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A Força dos Pontos Riscados

Desvendando a força e os mistérios


Texto: Thiago A. Casarejos e Danilo Coppini – L.T.J 49 – novembro/ 2017

Antes de iniciarmos o assunto principal –Pontos Riscados- devemos nos atentar


aos significados e às leituras advindas do passado a fim de compreender como
os povos antigos enxergavam o uso de símbolos em suas culturas.

Significados de Símbolo:

“O termo símbolo, com origem no grego (sýmbolon), designa um elemento


representativo que está (realidade visível) em lugar de algo (realidade invisível) que tanto
pode ser um objeto como um conceito ou ideia, determinada quantidade ou qualidade. O
"símbolo" é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundido
pelo cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano. Embora existam símbolos
que são reconhecidos internacionalmente, outros só são compreendidos dentro de um
determinado grupo ou contexto (religioso, cultural, etc.). Ele intensifica a relação com o
transcendente. ” (Fonte: dicionarioinformal.com.br)

Considera-se geralmente como origem etimológica da palavra símbolo o grego syn-


bállein, que significa "colocar junto", o que dá uma ideia de aproximação, de ajuntamento
ou de encaixamento, como também de comparação de senha e contra senha. (ASLAN,
Nicola. Estudos Maçônicos sobre Simbolismo. Editora Grande Oriente do Brasil. RJ-
1969).

"O Simbolismo transforma os fenômenos visíveis em uma ideia, e a ideia em imagem, mas
de tal forma que a ideia continua a agir na imagem, e permanece, contudo, inacessível; e
mesmo se for expressa em todas as línguas, ela permanece inexprimível. Já a Alegoria,
transforma os fenômenos visíveis em conceito, o conceito em imagem, mas de tal maneira,
que esse conceito continua sempre limitado pela imagem, capaz de ser inteiramente
apreendido e possuído por ela, e inteiramente exprimido por essa imagem." (Goethe)
A representação especifica para cada símbolo pode surgir como resultado de um
processo natural ou ser convencionada de maneira que o receptor (uma pessoa
ou um grupo especifico de pessoas) consiga fazer a interpretação do seu
significado implícito e atribuir-lhe determinada conotação. Também está
relacionada fisicamente com um objeto ou ideia que representa; podendo
extrapolar a representação gráfica ou tridimensional e assumir força sonora ou
até mesmo gestual.

O princípio do pensamento simbólico está fincado em uma época anterior à


história, nos fins do período paleolítico. Os mestres da humanidade primitiva,
podem ser facilmente localizados, através de estudos sobre gravações
epigráficas. Símbolos gravados há mais de 60 mil anos em cascas de ovo de
avestruz podem evidenciar o mais antigo sistema de representação simbólica
usado por humanos modernos. Os sinais repetitivos e padronizados foram
encontrados em HOWLESONS POORT, na África do Sul e foram destacados em
artigos na revista PROCEEDINGS OF THE NATIONAL ACADEMY OF
SCIENCES (PNAS) ARTE RUPESTRE.

Gravuras encontradas na Pedra do Inga

A arte rupestre é o termo que denomina as representações artísticas pré-


históricas realizadas nas paredes, tetos e outras superfícies rochosas. A arte
rupestre divide-se em dois tipos: a pintura rupestre - composições realizadas com
pigmentos e a gravura rupestre - imagens gravadas em incisões na própria rocha.

Em geral, trazem representações de animais, plantas, pessoas e sinais gráficos


abstratos, as vezes usados em combinação. Sua interpretação é difícil e repleta de
controvérsia, mas pensa-se correntemente que possam ilustrar cenas de caça,
ritual, cotidiano, ter caráter mágico e expressar uma espécie de linguagem visual,
conceitos, símbolos, valores e crenças.

A Evolução dos Símbolos dentro do Contexto Religioso

O homem é o único animal capaz de criar um símbolo. Os símbolos marcam o


passado, o presente e apontam para o futuro. Dentro do conceito religioso, um
símbolo é uma expressão, um código que possibilita a comunicação dos humanos
com suas deidades. Desde as eras primitivas a humanidade passou por inúmeras
transformações que possibilitaram um intercâmbio cultural manifesto
claramente em toda simbologia religiosa, como por exemplo, a transformação de
símbolos pagãos em cristãos. Religiosamente os símbolos dão sentido às buscas
espirituais e são pontos-de-força capazes de carregarem histórias, lendas,
Tradições, ancestralidade e todas as características de um credo. Símbolos
religiosos são pontes para o Sagrado.

O objetivo central desse texto, além de fornecer os conceitos básicos de que


símbolo é um objeto, uma ideia, uma emoção ou um ato usado para representar
um outro objeto ou uma outra ideia, deseja esclarecer a inserção dos sinais
gráficos (símbolos) dentro do contexto da Quimbanda Brasileira. Entendemos
que todo grupo de símbolos forma um Ponto e esse possui forma e significado
próprio. A forma é seu componente objetivo, material e perceptivo; já o
significado está conectado ao fator inconsciente, conceptual e emocional. Forma
e significado exercem em um Ponto (grupo de símbolos pré-codificados) força e
energia para agir externa e internamente (corpo e alma, consciência e
subconsciência, vivos e mortos).

Para a Quimbanda Brasileira os Pontos Riscados são ferramentas magísticas de


extrema importância. Sem esses códigos seria impossível a plena comunicação
espiritual entre os adeptos e seus Mestres Poderosos Mortos, afinal, os símbolos
são compreendidos em ambos os planos.

Nossa Tradição visa integrar diversos conhecimentos para o esclarecimento de


um ‘Ponto Riscado’, pois dessa forma não limita ou restringe a amplitude
energética do mesmo. Os “Pontos de Exu ou Pombagira” são complexas
‘assinaturas’ que tem por objetivo criar uma intensa vibração que age no
subconsciente dos adeptos e na própria estrutura astral. Cada vez que um Ponto
de Exu/Pombagira é riscado, abre-se um portal entre os diversos planos que
possibilita a vinda e manifestação (no plano material) desse espírito. Dentro da
ritualística de incorporação abre determinadas “portas subconscientes” (também
conhecidas como portas “corta-fogo”) que facilitam a “simbiose espiritual” entre
os espíritos e os adeptos.

Cada linha, círculo, garfo/tridente, estrela, etc. que encontramos nos Pontos
Riscados de Exu e Pombagira tem uma explicação, um ‘porquê’, uma finalidade
especifica. Quando os primeiros espíritos se manifestaram na Terra dos vivos
materialmente, foram deixando um legado para que os verdadeiros
decodificadores pudessem compreender a natureza e a forma de manifestação
desses Mestres (as).
A Classificação dos Pontos Riscados

• Ponto Riscado da Tradição:

Ocorre quando os adeptos ou dirigentes fazem uso de “Pontos Riscados” que


já são parte da Tradição do culto da Quimbanda.

• Ponto Riscado Inspirado:

Ocorre quando o dirigente ou adepto recebe a grafia do “Ponto Riscado”


através uma inspiração emanada pelos planos espirituais.

• Ponto Riscado Montado:

Ocorre quando o dirigente ou adepto usa de seus conhecimentos exotéricos e


esotéricos para produzir um campo de manifestação de forças. Como a
Quimbanda é uma vertente espiritual que “engole e absorve” outras formas
de desenvolvimento gnóstico, os “Pontos de Exu” podem apresentar
símbolos gráficos contidos em Sigilos Esotéricos de outras Tradições, tais
como relações planetárias, elementais, alquímicas além de um forte apelo
numerológico.

Quando o “Ponto Riscado” é motivado através das ritualísticas é aberto um


poderoso vórtice que flui na forma de uma ‘coluna’. Para que a energia seja
canalizada corretamente, o “Ponto Riscado” deve ter um círculo externo. Esse
círculo delimita o espaço energético de manifestação garantindo que a energia
não se expanda de forma aleatória.

Analisando um Ponto Riscado

Para que o adepto compreenda a ação de um Exu/Pomba Gira deve observar


atentamente o “Ponto Riscado” e identificar sua ação nos planos materiais e
espirituais. Exemplificaremos a interpretação dos sinais gráficos através do
“Ponto Riscado da Tradição” do Mestre Exu Caveira.
Ao observarmos esse Ponto Riscado, a primeira situação que analisamos é o eixo
central e o eixo lateral que formam simetricamente um sinal de equilíbrio.

Esse sinal significa:


1- Os quatro pontos cardeais;
2- Os quatro elementos;
3- Masculino e feminino;
4- O espiritual e o físico.

Portanto, temos como referência todos esses aspectos para determinarmos a


amplitude dos poderes desse Exu.

Seguindo a linha de raciocínio, abordaremos as diferenças entre os garfos


(tridentes) e suas localizações. Antes, porém, faremos uma explanação sobre o
sincretismo que agregou o tridente aos poderes de Exu.

Tridentes de Exu

Porque Exu usa garfo?


O que gostaríamos de deixar claro nesse estudo é que o uso do ‘Tridente/Garfo’
não tem relação alguma com o Culto Africano a Èsú. Esse ‘orixá’ portava em sua
mão um cajado nodoso e um cetro fálico (Ogó) que demonstravam a força de seu
dinamismo e jovialidade. Èsú só recebe o tridente quando os primeiros
missionários europeus adentraram em territórios africanos e se depararam com
sua forma de culto. Assustados com certas características entenderam esse orixá
como a personificação/face do diabo na África. Certamente que essa concepção
veio para o Brasil e aqui se estabeleceu de novas formas em virtude dos inúmeros
sincretismos ocorridos. Em textos anteriores já descrevemos com riqueza de
detalhes sobre essas relações religiosas e culturais.

O Diabo moldado pelo cristianismo também recebeu não só o tridente como


outras características de deuses pagãos. Dessa forma foi criada uma estratégia de
associação- consciente e inconsciente- onde alguns elementos funcionavam como
identificadores do opositor. O tridente, os chifres, o enxofre, as cores vermelha e
preta, traços zoomórficos, dentre outras formas são itens da massa que criou a
imagem poética de Satanás e suas hostes.

Os Exus e Pombagiras que se manifestam na Quimbanda Brasileira costumam


ostentar os tridentes como poderosas armas mágicas capazes de emanar e atrair
as correntes necessárias. Sabemos que o Tridente é uma arma tipicamente solar
encontrada nas mãos de deuses antigos como Poseidon/Netuno, Shiva, Agni,
Mahakal, dentre outros, entretanto, dentro do rico universo da Quimbanda, essa
arma se desdobrou e recebeu características lunares e femininas (além das
solares). Dessa forma a tríade inércia, movimento e equilíbrio foi separada em
duas armas muito similares, mas com polaridades opostas.

1- Formas de garfo (tridente)


As duas principais formas são:

Arredondado: Os garfos arredondados são vistos como as armas empunhadas


pelas Senhoras Pombagiras. Essa afirmativa não está errada, mas incompleta. Os
espíritos possuem suas polaridades naturais (masculino +, feminino -), mas
devem ser em conjunto com o campo energético que desenvolvem suas funções.
Dessa forma, os Exus que trabalham em Reinos receptivos usam essas armas por
dominarem a essência da mesma. Suas formas arredondadas mostram-nos do
poder uterino, negativo, feminino, lunar e receptivo. Portanto, os garfos
arredondados são usados por Exus e Pombagiras de natureza negativa para a
criação de poderosos vórtices atrativos. Quando um Exu ou uma Pombagira
aponta um garfo dessa qualidade para um alvo, a vítima pode ser esgotada
energeticamente até sucumbir. São instrumentos vampíricos e sua manipulação
é perigosa, pois os efeitos de drenagem podem se expandir de acordo com a
intensão do portador. Possui fortes ligações com os elementos terra e água.

Quadrados: Esses garfos são a expressão do dinamismo e do movimento. São


fálicos, positivos, masculinos, solares e dinâmicos. Esse garfo (tridente) destrói,
cria e equilibra quando necessário. De suas pontas são emanados poderosos
feixes energéticos que agem nos campos carnal, material e espiritual. É uma arma
de disparo incisivo que pode abrir ou obstruir um caminho, dizimar uma barreira
e perfurar uma armadura. Não é costume as Pombagiras ostentarem garfos
quadrados como arma, mas da mesma forma que um Exu usa o garfo
arredondado por dominar as correntes negativas, as Pombagiras também podem
fazê-lo com relação às correntes positivas. Possui fortes ligações com os
elementos fogo e ar. Assim como era na antiguidade, o tridente continua sendo
um meio de manipular os quatro elementos. A diferença é que pela natureza de
Exu ser dividida (macho e fêmea) a polaridade também o é. Como Exus e
Pombagiras formam casais a força dos quatro elementos está unida. Por isso
existe a necessidade dos adeptos sempre promoverem o equilíbrio entre o casal,
pois doutro modo haverá um desiquilíbrio elementar que causa danos na vida e
na ascensão espiritual dos adeptos.

Garfo em “V”: Esses garfos quase não são mais vistos dentro do Culto da
Quimbanda, mas sua simbologia é muito forte. Exus e Pombagiras podem usar
esse garfo para imobilizar fortes oponentes. Geralmente o Exu imobiliza
enquanto a Pombagira drena. Nos ataques mentais são muito incisivos e causam
a completa destruição de parâmetros.

Simbologia dos Complementos usados nos garfos.

Nos “Pontos Riscados” encontramos símbolos que complementam os garfos de


Exu e Pombagira. Esses símbolos são muito importantes para que os adeptos
entendam a plenitude de ação do espírito, bem como suas limitações.
Em primeiro lugar devemos compreender que:

Fig. 01 Fig.02
Em ambos os garfos existem a força dos quatro elementos (fig.01), porém, nos
garfos quadrados destacam-se os elementos positivos (Fogo e Ar) e nos garfos
arredondados os elementos negativos (Água e Terra).

Sendo assim, existem alguns elementos agregados aos garfos para direcionar,
harmonizar e ampliar seus raios de ação. Descreveremos alguns exemplos:

Fig.03 Fig.04 Fig.05 Fig.06

Na figura 03 encontramos pequenos círculos na base do tridente. Segundo alguns


armeiros, esses círculos eram contrapesos necessários para dar equilíbrio no
manuseio dessas armas. Esotericamente o círculo (ou esfera) representa o ciclo
vital, a vida, morte e a própria Terra. É uma marcação de começo e fim energético.
Os Exus e Pombagiras que demonstram em seus ‘Pontos Riscados’ garfos
portando círculos em suas bases agem de maneira muito enérgica nas
intervenções no plano material.
Na figura 04 encontramos pequenas linhas que cruzam o corpo dos garfos. Essas
linhas demonstram que as intervenções enérgicas também são executadas no
plano astral. Apesar de não ser uma regra, quando existem essas duas marcações
nos ‘Pontos Riscados’ de Exus e Pombagiras certamente os mesmos governam
Legiões, ou seja, no mínimo são ‘Mestres’.
Na figura 05 encontramos uma marcação que nossa Tradição chama de “Chave”.
Essa marcação é muito mais esotérica do que a grande maioria dos seguidores e
adeptos possam imaginar, pois ela demonstra a plenitude da força e a polaridade
da ação. A posição da chave indica se o garfo age de forma horária (força
centrífuga, polo irradiador, força de proteção que fecha o corpo astral) e de forma
anti-horária (força centrípeta que mantém aberto o corpo astral, extremamente
sensível e intuitiva, poder de captação). Isso é extremamente importante e
fundamental para todos que trabalham com as forças de Exu, pois dessa o adepto
conhece as intensões das grafias sagradas. Um espírito mal-intencionado pode
ser ‘desmascarado’ com tal conhecimento. Um suposto ‘zelador’, formado com
fragmentos de ensinamentos corrompidos e que não buscou a ‘tabatinga’ do
conhecimento para tapar as rachaduras de sua formação também pode submeter
ao erro centenas ou milhares de pessoas. Figura 06. A ‘Chave Anti-horária’ não
costuma aparecer nos garfos quadrados, sendo mais usual nos garfos
arredondados, entretanto, os mesmos (Arredondados) podem aparecer com
‘Chaves Horárias’, principalmente se manipulados por Exus.

Como o Garfo demonstra a tensão energética

Em inúmeros ‘Pontos Riscados’ podemos ver o eixo do garfo/tridente curvado


ou em casos mais extremos portando ‘nós’. Para entendermos a mensagem desses
símbolos devemos ter uma noção básica sobre o que é tensão energética.

“Tensão energética é a carga/corrente emanada ou absorvida pelo Garfo de Exu que gera
deformidades na estrutura retilínea. Essa deformidade é medida e analisada através do
Ponto Riscado. Para que não exista a ruptura dessa arma/ferramenta, são adicionados
outros elementos atenuadores. A tensão energética é causada por bruscas oscilações (em
campo estável) em virtude de instabilidades nas correntes de força (energia). ” (Coppini,
Danilo. Artigo Interno sobre a Quimbanda Prática- 2014).

Entendemos que a tensão de certas correntes energéticas são tão intensas que
alguns Exus ou Pombagiras demonstram em seus ‘Pontos Riscados’ se dentre
suas funções está o trabalho em campos cuja tensão é tamanha que os garfos
apresentam curvas longitudinais. Quando um garfo aparece dessa maneira o
espírito está assinalando que sua força de ação emana ou absorve grandes e
“pesadas” descargas energéticas. Esses espíritos são preparados para guerrear e
submeter todo tipo de energia.

O Ponto Riscado do Exu do Lodo demonstra que o mesmo absorve ‘pesadas’


cargas espirituais.

O Ponto Riscado da Pombagira Maria Mulambo demonstra que dentro de suas


ações existe a absorção de tensão e o esgotamento energético.
Formas de amenizar a tensão

Quando o Exu ou Pombagira trabalham no limite energético costumam


demonstrar em seus Pontos símbolos que localizam-se na base ou em outro ponto
transversal. Dessa forma podemos encontrar círculos na base desses garfos
(simbolizam o aterro, a morte ou o Ponto de emanação- a energia primitiva),
chaves, duplas linhas (bloqueadores energéticos), espirais (o início progredindo
ou o fim repelindo) dentre outros. Dessa forma entendemos que uma ação
desenvolvida através desses Pontos poderia inverter completamente o fluxo de
uma circunstância ou mesmo promove-la com extrema velocidade.

Voltando ao “Ponto Riscado”

A linha vertical simboliza o mundo físico, coagulado e repleto de formas


materiais. O garfo que ascende é de formas retilíneas (garfo quadrado).

O tridente retilíneo quadrado pode ser entendido como um forte símbolo


centralizador que aponta maior solidez e estabilidade. As energias emitidas pelo
mesmo são mais difíceis de serem revertidas, afinal, a estabilidade da figura
emite forças mais permanentes. Os tridentes quadrados são figuras de poder
dinâmico e direto, cuja energia não possui interrupções. Nas mãos de um Exu
representa um poder direcionador constante, solvendo todas as formas
necessárias para a evolução.

A forma do tridente nada tem com sexo (macho ou fêmea), apenas com a
polaridade. O tridente quadrado é emissor de polaridade positiva (+) e está
intimamente ligado aos elementos fogo e ar. Quando voltado para cima, está
dissolvendo todas as barreiras evolutivas, abrindo o campo da percepção, dando
energias necessárias para a realização de determinadas situações, retirando a
inércia, conduzindo, esgotando, destruindo ou reconstruindo. É o tridente da
execução.

No “Ponto Riscado” apresentado, o tridente quadrado está apontado para cima


na linha horizontal. Como a mesma representa o mundo físico, esse tridente
quadrado demonstra que o Exu Caveira carrega o poder de evolução no campo
material, porém, esgota e destrói quando a mesma não tem como objetivo a
evolução. A energia do Exu Caveira é tão bruta que no símbolo encontramos
elementos necessários para conter o intenso fluxo.
Dois pequenos círculos unidos por uma linha são um símbolo equilibrador
sugerindo que a força/tensão deverá ser controlada. É um claro aviso que o Exu
Caveira não hesitará em destruir um império material, relações de grosso
interesse e a cegueira consumista. O círculo é um símbolo delimitador, pois é uma
figura de movimento harmonioso contínuo e como tem capacidade de centralizar
energias e definir espaços é perfeito.

O pequeno círculo que está aos pés da linha vertical é o dínamo que produz e
centraliza as energias. Sequencialmente, uma “chave” está mostrando que
energias elementares estão sob controle e domínio. Garfos que possuem essa
“Chave” são portados por Exus poderosos, pois também demonstram a alta
sabedoria nas artes ocultas e consequentemente, o domínio sob legiões.

A linha horizontal representa o plano espiritual. Nos estudos avançados sobre


“Teoria das Formas”, linhas horizontais não necessitam de tanta descarga
energética para existirem, além de representarem o descanso e a própria morte
física. Garfos de forma arredondados estão nas duas pontas, marcando um início
e o fim. Os tridentes (garfos) arredondados estão intimamente ligados aos
mistérios uterinos. O útero é um local de geração, todavia, é um local escuro e
sombrio, receptivo, intuitivo e esotericamente ligado às forças ctônicas
(submundo). São armas de esgotamento, aprisionamento e de polaridade
negativa (-). Apesar de emitirem energias, sua principal função é a drenagem
como uma espécie de “buraco negro”. Por tal motivo são amplamente usados
pelos Reinos da Kalunga, Cruzeiro e das Almas. Confunde-se o garfo
arredondado com “Tridente de Pombagira” pela forma uterina (taça) que o
mesmo possui, mas essa relação não é verídica. Exus e Pombagiras usam garfos
arredondados. No ponto do Exu Caveira, a linha horizontal com garfos
arredondados em suas pontas demonstra que a força desse Exu no plano
espiritual está ligada ao processo de esgotamento, drenagem e aprisionamento.
Também retrata que seu ponto de força está nos planos ctônicos, mortuários, na
decomposição física e no direcionamento. Esse mesmo direcionamento aparece
nas duas linhas curvas que cortam a linha horizontal. Linhas curvas são a
expressão da união de duas energias, ou seja, as energias dinâmicas e receptivas.
Alguns Símbolos formadores dos Pontos Riscados

A Numerologia nos Pontos Riscados

Para a numerologia, cada número possui um valor metafísico de grande


significado, uma qualidade que mostra características internas e denota aspectos
do destino das pessoas.

No cosmo tudo tem um padrão geométrico, seja em pequena ou grande escala,


até mesmo a engenharia usa os números para criar belas formas arquitetônicas e
acabar garantir a segurança estrutural do projeto. Pitágoras revolucionou a
arquitetura de sua época após implementar a “regra de ouro”, que
resumidamente consiste em um retângulo feito a partir do desdobramento
geométrico de uma estrela. Usar fórmulas numéricas para fazer o ponto é acima
de tudo trazer beleza, harmonia e uma boa fluidez energética ao mesmo, fazendo
com que os fundamentos e elementos usados se equalizem da melhor forma
possível.
Significado dos Números

Número 1
É um número que carrega a força por ser indivisível, por não poder ser cortado,
está muito ligado com a piedade e com a concórdia. Como número 1 é o alfa, ou
seja, o principio, torna-se ponte para o autoconhecimento e consequentemente a
liderança.
Número 2

É um número que carrega a dualidade, ou seja, o macho e a fêmea, o bem e o mal,


o positivo e o negativo. Pode geram situações onde os sentimentos afloram, bem
como os que a razão se faz necessária, trás a ciência, ativa a memória e carrega a
luz para todas as situações. Possui influencia no campo amoroso, principalmente
para casamentos e namoros, ou seja, ativa o alivio para situações de solidão

Número 3

É o número que carrega a divina força do sagrado, da perfeição e do poder, é o


número que se repetirmos uma oração, dá prazer aos deuses, pois, assume papel
purificador. É o número do destino, das tríades e da ressurreição.

Número 4

Energia dos quatro elementos, das fases da lua, das estações do ano, do
direcionamento da vida, da graça e leveza

Número 5

Número da harmonia, da sagrada união, dos justos negócios, das partilhas


corretas de bens, dos sentidos humanos, dos dedos da mão, do símbolo
pentáculo/pentagrama, da atração de dinheiro e da atração.

Número 6

Número ligado a geração, a fecundidade e ao trabalho com sucesso, pela solidez


que o número apresenta, principalmente ligado ao feminino e ao masculino,
exerce grande influencia em casamentos

Número 7

É o número do corpo e da alma, da vida em plenitude, do amadurecimento das


forças físicas, mentais e espirituais, número capaz de firmar juramentos,
promover a paz e gerar arrependimentos, exerce grande força em criação e
construção. Relaciona-se com a harmonia do universo e a liberdade dos seres
humanos.
Número 8

Usado principalmente para invocar justiça, solidez, liderança, conservação de


patrimônio.

Número 9

É muito usado em busca de respostas rápidas, principalmente quando através


delas podemos evitar guerras. O número carrega a força para vencer as ilusões
do cotidiano.

(Explicações complementares em curso)

Materiais usados para montar um ponto riscado

Muitos quimbandeiros limítrofes na Arte Negra alegam que não existe outra
forma de se fazer um ‘Ponto Riscado’ a não ser com a tradicional pemba/ giz,
mas a L.T.J 49 entende que existem outras formas de se montar os pontos riscados
potencializando e dinamizando os rituais.

As variadas formas:

Pólvora:

Quando riscamos o ponto riscado com o pó de pólvora, durante a queima


obtemos a purificação do ambiente através do banimento de energias nocivas. O
desenho ficará queimado na superfície e poderá ser ativado em seguida.

Farofa/Padê:

A Quimbanda, assim como outras religiões afro-brasileiras, acredita na energia


contida no Padê/Ipadê, sendo assim, porque não a utilizar para montagem dos
‘Pontos Riscados’? O Padê é composto de farinha de mandioca ou de milho
misturada com epô (óleo-de-dendê) ou com melaço de cana. Após feito, o adepto
modelará o Ponto com essa mistura.

Terra:

Sabendo o Reino da entidade/espírito que será evocada/invocada, pode-se usar


a terra pertencente ao mesmo. Assim como o Padê, modelamos por cima do
Ponto Riscado.

Carvão:

Seu uso mais frequente é em ‘Pontos Riscados’ destinados à limpeza e drenagem


energética. O carvão pode ser usado na forma de “lápis” (para traçar –
semelhante a pemba) ou como pó (contornar o Ponto).
Tinta:

Uma tinta devidamente consagrada se torna uma poderosa arma para fazer
pontos riscados - geralmente usada em pedras, madeira, tecidos, cartolina ou
couro de animal.

Pemba/Efun:

O uso da pemba é o mais disseminado e frequente dentro dos templos/ terreiros


por todo Brasil. Usada para desenhar/traçar ‘Pontos Riscados’ para todas as
finalidades, a pemba está implícita na Tradição das Religiões afro-brasileiras
(Quimbanda, Candomblé e na Umbanda). No Brasil, “pemba” é o nome de um
bastão cuja composição é sulfato de cálcio hidratado usado para riscar os pontos.
Possui muitas cores relacionadas ao uso das mesmas com os espíritos da
umbanda e por vezes do candomblé. A “pemba” original é feita de um pó
extraído dos montes brancos Kabanda e da água de um rio que os africanos
acreditam ser divina. Dentro dos ritos africanos, a Pemba era usada para tudo
que necessitasse de bênçãos e muitas lendas deram inicio a santidade dos pós
feitos a partir da mesma.

O “Efun” (na língua Iorubá é cal, giz), apesar de ser semelhante a “Pemba” e por
vezes desempenhar as mesmas funções, não é o mesmo objeto. “Efun” é uma
massa de argila branca extraída de rios e está relacionada aos pós mágicos e suas
ritualísticas.

Tanto a Pemba quanto o Efun são considerados formas de sangue branco e estão
diretamente ligados ao ar, aos pulmões e todo processo vital.

A Quimbanda Brasileira ao invés de usar a popular “Pemba”, facilmente


encontrada nas lojas de artigos religiosos, adota o tradicional “Giz escolar” para
a marcação dos pontos. A composição é a mesma e o giz facilita e aprimora o
desenho do ponto riscado.

A Ativação dos Pontos Riscados

O “Ponto Riscado”, como dito anteriormente, são sinais gráficos carregados de


simbologia e poderes, cuja função primordial é a abertura de um “portal” que
conecta os planos físico e astral. Os sinais gráficos só emitem energia plena
quando são devidamente ativados, ou seja, podemos comparar a ação de um
Ponto como chaves que só abrem ou fecham as portas quando existe um
movimento circular e se encontram dentro da fechadura.

Como nossa Tradição é composta por adeptos que vieram de “escolas”


diferentes, muitas formas de ativação antes não usadas foram agregadas ao culto
de Exu. Isso permitiu uma enorme expansão dentro da Corrente 49, pois novos
elementos e práticas potencializaram a abertura desses portais.

Um “Ponto” dessa natureza, se mal ativado pode atrair para dentro do local de
culto, formas espirituais atrasadas repletas de energias de vingança. Essas
formas, ao invés de corroborarem com os trabalhos, atrasam, ludibriam e
mistificam. Portanto, o uso dos pontos deve ser cauteloso e a ativação dos
mesmos é necessária para o bom direcionamento energético.

Costuma-se riscar (desenhar) os pontos no chão. Quando a casa possui chão de


“terra batida”, risca-se com uma faca ou com um galho de figueira, entretanto,
nos dias atuais, chão de “terra batida” é muito raro e os templos são quase todos
feitos em alvenaria. Nesses casos, a grande maioria dos terreiros usa “Pemba” ou
o “Efun” para riscar os pontos.

Após o desenho estar pronto, deve ser ativado. Para tal, algumas formas são
adotadas:

- Através do Sopro e do Cuspe

O sopro e o cuspe simbolizam a substância da alma. Ao soprarmos dentro do


ponto riscado, estamos carregando-o com nossa própria essência e doamos
energia para que o desenho receba vida. Quando citamos o cuspe, em verdade
entendemos que a saliva é tida como uma espécie de “Sangue Branco ligada ao
Reino Animal” e aumenta ainda mais a energia vital. Entretanto, o ato de soprar
e cuspir estão conectados. Quando soprarmos dentro dos pontos riscados ou
nosso hálito está misturado com a fumaça do tabaco e de fumos preparados ou
ao soprar, cuspimos bebidas, mel, ervas, raízes, favas maceradas e
involuntariamente a própria saliva. Sangue branco, verde e vermelho se
misturam para potencializar energia.

- Através dos pós

Pós são partículas muito finas de terras e de muitos outros objetos. A Quimbanda
herdou das tradições bantos os mistérios que envolvem a confecção dos pós. Um
bom pó deve ter:

-Energia;
-Elementos de qualidade;
-Foco direcional.

O que produz a energia para o pó é a feitura dele no pilão. Quando se bate cria-
se eletricidade através do atrito. Com a “Oração para despertar os espíritos das
ervas, sementes e animais” o pó recebe muita força e é uma poderosa arma
dentro da Quimbanda Brasileira. Tudo vira pó: Restos de animais incinerados,
folhas, cascas e raízes secas, páginas de notícias, sigilos gravados, cinza de fumo,
dentre outros elementos.
Os pós estão conectados a todos os tipos de sangue, portanto, podem ser usados
para invocar ou evocar os Mestres Exus através de seus respectivos pontos
riscados. Existem duas formas de ativar através dos pós:

- Soprando-os em cima do ponto riscado


Quando sopramos os pós, usamos a força do sopro e do pó. Com o pó na mão
esquerda (receptiva) o adepto carrega-se com os sentimentos desejados e sopra
isso dentro do ponto riscado.

- Contornando os traços do ponto riscado


Após riscar o ponto, o adepto contorna o ponto riscado com o pó enquanto faz o
chamado de invocação ou evocação.

- Através das Velas

A vela simboliza o fogo e a terra. A Quimbanda Brasileira entende que a parafina


é feita a partir do petróleo e possui muita energia ígnea, polaridade dinâmica e
atributos das profundezas. Em tese, cor da vela não influencia a ativação,
entretanto, o uso de velas coloridas pode ocorrer de acordo com o objetivo do
trabalho.

Ativa-se o “Ponto Riscado” através do uso das velas de três maneiras:

- Iluminando os pontos de cruzamento entre os tridentes/garfos.

O círculo central aponta o cruzamento onde a vela deve ser acesa.

- Iluminando os ponteiros/pontas do “Ponto Riscado”.


Os círculos nas pontas demonstram onde as velas devem ser acesas.

- Iluminando através de sete chamas que representam o grau de “Mestre” ou


“Mestre Sete”

Os círculos no entorno demonstram onde as velas devem ser acesas. Esse tipo de
ativação é recomendada para Exus e Pomba Giras que sejam “Mestres/Mestras
ou Mestre/Mestra 7”, entretanto, pode ser usada para todos os espíritos.

- Através do Fogo

Após o desenho do “Ponto Riscado”, circula-se o mesmo com alguma substancia


volátil e ateia fogo. Enquanto a chama estiver acesa, efetuam-se as orações
invocatórias e evocatórias.

- Através do Enxofre.

O enxofre (do latím sulphur, -ŭris) tem muitas propriedades físicas e mágicas. Na
temperatura ambiente, encontra-se em estado sólido. É usado desde a confecção
da pólvora até para fertilizantes, ou seja, é um elemento essencial encontrado na
Terra e em outros planetas do sistema solar. Quando manipulado junto ao fogo,
produz um gás chamado dióxido de carbono e é extremamente tóxico. Na
ativação dos “Pontos Riscados”, efetua um papel ígneo e ao mesmo tempo filtra
as energias nocivas mantendo o bom equilíbrio ao longo dos trabalhos.

O enxofre pode ser salpicado ou soprado aleatoriamente dentro do “Ponto


riscado”.

-Através dos Sete Metais

Alguns metais são considerados formas de sangue. São fontes energéticas muito
intensas quando aplicadas nos “Pontos Riscados”. Mistura-se os pós de Ouro,
Prata, Bronze, Cobre, Ferro, Chumbo e Estanho e esse pó é soprado dentro do
“Ponto Riscado”. Os metais possuem relações com planetas, órgãos do corpo
humano, comportamentos, abertura de determinados portais energéticos dentre
outros atributos. Os adeptos podem eleger um ou mais desses metais para focar
nos atributos individuais. Em tais casos, a ativação dependerá de uma descarga
energética mais intensa através das orações invocatórias ou evocatórias.

- Ativação através do Sangue

O sangue, como descrito no capítulo inerente, é a substancia mais rica em poder.


Não recomendamos a ativação de “Pontos Riscados” através desse meio se o
adepto não tiver embasamento para tal, pois é a via mais “radical” de ativação.
O procedimento é feito de duas maneiras distintas:

- Imolando um animal
Após riscar o ponto e ativá-lo através do sopro e das velas, imola-se um animal e
o sangue é derramado em cima desse desenho. As orações devem ser firmes,
diretas e repletas de energia.

- Derramando o próprio “Kiday”


Após riscar o ponto e ativá-lo através do sopro e das velas, o adepto faz uma
pequena incisão no seu dedo e derrama sete gotas do próprio sangue em cima do
desenho. Essa forma de ativação só pode ser feita por pessoas que realmente
tenham domínio e entendimento sobre as forças que deseja chamar. Não
incentivamos essa prática até que o adepto tenha controle sobre as energias, pois
nesse caso ocorrerá uma intensa troca energética.

Muitas outras formas de ativação podem ser desenvolvidas individualmente


pelos adeptos conforme forem estreitando suas relações com os “Mentores e
Mentoras”. O esforço e a dedicação fazem o engrandecimento da Quimbanda
Brasileira.
Síntese

O “Ponto Riscado da Tradição” possui grande força dinâmica e receptiva tanto


nos planos carnais, quanto nos espirituais e mentais. Recebemos diversos
ensinamentos através dessas marcas físicas/astrais para entendermos que a
escalada evolutiva nos exige muito equilíbrio, discernimento, compreensão,
dedicação e o uso correto de nossas faculdades sob pena de sermos drenados e
esgotados. Isso faz parte da lapidação do Ego altruísta.

Os “Pontos Riscados” são importantes meios de conhecermos os espíritos, seus


domínios e as respostas esotéricas que os envolvem.

“A suprema condenação não é a morte, símbolo e princípio da errâ+++ncia


infinita, mas a sua impossibilidade. ” (Casimiro Brito. Poeta, ensaísta e
ficcionista português).

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