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A União e a Literatura

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

Biografia
Projecto Literário Memorável ou simplesmente Projecto Memorével é um projecto que tem a
função de dar espaço a novos artistas de exporem os seus dotes literários, levando os leitores
a uma viagem cósmica que a escrita pode oferecer, tendo a função de motivar, ajudar,
informar e acima de tudo educar com as suas obras.

Este projecto tem como a sua primeira edição este livro, que teve a participação de seis
escritores, amadores e profissionais que juntaram as suas forças a fim de dar o seu melhor
para a diversificação da cultura literária.

Este projeto tem como o originador Jesus do Espirito Santo, que teve a ideia de fazer algo
diferente do comum, juntar artistas pera entreter os leitores com as suas magnificas escritas.

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“AGRADECIMENTOS”

Agradeço primeiramente à Deus pela vida e pela oportunidade que me deu, e por permitir
com que esse projecto se realizasse, e em paticular agradeço ao Moisés João Dande e ao
Nicolau Chacuiva, que me deram uma enorme força e motivação para que o projeco se
concretizasse com sucesso. Agradeço também o elenco de edição e revisão que não mediram
esforços, a fim de realizar o desfeche do trabalho com sucesso. Agradeço também aos seis
escritores, que participaram nesse porjecto e que tornaram tudo numa realidade.

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Frases dos Escritores

Pensamos nós que os outros nunca nos entendem, mas na verdade, nunca tivemos nós a
vontade de procurar entendê-los.
Sê sempre íntegro, até diante das mias extremas circunstâncias, e verás que as coisas estarão
ao seu favor.
Quando as coisas que fizeres na expectativa de mudares o mundo não derem certo, tenta
mudar o teu mundo primeiro.
(Nicolau Chacuiva)

Perdidos na ilusão de querer ser alguém, muitos acabam por ser ninguém.
O homem burro não é aquele que não sabe, mas sim aquele que não escuta.
Mesmo que não tenha sentido, faz por amor.
(Jesus dos Santo)

Homens grandes Conquistam impérios, reino e nações, homens ainda maiores conquistam
grandes mulheres.
A vida é como uma vela que um dia se apagará e nos esqueceremos dela.
Dou- te o meu amor agora, para que no futuro seu coração sinta a minha presença, quando a
sua mente me esquecer.
(Moisés João Dande)

Luxo hoje! É ostentar a saúde mental!


Devemos ser pessoas dotadas de princípios valores virtudes e conhecimento prático! Há tempo
para tudo. E tornarmos o nosso tempo valioso a fazer coisas produtivas e que produzem alegria
e conhecimento!
Os tolos não vejam prazer nas coisas interessantes!
Nunca aceite estar nessa condição! A cada dia que passa leia pesquise raciocina reflecte até
quando achares que é o limite! Nos só conseguimos sentir prazer em algo quando temos o
domínio e o inteiro conhecimento.
(Celestino Domingos Alberto)

A dor estará presente sempre.


Em hora de dificuldades lembre que tem alguém, que está pior que você neste exacto
momento.
Filho não é erro. Pois se assim fosse, todos nós somos frutos de um erro.

(Mi Le Dji)

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“O que sabemos é uma gota de água, e o que não sabemos é um oceano”.

(Jesus dos Santo)

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“A dor do Contratado”

Sem revogar aceitas o que dizem


E se tentares dão-te chicotadas
Trabalhas a dobrar esforçadamente
Enquanto eles relaxam ricamente
Antes de o sol nascer já estás desperto
Tu cultivas ceifas e eles nem chegam perto
Preto, igual a terra
Cheio de pranto e só pensa em guerra
E o que tens tu para comer?
Um salário mísero para te suster?
Dor
É o que sentes quando trabalhas sem descanso debaixo do sol
Clamor
É o que dás sem sessar, esperando no Senhor
Percorres a estrada longa transportando as suas riquezas
E em troca recebes frieza
Embebedas-te de maruvo para tentares esquecer
Porque perdeste a vontade de viver!

Autor: Nicolau Chacuiva.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“A liberdade”

Durante a minha caminhada de vida, vivi inúmeras jornadas, disputando diversas partidas.

Sem saber para onde ir, vivia aos ventos, indo para aqui e para lá, como criança guiada pelo
seu instinto de inocência, que a inocenta dos seus atos.

Vivia a vida ouvindo, faça o que eu digo e não o que eu faço, porque do que eu faço não terás
nenhuma lição sequer a aprender, e sem saber a noção, obedecia sem a mínima razão,
desprezando a lógica e a emoção, não sabia que estaria sem alma e sem coração.

Tudo é vaidade quando não se tem liberdade, e pior ainda é quando a gente se perde na nossa
liberdade.

De tantas ilusões e paixões, só tive uma realidade: “Ser livre”, sim a liberdade, implica ela
autonomia total? Não, ser livre implica viver dependendo dos meus passos, atitudes e
decisões, levando em conta a existência de Um Ser Superior existente, que nos deu de
presente esse esbelto e magnífico, do ato mais simples e irrelevante, mas o mais importante e
mortífero: O livre Arbítrio.

Liberdade é ser livre da nossa liberdade, passar além da puberdade até atingir a maturidade,
tomar as decisões que irão trilhar a nossa jornada da vida até a morte, porque ser livre da vida
é morrer.

Como um pássaro sem asas, persegue uma estrela cadente, na minha mente viajo até ao
ocidente, explorando a liberdade que me foi dada de presente.

Ser livre é amar de igual para igual, tirando o machismo que nos povoa.

Ser livre é brindar e brincar como criança, na sua inocência.

Ser livre é andar e correr, fazer o que se quer quando se quer, fazer o que se pode, quando se
ter, sentir quando se quer e puder.

Ser livre é andar descalço na calada da noite sentindo a areia entre as entranhas dos dedos na
calada da noite.

Ser livre é amar, dizer o que sentes quando à amas, fazer o que podes quando deves.

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Ser livre é ser tudo, sorrir e ser feliz voar e pairar, porque um Africano morre que o seu sorriso
morre.

Vai, corre, diz à amas, enquanto ainda és livre dos teus sentimentos, seja rápido antes que
venha a culpa e a vergonha para mancharem a tua liberdade.

Sê livre custe o que custar, mas não te percas na tua liberdade.

Sê livre, aproveite a vida, mas tenha cuidado com a tua liberdade, para não te tornares escravo
dela. Porque cada ação nos cobra uma reação, como resultado das nossas decisões.

Nem todo passo é para ser dado, nem toda oportunidade é para agarrar, mas toda liberdade é
para viver.

Sê livre, e não te percas na tua liberdade.

“E não esqueças que, a liberdade só existe quando for oportuna.”

Autor: Jesus Dos Santo.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Ainda somos escravos”

É dor de mais

Para uma só raça

Que já nasceu condenada

Mesmo antes de ter cometido o crime

Sem ao menos ter o direito

Que lhe foi retirado

Desde muito cedo

De se poder no mínimo defender

Assim os filhos da África estão a crescer

A testemunhar um sofrimento permanente

Um berço cheio de desgraças

Que há muito perdeu a graça

No olhar triste

Das crianças

Que morrem

Sem antes terem sido alguém

Aos jovens

São lhes retirados as ferramentas

Para reiniciar essa nossa África

Onde os seus governantes

São capatas dos senhorios

Donos do mundo

E sem pensar no seu…

Pensam apenas no seu próprio eu

Meros egoístas!

Gestores com medo de gerir

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Suas próprias palavras

E são alheios a fome alheia

África nunca voltará a sorrir

Pois hereditárias são as correntes

Que um dia prenderam a mente

Do meu avô

E lhe fizeram acreditar

Que os da sua raça são menos importantes

E que devemos obedecer infinitamente aos senhores

Serão sempre eles os mestres

Ilustres

E nós?

E nós sempre no lugar de aprendiz limitado?

Continuamos escravos

Porque ainda dependemos deles até para comer

Para quê dizer que vivemos, se a única coisa que fazemos é sobreviver!

Autor: Mi Le Dji.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Amar”

Amar é ser grande no pequeno,

Respeitar o respeito

Lutar com ou sem medo

É ter a beleza de não ter

Estar ao teu lado e sofrer

Ser dotado de paixão

Capaz de invadir qualquer coração

E nos deixar sem chão

Amar é a preocupação

Em saber do bem-estar da pessoa amada.

Amar

Loucura mais louca

Aventura com milhares de viajantes

Pretos e distantes

Unidos por uma parte

Que apenas se ama

Amar é amar

Acertar e errar

Amar é não amar

Cantar mas calado

Estar presente no ausente

Ser criança

Adulto

É dispor do que nunca possuímos.

Mostrar um sorriso

Alegre e triste

Amar é morrer na realidade

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E viver na atuação

É ter um rosto livre

Coberto

Dor e tristeza

Paz e guerra.

Amar é receber e dar

Ter rosas

Sem esquecer-se dos espinhos

Lembrança no esquecimento

Querer o que não se tem

Amar é morrer

Amar é viver.

Autor: Mi Le Dji.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Amor secreto”

Amo-te, mas não consigo mostrar

Por mais que tente, é difícil me declarar

Não sei se um dia o meu amor conseguirei controlar

Com medo

Prefiro sofrer com esse silêncio

Meu amor continuará em segredo

Estou morrendo por dentro com esse sentimento

Essa sensação vai crescendo e se torna mais intensa

Estás secretamente guardado em minha cabeça

Será que tu não sabes?

Dessa paixão louca e verdadeira

Ou será que te amo e nem das conta.?

Autor: Mi Le Dji.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Angolar”

As sete maravilhas não são as únicas atrações


Também as zonas históricas, e os nossos guetos parecem mansões

É o amanhecer no kimbo enquanto o galo canta


E antes do nascer do sol o povo indígena se levanta
Feliz, e a disposição em labutar é tanta.
Como quem queira transbordar a nado o Kwanza.

As iguarias locais é que me deixam sem ar


Como se estivesse das lindas praias de Benguela desfrutar
É uma bênção ter-te com lar
E sem vergonha o seu nome gritar… Angola, Angola… No coração.

Perdi-me em Maiombe enquanto andava


Porque em cada canto só flora dava
Fui a Malanje ver Kalandula… Fascinante!
Mas encantei-me com a palanca, negra e gigante
Fui a cameia, mas apaixonei-me pela serenidade de Luena
Dei um pulo ao Lubango, e os meus olhos perderam-se na serra da Leba
É uma obra de arte a Tunda Vala
Pois pasmado fiquei.

Queria sentir-me às alturas


Então visitei o Cristo Rei
É óbvio que é o brilho do diamante das Lundas, sul e norte
Que encheram os meus olhos de ilusão e perdi o meu norte
Fui ao Namibe, nas terras da Welwitschia… Linda!
Passei pelo Cunene, fiz um voo até Luanda e dei uns passos de Semba.

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Fui até a ilha, e pedi um coco com suco


E de lá ao longe, no horizonte, avistava-se o Mussulo
Dei um pulo ao Sumbe, terras de solo argiloso e vermelho
Mas não resisti ao perfume, das terras do bago vermelho
Sinto-me vivo, porque finalmente cheguei ao Huambo
Mas vivi a história quando passei pelo Cuando Cubango.

Angola, doce lar.


Angolar, quero ver-te brilhar!

Autor: Nicolau Chacuiva.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“As palavras de um Falhado”

Eu, vi-te na rua, deixada e seminua, plantada na podridão, batendo no meu portão, o que te
assolava era o medo que não te ajudava, dei-te abrigo e refúgio, mas no que havia de bom é ti
não vi nenhum vestígio, o que te serviu como um escudo, foi o meu refúgio, hoje luto porque
não te tenho, e talvez eu já esteja de luto, hoje ligo porque já faz tempo que não te vejo, e com
o tempo me esqueço de quem és, e me perco no tempo e não te vejo.

Desci até ao cais, cobrando quem me devia e, todavia não encontrei ninguém que devia, e
nesta cidade tudo é vaidade, porque apesar da serenidade já não há irmandade, cada um, é o
que é, e todo mundo é o que quer ser.

O meu ser está abalado, como que voando a nenhum lado, na tua pessoa encontrei o que me
povoa, o amor, e como prova, muitos discordam, porque dizem qua não tem sentido, mesmo
assim é o que eu tenho sentido, o amor, porque ele não tem sentido, pelas coisas que tenho
vivido.

E nos seus zumbidos, eu tenho ouvido que eles dizem que, eu tenho vivido é um amor não
correspondido, que eu ando perdido e meio que escondido.

Mas eles não entendem as palavras de um Falhado, se não é amor então o que é? O amor não
tem sentido, então as minhas ações são sem razão e sem explicação, então o que faço
simplesmente faço.

Eu ando perdido, porque não correspondes aos meus pedidos.

Ando sem direção, nesse mar de ficção, porque tenho tomado más decisões.

Dizem que nas palavras de um Falhado, tudo esta errado, mas eu me pergunto quem sabe? Se
estão todos cheios de aflição, trocando o quadro e a carteira com um prato de refeição. É com
tanta convicção, digo, se eles sabem ou se querem acreditar nisso.

Dizem que um Falhado sempre será um Falhado, mas eu prefiro ser um Falhado que ama, e
que tem sentimentos, do que um vitorioso sem coração e sem noção, caminhado em qualquer
direção.

O meu amor por ti é transcendente, como chamas ardentes que aquecem o que sinto.

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Eu, sou o Falhado que ama, mas não o que sofre por amor.

Ame, e acima de tudo fale, antes que seja tarde.

As palavras de um Falhado.

Autor: Jesus Dos Santo.

Revisão e edição: Jesus Dos Santo.

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“Catorzinha”

Catorzinha
É a miúda do bairro, a pequena da cidade, é a minha vizinha.

Aquela que os jovens e os cotas desejam


E quando a malta do bairro se apercebe detesta.

É a garina que o João vigia é aquela que quando aprece arrepia.

É a dona da boca como têm dito


E ela com aquele andar esquisito.

Ela é um escândalo na rua


E aqueles passos lentos… Beleza pura, oh!

Negra, quando ela chama ninguém nega


Negra, quando ela dança é aí que os olhos pecam!

Cheia de sensualidade e elegância


Que eleva aos rapazes a ganância… - Em tê-la
E constantemente fazem-se a rua para vê-la.

Quase perfeita, parece que foi desenhada


E ela que não pára, sempre assanhada.

Catorzinha, a mais cínica vizinha


Que nos meus sonhos foi minha.

Autor: Nicolau Chacuiva.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“É sempre sobre ouro e espelho”

À mais de 100 anos, um português zinho abarcou com sua singela tripulação, em reinos bantus
e estes pularam de seus navios para as terras que os considerou estranhos, mas bem-vindos.
Terra esta de homens simples tal como suas vidas, suas mãos, seu tudo.

Esses estrangeiros de olhos aguçados viram coisas que para a sua visão já eram coisas, mas
não para os próprios donos, e estes, nativos pouco trajados, viram também cintilar nas
pessoas do longe pacífico e se maravilharam.

No passar do dia, assim pessoalmente assumo, os brancos e negros reunidos fizeram uma
troca de interesses por iniciativa dos mais sabidos e aliciantes brancos. Os vastos abundantes
pertences dos bantus, ouro, mirra, prata, e todos os mais valiosos tesouros destes, que para si
nada valiam, por simples espelhos, peças de roupa e frutas tropicais que os brancos traziam
consigo.
Não cientes do enorme valor que seus bens tinham, os pobres homens, pobres aceitaram a
troca e com sentimento puro de vitória, nem sequer se notarem do desbalanço entre os itens
em permuta.

E assim ficou.

Pois... Assim ficou!

Uma das frases mais feias que se tem como provérbio na vida é: “A grama do meu vizinho é
mais verde que o minha”.

Mas eu pergunto-me se é total e inteiramente verdade. Ou mais, que cacos ópticos foram que
esse homem, que assim afirmou usou em seus olhos para ver tal coisa?

Porque na verdade tal como há mais de 100 anos atrás nossos ancestrais estavam
ignorantemente errados, qual nós estamos nos dias de hoje.

Tomando dos mesmos erros. Mesmo sendo mais racionais, lógicos e sábios sobre o mundo.

Embora já não trocamos objectos brilhantes por reflexos no vidro, trocamos coisa igualmente
valiosa para nós: “CULTURA”.

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A União e a Literatura

Hoje trocamos grandes valores culturais das nossas areias para adoptarmos de outras terras.

Um pano multicolor em ilustração e significado por um terno preto e só.

Um “Tuami-menekena-mudijina-diá-Ngana” dito de língua firme e forte por um “bom dia” e


só.

Um Kizomba, balanço de passos par à parceiro, que faz riscar a pista por um Rap e só.

Um prato de funge com três molhos divinos e saborosamente saborosos por uma massa
branca e só.

Todas as trocas que possamos imaginar da nossa terra e cultura, por outras.

Valores arrancados de nossos corpos e dia-a-dia, em negação ao passe de testemunho dos pais
de terceira idade e meia, pelo que se vê e ouve de um aglomerado de píxeis em ecrã tela
plana.

Na verdade, não é uma mesma coisa como no cenário passado.

Nos dias de ontem, não foram nossos tetravós a irem buscar as coisas estrangeiras, mas hoje
somos nós que de quase algo como janela tridimencional trazemos o que é alheio para a nossa
poeira.

Foram-se as missangas e as cores no rosto. Tal como as conversas e contos de Domingo à noite
de netos e seus ídolos avós. Idem para quase todos os bons costumes da nossa dipanda,
banda, terra, pátria.

É uma vergonha sermos assim como somos.

Por isso escrevi.

É, e talvez sempre vai ser sobre ouro e espelho.

Autor: Celson Ventura.

Revisão e edição: Jesus Dos Santo.

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“Éden Ventura”

Meu nome é Éden Jorge Ventura, e eu tenho 5 horas de idade. Nasci em 2040, onde ainda não
chegaste, nem quero que chegues. Não se vive bem aqui, a estatística de 90% das guerras
mundiais serem religiosas saiu da folha, e passou por cada país, cada província, cada
município, e cada bairro, deixando óbvios sinais da sua travecia.

Se notava pelo vermelho puro e cristalino do sangue que pintava todo lugar, seu cheiro forte,
sua realidade inconfundível, sua mistura pegajosa, e também pelo grito das pessoas, em voz
alta ou bem no fundo do seu coração que batia pela última vez, ou pelo choro, transbordando
rios dos olhos dos que mais sofriam, por verem a si mesmo morrer e junto com as pessoas
mais chegadas a si, e sem poder fazer nada, nem mover o menor dos dedos da sua mão, nem
respirar, com medo de se afogar em seu sangue que lhe banhava por completo.

E eu, novo, fresco, pequeno, inofencivo e inocente, apenas dependendo da ajuda corajosa de
meu pai, Celson Ventura, que mesmo antes do meu primeiro gosto ao leite, me fez sentir
sabor salgado do lagrimar, porque havia perdido ela, minha mãe, e não consentia sua partida,
por nem ter tido o tão desejado luxo de me ter em seus braços.

Não havia muito que fazer, então me levou para um lugar onde nem me ocorria aos ouvidos os
som de fora, apenas o lamentar arrojado e suado dele. Só eu e ele estavamos ali.

O pai poisou-me lentamente no chão, consequência da falta de cama naquele espaço,


desembrulhou a manta branca em que me havia envolvido para me poder transportar quente,
e ouço novamente o sussurrar de seu desespero assustador repetidamente, e no meio de tão
pouca luz vejo o objecto e o objectivo de me ter levado para ali, suas mãos tremiam ao
carregar aquilo, se sentia sua pulsação fazendo terramoto no chão, e sua voz entoava cada vez
mais o hino universal daquele ano, sofrimento, dor, angústia, mas não sei se justificava seu
propósito com a pequena arma cinza que manejava naquele instante, pondo uma bala por
minuto enquanto ganhava fôlego para cumprir o que lhe mais fazia sentido. Naquela situação,
os homens não matavam as crianças, mas lhes recolhiam e lhes davam de bandeja uma nova
vida, vida de sofrimento e treino, treino para fazer o mesmo que eles faziam procurar e matar
aqueles que não pertenciam a sua religião ditada e ditadora, para serem apenas um, eles.

Mas meu pai não me via com um possível futuro desses, nunca veria, nem eu e menos ainda
minha mãe. Por isso pôs-se firme e em pé, limpou seu rosto e deixou cair a sua última lágrima,
apontou directamente para minha cabeça, para que não tivesse de disparar duas vezes, e
gastasses mais balas em mim do que nos outros homens que depois iria atrás. E o fez. Fez tudo
para me manter distante de tudo que ele passou.

Ele se foi.

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E eu também.

Autor: Celson Ventura.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Indígenas”

De pés descalços pela manhã lá vão ao campo


Em fila indiana acompanhados de um cântico
Felizes com um novo amanhecer
E com amor fazem as sementes florescer
Aparentam não terem problemas na vida
Porque raramente mostram fatiga
Desespero, a pressa das cidades
Com jeito sensível tratam eles da colheita
E de um jeito invisível o final do dia chega
A noite se aproxima e todos de volta ao chihunda
Depois da janta, fogueira centrada e a gente toda a circunda
Danças, cânticos, estórias, fazem parte da noite
E depois que os mais novos cederem, apenas os cotas ficam até a meia-noite.

Autor: Nicolau Chacuiva

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Insensíveis”

Insensíveis
Acham-se deuses
E dolosamente tiram o que a nós pertence
Encobrindo os factos
E apagando os rastos.

Insensíveis
Ilicitamente enriquecem
Promocionam o que realmente não produzem
Desconhecem o conceito de valores
Autênticos impostores.

Insensíveis
Dominados pelo prazer, cego e impulsivo
Que nem a inocência de uma criança enxergam, feitos cegos e impulsivos
E quanto a violência, agem sem clemência
Parecem canibais, ou alguém com demência
Rejeitam o seu próprio fruto
Sangue do seu sangue, para eles é fútil.

Insensíveis
Cegos pelo poder
E quem os apoia não tem nada a dizer
Moldam soldados para ocultar os seus procederes
E feito robots, todas as falas devem reter.

Insensíveis
Prometem mudar o mundo
Mas eles não movem nem uma pedra quando o povo dá de tudo
Prometem dar alívio a quem tiver dor
Mas como? Se antes priorizam a cor!

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A União e a Literatura

Insensíveis
Tiram o sorriso a quem viveu uma eternidade de dor
E ferem o coração sensível de quem só exerce amor
Causam lágrimas de gentes, ao ponto de criarem poças
E aos corajos levaram as forças… Insensíveis!

Autor: Nicolau Chacuiva.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Mãe África”

Chamam-te de mãe porque, tu és o princípio.

Chamam-te de mãe, porque tu geras vida.

Negros são os seus filhos, que muitas vezes são enfolados e empurrados no mar da pobreza.

A cor negra reflete o brilho da sua beleza, que é manifesta pela cor negra, do grão do cafê, do
amor negro da pantera para com os seus filhotes.

O seu amor, é manifesto no apoio que dás aos seus filhos quando estes são insultados por
causa da cor da sua pele.

Cabisbaixo, cheios de desespero em prosperar tu dizes:

Levanta, levanta, levanta, vai trabalhar.

Pois África está a te precisar.

E tu tens muito para dar com a sua força motriz.

Por ser africano sou um homem feliz.

Autor: Moisés João Dande.

Edição e revisão: Jesus dos Santo.

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“Medusa”

Em cima da ponte, está a tua irmã desaparecida, em interação com aqueles instintos suicidas,
abatida na depressão de uma história nunca esquecida, vencida por um trauma de uma
violação hostil.

Em cima da ponte, está a mulher que bombardeia, por usar a liberdade sexual tão proclamada,
abalada por tantas ofensas que vocês fraseiam, exterminada pelo nojo da àqueles que a
rodeiam.

Em cima da ponte, está Maria Conceição, vitima de uma relação e de um amor tirano, marcada
pela opressão, e traumatismos cranianos, golpeada por quase vinte anos de agressão
domestica.

Em cima da ponte, está tua vizinha acanhada, e há muito que é aniquilada por esperanças que
se esfumam, há muito que é rebaixada por ver chamas que se avolumam, embaraçada pelo
próprio corpo que todos repugnam.
Em cima da ponte, está atua mãe a pensar em tirar a vida, porque não sabe como sustentar os
filhos sem entregar o corpo que vende por migalhas, abatida pelo arrependimento que lhe faz
encarar a realidade.

Em cima da ponte, está teu irmão a pensar no que fazer, para pagar as dividas das vidas que
deveu e vendeu sem pensar em devolver.

Em cima da ponte, lá estou eu, a pensar na vida, que tudo seria melhor se não tivesse existido,
se eu não tivesse estado na tua vida, seria bem melhor, se calhar ainda estarias vivo.

Em cima da ponte, está a Medusa, confusa.

“Em cima da ponte”

Autor: Jesus Dos Santo.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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“Memória de 1GB”

Ontem a minha Mãe, senhora de certa idade avançada, pediu-me que fosse comprar um
cartão de recarga de saldo da Unitel ou Movicel, porque para ela tanto faz, apenas queria
poder ligar a sua irmã minha tia, e mais outras pessoas para combinarem a ida aos seus
terrenos para darem uma vista de olhos.

Lá fui eu, e no mesmo pé voltei com um cartão de 500,00kz da Unitel.

Ela disse que o seu telefone está a dar muita maka para fazer chamadas, então, sugeriu que
carregasse no meu aparelho, no meu chip, para que nenhuma chamada falha-se-lhe.
Eu, sorrindo maquiavelicamente por dentro, só balancei a cabeça, sem mais mostrar nenhuma
expressão para não bandeirar.

Ansioso, digitei *100* e os 13 números do cartão, para assim ter saldo de voz.

Não muito depois de pôr a chamar, recebi a mensagem de confirmação de sucesso da


operação, mas pára, em poucos segundos, eu, soldado, foi abatido. Recebi uma nova
mensagem de desconto de crédito.

Já se fazia três semanas sem ter saldo, mas durante este período usufruí de chamadas e
mensagens a cobrar. Foi então descontado 270kz do serviço “Adianta só” e 163kz do “Manda
só”, sobrando às esmolas de 6,7 utts. Lamentavelmente.

Nada poderia fazer, mesmo achando que era mais um roubo habitual dessa servidora
saqueadora.

“É da Isabel dos Santos e quem sai aos seus não desgenera” – pensei para mim

Tive que comprar uma nova recarga com o dinheiro que tinha juntado dos 30, 30 do troco do
pão, fatigando toda minha poupança.

O Maliano, dono da cantina, ficou surpreendido, pensado que eu estava rico. Não ia a sua
pequena cantina para gastar nada mais do que 200kz por vez.

Voltei a casa. Carreguei desmotivadamente e fiquei assim com 567 KZ de saldo.

Não querendo mais conversas ou acções com o telefone, dei-o à Senhora sentada nos blocos
encostados à parede, mas ela não tinha veias dotadas de carquejo sobre telefones digitais,
então me pediu que marcasse o número que ela ia ditar.

Eu, com a cara trancada pelo momento, dei meia volta para ir buscar o telefone Dela, mas Ela
disse-me que não era necessário de todo, e simplesmente começou a recitar os números.

Eu fiquei meio espantado. Já não é tão comum termos números telefónicos a ocuparem lugar
em nossas mentes. Mesmo os nossos andamos a esquecer. Nossos, “Nós jovens”. Desleixados
de uma vida inteira.

Pois bem, o número que Ela deu chamava, mas ninguém atendia. Então, para o meu novo
espanto, Ela recitou um outro da Movicel da mesma pessoa.

Eu fiquei mais surpreso. Um número de cor é mais ou menos aceitável, mas dois já é muito.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

Foi então que mais espantos surgiram, um atrás do outro.

Debaixo daqueles cabelos de alguns fios cinzentos tinha muita coisa guardada.

Nem uma vista de olhos para fazer cábula a uma agenda nem nada.

Foram 6 terminais telefónicos de uma vez vindos da cabeça Dela para os meus ouvidos.

Perplexo e mentalmente paralisado. Só consegui lembrar-me de que até mesmo no dia


passado tinha ido à outra cantina para por “NET ao dia” no meu telefone, mas dei um número
errado.

Eu próprio errei o meu número. Esqueci-o.

Quando mais lembrar seis de outras pessoas.

Cheguei então a conclusão de que “Nós” temos enchido o nosso cérebro de muita coisa, pela
enorme facilidade ao acesso à informação que se desenvolveu nos últimos anos desta era,
deixando muita coisa escapar. Coisas simples, mas muito importantes.

Então, é melhor começar a selecionar melhor o que leio, ouço ou vejo e quero guardar para
mim, para não acabar com memórias curtas de 1GB ou problemas de esquecimento.

Autor: Celson Ventura.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

“Mocidade XXI (Angola Jovem)”

Tudo hoje é vaidade

Amam a libertinagem por desconhecem a liberdade.

Antecipam as coisas na ansiedade


E com isso, não sabendo o que querem de verdade.

Querem manipular o tempo


Querem viver imediatamente o futuro e ignoram que, tudo tem o seu tempo.

Querem ocultar verdades a custo das suas necessidades


Querem irrelevar valores a custo das suas futilidades.

- Importam culturas e fazem delas suas


Tornaram-se rebeldes, e em vez de casa preferem as ruas.

Tomam decisões erradas, sobre determinados assuntos


E com pessoas erradas, conversam sobre determinados assuntos.

Antes preferem difamar, do que os problemas solucionar


Antes preferem prejudicar, do que os débeis ajudar.

Mocidade tecnológica
Que julga como se tivesse o direito, sem antes ver as coias pela lógica.

Que alegra-se quando alguém sente-se humilhado


Que só furta de quem muito tem lhe dado…

Mas aqui não são só coisas más, também coisas boas


Há quem seja íntegro, há quem acata os conselhos dos kotas.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

Há quem sonha, há quem espera as suas vitórias


Há quem vive perdendo, mas não se abala com as derrotas.

Vejo jovens lutando pelo bem dos outros


Sem esperar retribuições.

Comove-se com as dificuldades dos outros


Sem julgar as ações.

Eu vejo um olhar radiante e cheio de esperança


Que diante dessas tempestades ele só enxerga bonança.

Vejo um futuro próspero no seu pproceder, vejo a caminhada serena de quem não tem pressa
de viver
Vejo quem almeja vencer!

Autor: Nicolau Chacuiva.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

“Negra do mato”

Sou negra do mato

A palha cobre o meu teto

Na cabeça tenho os meus cachos

Minhas vestes diárias é o pano

Descalça no campo

Sinto

O sabor da áreia nos dedos.

Sou negra do mato

Vejo o reflexo da minha beleza

Nas águas acastanhadas dos rios

Como o que planto

Colho o que semeio

O ar puro

Dá natureza é o melhor tratamento para a minha pele

Todos iguais

Não temos senhores

O som dos animais nocturnos, embala minhas noites.

Negra do mato

Sulana

Sou do campo.

Verdadeira aos meus amores

Não nego minhas origens.

Autor: Mi Le Dji.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

“Negritude”

Eu só quero que Àfrica sorri de novo

Á cada ano novo

E que de novo

Possamos ter o que é nosso de novo

E abster-se do vosso

Opressores do povo.

Porquê que roubam do povo?

Se somos povo e o nosso problema é comum!

E em vez de apontar ao povo

Devemos agir como um.

Devolvem a alegria que escorre nas lagrimas do povo

Do rosto e dos olhos do homem negro.

Ser Africano é um prazer

E não há melhor coisa do que ser

Negro na cor e branco aos olhos do Senhor.

A minha negritude é a minha identidade

E longe da gente rica das cidades

A minha comunidade não faz distinção

Se negro é pessoa e branco é pessoa

Então não é atoa que somos de uma só raça

“A Raça Humana”

Autor: Jesus Dos Santo.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

“O primeiro encontro”

Não sei quando, onde, como te conheci

Só sei que o meu coração parou quando te vi

E de lá pra cá sinto e respiro você, e os meus olhos anseiam em te ver

Aí como eu quero te ter!

Por favor, me diz o que fazer?

Ao Kimbanda o seu cabelo levei!

Ao feiticeiro o seu perfume entreguei!

Ao padre a sua fama confessei!

Diz agora o que faço para te ver?

Se o seu olhar é o farol que me faz viver!

E agora o que faço?

Se de longos passos, passo no seu passo, devagarzinho passo, sucedendo longos passos, Eu
amo sentir esses braços!

Aí como eu tenho saudades dos teus abraços!

Por favor, deixa-me roubar o seu coração, nem que for um pedaço.

Autor: Moisés João Dande.

Edição e revisão: Nicolau Chacuiva.

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A União e a Literatura

“O que eu ando a esconder”

Quero nascer, crescer, andar e correr

Mas ninguém sabe.

Quero conquistar a minha liberdade

Mas ninguém sabe.

Quero viver a vida com a minha diva

E dar-lhe a paixão divina

Mas ninguém sabe.

Quero viver momentos únicos, que valem apenas recordar

Mas ninguém sabe.

Quero poder voar como um pássaro sem asas

Correndo atrás dos meus sonhos

Mas ninguém sabe.

Quero acordar em outro mundo e encarnar noutro corpo

Mas ninguém sabe.

Quero tudo e ao mesmo tempo quero nada

Mas ninguém sabe.

Quero brindar e brincar com os amigos

Nos momentos de vitórias

Mas ninguém sabe.

Eu quero uma vida longa e tranquila para todos os meus amigos

Mas ninguém sabe.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

Quero simplesmente fazer o que vem na mente e na alma

Mas ninguém sabe.

Eu quero fazer por amor e sem pedir nada em troca

Mas ninguém sabe.

Quero ajudar sem cobrar, falar a verdade sem magoar

Mas ninguém sabe.

Quero dar e receber prazer, e quem sabe talvez te ter

Mas ninguém sabe.

Quero com amor agradar, fazer o outro festejar, sorrir e brindar

E assim como criança brincar

Mas ninguém sabe.

Quero simplesmente dar amor

Sem cobrar de volta nenhum favor,

Mas ninguém sabe.

Autor: Jesus Dos Santo.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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A União e a Literatura

“O que tens de saber”

O pai sempre quis um engenheiro, mas a mãe sempre diz que quer ter um enfermeiro, a tia
fala que esse miúdo anda perdido, mas a prima diz que ele sabe tudo.

Na rua, os vizinhos me vêem como um Falhado, na escola os prof dizem que o puto é um
grande baldas, mas os colegas vêem-me como um grande amigo maluco.

Ela diz que eu sou mulherengo, que gosta de espreitar os rabos de saia, sem saber que evito
essas miúdas, para lhe agradar.

O irmão mais velho vê-me com um dilinquente, mas o mais novo, diz-que sou um herói, e a
cassule diz que o mano já foi, e eu digo que estou sempre aqui para todos vós.

Nunca impus metas para mim mesmo, porque a família é que dita as minhas pisadas trilhando
o meu caminho, e a cada passo que dou encurto o meu caminho, porque me sinto cada vez
mais sozinho.

Os putos do bairro dizem que sou um Brother, mas as vizinhas dizem que sou um caso perdido.

Quando faço algo de errado o pai aponta o dedo e diz que não mereço, mas a mãe diz que os
homens aprendem com os erros.

A mana sempre diz que sou um bom exemplo a seguir, mas eu lhe digo para não seguir o meu
caminho.

O que é que tens de saber de verdade?

Tens de saber que tenho metas e objectivos a cumprir nessa jornada da vida, mas a família não
quer saber disso.

Eles vêm o meu ódio, mas não sentem a minha dor. Dizem que sou a ovelha negra num
rebanho sem pastor.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

Eles sentem-se culpados quando não alcanço os seus alvos, e quando não cumpro com os seus
caprichos, sem saber que não faço propositadamente, porque também quero voar como um
pássaro preso numa gaiola e correr como um cão amarrado às cordas.

Quero simplesmente fazer o que me vem na mente e na alma, saber que não sou formado,
não deixa os velhos conformados, porque me querem ver formado.

Todos os dias da minha vida fico entre a espada e a parede, porque o pai é que controle e a
mãe é quem dita as regras.

Não quero viver a vida dos outros, deixem-me fazer o que posso, o que quero, é o que me
agrada, mesmo que vos desagrada.

Não quero ser o cozinheiro dos outros, quero ditar as minhas receitas e fazer os meus pratos,
grelhados ou cozidos até mesmo os fritos quero experimentar.

Eu só quero ser eu, ser um sentimento uma atracção e para vocês quero ser apenas uma ficção
nas vossas cabeças.

Quero estar com o controle de minha vida, ditar as minhas regas, e fazer delas a minha lei.

Quero fazer da liberdade lei, e senti-la com um rei.

“Eu sei que tu, também queres fazer muitas coisas, mas as vezes as pessoas que nos rodeiam,
não ajudam, impondo regras e metas que não sejam do teu agrado e quando tudo dar errado,
já sabes para onde vão as culpas.”

Autor: Jesus Dos Santo.

Revisão e edição: Jesus Dos Santo.

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A União e a Literatura

“O teu corpo”

Ai o teu corpo! Tão lindo como o girassol

Tão peculiar tão esbelta como o rosto da minha vizinha Berta…

Imagino-me a tocar nesse corpo noite e dia, a lhe avançar Indo sempre em frente mesmo a
capotar…

Ai o teu corpo!

Ai o teu corpo!

Ai esse corpo!

Imagino-me a abrir aquele livro, abrindo com o desejo de me livrar

Livrar-me da ânsia de te tocar e ter

A explorar aquele corpo! Aquela exploração explorada pelo explorador!

Ai o teu corpo!

Ai o teu corpo!

Ai esse corpo!

Autor: Celestino Domingos Alberto.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

“Partida”

Quando eu me for

Não chora

Não fique triste

Nem grite.

Meu amor

Sorria apenas

Não me machuca

Fazendo-me ver a tua tristeza.

Lembra

Das nossas conversas

E dos nossos momentos

Aqui me despeço

Mas não chore

Isso te peço.

Autor: Mi Le Dji.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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A União e a Literatura

“Pequena flor (Angola)”

Com mãos divinas foste plantada


E no lugar certo do berço foste assentada
Como a mais bela flor que se abre ao nascer do sol
Alegras-te porque as tuas raízes sustentam-te com amor.

Eu vi-te nascer nos meus sonhos


E vejo o teu florescer ao abrir os olhos
Estás sobre terras abençoadas.

E não te afetam ações mal intencionadas


Tu és tropical, quente feito uma brasa
Do outro tu és húmida, isso graças ao Kwanza
Povos e vivências distintas habitam em ti.

Mas tornaram-se um só por ti


Maravilhas de invejar tens aqui
Que a cada dia incitam-me a navegar sobre ti
Oh! Pequena flor… Aquela que brotou com amor
Antes eu dou-te o meu sorriso, quando os outros te dão dor.

Autor: Nicolau Chacuiva.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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A União e a Literatura

“Podar as flores da pele”

Um jovem é de certo um ser, sem cabeça, troncos e membros, pelo menos sem a ligação lógica
e sem perfeita condenação motora de tudo.

Essa fase é marcada por muitas decisões tomadas a fio e a pressa. Tomadas tal como as
bebidas em shotes. E assim como os shotes, essas mesmas decisões de mergulho pipino
deixam ressaca no dia seguinte e nos dias seguintes ao dia seguinte, até ao “Adeus mundo”
por bater as botas.

Jovens como somos, somos meio ou inteiramente imprudentes. Deixamo-nos levar e ser
levados por muita razão instantânea, Sem segunda vaga de pensamentos, ou mesmo sem o
ponto parágrafo da primeira.

Sem terminar o “Porquê”, que é a ponte segura em passadeira do ponto onde nos
encontramos até onde queremos ir. O que nos dá estabilidade quase como o equilíbrio
perfeito do corpo em ponta dos pés e dois braços esticados. Estabilidade esta, que nos permite
até dançarmos sobre os tijolos amarelos dessa ponte, pela segurança que conseguimos
estipular e tatuar antes de dar a machadada final nas coisas..

Mas isso só se alcança pensando uma outra e outras vezes antes de fazer alguma coisa.
Grande, ínfima, pessoal, colectiva, o que for. O “Porquê” respondido em 20/20 é sempre
necessário.

Por isso escrevo-te.

Para saberes que “Se o Pedro e/ou a Ana vão à praia no convívio de reencontro da turma”, tu
não deves ir. Por causa da situação mundial actual. Por causa do Covid. Ou se “O frango saiu
agora da grelha e ainda está muito quente” não deves come-lo ainda. Deves esperar que
esfrie.

A ideia central deste texto é a cautela na hora, minuto e segundo de tomar uma decisão sem
nenhuma trepadeira sobre sua pele a atrapalhar teu raciocínio preciso.

Ou seja, ilusionismo, ansiedade, e outras sensações que te façam tomar decisões a flor da pele
devem ser podadas pela raiz à fundo, para que não tenham flores nem frutos.

Porque decidir é a tarefa mais pesada de todas para o cérebro humano, isso comprovado pela
ciência. E uma decisão mal tomada pode causar caos com as consequências e sob
consequências deste podem surgir marcas e cicatrizes de uma vida inteira.

Então, não será trabalhoso se arregaçares as mangas, enluvares-te, e podar as flores da pele.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

Uma tesoura dinossáurica e uma vassoura de cabo firme para cortares e varreres à fora todos
esses caules espinhosos que te afectam no discernimento dos teus “sim” e “Não” servirão de
certeza. Ou pequenas tesourinhas como iniciativa de autocontrole.

Também são boas.

De resto:

Força, pequeno (a) jardineiro (a).

Autor: Celson Ventura.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

“Presente na ausência”

Para vir?

Não pedi

Mas por algum motivo estou aqui

Infelizmente sem ti

Proteção da tua parte nunca conheci.

Afinal o que foi que eu te fiz!

Pai Pai, pai òh pai

Que culpa tenho eu,

Para nem conseguir saborear a beleza de te ter

Sem ti estou a crescer

Foi assim tão mau me ter?

Tentei até te entender

Juro que tentei

Já lá vão os anos e continuo a não te entender.

Afinal para ti o que sou?

Fruto de uma noite

Tarde ou manhã onde depois dizes que foi bom, mas já passou.

Saiba que não guardo rancor

Mas semeaste dentro da minha caixinha sangrenta uma profunda dor,

Pai, pai será que nunca provarei o teu amor!

Autor: Mi Le Dji.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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A União e a Literatura

“Quando é que vamos ter autonomia?”

Somos livres de acreditar em tudo, e de defender nas nossas crenças, e eu creio que um dia
África será independente, mas como, se não temos autonomia?

E por isso eu ergo a minha voz, e me pergunto, todos os dias.

Quando é que vamos ter autonomia, se tudo que usamos é importado, desde a religião à
cultura até o teu próprio nome?

Quando é que vamos ter autonomia, se ainda estamos com a mania de ficar pregados como
que amarrados no sofá a procura de um culpado, quando tudo der errado?

Quando é que vamos ter autonomia, se a lavagem cerebral acontece todos os dias, desde a
novela na TV, aos eventos da telefonia?

Quando é que vamos ter autonomia, se ainda ficamos atrás do homem, que monta e fabrica,
enquanto que só compramos e usamos?

Quando é que vamos ter autonomia, se é só para ter dinheiro que a juventude está a estudar,
porque nós não queremos inovar nem inventar ou criar?

Quando é que vamos ter autonomia, se África é selvagem aos olhos azuis?

Quando é que vamos ter autonomia, se nesse continente os estrangeiros é que mandam, têm
o emprego e o salário que querem e ainda mandam?

Quando é que vamos ter autonomia, se quando grito pela cultura, a acabo sem companhia,
lutando por Ela sozinho?

Quando é que vamos ter autonomia, se nos envergonhamos dos nossos dialectos e dos nossos
vocabulários, buscando o sotaque estrangeiro?

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#ProjectoMemorável
A União e a Literatura

Quando é que vamos ter autonomia, se tens vergonha de falar o kimbundo, uma vez que
apontas sempre o dedo para Bacongo?

Quando é que vamos ter autonomia, se não vivemos numa África independente?

Quando é que vamos ter autonomia, se África foi transformada em minas da agricultura?

Quando é que vamos ter autonomia, se somos induzidos à falsa democracia, dando tanto
poder, e por muito tempo a uma minoria? O que resulta em guerras entre partidos políticos?

Quando é que vamos ter autonomia, se nós Africanos estamos mais podres em que na altura
que obedecíamos a chicotadas?

Quando é que vamos ter autonomia, se continuamos divididos, deixando os outros melhor
reinarem, e melhorarem as estratégias para nos educarem?

Quando é que vamos ter autonomia, se o mundo é um supermercado e nós não temos nada
nas prateleiras?

Quando é que vamos ter autonomia, se quando o europeu compra uma bicicleta, depois
compra um carro e a seguir compra um avião, enquanto que, quando compramos uma
bicicleta é para todos partilharem?

Quando é que vamos ter autonomia, se vendemos o barril numa nota de cem para depois
comprarmos numa de mil?

Quando é que vamos ter autonomia, se África é selvagem aos olhos azuis? Abre o olho, e para
de se escravizar, com a cultura dos outros, lembra-se que somos povos e o problema é
comum, eu quero que levantes e caminhes gritando pela independência.

Não aponto o dedo a ninguém de tornar África escravo da opressão do inimigo, mas se vocês
americanizam ou europonizam, eu Africanizo e vivo disposto a morrer por aquilo que acredito.

Autor: Jesus Dos Santo.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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A União e a Literatura

“A voz de um poeta”

Um ser cujo seu melhor amigo é a caneta

E consegue transmitir a visão mais bela, da escrita

Dizer que as palavras não valem nada

Isso jamais deve ser dito a um poeta

Capaz de inspirar

Possível de acreditar

Porque escrever é isso

Olhar para as letras e sermos amigos

As palavras são imóveis

Mas percorrem a todos os corações

Duros ou dóceis

Respondendo várias emoções

Presente na vida dos seus leitores

Muda a nossa forma de ser

E nos torna melhores.

Autor: Mi Le Dji.

Edição e revisão: Jesus Dos Santo.

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A União e a Literatura

Cá finda a nossa vigem por intermédio das letras, que, de uma forma simples e concisa
permitiu-nos mergulhar sobre distintos assuntos. Gratidão enorme a si que reservou metade
do seu precioso tempo para desfrutar da obra.

#ProjectoMemorável

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#ProjectoMemorável

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