ALGORITMOS E

CÁLCULO
NUMÉRICO
Quadratura de Gauss
Fabio Santiago

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Reconhecer o que é integração com base nas quadraturas de Gauss-Legendre.

>> Definir a integração de Gauss-Lobato.
>> Reconhecer a resolução de integrais múltiplas.

Introdução
Neste capítulo, você aprenderá algumas das mais importantes estratégias empre-
gadas para determinar a integral de uma função, iniciando com as quadraturas
gaussianas, responsáveis por gerar uma família de método de integral.
Diferentemente das fórmulas de Newton-Cotes, nas quais os pontos são toma-
dos igualmente espaçados ao longo da malha de cálculo, nas quadraturas gaus-
sianas estes são determinados de modo a fornecer o melhor resultado possível.
De início, você estudará a forma geral de uma quadratura gaussiana, parti-
cularizada para o caso em que se empregam os polinômios de Legendre, dando
origem, assim, à quadratura de Gauss-Legendre.
Depois, aprenderá a quadratura de Gauss-Lobatto, que consiste em um tipo
especial de aproximação, no qual são utilizados os pontos dos extremos do in-
tervalo a fim de determinar a aproximação.
Por último, identificará como generalizar a quadratura de Gauss-Legendre para
o caso de uma função de duas variáveis definida ao longo de uma região retangular.
Ao final, terá aprendido um importante conjunto de ferramentas matemáticas
e computacionais para o cálculo de integrais.
2 Quadratura de Gauss

Integração Gauss-Legendre
Ao longo de todo o capítulo, você estudará diferentes técnicas de integração
numérica, tendo início com a estratégia de integração de Gauss-Legendre,
que consiste em um caso particular das quadraturas gaussianas.
Porém, antes de dar continuidade aos estudos do tema central deste
tópico, é importante que você compreenda a principal diferença desse
tipo de estratégia de integração em relação às tradicionais estratégias de
Newton-Cotes.
Como observam Burden, Faires e Burden (2015), todas as estratégias de
Newton-Cotes utilizam valores das funções a serem integradas em pontos
igualmente espaçados do seu domínio. Ainda segundo os referidos autores,
esse tipo de estratégia é importante na obtenção de regras de integração, e
o fato de esses pontos serem igualmente espaçados facilita sua implemen-
tação computacional.
No entanto, as estratégias de Newton-Cotes podem ter sua precisão dete-
riorada ao realizar algumas aproximações, como mostrado a seguir (Figura 1).

Figura 1. Aproximação da integral da função pela regra trapezoidal de Newton-Cotes.

Fonte: Burden, Faires e Burden (2015, p. 229).

Como pode ser observado na Figura 1, ao utilizarmos a fórmula trapezoidal

para aproximar a função dada, esta não é capaz de fornecer aproximação
satisfatória para o valor da integral. Nesse sentido, uma das alternativas
para melhorar essa aproximação consiste em refinar a malha de cálculo
empregando um maior número de trapézios para aproximar a área de baixo
da curva, embora isso implica um maior custo computacional.
Diferentemente das fórmulas de Newton-Cotes, as quadraturas gaussianas,
em vez de tomar pontos igualmente espaçados no domínio, toma-os em uma
posição de modo a otimizar a aproximação.
 Quadratura de Gauss 3

A Figura 2 mostra as mesmas funções do estudo anterior, mas agora

considerando uma aproximação na qual se tomam os pontos ótimos para
aproximação da integral da curva.

Figura 2. Aproximação da integral da função pela regra trapezoidal de Newton-Cotes.

Fonte: Burden, Faires e Burden (2015, p. 229).

De acordo com Burden, Faires e Burden (2015), os nós x1, x2, x3 ... xn no
intervalo [a, b] e coeficientes c1, c2, c3 ... cn são escolhidos para minimizar o
erro esperado na aproximação. Assim, temos:

Segundo Valle (2015), na quadratura gaussiana, tanto os nós de integração

x1, x2, x3 ... xn quanto os coeficientes c1, c2, c3 ... cn são escolhidos de modo que

Seja exata para polinômios de grau menor ou igual a 2n ‒ 1, ou seja,

R (n+1) = 0 sempre que a função f(x) for um polinômio de grau 2n ‒ 1. Para
entender esse ferramental, considere o exemplo a seguir.

Utilizando a quadratura gaussiana, determine ,

considerando uma aproximação com n = 2.
Solução:
4 Quadratura de Gauss

Com n = 2 a quadratura gaussinana garante que é possível aproximar a inte-

gral de forma exata para polinômios de grau no máximo igual 2n ‒ 1; portanto,
2 ∙ 2 ‒ 1 = 3. Então, para esse caso, temos:

Desenvolvendo as expressões:

Reorganizando os dados anteriores, obtém-se um sistema não linear de

quatro equações e quatro incógnitas:

A resolução do sistema não linear anterior leva à seguinte solução:

Portanto, a quadratura gaussiana assumiria a seguinte forma:

Segundo Valle (2015), de modo geral, a quadratura gaussiana é signi-

ficativamente mais difícil de obter quando comparadas as fórmulas
de Newton-Cotes, uma vez que os nós e pesos são obtidos a partir da resolução
de um sistema não linear.
 Quadratura de Gauss 5

Apesar de a técnica anteriormente descrita ser útil para a determinação

de raízes e coeficientes capazes de dar resultados exatos para funções poli-
nomiais de alta ordem, existem alternativas de obtê-los com menor esforço.
Para isso, consideraremos a família de polinômios de Legendre, dando origem,
assim, à quadratura Gauss-Legendre.
Os polinômios de Legendre consistem em uma coleção de polinômios
{P0(x), P1(x), P2(x), ..., Pn(x)} que têm as seguintes propriedades:

1. para cada n, P(x) é um polinômio cujo maior grau é n;

2. sempre que P(x) é um polinômio de grau menor
que n.

Alguns dos primeiros polinômios são

. Como apresentam Burden, Faires e
Burden (2015), as raízes dos polinômios de Legendre são distintas e estão
contidas no intervalo (‒1, 1), têm simetria em relação à origem e consistem
na correta escolha para a determinação dos nós e coeficientes para o método
de quadratura. A afirmação de Burden, Faires e Burden (2015) está assegurada
pelo seguinte teorema.
Teorema: Suponha que x1, x 2, ..., xn sejam as raízes do n-ésimo polinô-
mio de Legendre Pn(x) e, para cada i = 1, 2, ..., n, os coeficientes c i sejam
definidos por:

Se P(x) é qualquer polinômio de grau menor que 2n, então:

A maior dificuldade aplicar essa técnica seria determinar os coeficientes

e as raízes para cada um dos polinômios de Legendre, no entanto a literatura
clássica da área de análise numérica traz esses dados extensamente tabe-
lados: no Quadro 1, são apresentados os valores dessas constantes para os
polinômios de Legendre de grau n = 2, 3 e 4.
6 Quadratura de Gauss

Quadro 1. Constantes e raízes dos polinômios de Legendre de grau n = 2, 3 e 4

n Raízes r(n,i) Coeficientes c(n,i)

2 0.5773502692 1.0000000000
0.5773502692 1.0000000000

3 0.7745966692 0.5555555556
0.0000000000 0.8888888889
–0.7745966692 0.5555555556

4 0.8611363116 0.3478548451
0.3399810436 0.6521451549
–0.3399810436 0.6521451549
–0.8611363116 0.3478548451

5 0.9061798459 0.2369268850
0.5384693101 0.4786286705
0.0000000000 0.5688888889
–0.5384693101 0.4786286705
–0.9061798459 0.2369268850

Fonte: Adaptado de Burden, Faires e Burden (2015).

A partir do ferramental teórico apresentado sobre a quadratura gaussiana

e a quadratura Gauss Legendre, a seguir há uma série de exemplos para que
você possa praticar.

Calcule com duas casas decimais a integral dada a seguir por meio do
método de Gauss-Legendre utilizando n = 2, e, em seguida, compare
o valor obtido com a solução analítica.

Solução: Inicialmente, considerando os dados tabelados para a quadratura

de Gauss-Legendre com n = 3, tem-se que:
 Quadratura de Gauss 7

Agora, calculando analiticamente a integral apresentada:

Portanto, como esperado, a quadratura de Gauss-Legendre foi capaz de

fornecer o valor exato para a integral, pois, como consideramos n = 2, podemos
integrar de forma exata polinômios de grau 2n ‒ 1 = 2 ∙ 3 ‒ 1 = 5.

Considerando a quadratura de Gauss-Legendre, calcule a integral a

seguir com precisão de cinco casas decimais utilizando n = 4.

Solução:
Incialmente, considerando os dados tabelados para a quadratura de Gauss-
-Legendre com n = 4, tem-se que:

Portanto, , quando comparado ao resultado

analítico:

Assim, tem-se um erro relativo dado por:

8 Quadratura de Gauss

Nesse ponto, você deve estar convencido da robusta ferramenta que é

a quadratura gaussiana para o cálculo de integrais, no entanto, ao mesmo
tempo, deve estar se perguntando se essa técnica poderia ser aplicada ape-
nas a integrais contidas no intervalo [‒1, 1], o que inviabilizaria seu uso para
inúmeras aplicações.
Apesar dessa aparente limitação, a técnica da quadratura gaussiana pôde
ser facilmente estendida para qualquer intervalo por meio de uma simples
mudança de variável, mostrada na Figura 3.

Figura 3. Mudança de variável na quadratura Gauss-Legendre.

A mudança de variável anterior possibilita que a quadratura gaussiana

seja aplicada a qualquer intervalo genérico na forma , uma vez que:

Nesta seção, você aprendeu a técnica da quadratura gaussiana para a

determinação numérica de uma integral, particularizada, posteriormente,
para os polinômios de Legendre, dando origem, assim, à quadratura de
Gauss-Legendre.

Integração Gauss-Lobatto
Como você aprendeu anteriormente, as quadraturas gaussianas consistem
em uma família de métodos para a integração numérica, como na quadra-
tura de Gauss-Legendre, conforme estudamos, que faz uso dos conhecidos
polinômios de Legendre.
 Quadratura de Gauss 9

Neste tópico, você estudará a quadratura de Gauss-Lobatto. Sua primeira

diferença em relação à quadratura de Gauss-Legendre consiste no fato de ela
fazer uso em sua regra da aproximação da integração dos pontos constantes
nos extremos do intervalo, o que ora a ajuda, ora a atrapalha.
O fato de os limites de integração comporem a regra de aproximação ajuda
quando se deseja trabalhar com métodos compostos, contudo atrapalha
quando se quer avaliar uma integral imprópria.
Essencialmente, o método de integração de Gauss-Lobatto compõe-se
por funções pesos e raízes, como mostrado a seguir:

Sendo os parâmetros A, B, Ai e a posição dos pontos xi parâmetros a serem

determinados.
A seguir, você aprenderá a determinar essa regra com quatro pontos,
embora, como a regra de Gauss-Legendre, comumente a literatura traz esses
pontos tabelados.
Considere que desejamos aproximar a integral por meio da
regra de Gauss-Lobatto. Nesse sentido, temos que:

Pela equação anterior, temos três incógnitas — A0, A1 e ε —; assim, para

que esteja bem definida, são necessárias três equações:

Para f(x) = 1, tem-se que:

Agora, sendo f(x) = x, vem:

10 Quadratura de Gauss

Logo, a aproximação torna-se:

Sendo f(x) = x2, vem:

Considerando a aproximação para esta integral, tem-se que:

Agora, seja f(x) = x3, portanto:

Considerando a aproximação, vem:

Considerando agora f(x) = x4, vem:

Sendo a aproximação deste dada por:

Nesse ponto, obtemos um sistema de três equações e três incógnitas.

 Quadratura de Gauss 11

Assim, a regra de Gauss-Lobatto para esse caso assume a seguinte forma:

Na Figura 4, são mostrados alguns valores dos pesos (A i) e das abs-

cissas (εi).

Figura 4. Valores dos pesos e das abscissas da quadratura de Gauss-Lobatto.

Fonte: Adaptada de Düster (2020).

Até aqui, você aprendeu a construir a regra de Gauss-Lobatto, para um

caso específico. A seguir, tem-se a forma geral para n pontos:

Sendo
12 Quadratura de Gauss

Para compreender o funcionamento dessa regra, considere o exemplo

a seguir.

Aproxime a integral de do método de Gauss-Lobatto,

utilizando n = 3 e duas casas decimais de precisão.
Solução:

Integração dupla
Nos tópicos anteriores, você aprendeu importantes estratégias para o cálculo
de integrais simples, no entanto naturalmente deve estar pensando em como
elas podem ser estendidas ai cálculo de integrais duplas, uma vez que estas
são tão importantes quantas as primeiras.
Assim, incialmente, considere a integral dupla a seguir, bem como a su-
perfície gerada por sua função, como mostrado na Figura 5.

onde é uma região retangular, sendo a,

b, c e .
 Quadratura de Gauss 13

Figura 5. Superfície gerada por uma função de duas variáveis.

Fonte: Burden, Faires e Burden (2015, p. 238).

Ao calcular a integral dupla da função f(x, y) ≥ 0 ao longo da região retan-

gular R, você está determinado o volume desta. Esse tipo de integral pode
ser determinado numericamente, tanto pelas fórmulas de Newton-Cotes
quanto pelas quadraturas gaussianas.
Uma vez que o tema desta unidade é a quadratura gaussiana, você estudará
neste tópico o cálculo da integral dupla por integração de Gauss-Legendre.
Essencialmente, para a resolução desse tipo de problema, devemos aplicar o
método de Gauss-Legendre em cada um dos eixos coordenados. No exemplo
a seguir, você aprenderá na prática como esse tipo de estratégia funciona.

Calcule, por meio do método de Gauss-Legendre, a integral dada a

seguir, considerando n = 3.

Considerando a quadratura gaussiana com n = 3 em ambos os eixos u, v,

temos as seguintes raízes:
14 Quadratura de Gauss

Por sua vez, associados a essas raízes, existem os seguintes pesos:

Resultando, assim, em:

A seguir, você tem o algoritmo proposto por Burden, Faires e Burden (2015)
para o cálculo da integral dupla de uma função f(x, y) ao longo de uma região
genérica. Assim, tem-se que:

Dados de entrada: os pontos finais a, b e os inteiros positivos m e n re-

ferentes às aproximações de Gauss-Legendre, feitas em cada um dos eixos,
bem como as raízes dos polinômios e as funções de ponderação.
Passo 1:

Passo 2:
Para i = 1, 2, ..., m, repita os passos de 3 a 5:
Passo 3:
 Quadratura de Gauss 15

Passo 4:
Para j = 1, 2, ..., n

Passo 5:

J = J + c(m,i)k1JX (fim do passo 2)

Passo 6:

J = h1 J

Passo 7:

Saída (J)

Com o algoritmo anterior, encerramos nosso estudo com as aproximações

numéricas para integrais de funções de uma variável e de duas variáveis. O
conhecimento adquirido por você ao longo desta unidade será útil para a
resolução de problemas em diversas áreas.

Referências
BURDEN, R. L.; FAIRES, D. J.; BURDEN, A. M. Numerical analysis. 10. ed. Boston: Cengage
Learning, 2015.
DÜSTER, A. Abscissas and weight factors of the GaussLobatto-quadrature. 2020. Dis-
ponível em: https://www.researchgate.net/figure/Abscissas-and-weight-factors-of-
-the-Gauss-Lobatto-quadrature_tbl4_339131811. Acesso em: 29 dez. 2020.
16 Quadratura de Gauss

Leituras recomendadas
BISTROMÁTICA. Integração numérica: introdução. 1 vídeo (9 min), 2017. Disponí-
vel em: https://www.youtube.com/watch?v=kAinr0VckJw&list=PLgmg2_hBFC-
-1uB703aDrlWjg5fHAOQgy5&ab_channel=Bistrom%C3%A1tica. Acesso em: 29 dez. 2020.
BISTROMÁTICA. Mudança de limites da integração. 1 vídeo (10 min), 2017. Disponí-
vel em: https://www.youtube.com/watch?v=v61JCCzXkw4&list=PLgmg2_hBFC-
-1uB703aDrlWjg5fHAOQgy5&index=4&ab_channel=Bistrom%C3%A1tica. Acesso em:
29 dez. 2020.
BISTROMÁTICA. Quadratura de Gauss, regra de 1 ponto. 1 vídeo (10 min), 2017. Dis-
ponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5oPo7fF7lDo&list=PLgmg2_hBFC-
-1uB703aDrlWjg5fHAOQgy5&index=2&ab_channel=Bistrom%C3%A1ti. Acesso em: 29
dez. 2020.
BISTROMÁTICA. Quadratura de Gauss, regra de 2 pontos. 1 vídeo (8 min), 2017. Dis-
ponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bos1Kg_Fe44&list=PLgmg2_hBFC-
-1uB703aDrlWjg5fHAOQgy5&index=3&ab_channel=Bistrom%C3%A1. Acesso em: 29
dez. 2020.
NUMERICAL Differentiation and Integration. In: BURDEN, R. L.; FAIRES, D. J.; BURDEN, A.
M. Numerical analysis. 10. ed. Boston: Cengage Learning, 2015. p. 172–256.

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