bahía.
Trata-se provávelmente de instrumentos de modes-
tas proporcñes, do tipo realejo, com tubos de me-
tal, sem pedaleira, poís ésses órgáos do século
XVIII, dos quais conseguí algumas notícias, eram
transportáveis fácílmenta - por negros, e em ca-
noas - e chegavam a ser alugados a particulares.
Aliás, o mesmo acontec'a na Bahía e no Río de
Janeiro.

10) - Livro de "Registro de elleíeées desde 1714 a 1796",


Confraria de N. Senhora do Livramento, Recife,
fl. 48.
108

Dos órgáos "exeellentes" - ou "primorosissi-


mas" - que fizera o artista recifense, ao tempc
de D. Domingos do Loreto Couto (até 1757), nada
quase se sabia, e muito pouea coisa pode-se saber
hoje com certeza, em face da precariedade de fon-
tes nos nossos arquivos.
Além do que posso contribuir com informa-
<;oes comprovadas por fontes ñdedígnas, confesso
que me inclino a crer que os instrumentos das igre-
[as do Livramento, da Ordem Terceira do parmo,
de Sao Pedro, da Madre de Deus e, talvez mais
tarde, do Corpo Santo e de Santo António e da
Capela do Sr. Bom Jesus das Portas (com órgáo
já em 1780), eram todos dele, país Agostinho per-
tencia as irmandades eretas, em quase todos ésses
templos. E os órgáos exístíam comprovadamente
nas referidas igrejas do Recife do século XVIII.
Todos devíam ter a autoria do Agostinho. Infe-
lizmente, ésse instrumentos desapareceram, deles
nada restando.

Passemos aos fatos.

Antes de 1757 - data em que Loreto Cauto


termina o seu Desagravos do Brasil. " - as notí-
cias obtidas dáo-nos a índícacáo de alguns instru-
mentos saídos do "engenho" de Agostinho Rodri-
gues Leite. O 10 órgáo - cronológleamente o pri-
meiro - fabricado pelo artista recifense foi, efeti-
vamente, montado em Olinda, quando elE tínha
menos de 28 anos. Vendeu-o ao Mosteiro de S.
Bento que possuia, na época, um "realejo destruí-
do", comprado em Portugal nos fins do século
XVII, entre os anos de 1692 e 1694. Penso até
que ésse pequeno órgáo portugués teria sido um
dos possíveis modelos do nosso organeiro. .. Frei
Miguel Arcanjo da Anuncíacáo relata que, ao tem-
po do govérno do Prelado e Abade D. Salvador dos
Santos, no Mosteíro de Olinda, D. Bento de Santo
109

Tomás "mandou assentar um órgáo novo em urna


das tribunas da parte do Evangelho; porque o rea-
Iejáo, que dante s tinha o Mosteiro, estava total-
mente destruido, e sem serventia. ~sté dito rea-
lejo destruído, passados alguns anos foi vendido ao
Mósteiro da Paraíba. O órgáo novo foi o prímeí-
ro, que em sua vida fez o organeiro Agostinho de
tal, o qual também foi autor déste, que agora te-
rnos, em que reformou vários defeitos do primeiro"
(11). O grifo nao é original. Quanto a alusáo a
um outro instrumento do Agostinho, dele falaremos
mais tarde, pois é preciso entender que o autor eg-
creve por volta de 1791, segundo várias referencias
contidas na própria "Crónica do Mosteiro de S.
Bento" .
Gracas a obra do Frei Miguel Arcanjo, podemos
hoje saber o destino e a época do prímeíro. órgáo do
fabricante oriundo do Recife. O destino, o Mosteiro
de S. Bento de Olinda; a época, a do govérno do
Abade D. Salvador dos Santos, ou seja 1746-1750.
Sendo, documentadamente, "o primeiro (-ór-
gáo) , que em sua vida fez o organeiro Agostinho de
tal", torna-se impossível aceitar a data extrema,
1750, como sendo o ano de sua fabrícacáo, pois, co-
mo logo veremos, já antes de 1750 há, por documen-
tacño fidedigna, notícia de um outro instrumento
construído pelo nosso artista. Creio mesmo que
Agostinho nao teria mais de 26 anos incompletos,
quando fez cantar o seu primeiro órgáo tubular.
O cronista nao apenas registrou o destino e a
época, aludiu aínda ao lugar que o instrumento li-
túrgico ocupou no próprio templo do Mosteiro:
"mandou assentar ... em urna das tribunas da par-

11) - Fr. Miguel Arcanjo da Anunciacáo - "Crónica do


Mosteiro de S. Bento de Olinda Até 1763", Per-
nambuco, Separata da Rev. do Instituto Arq., Hist,
e Geogr. Pernambucano, p. 118.
110

te do Evangelho", lugar ésse cm que nao ficou por


muito tempo, pois, segundo o mesmo cronista, o
órgáo passou do lado do Evangelho para o da Epís-
tola, sendo instalado numa das tribunas que foram
construídas no trienio de 1750-1753:

"Em uma das Tribunas, que era mais


larga, e ficava da parte da Epístola, e pe-
gada ao Coro - (D. Manoel do Nascimen-
to Lisboa) - fez assentar o órgáo" (12).

ÓRGAO EM BOA VIAGEM


Um segundo órgáo antes de 1757 - cronológi-
camente o segundo, ao que parece - de Agosti-
nho Rodrigues Leite de que tenho noticia, é o que
foi instalado na entáo Capela de N. Senhora da
Boa Viagem, na primeira metade do século XVIII.
Quem prímeíro noticiou a existencia désse órgáo
foí o historiador José Antonio Gonsalves de Melo,
através do Diário de Pernambuco (18-VIlI-1957),
inclusive ser de autoría do Agostinho. Um pouco
mais tarde, Fernando Pio se interessa pelo mesmo
órgáo na monografia que escreveu sobre a igreji-
nha da Boa Viagem. É dele o texto que se segue:
"Nao sabemos, exatamente, quando te-
ria sido adquirido o primeiro órgáo da cape-
linha. O arquivo da mesma comeca em 1743
e semente em 1747 nos dá notícia, através
do prímeíro lancamento a este respeito, da
existencia de um órgáo, comprado, bem vis-
to, antes de 1743.
1747 - Por dính? que se deo a Agosti-
nho Roiz do concerto do orgáo .... 20$000".

12, - Fr. M. A. da Anuncia~iio, op. cit., p. 123.


111

Logo mais abaixo, escreve o mesmo autor: "Em


1747 já ele (-Agostinho) concertava órgáos (sic)
para a capelinha de Nossa Senhora da Boa Via-
gem ... " (13).
Os textos aqui citados suscitam alguns repa-
ros. Confesso que me interessei vivamente pelo as-
sunto do primeiro órgáo - único até o momento
- da Igreja da Boa Viagem, o que me levou ao
manuseio de velhas fontes manuscritas. De fato,
estudando a fonte em que se baseiou o pesquisa-
dor pernambucano de nossas igrejas, cheguei a
urnas tantas concluso es que contrariam as cítacñes
acíma feitas. Em primeiro lugar, a cítacáo com
referencia ao consérto do órgáo nao é, apesar da
aparencia, gráñcamente a original; de fato o que
eu anotei é o seguinte:

"P. dro que se deo a Augustinho Roiz


do Concerto do orgáo .... 20$000" (14).
Mas isso é de menos importancia. Em segun-
do lugar, faltou, na verdade, ao mesmo estudioso,
urna leitura mais atenta da fonte citada. Dízer por
exemplo que- o órgáo da Boa Víagem foi "comnra-
do, bem visto, antes del 1743" conclusáo apressada,
é

fruto de leitura superficial. Ora, se houvesse sido


comprado antes, por que nao estaria relacionado
no primeiro "inventário" dos bens, com data nre ..
cisamente de 1743? 1:sse foi o meu primeiro susto.
No mesmo inventário, que vem transcrito pelo mes-
mo autor (Documento n? 5), ao lado de bens de
grande valor, outros há de muito menor importan-
cia que o pequeno órgáo, pelo que a ausencia de
mencáo do instrumento nao seria imaginável. Por
exemplo:

13) - Fernando Pio, op. cit., p. 58.


14) - Cf. Livro de Receita e Despesa da Matriz da Boa
Viagem (1743-805), fI. 48 .
112

"Vários pares dé ramalhetes de papel"


"Tres cadeiras rasas de couro"
"Um caíxáo da sacristia de guardar os Para-
[mentos"
"Urna caixinha de N. Senhora com (-que)
[o ermítáo tira esmola.
Dais castieaís de estanho pequenino" (15).
Novamente a pergunta: por que o órgáo, com-
prado antes de 1743, nao se encontra relacionado
no inventário? Respondo, com seguranca: porque
ainda nao havia. Escapou ao Fernando Pio um
lancamento feito, antes daquele que transcreveu
referente ao consérto do órgáo. A preciosa infor-
macáo eu a encontro nos lancamentos da "despesa
depois da visita do Rvmo. Antonio Soares", a fólha
anterior da que se servíu o citado escritor:
"Por dinheiro para feitio pintura e mais
despesas do órgáo .... 57$980" (16).
O documento me parece muito claro, dispen-
sando qualquer exegese. Mas, e o autor? O docu-
mento nao o menciona, porém quem seria senáo
o Agostinho? Pouco tempo depois de montado o
órgáo, iria éle consertar um instrumento saído da
máo de outro? Mas, quem seria ésse outro? E con-
tinuo perguntando: e a data? Bem, agora é campo
para conjecturas mais, ou menos prováveis. A
data que me parece menos provável é 1747 (depois
de 27 de novembro). Lamento nao poder aceitar

15) - Fernando Pio - Op , cit., pp. 104-106 (o autor


cita "ornamentos" em lugar de Paramentos).
Livro de Receita e Despesa, B. Viagem, fl. 1 v.
O inventário traz o visto do Padre Dr. António
Soares Barbosa, com data de 20 de novembro de
1743.
16) - Livro de Receita e Despesa citado, fl. 47 v.
113

a data de 1747, proposta por Fernando Pio, como


senda a data do primeiro consérto do instrumento,
pois o referido autor se apoiou, evidentemente, na
data em que comecam as despesas da Igreja da
Boa Viagem. .
A data - 1747 - pertence a "cabeca" do título
do termo de contas. Tanto nos lancamentos da
receíta, como nos da despesa encontramos sempre
a importante explícacáo: "depois da visita do Rvmo.
Dr. Antonio Soares Barbosa" (17). Ora, a visita
do Reverendo se processou em novembro de 1747,'
e o termo de conta vem datada de 27 de novembro
de 1747 (18). O tempo das despesas nao é, lógi-
camente, só o fim de 1747. Vai mais longe, até o
próximo termo de contas que está datado de 19 de
novembro de 1749) (19). Mais: nao há especifi-
cacao de nenhuma data - dia, mes, ou ano para
os assentamentos das despesas, compreendídas en-
tre 1747 e 1749. Apenas há a anotacáo lacónica:
"despesa depoís da visita ... " Nao vejo por onde
concluir, sem mais, que o ano de 1747 o do prí-
é

meiro consérto do órgáo.


Disse acima que a data do instrumento refe-
rido écampo para conjecturas. Vejamos, pois,
dentro déste campo o que é possível obter. Añrmeí '
também que a data menos provável é 1747. De
fato, a compra do órgáo nao aparece, na relaeáo
dos gastos, nem em primeiro lugar, nem no segun-
do, nem no terceíro , .. Pormenor este que me pa-
rece, no caso e para o caso, muito importante. Pois
ao que me parece, essa circunstancia retira a pos-
síbílídade de o instrumento ter sido adquirido no
fim do ano de 1747, ou mais precisamente em de-
zembro do mesmo ano. A data extrema - 1749 -
nao me parece provável, em face da notíñcacáo no

17) - Idem, fls. 3 e 47v.


18) Idem, fl. 47.
19) - Idem, fl. 48v.
114

Lívro de Receita e Despesa, registrando o "consér-


to do órgáo", consérto que necessáríamente supóe
algum uso do mencionado instrumento, e que pode
ter sido feito realmente em 1749. Resta portanto
a data intermediária: 1748, e é a data que, aqui,
proponho como a mais provável, ao meu ver. Agos-
tinho Rodrigues Leíte teria de idade 26 anos, tal-
vez completos, quando entregou o órgáo a capeli-
nha da Boa Viagem. Senda assim, proponho tam-
bém para o primeiro instrumento por ele fabrica-
do, a data de 1747, instrumento que, como foi díto,
o nosso organeiro vendeu ao Mosteiro de Olinda.
Sigamos um pouco a história do "segundo"
órgáo do Agostinho, adquirido pela Igreja de N.
Senhora da Boa Viagem. No espaco compreendido
entre 1751 e 1759, houve um outro consérto, con-
forme a fonte manuscrita em que me apoio:

"Por dínheiro a Augustinho Rodrigues


Leíte para consérto do órgáo 32$000" (20).

Em 176"0,sofreu novo reparo, mas de menor


importancia, a se deduzir do gasto feíto na ocasíáo
que, por sinal, foi coberto pelo padre Pedro de Mi-
randa, entáo administrador da Capela e de seus
bens:

"Por dinheiro que paguei a Agostinho


Leíte do consérto do órgáo ... 8$000" (21).

Desta feíta, porém, o nosso organeíro nao tra-


balhou em Boa Viagem, mas no Recife, é o que
deduzo do seguínte Iancamento que vem imedia-
tamente depoís do que acima transcrevi:

20) Idem, fI. 50 v.


21) Idem, n. 51 v.
115

"Por dinheiro a negros e canoa para


trazerem o órgáo do Recife .... $360" (22).
No Inventárío, realizado depois de 4 de margo
de 1795, o instrumento aparece relacionado entre
os "moveis": "Hum Orgam" (23). Segundo o
Inventário de junho de 1802, o órgáo do Agostinho
apresenta péssimas condícóes, já está "todo des-
mastríado" (24).
O famoso organeiro pernambucano já havia
falecido, há vários anos, quando o seu instrumen-
to necessitou de novos cuidados. O organista per-
nambucano Jerónimo Coelho é quem cuida do ór-
gáo desta vez, fazendo, inclusive, "16 canudos" de
chumbo. O seu trabalho custou 2$640. Outros re-
paros, porém, foram efetuados na mesma ocasíáo
(em 1807, ou 1808):
"Por uma pele de camurca, e grude
para os foles 640 (-réis)
Por uma Fechadura 400
Por uma dobradíea 240
por um Espelho dourado 120
Por 4 parafusos 80
Por feitio ao Mestre Carapina 800
Para o Mestre Manoel de Torres que
pintou o órgáo; e consta do seu re-
cibo ".............. 5$120.

22) - Idem, idem.


23) - Idem, fl , 71 v.
24) - Idem, fl. 85.
Desmastrear nao é a palavra melhor para exprés-
sar o estado do aludido instrumento. Desmastrear
é tirar os mastros a urna embarcacáo, diz o meu
dicionário. O escríváo desejou referir-se, com
certeza, aos tubos, ou flautas, ou "canudos" do
órgáo, sobre o que aliás encontrei alusáo em ou-
tro Ms.
116

o gasto total dos reparos atingiu a soma de


12$120 (doze mil, cento e vinte réis) (25).
Em 1820, o órgáo estava alugado ao grande
músico, Joaquim Bernardo Ribeiro Pinto (26).
Em 1821-22 andou o instrumento de Agosti-
nho Leite sendo alugado a um outro artista per-
nambucano, Joao Paulo de Lira Flores:
"Pelo que recebi de Joáo Paulo de Lira
Flores, de aluguer de um órgáo, que por
vinte mil réis anuos lhe aluguei em 31 de
Outubro de mil oitocentos vinte um, pagou
o quartel vencido em 31 de Janeiro de '1822
o que tudo consta do papel que lhe passei,
e do recibo que teve meses dito órgáo por
aluguer .... 5$000" (27).
o instrumento ainda existia por volta de 1830.

ÓRGAODA IGREJA DE S. PEDRO APóSTOLO


Como foi díto atrás, inclino-me a admitir que
o órgáo que pertenceu a Irmandade de S. Pedro, do
Recife, também éle deve ser de autoria de Agosti-

25) Cf. Livro de Receita e Despesa de 1806 a 1840, da


Matriz da Boa Viagern, fl. 16.
26) "Pelo que recebi de Joaquim Bernardo Ribeiro de
Mendonca, por conta de 18$700 que está devendo
a Capela de aluguer de um órgáo: o que me en-
tregou em Maio de 1820, ficando a dever enfim
10$700, segundo consta dos recibos que o meu
Antecessor, e eu lhe passemos ..... 8$000". Livro
de Rec. e Despesa de 1806 a 1840, fl. 64. Há evi-
dente equívoco do escriváo ao registrar o nome do
nosso músico J oaquim Bernardo de Mendonca
Ribeiro Pinto.
27) Idem, fls. 64 e 64v.
117

nho Rodrigues Leite, seja pela circunstancia do


tempo em que aparece mencionado, seja porque o
organeiro já antes de 1759 era membro da referida
corporacáo relígíosa, o que eu nao deixo, aliás, de
ver nisso um fato um tanto curioso, pois a írman-
dade era quase totalmente composta de sacerdotes,
e o sargento-mor Agostinho, como vimos acima
conseguiu pertencer até a mesa administrativa d~
mesma irmandade.
A única fonte que me foi possível manusear
foi o Livro de Inventário, iniciado em 1751, da Ir-
mandade de S. Pedro dos Clérigos, ao qual tive
acesso no Instituto de Ciencias do Homem, gracas
a grande bondade do mestre José Antonio Gonsal-
ves de Mello. No primeiro inventário, que é preci-
samente de 1751, nao consta a existencia do órgáo.
Já no levantamento feito em 1764, a fólha 22, está
relacionado "Hum Organo grande". O início do
levantamento (fI. 14) tem a seguínte redacáo: "In-
ventárío dos bens que se acham existentes nesta
Igreja de S. Pedro da Vila do Recife". Embora
inexistindo elementos para urna precísáo de data,
podemos admitir que o órgño de S. Pedro é ante-
rior ao ano de 1764, e sua autoría pertence, com
muita probabilidade, ao mestre Agostinho.
NG inventário de 1'780 (fI. 41), le-se o seguínte:
"Um órgáo na capela-mor com seu fole".

Ainda existia, um ano depois da mor te de Agos-


tinho Rodrigues Leite, ou seja em 1787 (Livro de
Inventário, n. 55).
Afirmei que o órgáo de S. Pedro anterior a
é

1764. Agora, posso descer um pouco mais, afir-


mando que é provávelrnente anterior a 1760. Con-
to agora com outra fonte, aliás [á citada neste tra-
balho: o Livro de Elei~oes e Gastos da Irmandade
de S. Pedro dos Clérigos. Aí encontreí, na fólha
92 verso, o lancamento que se segue:
118

"Por dinheiro ao Religioso do Carmo


organista ..... 4$000"

Creio que há urna relacáo entre a presenea


désse carmelita organista, senda pago em 1760,
porque tocou na festa de S. Pedro déste ano, e a
existencia do instrumento na mesma igreja da ir-
mandade. O que parece é que nao foi comprado
pela Irmandade de S. Pedro, mas sím urna doacáo
do Agostinho, ou de terceiros, pois nao consta a
despesa respectiva no resto existente do arquivo de
tao importante corporacáo religiosa.

óRGAO DA IGREJA DO CARMO DO RECIFE

Disse do Carmo, pensando que o instrumento


construído muito provávelmente pelo mestre Agos-
tinho, em data aínda nao precisada, foi usado prí-
meíramente na Basílica de N. Senhora do Carmo,
mas poderia dízer em verdade que o órgáo era da
Ordem 'I'erceíra do Carmo, pois foi a essa instituí-
<;ao que coube comprar, muito provavelmente, o
díto instrumento, no século XVIII. Maís: depoís
que a Capela de S. Tereza, a capela da mesma
Ordem, pode realizar as suas festas, o órgáo era
transportado do Carmo para a dita capela.
Nao me foi possível obter a data verdadeira do
instrumento litúrgico do Carmo, mas acredito que
seja antes de 1766. O Lívro de Contas Gerais
(1766-1827) por mim consultado, contém urna re-
ferencia tardia, relacionada com um consérto de
certa gravídade, a deduzír-se da quantia despen-
dida pela Ordem 3a. do Carmo, referencia que exis-
te no ano de 1779-80:

"Dínheíro que se despendeu para se


pagar ao Ir. Agostinho Rodrigues Leíte a
119

(reediñcacáov) que fez no órgáo pondo-lhe


todo o necessário" (28).
No mesmo ano está anotado o seguinte:
"Dinheiro que despendeu para se dar a
quem tocou o órgáo no dia do Santo nome
de Jesus ... $640" (29).
No ano compromissal de 1780-81, o "organo"
vem citado (30) .
. Em 1819-20, foram gastos $160 para as "do-
bradices do Orgam" (31).
Em 1825-26,o instrumento passa por um novo
consérto, por quem, nao se sabe:

"Pelo concerto do Horgáo - 60$000'" (32).


Em 1827, tocou nesse órgáo o artista Joaquim
Bernardo:

"Pelo que pagou a Joaquim Bernardo


de Mendonca de tocar as Tercias o órgáo o .
ano passado. .. 1$000" (32).
Os foles do instrumento precisaram, em 1829-
30, de um consérto, cuja despesa correu por conta
28) Cf. Livro de Contas Geraes (1766-1827), da Or-
dem Terceira do Carmo, Recife, fI. 31. O livro
conservado comeca a fólha 4, correspondente aos
laricamentos dos gastos de 1766-67.
29) Idem, fI. 30.
30) Idem, n. 32.
31) Livro de Despesa (desde 1791), da Ordem Ter-
ceira do Carrno, Recife, fl , 112.
32) Idem, n. 149.
33) Livro de Despesa (datado de 22 de agosto de 1828),
fls. 4 e 4 v.
120

do Irmáo José Xavíer Faustino Ramos, como "es-


mola" (34).
O lancamento que se segue é referente aos
gastos feítos no ano de 1830-31:

"Por 6 Aldrabas para a Caixa do ór-


gáo, e consérto da mesma $920
Urna Pele de Cauro branco para o
fole $560
Um quarto de Cola " $120
Feitio do consérto do fole, esmola do
Rvdo. Joaquim Antonio de Oliveira
Leítáo" (35).

. O órgáo da Ordem Terceira do Carmo, cons-


truído por Agostinho Rodrigues Leite, que era ir-
máo remido desde setembro de 1750 da .mesma con-
fraria, existia ainda por volta de 1850. Em 1848-
49, o tesoureíro Joáo Batista de Souza pagou ao
organista - provávelmente, José Henrique - a
quantia de dais mil e quinhentos réis, por ter to-
cado no Ofício Geral (36).

ÚRGAOS DE AGOSTINHO RODRIGUES LEITE,


NA BAHIA

Segundo Loreto Couto, o mestre organeiro re-


cifense tería construído também algum instrumen-
to para a Bahia, antes de 1757. Da minha pes-
quisa em Salvador - efetuada dentro de urna se-
mana - tentando a comprovacáo do que afirmara
o célebre cronista pernambucano nada resultou
favorável ao intento, infelizmente. É possível,

34) - Idem, fI. 19.


35) - Idem, fl . 32.
36) - Idem, fl. 125v .
121

como o admite D. Clemente Maria da Silva-Nigra,


que o órgáo "grande" do Mosteiro de S. Bento, que
tería existido até a segunda metade do século pas-
sado, fósse de autoria do Agostinho, mas seria co-
mo veremos já em época um pouco posterior a que
nos preocupa no momento. D. Clemente nos asse-
gura que: .

"Existem bastantes indícios, que pro-


vam a autoria de Agostinho Rodrigues Leí-
te para o grande órgáo do mosteiro de Sáo
Bento da Bahía, instrumento que se perdeu
em 1875. Provavelmente foi encomendado
no decenio de 1760 a 1770". (37).

o mesmo historiador afirma, em outro traba-


lho seu, que o mestre Agostinho fez um órgáo para
o mosteiro benedítíno da Bahia (38). Admito a
possibilidade, mas sem muito entusiasmo, sobretu-
do no que toca ao chamado "grande órgáo". O
órgáo que o nosso mestre tería vendido para o mos-
teíro da Bahía, pode ser muito bem o que ainda
se conserva - um órgáo portátil - numa das ga-
lerías superiores da igreja abacial de S. Bento, so-
litário e inutilizado.
Os índícíos de que nos fala o douto escritor
mencionado, sem contudo confessá-Ios, sobre o ins-
trumento desaparecido, esmaecem um pouco diante

37) - D. Clemente Maria da' Silva-Nigra - "Construto-


res e Artistas do Mosteiro de Sao Bento do Rio
de Janeiro", Tip. Beneditina ltda., Salvador, 1950,
p. 155.
38) - Cf. D. Clemente Maria da Silva-Nigra - "Expli-
cacáo" escrita para o "Livro do Gasto da Sacris-
tia do Mosteiro de S. Bento de Olinda", Rio, Se-
parata da Rev. do Patrimonio Hist. e Artístico
Nacional (Vol. 12), 1955, p .' 235.
122

da notícia de que antes do provável órgáo do Agos-


tinho, um outro havia - antes talvez de 1736, data
em que falece Fr. Emanuel do Espírito Santo. A
notícía déste órgáo é-nos transmitida por Iza
Queiroz:
"O revmo. Fr Emmanuel do Espírito
Santo deu urna avultada esmola para o ór-
gáo que entáo se fazia".
A mesma autora admite que ésse foi o instru-
mento que chegou ao século XIX (39).

ÓRGAO DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO,


NA BAHIA
Na igreja da Ordem 3a. do Carmo da Bahia
existiu um instrumento fabricado pelo organeiro
pernambucano, contudo nao me parece que tenha
sido adquirido antes de 1757, mas, sim, algum tem-
po depois.
Quem prime ira nos deu a notícia dele, foi o
eminente beneditino D. Clemente Maria da Silva
Nigra:
"Na Bahia, o mestre Agostinho colocou
um grande órgáo na igreja da ordem tercei-
ra do Carmo, no ano de 1769" (40).

39) - Iza Queiroz Santos - "Origem e Evolucáo da


Mús. em Portugal e sua Influencia no Brasil",
p. 114.
D. Clemente Maria, na sua grande obra "Cons-
trutores e Artistas ... ", p. 155, deixa ainda a per-
gunta: "Além do grande órgáo, Agostinho Rodri-
gues Leite será também o autor do realejo ou pe-
queno órgáo portátil que o mosteiro baiano ainda
conserva?"
40) - D. Clemente Maria da Silva-Nigra - "Construto-
res e Artistas ... " p. 155.
123

o "grande órgáo" nao era muito maior do que


o portátil existente ainda no mosteiro baiano de
S. Bento, pois ainda se conservam dele 2 janelas
da parte superior e o fole, no depósito da mesma
Ordem Terceira. Mostrou-me essas relíquías, o
zelador da referida confraria - há já 23 anos ze-
lador - o sr. Júlio Gaspar Cruz, que ainda viu o
órgáo, sem funcionar, mas em pé: "ainda vi a cai-
xa, com os foles do antigo órgáo " , foi a sua infor-
macáo.

Quanto a ser precisamente 1769 a data da


aquísícáo do instrumento, dada por D. Clemente,
tenho eu cá as minhas dúvidas. Confesso que vía-
[eí a Salvador a fim de obter melhores dados sobre
tal problema, aproveitando a oportunidade para
indagar sobre a atividade de alguns músicos per-
nambucanos na capital baiana. Estudeí a mesma
fonte que o notável beneditino estudou, o Livro
de Receita e Despesa (1758-1770) da Ordem Ter-
ceira do Carmo, e me detíve algumas manhás e
algumas tardes também no arquivo da mesma con-
fraria, consultando outros códices (41). O referi-
do manuscrito está em lamentável estado; já nao
permite urna leitura integral. Sendo a cítacáo de
D. Clemente Maria parcial, aqui se publica o que
foi possível ler:

Ano 1769 - "Julho 11. Pelo que mais des-


pendeu em virtude de urna Procuracáo que
veio do Recife de Pernambuco, de Agosti-
nho Rodrigues Leite dono do órgáo que nos
havia vendido o Rdo. Pe. Fr. Antonio de San-
ta Eufrázia Barbaza, cuja quantia é 500$000
em que ficou depois do primeiro ajuste rece-
bendo nessa cidade seu Procurador Clemen-

41) - Idem, idem.


124

te José da Costa, como (se mostra) do reci-


bo do (mesmo) N° 17.... 500$000" (42).
Acredito que uma das chaves para conhecer
melhor a data do instrumento, era saber quem era
o Frei Antonio citado que, antes de 11 de [ulho,
já havía vendido o órgáo do pernambucano. La-
mentavelmente, nada sei a respeito. Teria o ins-
trumento vindo de outra igreja? Teria o seu fabri-
cante pedido ao religioso para levar (ou para man-
dar buscar) o órgáo a fim de ser vendido na Bahía?
A data de 11 de julho de 1769 é, com certeza,
apenas a da do pagamento ao procurador de Agos-
tínho Leíte , Nao é, evidentemente, a do ato da
compra. O órgáo estéve, segundo o texto acima
revelado, nas máos de Frei Antonio de Santa Eu-
frazia que o vendeu posteriormente a Ordem Ter-
ceira.
No mesmo ano compromissal - 1768-69 - li
o seguinte lancamento nO 11 da despesa:
"Despendeu mais doze mil, e oitocentos
réis que pagou a Antonio Francisco Souza
por despesa da Mesa de 22 (ou 23?) de abril
déste ano (- 1769) por ter consertado, e
afinado o órgáo da nossa Capela como se
ve do documentos e quítacáo n? 11, ( .... )
12$800" (43).
Ora, se em abril foi pago um consérto e afina-
gao do instrumento - "o órgáo da nossa Capela"
- fica menos provável a data déste ano, 1769, co-
mo a da aquísícáo, e muito menos ainda a da fa-
brícacáo . Talvez tenha sido comprado antes da
Festa de Santa Tereza em 1768.

42) Livro de Receita e Despesa (1758-1770), da Ordem


Terceira do Carmo da Bahia, fl. 84 v .
43) Idem, idem, f1. 81.
125

Antes de 1766, a probabilidad e desaparece, a


rneu ver, pois depoís da leitura de urn outro livro
de despesa (1754-1766), nada encontrei que se r€-
lacionasse corn órgáo ou corn organista. Encon-
trei sim, urna referencia que vem confirmar a ím-
possibilidade de se pensar que o órgáo do Agos-
tinho tería sido adquirido antes de 1766, urna vez
que o escríváo anotou que o instrumento era alu-
gado:
"1763 - Pelo que despendeu o Irmáo
Tesoureiro o Ajudante José de Barros d'AI-
meida com o Organista que tocou no dito
ofício, e aluguer do órgño 4$000" (44).

Já em 1781, tocava no instrumento do orga-


neiro pernambucano, como organista titular da
Ordem Terceira do Carmo, o baiano Manoel de
Araújo de Almeida, segundo o documento que aqui
se revela pela prime ira vez:
"Despendeu mais o dito Tesoureiro (-
que era Manoel Ferreira da Silva) dez mil
com Manoel de Araújo de Almeida, Orga-
nista que se lhe mandou pagar pelo primei-
ro quartel vencido do seu ordenado, como
se mostra pelo documento N° 2, que vai por
linha ..... 10$000".
Logo a frente, mais este outro:
"Despendeu mais dez mil réis com Ma-
noel de Araujo de Almeida, que tantos se
lhe mandou dar do seu quartel do Ordena-
do de Organista, ( ..... ) .... 10$000" (45).

44) - Idem, ídem, fl , 116.


45) - Livro de Receita e Despesa (1781-1782), da Ordem
Terceira do Carmo da Bahia, fls. 106 e 107.
126

Em 1784, ainda o mesmo organista que tra-


é

balha no instrumento construído por Agostínho


Rodrigues Leite:
"Despenden mais o díto Irmáo Tesou-
reiro, com o Organista o Irmáo Manoel de
Araújo de Almeida um quartel vencido do
seu salário ( ) 10$000" (46).
No ano de 1785-86,ternos notícia de um con-
sérto efetuado no dito órgáo:

"Despendeu o Irmáo Tesoure1ro vinte


cinco mil seiscentos réis que pagou a Frei
Inocéncío de Sao José do Oonsérto do órgáo
da nossa capela, ( .... ) ..... 25$600" (47).

ÓRGAO DO MOSTEIRO DE S. BENTO, NO RJO


Gra~as a D. Clemente da Silva-Nigra, que des-
cobriu a importante documentacáo autentica - o
recibo autógrafo de Agostinho Rodrigues Leite -
sabemos hoje que o nosso organeíro construiu tam-
bém umínstrumento para o Río de Janeiro. Mais:
que Agostinho viajou até lá, para montar ele pró-
prio o instrumento precioso. Mais: é o único ór-
gáo do mestre pernambucano que, ao menos par-
cialmente, ainda canta.
Escreve o autor da notável descoberta:
"Também o mosteíro de Sao Bento do
Rio de Janeiro encomendou ao mesmo mes-

46) - Cf. Livro de Receita e Despesa (1783-84), da Or-


dem Terceira do Carmo da Bahia, fls. 90 e 91.
47) - Livro de Receita e Despesa (1785-86), da citada
confraria, fl. 21 v. nO 11.
127

tre organeiro um órgáo grande que Agostí-


nho trouxe de Pernambuco e o assentou no
coro da igreja abacial, conforme o seu recí-
bo de 14 de janeiro de 1773" (48). órgáo
que "depois de doirado, e pintado, emportou
mais de 5 mil cruzados", informa ainda D.
Clemente.

o recibo que o autor deu a conhecer em forma


fac-similar - e que autorizou a reproducác ao au-
tor destas linhas - contém o teor seguínte:

"Recebi do muito Reverendo Padre pro-


curador do Mosteiro de s. Bento do Rio de
Janeiro o Snr. Fr. Lourenco da Expectac;ao
Valadares, quatro mil e quinhentos cruza-
dos de um órgáo que trouxe de Pérnambu-
co e o vim assentar no dito Mosteiro, e por
estar pago e satisfeito da sobredita quantia
passei éste de mínha letra e sinal. Rio de
Janeiro 14 de Janeiro de 1773.

ass. Agostinho Rodrigues Leite

Sao 1800$000" (49).

Ha um pequeno equívoco do autor quando


pretendeu corrigir a cifra total de 1. 800$000 para
180$000. O Agostinho é quem está certo (50).

48) - D. Clemente María da Sílva-Nigra - "Constru-


tores e Artistas ... " p. 156.
Cf. o mesmo autor em sua citada "Explicacáo",
p. 235.
49) - Idem, "Construtores e Artistas ... " p. 147+
50) - Idem, idem, p. 156.
128

NOVOS óRGAOS PARA OLINDA

Agostinho Leite voltou a fazer órgáos para o


Mosteiro de S. Bento de Olinda, cidade em que ele
já havia vendido, provávelmente, um órgáo que
estéve na Capela do Monte, e que servia as festas
de N. Senhora de Guadeíupe, na igreja do mesmo
nome, quando a Irmandade de N. Senhora nao
mandava buscar de canoa um órgáo dos que
existiam no Recife, para tocar em suas festas
.
.
o Livro do gasto da Sacristia do Mosteiro de
Sáo Bento de Olinda (1756-1802) dá-no.s a notícía
de que no ano de 1775, Agostinho Rodrigues Leite
construira mais um instrumento:

"Por dinheiro ao Capítáo Agostinho


pelo órgáo novo oitocentos mil réis .
800$000" (51).
A compra désse órgáo do Mosteiro de' Olinda
se situa entre 6 de fevereiro e 10 de maio de 1775
(52). .

Ao·redor da valiosa íntormaeáo, aqui trans-


crita, outras há de ínterésse para o caso: •

"Por duas libras de tinta para o forro


do órgáo duzentos réis ..... $200$. .

51) Cf. Manuscrito original, fl. 53, no Arquivo de S.


Bento de Olinda, em que ainda se pode ler "órgáo
novo", o que nao está na edícáo da "Rev. do Pa ..
trímónío. H. e G . Nacional", vol. 12, p. 306 .
D. Clemente Maria "Construtores e Artistas ... ".
p. 154.
62) Cf. o citado Livro do Gasto da Sacristia do Mos ..
teiro de S. Dento de Olinda, pp. 306-7 .


129

"Pelo que dei ao Pintor que pintou o


forro do órgáo por duas vézes, duas pata-
cas ... "... $640".
"Por dinheiro ao Pintor por pintar de-
baixo do órgáo, vinte mil réis " 20$000" (53)

D. Clemente Maria Silva-Nigra Informa que a


posícáo, que ocupou ésse órgáo de Olinda, feito por
Agostinho, era semelhante El, do instrumento da
ígreja de Tiradentes, em Minas, isto é, "foi colo-
cado numa sacada especialmente construída, entre
a grade do eóro e a última tribuna do lado da epís-
tola, ande permaneceu até 1903" (54)" Ignoro a
fonte desta data 1903, que o autor nos oferece.
Uma íntormacáo anterior a obra de D. Clemente
- íníormacáo que se deve ter em canta certa-
mente fornecida pelo próprio Mosteiro de' S. Bento
de Olinda, obriga-nos senáo a negar a data de
1903, ao menos a coloca-le em dúvida. Eis o texto
a que me refiro:

"Um órgáo ao lado da Epístola, pegado


ao Coro Superior, mas totalmente desman-
telado, ficando apenas o caíxáo exteri.or com
algumas flautas de metal, D. Abade Gerar-
do o fez retirar em 1896" Neste ano veio da
Europa o organeiro Cluitens, um belga, que
fez o novo órgño do lado da Epístola, mas
no Coro inferior.. ~ste órgao, muito bem
feíto, foi inaugurado na festa de Sao Bento
em 1897, mas teve pouea vida .. ,," Os grifos
náo sáo originais (55)"

53) Cf. Idem, idem.


· 54) D. Clemente Maria "Construtores e Artistas ..."
p. 154.
55) ce. Iza Queiroz Santos, Op. cit., p. 114.
130

Além do mencionado órgáo, o mestre Agosti-


nho vende um outro, de proporcñes menores um
órgáo portátil (que pode ser o que estéve no Monte)
- ao mesmo Mosteiro de Olinda, entre 26 de abril
de 1784 e 19 de julho do mesmo ano:

"Por dinheiro ao M. Agostinho organei-


ro por um realejo novo oitocentos mil réis
digo oitenta mil réis .... 80$000" (56).
Aliás encontrei também um outro lancamento
comprobatório, em outro manuscrito do Arquivo
do Mosteiro de S. Bento de Olinda:

"Contas do Padre Gastador das Obras:

"Em Músicas, cento e cincoenta mil, e


quatrccentos 150$400"

• I • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •

"Em um Realeijo (sic), oítenta mil réis


.. ~.. . .. 80$000" (57).

Provávelmente, nao foi neste instrumento, mas


sim no órgáo grande comprado anteriormente que
tocou um tal Geriga, em 1790:

"Pelo que paguei ao organista Gerigo


tocar na festa dos ossos 2$000" (58).

56) ·Cf. Livro do Gasto da Sacristia... já citado (Ed.


do Patrimonio) p. 330.
57) Livro de Estado do Mosteiro de S. Bento da Cida-
de de Olinda do ano 84:-85-86(1784-86), fl. 7. Ms.
conservado em Lisboa. O Arquivo do Mosteiro de
Olinda possue urna cópia microfilmada.
58) Livro do Gasto da Sacristia ... já citado, p. 344.
131

De 1784 até a data da morte do grande orga-


neiro pernambucano, a qual ocorreu e vai aqui
em primeira máo segundo o livro de Assenta-
mentos de Irmáos Proíessos da Ordem Terceira do
Carmo do RecifE, em 2 de novembro de 1786, pare-
ce nao ter construído mais nenhum órgáo (59) .

59) -- o manuscrito citado anota a margem da fl. 205, o


seguinte: "Faleceu em 2 de novembro de 1786 e
se mandara m fazer dois sufrágios de 8 miss as" .
A notícia é confirmada pelo Livro das Elei~óes e
Contas da Confraria do Santíssimo Sacramento da
Matriz do Corpo Santo do Recife (Hoje, no Arq.
da Igreia da Madre de Deus), de 1771 a 1812, a
fl. 94 V., referente ao ano compromissal de 1785-86:

"Memória dos Irmáos que faIeceram este ano


Agostinho Roiz Leite" .
..

ALGUNS DOCUMENTOS
órgíío do Mosteiro de S. Bento do Rio de Janeiro, construído
por Agostinho Rodrigues Leite. Pág. seguinte, •
outro aspecto do mesmo érgño
BIBLIOGRAFIA

a) Impressos

ALMEIDA, Renato História da Música Brasileira, 2a. ed.,


Río., F. Briguiet & Cia., 1942.

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b) Inéditos

Abecedário dos Irmios na Confraria de S. Ana da Madre de


Deus (Arquívo da Igreja da Madre Deus) ,

Livro de Registro de elleíeñes desde 1'714a 1796 da Contra-


ria de N ossa Senhora do Li vramento.

Livro de Receita e Despesa (1743-1805) da Matriz da Boa


Viagem.
I
Livro de Receita e Despesa (1758-1770) da Ordem Terceira
do Carmo, Salvador, Bahia.

Livro de Assentamentos de Irmáos Professos, Ordem Tercei-


ra do Carmo do Recife.

Livro de Entrada de Jrmios (desde 1725) da Irmandade de


N. Senhora da Conceícáo dos Militares do Recife.

Livro de Contas Geraes (1766..1827) da Ordem Terceira do


Carmo do Recife.

Livro de Estado do Mosteiro de S. Bento da Cidade de Olln..


da do ano 84:85:86 (1784-86). Cópia fotográfica <do
Mosteiro de S. Bento de Olinda) do Manuscrito con-
servado ero Lisboa.
139

Livro das Elel~óes e Contas da Confraria do Santissimo Sa..


cramento da Matriz do Corpo Santo do Recife (1771 ..
1812) .

Livro do Gasto da Sacristia do Mostelro de Sáo Bento de


Ollnda (1756-1802) Ms. conservado no Mosteiro de
Olinda.
Indice dos Irmáos falecidos da Venerá ve) Irm. de s...
~.
Pedro
dos Clérigos do Recife (1700-c. 1933).

Livro de Elei4}óese Gastos (1735-71) da Irm. de S. Pedro dos


Clérigos do Recife.


IV PADRE VICENTE FERRER DOS SANTOS


pr"

PADRE VICENTE FERRER DOS SANTOS


Sacerdote e músico de quem só se conhecía o
nome, e ésse mal citado. Era Ferreira Vicente
Ferreíra dos Santos para o autor dos Anais
Pernambucanos, que desconheceu, certamente, a
assinatura autógrafa do músico conterráneo (1).
Euclides Fonséca, ésse nem cítou o nome do padre
no trabalho que escreveu sobre a música em Per-
nambuco. E é tudo ... o que existía até o pre-
sente.
Ferreira, Ferrera e Ferera sao grafías da res-
ponsabilidade única dos escríváes das irmandades
de seu tempo , Nao se apoia na assinatura autó-
grafa. Padre Vicente nunca oscilou ao assinar-se,
que eu saiba; sempre escreveu Ferrer. AIguns,
.. porém, dos escríváes seus contemporáneos, anota-
ram Ferrer, Ferer e Ferre, sempre por extenso. Que
o nosso sacerdote e músico se assinava Ferrer fica
provado pelos documentos que reproduzo no ñm
déste trabalho.
Nada consegui saber sobré sua origem e for-
macáo, formacáo sacerdotal e musical. Também
nao consta tenha sido compositor. Foi, sim, um
Mestre de Capela dos mais atuantes em fins do
século XVIII el primeiros anos de XIX. A sua ati-
vidade, parte da qua! ficou anotada nos arquivos
empoeirados do Becíte, a sua atívídade, repito, res-

1) Cf. Pereira da Costa Anais Pernambucanos, VI,


p. 169 e Estudo Histórico-retrospectivo sobre as

Artes em Pernambuco, p. 22..
144

salta a sua figura como um dos regentes de "or-


chestra" mais respeitados. Parece mesmo ter go-
zado de apreciável ascendencia sobre a maior par-
te dos músicos, regentes, instrumentistas, cantores
e mestres de capela de seu tempo. Padre Vicente
Ferrer dos Santos é do mesmo tempo de Luiz Al-
vares Pinto, de Antonio Joáo dé Lira Flores, de
Máximo Pereíra Garras, de Jerónímo Coelho, de
Bernardo Froes, Padre José Bezerra Cortes e de
tantos outros vultos de nomeada ,
É POSSíVél que tenha nascido por volta de 1'750,
data em que morreu Joño Sebastiao Bach. De
qualquer maneira, nasceu antes de 1760, poís, 19
anos depois, quando possivelmente já era sacer-
dote ele íngressa numa das corporacóes religio-
sas do Recife.
As fontes documentais consultadas informam
que resídíu "na rua Velha da Boa Vista" "na rua
da Madre Deus", "na Rua da Senzala".
Em 19 de setembro de 1796, ele recebe da Ir-
mandade das Almas do Carpo Santo 12 mil réis por
ter rezado 60 missas (Livro de Receita e Despesa,
de 1794 a 1803, fl. 14).
Faleceu no Recife aos 23 dias de setembro de
1816, e segundo o Livro de Matricula (1759-1853)
da Ordem 3a. de Sao Francisco do Recife, "foi se-
pultado em S. Pedro", isto é, na Igreja de S. Pedro
dos Clérigos (2).

2) Livro cit. fl. 186, n? 1366. Com relacáo a data de


falecimento consultar ainda: Livro de Assenta-
mentos de Irmáos, (desde 1788) da Irmandade do
Sr. Bom Jesus das Chagas, fl 83 ou o índice dos
Irmáos falecidos da Venerável Irmandade de S.
Pedro dos Clérigos do Recife, ou ainda o Livro de
,

Anuais (1799-1860) da Irmand. das Almas da Boa


Vista que comeca a fI. 62 e cujo formato é o me-
nor dos arquivos do Recife (medindo quinze por
145

No Livro de Despesa (1302-1877) da Irmanda-


dé de S. Pedro, na fI. 33, há o lancamento que
segue, com relacáo ao ano compromissal 1816-17:
"Pela esmola de 50 Missas pela alma do Re....
verendo Vicente Ferrer dos Santos, a 320
16$000" .

PADRE VICENTE FERRER E AS IRMANDADES


DO RECIFE

a) O nosso padre-músico pertenceu a várias


írmandades existentes nos váríos templos do Reci-
fe do século XVIII.
Baseado n03 dados colhídos durante as minhas
pesquisas, creio poder afirmar que a primeira Ir-
mandade a que se agregou o Padre Vicente foi a
das Almas da Boa Vista, ainda ao tempo em que
cstava a dita confraria relíg.osa na Igreja de San-
ta Cruz. Para a Igreja Matriz da Boa Vista do
SS. Sacramento da Boa Vista que foi inaugu-
rada em 1793, passou-se a mencionada irmandade,
ande viveu até o nosso século. Raje está extinta,
Padre Vicente Ferrer dos Santos ingressou na
Irmandade das Almas em 8 de setembro de 1779,
residindo nesta época a "rua Velha da Boa Vista".
Foi mesário em 1785-6 e mordome eleíto a 5 de no-
vembro de 1811, para o ano 1811-12. (3). Por vol...

dez centímetros). Na fl. 111v. há urna data dis-


cordante das demaís fontes. O escrrváo anotou
24 de setembro.
3) Livro de Anuais (1799-1860) da Irm. das Almas
da Boa Vista, fl. 111v. e Livro de Elei~óes,.Pes-
ses e Inventários dos bens (1796-1871) da mesma
irmandade, fl. 20.

••
146

ta de 1807 o Irmáo sacerdote estaria morando "na


rua da Madre de Deus dentro do Recife" (4).
b) Pertencia a Irmandade de S. Oecílía dos
Músicos do Recife desde, pelo me-nos, 1788. Na do-
cumentacáo existente da mesma irmandade, o livro
mais antigo que há é o de Receita e Despesa de
1788 a 1853. Aí, a fl. 2: Rendimento que teve esta
Irmandade de Santa Cecilia que se carregou ao Ir.
Procurador Angelo Custódio de Oliveira sendo o
Juiz o Ir. Fr. Joáo de S. Loureneo no ano de 1788,
está este lancamento:

"Pelo que deu o Ir. o Rdo. Vice·nte Fer-


rera (sic) dos Santos $320"
Trata-se, portanto, dé um írmáo cuja entrada
na irmandade é "anterior a 1789", segundo a fór-
mula vaga de um escríváo do século XIX.
Teria sido o Padre Vicente Ferrer um dos "fun-
dadores" da Irmandade de S. Cecília? Nao é ele
um írmáo anterior a 1789? Sinceramente, nao vejo
razáo para responder afirmativamente. A informa-
~ao acíma nos assegura que o sacerdote pagou
urna quantía, mas nada revela a respeíto da pro-
cedéncía ou razáo de ser da mesma. Poderia ser
o chamada "vintém da Santa" urna espécíe de
imposto de renda mas isso nao vem ao caso. E
nao vem ao caso porque o escrívño disso se preo-
cupou lago no primeiro registro de receita, de mo-
do global: "Pelo QU6 rendeu os vinténs das Iuneñes
que se tírou dos músicos ..... 9$940". Nao pare-
ce ser [óía de entrada, porque a primei.ra [óía ano-
tada informa que a quantía era ·1$000. O que sei
de documentacáo um pouco posterior é que aque-
la importancia era o "anual" dos írmáos, músicos

4) Cf. Livro Mestre ou Mapa Geral da Irm. das Al-


mas da Boa Vista (desde 1794), n. 231.
147

ou simples devotos, que nao exercessem a arte. No


caso do Padre Vicente, essa explícacáo torna-SE
aceitável pelo fato de nada constar, até aquela
data de 1788, com relacáo a qualquer atividade
musical sua. Isso nao exclue de todo a possi.bili-
dade um tanto ténue me parece de ser ele
um dos írmáos fundadores da Irmandade de S .
Cecília do Recife.
Exercendo, ou nao, a sua arte de ~estre de
Capela, o tato é que lago a 15 de novembro de 1789,
o Padre Vicente é eleito Juiz da contraría dos mú-
sicos, cargo que lhe proporciona urna posícáo de
destaque entre os demais artistas de sua época.
Mais: SEgundo a documentacáo existente ele se tor-
na, cronólogícamente, o terceíro Juiz dessa extra-
ordiná.ria Irmandade de S. Cecília, cuja vida durou
quase 160 anos. O termo relativo a eleícáo de 15
de novembro de 1789, foi transcrito, neste volume,
quando me ocupeí do Luiz Alvares Pinto. A posse
foi efetuada a 29 de novembro do mesmo ano (5).
Em 1790-91 desempenha a funcáo de eseríváo.
A 17 dé novembro de 1792, é eleito Juiz para 1792-
93. Transcrevo o termo que se lavrou a respei.to
da eleícáo de 1792 da Irmandade de S. Cecília:

Termo de Elei~ao
r

Aos 17 dias do mes de Novembro de


1792, Estando congregados em mesa todos
os Mesários, se procedeu a Eleigao do Juíz,
Escríváo, e mais mesários que hao de servir
a Gloriosa S. Cecília este ano de 1793, e se-
gundo a determínacáo do Compromisso foi
eleíto para Juiz o Rdo. Vicente Ferrer, Es-

5) Cf. Livro de Termos de Assentos dos Irmáes, das


Elei~óes, das Posses (1789 a 1840) da Irm. de S
Cecilia, f.l. 1 v .
148

críváo Dionísío Antonio Gomes de Sá, Tesou-


reiro Manoel Inácío Vidal, Procurador Joa-
quim José de Brito, para mordamos Manoel
Fi!ipe de Santiago da Cruz, Francisco Xa-
vier Pereira, José de Barros da Conceíeáo, o
Rdo. Joaquim de Santa Ana, José da Santfs-
sima Virgem, Eugenio José da Silva, Joao
Borges da Costa, o Rdo. Inácio Francisco

dos Santos, o Rdo. José Este,ves de Abreu,


José Afonso Monteiro, e para Juiza D. Joa-
na Maria da Fonseca, sendo assim eleitos se
fez éste termo em que se assínaram todos,
e eu Vicente Ferrer dos Santos Escrivao
eleíto o subscrevi.

Joáo Raiz Ferreira


Juiz
Vicente Ferrer dos Santos
Juiz

Jaaquim José de Sta. Anna


Domingos da Silva
Joaquim José de Brito
Dionízio Ant, Gomes de Sá
Tesoureiro

Angelo Custódio de Oliveira


Manoel Inácio Vidal
Francisco Xavier Pereira
ManoE-IFelipe de Santiago da Cruz
Procurador" (6)

A posse se deu a 15 de dezembro de 1792 "em


casa de morada do Rev. Juiz Joáo Rodrigues das
Virgens" (7).

6) Idem, idem, fI. 101.


7) Idem, ídem, fI. 113.
149

Em 1794-95, o Padre FerrEr é tesoureíro, eleito


na reuniáo de 13 de novembro de 1794, tomando
posse a 15 de dezembro do mesmo ano (8).
Em 1795-96 é mesário .
Em 1796-97, volta a ser tesoureiro.
Em 1797-98, mesário eleito. Posse a 6 de de-
zembro de 1797.

Em 5 de dezembro d3 1800, dá-se um fato de


grande importancia para a história da Irmandade
de S. Cecília. A ata que transmite o fato assim
se intitula: Termo para fazer reviver o Zelo da nos-
sa Irmandade que por frouxidáo dos Irmáos que
se achava que quase amortecida. A reuníáo se
realizou "em casa do Rev. Vicente Ferrer, lugar
destinado [por agora] para as nossas .determina-
cóes". Tratava-se de criar motivos de ínterésse em
torno da confraria, que se encontrava em "deplo-
rável estado"... 'Cachando-se [á quase amortecido
o zélo que a mesma príncípíou, que se conservou
por alguns anos". Os irmáos "animados de novo
pelo espírito de Carídade' determinaram que "a
Elei~áo feíta em Novembro do ano de 1799 para o
de 1800 sem algum vigor por se nao dar posse aos
entáo eleitos pela ínacáo em qUE: [azía, servisse
para o govérno do ano de 1800 que há de acabar
em 1801, dando-se posse aos mesmos eleitos" (9).
Padre Vicente Ferrer que deve ter boa parte
nésse soerguimento da Irmandade de S. Cecília,
parece já vinha €,xercendo o cargo de Procurador
no que lhe era possível, dado o estado por que an-
dou a írmandade dos músicos. De fato, dias depois
da memorável reuníáo, outra se realizava a 14 de
dezembro do mesmo ano, eujo termo aqui se re-
produz:

8) Idem, ídem, f15. 102 e 113v.


9) Idem, ídem, fls. 133v. -134.
. ~
,
;,

150 -
-
,1

"Termo em que se dá poder ao Procu-


rador poder fazer o que for necessário fazer
para benefício do Altar
Aos 14 dias do mes de Dezembro de 1800
estando congregados em Mesa todos os Me-
sários SE, determinou ao Ir. Procurador que
entáo servia o Rev. Padre Vicente Ferrer dos
Santos que mandasse fazer para paramento
de nosso Altar tudo quanto ele Procurador
visse era preciso para ornato, limpesa €; as-
seio do mesmo Alt-ar o que se levaria em
conta no fim do ano, e para em todo tempo
constar mandou o nosso Ir. Juiz fazer este
termo e eu Joaquim José de Brito ~scriváo
atual o escreví ,

Antonio Joáo de Lira Flores


Angelo Custódio de Oliveira

Máximo Pereira Garros


Juíz

O Pe. Manoel Pra. Camello


Tesoureiro

Leandro Francisco Seichas

o Pe. Vicente Ferrer dos Santos


Procurador

Inácío José Lopes


Manoel Caetano" (10)

A 15 de novembro de 1801 é eleito tesoureiro,


cegundo reza o texto da ata, mas é empossado co-
mo Procurador, no dia 2 dé dezembro do mesmo ,

10) - Idem, idem, f1s. 134 v. -135.


151

ano. O eleíto para procurador havia sido o mes-


tre Marcelino da Costa (11).
Já no fim do govérno da Irmandade de S. Ce-
cília, do ano 1803-4, o Padre Ferrer recebe, por eleí-
<;áo, o cargo de Tesoureiro, .em substítuícáo do
Mestre de Capela Antonio Joáo de Lira Flores, que
havia falecido durante o exercício daquele cargo.
Revelo a fante:
"Termo dé Eleic;ao e posse em 5 de Se-
tembro de 1804 que se deu ao Rdo. Vicente
Ferrer para Tesoureiro por talecímento do
nosso Ir. Tesoureiro atual Antonio Joáo de
Lira Flores no lugar deputado para as nos-
sas dctermínacñes procedendo-se a Eleícáo
pelo nosso Ir. Juiz e mais Oficiais da Mesa
para factura do dito Tesoureíro e ocupar o
dito cargo que lago foi empossado, e prome-
teu cumprir as suas obrígacñes e para assim
constar mandou o nosso Ir. Juiz fazer este
termo ... " (12).

Nos ñns do mesmo ano de 1804, retorna ao


posta de Juiz, cuja posse se efetuou no dia 21 de
dezembro de 1804. Eis o termo da Eleic;ao:
"Aos 15 do mes de Novembro de 1804
no lugar das nossas determínacñes estando
completa a Mesa se procedeu a Eleigao do
Juiz e mais oficiais que hao de servir este
presente ano e por votos foi eleito para Juiz
o Rdo. Vicente Ferrer, e para Escriváo, o
Rdo. Fr. Antonio de sto, Alberto, e para
Tesoureiro o Ir. Rdo. Pe. Manoel Pereíra, o
Ir. Patricio José para Procurador; o Ir. Rdo.

11) Idem, idem, fls. 104 e 115


12) Idem, idem, f1s. 136v.
152

Pe. Antonio de S. Ana para Mesário, e o Pe.


Joaquím Rodrigues, Máximo Pereira, f Mar-
celíno da Costa, e J08,O Batista, e Francisco
Januário; e para constar fi,z este termo e eu
José Henriques Lins Escrivao atual o escrevi.

Francisco Xa vier Pereira


Juiz
O Pe. Vicente Ferrer dos Santos
Fr. Ant. de Sto. Alberto
Joaquim José de Brito
Máximo Pereira Garros
Basílio Alz' Pinto
Manoel Evaristo de Azevedo
Patricio José de Souza
Pedro Ant. de Azevedo" (13).

Em 1805-6 - É Procurador Geral.


Em 1806-7 'I'esou-eiro.
Em 1807-8 Novamente, Procurador Geral

e) Em 1790, Vicente Ferrer ingressa na lr-


mandada de S. Pedro dos Clérigos do Recife. O
termo de sua entrada [á nao se pode ler integral-
mente, por estar o lívro em Iastímável estado" Ve-
jamos a parte do documento que nos resta:

"Aos 24 do mes de Fevereiro se assen-


tou por Irmáo nesta santa Irmandade do
Senhor S. Pedro o R~ Vicente Ferrer dos
Santos, o qual Sé sujeitou a guardar as obrí-
gacóes do Oompromísso, que néle há. Recife
24 de Fevereiro de 1790, e deu de sua entra-
da. .. [quatro] mil réís, e sua libra [de]
cera. . . .. jurame·nto conforme determi-

13) Idem, idem, fls. 106 e 115 v.


153_

na assinou, e eu o Padre José Fernan-


des Cardosa o escrevi e assinei.
José Frz. Cardozo
Vicente Ferrer dos Santos" (14).

Em 14 de abril de 1796, vejo-o assinando o


termo da festa de S. Pedro, lago abaixo do Escri-
váo, em 3° lugar. E em novembro de 18,00, ele está
presente El. Mesa Geral da Irmandade de S. Pedro,
deixando a sua assinatura no respectivo termo, nao
se sabendo se como simples Irmáo, ou como ocupan-
te de algum cargo.
No ano de 1803-4, existe um lancamento sóbre
urna contríbuícáo dada pelo Padre¡ Vicente Ferrer
para o Lavatório da Igreja de S. Pedro dos Clérigos:

"Pelo que deu de esmola para o Lava-


tório o R. Vicente Ferrer dos Santos 2$000".
(15).

Em 1806-7, ele serve a irmandade na quali.dade


de Escriváo. A íníormacáo procede da "Conta da
despesa, que fez a Irmandade do Apóstolo S. Pedro
da Vila do Recife este presente ano de 1806, para
1807, sendo Provedor o R. Antonio Soares Ferreira
e Escriváo o Rev. Vicente Ferrer dos Santos" (16).
Nésse mesmo ano se efetuava o pagamento de um
trabalho do artista pernambucano Manoel de Jesus

14) Livro de Assentos dos Irmios do Sr. S. Pedro da


Irmandade Nova. A entrada é confirmada pelo
Livro de Receita da Irm. de S. Pedro Apóstolo da
Vila do Recife (1789-1838), a fI. 2.
15) Livro de Receita (1789-1838), fl. 42.
16) Idem, fls. 52 e 53 v. Consultar o Livro de Des-
pesas de 1802 a 1877. da .mesma Irm. de. S. Pedro
fl. 11.
154

Pinto, para a Igreja de S. Pedro dos Clérigos do


Recife:

"Idem pela pintura do forro do Coro, e


corredores, e pelo dourado das 12 sanefas
das portas, e janelas dos ditos, como consta
do recibo, 6 canta de Manoel de Jesus Pin-
to .... 250$000".

d) Em 1791, ele se inicia na Ordem Terceira


de S. Franci.sco do Recife, como se ve do termo de
entrada seguinte:

"Aos 25 días do mes de outubro de; 1791


o Rdo. Pe. Vicente Ferre (sic) dos Santos
morador no Recife, na Rua da Senzala, to-
mou o Santo Hábito na Nossa Venerável
ordem 3a. do Seráfico Pe. S. Francisco e lhe
lancou o hábito o Nosso Muito Rdo. Pe'. Co-
missário o Sr. Frei Antonio do Espírito San-
to Mariz, e prometeu servir a esta ordem de
que se mandou fazer este termo, e eu Vicen-
te Gurj áo Secretário da Ordem o escrevi.

o Rdo. Pe. Vicente Ferre (sic) dos


Santos" (17).

A assinatura contida abaixo do termo nao deve


SEr do novo írmáo, por várias razóes: 1) a letra di-
fere bastante; 2) nunca o padre se assinaria come-
cando por aquéle "O Reverendo"; 3) nao escreveria
erradamente o seu nome.
Passado um ano dé novícíado, que o fez de ma-
neira louvável, o Padre Vicente requereu e obteve
fazer a sua proñssáo de terceiro franciscano, o que

17,) Livro 30 de Termos de Entradas de Irmáos de 1772


a 1836 da Ordem 3a. de S. Francisco, 180v


ñ.
155

aconteceu em outubro de 1792. Eis o termo de pro-


ñssáo:

"Aos 4 dias do mes de Outubro do Ano


de 1792 o Irmáo Novíco o Rdo. Vicente Fer-
rer dos Santos ten do tomado o Santo hábito
nesta Venerável ordem 3a. da Penitencia e
acabado o seu ano de Noviciado louvavel-
mente, requereu a sua proñssáo para a qual
se lhe fizeram as diligencias necessárías con-
forme mandam os Nossos Estatutos, e por
votos que se lhe deram em Melsaficou admi-
tído a ela, e com efeito a fez nas máos do
N. M. R. Pe. Comissário Visitador o sr. Fr.
Antonio do Espírito Santo Mariz e prome-
teu servir esta Ordem, e guardar os Estatu-
tos dela, do que se mandou fazer este termo
em que assinou; e Eu Francísco José Peixoto
de Freitas, Secretário da Ordem o Escrevi.
O Pe. Vicente Ferrer dos Santos" (ass.
autógrafa) (18).

Nao consta tenha exercído qualquer cargo .


admini.strativo da Ordem Terceira de S. Francisco,
no entanto veremos que, por vários anos, andou
preparando e dirigindo a parte musical das fun-
cóes religiosas da mesma ordem.

e) Em 12 de junho dé 1799, entra na Irman-


dade do Sr. Bom Jesus das Chagas, entáo erecta

18) Livro 3° de Termos de Profissóes de Irmáos de


1780 a 1807 da Ordem 3a. de S. Francisco, fl. 79.
Cf. ainda Livro de Matrícula ( 1759-1853) da mes-
ma ordem, fl. 186. Pela jóia da Profissáo, a Or-
dem em outubro de 1792 "Recebeu do Irmáo o
Rdo. Pe. Vicente Ferrer 6$400", segundo o Livro
de Receita (1760-1793), fl. 301 v.
156

na Igreja de N. Senhora do Paraíso e de S. Joáo


de Deus (19).
f) Pelo Livro das eleíeñes e Contas da Con-
fraria do Santíssimo Sacramento da Matriz do Cor-
po Santo do Becife (1771-1812), venho a saber que
ele foi Mordomo da aludida irmandade no ano de
1805-6.

Padre Vicente Ferrer, Mestre de Capela

Mestre de capela é quem cuidava da música


nas igrejas e capelas. Com esta sígníñcacáo, Mes-
tre de capela era tóda e qualquer pessoa que sabia
dirigir coro e orquestra em nasso templos. Assím
entendida, a expressáo ainda se ouve de pessoas
idosas. Mestre de capela era um equivalente de
"Mestre da Música" e de "Diretor de orchestra".
Orche stra assim com agrafia antiga era em
verdade o que nós chamamos hoje coro e orques-
trae Coro que poderia ser apenas um quarteto vo-
cal. Orquestra, um pequeno número de instrumen-
tos. Mestre ·de capela nao foi sempre tuncáo de
clérigos. No passado mais remoto de nossa histó-
ria musical, há notícia de Mestre de capela leigo,
isto é, nao sacerdote. No século XIX, a grande
maioria dos famosos Mestres de capela era consti-
tuída de pessoas sem a marca sacerdotal. Assim
um José de Lima, um Joaquim Bernardo, um Jaaa
PauIo de Lira Flores, um Líbánío Colás, um Mou-
ra Pessoa, um Patrício José de Souza ou um André
Alves da Fonseca. Mestre de capela também nem
sempre foi um cargo, um "emprégo' El, base de

19) Cf. Lívro de Assentamentos de Irmáos (desde 1788)


da Irm. do Bom Jesus das Chagas (Arquivo na
Igrej a de S. Goncalo) 1 fl. 83; Livro de Assenta-
mentos de Irmios (desde 1790), da mesma irman ..
dade, fl. 230v .


157

salário. Muito se trabalhou neste Recife, única-


mente a base de contrato, contrato para cada urna
das festas ou tuneóes religiosas. Cargo a base de
salário fixo e mensal (ou anual), só o mantinham
algumas irmandades, como a do Santís,simo Sacra-
mento da Matriz de S. Antonio, sem falar no caso
da Sé de Olinda ou das Cámaras.
Nos bons tempos da Irmandade de S. Cecília,
Mestre de capela ou diretor de música era ativi-
dade privativa de alguns írmáos, dos írmáos que
para tal tivessem SIdo habíhtados , Nao bastava
ser "professor de S. Cecília" para qU6 alguém se
arvorasse em Mestre de Capela, ou qU6 organizas-
se e dírígísse tuncóes musicaís de qualquer espé-
Cié. Fazía-se nuster possuir urna "patente" espe-
eral, a qual devia ser renovada de tempos em tem-
pos, e que, em regra, só se concedía aigum tempo
depois da entrada na mesma irmandade.
A notícia mais antiga que possuo sóbre o Pa-
dre Vice:p.te, como Mestre de Capela, diz respeito
ao ano de 1792. Nesta data, encontro o n0850 re-
gente dirigindo a música da resta da Irmandade
do Sr. Bom Jesus das Portas, em sua Capelinha
que existia dentro do Recife. A pequena notícia
reveste-se de um particular ínterésse ao chamar o
Padre Vicente dé Músico:

"Pelo que se, deu ao Músico o Reveren-


do Vicente 19$000" (20).
Nessa mesma írmandade, ele permanecerá co-
mo Mestre de Capela de suas festas de 17~2 a 1812.
Sio 21 anos del atividade musical: ensaiando, con-
vídando músícos, copiando partes, talvez tazendo

20) Livro de Receita e Despesa (1787-1846) da Irman-


dade do Sr. Bom Jesus das Portas (Arquivo do
Patrimonio Histórico) fI. 27.
158

orquestracóes e alguma composícáo, e enfim. re-


gendo.
Ao tempo em que o Padre Vicente comeca a
servir a Irmandade do Sr. Bom JéSUS das Portas,
já ali se encontrava há vários anos o organista per-
nambucano Francisco Seixas. O Mestre de Capela
e o Organista trabalharáo juntos por algum tem-
po na mesma Capelinha do Bom Jesus das Portas.
Assím, em 1793, através da Conta da despesa que
se fez na Capela do Senhor Bom Jesus das Portas,
neste ano de 1793, sendo Tesoureiro o Irmáo Ma-
noel Francisco Bastos, podemos ler anotacóes re-
lativas aos dois artistas:

"Pela Música ao Rdo. Padre


Vicente 18$000
Pelo que se pagou a Francis-
co_Seixas, de tocar o órgáo
as sextas-feiras '.. ..... 6$400" (21).

Em 1800, é que, pela primeira vez, o eseríváo


registrou o nome quase completo do nosso Mestre
de Capela: .

"Pelo que se pagou ao Rdo.


Padre Vicente FerrEr, pela
Mu'Slea
· . 16$000" (22).

No mes de junho de 1796, ele atua na Igreja


de S. Pedro dos Clérigos, por ocasíáo da festa do
Príncipe dos Apóstolos. A escolha do seu nome
para dírígír a parte musical da solenídade, reali-
zou-se em mesa da Irmandade de S. Pedro dos
Clérigos. O termo dé 14 de abril de 1796 está as-
sim redigido:

21) Idem, ídem, fl. 28v .


22) Idem, idem, fl. 49 v .
159

"Aos quatorze do mes de Abril de mil


setecentos e noventa e seis neste Oonsístó-
rio da Igreja de S. Pedro estando congre-
'. gados (m Mesa o Reverendo Provedor e
mais Irmáos [ ... ] Reverendo Provedor que
se devia fazer a testa de Nosso Padre S. Pe-
dro com Vésperas, Matinas e Missa ... e que
propunha para Pregador o nosso Irmáo o
Reverendo Conego Joaquím de [SaldanhaJ
Marinho, para fazer a Músj,ca. . .. o Reve-
rendo Vicente Ferr6r dos Santos, e corren-
do-se a votos foram aprovados o Pregador
e o Mestre da Capela, e toda a solenídade
da resta, e para constar fiz este termo em
que todos assinaram, e eu o Pe, José Inácio
de Azevedo Escriváo da Irmandade o escré-
• ••
VI

e aSSIneI. •

J oáo José Saldanha Marinho


Provedor
José Inácio de Azevedo
Escrivao

Vicente Ferrer dos San tos


• • • • • • • • • • • • • • • • • •• • • • • • (23)

o mesmo acontece no ano seguinte, conforme


o texto que aquí se revela:

"Termo da festa do Nosso Padre Snr. S.


Pedro Apóstolo
Aos dezoíto de Maio de mil setecentos

23) Livro de Termos da IrDI. de S. Pedro dos Cléri- •

gos (desde 1717) fl. 156.


noventa e sete neste Consístórío da Igreja
de Sao Pedro estando congregados em Mesa
o Reverendo Escríváo Presidente t mais Ir-
máos propós o Reverendo Escrivao Presi-
dente [que] se devia fazer a festa do Nosso
Padre Sao Pedro com [Vésperas] Cantadas,
Mi.ssa Solene, e que propunha Pregador o
nosso Irmáo o Reverendo Cónego Joaquim
Saldanha Marinho digo .... Doutor Antó-
• nio Machado Portella e para fazer a Música
o' nosso Irmáo o Reverendo Vicente Ferrer
dos Santos, e correndo-se a votos foram
aprovados o Pregador, e o ·Mestre da Capela,
e toda a Solenidade da testa, e para cons-
tar fiz este termo em que todos assinaram
e eu Padre José Eloi da Silva Escríváo da
Irmandade o escrevi, e assinei". (24).

A música executada nas festas de N. S€nhor~


da Conceícáo, a 8 de dezembro dos anos de 1804
e 1805, na mesma Igreja de S. Pedro, foi por ele
dirigida: •

1804 - "Idem que se deu ao Pe. Vicente


Ferrer pela música da Festa .....
4$000" .
1805 - "Por dinheiro que se deu pela Mú-
sica, ao Rdo. Vicente Ferreíra
4$000" (25).

Apesar da inexistencia de documentacáo, é


provável que o Padre Vicente Ferrer dos Santos
tenha atuado mais vézes na Igreja do Paraiso du
Hospital. Baseio-me no fato de ele ter pertencído

24) -- Idem, ídem.


..
25) Cf. Livro de Despesas 1802 a 187'7 da Irm. 'le S .
Pedro dos Clérigos.
161

a Irmandade do Sr. Bom J esus das Chagas, desde


. 1779, irmandade que na mesma igreja se encon-
trava instalada, e ainda no fato de que as íontes
documentais ainda existentes sao omissas quanto
ao nome do Mestre de Capela, durante o espaco
compreendido entre 1791 e 1800. Os documentos
da referida irmandade límítam-se a dizer que a
mesma pagou aos "cantores na noite de Natal", ao
"Mestre da Capela das vésperas e dia de festa",
aos "cantores da novena", "pela música", ao "di-
retor da Música" expressáo que eu leio 3 vézes
seguidas ao "Músíco", ao "mestre da Música".
Mas, em 1801, pela festa do Bom Jesus das Cha-
gas, tem-se a primeira cítacáo de nome. Na época,
era tesoureiro o Padre José Games Diniz: .
"Pelo que paguei o Padre Vicente da
Música ..... 30$000" (26). .
Quanto a sua atuacáo na Igreja do Carpo
Santo, a pouea documentacáo que consegui de-
monstra ter sido o seu campo de trabalho bem
maior do que na Igreja de S. Pedro dos Clérigos,
ou na do Paraiso. No Carpo Santo trabalhou para
as Irmandades das Almas e! de Nossa Senhora do
Rosário.
Com relacáo a festa de S. Miguel celebrada
pela Irmandade das Almas, em setembro de 1808,
encontro este lancamento de despesa:
"Ao Padre Vi.cente da Música ... 4$000".
Nas exéquias realizadas no dia 2 de novembro
do mesmo ano, o nosso Mestre de Capela percebe
17$600 pela parte musical por ele dirigida (27).

26) ·Cf. Livro de Receita e Despesa (1791-1804) da Irm.


do Sr. Bom Jesus das Chagas, fI. 69 v.
27) Cf. Livro Despesa ano 1803 a 1838 da Irm. das Al-
mas do Carpo Santo (hoje na Igr , de S. José dos
Manguinhos), fls. 22 e 23 v.
162

Para essa irmandade, ele trabalha de 1808 até


1812 Na tuncáo religiosa de 2 de novembro de
o

1812, a "orchestra" foi paga com a quantia de


25$600 (28) Na Irmandade das Almas do Corpo
o

Santo, o seu sucessor será Joaquim Bernardo Men-


donca Ribeiro Pinto o
• A
Na mesma Igreja do Carpo Santo, ele traba-
Iha para a Irmandade de Nossa Senhora do Rosá-
río , Da Conta das Despesas que tenho feito com
a Irmandade de N. Senhora do Rosário do Recife,
no ano de 1809 que finda no último de Setembro
de 1810, documento avulso assinado por Marcos
de Barcellos, retiro o seguinte lancamento:

"Pelo dinheiro que paguei ao Padre


Vicente da música do ano e festa 119$920".
Um recibo do própriopunho do nosso Mestre
de Capela, também avulso, específica quaI foi essa
"música do ano e festa":

"Das Missas Cantadas aos Sábados 70$000


Da Navena . o • o o ••••• o o o •••••• 20$000
Da Festa . 20$000
Da Ladainha a noite o •••••••• 4$000
Da Ladainha no Domingo do Ter-
,
co do Rosário dos Pre tos . 4$000
De seis dias ao Organista dos Ver-
sos na novena '" 1$920

119$920
Recebí do Sr. Marcos de Barcelos da
Irmandade da Senhora do Rosário dos bran-
cos do Recife a canta acíma da Música da
Festividade da mesma Senhora. Recife, 11
de Outubro de 1810.

28) Idem, idem, fI. 54.


163

o Pe. Vicente Ferrer dos Santos".


• •

Mais dais outros recibos conñrmaráo a atua-


~ao do Padre Mestre na Igreja do Corpo Santo até
1812, quando o trabalho musical das funcñes reli-
giosas da Irmandade do Rosário passará aos cui-
dados do Mestre Joaquim Bernardo Mendonca.

Recibo primeiro

"Recebi do Sr. Joao Henriques tesourei-


ro da Irmandade de N. Senhora do Rosário
dos brancos oitenta e seis mil réis, a saber,
setenta das Missas [e] seis da Missa can-
tada do dia da Senhora, dois da ladainha
das Vésperas, quatro da ladairiha do dia, e
quatro da ladainha do dia oítavo, e por
[assim] ser passei este de minha letra, e
sinal. Recife, 19 de Outubro de 1811.
O Pe. Vicente Ferrer dos Santos
Sao Rs. 86$000".

Recibo segundo

"Recebi do Sr. Joaquim Fernandes de


Azevedo quarenta, seis mil, seíssentos e ses-
senta e cinco de [oito] meses da música das
Missas cantadas nos sábados, Domingas pri-
meiras de cada mes que manda cantar a
Irmandade da Senhora do Rosárío dos bran-
cos, cujo Procurador·é o dito Sr. acima, e
por assim ser passei este de minha letra, e
sinal.

O Pe. Vicente Ferrer dos [Santos]


Sao 46$665"
A servíco da Ordem Terceira de S. Francisco
do Recife, sempre estiveram grandes vultos de nos-
sa história musical, como um Ríbeíro Nóia ou um
Jerónimo de Souza, no século XVIII, um Jerónimo
Coelho e um André Alves da Fonseca, na prime ira
metade do século XIX. Destacada foi, também,
a presenca de servíco do Padre Vicente Ferrer na
mesma venerável confraria, cujas origens se pren-
dem aos fins do século XVII. Tuda que se fez
na referida ordem, mormente no século XVIII, pa-
rece ter sido marcado por urna excepcional nota
de esplendor, de certo luxo, e até mesmo de certa
requinte de ostentacáo , Penso principalmente na
Procíssáo de Cinzas, que possuia caráter do espe-
táculo público, misturando o profano e o religioso.
O cuidado e o zélo pelas coisas do culto divino fize-
ram trazer os azulejos do portugués Antónío Pe-
reira, construiram a Capela dourada, com o seu
altar saído da sensibilidade e arte do pernambu-
cano Antonio M. Santiago. A música nao ficou a
margem . Nem podía. A música era presenca obri-
gatóría nos atas e funcóes da Ordem Terceíra de
S. Francisco. E nao deve restar dúvida quanto a
qualidade. Devía ser da melhor que se fazia no
Recife. E o que se fazia no Recife era ímítacáo
do que se fazia em Lisboa ou no Pórto , No século
XVIII, principalmente em Lisboa. Lastímávelmen-
te, de tóda essa música que se executava no Reci-
fe, nada ficou a nao ser alguns nomes e alguns
fatos. Dos fatos, vale ressaltar que nas Procissóes
de Cinzas, a música assumia um papel de excep-
cíonal relevancia. Em que outra procíssáo do Re-
cife (ou talvez do Brasil) se ostentavam 9 Nove!
- coros de música? Nem mesmo, creio, nas famo-
sas 'procissoes da Ordem Ter·ceira do Carmo. Pois
bem, isso já acontecia em 1731, 1732, 1733... nes-
ta cídade do Recife, nas Procíssóes de Cinzas da
Ordem Terceira de S. Francisco. (29).

29) Um dos COI'OS aludidos era constituído apenas de


4 crianeas, chamadas figuras da Música ou "Anios

,
165.

Nas festas do século XVIII e primeira me-


tade do séc, XIX náo faltavam na Ordem Ter ..
ceíra (assim como nao faltavam nas festas de ou-
tras ígrejas e irmandades) os táo apreciados con-
juntos das Charamelas, das Trombetas, nem a pre-
senca dos "Pretos Timbaleiros", a cuja frente
nos fin s do século XVIII e comecos do seguinte -
estava o famoso Diogo Tímbaleiro, nem a de outros
instrumentos, como o do próprio 'órgáo que se pe-
dia a urna igreja que o possuisse, como a da Con-
ceícáo dos Militares ou a do Livramento (30).
Parece que o Padre Vicente Ferrer comecou
sua atividade na Ordem 3a. de S. Francisco, como
Mestre de Capela, organi.zando a parte musical da
Sexta-feira Santa e depoís a da Festa das Chagas,
em setembro, no ano de 1800. •

da Música". De um documento recentemente re-


velado: Livro em que se acha a forma de compor
as Procissóes de cinzas e entérro do Senhor, com
data de 1739, retiro esta intormacáo: "Quatro Anjos
para o Coro da Música, cujos meninos dará o mes-
tre de capela ao Ir. que haverero(sic) de vestir.
Iráo vestidos coro túnicas roxas, asas, alpercatas e
cabe1eiras com coróa de rosas" Fernando Pio A
Ordem Terceira de S. Francisco do Recife e suas
Igrejas, 4a. ed., Recife, 1969, p. 76« .-\
30) Em 1731, na Festa das Chagas de S. Francisco:
"pelo que se deu aos charameleiros para este día,
e da publicacáo da eleicáo 7$040", Lívro 20 de Be-
ceita e Despesa (1730-1742) da Ordem 3a. de Sáo
Francisco., f1. 8 v . Ero 1761: "Por dinheiro que
se deu as xaramelas e Trombetas para a dita
[festa]
.
4$800". Em 1785: "Dinheiro aos Timba-
leiros para a véspora, e Festa Procissáo e día da
Eleícáo 6$000". Em setembro de 1786: "Idem aos
pretos timbaleiros 3$200". Em 1790: ."Por dinhei-
ro que se pagou a negros de conduzir o· órgáo"."
166

Sexta-feira Santa "A Música do


Pe. Vicente . 4$320"
Festa das Chagas "Música do
Rdo. Pe. Vícente .. " . 26$000"
(31)

Em 1801, pela música executada sob sua dire ..


~io na Festa das Chagas, no mes de setembro, ele
recebeu 36$000 (32).

É importante notar que ero marco de 1802, por


ocasíáo da famosa Procíssño del Cinzas, o Padre
Ferrer organizou a apresentacáo de 6 (seis) coros
de música. Dá-nos notícía désse fato um recibo
seu que se conserva:

"Recebi do Sr. Ir. Síndico José Ferreira


da Silva a quantia de trinta e, dais mil réís
de seis coros de Música, que puz na Procis-
sao de Cinza feíta pela Ordem 3a. da Peni-
tencia, e por verdade passei este de minha
letra e sínal , Recife, 20 de Mar~o de 1802.


•r Sao 32$000 réis

Cf. Livro de Despesa (1760-1793) da Ordem 3& de



S. Franco, fls. 9, 223 v., 260 v. e 296 v . Em 1796:
"Aos pretos que carregaram o Orgam, para a
Ordem, e o conduziram para a Igreia da Concei-
~áo dos Militares $640". Em 1798: "Carreto do
Organum de levar, e trazer para a Igreja de N.
Senhora do Livramento $640" o Em 1806: "Idem
ao Díogo Timbaleiro, de tocar no dia da Elei~áo
de (tarde 1$600". Cf . Livro 50 da Despesa (1795..
1835), fls. 22, 58 e 132 v .
"

31) Cf. Lívro 5° da Despesa de 1795 a 1835 da Ordem


3& de S. Francisco, fls. 77 e 81 v.
32) Idem, idem, n. 96.

167

o Pe. Vi'cente Ferrer dos Santos" (33).


Em setembro do mesmo ano, pela orchestra da
Festa das Chagas, há esta nota de' pagamento:
"Idem que se deu ao Rdo. Ir. Pe. Vicen-
te Ferreíra da Música ..... 36$000".

Notícia esta que é confirmada por um recibo


assinado por um procurador, na impossi.bilidade do
Padre Mestre:

"Recebi do Irmáo Síndico da Ordem 3a.


de S. Francisco o Sr. José Ferreira, trinta e
seis mil réis da Música da Festa, e Te Deum
posta pelo Rdo. Pe. Vicente Ferr.er dos San-
tos no dia das Chagas de S. Pedro, e por
impossibilidade do mesmo Padre acima re-
ferido e me pediu passasse este Recibo, o
passei e assinei. Recife, 20 de Setembro de
1802.
Manoel Vi.cente de Siqueira Júnior" (34).

o nosso Mestre de Capela desempenhou notá-


vel atividade musical nos prímeíros anos do século
XIX. Só na Ordem Terceira de S. Francisco ele
trabalha doze anos: de 1800 até 1812. As notas
tomadas no Arquivo da referida ordem, concernen-
tes aos anos de 1803 até 1812, eu as dou lago abai-
xo com o fim de comprovar e ilustrar a acáo do
distinto artista pernambucano, Padre Vicente Fer-
rer dos Santos.

33) cr. 2° Livro de Recibos (1801-1842) da Ordem 3a


de S Francisco, fl. 6
o o

34) Cf Livro 5° da Despesa de 1795 a 1835, fl. 103.


o

2° Livro de Recibos, fl. 9 v .


168

1803 Procíssáo de Cinzas


"Dinheiro ao R. Pe. Vi-
cente
, .
de 4 Coros de
música • • • • • • •• •• • • • • 20$480"

- Festa das Chagas, em setembro

"Idém ao R. Pe. Vicente


da Música da festa .... 22$000"

1804 Procíssáo de Cínzas

. "Idem ao Rdo. Irmáo Vi


cente Ferreira dos Santos
pelos 4 coros de Música 20$480"

- Procissáo do Entérro

"Ao Rdo. Padre Vicente


por 4 músicos • • • • • • • 4$000"

- Chagas

"Pelo que paguei ao N.


Irmáo o Rdo. Pe. Vicen-
te Ferrer pela Música
da Festa, Te Deum, día
da posse e Momento
[Memento] aos Irmáos
detuntos . . . . . . . . . . .. 48$000"

1805 Procíssáo de Cinzas

"Idem ao· Rdo. Ir. Vicente Ferreí-


ra dos Santos pelos 4 coros de
Música . . . . . . . , . . . . . . . . . . . . . 20$480"

- Festa. das Chagas


"Pelo que pagueí ao Rdo. Ir. Vi-
169

cente Ferrer pela música da


Festa da manhá 22$000"

1806 Festa das Chagas


"Idem ao Rdo. Pe. Vicente Fer-


reira pela Música da festividad e
de manhá e Te Deum a noite
36$000"
1807 Proeíssáo de Entérro

" ... ao Rdo. Pe. Vicente, pellos


4 Can tores da Procíssáo do
Enterro . 4$000"

- Chagas

"Idem que paguei ao Rdo. Pe.


Vicente Ferer pella Música das
Vésperas, Festa, Te Deum das
Chagas de Nosso Santo Padre 50$000"
1808 Em [ulho

"Pello que paguei ao Rdo. Ir.


Vicente Ferer pela Música
[ ... ] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6$000"
- Chagas

"Idem que paguei ao Ir. Rdo. Pe.


Vicente pela música da festa .. 32.$000
Idem ao mesmo pela música
do Te Deum a noíte 12$000"
1809 Procíssáo de Cinzas

"Idem ao N. Ir. Rdo. Pe. Vicente


Ferer pela Música 18$000"
170

1810 Cinzas
,

"4 Coros de Música ao


Padre Vicente ..... .. 20$000"
- Chagas
"Dinheiro ao N. Ir. R. Vi-
cente Ferreira dos San-.
tos pela Música da Fes-
ta, e Memento no día
da posse .... . . . . . . .. 28$000"

1811 E.m Janeiro recebe 10$000 pela


Festa de Ano Bom.

- Cinzas

"Idem ao Rdo. Pe. Vi-


cente pelos Coros de
Música da Procíssáo .. 20$000"

- Chagas

"Pelo que paguei ao Rdo.


Pe. Vicente Ferrer por
fazer a Música na Fes-
ta, Te Deum, e no dia
da posse como do seu
Recibo consta . . . . . .. 50$000"

- 2 de novembro ,

1812 Pe'la Festa de Ano Bom recebe 6$000.

- Cinzas

"Idem ao N. Ir. Rdo. Vicente


Ferer pelos 4 coros de música
na procíssáo .. 20$000"
"Pelo que paguei ao Ir. Marce-
.' ,
:
171

lino Antonio Alves de vesitr, e


ornar os 4 Anj os do Coro da
Música que, vai ao Páleo . . . . 20$000"

- Festa das Chagas

"Aa Músico Joaquim Bernardo

de Mendonca por fazer a Mú-


sica da festa, Te Deum, e dia da
Posse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 50$000"

- 2 de novembro
• Pela música do ofício no dia de
finados, o Pe. Vicente recebeu
12$000 (35). .

"Idem ao Rdo. Irmáo Vicente


Ferreíra dos Santos pelos 4 co-
ros de Música .. . . . . . . . . . . .. 20$480"

- Festa das Chagas


"Pelo que paguei ao Rdo. Ir.
Vicente Ferer dos Santos pela
Música da festa de manhá, e
Te Deum de noite 36$000"

35) Cf. Livro 5° da Despesa, fls. 77 a 173.


ALGUNS DOCUMENTOS
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FAC-SIMILE da fl. 111v. do LIVRO DE ANUAIS da


Jrmand . das Almas da Boa Vi'sta

V JOAQUIM BERNARD MENDONQA


RIBEIRO PINTO
JOAQUIM BERNARDO MENDON~A RIBEIRO
PINTO

Oearense de nascimento. Pernambucano pela


tormacáo e atívídade musicais. Veio a luz na Vila
do Aracati, na segunda metade do século XVIII.
Críanca ainda, transferiu-se na companhia de seus
pais, para o Recife. Aqui se educa e recebe sua
tormacáo musical, sendo "convenielnt~mente ins-
truído pelos melhores mestres da época". Consta
que foi um dos discípulos de Luiz Alvares Pinto (1).
É só em 1809 que o seu nome comeca a apare-
cer no ambiente' cultural do Recife. Nesta data é
que ele comeca a exibir suas prímeíras composi-
cóes, "eujo merecimento lhe deram reno me e lhe
conquistaram aplausos" (2).
Em 1810, Joaquim Bernardo torna-se írmáo-
professor de Santa Cecília, depois de prestar o exa-
me de música, exigido pela extraordinária Irman-
dade de S. Cecília do Recife. Foi aprovado el rece-
beu a necessária Patente que lhe dava direito de
dirigir funcñes musicais, religiosas ou profanas. Do
competente! Livro de Termos da aludida irmanda-
de, retiro o seguinte documento:

1) Cf. Pereira da Costa - "Anais Pernarnbucanos",


VII, p. 332.
- Euclides Fonseca - "Um Século de Vida Musical
em Pernambuco", no "Livro do Nordeste", Recife,
Of. Diário de Pern., 1925, p. 102a.
2) Pereira da Costa Op. cit., loc , cit .
..
182

"Aos 18 do mes de Novembro de 1810


apareceu Joaquim Bernardo Mendonca Ri-
beiro Pinto que queria ser Irmáo da Irman-
dade Santa Cecília, e que se obrigava a guar-
dar todos os estatutos do nosso Compromis-
so o qual foi examinado e aprovado, fican-
do com a sua Patente para poder usar da
Arte de Música e deu a sua entrada e foi
aceito, e nao querendo usar da Arte de Mú-
sica ficará pagando o anual do costume que
é trezentos e vinte réís cada ano, e ele co-
migo se assinou. E eu Patrício José de Sou-
za subscrevi.

Joaqm. Berndo. M~a. Ribro. Pto." (3).

Em 15 de novembro de 1811, é ele um dos


Consultores
. eleitos da referida confraria. Nao en-
contro, porém, no termo de posse (29-1-812), a sua
assinatura, pelo que me parece que ele náo aceitou
o cargo (4) .

Provávelmente, já desde 1809 pelo menos, Joa-


quim Bernardo exerce no Recife e principalmen-
te no Corpo Santo as funcóes de Mestre del Ca-
pela. Documentadamente posso afirmar que ele
ocupa o referido pósto na Igreja do Corpo Santo,
em 1812, onde, além de outros trabalhos que fazia,
tinha a obrígacáo de dirigir a "orchestra" (músi-
ca vocal e instrumental) todas as quintas-feíras do
ano, por. ocasíáo das missas cantadas da Irman-
dade do SS. Sacramento. Eis um dos dados mais
antigos que andei colhendo sobre o nosso "Mestre
da Música":'

3) Livro de Termos dos Assentos dos Irmios, das


Elei~oes, Posses·... de 1789 a 1840, fI. 20 v.
4) Idem, fIs. 109 e 109 v.
183

"Idem (-pago) a Joaquim Bernardes de


Mendonca Ríbeíro, Mestre da Música das
5as. feiras de 1 ano .... 84$000" (5).
o ano a que se reíere o texto citadoé o com-
promissal de 1812-13. Como Mestre de Capela da
Irmandade do Santíssimo Sacramento ele traba-
lhará até, com certeza, 1831. A fim de tornar sóli- •

da esta minha añrmacáo, transcrevo alguns apon-


tamentos corroborativos, buscados em fonte ma-
nuscrita e inédita:

Em 1814-15 - "Que paguei a Joaquim BErnar-


do, Mestre de Música das 5as.
feiras 84$000".
Em 1815-16 - "Idem a Joaquim Bernardo de
seus quartéis da Música das 5as
feiras 84$000".
Em 1816-17 - " ... a Joaquim Bernardo, Mes-
tre da Música que se canta nas
5as. feiras nas Missas do San-
tíssimo Sacramento .. 84$000".
Em 1817-18 - "Pelo (que) paguei a Joaquim
Bernardo de Mendonc;a Ribeiro
Pinto, de tóda a Música que
fez este ano pertencente El, Ir-
mandade do Sacramento, como
consta do recibo no Livro de-
les ( ... ) ... 374$400".

5) Livro de Receita e Despesa (1812-1843) da Irman-


dade do SS. Sacramento da Matriz do Carpo San-
to, fl. 7 v . Agrafia Bernardes, encontradica em
muitos documentos da época, corre por canta do
escriváo. Nunca Joaquim Bernardo se assinou
Bernardes, como nunca ele usou o de entre Ber-
nardo e Mendonca , ~ste acréscimo, porém, cons-
tituiu regra para o escriváo da época, adotado
mais tarde também por Pereira da Costa .

184

Em 1818-19 - "Pelo que pagueí a Joaquim


Bernardo de' Mendonca Ribeiro
Pinto de tóda a Música que fez
este ano pertencente a Irman-
dade do Bacramen to ( )
. . .. 436$000".
Em 1819-20 - "Idem a Joaquim Bernardo de
Mendonca Ribeiro Pinto de to-
da a Música neste ano ( .... )
• o. 170$000".
Em 1821-21 - "Dinheiro a Joaquim Bernardo
Mendonca, pelas músicas de
todo o ano, consta do Livro dos
Recibos a fl. 40 v. .. 188$400".
Em 1821-22 - "Dinheiro a Joaquim Bernardo
de Mendonca pelas músicas, de
todo o ano (. 164$400".
o .) • o

Em 1822-23 - "A Joaquim Bernardo de Men-


donca pelas Músicas de todo o
ano' ( ... ) ... 296$400".
Em 1823-24 - "Pago a Joaquim Bernardo de

Mendonca:
Pela música nas 5as.
feiras em um ano .. 84$000
Dita no día de Na-
tal p.p 16$000 0 •••

Idem no dia de 5a
feira Santa 16$000 o

Idem no dia de N.
Sra. dos Prazeres 4$000 o.

Idem no dia da Fes-


ta do S. S. Sacram. 100$000
Idem no dia do Cora-
cáo de J esus .... 6$400" o •

Em 1824-25 - "A Joaquim Bernardo pela Mú-


sica de todo o ano das Missas
das quintas feiras ( ... ) 84$000
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
Ao mesmo pela música dos 5
185

Bermóes de Quaresma 20$000"


"A Joaquim Bernardes pela
Músi.ca da festa ( do Santís-
simo) ... 120$000". o.

Em 1825-26 - "O Músico Joaquim Bernardo


• • 84$000
o ••

um Sermao a Música de Qua-


resma .... 4$000". o •••• o ••

Ero 1826-27 - "Dinheiro ao Músico Joaquim


Bernardo das Missas das Quin-
tas feiras 84$000". o. • • • • ••

Em 1827-28 - "Dlnheíro ao Músico Joaquim


das Missas das quintas feiras ..
• ••• o • 84$000
o o •••••• ' •• o o • o

Idem ao Mesmo dita da Noite


de Natal . 16$000". o o o o o • ••

Em 1828-29 - "Dinheiro ao Músico Joaquim


Bernardo das Missas de um ano
das quintas feiras ... 84$000".
Em 1829-30 - "Dinheiro aos Músicos Joaquim
Bernardo, e José de Lima de
um ano das 5as. feiras 80$500".
Em 1830-31 - "Id€.m ao Músico Joaquim Ber-
nardo de um quartel das Mis-
sas nas ñas. Ieíras vencido em
Fevereíro ( de) 1831 22$750".
"Idem ao Músico Joaquim Ber-
nardo, do quartel das Missas
nas 5as. feiras vencido em
Maio ..... 21$000". o o o o o • ••

Em 1831-32 - "Idem ao Músico Joaquim Ber-


nardo, pelo que sel lhe devia
• o o o 3$500" (6).
••••••• o •• o.

A atividade musical do nosso Joaquim Bernar-


do, durante ésse langa tempo, nao está ela toda

6) Idem, fls. 25, 32, 39, 48, 55, 65, 72 V., 81, 87, 93, 101,
108 V., 113 V., 120v., 133, 140v., 141 v. e 147.
18.6.

espelhada nos textos acíma transcritos. Além de


Mestre de Capela da Irmandade do Santíssi.mo Sa-
cramento, igualmente foi de outras ínstítuícóes
religiosas' sediadas na Igreja do Carpo Santo. As-
sim ele atende as funcóes religiosas da Irmandade
do Rosário, [á desde 13 de junho de 1812, confor-
me este recibo avulso que encontrei:

"Recebi do Sr. Manoel Goncalves Pal-


meira, Tesoureiro da Irmandade de N. Se-
, nhora do Rosário da Matriz de S. Pedro Gon-

· calves, a quantia de quarenta mil trezentos
trínta e cinco réis em satísíacáo da música
que fiz a saber: dezessete mil réis ünícamen-
te da testa da mesma Senhora, e vinte e
tres trezentos e trinta, e cinco do resto das
missas. Semanárias, que principiei
, .
a fazer
..
no día 13 de Junho pretérito, e .por verdade
,
passei este de minha letra e sínal. Recife,
·. 7 de Outubro de 1812. Joaquim Bernardo
Mendonca Ribeiro Pinto" .

· O documento autógrafo nao o único exis-
é

tente, comprovante de sua atividade na referida


irmandade. Possuo cerca de 40 documentos seme-
lhantes sempre do próprio punho de' Joaquim
Bernardo dos quais revelo apenas algpns, no
momento:
,

a) "Conta da Música feíta a N. Senhora do


Rosário erecta no Corpo Santo este pre-
sente ano de 1814.

Pelas missas anuais cantadas nos


Sábados, Domingos do mes, el nos
dias dos Mistérios . 70$000
Pela Novena, Véspera, Festa, La-
dainha a entrada do' Terco . 54$000
Ao Organista da Tércia . 1$000
187.

Aa díto de acompanhar oa versos


da Novena .... o • • • • • • • • • • o • o • • 2$880
A dais Músicos urna Clarineta, e
urna Trompa que acompanharam
os ditos V6rsos 0 ••• 0. 2$880
A dais meninos que cantaram os
Versos ..... o ••• o o ••••• o • • • • • • • 2$880
Ladainha a entrada do Terco da
Irmandade dos pretos no Carpo
San to o o ••• o o o • 4$000

Rs. 137$640

Recebi a canta aeima de [ ... ] por máo


do Sr. Antonio Fernandes Dias (Tesoureiro)
da Irmandade de N. Sra. do Rosário do Car
po Santo (e por ser verdade) passo isto de
minha letra, e sinal. Recife, 10 de Novem-
bro de 1814 .
.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro


Pinto" . .

b) "Recebi do Sr. Manoel José Pereira


Graca tesoureíro atual da Irmandade de N.
Sra. do Rosário do Carpo Santo a quantia
de trinta, e! nove mil réís a saber: quatro
mil réís da música do Sermao da la Domin-
ga da quaresma, e trinta, e cinco mil réís de
dois quartéis da música das Missas semaná-
rias de Outubro até Mar~o do Corrente, e
por ser verdade passei este de minha letra,
e sinal. Recife, 19 de Margo de 1820.

Joaquim Bernardo Mendonea Ribeiro


Pinto

Sao 39$000"
188:

e) "Recebi do Sr. Manoel José Villas


Boas Tesoureiro atual da Irmandade de N.
Sra. do Rosário do Corpo Santo a quantia
de dezassete mil, e quínhentos réís do quar-
tel de Outubro, Novembro, e Dezembro pas-
sado da música das Missas Semanárias a
dita Sra. e por clareza passei este de minha
letra, e sinal. Recife, 12 de Janeiro de 1826.
.,

. Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro


Pin.to

Sao 17$500"
d) "Recebi do Ilmo. Sr. José Francisco
da Costa Tesoureiro da Irmandade de N. Sra.
, .'

do Rosári.o do Corpo Santo a quantia de


vinte, e um mil réis do quartel das Missas
dos sábados a dita Sra. na dita Igreja de
Outubro, Novembro, e Dezembro próximo
. passado, e por clareza passei este de minha
letra, e sinal. Recife, 2 de Janeíro de 1829.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro


..
Pinto

Sao 21$000"

e) "Recebi do Ilmo. Sr. José Manoel


Fiuza, Juiz da Irmandade de N. Sra. do Ro-
sário do Carpo Santo a quantia de noventa
mil quatrocentos, e quarenta a saber: 80$ da
música da Novena, Festa, e Ladainha a dita
Sra., e 10$440 dos instrumentos que acom-
panharam os Versos na Novena que tuda faz
a quantia aeima declarada, e por clareza
passeí este de minha letra, e sinal. Recite,
8 de Outubro de 1830.
189
.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro


Pinto
Sao 90$440" .

Parece-me curioso o fato de Joaquim Bernar-


do só ter entrado na Irmandade das Almas do Cor-
po Santo multo tardiamente, isto é a 7 de janeiro
de 1829, simplesmente pela razáo del ele trabalhar
há [á mais de vinte anos para a mesma irmandade.
Vejamos em primeiro lugar o termo de entrada na
mencionada corporacáo:

"Aos 7 días do mes de Janeiro de 1829


.se assen tou por Irmáo da Irmandade das
Almas, sita na Igreja do Corpo Santo, neste
Recíte de Pernambuco Jaaquim Bernardo de
Mendonca Ribeiro Pinto e deu de sua entra-
da oito mil e duzentos réis e prometeu guar-
dar as obrígacóes do Compromisso, e assínou
comigo Escrtváo.

Joaquim Bernardo Mendonea Ribeiro


Pinto" (7).

o nosso Mestre de Capela sucede ao Padre


Vicente Ferrer dos Santos no exercícío da música
das Iuncñes realizadas pela Irmandade das Almas.
Isto acontece no ano de 1814, e certamente em se-
tembro, poís ele percebe a quantia de 30$000 pela é

festa de S. Miguel; lago em seguida ele faz a mú-


sica do Ofício das Almas (novembro) , recebendo

7) "Livro para se assentarem os Irmáos, que háo de


servir na Irmand. das Almas do Purgatório sita
na Igreia do Corpo Santo Matriz do Recife de
Pernambuco. Foi feito no Ano de 1684... ", fls.
247.

190

25$000 (8). :a:sse pósto de Mestre de Capela el~


só o abandonará com a morte. Eis alguns textos
corroborativos, principalmente com relacáo aos úl-
timos anos de sua atívídade:

Fest·a de Miguel em 1827:

"Idem a Joaquim, Bernardo de Mendon-


ca pela música na festividade, e no Te
Deum .... 50$000".

/
Em 1828:

"Idem a Joaquim Bernardo de Mendon-


ca pela Música no ofício de defuntos como
da conta .... 50$000".
,-

Festa de S. Miguel em 1831:


,'

"A importancia paga ao Mestre da Mú-


sica Sr. Bernardo constante da Canta e Re-
cibo Doc. N° 1 .... 100$000" .

Em 1832:

"Pelo que foi pago ao músico Joaquim


Bernardo pelo Sermao de Quaresma
( .... ) 4$000".

Ofício das Almas em 1833:

"ao Joaquim Bernardes pela


, .
musica
( .... ) 70$000".
Sermáo da Quaresma em 1834:

8) Cf. Livro Despesa ano 1803 a 1838, Irm. das Almas


do Corpo Santo, fls. 68 e 68 v.
191

"a Joaquim Bernardes música para o


dito 4$000" (9).

Os cargos ocupados por Joaquim na Irmanda-


de de S. Cecília do Recíte, mereceriam um capítu-
lo a parte. O renomado Mestre del Capela exerceu
efetivamente todos os cargos da extraordinária
corporacáo . De maneira sucinta, mostro aquí o
quadro déste outro aspecto relacionado com a suá
biografia:

1813 Deve ter ocupado por algum


tempo o cargo de tesoureíro, pois
encontrei documentacáo neste
sentido.

1813-14 - Escriváo. Eleito em 15-Xl-8l3 .

1814-15 Juiz. Eleito em 15-Xl-814.
1815-16 " ... , foi reeleito para Juiz o
Irmáo Juiz Joaquim Bernardo
de Mendonca, "em 15-Xl-815.
(10) .
1816-17 - Procurador Geral. Eleito em
15-XI-816.
1817-18 - Reeleito Procurador Geral em
15-XI-817.
1829-30 - Juiz. Eleito em 18-Xl-829.

9) Idem, fls. 139, 143v., 155, 162v., 167 e 170v.


10) Cf. Livro de Termos dos Assentos dos Irmáos, das
Elei~óes, Posses... Irmand. de S. Cecília (1789-1840),
fls. 122V., 123v. e 110. As fls. 118 e 118v., há
um Termo que se refere ao tesoureiro Joaquim
Bernardo: "Aos 2 dias do mes de julho de 1813...
apareceu Joaquim Bernardo de Mendonca Ribeiro
Pinto 'Tesoureiro feito por impedimento do atual
Tesoureiro Miguel Carlos Bartolomeu de Lira Flo-
res para efeito de tomar posse euja posse se lhe
deu na forma de costume ... "
..

192

1830-31 - Juíz , Reeleito em 15-XI-830.


1831-32 Procurador Geral. Eleito em
l5-Xl-831.
1832-33 Procurador Geral. Reeleito em
15-XI-832 (11) .

.Por inexistencia de documentaeáo, nao se sabe


se Joaquim Bernardo exerceu qualquer atividade
musical na Igrejinha do 'I'erco , Creío, contudo,
que a possíbilídade nao deve ser afastada. E nao
deve ser afastada porque também nao creío muito
que Joaquim Bernardo entrasse sómente por devo-
~áo na Irmandade da mesma Igrejínha , As entra-
das em írmandades de músícos, e principalmente
de Mestres de Capela, segundo as minhas pesqui-
sas, denunciam outros ínterésses no geral, além do
aspecto devocíonal ou religioso que nao posso ne-
gar. O documento existente no Arquivo da Irman-
dade de N. Senhora do Terco prava a sua entra-
da em 1816:

"O Ir. Joaquim Bernardo de Mendonca


entrou de Irmáo aos 6 de!outubro de 1816 e
deu de sua entrada e Remíssáo 5$840" (12).
Na Irmandade de Santa Ana, que administra-
va a Igreja da Madre de Deus, nao me foi possível
precisar a data em que o nosso Mestre de Capela
comecou a trabalhar. Também nao consta ter sido
ele membro da reterída confraria.
Através de um antigo Livro de Receita e Des-
pesa, venho a saber que Joaquim Bernardo é Mes-
.'

11) cr, Livro de Termos de Elei~óes, e Posses (1816-


1846) da Irm. de S. Cecília do Recife, fls. 2, 3, 17,
18, 19 e 20.
12) Livro de Entradas desde 1745 a 1827 de Irmios e
Irmñs, Irmandade de N. Senhora do Terco, fI. 126v.

193

tre de Capela, na Madre de Deus, pelo menos de


1830 a 1833. Nésse tempo, é verdade, a música al-
gumas vézes estéve sob a dírecáo de outro pernam-
bucano ilustre, Basílio Rodrigues Seixas (13).
O nosso músico andou servindo a Irmandade
do Divino Espírito Santo, quando ainda estava ins-
talada no Cenvento dos religiosos de S. Antonio do
Recife. O Livro de Matrícula, n. 2, fl. 29, registra
a entrada do Mestre de Capela com os seguintes
termos:
"O Irmáo Joaquim Bernardo· Mendonga
Ribeiro Pinto, Mestre de Música, morador
na Rua d'Agoas verdes [sic] entro u em 25
de Maio 1828" .
Pelas notas marginais da sua matrícula, fi-
camas sabendo que foi mordomo em 1'827-1828, e
que foi "sepultado na Matriz de Boa Vista". Ano-
ta a data do seu falecimento como tendo aconte-
cido em 1833, mas há um sinal de correcáo pos-
• terior, transformando o último 3 em 4, ao que
parece. Na despesa de 1835 (creio que se deve en-
ve entender 1834-35), encontro a quantia despen-
dida com as missas que se celebraram por sua al-
ma: "Oíto [missas] pelo Irmáo Joaquim Bernar-
do Ribeiro Pinto... 3$200" (Livro de Receita e
Despesa, 1797-1853, fl. 139).
A primeira notícia que possuo sobre a ativi-
dade musical de Joaquim Bernardo, na referida •
irmandade, eu a encontrei nas despesas feitas na
ocasíáo da festa do Espírito Santo em 1827: "ao
Músico Joaquim Bernardo, Novena, Festa, tedeo
[ sic], como consta do Recibo .... 64$000" (Livro
de Receita e Despesa cit. fl. 116).
Em 1830, ele volta a dirigir a parte musical

.
13) Livro de Receita e Despesa (desde 1802) da Irm.
de Santa Ana da Madre de Deus, fls. 63 v. 65 v.
e 71.
194

da festa: "a Joaquim Bernardo pela música da


Festa e novena .... 70$000" (Id. fl. 124).
Em 1831: "a Joaquim Bernardo pela Música
da Novena, festa, Tadeum [sic] .... 70$000" (id.
fl. 128).
Em 1832: "ao Irmáo Joaquim Bernardo pela
música da Novena, festa e Thedeo [sic] ....
70$000" (Id. fl. 130).
É multo possível que tenha também atuado -
e muitas vézes na demolida Igreja do Paraiso.
Se existe ainda algum documento que prove ou ne-
gue o que Ioí dito, nao sei. Do meu um tanto frus-
trado empenho em conhecer todas as fontes docu-
mentais que se relacionem com a minha pesquisa
musical, resta apenas a crenca de nada existir a
respeíto , Fica poís de pé a conjectura acima decla-
rada. Certo é que ele, a nosso músico" entrou na
Irmandade do Sr. Bom Jesus das Chagas, entáo
erecta no Paraiso, [á em 18 de junho de 1819, em
cuja documentacáo ele aparece em sua condícáo de
"Músico" (14). Em 1827, exerce o cargo de Prove-
dor "por devocáo' da mesma irmandade (15).
A margem de sua intensa atividade musical,
ainda .encontrcu tempo e dísposícáo para exercer o
ensino primário, segundo íntormacáo de Pereira da
Costa. Foi nomeado em 27 de dezembro de 1822, POl-
provísáo, professor de ínstrucáo prímáría de urna
das cadeíras da freguezia de Sao Pedro Goncalves
• com os vencimentos anuais de 200$000 (16). '

14) Cf. (2°) Livro de Assentamentos de Irmáos (des-


de 1790) da Irmand. do Sr. Boro Jesus das Cha-
gas (Arquivo Igr. de S. Goncalo), fl. 162
15) (1°) Livro de Assentamentos de Irmáos (desde
1788) da Irm. do S. Bom Jesus das Chagas, fl. 56:
"Provedor por devocáo em 1827. deu a cera do
Altar do dia da festa".
16) 'Pereíra da Costa "Anais Pernambucanos"
VII, p. 332.
195

Sua atividade, quase espantosa, se desdobrou


por outras áreas de fomento musical, no ambiente
cultural de sua época. Principalmente, as igrejas
através de suas irmandades, depois o teatro, a Casa
da ópera, sem esquecer a Cámara do Recife. Joa-
quím Bernardo possue no seu curriculum os títulos
de Mestre de Capela da Cámara do Recife, da Or-
dem Terceira do Carmo do Recife e da Igreja da
Boa Vista. Aqui, atendia as necessídades musicais
tanto da Irmandade do Santíssimo Sacramento,
como da Irmandade das Almas, dita da Boa Vista.
Na Cámara do Recife, nao se sabe quanto tem-
l

po trabalhou. Segundo Pereira da Costa, teria exer-


cido sua arte até os "primeiros dias de fevereiro de
1830", senda a esta altura substituído por José de
Lima.
Na Ordem Terceira do Carmo, Joaquím Ber-
nardo ingressa aos 15 de outubro de 1826, quando,
na Capela da mesma Venerável Ordem, recebe o
"Hábito de Terceiro" das máos do Comissário Frei
Bernardo de N. Sra. do Carmo (17). Como Mes-
..

17) Livro de Entrada de Irmios (desde 1764) da Or-


dem Terceira do Carmo, Recife, fl. 141, n? 1119:
"Aos 15 dias do mes de Outubro de 1826 nesta
nossa Capela da Venerável Ordem Terceira de N.
Senhora do Monte do Carmo do Recife recebeu o
Hábito de Terceiro dela nosso Irmáo Joaquim Ber-
nardo de Mendonca Ribeiro das máos do nosso
R.' P. Comissário Fr. Bernardo de N. Senhora do
Carmo que lho administrou com a Mesa junta; e
se sujeitou, e obrigou a cumprir, e guardar os
nossos Estatutos, de que se fez este termo, aue
assinou . E eu secretário o escrevi ,
,

Joaqm. Berndo. M~a. Ribro. Pto.'

. Ao lado, apenas esta anotacáo: "Professou".


..
¡
·
"

..
-

'1
·
,,·
¡

196 .,

,
tre de Capela da Ordem Terceira do Carmo, suce-
de ao Padre Camello. E é aqui que se sabe tam-
bém de sua condícáo de organista. Permanece no
pósto até os fins de 1831, quando ainda cuida da
música da Festa de S. Tereza (18). Há um texto
inédito que nao devo deixar de revelar, que diz res-
peíto a condícáo de organista do nosso Mestre:

"Pelo que pagou a Joaquim Bernardo


de Mendonca de tocar as Tércias o órgáo
o ano passado ( 1827) ..... 1$000" (19).

. Pela Festa de S. Tereza, em 1828, a presenca


de Joaquim Bernardo é-nos garantida por esta
notícía:
"Música ao Nosso Irmáo Joaquim Ber ..
nardo para a Festa e Te Deum .
60$000" (20).
Nos últimos anos de sua vida, volta-se o com-
positor e' regente para a Matriz da Boa Vista, e
creio que por. íntermédío da Irmandade do Santís-
sima Sacramento, pois é nessa irmandade que en-
contramos, assim como em sua congénere de S.
Antonio, um dispositivo de seu Compromisso rela-
tivo a runcáo, ou ao cargo, de Mestre de Capela,

18) A primeira festa que fez foi a de S. Ana em 1826,


recebendo 6$000. A música que se cantou no
"Memento no dia da Nomina" (Outubro provável-
mente do mesmo ano) foi de sua responsabilida-
de: "Para Música ao Irmáo Joaquim Bernardo de
Mendonca 1$920". Cf. Livro de Despesa (1797-
1826), Ordem 3a. do Carmo, fls. 149 v. e 145 v.
19) Livro de Despesa (1828-1887), Ordem 3a. do Car ..
mo do .Recife. fl. 4 v .
20) Idem, ídem, fI. 5. •
197

Joaquim Bernardo torna-se Irmáo das duas insti-


tuícñes existentes na Matriz da Boa Vista, por es-
sa época: a Irmandade do Santíssimo e a das Al-
mas. Desconheco a data de entrada com relacáo
a prímeíra irmandade; com relacáo a segunda, em
compensacáo tenho duas fontes comprobatórias:

a) "Irmáo Joaquim Bernardo de Men-


donca Ribeiro morador atrás do Arco Velho
com o termo aos 27 de Setembro de 1829
pagou de sua entrada e Remissaa 4$800"
(21);

b) "Aos 27 de Setembro de 18~9 foi


eleíto por Irmáo da Irmandade das Almas,
Joaquim Bernardo de Mendonca, e disse que
(-se) obrigava a cumprir com as obrígacñes
do nosso Compromisso e por lhes concorrer
os requisitos necessáríos mandou o Irmáo
Juiz fazer este termo, e igualmente deu de
súa entrada e Remíssáo quatro mil e oito-
centos réís. Manoel Jerónimo da Costa
Uchoa.

Joaqm. Berndo. M<;a.Ribro. Pto." (22). •

Nesta mesma Irmandade das Almas, ele ocu-


pou o cargo de Mesário, eleíto "por mais votos" no
dia 28 de outubro de 1830, para servir "no ano de

21) Livro de Anuais (s/d) da Irmandade das Almas


da Boa Vista, fl. 178.
- Cf. Livro de Recibos e Despesa (desde 1814), Irm.
das Almas B. Vista, fI. 52.
22) Livro de .Assentos das Entradas dos Irmios (desde
'1779) da Irm. das Almas da B. Vista, fl. 100.
..
198

1830 que acaba em 1831" (23); além de ser seu


Mestre de Capela durante! os anos de 1829 (novem-
bro) a 1833 (24). Em 1834, ocupa o lugar de Mes-
tre da Música da Irmandade um outro pernambu-
cano ilustre, Patrício José de Souza.
Segundo ínformacáo de Pereíra da Costa, de
1822 até pelo menos 1827, Joaquim Bernardo tor-
na-se empresário da Casa da ópera do Recife. Em
dezembro de 1822, o teatro, ou Casa da ópera,
apresentava uma companhia lírica, contratada por
Joaquim Bernardo. Companhia que cantou 3 ópe-
ras "em espetáculos pomposos, e em grande gala",
nos dias 8, 9 e 10 de dezembro, senda o primeiro
espetáculo gratuíto para o pavo, correndo todas as
despesas por conta do governú (25).
O grande músico cearense pelo nascimento,
pernambucano pela tormacáo e total consagracáo
de sua vida de artista, faleceu muito provávelmen-
te no primeiro semestre de 1834, e nao absolu-
tamente nao em 1830, conforme deduzíu erró-
neamente Pereíra da Costa (26). Já está mais do
que comprovada, neste trabalho, a atividade de
Joaquim Bernardo depois de' 1830. Ainda em 15 de

23) Cf. Livro das Eleíeóes, e Posses e Inventários


da Irm. das Almas da Boa Vista (desde 1796),
fl. 25 v.
- Livro de Recibos e Despesa (desde 1814), mesma
Irm., fl. 59.
24) Cf. Livro de Recibos e Despesa (desde 1814) da
Irm , das Almas, fls. 56, 60, 66 e 72.
25) Cf. Pereira da Costa "Anais Pernambucanos",
VII, p. 129 e 134.
26) Pereira da Costa "Anais Pernambucanos", VII,
p. 133: " ... e naturalmente faleceu ( J. Bern.)
nos primeiros días de fevereiro de 1830, quando
foi substituido neste último cargo ( na Cámara
do Recife) pelo professor José de Lima't.·
199

novembro de 1833, nao semente Está presente a


eleícáo da Irmandade de S. Cecília, onde foi eseo-
lhido como' "Mesárío", mas assina o próprío termo
da eíeícáo (27). Nao estéve presente foi a posse
da nova Mesa, que se processou no dia 7 de de-
zembro do mesmo ano. Daqui, contudo, nao se
pode concluir qualquer dado sobre sua morte, por-
que o próprio termo lavrado na ocasíáo o supóe
vivo. Vejamos o tópico a que me refiro:

" ... e por causa da impossibilidade do


Procurador Geral [- que era o nosso músí-
co até ésse momento] o novo Eleito recebe-
rá o livro das cobrancas em máo do ex-Pro-
curador Joaquim Bernardo de Mendonca e
os mais Mesários a que por legítimo impe-
dimento faltaram assínaráo éste termo na
primeira reuníáo desta mesa" (28).

Foi antes, porém, de abril de 1834. Com efei-


to, é nésse més que o seu substituto na Matriz da
Boa Vista Patrício José de Souza vem anun-
ciar a sua nomeacáo para o cargo qUE;até entáo
ocupara o falecido Joaquim Bernardo, o que se deu
através do Diário de Pernambuco, em sua edícáo
de terca-teíra, 8 de abril de 1834:
,

"Patrício José de Souza Professor de


Música faz cíente ao respeitável público, que
em lugar do finado Joaquim Bernardo Ri-
beiro Pinto exerce (m a Matriz do SS. da
Boa-vista o lugar de Mestre de Música, que
o mesmo exercia, tendo em seu poder suas
composícóes, as quais promete, que seráo

27) Cf. Livro dos Tenllos de Elei~áo. e Posses (1816..


46), fI. 22.
28) Idem, idem, fl , 22 v .
200

executadas, segundo o bom gasto de seu


autor ... "

Figura de grande batalhador, compositor, re-


gente e organista, Joaquim Bernardo foi artista
muito conhecido e respeítado, em seu tempo, pelos
seus méritos reais. No seu tempo, segundo Perei-
ra da Costa, chegou a ser "o mais fecundo compo-
sitor e afamado diretor de orquestra". De suas
ínúmeras composícñes, conservam-se noticias de
algumas, e muito provávelmente urna composícáo,
cujo manuscrito náo original, se conserva no Rio
de Janeiro.
A notícia de algumas composícóes escritas por
Joaquim Bernardo, hoje pérdidas, dá-nos o Diário
de Pernambuco de 1830. Trata-se de urna carta
enviada ao redator do jornal, assinada por um
"Professor de Música, portadora de tantas infor-
macóes mínucíosas . principalmente. no que tan-
ge as datas que penso ter sido escrita pelo pró-
prio Joaquim Bernardo ou, no mínimo, com a sua
assísténcía .

Poderia retirar da citada carta as índícacóes


relativas a sua atividade cri.adora, dar-lhes depoís
urna ordem cronológica e apenas citar a tonte. Foi
o que planejei inicialmente. No momento, resolvi
transcrever integralmente! pois é um documento de
primeira ordem, que reflete inclusive urna situa-
~áodesagradável, criada entre Joaquim Bernardo
e José de Lima, €'ntre os "partidos" de um e de
outro no Recife musical de entáo , Mais: para que
se complete a documentaeáo, em primeiro lugar
transcrevo uma outra carta anterior, aliás mencio-
nada na segunda. Ambas. foram publicadas pelo
Diário de Pernambuco, em su as edícóes de 30 de
abril e de 13 de maio de 1830, respectivamente.
201'

"Sr. Editor Quando em Agósto do ano p.p.


alguns Músicos do partido, de que era Mestre Joa-
quim Bernardo Mendonca, se separarám, e ñzerám
nóvo partido, afirmaram muitas vézes, que além de
urna quantidade imensa de músicas, que lhes tí-
nham chegado próximamente de Itália, Franca
Inglaterra, e Portugal, como conservavam em seu
seío José de! Lima, este brevemente comporia aque-
las, que, por serem só do uso do País, nao poderiam
vir de Reinos estrangeiros! E o que ternos nós
visto, depois de tantas promessas?
Depois de tanta bulha, e espalhafato
Só produz a montanha exíguo rato .

.
Tenho asslstido a algumas músicas désse par-
tido; mas que ouco entáo? Músicas, compostas no
to·do pelo Mestre Joaquim Bernardo, ou pelo mes-
mo arranjadas de vários, e mais lindos pensamen-
tos dos mais modernos Autores. .
Mas o Sr. Editor, posta que, depois de tantas
promessas um tal comportamento manifesta bem
claramente a impostura; contudo ainda nao é isto
o que mais me enraivece; o que me póe tora de
mim é ver que: depoi.s de tantas, e tao repetidas
pravas de faltas das músicas precisas, e de mingoa
de talento para as campar haja homens, que añr-
mem ° contrário disto, e o que mais é, haja ho-
mens que por paíxóes particulares se estorcem em
denegrir o crédito, e a reputaeáo, que na Arte de
Música o referido Joaquim Bernardo tem mereci-
do no langa exercício de nao menos de 21 anos
nesta Província.
Pois bem; [á que assim obram fique certo o
Público, que eles até o presente nao tém feita mais
do que apresentarem Músicas compostas por aqué-
le mesmo, a quem tao afanados pretendem desa-
creditar. .

lsto lhe afirmo, porque sou um Professor de


Música" .

..
11

. "Snr. Editor Quando vi publicada a carta


que Vm. me fez obséquío de ínserír na sua tólha
N? 372 eu me persuadí, que nem José de Lima, nem
músicos de seu partido se atrevessem mais a sair
a campo com as composícóes do Mestre Joaquim
Bernardo Mendon~a; mas nao tem acontecido as-
sim: No Sábado 1° do eorrente ( maío) na Cape-
la da Senhora da Conceícáo da Ponte sendo o dire-
tor José de Lima cantaram a Missa denominada
da Muribeca; por ser com.posta nessa Povoacáo em
1821, e no fim uma Ladainha composta em 1813;
e neste mesmo dia de tarde na Madre de Deus nas
vésperas da Maternidade senda diretor o Padre
José Gomes cantaram o Hino Ave Maris Stella ,
composto em 18·15. No Domingo seguinte canta-
ram na Festa um Tantum Ergo, arranjado pelo
mesmo Joaquim Bernardo, de um pensamento de
Franch, e o Credo de urna Missa composta em 1820
na Casa Forte. No mesmo día El noite na Igreja
dos .Martírios, no entérro de um Anjo cantaram
urna Música composta em 1822 ignoro quem tósse
o diretor. No día 5 do eorrente na Igreja do Carpo
Santo no entérro de um Anjo sendo di.retor o dito
Padre José Gomes eantaram urna Música composta
em 1816. No dia 6 quinta-feira na mesma Igreja
na Missa semanáría do SS. Sacramento díretor
José de Lima cantaram a referida Missa denomi-
nada da Muribeca, e no fim o Tantum Ergo com-
posta em 1818.

Se eles tém tantas Músicas como continuam


a.'apregoar, se José de Lima nao tem míngoa de
talento para as compor, qual éa causa de se utili-


'.
203

zarem das composícóes daquele mesmo a quem tao


afincadamente tém procurado desacreditar?
Sr. Editor ten ha paciencia publique mais este
bocadinho para desengano do Público. Faca mais
este obséquio a um

Professor de Música".

Além das obras mencionadas em sua carta,


aqui transcrita, Joaquim Bernardo escreveu, ao
que consta, Versos para novenas, Novenários e o
Te Deum "Santa Anna", para coro e orquestra .
Dele é também o "Hino: "Oh! Pedro Invicto"
letra do Vigário Francisco Ferreira Barreto que
foi executado a grande orquestra no salño de hon-
ra da Cámara do Senado do Recife, em 12 de ou-
tubro de, 1822 (29). Neste ano de 1968, encontrei na
Biblioteca da Escala de Música da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (ex-Escala Nac. de Mú-
sica) , urna c6pia manuscrita de 1897, completa, que
se conserva em partes cavadas para coro e orques-
tra de um intitulado "Liberame de Pernambuco'
de autoria de Joaquim Bernardo. Infelizmente o
nome nao está completo, razáo por que cria certo
embarace a índívídualízacáo , Poderia ser de outros
Joaquins Bernardos pernambucanos e os ternos
- como o Joaquim Bernardo, nascido em Pernam-
buco, fiIho· do Ribeiro Pinto. Nao acredito que seja
nem do fiIho, nem de um outro Joaquím Bernar-
do. O estilo nao concorda comoo tipo de música
que se fazia ao tempo de Mendonca Júnior, nem
em Pernambuco, nem no Brasil de um modo geral.
O estilo do Libera Me é perfeitamente de acórdo
com o estilo do que se fazia nos fins do século
XVIII. 'e primeiras décadas do XIX. Estou con-·
vencido no momento que se essa obra bonita,
cujo manuscrito se encontra no Rio, é verdadeira-
mente de um autor pernambucano e o título nos




204 •

induz a crer: "Liberame de Pernambuco" ésse


pernambucano é Joaquím Bernardo Mendonca Ri-
beiro Pinto, nascido na segunda metade do século
XVIII .

Eis alguns compassos da obra identificada:

LIBERA ME DE PERNAMBUCO,

• por J oaquim Bernardo


Adagio
s
e

T
B

mor -

Andante

29) Cf. Antonio Joaquim de Mello "Biographías de


Alguns Poetas", Tomo 11, Recife, 1858, p. 60.
- Pereira da Costa "Hymnodia Pernambucana",
no Jornal do Recife de 10 de dezembro de 1902.

ALGUNS DOCUMENTOS
ALGUNS DOCUMENTOS

Do Arquivo da Irmandade das Almas da Matriz


..
da Boa Vista

1) "Recebi do Sr. Pedro Ferreira de Mello, Tesou-


reiro da Irmandade das Almas da Boa Vista, a quantia de
doze mil réis da 'música da Missa. e Ladainha a S. Miguel
na Matriz da Boa Vista. Recife, 3 de Outubro: de 1828.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto".

2) "Recebi do Ilmo. Sr. Manoel Jerónimo da Costa


Uchóa, Tesoureiro da Irmandade das Almas da Matriz da
Boa Vista, a quantia de oito mil réis da música da Missa
a S. Miguel no Seu dia na dita Matriz; e para clareza
passei este de minha letra e sinal. Recife, 4 de Outubro
de 1832.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto".

3) "Recebí do Ilmo. Sr. Manoel Jerónimo da Costa


Uchóa, Tesoureiro da Irmandade das Almas da Matriz da
Boa Vista, a quantia de dezasseis mil réis da música do
Ofício feito pela dita Irmandade na dita Matriz; e para
constar, passei este de minha letra e sinal. Recife, 'S de
Novembro de 1832.
208

Joaquim Bernardo Mendonea Ribeiro Pinto".

4) "Recebi do Ilmo. Sr. Antonio José Teixeira Lima,


Tesoureiro da Irmandade das Almas da Matriz da Boa
o

Vista, a quantia de oito mil réis da música da Missa a S.


Miguel na dita Matriz, e para clareza passei este de mi-
nha letra, e sinal. Recite, 29 de Setembro de 1833.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto".

5) "Recebi do Ilmo. Sr. Antonio José Teixeira Lima,


Tesoureiro da Irmandade das Almas da Matriz da Boa
Vista, a quantia de vinte mil réis da música do Ofício da
dita Irmandade na dita Matriz, e para constar passei este
de minha letra, e sinal. Recife, 5 de Novembro de 1833.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto".

Arquivo ·da Irmandade do Santíssimo Sacramento


da Matriz da Boa Vista

1) "Recebi do Sr. Manoel Jerónimo da Costa Uchóa,


Tesoureiro atual da Irmandade do Santíssimo Sacramento
da Boa Vista, a quantia de trinta e seis mil réis do quar-
tel da música das Missas das 5a5. feiras de Julho, Agosto
°e Setembro, e desta quantia dei ao dito Sr. a quantia de
mil e novecentos e vinte réis pela falta de seis músicos
[ .... ] no dito quartel, e para clareza passei este de mi-
nha letra e sinal. Recife, 17 de Outubro de 1826,

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto" .


2)"Recebi do Ilmo. Sr. Manoel Jerónimo da Costa


Uchóa, Tesoureiro da Irmandade do Santíssimo Sacramen-
to da Boa Vista, a quantia de trinta e seis mil réis do quar-
te! da música das Missas das 5as. feiras de Outubro, No-
vembro oe Dezembro, e desta quantia dei ao dito Sr, Te-
soureiro a quantia de tres mil e duzentos réis da falta
209

de uma Missa que nao houve por caír em 5a. feira dia
de finados, e mais duas faltas de dais Músicos, vindo s6
a ficar eom a quantia de 32$800 réis, e para clareza pas-
sei este de minha letra e sinal. Recife, 27 de Janeiro de
1827.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto".

3) ."Reeebi
do Ilmo. Sr. Rufino José Correia, Tesou-
reiro da Irmandade do Santíssímo Sacramento da Matriz
da Boa Vista, a quantia de noventa mil réis da música
da Véspera, Festa e Te Deum na dita Matriz ao mesmo
Santíssimo Sacramento. Recife, 12 de Julho de 1828.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto


Sao 90$000'"

4) "Recebi do Sr. Pedro Ferreira de Melo, Tesourei-


ro da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Matriz da
Boa Vista, a quantia de trinta e um mil oitocentos e qua-
renta réis do quartel da música das Missas das 5as. feíras
na dita Matriz, de J aneiro, Fevereiro e Marco do corren ..
te ano, que sendo o quartel a quantia de 36$000 deseon-
4
tei dois mil oitocentos e oitenta de urna Missa que nao
houve por muita ehuva, e mil duzentos e oitenta de fal-
tas de quatro Músicos no dito quartel, que com a quan-
tia que recebi faz a. quantia do quartel acima declarada,
e para clareza passei este de minha letra e sinal. Recife,
3 de Abril de 1829.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto


Sao 31$840"

5) "Recebi do Ilmo. Sr. José da Silva Saraiva, Te-


roureiro da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Ma-
triz da Boa Vista, a quantia de trinta e seis mil réis da
música do quartel das Missas das 5as. feíras ao dito San-
tíssimo Sacramento na dita Matriz, de Outubro, Novem-
210

bro e Dezembro do eorrente ano, e para constar passei este


de minha letra e sinal. Recife, 31 de Dezembro de 1832.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto

6) "Recebi do Ilmo. Sr. José da Silva Saraiva, Te-


soureiro da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Ma-
triz da Boa Vista, a quantia de trinta mil e oitocentos réis
da música das Missas das 5as. feiras na dita Matriz, do
quartel de Abril, Maio, e Junho do eorrente ano que sendo
pelo quartel 36$000 abato 5$120 de duas Missas que se náo
disseram, e para constar passei este de minha letra e sínal,
Recife, 6 de Julho de 1833.

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto


Sao 30$880 [sic]."

Termo pelo qual se fez o Mestre de Capela para


a Música Joaquim Bernardo Ribeiro Pinto

Aos vinte seis de Novembro de mil oitocentos e vinte


seis, estando congregada a Mesa atual, foi proposto pelo
Nosso Irmáo Prior que se deveria constituir Mestre da
Capela de Nossa Ordem a J oaquim Bernardo de Mendon-
ca Ribeiro Pinto, pela ótima organízacáo de suas Músicas
as quais atraem, e previnem a seu favor os animas de
quem as ouvir, excedendo as mais todas déste País [Per-
nambuco] pelos seus harmoniosos efeitos, e por tao justi-
ficados motivos devemos constituir Mestre efetivo de todas
as músicas com exclusáo de outro qualquer, o que ouvido
por toda a Mesa, unanimente aprovaram que ele fosse o
Mestre de todas as músicas festivas, e fúnebres desta or-
dem, para que todas as funcóes que hajam de fazer ser o
dito Joaquim Bernardo quem as faca, e assim rogamos
hajam de ouvir ao nosso pedido nao só por obrarmos eom
fraterna reprocidade, [sic] como mesmo para maior real-

.
211

ce de suas funcóes . Mandou finalmente o Irmáo Prior


para ínteíra, e indissolúvel validade ex arar este termo em
que todos assinaram, e eu Joáo Francisco Regís, Secretá-
• •
rro o escrevi ,

Fr. Bernardo de N. S. do Carmo


Comissário
Joaquim de A. Catanho
Prior

[Outras assinaturas]

Joaquim Bernardo Mendonca Ribeiro Pinto

Do 3° Livro de Termos da Mesa de No-


vembro de 1786 a Novembro de 1826,
da Ordem 3a. do Carmo do Recife,
f1s. 243-243v .


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Indice dos Irmáos falecidos da Venerável Irmandade de S. Pe-


dro dos Clérigos do Recife.

Lino de Assentos dos Irmáos do Sr. S. Pedro da Irmandade


Nova (S. Pedro dos Clérigos do Recife).

Livro de Receita da Irmandade de S. Pedro Apóstolo da Vi-


la do Recif e ( 1789-1838) .

Livro de Termos da Irmandade de S. Pedro dos Clérigos (des-


de 1717).

Livro de Despesas (1802-1877) da Irmandade de S. Pedro dos


Clérigos do Recife.

Livro 3° de Termos de Entradas de Irmáos (1780-1836) da Or-


dem Terceira de S. Francisco do Recife.

Livro 3° de Termos de Proflssóes de IrDláos (1780-1807) da Or-


dem Terceira de S. Franscisco do Recife.

Livro de Matrícula (1759-185.3) da Ordem Terceira de S. Fran- •

cisco do Recife.

Livro de Receita (1760-1793) da Ordem Terceira de S. Fran-


cisco do Recife.

Livro de Recelta e Despesa (1787..1846) da Irmandade do Sr.


Bom Jesus das Portas.
220

Livro de Assentamentos de Irmios (desde 1788) da Irmandade


do Bom Jesus das Chagas.

Livro de Assentamentos de Jrmios (desde 1790) da Irmandade


do Bom Jesus das Chagas,
Livro de Receita e nes'Pesa (1791..1804) da Irm. do Sr. Boro
Jesus das Chagas.

Livro Despesa ano 1803 a 1838 da Irmandades da Corpo Santo.

Livro de Anuals (1799-1860·) da Irmandade das Almas da Boa


Vista.

Livro de Elelqóes, Posses e Inventárifts do!'! bena (1796-1871)


da Irmandade das Almas da Boa Vista.
Livro Mestre ou Mapa Geral da Irm. das Almas da Boa Vis ..
ta (desde 1794)
2° Livro d~ Recibos (1ROl-42) da Ordem Ter~eira de S. Fran ...
fisco do Recife.

Livro 50 da DpspeAa (1795 1835)da Ordem Terceira de S. Fran ..


fisco do Recife.

Conta das Despesas que tp,Dho feftn CODl a Tr,Jtp".,qd d .. "l. A

Senhora do Rosárlo do Re~Ue,D~ano de 1809 que ftn-


da no último de Setembro de 1810 (Documento. avul-
so. assínado por Marcos de Barc ellos, pertencente ao
arquívo da Madre de Deus).
Livro dp. Rpl',-ifa P. neSDp.sa (1794-1803) da Irmandade das Al-
mas do Corpo Santo.
Livro dA 'Rel'pifa .. np~n~sa (1788 ..1853) da Irmandade de S
Ceci!ia do RecHe.

Livro das ~l~i""ó~se ~ontas da Confrarl't. do Ran4:'ssl",tl qA-


cra'mento da Matriz do Corpo Santo do Recífe (1771-
1812).

Livro d~ T~rmos d~ A"s~ntos d9S 1rmáos, das Elpinóes. das


P"sses (1789..1840) da Irmandade de S. Cecí.ía do Reo.
cife.
Livro de C~rtidó~s das ~i~sas (1790-1846) pelas Almas dos
Irmños de S. Cecilia.
(' 1 POSO' Wc-

Livro de Termos d~ Contas e Det~rllllna~áo da Irmandade de


de S. Cecilia do Recife (1816-1856).
BIBLIOGRAFIA

a) Impressos

COSTA, Pereira da Anals Pernambucanos, vol. VII, Reci-


fe, ed. Arquivo Público Estadual. 1958.
Estudo histórico-retrospectivo sobre as artes em Per-
nambuco, RecUe, Rev. Inst. Arq. Geogr. Pernambu-
cano, nO 54, 1900.

"Hymnodia Pemambueana", in "Jornal do 'Becífe'


1-XII-1902.

DIARIO DE PERNAMBUCO, edi~óes de 30 de abril e 13 de


maio de 1t30.

FONSECA, Euclides Um Século de Vida Musical em Per-


nambuco, in "Livro do Nordeste", Recife, ed. Diário
de Pernambuco, 1925.

Melo, Antonio Joaquim de Biograpbias de AIguns Poetas,


Tomo 11, Recife, 185·8.
SOUZA, Patrício José de ·'Avisos Particulares" do Díárío
de Pernambuco de 8-IV-1834.

b) Inéditos

1~ivro de Termos dos Assentos dos Irmios, das Elei~óes, Pos-


ses... (1789-1840) da Irm. de S. Cecilia do Recife.
Livro dos Termos de Elei~óes e Pos~es (1816-1846) da Irman-
dade de S. Cecilia do Recife.
Livro de Termos de Contas e DetermlDa~áo (1816-1856) da
Irm. de S. Cecilia do Recife.

Livro de Recelta e Despesa (1788-1853) da Irmandade de S.


Cecilia do Recife.
222

Livro de Recelta e Despesa (1812...1843) da Irmandade do


Santíssimo Sacramento da Matriz do Corpo Santo.
Livro para se assentarem os Irmios, que háo de servir na
Irmandade das. Almas do Purgatório sita na Igreja
do Corpo Santo Matriz do Recife de Pernambuco. Foi
feito no Ano de 1684...
Livro Despesa ano 1803 a 1838 da Irmandade das Almas do
Corpo Santo.
Livro de. Entradas desde 1745 a 1827 de Irmáos e Irmás da
Irmandade de Nossa Senhora do Ter~o.

Livro de Receita e Despesa (desde 1802) da Irmandade de


Santa Ana da Madre de Deus.
Llvro (1°)de Assentamentos de Irmáos (desde 1788) da Ir-
mandade do Sr. Bom Jesus das Chagas.

Livro (2°) de Assentamentos de Irmáos (desde 1790) da Ir-


mandade do Sr. Bom Jesus das Chagas.
Livro de Entrada de Irmáos (desde 1764) da Ordem Terceira
do Carmo do Recife.
Livro de Despesa (1797-1826)da Ordem Terceira do Carmo
do Recife.
Livro de Despesa (1828-1887) da Ordem Terceira do Carmo
. do Recife

Livro de Anuals (s/d) da Irmandade das Almas da Boa Vista.

Livro de Assentos das Entradas d08 Irmios (desde 1779) da


Irmandade das Almas da Boa Vista.

Livro de Recibos e Despesa (desde 1814) da Irmandade das


Almas da Boa Vista.
Livro de Despesas (1802-1877)da Irmandade de S. Pedro dos
Clérigos do Recife.

Livro de Despesa (1833-1870) da Irmandade do Santissimo


Sacramento da Boa Vista.
Livro de Mlssas (desde 1826) pelos Irmáos falecidos da Ir ..
mandade das Almas da Boa Vista.
Llvro 5° de Despesa (1795-1835) da Ordem Tercelra de 3.
Francisco do Recife.
Diniz, Jaime e saco
Músicos pernambucanos do passado. Recíre, Universldade Federal de
Pernambuco, 1969tf--
V. ilust.

Incluí bibliografía.

1. Músicos - Pernambuco l. Título.

92:78 rc.n.u.: UFPe


927 .8 (e .D . U. 16. ed.) BC 69-814

Composto e impresso nas oficinas gráficas •

da 1 M P R E N S A U N 1V E R S 1 T Á R 1 A
da Universidade Federal de Pernambuco


se trata de obra apressada.


As pesquisas do musicólogo
pernambucano datam já de
vários anos. Voltando da Eu-
ropa em 1962, onde o autor
frequentou os cursos de Mu-
sicología do mundialmente fa-
moso Higinio Anglés, o padre
Diniz, silenciosamente, come-
ea a tomar contatos com as
fontes manuscritas, que ainda
restam, principalmente nos
acervos das muitas irmanda-
des do Recife. Os resultados
obrigaram-no a recorrer a ou-
tras fontes para os seus estu-
dos histórico-musicais, no seu
Estado, ou fora dele. •

o primeiro volume de MÚ-


sroos PERNAMBUCANOS
DO PASSADO mostra um
autor seguro de seus meios,
com excelente metodologia:
nao faz trabalho de caráter

impressíonante, ou de simples
dívulgacáo; na verdade tudo
procura documentar. A Musi-
cologia brasileira, parece, ain-


da nao possui obra com a se-
riedade metodológica que o

autor imprime nésses seus es-
tudos. Sendo isto verdade,
tem-se no padre Jaime Diniz
um pioneiro no setor especia-
lizado dos estudos musicológi-
cos do Brasil.

I
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