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moldada pela cultura britânica) através do padre Vasques – padre “obeso e sórdido, arrotando
do fundo da sua poltrona […]”.
O cuidado que o narrador coloca na descrição da educação de Pedro da Maia (educação
mar- cada pela presença da cartilha e da religião, alheada do exercício e do contacto com a
natureza),
10 esse cuidado é bem sintomático: ele denuncia um raciocínio de teor determinista, capaz de
amo- rosa fatal. Quando aparece Maria Monforte, aparece também o embrião de desgraça que
há de atingir aquela personagem física e animicamente débil; e quando Maria Monforte parte
com Tan- credo, levando a filha e deixando Carlos, só resta a Pedro uma saída, ao gosto do
Romantismo que o afetava e bem consentânea com as suas características temperamentais: o
suicídio.
20 Numa outra personagem, já na geração seguinte, perpassa ainda a preocupação
naturalista com a instância da educação: Eusebiozinho, companheiro de geração (em termos
de idade, que não de formação nem de referências culturais) de Carlos. É em Santa Olávia
que o encontramos, no capítulo III, em confronto direto com Carlos, esse, sim, educado por
um modelo pedagógico britânico.
25 O que de Eusebiozinho se sabe é que nele se prolongam os equívocos educacionais que en-
contramos em Pedro: educação reclusa, com uma forte presença da Igreja (através do abade
Custódio), distante do contacto com a vida ativa e ainda atingida pelo Ultrarromantismo.
Assim, a criança de “craniozinho calvo de sábio”, capaz de permanecer “horas numa cadeira,
de perni- nhas bambas, esfuracando o nariz”, “precoce letrado [que] passava dias a traçar
algarismos,
30 com a linguazinha de fora”, é essa criança que declama, num agoniado esforço de memória, a
“Lua de Londres”, de João de Lemos. Adivinha-se facilmente que uma tal educação, associada
à melancolia mórbida destilada pelo Ultrarromantismo, terá também os seus frutos negativos:
o Eusebiozinho adulto, que encontramos em Lisboa, a partir de 1875, surge como uma figura
soturna, débil, moralmente dissoluto e eticamente irresponsável.
35 Resta saber o que, neste aspeto, se passa com o protagonista Carlos da Maia. Dir-se-ia que
com Carlos se confirma ainda o prolongamento do método naturalista no tratamento da
perso- nagem, uma vez que à sua educação é consagrado praticamente todo o capítulo III. Só
que a re- presentação da educação nesse capítulo concretiza-se de forma parcelar e parcial.
Parcelar, por- que ela é mencionada apenas durante uma breve visita do procurador Vilaça
(pai) a Santa Olávia,
40 onde Carlos cresce e se educa; parcial, porque é o ponto de vista de Vilaça que orienta essa re-