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Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é

convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e


bendito é o Fruto do vosso ventre, Jesus.

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós,


pecadores, agora e na hora da morte. Amém.

Ave Christus Rex.


INICIATIVA CRISTO-REI

A ANTIGA DEVOÇÃO À
SANTÍSSIMA VIRGEM
INTRODUÇÃO

A devoção à Santíssima Virgem


Maria não se iniciou recentemente na
longa fé de vinte séculos da Igreja de
Nosso Senhor Jesus Cristo. Pelo
contrário, somos agraciados com
diversos testemunhos de Padres e
Doutores da Igreja, até do Doutor “É mais fácil separar o
Angélico, Santo Tomás de Aquino, e calor do fogo que
Santo Inácio, Bispo de Antioquia. separar Jesus de
Aqui neste artigo serão
Maria”.
apresentadas fontes e documentos - São Luís Maria de
referentes às declarações de doutores Montfort
da Santa Igreja sobre a Santíssima
Virgem, Maria Imaculada, além de explanação sobre cada um deles para melhor
compreensão.

A MARIOLOGIA

A Mariologia é um campo da teologia que estuda e busca criar uma


compreensão da figura de Maria, Mãe de Jesus Cristo. Ora, Maria é
importantíssima na Tradição, de tal forma que é necessário um campo de estudos
teológicos especificamente para ela. A quantidade de ensinamentos que os santos
têm sobre Ela1 revelam tal profundidade teológica da Teótoco.2 Não
diferentemente, a Teologia cristã a respeito de Maria tem raízes muito profundas
na Tradição, e estas estão entrelaçadas com a própria essência da Teologia, Jesus
Cristo.

De fato, os maiores santos, doutores, justos e bons nesta terra eram,


consciente e profundamente devotos à Maria de Nazaré. Jamais A negariam ou
A colocariam em segundo plano; jamais separariam a Mãe de Deus de seu
próprio e imaculado Filho; jamais diriam qualquer maldade ou calúnia sobre Ela.
Quem o faz? Este só pode ser o demônio, pois, através de Maria Santíssima, o
Salvador nasceu e o dragão foi derrotado.

1
Como, e.g., o "Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem" de São Luís Maria de Montfort.
2
Título grego da Virgem Maria, significando “Portadora de Deus” ou “Mãe de Deus”.
Comparam muitos teólogos, Maria à lua: brilha e guia pela noite, e seu
brilho provém do Sol, astro maior. De fato, o brilho de Maria é glorioso, pois
reflete o de seu Filho tão amado,
Jesus; pois Maria morreu de amor
pelo seu Filho, segundo São
Francisco de Sales.

E deste amor à Jesus, ao qual


nenhum outro homem poderá
superar, provém algum mal? A
Virgem Santíssima, maior que “As orações de Maria
todas as estrelas e todos os anjos, Santíssima junto a Deus
de fato, sempre estará têm mais poder junto da
intercedendo e socorrendo os Majestade Divina que as
cristãos. preces e intercessão de
O Papa Leão XIII, num todos os anjos e Santos do
ímpeto que só poderia ter-lhe sido
Céu e da Terra.”
revelado pelo Espírito Santo, -Santo Agostinho de Hipona
escreveu-nos a maravilhosa
Encíclica Magnae Dei Matris, onde descreve implacavelmente a devoção do Santo
Rosário:

Quanto mais ela admira a sublime altura da sua dignidade, e por ela
rende graças à onipotente e misericordiosa bondade de Deus, tanto mais se
humilha e se julga destituída de toda virtude. E, enquanto se Lhe torna a
Mãe, sem hesitação se proclama e se protesta sua escrava. E, conforme
santamente prometeu, santa e prontamente estabelece desde então uma
perpétua comunhão de vida com seu Filho Jesus, tanto na alegria como no
pranto. Assim ela atingirá tal altura de glória qual nenhum homem nem Anjo
poderá jamais atingir, porque ninguém poderá ser-lhe jamais comparado em
virtude e em méritos. Assim, a ela caberá a coroa do Céu e da terra, porque
ela se tornará a invicta Rainha dos mártires. Assim, na celeste cidade de
Deus, ela se assentará, eternamente coroada, junto de seu Filho, porque
constantemente, durante toda a sua vida, porém de modo particular no
Calvário, beberá com Ele o cálice transbordante de amargura. Eis, portanto,
como Deus, verdadeiramente bom e providente, nos deu em Maria um
modelo de todas as virtudes. Porque, considerando-a e contemplando-a, as
nossas almas já não ficam ofuscadas pelos fulgores da divindade, senão que,
atraídas pelos vínculos íntimos de uma comum natureza, com maior
confiança se esforçarão por imitá-la. Se, amparados pelo seu eficaz auxílio,
nós nos dedicarmos com todas as nossas forças a esta obra, certamente
conseguiremos reproduzir em nós ao menos algum traço de tão grande
virtude e santidade; e, depois de havermos imitado a sua admirável
conformidade com as divinas vontades, poderemos juntar-nos a Ela no céu.

Em Maria está toda a fonte da verdadeira e perfeita veneração a


Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme dito por Santo Idelfonso: “Redunda
em honra do Filho tudo quanto se oferece à Mãe Santíssima”.

A INTERCESSORA

A intercessão de Maria é
conhecida desde os tempos mais
longínquos do Cristianismo. Conforme
diz a Escritura, “a oração do justo tem
grande eficácia”3; a oração de Maria
perante Deus seria de maior eficácia
que de qualquer criatura, pois ela é
“Eu daria toda a minha
cheia de graça em plenitude 4.
ciência teológica pelo
Isto é comprovado pela própria valor de uma única Ave-
oração da Ave Maria e pela Maria.”
antiquíssima e famosa oração Sub
- São Tomás de Aquino
Tuum Præsidium, que pede a
intercessão e proteção de Maria, escrita
por volta do século III (240 ou 250 d.C.) em grego.

Embora Cristo seja o único mediador direto entre Deus e o Homem, pois foi
pela Cruz que plenamente Nosso Senhor reconciliou a humanidade, isto não
impede a existência de um mediador secundário subordinado a Cristo. São
Tomás de Aquino escreve em sua Suma Teológica:

3
Tg 5, 16.
4
Lc 1, 28.
A função de mediador consiste propriamente em unir aqueles entre os
quais é mediador, porque os extremos são unidos pelo meio. Ora, unir
perfeitamente os homens a Deus convém, na verdade, a Cristo, pois por meio
dele os homens são reconciliados com Deus, conforme a segunda Carta aos
Coríntios: "Em Cristo, Deus estava reconciliando o mundo consigo". Eis
porque só o Cristo é o perfeito mediador entre Deus e os homens, pois por
sua morte reconciliou o gênero humano com Deus. Por isso, o Apóstolo,
depois de ter afirmado "o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo
Jesus", acrescenta: "Que se entregou pela redenção de todos". Nada impede,
contudo, que, sob determinado aspecto, outros possam ser chamados
mediadores entre Deus e os homens, na medida em que cooperam, de
maneira dispositiva ou ministerial, para a união dos homens com Deus 5.

Com efeito, os Padres da Igreja chamavam Maria de Mediatrix ou Mesitris,


isto é, "Intermediária". Santo Efrém da Síria (306-373) escreve em uma de suas
orações: “Depois do mediador, a medianeira de todo o mundo.”

THEOTÓKOS

A fé na Maternidade Divina de Maria é explícita na Igreja Primitiva, em


especial, segundo o testemunho de diversos Padres da Igreja; entre eles Santo
Inácio de Antioquia (35-107), Orígenes (185-257), Santo Atanásio de Alexandria
(296-373), São João Crisóstomo (347-407) e Santo Agostinho (354-430).

Escreve S. Dionísio Areopagita: “Maria é feita Mãe de Deus, para a salvação


dos infelizes”6. Já Orígenes (Sec. II) escreve: “Maria é Mãe de Deus, unigênito do
Rei e criador de tudo o que existe”7. Santo Atanásio diz: “Maria é Mãe de Deus,
completamente intacta e impoluta”8. Santo Efrém: “Maria é Mãe de Deus sem

5
Suma Teológica III, q26, a1.
6
S. Dion. in revel. S. Brigit.
7
Orig. Hom. I, in divers.
8
Sto. Ath. Or. in pur. B.V.
culpa”9. São Jerônimo: “Maria é
verdadeiramente Mãe de
Deus”10. Santo Agostinho:
“Maria é Mãe de Deus, feita pela
mão de Deus”11.

Em vista de tal tradição, o


Terceiro Concílio Ecumênico de
Éfeso teve que lidar com dois
adversários: o Heresiarca
Nestório, Patriarca de
“Todos aqueles que se
Constantinopla, e São Cirilo de
empenham em divulgar as
Alexandria.
glórias da Virgem Santíssima
Nestório separava a têm o Céu assegurado.”
natureza humana da divina, e, - São Boaventura
para tal, afirmava que Maria era
apenas Cristótoco, isto é, Mãe de
Cristo (Mater Christi). Já São Cirilo argumentava que isto implicaria em separar a
união perfeitíssima entre as duas naturezas de Cristo, humana e divina. Pois,
segundo São Cirilo, se o Verbo encarnou12 e o Verbo é Deus, logo, a carne também
o é, pois, o Verbo é a Carne e a Carne é o Verbo. Portanto, Maria, dando à luz à
Carne, deu ao Verbo. Escreve São Cirilo: "Surpreende-me que há alguns que
duvidam que a Virgem santa deve ser chamada ou não de Teótoco. Pois, se Nosso
Senhor Jesus Cristo é Deus, e a Virgem santa deu-o à luz, ela não se tornou a
Teótoco?13”

Em sua infalibilidade como Bispo Romano da época, o Papa São Celestino I


deu permissão para São Cirilo declarar Nestório um herege, porém, este já tinha
convocado o Concílio. Nele, mesmo assim, São Celestino enviou delegados
apostólicos e a posição prevaleceu para São Cirilo, e a Maternidade Divina foi
declarada Dogma da Igreja e a de Nestório foi declarada anátema.

9
S. Ephre. in Thren. B.V.
10
S. Jerôn. in Serm. Ass. B. V.
11
S. Agost. in orat. ad heres.
12
Jo, 1.
13
Epístola 1 aos monges do Egito, Patrologia Grega; 77:13 B.
O hino grego “Ὑπὸ τὴν σὴν εὐσπλαγχνίαν”14, escrito por volta do séc. III,
semelhantemente usa da palavra Teótoco para descrever Maria, semelhante ao já
citado hino Sub Tuum Præsidium.

VIRGINDADE PERPÉTUA

A doutrina da Virgindade Perpétua é também um dogma do Cristianismo


Primitivo. É defendida pelos Padres da Igreja e ensina que Maria é Virgem antes
e depois do parto.

Nesse sentido, temos também a notável confirmação desta doutrina pelo


Doutor Angélico:

É absolutamente necessário confessar que a Mãe de Cristo concebeu


virgem. O contrário é a heresia dos ebionitas e de Cerinto, que julgavam
Cristo um homem ordinário e pensavam ter ele nascido da união dos sexos.
Quatro são as razões que mostram a conveniência da concepção virginal de
Cristo. Primeiro, para salvaguardar a dignidade do Pai que o envia. Pois
dado que Cristo é verdadeiro Filho de Deus por natureza, não convinha que
tivesse outro Pai fora de Deus, para não transferir a outrem a dignidade de
Deus. Segundo, isso convinha ao que é próprio do Filho enviado. Pois ele é
o Verbo de Deus. Ora, o Verbo é concebido sem nenhuma corrupção do
coração; mais ainda, a corrupção do coração é incompatível com a concepção
de um verbo perfeito. Dado, pois, que a carne foi assumida pelo Verbo de
Deus para ser carne do Verbo de Deus, convinha também que ela mesma
fosse concebida sem a corrupção da mãe.15

São João Crisóstomo, Santo Agostinho de Hipona, Santo Ambrósio de


Milão, São Jerônimo de Estridão, São Dídimo, Santo Hilário, Santo Irineu de
Lyon, o Papa São Sirício e Santo Hipólito de Roma também defendiam esta tese.
O Concílio de Latrão e o Terceiro Concílio de Constantinopla decretaram isto
como dogma.

IMACULADA CONCEIÇÃO

14
“Sob tua compaixão”.
15
Suma Teológica III, q28, a1.
O dogma é recente, a crença não. Santo Irineu de Lyon defendeu a doutrina
da Imaculada Conceição em seu livro Adversus Hæreses16.

Escreve São Tiago: “Maria é a Santíssima, a Imaculada, a gloriosíssima Mãe


de Deus”17.

Orígenes professa:

Esta virgem Maria é chamada mãe do Filho único de Deus. Digna mãe
de um digno Filho; mãe imaculada de um Filho santo e imaculado; mãe única
de um Filho único. Tomai a Maria como um trono celeste que se vos dá a
guardar, diz o anjo a José, como todas as riquezas da divindade, como a
plenitude da santidade, como uma justiça perfeita. Tomai-a e guardai-a,
como residência do Filho único de Deus, como seu templo honorável, como
o dom de Deus, como a morada imaculada do real e celeste esposo.18

O Papa Pio IX tornou a Imaculada Conceição dogma na sua Bula Ineffabilis


Deus. Diz ela:

[...] a doutrina que defende que a beatíssima Virgem Maria foi


preservada de toda a mancha do pecado original desde o primeiro instante
da sua concepção, por singular graça de privilégio de Deus omnipotente e
em atenção aos merecimentos de Jesus Cristo salvador do gênero humano,
foi revelada por Deus e que, por isso deve ser admitida com fé firme e
constante por todos os fiéis.

ASSUNÇÃO

A Assunção também é dogma da Igreja, declarado assim por Pio XII:

Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos


santos Padres, para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa

16
Livro V, 19,3.
17
S. Jac. in Liturgia.
18
Apud. A. Nicolas – La Vierge Marie et le plan divin, tomo 4, págs. 103-104.
liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só
alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras
do Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa
santificação" (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível
e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo
puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado
a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria,
descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar
à direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa
dos Cantares "que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de
incenso" para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como
imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino
Esposo.

Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de


Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela
mulher, revestida de sol, que o apóstolo São João contemplou na ilha de Patmos19.
Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com
particular cuidado aquelas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco,
bendita sois vós entre as mulheres" 20, pois viram no mistério da Assunção o
complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma
singular bênção contraposta à maldição de Eva21.

E esta fé, que Maria fora assunta em corpo e alma aos Céus, era professada
pelos antigos. Escreveu Epifânio de Salamissa (377 d.C):

Se a Santíssima Virgem morresse e fosse sepultada, morte dela teria


sido cercada com honra, a morte teria encontrado sua pureza, e sua coroa
teria sido uma virginal... Teria sido martirizada de acordo com o que está
escrito: ‘a tua alma uma espada traspassará’, então ela iria brilhar
gloriosamente entre os mártires, e seu santo corpo teria sido declarado bem-
aventurado; pois por meio dela, a luz veio ao mundo.22

19
Ap 12.
20
Lc 1,28.
21
Encíclica Munificentissimus Deus.
22
Panarion 78, 23.
Diz João, o Teólogo (400 d.C):

O Senhor disse à sua Mãe: “Que o seu coração se alegre e seja feliz. Pois cada favor
e todo o dom foi dado a você do meu Pai no céu e de mim e do Espírito Santo. Toda alma
que clama o seu nome não deve se envergonhar, mas deve encontrar misericórdia e
conforto, apoio e confiança, tanto no mundo que agora está quanto no que está por vir,
na presença do meu Pai que está nos céus”... E a partir desse momento em diante todos
sabiam que o corpo impecável e precioso foi transferido para o paraíso.23

Em um sermão, Timóteo de Jerusalém confirma a fé na Assunção: “Por isso,


a Virgem é imortal até hoje, vendo que ele que habitou nela, transportou para as
regiões de sua Assunção”24.

Gregório de Tours diz:

Os Apóstolos levaram seu corpo em um caixão e colocaram num


sepulcro, e eles o guardavam, esperando a vinda do Senhor. E eis que, mais
uma vez o Senhor apareceu-lhes; e o corpo santo tendo sido recebido, Ele
ordenou que fosse levado em uma nuvem para o paraíso: onde, agora,
voltada à alma, se alegra com os escolhidos do Senhor...25

Entre todos, São João Damasceno foi o que mais deixou documentada a fé
na Assunção de Maria Santíssima:

Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade


conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que
aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos
tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno
Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o
coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no
parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus
possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas
como Mãe e Serva do mesmo Deus.26

23
A Dormição de Maria.
24
Homilia sobre Simeão e Ana, 400 d.C.
25
Oito livros de Milagres 1, 4.
26
Sermão sobre a Assunção de Maria.
São Juvenal, bispo de Jerusalém, no Concílio de Calcedônia, levou ao
conhecimento do Imperador Marciano e Pulquéria, que desejavam possuir o
corpo da Mãe de Deus, que Maria morreu na presença de todos os Apóstolos,
mas que o seu túmulo, quando aberto a pedido de São Tomé, foi encontrado
vazio; portanto os Apóstolos concluíram que o corpo foi levado ao céu.27

Como, então, foi que ela assumiu às cortes celestiais? Deste modo.
Quais foram as honras então conferidas a ela por Deus, que nos ordena a
honrar nossos pais?28

E, assim, o corpo imaculado (panagion) foi colocado no túmulo. Então


foi assuntado, após três dias para as mansões celestiais. O seio da terra não
era receptáculo apropriado para morada do Senhor, a fonte viva de água de
limpeza, o milho do pão celestial, a videira sagrada de vinho divino, o
sempre-vivo e fecundo ramo de oliveira da misericórdia de Deus. E assim
como o todo o corpo sagrado do Filho de Deus, que foi tirado dela,
ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, deveria que ela fosse arrancado do
túmulo, essa mãe deve estar unida ao seu Filho, e como Ele descera por ela,
então ela deveria ser assuntada por Ele, para a mais perfeita morada, o
próprio céu.29

Vamos então também guardar a festa solene de hoje para homenagear


a partida alegre da Mãe de Deus.30

Regozije-se o ar na Assunção. Deixe uma brisa suave flutuar na graça.


Deixe toda a natureza celebrar a festa da Assunção da Mãe de Deus.31

REGINA CÆLI

A mãe de um rei, de fato, é rainha. Este posicionamento levou a Igreja,


segundo o que diz o Livro do Apocalipse, a professar que Maria fora coroada
Rainha do Céu. É uma tradição antiquíssima e riquíssima de embasamento
teológico. São Efrém da Síria considerava e ensinava que Maria era, de fato,
Rainha do Céu32.

27
São João Damasceno, Hom 2 in dormit Mariae, n. 18, Patrologia Graeca 96:747-752.
28
Sermão II sobre a Assunção de Maria.
29
Op. Cit.
30
Op. Cit.
31
Sermão III sobre a Assunção de Maria.
*Nota: na Igreja Primitiva havia debate se Maria havia morrido ou não (e até hoje o há); mas é fato de
que era professada a fé de que ela fora assunta, evidenciado pela própria existência deste
questionamento.
32
Santo Efrém, Hino à Virgem Maria, Editora Th. J. Lamy, t. II, Mechliniae, Hino XIX, p. 624.
São Gregório de Nazianzo declarou igualmente que Maria é "Mãe do Rei do
Universo" e "Virgem Mãe, de quem surgiu o Rei do Mundo".

Prudêncio diz que a Mãe se maravilha "de ter gerado a Deus não só como
homem, mas também como sumo rei" 33.

O Papa Pio XII, confirmando esta doutrina, ensinou na sua Encíclica Ad Cæli
Reginam:

Desde os primeiros séculos da Igreja católica, elevou o povo cristão


orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos
momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves
perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus
Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração
no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada
de glória na bem-aventurança celeste.

Outro trecho da Encíclica diz:

Todos sabem que nós, na medida do possível — quando em audiências


falamos aos nossos filhos, ou quando, por meio das ondas radiofônicas,
dirigimos mensagens ao longe — não deixamos de recomendar, a quantos
nos ouviam que amassem, com amor terno e filial, tão boa e poderosa Mãe.
A esse propósito, recordamos em especial a radiomensagem que
endereçamos ao povo português, por motivo da coroação da prodigiosa
imagem de nossa Senhora de Fátima, que chamamos radiomensagem da
"realeza" de Maria.

Outro trecho importante do documento ensina:

Certamente, no pleno e rigoroso sentido do termo, somente Jesus Cristo, o Deus-


Homem, é Rei, mas Maria, também, como Mãe do divino Cristo, (...) tem uma
participação, embora de forma limitada e de modo análogo, em sua dignidade real. A
união radiante (...) que ela atingiu com Cristo transcende o de qualquer outra criatura;
de sua união com Cristo ela recebe o real direito de dispor dos tesouros do Divino

33
Prudêncio, Dittochoeum, XVII; PL 60,102A).
Redentor do Reino, de sua união com Cristo finalmente é derivada a inesgotável eficácia
de sua materna intercessão do Filho e do seu pai.

MÃE DOS CRISTÃOS

A Igreja Católica professa que Maria é a Mãe da Igreja e, consequentemente,


Mãe de Todos os Cristãos. O primeiro a citar o carinhoso título é Santo Ambrósio
de Milão. É uma doutrina simples e não há muito o que se falar dela, já que é
extremamente básica (anexa à doutrina de Mãe de Deus).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta compilação de provas históricas tem como intuito a reparação aos erros
comumente repetidos a respeito da Santíssima Virgem Maria, apresentando
testemunhos de autoridades da fé. De fato, aqui se prova que a Devoção a Nossa
Senhora é tão antiga quanto a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo Encarnado,
e que estas duas não podem ser separadas, pelo contrário, estão profundamente
entrelaçadas.

A devoção a Maria é imprescindível na fé em Cristo, para a santidade


pessoal e para o florescimento das virtudes. É tal qual importante como a Mãe é
essencial ao Filho, e a oração de Maria perante Deus nos é incomparável.

Com razão, escreve São Boaventura: “Jamais li que algum Santo não tivesse
sido devoto especial da Santíssima Virgem Maria.”

Oremos incessantemente o Santo Rosário, para a maior honra de Nossa


Senhora e a maior glória de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por: Moisés Gomes

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