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A ANTIGA DEVOÇÃO À
SANTÍSSIMA VIRGEM
INTRODUÇÃO
A MARIOLOGIA
1
Como, e.g., o "Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem" de São Luís Maria de Montfort.
2
Título grego da Virgem Maria, significando “Portadora de Deus” ou “Mãe de Deus”.
Comparam muitos teólogos, Maria à lua: brilha e guia pela noite, e seu
brilho provém do Sol, astro maior. De fato, o brilho de Maria é glorioso, pois
reflete o de seu Filho tão amado,
Jesus; pois Maria morreu de amor
pelo seu Filho, segundo São
Francisco de Sales.
Quanto mais ela admira a sublime altura da sua dignidade, e por ela
rende graças à onipotente e misericordiosa bondade de Deus, tanto mais se
humilha e se julga destituída de toda virtude. E, enquanto se Lhe torna a
Mãe, sem hesitação se proclama e se protesta sua escrava. E, conforme
santamente prometeu, santa e prontamente estabelece desde então uma
perpétua comunhão de vida com seu Filho Jesus, tanto na alegria como no
pranto. Assim ela atingirá tal altura de glória qual nenhum homem nem Anjo
poderá jamais atingir, porque ninguém poderá ser-lhe jamais comparado em
virtude e em méritos. Assim, a ela caberá a coroa do Céu e da terra, porque
ela se tornará a invicta Rainha dos mártires. Assim, na celeste cidade de
Deus, ela se assentará, eternamente coroada, junto de seu Filho, porque
constantemente, durante toda a sua vida, porém de modo particular no
Calvário, beberá com Ele o cálice transbordante de amargura. Eis, portanto,
como Deus, verdadeiramente bom e providente, nos deu em Maria um
modelo de todas as virtudes. Porque, considerando-a e contemplando-a, as
nossas almas já não ficam ofuscadas pelos fulgores da divindade, senão que,
atraídas pelos vínculos íntimos de uma comum natureza, com maior
confiança se esforçarão por imitá-la. Se, amparados pelo seu eficaz auxílio,
nós nos dedicarmos com todas as nossas forças a esta obra, certamente
conseguiremos reproduzir em nós ao menos algum traço de tão grande
virtude e santidade; e, depois de havermos imitado a sua admirável
conformidade com as divinas vontades, poderemos juntar-nos a Ela no céu.
A INTERCESSORA
A intercessão de Maria é
conhecida desde os tempos mais
longínquos do Cristianismo. Conforme
diz a Escritura, “a oração do justo tem
grande eficácia”3; a oração de Maria
perante Deus seria de maior eficácia
que de qualquer criatura, pois ela é
“Eu daria toda a minha
cheia de graça em plenitude 4.
ciência teológica pelo
Isto é comprovado pela própria valor de uma única Ave-
oração da Ave Maria e pela Maria.”
antiquíssima e famosa oração Sub
- São Tomás de Aquino
Tuum Præsidium, que pede a
intercessão e proteção de Maria, escrita
por volta do século III (240 ou 250 d.C.) em grego.
Embora Cristo seja o único mediador direto entre Deus e o Homem, pois foi
pela Cruz que plenamente Nosso Senhor reconciliou a humanidade, isto não
impede a existência de um mediador secundário subordinado a Cristo. São
Tomás de Aquino escreve em sua Suma Teológica:
3
Tg 5, 16.
4
Lc 1, 28.
A função de mediador consiste propriamente em unir aqueles entre os
quais é mediador, porque os extremos são unidos pelo meio. Ora, unir
perfeitamente os homens a Deus convém, na verdade, a Cristo, pois por meio
dele os homens são reconciliados com Deus, conforme a segunda Carta aos
Coríntios: "Em Cristo, Deus estava reconciliando o mundo consigo". Eis
porque só o Cristo é o perfeito mediador entre Deus e os homens, pois por
sua morte reconciliou o gênero humano com Deus. Por isso, o Apóstolo,
depois de ter afirmado "o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo
Jesus", acrescenta: "Que se entregou pela redenção de todos". Nada impede,
contudo, que, sob determinado aspecto, outros possam ser chamados
mediadores entre Deus e os homens, na medida em que cooperam, de
maneira dispositiva ou ministerial, para a união dos homens com Deus 5.
THEOTÓKOS
5
Suma Teológica III, q26, a1.
6
S. Dion. in revel. S. Brigit.
7
Orig. Hom. I, in divers.
8
Sto. Ath. Or. in pur. B.V.
culpa”9. São Jerônimo: “Maria é
verdadeiramente Mãe de
Deus”10. Santo Agostinho:
“Maria é Mãe de Deus, feita pela
mão de Deus”11.
9
S. Ephre. in Thren. B.V.
10
S. Jerôn. in Serm. Ass. B. V.
11
S. Agost. in orat. ad heres.
12
Jo, 1.
13
Epístola 1 aos monges do Egito, Patrologia Grega; 77:13 B.
O hino grego “Ὑπὸ τὴν σὴν εὐσπλαγχνίαν”14, escrito por volta do séc. III,
semelhantemente usa da palavra Teótoco para descrever Maria, semelhante ao já
citado hino Sub Tuum Præsidium.
VIRGINDADE PERPÉTUA
IMACULADA CONCEIÇÃO
14
“Sob tua compaixão”.
15
Suma Teológica III, q28, a1.
O dogma é recente, a crença não. Santo Irineu de Lyon defendeu a doutrina
da Imaculada Conceição em seu livro Adversus Hæreses16.
Orígenes professa:
Esta virgem Maria é chamada mãe do Filho único de Deus. Digna mãe
de um digno Filho; mãe imaculada de um Filho santo e imaculado; mãe única
de um Filho único. Tomai a Maria como um trono celeste que se vos dá a
guardar, diz o anjo a José, como todas as riquezas da divindade, como a
plenitude da santidade, como uma justiça perfeita. Tomai-a e guardai-a,
como residência do Filho único de Deus, como seu templo honorável, como
o dom de Deus, como a morada imaculada do real e celeste esposo.18
ASSUNÇÃO
16
Livro V, 19,3.
17
S. Jac. in Liturgia.
18
Apud. A. Nicolas – La Vierge Marie et le plan divin, tomo 4, págs. 103-104.
liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só
alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras
do Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa
santificação" (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível
e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo
puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado
a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria,
descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar
à direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa
dos Cantares "que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de
incenso" para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como
imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino
Esposo.
E esta fé, que Maria fora assunta em corpo e alma aos Céus, era professada
pelos antigos. Escreveu Epifânio de Salamissa (377 d.C):
19
Ap 12.
20
Lc 1,28.
21
Encíclica Munificentissimus Deus.
22
Panarion 78, 23.
Diz João, o Teólogo (400 d.C):
O Senhor disse à sua Mãe: “Que o seu coração se alegre e seja feliz. Pois cada favor
e todo o dom foi dado a você do meu Pai no céu e de mim e do Espírito Santo. Toda alma
que clama o seu nome não deve se envergonhar, mas deve encontrar misericórdia e
conforto, apoio e confiança, tanto no mundo que agora está quanto no que está por vir,
na presença do meu Pai que está nos céus”... E a partir desse momento em diante todos
sabiam que o corpo impecável e precioso foi transferido para o paraíso.23
Entre todos, São João Damasceno foi o que mais deixou documentada a fé
na Assunção de Maria Santíssima:
23
A Dormição de Maria.
24
Homilia sobre Simeão e Ana, 400 d.C.
25
Oito livros de Milagres 1, 4.
26
Sermão sobre a Assunção de Maria.
São Juvenal, bispo de Jerusalém, no Concílio de Calcedônia, levou ao
conhecimento do Imperador Marciano e Pulquéria, que desejavam possuir o
corpo da Mãe de Deus, que Maria morreu na presença de todos os Apóstolos,
mas que o seu túmulo, quando aberto a pedido de São Tomé, foi encontrado
vazio; portanto os Apóstolos concluíram que o corpo foi levado ao céu.27
Como, então, foi que ela assumiu às cortes celestiais? Deste modo.
Quais foram as honras então conferidas a ela por Deus, que nos ordena a
honrar nossos pais?28
REGINA CÆLI
27
São João Damasceno, Hom 2 in dormit Mariae, n. 18, Patrologia Graeca 96:747-752.
28
Sermão II sobre a Assunção de Maria.
29
Op. Cit.
30
Op. Cit.
31
Sermão III sobre a Assunção de Maria.
*Nota: na Igreja Primitiva havia debate se Maria havia morrido ou não (e até hoje o há); mas é fato de
que era professada a fé de que ela fora assunta, evidenciado pela própria existência deste
questionamento.
32
Santo Efrém, Hino à Virgem Maria, Editora Th. J. Lamy, t. II, Mechliniae, Hino XIX, p. 624.
São Gregório de Nazianzo declarou igualmente que Maria é "Mãe do Rei do
Universo" e "Virgem Mãe, de quem surgiu o Rei do Mundo".
Prudêncio diz que a Mãe se maravilha "de ter gerado a Deus não só como
homem, mas também como sumo rei" 33.
O Papa Pio XII, confirmando esta doutrina, ensinou na sua Encíclica Ad Cæli
Reginam:
33
Prudêncio, Dittochoeum, XVII; PL 60,102A).
Redentor do Reino, de sua união com Cristo finalmente é derivada a inesgotável eficácia
de sua materna intercessão do Filho e do seu pai.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta compilação de provas históricas tem como intuito a reparação aos erros
comumente repetidos a respeito da Santíssima Virgem Maria, apresentando
testemunhos de autoridades da fé. De fato, aqui se prova que a Devoção a Nossa
Senhora é tão antiga quanto a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo Encarnado,
e que estas duas não podem ser separadas, pelo contrário, estão profundamente
entrelaçadas.
Com razão, escreve São Boaventura: “Jamais li que algum Santo não tivesse
sido devoto especial da Santíssima Virgem Maria.”