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JUVENTUDE(S):

PENSAR
E
Gilberta Pavão Nunes Rocha
Rolando Lalanda Gonçalves
Pilar Damião de Medeiros

AGIR
AVALIADORES CIENTÍFICOS

Ana Paula Marques


Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.NOVA.UMinho
António Brandão Moniz
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.NOVA
Carlos Fortuna
Centro de Estudos Sociais – Universidade de Coimbra
Gilberta Pavão Nunes Rocha
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.UAc/CICS.NOVA.UAc
João Peixoto
Instituto Superior de Economia e Gestão – Universidade de Lisboa
Jorge Ávila de Lima
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.UAc/CICS.NOVA.UAc
Lídia Marôpo
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.NOVA
Manuel Carlos Silva
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.NOVA.UMinho
Maria da Luz Ferreira Abreu de Sousa Correia
Departamento de Línguas e Literatura Moderna – CICS.NOVA.UMinho
Maria Inácia Rezola
Escola Superior de Comunicação Social – Instituto Politécnico de Lisboa
Maria Luís Rocha Pinto
Departamento de Ciências Sociais, políticas e do território – Universidade de Aveiro
Maria Manuel Vieira
Instituto de Ciências Sociais – Universidade de Lisboa
Miguel Chaves
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.NOVA
Pilar Damião de Medeiros
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.UAc/CICS.NOVA.UAc
Rolando Lalanda Gonçalves
Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais – CICS.UAc/CICS.NOVA.UAc
Vania Baldi
Departamento de Comunicação e Arte – Universidade de Aveiro
Vítor Matias Ferreira
ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa
Índice

7 Prefácio
João Teixeira Lopes

11 Introdução
Gilberta Pavão Nunes Rocha, Rolando Lalanda Gonçalves e Pilar Damião de
Medeiros

19 Youth in European contemporary history - a history of blurred boundaries?


Knud Andersen

31 The “The Teen-Age Tide” and its Symbolic Undercurrents: Media, History
and the Social Construction of Young Consumers
Bill Osgerby

61 A cultura política dos/as jovens: sobre os movimentos alternativos na


atual conjuntura
Paulo Vitorino Fontes

79 Os jovens portugueses (do continente) e os media. Um olhar quantitativo


#withfilters
Jorge Vieira

117 A rede social Facebook como instrumento de intervenção com jovens


Carla Rocha, Solange Ponte e Suzana Nunes Caldeira

137 Práticas digitais de jovens em Portugal: mudanças e continuidades do


contexto tecnológico aos ambientes familiares
Cristina Ponte

163 “É uma situação complicada”. Perspetivas sobre o dano nas vidas e


culturas digitais de crianças em idade escolar
Teresa Sofia Castro

189 A sistémica qualitativa e a análise dos consumos de media


Rolando Lalanda Gonçalves

203 Porque negam os jovens a influência dos media? Uma análise dos
discursos dos estudantes sobre as suas escolhas escolares
Benedita Portugal Melo

225 Relações interpessoais entre Jovens. Que exemplo oferecem os Media?


Marta Tavares, Filipa Cabral, Suzana Nunes Caldeira e Osvaldo Silva
235 Conselho da Comunidade Educativa – o órgão máximo da direção das
escolas da RAMadeira como promotor de intervenção democrática dos
jovens no seu percurso e na sociedade
Paula Gomes da Lage Olim e João Carlos de Gouveia Faria Lopes

253 Da escola para o mundo do trabalho, perfis de transição para a vida ativa
Fernando Diogo, Ana Cristina Palos e Osvaldo Silva

281 Jovens e emprego: tipologia de inserções profissionais


Ana Cristina Palos, Fernando Diogo e Osvaldo Silva

317 Os jovens açorianos face à formação profissional: perfis sociais,


formativos e ocupacionais
Ana Matias Diogo

345 Jovens, Migrações e Desenvolvimento Regional


Maria da Saudade Baltazar, Isabel Joaquina Ramos, Conceição Rego, Andreia
Dionísio e Maria Raquel Lucas

377 Juventude e Desenvolvimento: o caso de Timor-Leste


José António Lourenço da Costa e Maria da Saudade Baltazar

409 Jovens açorianos e a recente crise económica: (e)migrar é solução?


Gilberta Pavão Nunes Rocha e Derrick Mendes

429 Entrada por Saída. As dinâmicas de residência e de usufruto lúdico da


população jovem na cidade de Lisboa
Luís Vicente Baptista, Maria do Rosário Jorge e Jordi Nofre

459 Notas biográficas


JUVENTUDE(S): PENSAR E AGIR

Organização: Gilberta Pavão Nunes Rocha


Rolando Lalanda Gonçalves / Pilar Damião de Medeiros

Diretor da coleção: Manuel Carlos Silva


Subdiretores: Luís Baptista e Ana Paula Marques

Capa: António Pedro

© Edições Húmus, Lda e Autores, 2017


End. Postal: Apartado 7081
4764­‑908 Ribeirão – V. N. Famalicão
Tel. 926 375 305
E­‑mail: humus@humus.com.pt

Impressão: Papelmunde, SMG, Lda. – V. N. Famalicão


1.ª edição: Dezembro de 2017
Depósito legal: 435833/17
ISBN: 978-989-755-314-1

Coleção Debater O Social – 50
Entrada por Saída.
As dinâmicas de residência e de usufruto
lúdico da população jovem na cidade de
Lisboa
Luís Vicente Baptista*
Maria do Rosário Jorge*
Jordi Nofre*

Introdução

Nas últimas décadas, Lisboa perde capacidade de atracção enquanto destino


residencial, expressa na diminuição da população residente e no envelhe-
cimento progressivo dos seus habitantes. Contudo, num tempo de mobi-
lidade generalizada associada à disponibilidade para a viagem, a cidade
continua a ter uma inegável atractividade profissional e lúdica. Os jovens
voltaram ao centro da cidade. Bares, discotecas, quiosques, lojas de roupa,
livrarias (umas com mais tradição que outras), ateliers e galerias de arte,
rotas turísticas… Os bairros históricos do centro da cidade voltam a ser
objecto de uma vibrante actividade económica e cultural. Destino turístico
e destino Erasmus Europeu por excelência, a cidade de Lisboa assume-se
como um grande teatro de consumo (Ritzer, 2010), de marcado carácter
hedonista e juvenil. Os turistas de mochilas, os estudantes Erasmus e os
estudantes universitários portugueses, junto com os jovens precários alta-
mente qualificados, voltam se não a habitar, a consumir o centro da cidade.
Até ao momento, e de uma forma surpreendente, a comunidade cien-
tífica prestou pouca atenção a este rejuvenescimento do centro de Lisboa,
contando apenas com alguns trabalhos publicados recentemente que apon-
tam, ainda que de forma algo tangencial, para a importância crucial dos
jovens adultos PLIC (Profissionais Liberais, Intelectuais e Cientistas),

* CICS.NOVA, Universidade Nova de Lisboa.


430 Juventude(s): Pensar e Agir

turistas, viajantes e estudantes universitários, nos processos de revitaliza-


ção dos bairros históricos do centro da capital, tais como Alfama, Baixa,
Bairro Alto, Mouraria e Cais do Sodré (Mendes, 2006, 2011, 2014a, 2014b;
Malheiros et al., 2012; Malet-Calvo, 2013; Nofre, 2013; Tulumello, 2015).
Estes trabalhos constituem um excelente ponto de partida para cons-
truir uma visão holística do fenómeno que nos propomos analisar. O surgi-
mento e a consolidação de novos padrões de uso e de consumo do espaço
público nos bairros históricos do centro da cidade justificam a necessidade
de definir uma nova abordagem ao estudo das mudanças urbanas na cidade
de Lisboa. Todavia, por se tratar de um processo social que conta com uma
trajectória com menos de uma década, o rejuvenescimento da cidade não
está reflectido nos dados do último censo da população realizado em 2011.
Deste modo, apresentamos uma abordagem metodológica que conjuga,
uma análise de índole demográfica sobre o processo de envelhecimento
populacional da Área Metropolitana de Lisboa nas últimas décadas, com
uma análise de índole etnográfica sobre o processo de rejuvenescimento
dos bairros históricos do centro da cidade, centrada no usufruto da cidade
e na diversidade de utilizações no seu interior.
Assim, este texto organiza-se em duas partes: uma primeira, em que se
analisam as dinâmicas demográficas que ocorreram nas últimas décadas na
Área Metropolitana e, em particular, na cidade de Lisboa, com especial ênfase
para o número e o peso dos jovens residentes e, uma segunda, em que se
focam os lugares destinados ao consumo jovem na cidade e como este se liga à
dinâmica de turistificação e estudantização (Smith, 2008 e Chatterton, 2010).
Na primeira parte, a análise integra as dinâmicas residenciais da dis-
tribuição da população jovem na cidade e também na Área Metropolitana
de Lisboa (AML), onde se destacam as áreas de crescimento urbano
mais recente, para onde se deslocam os residentes mais jovens. A análise
estatística dos dados relativos à população residente em Lisboa e na sua
Área Metropolitana foca especialmente a sua evolução temporal durante
o período 1960-2011, assim como a sua análise por grupo etário, corres-
pondente aos jovens e jovens-adultos (15-39 anos)1 para o último ano
censitário disponível, 2011.

1 Para efeitos de análise considera-se população jovem os indivíduos com idades compreendidas
entre os 15 e os 39 anos, englobando as idades mais jovens e os jovens adultos.
Entrada por Saída 431

Na segunda parte, tomamos por base alguns resultados do trabalho


de campo realizado no âmbito de pesquisas realizadas por J. Nofre. Para
o caso do bairro de Alfama, o trabalho de campo etnográfico de carácter
exploratório foi realizado entre Abril e Outubro de 2015, através de obser-
vação flutuante (Pétonnét, 1982) e entrevistas informais a vizinhos (6), a
proprietários de lojas (3), a trabalhadores da restauração (3), a turistas (10)
e a estudantes universitários de pós-graduação, tanto estrangeiros como
portugueses (5), que surgiram a partir da prática diária de deambulação
observacional no bairro e muito especialmente, da convivência local. Para
capturar a complexa combinação de actores, práticas e instituições que
compõem a noite urbana no Bairro Alto, os autores recorreram a algum
ecletismo metodológico (Hannerz, 1980, 2003), de modo a obter uma
abordagem meta-etnográfica compreensiva (Weed, 2005). O trabalho de
campo foi dividido em três fases. A primeira fase (Março a Agosto de 2010)
teve como objectivo produzir um mapa exploratório da estrutura espacial
da vida nocturna no Bairro Alto, nomeadamente das ruas, dos locais e
tempo-espaços formais e informais de consumo nocturno na vizinhança.
Nesta fase, focou-se a vida nocturna dos estudantes Erasmus que é pro-
movida pelas mais importantes organizações que actualmente gerem as
actividades de lazer dos estudantes Erasmus em Lisboa, tais como a Erasmus
Students Network e a Erasmus Life Lisbon. A segunda fase do trabalho
de campo (Setembro de 2010 a Agosto de 2014) foi dominada por duas
técnicas etnográficas principais: observação flutuante (Pétonnet, 1982),
que consiste na exploração livre e indutiva de certos espaços urbanos,
observação não-intrusiva (Webb et al., 2001; Lee, 2000); e ‘shadowing’
(Czarniawska-Joerges, 2007; Bartkowiak-Theron and Sappey, 2012). A
utilização destas técnicas qualitativas permitiu identificar o total de 57
indivíduos que foram entrevistados in situ durante o trabalho de campo.
Na terceira fase do trabalho de campo (Setembro a Dezembro de 2014)
os resultados foram processados e sintetizados através de uma análise
meta-etnográfica (Weed, 2005).
432 Juventude(s): Pensar e Agir

Dinâmicas residenciais - a população de Lisboa no contexto da


Área Metropolitana e do Continente

Entre 1960 e 2011, a cidade de Lisboa sofreu um decréscimo populacio-


nal acentuado, com variações intercensitárias negativas muito elevadas,
fundamentalmente entre 1981 e 1991 (-18%) e entre 1991 e 2001 (-15%),
e no censo mais recente com uma variação negativa que não ultrapassa
-3%. Inversamente, no mesmo período, o crescimento da população da
AML é sempre positivo, sendo mais acentuado entre 1960 e 1981 (65%),
correspondendo a um período de intenso processo de metropolização da
região. O contínuo crescimento populacional da AML, expresso ainda no
último censo, parece indicar que o processo de metropolização da região de
Lisboa não estará consolidado, ao contrário do que se verifica em cidades
como Madrid ou Barcelona2.
Paralelamente, salienta-se a concentração crescente da população
do Continente na AML, que atinge o valor mais elevado em 2011 (28%) e
parece indiciar um agravamento da tendência de litoralização da população
portuguesa, bem evidente na análise das disparidades demográficas das
regiões situadas no litoral norte e centro e no litoral algarvio, quando com-
paradas com os restantes concelhos do território continental. O processo
de metropolização da região é acompanhado pela crescente intensidade
dos movimentos pendulares da população que trabalha e estuda dentro da
AML. Enquanto a proporção da população que entra na AML em 2011 para
trabalhar e estudar é de apenas 3% da população residente, a mesma pro-
porção para a Grande Lisboa é de cerca de 10%, e a mesma proporção para
a cidade de Lisboa é de 78%, valor que revela o elevado peso da população
que entra diariamente na cidade relativamente aos residentes. Enquanto, a
grande maioria das pessoas que trabalham ou estudam na cidade de Lisboa
reside fora deste município, a cidade apresenta a menor proporção de resi-
dentes que se deslocam diariamente para fora (9%), valor muito inferior
ao dos restantes concelhos da AML. Estes resultados permitem destacar a
intensa capacidade de atracção da cidade, não pela sua função residencial,
mas pelas funções económicas e educativas.

2 V. Relatório do Estado de Ordenamento do Território (2009: 52).


Entrada por Saída 433

População jovem em Lisboa e na AML

A população jovem residente na cidade de Lisboa diminuiu entre 1960


e 2011, quer em termos absolutos, quer relativos. Em termos absolutos,
esta diminuição acompanha, de certo modo, a tendência de decréscimo
populacional da cidade (t.v. -31,7%). No entanto, esta tendência é mais
acentuada quando se trata dos grupos mais jovens, que passaram de 334908
para 172322 com uma taxa de variação de -48,5% (Figuras 1 e 2). Analisando
a importância relativa dos jovens no total da população de Lisboa, veri-
fica-se que enquanto em 1960, o grupo etário entre os 15 e os 39 anos
correspondia a 41,7% da população total, em 2011 correspondia a 31,5%.
Esta diminuição é mais acentuada no grupo entre os 15 e os 29 anos, o que
pode ser revelador da menor capacidade de rejuvenescimento da popu-
lação residente. Na cidade de Lisboa, a perda mais significativa de jovens
verifica-se entre 1981 e 2001, período em que a população entre os 15 e os
39 anos diminui -33,8%.

Figura 1 - População jovem na cidade de Lisboa

Fonte: Pordata e INE Recenseamento da População 1960, 1981, 2001 e 2011


434 Juventude(s): Pensar e Agir

Figura 2 - População jovem na Área Metropolitana de Lisboa

Fonte: Pordata e INE Recenseamento da População 1960, 1981, 2001 e 2011

Já na AML, a população jovem, entre 1960 e 2011, aumenta signi-


ficativamente em termos absolutos, mas diminui a sua importância na
população total. Ou seja, enquanto a população total aumenta 87,4%, a
população jovem aumenta 46,3%, e a sua importância sobre a população
total diminui de 42,5% para 33,1%. É de salientar que também na AML,
entre 2001 e 2011, verifica-se uma diminuição dos jovens de cerca de -4,7%,
o que pode indicar que também se assistirá na região a um envelhecimento
progressivo da população nos próximos anos, caso a chegada de jovens
não seja muito significativa. Em todos os concelhos da AML verifica-se
uma diminuição da importância relativa do grupo etário entre os 15 e os
39 anos, entre 1960 e 2011 (Figura 3). Há, todavia, concelhos onde esta
diminuição foi mais acentuada, como por exemplo Seixal, Moita, Almada,
Oeiras e Loures. Durante os cinquenta anos analisados, na maior parte
dos concelhos da AML a importância relativa deste grupo etário diminui
continuamente. Apenas em Mafra, Sintra, Palmela, Sesimbra e Alcochete
se verifica uma recuperação deste grupo entre 1981 e 2001, logo seguida
de uma diminuição. O Montijo é o único concelho onde a importância da
população jovem aumentou entre 1981 e 2001 e entre 2001 e 2011.
Entrada por Saída 435

Figura 3 - Percentagem da população dos concelhos da AML no grupo


etário 15-39 anos

Fonte: Pordata e INE Recenseamento da População 1960, 1981, 2001 e 2011

Em 2011, a população de Lisboa apresenta a idade média mais elevada


da AML, 44 anos, valor superior a todos os outros concelhos. Entre os mais
rejuvenescidos estão alguns dos concelhos de crescimento mais recente,
como Alcochete e Mafra. Em suma, Lisboa apresenta-se como uma cidade
envelhecida, com uma fraca capacidade de fixação de população jovem
e como a cidade-centro de uma área metropolitana que concentra uma
elevada percentagem de população do país e que, com excepção de alguns
concelhos de crescimento mais recente, tem já sinais de alguma dificuldade
de rejuvenescimento populacional. Importa a seguir analisar o comporta-
mento demográfico da população no interior da cidade de Lisboa.
436 Juventude(s): Pensar e Agir

População jovem nas freguesias de Lisboa

A cidade de Lisboa cresceu em tempos diferentes, dando origem ao que


Baptista e Rodrigues (1997) designam por ciclos de crescimento centrífugo,
que fazem corresponder a três áreas circulares ou zonas (Figura 4). Deste
modo, os autores propõem o agrupamento de freguesias de acordo com
os três tempos de edificação da cidade, o primeiro corresponde às fregue-
sias onde a fixação da população é mais antiga; o segundo corresponde ao
período de crescimento da cidade em torno das primeiras freguesias, que
se verifica entre as últimas décadas do século XIX e meados do século XX;
o terceiro corresponde ao período de crescimento contínuo que tem início
na década de sessenta.

Figura 4 - Ciclos de crescimento da cidade de Lisboa

Fonte: Adaptado de Baptista e Rodrigues, 1997


Entrada por Saída 437

Se nos situarmos em 2011, a idade média da população residente nas


freguesias de Lisboa oscila entre os 37 e os 51 anos. As freguesias mais
jovens situam-se na Zona 3, ou seja, em áreas de crescimento mais recente,
tais como Charneca, Ameixoeira, Carnide ou Lumiar. Contudo, outras
freguesias da Zona 3, como Benfica e Alvalade, que funcionaram como
eixos de crescimento nos anos 60, apresentam em 2011 as idades médias
mais elevadas. Há, no entanto, algumas freguesias situadas nas áreas mais
consolidadas da cidade (Zona 1), onde a idade média é mais jovem e onde a
importância relativa do grupo etário dos 15 aos 39 anos é mais elevado, por
exemplo as freguesias de Madalena, São Nicolau, Sacramento e Santa Justa
(Figura 5). Ora, são estas freguesias que apresentam simultaneamente taxas
de variação populacional positivas entre 2001 e 2011, com especial relevo
para Santa Justa e Socorro. Estes valores são reveladores do rejuvenesci-
mento de algumas freguesias da área histórica de Lisboa, traduzido numa
ocupação recente de habitações mais antigas por grupos etários jovens. No
entanto, a leitura dos valores absolutos mostra que se trata de um reduzido
número de pessoas, com um peso pouco significativo para a população da
cidade, tratando-se de freguesias em que a acentuada perda de população
tem já várias décadas. Nas Zonas 2 e 3 verifica-se que as freguesias com
taxas de variação positivas entre 2001 e 2011 apresentam, de igual modo,
as idades médias mais jovens: na Zona 2, as freguesias de Santos-o-Velho,
Alto do Pina, São Jorge de Arroios e São Sebastião da Pedreira; e, na Zona
3, as freguesias de S. Domingos de Benfica, Lumiar, Santa Maria dos Olivais,
Carnide e Ameixoeira. De salientar que só na Zona 3 se verifica um ligeiro
aumento da população (0,8%) e que na Zonas 1 o crescimento negativo é
bastante acentuado, ou seja de -15,2%.
438 Juventude(s): Pensar e Agir

Figura 5 - População residente do grupo etário 15-39 anos por fre-


guesia em 2011, (%)

Fonte: INE, Censos 2011

Em traços gerais, as dinâmicas populacionais das freguesias de Lisboa


estão a suscitar novas configurações demográficas, em que áreas históricas
e áreas de crescimento urbano mais recente têm uma ocupação residencial
mais jovem. As primeiras correspondendo a processos de reabilitação urbana
de bairros históricos com baixo volume populacional e as segundas corres-
pondendo a eixos de crescimento com elevados volumes de população. Ora,
sendo a ocupação residencial pouco significativa nas freguesias dos bairros
históricos, e perante a crescente reabilitação dos edifícios destes bairros,
interessa analisar as características demográficas desta população e que outras
formas de ocupação e utilização se identificam nestas áreas. Neste sentido,
a análise destes fenómenos no Bairro Alto e em Alfama poderão ajudar a
compreender as novas formas de ocupação das áreas históricas, onde parece
existir uma forte ocupação jovem, apesar da fraca dinâmica demográfica.
Entrada por Saída 439

Os jovens nos bairros de Alfama e Bairro Alto

O bairro de Alfama, situado no centro histórico de Lisboa, integra as fre-


guesias de Santo Estevão, São Miguel e Sé3 (Figura 6). Em 2011 este bairro
tinha 3952 habitantes, correspondendo a apenas 0,8% da população da
cidade e a uma população bastante envelhecida, em que a idade média
oscila entre os 46 anos, na Sé, e os 48 anos, em Santo Estevão. Tal como
noutras freguesias do centro histórico há uma acentuada diminuição da
população entre 2001 e 2011, fenómeno que afectou em particular Santo
Estevão (-26%) e com menos intensidade a freguesia de São Miguel (-14%).
No mesmo período, o grupo etário entre os 15 e os 39 anos não ultrapassa
os 33%, valor equivalente ao calculado para o concelho de Lisboa (32%).

Figura 6 - Localização de Alfama e Bairro Alto

Fonte: Autores

3 Com a reorganização administrativa de 2012, estas freguesias foram integradas na freguesia


de Santa Maria Maior, a que pertencem igualmente outras freguesias do centro histórico de
Lisboa (Castelo, Madalena, Mártires, Sacramento, Santa Justa, Santiago, São Cristóvão e São
Lourenço, São Nicolau e Socorro).
440 Juventude(s): Pensar e Agir

A naturalidade da população de Alfama é predominantemente portu-


guesa, ou seja apenas 12% dos residentes tem naturalidade estrangeira. No
entanto, é no grupo etário entre os 15 aos 39 anos que se localiza a grande
maioria dos estrangeiros (54%), dos quais 60% são jovens Europeus, 58%
Asiáticos e 57% provenientes da América, fundamentalmente do Brasil.
A única excepção são os residentes naturais de África, em que o grupo
etário dos jovens corresponde apenas a 34%, por se tratar de residentes
mais idosos. Ou seja, entre os estrangeiros, o peso relativo dos jovens é
superior aos indivíduos com naturalidade portuguesa.
Para a análise do Bairro Alto optou-se por focar apenas a freguesia da
Encarnação, por corresponder a uma área residencial totalmente integrada
no Bairro4. Em 2011, a Encarnação tinha 2252 residentes, correspondendo a
0,4 da população da cidade e, tal como em Alfama, a idade média da popu-
lação é bastante elevada (cerca de 46 anos). O peso relativo da população
entre os 15 e os 39 anos é de 35%, também superior ao valor calculado para
o concelho de Lisboa. A maior parte dos residentes são naturais do país
(85%), mas a Encarnação tem um peso superior da população estrangeira
(15%) quando comparada com Alfama. A importância dos estrangeiros
por naturalidade distingue as duas áreas analisadas, ou seja, os residentes
oriundos dos continentes Americano (principalmente provenientes do
Brasil), Europeu e Africano têm importâncias relativas equivalentes (entre
30% e 30% dos estrangeiros), enquanto os Asiáticos têm menos importância
relativa (11%) do que em Alfama. Entre a população estrangeira, o peso do
grupo etário dos jovens é bastante superior ao dos residentes nascidos em
Portugal, com excepção dos residentes de origem Africana que tal como
em Alfama são os mais idosos.
O decréscimo e o envelhecimento da população de Alfama e do Bairro
Alto/Encarnação tem também uma expressão nas elevadas taxas de mor-
talidade e reduzidas taxas de natalidade5, o que aponta para o progressivo
agravamento dessas tendências. Todavia, estas freguesias também estão a
receber novos residentes. Os bairros de Alfama e Bairro Alto têm um peso
significativo de entrada de novos residentes quando comparados com as

4 A opção pela análise exclusivamente da freguesia da Encarnação justifica-se porque as outras


freguesias que pertencem parcialmente ao Bairro Alto obrigariam a alargar a análise a uma
área mais vasta, que excede os limites do Bairro.
5 Para uma análise mais detalhada da natalidade e da mortalidade ver dados das Estatísticas
Demográficas do INE.
Entrada por Saída 441

restantes freguesias da cidade. Em Alfama 24% da população residente em


2011 vivia fora da freguesia em 2005 e no Bairro Alto 24% dos residentes
são também novos residentes. Entre os novos residentes destaca-se o peso
dos residentes que em 2005 viviam no estrangeiro (17% da população que
mudou de residência nos dois bairros).
Apesar destes movimentos migratórios dos últimos anos terem alguma
importância, será que levarão ao rejuvenescimento da população residente
das freguesias analisadas? Serão estas dinâmicas suficientemente intensas
para contrariar no futuro próximo a tendência para a perda da função resi-
dencial e o envelhecimento populacional do centro histórico? De facto, tal
como se analisa a seguir, estas áreas são cada vez mais procuradas, para além
da sua função residencial, ou na procura de residências temporárias, para
utilização turística e lúdica. Assim, importa analisar a forma de ocupação e
de usufruto do espaço urbano em Alfama e no Bairro Alto, protagonizada
por novos grupos socioeconómicos.
O evidente interesse científico da análise quantitativa baseada nas
estatísticas de fluxos de população e na variação residencial, não é suficiente
para compreender o impacto social, económico e cultural dos processos
de mudança demográfica e urbana. A falta de estatísticas contínuas, em
períodos intercensitários, e mais actuais sobre a população dificulta a aná-
lise destes processos. Adicionalmente, o trabalho de campo etnográfico
de carácter exploratório permite constatar que uma parte significativa
dos estudantes universitários, investigadores e trabalhadores qualificados
estrangeiros que vivem habitualmente em Lisboa ou não oficializaram a
sua residência no país, ou residem em apartamentos e quartos de aluguer
sem qualquer contrato de arrendamento, pelo que a sua contagem e a sua
consequente georreferenciação se tornam impossíveis. Daí que, a análise
seja agora completada recorrendo a metodologias alternativas de índole
qualitativa, a fim de reforçar o enquadramento apresentado na primeira
parte do texto. De seguida, analisaremos o processo de turistificação dos
bairros de Alfama, na análise das vivências diurnas, e do Bairro Alto, cen-
trado-nos na “noite”.
Importa, antes de detalhar a análise, salientar que a complexidade do
processo que se analisa obriga a uma complementaridade de ângulos de
investigação, que aproxima as dinâmicas sociodemográficas recentes e o
modo como o rejuvenescimento residencial do centro da cidade ocorre,
assim como a extrema mercantilização do consumo turístico da cidade
442 Juventude(s): Pensar e Agir

promove a presença de um número crescente de jovens que contribuem


efectivamente para a ludificação e “nocturnização” – nas expressões de
Koslovsky (2011) – da cidade.

Usufruto lúdico da cidade: turistificação e rejuvenescimento do


centro da cidade

O processo de rejuvenescimento dos bairros históricos do centro da cidade de


Lisboa não pode ser compreendido apenas através de uma explicação de índole
demográfica. Os recentes processos de mudança urbana, em parte financiados
pelos fluxos transnacionais de capital do sector imobiliário, cultural e artístico
– estratégia que deve ser enquadrada na resposta tanto do governo nacional
como da Câmara Municipal de Lisboa que pretendem situar o turismo, o lazer
e a reabilitação urbana como actividades económicas estratégicas para ultra-
passar a actual crise económica e financeira de Portugal – trouxeram novos
padrões de usufruto e de consumo do espaço público nos bairros históricos
do centro da cidade, como por exemplo, Alfama e Bairro Alto.
Para além da presença crescente, durante estes últimos anos, de novos
residentes empregados em profissões liberais, intelectuais e outros quadros
técnico-científicos (PLIC) – tal como mostram as estatísticas de varia-
ção residencial desagregadas por grupo profissional criadas a partir dos
Censos da População de 2001 e 2011 – interessa destacar também o papel
desempenhado pelos jovens e jovens adultos turistas, viajantes e estudantes
Erasmus – estes últimos frequentemente denominados como “estudantes
turistas” (Shoham et al., 2004) – no recente processo de rejuvenescimento
dos bairros históricos referidos, processo especialmente caracterizado por
mudanças de notável significado no que se refere a padrões de uso e de
consumo do espaço público.
Recentemente, Lisboa posiciona-se como um dos destinos turísticos
urbanos europeus de maior interesse a nível internacional e a cidade é reco-
nhecida, muito especialmente nos últimos dez anos, como um importante
destino do programa de mobilidade para estudantes universitários europeus6.
Sem dúvida alguma, o estudo do seu impacto económico, cultural e social no

6 De acordo com o Relatório Anual do Programa Erasmus (2014), Portugal está entre os
dez países mais procurados para a mobilidade Erasmus (ec.europa.eu/education/tools/
statistics_pt.htm).
Entrada por Saída 443

espaço obriga à adopção de metodologias alternativas de análise do processo


de rejuvenescimento do centro histórico de Lisboa. Neste sentido, cabe
citar estudos publicados recentemente que apontam, ainda que de forma
algo tangencial, a importância dos jovens e dos jovens adultos PLIC, turis-
tas, viajantes e estudantes universitários nos processos de revitalização de
bairros históricos do centro da capital Portuguesa, tais como Alfama, Baixa,
Bairro Alto, Mouraria e Cais do Sodré (Mendes, 2006, 2011, 2014a, 2014b;
Malheiros et al., 2012; Malet-Calvo, 2013; Nofre, 2013; Tulumello, 2015).
Ao longo das últimas três décadas, a turistificação do espaço urbano
teve uma importância crucial nas estratégias de regeneração urbana e
revitalização dos bairros históricos de um número crescente de cidades
pos-industriais (Mullins, 1991; Sieber, 1991; Ashworth e Page, 2011;
Knafou, 2012). Na região Euromediterrânica, e perante a actual crise eco-
nómico-financeira global, o paradigma (neoliberal) do desenvolvimento
económico local baseou-se na ludificação do espaço urbano (Baptista, 2005)
e na mercantilização (ou mesmo a banalização) do património histórico-
-cultural do centro histórico de várias cidades do sul da Europa, tais como
Madrid, Barcelona, ou Roma, entre outras, consideradas cidades “24 horas
abertas” (Hannigan, 1998). A promoção da cultura – no que se refere às
suas manifestações formais mas também informais e inclusive alternativas
– e do lazer (sobretudo nocturno) e são frequentemente invocados como
linhas de acção prioritárias nos planos estratégicos de internacionalização
da cidade e de atracção de novos fluxos de capital, tanto financeiro como de
recursos humanos altamente qualificados. Este é também o caso de Lisboa
onde, à mercantilização do seu vasto património cultural, importa juntar
a promoção, tanto privada como pública, de novas tipologias de consumo
de lazer de clara índole hedonista juvenil.
A turistificação do centro histórico de Lisboa (Figura 7), que se verificou
durante os últimos cinco anos, foi certificada pelos prémios que a cidade
recebeu, tais como o Europe’s Leading City Break Destination 2013 e o Europe’s
Leading Cruise Destination 2014. De facto, nos últimos anos registou-se um
aumento significativo do peso do turismo no produto local bruto de Lisboa.
Como mera prova quantitativa, o número de passageiros de cruzeiros aumen-
tou de 164259 em 2002 para 500872 em 2014 (Autoridade Portuária de Lisboa,
2014), enquanto o número de passageiros que aterrou no aeroporto de Lisboa
passou de 5243954 em 2004 para 7991724 em 2013 (Turismo de Portugal,
2014). Além disso, o número de hotéis localizados no município de Lisboa
444 Juventude(s): Pensar e Agir

também aumentou, passando de 135 em 2004 para 208 em 2013 (Ib.), regis-
tando-se também um aumento notável de dormidas, em mais 43,6% durante
os últimos dez anos, passando de 6994783 em 2004 para 10040808 em 2013
(Ib.). De forma mais relevante, a turistificação dos bairros históricos do centro
de Lisboa foi acompanhada pela sua “airbnbização” (Richards, 2014), ou seja,
pela proliferação acelerada de apartamentos turísticos que são arrendados
através de plataformas online e cuja gestão está fora das redes formais da
indústria hoteleira tradicional. A conversão de alojamentos familiares em
apartamentos turísticos corresponde a uma das estratégias que a Câmara
Municipal de Lisboa promoveu para dotar a cidade de alojamento turístico
suficiente num prazo relativamente curto, permitindo acelerar a conversão
da capital num dos dez maiores destinos turísticos urbanos a nível mundial.

Figura 7 - Turistificação e mercantilização do espaço urbano em Alfama

Investimento imobiliário de luxo na Rua do Vigário, transformando alojamentos familiares em


apartamentos turísticos e mercantilização (1. Mercantilização e banalização da estrutura comer-
cial de Alfama, orientada ao turismo; 2. Ydentik: Perfume Bar Concept; 3. Pizza al taglio “Primo
Basilico”; 4. The Cork Screw Wine Bar & Tapas).
Fonte: Jordi Nofre (2015)
Entrada por Saída 445

Ao longo dos últimos cinco anos, aumentou o número de unidades


de alojamento familiar reconvertidas em alojamento turístico, de tal forma
que o trabalho de terreno, realizado em bairros tradicionalmente habitados
por classes populares com um elevado nível de envelhecimento - no bairro
de Alfama e no Bairro Alto – , permitiu verificar uma maior presença no
espaço público tanto de viajantes e turistas jovens e jovens adultos como de
estudantes Erasmus – durante o dia e a noite – (Malet-Calvo, 2015; Nofre et
al., 2016, 2017). Para além dos factores qualitativos associados ao processo
de internacionalização da cidade de Lisboa, mencionados anteriormente,
a turistificação dos bairros históricos, como Alfama e Bairro Alto, contou
com um factor determinante: a aprovação de um amplo corpo legal desti-
nado à conversão destes bairros em parques temáticos urbanos de índole
turística. Assim, importa mencionar (a) a liberalização do mercado de
arrendamento (Decreto Lei 6/2006 de 27 de Fevreiro); (b) a introdução
de benefícios fiscais para a reabilitação de edifícios (Modificação da Lei
de Arrendamento Urbano de 31/2012 de 31 de Agosto); (c) a aprovação
do Novo Regulamento do Plano de Regeneração Urbana do Bairro Alto
e Bica de 30 de Abril de 2014; (d) a aprovação do novo regulamento para
a instalação e funcionamento das novas unidades de alojamento turístico
(Decreto Lei 39/2008 de 7 de Março); e finalmente, e com mais relevância
(f ) a aprovação da alteração do Novo Regulamento para o Alojamento
Turístico Local (Decreto Lei 128/2014 de 28 de Agosto), que incorpora
isenções fiscais a este tipo de alojamento turístico. Daí que a consultora e
promotora de prestígio internacional Jong Lasalle não hesite em apostar
“to reinforce the position of Portugal as one of the best European choices
for transnational real estate investments because of the existence of very
good tax benefits for foreign investors (…) and the continuity of the city
as one of the world›s best tourist destinations” (Ib.).
Se bem que o documento “Lx-Europa 2020 – Lisboa no quadro do
próximo período de programação comunitário”7 enfatiza a necessidade de
continuar a promover a cidade como “um destino turístico de excelência
no campo dos negócios, da cultura e do lazer” (CML, 2012, p. 26), não há
nenhuma dúvida que este apresenta um vasto programa de reabilitação
urbana que tem como objectivo a transformação dos bairros históricos do

7 Este documento, elaborado pela Equipa de Missão Lisboa/Europa 2020, identifica os


objetivos da Estratégia de Desenvolvimento de Lisboa, sinalizando Tipologias e Áreas de
Intervenção.
446 Juventude(s): Pensar e Agir

centro de Lisboa em “áreas de oportunidade, atractivas para os negócios


e para novos grupos sociais (…) contribuindo desta forma para a melhoria
geral da cidade” (CML, 2012, p. 30). Ora, é precisamente no caso de Alfama
e Bairro Alto, que os estudantes Erasmus, os PLIC e os turistas e viajantes
jovens e jovens adultos jogam um papel fundamental na mudança das duas
áreas históricas da cidade.

A Rua dos Remédios e a Rua do Vigário: estudantização, fados e “uns


copinhos”

A Rua dos Remédios e a Rua do Vigário constituem um campo privilegiado


de observação etnográfica para o estudo do rejuvenescimento em Alfama
no período intercensitário em que nos encontramos. Como primeira nota
de contextualização da observação de terreno importa ressaltar a prolife-
ração de apartamentos turísticos em Alfama - 306 oferecidos através do
AirBnB para a terceira semana de Julho de 2016, de um total de 3581 alo-
jamentos familiares (INE, 2011), quando a oferta de alojamento turístico
formal no bairro antes da chegada do AirBnB à cidade era de apenas dois
hostais - a que se deve somar a presença de estudantes Erasmus residentes
no bairro. Tal processo de substituição geracional traduz-se, entre outros
aspectos, na introdução de novos usos e consumos do espaço público e no
seu impacto nas dinâmicas comunitárias do bairro, tais como o surgimento
de bares (como o The CorkScrew Tapas & WineBar) onde os tradicionais
petiscos portugueses se designam “tapas” (à forma espanhola); ou onde o
tradicional vinho tinto é substituído pelo gin tonic. A mudança do bairro de
Alfama e a sua rápida mercantilização/banalização corresponde à reconver-
são deste bairro histórico do centro de Lisboa num parque turístico urbano
intimamente ligado ao consumo da “cidade vintage”, como mecanismo
de exibição e de distinção social, no sentido bourdieuano. Neste parque
turístico urbano, a mercantilização do Fado é reforçada a partir do seu
reconhecimento como património imaterial da humanidade pela UNESCO
(2011) e afirma-se um novo Fadoscape (Elliot, 2010) hedonista, classista,
higienizado social, moral e politicamente, em que participam de maneira
significativa jovens e jovens adultos lisboetas de classe média e média alta,
assim como turistas e “estudantes turistas” com elevado poder aquisitivo.
Entrada por Saída 447

Alfama aparece assim como um retroscape (Brown e Sherry, 2003)


caracterizado por edifícios semi-ruinosos que datam do século XVIII, por
pequenos bares tradicionais com odor a tabaco e vinho, entendidos como
nós e ligações do quotidiano do bairro, por postes de iluminação do século
XIX, que evocam paisagens urbanas nostalgico-românticas, por aquela
vizinha octogenária sentada frente à janela da sua sala, de onde observa
as actividades dos vizinhos… aos olhos dos turistas, dos viajantes e dos
“estudantes turistas”. Um retroscape onde os modos de vida tradicionais
e a quotidianeidade própria do bairro adquirem novos significados como
elementos de distinção e “autenticidade” (Belk, 2003; Zukin, 2009), em
que aquele tempo passado de Fado e boémia, mas também de prostitui-
ção, pobreza e marginalidade urbana com cheiro a vinho, tabaco e mar é
recordado com nostalgia e romantismo. No meio de uma “colonização do
presente pelo passado” (Belk, 2003, p. 23), ou de “um passado eternamente
presente” (Sherry, 2003, p. 21), os estudantes Erasmus e PLIC conver-
tem-se em gentrificadores marginais (Rose, 1996) atraídos – tal como se
confirmou através da realização do trabalho de campo etnográfico – pelo
ambiente “vintage”. A presença dos vizinhos de Alfama dá ao bairro um
modo de vida genuíno e único no conjunto da cidade, sem dúvida amea-
çado por novas práticas introduzidas pelos jovens e jovens adultos turistas e
residentes estrangeiros com maior poder de compra e cuja interactividade
(re)configura e transforma constantemente a quotidianeidade do bairro.
Alfama como retroscape é massivamente fotografada e inclusive “ins-
tagramada” (sem esquecer a imagem com filtro de cor sépia). Para os
turistas e viajantes, Alfama converteu-se num objecto de elevadísimo valor
simbólico de distinção para o registo fotográfico do turista e do viajante.
Enquanto o bairro se converte num parque temático turístico “vintage”,
os seus residentes mais idosos, e que frequentemente têm os rendimentos
familiares muito inferiores à média nacional, sofrem as consequências da
(neo)liberalização do mercado de arrendamento de alojamentos familiares
e do impacto da crise económica e financeira nacional nas suas economias
domésticas. Entretanto, e especialmente durante os meses de Primavera e
Verão, Alfama enche-se de turistas, que circulam pelo bairro ou seguindo
visitas guiadas a pé, ou em veículos tuk-tuk, fotografando por toda a parte,
esperando conseguir aquela fotografia que capta aquele passado de miséria,
sordidez e degradação urbana num presente hipercontrolado, banalizado,
disneysificado (Figura 8) – na expressão de Alan Bryman (2004). Alfama
448 Juventude(s): Pensar e Agir

como um safari, como um zoológico humano: os vizinhos octogenários são


fotografados como expressão do passado pelos turistas e viajantes jovens
e jovens adultos que os fotografam.

Figura 8 - Tuk-tuks e conflitos de conví-


vio e coexistência urbana

Fonte: Jordi Nofre (2015)

Enquanto isso, no café gerido pela Dona Fernanda, na Rua do Vigário,


as cinco senhoras que todos os dias se encontram entre as nove e as onze
horas da manhã mantêm uma conversa muito animada acerca do “episódio
do domingo” (lit.). Uma discussão fortíssima entre uma jovem portu-
guesa de trinta anos e a sua vizinha septagenária, num domingo do mês
de Setembro de 2015, fez parar a circulação no cruzamento da Rua dos
Remédios e da Rua do Vigário. Não tanto por elas, mas pelos vizinhos que
acudiram a observar e que querem assistir ao final do episódio do conflito
originado pela discussão que a primeira mantinha via skype com o seu
chefe. Perante a expectativa gerada, a circulação de veículos manteve-se
cortada (a polícia também fazia parte do conjunto de espectadores), com
Entrada por Saída 449

a consequente irritação dos condutores dos veículos tuk-tuk e dos seus


clientes turistas. Quando questionada sobre a evolução do bairro durante
os últimos anos, Dona Fernanda afirmou que em cinco anos ocorreram
mais mudanças que durante os quarenta e cinco anos em que viveu no
bairro, chegada da margem sul para trabalhar em Lisboa: “Daqui a alguns
anos, Alfama será como um grande hotel, os vizinhos de toda a vida vão
morrendo e as casas serão reconvertidas em apartamentos turísticos”.

Lazer nocturno, estudantização e turistificação no Bairro Alto

O Bairro Alto pertence aos consumidores de lazer nocturno, maioritaria-


mente (ainda que não exclusivamente) jovens e jovens adultos de diver-
sas origens socioprofissionais, económicas, culturais, étnicas e inclusive
religiosas (Nofre et al., 2017). Sem dúvida que os vizinhos, especialmente
de idade avançada e com baixo poder de compra, não são tidos em conta.
Incomodam. São um incómodo para o processo de internacionalização
da cidade levado a cabo pelas elites locais, nacionais e transnacionais dos
sectores imobiliário, turístico, de restauração e de lazer. Núcleo emblemá-
tico do lazer nocturno lisboeta mais recente, a origem do lazer nocturno
moderno no Bairro Alto remonta à década de 1970 – após décadas em
que a noite era protagonizada por algumas casas de Fado e prostituição –
quando os primeiros grupos de jovens e jovens adultos lisboetas de classe
média e média alta e pertencentes às dinâmicas culturais mais alternativas
e/ou de resistência ao Estado Novo começaram a frequentar o Bairro Alto.
Só na década de 1980 e sobretudo na de 1990, quando novos modelos
de lazer nocturno e consumo jovem hedonista foram colonizando o bairro
durante as horas nocturnas (especialmente ao fim de semana), convivendo
com uma população maioritariamente de classe trabalhadora, progressi-
vamente envelhecida, apareceram novos residentes. Na sua maioria jovens
adultos, com mais poder de compra que as famílias tradicionais do bairro,
protagonizam o primeiro processo de gentrificação do bairro (Mendes,
2006). A essa primeira gentrificação importa acrescentar a protoestudan-
tização do Bairro Alto, que os estudantes Erasmus protagonizam a partir
de 2005-2006, quando começaram a considerar o Bairro Alto, não apenas
como uma área residencial de interesse pelos motivos já referidos no caso de
Alfama, como também enquanto área de referência para as suas actividades
450 Juventude(s): Pensar e Agir

de lazer nocturno, pela mão de estudantes universitários locais e de grupos


de jovens alternativos lisboetas, sobretudo punks, que se encontravam entre
a esquina do Bar Mezcal e a porta do bar de punk-rock Boca do Inferno
(Malet-Calvo et al., 2017).
A inclusão de Portugal como participante nos programas de inter-
câmbio de estudantes Erasmus, desde o ano lectivo de 1987-1988, levou ao
aumento da procura de alojamento temporário para um número cada vez
maior de universitários estrangeiros que decidiram considerar Lisboa como
o seu destino de estadia internacional durante a licenciatura. Segundo os
dados estatísticos facultados pela Agência Nacional Erasmus+ de Portugal,
entre 2000 e 2013 a população de estudantes Erasmus aumentou de 1024
para 3492 por ano. Ao longo desta década e meia, a cidade recebeu cerca
de 30000 estudantes Erasmus, o que sem dúvida alguma se traduziu numa
crescente pressão sobre os preços no mercado de arrendamento residencial.
Contudo, no caso particular do Bairro Alto, a existência de uma oferta de
habitações com arrendamentos muito acessíveis, juntamente com a pos-
sibilidade de viver num bairro portuário “autêntico” com bares de fado
minúsculos, prostituição marginal, locais boémios e um crescente número
de locais de lazer nocturno dirigidos aos estudantes, levou a considerar o
Bairro Alto a principal zona de vida nocturna da cidade (Malet-Calvo et
al., 2017).
Além disso, os processos de gentrificação e estudantização do Bairro
Alto estão ligados ao recente posicionamento de Lisboa no circuito inter-
nacional de turismo urbano que levou a uma rápida turistificação do espaço
urbano do bairro (Nofre et al., 2017). Processos que se intensificaram visivel-
mente durante estes últimos três anos. Em 2008, a aprovação das primeiras
normativas sobre a reconversão de casas em apartamentos turísticos levou a
que, actualmente, o Bairro Alto conte com 525 apartamentos turísticos ofere-
cidos através do AirBnB para a terceira semana de Julho de 2016, de um total
das 3050 casas do bairro (INE, 2011). De facto, o Bairro Alto aparece como o
bairro de diversão nocturna por excelência de Lisboa, largamente publicitado
tanto em revistas especializadas em turismo urbano e sobretudo pelo lobby
público-privado: “A vida nocturna de Lisboa é conhecida como uma das mais
longas e vibrantes da Europa e do mundo (…). É pelo Bairro Alto que pode
começar a noite de todas as folias, em Lisboa. Depois das 22h00, o Bairro
Alto transforma-se num mar de gente e de automóveis estacionados nas ruas
estreitas, autênticos becos. Ali, há hipóteses de programas e diversão para
Entrada por Saída 451

todas as ‹tribos›, gostos e idades, num conjunto sem fim de restaurantes,


bares, discotecas e casas de fado (...)” (Turismo de Portugal, 2014).
Como se se tratasse de uma comédia victoriana, a cena urbana no
Bairro Alto muda de modo substancial quando se põe o sol. O bairro fami-
liar onde a vida comunitária assume a rua como espaço de (re)produção
social e cultural dá lugar à abertura, dia sim dia sim, de um parque temático
de lazer nocturno caracterizado pela presença – sobretudo aos fins de
semana e especialmente durante a época estival – de milhares de jovens e
jovens adultos. É durante a noite que “the body, sex and pleasure are often
accorded no existence, either mental or social (…) when the prohibition
that obtain during the day, during normal activity, are lifted” (Lefebvre,
1991[1974], p. 320).
No extremo meridional do Bairro Alto, na central praça Largo de
Camões e no lado nascente contíguo à Rua do Norte e Rua Diário de Notícias,
centenas de estudantes universitários portugueses disfrutam das suas cerve-
jas enquanto conversam animadamente. No extremo norte do Bairro Alto,
onde se encontra o chamado Erasmus Corner – situado na confluência da
Travessa da Cara com o início da Rua do Teixeira – onde cerca de duzentos
estudantes universitários na sua maioria portugueses e Erasmus, assim como
um ou outro turista, bebem acompanhados dos seus amigos e amigas, ou
com os seus colegas da universidade ou de apartamento, ou com aquele ou
aquela que conheceram na semana passada numa discoteca qualquer da
zona baixa de Lisboa (Figura 9). Entretanto, alguns jovens e jovens adultos
afroportugueses situam-se em posições periféricas em relação ao grande
grupo de estudantes Erasmus: falam de futebol, dos trabalhos informais
que lhes apareceram durante a semana, ou simplesmente partilham espaço
e tempo sem dirigirem, nem que seja por um momento, qualquer palavra,
observando o júbilo estudantil ao redor. Alguns deles, apoiados na parede
à frente do Bar O Pescador da Travessa da Cara, entre a Rua do Teixeira e a
Rua dos Mouros, são pequenos vendedores ambulantes e proxenetas de pros-
titutas africanas e/ou afroportuguesas e prostitutos portugueses. Oferecem
cocaína, haxixe e marijuana, cortadas e de má qualidade, que guardam nas
suas casas particulares, onde a polícia não pode entrar sem ordem judicial.
Ali, onde a Rua Atalaia, a escassos trinta metros do final da Travessa da Cara
adopta a forma de L, realiza-se o tráfico. É um interstício nocturno tolerado
pela polícia, desde que se mantenha confinado ali, longe de, por exemplo, a
área dos bares destinados aos turistas.
452 Juventude(s): Pensar e Agir

Figura 9 - Rua Atalaia, frente ao mercado, num dos bares frequentados


por estudantes Erasmus

Fonte: Jordi Nofre (2015)

Simultaneamente, no trecho da Rua da Atalaia definido pela inter-


secção de Rua da Atalaia com a Travessa da Queimada e Travessa do Poço
da Cidade – cerca de quinhentas pessoas dificultam bastante a passagem
dos transeuntes que, juntamente com os táxis, o camião do lixo, a polícia,
o homem do gelo picado na sua mota e algum vizinho que passa com o
seu carro, têm coragem para ultrapassar, com paciência, a multidão. Aqui
encontram-se estudantes universitários portugueses e estrangeiros em
grandes grupos, turistas nórdicos desenfreados pelo preço do álcool, des-
pedidas de solteiro e de solteira, espanhóis ou ingleses que vêm passar o
fim-de-semana, etc. Eles, os rapazes geralmente bebem cerveja, a bebida
barata e socializadora por excelência. Convidar alguém nesta parte da rua
não é excessivamente caro: a caneca de meio litro custa 1,20 euros – no
Bar Troika, por exemplo. Elas geralmente bebem cerveja se são Erasmus
(o valor da bolsa é muito baixo, especialmente para estudantes do sul
da Europa); ou a clássica caipirinha de lima, ou de morango, ou deriva-
dos como a caipiroska (com vodka), se o poder aquisitivo o permitir, ou
porque não suportam bem o gás ou o sabor amargo da cerveja. No Bar
Kitsch’n’Live, gerido por Francisco (40 anos) servem bem, até melhor que
no famoso Portas Largas, onde uma caipirinha custa 4 euros, mais um euro
Entrada por Saída 453

que no citado Kitsch’n’Live, bar que sai em todos os guias turísticos. Eles e
elas, os turistas, os estudantes Erasmus, os jovens portugueses universitá-
rios, etc., bebem para socializar, alguns para evadir-se das suas respectivas
realidades, e outros esperando, desejando, que seja uma noite inesquecível
(mais uma?). Sem dúvida todos eles constituem agentes activos do processo
de rejuvenescimento do Bairro Alto, apesar das estatísticas censitárias não
o reflectirem.

Lisboa, cidade habitada ou cidade visitada

Como já referimos, a falta de estatísticas mais recentes dificulta a análise


do impacto social, económico e cutural dos processos de mudança demo-
gráfica e urbana, que nos últimos anos assumiram uma intensidade notável
em Lisboa. Apesar do envelhecimento demográfico da cidade, a análise das
mudanças do espaço urbano e do quotidiano em dois bairros históricos de
Lisboa - Alfama e Bairro Alto - como consequência do intenso processo
de ludificação e turistificação que vem caracterizando o centro urbano da
capital, permite avançar ideias para discutir o usufruto jovem do centro
da cidade.
Mas será que se pode falar de um rejuvenescimento? De facto, estes
novos usos não implicam a fixação da população residente, mas, pelo con-
trário, correspondem a formas de utilização temporárias, quer na sua fun-
ção residencial quer na função turística e lúdica. Se, por um lado, o usufruto
jovem da cidade cresce, este é fundamentalmente temporário - de curta e
média duração - e associado a actividades académicas, turísticas, lúdicas
ou recreativas. Por outro lado, a cidade revela uma reduzida capacidade de
fixação de população residente jovem e, consequentemente, uma reduzida
capacidade de rejuvenescimento. Este paradoxo, entre o enfraquecimento
progressivo do peso da população jovem residente na cidade de Lisboa e
o aumento da população jovem visitante, coloca novos desafios aos deci-
sores públicos: há que compreender os factores que podem contribuir
para a atracção de jovens residentes que se fixem na cidade. Se parece ser
importante que a cidade mantenha a sua ocupação lúdica jovem, mesmo
que temporária, de que modo se pode articular o usufruto lúdico e turístico
com uma ocupação mais duradoura e sustentada? Esta será certamente uma
das questões centrais que devem preocupar autarcas e gestores da cidade.
454 Juventude(s): Pensar e Agir

O papel da administração pública local foi, sem dúvida, determinante


na promoção da turistificação da cidade e nos processos de estudantização
e de ludificação dos bairros históricos. Contudo, estas mudanças estão na
origem de novas formas de uso do espaço urbano, muitas vezes geradoras
de conflitos entre (velhos e novos) usos que obrigam a repensar a acção
pública e a equacionar paralelamente regeneração e reabilitação. A evidente
estratégia municipal de turistificação, assente em medidas facilitadoras dos
investimentos turísticos que promovem o aumento de visitantes, obriga
a repensar o modo e a qualidade de vida dos residentes. O aumento das
oportunidades de negócio e de investimento estão a par de uma maior
pressão sobre o ambiente e o espaço urbano, com o aumento da ocupação,
o aumento da poluição sonora e atmosférica e o aumento da produção de
resíduos. Também aqui se colocam novas exigências ao governo e gestão
da cidade.
Por último, colocam-se novas (e velhas) questões sobre o papel da
cidade de Lisboa na AML. À cidade centralizadora, e pouco capaz de
dinamizar os territórios envolventes, opõe-se uma cidade polarizadora da
região, que contribua para a consolidação do sistema urbano e funcione
como suporte à coesão territorial. A reorganização da rede urbana estru-
turada pela cidade de Lisboa pode promover outras centralidades funda-
mentais para a sustentação da macrorregião, o que obriga a uma estratégia
concertada de decisores ao nível do município e fundamentalmente nos
níveis regional e nacional.

Agradecimentos

Este trabalho tem tido o apoio do CICS.NOVA-Centro Interdisciplinar


de Ciências Sociais, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa, e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Os autores também querem manifestar a sua gratidão a todos aqueles que,
de alguma forma, participaram no trabalho de campo etnográfico.
Entrada por Saída 455

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