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AULA 1
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possibilidade de trabalharmos de forma semissíncrona, ou seja, com parte do
material artístico preparada previamente e outra parte realizada ao vivo.
Sendo assim, a primeira parte deste curso tratará de uma prática musical
assíncrona amplamente difundida a partir do ano de 2020, que passou a ser
chamada de videomosaico. O uso de aplicativos para cantar em grupo também
promove as práticas de conjunto de maneira assíncrona e será um de nossos
temas. Também trataremos de outras maneiras semissíncronas de se praticar
música remotamente e encerraremos com os avanços que alcançados em
relação às práticas síncronas.
Mais do que assistir às aulas e ler este texto, recomendamos que você
experimente, arrisque, produza e compartilhe seus resultados, pois, com a
permissão de uma redundância didática, é preciso praticar para se desenvolver
nas práticas.
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Figura 1 – Banaha – Prática de canto coral
O vídeo retratado pela Figura 1 foi resultado de uma prática de canto coral
realizada por professores e alunos do curso de Licenciatura em Música da
Uninter. A partir do estudo de caso dessa produção, iremos repassar todas as
etapas, indicando as possibilidades que foram usadas e as que poderiam
também ter sido consideradas. Nesta aula, falaremos sobre o preparo do
material para as gravações, que começa com a escolha da música.
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Cânones são uma excelente alternativa para os casos em que não
podemos reunir o grupo para o ensaio, já que todos cantam uma única melodia,
sendo designado à edição a tarefa de iniciar vozes em momentos diferentes,
gerando, assim, a polifonia.
Outro aspecto importante para a escolha de repertório é a questão de
direitos autorais, pelo fato de que o resultado final da produção normalmente
será veiculado no Youtube e em redes sociais. É preferível que se escolha
músicas livres de direitos patrimoniais, como canções tradicionais sem autoria
definida, como Banaha, ou de compositores falecidos há mais de 70 anos. Mas
caso seu grupo não possua obras assim em seu repertório, ainda é possível
produzir, tomando o cuidado de, ao publicar no Youtube, inserir no título do vídeo
o nome dos autores e a palavra “cover”. Desta maneira, caso o vídeo capte
algum dinheiro pelas visualizações, o detentor do direito autoral recebe o
recurso.
Os arranjos devem ser pensados de acordo com as capacidades do grupo
e os arranjadores também devem ter seu crédito na descrição dos vídeos.
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A guia pode ser produzida também em vídeo, ampliando, assim, as suas
possibilidades. Um vídeo com partitura pode servir como guia e dispensar o uso
da pasta do musicista.
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TEMA 2 – CONJUNTO MUSICAL VIRTUAL: ORIENTAÇÕES PARA AS
GRAVAÇÕES
Por mais que o grupo seja experiente, é sempre prudente enviar todas as
instruções para a gravação de maneira clara e objetiva aos musicistas. Seguem
algumas orientações imprescindíveis:
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Fundos brancos, pretos ou monocromáticos são sempre opções que
fornecem boas alternativas para edição.
• Qualidade do vídeo: é prudente orientar sobre a resolução do vídeo a
ser gravado. Resoluções muito diferentes serão nítidas no produto final.
A resolução de 1080 pixels é um padrão que funciona bem para a maioria
dos casos. Quanto mais pessoas fizerem parte do mosaico, menor pode
ser a resolução de cada vídeo. Vale ressaltar que é possível reduzir a
resolução do vídeo no processo de edição, mas aumentar só gera efeito
nominal. Quanto maior a qualidade de vídeo, maior a memória que ele
ocupa e, consequentemente, melhor deverá ser a configuração do
computador para a edição. Tudo isso deve ser considerado para a
definição da resolução.
• Monitoração e captação de áudio: explicar como funciona o processo é
sempre necessário. Se não fizer isso preventivamente, provavelmente
você terá que explicar pontualmente para os integrantes menos
experientes. Em geral, pode-se dizer “utilize um dispositivo para ouvir a
guia com fone de ouvido e outro para filmar a performance”. Não se
esqueça de orientar a colocar o celular da gravação em um suporte fixo,
seja em um pedestal próprio ou em um suporte improvisado.
• Postura e figurino: da mesma forma que o figurino, é necessário fazer
essas orientações preventivamente, e até mesmo para atender a
situações específicas do projeto, como, por exemplo, em grupos que
utilizam tipos diferentes de uniformes.
• Envio do vídeo: essa orientação é muito importante pois pode afetar a
qualidade do vídeo. Se o integrante mandar seu vídeo por uma rede
social, o arquivo será compactado e terá sua resolução reduzida. É
importante combinar uma maneira de envio sem perdas como, por
exemplo, gerar um link através de uma conta Google ou enviar
diretamente por e-mail, nos casos de arquivos não tão grandes.
Saiba mais
Essas instruções podem ser transmitidas por escrito ou através de um
videotutorial, como foi feito no caso de Banaha, e publicado no Youtube:
<https://www.youtube.com/watch?v=13CJa8vBGv0>. Acesso em: 5 out. 2021.
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Além das instruções contidas no vídeo, em sua descrição estão os links
necessários para a gravação.
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máximo possível pela qualidade final do projeto. Por essa razão, editamos o
áudio em software de áudio e o vídeo em software de vídeo.
Como os integrantes de nossa prática virtual nos enviaram vídeo, o
primeiro passo necessário será converter os arquivos em áudio. Há diversas
maneiras de realizar essa operação. Há alguns sites na web que oferecem
gratuitamente esse serviço, e para encontrá-los basta digitar “mp4 para mp3” no
campo de busca do Google. Outra ferramenta que realiza a tarefa é a partir de
um software para edição de áudio como o SoundForge. Nesse caso basta
apenas abrir o vídeo nesse programa que ele irá exibir apenas o áudio, sendo
necessário apenas salvar o arquivo posteriormente como áudio (mp3 ou wave,
por exemplo).
Feita essa preparação inicial, podemos passar, agora, para a edição de
áudio propriamente dita.
Para a edição e mixagem do áudio, será necessário um software
denominado como Digital Audio Workstation, ou simplesmente DAW. Nesse tipo
de programa é possível sincronizar diversas faixas de áudio ao mesmo tempo,
suprimir ruídos, afinar, equalizar e criar a ambiência desejada para o projeto. É
sobre esses processos que falaremos aqui.
Existem diversas DAWs no mercado, sendo que algumas são gratuitas.
Uma das mais utilizadas é o Reaper, cuja versão mais atual possui dois meses
de gratuidade para avaliação.
Saiba mais
Para baixar o Reaper, acesse: <https://www.reaper.fm/download.php>.
Acesso em: 5 out. 2021.
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O protocolo MIDI é um pacote de dados que transmite informações sobre altura, duração, intensidade,
timbre, entre outras, de cada nota musical. O dispositivo de saída recebe esses dados e transforma em
sons.
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Figura 6 – Inserção de áudios no projeto
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Repare que, na Figura 7, as representações gráficas dos dois sons têm
representações semelhantes. A sincronização visual ocorre, então, por meio da
busca pela coincidência dessas figuras, sobretudo dos picos de intensidade
correspondentes.
A conferência auditiva é necessária por conta da imprecisão natural do
ser humano. Muitas vezes o alinhamento visual aparentemente perfeito de um
evento sonoro específico implica no desalinhamento de todo o resto. Nesse
ponto, o editor de áudio precisa contar com a percepção musical acurada para
encontrar a melhor opção de alinhamento.
Depois dessa primeira sincronização, é preciso cortar tudo que não será
necessário nas faixas de áudio, como longos períodos de silêncio, por exemplo.
Após executar um corte, é necessário fazer uma suavização da intensidade, por
meio do recurso chamado fade. O fade in é utilizado no início do áudio, para
realizar um acréscimo de ganho gradual, do silêncio ao máximo, e o fade out, de
maneira semelhante, promove uma diminuição gradual do ganho.
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adicionando as demais. Quando perceber a imprecisão, ela certamente estará
na última voz adicionada.
A solução dos problemas de sincronia fina pode se dar por operações
manuais de cortes, deslocamentos e fades, ou por processos automáticos,
contando com recurso específico da própria DAW, ou de plug-ins2, como o
Melodyne.
3.5 Afinação
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Plug-ins são softwares executados dentro de outro programa. Os efeitos sonoros dentro das DAWs são
exemplos de plug-in.
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Figura 9 – Afinação
3.6 Mixagem
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Final Cut, por exemplo, são editores de vídeo utilizados pelos profissionais da
área.
Mas, a exemplo dos softwares de áudio, a lógica de operação é bastante
similar entre os editores de vídeo, o que nos permite orientar essa etapa da
produção a partir do software que utilizamos em Banaha, considerando
extensível aos demais programas de edição de vídeo.
Basicamente, nesse processo, precisamos considerar a composição da
cena e suas alterações ao longo do tempo, sempre tomando como referência a
mixagem de áudio, que servirá como guia para a edição de vídeo.
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Figura 10 – Banaha – cena geral
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Fonte: elaborada com base na captura de tela de
<https://www.youtube.com/watch?v=EMQ2qJIsELU>.
4.2 Roteirização
Nas cores vermelho, verde e azul estão as faixas de áudio dos cantores
dos grupos 1, 2 e 3, respectivamente. Em laranja está o áudio de um xequerê
miniatura, gravado para agregar um novo elemento na segunda parte da música.
Em amarelo está o áudio da guitarra, que foi replicado em dois outros canais
com defasagem de tempo para gerar também um cânone.
Pensando a partir do ponto de vista dos sons diegéticos, a sucessão de
cenas mais evidente possível é a seguinte:
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Figura 13 – Definição de cenas de acordo com o projeto de áudio
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As cenas 4, 5 e 6 foram criadas para suprir a demanda do solo de guitarra.
Nesse momento, entra também o xequerê que acaba amarrando a sequência do
solo com a cena 7.
Além de definir a sequência e o layout das cenas, há uma série de outras
escolhas estéticas que precisam ser levadas em conta na edição, tais como
definir as transições entre as cenas, de que maneira os integrantes da prática
irão entrar e sair de cena, inserção de outras imagens, como logotipo, edição de
títulos, legendas e créditos, além de uma ampla possibilidade de animações que
se abrem à medida que os desafios da prática de edição de vídeo se sucedem.
Esses foram alguns princípios de edição de vídeo que trouxemos para
orientar o seu trabalho como produtor de práticas remotas. Evoluir nessa questão
depende de muita prática, pesquisa de referências e de tutoriais para auxiliar a
resolver os novos desafios que cada projeto lhe trará. É importante também que
você mesmo se desafie, buscando sempre agregar uma nova técnica, um novo
recurso, a cada projeto.
Assim como tantos outros recursos, já era possível transmitir ao vivo por
sites como Youtube e redes sociais como o Facebook antes mesmo da
pandemia de COVID-19. Porém, o evento de nível global transformou o que
antes era uma possibilidade pouco utilizada pelos músicos em uma necessidade
para amenizar os impactos do distanciamento social. Desde artistas de alto apelo
midiático, como Alok e Ivete Sangalo, até os músicos que conquistavam seu
sustendo tocando em happy hours passaram a utilizar as ferramentas de
transmissão ao vivo – os chamados streamings.
Todo esse cenário ofereceu à cadeia produtiva da música novas
competências e ferramentas tecnológicas que serão incorporadas aos seus
fazeres musicais de maneira definitiva. E é sobre algumas dessas ferramentas
e suas possibilidades que falaremos nesta aula.
Saiba mais
O OBS Studio está disponível em: <https://obsproject.com/>. Acesso em:
5 out. 2021.
O Streamyard está disponível em: <https://streamyard.com/>. Acesso em:
5 out. 2021.
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para outras plataformas, como Youtube e Facebook, a partir das quais o
conteúdo pode ser acessado.
Para utilizar o Streamyard, basta acessar o site e se cadastrar. Ao fazê-
lo, você pode também cadastrar as plataformas, e suas respectivas contas, para
as quais você irá transmitir. É possível incluir ou remover contas a qualquer
tempo também pelo menu “Destinos”.
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A operação dessa ferramenta é bastante intuitiva e o bom aproveitamento
de todos os seus recursos demanda bastante prática. Além disso, como ela não
é a única ferramenta do gênero, e provavelmente outras tantas ainda surgirão,
vamos nos ater, de agora em diante, a detalhes técnicos de som e imagem
aplicáveis às ferramentas de streaming de modo geral.
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velocidade da conexão da internet. Em alguns casos, a opção pela resolução
mais alta resulta em problemas na transmissão de vídeo.
Mas mesmo uma boa câmera e uma conexão muito rápida não são
garantia de uma boa imagem. Um quesito fundamental para tanto é a luz.
Essa luz que irá iluminar o personagem, ou grupo, que está em foco pode
ser chamada de iluminação principal. Além desses dispositivos portáteis
indicados, pode-se utilizar os comerciais, como uma soft box, que também pode
ser improvisada de modo caseiro.
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Figura 18 – Soft box
Saiba mais
Para saber como fazer uma soft box caseira, acesse o link:
<https://www.youtube.com/watch?v=IBgd3QkIbq0&t=138s>. Acesso em: 5 out.
2021.
Além da luz principal ainda é possível trabalhar com uma backlight, ou luz
de fundo, que serve para definir o contorno da figura em destaque, e também
com a iluminação de cenário. A designer Bianca Ortiz Siqueira demonstrou o
efeito que essas luzes proporcionam durante a “I Semana de Linguagens
Cultural e Corporal”.
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Figura 19 – Iluminação de preenchimento
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Figura 20 – Possibilidade de live com várias câmeras
A imagem mostra uma live feita com três câmeras pelo Streamyard. Nela,
apenas o som vinculado à imagem da direita era transmitido.
Para fazer transmissões pelo Streamyard com diversas câmeras, basta
entrar no estúdio virtual com dispositivos diferentes. No caso, foi utilizado um
notebook, outro computador com webcam e um aparelho celular.
Uma última dica sobre o som para lives: as ferramentas como o
Streamyard, e até mesmo as de vídeo conferência, possuem um recurso para
eliminar ruídos em conversas, ou para silenciar automaticamente os microfones
das pessoas que não estão emitindo som. No Streamyard esse recurso se
chama “Ajustar automaticamente o volume do microfone”, fica nas configurações
de áudio, e deve ser desabilitado, pois pode cortar inícios e fins de frases
musicais.
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com o uso do protocolo MIDI para programar teclados para executar arranjos
mais complexos do que a quantidade de músicos de um grupo poderia executar.
A novidade é, na verdade, a aplicação do conceito em práticas musicais
remotas, e nós iremos analisar aqui dois exemplos que podem nos servir como
inspiração para propormos soluções aos nossos grupos.
Saiba mais
Acesse a live da banda Fresno no link:
<https://www.youtube.com/watch?v=Cc9H8bWMJ2c>. Acesso em: 5 out. 2021.
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Figura 21 – Layout de abertura de evento de extensão
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Em um computador, os professores se conectaram por meio da
ferramenta de conferências institucional e a transmissão via Streamyard foi feita
por um segundo computador. Os professores se comunicavam pela ferramenta
de conferência apenas e, na hora de tocar, a professora desabilitava o áudio do
professor, que a acompanhava sem que ela o ouvisse.
Com um monitor de melhor qualidade, utilizando mesa de som para inserir
o áudio de um computador no outro, o resultado poderia ser melhor. Fica a ideia
para as suas práticas também.
A latência é o tempo que o som leva para chegar ao ouvinte depois de ser
produzido. Ela ocorre em relações presenciais e virtuais.
Imagine que você está em uma performance musical acústica com mais
um musicista. Quando ele tocar seu instrumento o som irá se propagar pelo ar
até chegar aos seus ouvidos, e só então você reage. Sabemos que o som se
propaga no ar a uma velocidade de aproximadamente 340 metros por segundo
(Siqueira, 2020). Então, se vocês estiverem a 3,4 metros de distância, o som
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levará 1 centésimo de segundo, ou 10 milésimos de segundo (ms), para viajar
entre vocês. Podemos dizer, nesse caso, que a latência é de 10 ms, mas está
completamente dentro do limite tolerável da sincronia: até 30 ms, o que ocorre a
uma distância de aproximadamente 10 metros.
Ocorre que as ferramentas de streaming e de conferências disponíveis
oferecem uma latência da ordem de 500 ms, ou meio segundo, que torna
completamente inviável sincronizar a performance musical por meio delas.
Diversos fatores contribuem para isso: primeiro a velocidade de conversão do
áudio analógico para digital, depois a velocidade de transmissão dos dados dos
diversos usuários envolvidos, e até mesmo a velocidade da luz, de 300 milhões
de metros por segundo, que limita a distância a cerca de 9.000 km, ou um pouco
menos que a distância entre São Paulo e Paris.
Apesar das dificuldades, alguns pesquisadores resolveram buscar
soluções para o problema da latência. Assim, em uma parceria entre o Centro
de Pesquisa Computacional em Música e Acústica (CCRMA) da Universidade
de Stanford e a empresa de software Silicon Valley, surgiu a Fundação Jacktrip,
que desenvolve o software de mesmo nome, com o objetivo de possibilitar
práticas musicais síncronas.
O princípio do Jacktrip é otimizar a transmissão dos dados de áudios,
fazendo-os circular de maneira mais eficiente e com a melhor qualidade possível.
É uma questão de programação, ou seja, de ajustar os algoritmos para essa
finalidade.
Em condições ideais, com placas de som de baixa latência e velocidade
alta de transmissão de dados, o raio de alcance do software é de cerca de 800km
– distância até a qual se tem a sensação de sincronia (Jacktrip, 2020).
Se por um lado as pesquisas da Fundação Jacktrip são uma esperança
para as práticas musicais remotas síncronas, revelam também uma limitação
física, natural: não será possível, tão cedo, daquele músico paulista fazer uma
jam session com o seu amigo que mora em Paris.
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8.3 Produção musical colaborativa
Saiba mais
O Cakewalk BandLab está disponível em: <https://www.bandlab.com/>.
Acesso em: 5 out. 2021.
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Figura 24 – Projeto do Cakewalk BandLab
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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a estar disponíveis a todos para viabilizar práticas presenciais, semipresenciais
e remotas, e estas à distância podendo ser síncronas, assíncronas e
semissícronas.
O que podemos esperar para o futuro é que essas tecnologias
emergentes promovam, por meio da criatividade que nos é inerente, práticas e
espetáculos musicais cada vez mais surpreendentes.
INDICAÇÃO DE 2 ARTIGOS
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REFERÊNCIAS
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