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Pedro Lucas Cariri Moura – 3º Período

FMIT – Faculdade de Medicina de Itajubá, 2020/2


Sistemas Orgânicos Integrados III – SOI III, APG.

Problema 31 – O último zumbi


Estudar a etiologia, fisiopatologia, transmissão, manifestações clínicas e diagnóstico da Leishmaniose tegu-
mentar;
Entender o ciclo de vida do protozoário causador dessa doença.

infectados transmitem a Leishmania ao picar pes-


LEISHMANISE TEGUMENTAR soas ou animais. Raramente, a infecção ocorre por
transfusões de sangue, injeções com agulha infec-
Definição tada, de mãe para filho (antes ou no nascimento)
ou por contato sexual.
Leishmaniose são doenças causadas pelo protozo-
ário do gênero Leishmania. As manifestações clíni- Há uma picada do inseto infectado a um ser hu-
cas da leishmaniose variam de acordo com a pa- mano, infectando-o com promastigotas de Leishma-
togenicidade do parasita e a resposta imune celu- nia que apresentam a capacidade de invadir ma-
lar geneticamente determinada pelo hospedeiro hu- crófagos e sobreviver dentro deles. Nos macrófa-
mano, podendo variar de assintomáticas e autolimi- gos, a promastigota passa para a forma amasti-
tadas à comprometimento da pele e mucosas. gota, se replicando e posteriormente infectando ou-
tros macrófagos. Quando o inseto pica um reserva-
Há 3 formas de leishmaniose que afetam diferentes tório infectado pela Leishmania, ele ingere macró-
partes do corpo. Depois que os protozoários pene- fagos infectados por amastigotas, que são então
tram no corpo através de uma mordida na pele, liberadas no intestino do inseto. As amastigotas
podem permanecer na pele ou disseminar para passam então novamente à forma de promastigo-
membranas mucosas do nariz e da boca ou para tas, e assim o ciclo da vida da Leishmania se reini-
órgãos internos. cia.

Leishmaniose cutânea/tegumentar: doença in- infectado pela Leishmania, ele ingere macrófagos
fecciosa, não contagiosa e que provocam úl- infectados por amastigotas, que são então libera-
ceras na pele. Ocorre no sul da Europa, na Ásia, das no intestino do inseto. As amastigotas passam
na África, no México e na América Central e do então novamente à forma de promastigotas, e assim
Sul. Brasil, Peru e Bolívia são responsáveis por o ciclo da vida da Leishmania se reinicia.
90% dos casos. No Brasil, há maior incidência no
Norte e Nordeste.
Ciclo de vida da Leishmania
Leishmaniose mucosa: afeta as membranas mu-
cosas do nariz e da boca, causando ulcera- 1. As pessoas são infectadas ao serem picadas por
ções e destruindo o tecido. uma mosca de areia fêmea infectada. Os mosqui-
Leishmaniose visceral/calazar: afeta os órgãos tos-palha injetam uma forma imatura dos protozoá-
internos, principalmente a medula óssea, os lin- rios, os promastigotas, que podem causar infecção.
fonodos, o fígado e o baço.
2. Os promastigotas são ingeridos por certas célu-
Etiologia e transmissão las imunológicas chamadas macrófagos. (O pro-
cesso de uma célula ingerir um micro-organismo, ou-
Os principais agentes etiológicos do Brasil são as tra célula ou fragmentos de células é denominado
espécies L. amazonenses, L. guyanensis e L. brazili- fagocitose, e as células que ingerem são denomina-
ensis. O vetor/agente transmissor do protozoário é das de fagócitos).
a fêmea infectada do mosquito flebótomo, conhe-
3. Nessas células, os promastigotas se desenvolvem
cido por mosquito-palha ou birigui.
em amastigotas.
Vários animais (como o cão) e o homem podem
4. Os amastigotas se multiplicam no interior dos ma-
atuar como reservatório. Mosquitos-palha
crófagos em diversos tecidos.
5 e 6. Quando um mosquito da areia pica uma pes- 8. No intestino médio da mosca, os promastigotas se
soa infectada, ele se infecta ao ingerir o sangue multiplicam, se desenvolvem e migram para as partes
contendo macrófagos infectados. bucais da mosca. Eles são injetados quando a
mosca pica outra pessoa, completando o ciclo.
7. No intestino médio da mosca, os amastigotas se
desenvolvem em promastigotas.

Fisiopatologia da Leishmaniose Te- Manifestações clinicas


gumentar
O período de incubação da Leishmania tegumen-
Após a inoculação por mosquito-palha, promasti- tar é de 1 a 3 meses. O primeiro sintoma é geral-
gotas do vetor são fagocitadas por macrófagos mente um caroço (pápula) bem definido no local
hospedeiros. Dentro dessas células se transformam da picada do mosquito-palha. Ele surge normal-
em amastigotas. Os parasitas podem permanecer mente após várias semanas e contém parasitas. À
localizados na pele ou se disseminarem para a mu- medida que a infecção se espalha, mais caroços
cosa da nasofaringe ou para medula óssea, baço, podem aparecer próximos ao caroço inicial.
fígado e, algumas vezes, para outros órgãos, resul-
O caroço inicial aumenta lentamente e muitas vezes
tando nos 3 principais tipos de leishmaniose (cutâ-
se torna uma ulceração aberta que pode expelir
nea, mucosa e visceral).
secreção ou formar uma crosta. As ulcerações são
Em um paciente com leishmaniose cutânea, células geralmente indolores e não causam outros sintomas,
mononucleares do sangue periférico produzem in- a menos que uma infecção bacteriana se desen-
terferon-y em resposta a antígenos de Leishmania, volva nelas. As ulcerações acabam por se curar so-
levando à uma reação de hipersensibilidade do zinhas depois de vários meses.
tipo tardio. Na lesão, parece haver um equilíbrio en-
As lesões cutâneas aparecem, aumentam de tama-
tre uma imunidade celular protetora e uma exacer-
nho e demoram para cicatrizar:
badora da doença. Por fim, as células T com res-
posta Th1 (ação pró-inflamatória) predominam e Lesões cutâneas nodulares disseminadas: Possui
ocorre a cura da lesão, deixando uma cicatriz atró- muitos macrófagos infectados com amastigotas.
fica no local. Não evoluem para úlceras, uma vez que a res-
posta Th1 protetora não se desenvolve de
forma adequada, podendo se manifestar na
forma de lesões destrutivas crônicas.
Lesões típicas: são úlceras indolores únicas, há
evidência de uma resposta Th1 intensa. Pode
apresentar apenas uma ou múltiplas lesões cu-
tâneas.

Diagnóstico

Na triagem faz-se o teste de reação intradérmica


de Montenegro, de caráter imunológico (baseado
na “memória imunológica” dos linfócitos Th1), que re-
gistra se a pessoa entrou em contato com a Leish-
mania. Resultado positivo, porém, não indica neces-
sariamente que ela seja portadora da doença. Pos-
sui melhor resultado na Leishmania tegumentar.

No diagnóstico de Leishmaniose tegumentar ocorre


a avaliação clínica de lesões cutâneas localizadas
e crônicas. E a confirmação ocorre pela identifica-
ção das amastigotas no tecido ou do crescimento
em cultura de promastigotas, ou seja, faz-se uma
biopsia e aspirado da margem da lesão/ulceração
(análise em lâmina e cultura). A cultura é feita no
meio NNN e é pouco sensível (40%), demora semanas
para ficar pronto.

REFERÊNCIAS
1. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 9ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan

2. LONG, Dan L. et al. Medicina Interna de Harrison.


18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2013. 2v.

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